Ensaio fotográfico da Revista AG

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DOMINGO, 8 DE SETEMBRO DE 2013 – ANO V – Nº 278

DÉCADAS DE INFORMAÇÃO

Inspirada nos 85 anos de A GAZETA, a revista.ag registra os fatos que marcaram essas nove décadas, e os ilustra com um ensaio feito com peças de jornal

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VESTIDAS DE HISTÓRIA Em comemoração aos 85 anos do jornal A GAZETA, o designer Daniel d’Avilla revisitou as décadas de 1920 a 2000 e “costurou” manualmente peças feitas com o nosso jornal

Anos 1920

Uma época animada pelo som das jazz-bands e pelo charme das melindrosas. Livre dos espartilhos, a mulher começa a ter mais liberdade e já mostra as pernas, o colo e usa maquilagem. A boca é carmim, as sobrancelhas tiradas e delineadas a lápis e a pele bem branca, para acentuar os tons escuros da maquilagem. A mulher sensual é aquela sem curvas, seios e quadris pequenos. A silhueta dos anos 1920 é tubular, com vestidos mais curtos, geralmente em seda, deixando braços e costas à mostra, para facilitar os movimentos frenéticos exigidos pelo Charleston. No Brasil, a Semana de Arte Moderna reúne artistas de todas as áreas no Teatro Municipal de São Paulo. Mas os “felizes anos 1920” acabam no dia 29 de outubro de 1929, quando a Bolsa de Valores de Nova York registra a maior baixa de sua história, dando início à Grande Depressão, com falências e desemprego. 22 REVISTAAG 8 DE SETEMBRO DE 2013


Anos 1930

A crise financeira de 1929 faz a mulher ousar na forma de se vestir. O corte enviesado e os decotes profundos nas costas dos vestidos de noite marcam o período. Nos Estados Unidos, Franklin Roosevelt dá início ao New Deal, o plano de recuperação econômica após a quebra da bolsa de Nova York, em 1929. A mulher dessa época deve ser magra e bronzeada, à moda Greta Garbo, com seu visual sofisticado e com sobrancelhas e pálpebras marcadas com lápis e pó de arroz bem claro – modelo imitado por todas as mulheres. Hollywood, através de suas estrelas, como Marlene Dietrich, influencia milhares de pessoas. Alguns modelos novos de roupas aparecem com a popularização da prática de esportes, como o short, que surge a partir do uso da bicicleta, e o óculos de sol que passa a ser usado como acessório de moda. Eclodem os movimentos totalitários, com Mussolini na Itália. No Brasil, ocorre a Revolução de 1930, encabeçada por Getúlio Vargas.

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Anos 1940

É o período de repressão e da Segunda Guerra Mundial na Europa. Com a escassez de materiais, as roupas femininas ganham um toque masculino. O corte é reto e em estilo militar. As jaquetas aparecem com ombreiras e cinturões. Os tecidos são pesados e resistentes, como o tweed. As saias são mais curtas, com pregas finas ou franzidas. As calças compridas se tornam práticas e os vestidos, que imitam uma saia com casaco, tornam-se populares. Um ataque realizado pelo Japão em Pearl Harbor marca a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial. Bombas atômicas são lançadas em Hiroshima e Nagasaki, matando milhares de civis no Japão e supostamente precipitando o fim da guerra. Hitler comete suicídio e Mussolini é fuzilado. O presidente Getúlio Vargas cria, no dia 1º de maio, a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), decreto que reúne toda a legislação trabalhista de seu governo. Também é instituído o salário mínimo no Brasil. É a era dos cassinos, dos shows e das vedetes.

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Anos 1950

O mundo vive o pós-guerra e a mulher se torna mais feminina, de acordo com o “New Look”, de Christian Dior. A cintura é bem marcada, as saias rodadas e os sapatos de saltos altos. As luvas, peles e joias, fazem parte do visual. Ao som do rock and roll, a juventude norte-americana busca sua própria moda. Aparece a moda colegial, que tem origem no sportswear. As moças usam, além das saias rodadas, calças cigarrete até os tornozelos, sapatos baixos, suéter e jeans. A estampa de poá se destaca nos “Anos Dourados”. Coques e rabos de cavalo, como os de Brigitte Bardot, fazem sucesso. Dois estilos de beleza feminina marcam o período, o das ingênuas chiques, encarnado por Grace Kelly e Audrey Hepburn, e o estilo sensual e fatal, como o das atrizes Rita Hayworth e Ava Gardner. Além das pin-ups americanas, loiras e com seios fartos. Mas os dois grandes símbolos de beleza são Marilyn Monroe e Brigitte Bardot, que possuem a devastadora combinação de ingenuidade e sensualidade. É uma época de transição entre o período de guerras da primeira metade do século XX e o das revoluções comportamentais e tecnológicas da segunda metade. A televisão chega ao Brasil. É a “idade de ouro” do cinema e tempo de importantes descobertas científicas como o ADN (Ácido Desoxirribonucleico, ou DNA). 8 DE SETEMBRO DE 2013 REVISTAAG 25


Anos 1960

A top model Twiggy - muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador – é a grande referência da época. A moda se inspira no futurismo e apresenta-se minimalista. A grande vedete é a minissaia e o estilista Pierre Cardin adota o tubinho como peça essencial. A nova década promete grandes mudanças no comportamento, com o sucesso do rock and roll e o rebolado frenético de Elvis Presley, seu maior símbolo. As moças bem comportadas começam a abandonar as saias rodadas de Dior e atacam de calças cigarette, num prenúncio de liberdade. O unissex ganha força com os jeans e as camisas sem gola. Pela primeira vez, a mulher ousa se vestir com roupas tradicionalmente masculinas, como o smoking (lançado para mulheres por Yves Saint Laurent em 1966). No Brasil, é a Jovem Guarda que faz sucesso na televisão com Wanderléa e Roberto Carlos. A palavra de ordem é “quero que vá tudo pro inferno”. Mas é o desejo de se rebelar e a busca por liberdade de expressão e sexual que marcam a juventude da época. Surge também a pílula anticoncepcional e o sutiã é queimado em praça pública, como símbolo de libertação. A década termina com a chegada do homem à Lua e com um grande show de rock, o “Woodstock”, que reúne cerca de 500 mil pessoas em três dias de amor, música, sexo e drogas. 26 REVISTAAG 8 DE SETEMBRO DE 2013


Anos 1970

É a década do movimento hippie, com a tendência dos cafetãs, da calça boca de sino e do sapato plataforma. Os jovens setentistas também rompem a barreira entre o masculino e o feminino. O jeans se torna uma peça unissex por essência ao lado da jaqueta que vira um clássico. É a vez do o hippie chic com as estampas multicoloridas de Pucci e os tecidos de estilo cashmere das roupas indianas. No início surge a onda glitter: a nova moda futurista, andrógina, metálica e espacial sintetizada na figura camaleônica do roqueiro David Bowie. O hedonismo dos festivais de rock ao ar livre, a celebração da vida alternativa, do amor livre, das drogas e do “flower power”, vai cedendo espaço para a individualização, para o culto ao prazer e para o sexo casual em espaços fechados - as discotecas. Andy Wahrol proclama: “no futuro todos serão famosos por 15 minutos”. John Travolta arrepia nas pistas ao som dos Bee Gees nos filmes “Nos embalos de sábado à noite”. É a época da crise do petróleo, que leva os Estados Unidos à recessão, ao mesmo tempo que economias de países como o Japão começam a crescer.

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Anos 1980

Para os economistas, os anos 1980 no Brasil são considerados a “década perdida”. Paradoxalmente, as roupas procuram expressar justamente o contrário: alegre, esportiva, versátil, divertida e ao mesmo tempo, sofisticada, sensual e ousada. É a década da cantora Madonna. A ambiguidade é um traço marcante dessa moda: estampas de oncinha, ombros largos, pernas longas, cortes de cabelo assimétricos e acessórios “fake” convivem com tailleurs e com roupas de moletom e cotton-lycra recém-saídas das academias. Surgem os novos tecidos, como o stretch. Na alta-costura se destacam Christian Lacroix, Karl Lagerfeld e Jean Paul Gaultier, com o barroco, o exuberante e o dramático. No universo musical, uma infinidade de bandas surgem, com as mais diversas tendências: new romantics, darks, góticos, metaleiros e rastafaris. O papa João Paulo II sofre atentado. Ronald Reagan é presidente dos Estados Unidos e Margaret Thatcher é primeira-ministra do Reino Unido. Ocorre também o casamento do Príncipe de Gales com Lady Di, que se tornaria uma das mulheres mais famosas e adoradas do mundo. O final da década é marcado pela queda do Muro de Berlim. 28 REVISTAAG 8 DE SETEMBRO DE 2013


Anos 1990

Os anos 1990 são marcados pela diversidade e uma mistura de todas as décadas anteriores. O blazer e a calça aparecem como tendências. O cropped (a barriga de fora) estão em alta e as formas geométricas se fazem presentes. Otimismo e esperança surgem após o colapso do Comunismo, mas os efeitos colaterais do fim da Guerra Fria estão só começando, como o advento terrorista em regiões do Terceiro Mundo, especialmente na Ásia. Já o Primeiro Mundo experimenta um crescimento econômico estável. Politicamente, os anos 1990 são de democracia expansiva. Mas apesar da prosperidade e democracia, existe um “lado maléfico” significativo. Na África, o aumento nos casos de Aids e inúmeras guerras levam à diminuição da expectativa de vida e praticamente nenhum crescimento econômico. Surgem eventos trágicos como as guerras dos balcãs e o genocídio de Ruanda. A expressão nas roupas - e através de tatuagens e piercings - se torna marcante, bem como o consumo de drogas na classe média. Na música, o que faz sucesso é o hip hop, principalmente o Grunge. No Brasil explode a Lambada com o sucesso da novela Rainha da Sucata.

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2000

As roupas são modernas. Arquitetos como Oscar Niemeyer inspiram estilistas a criarem formas nos vestidos. As roupas representam o futurismo. Na política internacional, esse período é marcado por ações militares dos Estados Unidos em países do Oriente Médio, na chamada Guerra ao Terrorismo. A década marca ainda o fim do pontificado de João Paulo II, o terceiro mais longo da história. A internet se consolida como veículo de comunicação em massa e armazenagem de informações, principalmente após a fase da World Wide Web e a globalização da informação atinge um nível sem precedentes históricos. As redes sociais, a comunicação por mensagens instantâneas e o comércio eletrônico modificam a maneira como as pessoas se relacionam, tanto em nível pessoal quanto em nível profissional. A literatura é trazida para as telonas, com as continuações de Harry Potter, a saga Crepúsculo, O Senhor dos Anéis, entre outros. A moda é simplificada. As blusas têm cor única e os cabelos são bem lisos. É lançada a moda das calças com o joelho rasgado. O público masculino usa penteados moicano e acessórios metálicos. 30 REVISTAAG 8 DE SETEMBRO DE 2013


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