REVISTA CULTURAL - ED.01 l NOVEMBRO 2019
PROFISSÃO: GAMER
Jovens criadores de conteúdos se profissionalizam no mundo dos eSports
MUITO MAIS
FAMÍLIA STAR WARS PAIS E FILHOS EMBARCAM NA FANTASIA
CENÁRIOS GEEKS
JORNALISTA DÁ VIDA A PERSONAGENS POR FOTOS
•RESTAURANTES •CAMPEONATOS •EVENTOS •RPG
KIDS E TEENS DE RUA DA PAZ, 49 (13) 3513-1600
7 À 17 ANOS - BOQUEIRÃO (13) 99146-2616
UNIÃO DA COMUNIDADE
Índice 04 EDITORIAL 05 EXPEDIENTE 06 GLOSSÁRIO 08 VITRINE 24 ESPECIAL: STAR WARS 30 CAPA 36 EVENTOS 40 LAZER 46 GAMES
O que mais nos motivou a fazer
tudo que você vai ler a seguir foi a paixão. Foi porque somos apaixonados por cultura pop e essa paixão não poderia limitar-se à conversas em fóruns e mesas de bar. Além de abranger uma vasta quantidade pessoas com gostos variados, a comunidade geek é uma das mais receptivas, e daí vem forte união que queremos estimular junto com o jornalismo. A intenção desta publicação é fazer com que os nerds e otakus de Santos e região sintam-se representados, e possam ter a mesma perspectiva que tivemos um ano atrás, ao idealizar esse projeto que agora ganha vida. Queremos atingir desde o pessoal mais nostálgico que costumava frequentar eventos de anime em colégios como o São José ou o Carmo, até a galera mais jovem que hoje lota os eventos e feiras temáticas em da Baixada Santista. A Geek Santista foi feita para você nerd, geek, otaku e gamer, que quer saber mais sobre personagens, projetos ou espaços na região.
Colaboradores
Felipe Rey Santos, Brasil ‘‘As pessoas perdem muito tempo e querem mais. Eles querem mais horas em seus dias, mais dias em seuas anos, mais anos em suas vidas’’, - Ekko, o rapaz que estilhaçou o tempo
Lucas Freire Santos, Brasil
‘‘Esse lugar tem potêncial! Vamos quebrar tudo!’’ - Sylas, o Abjugado
Diego Corumba Colunista Santos, Brasil ‘‘O controle da vida vai muito além dos botões do joystick’’
Marina Estevão São Vicente, Brasil
“Quando vocês souberem qual é exatamente a pergunta, vocês saberão o que significa a resposta” - Douglas Adams,
Rafael Souza
Revista Geek Santista é parte do projeto de TCC da XVI turma de Comunicação Social com Ênfase em Jornalismo da Universidade Santa Cecília (Unisanta) Dezembro - 2019
Santos, Brasil
“Faça ou não faça, tentativa não há” Yoda, Mestre
Rodrigo Florentino Guarujá, Brasil
“EA Sports: It’s in the game” Andrew Anthony
Diretor da FaAC Prof. Humberto Iafullo Challoub Coordenador de Jornalismo Prof. Robson Bastos Orientação Raquel Alves
05• GEEK SANTISTA
Glossário
Atenção
Apesar de adorarmos um
easter egg, nosso objetivo é fazer com que 100% do nosso recado seja compreendido. Caso alguma palavra não faça parte do seu vocabulário geek, não se preocupe, o quadro abaixo, o quadro abaixo vai te orientar nessa jornada de informações.
Geek: a palavra surgiu para
definir um nerd que ganha a vida mexendo em computadores, muito mais segmentado. A imagem, assim, passou a ser relacionada à tecnologia. Basicamente, o geek é um nerd que está por dentro das novidades do mundo tecnológico.
Nerd : O termo surgiu para designar alguém de aparência esquisita, que adora estudar, é fã de livros e, principalmente, de computadores. Hoje a imagem do nerd mudou, mas não seus interesses. Existem nerds de todos os tipos, mas o que os une é a paixão por computadores e por outros temas como quadrinhos, super heróis, séries de TV, animes, figures, etc.
Otaku: é como são conhecidos os fãs de anime ou mangás, animações e gibis japoneses.
Cosplay: hobby de se fantasiar e interpretar personagens fictícios.
Proplayer: atleta profissional no competitivo de algum jogo.
Ester egg: segredo de característica
humorística escondido, que intenção de fazer uma referência oculta.
Noob: termo é usado para
entretenimento que joga ao vivo através de uma plataforma.
identificar pessoas sem ou com menos experiência na área de games, bate-papos ou informática no geral.
narrador de esports.
GG: abreviação‘‘good game’’
Streamer: profissional de
Caster: termo popular para
E-sports: modalidade composta por competições de jogos eletrônicos
Pixel Art: forma de arte na qual as imagens são criadas ou editadas tendo como base os pixels.
Game House: espaço para
treinamentos em jogos eletrônicos.
RPG: tipo de jogo onde os participantes assumem papéis de personagens e criam narrativas.
comum em todos os jogos, usada no começo da partida para desejar um bom jogo, e no final para agradecer pelo jogo.
Lag – famosa travada que
ocorre em games online por problemas de conexão lenta. Lag é uma abreviação da expressão “latency at gaming” (“latência no jogo”, em português). É a causa da fúria de muitos gamers ao redor do mundo.
DIEGO CORUMBA
ASCENSÃO DA CULTURA GEEK EM SANTOS
Impossível andar por Santos sem reconhecer
público steampunk, cosplayers, entre vários outros. os claros sinais do quanto a cidade abraça o lado Também existem os grupos que se formam para jogeek/nerd dos habitantes. Entre os exemplos locais, gar RPG na Caverna do Dragão ou as equipes de quem nunca passou na frente do Cine Roxy 5 e viu o League of Legends que se juntam na GamerXP Aregrande numeral pintado de algum filme do gênero? na. Temos até bares e restaurantes tematizados na Ou andou pela praia e viu alguém com blusa de he- nossa cidade. Apesar desses inúmeros exemplos, basta rói? Se não costuma sair de casa, não tem problema. Na TV sempre mostram filas gigantescas na pré-es- olhar um pouco à frente e vermos novas ondas treia de qualquer filme de Star Wars. Dos games, do surgindo. O Santos Futebol Clube está investindo nos e-Sports, unindo uma equipe para universo das HQs e mangás, dos seriados e filmes, já nos apropriamos dessa “Pluralidade é a participar de campeonatos mundiais de cultura como poucos e estamos cres- palavra-chave games. Recebemos em Santos, em 2019, cendo através dela. dessa geração e o ator Carlos Villagrán que interpretou o A Amazon reconheceu a cidade, em Santos se tornou personagem Quico, do seriado Chaves. Estamos gerando visibilidade e, quanto 2018, como a quarta colocada no maior uma verdadeira mais o investimento na área, mais públipúblico consumidor do nicho. Inclua os representação co se forma. eventos relacionados ao tema, os landisso’’ O melhor disso é que se transforma çamentos oficiais de jogos, as ações da em fã, tanto quanto os demais e essa diGibiteca Municipal e várias outras atividades numa cidade famosa por ser representada por versidade cria mais vozes e visões deste universo. sua terceira idade. A juventude se expressa com força Não devemos olhar para a cidade como apenas um dos portos mais importantes do país. A cidade é feie nos levou a esse patamar nacional. Os assuntos diários também já foram domina- ta de pessoas, de vidas e a preferência está mais dos pela temática. Séries da Netflix, filmes da Marvel, do que clara. Devemos olhar o passado com pés no a quantidade de pessoas que aderiram a essa moda, futuro. Nosso passado traz a honra de recepcionar muitos elementos mostram toda hora o quanto a so- tudo isso e o futuro promete muito mais para nós. E, ciedade mudou. Quem era zoado há vinte anos, por no meio, a cultura é o caminho. exemplo, hoje já é o comum entre nós. Sumiram os estereótipos e nem as diferenças *Diego Corumba é formado em Comunicação Social pela Universidade Santa Cecília e se especializou em entre as próprias tribos dentro do nerd/geek atuaJornalismo de Games pela Faculdade Cásper Líbero vam como divisores. Santos já está até abraçando o
07• GEEK SANTISTA
A MAGIA POR TRÁS DA ARTE Casal de artistas começou a carreira produzindo caixinhas e corações coloridos para casamentos. Hoje, são criadores das fantasias mais cobiçadas pelos geeks Texto Rodrigo Florentino
Fotos Divulgação
VITRINE
M
áscaras, réplicas de armas, fantasias, adereços, esculturas. O que seria do mundo geek e das ações promocionais sem esses objetos míticos que remetem a um universo de disputas, conquista e magia? Muitos artistas se dedicam à esta área, mas Vinicios Jorge e Patricia Fernandes, que comandam o Mundo Mágico Artes, em Santos, tem um diferencial: o uso de materiais de fabricação própria. Tudo começou quando os dois ainda namoravam. Em 2004, Patrícia mostrou para Vinicios um armário cheio materiais de arte. Eram pincéis, tintas pincéis, e tecidos que ela utilizava para fazer
artesanato em seu tempo livre. Num primeiro momento, aquela parafernália não fez muito sentido para ele. Tudo mudou quatro meses depois, quando Vinicius perdeu o emprego. Foi quando ele sugeriu que os dois começassem a trabalhar com os materiais acumulados no armário. Marly Fernandes, mãe de Patrícia, teve um papel fundamental nesse começo. Um ateliê foi montado em um cômodo da casa dela e foi lá onde o casal iniciou os trabalhos. Marly também fez um curso no Sebrae chamado “Aprendendo a Empreender”, cujo projeto final era simular uma microempresa e vender algo. Na simulação, junto com
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Casal prestou serviços para a filial brasileira da Disney
alguns colegas da sala, montaram uma microempresa de venda de artesanato. O projeto foi para a frente. Dona Marly começou a bater de porta em porta em restaurantes de Praia Grande, onde o casal morava, oferecendo brindes para o Dia das Mães. Voltou com três mil peças de lembrancinhas dos restaurantes, daí em diante, virou um trabalho frenético! Por causa do aumento da demanda, Vinicios e Patricia tiveram que se mudar para Santos. Em 2005, correram bufês de Santos e São Vicente para oferecer serviço de produção de lembrancinhas para festas. Muitos fecharam as portas, exceto Márcia, dona do bufê Torre Eiffel, que sugeriu que os dois trabalhassem com casamentos. Ela pediu ajuda para produzir “bolos fake”, decoração utilizada em topos de bolo e bonecos representando casais. Após uma breve pesquisa, os dois toparam participar, mas não tinham ideia de quanto custaria todo o projeto. Foi então que Márcia forneceu a eles um cheque em branco para a compra de materiais e mão de obra. Com os “bolos fakes”, a produção era mais voltada para a empresa de Márcia. “Fizemos oito ou nove, ficamos praticamente exclusivos com ela”.
Com os bonecos de casais, os pedidos chegaram a dezoito casais por semana, vindos do Brasil e do exterior. No final de 2008, Vinicios viu que era necessário diversificar o mostruário, pois eles previam que o mercado iria crescer e as pessoas iriam observar mais o preço do que a qualidade. Foi quando começaram a trabalhar com esculturas. O casal estudou diversas áreas como esculturas, restauração, técnicas de mockup e cultura geek e começaram a dar aulas no Estúdio Mundo Mágico Artes. Depois de um tempo, ampliaram a atuação ao iniciarem o
atendimento a teatros, televisão e cinema. “Trabalhamos com cenografia, eventos, objetos de cena, mockups, estatuetas, monumentos. A gente acaba produzindo de tudo desta área”. Antigamente, a divulgação acontecia por e-mail, pelo Orkut ou no famoso “bater de porta em porta”. O casal produziu revistas onde se ensinava a como trabalhar com biscuit, o que acabou atraindo vários clientes. Eles também chegaram a trabalhar no Programa Ateliê na TV, apresentado por Dotan Mayo atualmente pela Rede Vida e que mostra diversas técnicas de artesanato.
“Desenvolvemos materiais especiais, como uma tinta para pintar látex que não existe em nenhum outro lugar do mundo, além da pelugem” Vinicios Jorge
Pelugem das esculturas e fantasias é de produção própria, que começou após terem problemas com um outro projeto
11• GEEK SANTISTA
Atualmente, a divulgação do Mundo Mágico é feita através das redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram, além do próprio site e indicações de pessoas. Empresas famosas Entre 2016 e 2018, o estúdio fez um trabalho para o achocolatado Toddy, elaborando as fantasias de vacas. Outro projeto feito foi com o parque de diversões Hopi Hari: criou máscaras assustadoras para o evento Hora do Terror. Muitos dos comerciais do antigo título de capitalização Litoral Cap também contaram com produções do Es-
túdio. E também a customização de perucas e narizes de palhaço da marca Patati e Patatá. Outra parceria foi com a Tribal Worldwide, que presta serviços para empresas como Pepsico. Criações da dupla chegaram ainda à Prefeitura de São Vicente, Universidade Santa Cecília, Bradesco Prime, SBT. Editora Abril, Disney Brasil e Warner Channel, entre outros. Vinicios chegou a ficar cinco meses em Bogotá, na Colômbia, devido a um projeto de esculturas de animais em tamanho real para cenografia de um restaurante.
Com argila, é possível moldar diversos tipos de esculturas, como réplicas de bustos e animais
Fotos Divulgação
Elaboração A maior parte dos projetos já vem pré-formatado pelo cliente, com todas as especificações pedidas. Outros chegam apenas com a ideia, sem desenhos ou outras referências. Para montar as fantasias, Vinicios vê primeiro como são os atores, seja na altura, porte físico ou até no tamanho do calçado que usam. “A estrutura da roupa é planejada pensando justamente no conforto de quem está usando, já que ela tem várias camadas e isso faz com que ela seja térmica”. Para Vinicios, o maior problema do seu trabalho no Brasil é o material. Alguns dos itens utilizados no estúdio são exclusivos. Um exemplo é a tinta para pintar látex. “Ela não existe no mundo. Nos Estados Unidos é utilizada uma espécie de cola chamada Proseid, que é levemente diluída e recebe aplicação da tinta”. A pelúcia também é feita por eles. Em um projeto, encontraram dificuldades com a única empresa que produz na América Latina. Após tomarem a decisão da produção própria, foram feitas pesquisas e procura de cursos na Stan Winston School, que fornece para filmes como Jurassic Park, Terminator e Homem de Ferro. Site O Estúdio Mundo Mágico também ministra cursos de escultura e modelagem por ensino a distância que ensina produção
Além dos figurinos completos, são feitas cabeças de personagens para festa infantis
de máscaras, topos de bolos caracterizados, personagens como Popeye, Masha e Urso, um híbrido de Mickey Mouse com o Woody do Toy Story, Malévola, Snoopy, molde bi-partido, entre outros. “Muitos hoje em dia colocam uma música clássica de fundo e falam com uma voz calma e suave. Não quero pessoas dormindo no meu curso, então farei algo totalmente diferente. Quero que minhas aulas sejam um programa
de entretenimento, quero que as pessoas assistam mesmo que elas não queiram aprender escultura”. Na página do Mundo Mágico há também textos escritos por Vinicios sobre o casal, materiais, início no mercado de trabalho, administração do seu tempo, como ter disciplina no trabalho e como ser organizado. Outra seção é a parte do portfólio, com vários projetos que já foram feitos até hoje pelo casal 13• GEEK SANTISTA
VITRINE
ARTE FORA DO COMUM Se a arte pode ser representada de diversas formas, o mesmo acontece com a cultura geek. Artesãos usam técnicas diferenciadas para transmitir suas ideias Texto Rodrigo Florentino
Você já ouviu falar de pintura em madeira na Cultura Geek? Esse é o trabalho de Luis Fernando Guedes, dono da Colossus Desenhos, em Guarujá (SP). Ele produz obras em quadros e em placas maiores e moldadas em madeira. Entre suas produções, estão personagens como Batman, Cavaleiros do Zodíaco, Dragon Ball Z, Hulk, Sonic, Wolverine, Mario, Mulher Maravilha, Jack Sparrow de Pira-
tas do Caribe, Shawdow (Sonic), Homem-Aranha. Guedes está no mercado profissional há sete anos, mas a pintura está no sangue dele desde a infância. Assim como sua irmã, Maria da Conceição Guedes, não havia dinheiro para comprar bonecos de super-heróis. Então acabou surgindo uma alternativa: “Produzimos nossas próprias figuras em papelão e brincávamos com eles”. Foi a partir daí Fotos Rodrigo Florentino
que percebeu que poderia trabalhar com outros materiais como tecido e papel. Nessa época, já trabalhou de cartazista nos mercados do Guarujá, onde mora, e fazia decorações dos eventos. Com o incentivo de amigos, resolveu abrir seu próprio negócio. Atualmente tem uma loja no bairro Vila Alice e um ponto de venda na Feira de Artesanato na Praia de Pitangueiras. Inaugurou a loja mas não tinha produtos disponíveis, pois estava em dúvida sobre o que vender. Então viu que tinha tecidos em casa e começou a pintar obras para aniversários. Depois de um tempo, percebeu que havia também um pedaço de madeira velha. Resolveu criar uma espécie de mascote da loja: um desenho do Shaka de Virgem, o Cavaleiro de Ouro de Cavaleiros do Zodíaco.
Além dos quadros, Luis Fernando Guedes produz obras maiores e vende em eventos, como o Guarufestival
“Coloquei essa peça na rua e as pessoas viam e ficavam atraídas, perguntando se eu fazia outros personagens. Foi aí que vi que iria trabalhar mais nesta área, e então iniciei trabalhos maiores, em madeira, para fazer locação de decorações de aniversários”, conta. Guedes aprendeu muito com a irmã, que ensinou técnicas de desenho quando ele tinha seis anos. “Como a gente era pobre e não tinha dinheiro para comprar bonecos de super-heróis, produzimos nossas próprias figuras em papelão e brincávamos com eles. Foi a partir daí que percebeu que poderia trabalhar com outros materiais, como tecido e papel, canetinha, tinta e materiais recicláveis que encontra na rua’’. “O bacana de ser artista é a possibilidade de se reinventar. Tanto que já tenho diversos planos em mente, caso eu precise”. Conforme viu o crescimento do mercado, Luis decidiu que deveria começar outro tipo de trabalho: quadros com personagens da cultura geek. Depois de algum tempo, passou também a costumizar as obras com fotos dos clientes. Sua inspiração é o artista Romero Britto. “O cliente manda a foto, desenho a imagem do quadro e adiciono elementos do Romero Britto em volta. Este está sendo o carro-chefe de 2019, mas não fujo da cultura nerd, onde tenho muitos clientes e pedidos”. Além do pintor brasileiro, uma de suas inspirações é o grafiteiro guarujaense Willis Cavalcante, o
Entre suas artes estão produções de personagens como Homem-Aranha, Hulk, Naruto e Harry Potter
Willis Grafitti, conhecido por ter sido um dos autores do mural da atriz Tais Araújo localizado na cidade. “Não sou tão bom no grafite, mas queria trabalhar com desenhos inspirados nele, então comecei a fazer algumas coisas em lápis, papel, caneta”, explica. Além de assistir filmes, séries e desenhos e da elaboração de personagens em papelão, sempre frequentava os fliperamas do Guarujá e gostava das máqui-
nas de luta como Street Fighter e Mortal Kombat, mas não de jogar. “Eu tinha mais interesse em ver os personagens e a roupagem. Sempre gostei de desenhos por causa desses personagens de jogos de luta”. É também fã de Cavaleiros de Zodíaco. A loja está lotada de produções feitas por ele, que nunca chegou a contar quantos trabalhos já fez, mas acredita ter passado de duas mil obras. 15• GEEK SANTISTA
Pixel art Pixels. Com certeza você já entrou em contato com alguns desses pequenos pontos luminosos que, juntos, formam imagens na tela. Seja no videogame, na televisão, mexendo no computador, no celular ou em qualquer outro tipo de tecnologia. Mas você sabia que é possível fazer arte com isso? O casal Jonathan Barros Lima e Camilla da Silva Soto Miranda são donos da Cyber Geek Art, uma loja online especializada em pixel art com perler beads. Também conhecido como Hama Beads, pequenos tubos de plástico são encaixados em uma prancha e derretidos para se unirem. Pode-se moldar desde objetos pequenos até esculturas com dois metros de altura. Qualquer tipo de desenho pode ser aproveita-
do, desde que a imagem esteja em uma boa qualidade por causa dos detalhes. A partir da técnica saem chaveiros, imãs, porta-copos, quadros, vasos, porta-lápis, porta-retratos e miniaturas. As vendas acontecem através das redes sociais e um site. Entre algumas das obras já feitas estão personagens de Star Wars, Mario Bros, Hora de Aventura, League of Legends, Capitão América, Homem Aranha, Dragon Ball Z, Zelda, Pokemon, além de reproduções de videogames como o Game Boy. Segundo Jonathan, a história do pixel art surgiu na Suíça como terapia para os idosos, e acabou se expandindo, sendo usada no Japão e em outros países na Ásia e depois nos Estados Unidos, chegando no
Brasil entre 2012 e 2013. A Cyber Geek funciona mais como um hobby. A ideia de empreendedor partiu de Camilla, que começou a trabalhar no final do ano passado com pixel art. A oportunidade fez com que Jonathan passasse também a frequentar mais os eventos de Cultura Geek. “Me apaixonei e gostei para caramba de um universo que eu não conhecia. A primeira vez foi no Anime Tsubasa, em abril de 2019”, declara Jonathan. Camilla conta que existem dois modos de produção dos itens. “Você pode colocar a imagem no computador, transformar em pixel e montar as peças seguindo esse guia. Ou pegar imagens da Internet, já pixeladas e adaptar do seu jeito”, descreve a artista.
Chaveiros, vasos, quadros, porta-lápis, porta-retratos e representações de personagens são alguns dos itens vendidos pelo casal Rodrigo Florentino
Rodrigo Florentino
Na técnica de Perler Beads, pequenas peças de plástico são colocadas em uma prancha e aquecidas, assim fazendo a união
Falando em preço acessível, essa é uma das maiores bandeiras levantadas pelo casal, que defende seja algo que qualquer público possa adquirir sua criação. “É pra ser bem democrático. Posso vender por um preço baixo e aí todo mundo sai satisfeito”, diz Jonathan, que acredita ter vendido mais de duzentas peças. Para ele, o Pixel Art um tipo de arte diferente. “O público gosta dessa inovação. Sem des-
merecer o trabalho de ninguém, é claro, mas o que pode ser visto nos eventos de cultura geek são itens feitos em fábrica e que são revendidos a preços altos e também a falta de artesãos. O nosso objetivo é fazer com que os frequentadores condições de comprar algo com um preço justo, completa. Uma inspiração para os seus trabalhos vem da Espanha, com a artista, Estela Lopez, vem da Ci-
dade de Granada, Espanha, pela artista Estela Lopez, que só produz peças grandes. O casal deseja abrir uma loja física, com temática da Cultura Geek, voltada para outras áreas além do pixel art. Quadros em MDF também são feitos por eles. “É feito sob encomenda. O cliente envia a imagem para nós, ela é impressa e colada em cima da placa de MDF. Serve como decoração e é acessível”, ele conta 17• GEEK SANTISTA
BONECOS AOS OLHOS VICENTINOS Jornalista Bruno Santana transforma brinquedos em arte Fotos Rodrigo Florentino
VITRINE Arquivo pessoa / Divulgação
Bruno representou o Brasil nas Olimpíadas de Toyart, da Toypic Community. Ganhou em segundo lugar.
E
m um final de tarde de 2013, um pôr do sol coloria a varanda do jornalista e fotógrafo Bruno Santana. De seu apartamento no Centro de São Vicente, a paisagem lembrava uma cena de Pokemón, franquia da qual ele é fã. Foi então que teve uma ideia: decidiu posicionar um boneco do Pikachu como se ele estivesse observando a cena. Postou a foto no Instagram despretensiosamente e gerou mais repercussão do que imaginou. “Eu postei uma foto, vi que tinha uma coisa legal e falei ‘pode nascer um projeto legal aí’” Foi o primeiro passo para sua paixão pela toyart, termo usado para a arte de dar vida aos brinquedos pela fotografia ou decora-
ção. Desde então, o apartamento ficou pequeno para os mais de 1.500 bonecos organizados em estantes, caixas e mesas. Bruno é o dono dessa coleção invejável. Sempre colecionou bonecos. Hoje, se dedica a criar cenas para envolver seus personagens. E se engana quem acha que isso é “coisa de criança”. A atividade é levada muito a sério pela comunidade geek - além de não ser nada barata. Um boneco custa, em média, R$150,00. O trabalho é complexo: é necessário planejar o cenário, posicionar no ângulo certo, pensar numa escala e usar alguns truques. Um dos objetivos é despertar nas pessoas o sentimento de nostalgia. É o que faz as criações de Bruno conquistar fãs. “Tem que pensar naquele boneco não só como um brinquedo.
Rodrigo Florentino
Texto Marina Estevão
Bruno coleciona bonecos desde sempre, e já tem mais de 1.500.
Arquivo pessoa / Divulgação
Rodrigo Florentino
Para compor os cenários, Bruno geralmente usa materiais reciclados e poucos recursos de edição digital. Os personagens Charizard e Venusaur são fonte de inspiração para o vicentino.
Ele vai ganhar vida”. Para organizar a produção, Bruno criou a Esfera Toy, uma hashtag no Instagram que acabou virando uma referência para os fãs de toyart. “A Esfera é um planeta, como se fosse um mundinho para nerds, geeks, que gostam de bonecos”, explica. Atualmente, são mais de 17 mil seguidores e cerca de 18 mil fotos marcadas com a tag. Na composição de cenários, ele usa materiais recicláveis como isopor, papelão, palitos de sorvete e pedaços de tecidos, entre outros. Bruno diz que não tem ídolos específicos na comunidade. “Minhas referências são mais do cinema do que na própria fotografia”.
Parcerias Em 2014, o McDonald’s lançou uma coleção do Super Mario Bros. Bruno comprou todos os bonecos e postou uma série com eles em seu Instagram. A repercussão foi tão boa que a rede de fast food replicou as fotos em sua conta. Para antecipar o lançamento ao público, empresas como McDonald’s e Bob’s enviavam coleções inteiras para influenciadores digitais divulgarem ao público em suas redes sociais. Bruno comprou todos os bonecos da coleção dos Minions, lançada pelo McDonald’s para fazer uma série de fotos. Coincidentemente, recebeu a coleção completa pelo Correio. Em 2016,
o Bob’s o enviou a coleção de Madagascar, com temática de Olimpíadas. Em 2017, Bruno fez parceria com uma marca de roupas, e recebia camisetas temáticas. A última foi com a Hasbro, em 2019. Youtube Em 2016, criou um canal no Youtube. O primeiro vídeo foi uma customização do personagem R2D2, da saga Star Wars, para ficar com ar de “velho” como nos filmes. O público gostou e sugeriu que ele fizesse review (quando o usuário faz uma análise do produto) de outros bonecos. Segundo ele, as miniaturas vendidas pelos fast food são as que mais fazem sucesso. 21• GEEK SANTISTA
“Por mais cara que a figura seja, ela não dá tanta visibilidade nem em foto nem vídeo quanto um boneco de fast food. Porque é mais popular e acessível às outras pessoas”. Ele percebe que muitos adultos gostam até mais do que as crianças. O grande “boom” do canal foi quando fez o review de Sing - Quem Canta Seus Males Espanta, uma animação musical da Universal Pictures. Recebeu a coleção antes de ser lançada oficialmente. Para ampliar o conteúdo do canal, criou um quadro para dar notícias sobre o mundo dos toys, já que é jornalista. Hoje, são mais de 3.000 inscritos.
“Não são pessoas que fazem número, elas são atuantes. Todo dia tem alguém comentando, compartilhando, dando like”. Mas ele alerta também sobre a responsabilidade de falar para um público mais jovem. Diferente do Instagram, as crianças são maioria em sua conta no Youtube. Coleção A coleção de Bruno é de dar inveja até em quem não é nerd. Muitos perguntam se ele troca ou vende. Ele nega, mesmo sendo uma oferta generosa. Mas ele dá dicas para quem quer iniciar uma coleção. A primeira é ter foco. “Eu vejo muita gente que tem vontade de
começar a colecionar e falta foco. Ela compra um Smurf, depois um Snoopy, por exemplo. Se ela foca num tema, tem mais possibilidades dentro daquilo. Mas se ficar só naquele tema, ela se limita”. Outra recomendação é pesquisar e selecionar marcas. A coisa mais importante é criar uma identidade, não apenas comprar por moda ou influência. “As coisas [que compro] não são baseadas no que as pessoas querem ver. Eu me baseio pelo que eu gosto”. No Brasil, os impostos são mais altos em relação a outros países. Na Baixada Santista, as opções de lojas físicas são limitadas. Então, ele geralmente compra
Um dos bonecos da coleção é o Crash Bandicoot, do clássico jogo que leva o mesmo nome, criado em 1996
online. Mesmo com mais de 1.500 peças, Bruno não tem uma meta, mas também não pretende encerrar sua coleção por aí. Um de seus bonecos raros que tem é o David Bowie vestido de Jareth the Goblin Kink, do filme Labirinto. Identidade Hoje é legal ser nerd, está na moda, mas nem sempre foi assim. Em sua época de escola, Bruno conta que seus colegas de sala não viam isso com bons olhos. “A galera que gostava disso era zoada. Gostar de Pokemón era motivo de zoação na escola, com 12 ou 13 anos. Eu vejo que hoje o adolescente tem uma cabeça mais aberta”. A populariza-
ção deste comportamento trouxe mais visibilidade aos fãs de cultura pop, animes, quadrinhos, cinema, entre outras coisas. O jornalista acredita que um dos fatores que causou isso foi a vinda da Comic Con Experience para o Brasil. “Ela começou a levar muita gente que só gostava de assistir um filme ou outro com temática nerd a ir [no evento]. As pessoas se escondiam ou tinham vergonha antes”. Existem vários conceitos do que é ser um nerd. Para ele, “é o cara que pega uma coisa e vai querer esmiuçar até o final. Ele sempre procura mais conhecimento, se encanta por um olhar que as pessoas não têm”
‘‘Gostar de Pokemón era motivo de zoação na escola, com 12 ou 13 anos’’
Bruno Santana
Foto Divulgação
O personagem Crash se tornou tão popular que virou fonte de inspiração para Bruno mostrar seu dom com a fotografia.
23• GEEK SANTISTA
assunto em familĂa
Que a Forcça esteja conosco o grande amor por pela franquia de star wars foi passado dos pais para filho, influenciando sucessores
O
s eventos de cultura geek movimentam multidões que reúnem grupos de amigos, pessoas desacompanhadas ou pais que se juntam aos filhos, mas que que ali estão apenas como observadores. Entretanto, a participação de famílias inteiras começa a se tornar mais frequente. Helmuth Klink, de 32 anos, é dono da conta do Instagram “Darth Muth”, com mais de 13 mil seguidores, interessados em conteúdos relacionados ao criador George Lucas. Essa paixão e a convivência com a narrativa intergalática influenciaram sua esposa, Pauline Aparecida, de 32 anos e o filho, Henry Helmuth, e o filho de de oito anos, a participarem de forma mais ativa na cultura geek. Esta paixão está refletida na decoração da casa da família, localizada no Sítio Pae Cará, em Vicente de Carvalho, Guarujá (SP). Já ao entrar, na parte da sala, podemos observar sabres de luz expostos em suportes, um troféu ganho no Guarufestival e figuras de ação do Star Wars e outros personagens, como Capitão América e Homem de Ferro. Por ali estão também três dos cinco aparelhos de videogame disponíveis na casa: um Nintendo Wii, um PlayStation 4 e um fliperama, com dois Xbox 360 estando no quarto de Henry. Desde criança, Henry tem apreço pela cul-
tura geek. Como qualquer garoto de sua idade ele costuma pegar os bonecos de super-heróis e espalhar pelo chão da casa para brincar. Na televisão de casa, assiste a vídeos no Youtube do Campeonato Mundial de Sabre de Luz, realizado na França. Ele se mostra uma pessoa muito curiosa e fascinada, pois também brinca com figuras de ação e até liga sozinho o fliperama. Nem todas as figuras de ação estão expostas na sala ou no quarto de Henry. Existem outros itens armazenados em caixas, não só de Star Wars, mas também de heróis como Capitão América e Wolverine, que foram comprados em lojas no Brasil e nos Estados Unidos. Estes serão ficar expostos na estante que será instalada em breve na parede de casa, segundo Helmuth e Pauline. O estilo sci-fi de vida na família se iniciou pelo fisioterapeuta, que teve contato com o mundo geek desde criança com filmes, séries e livros, mas começou a acompanhar eventos de dois anos para cá. Helmuth cresceu assistindo Jiraya, Dragon Ball, Lion-Man, Changeman, além de jogar em vários sistemas como Atari, TurboGame, Nintendo 64, PlayStation 1 e 2, entre outros. “Acabei vendo de tudo”. Cosplays Helmuth customiza fantasias há um ano e meio,
mas o gosto pela customização começou com a construção de um sabre de luz. Em seguida, alguns amigos o convidaram para a JediCon, considerado o maior evento do gênero no Brasil. Então, Helmuth comprou uma roupa de Jedi e a família compareceu apenas para passear. Ao ter contato com uma pessoa fantasiada de Darth Vader, comentou com Paulinha que gostaria de fazer uma do mesmo personagem. Antes haviam comprado um figurino de Harry Potter, que foi o primeiro contato da assistente administrativa com o mundo geek. Ela também fez o cosplay da Princesa Léia. Com Henry, o primeiro contato foi com Luke Skywalker. Atualmente, ele trabalha na representação do Anakin Skywalker. O processo para a elaboração de fantasias é longo, com os três realizando muitas pesquisas. Existem materiais que são importados ou adaptados para que o custo seja barateado, pois nem sempre é fácil de encontrar. Helmuth diz, por exemplo, que a sua fantasia de Darth Vader tem peças de armadura que foram compradas com uma pessoa que trabalha em São Paulo e que realiza o processo de termovácuo com uma folha de plástico. A capa foi comprada de uma mulher no Rio Grande do Sul. Já as luvas foram compradas na Amazon e entregues nos Estados Unidos, assim como o chatbox, adquirido no eBay. Os dois itens foram trazidos do país norte-americano por sua sobrinha. Com os produtos em mão, Helmuth realiza diversos tipos adaptações e modificações de acordo com as necessidades. Todo seu material de trabalho é guardado na garagem de casa. Lá, estão caixas e mais
caixas de diversos equipamentos. Nos finais de semana, ele retira os itens de dentro do espaço, coloca no quintal e começa a realizar os seus trabalhos. Muitos dos personagens de Star Wars são temas de fantasias que a família usa: Darth Vader, Jedi, Sif, Jawa, Léia, Luke Skaywalker, Anakin. Outras sagas estão presentes como Harry Potter, em uma fantasia com o personagem de mesmo nome, e Pokémon com Ash. Para o futuro, eles têm planos de fazer fantasias da Rainha Abdala e do Chewbacca. “Gostaríamos de fazer a fantasia do Stormtropper,mas financeiramente é um pouco mais caro. Na armadura completa, você vai gastar uns dois mil reais, dependendo do armeiro em que você vai fazer”. Eventos Helmuth, Paulinha e Henry são reconhecidos nos eventos em que vão com bastante frequência justamente por essa união. Com as pessoas parando para tirar fotos. Os três são bastante procurados. “Na Brasil Game Show do ano passado, estávamos na área de cosplay, fantasiados de Darth Vader e queríamos ir para o estande da PlayStation, mas isso demorou duas horas e meia pois muitas pessoas estavam nos parando para tirar fotos. Tivemos que tirar os capacetes para as pessoas se dispersarem e assim conseguirmos andar”. A família pretende voltar a Brasil Game Show em outras edições, assim como também pretendem comparecer
Henry teve sua primeira experiência com cosplays como Luke Skywalker
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w em eventos como a Comic Con Experience, Anime Friends, entre outros. Por uma questão de custos e de proximidade, eles acabam dando preferência para eventos realizados na Baixada Santista como Guarufestival, Anime Santos Geek Festival e Santos Criativa - Festival Geek. Falando no Guarufestival, Henry foi ovacionado ao participar do concurso de cosplays na edição desse ano, fantasiado de Luke Skywalker. No caso da CCXP, os ingressos da edição deste ano estavam comprados desde o primeiro lote. Helmuth, Paulinha e Helmuth costumam ir nos dois primeiros dias, quinta e sexta, que são mais tranquilos, segundo eles. No perfil do Instagram ‘Darth Muth’, você pode assistir a participação da Família Helmuth em eventos como o UpABC, Jedicon, Brasil Game Show e Guarufestival, assim como pode ver também enquetes, memes e projetos, tudo relacionado aos três e ao Star Wars.
Arquivo pessoal
Pauline e Helmuth são de personagens Darth Vader e Princesa Léia
A proximidade da família não se restringe apenas à Cultura Geek. Os três costumam participar de atividades em um grupo de escoteiros da cidade do Guarujá nos finais de semana. “Vamos primeiro para lá e em seguida e depois pros eventos geeks quando ”. Os amigos de Henry conhecem a história da Família Helmuth e ficam fascinados, perguntando sempre se eles comparecem aos eventos. O intuito do envolvimento dos três na Cultura Geek é de justamente ter essa convivência familiar e não fazer com que tudo se tornasse apenas um hobby pessoal de Helmuth, que acha muito importante que todos tenham influências boas em suas vidas. Para que possam passar mais tempos juntos, os pais abdicaram de algumas coisas durante os fins de semana. Isso com certeza não desanima a família, que sente que fizeram a opção certa ao envolverem a Cultura Geek de forma mais profunda em suas vidas
CAPA
CELEBRIDADES VIRTUAIS Dois streamers e um narrador contam como superaram a preconceito da família e construíram o próprio caminho no cenário competitivo ds e-Sports Texto Felipe Rey
O
cenário do e-Sport parece não ter fim para aqueles que procuram um lugar ao sol no vasto mundo das competições virtuais. As transmissões ao vivo de jogos como League of Legends, Dota II e outros ganharam notoriedade no Brasil a partir de 2011, momento em que jogadores profissionais passaram a exibir seu estilo de jogo para a seus seguidores na Twitch TV, a mais famosa plataforma para transmissões de jogos. Nomes como Willian “Gordox”, que com seu carisma e irreverência, conquistou legiões de seguidores fiéis e decolaram no ofício, hoje chamada de streamer. Santos não ficou fora dessa onda. A região mostrou tanta força nas narrações e também com jogadores profissionais de League of Legends, que agora surgem novos talentos de outras vertentes, como o estudante de jornalismo e também narrador Henrique Bueno e dos streamers Matheus Sugayama e Manoela Rodrigues.
Aprovação e desejo Por mais curta que seja a carreira de um cyber atleta ou de um narrador de jogos online, as mudanças de jogos são costumeiras. Para o paranaense Matheus Sugayama, 23, por exemplo, a mudança se deu de forma rápida. Acostumado a uma vida embalada pelos jogos, Sugayama desde pequeno se destacou nas mais diversas plataformas. Sempre atuando como jogador, o amor por competições o levou ao desejo de migrar de jogo em jogo, hoje, ele atua no Dota II e no League of Legends. Mesmo tendo noção de suas habilidades, a entrada na faculdade de Publicidade e Propaganda o ‘‘atrasou’’ da carreira competitiva. Nada que o impedisse, porém, se ser reconhecido nas rede social. Enquanto almejava a conquista universitária, Suga - como é conhecido -, já trabalhava fazendo streams de Dota II, mas sempre com desconfiança e sem aceitação da família.
Felipe Rey
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Arquivo pessoa / Divulgação
Matheus Sugayama (esq), enquanto atuava pela sua ex-equipe a Techies.
O sonho de se tornar jogador profissional falou mais alto, e ele decidiu largar a faculdade de vez para se dedicar aos campeonatos. Resultado? Campeão da Brasil Game Cup de Dota II, em 2018. “Minha família não aceitava muito bem, então tomei uma decisão, que era trancar o curso e morar sozinho em São Paulo. Fiquei por lá um tempo”, contou. Após alcançar a consagração máxima que um cyber atleta pode almejar, Sugayama resolveu pedir ajuda financeira aos seguidores e admiradores para atender a um pedido de sua mãe, que precisava se submeter a uma cirurgia de colocação de um balão intragástrico. O procedimento foi feito há cerca de quatro meses com a ajuda dos . Hoje, dona Karyne Sugayama passa muito bem, obrigada.
Plataforma e perseguição Com uma média de público de 100 pessoas por transmissão na Twitch TV, Sugayama prefere a comunidade de Dota II para mostrar suas habilidades. O motivo é simples: a média de idade dos jogadores é mais velha, portanto, segundo ele, mais fácil de lidar. Ele continua streamando para esses jogadores, porém, uma mudança bateu à sua porta há cerda de seis meses: a possibilidade de passar para o jogo concorrente, o League of Legends, que se tornou o carro-chefe do seu trabalho por algum tempo. Enquanto a comunidade de Dota era mais velha, a de LOL não o abraçou de forma acolhedora. “Não foi por muito tempo, mas foi interessante entender como o pessoal funcionava e, por serem mais jovens tive que me adaptar
‘‘Minha família não me apoiava nesse projeto, então decidi sair da faculdade e morar sozinho em São Paulo’’ Matheus Sugayama
e também segurar algumas coisas que eu falo em live”. Além do público mais novo, outro problema enfrentado foram os discursos de ódios vindos do público. É comum em inúmeros chats onlines, os jogadores serem xingados e até mesmo discriminados por seus visualizadores. “Algumas pessoas me acharam dentro de jogo, algumas tentam me seguir para aparecer na transmissão e muitas vezes atrapalham nesse processo. Mas nunca tive problemas na vida real com isso, espero continuar não tendo”. Hoje, após toda a trajetória, Matheus Sugayama conseguiu superar a desconfiança da família a respeito de seu trabalho e, além de conseguir manter um editor de vídeos para o canal do Youtube, auxilia a mãe nas pendências de casa.
Superação e desconfiança Assim como Matheus, a mudança de cidade também fez parte da vida de Manoela Rodrigues, 24, mais conhecida como Kyure. Moradora do Rio Grande do Sul a vida inteira, há cinco anos ela decidiu, junto com a mãe, se arriscar num lugar diferente. Escolheram Santos, após a mãe Luisa Rodrigues ser transferida para trabalhar no Porto. Mesmo longe da terra natal, um laço ainda a prendia às suas raízes: as transmissões de League of Legends que praticara desde o ensino médio. Iniciada após ‘‘pressão’’ de amigos, Kyure decidiu se jogar no mundo das lives. Porém, a sua maior rival apareceu: a timidez. Tentando sempre escondê-la, a característica desapareceu de vez apenas no ano passado, ao participar do reality show Gillette Ult. Dos 20 participantes da
competição, apenas duas eram mulheres. Kyure chegou à semifinal, não sendo a grande finalista por pouco. Com a bagagem de uma competição que durou cerca de um mês, a batalha contra a timidez foi vencida.
Quando eu streamava na Twitch TV bani algumas pessoas do chat por conta de comentários machistas
‘‘Kyure’’
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Hoje, Kyure venceu a timidez e trabalha para o Facebook nas transmissões de League of Legends
“A gente acordava com uma câmera na cara, basicamente, mas foi bem divertido”, assegurou. Nem tudo foram flores nesse caminho até o reality. Kyure teve que superar as desconfianças da mãe a respeito de sua vida como jogadora, que não era “brincadeira de criança. Durante o ensino médio, as horas gastas em frente à tela do computador deveriam, como em muitos casos, refletir negativamente nos estudos, mas aconteceu o contrário. A dedicação na escola fora dobrada e, após três anos dentro da sala de aula, ela pode, finalmente provar a sua mãe que conseguia conciliar as funções. “Eu estudava de manhã e ficava a madrugada toda jogando.
Minha mãe não gostava, ela sempre reclamou com o tempo que eu gastava em frente ao PC”, explica. Atualmente, ela concilia a faculdade de medicina veterinária com as transmissões. No contrato firmado com o Facebook, Kyure trabalha por mais de três horas todos os dias. Mas por ter um horário flexível, as transmissões podem ser feitas em qualquer horário do dia. Twitch x Facebook Maior plataforma de transmissões de jogos virtuais do mundo, a Twitch TV vem, com um pacote de coisas boas e também ruins. Por não precisar de identificação, os usuários, inúmeras vezes, são banidos das lives por mau comportamento, ge-
ralmente causando desconforto em quem estava prestigiando o entretenimento. Com média de 600 pessoas por stream antigamente, a transição para o Facebook fez com que as hostilidades aos jogadores diminuíssem. Hoje, a maior parte de público é de homens. Os constantes discursos de ódio são comuns no universo gamer. Principalmente quando se trata de jogadoras, fazendo com que muitas joguem com nomes masculinos para não terem que escutar frases como: “vá lavar a louça” ou “lugar de mulher é na cozinha”. “Até mesmo hoje rola um leve assédio. Se você entrar em qualquer stream de qualquer menina e você ficar um tempo
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Kyure é uma das ex-participantes do Gilletti Ult, programa de League of Legends que estreou jogadores novos para o cenário competitivo brasileiro
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lá, verá alguém assediando em algum momento”. Após a chegada ao Facebook, o surgimento do quadro ‘‘Garotas Mágicas’’ fez com que as lives fossem alavancadas. Criada por Mônica “Riyuka”, o projeto conta com a participação de outras mulheres do cenário de League of Legends, e trouxe a Kyure um maior número de seguidores. As transmissões acontecem aos domingos e transmitem para todos que o game de 22 milhões de jogadores pertence, e muito, às mulheres! Transmissão de emoção A carreira de narrador de esportes eletrônicos é curta e, muitas vezes, de insucessos. No caso de Henrique Cunha, 21, ela está no meio termo. Ele teve início meteórico no mundo das narrações, mas a falta de apoio do pai foi minando suas perspectivas de um futuro brilhante. Em 2016, por exemplo, o início da trajetória foi marcado pelo Congresso Pro-Player, como ficou conhecido o evento que trouxe jogadores profissionais do cenário de League of Legends para Santos. Henrique, o único a participar do curso para narradores, ganhou atenção especial de um dos maiores narradores do País: Tácio ‘‘Schaeppi’’. Mesmo sendo o único, ele garantiu que 80% do aprendizado passado pelo narrador já havia sido adquirido anteriormente. “Uns 15 dias antes de começar as aulas, os donos do evento me colocaram para narrar o campeonato deles, mais de 7 mil pessoas na live. Uma coisa legal foi ter
O narrador Henrique Cunha em participação de campeonato realizado pela Game College, em parceria com a Razer em Santos
narrado junto ao Yoda. Eu não era tão fã, mas eu tenho muito o que agradecer a ele”, explica. Como inúmeros jovens da área, a atração pelos videogames falou mais alto para Henrique. Ele garante que não se importa se o jogo é ruim ou se é o melhor já feito, ele é narrável e isso o motiva. Jogando desde os três anos de idade, a perseverança dentro do cenário é a motivação para que ele continue procurando trabalhos na área. Aos doze, por exemplo, enquanto inúmeros garotos brincavam nas rua com amigos, Henrique já começara a se preparar na profissão, realizando análises de qualquer tipo de jogo.
“Eu chegava na loja para comprar os jogos, mas não os escolhia, pedia para o atendente me indicar três jogos e eu os levava para casa e fazia a análise. Na escola o pessoal pedia indicações também”. As narrações não se limitam apenas aos jogo onlines. Com um timbre de voz grave e desenvoltura na frente das câmeras, a dublagem é um caminho que ele almeja, mas não neste momento. Necessitando de DRT de teatro e de locução, o caminho ainda parece distante. Nada que o impeça de seguir buscando, junto à faculdade, um atestado profissional de locução. A contação de histórias também é outro caminho que ele sonha em seguir 35• GEEK SANTISTA
EVENTOS Raimundo Rosa/ PMS
“Maior cidade da região, Santos também é a que abriga mais eventos, como o Santos Criativa Festival Geek”
ENCONTRO DOS GEEKS Na maioria das cidades da Baixada, grandes eventos atraem nerds de todos os perfis Texto Rodrigo Florentino
U
m dos ápices da cultura geek são os eventos que atraem milhares de pessoas para os games, cosplayers, histórias em quadrinhos, RPG de mesa, bandas temáticas e lojinhas. Na Baixada Santista, muitos deles acontecem todos os anos. Guarujá Em Guarujá, o Guarufestival ocorre desde 2014 na Unaerp, localizada no Balneário Cidade Atlântica. Organizado pelo designer Júnior Vazquez, contou em agosto de 2019 com a participação do dublador Marcelo Campos, conhecido por seus
trabalhos com Mu de Áries, em Cavaleiros do Zodíaco e Yugi, em Yu-Gi-Oh!, além do grupo musical Wibe. Houve também exposição de videogames, torneio de jogos eletrônicos, espaço para jogos e troca de card games, futebolha, archer tag, batalha campal, footdarts, entre outros. São Vicente Ocorrendo antes em Santos, o Anime Tsubasa, que começou em 2006, foi para a vizinha São Vicente é a casa do Anime Tsubasa, nome em alusão ao mangá e anime Captain Tsubasa. A última edição foi realizada no Co-
légio Cellula Mater em setembro de 2019. Organizado pela Hitotsu Comunicações & Eventos, contou como uma das principais atrações Wilson Rafael, mais conhecido como Sr. Wilson, youtuber e streamer. Praia Grande O Praia Games é realizado em Praia Grande há dez anos. Na edição de 2019, reuniu 40 mil pessoas em três dias de evento (13,14 e 15 de setembro). Um recorde segundo a organização do evento. Realizado pela primeira vez no Pavilhão de Eventos Jair Rodrigues, o evento ofereceu
mais de 30 horas de diversão para o público, seja nas mais de cinquenta estações de videogames, parque de diversões, Artist Alley, painéis, lojas, shows e concursos de cosplay e K-Pop, entre outras atrações. O Praia Games abriu o Festival da Juventude, que contou também com a 4ª Feira do Estudante e o 4º Festival de Esportes Radicais – F.E.R.A. Cubatão O Polo Comics & Games é organizado pela TV Polo, com a quarta edição ocorrendo em 3 de novembro de 2019 na Associação Comercial e Industrial de Cubatão. O foco do evento foi o aniversário de 80 anos do Batman, mas estiveram presentes também outras atrações como Artists’ Alley, cosplays, lojas geeks e videogames. Nessa edição, parte da arrecadação com os ingressos foi utilizada para reparar os danos do vandalismo sofrido pela emissora de televisão no dia 8 de setembro.
Santos Santos, a maior cidade da Baixada Santista, é a que mais recebe eventos na região. Um dos mais famosos é o Santos Criativa Festival Geek, que tem como organizador Rafael Leal, secretário de Cultura de Santos. A iniciativa surgiu quando ele era secretário-adjunto da Secult. Ao assumir a pasta em 2017, verificou que precisava movimentar as férias de julho. Propôs então que todos os grandes festivais fossem realizados neste mês para movimentar a economia, promover eventos e o encontro de gerações. Por abrigar tantos eventos, o ranking da Amazon de 2017 apontou Santos como uma das cidades mais geeks do Brasil. Segundo Leal, o grande mérito foi unir um grande número de pessoas que são organizadoras de outros eventos e apaixonados pela cultura geek, além também de haver a soma entre ser o maior evento nerd/geek gratuito
do Brasil, ter um bom conteúdo, e estar localizado no Centro Histórico de Santos com o chamado “contraste de cores com o colorido da “cultura geek”. Na edição de 2018, o festival apresentou o filme “Turma da Mônica - Laços” antes da Comic Con Experience, o que é considerado por ele uma grande proeza. Outro evento da cidade é o Anime Santos Geek Fest. A primeira edição foi realizada em 2019. O festival foi idealizado pela PXSEG e coproduzido pela Parker Produções, empresa de Carlos Afonso, mais conhecido como Tio Peter, com experiência há mais de doze anos na área. Além das atrações habituais como cardgames e espaços para videogames, além da apresentação de bandas, o Anime Santos Geek Fest contou com um desafio curioso: o público pode desafiar um pro player de e-sports como se fosse um profissional também. Também teve a participação
rodrigo florentino
Exposições de antigos videogames clássicos como Atari, Super Nintendo e Mega Drive trazem nostalgia para o público geek, como aconteceu no Guarufestival
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do youtuber Muca Muriçoca, o dublador Wendel Bezerra (voz de Goku, Bob Esponja, Samwise Gamgi - da trilogia de O Senhor dos Anéis, entre outros) e Guilherme Briggs (dublador de Optimus Prime, Superman, Buzz Lightyear, etc). Uma edição especial de Natal foi anunciada em agosto, e será realizada nos dias 14 e 15 de dezembro no Mendes Convention Center. O Palafitacon teve sua primeira edição em agosto de 2019, o Instituto Arte no Dique, localizado na Vila Gilda. O criador é o produtor culfotos: divulgaçào
Moto de Shotaro Kaneda, e dublador do Batman, Márcio Seixas, estiveram presentes no Santos Comic Experience 2019
tural André Azenha. A ideia do evento surgiu durante o Santos Film Festival - Festival de Filmes de Santos, em 2018. Em parceria com a Santos Comic Expo, arrecadou-se mais de sete mil exemplares de revistas em quadrinhos para a inauguração de uma Gibiteca no Instituto Arte no Dique. No primeiro Palafitacon, estiveram presentes dois grandes expoentes da cultura produzida na periferia: o romancista, contista e poeta Ferréz, e uma das maiores referências do país em jornalismo em quadrinhos, Alexandre De Maio.
O evento contou ainda com a equipe da Mosh Escola de Arte produzindo sketches (artes de personagens); mesas de RPG e jogos de tabuleiro sob o comando do projeto Contos Lúdicos e palestra de Claudio Roberto Basílio, um dos organizadores da Santos Comic Expo, sobre a importância do super-herói Pantera Negra para a cultura pop e a representatividade. O público ainda pôde tirar fotografias com diversos cosplayers, como o fã clube oficial Star Wars; Princesas Disney (Projeto Festa Encantada) e super-heróis (Super Amigos), ver um estande especial dedicado ao Homem-Aranha e uma exposição de personagens de filmes infantis. Focada em quadrinhos, a Santos Comic Expo existe desde 2013, graças à iniciativa de amigos apaixonados pela nona arte que viajavam pelo Brasil em eventos dessa natureza. Viram que faltava algo parecido na cidade. A primeira edição foi realizada na Estação da Cidadania, em Santos. Ao longo do dia mais de mil pessoas passaram pelo evento, que teve como atrações artistas da região como Fábio Coala, Hector Lima, Bruno Bispo, Victor Freundt, entre outros. Além da presença de Fernando Ventura, na época encabeçando a retomada da produção brasileira de quadrinhos da Disney com a revista do Zé Carioca. José Renato Santos, um dos idealizadores, entende que o cenário da cultura geek naquela época era o mais virtual possível. “Quem curtia quadrinhos participava de fóruns na internet e em
Litoral Sul O sul da Baixada Santista também está presente. Mongaguá é a casa do Anima Beach, idealizado pela dupla Marcus Vinicius Pereira e Ettore, líder do grupo Anime Supremo. A primeira edição foi realizada na ETEC Adolpho Berezin em 2006. Na primeira edição, além das salas temáticas, gincanas, apresentações, estandes, videogames e torneios, houve também a presença do dublador
foto: divulgaçào
comunidades em redes sociais como o Orkut, então havia a necessidade de um evento para tirar essas pessoas do campo virtual, fazerem pessoas com gosto em comum se conhecerem para uma celebração”, conta ele. O evento cresceu, com a presença de mais artistas, grandes lojas nacionais do segmento, e com um público dez vezes maior, com gente de fora da Baixada Santista. Mesmo assim, a essência permaneceu a mesma . A aceitação do público cresceu tanto que, desde a edição de 2017, o evento acontece em dois dias. Na última edição, em outubro de 2019, houve a participação de vários artistas dos quadrinhos, além do dublador Marcio Seixas, que dá voz ao Batman no Brasil. A Comic Expo bateu recorde de público, com mais de quinze mil pessoas nos dois dias de evento. O Gran Geek Festival é novato na área: teve sua primeira edição em julho de 2019, no Mendes Convention Center. Além das atrações habituais, contou também com shows da Banda OCarina e o cantor Lucas Silva.
Organizado por Carlos Afonso, o Anime Santos Geek Fest de 2019 terá duas edições, sendo uma delas especial de Natal
Caio Guarnieri, que fez a voz do personagem “Kouga de Pegasus”, de Cavaleiros do Zodíaco. Em 2019, a edição aconteceu em 6 de outubro no Centro Cultural Raul Cortez, e contou com vários torneios com premiação em dinheiro vivo, como o Cosplayers, K-Pop, Arco e Flecha, Campeonato de Videogame, Campeonato de Desenho e Card Game. Além disso, uma apresentação da Banda Arigatões, demonstração de artes marciais, estandes e gincanas. O objetivo do Anima Beach é trazer a cultura geek para a cidade e também ajudar o próximo, pois em todas as edições acontecem arrecadações de alimentos, assim como em vários eventos na região. Outro evento que é realizado na cidade é o
MongaFest, que teve sua primeira edição em março de 2019. Em Itanhaém, o Itafest é realizado desde 2017. A última edição, em maio de 2019, teve como presença de Bruno Porto, famoso por ter dublado em português o Tyler da série 13 Reasons Why. É organizado pela Hitotsu Comunicações & Eventos. Na mesma cidade, o Rota Geek é organizado pelo Rotary Club local, com a edição de 2019 sendo realizado em outubro no Clube Náutico. É o primeiro evento da cidade com a temática geek/nerd. Em Peruíbe, há o Peruíbe@ Fest, da Hitotsu Comunicações & Eventos e a Gamex Peruíbe, com a segunda edição sendo realizada na ESL English House em janeiro deste ano 39• GEEK SANTISTA
LAZER
FALE HAMBÚRGUER, E ENTRE Aberto há quatro anos, HP Geek Bar foi o segundo bar nerd a inaugurar no Brasil Texto Rafael Souza
B
anner de Game of Thrones, figuras de super-heróis, Funko Pops, sabres de luz, varinhas mágicas e miniaturas de Star Wars. Estes são alguns dos “easter eggs” que compõem o ambiente de um dos principais pontos de referência geek na Baixada Santista, e que também faz sucesso com outros públicos. Inaugurado em abril de 2015, o HP Geek Bar and Burguers foi o segundo bar nerd aberto no Brasil, ficando atrás apenas do Gibi Cultura Geek, de São Paulo, por questão de semanas. É administrado por três sócios e tem a proposta de ser não apenas uma hamburgueria, mas sim um “bastião nerd” na Baixada Santista. Localizado na Rua Dr. Luís de Faria, no bairro do Gonzaga, o bar foi idealizado por Felipe Antonio Terra, o “Fell”, um dos sócios, em 2013, quando ainda
trabalhava como corretor de imóveis. “Estava conversando com um amigo e falei: ‘mano, já pensou como seria louco ter um bar nerd?’. E a gente começou a pirar nisso.” Na mesma época, Fell fazia parceira com o Bistrô Beer, bar próximo ao canal 3, que não existe mais. Como parte do acordo, ele comprava as segundas-feiras do bar, que eram pouco movimentadas, instalava um Playstation e chamava amigos para jogar Fifa. Até que ‘‘perderam o controle’’. No começo, só cerca de oito pessoas jogavam, mas quando a iniciativa foi encerrada, cerca de cem pessoas participavam. Depois deste “experimento”, ele percebeu que a ideia funcionava e, a partir deste ponto, abandonou a corretagem e começou a se preparar para abrir um bar. 41• GEEK SANTISTA
Enquanto fazia cursos, como os do Sebrae para aprender sobre empreendedorismo, como os do Sebrae, Fell reencontrou Publio Paiva, seu amigo da época do Ensino Médio, e lhe contou que pretendia abrir um bar nerd. O amigo sugeriu que o bar fosse uma hamburgueria. A partir daí, começaram a estudar essa possibilidade e resolveram abrir o negócio juntos. Uma das principais dificuldades que enfrentaram foi a falta de dinheiro porque, mesmo tendo um plano de negócios e funcionando junto com o Sebrae, os bancos e agências diziam que não tinham como ajudar. Os dois tiveram que colocar dinheiro do próprio bolso, mas mesmo assim não era suficiente. Então, Rodrigo Anjos apareceu e ajudou a viabilizar o projeto. Cultura marginalizada Sobre a aceitação ao universo nerd, Fell, que se define como um nerd gamer, moldado
Casa realiza evento no fim do ano para reproduzir lanches de filmes, séries e desenhos
pelo Super Nintendo e por jogos como Mario Bros, Zelda e Top Gear, vê grande diferença em relação ao passado. “Existia um tempo em que nós éramos marginalizados. Éramos zoados na escola. Era vergonhoso para mim, com 20 anos e trabalhando na imobiliária, falar que na noite anterior eu estava jogando videogame. Hoje, você vai no cinema, de dez filmes, cinco são nerds. Às vezes, até mais. A cultura nerd é grande e expansiva, e também é muito hospitaleira”. Calendário e cardápio Como parte da proposta do bar, eles organizam o calendário de eventos semanalmente e definem qual será o foco de cada dia da semana. Uma vez a cada mês, também organizam noites de quiz, onde testam o nível de “nerdice“ dos clientes. Outro evento da casa, que é realizado
uma vez ao ano, geralmente em setembro ou outubro, é o Geek Cinema Food, uma temporada de seis domingos, em que recriam um prato de um filme ou série. Entre as iguarias já feitas, destacam-se a costelinha do Frank Underwood, de House of Cards, o hambúrguer de siri, do Bob Esponja, a cerveja amanteigada, de Harry Potter e o waffle da Eleven, de Stranger Things. Aproveitando a extensão do universo geek, todos os pratos no cardápio têm alguma referência nerd. O “Vegolas”, por exemplo, é inspirado no elfo Legolas, de O Senhor dos Anéis, mas tem esse nome porque é um prato vegano. Easter Eggs A decoração do bar traz vários elementos da cultura geek, de diferentes referências, com objetos que Fell e Publio tinham. Mas, a maior parte da decoração rafael souza
fotos rafael souza
Felipe Terra (direita) e Publio Paiva (abaixo) fundaram o bar em 2015
“A cultura geek é muito grande e expansiva e também hospitaleira” Felipe ‘Fell’ é composta por presentes que ganharam de clientes e amigos. O banner de Winterfell, de Game of Thrones, por exemplo, foi feito por eles mesmos. Outro elemento fundamental, que remete diretamente ao foco e a proposta do bar, são as televisões. Para os sócios, é fundamental que os clientes tenham acesso às televisões, seja para acompanhar filmes ou séries, ou por causa dos videogames. Público No início, os administradores traçaram três perfis diferentes de público-alvo. O primeiro
deles representa a maioria dos clientes, que são aqueles que conhecem alguma coisa da cultura nerd, mas não de forma aprofundada. Exemplo, alguém que vai assistir ao filme do Capitão América, mas nunca leu os gibis. O segundo perfil é a pessoa que conhece um determinado assunto de forma mais aprofundada. O terceiro perfil, que é um dos que “Fell” mais gosta de atender, é pessoa que não sairia de casa se não fosse pelo HP. São mais introvertidos e antissociais, mas que se sentem bem quando vão ao bar. No começo, as coisas aconte-
ceram de maneira não-orgânica, mas muito positiva, e o bar recebeu público exclusivamente nerd apenas na primeira semana. Depois disso, passou a receber qualquer pessoa que conseguisse aceitar a cultura geek. “A galera gosta, e não só os nerds, porque se sentem identificados, como eu gostaria de ter me sentido lá atrás, mas pode vir seus pais. Eles podem não ser nerds, mas vão curtir, porque a cultura nerd é gentil e muito bem aceita. Existe muita coisa legal no nosso universo que contagia muitas pesssoas, como Game of Thrones, que é o exemplo mais recente” 43• GEEK SANTISTA
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REFEIÇÃO MEDIEVAL Hamburgueria também oferece uma temática geek, mas foca em uma ambiente medieval Texto Rafael Souza
S
aindo de uma pegada mais high-tech para um ambiente mais rústico e antigo, outra hamburgueria de Santos também aposta numa temática geek. Neste caso, fazendo referência a outro estilo de decoração e proposta. Luminárias antigas, com luz baixa e amarela, pratos de pedra-sabão, encostos de cadeira forrados com pelúcia, que lembra peles de animais selvagens, cortinas vermelhas separando o salão dos banheiros, canecões de cerveja e hidromel e armaduras de cavaleiros nas paredes são alguns dos elementos que constroem o ambiente do Toca do Dragão Burguer´s and Games.
A hamburgueria é administrada por Oliver Costa e Marcio Leandro Nunes da Silva. Nenhum deles tinha experiência com comércio. Oliver trabalhava no ramo industrial, na coordenação de uma empresa de produção alimentícia. Márcio atuava na coordenação operacional de contêineres. Os dois sócios sempre tiveram relação com o universo geek, principalmente por causa de filmes e jogos. Aliás, se conheceram através do League of Legends, jogo que hoje é reconhecido como esporte. Então, começaram a realizar encontros com amigos e esposas para jogar jogos de tabuleiro e de cartas. A partir disso, surgiu a ideia de Rafael Souza
transformar o entretenimento em algo rentável. Os dois começaram a pesquisar tipos de lanchonete e imaginar como criar um local com um ambiente nerd. “Como já tinha o HP Geek Bar, com uma pegada mais tecnológica, preferimos montar um estilo mais rústico”, explica Oliver. A princípio, a lanchonete se chamaria Caverna do Dragão, mas como o nome já existia em um bar no Rio de Janeiro, os sócios preferiram mudar para Toca do Dragão, a fim de evitar possíveis problemas com patentes. Ambiente e cardápio Segundo eles, o projeto para viabilizar o bar demorou cerca de seis meses. Primeiro, foi necessário procurar um lugar que atendesse às necessidades deles. Escolhido o local, na rua Carlos Gomes, 223, no bairro do Marapé, tudo que tinham era um galpão branco, para elaborar como seria a decoração. Obviamente, não seria possível montar um ambiente 100% rústico, porque era necessário oferecer alguns itens para o conforto dos clientes, como ar-condicionado.
Além dos lanches, o bar também oferece opções de jogos de tabuleiro
Além disso, como trata-se de uma hamburgueria, não seria possível ter os produtos da mesma forma como na época medieval, por uma questão sanitária. Entretanto, conseguiram fazer essa relação com o ambiente medieval através do tamanho dos hamburgueres e de outros elementos, como o hidromel, bebida que remete à época dos bárbaros. “Queremos associar o antigo com o novo, mas sem perder a identidade do lugar”, explica Oliver. O cardápio também traz várias referências geeks. Todos os lanches recebem nomes de dragões famosos do universo nerd, como o Tiamat, do desenho Caverna do Dragão. As porções são nomeadas em referência à locais, como Mordor e Valfenda, de O Senhor dos Anéis, e as sobremesas recebem nome de importantes figuras femininas. Público O público do Toca do Dragão é diversificado. O local recebe tanto pessoas identificadas com a temática geek, quanto pais que foram e continuam sendo nerds e trazem seus filhos, e também pessoas que não têm nenhuma identificação com a temática, mas se encantam com o ambiente do lugar. De acordo com os sócios, já houve pessoas que perguntaram se faziam comida medieval e, inclusive, contam que outros acharam que a hamburgueria era algo como um culto de maçonaria. Além de atuarem pessoalmente junto ao público, eles também contratam freelancers, principalmente para os fins de semana,
Rafael Souza
A decoração é composta por madeira rústica e escudos cenográficos
que são os dias mais corridos. Nos outros dias, como trata-se de um lugar pequeno, que comporta cerca de 40 pessoas sentadas, os próprios donos conseguem administrar, com a ajuda de Lilian Costa, esposa de Oliver. Para eles, o contato direto com os clientes é fundamental, porque, segundo Oliver, além de ter um feedback direto sobre a qualidade do serviço, também pode ser uma fonte de ideia para melhorias. “Muitas ideias vêm de pessoas que vieram comer e sugeriram algo. Tem muita coisa que, se você não está ali, acaba sendo filtrado e perdido e vira uma boa sugestão que acaba nem chegando em nós”. “Cultura Inútil” Para os donos, houve um amadurecimento do que é a proposta do mundo geek. Segundo Márcio, grande parte do aumento da popularidade do universo nerd
se deve à internet, que ampliou o mercado. “Hoje você tem mais coisas. Ele destaca que, antigamente, havia pouca informação, era difícil de adquirir e era caro. Hoje você entra num site, digita qualquer coisa e aparece na sua tela.” Oliver também ressalta que, antigamente, a busca por informações deste meio ficava restrita aos canais tradicionais de televisão e outros meios de comunicação, que nem sempre davam as informações necessárias. Outra diferença está no orgulho das pessoas em se identificarem como nerds. Ele destaca que antigamente, não era bem visto ser nerd e que esse universo era considerado perda de tempo. Entretanto, hoje trata-se de algo rentável. “No começo, quando você tinha acesso à internet, você nem ia olhar. Chamavam de ‘cultura inútil’. E não, tudo é cultura” 45• GEEK SANTISTA
GAMES
QUESTS & HISTÓRIAS PARA TODOS OS PÚBLICOS Criado por João Lucas Resende, “R&B para todos” mistura diversão e acessibilidade Texto Marina Estevão
A sigla RPG significa role-playing game em inglês, um gênero de jogo no qual os jogadores assumem o papel de personagens imaginários em um mundo fictício. No projeto “R&B para todos”, o hobby ganha outro significado. O idealizador, João Lucas Resende da Silva “Malk” (uma referência à raça Malkavian, do “Vampiro a Máscara”), decidiu unir sua paixão por este universo com a acessibilidade. Assim, outras pessoas se sentem incluídas em um mundo onde não existem preconceitos, segregações e todos estão unidos em prol de um objetivo. Tudo começou em agosto de 2017, na Biblioteca Municipal Silvério Fontes, Zona Noroeste de Santos. Mesmo morando na Vila Caiçara, em Praia Grande, Lucas levava o RPG aos frequentadores nos sábados. Nas quintas-feiras, havia encontros de pessoas com deficiência. Pela sua experiência com este público, ele e seu amigo Lincoln tiveram a ideia de introduzir o RPG e board games para eles. Porém, o local não é de fácil acesso aos moradores das outras cidades. Foi quando se “mudaram” para a
arquivo pessoal
/ divulgação
O objetivo do projeto é promover a inclusão
Gibiteca Municipal Marcel Rodrigues Paes, no Posto 5, em outubro do mesmo ano. Hoje, o projeto está na Gibiteca, em lojas e eventos. No R&B Para Todos, a jogabilidade depende da deficiência de cada um, não importa se é física ou mental. E a
segregação está fora dessa jornada: todo mundo se aventura junto! Por exemplo: se um dos jogadores da mesa é cego, as miniaturas e o tabuleiro são ferramentas para que ele entenda a jogada. Se o jogador é surdo, utiliza-se a Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Próximos passos O projeto vem crescendo e ganhando voluntários. Eles não têm um local fixo para jogar. Dividem-se geralmente entre a Gibiteca de Santos, lojas de boardgame e eventos. O sonho de Lucas e dos associados é ter um espaço próprio, onde os jogadores possam soltar a imaginação. Segundo ele, estão em busca de patrocinadores. O R&B também aceita doações de livros, tabuleiros e figuras. “Todos jogador sonha em ser
“É importante se adaptar. Pois se uma pessoa não está se divertindo na mesa, ninguém está” João Lucas
Freire
Início Essa história é antiga: Lucas gosta de RPG desde criança. Seu pai, também fã da categoria, lia histórias de fantasia para ele dormir. Pegou gosto pela coisa, e começou a jogar com os amigos na escola. Ele até usava o RPG de forma lúdica para aprender as matérias. “Agradeço muito meu pai por tudo que eu sou, porque meu pai é rockeiro, amava anime, ama coisas nerd, star wars, filmes, super herois. Eu sou ‘clone’ do meu pai”, brinca. Lucas costumava trabalhar como fotógrafo em eventos de anime da Baixada Santista. Foi assim que conheceu sua esposa, Tamires, há 10 anos. Ela fazia cosplay, e sabia pouco de RPG. Desta união nasceu Gabriel Henrique, de seis anos. O menino tem autismo, o que foi mais um pontapé para a criação do R&B. Seguindo os passos do pai, Lucas ensina um pouco de sua nerdice ao filho. Há alguns anos, o casal criou o “Eternal Poose”, um blog que reunia conteúdo geek feito por colaboradores da Baixada Santista. Segundo ele, tinha um bom alcance na região. Contudo, ele e a esposa interromperam o projeto por falta de tempo. Resende trabalha como vigia durante a semana. Depois do expediente, ensina alunos de baixa renda da Escola Estadual
mestre”, diz Lucas. Por isso, entre os próximos passos, está a criação de um escola de mestres, para que mais pessoas se envolvam no projeto e incentivem outros. “O RPG tem regras, lógico, mas importante é a diversão acima de tudo. Se uma pessoa não está se divertindo na mesa, ninguém está”. Enquanto esse sonho não se concretiza, os jogadores podem realizar qualquer coisa na imaginação’’
s
Balneário das Palmeiras, na Praia Grande, a mestrarem suas campanhas. Também levou o RPG para outras escolas, hospitais e grupos na Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e o Núcleo de Apoio Psicossocial (Naps). Em seu tempo livre, se dedica à família. E, como todo nerd, está sempre em busca de novos conhecimentos.
Luca
“A gente usa cartas de um cardgame chamado ‘Sim, Mestre das Trevas’. [A pessoa] pode mostrar o desenho e ela indica o que ela quer fazer. Se quer atacar, aponta para a espada. Se quer defender, aponta pro escudo; correr, aponta para a perna. Então, as outras pessoas que não sabem Libras entendem o que ela quer dizer”, explica Lucas.
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GAMES
TORNEIOS ONLINE: DE SANTOS PARA O MUNDO Organização Thornmail, criada e desenvolvida por jogadores da Baixada Santista de League of Legends, é uma das referências para torneios Texto Lucas Freire
A
companhar torneios oficiais em plataformas de streaming pode trazer a mesma emoção que um amante de futebol tem ao ver seu time disputando jogos importantes. Além de acompanhar e visualizar profissionais executando partidas acirradas, muitos também jogam se inspirando em um atleta, ou nos famosos highlights de outplays, ou popularmente dizendo: os momentos principais de jogadas inesperadas. Disputar torneios online é algo muito comum, e que se popularizou com o lançamento da plataforma BattleFy, site que hospeda disputas dos jogos populares como League of Legends, Fortinite, Hearthstone, FIFA e outros. No entanto, os campeonatos presenciais têm um grande diferencial: a sensação de sentir aquele frio na espinha, a emoção de gritar como se fosse um pro player após vencer uma team fight (luta entre os jogadores da equipe).
Em Santos, já foram realizados campeonatos amadores de League of Legends organizados por pessoas que queriam unir a comunidade e proporcionar um dia diferente para os jogadores. No entanto, era algo sem frequência e com datas aleatórias. Nos eventos de cultura geek, o que era uma atração, acabava tomando tempo de grande parte do evento e acrescentava custos a organização. Para felicidade dos jogadores locais, uma luz no fim do corredor brilhou em outubro de 2018, com o surgimento da Thornmail. Fundada por Juliana ‘’Peeregrina’’ Steil, a organização atualmente é gerenciada por três membros, é a que mais promove campeonatos presenciais na Baixada Santista. Equipe Além de Juliana, trabalham nos campeonatos o estudante de direito Vitor ‘’Protozoary’’ Matheus, e o jovem Rafael ‘’Limonada’’ Prata. Antes do surgi-
Medalha é entregue ao jogador destaque do torneio presencial, e é prestigiado com premiação bônus
Fotos Lucas Freire
mento da Thornmail, ela teve sua primeira experiência com uma organizadora responsável de um torneio. Começou a usar a plataforma da Battlefy, e fez o primeiro torneio em outubro de 2018, com 16 times, para o Santos Criativa – Festival Geek. ‘’Tivemos um feedback positivo, a galera gostou. A premiação foi muito boa para um campeonato gratuito. Era um headset da Razer que estava apoiando o evento’’. E foi nessa primeira edição piloto do campeonato que Limonada e Peeregrina se conheceram. Rafael fazia parte da equipe de staff, e Juliana colaborou por ser estagiária da Prefeitura de Santos, responsável pelo Festival Geek. A partir deste evento, foi criado a organização da Thronmail. Sincronizada com a Riot Games, empresa criadora de League of Legends, Juliana descobriu que era necessário fazer uma quantidade específica de torneios por um determinado
tempo para aprimorar a premiação concedida pela Riot. Ou seja, era aumentada a quantidade de Riot Points ganho (moeda usada dentro do jogo), e a skin exclusiva de torneio ‘’Ryze Triufante’’. ‘’Da primeira fase para a segunda, precisa cumprima a meta de vinte e quatro torneios em seis meses. Foi aí que pensei em fazer os torneios online para poder agregar na premiação dos presenciais’’. Dificuldades Jogos online no geral não servem apenas para entreter e divertir, mas também para desenvolver amizades dentro do mundo virtual. No League of Legends não é diferente, pois muitos que jogam em equipe se conheceram através de grupos ou das filas ranqueadas. As amizades se aproximam independente da distância, mas quando se trata de um campeonato presencial, podem surgir problemas para formar times.
O maior desafio de promover um campeonato presencial é de conseguir fazer com que os jogadores se juntem. Apesar de todos terem vontade de jogar, há alguns que não possuem time completo que esteja disposto a competir. Então, a grande dificuldade está em que o público alvo possa convencer pessoas próximas a ela para se juntarem e jogarem. No geral, todos os administradores trabalham e ajudam no que é necessário. Mas entre a Thornmail existem sub-divisões. Vitor Matheus fica responsável pelos torneios de Teamfight Tatics (TFT), e colabora na organização dos campeonatos presenciais. Rafael Prata é responsável pelos torneios no modo 5x5 no mapa do Summoners Rift, que é o foco principal do competitivo nacional e internacional de League of Legends. Juliana busca administrar todos os torneios, para sempre ter controle do que ocorre. Não apenas isso, como também é a responsável
A 4° edição presencial do torneio da Thornmail ocorreu na Gamer XP, no Novotel, teve narração ao vivo de P3po, e a Kyure
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por fechar parcerias, sediar eventos, e toda produção de divulgação em redes sociais. Em média, são feitos quinze torneios por mês. Gamer XP Antes dos torneios ocorrerem na GamerXP, Peeregrina ficou cerca de três meses nos campeonatos online. Ela conheceu a estrutura da game house, e viu que havia condições de sediar um torneio. Daí pra frente, o foco foi direcionado para negociações. Juliana entrou em contato com o proprietário da Gamer XP, e ofereceu a ideia de a casa sediar outros torneios. O primeiroaconteceu em dezembro de 2018. O local já hospedou quatro edições presenciais. ‘’Eu penso muito no que os jogadores querem. A gente tenta alcançar mais público. Porém, querendo ou não, sempre são os mesmos jogadores nos presenciais. Então penso como um jogador: ‘Será que eu gostaria de jogar um torneio presencial todo mês, ou deixaria de ser algo especial e se tornaria algo corriqueiro?’’’ A Thornmail organiza apenas torneios de League of Legends, e no modo chamado Teamfight Tatics, o auto-chess da Riot Games. Mas isso não é clubismo da parte da equipe - essa limitação possui uma razão lógica por trás. Como organizadora, Juliana não gostaria de passar a experiência para os jogadores da ausência de afinidade com o jogo, e até então ela só possui afinco com League of Legends
‘‘É importante ter um intervalo entre as edições dos torneios para empolgar os jogadores ’’ Peeregrina
‘‘A sensação de encerrar um campeonato presencial é a de dever cumprido’’ Protozoary
‘‘O Discord precisa sempre ser monitorado para que as equpes adversárias não se estrangulem virtualmente’’ Limonada