2015 - A&C - Casa Praia do Flamengo

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RITMO LENTO

As boas lembranças da juventude vividas sob o embalo das ondas motivaram um casal a construir nesta praia isolada. Num local onde tudo chega pelo mar, o projeto apoiou-se no seguinte tripé: planejamento, estrutura leve e elementos pré-moldados

POR CRISTIANE TEIXEIRA (TEXTO) PROJETO GEBARA CONDE SINISGALLI ARQUITETOS FOTOS SALVADOR CORDARO

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A paisagem está sempre ao alcance dos olhos, mesmo em áreas de passagem, como a passarela coberta entre os dois blocos que organizam a casa: à dir., ficam os quartos; à esq., a área social, integrada à de lazer.

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Ler na rede, remar o caiaque e praticar stand-up paddle são programas frequentes quando o casal está aqui, a cada duas ou três semanas. Coqueiros, cajueiros, mangueiras e jaqueiras precedem a construção.

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este pedaço de Ubatuba, no litoral norte paulista, só mais adequadas à situação, as quais incluíram elementos prése chega de barco ou caminhando por uma trilha – -moldados, que exigem menos mão de obra e não geram despero que talvez explique o estado de abandono do ter- dício. “Assim como era complicado levar pessoas e materiais até a reno quando foi adquirido pelo casal de São Paulo. praia, também seria duro tirar os resíduos de lá”, afirma Patricia. Dessa forma, especificou-se uma estrutura de madeira, Difícil imaginar esse cenário agora. Hoje, da varanda, avista-se a extensão da praia do Flamengo, 450 m de areia envolvidos pelos com pilares que chegam prontos e pedem fundações rasas. Os matizes do mar, da mata Atlântica e do céu. Assim como em outro blocos cerâmicos eleitos para as paredes foram essenciais para a minimização do entulho: “A modutrabalho desenvolvido para os mesmos lação dos ambientes segue as dimenclientes, a arquiteta Patricia Sinisgalli, sões dessas peças. E, como elas têm do escritório Gebara Conde Sinisgalli, medidas bem precisas e vêm com furos isolou os quartos da área social e de serpara conduítes e canos, não foi preciso viço, a fim de dar sossego a quem quiser quebrá-las”, explica André. Grandes dormir até tarde. No módulo íntimo, a e leves (0,40 x 1,20 m), requerendo cobertura parece quase plana, enquanpoucos apoios, as telhas metálicas – to no de convívio duas águas se enconrecheadas de poliuretano, isolante tertram no ponto mais baixo, numa calha moacústico – completaram a receita. para a chuva. A profissional destaca PATRICIA SINISGALLI Apesar das condições árduoutra vantagem no desenho: “O telhaARQUITETA as, a empreitada durou apenas um do invertido abre a vista ao máximo”. ano. Pergunte à moradora a razão O afinamento das ideias veio com os projetos estrutural, elétrico e hidráulico. Durante cinco meses, e ela responderá: “O empenho do meu marido. Chegou os arquitetos André Luiz Pinto e Rafael Colino, da POKT Design + um momento em que ele orçava e comprava os produtos”. Arquitetura, valeram-se da plataforma BIM (Building Informa- O planejamento prévio e o comprometimento de alguns tion Modeling) para construir um modelo virtual e em 3D da fornecedores contribuíram igualmente. “Fizemos todos os casa concebida por Patricia e Bela Gebara, uma de suas sócias. componentes de madeira com a mesma marcenaria, porSimularam todas as etapas do processo e optaram pelas soluções que eles nos atenderam muito bem”, exemplifica Patricia.

Acima: o deck junto à piscina e à varanda é perfeito para banhos de sol. Depois que a noite cai, continua em uso: “A gente adora ver a Lua dali”, diz a moradora. Os muros baixos de pedra, sugeridos pelo paisagista Luciano Fiaschi, constituem-se de rochas saídas do solo. Eles fazem a contenção do terreno e também servem de banco. Abaixo: a casa camufla-se na mata ao fundo.

“DE COSTAS PARA A MOVIMENTADA PRAIA VIZINHA, A CASA PRESERVA A VISTA SOSSEGADA”

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Entre a porta pivotante da sala e a do módulo íntimo (no segundo plano da foto), existe uma passarela aberta. “Ficou tão agradável assim que desistimos de fechá-la com vidro”, diz a moradora.

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MUITAS FORMAS DE ABRIR 1. A fachada do bloco íntimo é um grande painel de muiracatiara, espécie nobre e resistente, que se adapta a regiões úmidas, segundo o marceneiro Sidney Coelho. Foi a empresa dele, a GM dos Santos Marcenaria, que realizou o trabalho, um conjunto de revestimento e – quando fechadas – imperceptíveis esquadrias, produzidas segundo o traço de Patricia. 2. Se as pessoas quiserem clarear levemente o interior, basta mover as palhetas articuladas das venezianas. 3. Caso o desejo seja por ventilação e mais luz, pode-se abrir a porta externa de madeira e a folha de vidro.

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EM HARMONIA COM A NATUREZA Os ambientes principais voltam-se para o leste e usufruem do sol matutino. No bloco íntimo, as esquadrias dos quartos ficam paralelas às portas envidraçadas do corredor – isso permite a ventilação cruzada, indispensável no combate aos efeitos da maresia

IO SOLÁR95 m

5,05 x 7,

N

O TERRAÇ35 m 5,

SUÍTE

3,75 x 6,95 m

SUÍTE

3,75 x 6,95 m

SUÍTE

3,75 x 6,95 m

SUÍTE

3,75 x 8,55 m

UEIRA RASQ25 CHUR70 x 4, m 5,

SALATAR N DE JA6, 10 m 5,05 x

HA COZIN45 m

5,05 x 4,

DERIA LAVAN x 2,75 m 3,30

CORREDOR

SALA R DE ES6,TA 10 m

13 x 1,60 m

5,05 x

ÁREA: 340 M²; COLABORAÇÃO NO PROJETO DE ARQUITETURA: TALITA PINOTTI; PROJETO ESTRUTURAL E DE INSTALAÇÕES: POKT DESIGN + ARQUITETURA; CONSTRUÇÃO: PITTA ARQUITETURA E ENGENHARIA; EMPREITEIRO: MAURO CÉSAR ROCHA; TELHAS: REGIONAL TELHAS; BLOCOS CERÂMICOS: SELECTA; PROJETO LUMINOTÉCNICO: FOCO LUZ & DESENHO; PAISAGISMO: LUCIANO FIASCHI ARQUITETURA PAISAGÍSTICA

CAMPOY ESTÚDIO

20,85 x

Acima: na suíte do casal, portas do tipo camarão aproximam a cama da banheira, modelo oval que mede 0,66 x 0,72 x 1,58 m (Vallvé). Abaixo: caiaques e prancha aguardam atrás dos quartos a hora de serem usados. Note como o beiral é largo: assim, evita que a chuva invada a casa quando as portas estão abertas. Toda a madeira recebeu verniz naval.

MELHOR PONTO PARA CONSTRUIR A casinha de pescador que existia aqui exemplifica o saber popular: ocupava a parte menos acidentada dos 54 mil m², tinha vista para a praia e para a mata, estava fora da faixa da marinha (33 m a partir do ponto atingido pela maré mais alta) e respeitava a lei que impede a construção a menos de 50 m de nascentes. “Foi ideal erguer o projeto na mesma área, pois, exceto por uma jaqueira, nem árvores precisamos derrubar”, afirma a arquiteta.

“O JARDIM AINDA NÃO ESTÁ PRONTO: É DIFÍCIL CONSEGUIR GENTE QUE TOPE IR ATÉ LÁ SÓ PARA PLANTAR O QUE FALTA” PATRICIA SINISGALLI, ARQUITETA 84 ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO AGOSTO 2015

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As luminárias só são acesas quando a luz natural que atravessa as vidraças da sala começa a declinar. Forro de cedrinho (Madeireiro Madeiras e Ferragens) e piso de porcelanato (Cerâmica Portinari). 86 ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO AGOSTO 2015

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