GEDLEY BELCHIOR BRAGA
LIMBO
A.S.S. - Authentic Semiotic Selfie with “Descent of Christ Into Limbo”, 1552, painting by BRONZINO, Agnolo di Cosimo (1503 – 1572). Basilica di Santa Croce, Florence, July, 2015. © Gedley Belchior Braga
GEDLEY BELCHIOR BRAGA
LIMBO CATÁLOGO DA EXPOSIÇÃO
Museu Regional de São João del-Rei De 26 de novembro de 2015 a 31 de janeiro de 2016. São João del-Rei Minas Gerais - Brasil
2015
Em 2005, na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo, ocorreu a morte representacional de Gedley Belchior Braga, na instalação “Love & Hate”. A partir desse momento, o artista trabalhou com diversas propostas no que poderia ser considerado o meio underground daquela cidade. Em 2008, em uma nova instalação na mesma galeria, Gedley retomou o conceito de uma vida ou obra após a morte, dessa vez com o título de “Obra Póstuma”, aproveitando a citação do personagem de Machado de Assis, Brás Cubas: “obra de finado” [...] escrita “com a pena da galhofa e a tinta da melancolia”. Todo esse processo constituiu a matéria-prima da tese de doutorado do artista, “A tese na [da] caixa preta”, defendida em meados de 2008, na ECAUSP (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo). A partir de convite feito pela diretora do Museu Regional de São João delRei, Rosiane Nunes, em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da Universidade Federal de São João del-Rei (PROEXUFSJ), representada pelo Prof. Dr. Paulo Henrique Caetano, Limbo apresenta uma interpretação visual cujo fio metafórico conceitual é tecido por uma improvável narrativa de uma vida no underworld constituída por um “sistema límbico”.
LIMBO Manual de instruções para o “sistema límbico”: 1 – Nascer é desvio improvável. 2 – Viver é desvio pouco provável. 3 – Morrer é desvio muito provável. 4 – Atravessar o Rio das Mortes para chegar ao Limbo. 5 – Não há desvio no inferno. 6 – Não há saída. Gedley Belchior Braga (Divinópolis, MG, 1967 - São Paulo, SP, 2005) Ficha catalográfica elaborada pelo Setor de Processamento Técnico da Divisão de Biblioteca da UFSJ.
GEDLEY BRAGA
Introdução ao LIMBO
Página de rosto... É preciso estar com a pele limpa, sem pintura. O quê? Morreu? Quem disse que a pintura morreu? E o Gedley? Disse que morreu? Gedley vive assim, na costura das linguagens, na articulação dos detalhes: as cores dos artistas os nomes do poeta as letras da primeira abstração, os números do tempo. Jac Leirner
Aquarelas semióticas
Considerada uma das técnicas mais difíceis de pintura, a aquarela é transparente e não permite arrependimentos. A marcação do desenho necessita de precisão e suavidade. Isso requer um planejamento minucioso da composição e da execução das etapas do trabalho. A aquarela não foi utilizada como aquela técnica tão conhecida pela fluidez das manchas e pela rapidez do resultado como esboço ou estudo. A técnica está a serviço da produção da imagem cujas referências são “fontes” da história da arte nesse “sistema límbico”: “A Fonte”, de Duchamp (1887-1968), é utilizada como mictório por um Eros (ou Cupido), personagem apropriado de uma obra de Carlo Saraceni (1579-1620), em que o artista mostra a figura alada na mesma “atuação cênica” sobre o capacete de Marte, apontando divertidamente para o seu próprio reflexo no escudo do deus da guerra e da violência. A “Alegoria do Rio”, de Annibale Carracci (1560-1609), é contraposta ao ciclope “Polyphemus”, de Guido Reni (1575-1642). Todas as figuras são “semióticas”, nesse caso, assumindo a literalidade de personagens que revelam apenas um olho. O “selfie semiótico” é constituído por uma visão monocular. Instante dado.
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_9 01 – “Semiotic Selfie and the Limbic System”, 28,5 x 21 cm, September and October, 2015. 02 – “Semiotic Witness Burning down the castle” (after Raphael Sanzio), 16 x 10,5 cm, January 28 (finished), 2015. 03 – “Selfie with Semiotic RGB Three Graces” (after Raphael Sanzio), 16 x 10,5 cm, February 03 (finished), 2015. 04 – “Et In Arcadia Ego Semiotic Selfie” (inspired by Guercino), 10,5 x 16 cm, February 13 (finished), 2015. 05 – “FM - Fountain Mountain” (after Carlos Saraceni and Duchamp), 16 x 10,5 cm, February 06 (finished), 2015. 06 – “P.S. Pyromaniac Semiotic”, 16 x 10,5 cm, January 12 (finished), 2015. 07 – “A semiotic vision of knight” (after Raphael Sanzio), 16 x 10,5 cm, January 19 (finished), 2015. 08 – “Two semiotic newborn babies”, 16 x 10,5 cm, December 24 (finished), 2015. 09 – “Semiotic egg with fire in the evening tail”, 16 x 10,5 cm, December 30, 2014 (finished). 10 – “Freefall” (or “Low Tech Semiotic Fallen Angel”), 16 x 10,5 cm, December 21 (finished), 2014. 11 – “Study for Semiotic Selfie with Paradise Expulsion” (after Masaccio), 28,5 x 21 cm, May and June 08, 2015.
Todos os trabalhos são na técnica aquarela sobre papel Fabriano – fotos: © Gedley Belchior Braga. _10
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Desenhos
Desenhos realizados a partir de 2014 com caneta preta, tipo “fine line” (0,05 mm). O retorno ao trabalho manual, ao raciocínio da linha e do ponto sobre o plano branco do papel. O desenho como exercício visual de pensamento. Alguns desenhos são trabalhos autônomos. Outros surgiram como estudos para as aquarelas. Um selfie semiótico como São João Batista indica o caminho...
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_6 01 – "Semiotic Selfie as Saint John Baptist", October 22 (finished), 2014. 02 – "SUBE: Semiotic Unborn Baby Egg", October 27 (finished), 2014. Marcela Almeida Collection. 03 – "SUB: Semiotic Unborn Baby", October 16 (finished), 2014. 04 – “Rotating Selfie”, October 06 (finished), 2014. 05 – “Selfie as a Star Child”, (dedicated to Stanley Kubrick and Arthur C. Clarke), October 09 (finished), 2014. 06 – "Fallen Angel Semiotic Selfie", December 04 (finished), 2014. 07 – "It's just a matter of feedback", (dedicated to Dennis Oppenheim), July 09 (finished), 2014. 08 – "Vestido de noiva com cauda" (something like: wedding dress with tail), July 04 (finished), 2014. Rafael Brandão Collection. Desenhos realizados na técnica fine line black pen ou pigment liner, 0,05 mm sobre papel Fabriano no formato 33,1 x 24,1cm – fotos: © Gedley Belchior Braga.
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P: A.S.S. Project Authentic Semiotic Self Pass. Passar. Passagem. Travessia. O humor duchampiano é resgatado no título do projeto. Em inglês, a sigla gera um trocadilho de sonoridade “quase” obscena. O projeto envolveu uma viagem para a Itália em busca da “presença”, da comprovação e da autenticidade de muitas das “fontes” de referência da história da arte. O “selfie” como vaidade e exibicionismo foi subvertido em uma ação irônica (ou cínica?) que exigiu a criação de um personagem “semiótico”, geralmente espantado e com expressão de surpresa diante daquilo que, antes, só era conhecido por meio de reproduções fotográficas. A qualidade fotográfica de cada imagem reflete a situação precária do improviso típico de um “selfie” realizado originalmente com a câmera de um smartphone. Nesse caso, é o conjunto completo das 81 imagens que se transforma em uma narrativa visual produzida especificamente para a exposição. Todas as fotografias foram realizadas originalmente durante a viagem à Itália, de 10 de julho ao dia 02 de agosto de 2015, documentando a “passagem” por Roma, Nápoles (incluindo Pompeia), Florença, Veneza e Milão. Há apenas uma exceção na série: a imagem em frente à placa antes de “passar” pelo “Rio das Mortes”, no trajeto entre Ritápolis e São João del-Rei.
Lonely is an Eyesore
Losing Heads for Caravaggio (Uscita di Emergenza). Galleria Doria Pamphilj, Rome. July 12, 2015.
Lonely is an Eyesore (Todas as fotos: © Gedley Belchior Braga)
Circo Massimo. Rome. July 17, 2015
Onde vivem os monstros? Quem são os monstros? De onde vem? Para onde vão? A solidão é uma monstruosidade. O espetáculo é monstruoso. Pode ser o nome de uma estação de metrô em Roma, local próximo à escavação arqueológica de uma arena de entretenimento romana: Circo Massimo. Podem ser imagens associadas literalmente aos espaços compositivos como Golden Point ou Sezione Aurea. Das ruínas de Pompeia, dos túmulos de personagens do sistema das artes até o Umbilicus Urbis (Mundus ou centro simbólico da cidade, omphalos), local onde o mundo dos vivos faz contato ou é a passagem para o underworld, mundo dos mortos. Imagens desses locais públicos, geralmente vazios, desocupados, “desalmados”, probabilidades de desvios para a “ninguendade”. “Lonely is an Eyesore” complementa o P: A.S.S. É também o documento de uma travessia, de uma trajetória “límbica” cujo “selfie” agora está do outro lado da lente da câmera fotográfica.
05 - Golden Point. Rome, August 02, 2015.
Sezione Aurea, Florence. July 24, 2015.
Musei Capitolini (Guercino and Caravaggio Room). Rome. July 12.
GEDLEY BELCHIOR BRAGA Artista multimídia. Professor Adjunto do Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas [DAUAP] da Universidade Federal de São João del-Rei, MG, desde agosto de 2009, onde ministra, no curso de Arquitetura e Urbanismo, disciplinas de Introdução à Estética e História da Arte, Tópicos em Arte Contemporânea, Arte e Cultura Brasileira, Fundamentos da Comunicação e Oficina I. Doutor em Ciência da Informação, na área de Cultura e Informação pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo [ECA/USP: 2004/2008]. Mestre em Ciências da Comunicação, na área de Ciência da Informação e Documentação, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo [ECA/USP:2000/2003]. Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis pelo Centro de Conservação e Restauro da Universidade Federal de Minas Gerais [CECOR / EBA / UFMG: 1990/1992]. Graduado em Pintura (Bacharelado) pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais [EBA/UFMG: 1985/1988]. Antes da graduação, em 1983 e 1984, frequentou regularmente o ateliê de Inimá de Paula, com quem estudou desenho e pintura. De novembro de 1997 a novembro de 2006 foi coordenador do Laboratório de Conservação e Restauro do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo. Atua como artista multimídia, envolvendo ao longo de sua carreira em projetos de performances, projetos de composição de música pop, música eletrônica e “paisagens sonoras”, vídeos e outras manifestações artísticas. Participa de exposições coletivas desde 1985. Exposições individuais: • "Obra Póstuma" – Galeria de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, SP. 2008 • “Love & Hate” – Galeria de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, SP. 2005. • “Love & Hate” – Galeria Lourdes Saraiva Queiroz, Oficina Cultural, Uberlândia, MG. 2005. • “Compulsão” – Exposição itinerante de aquarelas. Sala Ana Horta, Centro Cultural UFMG, Belo Horizonte, MG; Centro de Artes de Divinópolis, MG; BRB Galeria, Brasília, DF; Casa de Cultura de Passos, MG. 1995. • “O Flerte” – Centro de Artes de Divinópolis, MG. 1993; Centro de Cultura Nansen Araújo, Belo Horizonte, MG. 1993. Ficha Técnica • Projeto gráfico: Netty Assunção • Aquarelas, desenhos, fotografias e tratamento das imagens: © Gedley Belchior Braga. • Texto de Jac Leirner foi publicado originalmente na página de rosto do catálogo de “Obra Póstuma”, Galeria Raquel Arnaud, 2008. • Montagem das aquarelas e desenhos: Daniel Cristiam Delfino (Art Cuadro). Agradecimentos Institucionais • IBRAM – Instituto Brasileiro de Museus; Museu Regional de São João del-Rei; UFSJ – Universidade Federal de São João del-Rei; PROEX – Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários da UFSJ; DAUAP – Departamento de Arquitetura, Urbanismo e Artes Aplicadas da UFSJ; Divisão de Biblioteca da UFSJ. Agradecimentos pessoais • Rosiane da Silva Nunes, Júlia Haddad Zerlotini, Diego Felipe Garcia e toda equipe do Museu Regional de São João del-Rei. • Paulo Henrique Caetano, Telma Valéria de Resende, Simone Bassi Parentoni Lana Cardoso, Aline Braga Resende e toda equipe da PROEX. • Jac Leirner, Netty Assunção, Thiago Ferreira, Rafael Brandão, Flávia Nacif da Costa, Marcela Almeida, Sérgio Cerqueira, Valdir Mano, Roberto Calazans, Mateus de Carvalho Martins, Sinval José da Silva Júnior, Adriana Amorim da Silva, Paulo Cesar dos Santos, Celsimara Guimarães, Sonia Terra, Marco Aurélio Braga. Nadya Belchior Braga e Gilson Batista Braga (meus pais).
Senso Unico. Rome, July 15, 2015.
Museu Regional de São João del-Rei convida para a exposição de
GEDLEY BELCHIOR BRAGA
LIMBO Abertura Dia 25 de novembro de 2015, das 19h30 às 22h Exposição 26 de novembro de 2015 – 31 de janeiro de 2016 Segunda à sexta das 09h30 às 17h30 Sábado, domingo e feriado das 09h às 16h Museu Regional de São João del-Rei Rua Marechal Deodoro, 12 – Centro 36300-074 – São João del-Rei – MG – Brasil