Foto: Mateus Vicente/ Polo Náutico UFRJ
energia
Regata
da inovação Competição de barcos movidos a luz solar viabilizada pela FINEP, o Desafio Solar Brasil divulga o potencial das
mento de embarcações. Para apoiar a iniciativa, a FINEP
C
concedeu R$ 150 mil em recursos não reembolsáveis,
Departamento de Engenharia Oceânica da Universidade
as equipes desenvolvam embarcações e circuitos elétricos
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) foi muito mais ambicioso
alimentados exclusivamente por energia solar. Ganha
quando criou o Desafio Solar Brasil (DSB), rali de barcos
quem chega primeiro – ou, em jargões da área – quem
movidos a luz solar. A regata visa estimular e divulgar o
articula o sistema de forma mais eficiente.
ompetições universitárias servem para desenvolver
que foram utilizados na compra de 90 painéis solares
o espírito esportivo e o trabalho em equipe – ha-
fotovoltaicos da marca Kyocera, doados às equipes das
bilidades indispensáveis para o bom convívio em
universidades e instituições participantes. Com duas ca-
sociedade. Mas o Laboratório Polo Náutico, vinculado ao
tegorias – catamarã e monocasco - o Desafio permite que
potencial das fontes limpas de energia no desenvolvi-
Realizado anualmente desde 2009, o Desafio é a versão
inovação
Isadora Marinho
em pauta – Out/Nov/Dez 2011
fontes renováveis de energia na engenharia naval
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brasileira do Dong Energy Frisian Solar Challenge, campeonato mundial de barcos solares realizado na Holanda e que conta com mais de 40 equipes de oito países. A ideia de fazer o evento no Brasil surgiu em 2008, quando a UFRJ foi convidada a participar. De acordo com o idealizador do DSB Amorim, a universidade buscou diversos patrocinadores para viabilizar sua participação. Valeu a pena. Os cariocas conseguiram o 4º lugar na categoria Classe A e o 7º lugar na classificação geral entre 43 equipes europeias. Constatada a vocação dos brasileiros, Amorim decidiu copiar o modelo no Brasil e escolheu Paraty, no litoral sul do estado do Rio, para cidade-sede do evento, onde ocorre a principal prova. Patrimônio histórico do Brasil, Paraty
Fotos: Mateus Vicente/ Polo Náutico UFRJ
e coordenador do Polo Náutico, o professor Dr. Fernando
Acima, a cidade histórica de Paraty, no Rio, onde acontece a prova principal do torneio. Abaixo, alunos carregam uma das em pauta – Número 12
era o porto mais importante do País no período colonial,
inovação
embarcações
– Cada equipe recebe seis painéis e utiliza baterias com
lenge, mas as provas contam com um circuito de cerca de
o mesmo limite de armazenamento. A diferença de rendi-
40 km – menor do que o feito na Holanda, onde os pilotos
mento entre as embarcações está no circuito desenvolvido
percorrem mais de 50 km. Além das regatas, os barcos
pela equipe, e isso inclui a qualidade das conexões, o ta-
competem em provas de desvio de boias, aceleração e
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manho dos cabos, os materiais empregados e até mesmo
por onde o ouro e as pedras preciosas extraídos de Minas
a habilidade do piloto – explica Amorim.
Gerais eram escoados para Portugal.
A competição utiliza as mesmas regras do Dong Chal-
se restringisse às poucas escolas de engenharia naval do Brasil – são três no total – a UFRJ projetou uma embarcação padrão, um catamarã de 6 m, e se comprometeu a construir os cascos para todas as equipes que não reunissem condições técnicas e materiais. Para o estudante Tássio Simioni, 23 anos, ex-capitão e um dos pilotos da equipe Vento Sul, que é composta por alunos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), essa iniciativa foi essencial para o sucesso do evento. “Muitas equipes não têm dinheiro para colocar seus projetos em prática”, analisa. Em 2010, após vencer a prova em Paraty pelo segundo ano consecutivo, a Vento Sul ficou confiante e encarou o desafio de participar do Dong Energy Frisian Solar Challenge. De acordo com Simioni, fizeram um projeto de dois anos em cinco meses e sofreram com problemas técnicos. Não conseguiram repetir os feitos no DSB mas não passaram despercebidos: a Vento Sul foi considerada a melhor equipe novata não-europeia, por conta das inovações que a embarcação apresentava. – Não tivemos tempo o suficiente para construir o barco e ele quebrou algumas vezes, mas os competidores puderam ver o nosso potencial. Ficavam nos olhando, receosos. Estamos nos preparando para 2012 agora – conta.
Nova velha tecnologia
poluentes, ou seja, não utilizam a queima de
tuem uma tecnologia antiga que só se tornou comercial recentemente, por conta da queda dos preços. – O rendimento das placas fotovoltaicas (quantidade
combustíveis fósseis para a geração de energia.
de captação de luz solar que é convertida para energia
Além disso, o motor elétrico tem vida útil de
elétrica) ficou por anos estagnado em 8%. O custo da ba-
20 anos – cinco vezes mais do que o motor a
teria, necessária para o armazenamento, era alto também.
combustão. As embarcações podem alcançar até
A evolução dos equipamentos permitiu um barateamento
15 km/h, velocidade semelhante a de um barco de
e, com isso, setores, como agricultura, transporte e pesca
passeio. Com o barateamento dos painéis solares,
passaram a contemplar a energia solar. Mas é tudo muito
esta tecnologia se tornou uma opção sustentável e
recente – diz Amorim.
inovadora para diversos setores da economia, como pesca, transporte e turismo.
Hoje em dia, os painéis solares fabricados já têm rendimento de 15% e há alguns modelos no mercado que giram entre 23% e 25% – mas possuem alto custo. A edição de 2011 foi a última a utilizar as placas de 8% adquiridas com recursos FINEP e, segundo a organização, um novo pedido será
revezamento de pilotos. Ao final do evento, os participan-
encaminhado para a compra de placas mais eficientes. Não
tes não precisam devolver as placas fotovoltaicas – uma
poderia ser diferente: o Desafio Solar Brasil já se consolidou
forma de permitir que os grupos dêem continuidade aos
como evento cultural e desportivo da cidade histórica de
estudos em suas instituições.
Paraty. Estima-se que cerca de quatro mil pessoas compare-
Além disso, as equipes podem competir com um barco
çam ao DSB e à Festa do Mar e do Sol, evento educacional
próprio ou utilizar uma das embarcações disponibilizadas
multidisciplinar voltado para alunos do nível fundamental
pelo Polo Náutico. Para que a participação no Desafio não
e médio realizado paralelamente ao Desafio. n
em pauta – Out/Nov/Dez 2011
As embarcações movidas a luz solar não emitem
De acordo com o professor, os painéis solares consti-
inovação
Opção sustentável para outros setores
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