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2.2. Modernismo – 2ª Fase

Café com pão Café com pão Café com pão

Virge Maria que foi isso maquinista?

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Agora sim Café com pão Agora sim Voa, fumaça Corre, cerca Ai seu foguista Bota fogo Na fornalha Que eu preciso Muita força Muita força Muita força (trem de ferro, trem de ferro) (...)

Trem de Ferro

Menina bonita Do vestido verde Me dá tua boca Pra matar minha sede Oô... Vou mimbora vou mimbora Não gosto daqui Nasci no sertão Sou de Ouricuri Oô...

Vaou depressa Vou correndo Vou na toda Que só levo Pouca gente Pouca gente Pouca gente... (trem de ferro, trem de ferro)

Leitura Complementar: O Projeto Literário da Primeira Geração Modernista

Menotti del Picchia resumiu de modo objetivo o projeto literário da primeira geração de modernistas brasileiros. Segundo ele, o grupo da Semana "não formulou um código: formou uma consciência, um movimento libertador a integrar nosso pensamento e nossa arte na nossa paisagem e no nosso espírito dentro da autentica brasilidade", Mais uma vez a busca pela identidade nacional voltava ao centro do projeto literário de uma geração.

Para cumprir esse projeto, o Modernismo, inspirado pelas propostas iconoclastas das vanguardas europeias, deu início a um questionamento sistemático dos valores que fundamentavam o gosto nacional. Pode parecer contraditório que o questionamento das influências estrangeiras na cultura brasileira tenha sido inspirado por movimentos artísticos europeus. É preciso lembrar, porém, que a renovação das vanguardas começava pela destruição dos valores do passado.

E a crença na necessidade de destruir esses valores para propor um novo olhar para a arte que anima os primeiros modernistas. Assim, ao mesmo tempo que davam seu grito de independência e se revoltavam contra modelos do passado, enfrentavam heroicamente a resistência de um publico que cultivava esses modelos como sinônimo de beleza.

(Literatura, tempos, leitores e leituras, de Maria L. M. Abaurre e Marcela Pontara)

2.2. Neomodernismo

2ª FASE MODERNISTA (1930 – 1945)

CONTEXTO

O quadro social, econômico e político que se verificava no Brasil e no mundo no início da década de 1930 - reflexos da crise da bolsa de Nova Iorque ocorrida em 1929; crise cafeeira; Revolução de 30; Intentona Comunista, em 1935; Estado Novo (1937-1945); ascensão do Nazismo e do Fascismo e combate ao socialismo; Segunda Guerra Mundial (19391945) - exigia dos artistas e intelectuais uma tomada de posição ideológica, do que resulta uma arte engajada.

O Modernismo consolidou suas conquistas no período de 1930 a 1945. Passada a fase mais agressiva e polêmica, observamos que a literatura brasileira começa a entrar num período de amadurecimento. Sobretudo com a estreia de uma geração de escritores que revelariam em suas obras, uma grande preocupação com os problemas sociais de seu tempo. A segunda fase do Modernismo brasileiro pode ser considerada um momento de amadurecimento de todas as novidades trazidas pelo período heroico, que teve início com a Semana de Arte Moderna.

Guerra de Lasar Segall. FONTE: http://www.arteeartistas.com.br/lasarsegall-e-sua-obra

A POESIA SOCIAL

Os poetas da geração de 30 tiveram grande preocupação social. A necessidade de compreender o mundo transformado pela guerra e pelas sucessivas crises fez com que procurassem uma interpretação da realidade, tentando entender o dinamismo das relações do homem com o universo que habita. Assim, por exemplo, as poesias de Drummond e de Murilo Mendes analisam o destino do ser humano como um todo. Essa visão abrangente do homem também aparece em Cecília Meireles e Vinícius de Moraes, que produzem também, uma poesia intimista, voltada para a espiritualidade ou então para a reflexão amorosa.

Quando analisamos a poesia da segunda geração modernista, observamos que a principal característica no uso da linguagem é a liberdade para explorar todo tipo de recurso formal.

A seleção de palavras parece sugerir opção pela simplicidade, mas a estrutura sintática dos versos é, muitas vezes, mais elaborada, sinalizando a direção oposta. Essa maior complexidade sintática pode ser associada à própria temática desenvolvida nos textos. Os poetas usam a poesia para falar de um momento em que a humanidade esta diante de questões complicadas. Refletir sobre elas exige uma elaboração sintática de complexidade equivalente.

A maneira como são usados os recursos próprios da linguagem poética, como versos, ritmos e rimas, também reforça a liberdade como marca dessa geração. Versos, livres e brancos convivem com outros rimados e de métrica fixa. Formas poéticas fixas, como o soneto, também serão revisitadas por todos os

poetas, que submetem a linguagem às suas necessidades, valendo-se de todos os recursos (formais ou não) à sua disposição.

Autor: Carlos Drummond de Andrade

Vida: Carlos Drummond de

Andrade nasceu em Itabira do Mato Dentro - MG, em 31 de outubro de 1902. De uma família de fazendeiros em decadência, estudou na cidade de Belo Horizonte e com os jesuítas no Colégio Anchieta de Nova Friburgo RJ, de onde foi expulso por “insubordinação mental”.

Fonte: www.pensador.com/autor/ De novo em Belo Horizonte, carlos_drummond_de_andrade começou a carreira de escritor como colaborador do Diário de Minas, que aglutinava os adeptos locais do incipiente movimento modernista mineiro. Ante a insistência familiar para que obtivesse um diploma, formou-se em farmácia na cidade de Ouro Preto em 1925. Fundou com outros escritores A Revista, que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ingressou no serviço público e, em 1934, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde foi chefe de gabinete de Gustavo Capanema, ministro da Educação, até 1945. Passou depois a trabalhar no Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e se aposentou em 1962. Desde 1954 colaborou como cronista no Correio da Manhã e, a partir do início de 1969, no Jornal do Brasil. Alvo de admiração irrestrita, tanto pela obra quanto pelo seu comportamento como escritor, Carlos Drummond de Andrade morreu no Rio de Janeiro RJ, no dia 17 de agosto de 1987, poucos dias após a morte de sua filha única. A poesia de Carlos Drummond de Andrade pode ser abordada a partir da dialética “eu x mundo”, desdobrando-se em três atitudes: Eu maior que o mundo: marcada pela poesia irônica. O poeta vê os conflitos de uma posição de equidistância e não envolvimento: daí o humor, os poemas-piada e a ironia. O poeta fotografa a província, a família. É sarcástico, de uma irreverência incontida, mas de um sentimento contido, o que vem a produzir um texto objetivo, seco, versos curtos e descarnados, sem transbordamento emocional. É o que ocorre em Alguma Poesia e Brejo das

Almas. Poema das Sete Faces

Quando eu nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai Carlos! Ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração Porém meus olhos não perguntam nada O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucas, raros amigos o homem atrás dos óculos e do bigode. Meu Deus por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo, mundo vasto mundo, Se eu me chamasse Raimundo seria apenas rima, não seria solução. Mundo, mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo.

No Meio do Caminho

No meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra no meio do caminho tinha uma pedra. Nunca me esquecerei desse acontecimento na vida de minhas retinas tão fatigadas. Nunca me esquecerei que no meio do caminho tinha uma pedra tinha uma pedra no meio do caminho no meio do caminho tinha uma pedra.

Eu menor que o mundo: marcada pela poesia social, tomando como temas a política, a guerra e o sofrimento do homem. Desabrocha o sentimento do mundo, marcado pela solidão, pela impotência do homem, diante de um mundo frio e mecânico, que o reduz a objeto. É o que ocorre em Sentimento do Mundo, José e especialmente em A Rosa do Povo. Os poemas Consideração do poema e A flor e a náusea também incluem-se nessa fase.

Consideração do poema

Não rimarei a palavra sono com a incorrespondente palavra outono. Rimarei com a palavra carne ou qualquer outra, que todas me convêm. As palavras não nascem amarradas, elas saltam, se beijam, se dissolvem, no céu livre por vezes um desenho, são puras, largas, autênticas, indevassáveis.

Uma pedra no meio do caminho ou apenas um rastro, não importa. Estes poetas são meus. De todo o orgulho, de toda a precisão se incorporam ao fatal meu lado esquerdo. Furto a Vinicius sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo. Que Neruda me dê sua gravata chamejante. Me perco em Apollinaire.(...) Como fugir ao mínimo objeto ou recusar-se ao grande? Os temas passam, eu sei que passarão, mas tu resistes, e cresces como fogo, como casa, como orvalho entre dedos, na grama, que repousam.

Já agora te sigo a toda parte, e te desejo e te perco, estou completo, me destino, me faço tão sublime, tão natural e cheio de segredos, tão firme, tão fiel… Tal uma lâmina, o povo, meu poema, te atravessa.

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas, Vou de branco pela rua cinzenta. Melancolias, mercadorias espreitam-me. Devo seguir até o enjoo? Posso, sem armas, revoltar-me'? Olhos sujos no relógio da torre: Não, o tempo não chegou de completa justiça. O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera. O tempo pobre, o poeta pobre fundem-se no mesmo impasse. Em vão me tento explicar, os muros são surdos. Sob a pele das palavras há cifras e códigos. O sol consola os doentes e não os renova. As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Vomitar esse tédio sobre a cidade. Quarenta anos e nenhum problema resolvido, sequer colocado. Nenhuma carta escrita nem recebida. Todos os homens voltam para casa. Estão menos livres mas levam jornais e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Crimes da terra, como perdoá-los? Tomei parte em muitos, outros escondi. Alguns achei belos, foram publicados. Crimes suaves, que ajudam a viver.

Ração diária de erro, distribuída em casa. Os ferozes padeiros do mal. Os ferozes leiteiros do mal. Pôr fogo em tudo, inclusive em mim. Ao menino de 1918 chamavam anarquista. Porém meu ódio é o melhor de mim. Com ele me salvo e dou a poucos uma esperança mínima. Uma flor nasceu na rua! Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego. Uma flor ainda desbotada ilude a polícia, rompe o asfalto. Façam completo silêncio, paralisem os negócios, garanto que uma flor nasceu. Sua cor não se percebe. Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros. É feia. Mas é realmente uma flor. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde e lentamente passo a mão nessa forma insegura. Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.

Eu igual ao mundo: abrange a poesia metafísica, de Claro Enigma onde a escavação do real, mediante um processo de interrogações e negações, conduz ao vazio que espreita o homem e ao desencanto, e a “poesia objetual”, de Lição de Coisas, onde a palavra se faz coisa, objeto, e, é pesquisada, trabalhada, desintegrada e refundida no espaço da página. Apresenta uma novidade: o erotismo.

A Metafísica do Corpo

A metafísica do corpo se entremostra nas imagens. A alma do corpo modula em cada fragmento sua música de esferas e de essências além da simples carne e simples unhas. Em cada silêncio do corpo identifica-se a linha do sentido universal que à forma breve e transitiva imprime a solene marca dos deuses e do sonho. Entre folhas, surpreende-se na última ninfa o que na mulher ainda é ramo e orvalho e, mais que natureza, pensamento da unidade inicial do mundo: mulher planta brisa mar, o ser telúrico, espontâneo, como se um galho fosse da infinita árvore que condensa o mel, o sol, o sal, o sopro acre da vida. De êxtase e tremor banha-se a vista ante a luminosa nádega opalescente, a coxa, o sacro ventre, prometido ao ofício de existir, e tudo mais que o corpo resume da outra vida, mais florente, em que todos fomos terra, seiva e amor. Eis que se revela o ser, na transparência do invólucro perfeito.

Autora: Cecília Meireles

Vida: Filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles, funcionário do Banco do Brasil S.A., e de D. Matilde Benevides Meireles, professora municipal, Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu em 7 de novembro de 1901, na Tijuca, Rio de Janeiro. Foi a única sobrevivente dos quatros filhos do casal. O pai faleceu três meses antes do seu nascimento, e sua mãe quando ainda não tinha três anos. Criou-a, a partir de então, sua avó D. Jacinta Garcia Benevides. Escreveria mais tarde:

Fonte: www.pensador.com/ autor/cecilia_meireles

“Nasci aqui mesmo no Rio de Janeiro, três meses depois da morte de meu pai, e perdi minha mãe antes dos três anos. Essas e outras mortes ocorridas na família acarretaram muitos contratempos materiais, mas, ao mesmo tempo, me deram, desde pequenina, uma tal intimidade com a Morte que docemente aprendi essas relações entre o Efêmero e o Eterno.”

Concluiu seus primeiros estudos — curso primário — em 1910, na Escola Estácio de Sá, ocasião em que recebe de Olavo Bilac, Inspetor Escolar do Rio de Janeiro, medalha de ouro por ter feito todo o curso com “distinção e louvor”. Diplomando-se no Curso Normal do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, em 1917, passa a exercer o magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal.

Falece no Rio de Janeiro a 9 de novembro de 1964, sendo-lhe prestadas grandes homenagens públicas. Seu corpo é velado no Ministério da Educação e Cultura.

CARACTERÍSTICAS

a) liberdade da forma; b) espiritualidade (intimismo); c) neossimbolista; d) atmosfera de sonho e fantasia e) musicalidade (aliteração, assonância e reiteração); f) uso de metáforas e sinestesias; g) temas universais h) poesia melancólica – sentimento de ausência e solidão

Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje, assim calmo, assim triste, assim magro, nem estes olhos tão vazios, nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força, tão paradas e frias e mortas; eu não tinha este coração que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face?

Motivo

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento.

Se desmorono ou se edifico se permaneço ou me desfaço, - não sei, não sei. Não sei se fico ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno e asa ritmada E um dia sei que estarei mudo: - mais nada.

Pistoia - Cemitério Militar Brasileiro

Eles vieram felizes, como para grandes jogos atléticos: com um largo sorriso no rosto, com forte esperança no peito, - porque eram jovens e eram belos.

Marte, porém, soprava fogo por estes campos e estes ares. E agora estão na calma terra, sob estas cruzes e estas flores, cercados por montanhas suaves.

São como um grupo de meninos num dormitório sossegado, com lençóis de nuvens imensas, e um longo sono sem suspiros, de profundíssimo cansaço. (...)

CENÁRIO Romanceiro da inconfidência

ROMANCE XXI OU DAS IDÉIAS

Passei por essas plácidas colinas e vi das nuvens, silencioso, o gado pascer nas solidões esmeraldinas.

Largos rios de corpo sossegado dormiam sobre a tarde, imensamente, - e eram sonhos sem fim, de cada lado.

Entre nuvens, colinas e torrente, uma angústia de amor estremecia a deserta amplidão na minha frente.

Que vento, que cavalo, que bravía saudade me arrastava a esse deserto, me obrigava a adorar o que sofria?

Passei por entre as grotas negras, perto dos arroios fanados, do cascalho cujo ouro já foi todo descoberto.

As mesmas salas deram-me agasalho onde a face brilhou de homens antigos, iluminada por aflito orvalho. Este cemitério tão puro é um dormitório de meninos: e as mães de muito longe chamam, entre as mil cortinas do tempo, cheias de lágrimas, seus filhos. (...)

E as mães esperam que ainda acordem, como foram, fortes e belos, depois deste rude exercício, desta metralha e deste sangue, destes falsos jogos atléticos.

Entretanto, céu, terra, flores, é tudo horizontal silêncio. O que foi chaga, é seiva e aroma, - do que foi sonho, não se sabe e a dor anda longe, no vento...

Doces invenções da Arcádia! Delicada primavera: pastoras, sonetos, liras, - entre as ameaças austeras de mais impostos e taxas que uns protelam e outros negam. Casamentos impossíveis. Calúnias. Sátiras. Essa paixão da mediocridade que na sombra se exaspera. E os versos de asas douradas, que amor trazem e amor levam... Anarda. Nise. Marília... As verdades e as quimeras. Outras leis, outras pessoas. Novo mundo que começa. Nova raça. Outro destino. Planos de melhores eras. E os inimigos atentos, que, de olhos sinistros, velam. E os aleives. E as denúncias. E as ideias.

Autor: Vinícius de Moraes

Vida: Nasce, em meio a forte temporal, na madrugada de 19 de outubro , no antigo nº 114 (casa já demolida) da rua Lopes Quintas, na Gávea, ao lado da chácara de seu avô materno, Antônio Burlamaqui dos Santos Cruz. São seus pais d. Lydia Cruz de Moraes e Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, este, sobrinho do poeta, cronista e folclorista Mello Moraes Filho e neto do historiador Alexandre José de Mello Moraes.

Desde cedo demonstra seu pendor para a poesia. Criado por sua mãe, Lydia Cruz de Moraes, que, dentre outras qualidades, era exímia pianista, e ao lado do pai, Clodoaldo Pereira da Silva Moraes, poeta bissexto, Vinicius cresce morando em diversos bairros do Rio, infância e juventude depois contadas em seus versos, que refletiam o pensamento da geração de 1940 em diante.

É operado a 17 de abril, para a instalação de um dreno cerebral. Morre, na manhã de 9 de julho, de edema pulmonar, em sua casa, na Gávea, em companhia de Toquinho e de sua última mulher.

Fonte: www.pensador.com/ autor/vinicius_de_moraes

CARACTERÍSTICAS

- Recupera o uso das formas fixas: sonetos

PRIMEIRA FASE: a) a poesia mística e transcendental b) valorização do momento c) presença da religiosidade d) sensualidade.

SEGUNDA FASE: a) a poesia que retrata o amor b) a reflexão a cerca do amor c) o cotidiano d) os problemas sociais.

Soneto de Fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama Mas que seja infinito enquanto dure.

Pátria minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo É minha pátria. Por isso, no exílio Assistindo dormir meu filho Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi: Não sei. De fato, não sei Como, por que e quando a minha pátria Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água Que elaboram e liquefazem a minha mágoa Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos... Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias De minha pátria, de minha pátria sem sapatos E sem meias, pátria minha Tão pobrinha! (...)

Agora chamarei a amiga cotovia E pedirei que peça ao rouxinol do dia Que peça ao sabiá Para levar-te presto este avigrama: "Pátria minha, saudades de quem te ama… Vinicius de Moraes."

Poema de Natal

Para isso fomos feitos: Para lembrar e ser lembrados Para chorar e fazer chorar Para enterrar os nossos mortos — Por isso temos braços longos para os adeuses Mãos para colher o que foi dado Dedos para cavar a terra. Assim será nossa vida: Uma tarde sempre a esquecer Uma estrela a se apagar na treva Um caminho entre dois túmulos — Por isso precisamos velar Falar baixo, pisar leve, ver A noite dormir em silêncio. Não há muito o que dizer: Uma canção sobre um berço Um verso, talvez de amor Uma prece por quem se vai — Mas que essa hora não esqueça E por ela os nossos corações Se deixem, graves e simples. Pois para isso fomos feitos: Para a esperança no milagre Para a participação da poesia Para ver a face da morte — De repente nunca mais esperaremos... Hoje a noite é jovem; da morte, apenas Nascemos, imensamente.

A rosa de Hiroshima

Pensem nas crianças Mudas telepáticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas cálidas Mas oh não se esqueçam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroxima A rosa hereditária A rosa radioativa Estúpida e inválida A rosa com cirrose A antirrosa atômica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada.

NEOMODERNISMO A Prosa – O Romance de 30 Realismo e Regionalismo

Escultura de Mestre Vitalino. Fonte: http://pensaeai.blogspot.com.br/2013/11/mestre-vitalino-arte-feitade-barro.html

Chama-se de Romance de 30, Neorrealismo ou Neomodernismo (2ª fase do Modernismo) a produção ficcional brasileira de inspiração realista produzida a partir de 1928, ano de publicação de A bagaceira, de José Américo de Almeida, que inaugura o referido ciclo.

Em função do predomínio da temática rural, generalizou-se também o conceito de romance regionalista para indicar os relatos da época, apesar de alguns romances urbanos fazerem parte do mesmo período.

As características comuns aos romances de 30 são a verossimilhança, o retrato direto da realidade em seus elementos históricos e sociais, a linearidade narrativa, a tipificação social (indivíduos que representam classes sociais) e a construção ficcional de um mundo que deve dar a ideia de abrangência e totalidade. Características muito semelhantes as do Realismo machadiano, com o acréscimo do regionalismo e das conquistas modernistas de introspecção e liberdade linguística.

A década foi marcada também por um impressionante florescimento de estudos sobre a sociedade brasileira, com destaque especial para Casa-

grande e senzala (1933), de Gilberto Freyre.

Quanto à temática, os romancistas de então enfatizam as questões sociais e ideológicas. É uma época de efervescência política no país e no mundo: no Brasil Getúlio Vargas assume depois de uma Revolução e inauguraria o Estado Novo, enquanto o mundo vive o período entre guerras e assiste a FONTE: www.culturagenial.com/quadro -retirantes-de-candido-portinariascensão do socialismo na União Soviética. O escritor, ao invés de pegar em armas, usa a ficção, a descrição e o romance como forma de denunciar as desigualdades e injustiças.

Autor: Graciliano Ramos

Vida: Graciliano Ramos é considerado um dos maiores escritores brasileiros do século XX e proeminente representante do Romance de 30.

Primogênito de 16 filhos do casal Sebastião Ramos de Oliveira e Maria Amélia Ramos, viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro. Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como jornalista. Volta para o Nordeste em setembro de 1915, fixando-se junto ao pai, que era comerciante em Palmeira dos Índios, Alagoas. Neste mesmo ano casa-se com Maria Augusta de Barros.

Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial e diretor da Instrução Pública do estado. Em 1934 havia publicado São Bernardo, e quando se preparava para publicar o próximo livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após o Levante comunista de 1935. Com ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia (1936), talvez sua melhor obra.

É libertado em janeiro de 1937. As experiências da cadeia, entretanto, ficariam gravadas em uma obra publicada postumamente, Memórias do Cárcere (1953), relato franco dos desmandos e incoerências da ditadura a que estava submetido o Brasil.

Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como inspetor federal de ensino. Em 1945 ingressou no Partido Comunista do Brasil (PCB), de orientação soviética e sob o comando de Luís Carlos Prestes; nos anos seguintes, realizaria algumas viagens a países europeus, retratadas no livro Viagem (1954). Ainda em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico.

Adoeceu gravemente em 1952. No começo de 1953 foi internado, mas acabaria falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do pulmão.

O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito (até mesmo violento) com o mundo, a opressão e a dor seriam marcas de sua literatura.

Fonte: https://pt.wikipedia.org /wiki/Graciliano_Ramos

Vidas Secas

Publicado em 1938, Vidas Secas, é o mais importante romance regionalista da segunda fase do nosso modernismo. Escrito em terceira pessoa, com várias passagens em discurso indireto livre, a narrativa começa com a família - Fabiano, Sinhá Vitória e os dois filhos - acompanhada do papagaio e da cachorra Baleia, fugindo da seca, a caminho do Sul. Pulando de uma fazenda a outra, trabalhando sempre em caráter provisório, Fabiano e a família não se fixam em lugar algum. Assim como começa, o romance termina com uma fuga, mas desta vez porque Fabiano se julgava roubado pelo patrão.

CARACTERÍSTICAS

a) Focaliza o drama social do nordeste (Vidas Secas); b) Análise psicológica e social c) Relações homem x meio natural e homem x meio social; d) Romance de caráter autobiográfico (Infância); e) Crítica à ditadura de Vargas (Memórias do Cárcere) f) Linguagem sintética e textos enxutos;

Leitura Complementar: A Linguagem Constrói O Olhar Realista

O cuidado com as palavras é um dos traços mais importantes da prosa de Graciliano Ramos. A economia absoluta no uso de adjetivos e advérbios, a escolha cuidadosa dos substantivos que melhor contam uma realidade, todos os aspectos da construção de seus romances colaboram para a criação do "realismo bruto" que define o olhar neorrealista desse autor. Observe, por exemplo, como o narrador de São Bernardo, Paulo Honório, fala sobre os funcionários que Ihe serviam.

Bichos. As criaturas que me serviram durante anos eram bichos. Havia bichos domésticos, como o Padilha, bichos do mato, como Casimiro Lopes, e muitos bichos para o serviço do campo, bois mansos. Os currais que se escoram uns aos outros, lá embaixo, tinham lâmpadas elétricas. E os bezerrinhos mais taludos soletravam a cartilha e aprendiam de cor os mandamentos da lei de Deus.

Toda a apresentação dos trabalhadores e feita a partir do campo semântico criado pelo substantivo bichos, denominação metafórica escolhida pelo narrador para caracterizá-Ios. O adjetivo “domésticos” e a locução adjetiva “do mato” estabelecem uma diferença no grau de civilidade de alguns deles. Padilha, herdeiro falido da fazenda São Bernardo, é um bicho “domestico”, por ser um homem educado. Casimiro Lopes, capanga de Paulo Honório, não tem educação nem refinamento, par isso e considerado um bicho do mato.

Os demais funcionários não chegam sequer a ser identificados. A metáfora escolhida para resumir sua condição ajuda a compreender como as questões sociais aparecem nos romances de Graciliano Ramos: são “bois mansos”. O narrador faz, nesse momento, uma particularização do campo semântico inicial: os “bichos” (funcionários de modo geral) passam a “bois” (somente os que trabalham nos campos). Desse ponto em diante, todas as informações dadas a seu respeito estarão contidas no novo campo semântico criado. Assim, suas casas são currais e seus filhos, bezerrinhos.

Por meio da linguagem, Graciliano constrói seus protagonistas: homens atormentados, cheios de conflito, solitários, destruídos pela vida, como Paulo.

(Literatura Brasileira – Tempos, leitores e leituras, de Maria Luiza M. Abaurre e Marcela Pontara).

Autor: Erico Veríssimo

Vida: Filho de Sebastião Veríssimo da Fonseca e Abegahy Lopes Veríssimo, família abastada que ficou arruinada, não chegou a completar os estudos secundários devido à necessidade de trabalhar.

Mudou-se de Cruz Alta para Porto Alegre em 1930 disposto a viver de seus escritos, onde passou a conviver com escritores já renomados, como Mário Quintana, Augusto Meyer, Guilhermino César e outros. No ano seguinte foi contratado para ocupar o cargo de secretário de redação da Revista do Globo, da qual se tornaria editor a partir de 1933. Assumiu, também, todo o projeto editorial da Editora Globo, projetando-a nacionalmente.

Publicou a sua primeira obra, Fantoches, em 1932, uma sequência de contos, em sua maioria na forma de pequenas peças de teatro. No ano seguinte obteve o seu primeiro sucesso, com o romance “Clarissa”. Casou-se e teve dois filhos. Um deles é, o também escritor, Luis Fernando Veríssimo.

Em 1943 mudou-se com a família para os Estados Unidos, onde ministrou aulas de Literatura Brasileira na Universidade de Berkeley, até 1945. Entre 1953 e 1956 foi diretor do Departamento de Assuntos Culturais da Organização dos Estados Americanos, em Washington. Dessas viagens e da permanência nos Estados Unidos resultaram dois livros: Gato preto em campo de neve (1941), e A volta do gato preto (1947).

É considerada como a sua obra-prima a trilogia histórica O Tempo e o Vento (1949-1961), da qual saíram alguns personagens primordiais e bastante populares entre seus leitores, como Ana Terra e o Capitão

Rodrigo.

Em 1965 publicou o romance O Senhor Embaixador no qual refletia sobre os descaminhos da América Latina.

No romance Incidente em Antares (1971), traça um apanhado da história do Brasil desde os primeiros tempos e envereda pelo fantástico, com uma rebelião de cadáveres durante uma greve de coveiros na fictícia cidade de Antares.

O enfarte que o vitimou em 1975 impediu-o de completar o segundo volume de sua autobiografia, Solo de Clarineta, programada para ser uma trilogia, além de um romance que se chamaria A hora do sétimo anjo.

CARACTERÍSTICAS

PRIMEIRA FASE:

a) Retrata a vida urbana de Porto Alegre; b) A crise da sociedade moderna; c) Os dramas da classe média;

SEGUNDA FASE:

a) Representante gaúcho no regionalismo modernista; b) Passado histórico do RS; c) A disputa de terra e do poder; d) O realismo fantástico (Incidente em Antares).

Leitura Complementar:

“O Tempo e Vento”

Visto Por Antônio Candido

Em O Continente é a primeira uma obra que compõe a trilogia O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo, e foi publicado em 1949. Transita entre o lírico e o épico; entre o intimista e o histórico, e abrange 150 anos da história (1745–1895), traçando a origem da sociedade rio-grandense, marcada pelo controle de uma elite latifundiária e pela violência das guerras fronteiriças e das revoluções fraticidas. Nesse período de 150 anos ocorrem grandes acontecimentos históricos que são internalizados no texto literário, tais como o Tratado de Madri, a Guerra da Cisplatina, a Independência do Brasil, a Revolução Farroupilha, a Guerra do Paraguai, a Abolição da Escravatura, a proclamação da República e a Revolução Federalista de 1893.

A palavra "continente" significa no romance, em primeiro lugar, o território conquistado a ferro e fogo durante os séculos XVIII e XIX. A conquista dá-se simultaneamente por ação privada e por ação estatal. A primeira, iniciada nos Campos de Cima da Serra, e comandada por aventureiros sorocabanos e lagunenses, estende-se rumo ao oeste e ao sul da região, em busca de planícies férteis para o pastoreio. A segunda é mais litorânea, através da imigração açoriana e do estabelecimento de fortificações militares pelo Estado português. Ambas confluem e se unificam, no entanto, em um grande objetivo comum: a tomada da "terra de ninguém" e do gado alçado - vacum e equino - que vagava às centenas de milhares pelos campos da Serra e da Campanha. Em segundo lugar, o "continente" significa, no romance, o tempo histórico da conquista e da consolidação do poder dos estancieiros na região, associado à solidificação do núcleo familiar, originando os primeiros clãs dominantes. Aqui, "continente" significa aglutinação, coesão, esforço familiar num sentido comum. Bem diferente de "arquipélago", que traz a ideia de desintegração, fim do clã, estilhaçamento, isolamento dos indivíduos.

A obra está inserida no chamado Romance de 30, obras de cunha neorrealista que aliam a descrição denunciante do Realismo às investigações psicológicas das personagens e liberdades linguísticas do narrador, frutos do Modernismo. Assim como O continente, muitas dessas obras são de cunho regionalista.

A visão global compõe-se de sucessivas visões parciais, ou limitadas no tempo e no espaço, de forma que a obra verdadeiramente é uma aglutinação de novelas, entremeadas de cantos de certo sabor poético, impregnados de elementos folclóricos e referências populares. A sua unidade resulta, primeiramente, do próprio desenrolar histórico dos fatos e situações, tendo a região de Santa Fé como ponto de convergência e irradiação. Esboçam-se, ao mesmo tempo, as origens e a formação da cidade do mesmo nome. Os fatos e situações, por sua vez, visam de maneira particular ao processo de enraizamento, de afirmação do poderio econômico e de mandonismo local, de determinadas famílias: os Amaral e os Terra e Cambará. No caso, o ponto de partida do desenvolvimento da intriga, paralelamente com as visões retrospectivas, é a luta entre federalistas e republicanos, de 1893. De um lado, estão os Amaral, de outro, os Terra e Cambará, cujas rivalidades de famílias encontram evasão nas lutas políticas. (...)

RASCUNHO

Fonte: https://www.passeiweb.com/estudos/livros/o_continente

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