As Marcas do Heroi eou a Morte da Liberdade

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As Marcas do Herói e/ou a Morte da Liberdade

1. As Marcas 2. O Herói 3. Os Covardes 4. O Arrastamento para Trás Contrastado pela Coragem 5. A Morte 6. A Liberdade 7. A Lembrança da Liberdade 8. A Liberdade da Lembrança 9. Enquanto o Futuro Durar 10. O Futuro Começa no Herói

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Vitória, terça-feira, 19 de maio de 2009. José Augusto Gava.

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Capítulo 1 As Marcas AS CHICOTADAS NO HERÓI E AS MÁQUINAS DE TORTURA

Cristo chicoteado

Tiradentes esquartejado

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diabólico instrumento (o diabo se diverte escrava Anastácia na Terra) Tudo se divide primariamente em 50/50, os pares polares oposto-complementares. Depois, se divide de novo em (2,5 + 47,5) % à esquerda e (2,5 + 47,5) % à direita; cada um daqueles 2,5 % se liga a outros 2,5 %, formando 5,0 % de cada lado com os simpatizantes-da-esquerda e os simpatizantes-dadireita. Os extremos se casam com os próximos-dosextremos. Cada um desses 1/20 ou 5 % tenta corromper os outros 45 % do seu lado e, juntos, os 45 % do outro lado, fazendo no máximo 95 %, pois os 5 % contrários mantém-se irredutivelmente contrários, sem contaminação (como estudei no modelo). Se há heróis há também anti-heróis, os covardes. Se há fiéis há também anti-fiéis, infiéis, os traidores. Os extremos travam a batalha contínua “bem-mal” (que só existe para os racionais) e oscilam tremendamente, nuns tempos mais que nos outros; quando acontece de um extremo chegar a 95 % de dominância o outro extremo responde com fúria e nisso a batalha campal irrompe, consumindo no processo as carnes e as mentes. Quer dizer, enquanto não houver pacificação dos pares existirão heróis (apesar da Tina Turner) e, conseqüentemente, anti-heróis; na realidade é o contrário, 2


pois os anti-heróis aparecem primeiro, já que é a displicência que acumula facilidades para os criminosos, assim como o descaso para com os outros. TIRANDO DA TINA Tina Turner Lyrics "Tina Turner We Don't Need Another Hero (tradução) lyrics" Fora das ruínas, No lado de fora dos escombros, Não podemos cometer o mesmo erro desta vez. Nós somos as crianças, A última geração. Nós somos aqueles que eles abandonaram para trás. E eu me pergunto, quando nós vamos mudar, Vivendo sob o medo, até que nada mais reste... Nós não precisamos de outro herói, Nós não precisamos saber o caminho para casa. Tudo o que queremos é a vida além Da cúpula do trovão.

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Procurando por algo [que] Nós possamos confiar, Tem de haver alguma coisa melhor lá fora. Amor e compaixão, O dia deles está chegando. Tudo mais são castelos construídos no ar... E eu me pergunto, quando nós vamos mudar, Vivendo sob o medo, até que nada mais reste... Todas as crianças dizem: Nós não precisamos de um outro herói, Nós não precisamos saber o caminho para casa. Tudo o que queremos é a vida além Da cúpula do trovão. Então, o que fazemos com nossas vidas? Nós deixamos somente uma marca. Nossa estória brilhará como uma luz Ou terminará no escuro? Entregue tudo ou nada. Nós não precisamos de outro herói, Nós não precisamos saber o caminho para casa. Tudo o que queremos é a vida além Da cúpula do trovão. Por sermos mestres em “deixar pra lá”, e em não nos incomodarmos com as injustiças, a soma disso tudo irá em algum momento produzir revoltados contra os desmandos; estes serão os heróis nos instantes seguintes.

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Capítulo 2 O Herói Quais as características do Herói geral? TRÊS CEDENTES, UM INTERMEDIÁRIO E DEPENDENTES cedentes 7. iluminados

TRÊS

6. santos-sábios

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5. estadistas

intermediário

Juscelino Kubitschek 4. pesquisadores

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3. profissionais dependentes

2. lideranças

1. povo

5 Os três de cima são heróis, os três de baixo são anti-heróis (os que crucificam os outros, mas deles dependem para atingir a liberdade). Tiradentes, Joaquim José da Silva Xavier está no quinto nível, o dos estadistas, construtores de estados. O herói é o primeiro que fura a barragem, o represamento que estanca, obstaculiza o progresso humano. Ele o faz porque acredita na mensagem dos santos-sábios e dos iluminados. Quanto maior a pressão, maior a estatura necessária do herói; quanto mais conflituoso o tempo, quanto mais covardes os anteriores maior deverá ser a força do herói. Existir o herói é existir o NÓ DE IMPOSSIBILIDADES, uma coisa que atravanca o futuro, que mantém o futuro refém do passado. Um NÓ DE MEDOS, uma situação de acovardamento geral da qual os normais, os que seguem as normas (por mais doidas que sejam) não conseguem se livrar.

Capítulo 3 Os Covardes Quem são os covardes? Não tenho dificuldade nenhuma em reconhecer que sou covarde em tudo aquilo em que não avancei, em toda oportunidade em que não me projetei na primeira hora; de fato, posso dizer terem sido várias as ocasiões em que não 5


avancei por não concordar com a condução. Em muitas outras me adiantei. OS COVARDES GOSTAM DE SOMBRA E ÁGUA FRESCA (empurram os outros para as tarefas dolorosas) – nem todo mundo que gosta de sombra e de água fresca é covarde, mas todo aquele que fica só nisso é.

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• • •

bebem nos bares até cair; vivem nas praias; justificam-se dizendo “eu também sou filho de Deus” e “ninguém é de ferro”; “aproveitem a vida”, carpe diem; “rebentem a boca do balão”; • querem a beleza acima de tudo; • enfim, sobre suas vidas passam as brancas nuvens, porque as nuvens carregadas das tempestades são empurradas para outros. Como diz o ditado, “depois da onça morta (os covardes) mijam em cima”.

Capítulo 4 O Arrastamento para Trás Contrastado pela Coragem Por quanto tempo o herói resolve os problemas coletivos? Depende da coragem demonstrada por ele (e da posterior vergonha dos demais) e do montante da covardia anterior dos outros. Depende de quão envergonhados ficam os outros depois de morto o herói. É um “cabo de guerra” entre extremos polares, é uma guerra entre os o/covardes e os covardes; as ações e as inações destes levam à tremenda pressão de que devem dar conta aqueles. Sobre as “costas de Atlas” pesa um mundo de desacertos que ele precisa acertar.

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ATLAS CARREGANDO OS COVARDES NAS COSTAS

Os Atlas deste mundo não querem passar a vida carregando os outros, mas não há outro jeito: sobra para eles. É claro que, depois, os covardes e seus descendentes acabam por proclamar o heroísmo do herói, acabam por superafirmar a presença dele, criando os mitos, os modelos, os exageros. CABO DE GUERRA

o cabo

a guerra

Atlas da guerra (não foi feito nenhum completo, é uma tarefa dos governos e da ONU, que fica dormindo no berço esplêndido das tarefas antigas).

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Capítulo 5 A Morte Quando o herói morre, a Terra volta a estar equilibrada, respira aliviada por um tempo – os povos estão salvos, pelo menos no âmbito da crença. Cresce o moral, as pessoas vibram, reina a alegria, os espíritos se distendem. Depende de quão grande a bolha que estourou é. Evidentemente a bolha de Cristo foi enorme, porque já dura há dois mil anos e atingiu agora 2,0 bilhões de indivíduos. A de Maomé é um pouco menor, pois atingiu em nossos dias 1,3 bilhão depois de quase 1400 anos (a completar em 2032). As multiplicações são 2,0 x 2,0 = 4,00 e 1,4 x 1,3 = 1,82. Há outros critérios a apelar, até porque o islamismo, vindo depois, se beneficiou das facilidades postas pelo cristianismo. Que mecanismo é esse, que de terríveis tragédias tira lições de vida e liberdade para depois? É o que os psicólogos chamam de catarse; no caso de Cristo, deicídio, assassinato de Deus, dizem os cristãos. Essa morte do herói faz pensar, faz sentir e as pessoas revêem seus motivos, suas futilidades, suas incredulidades – os heróis libertam, mas a política que se apossa deles escraviza. OS SUPER-HOMENS E AS SUPER-MULHERES QUE NOS SALVAM

Reconhecimento aos soldados anônimos (somente os justos, porque os injustos apenas defendem os tiranos)

Enfrentamento celestial na praça na China.

Depois se soube que a foto famosa foi preparada (mas alguém tinha praticado).

Capítulo 6 A Liberdade Qual é a psicologia do Herói geral? • a figura ou psicanálise do Herói; • os objetivos ou psico-sínteses do Herói (o que ele pretende do ambiente?);

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a produção ou economia do Herói (do que ele vive?); • a organização ou sociologia do Herói (por exemplo, pode ser um movimento sedicioso clandestino, pode vir das forças armadas ou de grupo artístico, donde for); • o espaçotempo ou geo-história do Herói. Quem é o herói, como ele se formou, como burilou suas crenças, que apoios ou negações ambientais teve, como lidou com os governos, de que generosidades foi capaz, quem o ajudou, quem o instruiu, quais foram suas crenças, como chegou a negar o passado? Era rico ou pobre? De que raça? Como foi seu castigo? Que exemplos de heroísmo considerou? Há milhares de perguntas a fazer. Naturalmente os heróis (aqueles três grupos) são as criaturas mais formidáveis da Terra, de qualquer país. São o “sal da Terra”, aqueles que dignificam o planeta, os que livram a você e a mim do sofrimento pelo qual teríamos de passar se tudo fosse dividido proporcionalmente. Como disse a meu filho, há gente que vive com os braços e as pernas dos outros, que vivem dos esforços alheios: de certo modo, todos os não-heróis. Se há uma casa boa, se há boa vizinhança, se os direitos são respeitados, tudo isso não vem somente das atividades dos de agora, vem principalmente dos respaldos oferecidos pelos heróis, pois eles vivem e morrem por nós. Se há fábricas funcionam direito, se viadutos tem boas estruturas, se as escolas provêem vagas para as crianças todo esse respeito pelo povo veio, mormente, dos heróis. São eles que inventam e reinventam no mundo todos as gerações. Os covardes, com sua covardia, desinventam o futuro, tornam tudo passado, possibilitam os recuos, os rebaixamentos, os agachamentos. Como diz o ditado, “quem muito se abaixa acaba mostrando a bunda”. Essa vestimenta de dignidade, essa postura decente que temos veio dos heróis. Como teria ficado nosso mundo se os heróis não tivessem se oposto aos desmandos, às tiranias, às declinações do ser? Se os ditadores pudessem ter ditado sem que ninguém contestasse, se os heróis não tivessem morrido nas guerras justas, se os cretinos não tivessem tido detidas suas cretinices pelos valorosos guerreiros que nos antecederam? Provavelmente estaríamos chafurdando na lama, com muitos milhares de anos de atrasos civilizatórios. Assim, quando agora você olhar um herói, repense esse olhar e agradeça de coração, pois nós e nossos filhos não vivemos em pior situação porque os heróis barraram o mal.

Capítulo 7 A Lembrança da Liberdade A HERANÇA DO MAL (uma barreira de corpos e mentes se interpôs entre ele e nós) – ela só não 9

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chegou a nós porque foi queimada pelo combustível dos heróis.

escudo do Flamengo para simbolizar a defesa contra o mal

10 Che Guevara foi morto de pé, de mãos amarradas (o único escudo do herói é seu próprio corpo, e o que ele sofre foi evitado para nós). As pessoas seguem os estadistas, veneram os santos e respeitam os sábios, fortificam-se nas religiões centradas nos iluminados, mas de fato não pensam profundamente no que essa gente fez, em como a vida na Terra seria ruim se eles e elas não tivessem contrariado as criaturas daninhas, os torturadores, os violentadores, os aproveitadores e todo o lado ruim do dicionário. No entanto, não vejo ninguém prestando homenagem aos santos e aos heróis de um modo geral.

Capítulo 8 A Liberdade da Lembrança Enquanto nos lembrarmos dos heróis (iluminados, santos/sábios, estadistas bons) com identidade (e não apenas protocolarmente) estaremos salvos dos anti-heróis PORQUE nos espelharemos em seus exemplos de vida para nossa prática diária. UMA LISTA DE CONTROLES DE QUALIDADES (busque nas biografias deles) HERÓI FAÇANHAS FRISANDO AS QUALIDADES

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É isso que sustenta o mundo. Não são os produtos a fazê-lo, são as qualidades excelsas dessa gente, superior aos demais mortais; os que permanecem em tudo que fazemos. Pois os anti-heróis, opondo-se aos heróis, não ficam: quem gostaria de ressuscitar Calabar, Joaquim Silvério dos Reis ou Judas? A TRAIÇÃO AOS IN-CONFIDENTES (por JSR) A carta-denúncia de Joaquim Silvério dos Reis (11/04/1789) Em 15 de março de 1789, o governador da Capitania de Minas Gerais foi procurado pelo coronel da CavalariaAuxiliar dos Campos Gerais, Joaquim Silvério do Reis. Silvério denunciou a organização de uma conspiração que desejava transformar a "Capitania de Minas Gerais" em um estado livre. Em 19 de abril Joaquim Silvério partiu para o Rio de Janeiro, onde repetiria a denúncia ao Vice-Rei e seguiria os passos do alferes Joaquim José da Silva Xavier. Antes de partir deixou sua denúncia escrita: ***** Ilmo. e Exmo. Sr. Visconde de Barbacena Meu Senhor: - Pela forçosa obrigação que tenho de ser leal vassalo à nossa Augusta Soberana, ainda apesar de se me tirar a vida, como logo se me protestou na ocasião em que fui convidado para a sublevação que se intenta, prontamente passeia pôr na presença de V. Excia. o seguinte: Em o mês de fevereiro deste presente ano; vindo da revista do meu Regimento, encontrei no arraial da Laje o Sargento-Mor Luís Vaz de Toledo; e falando-me em que se botavam abaixo os novos Regimentos, porque V. Excia. assim o havia dito, é verdade que eu me mostrei sentido e queixei-me ao sargento-mor: me tinha enganado, porque em nome da dita Senhora se me havia dado uma patente de coronel, chefe do meu Regimento, com o qual me tinha desvelado em o regular e fardar, e muita parte à minha custa e que não podia levar à paciência ver reduzido à inação o fruto do meu desvelo, sem que eu tivesse faltas do real serviço; e juntando mais algumas palavras em desafogo da minha paixão. Foi Deus servido que isso acontecesse para se conhecer a falsidade que se fulmina. No mesmo dia viemos dormir à casa do Capitão José de Resende; e chamando-me a um quarto particular, de noite, o dito Sargento-Mor Luís Vaz, pensando que o meu ânimo estava disposto para seguir a nova conjuração pelos sentimentos e queixas que me tinha ouvido, passou o dito sargento-mor a participar- me, debaixo de todo o segredo, o seguinte: Que o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, primeiro cabeça da conjuração, havia acabado o lugar de ouvidor dessa Comarca, e que, isto posto, se achava há muitos meses nessa vila, sem se recolher a seu lugar da Bahia, com o frívolo pretexto de um casamento, que tudo é idéia porque já se achava fabricando leis para o novo regime da sublevação que se tinha disposto da forma seguinte: Procurou o dito Gonzaga o partido e união do Coronel Inácio José de Alvarenga e do Padre José da Silva e Oliveira, e outros mais, todos filhos da América, valendo-se para seduzir a outros do Alferes (pago) Joaquim José da Silva Xavier; e que o dito Gonzaga havia disposto da forma seguinte: que o dito Coronel Alvarenga havia mandar 200 homens pés-rapados da Campanha, paragem onde mora o dito Coronel; e outros 200, o dito Padre José da Silva; e que haviam de acompanhar a este vários sujeitos, que já passam de 60, dos principais destas Minas; e que estes pésrapados, haviam de vir armados de espingardas e facões, e que não haviam de vir juntos para não causar desconfiança; e que estivessem dispersos, porém perto da Vila Rica, e prontos à primeira voz; e que a senha para o assalto haviam ser cartas dizendo tal dia é o batizado; e que podiam ir seguros porque o comandante da Tropa Paga, tenente-coronel Francisco de Paula, estava pela parte do levante e mais alguns oficiais, ainda que o mesmo sargentomor me disse que o dito Gonzaga e seus parciais estavam desgostosos pela frouxidão que encontravam no dito comandante e que, por essa causa, se não tinha concluído o dito levante. E que a primeira cabeça que se havia de cortar era a de V.Excia. e depois, pegando-lhe pelos cabelos, se havia de fazer uma fala ao povo que já estava escrita pelo dito Gonzaga; e para sossegar o dito povo se havia levantar os tributos; e que logo passaria a cortar a cabeça do Ouvidor dessa vila, Pedro José de Araújo, e ao Escrivão da Junta, Carlos José da Silva, e ao Ajudante-de-Ordens Antônio Xavier; porque estes haviam seguir o partido de V. Excia. e que, como o Intendente era amigo dele, dito Gonzaga, haviam ver se o reduziam a segui-los; quando duvidasse, também se lhe cortaria a cabeça. Para este intento me convidaram e se me pediu mandasse vir alguns barris de pólvora, o que outros já tinham mandado vir; e que procuravam o meu partido por saberem que eu devia a Sua Majestade quantia avultada; e que esta logo me seria perdoada; e quê, como eu tinha muitas fazendas e 200 e tantos escravos, me seguravam fazer um dos grandes; e o dito sargento-mor me declarou vários entrados neste levante; e que se eu descobrisse, se me havia tirar a vida como já tinham feito a certo sujeito da Comarca de Sabará. Passados poucos dias fui à Vila de São José, aonde o vigário da mesma, Carlos Correia, me fez certo quanto o dito sargento-mor me havia contado; e disse-me mais: que era tão certo que estando o dito pronto para seguir para Portugal, para o que já havia feito demissão da sua igreja a seu irmão, o dito Gonzaga lhe embaraçara a jornada fazendo-lhe certo que com brevidade cá o poderiam fazer feliz, e que por este motivo suspendera a viagem. Disse-me o dito Vigário que vira já parte das novas leis fabricadas pelo dito Gonzaga e que tudo lhe agradava menos a determinação de matarem a V. Excia. e que ele, dito Vigário, dera o parecer ao dito Gonzaga que mandasse antes a V. Excia. botá-lo do Paraibuna abaixo e mais a Senhora Viscondessa e seus meninos, porque V. Excia. em nada era culpado e que se compadecia do desamparo em que ficavam a dita senhora e seus filhos com a falta de seu pai; ao que lhe respondeu o dito Gonzaga que era a primeira cabeça que se havia de cortar porque o bem comum prevalece

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ao particular e que os povos que estivessem neutros, logo que vissem o seu General morto, se uniriam ao seu partido. Fez-me certo este Vigário, que, para esta conjuração, trabalhava fortemente o dito Alferes Pago Joaquim José, e que já naquela comarca tinha unido ao seu partido um grande séquito; e que cedo havia partir para a capital do Rio de Janeiro a dispor alguns sujeitos, pois o seu intento era também cortar a cabeça do Senhor Vice-Rei; e que já na dita cidade tinham bastante parciais. Meu senhor, eu encontrei o dito Alferes, em dias de março, em marcha para aquela cidade, e pelas palavras que me disse me fez certo o seu intento e do ânimo que levava; e consta-me, por alguns da parcialidade, que o dito Alferes se acha trabalhando este particular e que a demora desta conjuração era enquanto se não publicava a derrama; porém que, quanto tardasse, sempre se faria. Ponho todos estes tão importantes particulares na presença de V. Excia. pela obrigação que tenho de fidelidade, não porque o meu instinto nem vontade sejam de ver a ruma de pessoa alguma, o que espero em Deus que, com o bom discurso de V. Excia., há de acautelar tudo e dar as providências sem perdição de vassalos. 0 prêmio que peço tão somente a V. Excia., é o rogar-lhe que, pelo amor de Deus, se não perca a ninguém. Meu senhor, mais algumas coisas tenho colhido e vou continuando na mesma diligência, o que tudo farei ver a V. Excia. quando me determinar. Que o céu ajude e ampare a V. Excia. para o bom êxito de tudo. Beijo os pés de V. Excia., o mais humilde súdito. Joaquim Silvério dos Reis, Coronel de Cavalaria dos Campos Gerais. Borda do Campo, 11 de abril de 1789. ***** Nota: Acostumamo-nos a aceitar a "História do Brasil" como nos contaram na escola. Aquela seria a "verdade" e não poderia haver contestação. Dias atrás recebi a carta-denúncia que Joaquim Silvério dos Reis enviou ao Visconde de Barbacena em 11 de abril de 1789. Nunca a havia lido e confesso que o fiz sem preconceito, esquecendo a fama que Silvério tem de traidor dos inconfidentes (e do Brasil). Pareceu-me que os inconfidentes não estavam pensando em libertar o Brasil do jugo português. Estavam preocupados com a Capitania de Minas Gerais e com as suas dívidas. O chefe do golpe era o Desembargador Tomás Antônio Gonzaga, que havia acabado de ser Ouvidor da Comarca. Tiradentes seria um soldado com muita influência na tropa. Para conseguir o intento os inconfidentes não se importavam em matar e decapitar os principais governantes: "E que a primeira cabeça que se havia de cortar era a de V.Excia. e depois, pegando-lhe pelos cabelos, se havia de fazer uma fala ao povo que já estava escrita pelo dito Gonzaga; e para sossegar o dito povo se havia levantar os tributos; e que logo passaria a cortar a cabeça do Ouvidor dessa vila, Pedro José de Araújo, e ao Escrivão da Junta, Carlos José da Silva, e ao Ajudante-de-Ordens Antônio Xavier; porque estes haviam seguir o partido de V. Excia. e que, como o Intendente era amigo dele, dito Gonzaga, haviam ver se o reduziam a segui-los; quando duvidasse, também se lhe cortaria a cabeça." Joaquim Silvério dos Reis era um homem de confiança do governo, sendo Coronel de Cavalaria dos Campos Gerais. Sua obrigação era ser leal aos seus superiores, ao poder constituído, fosse ele qual fosse. E assim ele agiu.

Como somos livres para lembrar, lembraremos. A comemoração do dia do herói é a lembrança do herói e do fracasso de todos que estavam em volta. Se não lembrarmos acabaremos por esquecer o significado do sofrimento sob os anti-heróis. Embora a carta acima tente justificar Joaquim Silvério dos Reis, na prática o resultado dela foi o que se viu, assim como o resultado de qualquer traição, inclusive do Judas que tentam redimir. Se A ou B foi inocente, e como tal útil aos não-inocentes, dá no mesmo, o resultado sempre foi desastroso.

Capítulo 9 Enquanto o Futuro Durar A Liberdade geral não é para sempre, ela está sempre sendo reinventada porque os tiranos e os ditadores estão sempre reaparecendo em outras pessoas, reelaboradas para atender aos ambientes da frente. A DITADURA VEM DA PESSOA • vem dos indivíduos (aqui o leque é muito aberto e as nuances são interessantíssimas); 12

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vem das famílias (faz um tempo elas estavam interessadíssimas em vigiar os filhos com câmeras ocultas); • dos grupos (as gangues são grupos fechados contra os fracos; você nunca terá visto uma grande provocar alguém mais forte); • das empresas (todo tipo de desmando acontece aqui; seria preciso contar os casos mais escabrosos num livro). A TIRANIA ACONTECE NO AMBIENTE • urbano-municipal; • estadual; • nacional; • mundial não houve nenhum (mas pode crer que vai haver).

atual Se não for reposto, momento finda e as ditador que aparece; que a lembrança está

o estoque de atos heróicos em algum pessoas ficam expostas ao primeiro quando os candidatos a ditador notam enfraquecendo eles se projetam desde a escuridão. Então, é uma onda. Ondas são ciclos, elas sobem e descem; elas possuem uma mecânica própria, a ser estudada. Se o modelo está certo, as ondas comportam quatro dobramentos: por exemplo, além de subir e descer em cada ponto, TODAS ELAS sobe, e descem, oscilando também para frente e para trás no plano e assim por diante, de modo que SEMPRE as pressões ditatoriais acabarão por encontrar uma brecha para vazar.

Capítulo 10 O Futuro Começa no Herói OS FUTUROS QUE OS HERÓIS COMEÇAM • futuro iluminado (o mais longo de todos); • futuro santo-sábio; • futuro estadista (o mais curto de todos). O FUTURO QUE VEIO DOS ILUMINADOS • de Abraão:

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de Buda:

de Clarice Lispector:

de Confúcio:

de Gandhi:

de Jesus:

de Lao Tse:

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de Maomé:

de Moisés:

de Vardamana:

de Zaratustra:

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• de outros. O FUTURO DOS SANTOS E O FUTURO DOS SÁBIOS santos

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sábios

O FUTURO DOS ESTADISTAS (eles bons, como os santos e sábios)

não

são

sempre

Winston Churchill

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Margareth Thatcher

Getúlio Dorneles Vargas

Abraham Lincoln

Adolf Hitler

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Fidel Castro

Júlio César

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Mao Zedong

Karl Marx

Lênin Iluminados, santos/sábios e estadistas são GRANDES PSICÓLOGOS que agiram ANTES dos problemas aparecerem. Eles resolvem o futuro antes do futuro chegar. Suas fórmulas são consultadas em vida e depois da morte por longos séculos e até milênios (como Buda, Confúcio, Lao Tse, Moisés e Abraão, no caso deste quase quatro mil anos). Eis então uma lista de começos, os começos dos heróis, os começos da Criação geral. Os heróis não são só aqueles que salvam um batalhão na guerra, são todos os que morreram para nos transmitir esse patrimônio de futuro que chamamos de presente: recebemos o presente e nem agradecemos. Recebemos o presente e nem perguntam quem o mandou até nós.

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ONDE E QUANDO O MUNDO COMEÇOU (façam o favor de preencher) HERÓI ONDE

VÁRIAS

VEZES

QUANDO

Foram eles, aqueles e aquelas lá. Quando nasci, em 1954, já herdei todos os heroísmos; se minha vida foi relativamente fácil, isso veio de sofrimentos vários que se interpuseram entre o passado e aquele ano, século após século, 100 séculos desde 10 mil anos. Milhares e milhares morreram das formas mais atrozes para que eu tivesse uma infância feliz (e você também). Isso é um patrimônio. Patrimônio heróico, que toda racionalidade tem, uns mais e outros menos, uns países fornecendo-os e todos aceitando-os. Como diz o ditado, “santo de casa não faz milagre”, indicando que o lugar que lhe deu nascimento pode rejeitá-lo e ele pode ser aceito alhures (como aconteceu com Cristo, Buda e outros). Os de casa não percebem o valor do santo. Isso também deve ser rastreado. Já que a heroicidade é um valor, sendo psicológica é um valor psicológico (definindo as figuras, os objetivos, as produções, as organizações e os tempespaços): dependem todos os lugares, para produzirorganizar da presença dos heróis, e por quê? Sim, dependem, porque eles tornam as pessoas preocupadas com os demais, com a coletividade – alargam a produçãorganização porque abrandam. Então, quando olhamos qualquer tempo presente, ele é também futuro, futuro de algum passado: este presente-futuro no qual vivemos, se é livre, é obra dos heróis, e todos nós que usufruímos da liberdade devemos agradecê-lo. Por outro lado, se o presente é encolhido, se é tolhido, é sinal seguro de que o número de covardes ultrapassou os atos heróicos. Vitória, sexta-feira, 22 de maio de 2009. José Augusto Gava.

ANEXOS Capítulo 1 AS CHICOTADAS NO HERÓI

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O Coliseu

Reconstrução do Coliseu que se encontra no Museo della Civiltà Romana Em 1972, São Josemaria dizia numa homilia: Venero com todas as minhas forças a Roma de Pedro e de Paulo, banhada pelo sangue dos mártires, centro de onde tantos saíram para propagar por todo o mundo a palavra salvadora de Cristo. Ser romano não implica nenhum particularismo, mas ecumenismo autêntico; supõe o desejo de dilatar o coração, de abri-lo a todos com as ânsias redentoras de Cristo, que a todos procura e a todos acolhe, porque a todos amou primeiro 1. As ruínas do Coliseu são testemunho eloquente da grandeza da antiga civilização romana e, ao mesmo tempo, da sua miséria e caducidade. De modo muito expressivo, João Paulo II caracterizava-o como «trágico e glorioso monumento da Roma imperial, testemunha muda do poder e do domínio da vida e da morte, onde parecem ressoar, quase como um eco interminável, gritos de sangue (cf. Jn 4, 10) e palavras que imploram concórdia e perdão» 2. Grandiosidade e crueldade O anfiteatro Flávio, que era o seu nome original, reflecte o génio romano, capaz de acometer empresas de grande envergadura cuidando ao mesmo tempo até os ínfimos pormenores práticos. Tudo nesta construção estava pensado para que as suas enormes dimensões e a sua solidez não prejudicassem nem a beleza nem a funcionalidade. O equilíbrio arquitectónico conseguiu-se graças aos três andares de arcadas, em que se distribuíram sabiamente os espaços para dar uma sensação de leveza. O sentido prático estava presente numa enorme quantidade de aspectos: nos acessos, com mais de oitenta portas que permitiam encher e esvaziar o anfiteatro em poucos minutos; na distribuição dos lugares sentados, calculada para que de cada um dos cinquenta mil lugares se pudesse ver perfeitamente a arena; no sistema de toldos que protegiam a multidão do sol e da chuva, e que eram estendidos por uma equipe de cem soldados da marinha; na complexa rede de subterrâneos, onde havia ascensores de roldanas para içar os combatentes e as feras… Demorou oito anos a construção deste grandioso edifício, empregando no trabalho uns doze mil escravos; na sua maioria hebreus, feitos prisioneiros por Tito depois da destruição de Jerusalém, no ano 70. O novo Amphitheatrum foi inaugurado no ano 80, com um programa de espectáculos e festejos que durou cem dias: faleceram na arena centenas de gladiadores, e morreram uns cinco mil animais selvagens. Também por essa época se celebraram as primeiras naumachiae, combates navais que se realizavam inundando o interior e que, pela sua novidade, devem ter impressionado vivamente os romanos. 19

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Martírio de Santo Inácio de Antioquia, de Johann Kreuzfelder Os sucessivos imperadores empenharam-se em proporcionar ao povo espectáculos cada vez mais aparatosos. Séneca já havia lamentado a espiral de violência e desumanidade a que conduzia este tipo de entretenimentos 3. O povo pedia sensações cada vez mais fortes, porque só lhe interessava o sangue, o puro homicídio e as matanças, quanto mais cruéis e sofisticadas melhor. Neste contexto, as execuções dos condenados não eram demasiado interessantes para o público, porque os réus indefesos quase não apresentavam resistência aos verdugos ou às feras. Por isso se levavam a cabo ao fim da manhã, entre as lutas de gladiadores que se tinham visto até esse momento e as que se levariam a cabo pela tarde. Muitos desses condenados, que perdiam a sua vida ante espectadores embrutecidos e as mais das vezes indiferentes, eram cristãos. Um martírio insigne «in Amphitheatrum» Um exemplo comovedor de como os primeiros cristãos enfrentavam o martírio foi-nos deixado por Santo Inácio de Antioquia, morto no tempo do Imperador Trajano. Convertido do paganismo, Inácio foi o segundo sucessor de São Pedro na sede episcopal de Antioquia. No ano 107 foi detido, condenado ad belvas -às feras- e enviado a Roma sob custódia militar para aí cumprir a pena. Conhecemos bastantes pormenores da longa viagem desde a Síria à capital do Império pelo historiador Eusébio de Cesareia e, sobretudo, graças às sete cartas que o próprio Santo Inácio escreveu às Igrejas de outras tantas cidades para as fortalecer na fé e preveni-las contra as heresias gnósticas, que então começavam a estender-se. Todas as cartas começam com uma saudação de Inácio, também chamado Teoforo, portador de Deus. O fundador do Opus Dei gostava deste apelativo: devia poder aplicar-se a todos os cristãos o apelativo que se usou nos começos: «portador de Deus». Age de tal maneira que possam atribuir-te «com verdade» esse admirável qualificativo 4. Muito cheio de Deus ia Santo Inácio, como reflecte o tom de felicidade que têm as suas cartas: cordialmente em Jesus Cristo e numa alegria imaculada…, são palavras com as quais saúda os efésios; deseja aos de Magnesia uma superabundante alegria em Deus Pai e em Jesus Cristo; e aos de Filadélfia envia-lhes uma saudação no sangue de Jesus Cristo, que é alegria eterna e constante… As razões da sua felicidade eram totalmente

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sobrenaturais, já que o futuro mártir conhecia o que o aguardava; e os esbirros que o conduziam não se distinguiam pela delicadeza: desde a Síria até Roma, escreve, vou lutando com as feras, por terra e no mar, de dia e de noite, atado a dez leopardos, isto é, a um pelotão de soldados. Estes, apesar do bem que recebem, tornam-se piores. Com os seus maus-tratos vou sendo mais discípulo [de Cristo] 5. Santo Inácio sentia-se feliz por compartilhar a Cruz de Jesus, e tinha o desejo ardente de que a sua identificação com Nosso Senhor se completasse com o martírio. Por isso, roga aos cristãos que não intercedam por ele junto das autoridades e manifesta o seu desejo de que as feras se lancem para o devorar rapidamente: não me vá acontecer, diz, como a alguns a quem, acobardadas, não tocaram 6. Eram famosos alguns casos em que os animais famintos não tinham atacado os cristãos ou inclusive se tinham lançado mansamente a seus pés, perante o assombro dos espectadores. Segundo antigas tradições, assim sucedeu a Santa Martina, a Santo Alexandre e São Marino, entre outros santos. O bispo de Antioquia foi lançado aos leões in Amphitheatrum 7. Assim viu cumprido o seu desejo: Sou trigo de Deus, e é preciso que seja moído pelos dentes das feras, para me converter em pão imaculado de Cristo 8. Depois do horrível espectáculo, os cristãos conseguiram resgatar alguns ossos do mártir, custodiaram-nos com veneração e mais tarde enviaram-nos para Antioquia: vós haveis gozado do seu episcopado – dizia São João Crisóstomo aos fiéis da cidade síria - e os romanos admiraram o seu martírio. O Senhor retirou-vos este precioso tesouro por pouco tempo para o mostrar aos romanos, e devolvemo-lo com maior glória 9. No século VII, contudo, por causa das invasões sarracenas, as relíquias foram de novo trasladadas para Roma, e hoje repousam na Igreja de São Clemente. Ali se pode ir agora a fim de, seguindo o conselho do Crisóstomo, usufruir frutos espirituais dessas sagradas relíquias, porque são como um tesouro do qual se pode participar sem que nunca se esgote 10.

Lápide comemorativa da consagração do Coliseu como lugar santo O caminho do ordinário Embora também o Circo Máximo, o Circo de Nero e outros lugares da Urbe tenham sido palco da morte de muitos cristãos, em 1749 o Papa Bento XIV consagrou o Coliseu como lugar santo em memória da Paixão de Cristo e dos sofrimentos dos mártires. Nesse mesmo ano, fez colocar ao redor da arena as estações da Via-sacra. Actualmente, logo ao entrar no Anfiteatro, vê-se de frente uma grande cruz de madeira negra, que convida a rezar. Nesse lugar, diante do instrumento da 21

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Paixão do Senhor e recordando quem deu a sua vida por Cristo, é natural que surjam desejos de maior entrega, de superar para sempre o nosso egoísmo, de que aumente em todos os cristãos o amor à mortificação… Aspirações santas que, com o auxilio da graça, se podem tornar operativas na vida do diaa-dia: Quantos, que se deixariam cravar numa Cruz, perante o olhar atónito de milhares de espectadores, não sabem sofrer cristãmente as alfinetadas de cada dia! – Pensa no que será mais heróico 11. O fundador do Opus Dei tinha uma grande devoção aos mártires dos primeiros séculos da Igreja. Recordou também que a santidade é para todos e alertava com frequência perante o erro de pensar que o heroísmo sobrenatural se limita a situações extraordinárias: perseguições, martírio, contradições de grande monta, ou a realização de grandes empresas para glória de Deus… Em vez de desejar ardentemente essas gestas – que poderão apresentar-se alguma vez, mas que na vida real serão muito pouco frequentes -, animava todos os cristãos a seguir o caminho da heroicidade no meio das circunstâncias em que cada um de nós se encontra. Daí o conselho de Caminho: Queres ser mártir. – Eu te indicarei um martírio ao alcance da mão: ser apóstolo e não te chamares apóstolo; ser missionário – com missão - e não te chamares missionário; ser homem de Deus e pareceres homem do mundo. Passar inadvertido! 12 Como os mártires, os que somos cristãos temos de ter o desejo ardente de cumprir a Vontade de Deus e de lhe manifestar o nosso amor, passando também pelo sacrifício, com alegria, porque a mortificação não é pessimismo nem espírito azedo. A mortificação nada vale sem a caridade; por isso, havemos de procurar mortificações, que, além de nos manterem livres em relação às coisas da terra, não mortifiquem os que vivem à nossa volta. O cristão não pode ser um verdugo nem um miserável; há-de ser um homem que sabe amar com obras, que prova o seu amor na pedra de toque da dor. Mas – insisto - essa mortificação não consistirá habitualmente em grandes renúncias, cuja oportunidade não se nos depara com frequência. Há-de estar feita de pequenas vitórias: ter um sorriso para quem nos incomoda, negar ao corpo o capricho dos bens supérfluos, habituar-nos a ouvir os outros, fazer render o tempo que Deus põe à nossa disposição… e tantos outros pormenores, aparentemente insignificantes – contrariedades, dificuldades, dissabores - que surgem ao longo do dia sem os procurarmos13. Notas 1. São Josemaria, Lealdade à Igreja (4-VI-1972). 2. João Paulo II, Via-sacra no Coliseu, Sexta feira Santa de 2003, Oração inicial. 3. Cf. Séneca, Epístolas morais a Lucílio I, 7, 3-5. 4. S. Josemaria, Forja, 94. 5. Santo Inácio de Antioquia, Carta aos romanos, V, 1. 6. Ibid., V, 2. 7. Martyrium Antiochenum VI, 3.

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8. Santo Inácio de Antioquia, Carta aos romanos, IV, 1. 9. São João Crisóstomo, In S. Ignatium Martirem hom., 5, PG 50, col. 594. 10. Ibid., col. 595. 11. Caminho, 204. 12. Caminho, 848. 13. São Josemaria, Cristo que passa, 37.

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Santa Águeda sendo torturada.

São Pedro sendo crucificado de cabeça para baixo.

Martírio de Valeriano e Tibúrcio.

Tiradentes esquartejado.

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SÁBADO, 13 DE DEZEMBRO DE 2008 Santo do Dia: Santa Luzia ou Lúcia

Somente em 1894 o martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado, quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro, em Siracusa, Nápoles. A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV. Mas a devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão ("Luzia" deriva de "luz"), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno, passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter cura nas doenças dos olhos ou da cegueira. Diz a antiga tradição oral que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a renegar a fé em Cristo. A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante Alighieri, na obra "A Divina Comédia", que atribuiu a santa Luzia a função da graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos, ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje. Luzia pertencia a uma rica família napolitana de Siracusa. Sua mãe, Eutíquia, ao ficar viúva, prometeu dar a filha como esposa a um jovem da Corte local. Mas a moça havia feito voto de virgindade eterna e pediu que o matrimônio fosse adiado. Isso aconteceu porque uma terrível doença acometeu sua mãe. Luzia, então, conseguiu convencer Eutíquia a segui-la em peregrinação até o túmulo de santa Águeda ou Ágata. A mulher voltou curada da viagem e permitiu que a filha mantivesse sua castidade. Além disso, também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como era seu desejo. Entretanto quem não se conformou foi o ex-noivo. Cancelado o casamento, foi denunciar Luzia como cristã ao governador romano. Era o período da perseguição religiosa imposta pelo cruel imperador Diocleciano; assim, a jovem foi levada a julgamento. Como dava extrema importância à virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo, nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram

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sobre seu corpo resina e azeite ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304. Para proteger as relíquias de santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária. Santa Luzia é celebrada no dia 13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês de maio também.

Capítulo 3 OS COVARDES E OS TRAIDORES MANIFESTOS (só os que são conhecidos como grandes covardes e grandes traidores, porque uma lista completa seria infindável, abarcando mais de 99 % dos bilhões de seres humanos que atingiram a vida adulta – sem falar noutros bilhões de pequenos covardes)

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Frases sobre Covardia "A covardia é a mãe da crueldade." (Michel de Montaigne) "A covardia, aviltando, preserva freqüentes vezes a vida." (Marquês de Maricá) "A pior forma de covardia é testar o poder na fraqueza do outro." (Maomé) "O medo tem alguma utilidade, mas a covardia não. (Mahatma Gandhi) "Esta covardia mole e tímida que não deixa nem ver, nem seguir a verdade." (Blaise Pascal) "Do medo de todos nasce, a covardia de quase todos." (Vittorio Alfieri) "Não há exemplos na História de se ter conquistado a segurança pela covardia." (Léon Blum) "Em que consiste a pior das covardias? Parecer-se covarde perante os outros e manter a paz? Ou ser-se covarde perante nós próprios e provocar a guerra?" (Jean Giradoux) "Covarde: alguém que, numa situação perigosa, pensa com as pernas." (Ambrose Gwinett Bierce) "A não-violência e a covardia não combinam. Posso imaginar um homem armado até os dentes que no fundo é um covarde. A posse de armas insinua um elemento de medo, se não mesmo de covardia. Mas a verdadeira não-violência é uma impossibilidade sem a posse de um destemor inflexível." (Mahatma Gandhi) "Os covardes são os que se encobrem sob as normas." (Jean-Paul Sartre) "O covarde nunca tenta, o fracassado nunca termina e o vencedor nunca desiste." (Norman Vincent Peale) "Os covardes morrem muito antes de sua verdadeira morte. " (Júlio César) "O covarde só ameaça quando se acha em segurança." (Goethe) "Covarde, realmente covarde é apenas quem teme as próprias lembranças." (Elias Canetti) "Um covarde é incapaz de demonstrar amor; isso é privilégio dos corajosos." (Mahatma Gandhi) "Saber o que é certo e não o fazer é a pior covardia." (Confúcio) "Um covarde é uma pessoa na que o instinto de conservação ainda funciona com normalidade." (Ambrose Bierce) "O covarde teme a morte, e isso é tudo o que teme." (Jean Racine) "Pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em covardes." (Abraham Lincoln) "Os covardes esmagam o que já caiu." (Ovídio) "Pois a flecha não fere os covardes." (Homero) "Covarde de coração, ousado de linguagem." (Tácito) "Covardia é medo consentido." (Ernst Legouvé) Quinta-feira, 20 de Março de 2008 Os dez maiores traidores da história Ao lado de todo grande homem tem sempre um grande traidor. Se você não acredita nisso,este ranking lhe dá dez bons motivos para desconfiar dos amigos, caso, claro, você tenha planos de gravar seu nome nos livros de história. 1- JUDAS ISCARIOTE GALILÉIA 33 ANOS APÓS O NASCIMENTO DE CRISTO

Ele não traiu ‘simplesmente’ uma pátria, um partido ou uma ideologia. O mais famoso traidor da história é até hoje lembrado como o sujeito que deu uma rasteira no filho único do Todo-Poderoso. E pior: segundo a Bíblia, Judas entregou Jesus Cristo aos soldados romanos em troca de míseras 30 moedas de prata. Arrependido, o apóstolo tentou devolver o dinheiro e voltar atrás, mas já era tarde. Cristo foi crucificado e Judas, culpado, suicidou-se. Em algumas cidades do mundo, inclusive aqui no Brasil, existe o costume de ‘malhar’ o Judas no sábado de Aleluia (o que vem antes do

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domingo de Páscoa). 2 TALLEYRAND-PÉRIGORD FRANÇA REVOLUÇÃO FRANCESA, SÉCULO 18

Para o ministro das relações exteriores de Napoleão Bonaparte, ‘traição é uma questão de datas’. Talvez por isso, Talleyrand não só tenha abandonado o imperador mas também mudado radicalmente de lado. Numa época em que a França espalhava pela Europa os princípios da revolução, ele organizou a deposição de Napoleão e a volta dos Bourbons para restaurar a monarquia. Depois da crocodilagem, Talleyrand trabalhou como embaixador de Luís XVIII, que sucedeu Napoleão, e representou a França no Congresso de Viena. 3 MARCUS JUNIUS BRUTUS ROMA 44 A.C.

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Brutus certamente não foi o primeiro traidor da história, mas foi o primeiro a se tornar famoso. Depois de lutar pelo Império Romano, comandado pelo seu pai adotivo, Júlio César, ele se uniu a outro traíra, o general Cássio Longinus, para tomar o poder. Não bastasse a traição, o cara aceitou colocar em prática o plano de assassinar o ‘papito’. Ao ser golpeado, César mandou a famosa frase: ‘Até tu, Brutus?’ Depois da traição, Brutus chegou a montar um exército para dominar o Império Romano, mas foi derrotado por Marco Antônio. Aí a consciência pesou e ele se suicidou. 4 HEINRICH HIMMLER ALEMANHA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1939-1945)

Abandonar os companheiros de luta e passar para o outro lado é considerado traição, independentemente do lado em que está lutando. Por isso, Himmler, o chefe da polícia nazista, está aqui. Afinal, quando ele percebeu que as chances de vencer a guerra eram praticamente nulas, não titubeou em abandonar Hitler e negociar uma rendição da Alemanha com os EUA e a Grã-Bretanha. Himmler tentou entregar a Alemanha para os Aliados em troca de sua liberdade. Mas não deu certo: ele foi considerado criminoso de guerra, foi preso e se suicidou.

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5 SILVÉRIO DOS REIS PORTUGAL BRASIL COLÔNIA, SÉCULO 18

Apesar de ser português, ele se tornou um dos traidores mais famosos do Brasil antes mesmo de o país se libertar de Portugal. Isso porque passou por cima logo do primeiro movimento de independência, a famosa Inconfidência Mineira. Para escapar das suas dívidas com a Coroa, ele entregou seu amigo Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. A conclusão todo mundo já sabe: o líder dos inconfidentes acabou enforcado e esquartejado. Além de ter suas dívidas perdoadas, o delator de Tiradentes ganhou uma pensão vitalícia do governo português e foi até mesmo recebido por dom João. 6 AUGUSTO PINOCHET CHILE DÉCADA DE 1970

No dia 25 de agosto de 1973, o presidente do Chile, Salvador Allende, escolheu um dos militares que considerava mais leais para assumir a chefia do Exército. Três semanas depois, Pinochet liderava um golpe militar para derrubá-lo e implantar uma ditadura que duraria 17 anos. Pinochet até ofereceu um avião para o presidente fugir, mas uma transmissão de rádio revelou que sua intenção era jogar Allende da aeronave em pleno vôo. Allende confiava tanto em Pinochet que, na manhã do dia do golpe, teria dito: ‘Chamem Augusto, ele é um dos nossos’. 7 DOMINGOS FERNANDES CALABAR BRASIL BRASIL COLÔNIA, SÉCULO 17

O único representante brasileiro da lista é considerado por muitos um dos primeiros traidores da história do país. Calabar era um senhor de engenho na capitania de Pernambuco e se aliou aos holandeses quando eles invadiram as terras brasileiras – na época, sob o domínio de Portugal. Como conhecia o território pernambucano como a palma de sua mão, ajudou em praticamente todas as conquistas da Holanda por estas bandas. Alguns historiadores questionam a fama de traidor de Calabar e alegam que ele lutou ao lado dos holandeses porque acreditava que, sem o domínio de Portugal, a pátria seria livre. 8 TOMMASO BUSCETTA

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ITÁLIA DÉCADA DE 1980

Foi um dos membros mais importantes da Cosa Nostra, a máfia italiana. E adivinhem onde ele enriqueceu? No Brasil, traficando drogas. Preso pela Polícia Federal em 1984 e deportado para a Itália, ele fez pinta de arrependido e entregou todo o esquema da máfia. Por colaborar com a polícia, Buscetta ganhou proteção especial e um salário para o resto de sua vida, que terminou em 2000, quando morreu de câncer. O italiano foi o primeiro traidor da máfia a ficar conhecido por quebrar o juramento de silêncio da organização. Ele se safou, mas a Cosa Nostra ‘apagou’ mais de dez pessoas de sua família 9 ALDRICH AMES EUA DÉCADAS DE 1980 E 1990

Espião da mais famosa agência de inteligência americana, a CIA, Aldrich Ames se vendeu para a KGB, o serviço secreto da Rússia, durante a Guerra Fria. Por alguns milhões de dólares, o traíra vendia para os russos o nome daqueles que trabalhavam para os EUA. Descoberto depois de quase 15 anos de serviços prestados aos inimigos, ele foi condenado à prisão perpétua. A Rússia contratou um traidor para ser seu dedoduro infiltrado na CIA, mas não perdoava traições. Pessoas delatadas por Ames não tinham perdão: muitas foram executadas antes mesmo de poderem se defender. 10- WANG JINGWEI CHINA GUERRA SINO-JAPONESA, DÉCADA DE 1930

Depois de participar do Kuomintang, movimento que lutava para unificar o país, Jingwei se revoltou e mudou para o lado inimigo justo quando a guerra da China contra o Japão pegava fogo, literalmente. Ele não apenas fez vista grossa para os avanços japoneses como conquistou a província de Nanquim para os novos amigos.Ao trocar a China pelo Japão, Wang Jingwei deixou de lado sua ideologia comunista para defender um país que fazia parte do grupo do Eixo, aquele mesmo que era comandado pela Alemanha nazista na Segunda Guerra. Fonte Rabiscado por Anderson Borges em 20.3.08

Capítulo 10 Santos

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Santo Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Para o cristianismo, são santos todos aqueles que foram convertidos e salvos por Jesus Cristo. Em Igrejas como a Católica, a Ortodoxa e a Anglicana, pessoas reconhecidas por virtudes especiais podem receber oficialmente o título de Santo. Esse título é uma espécie de "certificado de garantida" de que a pessoa está na graça de Deus (no céu), mas a falta desse reconhecimento formal não significa necessariamente que o indivíduo não seja um santo. Em muitas Igrejas Protestantes, onde não há qualquer processo de canonização, a palavra é muitas vezes usada mais genericamente para designar qualquer pessoa que é cristã.

Santos no Catolicismo e na Ortodoxia

Igreja Católica

História Organização[Esconder]

Igrejas particulares locais Igrejas particulares sui juris (23): de Rito Latino • Orientais (22) Hierarquia[Esconder]

Papa Bento XVI Cardeais • Patriarcas • Arcebispos • Bispos Presbíteros • Diáconos Leigos e Consagrados Teologia e Doutrina[Esconder]

Revelação divina • Tradição • Bíblia Cânon bíblico • Catecismo • Credo • Moral Sucessão apostólica • Concílios Ecuménicos SS Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo) Infabilidade e Primazia papais • Igreja Dez Mandamentos • Sermão da Montanha Corpus Mysticum • Transubstanciação Dogmas • Graça • Salvação • Reino de Deus Sacramentos • Pecado original • Virtudes Virgem Maria • Santos • Doutores da Igreja Doutrina Social • Apologética

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Justificação • Santidade • Heresia Liturgia e Culto[Esconder]

Piedade popular • Devoção • Ano litúrgico Dulia • Hiperdulia • Latria • Orações Missa • Eucaristia • Liturgia das Horas Ritos litúrgicos latinos e orientais Outros tópicos[Esconder]

Cristianismo • Catolicismo • Controvérsias Santa Sé • Vaticano • Ecumenismo Evangelização • Espiritualidade • Catequese Ordens e congregações • Institutos seculares Símbolos cristãos • Acção pastoral Música popular • Canto gregoriano • Arte cristã Concílio Vaticano II • Catolicismo tradicionalista • Portal sobre o Cristianismo

Na Igreja Católica e na Ortodoxa algumas pessoas são oficialmente reconhecidas como santos. Elas são vistas como tendo feito algo de extraordinário ou tendo uma especial proximidade com Deus. A veneração dos santos, em latim, cultus, ou o culto dos santos, descreve uma especial devoção aos santos populares. Embora o termo "culto" seja frequentemente utilizado, significa apenas prestar honra ou respeito (Dulia). O Culto Divino está devidamente reservado apenas para Deus (latria) e nunca para o Santos. Na teologia católica, uma vez que Deus é o Deus da Vida e, os santos estariam vivos no céu, podendo interceder ou orar junto à Deus por aqueles ainda em terra. A Igreja Católica baseia sua crença na passagem bíblica "Antes de tudo, pois, exorto que se use a prática de, súplicas, orações e intercessões, ações de graça, em favor de todos os homens" (1 Tm. 2:1). A bíblia também classifica o intercessor como "(...) aquele que se coloca entre vivos e mortos para que cesse a praga." (Nm, 16:48). Um santo pode ser designado como um santo padroeiro de causas específicas ou profissões, ou invocado contra doenças específicas ou catástrofes, mas isso é somente pensamento popular, não sendo uma doutrina oficial da Igreja. Os santos não têm poderes próprios, mas apenas que os concedidos por Deus. Relíquias de santos são respeitados e muitas vezes preservadas em igrejas. O processo de reconhecimento oficial de um santo é chamado, na Igreja Católica, de canonização. Isto só pode ter lugar após a sua morte uma vez que, segundo os princípios do Catolicismo Romano, mesmo a mais santa pessoa viva pode cair em pecado mortal até o último momento. Na Igreja Ortodoxa Oriental, é mais no sentido de evitar a pressa e permitir um amplo tempo de reflexão sobre a vida da pessoa. A Igreja Católica sempre acreditou que desde os primeiros tempos do cristianismo os Apóstolos e os Mártires em Cristo estão unidos a nós mais estreitamente, venerou-os particularmente juntamente com a bem-aventurada Virgem Maria e os Santos Anjos, e implorou devotamente o auxílio da sua intercessão. A eles se uniram também outros que imitaram mais de perto a virgindade e a pobreza de Cristo e além disso aqueles cujo preclaro exercício das virtudes cristãs e dos carismas divinos suscitaram a devoção e a imitação dos fiéis. (...) A Sé Apostólica (...) propõe homens e mulheres que sobressaem pelo fulgor da caridade e de outras virtudes evangélicas para que sejam venerados e invocados, declarando-os Santos e Santas em ato solene de canonização, depois de ter realizado as oportunas investigações. (João Paulo II, Const. Apost. Divinus perfectionis Magister). Segundo Bento XVI a santidade é uma tarefa que não exclusiva apenas dos cristãos, mas de todo ser humano. Recordou que nos primórdios do cristianismo os cristãos eram chamados de "os santos". Com efeito, afirmou, o cristão já é santo, porque o

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Batismo o une a Jesus e a seu Mistério Pascal, mas, ao mesmo tempo, deve chegar a sê-lo identificando-se com Ele mais intimamente". Às vezes, costuma-se pensar que a santidade é uma condição de privilégio reservado a uns poucos escolhidos. Na realidade, ser santo é tarefa de todo cristão, de todo homem. Segundo a epístola de São Paulo aos Efésios "Deus sempre nos abençoou e nos escolheu em Cristo para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença, no amor". Todos os seres humanos são, portanto, chamados à santidade. Em última instância, a santidade consiste em viver como filhos de Deus, na "semelhança" com Ele, segundo a qual foram criados. Todos os seres humanos são filhos de Deus e todos devem chegar a ser aquilo que são, mediante o exigente caminho da liberdade. (Por ocasião da Solenidade de Todos os Santos de 2007)

Procedimento No Catolicismo moderno, o caminho para uma pessoa ser canonizada é regulado pela Constituição Apostólica Divinus perfectionis Magister, de 25 de janeiro de 1983, e pelas Normae da Sagrada Congregação para as Causas dos Santos, de 7 de fevereiro de 1983. Em 18 de fevereiro de 2008 a Santa Sé torna público a instrução "Sanctorum Mater" da Congregação para a Causa dos Santos sobre as normas que regulam o início das causas de beatificação juntamente com o "Index ac status causarum". Segundo aquelas normas, ao bispo diocesano ou autoridade da hierarquia a ele equiparada, de iniciativa própria ou a pedido de fiéis, é a quem compete investigar sobre a vida, virtudes ou martírio e fama de santidade e milagres atribuídos e, se considerar necessário, a antiguidade do culto da pessoa cuja canonização é pedida. Nesta fase a pessoa investigada recebe o tratamento de "Servo de Deus" se é admitido o início do processo. Haverá um postulador que deverá recolher informações pormenorizadas sobre a vida do Servo de Deus e informar-se sobre as razões que pareceriam favorecer a promoção da causa da canonização. Os escritos que tenham sido publicados devem ser examinados por teólogos censores, nada havendo neles contra a fé e aos bons costumes, passa-se ao exame dos escritos inéditos e de todos os documentos que de alguma forma se refiram à causa. Se ainda assim o bispo considerar que se pode ir em frente, providenciará o interrogatório das testemunhas apresentadas pelo postulador e de outras que achar necessário. Em separado se faz o exame do eventual martírio e o das virtudes, que o servo de Deus deverá ter praticado em grau heróico (fé, esperança e caridade; prudência, temperança, justiça, fortaleza e outras) e o exame dos milagres a ele atribuídos. Concluídos estes trabalhos tudo é enviado a Roma para a Sagrada Congregação da Causa dos Santos. Para tratar das causas dos santos existem, na Congregação para a Causa dos Santos, consultores procedentes de diversas nações, uns peritos em história e outros em teologia, sobretudo espiritual, há também um Conselho de médicos. Reconhecida a prática das virtudes em grau heróico o decreto que o faz declara o Servo de Deus "Venerável". Havendo apresentação de milagre este é examinado numa reunião de peritos e se se trata de curas pelo Conselho de médicos, depois é submetido a um Congresso especial de teólogos e por fim à Congregação dos cardeais e bispos. O parecer final destes é comunicado ao Papa, a quem compete o direito de decretar o culto público eclesiástico que se há de tributar aos Servos de Deus. A Beatificação portanto, só pode ocorrer após o decreto das virtudes heróicas e da verificação de um milagre atribuído à intercessão daquele Venerável.

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O milagre deve ser uma cura inexplicável à luz da ciência e da medicina, consultando inclusive médicos ou cientistas de outras religiões e ateus. Deve ser uma cura perfeita, duradoura e que ocorra rapidamente, em geral de um a dois dias. Comprovado o milagre é expedido um decreto, a partir do qual pode ser marcada a cerimônia de beatificação, que pode ser presidida pelo Papa ou por algum bispo ou cardeal delegado por ele. Caso a pessoa em causa já tenha o estatuto de beato e seja comprovado mais um milagre pela Igreja, em missa solene o Santo Padre ou um Cardeal por ele delegado declarará aquela pessoa como Santa e digna de ser levada aos altares e receber a mesma veneração em todo o mundo, este é o processo de Canonização.

Colégio de Postuladores Em 17 de dezembro de 2007 o Papa Bento XVI dirigindo-se aos membros do Colégio de Postuladores para as Causas de Beatificação e Canonização da Congregação para as Causas dos Santos reafirmou que "todos os que trabalham pelas causas do santos (...) estão chamados a por-se exclusivamente a serviço da verdade. Por isso, durante a investigação diocesana, as provas testemunhais e documentais devem-se recolher tanto quando são favoráveis como quando são contrárias à santidade, à fama de santidade ou martírio dos Servos de Deus". Considera que por isto "é chave a tarefa dos postuladores, tanto na fase diocesana, como na fase apostólica do processo; uma tarefa que deve ser irrepreensível, inspirada na retidão e encaminhada à probidade absoluta." [1]

No Protestantismo Na maioria das Igrejas Protestantes, a dulia e a hiper-dulia são condenadas por serem consideradas venerações feitas a pessoas, algo segundo a sua doutrina proibido pela Bíblia. Por não existir qualquer processo de canonização em suas doutrinas, a palavra é usada para significar um compromisso verdadeiro com Deus e seus ensinamentos, ou seja, essa pessoa sabe que é impossível ser perfeita como Jesus foi, mas sabe também que depois de sua conversão, o pecado não deve fazer parte de seus hábitos. Uma vida separada, que procura fazer o bem e agradar a Deus, indo contra os pecados, esse é o significado de Santidade para os evangélicos protestantes. A Igreja Anglicana, apesar de ser uma igreja reformada, usa também a designação de Santo numa forma semelhante àquela das Igrejas Católica e Ortodoxa.

No Judaísmo A noção mais próxima que se pode obter no Judaísmo é a de tzaddik, uma pessoa correcta. O Talmude diz que em determinada altura pelo menos 36 tzaddikim vivem entre nós: são anônimos, mas é por causa deles que o mundo não é destruído. O Talmude e a Kabbalah oferecem vários ideais sobre a natureza e o papel destes 36 tzaddikim. Conforme o Zôhar (explendor em hebraico), que é uma coleção de comentários sobre a Torá (Bíblia Judaica), se não fosse a intercessão das almas puras no Céu, nosso mundo seria extinto...

No Islã Existiram até ao século XX figuras carismáticas que regulavam os conflitos entre os clãs rivais. Tinham um estatuto especial e muitas vezes mágico. Ernest Gellner estudou estas figuras místicas e documentou o seu trabalho num livro chamado "Santos do Atlas".

Curiosidades Em português, convencionou-se a utilização do substantivo "santo" para nomes

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masculinos iniciados por vogal ou a letra H – exemplo, santo Antônio e santo Hipólito – e de "são" para nomes iniciados por consoante – exemplo, são Bernardo. As únicas exceções são santo Tirso, são Tomás – também conhecido como "santo Tomás" – e santo Agostinho, também conhecido como "são Agostinho". Para as santas usa-se sempre "santa".

Referências

1. ↑ Vatican Informatio Service, 17.12.2007 - AñoXVII - Num. 217

SANTOS & SANTAS Cada dia tem o seu santo (1) Santos e santas de cada mês com uma pequena biografia extraído do site. Cada dia tem o seu santo (2) Calendário dos santos e santas da Igreja católica. Calendário dos santos Calendário dos santos e santas da Igreja católica. Estatística dos santos Quantos são os santos cultuados pela Igreja católica? Outras curiosidades. Figuras dos santos Ícones dos santos e santas de nossa devoção. Fisionomia dos santos Conheça aqui neste site o verdadeiro rosto de uns santos de nossa devoção. http://www.santododia.com.br/biografia/fisionomia. htm Glossário santos Conheça o sentido dos termos utilizados na canonização dos santos na Igreja. Nome e festa das santas Ordem alfabética das SANTAS no calendário litúrgico da Igreja católica. Nome e festa dos santos Ordem alfabética das SANTOS no calendário litúrgico da Igreja católica. Ordem alfabética santos Ordem alfabética dos santos e santas e suas biografias tiradas do site. http://www.santododia.com.br/anointeiro/vidasantos .htm Santos casados Relação dos santos e santas casados. Santo do dia Santos e santas por cada dia do ano litúrgico. Biografia. Doutrina. http://www.santamissa.com.br/santo/santo.asp Santopédia Site em espanhol com a biografia de todos os santos e santas de Deus.

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Santos dos países Elenco dos santos e santas padroeiros dos diversos países e regiões do mundo. Santos doutores Elenco dos santos doutores da Igreja católica. Santos e o culto das imagens "A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração". Santos padres Os pais da Igreja que a defenderam contra as heresias e deram vida à Tradição. Santos padroeiros Os santos padroeiros das diversas atividades humanas e situações da vida. Santos padroeiros das profissões Muitos destes santos não são considerados padroeiros pela autoridade eclesiástica e sim pela tradição popular. Santos protetores dos males e doenças Para cada enfermidade, uma santa e um santo padroeiro. Vida de santo Agostinho - doutor da Igreja A santidade a serviço da Verdade e do Reino. Conheça aqui. Vida dos santos Conheça melhor a vida e as obras dos santos e santas, nossos companheiros. Sábado, 1 de Novembro de 2008 Todos os Santos 1 de Novembro «Os Santos, tendo atingido pela multiforme graça de Deus a perfeição e alcançado a salvação eterna, cantam hoje a Deus no Céu, o louvor perfeito e intercedem por nós. A Igreja proclama o mistério pascal, realizado na paixão e glorificação deles com Cristo, propõe aos fiéis os seus exemplos, que conduzem os homens ao Pai por Cristo; e implora, pelos seus méritos, as bênçãos de Deus. Segundo a sua tradição, a Igreja venera os Santos e as suas relíquias autênticas, bem como as suas imagens. É que as festas dos Santos proclamam as grandes obras de Cristo nos Seus servos e oferecem aos fiéis os bons exemplos a imitar» (Constituição Litúrgica, n.º 104 e 111).

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Nós Vos adoramos, Senhor nosso Deus, única fonte de santidade, admirável em todos os Santos, e confiadamente Vos pedimos a graça de chegarmos também nós à plenitude do vosso amor e passarmos desta mesa de peregrinos ao banquete da pátria celeste. Por Nosso Senhor.

FRASES DE SANTO AGOSTINHO “Deus que te criou, não quer nada de ti, fora de ti mesmo”. "Amar: Ir perder-se de si! Encontrar a Deus!" "Na escola da vida, Deus é o único professor à procura de bons alunos". "Pouco importa o quanto fazes, o que importa é quanto amas". "A boa ordem se impõe pela disciplina". "Ninguém deve estar tão embebido nas coisas de Deus, que se esqueça das coisas dos homens". "Feliz o que te ama a Ti, Senhor, e ama ao amigo em Ti e ao próprio inimigo por Ti". "Ó Beleza sempre antiga e sempre nova, tarde Te amei". "Quem conhece a verdade, conhece esta luz, e quem a conhece, conhece a Eternidade". "Na dúvida, liberdade; Na certeza, unidade; Em tudo, caridade". "Que eu me conheça a mim mesmo, que eu Te conheça Senhor". "A verdadeira força consiste em ter a coragem de agir quando se tem fortes medos, dúvidas ou desejos alternativos". "Vós sois tudo o que possuo, pois sois meu Deus. Sois não apenas o doador da minha herança, mas ela própria". "A vida é uma passagem do infinito onde saímos para o infinito onde vamos". “Sou tua herança Senhor, e tu és a minha, pois eu te sirvo e tu me cultivas". "Não peças coisa alguma a Deus, senão Deus mesmo. Ama-o, gratuitamente". "Não saias de ti, mas volta para dentro de ti mesmo, a verdade habita no coração do homem". "A amizade entres as pessoas torna-se querida pelo vínculo suave que une muitas almas numa só". "Aqueles que pretendem encontrar a alegria fora de si, facilmente encontram o vazio". "Rezar no templo de Deus é rezar na paz da Igreja, na unidade do corpo de Cristo". "Em ti está o repouso que faz esquecer todas as fadigas". "O Filho de Deus se faz homem para nos servir de caminho. Percorrendo o caminho de sua humanidade, chegaremos à divindade".

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A Santidade na Tradição Ortodoxa Clara Cortazar Goettmann «Santo, Santo, Santo o Senhor Deus Sabaoth...» antamos no momento mais solene e essencial da Divina Liturgia, durante a Oração Eucarística. A Igreja não inventou esta aclamação, tão pouco a inventou um homem. (Is 6,3) Isaías a escutou da boca dos Serafins que rodeavam o Trono, e nos transmitiu junto com os detalhes de sua visão. «No ano da morte do rei Ozias, vi o Senhor sentado em um trono alto e elevado. A orla de seu manto enchia o santuário. Serafins estavam de pé acima dele. Cada um tinha seis asas: com duas cobriam a face, com duas cobriam os pés e com duas voavam. E clamavam uns para os outros: "Santo, santo, santo é o Senhor Sabaoth, e toda terra está cheia de sua glória!» Os gonzos da porta começaram a tremer à voz daquele que clamava e o templo se enchia de fumaça. Eu disse então: «Ai de mim! Estou perdido, porque sou um homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de lábios impuros, e meus olhos viram o rei, o Senhor Sabaoth». (Is 6,1-5) Evidentemente, neste contexto, a palavra “Santo” não designa qualidades “morais” do Senhor Sabaoth. Não quer dizer que Deus é clemente, misericordioso, sábio, justo, providente, grande.... A fumaça, o tremor, o terror que invade o profeta, a consciência repentina de sua pequenez e sua impureza, a sensação de uma morte segura indicam que esta santidade cantada pelos “ardentes”, os serafins, é, em Deus, uma realidade inerente a seu Ser mesmo: aquilo que o faz ser totalmente “Outro”, diferente de todo o universo criado. E esta realidade “discriminadora”, “separadora”, estabelece um abismo entre o Ser de Deus e os outros seres (e daí o terror), mas irradia, não obstante, sobre toda a terra, na Glória. «A Santidade Divina tem um aspecto 'negativo', imaculado (sem mancha, sem mescla) um aspecto de pureza e purificação». Jacques Goettmann. Teologia do Ano Litúrgico, 1982) Também tem um aspecto incompreensível, inacessível: «Deus é infinito e incompreensível e só o que podemos compreender é sua infinitude e sua incompreensibilidade. Deus não tem nada de outros seres, não porque não seja Ser, mas porque está cima de todos os seres, transcendendo o próprio ser». (São João Damasceno – Da Fé Ortodoxa 1,4) «Deus é temível no conselho dos Santos, terrível para os que O rodeiam. Quem é semelhante ao Senhor nas alturas? Quem é comparável ao Senhor entre os filhos dos deuses?”» Sl 89) Porém, na glória esta santidade irradia sobre toda a terra e nela Deus se dá a conhecer.

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«A Glória designa uma realidade de pesada densidade e irradiação luminosa. Na Glória, Deus manifesta sua Presença». (Jacques Goetmann) «Sede Santos como Eu sou santo», é um estribilho que ritma as prescrições do Levítico. Deus é o único Santo, mas deseja transmitir esta santidade a seu povo e a cada um de nós. «Assim como Ele, que os tem chamado, é Santo, assim também vós sede santos». 1Pd 1,15 Todos conhecemos a célebre frase dos Pais da Igreja: «Deus se fez homem para que o homem se faça Deus». Nesta fórmula de extrema simplicidade e concisão está explicitada a vocação do homem: Deus lhe transmite sua santidade, quer dizer, seu próprio ser, e o faz «partícipe da natureza divina, tirando-o da corrupção do mundo.» (2Pd 1, 4). «A ‘Theosis’, a deificação das criaturas se realizará em sua plenitude no século futuro, depois da Ressurreição do mortos. Contudo, desde agora, é necessário que esta união deificante se efetue, mudando a natureza corrompida e adaptandoa à vida eterna». Vladimir Lossky. Santo Irineu fala quen «Deus se acostuma ao homem e o homem a Deus», indicando um processo de convivência e mútua adaptação. Deus se acostumou ao homem em Jesus Cristo, Deus e Homem em duas naturezas. E agora o homem pode cooperar, se quiser, para adquirir lentamente a natureza divina e ser ‘homem-deus’ em duas naturezas. «Um só é santo, um só Senhor, Jesus Cristo, na glória de Deus Pa»” – canta a Igreja antes da comunhão eucarística. O Espírito Santo é a potência de santidade e de santificação, e Ele a comunica à Criação, santificando os homens, consagrando as coisas, os lugares e o espaço. Assim, a santidade é uma qualidade, um atributo exclusivo da Divina Trindade; mas também uma energia, um dom e uma vocação do homem que foi chamado a participar na vida divina, por ser imagem de Deus. Ser santo é ser filho de Deus, viver da vida em Cristo: “Já não sou eu quem vivo, mas Cristo vive em mim” (Gl 2,20) . A santidade é o programa, a vocação do destino humano. Esta vocação esta enraizada em nossas profundidades como um gérmen que deve crescer, como uma semente que deve se desenvolver e que toma pouco a pouco nosso espaço interior. "Desde Pentecostes, o Espírito paira sobre a terra que está inflamada pelo fogo do espírito e irrigada pelos rios de água viva.” (Boris Bobrinskoy, Sainteté, p. 21). São Serafim de Sarov, no conhecido diálogo com Motovilov, disse que: «...o objetivo da vida cristã é a aquisição do Espírito Santo... A Oração, o jejum, as vigílias e todas as práticas cristãs, ainda que muito boas em si mesmas, não representam de nenhuma maneira, por si só, o fim de nossa vida cristã. Elas são meios indispensáveis para se chegar a tal fim». (São Serafim de Sarov). Portanto, as virtudes e as boas obras só são interessantes, na medida em que são meios ou quando são sintomas da vida de Deus em nós. A noção de mérito ou de heroísmo humano é estranha à tradição ortodoxa. «Não se trata de méritos, mas de uma colaboração, uma sinergia das duas vontades, divina e humana, um acordo na qual a graça se dilata mais e mais. A graça é uma presença de Deus em nós que exige de nossa parte esforços constantes. Certamente, estes esforços, de nenhum modo determinam a graça, nem tão pouco a graça move nossa liberdade como uma força que lhe fora estranha.» (Vladimir Lossky).

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«A santidade não consiste em uma vida exemplar, senão em uma resposta adequada ao projeto de Deus para cada um de nós. Trata-se de capturar um sinal de Deus no momento crucial de nossa vida.» (Hèlene Arjakovsky-Klepinin - SOP 287 abril de 2004) «O homem por si só não pode nada; mas, Deus tão pouco faz algo por si só». (São Macário, Homilia Espiritual 37). “O Espírito Santo” – disse São Teófano, o Recluso – “atuando em nós, realiza para nós nossa salvação". Um pouco adiante, acrescenta: “[...] e o homem cumpre a obra de sua salvação assistido pela graça”. (Lossky). A transmissão da santidade provoca, em nós, “separações” “discriminações”. “Tenho manifestado teu Nome aos que me destes, tirandoos do mundo” Disse Jesus ao Pai. (Jn 17,6). “Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me”. (Mc 8, 24). Porque nossa natureza esta ferida pelo pecado e tem o gosto da morte, há que deixar a vida de pecado, até violentamente se for necessário, numa ruptura. “Renunciar ao mundo”, como se disse, implica uma volta do homem sobre si mesmo, uma concentração, uma re-integração do ser espiritual uma opção pela vida em profundidade. A literatura acética nos ensina que nossos esforços, por inúteis que pareçam, são necessários: são uma constante tensão da vontade. É a conversão. E esta tensão não pode manter-se se não deixarmos de lado muitas coisas, boas e ruins, que nos dispersam no mundo exterior e impedem a abertura dos olhos interiores que poderão, finalmente, ver. Existe uma relação entre verdade e santidade. «Os homens que não são capazes de levar uma vida santa, não são capazes tão pouco de aceitar a verdade cristã. Desde o começo da história da Igreja, sempre esteve presente a mesma regra: a verdade da fé se desvela mais e mais claramente ao homem na medida que este se purifica. Um dos “atletas” espirituais modernos, Teófano – o recluso, confirma por sua própria experiência: ‘A Verdade é clara. Se as paixões não obscurecem nossa razão, a verdade não pode passar despercebida. Por conseqüência, todo desvio da fé deriva do pecado, das paixões.» (Nicolas Velimirovich, Le Messager Orthodoxe 106). «Purifiquemos nossos sentimentos e veremos o Cristo Resplandecente», dizemos nas Laudes de Páscoa. Sem purificação não há visão. «O sol dispensa seus raios com a mesma abundância sobre as pedras limpas como sobre as sujas, mas só as pedras limpas refletem os seus raios. Deus também dispensa sua luz divina com a mesma abundância sobre as almas puras como sobre as impuras, mas só as primeiras O refletem». (Nicolas Velimirovich). Não obstante, este esforço não deve estar dirigido para adquirir a perfeição (num sentido moral), mas, o Espírito Santo; não deve estar dirigido para mim, mas para Ele. A santidade esta arraigada na “hipóstasis”, a pessoa. [...] «e revela, à verdadeira pessoa, resplandecente em sua beleza original, a pessoa tal como Deus quis ao criá-la, pois Deus deseja que cada um o adore e o ame de maneira única. Essa é a beleza da pessoa: sou único, não haverá nenhum outro como eu. A realização de minha pessoa por humilde que seja, é minha oferenda a Deus, que nada mais pode fazer.» (Lumière du Thabor, citado por Bobrinskoy, op cit). «'‘Eu’ se converte em hipóstasis quando entra em contato com outros ‘eu’. A hipóstasis não pode subsistir sozinha”. (Monsenhor Jean, Iniciação Trinitária

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p.63) «Cada um é um ser à parte; cada pessoa humana é única, é excepcional. Portanto, cada santo conserva sua identidade, sua fisionomia própria. A comunidade dos doze “tinha um só coração e uma só alma”. (At 4,32). Cada apóstolo manifestou sua adesão ao Mestre de maneira particular, na variedade multiforme da vida em Cristo. E cada evangelista nos transmitiu a mensagem do Verbo com uma matiz própria, sem deixar o essencial.» (Metropolita Emilianos). Por esta razão, os santos são sempre de uma surpreendente originalidade e de uma surpreendente liberdade, Porém esta originalidade, por ser “pessoal”, “hipostática”, é vivida em comunhão com o Outro e com os outros. Paxadoxalmente, “o que quer salvar a sua vida a perderá; e quem perder sua vida por Mim, a salvará. (Mc 8,35). «Na Igreja Ortodoxa, o homem não é um solitário. Não segue individualmente o caminho da salvação. Membro do Corpo do Salvador, compartilha o destino de seus irmãos em Cristo, se justifica pelos justos, é responsável pelos pecadores. A Igreja Ortodoxa não é um lugar de presença solitária diante de Deus, mas um lugar de comunhão.» (Madre Maria Skobtsov , Le Sacrement du frère) A Santidade é universal porque é divina; porém, está arraigada profundamente no tempo e no espaço, na história humana concreta, nas circunstâncias da vida. Por isso é importante conhecer a vida dos santos: não para imitá-los servilmente - seria um contra-senso, pois imitando-o aniquilo minha pessoa - mas para aprender deles com que inventiva, com que criatividade, com que diversidade de métodos e de atividades, com que humildade, com que temores e trabalhos “encarnaram” a Vida divina em sua própria vida. Não há pois fronteira entre eles e nós: os santos estão entre nós. Eles, que chegaram à visão e à intimidade com Deus, intercedem por nós, sejam conhecidos ou não, tenham já nascido no céu ou não: eles são portadores do espírito e impedem que o mundo se desagregue. «O ata de canonização é um testemunho do Espírito que inspira à Igreja e lhe abre os olhos sobre os portadores do Espírito. Constitui as vezes, uma confirmação eclesial e uma certificação do povo de Deus, confirmação que chega, a seu tempo, segundo o olhar do Espírito... Mas é preciso sublinhar que a canonização não faz um santo, nem decide seu destino eterno. Pela canonização, a Igreja terrena no pretende conferir ao santo parte da glória eterna. Na realidade, trata-se de um ato da Igreja terrena que convida as pessoas a venerar a pessoa canonizada nos marcos e segundo as formas tradicionais de culto público.» (Bobrinskoy). Para a “canonização” de um santo, ou melhor, na linguagem ortodoxa, para a sua “glorificação”, seguem-se certos passos. Em primeiro lugar, depois de seu nascimento para o céu, inicia-se mais ou menos rapidamente, um estudo de sua vida, seus atos, suas palavras. Em geral, este estudo é levado a cabo por membros da comunidade e pela igreja local a qual pertencia o santo. A perfeita ortodoxia de sua fé deve ser reconhecida por teólogos e hierarcas. Constitui-se assim um pedido que é levado ao Sínodo dos Bispos e ao Patriarca, quando há. Depois de se estudar o caso, e se houver acordo, o Sínodo expede imediatamente um documento, uma Ata de Canonização. Depois de uma breve resenha da vida do santo, ficam fixados os critérios pelas quais se chegou a decisão. Eis aqui o parágrafo essencial

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de uma dessas atas: «Decretamos e ordenamos em Sínodo e recomendamos no espírito Santo que o Presbítero Dimitri Klepinin, a Monja Maria Skobtsov, Iuri Skobtsov e Elias Fondaminski, que terminaram suas vidas santamente e como mártires, sejam contados entre os bem aventurados mártires e santos da Igreja, honrados pelos fiéis e celebrados por hinos de louvor a cada ano no dia 20 de julho.» (Ata de canonização do Sínodo da Igreja de Constantinopla). Imediatamente é fixada a data de sua “glorificação”. Nesse dia, no decorrer de uma sole Liturgia Eucarística com as relíquias presentes, sempre que possível cantam-se pela primeira vez os hinos ou tropários dedicados àqueles santos, sendo expostos seus ícones para a veneração dos fiéis. O nome do novo santo ingressa imediatamente no calendário litúrgico da Igreja. É bom esclarecer que para a Igreja Ortodoxa, o “milagre” não é o único sinal que comprova a santidade de alguém. Quando Paulo enumera os carismas, põe em relevo uma diversidade imensa: «A um é dada pelo Espírito a palavra de sabedoria. A outro, a palavra de ciência segundo o mesmo Espírito. A outro, a fé no mesmo Espírito. A outro, o dom de curas no mesmo Espírito. A outro, o poder de fazer milagres. A outro, profecia. A outro, discernimento de espíritos. A outro, falar línguas estranhas. A outro, interpretação de línguas. Todas estas coisas as realiza um único e mesmo Espírito, que distribui a cada um conforme quer. No presente permanecem estas três: fé, esperança e caridade; delas, porém, a mais excelente é a caridade.» (1Cor 12,8-10; 13,13). Os Santos servem à Igreja de diversas maneira e, poucas vezes, espetaculares. Há inumeráveis justos que viveram na humildade e a na oração, que entregaram suas vidas em oferenda a Deus para a construção de seu Reino, e que passaram totalmente desapercebidos por seus contemporâneos. Temos um exemplo de um outro santo ortodoxo do século XX, recentemente canonizado: o padre Aléxis Medvedkov, (1867-1934). Nascido na Rússia, foi presbítero de um pequeno povoado na região de São Petersburgo, até que foi detido pelos bolchevistas em 1918. Já estava diante do pelotão de executores quando, por intervenção de amigos, conseguiu se salvar. Conseguiu escapar da Estônia, onde viveu em circunstâncias de total pobreza, trabalhando como mineiro e catequizando. Em 1930 emigrou para a França onde foi recebido pelo Metropolita Eulogio, que o destinou a uma pequena paróquia em Ugine, em Savóia . Passava quase todo o seu tempo rezando na Igreja e cumpria seu ministério com abnegação em condições muito precárias e ante a indiferença de boa parte de seus fiéis. Morreu de câncer em 1934. Quando o cemitério de Ugine foi transferido, em 1956, encontraram seu corpo absolutamente intacto em ornamentos sacerdotais igualmente intactos. Isto foi interpretado como um sinal de santidade, sendo seu corpo transportado para uma cripta da Igreja da Dormição de Nossa Senhora em Santa Genoveva de Bois, perto de Paris. Há muito mais santos desconhecidos que conhecidos; não canonizados que canonizados. Não são só os canonizados que intercedem por nós, posto que a intercessão não é uma prerrogativa única dos santos, já que os vivos e os mortos intercedem uns pelos outros. «Muitos santos só são conhecidos por Deus. O Reino de Cristo nos céus estaria, com efeito, cheio de tristeza e muito reduzido se não houvesse muito mais santos

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além daqueles que têm seus nomes inscritos no calendário litúrgico. Deus não revela ao mundo todos os seus santos, somente aqueles cuja aparição pública se faz necessário para a necessidade da Igreja, da época ou de um povo em particular.» (Nicolas Velimirovich – El Prólogo de Ohrid). “A Igreja é o Corpo dos Três” – dizia Tertuliano. Na Igreja, a santidade de Deus se manifesta e se encarna. Unidade profunda do céu e da terra revelada por aqueles que o Espírito marcou com seu selo e que o Espírito também nos revela como portadores da imagem de Cristo. Santa Igreja, comunhão de Santos, anúncio do Reino do qual ela é sacramento. «Sem os santos não há mestres nem pedagogos verdadeiros; tampouco, há ensinamentos verdadeiros sem a santidade. Só o santo é o verdadeiro pedagogo e o mestre; só a santidade é a verdadeira luz. O verdadeiro ensinamento, a verdadeira iluminação, não são apenas a irradiação da santidade. Só os santos são os verdadeiros iluminados. A santidade vive e respira na luz, irradia e atua pela luz. A santidade é a união com Deus segundo a graça, isto é, a união com o Verbo eterno, com o sentido da vida e da existência. Isto é a plenitude da perfeição da pessoa e da existência humana. Esta santidade cheia de carismas é a alma do ensinamento. Pois se o ensinamento não nos revela o sentido eterno da vida, para que serve?» (Pe. Justino Popovich – Le Messager Orthodoxe 106). «A Ortodoxia é ortodoxia pela santidade. A Santidade é a vida no Espírito Santo e pelo Espírito Santo. Não há ortodoxia fora da santidade, sem a presença do Espírito Santo. No mundo das realidades, a santidade é a medida da autenticidade da Ortodoxia.» (Pe. Justino Popovich – Le Messager Orthodoxe 88). Fonte: Goettmann, Clara Cortazar – El Sicomoro: Santos Ortodoxos do Século XX. 2005, pp.3-13 Tradução: Pe. Pavlos, Hiromonge A PSICOLOGIA DOS COVARDES (foi pouco estudada e menos ainda resolvida; não combinaram o ambiente com a pessoa) NÃO DESISTA NUNCA Se você não acreditar naquilo que você é capaz de fazer; quem vai acreditar? Dizer que existe uma idade certa, tempo certo, local certo, não existe. Somente quando você estiver convicto daquilo que deseja e esta convicção fizer parte integrante do processo. Mas quando ocorre este momento? Imagine uma ponte sobre um rio. Você está em uma margem e seu objetivo está na outra. Você pensa, raciocina, acredita que a sua realização está lá. Você atravessa a ponte, abraça o objetivo e não olha para traz. Estoura a sua ponte. Pode ser que tenha até dificuldades, mas se você realmente acredita que pode realizá-lo, não perca tempo: vá e faça. Agora, se você simplesmente não quer ficar nesta margem e não tem um objetivo definido, no momento do estouro, você estará exatamente no meio da ponte. Já viu alguém no meio de uma ponte na hora da explosão... eu também não. Realmente não é simples. Quando você visualizar o seu objetivo e criar a coragem suficiente em realizálo, tenha em mente que para a sua concretização, alguns detalhes deverão estar bem claros na cabeça ou seja, facilidades e dificuldades aparecerão,

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mas se realmente acredita que pode fazer, os incômodos desaparecerão. É só não se desesperar. Seja no mínimo um pouco paciente. Pois é, as diferenças básicas entre os três momentos são: ESTOURAR A PONTE ANTES DE ATRAVESSÁ-LA Você começou a sonhar... sonhar... sonhar! De repente, sentiu-se estimulado a querer ou gozar de algo melhor. Entretanto, dentro de sua avaliação, começa a perceber que fatores que fogem ao seu controle, não permitem que suas habilidades e competências o realize. Pergunto, vale a pena insistir? Para ficar mais tangível, imaginemos que uma pessoa sonhe viver ou visitar a lua, mas as perspectivas do agora não o permitem, adianta ficar sonhando ou traçando este objetivo? Para que você não fique no mundo da lua, meio maluquinho, estoure a sua ponte antes de atravessá-la, rompa com este objetivo e parta para outros sonhos! ESTOURAR A PONTE NO MOMENTO DE ATRAVESSÁ-LA Acredito que tenha ficado claro, mas cabe o reforço. O fato de você desejar não ficar numa situação desagradável é válido, entretanto você não saber o que é mais agradável, já não o é! Ou seja, a falta de perspectiva nem explorada em pensamento, não leva a lugar algum. Você tem a obrigação consciencional de criar alternativas melhores. Nos dias de hoje, não podemos nos dar ao luxo de sair sem destino. O nosso futuro não é responsabilidade de outrem, nós é que construímos o nosso futuro. Sem desculpas, pode começar... ESTOURAR A PONTE DEPOIS DE ATRAVESSÁ-LA. No início comentei sobre as pessoas que realizaram o sucesso e outras que não tiveram a mesma sorte. Em primeiro lugar, acredito que temos de definir o que é sucesso. Sou pelas coisas simples, sucesso é gostar do que faz e fazer o que gosta. Tentamos nos moldar em uma cultura de determinados valores, onde o sucesso é medido pela posse de coisas, mas é muito mesquinho você ter e não desfrutar daquilo que realmente deseja. As pessoas que realizaram a oportunidade de estourar as suas pontes de modo adequado e consistente, não só imaginaram, atravessaram e encontraram os objetivos do outro lado. Os objetivos a serem perseguidos, foram construídos dentro de uma visão clara do que se queria alcançar, em tempo suficiente, de modo adequado, através de fatores pessoais ou impessoais, facilitadores ou não, enfim o grau de comprometimento utilizado para a sua concretização. A visão sem ação, não passa de um sonho. A ação sem visão é só um passatempo. A visão com ação pode mudar o mundo. Martha Medeiros NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS A capacidade de sonhar sempre foi o grande segredo daqueles que mudaram o mundo. Os sonhos alimentam a alma e dão asas a inteligência. É no solo fértil da memória onde semeamos os sonhos que farão grande diferença em

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nossa existência. Os sonhadores mudaram a história da humanidade. Eles fizeram da derrota, o pódio para a vitória; das críticas, o palco, de onde receberam os aplausos. O Mestre dos mestres foi o mais ousado dos sonhadores. Ele fez de homens simples e iletrados, arquitetos da vida. A estes, vendeu o sonho de um reino justo, em um mundo de injustiça, de liberdade em uma terra de escravidão, de vida eterna em um território onde imperava a morte, de felicidade em um país onde reinava o ódio. Jesus Cristo tirou aqueles homens da platéia e os introduzir no palco da vida. Fez deles autores de sua própria história. Ao encantá-los com suas palavras e surpreendê-los com suas atitudes, ele tocou o inconsciente dos seus discípulos, reeditou novas janelas em sua memória e abalou os fundamentos da psicologia. Abraham Lincoln superou os seus fracassos porque exerceu o direito de sonhar. Enquanto falia nos negócios, e consecutivamente era derrotado na política, soube mais do que ninguém exercer a liderança do ?eu?. Estava convicto de que contra traumas e frustrações que a vida nos impõe, o melhor remédio, é uma alma controlada por um grande sonho. Embora o décimo sexto presidente dos EUA tenha tido mais derrotas do que vitórias em sua vida pública, do ponto de vista da psicologia foi o grande vencedor em todas as disputas. Ele venceu o preconceito com criatividade, as suas inseguranças com motivação, os seus medos com ousadia. Mas acima de tudo, foi sempre consciente que o destino é uma questão de escolha, não uma fatalidade, por isso, optou por continuar sonhando. A discriminação, o preconceito, o racismo e a indiferença, foram porções que coube a outro sonhador: Martin Luther King. No entanto ele teve a capacidade de criticar a violência exercida contra os negros do seu país. E assim, reeditou sobre os traumas arquivados em sua memória, os sonhos que mudaria as gerações subseqüentes. O autor da teoria da Inteligência Multifocal foi sem dúvida um sonhador. E como todos os outros, encontrou muitos desafios pelo cominho. Depois de 19 anos escrevendo sobre o processo como os pensamentos são construídos viu sua tese ser rejeitada por muitos e incompreendidas até mesmo por especialistas ligados às ciências humanas. Não obstante a isto, Augusto Cury não se deixou vencer. Resolveu provar suas teses a luz de um personagem histórico. Escreveu uma coleção onde analisa a inteligência de Cristo. Foi incrível, com este ato ele democratizou a ciência, popularizou suas teses e surpreendeu o mundo ao entrar em uma área, até então, completamente dominada pela teologia. Se pensar é o destino do ser humano, continuar sonhando é o seu grande desafio. E isto, é lógico, implica em trajetórias com riscos, em vitórias, com

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muitas lutas, e não poucos obstáculos pelo caminho. Apesar de tudo, seja ousado. Liberte sua criatividade. E NUNCA DESISTA DOS SEUS SONHOS, pois eles transformarão sua vida em uma grande aventura. Augusto Cury Muita Paz! UMA GRANDE COVARDIA O hábito da maledicência é bastante arraigado em nossa sociedade. Chega a constituir exceção a criatura que jamais tece comentários maldosos sobre seus semelhantes. Mesmo amigos, não raro, se permitem criticar os ausentes. Quase todos os homens possuem fissuras morais. Seria sinal de pouca inteligência não perceber essa realidade. Não é possível ver o bem onde ele não existe. Também não é conveniente ser incapaz de perceber vícios e mazelas que realmente existam. Mas há uma considerável distância entre identificar um problema e divulgá-lo. Encontrar prazer em denegrir o próximo constitui indício de grande mesquinharia. Esse gênero de comentário é ainda mais condenável por ser feito de forma traiçoeira. Freqüentemente quem critica o vizinho não tem coragem de fazê-lo frente-a-frente. É uma grande covardia sorrir e demonstrar apreço por alguém e criticá-lo pelas costas. Antes de tecer um comentário, é preciso ter certeza de que ele traduz uma verdade. Sendo verdadeiro um fato, torna-se necessário verificar se há alguma utilidade em divulgá-lo. A única justificativa para apontar as mazelas alheias é a prevenção de um mal relevante. Se o problema apresentado por uma criatura apenas a ela prejudica, o silêncio é a única atitude digna. Assim, antes de abrir a boca para denegrir a reputação de alguém, certifique-se da veracidade dos fatos. Sendo verídica a ocorrência, analise qual o seu móvel. Reflita se seu agir visa a evitar um mal considerável, ou é apenas prazer de maldizer. Na segunda hipótese, é melhor calar-se. É relevante também indagar se você tem coragem de comentar a ocorrência na frente da pessoa criticada. Se o fizer, dará oportunidade para defesa. Certamente a pessoa, objeto do comentário, possui a própria versão dos fatos. Por todas essas razões, e outras tantas, jamais seja covarde. A covardia é uma característica muito baixa e lamentável. O fraco sempre escolhe vítimas que não podem oferecer defesa. Agride de preferência as pessoas frágeis. 45

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Quando não tem coragem para atacar diretamente, utiliza subterfúgios. Enlameia a honra alheia, faz calúnias, espalha insinuações maldosas aos quatro ventos. O homem que é alvo do ataque de um covarde geralmente nem sabe o que lhe aconteceu. Apenas se espanta ao deparar com sorrisos irônicos onde quer que vá. Em ambientes em que era recebido calorosamente, agora só encontra frieza. Percebe, perplexo, o afastamento de amigos e parentes. As fisionomias outrora benevolentes tornam-se sisudas. Raramente alguém lhe esclarece a razão do ocorrido. Assim, ele é julgado e condenado sem possibilidade de defesa. Analise seu proceder e verifique se, por leviandade, às vezes você não age de forma maldosa e covarde. Pense nos prejuízos que suas palavras podem causar na vida dos outros. Imagine se fosse você a vítima do comentário ferino. Certamente gostaria que a generosidade fizesse calar os seus semelhantes. Ou ao menos que eles fossem leais o suficiente para falar às claras com você. É preciso eliminar o hábito da maledicência. Trata-se de um comportamento eivado de covardia. E sem dúvida o seu ideal de vida não é ser um covarde. Pense nisso! Equipe de Redação do Momento Espírita. Fiquem bem Luís

Capítulo 4

14 MIL REPRESAMENTOS (e outros tantos vazamentos) – os soviéticos contaram 14 mil guerras, que são notícias de como os seres humanos anteriores a elas se esconderam dos problemas e das soluções possíveis. Construir a Paz 21/03/2007 O Brasil e o mundo como um todo clamam, urgentemente, por paz. Consciente disso, o Movimento Internacional pela Paz e Não-Violência MovPaz - comemora neste ano, 15 anos de existência. Para celebrar essa data, no próximo domingo às 16 horas, realiza em Feira de Santana mais uma Caminhada pela Paz.

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SENHORES do mundo, os romanos antigos inventaram uma justificativa para suas conquistas: se queres a paz, prepara a guerra. Para eles, a única paz possível era a do inimigo vencido, a famosa paz dos cemitérios. A receita romana nunca deu certo, nem antes, nem depois de Roma. Um cuidadoso levantamento feito revela que dos últimos 5 mil anos de história, apenas 292 foram relativamente tranqüilos. Foram

14 mil guerras que mataram cerca de 4 bilhões de pessoas.

pequenas ilhas de paz em meio a

OS GASTOS militares, a cada ano, em guerras declaradas ou não, superam a casa dos 960 bilhões de dólares, o que representa 30 mil dólares por segundo. Para cada dólar que as Nações Unidas investem na paz, dois mil dólares são direcionados para a guerra. E isto não trouxe felicidade sobre a terra. NÃO ESTÁ ao nosso alcance um tratado de paz mundial. Mas está ao nosso alcance um tratado de paz em nosso coração. Está ao nosso alcance promover o diálogo, a justiça e a solidariedade em nossa família, em nossa rua. A matéria-prima da guerra é o ódio, a matériaprima da paz é a solidariedade e o perdão. O NOME da paz é desenvolvimento, justiça social, diálogo entre as religiões e melhor distribuição de renda. Portanto, construir a PAZ é possível. Depende dos que detêm o poder econômico e político. Depende de todos, depende de cada um de nós! “A paz do mundo começa em mim”. SOMOS CHAMADOS a construir a paz. Eis algumas sugestões, entre tantas, para que saiamos da apatia e omissão, diante da urgência da construção da PAZ: Acreditar na força do bem e da justiça; Engajar-se na construção da cultura do perdão; Incentivar ações comunitárias de solidariedade; Apoiar a campanha nacional em favor do desarmamento da população e incentivar o Mutirão Nacional para a Superação da Miséria e da Fome (CNBB). “Felizes os que promovem a paz” (Mt.5, 9).

Dom Itamar Vian Arcebispo Dom Itamar Vian Entidades aliviam sofrimento de vítimas da guerra O conceito de defesa da vítima só começou no século XIX com as guerras

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napoleônicas. Hoje, entidades lutam para amenizar o sofrimento de cidadãos exilados, feridos de guerra e esquecidos pelos poderes públicos, muitas vezes até desafiando governantes. por Christophe Courau Prisioneiros detidos pelo exército americano em condições fora de todos os parâmetros legais em Guantânamo (Cuba); uma crise humanitária na província de Darfour (oeste do Sudão), em que os enfrentamentos fizeram entre 30 mil e 50 mil mortos e quase 1,5 milhão de desabrigados, dos quais cerca de 200 mil encontraram refúgio no Chade. Ano após ano, histórias como essas insistem em nos lembrar que os direitos daqueles que estão em guerra (civis, mas também homens armados) nem sempre são respeitados, apesar da dezena de textos que definem os direitos humanos internacionais. Ao longo dos últimos 50 anos, foram registrados mais de 170 conflitos armados e, após a década de 80, "90% das vítimas são civis", segundo Michel Deyra, professor da Faculdade de Direito de ClermontFerrand, na França. Na maioria dos casos, o recurso à força prevalece sobre a resolução pacífica das diferenças. "Em cinco mil anos de história, foram contabilizadas 14 mil guerras, que teriam matado mais de cinco milhões de seres humanos", avaliou Michel Deyra. Então, em vez de colocarem a guerra fora da lei, os homens tentaram regulamentar os conflitos e demonstrar um pouco de compaixão pelas vítimas. "Na Idade Média, os preceitos da cavalaria, e sobretudo o cristianismo, permitiram a criação das primeiras instituições humanitárias", segundo o jurista. Assim, a trégua de Deus proibia o combate em determinados dias do calendário litúrgico. Proposta pelo papa João XV a partir de 990, esse termo foi codificado pelos Concílios de Nice (1041) e Narbona (1054). Primeiramente, determinou-se que era proibido combater nos dias que precediam o Natal e durante a quaresma. Depois, para assegurar o respeito ao domingo, a interdição foi estendida do sábado até segunda-feira, e finalmente da quarta-feira até a segunda. Por conseguinte, só se podia ser massacrado num único dia da semana: a terça-feira. Do mesmo modo, a paz de Deus proclamava "a inviolabilidade das igrejas, dos mosteiros, dos pobres, dos clérigos, dos mercadores, dos peregrinos, dos agricultores e de seus bens". Esse conceito surgiu em 1016, durante um juramento prestado pelos senhores feudais. Anos mais tarde, foi instituído um tribunal de paz para julgar os senhores diante das leis editadas pela Igreja. Além da excomunhão, eles corriam o risco de perder seus feudos. Esse esboço de tribunal penal internacional permaneceria letra morta. Com a mesma vontade de limitar os efeitos dos combates, o Concílio de Latrão (1215) proibiu a utilização, nas guerras entre cristãos, da besta - arma de arremesso composta de um arco de aço preso a uma espécie de coronha - que declarou "arma odiosa ao Senhor". Em contrapartida, contra os infiéis, essa "arma de destruição em massa" da Idade Média poderia ser utilizada sem pudores. Em 1625, conta ainda Michel Deyra, "Grotius, em seu livro Sobre o direito da guerra e da paz, não hesitou em escrever que o massacre de mulheres e crianças era compreendido dentro do direito da guerra se estes haviam cometido faltas muito graves". Estava-se bem longe dos corredores humanitários, e ainda mais da defesa das viúvas e dos órfãos. Quanto ao sofrimento dos combatentes, quase não era levado em consideração. Durante muito tempo, o golpe de misericórdia foi o gesto mais humanitário que se poderia esperar do vencedor. Introduzindo, entre o elmo e a armadura do cavaleiro ferido, uma adaga, dita de misericórdia, evitava-se a agonia de horas de sofrimento inútil. A medicina de guerra, da qual Ambroise Paré (1509-1590) e o barão Dominique Larrey (1766-1842) são as figuras mais célebres, surgiu muito lentamente nos campos de batalha. O primeiro acordo conhecido em relação aos feridos de guerra data de 1743. Durante a batalha de Dettingen contra os ingleses de lorde Stains, o marechal de Noailles, do lado francês, fez com que fossem evacuados 600 feridos britânicos para seus próprios hospitais. Até então, os serviços médicos se encarregavam apenas de seus próprios feridos. Em 1759, durante a Guerra dos Sete Anos, foram firmados dois acordos idênticos entre França e Inglaterra. Depois da batalha, os feridos de cada campo foram reconduzidos a suas linhas. Duas iniciativas que não sobreviveriam às guerras revolucionárias e napoleônicas. Durante o Século das Luzes, germinou entre os filósofos a idéia de proteger os civis, a partir daí considerados inocentes, dos horrores dos combates. Segundo Jean-Christophe Rufin, exvice-presidente dos Médicos sem Fronteiras e autor de O império e os novos bárbaros (Bibliex Cooperativa, 1996), "o conceito de \\'humanidade\\' surgiu nessa época. Designava a totalidade do gênero humano, a atenção que lhe era dada e o dever de melhorar sua sorte. A partir de 1830, aproximadamente, ter \\'humanidade\\' seria o mesmo que \\'ser

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humanitário\\' ". Em meados do século XIX, quando os exércitos aumentaram consideravelmente seu poder destruidor e a quantidade de homens engajados, a noção de humanitarismo se desenvolveu também entre os militares. Em maio de 1859, Napoleão III decidiu unilateralmente que "todos os prisioneiros feridos seriam entregues ao inimigo, sem troca, desde que seu estado lhes permitisse retornar a seu país". "Quinze dias depois", escreveu Jean-Christophe Rufin, "o imperador estendia essa medida (que seria escrupulosamente aplicada) ao pessoal médico". Em 24 de junho de 1859, a batalha de Solferino atingiu níveis arrasadores no norte da Itália. No total, o terrível combate entre os franco-italianos e os austríacos faria 40 mil mortos: 40% deles morreriam no próprio dia, os 60% restantes, ou seja, 24 mil soldados, sucumbiriam devido a ferimentos nos dias seguintes. Havia apenas um médico para cada 500 feridos. Henri Dunant (1828-1910), suíço utópico, que havia ido encontrar-se com Napoleão III para lhe falar de agricultura, descobriu o campo de batalha. Horrorizado, escreveu, em 1862, Un souvenir de Solferino (Lembrança de Solferino), que, com 1600 exemplares, correria a Europa e levaria à criação da Cruz Vermelha em 1864. Em sua obra, Henri Dunant anunciou os "três princípios inovadores que dariam ao movimento Cruz Vermelha sua singularidade em relação a todos os precedentes". O primeiro princípio era a neutralidade da vítima. Uma vez ferido, o soldado não pertenceria mais a nenhum dos campos, mas à humanidade. Para socorrer os feridos, era preciso ser ela mesma uma entidade neutra: uma organização independente, respeitada por todos, seria o instrumento. A segunda idéia de Dunant era que o socorro não poderia ser improvisado: a organização precisava ser permanente. Enfim, princípios universais deveriam reger as guerras: tratamento correto dos prisioneiros, dos feridos, das populações civis. "Esse direito humanitário era uma mistura estranha de cinismo e de idealismo. No fundo, legitimava a guerra e não contestava nem sua necessidade nem seus métodos. Procurava apenas plantar algumas tropas no campo de batalha para garantir um espaço humanitário, um espaço isento de qualquer comprometimento onde tombava a vítima, que, pela graça de uma bala ou de um golpe de sabre, retornava à sua simples e fraternal condição de homem", declarou Jean-Christophe Rufin. Na mesma época, do outro lado do Atlântico, a Guerra da Secessão dividia os americanos. Um jurista, Francis Lieber (1800-1872), redigia as instruções para o exército, que o presidente Abraham Lincoln iria ratificar em 1863. Graças a Dunant e a Lieber, o mundo estava finalmente prestes a aceitar regras mínimas durante as guerras. Doze países assinaram, no dia 22 de agosto de 1864, a Convenção de Genebra "para a melhoria da sorte dos feridos nos exércitos em campanha", que instituiu o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Um organismo independente das nações e composto exclusivamente por cidadãos suíços, neutros. Foi fundado em cada país um comitê nacional: a Cruz Vermelha na Europa, o Crescente Vermelho para os países muçulmanos desde 1877, o Leão de Juda-Vermelho no Irã. Em toda parte, a idéia alcançou grande sucesso. A Cruz Vermelha americana, fundada por Clara Barton, contaria com mais de 28 milhões de membros em 1918, e os Estados Unidos enviariam para a França mais enfermeiras que soldados durante a Primeira Guerra Mundial. Como lembra Jean-Christophe Rufin, "ao longo do conflito europeu, a Cruz Vermelha americana concedeu auxílio, cujo valor total chegou a 325 milhões de dólares". Se a instituição não era mais contestada, o mesmo não ocorreu com seu fundador, Henri Dunant. Pouco hábil para lidar com dinheiro, foi à falência, e os burgueses de Genebra, transtornados por ele ter caído em descrédito, em termos de reputação, excluíram-no do CICV. "O infeliz conheceria o hospício, a pobreza e a doença. Milagrosamente reabilitado em 1895, recuperou a estima do mundo e recebeu o primeiro Nobel da Paz em 1901", prossegue Rufin. A atividade da Cruz Vermelha, sensível principalmente por ocasião da guerra francoprussiana de 1870 e das guerras sino-japonesas de 1894-1895, adquiriu amplitude extraordinária durante a Primeira Guerra Mundial: 41 delegados visitaram 524 campos de prisioneiros e pleitearam melhorias para eles junto às autoridades. Ela organizou a repatriação de inúmeros feridos e fundou, com a ajuda de 1.200 benfeitores, uma agência internacional de prisioneiros, que expediu cartas, pacotes e auxílios coletivos equivalentes a 1813 vagões de trem. O CICV obteve por sua vez o Prêmio Nobel da Paz em 1917 e, com a ajuda de seus apêndices nacionais, encarregou-se de repatriar 700 mil homens ao fim do conflito. A Liga da Cruz Vermelha - atual Federação das Sociedades da Cruz Vermelha - foi criada no fim da guerra. Ocupa-se das ações em tempo de paz, enquanto o CICV cuida de garantir os

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direitos humanos em âmbito internacional. Em 1921, durante a crise da fome na Ucrânia, a ajuda internacional foi utilizada pelos bolcheviques como chantagem. "Os filantropos descobriram que a ajuda humanitária podia ser utilizada para fins políticos. A separação que Dunant quis fazer de forma definitiva e radical entre o espaço humanitário neutro e o domínio político ficou novamente difusa", escreveu Jean-Christophe Rufin. Outra desilusão ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. A Alemanha nazista recusou-se a dar a condição de prisioneiros de guerra aos militares poloneses e aos resistentes franceses. Por causa disso, estes últimos não teriam direito às visitas da Cruz Vermelha. Em contrapartida, os delegados da Cruz Vermelha visitariam inúmeras vezes os campos de concentração sem no entanto testemunhar a existência do genocídio. Ao fim do conflito, a Cruz Vermelha ficou desacreditada. A Organização das Nações Unidas (ONU), herdeira da Sociedade das Nações, tomou seu lugar. Fundada em 1945, na Conferência de São Francisco, a ONU previa, em seus estatutos, até mesmo o uso da força em caso de conflito. A organização internacional desenvolveu sua ação em favor da paz criando diversas instâncias, como o Alto Comissariado para os Refugiados (ACR), o Unicef, a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Programa Alimentar Mundial (PAM). O ano de 1945 assistiu ao nascimento da organização americana Care, e em 1950 da Worldvision. As preocupações humanitárias evoluíam. Depois dos combatentes, depois dos civis, depois dos prisioneiros, os refugiados transformaram-se no "novo objetivo humanitário". Em 1951, uma nova Convenção de Genebra definiu o estatuto dos refugiados e as regras a serem aplicadas. Mas a ONU administra apenas conflitos entre países e não pode interferir em assuntos internos de Estado. O CICV precisa de um acordo dos governantes para intervir em seus países. Diante da multiplicação das guerras civis (Etiópia, Somália, Angola, Sri Lanka, Líbano, Camboja, Nicarágua, Afeganistão), essas duas organizações ficaram impotentes. Estavam impossibilitadas de ajudar as populações. Uma nova forma de auxílio iria então surgir. A mudança aconteceu em 1968, em Biafra. Diante da recusa do governo nigeriano em permitir que o CICV prestasse auxílio à população e da falta de reação por parte da ONU, organizações não governamentais (ONGs) e a Cruz Vermelha francesa resolveram intervir, na total ilegalidade. A novidade das ONGs é que elas consideravam que tinham de cumprir um dever de testemunho, além da ajuda humanitária. "Dunant escolheu a neutralidade, os sem-fronteiras escolheram o engajamento", declarou Bernard Kouchner, co-fundador dos Médicos sem Fronteiras. Outro grande avanço para a ação humanitária foi a votação na ONU, em 22 de novembro de 1988, de uma resolução "que pode ser resumida assim: a urgência impõe o acesso às vítimas, principalmente para as ONGs humanitárias", explicou Mario Bettati, no livro Direito de ingerência (Instituto Piaget, 1997). Dois dias depois dessa votação, um tremor de terra sacudiu a Armênia, e a entrada do socorro chegou imediatamente. Foi o início do que seria chamado de direito de ingerência humanitário. "O Conselho de Segurança [da ONU], que ignorou as crises humanitárias até 1990, preocupou-se a partir de então e formulou suas resoluções nos termos que definem regularmente o princípio do livre acesso às vítimas", prossegue o professor de direito internacional. Em 30 de agosto de 1995, por iniciativa de Jacques Chirac e de Bill Clinton, as forças de reação rápida da ONU e da OTAN entraram na cidade de Sarajevo e abriram as rotas e seu aeroporto para os comboios humanitários. "Em outros tempos, uma operação desse tipo teria sido qualificada de expedição colonialista. De repente, ela se tornou legal e legítima", prossegue Mario Bettati. O dever de prestar testemunho das ONGs acabou por influenciar até o CICV. Assim, a Cruz Vermelha internacional denunciou em 1994 "a purificação étnica" nos Bálcãs, e em 1995 as "conseqüências dos ataques e dos bombardeios das populações civis na Chechênia. E quando essas denúncias não se mostraram suficientes, "algumas ONGs humanitárias passaram a um estágio superior e reclamaram uma intervenção armada imediata", acrescenta Mario Bettati. Desse modo, o presidente dos MSF "reclamou uma intervenção armada imediata para acabar com o massacre", em Ruanda, em 1994. Segundo Samy Cohen, professor de ciência política e autor do artigo "Pouvoir des ONG en question" ("O poder das ONGs em discussão", publicado em Le Débat, nº- 128, janeiro de 2004), existem atualmente 38 mil organizações não governamentais no mundo. "Quase duas mil delas contam com o reconhecimento do Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (Ecosoc), quando eram apenas 45 em 1945." Seus esforços em favor da paz foram recompensados em duas ocasiões. Em 1997, o Prêmio Nobel da Paz foi concedido à Campanha Internacional contra as Minas Terrestres e, em 1999, aos Médicos sem Fronteiras. Diz Cohen: "Por muito tempo ainda, as ONGs irão desempenhar, ao lado dos Estados e não

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sem eles nem contra eles, um papel de guardiãs e de testemunhas no espaço deixado ao abandono pela política". Humanitarismo no cinema Movida pelo idealismo, a ativista Tessa Quayle (Rachel Weisz) se apaixona pelo diplomata britânico Justin Quayle (Ralph Fiennes). O espírito contestador da personagem e a veemência com a qual ela abraça causas humanitárias renderam à intérprete de O jardineiro fiel (2005) o Globo de Ouro de melhor atriz coadjuvante, uma indicação ao Oscar de melhor atriz coadjuvante e outra ao Bafta (o Oscar inglês) de melhor atriz. O casal parte para o Quênia (África), onde a população é presa fácil de um laboratório farmacêutico, que transforma seres humanos em cobaias vivas para testes de medicamentos, com o consentimento das autoridades. Tessa descobre o esquema, mas seu marido só acredita no conluio depois que ela é brutalmente assassinada. O diretor Fernando Meirelles construiu um suspense político, misto de romance e drama, para tratar de um tema tão polêmico quanto atual: o poder das grandes corporações. Baseado no livro homônimo do inglês John Le Carré (Record, 2002), é dedicado à ativista Yvette Pierpaoli, morta com outros colegas em 1999, num acidente de carro na Albânia. Na época, Yvette era representante da Refugees International Engajamento sem fronteiras As organizações de ajuda humanitária proliferam para amenizar o sofrimento causado por diversos fatores, entre os quais, perseguições políticas, guerras civis, desastres naturais, devastação ambiental, epidemias, exploração infantil e a miséria. Em 2005, diversas crises humanitárias receberam amparo da ONG Médicos sem Fronteiras, criada em 1971 por um grupo de jovens com o objetivo de levar cuidados de saúde para necessitados do mundo. Hoje, mais de 15 mil profissionais trabalham em cerca de 70 países. Entre janeiro e maio de 2005, a ONG atendeu cerca de 80 mil civis em Ituri, na República Democrática do Congo (RDC), país que sofre com a violência e a miséria herdadas de uma década de guerras e devastação. Os programas emergenciais na RDC representaram a maior mobilização da organização no mundo. Inspirados na atuação dos MSF, surgiram os Repórteres sem Fronteiras (RSF), organização não-governamental internacional que visa defender a liberdade de imprensa no mundo. Há mais de 18 anos, a organização presta assistência a jornalistas presos e perseguidos. Em agosto passado, a associação apoiou um jornalista colombiano obrigado a exilar-se nos Estados Unidos tendo em vista as ameaças de um ex-congressista vinculado ao narcotráfico e, sobretudo, ao atual governo. Outro barril de pólvora é o Haiti. A violência na capital Porto Príncipe ganhou proporções desde que o presidente Jean-Bertrand Aristide foi levado ao exílio em fevereiro de 2004. Em junho, tropas da ONU pertencentes à Minustah (Missão de Estabilização da ONU no Haiti) chegaram ao país com a tarefa de apoiá-lo na transição para as eleições. Contudo, a permanência da ONU após o pleito é consenso entre os candidatos. Após o suicídio do general brasileiro Urano Teixeira da Matta Bacellar, 58, chefe da Missão de Estabilização da ONU no Haiti, o general brasileiro José Elito Carvalho Siqueira assumiu o comando militar da Minustah. Atualmente, o general lidera um contingente de 7.500 homens. Christophe Courau é historiador e jornalista. Dia Mundial da Paz Pax, paix, pace, paz; do latim às línguas neolatinas; eirene, shalom, respectivamente grego e hebraico, e, em todas as línguas e dialetos, P A Z é o vocábulo que expressa a realidade ardentemente almejada por todos os povos, em todos os tempos; dos indivíduos às famílias, das tribos às nações. O eterno conflito humano remonta a tempos imemoriais, desde o alvorecer da presença humana na terra, em consonância com a narrativa bíblica: Caim tirou a vida de Abel (Gn 4.8-9). Examinando a História, constatamos que os grandes impérios: o Egípcio, Assírio, Babilônico, Persa, Grego, o Império Romano e até os do século XX, todos se envolveram em guerras sangrentas acompanhadas do inseparável séquito de corrupção, imoralidade e mentiras, sinalizando o declínio de sua hegemonia, e conseqüente desaparecimento. Nos últimos seis mil anos 14 mil guerras macularam a caminhada da “civilização”. No último século, o mais violento de todos, foram travadas duas guerras mundiais, o Oriente Médio foi palco de conflitos permanentes e o continente africano, em flagrante desrespeito às convenções internacionais, tem sido selvagem campo de batalhas, sem tréguas e sem armistício. A Segunda Grande Guerra Mundial (1939-45) envolveu 72 países, mobilizou 110 milhões de homens e mulheres e deixou um saldo catastrófico de, aproximadamente, 55milhões de mortos, 35 milhões de feridos, 28 milhões de mutilados, 20 milhões de crianças órfãos e 19 milhões de refugiados. As duas bombas atômicas lançadas pelos Estados Unidos, em agosto de 1945, provocaram o holocausto de Hiroshima e Nagakaki, no Japão. Ao terminar esta guerra, os líderes mundiais reuniram-se e, em nome dos sobreviventes, criaram a Organização das Nações Unidas (ONU) com o propósito de evitar novas guerras e impedir, pelo menos por cem anos, a eclosão de

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conflitos entre os povos. Debalde! Frustrados foram tais propósitos! Poucos anos após, o rastilho da discórdia e da violência reiniciou pavoroso incêndio em várias partes do mundo: houve as guerras da Indochina, da Coreia, da Argélia, coloniais, na África, do Vietnam, do Yom Kippur, do Timor Leste, Irã-Iraque, Falklands, do Golfo, dos Balcãs, Afganistão e a atual e famigerada guerra do Iraque, cujo fim é de impossível previsão. Atualmente, os arsenais nucleares de inimaginável potência, as armas químicas e bacteriológicas são capazes de destruir o mundo milhares de vezes! Existem 10 países que dispõem de armas nucleares e suas Forças Armadas mantém um efetivo de l0 milhões de combatentes, além de mais 30 países prestes a dominar a tecnologia nuclear. O Pecado e o Predomínio da Violência Observando a descrição acima, que demonstra a que lastimável ponto de indignidade é capaz de chegar o ser humano, concluímos incontinenti que, por óbvio, os protagonistas destas cenas dantescas não agiram sob inspiração divina. A corrupção universal do gênero humano corrompeu-o integralmente, por isto é permanentemente tendente à prática do mal; é escravo do pecado e o escravo obedece as ordens do seu senhor. O homem é o único ser da criação dotado de personalidade e livre arbítrio; no entanto optou, deliberadamente, por uma conduta de agressividade em relação ao próximo e à Natureza em ostensiva violação à lei divina que ensina a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo (Mt 22.36-40), por isso, sofre as inexoráveis consequências de sua equivocada opção. O filósofo inglês Tomas Hobbes cunhou esta frase emblemática: Homo lupus homini (o homem é o lobo do homem). Movido por uma força maligna, que o domina, o seu objetivo é devorar o seu irmão. O cientista Albert Einstein, pai da Teoria da Relatividade, judeu, nascido em Wirttenberg, na Alemanha, considerado o maior gênio de todos os tempos, afirmou que o traço mais distintivo da natureza humana é a agressividade. Respondendo à pergunta sobre quais seriam as armas usadas na 3ª Guerra Mundial, asseverou que preferia dizer quais serão usadas na 4ª Guerra Mundial, se restar algum ser vivo: serão paus e pedras, pois tudo que foi construído até hoje, será reduzido a cinzas. Segundo o filósofo Karl Jasper a guerra existe desde os primórdios da vida porque ela tem origem na própria natureza humana e o escritor Tennesse Williams escreveu que o homem destrói a si mesmo e acabará por destruir toda a sua espécie. A guerra é a síndrome da violência e do ódio, o embotamento da consciência enferma, a coisificação brutal da obraprima do Criador, atestado incontestável da submissão às hostes das trevas. Não só os humanos, mas também a Terra foi atingida pela universalidade e maldição do pecado. Após a queda do homem, Deus disse a Adão: “... maldita é a terra por tua causa” (Gn 3.17b). A violência, a ambição desregrada e o egoísmo, frutos do pecado da desobediência, infelicitaram a própria Natureza: 40% da área dos oceanos está gravemente prejudicada pela ação do homem. A grande quantidade de dióxido de carbono (C02) despejada na atmosfera provoca o aquecimento do planeta, o que causa secas e a diminuição drástica da produção de alimentos gerando fome, inundações, acidificação dos oceanos e extinção de espécies. Metade dos rios da terra está contaminada por esgoto, agrotóxicos e lixo industrial. A degradação e a pesca predatória ameaçam reduzir em 90% a oferta de peixes utilizados para a alimentação. A Verdadeira Paz A causa fundamental de todos os conflitos, erros e desacertos humanos é o pecado resultado do afastamento de Deus. ”Quando Adão e Eva ouviram a voz do Senhor... esconderam-se de Sua presença” (Gn 3.8b). Após cometer o fratricídio (crime de morte de irmão por irmão) “Retirou-se Caim da presença do Senhor...” Gn 4.16a). A tão almejada paz e concórdia, sob todos os aspectos, será possível quando Cristo reinar em todos os corações. A paz é o fruto de uma vida de comunhão com Deus, portanto, de submissão e obediência às suas ordenanças e respeito a toda a criação A condição sine qua non, absolutamente necessária para alcançá-la, é ouvir a voz de Deus. O salmista declara ”a voz do Senhor é poderosa, a voz do Senhor é cheia de majestade” (Sl 29.4), “Ele põe termo à guerra até aos confins do mundo, quebra o arco e despedaça a lança: queima os carros no fogo” (Sl 46.9). Enquanto a voz da astuciosa serpente, personificando o tentador, na dicção do Gênesis, 3.1-7, estiver substituindo a voz de Deus levando à desobediência, e a oferta do tentador no deserto, -“... mostrou-lhe num momento todos os reinos do mundo. Disse o diabo a Jesus: Dar-te-ei toda esta autoridade e a glória destes reinos, porque ela me foi entregue, e a dou a quem eu quiser. Portanto, se prostrado me adorares, tudo isto será teu.” (Lc 4.5-8)-, continuar despertando o incontido fascínio dos homens e mulheres, a paz jamais reinará no mundo. A oferta diabólica que Jesus rejeitou na tentação no deserto foi aceita integral e incondicionalmente pelo homem. A humanidade sem Deus vive “... segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe da potestade do ar, do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (Ef 2.2). Celebrando esta data que começou a ser comemorada em 1º de janeiro de 1968, lembremo-nos de que a P A Z, o Shalom do Antigo Testamento, necessita, urgentemente, ser estabelecida no mundo. (Este vocábulo hebraico é de difícil tradução tal a riqueza de seu conteúdo. Os tradutores da Septuaginta, LXX, a mais importante tradução grega deste Testamento, traduziram-na com vinte e cinco sentidos diferentes). Consideremos esta palavra com o sentido de algo completo, harmonia, bem-estar, realização, felicidade plena e paz perfeita. Em o Novo Testamento, a paz precede o estabelecimento da comunhão com Deus e a remoção da inimizade centrada no pecado. A paz entre os homens faz parte do propósito pelo qual Cristo morreu na cruz e das operações do Espírito Santo. A paz há de ser o sublime propósito de cada pessoa a irradiar-se por todo o universo das relações humanas. Todos nós devemos ser agentes e instrumentos de sua promoção. “Assim, pois, sigamos as coisas da paz... uns para com os outros” (Rm 14.19). “Vivei em paz uns com os outros” (1Ts 5.13b). “Ora, o Senhor da paz, ele mesmo, vos dê continuamente a paz em todas as circunstâncias” (2Ts 3.16). A verdadeira paz Cristo deixou para toda a humanidade: “Deixo-vos a PAZ a minha PAZ vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá...” (Jo 14.27 a). Quando a humanidade toda, homens e mulheres, receberem, voluntária e cordialmente, tão preciosa dádiva deixada por Cristo, não haverá no calendário dos povos, tão somente um dia dedicado à Paz. O presente e o futuro, o tempo e o espaço, e, a própria eternidade, serão permanente cenário para a universal celebração da Paz, dom divino, que

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excede a toda compreensão humana. Prof. Dr. Ivam Pereira Barbosa Bibliografia * Silva, Francisco de Assis História Geral :Antiga e Medieval São Paulo, Ed.Moderna, 1985 * Pazzinato, Alceu Luiz História Moderna e Contemporânea São Paulo, Ed.Ática, 1994 * O Novo Dicionário da Bíblia São Paulo, Vida, 1995 * Diccionário de La Bíblia Editorial Herder Barcelona, 1963 (dezembro de 2008)

Capítulo 10 Provérbios sobre Sábios "Muitos estudos fazem um sábio." "Ninguém é sábio em todas as ocasiões." "O sábio só deve ter a si por guardião do seu segredo." "Sábio é quem aprende à custa dos outros." "O que o sábio guarda no coração, tem na boca o beberrão." "Os mais sábios dissimulam, os menos falam e escrevem." "Ninguém é sábio o tempo todo." "O pouco basta ao sábio, muito menos ao santo." "Manda o sábio com a embaixada, e não digas mais nada." "É sábio quem aprende à custa dos outros." "Mais vale uma hora do sábio que a vida inteira do tolo." "As viagens fazem o sábio mais sábio e o tolo mais tolo." "Antes um inimigo sábio que um amigo tolo." "Não há sábio nem douto que de louco não tenha um pouco." "Os maiores não são os mais sábios." "Os sábios dizem livros; os salsicheiros dizem porcos." "Conselho de sábio, a providência divina é que manda." "Bem sabe o sábio que não sabe." "Um sábio na sua terra é como mina de ouro." "Não há sábio sem loucura." "Não é preciso saber muito para ser sábio." "A vingança do sábio desatendido ou maltratado é o silêncio." "Pela pena o louco se faz sábio." "Até os sábios se enganam." "Quem desconfia, fica sábio." "O interesse cega o sábio."

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Sete sábios Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Aos Sete sábios da Grécia eram atribuídas grande quantidade de máximas e preceitos sentenças proverbiais -, por todos conhecidas. Algumas eram tão famosas que foram inscritas no templo de Apolo em Delfos. A lista dos Sete sábios não foi sempre a mesma, mas a mais difundida, do tempo de Platão, é a seguinte: Tales de Mileto, Periandro de Corinto, Pítaco de Mitilene, Brias de Priene , Cleóbulo de Lindos, Sólon de Atenas e Quílon de Esparta. SANTOS & SÁBIOS | Acharyas | Sábios | Santos | SANTOS & SÁBIOS SRI SWAMI KRISHNAPRIYANANDA SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL SANATANA DHARMA BRASIL GITA ASHRAMA 53


Porto Alegre, RS 1997-2006 Quem é santo? Quais são as pessoas qualificadas no mundo material para serem chamadas de santos? Na realidade, esta expressão é originada do sânscrito "santa", que quer dizer, entre tantas coisas, "pureza", "retidão", "qualificação", etc. Sendo assim, uma pessoa santa é aquela que possui muitas das qualidades divinas e se esforça para ensiná-las, quer através da religião, da ação benevolente, ou até mesmo política e social. Os textos védicos enaltecem as qualidades de benevolência para com o próximo, bem como de amor universal para com todas as criaturas. Sriman Mahatma Gandhi sempre dizia que "Todos os seres vivos são o nosso próximo", isso porque ele via Deus em tudo e tudo em Deus. Sendo um profundo devoto do Senhor Rama, uma das Personalidade de Deus, Mahatma Gandhi procurou servir pelo exemplo. Neste sentido, podemos dizer que Mahatma Gandhi foi um Acharya, ou seja, uma pessoa que eninava pelo exemplo, uma vez que era um fiel cumpridor daquilo que ele mesmo pregava. A vida de Sriman Mahatma Gandhi foi um exemplo para a humanidade, e seguirá sendo por toda a posteridade. A sua santificação, por conseguinte, não se trata de um ato canônico de alguma fé ou religião em particular, mas de um exemplo vivo de que todos podemos servir a todas as causas boas de modo honesto e exemplar. Os Mestres do Passado, os Acharyas, e os Profetas Santos, colocados nesta plataforma, atingiram o nível de "santos", e são exemplos de que é possível levar uma vida de retidão e de amor puro por Deus deixando frutos que alimentam o mundo de fé e de esperança de que um mundo livre de maldades é possível se formos servos de Deus. Quem é sábio? A sabedoria não se resume na acumulação de um conjunto de escritos ou de idéias, nem mesmo a filosofia se resume em saber as idéias de um autor. Mais do que isto, pois se assim fosse, bons sábios e filósofos seriam os computadores, mas ser sábio significa "saber o que-fazer com o conhecimento". Para exemplificar, a idéia da desobediência civil é muito antiga na Índia. Ela aperece em textos védicos muito antigos, onde se afirma que se uma injustiça é realizada contra uma coisa correta a justiça deve ser restabelecida. O Senhor Cheitanya, tendo recebido uma ordem do governador de Kasy para não mais realizar Kirtans com os Santos Nomes do Senhor, reuniu uma grande assembléia de Sankirtaneiros, pessoas do povo, com Kartals, Mridangas, e uma série de instrumentos devocionais, e saíram todos pelas ruas até a residência do governador. Isso fez com que o governador muçulmano voltasse atrás, e liberasse todos a cantarem os Santos Nomes de forma pública e livre. Séculos mais

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tarde, Mahatma Gandhi fez uso do mesmo expediente da desobediência pacífica, estabelecendo a política da Não-violência para demover os Ingleses da sua posição escravagista e dominadora do povo indiano. O que há de comum nos dois acontecimentos? O fato de usar uma sabedoria milenar, ensinada nos textos védicos, mas posta em prática com uso efetivo. Isso significa que o sábio é aquele que faz uma idéia agir num tempo, num determinado espaço e numa determinada circunstância. Como podemos ver, sabedoria não consiste em apenas "decorar" um grupo de conteúdos, mas de justificá-las, inclusive de modo pragmático. Nós sabemos que a humanidade está repleta de sábios, que trouxeram as idéias do seu plano eidético e as colocaram no plano do ethos, ou do vir-a-ser. Assim podemos dizer de Einstein, e muitos outros cientistas, usaram da sabedoria e literalmente se tornaram sábios. Apesar de termos muitos exemplos do bom uso de uma idéia, há o mal uso de outras. Neste caso, quais são os critérios para avaliarmos se alguém é ou não sábio? Muitos dizem que se uma idéia é boa para a maioria ela é uma idéia boa e sábia; assim decidiu o Rei Salomão, quando ao ver duas mulheres disputarem a maternidade de uma mesma criança, fez menção de dividi-la ao meio. Uma da mulheres correu para salvar a criança, e o rei decidiu que aquela seria a mãe da mesma. Apesar desta decisão ser comovente ela não nos dá condição de certeza, e esbarra num dos mais complexos conceitos metafísicos que é o de justiça. Ler os textos de Swami Sivananda sobre os Sábios e Santos não apenas é gratificante, mas nos inspira a seguir adiante no caminho espiritual, mesmo com tantas dificuldades do mundo material, porque nos auxilia na caminhada em direção ao Pai, ao Divino Atman. Om Tat SatCopyright © 1997-2006 SOCIEDADE INTERNACIONAL GITA DO BRASIL. Todos os Direitos reservados na forma da lei. Veja detalhes do Copyright Webdesign & Maintenance: WebGanesha Reflexões classificadas no tema [Sábios] Reflexões/Pensamentos: 1. Ajuda entre Sábios Sêneca, 2. Ignorância Sábia Montaigne, Michel de 3. O Sábio Face à Vida Epicuro, 4. O Belo Retrato do Sábio Erasmo, 5. Nunca Te Intitules Filósofo Epicteto, 6. Os Pseudo-Sábios Goethe, Johann 7. Viver na Luz ou no Reflexo da Vida Sêneca, 8. O Paradoxo da Sabedoria Maricá, Marquês 9. A Boa Sorte Bacon, Francis 10. O Poeta e o Sábio Pascoaes, Teixeira de 11. O Sábio Platão, 12. Os Sábios Célebres Nietzsche, Friedrich

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