Grupo Espírita “Judas Iscariotes” Temas Livres – Volume 1 www.grpespiritajudasiscariotes.org.br
Edição No.2 – outubro/2011
Direitos Autorais: “é permitida a cópia e/ou divulgação desde que citada a fonte”
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Índice
Índice Índice .......................................................................................................................................................................5 1.
Introdução .......................................................................................................................................................7
2.
A Mulher e a Liberdade .................................................................................................................................10
3.
Caridade das sobras.......................................................................................................................................17
4.
O Apóstolo Judas Iscariotes ...........................................................................................................................24
5.
Parábola do Semeador ..................................................................................................................................33
6.
Não Saiba Tua Mão Esquerda ........................................................................................................................39
7.
Sociologia Evolutiva .......................................................................................................................................43
8.
A verdadeira sociedade .................................................................................................................................48
9.
Suicídio ..........................................................................................................................................................54
10.
Valorização do Trabalho ............................................................................................................................ 71
11.
Realidade ...................................................................................................................................................79
12.
Relacionamento.........................................................................................................................................89
13.
A ordem das coisas ....................................................................................................................................93
14.
Parábolas ...................................................................................................................................................97
15.
Análise da Doutrina Espírita no Brasil .....................................................................................................105
16.
Evolução e Caridade - Evolução e Religião ..............................................................................................112
17.
Palavra .....................................................................................................................................................118
18.
A beleza das flores e o amor ...................................................................................................................129
19.
A cada um será dado segundo suas obras...............................................................................................135
20.
Intercâmbio .............................................................................................................................................140
21.
Obra interior e obra exterior ...................................................................................................................145
22.
Consciência evolutiva .............................................................................................................................. 152
23.
Evolução interior como reflexo da exterior.............................................................................................157
24.
Um côvado ...............................................................................................................................................160
25.
Consolador...............................................................................................................................................164 5
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Índice
26.
Graças a Deus ..........................................................................................................................................170
27.
Encarne e desencarne .............................................................................................................................179
28.
Culto do Evangelho no Lar .......................................................................................................................185
29.
Disciplina..................................................................................................................................................192
30.
Esclarecimentos .......................................................................................................................................196
31.
Progresso Espiritual .................................................................................................................................202
32.
Virtudes ...................................................................................................................................................206
33.
Pena de Morte .........................................................................................................................................212
34.
Será a Verdade?.......................................................................................................................................221
35.
Conceitos .................................................................................................................................................231
36.
A Ciência e a Verdade .............................................................................................................................. 236
37.
O Racional e o Irracional .......................................................................................................................... 246
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Introdução
1. Introdução
Antes de iniciarmos um estudo sério, torna-se óbvio nos munirmos de elementos que possam oferecer dados a uma analogia. O estudo da evolução não prescinde desta mesma condição. Implica ainda em iniciarmos de um ponto que nos mereça crédito como elemento básico. Ao nosso entender, o Evangelho é este ponto fundamental para a evolução e os elementos referendáveis entram na história da própria humanidade, bem como as disciplinas científicas em geral. Partindo do princípio de que o Evangelho fala das “coisas da Terra”, não restam dúvidas de que todo referendável sejam estas mesmas “coisas”. Advoga nosso pensamento o fato de ter sido o Evangelho trazido à Terra, expresso em linguagem da Terra, para os homens que nela habitam. Outro fato capital é: “que dirá se eu falar das coisas do céu!”. O “Amai-vos uns aos outros” diz da vida sensitiva a que o homem deve chegar. Esta síntese tem sua definição no estado evolutivo referente a uma época que o próprio homem há de consolidar, que é a da “mansuetude”. Fica ainda bem claro que ao atingir este estado, lhe “será por herança a Terra”. Isto nos conduz ao pensamento, que não foge à simplicidade do conteúdo do Evangelho, que é o não ultrapassar os limites dos termos reencarnatórios, estreitando-se, portanto, nas “coisas da Terra”. O estudo do evoluendo homem em seu conjunto quanto à clareza dos ensinamentos do Nazareno, não se divorcia da realidade social e científica sob todos os aspectos. Todo concebido 7
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além deste círculo entra no vácuo do imaginário, sendo de fato contestado pelo realismo. Devemos sempre termo-nos na conta de homens e, só até os extremos de nossa limitação devemos conceber, porque até aí e só até aí nos é permitido “em razão e consciência”. Não há inteligência, por mais superior, mas “homem”, que possa abstrairse deste concreto e conceber no abstrato, sem o estímulo do sensível, palpável e analisável, sem que venha a faltar com a verdade para consigo mesmo. É, pois, por este prisma e dentro dessas paralelas, que devemos estudar a evolução partindo da realidade à qual o Evangelho faz inúmeras referências. Assim, temos na extraordinária peça literária do “Sermão da Montanha”, a antessíntese e, no “Amai-vos uns aos outros”, a síntese. Naquela entram os predicados a serem alcançados e seus resultantes e nesta, o objetivo fundamental de abordagem social. Diga-se a bem da verdade e dos princípios que nortearão todas as nossas referências posteriores, que não nos emoldura a vaidade de um pontificado absoluto, como portadores da verdade inadvogável, mas a intenção de trazer a lume o que conhecemos e pensamos, deixando sempre ao livre-arbítrio das pessoas, “após acurada análise”, o concordar ou não conosco. Pensamos por esta introdução expor e não impor método de estudo mais condizente com o que diremos em seqüência. Procuraremos nos conduzir por um estratificado, se possível cronológico, através de apostilas e outros módulos, dando assim, possibilidade de observação para a analogia requerida. Evitaremos, à medida do possível, referência a compêndios didáticos ou literários e científicos, deixando aos que nos analisam levarem ao 8
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confronto e deduzirem em razão e consciência pessoais. Ao tratarmos do assunto, o faremos sempre em concordância com a sociedade, realidade e Evangelho. O normativo de nossa linguagem será o mais familiar possível, o que nos levará a evitar ao máximo a terminologia técnica específica.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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2. A Mulher e a Liberdade
Disse um grande pensador que “os homens fazem a lei, e as mulheres os costumes”. Na simplicidade desta frase, o esplendor de uma verdade, embora de ação velada no tempo. Não podemos negar ao homem a curta visão deste fato, porque desde as sociedades tribais, a mulher foi considerada como sexo frágil e de mentalidade inferior. Devemos ponderar, todavia, que um e outro se situam na mesma faixa evolutiva no tempo e no espaço. Para os não evolucionistas a mulher sempre foi e será mulher. Para os que aceitam a evolução e, mormente, os que a entendem pelas vias reencarnatórias, o espírito pode ser mulher numa encarnação e homem noutra. Isto traz outro conceito sobre a mulher quanto à inteligência e demais predicativos, cuja diferença se resume apenas no sexo. Ao estabelecermos relação entre a sociedade de séculos atrás e a presente, encontramos, embora em número menor, o endosso à nossa afirmativa nos exemplos vividos pela mulher, quer quanto à inteligência, quer quanto a bravura. Vemos, portanto, que o igualar-se não está na dependência exclusiva do homem, mas na ação inteligente e corajosa da própria mulher. Na época atual, a qualquer mulher que se disponha a igualar-se ao homem, não são negados meios e possibilidades que poderão levá-la até a culminância. Uma ação inteligente só poderá ser pela cultura alimentada pela idéia de capacitar-se aos labores do outro sexo e pela coragem 10
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de assumir os encargos que lhe cumpre. Sendo o espírito da mulher igual ao do homem e estando no mesmo estágio evolutivo, desaparece a diferença quanto às possibilidades. Cabe à própria mulher assim entender e libertar-se do estigma de inferioridade que a força bruta do homem lhe impôs, o que só será possível quando libertar-se de si mesma. Libertar-se de si mesma, entenda-se: do complexo, do estigma, da psicose auto-escravizante. Todo escravo odeia seu dono, e não tem sido outro o resultado da psicose alimentada pelo complexo. A mulher não quer libertar-se no sentido lato do termo, mas vingar-se do homem, tentando superá-lo, o que dá margem às associações do gênero feminista, exteriorizando-se de forma irreverente à sociedade, ao homem e humilhante a si mesma, estabelecendo um clima separatista e antagônico, em que a inteligência não prepondera. A mulher que deseja realmente libertar-se parte de um princípio racional seguindo a mesma rota do sexo oposto em labores cooperantes, construtivos, desde o mais humilde até o mais intelectualizado, ombreando-se sem idéia de superação. A atitude inteligente de não superar o homem demonstra bem que sabe o valor de ser mulher como mulher, de que não abdica, descendo do pedestal físico e moral que lhe é destinado na sociedade como esposa, como mãe e como educadora do homem por excelência. A mulher deseja liberdade. Qual delas? A de “ter”? A de “estar”? Estas realmente podem ser conquistadas com motins de rua e pelas armas. Mas a verdadeira liberdade da mulher não é essa que ela busca iludida e de forma errada, mas a de “Ser”. Esta 11
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liberdade não se conquista com futilidades exteriores, nem depende de aglomerações inconscientes e expositivas, mas elabora-se pela inteligência, cultura, coragem e moralização, na “constante” mulher. Se esta primasse pelo adjetivo, as liberdades de “ter” e “estar” seriam conseqüências naturais no transitório social. Ser pela inteligência, Ser pelo sexo, Ser pela ascendência moral que exerce sobre o homem, o que ninguém pode negar. Ser pela inteligência é ombrear-se em cultura, em personalidade moral e em labores. Ser pela ascendência é entender-se companheira, amiga, noventa por cento mãe, e dez por cento esposa e mulher. Ser pelo sexo, é prestar-se ao ato equilibrador endócrino e à seriedade da missão de continuidade da espécie. A verdadeira missão de mãe coloca a mulher como único elo concreto entre o Criador e a Criatura. É expressão de Deus no fato. Toda mulher que se liberta pelo processo de auto levantamento, e que, embora militante em misteres iguais aos do homem – mas pelo respeito à si mesma que a personalidade provinda de princípios formativos impõe – é vista, considerada e respeitada por este prisma, criado e mantido por ela, sem se sentir recalcada, diminuída ou submissa É, em síntese, a mulher adjetivo, sem deixar de ser substantivo. Se antes a mulher era submissa física e socialmente, e não lhe era facultado exteriorizar sua personalidade, embora tendo o íntimo livre, auto-adjetivo, na época atual, em que procura a liberdade de manifestação, envereda por trilha errada. 12
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Errada porque vivendo a ansiedade de “ter” e “estar”, passa à imitação do homem em atitudes, hábitos, vícios e degenerescências múltiplas, deixando de ser inconscientemente escrava substantiva e socialmente, mas, perdendo a sua personalidade característica, o que a situa em adjetivo como escrava do homem. Errada porque pretende partir dos efeitos em busca da causa, esquecendo-se de que só a causa surte efeitos, e esta é a liberdade básica: Ser. Perde razão e legitimidade para a época presente no dizer do grande pensador que “a mulher faz os costumes, porque o homem impõe os seus”. A mulher na inconsciência da realidade submete-se física e moralmente ao homem pela pretensão de igualdade, através da qual é, por natureza e condição, antagônica e contraditante, que é o deixar de ser mulher para transformar-se em dúbio quanto à personalidade, mero instrumento do prazer descartável após o uso. Não resta dúvida que a amnésia reencarnatória reduz o raciocínio ao hoje e que, tendo conhecimento “histórico” de pretéritos em que a mulher era considerada inferior, deixa-se enovelar pelo complexo advindo deste conhecimento e alimenta a idéia de libertação numa reencarnação, o que a leva a atitudes não aceitáveis e conducentes ao resultado, e o negativo aí está: na degenerescência dos costumes e da personalidade. Seria de bom alvitre que a mulher volvesse a atenção para o tempo presente, se valesse das facilidades que lhe são permitidas e, no uso inteligente destas, buscasse a liberdade de Ser através de sua própria formação, sem que, todavia, se curvasse ao império subjetivo do homem, comungando com os seus vícios e distorções. 13
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Liberdade em si não traduz degenerescência de costumes, devassidão, desregramento sexual e animalização. Toda mulher inteligente é cônscia do papel que lhe cabe desempenhar na sociedade, busca cultivar-se, educar-se, mantendo sua dignidade e recato naturais, com visos ao melhor desempenho junto ao homem. Nesta sociedade não cabe o desejo bastardo e inconsciente de superação pela imitação de hábitos. A mulher inteligente e corajosa – valemo-nos dos exemplos que pontificam na esteira da história – não se curva às imposições dos preconceitos e, por vezes, aos preceitos, mas tem em si a noção de valores, e torna-se verdadeiro expoente em vários setores de atividade. Esta é a mulher adjetivo, a mulher livre, enfim. Não somos contrários à nudez natural, o que seria advogar o falso pudor, porém não concordamos com a exposição da plástica, como valor impudico, em substituição a outros, como a inteligência, a coragem e a moral. Negamos vênia à intenção e não ao ato em si, porque entendemos que o “pecado” começa da barra da saia para cima, e não pelo que é visto. Não nos demove o arcaísmo em ocultar a beleza, a esbeltez física, quando vertidas de cuidados normais como sejam a educação física, o esporte e tudo mais, cooperantes para uma vida livre e sadia. O que nos penaliza em relação à mulher, é a infantilidade de albergar o desejo de ser livre do homem, mas continuar mais escrava ainda dos ditames da atualização, mormente, ao que se refere ao vestuário e hábitos em geral, contrários à manutenção da saúde e até da liberdade de movimentos, confirmando assim, a 14
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intenção de expor o corpo apenas como único valor. Por este modo sabemos o que ela possui, mas não o que ela é. Não propugnamos pelo retrocesso ao engodo virtuosístico, à escravidão física ou social, mas advogamos a libertação da mulher em seus termos reais que é a conjunção de ambos os valores, como soem ser: a “liberdade” e a “dignificação”. Isto porém, só se concretizará a partir da causa, em busca dos efeitos, em que a primordial é a conscientização de que tudo na sociedade lhe é facultado em igualdade, mas nunca o direito de deixar de ser mulher no sentido lato do termo, que se infirma na superioridade de condução do homem, desde menino, ao esposo e mesmo ao amigo. A mulher terá as rédeas da sociedade em suas mãos, se capacitar-se do seu valor como fator fundamental dos costumes, pela natural ascendência que exerce através da bondade, do amor, do exemplo de moral, da inteligência, da agudez de percepção ou intuição natural, quando exercitados desde o lar até a sociedade. No lar importa conceder-lhe a autoridade sob todos os pontos condutivos educacionais sobre os filhos, para que o homem de amanhã possa entendê-la em igualdade de valores. A liberdade, portanto, começa na educação do próprio filho e na prevalência de personalidade como senhora do lar e como raiz dos costumes. Não somos apologistas do confinamento da mulher, antes, queremo-la ativa, ombreando-se ao homem no labor digno e construtivo, em plena igualdade e liberdade, sem que, porém, abrigue o desejo de transmutação, abdicando de si mesma como “constante” mulher. 15
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A mulher deve condicionar “um preço mais alto” a si mesma, em termos de valores dos quais é a única portadora, e não simplesmente o de ser mulher. Deve antes e acima de cima de tudo, ter-se como “causa” e não “efeito” de uma sociedade. Ao descer, porém, à imitação pura e simples dos hábitos masculinos, sem se cuidar como personalidade e pessoa, continua a confirmar virtualmente a fragilidade e inferioridade sob todos os pontos de vista. É o fato.
Irmão Saulo (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Caridade das sobras
3. Caridade das sobras
Como é amar ao próximo, segundo o Mestre Nazareno. Já é tempo de sacudirmos o pó das sandálias e caminharmos com os que buscam a realidade, dentro dos fundamentos reencarnacionistas, em seus devidos termos. Se o próprio Mestre foi repudiado quando procurou esclarecer os homens, não seremos nós que passaremos imunes. Se as nossas observações aqui do espaço são irreverentes ao acomodado, como certo, e têm sua estrutura na real vivência do homem, considerando não ser possível desmembrar a evolução, não temos motivo para estancar o nosso verbo. Se pelas trilhas do Evangelho procuramos elucidar o homem no que se refere à “caridade” de Deus, à compreensão da fragilidade da sua criatura e ao seu eterno e legítimo perdão, pensamos não estar fugindo ao que ninguém, em sã consciência, poderá refutar. Se distendemos a concepção de caridade a ângulos de obrigatoriedade fraterna, dizendo que não pode continuar a se constituir em “economia” espiritual, mas no exercício para o despertar da consciência, e que não devemos ir ao encontro do nosso semelhante, mas trazê-lo até nós, em circunstâncias de vivência humana e digna – substituindo a caridade dos “farrapos” e das “sobras” – pretendendo que isto seja amor ao próximo, quer nos parecer que não ultrapassamos os limites dos ditames do Nazareno.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Caridade das sobras
Se repudiamos, venha de quem vier, o dizer que o Criador tem as suas criaturas como “marionetes”, por Ele criadas para deleitarse com os seus sofrimentos, permitindo-lhes cometer o erro por ignorância, para posteriormente atirá-las às masmorras umbralinas, como se não bastasse o agressivo constante de que se constitui o ambiente planetário, que leva o homem ao exercício consolidante do saber e da evolução, estamos procurando dar ao homem o retrato do Pai como Ele é, e não como Ele tem sido mantido, por interesses escusos, sob a nebulosa mística, e por vermos, ainda hoje, criaturas de boa-fé que, embora imbuídas dos melhores propósitos, deixam-se levar num enredamento sem precedentes. Avancemos, portanto, e como para cada época o seu pensamento, podemos entrar no que em verdade se torna necessário. Se procuramos dar ao “Novo Testamento” o senso preciso e conciso de que se constitui, sem fantasias ou suposições, arrancando-o dos limites dos templos e da inocuidade poética, não trepidamos em nossos propósitos. O Evangelho não é propriedade de religião ou religiões, mas a carta magna do futuro próximo, queiram ou não os que pretendem ver nele o indicador infalível que os conduzirá (aí entra o personalismo) ao porto seguro. É também a raiz, o corpo e fruto da superação pelo homem, da sua própria ignorância e, como tal, não deve e não pode ser distorcido em seus fundamentos legítimos. Quando o Evangelho for exposto na sua realidade, não se admirem se vier a causar represália daqueles que se acostumaram a transferir as responsabilidades que lhes estão afetas, substituindo-as pelo simples “culto no lar”, ou pela aquisição de 18
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limitados conhecimentos, ou ainda, pela caridade intencional, que até o momento não passa de um “negócio” com Deus. Se diziam antes que “quem dá aos pobres empresta a Deus”, agora dizem que “é dando que recebemos”, temos aí apenas a mudança dos termos, mas não do objetivo, e é justamente este pensamento mercenário, o mais desaconselhado no “Espírito do Evangelho”. Jesus não veio trazer a paz, mas a espada, e a nossa já está desembainhada, justamente neste campo de luta – Evangelho – onde o nosso ânimo não se arrefecerá. Se, nos devidos termos, o gigante do Evangelho, Saulo de Tarso, combateu o “bom combate”, tê-lo-emos por guia à sombra do Mestre. Não nos curvaremos às frontes laureadas pelo saber humano; não pactuaremos em conveniências e não buscaremos, no sofisma ou no engodo, o nosso escudo; não nos demove a vaidade, acobertada pela santidade aparente, nem esperamos louvores ou recompensas, mas nos impulsiona o dever, somente o dever, para cujo cumprimento nada, absolutamente nada, nos será imposto. Não nos ab-rogamos em donos da verdade, mas também não aceitamos o que, como tal, comprovadamente, não se situe dentro do justo e racional. Dizer que nem tudo pode ser dito a todos, perfecciona-se como confissão de comodismo, pois, se é necessário que o homem esteja preparado para conhecer a verdade, por que não prepará-lo? Aí está a responsabilidade dos condutores, dos evangelizadores, em preencher esta lacuna pela cultura e pela dignificação, ao invés de condicionar mentes através de supostas verdades eivadas de prometimentos. 19
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Estaremos nos desviando da retidão evangélica? “Ai de vós, intérpretes da Lei!” Se dissermos que os Centros Espíritas, salvo raras exceções, visam mais a parte utilitária ou centros de triagem de espíritos desencarnados, não estamos faltando com a verdade. Se os chamados trabalhos espíritas ou sessões estão se tornando um vício, onde são tratados os “irmãozinhos desencarnados”, para que não caiam no umbral, não concordamos, porque na Terra, atrás das grades, milhares de “irmãozinhos encarnados” gemem sob o peso do erro, que a incultura, em 90% os levou a cometer. Outros tantos “irmãozinhos”, muito embora profitentes de alguma religião, também sofrem pela negligência dos evangelizadores, que não conseguiram transformá-los em homens dignos e capazes, pelo labor honesto e útil ao seu semelhante. Se a nossa palavra faz uma inversão na direcional aplicada, ou seja, tratar do homem enquanto homem, não nos sentimos marginalizados dos ensinamentos do Mestre da Galiléia. O que nos parece infantilidade é querer remediar o que se poderia prevenir, pois, se o espírito quando desencarnado é considerado como “irmãozinho”, por que também não o é quando na carne? O que se faz necessário ao encarnado é a unificação em bases de responsabilidade, visando sempre dar-lhe possibilidades de auto-condução dentro da sociedade, quer no senso utilitário ou no moralizador. Importa também que, se o Mestre nos propôs “a busca da verdade”, não foi porque somente o conhecimento dela nos bastasse, mas a sua aplicação junto ao nosso semelhante, o que confirmou com o “amai-vos uns aos outros”. Assim como a “fé 20
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sem obras é morta”, o amor sem expressão é inerte, inválido, inexistente. Ao pregarmos o amor dentro dos princípios da fraternidade, estamos destronando o “amor-caridade” e colocando em seu lugar, o único, o legítimo sentido que o mesmo guarda, qual seja, o de nos tornarmos irmãos e, entre irmãos não se faz “caridade”, obriga-nos a sentir apenas a necessidade presente. Inútil pretender desviar o curso dos postulados evangélicos, porque a sua consumação e alicerçamento no orbe se fará, apesar dos homens lutarem e desejarem a continuidade da sombra, que favorece uns em detrimento de muitos. O Evangelho é um compêndio de sociabilidade expressiva, progressista, avantajada em ciência e consciência, a que se implantará dentro do fator-tempo. Em nada cooperam o conceito e atitudes daqueles que hoje se intitulam “espíritas”, porque nada de novo se acrescentou em termos de cultura científica, operativa ou utilitária, o que, se houvesse acontecido em realidade, muito teria produzido em favor da melhoria do seu irmão. Isto tudo, aliado a um alto nível de moralização, teria adentrado realmente o senso evolucionário (transformações sucessivas), portanto, evangélico. Se tivemos a coragem de dizer que a evangelização espírita nos moldes atuais, ou seja, em paridade à catequese católica ou protestante, apenas se situa no rol de “mais uma”, foi porque o intercâmbio entre o corpóreo e o incorpóreo não teve como objetivo dar continuidade ao que já existia, mas para que entendessem o imperativo do momento, que é de completa transformação, carecendo, portanto, de uma inversão de 21
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concepções, que só será possível trazendo o desempenho evangélico para o âmbito terreno, onde a carência moral, a disparidade de cultura e dos meios de sobrevivência geram o ódio, a incompreensão e as lutas constantes, as quais constituem, exatamente a problemática afeta aos “trabalhadores da seara”, a ser superada. Seria de bom alvitre aos que “tomam da charrua” que não olhassem mesmo para trás, isto é, não se preocupassem muito conosco, os sem corpo, e procurassem cuidar daqueles que estão mais próximos, ou seja, dos próprios encarnados. Do que admiramos, e muito, é que se fala amiúde de trabalho, fraternidade, confraternização, e circunscrevem-se à caridade incentivados pelos chamados “mentores espirituais”, que não medem a linguagem ou imagem distorcidas do objetivo real, ou do alicerce em que se fundamenta o próprio Evangelho, que é fazer pela felicidade de fazer, e fazer o necessário, o imediato (vide a parábola do bom samaritano). Dentro desta linha, estamos ainda em contradição flagrante ao noticioso comumente advindo do espaço, porquanto o mesmo é contrário aos princípios do próprio Mestre, a quem tanto veneram, sem contudo, entende-lo e seguilo, pois o Evangelho é um enfeixado de exemplos e lições de desprendimento: “Aquele que perder sua vida por amor a mim (doutrina) ganhá-la-á”; “Daí de graça o que de graça recebestes”, e desde que nos anime qualquer forma de pagamento, mesmo dentro dos dizeres de que é “dando que recebemos”, não estamos seguindo em direção a este Mestre. Não podemos fazer prevalecer o mesmo senso de interesse do dia-a-dia nos misteres espirituais, como vem acontecendo. Não podemos pensar que só quando desencarnados prevalecerá esse 22
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desprendimento, essa alegria de “plantar flores, ao invés de cereais”. Infeliz daquele que só faz por obrigação ou por interesse, pois desconhece a alegria e a emoção que vive aquele que só por amor e espontaneidade o faz. Infeliz, também, porque ignora o que seja viver, em espírito e verdade, o céu íntimo no momento da ação, pois embora o corpo silencie, sorri a alma.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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4. O Apóstolo Judas Iscariotes
Ao longo do tempo, que já adentra milênios, a figura desse Apóstolo de Jesus tem sido alvo de condenações, execrações, ofensas e até de rituais populares de escárnio (malhações) por muitos daqueles que se intitulam de cristãos. A grande massa de profitentes religiosos considera de certo modo estar assim procedendo, castigando aquele a quem atribuem o crime de traição e conseqüente morte de Jesus. Esse episódio de repúdio ao apóstolo Judas Iscariotes é repetido anualmente como uma espécie de culto e, em alguns lugares, entrando ao folclore, em clima de festividade de acentuado mau gosto. Muitos, ao participarem dessa farsa caluniosa, julgam estar vingando aquele a quem acusam pela morte ignóbil de Jesus na cruz infamante do Gólgota. Esses “pretensos cristãos” que assim procedem, estariam rememorando o episódio da suposta traição cometida há dois mil anos, demonstrando que o seu espírito de vingança é infindável. Os sentimentos de condenação e vingança contra uma pessoa, réu de uma pretensa acusação, constitui uma atitude de pessoas que supõem albergar sentimentos cristãos? Estariam estas pessoas, além do desagravo à memória de Jesus, evitando que este suposto crime caia no esquecimento? Será isso? O que buscam essas pessoas que assim agem? Acreditamos que grande parte delas segue apenas um ridículo ritual pretensamente religioso e age sem auscultar sua consciência e 24
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razão, levados infantilmente por falsas versões da história, interesses religiosos e outros. Condenam um acusado a quem nunca deram o direito de defesa, base elementar de qualquer princípio de justiça. Quem era Judas Iscariotes? Algum renegado? Algum aventureiro? Algum criminoso? Já é tempo da verdadeira história desse apóstolo de Jesus ser revelada, pelo menos em parte, o que contraria frontalmente aquela versão hoje conhecida e divulgada como sendo a única e verdadeira. Jamais partiu do Apóstolo Judas Iscariotes qualquer iniciativa neste sentido, por razões que a seguir esclareceremos. Este apóstolo, na sua humildade verdadeira, sempre se opôs a que o esclarecimento da verdade dos fatos ocorridos que resultaram na sua acusação, fosse motivo de qualquer ato ou ação por parte de seus amigos desencarnados, muitos dos quais vivem em esferas espirituais elevadas, o qual sempre buscaram convencê-lo a esclarecer o assunto, em defesa de sua honra e dignidade atingidas pela calúnia. Ao insistirmos com o apóstolo-mártir, ele abriu um precedente e nos disse textualmente: “O meu passado, as acusações sofridas, a minha condenação e os motivos alegados pelos meus acusadores são coisas de um passado já bem distante, não têm nenhum valor exemplificativo e nada significam para o presente. A minha pessoa e as histórias que correm a meu respeito são episódios sem nenhuma relevância e de somenos importância. Eu nada represento perante o Mestre Nazareno, esse gigante espiritual, que sofreu moral e fisicamente até a morte ignominiosa. 25
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Sua passagem luminosa pela Terra, sua obra, ensinamentos, exemplos e doutrina, que o levaram a sofrer perseguições, difamações, prisão, torturas e a humilhante crucificação, constituem um capítulo memorável na história da humanidade. Frente a isso tudo, o meu episódio, a minha pequenez representativa perante Jesus, desaparece pela sua insignificância. Por isso o meu pedido e o meu desejo são para que os acontecimentos dos quais participei sejam esquecidos, por nada significarem. É necessário que cada vez mais o Mestre Jesus cresça através da verdadeira interpretação dos seus ensinamentos, o que hoje é tarefa da nova Escola Reencarnacionista Evolucionista, que só agora começa a ser introduzida na Terra. Ainda que imerecidamente, sinto-me recompensado por ter sido escolhido pelo Mestre Nazareno como integrante do primeiro grupo dos seus seguidores e por ter podido conviver com esta figura extraordinária, inteligência excepcional, sensibilidade ímpar e grandeza espiritual.” Não foi tarefa fácil, como se pode deduzir da mensagem acima, obter maiores informações e detalhes da participação do apóstolo Judas Iscariotes nos episódios que antecederam a morte de Jesus. Esclareça-se que o apóstolo Judas Iscariotes é atualmente o mentor espiritual responsável por um número elevado de grupos ou núcleos espirituais, em centenas de planetas de condições evolutivas diversas, aos quais dedica-se com muito afinco, perseverança, sabedoria e, acima de tudo, com um amor tão profundo aos seus semelhantes, que nos sentimos pequeninos 26
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espiritualmente diante da magnitude da sua espiritualidade, o que nos deixa intensamente comovidos. Para que a verdade seja restabelecida é necessário que se esclareça a participação do apóstolo Judas Iscariotes na condenação e morte do Mestre Nazareno, ainda que o Apóstolomártir não busque defender-se das falsas acusações que vêm se perpetuando indefinidamente. Assim sendo, faço a seguinte pergunta: “Será que Jesus, o extraordinário Mestre, com sua elevadíssima inteligência (evolução), percepção aguda e conhecimentos milenares, ao iniciar sua missão na Terra, escolheria como um dos seus apóstolos uma pessoa venal, sem grandeza espiritual, mercenária? Será? É uma pergunta que deve ser respondida sem tergiversações, sem sofismas ou fugindo a uma responsabilidade que deve ser considerada com muito empenho e honradez, pois refere-se a uma questão de honra de uma pessoa, no caso, o apóstolo Judas Iscariotes. Convém acrescentar que Judas Iscariotes era um dos apóstolos mais cultos dentre os demais, sem qualquer demérito para os mesmos, e isso se explica pela facilidade de acesso à cultura, devido ao fato de pertencer a uma família possuidora de recursos materiais e financeiros. O fato de ter sido escolhido como uma espécie de “tesoureiro” do grupo de seguidores de Jesus atesta e comprova a revelação de ter sido filho de uma família abastada, estando, pois, apto e acostumado a gerir valores pecuniários. É, portanto, ridícula, além de infantil, a mentirosa versão da sua traição a Jesus mediante recebimento de trinta moedas. 27
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Infelizmente, na história da humanidade, existem mentiras até milenares que vão se perpetuando ao sabor da ignorância e das conveniências, permanecendo sem um questionamento sério, racional e honesto por comodismo mental ou por interesses. Não foi tarefa fácil obter do apóstolo Judas Iscariotes informações sobre aquele episódio. Totalmente envolvido e voltado para suas inúmeras atividades em vários orbes do Universo, com uma responsabilidade que foge a nossa mais dilatada imaginação, enfrentando diuturnamente problemas gravíssimos pendentes de solução, o nosso Mentor Maior sempre se recusou a tocar no assunto em benefício próprio, ou seja, para defender-se das acusações injustas. Repetia sempre as palavras de João Batista proferidas no seu encontro com Jesus: “É preciso que eu desapareça e que ele (Jesus) cresça, mesmo porque não sou digno sequer de abaixar-me para desatar as correias das suas alparcatas” (João 1:22 e João 3:30). Suas declarações, sempre em círculo espiritual restrito, somente agora receberam a sua autorização para serem reveladas, ainda que parcialmente. Hoje, Jesus dedica a seu discípulo e colaborador comovente amor e admiração, pois o Mestre Nazareno é o senhor da razão e conhece o valor do seu Apóstolo. Em suas raras declarações, o apóstolo Judas Iscariotes humildemente confessa ter cometido alguns erros, mas jamais o de ter atraiçoado o seu Mestre, a quem venerava com fervor. Atribui esses erros, ainda que não se desculpando, ao fato de ser um jovem na época, com um temperamento arrebatado e impaciente, que se angustiava com a demora em surgir algum 28
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movimento, alguma ação libertadora que viesse a resgatar o povo judeu do jugo romano. O apóstolo Judas Iscariotes era um fervoroso patriota e sofria intensamente ao assistir as humilhações impostas ao seu povo. Após conhecer Jesus e ser convidado pelo Mestre, passou ao seu convívio e teve, em inúmeras ocasiões, oportunidade de testemunhar a sua extraordinária capacidade em galvanizar as multidões com a sua presença, suas palavras, seu incrível carisma e, por isto, a sua admiração pelo Mestre crescia cada vez mais, a tal ponto que imaginou que Jesus fosse um enviado especial de Deus, dotado de poderes extraordinários que viera a Terra com a missão de libertar o povo judeu. “Errei, confessa o apóstolo, por não perceber na época que a missão de Jesus transcendia, em muito, a questão material, transitória e de importância relativa, concernente apenas aos destinos de um povo, não avaliando corretamente a grandeza e a enormidade da missão de Jesus, por isto, tive momentos de impaciência e angústias. A minha juventude, aliada ao meu temperamento dinâmico, não colaborou para que aguardasse o desenrolar normal dos acontecimentos, e o meu erro maior, foi acreditar nas mentiras e falsidades dos principais sacerdotes do Templo, que diziam apoiar a derrubada dos dominadores romanos, quando, na verdade, estavam tramando contra Jesus, com o apoio dos poderosos da época, temerosos pela sua ação no esclarecimento do povo espoliado e escravizado.” Movido pelo seu sonho de liberdade, o apóstolo Judas Iscariotes repetia entusiasmado perante os sacerdotes do Templo, 29
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a célebre frase pronunciada por Jesus no Sermão da Montanha: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mateus 5:6). Ao proferir estas palavras, Jesus assustou aos poderosos da época, sendo um dos fatores que influiu no conluio tramado para fazer calar sua voz, incriminando-o junto aos dominadores romanos. Não foi o povo simples, humilde e inculto que escolheu entre condenar Jesus e libertar Barrabás, porque este povo ordeiro e submisso não dispunha de condições mínimas para envolver o próprio Pilatos, o Templo e os poderosos. A frase de Jesus fazia referência à “justiça” dos homens e não a uma pretensa justiça divina, como algumas religiões pregam até hoje. Os episódios históricos de Barrabás, competindo com Jesus e outros que fazem parte de muitos livros e compêndios religiosos, não existiram, foram frutos da fertilidade, da imaginação de pessoas e grupos, muitos deles com interesses inconfessáveis. Temos a mais absoluta certeza de que um dia, através do trabalho sério, responsável e, sobretudo, laico, pesquisadores honestos derrubarão essas lendas até hoje impingidas a nós todos. Outra mentira milenar é sobre as circunstâncias da morte do apóstolo Judas Iscariotes que, segundo a lenda, teria cometido suicídio, enforcando-se posteriormente à morte de Jesus, levado pelo desespero e pelo remorso. Esta versão foi elaborada para dar um fecho condizente e conveniente ao suposto episódio da traição, em troca de algumas moedas, o que em realidade jamais aconteceu. 30
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O Apóstolo Judas Iscariotes desencarnou de morte natural (ataque cardíaco), após ficar com a saúde abalada pela crucificação de seu Mestre a quem muito amava. Sabemos que a nossa narração, ainda que sucinta, dos fatos que envolveram Judas Iscariotes, resultará em críticas acerbas e será recebida por muitos com descrédito, o que é natural que ocorra, face ao longo tempo já decorrido da existência das versões sobre o assunto, tidas como verdadeiras e amparadas pelo peso das religiões com grande influência na sociedade. Por outro lado, temos a mais absoluta certeza de que, um dia, a verdade se fará presente de maneira irretorquível. Quanto ao apóstolo Judas Iscariotes, pela sua elevada condição evolutiva e humildade marcante, busca tão somente trabalhar, sem se preocupar em fazer sua defesa, consumindo o tempo em atividades produtivas e de grande alcance social, espiritual e cultural. Hoje, o importante para o apóstolo Judas Iscariotes, é o seu trabalho em prol da humanidade, do qual o GRUPO ESPÍRITA “JUDAS ISCARIOTES”, sediado em Nova Veneza, Estado de São Paulo, representa uma parcela. Apesar de ser um pequeno núcleo de trabalhadores da seara do Mestre, que busca praticar o Evangelho real, laico, já foi e continua sendo visitado por diversas vezes pelo apóstolo Judas Iscariotes, que jamais estabeleceu qualquer diferença de tratamento, estendendo a todos sua atenção, com muito amor e respeito, fruto de sua elevada condição evolutiva. Àqueles que se dizem religiosos, que pregam o amor ao próximo, a fraternidade, o espírito cristão, etc., mas que nos dias 31
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de hoje, após decorridos dois mil anos, ainda condenam o erro de um homem dentro de suas concepções, deixamos apenas uma frase para suas reflexões: “Aquele que prega o amor deve, em primeiro lugar, saber perdoar”. Poderíamos também repetir a frase monumental de Jesus pronunciada quase na sua agonia: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Parábola do Semeador
5. Parábola do Semeador
Dentre as narrativas do Mestre Jesus, destacamos a do “Semeador”, sobre a qual dissertaremos, sempre expondo e convidando ao raciocínio. A parábola nos diz que um semeador saiu a semear e parte da semente caiu à margem do caminho, servindo de alimento às aves do céu; outra caiu entre espinhos, vindo a fenecer antes da fertilização; outra parte caiu em terra pouco fértil, chegando à relativa frutificação. Finalmente, outra parte encontrou gleba suficientemente fértil, frutificando a contento. Notamos aí acentuada diferença de fertilidade, de que nos advém a pergunta: Qual será, em verdade, o motivo desta disparidade? É de tal importância esta afirmativa do Mestre, que aos próprios discípulos causou estranheza, o que os levou a solicitar explicação, ouvindo de Jesus que: a semeadura é a palavra, as terras em que foram semeadas as sementes são as pessoas que as ouvem, umas fertilizando mais que outras, e que a diferença fertilitiva estaria em concordância ao maior ou menor interesse dedicado às sementes, guardando-as e pondo-as em prática. Como não está determinado que eram várias espécies de sementes, entende-se, desde logo, tratar-se de uma mesma espécie, sendo, portanto, também um mesmo fruto. De imediato sentimos que a fertilização diz respeito tão somente à terra, dada a excelência da semente. Ressalta ainda que
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a fertilidade é um “estado antecedente” à semeadura, oriunda de outros fatores não determinados na exposição. Ao encerrar sua missão na Terra, o Mestre, sabendo como o homem ainda é primário em concepção e, numa atitude que bem demonstra a sua inteligência, reduz todo o enfeixado das parábolas em dois conceitos básicos, os quais nada mais são do que o “efeito” resultado, ou o “fruto dos seus ensinamentos”: AMAR A DEUS E AO PRÓXIMO, COMO A SI MESMO. Está aí, portanto, o fruto provindo da fertilidade das glebas, motivo e objetivo da vinda do Nazareno à Terra. Podemos observar que todas as parábolas vinculam-se ao dia a dia do homem e sua linguagem prima pela simplicidade, o que nos permite procurar o oculto nessa mesma simplicidade sem, portanto, ser necessário “pensar alto”. É elementar ao agricultor que a semente não influi no teor fertilitivo da terra, mas que a germinação e a boa frutificação dele dependem, o que nos diz que o mesmo deve já existir para bem produzir. Sendo o amor o estágio final a ser alcançado dentro dos ciclos reencarnatórios, e observado o estado evolutivo da humanidade no que se refere ao aprimoramento das virtudes, podemos calcular quanto distante ainda se encontra da situação intelecto-razão (teor fertilitivo) que possibilitará frutificar a contento. Ao trazermos tais narrativas ao terreno da evolução, e observando que esta se processa no orbe de maneira geral e associativa, teremos que a referência do Mestre não se atém à unidade mas ao todo e, assim sendo, a diferença de fertilidade questiona sobre estágios evolutivos antecedentes ao do amor. 34
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Quando dizemos ciclos reencarnatórios, referimo-nos não só à Terra mas também a inúmeros planetas que, se ainda não atingiram a fase máxima – AMOR – já vivem pelo menos os antecedentes, quais sejam: a compreensão, a tolerância, a cooperação e certa dose de desapego das coisas transitórias, o que não lhes confere todavia, ainda intitular-se “evangélicos”, embora já mais próximos. Sabemos agora que antecedendo o Amor, síntese evangélica, existem inúmeras condições dentro das quais as famílias humana permanecem em outros planetas longo tempo em caráter assimilativo transformante. Embora o espírito seja o que “é” esteja onde estiver, a “lei magnética de atração e repulsão”, também chamada de “lei de afinidade”, não permite a espíritos que não portem o magnetismo em igual teor ou, pelo menos, o suportável dentro da faixa de tolerância do referido estágio, a fixação dos mesmos em tais âmbitos: “Existem muitas moradas, na casa do meu Pai”. Se a lei é evoluir, e como a lei é a voz da justiça, temos na ordem e igualdade com que opera, a suplantação do “paternalismo deusístico”. A definição “estágios” não comporta rígida linha limítrofe, pois que estaria quebrada a fraternidade, mas compreende larga faixa de tolerância, que permite a interligação e convivência relativa entre estágios e mais estreitamente dentro dos mesmos. A unidade portadora de gama evolutiva superior poderá encarnar no estágio imediatamente inferior, desde que lhe seja tolerável e tolerante, sempre em missão construtiva. Assim também o inferior, obedecendo aos mesmos fatores, poderá encarnar no imediatamente superior, em aprendizado. 35
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Vemos que procede a diferença de frutificação em razão direta à evolução “já” existente (fertilidade), e esta é proporcionada pelo ambiente e não promovida em particular pela unidade, pois de onde nada existe nada se retira. Não fazemos aqui referência aos espíritos que já ultrapassaram o ciclo reencarnatório e gozam de relativa liberdade para se introduzirem em todos os mundos em estado préevangélico com missões superiores: Jesus. Podemos dizer que a meta “evangélica” não está circunscrita à Terra, mas destina-se a milhões e milhões de orbes que se interligam, os quais oscilam em evolução desde os primórdios da razão até a condição máxima de amor, ponto final do ciclo reencarnatório, o que permite, portanto, a fertilização relativa condizente, dita pelo Mestre. Podemos perceber que a “suposta” explicação da parábola foi condicionada ao grau de entendimento do homem: “Terra à margem do caminho, que ainda faz da semente alimento às aves de um céu extra-terreno e é incapaz de entender o fazer sem objetivar, como o exemplo da terra que simplesmente fertiliza sem nada requerer em retributivo”. Dissemos que a condição para a fertilidade é proporcionada pelo ambiente e, como este se modifica pela constante superação de si mesmo, quer no campo científico quer no campo moral, temos que, sem a colaboração irrestrita da unidade, torna-se impossível tal realização, e como a Terra-ambiente não oferece a mínima condição, dada a sua infância evolutiva, tem-se como justa e atualizada a palavra do Mestre: “não há um só justo, nem um bom na face da Terra”. 36
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Importa saber que a condição fertilitiva máxima não arrazoa do “como” e do “porquê”, mas age e reage em “natural constitutivo”. Assim como todo labor humano desde o mais humilde ao altamente científico não prescinde de cooperador, a quem retribui em formas várias, inclusive no desabrochar da inteligência por exercitá-la, também no sentido moral-virtude inexiste outra maneira de consecução, e aqui a elasticidade de ação abrange ao infinito de planetas em condições evolutivas variáveis. Não oferecendo a Terra, ainda, condições de tolerância advinda da compreensão do seu semelhante, mas primando em competição pela sobrevivência, onde o cooperativismo só existe pelo imperativo da necessidade, torna-se impossível pensar que possa um só espírito que seja ausentar-se em definitivo, levando a outros orbes o seu magnetismo íntimo, arraigado, porque sentir-seia totalmente desajustado, mesmo considerando-se uma larga faixa de tolerância. Se considerarmos as almas nobres, os “santos”, como creditados a esta ausência, teremos reduzido a evolução a este mínimo virtuoso, sem apoio no científico básico o qual não é, sem motivo, que se desenvolve no sítio terreno, mas também como constitutivo fundamental da “certeza raciocinada da verdade”. No sentido evolutivo existe uma inversão da interpretação do Evangelho em relação ao das religiões, visto que as mesmas o dão como “causa”, enquanto a evolução o determina como “efeito”, “frutificação”. Por mais ignorante que seja, o semeador não desconhece o elementar cuidado de preparar a terra para que não haja desperdício da semente, o que vem sendo feito através dos tempos 37
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pelas reencarnações sucessivas de grandes levas de espíritos, conduzindo a humanidade ao seu desideratum, embora com suor e lágrimas daqueles que teimam em se sentir privilegiados por Deus, pretendendo ausentar-se do campo de luta de aprimoramento pela simples observância de preceitos ou substituindo o amor que se esquece, nivela e funde as criaturas pela caridade de CIMA PARA BAIXO. O AMOR NÃO DÁ, DÁ-SE !
Irmão Lúcio (recebido por via mediúnica)
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6. Não Saiba Tua Mão Esquerda
“Não saiba tua mão esquerda” (Mateus VI, 1:4). Até o presente, tem-se entendido este dizer do Mestre, no sentido de relação a outrem. Entretanto, sempre que o Mestre pretendeu estabelecer o relacionamento na exposição de suas parábolas, o fez de maneira clara: “Se a vossa justiça não exceder a dos fariseus...”, “Quando jejuares...” e outras tantas, que não deixam dúvidas quanto ao propósito. Todavia, ao dizer “mão esquerda e direita”, não estabelece esta relação, mas refere-se a ambas as mãos de uma mesma pessoa. Ainda que pareça muito simples, fixa uma condição para que todo ato e procedimento do homem possa constituir-se em realidade, em atos de nobreza fraterna ou legítima expressão de amor ao próximo, determinando a existência do “céu interior” consolidado no espírito. O segmento evolutivo do homem no hoje, determina dois pólos motivadores de ação, sendo um o EGOÍSMO e o outro a VAIDADE. Estes propulsores bem demonstram sua necessidade, sem eles em nada teria avançado o progresso através dos tempos. Tal pensamento nos leva a concluir que o homem AINDA age em busca de algo através desses dois sentimentos. Não poderia, portanto, entender o ensinamento do Mestre se não fosse por esse prisma mental. É nesse sentido que se tem evangelizado, dizendo que todo ato do qual nos jactamos ante os demais, deixa de ser considerado como caridade ou amor ao próximo, não obtendo a sanção do Pai, 39
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visto que pela admiração e consideração dos homens, já recebeu seu galardão! Poderão afirmar que o próprio Mestre tenha dito sobre a retribuição pelo Pai em “secreto”, mas se levarmos a análise dentro dos princípios evolucionistas, teremos uma contradição, porque evoluir é transformar-se, é o despertar da inteligência, é a moralização pelo esforço contínuo, o que não se ajusta ao senso de prêmio pelo feito. Devemos entender a necessidade de transmitir ensinamentos consoantes à época, o que fez o Mestre, sem contudo deixar de inserir o “espírito dos mesmos”, dentre as frases acessórias necessárias complementares à narrativa. Se atentarmos bem para a parábola, não encontraremos a carência da repetição de exemplos, como na que estamos focalizando: “Quando, pois, deres esmola, não toques trombeta diante de ti como fazem os hipócritas nas sinagogas. Tu, porém, ao dares a esmola... “ e aí sentimos que a primeira referência completa o exemplo, mas o Mestre acrescenta: “Não saiba tua mão esquerda o que fizeres com a mão direita”. (Mateus 6:2 e 3). Não existe, portanto, um sentido de relação, sendo este o “espírito” do ensinamento. Ainda que vindo do próprio Mestre deve, como ele mesmo propôs, ser examinado dentro da razão – razão humana – única que possui o homem, a quem foram transmitidos tais ensinamentos, para que se chegue à “verdade”. Se procedermos em “secreto” quanto ao homem, nem por isso deixamos de abrigar o dissimulado egoísmo da “retribuição 40
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superior”, o que desvirtua o ato como fruto puro e simples do amor ao próximo, extravasado espontaneamente, face à altura evolutiva. No pensamento da “graça” pelo feito, entra a parcialidade sem contestação, destruindo o princípio de justiça, porque coloca um na situação de carente e o outro na de sobejo! Desde que se trate de amor ao próximo, não pode prevalecer este sentimento, que é virtualmente oposto ao outro. Ou fazemos movidos pelo amor, que em si já se constitui numa paga, ou fazemos com vistas ao galardão, quer dos homens, quer de Deus. Temos, portanto, que a mão esquerda é pura e simplesmente o sentimento prevalecente aos olhos de Deus, que retribuirá em “secreto”, e a mão direita,a nobreza de alma já alcançada na senda da evolução, independente do galardão de qualquer espécie, totalmente esquecido do valor do ato, porque já abrigamos e somos esta força irrefreável que nos impulsiona a agir sem pensar, porque estamos vivendo o ato. Esta força que foi capaz de arrastar um Mestre Nazareno a encarnar e arrostar o sofrimento inerente ao ambiente, sem ao menos proferir uma sílaba e revolta. Prevaleça, pois, o exemplo. Aí está exposto o “espírito” do ensinamento, que são os dois sentimentos antagônicos por princípio e não podem juntos prevalecer num mesmo ato. Num procedimento, o amor é fruto da evolução e ajusta-se sem reservas à justiça do “autoevolucionismo”, e no outro, distorce o realismo em si mesmo. Enquanto o evolucionismo auto-premia o esforço pela transformação, o “galardão” permite a esperança externa, permanecendo o que é, como é. 41
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A aparente contradição queda-se tão somente na letra complementar sem ferir o espírito, o ensinamento nela inserido, com a maestria que só Jesus possuía. Se o “espírito da verdade” deve ser agora exposto pela verdade do espírito, por que se continuarmos a concluir com a panacéia da evangelização condicionante, e não dizermos que ao lado de cada “casa de caridade” se levante uma escola de cultura e moralização da infância e da juventude, que dará ao reencarnacionismo o cunho de detentor da verdade como verdade?
Irmão Mateus (recebido por via mediúnica)
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7. Sociologia Evolutiva
Disse o Mestre Jesus que a justiça seria consolidada na Terra (Oriente e Ocidente) (Lucas: 13,29) quando o homem atingisse o grau de razão e consciência, ou seja, o da complementação como racional, desde que descortine um horizonte de vida superior, entendendo-se como simples viajor em trânsito na Terra. Da simplicidade deste pensamento nasce um renovado “conceito de valores” porque envolve total inversão da sociedade. Podemos dizer que todo o galvanizante do pensamento e sensibilidade do homem como objetivo precípuo e essencial, passará a mero utilitário durante a estada no corpo, o que Jesus classifica como “acréscimo” (coisas materiais). Não se deve entender como o desprezo pelo fruto do próprio trabalho, nem dos benefícios naturais que a ciência proporciona. O sentido exato da existência é o de uma viagem no transcurso da qual gozamos de todo conforto possível sem que, todavia, o tenhamos como prioridade. A isto podemos chamar de “socialização espontânea”. Se temos uma socialização, temos uma inversão de propriedade privada, que é a coletiva e, nessa época, o homem pela sua complementação como racional, já tendo entendido a curta permanência na Terra como um seguimento da grande viagem, sem tempo nem espaço, por força do fato entenderá também que tudo nela existente é de usufruto do todo e transitório.
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Face a este estado mental superior, permanecerá o mesmo desejo e ação na busca do sempre mais e melhor, em progresso constante, de que o homem se ufanará em ser útil ao seu semelhante e, conseqüentemente, a si mesmo. O homem não viverá para as coisas, mas apenas valer-se-á delas como necessárias à sobrevivência transitória. Percebe-se logo tratar-se de uma família universal, que será uma extensão do “ilhado afetivo”, como é a família atual. Este consenso trará como resultado inversão também da estrutura do relacionamento social, que passará de uma sociedade de primazia de direito para a de dever, em que o direito será uma conseqüência normal do dever cumprido e, portanto, respeitado e reconhecido. O conhecimento do dever de cada unidade comporá um todo homogêneo e, pelo natural estado evolutivo, advirá também o retributivo em nível do que dizemos reciprocidade. Teremos o surgimento do “homem interior” racional e consciencial completo, autoditando-se em respeito e vontade próprios, não mais sujeito a variações senso-emotivas, segundo as circunstâncias e fatores externos influenciáveis. A isto chamamos de “inversão de domínio”, ou liberdade de SER, ao que o mestre Jesus qualifica como ter “vida em si mesmo”. Hoje o homem tem obrigações definidas em códigos e suas conseqüências porém, pela inversão, terá deveres. Entre obrigação determinada por códigos, e deveres advindos da consciência responsável em espontâneo, existe grande diferença. A obrigação impõe, o dever convida. A este complemento como racional ou culminância do estágio reencarnatório, bem definido pelo Mestre no “Sermão do Monte” 44
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(Mateus 5:1-11) como “mansuetude”, importa nos limites de abarcância de todo o científico comportável no referido estágio que se entende como “herança da Terra”. Em evolução não se admite outro “tesouro para o espírito” que não seja o seu próprio desabrochar em inteligência e sentimentos, que tanto na Terra como em qualquer outro lugar, só o pedagógico falando à razão, oferece meios e processos viabilizantes. Isto deixa bem claro que, “onde estiver seu tesouro, aí estará seu coração”, ou seja, pensamento, sensibilidade e razão de SER. Quando a inversão de domínio permitir o autodeterminar-se pela razão e consciência, não mais curvando-se à psicologia sugestiva ou oscilante em sensibilidade por influenciáveis externos à sociedade, não haverá mais necessidade dos códigos regimentais, dos tribunais, do cárcere e de todo acervo julgativo e repressivo de hoje. A inversão de domínio está bem esclarecida no dizer do Mestre: “Seja o teu dizer sim-sim e não-não”, que traduz a autoridade sobre si mesmo quanto ao que sinta e faça. Atualmente alegamos que, aos outros é simples mas quanto a nós, sempre há razões e até autopiedade. Já disse alguém que –“é mais fácil vencer um exército do que a si mesmo”, o que nos permite entender a fala pelo prisma pessoal. O que mais sabe orienta o que menos sabe A ausência da autoridade disciplinar não propõe a de hierarquia, a qual será de senso ordenativo orientador condutivo, face a necessidade de desempenho. O que mais sabe orienta o que menos sabe. 45
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É neste sentido que devemos entender a fala do Mestre: “Pobres sempre os tereis” (Mateus 26:11), sempre haverá alguém a quem orientar e ensinar em termos laicos, alguma coisa em relação ao cooperativismo. Não se trata, portanto, da condição de pobreza material sub-humana e dessemelhante do mendigo e do esmoleiro. Não se deve confundir com os “pobres de espírito”, pois que estes compõem a gama dos que se julgam beatos virtuosos evoluídos, o que os caracteriza como irresponsáveis ante os fatos e o realismo em que vivem e, esta irresponsabilidade infantil é que constitui o seu reino do céu. São os pobres de tesouros íntimos, formativos, que albergam a dúlcida ilusão do elitismo e a esperança vã de um amanhã que jamais chegará pelas vias que supõem. São os que se envernizam de “conhecimentos doutrinários”, pretendendo a toga evolucitária em que se envolvem e que lhes turva a visão racional dos fatos. “Quem são meus pais e meus irmãos” (Jesus). (Mateus 12:4650) Quando a humanidade realizar-se em “espírito e verdade”, o ilhado afetivo entendido hoje como família terá desaparecido quanto ao conceito, porque será extensivo ao todo. A família subsistirá como simples mantenedor da espécie, porém conscientizada do seu valor desempenho. Não prevalecerá ainda o educativo seleto científico ou moralizante sobre os componentes, porque tudo será ministrado pela sociedade em teor laico e igualitário, com visos a inter-relação e interação cooperativistas. Pelo óbvio, terão desaparecido os apêndices gregários, sociais, formativos, unilaterais, filosóficos, e outros. Haverá ilhados físicos, biológicos, para manutenção da espécie. A paternidade será, pois, 46
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confinada ao termo reprodutor, sem a idéia de posse ou privacidade: “meu” filho, “minha” filha e demais. O maior estado sensitivo conhecido na Terra, o amor, (embora não o máximo e último porque a evolução é eterna e infinita) será extensivo ao todo de forma e intensidade iguais, de onde se infere: “Quem são meus pais e meus irmãos”. Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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8. A verdadeira sociedade
Atingida a meta referente ao estágio, a “família humana” terá se conscientizado do extraordinário valor das leis básicas, “leis de princípios” que demovem o homem ao sempre mais e melhor. Estas constituem-se de ambição, vaidade, saturação ou tédio. O profundo conhecimento destas leis levará o homem a usá-las dentro das paralelas científicas sensibilizantes, permitindo compreender no desafio, o prazer da superação. Entenda-se dos fatos, e não o competitivo entre humanos. Os homens buscarão em conjunto o sempre mais e melhor, através da sobreposição dos fatos, deixando claro a palavra do Mestre: “Vós sois deuses”. Os códigos jurídicos, os tratados filosóficos e os livros “sagrados”, terão sido substituídos por obras consultivas científicopedagógicas, conduzindo o ser humano, que é autodidata por excelência e fato, a termos evolucitários hoje não concebíveis. Na ocasião terá se consolidado o terceiro seguimento da inteligência – “filho do homem” – (Lucas 9:58) quando também haverá inversão literal na idéia de propriedade, pois que a posse, ainda que seja do elemento de menor valor (a pedra), será vergonhosa, e substituída pela de ordem abstrata ou seja, saber, sabedoria (tesouros do céu interior, espiritual). Pela erradicação da propriedade material, terá sido o sóciodesagregador básico naturalmente suplantado, pois que nunca houve uma guerra, uma discórdia, um crime, pelo fato de um homem possuir mais conhecimento, saber ou sabedoria que seu semelhante, indivíduo ou povo. Isto porque os tesouros do céu, 48
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abstratos interiores, que a “traça não come e o ladrão não rouba”, (Mateus 6:19-21) são de usufruto íntimo, inalienável, racional e sensitivo. Não se trata de “coletar conhecimentos” visto que assim teríamos somente a posse do abstrato, mas trata-se do resultado desta coleta pelo exercício do raciocínio que propulsiona o desabrochar da inteligência-espírito, já latente. Em termos comuns, o exercício do raciocínio sobre o científico, faz evoluir a inteligência já em potencial total, absoluto, e, portanto, perfeito. Não se adquire a inteligência e suas conseqüências formativas, mas ela se extravasa conforme o SER, exterioriza-se cada vez mais em ascendente eterno e perfeito. A inteligência é estritamente a capacidade de compreensão dedutiva e conclusiva vertida e não insuflada ou imposta. Na sociedade, a paz e a fraternidade No estado mental presente, “aves do céu” (Lucas 9:58), o homem diz viver em sociedade mas, em realidade, isola-se em si mesmo e, na defesa dos haveres materiais, importa a eterna vigilância contra a “traça e o ladrão”. É racional dizermos que somos o que sentimos e o que sentimos vivemos. A paz íntima é a súmula da vida. Para o homem o conceito de paz é a simples ausência da guerra, o que não é aceitável, mas a paz pessoal, íntima e vivida. Pela permanente preocupação defensiva, o homem vegeta supondo viver, e menos ainda, em sociedade, porque esta como é não lhe proporciona meios.
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Sociedade implica em homogeneidade absoluta em termos de responsabilidade da qual advém a reciprocidade gerando despreocupação, resultando em vida, que permite a paz íntima e real. Sociedade entende-se a soma de unidades, o que só se consegue com iguais em qualitativo. Sociedade importa num agregado UNO de fusão literal, não permitindo gregários insulados de ação heterogênea, motivando o competitivo. Sociedade implica em termos de vida íntima e não somente a ação conjunta em torno de interesses pelos quais a sensibilidade congregativa é suplantada e a conduz à condição de simples empresa. O agregado terreno independente do estado mental, ainda que superior, propondo vida íntima pelo homogêneo, não se define em termos de meta, face a instabilidade mantida pela constante progressiva evolução, mas apenas constata-se em épocas. Sociedade, portanto, pode ser entendida como um estado básico, lastro de onde se iniciará convencionalmente outro lance intelectoevolutivo. Para a Terra identificam-se três lastros ou seguimentos: “raposas, aves do céu e filho do homem” (Lucas 9:58). Este último compreende o lastro em que se completará o máximo desabrochar da inteligência no(s) plano(s) reencarnatório(s). Nossa análise fundamenta-se no cronológico histórico, pré-concebido no Evangelho, consoante, portanto, às “coisas da Terra”. “A cada dia basta a sua preocupação”. A reciprocidade autentica o fraternalismo, que para a Terra é o mais perfeito conceito de sociedade, o que indica o possibilitante de ação conjunta pró evolução superior. Desde que pelo fato advenha a paz pessoal interior, entendemos o “tenho vida em mim mesmo”, porque em realidade vivemos o que sentimos. 50
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Sociologia progressiva evolutiva Estas conseqüências naturais evolutivas não estão sujeitas ao limitado tempo-espaço convencionado pelo homem, mas oculta-se e distende-se ao eterno e infinito, e qualquer prenúncio de tendências reguladoras ou limitadoras torna-se literalmente impossível, porque a evolução é auto-desenvolvida, o que importa em condescendência a capacidade do evoluendo. Disto chegamos à conclusão mais real das leis chamadas de “causa e efeito”, que preferimos “leis de princípios”. Estas são leis que vertem em efeitos, portanto, conseqüentes e não determinantes ou reguladoras. São manifesto da dinamização de causas, sempre em concordância com a capacidade dinamizadora. Até o presente, nenhum acontecimento histórico se revelou de forma objetiva e diretamente constatável como aplicação de leis evolutivas, conduzentes compulsórios à revelia da capacidade e do livre-arbítrio. O homem desenvolveu tais eventos e os consolidou por razões sociais e, mais precisamente, de interesses de grupos ou individuais através do tempo, confirmando assim, a concordância com a capacidade ou livre-arbítrio, época. Entendendo-se evolução como o desabrochar da inteligência, para a compreensão dos fatos e de si mesmo e, considerando-se o evoluendo o mesmo homem terreno conhecido, que se vale do pedagógico pelo autodidatismo, temos nos acontecimentos históricos nada mais do que elementos dinamizadores do raciocínio 51
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fluindo em inteligência, permitindo a mutação constante e ascendente do progresso em razão direta à própria capacidade. Desde que prevaleça a autodeterminação ou o livre-arbítrio e que sejam em razão direta à capacidade, é lícito entendermos a tolerância para com os erros no decurso da evolução, decorrentes da instabilidade natural. Como a evolução é eterna e infinita, a tolerância será uma eterna conseqüente. Se as leis evolutivas preponderam em efeitos e são condizentes e eternas, tendo-se como eterna a tolerância, ao atentarmos para o realismo do diuturno, quanto a esta consolidação na previdência e providência de forma indistinta e equânime ao justo e injusto (mais ou menos ignorante), teremos por associação de conceitos racionais, o comprovante irrefutável. Como o espírito-homem não está permanentemente na carne, tem-se pela conclusão anterior, que as leis evolutivas serão a ele extensivas independente da dimensão vivencial em que se situe, encarnado ou não. Concordando pelo óbvio que evolução alcançada não retrocede, todo retificativo contradiz a afirmativa. Admitindo o não retrocesso, concluímos que o erro é o resultado do que não foi alcançado ainda como evolução, concebendo-se a não existência de responsabilidade “assumida com consciência de causa”, não sendo, pois, passível de sanções, efeitos da capacidade e livre-arbítrio do que é e como está. Contra fatos não se argumenta. Falamos da responsabilidade evolutiva que habitual e impropriamente se confunde com a social, de que nasce a idéia dos retificados. Entre uma e outra, diferem-se substancialmente as causas e efeitos. A responsabilidade social é de nível conceptual e 52
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racional idênticos; a evolutiva insta-se em níveis literalmente desiguais: inferior e superior, criador e criado, causa e efeito, razão absoluta e razão relativa. O Criador rege a evolução da criatura exclusivamente pelas leis de princípios, “efeitos” em estrita concordância com a possibilidade. Entende-se o auto-educativo pelo senso absoluto pedagógico, e não penalógico, por ser conflitante com o realismo. A humanidade sofre ainda o efeito da “ignorância” em que “foi criada”, e o sofrimento efetiva-se dentro do realismo e do lógico contexto histórico comprovante através do progresso, como elemento pedagógico dinamizador do autodidatismo natural do criado. A sociologia progressiva evolutiva não se define em metas, mas ajusta-se e afina-se aos seguimentos componentes da eternidade e do infinito, em termos de época, de inteligência e de capacidade. À medida em que a autonomia mental se consolida, dilata-se o livre-arbítrio ou libertação, o que constitui a evolução humana numa constante, infinita e eterna. A profitência evolucionista e reencarnacionista, é essencialmente LIBERTADORA num axiomático e irreversível, desde que escoimada do senso caudatário dos penalógico anteriores, que a torna híbrida, ambígua, e, portanto, sem lastro próprio e definível.
Irmão Lúcio (recebido por via mediúnica)
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9. Suicídio
Parte I O Suicídio considerado pelo ato, é apenas a destruição do corpo. Ainda que não seja possível dizer o motivo, há distinta preferência pelos meios de execução. Uns fazem opção pelo afogamento, pelo enforcamento, pela ingestão calculada e lenta de doses de veneno, pela “greve de fome”, pelo Haraquiri, pelo Kamikaze; outros que imprimem alta velocidade a um veículo e sofrem um acidente, assim como aqueles que executam tarefas no quotidiano respirando e impregnando-se conscientemente de veneno que lhes será fatal, encurtando o tempo de existência, são suicidas. Sem cogitar dos porquês destas preferências, tenhamos que o suicídio é levado a termo quanto aos meios, pela liberdade ou ato voluntário do próprio suicida que, lenta ou abruptamente, leva à destruição do corpo. Façamos uma referência e posterior análise às perguntas n.º 944 e 944-a de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec. Pergunta 944: O homem tem o direito de dispor da sua própria vida? Resposta: Não, somente Deus tem esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta Lei. Todo ato consciente é voluntário. O suicídio voluntário “importa na transgressão desta Lei.” 54
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Pergunta 944-a: O suicídio não é sempre voluntário? Resposta: O louco que se mata não sabe o que faz. Analisando as respostas apresentadas por Kardec, chegamos à conclusão que: somente o “louco” não transgride a Lei de que se infere, que tanto a consciência como a pré-consciência, importam em transgressão. A não ser assim, não temos uma Lei, mas um acomodatício aos fatores que resultam no suicídio. No caso, tanto o ato consumado conscientemente como o expor-se de alguma forma em pré-consciência ao perigo, se equivalem perante a Lei. Em concordância com o direito que só a Deus compete, qualquer intenção, por mais meritória, quer seja patriótica, idealista ou caritativa, não deixa de transgredir a Lei (conforme o Livro dos Espíritos). Falamos a evolucionistas reencarnacionistas. O que é a loucura? Loucura, em tese, é tudo quanto esteja divorciado da razão lúcida e do bom senso comum e não somente estado psiquiátrico requerendo insulamento. No presente, a psiquiatria, a psicanálise e a própria psicologia, ciências que se aprofundam nos desvão da consciência, encontram pessoas “aparentemente” lúcidas, laboriosas, religiosas, honestas, portadoras de um estado anormal sensitivo-emocional, que são reflexos do sistema de vida da sociedade atual e, não raro, introretrospectiva desde a infância. As citadas ciências comprovam que o homem não age mas reage a um incentivo motivador, o que deixa claro que não é um 55
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autônomo mental, mas um dependente de fatores alienígenos, o que podemos classificar como incompleto ou semi-racional. Diga-se porém, a bem da razão, que tais ciências operam no homem-época, que é um evoluendo no transcurso do tempo, motivo pelo qual não podem definir o homem do amanhã. Como cada homem reage de forma diferente por um mesmo motivo e nas mesmas circunstâncias, as ciências relacionadas encontram nisto as variáveis que permitem a observação do indivíduo no seu próprio campo sensitivo-emocional, sustando a intenção do seletivo grupal, senão dentro do relativo aceitável. Se a justiça se valesse destas ciências e considerasse o resultado como válido para julgamento, pouquíssimos estariam atrás das grades e muito reconduzidos à convivência social, pelo pedagógico específico sob todos os aspectos. Ao concordar com a ciência que afirma ser o homem um reagente a fatores alheios a sua vontade, não generalizamos a loucura, mas valemo-nos desta conclusão como endosso ao limite de autonomia do homem essência: inteligência, razão, consciência, sensibilidade, o que para o evolucionista equivale à evolução. Para que possamos entender isto, somos obrigados a reportarmo-nos ao campo evolutivo universal, em que incontáveis planetas são habitados por parcelas da humanidade e que, evolutivamente, estão situados na mesma “faixa”. Em todos, como na Terra, existe uma faixa de tolerância de diversos estados mentais e morais destinada à convivência interativa pela qual o todo se conduz na senda evolutiva, mas 56
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desde o mais avançado ao menos, não é possível a ultrapassagem dos limites da faixa. Isto esclarece nossa concordância com a ciência no que se refere ao panorâmico, a que chamamos ESTADO EVOLUTIVO GERAL, dentro das paralelas limitadoras. No conjunto de bilhões de planetas, em cuja faixa está a Terra, em que pese a sua desenvoltura intelectual, este planeta ainda é evolutivamente primário em relação a uns e avançado em relação a outros. Disto nasce o consenso de que no universo existe ilimitado número de FAIXAS ou estados evolutivos. A partir destes, podemos estabelecer uma hipotética escala pela qual a Terra fica situada num determinado ponto evolutivo e que tudo, absolutamente tudo que nela venha a se processar, quer individual ou coletivamente, está de acordo com o máximo possível em termos de evolução. Todo ato do homem demonstra sua limitação e, dentro da coletividade, o indivíduo reage segundo a linha em que se encontra dentro da pauta originada pela “clave” evolutiva. Assim, não podemos julgar o valor da escala a partir de um dos seus pontos, desde que este ponto limite a visão do todo. Como não escrevemos simplesmente para preencher o espaço físico, ou para buscar rentabilidade, temos a liberdade de expor, sem impor, dentro do racional e lógico. Isto nos leva a dizer que discordamos tacitamente das definições e arrazoados pretensos esclarecedores advindos de qualquer unilateral, seja religioso, filosófico ou científico, concernentes aos motivos e resultados da prática do suicídio. Estamos fundamentados no realismo prevalecente no “ponto” da escala evolutiva em que a Terra se encontra. 57
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Ninguém em sã consciência pode ignorar a reação do indivíduo motivada pela ação da coletividade. Devemos partir daí para analisar uma das reações que é o suicídio. FALAMOS A EVOLUCIONISTAS. Da responsabilidade do suicídio Na fase atual da evolução, o homem é literalmente objetivomotivado. Nada o leva à ação que não tenha um motivo ou objetivo. Vemos, portanto, que ele reage em função de algo. Esta condição caracteriza o “homem-exterior” ou seja, o que coleta do exterior o incentivo à motivação-reação. A isto é que dizemos estado evolutivo geral, num ponto da escala e dentro das paralelas em que se comportam as variáveis. Tudo que não falar à razão do homem perde a consistência como “FATO”. A RESPONSABILIDADE só existe quando assumida. Não pode gozar desse qualitativo, portanto, QUALQUER COMPULSÓRIO. Disto provêm que a EVOLUÇÃO, no senso legítimo, é virtualmente desvinculada de qualquer religião, deusismos, divinismos e outros condicionantes, em seus métodos e resultados. A evolução estrutura-se na sólida e racional base de um Fator, (Deus) Inteligência máxima. A evolução religiosa conflitua com a real que se desenvolve através da ciência no tempo-espaço. Para a religiosa, o suicida tem a culpa do seu ato pelo qual assume responsabilidade perante “uma justiça” considerada divina ou superior. Para a real não tem culpa ou responsabilidade e, pelo proceder, nem fica sujeito a qualquer sanção penal nos tribunais desta “suposta” justiça.
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Se concordássemos com aquele pensamento de Kardec, teríamos uma responsabilidade “imposta” pelo FATOR, o que seria, pelo óbvio e lógico à razão do homem, um “SADISMO DE ORIGEM”. O homem essência, ou fator espírito, não se individualizou mas foi individualizado por vontade do Fator Supremo. O homem não assumiu a responsabilidade de existir, e tampouco de evoluir, como não tem a de superar-se, em proceder cabível ao ponto da escala evolutiva em que se encontra. Não querendo decifrar enigmas ou criar sofismas mas tendo os pés no chão, a cabeça no lugar e a mente em plena liberdade para o raciocínio moldado na lógica e realidade “humanas”, é que devemos dizer e expor. Causas do suicídio na sociedade O que é a sociedade? A sociedade sempre foi e será um aglomerado vivendo numa guerra surda não declarada, evidenciando um competitivo permanente, até o semi-racional se complete, o que deve acontecer sem tempo previsto mas de acordo com a capacidade de avanço rumo ao equilíbrio das quatro dimensões do SER: inteligência, razão, consciência e sensibilidade. No presente, a Terra deu início ao competitivo de ordem gloal, franco e aberto entre o capital e o trabalho; de um lado a ditadura proletária e de outro o capitalismo. Ambos os sistemas têm suas vantagens e desvantagens, acertos e erros, próprios do heterogêneo intelectual e moral das unidades componentes. Ambos têm os contentes e descontentes, entre os quais surgem os suicidas, o que bem demonstra a influência do 59
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aglomerado humano sobre o homem unidade. De um lado temos os que, mesmo de estômago forrado e cultura farta, mas que comprimidos numa liberdade estereotipada, insurgem-se e vão ao suicídio. De outro lado, em que a liberdade é ampla, mas o aglomerado além de competitivo, é separatista pela forma de classes sociais, entre as quais encontramos os que, via de regra, são os famintos, miseráveis carentes do mínimo à vivência como ser humano digno, que, por esse fato, levados ao “desespero”, suicidam-se. Entre os que dizemos classe alta, gozando de todas as prerrogativas possíveis, abastados e sadios, enfim, sem motivo “aparente”, também procedem de forma idêntica eliminando-se do âmbito terreno. Os suicídios classificados como ponto de honra, idealismo, de prática consciente, envolvendo dignidade e extrema coragem, entram no rol dos motivados, mas como voluntários e “socialmente” elevados à categoria de heróis. Como vemos, a gama classificativa dos suicidas é múltipla e variável ao extremo, e sua relação demonstrativa é quase impossível. Os que não têm incentivos motivadores aparentes, em termos gerais, entram na lei natural do tédio ou saturação, e nem sempre são ociosos, embora vivam a saciedade dos bens terrenos. Sendo o homem, no estado evolutivo em que está, unicamente incentivomotivado, todo ato, mesmo o suicídio sem motivação aparente, estará no seu íntimo, o que não pode ser analisado na superfície do fato, ou levianamente criticado e definido em seus motivos. Temática de tal relevância não pode ser equacionada de modo 60
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geral em panorâmico, mormente quando objetiva CONDUZIR-SE dentro do espírito da verdade. Os sentimentos, quando elevados ao “grau nocivo”, são armas que podem levar à mutilação moral, resultando no definhar lento, mas irreversível até a morte física. O amor, o ódio, a mágoa, a tristeza, ciúme, a inveja, a ganância e outros, podem levar ao mesmo fim. Retomando a questão n.º 944 de “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec, dispor da vida entende-se o direito de escolha no processo de aniquilação do corpo, que só a “Deus” pertence. Isto, pelo óbvio, só pode ser entendido pelos reencarnacionistas evolucionistas que sabem da evolução na sua realidade sóciointelecto-científico, de caráter universal, desenvolvida no tempo ao longo da história. Os evolucionistas entendem o direito de “Deus” como processo normal vigente no plano de existência: Nascer, Viver e Morrer, o que pode ser abreviado por eventuais independentes ou dependentes da vontade do homem, contrariamente à resposta acima. Tudo o que o homem pratica está no direito adquirido pelo existir, quando da individualização, não infligindo, portanto, nenhuma lei. Se segundo Kardec o direito sobre a vida é contrário à lei de Deus, logo, a escolha da destruição também o é, e se assim não for considerado, também a escolha do ato repentino não o será. O diferencial do fato está no discernir entre vida e existência num corpo, e o referendo diz da destruição deste, o que se alguma forma for escolhida, equivalem-se em princípios e meios, tanto o suicídio repentino como o lento. 61
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Há os que pensam que os suicidas, por escolha, trazem o agravante de se tornarem peso morto na sociedade, além da inequívoca demonstração de falta de coragem de enfrentar as agruras de um existir “sem ociosidade”, bem como o egoísmo de uma evolução particular, anti-cooperativista, em consequência, anti-fraterna, anti-evangélica, “FAZE A OUTREM”. Entendendo o suicídio como fuga às tribulações da existência, o que diremos dos que, por escolha, fogem destas tribulações, no campo do “trabalho”, o que faz com que a existência lhes seja menos pesada e mais rápida na aparência?
Parte II No artigo sobre suicídio, primeira parte, dissemos que “TUDO QUE NÃO FALAR À RAZÃO DO HOMEM, PERDE A CONSISTÊNCIA COMO FATO”. Deduz-se, pois, que os fatos não emergem do suposto da lógica, da hipótese ou do dogma, não tem amparo no conceito individual, mas firmam-se na lógica concreta e axiomática. O sol é o sol e ninguém contesta. Se os fatos não podem estar divorciados na realidade e o que entendemos como sociedade, como é, como está em sua estrutura e dinamização, e sendo o suicídio um dos resultados desta mesma condição social, é dentro deste limite quanto a causa e efeito, que devemos analisar. Todavia, dentro de tais limites, não existe possibilidade de forma consciente e responsável para uma resposta clara e concreta que venha definir os motivos tanto do suicídio como dos desgostos. 62
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As ciências específicas tais como: a psiquiatria, a psicanálise e mesmo a psicologia, vêm-se envolvidas por inusitados fatos e todo recurso conhecido torna-se senão invalidado, pelo menos sem resposta condizente. Cada pessoa é um UNIVERSO incógnito de difícil acesso cuja exteriorização é sempre limitada pela conveniência defensiva face ao agressivo sócio-atuante. Não bastassem tais fatores, temos em conta ainda a relação ÉPOCA-SÓCIO-EVOLUTIVA variável, ininterrupta e ascendente. Assim, a ociosidade, que é uma constante nas raças menos “civilizadas” e evoluídas, não conduz ao desgosto e tampouco ao suicídio. À medida que a sociedade evolui, o ócio, por força do fato, vaise tornando impossível face a exigência da dinâmica moduladora da existência em termos de sobrevivência, o que já podemos vislumbrar uma definição relacionada com os limites de uma ÉPOCA-EVOLUÇÃO. Desde que as causas no decurso do tempo sejam erradicadas, também seus efeitos o serão, e a atingirmos esta fase evolutiva em sua plenitude teremos erradicado todo e qualquer motivo de desgostos da vida que nos possa levar ao suicídio. Vemos, portanto, que o estado emocional que conduz ao desgosto e não raro ao suicídio, comporta-se dentro de uma fase época, não podendo instar-se como uma constante a definir um processo. Retornando à realidade nua e crua como convém a uma doutrina que se fundamenta estrita e inapelavelmente em fatos, 63
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sentimos quanto contraditória é a afirmativa de que o suicídio é uma contravenção às leis de Deus. Em primeiro plano temos que esta lei exige o absurdo da autosuperação dos fatores expostos pela própria doutrina, como sejam: a ociosidade, a falta de fé e a saciedade. Se estes fatores realmente existem, lógico será entendermos que não sobrevieram ao acaso e que, queiramos ou não, constituem a porta facultativa ao ato. Se na teoria existe a proibição e na prática é facultada a consumação do delito, o que em tese implica em conivência, fica eliminada, “ipso fato”, a culpa do autor. A razão fica inexoravelmente na pendência entre proibir e facultar. Podemos ainda concluir não só do facultar como também imprimir meios conducentes através dos desajustes sociais e seus genéricos, além da enfermidade física. Convenhamos em razão e fato que todo suicida é uma vítima de motivos e de circunstâncias geradas por exemplos ambientais, com reflexo no interior sensitivo. Estes fatores se concretizam no estado evolutivo do indivíduo dentro da coletividade da qual recebe as influências psicológicas motivadoras. Uma análise ainda que superficial do estado e da dinâmica da sociedade, nos dirá da inversão de conceito sobre os que, por um ou outro motivo se suicidam, o que de pronto os imuniza das chamadas penas ressarcitivas que “cruelmente” experimentarão “mais tarde”, linguagem cabível estritamente na justiça humana, mas que é diametralmente oposta à avaliação e apreciação do FATOR SUPREMO E ABSOLUTO sobre sua própria obra. Vemos, pois, que tanto o ócio como a falta de fé, bem como a saciedade, não constituem regras determinantes do suicídio ou 64
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desgosto da vida, porque nem todo ocioso se suicida, bem como raríssimos ateus e pouquíssimos miseráveis. Se aceitássemos tais motivos para o suicídio, teríamos que nos conduzir, pelo bom senso, nos meandros racionais derivados da própria exposição doutrinária. Teríamos que tais fatores levariam o indivíduo a um estado permissível ao ato, portanto, a um desequilíbrio que, de acordo com as ciências, é uma “loucura” e os loucos que se matam não sabem o que fazem. Todo ato anormal provém de uma raiz anormal. O entusiasmo suscita irreflexão a qual resulta em incoerência que o tempo e o avanço cultural neutralizam pela base.
Suicídio e Evolução Alvorando-se como evolucionista e alicerçada sobre fatos, é dever inescusável da doutrina, pelos seus princípio, meios e fins, esclarecer a diferença entre o evolucionismo e o salvacionismo. Abstração feita ao senso genérico de evolução, mas fixando-se apenas no ângulo da essência (espírito) se nos descortinam horizontes de amplitude e nuanças não abarcados e definidos pelo conteúdo doutrinário.
O que é evolução?
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Podemos simplificar ao extremo sem que fujamos à realidade, dizendo que a evolução é a “eterna” busca de si mesmo no sem tempo nem espaço, ou seja, na eternidade e no infinito. Nada é acrescentado e nem subtraído ao espírito em se tratando de sua evolução. porque esta nada mais é do que o desabrochar do que em potencial JÁ existe, perfeito e completo. Como toda obra diz de seu obreiro e, sendo o FATOR A INTELIGÊNCIA SUPREMA E PERFEIÇÃO ABSOLUTA, TUDO QUE DELE SOBREVIER O SERÁ EM CONDIZÊNCIA. O Espírito foi criado “num estado” de ignorância, mas não um SER ignorante. Tomando o estado como suscetível de mutação, temos que a evolução é a oscilação constante ascendente deste estado, o que resulta no desabrochar gradativo da inteligência e demais constitutivos do espírito. Disto obtém-se a compreensão de que o exterior, leis naturais do campo habitacional, incide sobre o espírito, via físico, como concitante da dinâmica defensiva construtiva, em termos de reação que amparada no raciocínio, tem neste o exercitativo despertador e aflorador da inteligência, conseqüência básica na ordem e cronometria da evolução. Sem a desenvoltura de inteligência não há lastro para que outros componentes do espírito despontem, se desenvolvam e se consolidem. Vemos, portanto, embora em breve mas racional exposição, que a evolução é literalmente divorciada do conceito de recompensas advindas de qualquer fator exterior, fruto mais da subserviência, condicionado psicológico inconsciente, com raízes no obscurantismo medieval católico. 66
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Quanto ao conceito das recompensas, não podemos dizer que seja uma mentira, mas uma falsa verdade. Neste particular, notamos a influência da “formação” puramente católica, quer de encarnados como de desencarnados. Todo espírito que apregoar recompensas, distorce a verdade e conflita com a razão SUPERIOR. Todo espírito que apregoar os cruéis sofrimentos cai, inapelavelmente, no mesmo padrão salvacionista mítico-místico medieval e, por isso, está em oposição à realidade evolucitária. Como o espírito foi “criado” num estado de ignorância e a evolução é eterna, temos que, seja qual for o ponto da escala evolutiva em que se encontre o espírito, todo e qualquer procedimento está em exata condizência com a ignorância relativa e constitui o extremo de sua capacidade evolutiva, não sendo possível a superação. Se pelo fruto se conhece a árvore, logo, cada árvore dá o fruto que é capaz. É a lógica. O apregoar da crueldade dos sofrimentos advindos pelo suicídio deixa muito a ser explicado quanto a origem dos fatos e objetivos da criação. A opção pela recompensa enfeixa fatores externos creditícios não relacionados com o estado evolutivo em que se encontra o espírito. Um homem pode, quando condicionado mentalmente, viver e proceder em perfeita subserviência moral e social com vistas às recompensas, sem que todavia o seu “SER” alergue “sentimentos vida”. Este é o módulo salvacionista destinado a subjugar a massa ao talante de interesses materiais, como o concreto histórico nos informa. 67
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A partir do momento em que o evolucionismo penetre o religioso, passa a defletir do seu básico que é a desenvoltura intelecto-científica. Desde aí fenece como realidade. A evolução não pode, sob qualquer hipótese ou alegação, firmar-se em ter, estar ou fazer, mas unicamente em “SER”. Ter, estar e fazer são efeitos lógicos e naturais do SER. Distingue-se, portanto, de forma clara, a determinação dos verbos indicativos da causa e efeito. Onde encontrar provas irrefutáveis de que os “cruéis sofrimentos” não passam de criatividade originária da liberdade de dizer? Aí a lei constante, quer o espírito esteja ou não encarnado. Se as leis eternas e imutáveis (constantes), basta volvermos o raciocínio para a realidade em que vive o homem e teremos, de forma indiscutível, a prova da vacuidade de tais afirmativas. Qual a reação das leis “ditas de Deus” sobre o criminoso no decurso da existência? Secará a fonte? Apagará para ele o sol? Semeando não colherá? Qual, em suma, a reação sobre todo e qualquer crime, dolo ou “transgressão das leis de Deus” conhecida no âmbito terreno sob qualquer forma? Existem meios de determinância inescusável como regra? Por que a mudança das “leis” quando o espírito está na erraticidade? São eternas ou convencionais? São pontos a ponderar e definir, dentro porém da razão do homem, como fatos. O entusiasmo empana a lucidez de inteligências de escol ao ponto de não avaliar a responsabilidade da palavra.
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O evolucionismo não se alicerça ou se estrutura sobre supostos, já o dissemos, e isto nos encoraja a inquirir de forma clara, requerendo respostas axiomáticas. Quando falamos em evolução, é imperativo discernirmos o “evoluendo” com a necessária precisão, que no caso é o homem, encarnado ou não. O que é o homem encarnado? Abstração feita aos supostos que afloram são denominações várias ao sabor das profitências, chegamos ao realismo inconteste de que o homem encarnado é um bi-dimensional: IMPRESSÃO e EXPRESSÃO e o desencarnado a EXPRESSÃO somente. Por impressão temos o corpo de carne em que tocamos, sentimos e vemos pelo natural, e por expressão temos a exteriorização da inteligência pelas palavras e atos. O que Saulo denomina “corpo celestial”, hoje perispírito, nada mais é do que a forma-auto-conceito, face à condição evolutiva do espírito. Digamos que o perispírito é uma concepção mental que se condensa na forma, da qual, pelo seu estado de evolução, o espírito não pode ainda prescindir. O homem expressão é um potencial de valores incalculáveis, quer quantitativos, quer qualitativos, cuja exteriorização depende do “grau” de evolução a ser desarrochado na eternidade (em termos de tempo) e no infinito (em termos de espaço). A este constante aflorar de valores é que dizemos evolução, o que de pronto nos indica o resultado de um processo EDUCATIVO, literalmente desvinculado de corretivos e adendos apregoados “daqui do espaço” e coadjuvados aí na Terra. 69
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Torna-se óbvio, portanto, que para um efeito requerido, uma causa correlata e conducente, o que os cruéis sofrimentos não traduzem. O evolucionismo, entendido à luz dos fatos e da razão lúcida, tem o condão de soterrar o conceito anti-racional do “temor a Deus”, substituindo pela compreensão “através das obras” (porque só elas fazem fé), e como esta é a verdade, dela (da compreensão) sobrevém a libertação. O CRIADOR adorna o mundo com a riqueza das flores sem inquirir dos nossos merecimentos. Isto é obra de Deus que, penetrando à razão crítica e analítica, concretiza a certeza do amor e da causa para o efeito.
Irmão Lúcio (recebido por via mediúnica)
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10.
Valorização do Trabalho
O Espírito do Evangelho O Mestre sempre foi sério e objetivo, o que dá ao Evangelho o valor de um completo, perfeito e farto repositório de verdades sócio-evolutivas, embora envolvidas no simbolismo parabólico, dispensando os resumos como esclarecedores do envolvente, porque a nada leva, além da continuidade piegas do mítico e místico, face ao alicerçado no religiosismo prometedor e anestesiante. Tudo, pois, que se queira saber concernente à evolução, vive e reside no espírito do Evangelho, desde que visto com “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, o que se propõe como inteligência fundada na razão e consciência dos fatos. É indubitavelmente de plena abrangência todo o desempenho comportável no sócio-vivencial na Terra pelo homem em função do homem, pois tange à fraternidade em seus aspectos gerais, destacando-se a lealdade, a honestidade, o auto-respeito (tribunal interior), a valorização da cultura como base de tudo e do trabalho, em que a inteligência se valoriza e responsabiliza. Assim que, “ao ausentar-se o senhor (proprietário), deu a cada servo uma moeda e, ao retornar, deu mais ao que produziu menos, deu menos responsabilidade”, consoante narrativa evangélica. Isto nos leva ao entendimento de que: ao que mais tem, mais se acrescenta, e ao que nada tem, deste se subtrai. 71
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Partindo do raciocínio inquestionável de que do NADA, nada se retira e, estabelecendo-se relação com a história das “dracmas”, bem como, da valorização daquele que multiplicou a moeda pelo trabalho inteligente, deduzimos ser o que tenha mais capacidade, mais responsabilidade e, consequentemente, aurir os benefícios deste trabalho. Ao que não fez render, a este não se imputa responsabilidade, o que se entende por retirar o que já tem, pela demonstração de incompetência. Superficialmente nos parece a citação do estabelecimento de “classes” mais ou menos beneficiadas, o que em verdade não o é, visto que: “foi posto por administrador sobre dez cidades e não lhe foi dado como propriedade” Lucas, 19:11. Eis, portanto, a valorização do homem pelo que é, não pelo que possui, o que nos diz claramente de substituição do verbo TER pelo SER, valorizando a inteligência e não a posse. A paz começa no estômago e tudo mais a complementa. É natural que isto nos ilumine quanto a uma nova era, em que a Terra será governada pela cultura científica como valor único e não pelas potências econômicas e a manutenção de seus poderosos arsenais atômicos, etc. Nos termos de posse de valores culturais aquisições abstratas) não entra o competitivo para a superação e armazenamento, porque estas aquisições não se desgastam, não acabam quanto mais se doa, mais aumentam. Estas aquisições hão de subtrair os valores materiais concretos e se tornarão na meta útil do existir. O dia em que o homem entender isto, a paz começará no espírito e não no estômago. 72
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Um país não vai à guerra porque seu inimigo possui mais cientistas, mais cultura, maior acervo de progresso advindos desses fatores. Vai sim, pela predominância do estômago, pelo que se compreende, tudo de grosseiro e transitório. Vai sim, porque ainda possui o sentimento bastardo da posse, sob todos os aspectos, “auridos nos princípios da razão em que seu defensivo era motivo de sobrevivência” e do qual ainda não se desfez.
Analisando a parábola Na parábola das dracmas, vemos o cuidado pela multiplicação do acervo alheio e não próprio, refletindo o caráter confiável e não a ganância possessiva, em detrimento de outrem. Vemos que a inteligência no seu padrão evolutivo real, requer honra, dignidade, confluindo para a responsabilidade, porque nasce do foro íntimo, o que fica demonstrado na parábola, pela ausência do Senhor (proprietário). A parábola por força das circunstâncias, nos dá um “proprietário”, todavia, este representa a sociedade do futuro, que será regida pela hierarquia da inteligência esclarecida em termos da razão, da consciência e da responsabilidade. A hierarquia no cômputo evangélico, não confere autoridade disciplinar modelar em códigos penalógicos, mas estrutura-se no ordenativo condutor do desempenho. O grau de inteligência evolutiva, que comporta autodisciplina independente de impositivos exteriores, dispensa os referidos códigos penalógicos. 73
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O Homem será perante si mesmo, um julgando em tribunal íntimo consciencial. O homem auto determinará sua liberdade e direitos em função dos deveres, até o limite onde iniciam os direitos alheios. Eliminamos na parábola o direito de posse, visto que a liberdade aurida pelo servo adveio do bem administrar propriedade não sua, mas segundo o espírito de que constitui a história da sociedade. Isto nos ensina a respeito da inteligência aplicada, a rentabilidade superior ou valores do espírito e não do estômago. Se o Evangelho nos concita a buscar o reino dos céus e dá a transitoriedade como acréscimo, por certo que todas as parábolas devem versar sobre este item, indicando o grosseiro e transitórios como facultantes a alcançar os valores superiores, é somente através daqueles que a humanidade chegará a estes. Na parábola aprendemos que o servo desincumbiu-se de um encargo autoconcebido visto que, como os demais, apenas recebeu a moeda sem que fossem especificados os objetivos na ausência do proprietário. O servo que multiplicou a moeda indica uma capacidade existente, aliada à segurança da ação, sem abrigar a intenção de recompensa, porque ignorava se esta sobreviria. Desde que não portava outro interesse senão a multiplicação, compreendemos a inobjetividade não do rentável exterior, mas do interior, extraindo do ato a felicidade de “viver no próprio ato”. Esta parábola em seu espírito, estabelece estreita conexão com a do “grande julgamento” (Mateus 25:31 a 46) que deve também ser estudada para melhor compreensão de ambas. O Evangelho faz das coisas da Terra, propulsão para as coisas da Terra, não tenhamos a prática num específico sectário religioso, 74
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mas todas as coisas atinentes ao desempenho do homem em qualquer atividade. Esta definição vem valorizar todo ato do homem em função da construção do céu interior por ele mesmo constituído. Segundo a parábola, o servo fez o seu céu íntimo, na alegria da multiplicação do dinheiro, sem auscultar outro interesse com relação a sua pessoa. E quanto a responsabilidade, é o que entendemos por dever social de bem administrar o bem alheio. Tem esta parábola a qualidade especial de enaltecer o trabalho profícuo com indícios ao bem comum, motivado pelo elevado senso de compreensão e responsabilidade e isto só pode acontecer com os que já têm possibilidade de autodeterminação. “Aquele que quiser vir após mim...” (Marcos, 8/;34 a 36). A cruz é no caso a da responsabilidade vertida pela moral individual, independente de qualquer insinuação exterior condicionante, e isto está provado na diferença de SENSO e PROCEDER entre os servos que receberam as moedas.
Fonte de vida íntima Seria conveniente ao homem desvincular-se de sentimentos de: súdito, bajulador, de escravo por excelência, ou galé por princípios, que as religiões afiançam para que sejamos e, partir para a LIBERDADE de consciência como filho, fazendo dos seus atos, quaisquer que sejam, motivos de alegrias, fonte de vida íntima, no momento da ação. 75
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Tendo sempre em mente ser um “relativo criado” por uma Inteligência Superior que sai o que fez, em sua capacidade positiva e limitações negativas. O homem criado, em como o Criador, nada tem de sagrado, santo ou divino. Tudo absolutamente tudo, é no sentido real um fato normal do existir. O Evangelho prima por esclarecer isto em todas as suas parábolas, culminando com a expressão: “adorarão em espírito e verdade...” (João, 4:23) que entende-se como: “compreenderão pela inteligência a realidade dos fatos”, contra os quais não prevalecerão argumentos. Valoriza assim, a cultura, o trabalho, o progresso sobre todos os aspectos, o que o caracteriza como universalista e genérico, nunca sectário e circunscrito, sob qualquer título. Embora os sonhadores transcendentalistas sonhem, o realismo que os contradiz prossegue no seu curso evolutivo, indiferente e independente, rumo aos objetivos pré-determinados pela Inteligência Suprema, para sua criatura. Convém ao homem de bom senso ajustar-se às coisas e não pretender que as coisas se ajustem aos seus conceitos, porque continuará sonhando e perdendo tempo. O homem não é uma marionete no palco da existência, manipulado pelos cordéis do capricho do Criador, mas um ser dotado agora, de razão e consciência que auto evolui, consoante seu estado relativo. Os objetivos da Inteligência Suprema não se prestam a especulações. Uma análise nos levaria à conclusão de que não criou o homem relegando-o ignorante à sua própria sorte, para que errasse e fosse por isso castigado. 76
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Todo ressarcimento e mais precisamente os descritos em seus horrores, desdouraram a supremacia da Inteligência, maculam os reais objetivos da Criação e conduzem o homem à negação de si próprio em termos de personalidade e filho. Toda exposição evangélica é de espírito global, universalista. E mesmo que o discernimento (pelo imperativo de esclarecer) afinese à unidade, não deve ser compreendido por esse prisma, mas sempre em relação ao todo e numa época, para que não venha tornar-se seletivista ou personalista, o que não é possível, em quesitos de evolução. Assim, temos no “servo” disposto e inteligente que multiplicou a moeda naquela época, a inteligência desenvolvida, compreendendo como extrair o espiritual do material, sem tornarse proprietário e sem prejudicar outrem. Esta parábola deve ser estudada em conexão com a “das aves dos céus, que têm seus ninhos” (Lucas, 9:58) e veremos que relacionada com o “servo” ativo, é um paralelo ao estado de consciência de “filho homem que não tem como propriedade, uma pedra sequer”. Dessa época muito distante se apresenta o homem, visto que, a não ser o acúmulo transitório, nada o empolga, motiva ou demove. Ainda que penetrado às coisas espirituais, não foge à voragem do acúmulo aquisitivo exterior, não cogitando se já é “filho do homem” ou permanece no estado consciencial de “raposa” ou “aves dos céus”. A parábola das moedas (dracmas) esclarece de forma sucinta a não individualidade, a inobjetividade e o desapego que o homem 77
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deve ter, quando pela razão e consciência esclarecidas, saiba-se “filho do homem”.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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11.
Realidade
Demonstrando magistral inteligência e profunda compreensão da fragilidade do homem em discernir e compreender o conteúdo oculto nos seus ensinamentos, o Mestre Nazareno sintetizou-os em dois preceitos: “Amarás a Deus sobre tudo e ao próximo como a ti mesmo”. Este procedimento nos autoriza a dizer que toda a sua doutrina gira em torno destes dois únicos preceitos. Se o reencarnacionismo é tido como esclarecedor dos ensinos do Mestre Nazareno, de maneira integral e, não aceitando o salvacionismo mas sim o evolucionismo, obviamente aceitará a síntese por ele exarada que, por encadeamento natural, será também evolucionista. Tanto um quanto outro nos dizem da vida íntima sensorial, cuja apoteose é o amor. Se nos ativermos tão somente à letra, basta amarmos a Deus e ao próximo e será, portanto, o suficiente, sentir o amor a Deus e ao próximo. Será esse o espírito da expressão? Vejamos: um dos ensinamentos nos esclarece de maneira indubitável, que não é o suficiente e, diz mais, que amor é um efeito e não causa, quando se trata do próximo ou no referente a Deus. Tomemos, pois, a parábola do Samaritano. O Samaritano E eis que certo homem, “intérprete da lei”, interpelou o Nazareno, consoante a concepção da época, sobre como herdar a 79
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vida eterna, o que hoje seria viver intimamente, e o Nazareno também em resposta, pergunta: “- O que está escrito na lei? Como interpretas?” (Lucas, 10:25 a 37). Responde o intérprete da Lei: “Amarás o Senhor de todo o teu coração, alma, forças, entendimento e ao próximo como a ti mesmo” . O Mestre então aconselha: “Vai, faze (fazer é realizar) isto e viverás”. “Mas, quem é o meu próximo?” Ante tal interrogação, o Mestre usando sempre a parábola, propõe a do Samaritano, começando por referir-se ao sacerdote que vendo o ferido, passou ao largo e, logo após, o levita, ambos conhecedores da lei, que também faltou com o socorro. Vindo, porém, o Samaritano, homem que, segundo a lei e a religião hebraica, era considerado herege, desligado, portanto, do templo comum e, ao deparar com o homem estendido na estrada, desce da montaria, presta-lhe os primeiros socorros, transporta-o a estalagem, onde paga dois dinares e, assume a responsabilidade de todo tratamento, durante sua ausência. Tomada em sua letra, a parábola não deixa transparecer a profundidade do espírito evolucionista, mas se analisada em suas características hermenêuticas, traduz todo arcabouço da vida de relação humana, traduzindo realmente a evolução do homem, já conseguida. Ocorre-nos uma pergunta: Porque teria o Mestre feito referência a um sacerdote e a um levita, colocando-os em situação desairosa, pela ausência de humanidade? E porque a um herege samaritano, o Mestre exalta como o próximo? Não só esta como todas as parábolas e ensinamentos do Rabi se fundam na dinâmica atuante, espontânea e total. 80
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Está bem claro, portanto, que só o conhecimento de todas as leis e, mesmo a circunstância de ser um sacerdote, ou outro título congênere, não determina no espírito o nascimento do amor ao próximo, menos ainda, nos moldes do samaritano, cujo procedimento adveio de maneira espontânea, sem ter em mente se Deus iria recompensá-lo. Ali estava o próximo, o humano, extravasando de maneira natural a vida interior, de que já se constituía aquele espírito. Viveu, portanto, o ato; ali estava a vida amor, efeito da evolução, no que concerne à sensibilidade, desabrochada pelas reencarnações sucessivas e completamente desligada de qualquer religião, como bem demonstra o próprio fato, ressaltado pelo Nazareno, ao trazer a narrativa, o sacerdote e o levita. Após a diligência motivada pelo imperativo do momento, conta-nos o grande Rabi que o samaritano, demonstrando também desenvoltura intelectual, houve por bem prevenir o futuro, assumindo a responsabilidade até que se completasse o restabelecimento, colocando-o em situação de decidir como criatura válida. Aí está a “dinâmica atuante”, remediando e prevenindo, divorciada de qualquer princípio religioso condicionante e, completamente esquecida dos mesquinhos “lucros espirituais”. É o amor. Ditava evolução, alicerçada no intelecto-sensorial, desenvolvido através do tempo e ordem, fatores únicos. Vemos que a ação em ambos os sentidos, se reveste de características humanas, portanto, de prática comum na vivência diária, no âmbito 81
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da sociedade, por pessoa também anônima, um homem do povo, um samaritano. Se o sacerdote e o levita houvessem procedido de maneira idêntica, teríamos duas conjecturas a considerar. Ou seriam dois evoluídos samaritanos, ou teriam procedido pela imposição da lei, o que bem demonstraria a obediência a conceitos éticos estatuídos, o que os colocaria, distanciados um do outro, porque teriam simplesmente cumprido “ordens”, sem conhecer da vivência sensorial motivada pela espontaneidade do ato. Teríamos o porquê agir e não como agir, sem cogitar do porquê “motivação interesse”. Esta parábola deve ser dividida em dois itens para que tenhamos clareza do seu conteúdo, aos quais denominaremos “Hoje-amanhã”. Convém, antes, esclarecer que a doutrina do Nazareno, ainda que assim as aparências nos digam, não se circunscreve a uma ou grupos de pessoas, é de referência a toda humanidade quer encarnada ou desencarnada. Quando Jesus diz: “Aquele que...”, estabelece o condicional sem limitar quantos, “daqueles que...”. Ainda aqui prevalece a espontaneidade samaritana de maneira sucinta. Ora, só poderá decidir-se a ser “Daqueles que...” uma inteligência desenvolvida, que possa alcançar a magnitude do “ser aquele...”, em função do cooperativismo consciente, natural, espontâneo e despretensioso, como bem demonstra o samaritano. Duas interpretações comportam a parábola: a primeira é a religiosa, e por extensão, espiritismo-religioso, que dizem ser o exemplo de caridade, e a segunda, a que entende os ensinos do 82
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Nazareno em seus princípios reais, ser apenas atitude humana natural de caráter social fraterno. A primeira dá como atitude básica ou causa da evolução, o samaritanismo caridoso e, a segunda tem como simples efeito da evolução, porque não busca como a primeira, através do próximo, mas vive-a no exemplo citado pelo Mestre. Como evoluir para chegarmos ao samaritano? A pergunta demanda outra, para poder ser respondida: - A evolução é individual ou coletiva? Antes de responder, devemos pensar e definir o que seja evolução. Para tanto, temos que penetrar no terreno do princípio do espírito, que nos conduzirá para a lógica de que, sendo o Criador perfeito, só poderia originar o perfeito. Perfeito entende-se por completo em todos os sentidos, ou seja, intelecto-sensitivo, já portador da inteligência e sensibilidade em grau máximo permissível ao eterno relativo que somos. Todavia, pelo processo amnésico descendido, torna-se todo esse cabedal incubado, até que o espírito atinja a gradação mínima sensitiva e intelectual, partindo daí, agora pelo progressivo e retornando ao máximo, em que permanecerá eternamente. A evolução é o despertar das faculdades inerentes e constitutivas do espírito desde sua origem. Em sua origem o espírito é, portanto, a inteligência e sensibilidade perfeitas, mas, que não tem conhecimento, que ignora as leis universais criadoras e regentes de toda a natureza e, exatamente pelos processos reencarnatórios nos quais, pelo labor, a princípio rudimentar e em planetas ainda agressivos com o habitat também rudimentar, vai suplantando as necessidades, 83
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sempre em sentido ascendente e gradativo, o que, pelo contínuo exercício, vai despertando o potencial intelectual para o campo consciencial racional e, através do conhecimento das leis (processo científico evolutivo), vai compreendendo a grandeza do Criador. Por essa compreensão advém a sensibilidade. Só pode em realidade emocionar-se ante a grandeza de um evento, aquele que o compreende em toda a sua extensão, e que traduz a linguagem espiritual com que se expressa Daí a importância do desabrochar do intelecto pela cultura e labor. Devemos conhecer que um espírito é uma unidade da facção da humanidade, que há bilhões de milênios, agregou-se a determinado planeta (digamos a Terra) e, após bilhões de séculos de vida comunal, em estado cônscio-elementar, foi evoluindo até o período cônscio-base-homem começando a etapa da consolidação da consciência-razão-emotividade, e será até o limite máximo que deverá alcançar toda esta parcela da família humana pertencente ao planeta. Dentro desse limite impera o livre-arbítrio individual; quanto mais avançado estiver o espírito, maior responsabilidade assume para com os demais. Não podendo em hipótese alguma, desligar-se dessa família, torna-se condutor (missionário intelectual) político de idéias sociais retificadoras avançadas, luta por ideais de liberdade, cultura, educação, porque só promovendo esse avanço total, poderá alçar-se com o conjunto, para unir-se a famílias milhões de vezes maiores, e iniciar nova etapa evolutiva no círculo conjuntivo. Só dentro dele é que se entende a evolução individual visto que, se fosse dado ao espírito a possibilidade da evolução unitária, teríamos limitado o amor ao próximo até o termo em que 84
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o extremo evolutivo permitisse a relação entre ele e o encarnado, relegando-os, posteriormente, à sua própria sorte. Temos ainda a considerar, que há bem pouco, a humanidade terrena iniciou a etapa-cônscio-racional evolutiva, não oferecendo campo intelectual, sensorial em magnitude que permita a um só e único espírito, completar o ciclo evolutivo básico, que admitiria o início de mais avançados. Não entendamos uma família humana, agregada a um orbe como isolada das demais, no sentido exato mas, por força da diferenciação evolutiva, quando a relação comum, tangível, ou a convivência torna-se impossível e, só ao atingir o grau de evolução requerido, se somará aos milhões de outras. Todavia, de um círculo evolutivo imediatamente superior, deslocam-se instrutores, penetrando no âmbito imediatamente inferior, até onde lhes seja possível suportar o campo magnético vibracional, entram em contato com os mais evoluídos do planeta que já gozam de maior liberdade de afastamento da crosta, onde o referido campo é menos denso, e estes colhem daqueles, ensinamentos das mais variadas ordens, até os limites do seu entendimento. Por sua vez, quando encarnados retransmitem à sociedade, quer em termos de ciência, cultura, legislação e os concretizam em benefícios pelos chamados inventos e outras utilidades. Assim também procedem quando desencarnados ensinando-os na carne e, aos da erraticidade. É claro, e a história da ciência e, mesmo da evolução social comprova, que nenhuma realização vem através de um ser único e, de maneira completa, porque compete ao próprio homem o trabalho de assimilação, dedução, experimento e concretização. 85
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Desde que se complete este processamento, ser-lhe-á fornecida a mais avançada e, unida às demais , vai se aperfeiçoando (evoluindo) isto, em todos os campos da atividade humana, no tempo-espaço-ordem. Onde o mérito da evolução? Respondo: “Muito será pedido a quem muito foi dado” (basta raciocinar). Em termos claros, a evolução do espírito concerne em: pelo esforço racional, entender e assimilar as leis universais e manuseálas em termos construtivos, visando manter a harmonia do universo, cujo procedimento lhe acionará a via emo-sensorial, a que chamamos felicidade e outros. A ação do samaritano teve como objetivo harmonizar a situação do próximo, e como consequência, a resposta do Mestre: “Vai, faze o mesmo e viverás...”. Só quando o espírito penetra pela evolução o “espírito das coisas”, ou seja, no limiar da verdade onde se inicia a verdadeira personalidade abstrata, independente da forma, passa a gozar da liberdade relativa das injunções tempo-ordem, para ver, tomar consciência, raciocinar, deduzir e experimentar. O espírito interpenetra e convive com a essência das coisas, aurindo a sensibilidade das mesmas, compreendendo-as agora, pela causa das leis e não mais pelos seus efeitos. Teremos entrado no amor a Deus, porque nossa compreensão paira acima de todas as coisas, cujo espírito interpenetramos e sentimos que, ainda e sempre, é um efeito da lei suprema ou o espírito supremo. Estaremos por nossa compreensão-sensibilidade amando-o em espírito e verdade. Limitar a evolução até o estado angelical é limitar Deus através de sua obra. 86
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Silenciar quando ignoramos é sensatez. O proceder em termos samaritanos é o amanhã, em conseqüência do hoje, sendo que o hoje é apenas o labor e cultura evolucionando para compreender que o gesto do samaritano é gozar, já no próprio ato, a emotividade pura, a alegria de bem servir ao Criador e Pai na pessoa do seu próximo, desconhecendo das vantagens futuras, sem o calculismo caridoso do “dando que recebemos”. Em última análise inquirimos: Fazemos em função do amor em que já vivemos, ou usamos nosso próximo como mero instrumento de nossa evolução? Se o amor é a apoteose da vida interior, é uma tangente a Deus, só poderá vivê-lo quem já o é. Temos que um samaritano é a conseqüência da evolução, e que a caridade, em termos místicos, distancia-se e muito dessa verdade. Temos ainda que, a evolução não tem como causa a caridade-esmola, pela qual o homem pretende usufruir da miséria material e moral de outro, a sua própria emancipação espiritual. É no dizer de Saulo de Tarso (que não deve ser confundido com o dizer do Mestre Nazareno como tem acontecido), superior a todo ato material que não conduz a nada. Seria de bom alvitre que começássemos a entender, que toda ação material entra para o campo da obrigação fraterna, visando dignificar a pessoa humana, tornando-a útil e responsável como componente ativo e operoso da sociedade, para a qual concorre com os deveres e obrigações, do que decorrem seus direitos. É claro que num clima intelectualmente evoluído, o homem passe a cogitar dos valores e objetivos superiores da vida ou seja, a transcendência das coisas que o rodeiam e, só então, estará em rumo certo na “busca da verdade”. 87
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Estará construída a casa sobre a rocha.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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12.
Relacionamento
Ao analisarmos os ensinamentos do Nazareno, podemos sentir-lhe a inteligência extraordinária, visto que, constrangido por um lado pela política romana de férrea dominação, e por outro, pela intransigência ortodoxa do templo, além da escassa cultura do povo, houve por bem desincumbir-se da missão que lhe fora confiada, envolvendo a pérola da verdade na ostra da parábola, e predizendo que dependeria de tempo e condições para que os mesmos fossem entendidos e passassem a dar os frutos objetivados, no dizer místico, necessário para a época quando o homem tiver “olhos de ver e ouvidos de ouvir”. O Evangelho é, na sua parte essencial, vazado no subjetivo envolvendo o objetivo (parábolas). Ao que o entende na simplicidade do seu realismo, pode-se dizer que, até o presente, tem sido difundido tomando o subjetivo como pressuposto objetivo, o que não suporta uma análise à luz da razão e da própria sociologia pura. Tem como base elementar a disciplinação da unidade e, pela vida de relação, a disciplinação do todo que, uma vez alcançada, nos dará a dignificação da pessoa humana em termos de cultura e moral. É tudo. Propõe, em relação à disciplina da unidade, o “exercício constante” da virtude básica que é a compreensão da “falibilidade do nosso semelhante”. É básico porque gera a tolerância, um dos estágios precedentes do amor. Tolerância e concordância operante-educativa, vazada no exemplo da cooperação inteligente, sem humilhar. Tolerância que transige com a ignorância, mas não a 89
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relega à sua própria sorte, e tal proceder, em contínuo, forma o hábito que, dentro dos fatores tempo-ordem, passa a constituir o íntimo-ser. Propõe a continência aos exageros, inclusive dos prazeres biológicos desgastantes. O Evangelho aconselha o exercício diuturno na retificação das distorções de ordem moral, visando conscientizar a criatura em relação ao respeito à sua própria pessoa, pela valorização da dignidade “in solo”, ou seja, independente de injunções externas, o que dará ao homem sentir o valor da liberdade íntima que é: ser porque quer ser; que respeita pelos ditames da consciência e não que obedece pelo imperativo das conseqüências. Não traz proposituras que ultrapassam as possibilidades humanas, porque foi trazido ao homem para que por ele fosse posto em prática, e esclarece que o tempo gasto com preocupações pueris é roubado ao processo educacional. “Não estejais preocupados com o que haveis de comer ou beber”. Não exorta à preguiça ou à irresponsabilidade, mas deixa claro que quando fala o ventre, silencia a mente. Quando fala do céu, estabelece o estado interior, conseqüência desse mesmo auto-processamento evolutivo. O Evangelho dá à vida associativa extraordinário valor, como oportunidade de adestramento e consolidação disciplinar, tendente a desabrochar a sensibilidade positiva superior, a qual coloca um dos mais simples atos humanitários como de relevante importância, ainda que este ato seja dar um copo de água. Fugindo ao evasivo das parábolas, no que toca ao fim precípuo dos seus ensinos, diz agora de maneira clara, que o céu e o inferno 90
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estão dentro do homem, o que não deixa margem a interpretações condicionais ou tendenciosas. O Evangelho é sobremodo explícito quanto à lei de ação e reação, determinando que a reação seja diretamente proporcional e imediata à ação. À guisa de comentário: “Ainda que seja um copo de água”. Ora, se mitigamos a sede do nosso semelhante, somente porque tem sede, estamos circunscritos ao imperativo do momento ou ao fato em si, o que equivale dizer que estamos vivendo o ato como se fôssemos o sedento. Ao sentirmos na satisfação do próprio dessedentado a nossa própria satisfação, consolida-se a lei de ação e reação, diretamente proporcional e imediata à ação. Isto pelo que compreendemos dentro do verídico evangélico, constitui o despertar e viver o céu interior, automotivado, que esclarece que e o que “cada um recebe segundo suas obras”. Trata-se de aquisições íntimo-abstratas, que não permitem reações de efeitos retardados ou por armazenamento, pois quem ama, ama enquanto perdurar o objeto motivador dessa reação, acionando a razão. Ama agora, hoje, aqui. Quem odeia vive o ódio em paridade de condições ao que ama. Vemos, assim, que o homem é um auto-evoluto, independente de fatores externos de qualquer espécie, longe de aquisições exteriores independentes de outrem. Convém dizer que o espírito, na erraticidade, é o mesmo homem-espírito quando encarnado e que o Criador do espaço é o mesmo que criou a Terra. Sabemos ainda, que os efeitos da vida sensitiva de uma unidade é conquista pessoal e, como tal, intransferível e inalienável, visto que é simplesmente impossível 91
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transmitirmos em concreto a nossa paz, a alegria, a tristeza, etc., porque são componentes próprios de cada espírito. Ainda ouvimos do nosso Mestre, que só importam os tesouros do céu, e se o céu é o espírito segundo seu estado, tudo que conquistar lhe será como tesouro, onde inclui-se, sem favor, os de ordem intelectual, que jamais se desvinculam do ser, tornando-se dele parte inerente ou componente. O Evangelho, este magnífico compêndio evoluto-promotor, é absolutamente independente em todos os seus sentidos, o que determina o divórcio de conceitos místicos ou místicos-sectários condicionantes e que não se estrutura na hediondez do “crime e castigo”, da subserviência-recompensa, ainda que velados na transitoriedade: “O Espírito é o que é, esteja onde estiver”, aurindo do ambiente segundo a sua sensibilidade. Vemos que o próprio Evangelho estriba-se unicamente no convite, no que concerne à realidade prática e jamais coage. Com relação à tão assoberbada “Justiça Divina”, basta que nos reportemos a esta pérola indescritível de exemplo de compreensão da fragilidade humana, consubstanciada no célebre diálogo de Jesus: “... Mulher, onde estão os teus acusadores? Eu também não te condeno... Vai e não peques mais, para que a justiça dos homens, que não entendem a compreensão do Criador para com a sua própria criatura, não te justiciem segundo seu entendimento de justiça”. Existe algo mais a acrescentar?
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica) 92
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -A ordem das coisas
13.
A ordem das coisas
Sendo a reencarnação o fundamento da trajetória evolutiva da humanidade e segundo os profitentes da mesma, esclarecedora do conteúdo hermenêutico dos ensinamentos do Nazareno em moldes raciocinados, portanto científicos, temos por conseqüência que os mesmos serão essencialmente evolucionistas. Ao dizermos, da reencarnação e evolução, devemos ter a cautela de não colocálas em conflito com a essência evolutiva de tais ensinamentos, permitindo que princípios formativos da nossa concepção religiosa ou filosófica interfiram de maneira a torcer ou convencionar a lógica, não vindo a constituir um sistema sectário, de per si inócuo, por ser confuso. É preciso fazer com que o reencarnacionista encontre na doutrina e não no homem Jesus, o “caminho, verdade e vida” e que, seguindo essa doutrina em busca da verdade nela contida, pela compreensão e ação, chegue à tão almejada liberdade, objetivo da própria vida sócio-cultural moralizante para o que se faz justa a anteposição da escola ao templo. A doutrina nos responsabiliza pela busca da verdade indicando o caminho que são os seus preceitos dentro dos normativos sócio-culturaismoralizantes. No evangelho, dentre procedimentos tidos hoje como naturais e humanos, encontram-se ensinamentos relativos ao comportamento apostolar, condizentes com a época e parábolas profundamente sócio-evolucionistas, relacionadas a toda
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humanidade e não ao indivíduo, estando por princípio desassociado da mística religiosa sectária. Não sendo o Nazareno um circunscrito, mas evolutouniversalista, jamais concordaria com que os conceitos por ele exarados viessem a receber a estreiteza de uma denominação como sói ser o cristianismo. Temos, pois, uma concepção puramente humana e fracionária. Os ensinamentos nazarênicos constituem os fundamentos da mais elevada ciência evolutiva do homem na Terra e como tal, quando não intencionalmente deturpada, dificilmente será compreendida no seu lacto teor, por mentes ainda que cultas, sujeitas à influência místico-religiosa, embora reencarnacionistas. Não bastasse esse obstáculo, eis que vem surgindo uma legenda mais circunscrita e mais mística como seja, “espiritismo-cristão”, que não tem a sanção da humanidade desencarnada, consciente e responsável. Vale ressaltar que a manifestação da parte desencarnada desta mesma parcela da humanidade agregada à Terra, nada mais visa senão a conjunção de esforços para que o processo evolutivo não venha sofrer, como tem acontecido no transcurso do tempo, uma oscilação negativa, equivalente a uma solução de continuidade promovida por interesses também negativos, quer políticos, religiosos ou humanos. Enquanto persistir a teimosia infantil do homem em erigir templos, promover cultos, insuflar em mentes submissas a vaidade da evolução individual em detrimento da cultura e moralização do todo, fundamentos da sociedade cooperativista consciente 94
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espontânea, o que vale dizer fraterna, estará retardando seu próprio progresso. O que não se faz pela inteligência, pela espada se faz. Assim sendo, terá que continuar pagando o elevado preço dos eventos históricos, em lutas renhidas na busca da condição de SER para evoluir. Como o único testemunho vivo e real da evolução do homem é a sua própria história, o quadro que nos apresenta em nada contradiz o exposto. Cumpre, pois, entender que o manifesto do extra-corpóreo, extravasa os limites das denominações; é independente, amístico, fundamentalmente universal, evolucionário e científico cultural. Para que fique bem claro, reportemo-nos ao próprio Evangelho, à mulher samaritana e aí começa a fraternidade universal, que é complementada: “virão do oriente e do ocidente...”. Pelo mesmo princípio, visando os mesmos objetivos de confraternização universal, geratriz da liberdade, base da evolução que foge ao divisionário evoluto convencional. O que não deve continuar no seio reencarnacionista é a ausência de princípios sócio-culturais-evolucionistas para que o esforço do mundo extra-corpóreo possa encontrar ressonância no corpóreo. Urge, pois, a união em torno dos princípios racionais e realistas hoje, agora, aqui. EDUCAR ANTES, EVANGELIZAR DEPOIS. Terá então o Espiritismo iniciado a gigantesca tarefa que lhe cabe na face da Terra. 95
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -A ordem das coisas
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Parábolas
14.
Parábolas
O contexto fundamental de literatura é falar pelas letras e falar é exteriorizar uma idéia, esclarecer um fato, indicar uma metodologia ou ainda, um processo útil. A forma, o estilo, a maneira de expor os motivos é que constituem a imagem do que desejamos projetar. Em literatura admite-se na forma, estilo ou maneira a abstração, desde que nesta subexista uma “chave” que permita ao raciocínio analítico encontrar a imagem síntese. Se por imperativos eventuais esta for fragmentada, poderá acontecer na exposição abstrata, uma aparente contradição e até completa desvinculação que venha dificultar a necessária conexão para que seja completada. Não raro, estes fragmentos nos induzem a uma ausência de cronologia, o que dificulta mais a composição da imagem síntese. Este argumento é uma característica do chamado “Novo Testamento”, composto de quatro Evangelhos ou descrições reproduzidas na forma original de dizer dos expositores e que era de uso comum, mesmo antes dos evangelistas. A maneira de exteriorizar idéias por “parábolas” tinha como motivo não ferir conceitos e crenças fugindo assim, ao conflito de resultados negativos e desnecessários, bem como das sanções e penalógicos aplicados pela influência do templo. Em se tratando do “Novo Testamento” cuja imagem síntese é um tratado de sociologia e política evolucitária de prática função e resultados diametralmente opostos ao vigente na época, nada mais 97
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inteligente do que o método desenvolvido com profunda agudez e sutileza pelo autor, Jesus. A obra que se fundamenta numa filosofia sociológica profundamente “revolucionária” confunde pela forma de superfície os espíritos menos críticos, que não se detêm nas minúcias dentre as quais situam-se as “chaves” do pseudo-enigma. Estas, as “chaves”, podem se constituir de uma frase, de um capítulo, bem como a “moral da história”, “parábola” ou alegoria engendrada em consonância à cultura e possibilidade da época que sempre se referem ao “dia-a-dia”, bem como aos hábitos do povo sob os ditames do férreo Mosaismo. Para avaliarmos o que seria na época a força e o império dessa influência, basta atentar para o fato de que o povo judeu, embora não tivesse um espaço físico como pátria, manteve e mantém ainda, embora no presente possua sua “terra”, uma pátria moral, espiritual, social, indivisível e coesa sob todos os pontos e fatores. O judaísmo resistiu a todos os obstáculos de ordem material e moral superando-os no tempo e no espaço. A um judeu rebelde estavam reservadas, naquele tempo, as sanções de que não deixam dúvidas a crucificação do grande Mestre Nazareno, ainda que fosse fruto da trama política entre o Sinédrio e Roma, quando a sua pregação começou a ser compreendida pelos intelectuais da época. O grande Mestre se declara judeu, “Eu vim cumprir a lei” e não contradizê-la, e o confirma: “ide primeiro à casa de Israel “, está entre as múltiplas inteligências que se puseram em relevo em todos os tempos. Não podia deixar de proceder em seus dizeres de acordo com sua capacidade, de onde a sutileza das parábolas, 98
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envolvendo o tema central, ou a imagem síntese, compreendida como “UM TRATADO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA EVOLUCITÁRIAS”, de possível desenvolvimento e consolidação pelo homem na sociedade. A agudez da inteligência desse Mestre, avançada muitos milênios à sua época, é revelada no que de profundo tem de concerto com o manual de auto-disciplina que as “parábolas” constituem e o retalho da imagem síntese nelas inseridas. O referido tratado não só diz respeito à sociedade como propõe uma total e absoluta inversão de conceito e prática de ação social, partindo do princípio lógico e fundamental que possibilite tal inversão, que é a completa libertação da crendice limitadora submetente e condicionante. Esclarece e prova que o relacionamento CRIADOR-CRIATURA é de plena e absoluta liberdade, e que daquele não provém qualquer tipo de sanção justicialista sobre o homem, em termos de JUSTIÇA APLICADA. Na maioria das “parábolas” os temas se conjugam e entre elas estão em relevo a do “Grande Julgamento”1, a da “Mulher Adúltera”2 e a do “Filho Pródigo”3. Se tomarmos a parábola, “história”, em análise superficial, ou seja, como parábola mesmo e pretendermos tirar dela conclusões racionais, chegaremos na primeira ao elitismo, ao separativismo grupal, com desdouro à inteligência suprema, no que tange à compreensão da fragilidade de sua própria obra e o universalismo do Evangelho. 1 “O grande julgamento” – Mateus: Cap. 25, 31-46. 2 “A mulher adúltera” – João: Cap. 8, 1-11. 3 “O filho pródigo” – Lucas: Cap. 15, 11-32.
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Na segunda, se permanecermos no mesmo senso dedutivo, teremos no Mestre que veio cumprir a lei, um contraventor endossando um crime previsto em código. Na terceira, pelo óbvio, injustiça, parcialidade. As três parábolas nos oferecem a “chave” do enigma contido em profundidade, na “moral da história” e constituem a base de toda a filosofia social deixada pelo Mestre. A primeira, a parábola “O grande julgamento”, diz da ação social entendida em seus únicos objetivos que é a própria ação, em termos de relacionamento e realizações. A segunda, a parábola “A mulher adúltera”, diz do mais elevado senso de justiça cabível na sociedade, que parte da análise da criatura em seus componentes psíquicos, culturais e situacionais, propondo o educativo, o retificativo, considerando-se inclusive os genéticos e os eventuais desequilíbrios. Nisto compreende-se a cultura, a condição social e a orgâno-funcional, além dos psicológicos promotores, não raras vezes como válvula de escape de complexos ou condições de vivência. A terceira, a parábola “O filho pródigo”, nos revela a ausência de protecionismo, elitismo ou parcialidade, pois que não granjeia privilégio perante a suprema inteligência, como tampouco demérito para qualquer ação do homem dentro da sociedade. O homem dispõe do “livre-arbítrio” sob todos os pontos imagináveis, e se de sua ação lhe sobrevier desconforto, nada lhe impede a luta para a reconquista do seu bem estar. Os proventos são em ordem direta e proporcionais, e que nada é acrescido por mérito ou interferência da Suprema. Toda ação dinamiza uma 100
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reação direta e proporcional, qualitativa e quantitativa no momento. O grande Mestre não vê o homem em relação à lei mas vê a lei em relação àquele, o que entende-se que não parte do fato, mas dos fatores e, mais profundamente, dos constitutivos envolventes, que permitem uma RAZÃO PESSOAL ALEGADA. A filosofia do grande Mestre não caracteriza a ação do homem como AÇÃO COMUMENTE ENTENDIDA, mas, sim, no lato verificável, que é a REAÇÃO A UMA AÇÃO CONCITANTE. Assim, o suicida é uma vítima reacionária a uma causa determinante. Por que falar por parábolas demonstra inteligência? Esclarecemos que os fatores básicos foram: ascendência religiosa e legislação social. Todavia outro motivo comprovado é a desenvoltura intelectual do Mestre. Pelas parábolas eivadas de prometimentos necessários à imaturidade do homem da época e do presente, que nada faz sem visos a um rentável, incentivo e motivação únicos, houve por bem o Mestre, na contingência de dar aos seus ensinamentos a feição de idealismo, firmar-se em algo de mais caro e desejável aos que o ouviam que, via de regra, eram pobres, famintos, injustiçados. Nada mais acertado, portanto, que fazer das parábolas o reflexo da imagem síntese, embora em cores idealísticas fulgurantes, que pudesse inflamar os ânimos levando seus profitentes até ao martírio, se necessário fosse, em defesa do ideal abraçado, e a história o confirma. Dizer ao injustiçado que “serão bem-aventurados os que de justiça têm fome e sede” surtiu o efeito desejado não só na época, 101
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mas também estendeu-se a toda gama de iguais. Hoje, a convulsão social do menos em busca do mais, caracteriza o retorno, dentro da realidade, da síntese incutida nas “parábolas históricas”, o que para a mente livre que estabelece analogia entre fatos, entenderá o retorno predito pelo grande Mestre que, como em todas as outras ocasiões, não são referências pessoais mas a épocas, seus eventos e à consolidação de sua filosofia social. Não menor demonstração de extraordinária inteligência de Jesus, as parábolas se constituírem, ao mesmo tempo, em manual de auto-disciplina e idealismo. O idealismo é antes de tudo a disciplina que o conduz. Toda propositura que não ofereça através da análise séria e objetiva, concerto axiomático com a realidade social do homem no tempo e história, deixa muito a desejar como idealismo, doutrina, filosofia ou ciência, para ostrificar-se no unilateral que, pela psicologia sugestiva, explora os extremos sensitivos dos incautos de boa fé, mesmo que sejam letrados, dos ignorantes por base e dos mendigos como elementos de sua consolidação parasitária na sociedade. Vemos, portanto, que para a inteligência analítica de mente livre, os quatro Evangelhos que compõem o chamado NOVO TESTAMENTO, são perfeitos e completos como tratado de evolução do ser humano, pelo menos o existente e conhecido na Terra, dispensando qualquer extrato explicativo ou complementar. Toda verdade cabível no estágio reencarnatório de que a Terra é um segmento ainda que elementar, está nele contida e a sinceridade e honestidade do Mestre mandam que a busquemos. 102
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Ela é a única verdade que marchará em paralelo à ciência social, assimilando e usufruindo os resultados das demais de acordo com o que é desenvolvido em cada época. A ciência do Mestre no intrínseco valor evolutivo, não permite CAPITALIZAÇÃO, não entra a economia do acúmulo espiritual de usufruto posterior, mas diz ao idealista que SEJA e VIVA no hoje em função do seu semelhante em que nivelar-se-ão os idealistas posteriores, não procurando somente seus próprios benefícios, mas do todo. Se entendidos os ensinamentos pela superfície, temos de fato o aceno a um rentável, mas em obediência aos reclamos do Mestre, se buscarmos a essência condicionada de permeio a essa fantasia, encontraremos o senso formativo, e não o aquisitivo. “SEDE BONS COMO BOM É O VOSSO PAI QUE ESTÁ NOS CÉUS”. A base do ideal do Mestre é a ação: FAÇA A OUTREM. A metodologia filosófica é a igualdade: NA MEDIDA EXATA DAQUILO QUE PARA VÓS O DESEJARDES. A imagem síntese é a culminância desta igualdade, que só então dará ensejo à condição de reciprocidade necessária ao “AMAI-VOS UNS AOS OUTROS”. A metodologia que deve nortear a análise das parábolas é em primeiro plano o universalismo; em segundo, que nenhuma referência, mesmo ao Mestre, é individual, mas sim coletiva, em épocas; em terceiro, que uma palavra, uma frase pode deslindar o conteúdo; e por último, a intenção do envolvido desde que abalizado no realismo social, não só outrora, como também no presente. 103
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Parábolas
Imprescindível, porém, é a ausência literal de idéias pré concebidas, motivadas pelo formativo de qualquer jaez, filosófico ou religioso. Do contrário, será um empecilho intransponível à verdade. Falamos a evolucionistas convictos. Irmão Lúcio (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Análise da Doutrina Espírita no Brasil
15.
Análise da Doutrina Espírita no Brasil
Desde a sua introdução no Brasil, a Doutrina Espírita tem aumentado consideravelmente o número de seus profitentes e praticantes e, obviamente, refletindo na multiplicação dos centros, instituições diversas, sedes oficiais, etc. A Doutrina Espírita hoje, já conta com adeptos nos diferentes níveis sociais trazendo com isso, maiores responsabilidades na divulgação e sustentação dos seus ditames. Hoje, no panorama mundial, podemos assinalar outro fato que deve despertar o interesse dos estudiosos do assunto, o surgimento de um grande número de novas doutrinas e seitas. Em algumas prevalece acentuado misticismo e em outras, um conteúdo doutrinário um tanto esdrúxulo com tendências ao fanatismo. Nas grandes potências surgem pregadores bíblicos dispondo de um forte poderio financeiro e utilizando-se dos meios mais modernos e sofisticados de comunicação, intercalando pregações com verdadeiros “shows” musicais de riqueza e colorido deslumbrantes. Por toda parte pontificam lideranças religiosas carismáticas, usando e abusando de ingenuidade da grande parte da população. Não sendo, porém, nosso intuito a análise e a pesquisa das causas ou da geratriz desses acontecimentos, fazemos aqui apenas o registro do observado, deixando aos especialistas e estudiosos da matéria os encargos de uma avaliação séria e confiável. É bem verdade que, por outro lado, não podemos ignorar o que está ocorrendo no seio de muitas denominadas religiões 105
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tradicionais onde surgem divergências de vários graus, desde o desejo de renovação, de atualização, da revisão de postulados doutrinários, até mesmo a insatisfação incontida de muitos adeptos, sobre os quais ocorre uma nítida perda de influência. Numa visão mais abrangente, temos porém que admitir a verdade histórica de que o homem vai, aos poucos, libertando-se das injunções e dos condicionamentos que exercem acentuada influência no seu comportamento. As variações que se verificam no procedimento social, cultural, econômico e até político atestam esse fato. Naturalmente que são muitos os fatores determinantes dos quais, sem dúvida, é marcante a influência do avanço científico e conquistas tecnológicas decorrentes. Influenciando diretamente no homem, despertam novas indagações que exigem respostas convincentes, sem sofismas e alicerçadas em bases sólidas e comprovadas. É dentro desse quadro, ainda que precariamente esboçado, que devemos analisar a Doutrina Espírita no Brasil, a qual terá sempre que ser estudada considerando-se a formação étnica, cultural e histórica do povo brasileiro com forte influência de raízes místicas e religiosas. Não obedece a uma diretriz única e diversificase em sua conduta doutrinária, práticas e cultos. Muitas divergências são de ordem superficial e estão mais ligadas ao ritualismo, que apesar de condenado por Kardec existe e prolifera. Há, contudo, outras divergências mais sérias, mais profundas, porquanto atingem a essência doutrinária. Os órgãos oficiais da doutrina buscam reduzir suas dimensões e influências geradoras de desentendimentos, antagonismo à semelhança de um cisma. A tão 106
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propalada “unidade” é utopia, apesar da propaganda em contrário dos órgãos oficiais de comunicação espírita. Para que a doutrina seja fortalecida será sempre necessário o exercício do debate, do diálogo democrático e a livre expressão do pensamento, em congressos, seminários, encontros, reuniões, etc. Há que se evitar nos debates e explanações, os temas já exaustivamente discutidos desde há mais de um século, numa repetição monótona, inconcebível numa doutrina reencarnacionista com visos à evolução. No campo do intercâmbio mediúnico corpóreo-incorpóreo, essas falhas são mais acentuadas e evidentes. A maior parte dessas comunicações constitui-se de mensagens dúlcidas, messiânicas, salvacionistas, religiosas, numa repetição cansativa e obstinada sobre os mesmos temas. São mensagens que jorram abundantemente num proselitismo infantil que nada acrescentam às esferas do intelecto. Outro fator negativo é a produção de uma literatura medíocre, de conceituações vazias de conteúdo, ainda que se constitua de sucesso na sua comercialização face à precariedade intelectual de grande parte do mercado consumidor. A “busca da verdade” aconselhada pelo Mestre Nazareno jamais poderá ser alcançada através dessa pseudo-literatura condicionante e modeladora, ainda que não seja degeneradora. As comunicações resultantes do intercâmbio corpóreoincorpóreo devem revestir-se de maior seriedade e profundidade, objetivando assuntos mais elevados e esclarecedores, sem a preocupação do proselitismo, do evangelismo superficial e dos prometimentos. 107
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Dia chegará em que este intercâmbio e até mesmo a convivência entre os dois planos terão caráter normal, simples, sem essa necessidade de paranormalidade mediúnica, sem o ritualismo das mesas brancas e luzes apagadas. O espírito-homem (desencarnado) e o homem-espírito (encarnado) são apenas estados transitórios nos quais o único diferencial é o corpo, o somático, porquanto os interesses são comuns. Não deve prevalecer a aceitação “a priori” do exarado do espaço sem passar pelo crivo de uma análise racional. A tão decantada “fé raciocinada” não pode ser substituída pelo “amém”, que tudo aceita sem questionar. Muito embora, em alguns casos a mecânica mediúnica seja autêntica, isto não confere foros de veracidade ao recebido da erraticidade, ainda que através de médiuns idolatrados e até santificados por muitos e de projeção no mundo espírita. A análise deve ser criteriosa, neutra, devendo-se levar em conta que nesse processo de comunicação, predomina de forma indiscutível a “lei da afinidade”. No dizer do nosso irmão Anthero “muitas comunicações advindas do espaço trazem ainda o cheiro da batina”. O desencarne não dá a ninguém o saber e muito menos a sabedoria. As concepções cultivadas aqui continuam a prevalecer do lado de lá. O próprio Kardec aconselhava a aceitação do recebido somente “a posteriori”, o que, infelizmente, nem sempre é seguido. 108
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Hoje, felizmente, já existe um grupo de espíritas que busca novos horizontes dentro da doutrina. Não faz a crítica pela crítica e não se constitui em movimento de rebeldia, antes, de libertação. Esses espíritas buscam respostas mais concretas às questões fundamentais afim de atualizar a doutrina de maneira patente face às necessidades do hoje e não poderia ser de outra maneira. Se “a evolução obedece a um critério ordenativo inflexível” (Anthero), nada conseguirá deter sua marcha ascendente. Não serão as ações e as leis dos homens que irão suplantar os objetivos do Criador. Tudo é apenas uma questão de tempo, nada mais. O aflorar dos conhecimentos (evolução) obedece a um planejamento de ordem superior no qual até as minúcias são consideradas “...até os fios do seu cabelo estão contados”, “onde não prevalece o determinismo, mas uma lei lógica e material” (Anthero). O Mestre Jesus deu início à “era da inteligência” para iluminar os caminhos da humanidade submetida ao circunscrito místico – deusístico de interesse das minorias religiosas dominantes que, através da ameaça, dos castigos, ressarcimentos e provas, mantém a escravização mental do homem. Por outro lado, elas abusam da mentira dos céus e núcleos celestiais para a subserviência dos profitentes. A esse conjunto de estultices denominam “justiça divina”, numa afronta à bondade e à inteligência do próprio Criador. O registro da história da humanidade está eivado de eventos que demonstram de maneira real, patente, que é pela cultura, pela ciência em todos os seus campos de atuação, pela valorização do trabalho, pelo esforço contínuo, pela dedicação, pelo desprendimento, pela cooperação sem fronteiras, que o homem 109
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vem superando os obstáculos e as dificuldades que encontra na construção da “rocha” com alicerce para seu avanço evolutivo. Não foi, não é e não será através das religiões, das rezas, dos cultos e das práticas adoracionistas que a humanidade se evoluirá. A humanidade terrena atingirá a “mansuetude” quando esta parcela (encarnada e desencarnada) circunscrita ao estágio reencarnatório do planeta, tiver consolidado no seu todo (a evolução é coletiva) o completo acervo de cultura, saber e sua resultante em sensibilidade pré-estabelecida para o orbe e passar a “conviver em perfeita compreensão, tolerância e cooperação, muito embora não seja este ainda o estágio máximo da evolução e do amor”. O amor na sua essência será alcançado pelo espírito após bilênios de vidas sucessivas em planetas de graus evolutivos ascendentes e, após a desvinculação do círculo reencarnatório, quando então passará a “ser” em vivência íntima (“Eu tenho vida em mim mesmo” – Jesus). A “herança da Terra não é o final da evolução, mas apenas a conclusão de uma etapa”, (“Na casa do meu Pai existem muitas moradas” – Jesus). Não podemos olvidar que o desiderato do Pai é “um só rebanho e um só pastor”, do que, de pronto, se conclui do absurdo do elitismo religioso e da inutilidade dos atos infantis dos que se julgam “salvos” pelas práticas religiosas e outras. E também, dos que pela caridade objetiva e falsa humildade, muitas vezes utilizando seu próximo empobrecido pelas injustiças sociais, como degraus para sua ascensão espiritual numa pretensão tola, inconcebível e anti-fraterna. 110
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A evolução é de ordem coletiva e, segundo o nosso amigo espiritual Anthero, questiona-se única e exclusivamente, em desenvolvimento intelectual no seu sentido lato cuja sensibilidade é uma decorrência da elasticidade da compreensão: a evolução adentra à pedagogia e não ao justicialismo”. Basta raciocinar.
Wilson Levy Braga da Silva (excertos do Irmão Anthero e outros espíritos)
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Evolução e Caridade - Evolução e Religião
A grande maioria das religiões prima por dar à evolução o sentido de motivação, aquisição, ou seja, elevar-se e apropriar-se das benesses conseguidas pela prática de atos objetivos, tendo em mira as recompensas “post-mortem”. Este proceder valoriza as aquisições externas e, de modo algum, constitui a verdadeira evolução espiritual. Evoluir é um estado permanente do espírito que desabrocha suas potencialidades através do tempo. É desenvolver a inteligência em conjunto com a razão e a consciência com visos à moral que resultará nas virtudes que conduzirão ao amor e deverá prevalecer em todos os atos, obras e tudo que for feito. “Tudo o que fizeres faze-o de todo teu espírito e de todo teu entendimento” é o dizer sábio de Saulo de Tarso. Evoluir é um processo ascendente, via-reencarnações em função de milênios e multimilênios. Evoluir não está na dependência dos códigos religiosos sejam eles quais forem. Ninguém evolui seu espírito por obedecer e cumprir códigos de concepção puramente humanos. A evolução do espírito também não está circunscrita ao estágio de vivências reencarnatórias neste planeta apenas. Evoluir é um formativo do espírito que adentra pelos planetas sem conta, num universo incomensurável. “Existem muitas moradas na casa de meu Pai” (Jesus). As religiões constroem templos, muitos deles suntuosos, para a prática dos cultos, do adoracionismo e da pregação da salvação. Mas Jesus aconselhou “a busca da verdade” o que difere 112
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substancialmente das práticas religiosas. Se o conhecimento e compreensão da verdade nos libertarão, evidencia-se aí o fato de que somos escravizados pela ignorância. Ao lado dos templos, vamos erigir escolas que darão ao homem condições de dignidade, de progresso, de cultura, deixando o carente de hoje de ser um capital rentável para as práticas salvacionistas dos caridosos, porquanto estas se prevalecem das desigualdades gritantes existentes no seio da sociedade. É lamentável que o Espiritismo que é uma realidade que se firma em fatos cientificamente comprovados, que veio para restabelecer a verdade por essas comprovações reais e patentes, tenha se colocado à reboque das religiões, modificando apenas sua terminologia, num arremedo deplorável. Se a “Santa Madre Igreja” proclama que “fora da igreja não há salvação”, o Espiritismo religioso não deixa por menos e afirma que “fora da caridade não há salvação”. Ora, Jesus, o Mestre carpinteiro, o nazareno, a maior inteligência que sobrepisou a Terra, pregou a fraternidade e não o arremedo desta encoberto pelo caritatismo religioso, destoante dos princípios evangélicos. A verdadeira religião será aquela que em lugar de andrajos, orfanatos e asilos, com a idéia fixa do lucro espiritual (bônus hora), se propuser a fechar os templos e abrir escolas, dando o pão do espírito para que o necessitado possa ganhar condignamente “o pão nosso de cada dia”. É preciso abdicar das recompensas celestiais, se existissem, pelo sentimento da solidariedade humana e cristã. O ódio, a miséria, a fome, o desabrigo, a ambição, o 113
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desamor ainda fazem sofrer e levam ao desespero centenas de milhões de “irmãozinhos” em todos os recantos da Terra. Os caridosos que querem ficar “dentro” e não “fora” da salvação, continuam presos às suas falsas interpretações evangélicas, cuidando do prestígio, do crescimento, do aumento das riquezas das suas religiões, das suas doutrinas e, ameaçando os não caridosos com o fantasma dos infernos, umbrais e vinganças, esquecidos da advertência de Jesus: “Não adianta falar: Senhor, Senhor e não fazer o que eu estou ensinando”. Jesus não ensinou a caridade que humilha quem recebe e denigre quem a pratica, mas sim o sentimento da fraternidade, do amor ao próximo. Você gostaria de ser alvo de caridade? Amor, fraternidade é uma coisa, caridade é outra. Amor é sentimento que não exige retorno, não é mercadoria de trocas ou de negócios com Deus! Amor é efeito da evolução. É “ser” e não “ter”! É preciso “ser” o amor e não “ter” caridade. O grande arauto do Evangelho, Saulo de Tarso, gravou de forma magnífica essa afirmativa ao proclamar, valoroso e cônscio das suas limitações na época: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos... eu ainda não sou”! Saulo de Tarso, a despeito da sua elevada estatura espiritual, ainda não se sentia “sendo” em espírito, onde a vida interior em permanente vicejasse em toda sua sensibilidade e plenitude. O verdadeiro cristão é aquele que abriga no desempenho dos seus atos o sentimento demovente em “fazer com a direita sem que a esquerda saiba”, a razão do próprio ato. Temos que a obra é a concretização do conteúdo da fonte, o que traduz inobjetividade ou ausência de calculismo rentável em função da obra. 114
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O “fora da caridade não há salvação” dá à caridade um sentido quase que obrigatório, condicionando a salvação à sua prática. Onde o mérito? Existe o interesse da salvação? O que busca o cristão? O que busca o reencarnacionista? A salvação ou a evolução? Quando olharmos para um irmão necessitado aqui na Terra não devemos ver apenas um carente de ajuda material, mas sim, devemos ver um espírito necessitado, não da nossa caridade, mas do nosso calor humano, da nossa fraternidade inobjetiva, da nossa compreensão, tudo isso fora dos templos. As religiões sempre foram instrumentos de defesa dos interesses de grupos ou classes dominantes mais favorecidas. Usam e abusam das ameaças dos supostos castigos eternos e de alémtúmulo aplicados aos insubmissos, ainda que tal insubmissão tenha como fatores a ignorância, a fome, a miséria e o desespero. Sempre fizeram da caridade-esmola, que vem da sobra dos ricos, um paliativo para calar os menos favorecidos e para que pudessem suportar as agruras do desequilíbrio social dominante. As religiões mentiram, distorceram e condicionaram o Evangelho de Jesus, sempre em proveito de uma minoria. O amor ao próximo não pode ser praticado sob condições e prometimentos ou para fugir dos umbrais e infernos, se existissem. O que é preciso é substituir a religião pela moralização, pois o homem moralizado não precisa da mística religiosa, porque sente através de sua moralização o dever de amar e a responsabilidade junto aos seus irmãos.
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O Kardecismo é claro quando afirma: “conhece-se o verdadeiro espírita pela sua completa transformação moral”. “Moral” e não religiosa. Será que estamos pregando o materialismo? Sim, e com todas as letras e todas as virtudes humanas puras e sinceras, envolvidas no legítimo sentimento cristão, que é a lealdade vertida do íntimo, sentimento de irmão para irmão e não de pessoa caridosa para com os pobres, mas que admite e permite a existência de escalões, castas, classes e desigualdades sociais gritantes. “Nicodemos, eu vos falo das coisas da Terra” (Jesus). As religiões vêm se constituindo num engodo milenar onde a criatura vai buscar a santidade e a salvação nos templos para a farsa da apresentação social, onde o exterior prevalece, e a falsa humildade predomina. Jesus convocou os homens de boa vontade, aqueles que não olhassem para trás e se dispusessem às tarefas dos verdadeiros seareiros que buscam o campo do trabalho e não o da adoração. “Quem quiser vir após mim, tome a sua cruz e siga-me”, disse Jesus. Não é a cruz da infâmia, do gólgota ou do sofrimento. O que Jesus pede é que os cristãos não venham de mãos vazias, que carreguem a cruz da sua responsabilidade, da cooperação fraterna e laica e que não venha a mendigar salvação! Carregue a cruz aquele que já enxerga as pegados do Mestre carpinteiro e uma a uma vai sobrepisando-as a cada reencarnação. Não é a cruz do martírio, do sangue salvacionista, porque está é a cruz pregada pelas religiões. Religiões que são frutos da concepção puramente humana, que nasceram de interesses 116
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subalternos de uma casta sacerdotal que ambicionava o poder, o mando e as riquezas. É preciso que cada um entenda que é senhor de si e responsável pelos seus atos. O homem religioso abdica do seu próprio livre-arbítrio pelo escravagismo mental de uma dependência deusística em busca do nada! Por que, cristãos não sair desse calabouço da ilusão e “buscar a verdade”, como aconselha Jesus? Ter fé em Deus não invocá-lo e adorá-lo por forças dos códigos religiosos mas é estar NELE com consciência de causas e efeitos. A evolução do espírito deve independer das “graças” de Deus. Evolução é fruto do próprio esforço. O erro crasso é dar a César o que é de Deus e a Deus o que é de César, numa inversão absurda do dizer do Mestre. Não existe campo mais fértil para a utilização da psicologia impositiva do que a ignorância que resulta na exploração dos deserdados em capital rentável para os religiosos tribunalícios e salvacionistas. Pior que a ignorância é a cultura modelada sob título sectário, que suprime ainda mais a liberdade, destruindo a personalidade. A cultura só é válida quando laica.
Wilson Levy Braga da Silva (excertos do Irmão Anthero e outros espíritos)
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17.
Palavra
Parte I O falar é a expressão da própria personalidade. Tudo quando falamos traz o timbre do nosso interior, queiramos ou não. A própria modulação vocal indica o fundo moral, por isso é que quando falamos, precisamos ter a idéia amadurecida e sermos comedidos. O falar traz a característica da própria alma. Quando o espírito é submisso aos desequilíbrios emocionais, por mais que tente sofrear inteligentemente no sentido de prevenir-se para não escorregar, eis que de repente, por força do hábito, advindo do seu próprio interior não corrigido, não devidamente reformado, diz aquilo que sente, que pensa e, às vezes, nem pensa o que diz. Assim, é elevada sabedoria medir aquilo que dizemos não no sentido frio, calculista e subjetivo querendo dizer o que não pretendia dizer, mas disse. A imposição do desequilíbrio emotivo demonstra bem, ser aquele espírito ainda desavisado, sujeito e escravo. Deve-se medir o que se fala, procurando por todos os meios conseguir a virtude do equilíbrio no dizer. Devemos ser francos e firmes no falar, mas quando aquilo que dizemos é com convicção, já está analisado, amadurecido dentro de nós, já concluímos que se dissermos, será benéfico e não destrutivo, não irá ferir. Por quê? Porque a franqueza que destrói é perniciosa, a que fere é má, foge ao sentimento de compreensão, de amor ao próximo. 118
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Cumpre, pois, a cada um aprender a enxergar com os olhos da mente, a deduzir dentro da pauta do raciocínio cristão. Se o Mestre Jesus, frente a frente com a adúltera, fosse dizer francamente que ela estava errada, (porque estava) que havia pecado, (porque pecou) quem negaria? Em que situação estaria o Mestre no conceito da posteridade? Jesus era equilibrado no dizer, contudo procurava sentir e ver com os olhos da mente, da razão, nunca com os olhos físicos, nunca através das lentes opacas da emoção ou da concepção unilateral, própria. Toda idéia não amadurecida e lançada, pode ser destrutiva. Imaginemos o próprio Mestre de dedo em riste, acusador: “Tu pecaste, mulher! Tu estás errada, embora eu não te condene, embora eu te perdoe!” Haveria amor nisto? Haveria amor em tocar fundo naquela chaga e fazer ressaltar naquela alma já ferida, a calosidade dolorosa do erro? Afinal, não chamamos Jesus de Mestre? Se ele é o Mestre e nos legou este magnífico exemplo de maturidade racional, dedutiva, por que às vezes nos arvoramos em críticas acerbas e impiedosas? Supomos ser grandiosidade de caráter oprimir nosso irmão através daquilo que pomposamente alardeamos com franqueza. Teria Jesus sido condescendente, concordando com o erro da adúltera? Absolutamente não. Apenas ignorou, não se ateve ao fato que iria machucar-lhe a alma, ferindo profundamente aquela criatura que já estava ferida pela própria situação. Sentiu naquela alma as chagas doloridas. Por que então desnudá-las, expô-las? Simplesmente para prevalecer a franqueza? A verdade já existia, importava não encobri-la, mas compreender o motivo da sua existência, e Jesus compreendeu, como fazia sempre. 119
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O Mestre limitou-se à atitude humana, benévola de educar, de fazer com que a própria pessoa, sentindo as chagas, as fizesse cicatrizar através de atos futuros: “Vai, não peques mais!” Porque não pecando mais, as úlceras deste pecado se cicatrizariam através de atos nobres, de procedimento de moral elevada. Que fez Jesus? Deu oportunidade àquela adúltera de se ressarcir dos seus erros, sem levá-la ao tribunal da própria consciência. Temos feito isto? Quem é Jesus? O que representa para nós? Será o símbolo de uma redenção quimérica, o Cordeiro de Deus sacrificado? Ou pura e simplesmente o Mestre? O exemplificador que nos legou lições vividas no exemplo? Só e tão somente! Se o temos por Mestre, como nos arvoramos, às vezes, no sentido de uma leviandade em nome da austeridade? Se a voz que sai pela boca obtivesse reflexo e penetrasse no próprio espírito de quem fala, encontraria motivos para a autorecriminação, porque só o fato da crítica desapiedada, no sentido oculto, bastardo, inconcebível da capciosidade de ferir o próximo, já constitui em si o motivo para outra crítica, a de si mesmo. Por acaso teria Jesus faltado com a verdade para consigo mesmo, traído a sua própria consciência? Não teria tido a necessária autoridade e altura moral ao proceder como procedeu com aquela adúltera? Mas, Jesus era Jesus! Então não o chame de Mestre. Não minta a si próprio, não busque no dizer apenas, chamá-lo de Mestre, conhecer suas lições e praticá-las só no sentido de conveniência pessoal. Não. 120
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É preciso conhecer as condições para viver as lições recebidas. Por que não proceder assim sempre? Por que não meditar antes de dizer alguma coisa, para que não se transforme em algoz, não em juiz, para que não seja, por vezes, carrasco que vem executar, destruir, matar através da arma poderosa da palavra, da crítica acerba, o entusiasmo, o desejo de realização, a força construtiva? Alguém poderá dizer: “Então não devo criticar meu irmão quando não estiver certo o seu procedimento?” Sim, perfeitamente. Achegue-se a ele, ofereça os seus préstimos, penetre no sentido da humildade, da cooperação e, aos poucos vá fazendo-o ver amorosamente, que o caminho tomado sendo outro... Exemplifique. Dará melhor resultado. Fale com amor, com o trabalho, com a cooperação e desprendimento. Então sim, você poderá chamar Jesus de seu Mestre. Por isso é que sempre ao dizer, devemos parar, pensar, analisar, buscar o fundo da expressão, buscar no Evangelho o molde exato em que ela se encaixe. Se não encontrarmos, silenciemos. Devemos meditar e analisar mais, evitando assim uma crítica que, por vezes, em que pese o desejo de franqueza, do positivismo dilacerante, mas devemos imitar Jesus, irmos em busca de soluções junto à criatura, com amor, carinho, dedicação, exemplificando no terreno da humildade. É mais fácil ser um herói do que um covarde. A covardia, no caso, chama-se humildade e o heroísmo, violência do verbo. É muito mais difícil nos acovardarmos da humildade pondo freios inclusive no nosso sentir, porque se a palavra fere e destrói, não menos acontece com os sentimentos, com as vibrações emitidas de cada um de nós. 121
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A emissão de pensamentos torvos, de crítica, onde prevalece o cúmulos da maldade ou da ignorância, vale tanto quanto ou mais do que a palavra, portanto, não basta silenciar a boca, é preciso varrer no cadinho das emoções esta escória, deixar que esta fusão metálica seja viva, limpa, perfeita num sentido de junção e firmeza. Quantas vezes verdadeiras paredes existem no tocante ao silêncio, emitindo raios mortíferos contra o seu irmão! Então já não basta silenciar, é preciso calar a voz interior, reformar-se, pôr freios muito mais ao nascedouro da palavra, do que à própria palavra. Não adianta iludirmos, parecer humildes, verdadeiros “zelotes” do amor, se temos um ninho de víboras no escaninho da própria alma. Deus não ouve as expressões levianas, o vento as leva. O que o Criador sente, percebe, vê, analisa é o interior, é de onde nascem os males, portanto, convém amadurecer os pensamentos e os sentimentos. É preciso que cada um vá limpando de dentro de si mesmo os maus sentimentos que vive e vibra, e neles não interfere a razão porque ainda fazem parte integrante do seu próprio ser. O invejoso não tem consciência de que sente e vive a inveja; não toma conhecimento através da razão se está praticando o bem ou o mal. Ele apenas vive a inveja, e o maledicente faz da maledicência até o diletantismo, mas não tem consciência do que está fazendo, e isto é natural, sobrevém de chofre, inesperadamente, porque está na raiz. Portanto, importa a vigilância, o despertar da razão para o domínio dos sentimentos vulgares. Quando o rancor vem, o ódio não consulta a consciência e a razão de ninguém. Eclode repentinamente dando os seus frutos 122
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destrutivos, porque se o espírito estivesse vigilante, e no momento da eclosão vulcânica do ódio, tivesse a necessária força da razão para dizer não, haveria assim a primeira contenção, no amanhã a segunda, depois a terceira e assim, o domínio absoluto daquele sentimento que caracteriza o espírito retardatário na jornada do progresso. Por que nos sentimentos não intervém a razão? Na vida sensorial a razão não impera, pois quem ama e vai até o sacrifício, desconhece isto, vive apenas aquele sentimento ignorando a razão do “porquê” do amor. Aquele que vibra sentimento de paz, harmonia e maturidade espiritual, não o faz através da razão, mas porque ele já é assim. Imaginemos a pessoa fazer os cálculos racionais e meditar sobre o amor. Amar ou odiar através da razão é impossível. Contudo, se for necessário, podemos alijar até o próprio amor ou qualquer outro sentimento como: o ódio, a inveja, a vaidade, a crítica acerba, o desajuste mental. Tudo pode ser coibido, modificado, limpo, arejado, através da vigilância da língua e do sentimento, e isto não se faz em alguns dias, mas sim com aquela vontade férrea de se tornar discípulo de Jesus, encontrando todos os dias pela frente, a mulher adúltera, símbolo do pecado, vivendo em contraposição a atitude do Mestre, o símbolo do amor e da pureza. O importante é experimentar, é fugir da teoria que não penetra na prática e não dá um sentido positivo, é teoria falsa, digna de ser substituída. O que não se comprova na prática, não pode ser uma teoria com que se afiance. Vamos experimentar, porém não prometendo para si próprio que amanhã irá tentar, 123
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porque tentar é duvidar de si mesmo e, quem duvida de si mesmo, não pode aceitar com confiança o próprio amor de Deus. Se duvida de si, como terá fé em Deus? Será que alguém é capaz de se esforçar a tal pondo de poder dizer: “Meu Mestre é Jesus porque, apesar dos pesares e das limitações que a existência me impõe, eu vivo as lições de Jesus em qualquer âmbito da existência: no lar, no convívio com os amigos, com aqueles que me são simpáticos, com os que eu pensava que eram antipáticos, mas em quem eu não via senão o mal porque só sabia ver com os olhos físicos, só deduzia sem uma razão amadurecida, era cego, não compreendia que eles são meus irmãos, iguais a mim. Tenho que suportá-los. Jesus não suportou a adúltera?” Não olhe mais para um irmão observando-o pelo seu lado podre porque estará desmoralizando o próprio Deus, a sua própria pessoa, pois ele é seu irmão. Se você só vê podridão e não procura nada de bom, é uma vergonha para si mesmo. É utopia. Jesus, mesmo sentindo que a posteridade o interpretaria de diversas formas e maneiras, percebendo a vanguarda do tempo, as interpretações heterogêneas, desconcertantes, desajustadas, houve por bem legar inteligentemente sua doutrina numa síntese, num termo completo em poucas palavras: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Não custa experimentar e viver estes dois mandamentos isto é, não custa para aqueles que são predispostos, aqueles que têm consciência do que estão fazendo quando encarnados, para aqueles que sabem perfeitamente que ninguém irá, de forma alguma, abrir-lhe a porta, convidá-lo para passar e curvar-se cortesmente para que ele o faça. 124
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Qual é o outro caminho que conduz à elevação espiritual senão este? O amor ao próximo não nasce da noite para o dia. Convém que se lhe antecipe vários escalões da espiritualidade. O primeiro é o desejo férreo de conseguir sentir amor pelo próximo. É o ponto de partida, sem o qual tudo isto e o que se vem falando há mais de dois mil anos, é nulo. Em segundo, é conseguindo aproximar-se do amor através do auto-domínio cotidiano. O importante é começar nunca duvidando de si na tentativa, nunca duvidando de Deus esperando que não procedendo assim, o Pai se condoa e venha traçar um outro caminho. Portanto, quando falarmos, tenhamos aquela figura magistral do Mestre e a pecadora à sua frente, ao ponto de Jesus perguntar: “E os teus acusadores onde estão? – “Se foram, Mestre”, respondeu a adúltera.” Triste papel! Vergonhoso! Mas, este papel é sempre vivido pelos acusadores levianos, incoerentes, inconseqüentes, maledicentes e invejosos, na repetição da história no âmbito cotidiano. Triste papel porque o bom senso, a vigilância eterna, perene do Mestre lançou-lhes de maneira irrefutável, uma arma da qual não puderam se defender, colocou-os numa alternativa de: ou vive a hipocrisia, ou afasta-se. Se alguém tentasse atirar a primeira pedra, daria a mais perfeita e insofismável demonstração de elevado grau de hipocrisia. Que este alerta possa reavivar na mente de cada um a necessidade imperiosa e inadiável de buscar a si mesmo no campo da superioridade espiritual, lembrando sempre de que o Evangelho pode ser escrito em uma única linha: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. 125
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Parte II Quantas vezes sentimos na palavra um fundo de recalque: “Daquilo que fala a boca, está cheio o coração”. Como podemos pedir sinceridade? Comecemos por nós mesmos não usando a expressão que pode ferir diretamente. Usemos o verbo como irmãos, o verbo construtivo, objetivo, claro como a luz, pois se pretendemos a luz, por que esconder dentro de nós o sentimento das trevas e deixar que ele se derrame através da linguagem mansa, aparentemente humilde e até cristã? Vamos, pois, aprender que a linguagem, a maneira de expressão e até o timbre da própria voz pode se tornar cativante ou construtiva, como também discordante e, consequentemente, fazendo com que tudo se espalhe! Há muitas maneiras de se dizer a mesma coisa. Quando pretendemos juntar, unir, fundir em torno de nós, devemos convidar ao trabalho com uma linguagem amena, e esta linguagem deve ter a expressão única em nossa própria existência. Aquele que se diz espiritualizado tem no próprio verbo o timbre do amor. Tem na palavra o próprio eco daquilo que lhe vai na alma. Muitas vezes, no simples dizer destruímos muito. Com uma simples palavra derrubamos um trono! Podemos dizer tudo, podemos ser sinceros, francos, o que é bastante necessário, dentro de uma expressão amena. O discípulo de Jesus precisa sentir que um olhar dirigido a alguém deve estar envolto no sentimento do 126
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amor. Um gesto deve levar a expressão do amor. Uma palavra deve ecoar, e atingir o ouvido de quem ouve na tonalidade de uma harmonia deliciosa, embora seja uma reprimenda. O que não se pode suportar é sentir no espírito que fala com a voz doce, entrecortada de poesia e doçura, vibração completamente oposta. É preciso sentir, viver aquilo que se diz par que não se torne hipócrita! Eis aí um princípio fundamental, inteligente de arrebanhar, unir, galvanizar em torno de si um grande número de cooperadores. Sejamos honestos nas expressões. Digamos exatamente aquilo que queremos dizer, fujamos ao subterfúgio, ao subjetivo da expressão, o dizer não dizendo. Iniciemos por nós mesmos a ser honestos e francos, leais, sinceros, humildes, cooperadores. Importa e muito, que em todas as ocasiões meditemos dez para dizer um e, por vezes, meditemos cem para não dizer nada! Importa não forçar o sentimento alheio, não querer modelar as criaturas segundo as nossas próprias concepções, segundo os nossos próprios pensamentos. Importa, sim, tentar trazer a criatura através do amor, da compreensão, da doçura sincera (não aparente), para o âmbito, para o seio do nosso convívio amoroso, e fazer dela a nossa cooperadora. A imposição não cabe em lugar nenhum. Existem várias maneiras de se impor: uma delas é dizer o que não quer dizer, é não dizer aquilo que quer dizer. 127
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É muita responsabilidade, e esta às vezes, é superior ao próprio entendimento, é ter a roda do leme às mãos e sentir-se desarvorado nos primeiros clarões da tempestade, nas primeiras ondas bravias do mar revolto! O importante é manter sempre a serenidade de todos! Impor-se sim, pelo amor, pelo exemplo de humildade e de compreensão. Este é um fator importantíssimo e, por que não dizer, é a pedra fundamental de toda estrutura unificada. Se a chuva se faz necessária para que vicejem as flores, o sol também não é desprezado. O eterno frio, falta de um calor adequado, pode perfeitamente imobilizar muitas vezes uma obra nascente. Sejamos condescendentes com o nosso próximo, severos e exigentes conosco. Não pretendamos que os outros sigam exata e justamente os nossos próprios ditames, porque nem sempre estão à altura de caminhar com a mesma lepidez que nós. Portanto, refreemos o nosso passo para que o outro nos acompanhe, usemos inteligência e perspicácia cujo invólucro é o amor e a compreensão. Se existe algo errado, busquemos o princípio que alimenta o erro, freemos o passo e esperemos o companheiro de jornada, para que nos alcance. (recebido por via mediúnica)
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18.
A beleza das flores e o amor
Em cada flor há uma estrofe do cântico divino, Em cada cântico sempre existe um hino! Aprendamos a sentir Deus. Aprendamos a ver, a acariciar na prece terna e amiga, o Deus-simplicidade que nos rodeia. Aprendamos a poesia divina na flor que encanta a paisagem. Aprendamos a ler e a entender o livro imenso escrito em vivas cores na própria natureza. Há os que buscam Deus nos templos, nas entrelinhas das leituras difíceis, no emaranhado das filosofias estonteantes, no mais difícil. Por quê? Sentir Deus em tudo não é utopia. Quando o homem começar a entender as flores, começará a entender Deus. Quando o homem começar a entender as vibrações de toda a natureza, penetrará no âmago do Criador. Quem não se encanta ao admirar a flor humilde, singela e não sente a sua poesia? É emocionante sentir no canto das flores o hino de amor a Deus. Por que os grossos tomos impregnados de conceitos de um Deus distante? A alma simples encontra Deus nas coisas simples. A alma pura encontra Deus na pureza das próprias coisas. Não faz de Deus um ser à parte do seu próprio íntimo. A alma boa encontra Deus na harmonia da bondade. A alma doce encontra na doçura de um sorriso amigo, o próprio Deus. Então, Deus é o que nós somos nas vibrações sutis das emoções.
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Infelizmente esta poesia divina escrita no esplendor da própria vida, é sobrepisada porque o homem não se contenta com o paraíso que o rodeia. Mesmo aqueles que querem se aperfeiçoar na espiritualidade, que querem galgar os degraus da sublimação, ainda permanecem cegos e surdos ao princípio, aos portais, ao começo do paraíso interior, que é a contemplação das belezas de tudo que nos rodeia. Se não somos capazes ainda de sentir a emoção da poesia da flor, como temos a pretensão de querer sentir a poesia grandiosa na emotividade da espiritualidade superior? Aprendamos a sentir Deus nas coisas pequeninas, humildes e simples. Aprendamos nas primeiras lições a presença do Pai. Falamos em perdão, em amor, em caridade, em doçura, em bondade, em tudo menos como entender Deus, o supremo Senhor das coisas. As emoções da alma não estão desassociadas das coisas belas que Deus criou. Há pessoas que buscam além do túmulo uma beleza que não conhecem, e não são capazes de observar, de sentir e viver as belezas que as rodeiam agora. Por que teria Deus criado a flor? Para ser colhida e enfeitar as ocasiões festivas? Ou para disfarçar a expressão de um cadáver? Não. Deus criou a flor, colocou-a nesta Terra, para aqueles que pretendem senti-lo e conhecê-lo, para iniciarem pela observação, pelo amor, pela compreensão, pelo entendimento, não só da forma, da cor, do perfume, nestas sublimes leis que regem a própria natureza. Como pode o homem entender as leis superiores da vida se não é capaz, em que pese a soberana espiritualidade que possui, de 130
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entender as leis primárias? Se não é capaz de sentir, de observar e dizer: “Deus, por que criaste esta flor? Ensina-me qual o objetivo dela existir. Por que enfeitas assim o mundo, Senhor? Será só para que eu me encante? Não. Será para que eu te entenda através dela? Sim. Então, explica-me pelas vibrações superiores. Dá-me o conhecimento do porquê destas leis matemáticas, perfeitas, objetivas da criação!” Há a pretensão de que muitos cheguem a ser até auxiliares do próprio Pai na criação de planetas maravilhosos. Como a humanidade vai longe, deixando para trás um vácuo, um vazio, um perigoso abismo? Então eu serei um daqueles espíritos maravilhosos que ajudam a criar os mundos, que condensam a matéria, a força, transformando-a em matéria, e não procura entender desde já a magnitude da criação na simplicidade que o rodeia? Importa ao homem buscar o “céu” nas coisas simples, o entendimento nas coisas pequenas, aprendendo a ler neste livro extraordinário que começa na criança, no berço e termina no túmulo. Está é a primeira página. A segunda começa na pedra e termina na imensidão do espaço. Esta é a oração, a adoração. Este é o amor. Este é o interesse pelas coisas de Deus. Por que partir para as obras e realizações frias, sem a emotividade de sentir as belezas de Deus em tudo que pratica, que vê, que conhece? É uma exposição clara de egoísmo incontido. É preciso alienar do espírito, e o quanto antes, este egoísmo inconsciente de conseguir alguma coisa através da fria realização. É preciso que a alma construa! Que o espírito realize! Junto com a argamassa vai o amor. Junto com o pão vai o carinho sem a 131
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pretensão do retorno lucrativo em forma de bênção. É muito fácil dar o pão porque um pouco basta, mas dar o amor e a compreensão, é muito difícil, pois sempre aquele que recebe amor e necessita de amor, é insaciável. Dar o pão é fácil porque advém do trabalho, da luta, daquilo que sobra, porém dar amor é difícil, muito difícil. E por que é difícil dar amor, compreensão, carinho, paciência, solidariedade? Porque isto não advém do trabalho, do suor do rosto, do dia-a-dia, mas advém justamente dessas observações de Deus nas coisas simples para a modelação do espírito numa estrutura firme de compreensão do Pai, numa fé soberana fundamentada na certeza absoluta de que só a bondade gera a bondade. “Ninguém irá ao Pai senão por mim”. Não é pela figura do Mestre, mas pela sua doutrina, não aquela doutrina praticada num círculo estreito de realizações geladas. Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros”, e quem tem amor para dar? Temos pão, roupa, agasalho, tudo menos amor, que é o fundamento de toda realização espiritual. Toda doutrina tem que ser fundamentada no amor, no desprendimento, no ser pelo ser, no amar para amar. Somos capazes de dar a uma criatura tudo que seu corpo necessita, dos pés à cabeça, inclusive o alimento, o médico tudo, mas se nos pedir um grama de amor, talvez não tenhamos para dar. No Evangelho de Jesus Cristo fala-se em vestir os nus, em dar de beber a quem tem sede, dar de comer a quem tem fome, de visitar os enfermos e os encarcerados, de tudo enfim, resumindo a sua essência no “amai-vos uns aos outros”. 132
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A criatura faz tudo o que o Evangelho ensina, menos o essencial! Afinal de contas, onde está o valor de tudo isto? Obras sem amor! É preferível amar sem obras do que obrar sem amor, porque quem ama faz as obras de maneira inconsciente, sem se aperceber delas, sem tomar conhecimento do que fez, sem contabilizar os seus atos espirituais. Ninguém chegar ao estágio do amor se não procurar sentir na simplicidade das coisas, o eterno Deus criador de tudo. O grande mal está em ultrapassar a meta primária, em deixar as minúcias, as parcelas para observar já o total espiritual. Este é o mal! Este é o grande erro! A criatura quer já o todo. É preciso entender que se não tivermos amor às coisas pequenas e simples, como poderemos ter amor às coisas grandes e elevadas? Tudo que for realizado, que tenha como único objetivo o esquecimento. Na erraticidade não há mais lugar para tantas pessoas religiosíssimas que, através das suas religiões, deram esmolas até não mais poder, contudo estas esmolas não passaram de esmolas, fizeram “pedra sobre pedra”, apenas e nada mais. Muitas vezes, até reencarnacionistas projetaram-se no cenário das realizações sem sentir que aquilo não passava de um exercício para a sua auto-realização. Fazer não importa! Importa porque fazer! Convém buscar com afinco a única verdade que poderá ser convertida no máximo de felicidade aspirada pelo espírito, que é o amor. Dê em cada pedaço de pão o invólucro do amor profundo e do carinho sincero, indo aos baixos da espiritualidade na Terra. Arranque seus irmãos do lodo e da miséria moral e material. Dê mais amor do que pão! 133
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Há pessoas profundas conhecedoras das versões espiritualistas e quiçá, reencarnacionistas, que alimentam um desejo extraordinário, louvável até certo ponto de, se possível, quando na erraticidade, fazer parte das equipes que baixam ao “Umbral” em busca de irmãos infelizes. Mas, não existe um “Umbral” na Terra? Não existem irmãos infelizes na Terra? O que é que lhes tolhe de praticar atos idênticos aos da erraticidade? Ou supõem que esta tarefa é muito simples? Procure o “Umbral” encarnado se tem vontade de espiritualizar-se! Se tem vontade de prosseguir nesta tarefa após o desencarne. Comece na Terra onde o campo é vasto, largo, pleno, eivado de espíritos famintos de amor, de elucidação, de evangelização, e menos de roupa, de pão. Não espere passar para a erraticidade para começar com o espírito de alta evolução a pertencer à equipe, só porque conhece o Evangelho, porque realizou obras, ou porque freqüentou trabalhos espíritas... e tem a presunção de vir a ser um dos componentes da equipe que busca nas profundidades do “Umbral”, espíritos menos evoluídos! Amarga ilusão!
(recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -A cada um será dado segundo suas obras
19.
A cada um será dado segundo suas obras
O fator básico da reencarnação é a necessidade que tem cada espírito de remover, a todo custo, mercê até de inauditos sacrifícios, as tendências negativas que, dado o seu estado, são predominantes e, em virtude desta mesma predominância, é que há quase sempre, a acomodação ao estado transitório na reencarnação. Após reencarnado, o espírito tende a acomodar-se, a usufruir dos prazeres que o mundo lhe oferece, a colocar em primeiro plano o imediatismo dos confortos, enfim, a moralidade da reencarnação em si, que é a remodelação interior, passa a ocupar um plano secundário. Isto não deve acontecer, precisa ser modificado. De que maneira? Alegam uns falta de tempo para dedicar-se aos trabalhos, às realizações, para agir no necessário do cooperativismo cristão. Haverá limite de tempo para o bom pensar, para o bem sentir? Demandará muito tempo uma palavra amiga de conforto, uma orientação segura a ser dada aos seus irmãos? Não são somente coisas materiais que a eles devemos oferecer, porém o sentimento também prevalece. O importante é que todos sintam que a reencarnação não tem outro objetivo senão educar o espírito. O que importa é alijar de si, e de maneira concreta e consciente, a ilusão que mata, de que só após o desencarne é que irão cuidar realmente das coisas espirituais, que irão realmente viver em espírito. 135
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É penoso e entristecedor mesmo, sentir nos reencarnacionistas esta preguiça espiritual. Muitos não se dão nem ao trabalho de experimentar e usufruir desde já, ainda encarnados, os deleites da espiritualidade, de viver no êxtase das coisas superiores. A remodelação do espírito independe de lugar ou condições. Necessário se faz pensar seriamente desde já, desde agora, desde este instante, no amanhã do espírito. Torna-se doloroso ver criaturas penetrarem no templo de trabalho e dele saírem para a vida normal, comum, sem levar dentro de si o desejo supremo do esforço para passar a viver realmente desde aquele momento, em espírito, em amor, em desprendimento. Não deve haver uma linha divisória entre encarnados e desencarnados. Que as pessoas, hóspedes provisórios e temporários do corpo, não alimentem esta ilusão post-mortem de que só então é que irão usufruir de algo superior. Por que não começar já esta experiência? A existência no espaço é uma seqüência da existência na carne. Tão pouco tempo dedicado às verdades espirituais redundará em magra colheita no campo da erraticidade. “A cada um será dado segundo suas obras”. Será dado o quê? E quem nos dará? Busquemos a resposta não na letra que mata, mas no espírito que vivifica. É preciso ter “olhos de ver e ouvidos de ouvir”, é preciso realmente condenar a letra que mata e extrair dela o espírito de vida das expressões de Jesus. Portanto, cada um será, viverá e sentirá segundo o esforço que fizer para sua própria edificação interior. Não será dado nada! Ninguém nos dará nada! 136
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Importa entender que as obras em si, não passam de um exercício para que o espírito possa ir conquistando a sua independência. Em realidade, o que vem a ser as obras? Será “pedra sobre pedra”? Serão as realizações materiais de vulto? Ou será que no exercício das obras materiais, o espírito educa-se e recebe as encarnações de sentimentos novos e nobres? A dedicação à obra material é o caminho para a elevação do espírito, advindo assim, segundo o esforço, a sua própria remodelação interior. O que é preciso conceber, é que o espírito não procure de maneira nenhuma possuir nada, pois é medido não pelo que fez aos outros, uma vez que isto é apenas o exercício para modificação do caráter, mas por aquilo que ele é, em função do aproveitamento através das obras, procurando sentir-se íntegro. O espírito é “avaliado” segundo aquilo de que ele se constitui, de que é formado, da situação espiritual em que ele se encontrar, independente de tudo quanto tenha realizado na matéria e de tudo quanto tenha feito na erraticidade, independente de todo e qualquer trabalho ou realização. O espírito receberá das próprias obras que construir em amor, a sua auto-independência, a sua auto-moralização, a sua própria edificação. O espírito inativo, o indolente, é um espírito morto, que não se realiza, porque a meta e o objetivo maior de cada um não é absolutamente amontoar “pedras sobre pedras”, erigir monumentos, fazer para ser admirado, realizar por realizar e satisfazer-se, acomodar-se nas realizações materiais, pensando com isto que a soberania do céu há de ver, anotar, retribuir, e que 137
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será dado segundo as suas obras. Doce e infantil ilusão que deverá ser apagada do quadro das visões de cada um. A meta básica do espírito é a auto-realização e, como não podia deixar de ser, existe na Terra um campo vasto onde o espírito exercita-se através do trabalho material, no amparo aos seus irmãos, na luta cotidiana pelo bem estar de todos. Nos trabalhos da “pedra sobre pedra”, que cada uma constitua para cada criatura uma pedra preciosa de amor, de realização interior. Não existe absolutamente uma lei de retorno para as obras. Estas são vividas na intensidade do amor profundo, o senso de liberdade interior e também a auto-realização, independente da espiritualidade, do corpo, fora dele, no próprio inferno, se este existisse. O que deve falar alto a cada um, é o foro íntimo de viver no dinamismo da felicidade interior. Que não cegue a ninguém a vaidade das realizações terrenas, a majestade de arquitetura, as relações terra-a-terra de todos os dias. Que cada um dê de si o que tenha de mais puro e mais caro, que é o amor, o desejo de sentir no seu irmão um verdadeiro irmão e de sentir que um dia, quer queira, quer não, terá que viver na doce comunhão com todos, meta principal de cada ser. É bom lembrar que o espírito é aquilatado não pelas obras que realizou, mas pelo que delas usufruiu em espírito, em benefícios e em virtudes, despertando para as coisas superiores, para o amor que sublima: “Meu reino não é deste mundo”, não está edificado na “pedra sobre pedra”, porém é o reino interior, o reino da liberdade, de um sol muito mais claro. É um reino sem limites, sem localização, sem trono, mas também sem vassalos. Portanto, que 138
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cada um pense seriamente em evoluir, em varrer da mente esta péssima concepção de que só pelas obras existe mérito. Cada qual deve imaginar o quadrante da sua ascensão, buscando cada dia que passa, através de todos os atos da existência, mesmo que não seja “pedra sobre pedra”, mas que seja “amor sobre amor” advindo da argamassa da palavra, do olhar, do carinho, da sinceridade aberta e franca. Não é preciso abdicar das coisas materiais, porém limitá-las ao máximo, buscando o conforto do corpo como reflexo do conforto espiritual, porque a transitoriedade da reencarnação poderá causar decepções terríveis na erraticidade. Portanto, cabe a cada criatura fazer da sua vida uma vida útil, plena de realizações, fugindo da acomodação, da preguiça espiritual. Finalmente, cada um recebe segundo o profundo amor que imprimir a todas as suas obras, pois o amor é o objetivo máximo do desprendimento, a conquista da liberdade espiritual e não há, absolutamente, outra linha de conduta que possa trazer benefícios. Não existem dois caminhos a serem seguidos: ou ergue-se uma linha reta, ou decai para o abismo, isto é, o das reencarnações intermináveis! Concluindo, cada espírito é aquilatado, vive e sente segundo o que é, não segundo aquilo que faz. As obras são motivações para que o espírito se realize, porém a meta suprema de cada um é a auto-realização através do tempo e na amplidão do espaço. (recebido por via mediúnica) 139
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Intercâmbio
20.
Intercâmbio
O manifesto extracorpóreo não constitui revelação destinada a dar ao homem ciência da continuidade da vida, ou da inexistência do céu após o túmulo.O hermenêutico evolutivo contido no código nazareno, não pretende novas roupagens místico-religiosas, mas é o início de um intercâmbio natural que visa a uma conjugação de esforços dos dois estados da mesma humanidade, e que em mundos social, científica e moralmente mais adiantados, faz parte do cotidiano, objetivando o progresso em toda linha da família humana agregada a tais planetas. Obedecendo ao programa estruturado através dos séculos, esse intercâmbio vai se processando em escalas sucessivas, dando aos encarnados o tempo necessário ao amadurecimento da compreensão para que haja assimilação. Em obediência ao traçado operacional, mesmo que reencarnem espíritos esclarecidos quanto à verdade ou quando desencarnados em missão específica, vedadas lhes são ações mais avançadas que venham causar desarmonia, ou provocar choque com a concepção vigente, que só poderá ser apagada dentro dos fatores tempo-ordem, fundamentos de todas as realizações no orbe. Esses espíritos, consoante as possibilidades, ora em posição de destaque e autoridade, ora como simples componentes da massa anônima, vão conduzindo a mentalidade dos encarnados em direção ao progresso científico, à humanização dos costumes, promovendo a cultura e amenizando o rigor das leis vingativas pelas educativas moralizantes. 140
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Nessa morosidade equilibrada e consciente, vão preparando terreno para coexistência comum no futuro entre encarnados e desencarnados, em clima de solidariedade tão fraterna quanto construtiva, rumo à meta única: o progresso e o bem estar material, dentro dos mais elevados padrões de moral. A família humana da Terra estará em condições de unir-se a outras tantas de igual teor evolutivo, em outros planetas, objetivando, após outros milênios de labor, a ascensão a escalões evolutivos superiores, e pautando sempre pela tríade inalienável do evoluto – cultura, ciência e moral – que será dilatada em planos de vida intrasensorial pura. Quem raciocina e analisa a verdadeira razão das reencarnações sente esta verdade: quanto mais culta a sociedade, menos ela suporta o despotismo de qualquer espécie e, dentro ainda dos fatores tempo-ordem, vai procurando sua libertação. Há o despotismo frontal imperativo, aberto e claro, que visa a escravidão direta do físico e das idéias, e há aquele que é conduzido com argúcia pelos meandros da palavra sensibilizadora e convincente, que transforma o homem no corpo livre e mente escrava, aos interesses estritamente humanos de parcelas. O mundo de hoje está dividido em dois campos ideológicos distintos: um, tido como essencialmente materialista, dito também proletário, e outro que se diz democrático-capitalista e pretende arvorar-se em espiritualista. Naquele como neste, estão encarnados espíritos de elevados conhecimentos científicos e moralmente muito evoluídos. São dois mundos diametralmente opostos na aparência, mais compostos de criaturas humanas. Como tal, deverão fundir-se num só e único, quer queiram ou não, 141
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pela elevada compreensão do valor da fraternidade cooperativista, consciente e espontânea, princípio elementar do Evangelho. O materialista para subsistir, aniquila a essência da vida que é a liberdade: estará sempre na dependência da força coercitiva, pretendendo somar caráter, inteligência e sentimentos heterogêneos. O democrata dito “espiritualista” ou religioso, onde impera o capitalismo, embora não use métodos de coerção, substitui-os pelo da submissão, através do potencial econômico. Tem como aliadas, as místicas que condicionam mentes incultas ou cultas e tímidas, quando não acomodadas (abstração feita às cultas e mercenárias), a subserviência passiva, pelo terror do castigo de Deus, ou as promessas falazes de prêmio celestial inexistente. Despertando o protecionismo individual, vão mantendo na inconsciência estagnante, grande parte da família humana, retardando e não imobilizando a marcha lenta mas ininterrupta da evolução. Ante o exposto, podemos aquilatar quão difícil e delicada é a tarefa dos anônimos missionários evolutivos, para que seu desempenho não entre num impasse com a mentalidade atual, levando o todo pela trilha dos eventos sucessivos, esclarecedores e unificadores, até a meta pré-traçada para a Terra. Nos dois semicírculos sociais vivem criaturas humanas, com os mesmos sentimentos e percorrendo o mesmo caminho rumo à evolução sob a égide zelosa do Criador. Em ambas as partes existem os verdadeiros intermediários do mundo incorpóreo, a quem são transmitidos os avanços científicos e princípios culturais elevados. Estes intermediários, ainda que obedecendo aos traçados políticos, na aparência, vão lentamente norteando-se para os fins 142
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objetivados os quais, como os fatores no-lo atestam, não constituem por longo tempo propriedade ou segredo, visto que são transmitidos em tempo certo a cada parte do semicírculo. Vemos, pois, que o Criador orienta sua obra sem constranger compulsoriamente, determinando apenas circunstâncias, dentro das quais o próprio homem labora sua evolução. O que importa é que as mentes esclarecidas não fiquem estarrecidas ante eventos sociais transitórios, oscilantes, tanto atuais como passados, mas deles se valham para analisar a História de ascensão gradativa, em função da cultura e relativa humanização da própria sociedade. O que importa é que, apesar das místicas, há a impossibilidade de o ontem viver o hoje e o hoje viver o amanhã, o que prova ser a evolução ininterrupta e objetiva, conduzida dentro de normas humanas e liberais, sem tempo determinado, indiferente a credos e seitas e, sobretudo, universal. A manifestação ostensiva e organizada do plano incorpóreo constitui uma tomada de contato, em moldes concretos, buscando a possibilidade de um entrosamento efetivo com os encarnados, dentro de planos pré-estabelecidos, com diretrizes definidas, imunes a qualquer influência terrena insuplantável. Ela prevê e neutraliza, no devido tempo e necessária ordem, qualquer objeção negativa real. Não se circunscreve a denominações, não se amolda a convencionalismos, não se submete a ditames de qualquer ordem e não se serve de arautos unilaterais inconseqüentes. Ainda que ela não silencie o verbo místico e melífluo vasado do espaço através desses arautos porque aqui há liberdade de dizer, tanto quanto na carne, sabe ser ele de efeito transitório e, portanto, inócuo. 143
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Intercâmbio
A manifestação do plano incorpóreo não cala os tribunosrealejos, porque lhes mede a infantilidade e o desconhecimento do que pregam, em escala idêntica, sabendo que falam muito sem nada dizer e pelo artifício do verbo em função da fertilidade imaginativa, constroem castelos de tal fragilidade que ruem ao leve sopro de uma análise séria, ainda que elementar. Já é tempo de o encarnado entender que essa introdução do incorpóreo no corpóreo visa a fins mais sérios, de interesses recíprocos em termos de evolução. Ela contrasta com a interpretação atual, que dá margem a essa mística que campeia pelos Centros e Núcleos Espíritas, com o beneplácito dos órgãos ditos superiores e orientadores.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
21.
Obra interior e obra exterior
Cada um planta, ao longo do caminho, a sua própria árvore espiritual que o acolherá para o necessário repouso nos momentos de cansaço e de abatimento. Esta árvore é delicada e sua semente chama-se fé. Uma vez transformada em árvore, tem que ser irrigada pela água da paciência, da compreensão, do desapego, na segurança em Deus, na confiança depositada no Pai, na serenidade em todos os instantes, nas obras interiores realizadas e então, seremos frondes gigantescas que abrigarão o espírito cansado, não envolto em desânimo, mas com alento para meditar, repousar e estar sempre pronto para reiniciar a jornada. Portanto, cada um deve plantar a sua própria árvore para que possa sob a sua sombra descansar e ter o merecido repouso. Árvore é um simbolismo, mas dá idéia de que a independência é conquista, nada mais. Aqueles que querem viver o Cristianismo na sua mais perfeita pureza, sabem que sem obras, sem movimentação, sem a dinâmica cristã, não existe Cristianismo. Não existe o Paracleto nem o Consolador. Consolador no caso, pode ser substituído pelo sinônimo “o portador de esperanças”. Não é o que consola, mas dá esperanças, abre o campo emocional, condiciona a criatura para a luta em busca de novos campos espirituais. Aí sim, ele é o Consolador, a esperança. Obra interior – Obra exterior
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
Obra exterior porque, mesmo construída, operada ou realizada, não deu à criatura aquela sensação de beleza espiritual. Por que não teria dado? Porque existiu nela um “quê” de vaidade empanando todo o brilho interior da obra, o que a torna exterior, é apenas uma realização. Não educou aquele espírito no esforço constante. Há suntuosidades, monumentos vazios de espírito, não vibram dentro de si o sentido educativo e que, através destas realizações, a criatura possa seguir a escola benéfica do sacrifício e do amor ao próximo. É necessário que aquele monumento tenha vida dentro de si, dentro de cada espírito, pois precisamos de obra interior, procurando tirar todo proveito da obra exterior, remodelando-nos no trabalho (prática dos ensinamentos de Jesus). Jesus não ensinou somente a construir obras interiores, mas disse: “Ponham em prática através das obras e passem a viver em sentimento”. Precisamos fugir da obrigatoriedade das realizações. Deve prevalecer a espontaneidade advinda de um profundo amor ao próximo. Quando construirmos, devemos perguntar não se está bonito, se está dentro da estética, ou se é grandioso, mas para quem servirá. Isto é que é obra interior a qual deverá ser feita por amor, procurando na execução desta obra, a própria educação espiritual. Temos, assim, a dinâmica cristã movimentando o interior do espírito. O importante mesmo é que construindo interior e exteriormente, cada um busque conquistas do momento sem a pretensão do amanhã melhor. 146
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
“Cada um receberá segundo suas obras”. Receberá o quê? Poderá receber aquilo que quiser. Se na obra empregar o sentimento de vaidade, já está recebendo segundo sua obra, a negatividade. A obra estará consolidada na pedra sem o alicerce espiritual da humildade, do desejo de remodelar-se. O que são as obras? Serão as pedras superpostas no chão? Um sorriso amigo é uma obra. Um gesto de amor é uma obra e também um carinho vivido, um carinho que vem da alma, não aquele sorriso pré-construído para que o Pai veja e registre pensando que sendo bom, terá um dia, uma paz eterna e uma felicidade duradoura. Importa compreender de uma vez para sempre, que o Paracleto não veio trazer absolutamente, um novo Jesus crucificado, nem um Evangelho novo. Veio trazer sim, notícias reais, vivas, indiscutíveis, inadvogáveis, porque um dia quando ocorrer o desencarne, se as obras não forem obras que tendam a reestruturar o sentimento, que condicionem emocional e moralmente cada um para que possa viver, independente de lugar (“céu” ou “inferno”), um estado de espírito de paz, de tranqüilidade, possa viver a vida emotiva, a vida interior, redimida através das próprias obras, possa ser e não estar, que mais precisa a criatura para se capacitar da realidade? Quando for feita uma doação material para uma obra externa, que se faça com a grandiosidade do amor, com o desejo de ver alguém sorrir, que circunscreva a felicidade de ser bom no momento da bondade e terão diuturnamente lições e oportunidades magníficas. 147
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
“Cada um receberá segundo suas obras”, ou seja, cada um receberá e guardará no tesouro interior, segundo suas vibrações de amor e de desprendimento, porque não existe obra interior que não seja fundamentada nos alicerces das sublimes virtudes e no aprimoramento interior. O importante é entender que não é servir a Jesus. Quem menos precisa de ser servido, venerado, é Jesus e ele não necessita absolutamente que o venere, que o agrade, que o bajule. Nunca foi dito pelo Mestre que: “Cada um receberá segundo a veneração que me fizer e pelo amor que tiver a mim!” “Dizeis: Senhor, Senhor, e não fazeis aquilo que eu mando”. Aquilo que lhes ensino. Portanto, o principal não é dizer: Senhor, Senhor, através da veneração, da adoração, da oração, e o que mais seja! É fazer o que ele ensinou. E o que ele ensinou? Que amássemos uns aos outros e, como o amor só pode ser amor através da expressão de uma pessoa com outra, de um irmão com outro, então amemos uns aos outros. E o amor não se circunscreve, não tem condições, a prática do amor não está estabelecida num código, não está fundamentada em estatutos ou em regulamentos. O amor é o que é porque é. Ele não se circunscreve ao pão, à roupa. Cumpre a cada um sentir-se suficientemente encorajado de ostentar o título de cristão, de ter a presunção do conhecimento e da profunda e inegável verdade do retorno de Jesus através do Paracleto e do Consolador. “Prece” 148
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
Oh! Até entre as lágrimas há diferença de sorte, Umas cantam a vida Outras gemem a morte Como se a morte ainda existisse! Meu Deus, quanta tristeza ao ver alguém sorrir! Meu Deus, quanta alegria ao ver alguém chorar! É a sublimação da alma Num poema líquido vertido. Como um cantar que do peito sai, Um puro e doce gemido Pulverizando a terra, Mestre! Lágrima bendita e querida, É sempre um retalho de vida. Lágrima, pureza feito prece, Jesus, Mestre! Temos nos esforçado para te amar Sabemos que a tua figura magistral É apenas um ponto de referência! És a fonte aonde vamos aurir a energia. És a luz que nos indica o caminho. És a bandeira de luta que empenhamos. Mestre! Ensina-nos novamente! E que de teus lábios possam fluir as mesmas palavras que tiveram os apóstolos a felicidade de ouvir! “Eu vos mando como ovelhas entre lobos.” Que esta frase, Senhor, quando depararmos com a ingratidão, 149
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
quando a ignorância nos atingir em cheio, quando tudo ao nosso redor pareça tempestuoso e escuro, Que este hino de força e de amor Possa entoar no âmago de todos nós! “Eu vos mando como ovelhas entre lobos.” Verso magnífico, Senhor! Do infindável poema dos teus ensinamentos! “Ide, curai os enfermos e ressuscitai os mortos em espírito” Canto tão magnífico que enleva e encoraja! “Onde estão os teus acusadores?” Se foram, Senhor ... “Eu também não te condeno. Vai, e não peques mais.” “Por que não andas sobre a água, homem de pequena fé?” “Toma a tua cama e anda” E sendo, Senhor, o fecho da porta celeste, De tua magnífica doutrina, deste código áureo ouvindo dos teus lábios a síntese da poesia, O verbo verde de uma esperança Que não se definha, mesmo sob o escaldante sol das dificuldades e dos percalços. “Amai-vos uns aos outros, tanto como vos amei!” 150
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Obra interior e obra exterior
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consciência evolutiva
22.
Consciência evolutiva
No encontro entre Jesus e Nicodemos, o Mestre disse que falava das coisas da Terra e, em realidade, foi o que fez, porque todos os seus pronunciamentos, além de enfocarem fatos do cotidiano da época através das parábolas, sempre se relacionavam ao viver do homem na sociedade. Cada parábola é o invólucro de um ensinamento, cujo proceder conduz a criatura, bem como toda a humanidade, a um estado de progresso e moralização. Devemos entender o “proceder” como ação do homem, propondo o Mestre a independência dos cordéis divinos, confirmando assim o livre-arbítrio. Por livre-arbítrio temos não somente o permitir o ato em si, mas a consulta ao “tribunal interior”, através do qual o homem se auto-determina. Se todo ato deve ser sancionado por esse tribunal, considera-se pois, que já deva existir para funcionar de fato. O tribunal interior sendo constituído pela razão e consciência, entendemos ser o estado evolutivo do princípio inteligente ou do espírito. Desde que o princípio já esteja capacitado para julgar com antecedência sobre o valor do ato, conduz o raciocínio ao ângulo natural da razão e da consciência evolutiva que em princípios, meios e fins, distanciam-se da “razão de interesses” pessoal ou social, ou seja, a alegação de razões exteriores como fatores determinantes.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consciência evolutiva
Compreende-se, pois, que “razão de interesses” influi na decisão, e como tal, é dependente do exterior social, sendo que a razão e consciência evolutiva (íntima), não são consultadas para a atitude do momento. A consciência evolutiva isola-se em si mesma buscando razões conscienciais e, apesar dos prejuízos materiais de toda sorte, os supera, dando margem a que: “vire a outra face”, segundo a fala do Mestre Nazareno. Depreende-se, portanto, que a consciência evolutiva é autônoma, não imperando sobre ela as imposições, conceitos e preconceitos do exterior, porque compreende independência no valor do ato. A consciência evolutiva não concebe pelos mesmos motivos, outros resultados que não sejam os em si forjados, como autoretificadores de conduta, o que entendemos como capacidade de sentir e viver com auto-controle, modelando o comportamento. Como consciência evolutiva podemos deduzir personalidade já formada, cuja visão dos fatos é uma conseqüência. Por “formada” entende-se a que vê as coisas com “olhos de ver” e ouve com “ouvidos de ouvir”, refletindo capacidade de fazer uso da inteligência na maneira de discernir e compreender a essência das coisas. Em síntese, a consciência evolutiva conduz-se, não é conduzida. É livre e sobre ela não age a exploração dos extremos sensitivos, isto é, medo e vaidade, através da psicologia condicionante exterior, propondo o ato “crime ou pecado” resultando na aplicação de penas no plano espiritual. Não comporta o escravizante complexo de culpa. 153
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consciência evolutiva
Vendo, portanto, com “olhos de ver” e ouvindo com “ouvidos de ouvir”, entende na verdade dos fatos, a verdade em si, eliminando os extremos sensitivos (medo e vaidade) não dando margem à exploração subordinada à religião. Disto deduzimos que a religião é condutiva, alheando a personalidade como “ser”, desde que não lhe consulte o íntimo, enredando-a indiscriminadamente ao jugo de uma suposta lei que apenas confere o ato, impondo repressão ou distribuição de prêmios. A religião não auscultando as possibilidades do homem, ignora-o em termos de consciência e razão no momento do ato, e destrói a personalidade reduzindo-a ao estado de escravidão moral em função das promessas e punições exteriores. O Evangelho, em contraposição ao critério religioso, coloca a pessoa como ponto de referência, deduzindo da sua competência, estabelecendo concordância com as limitações naturais próprias ao seu estado evolutivo presente e diz “eu também não te condeno”. Isto sim, demonstra fórum de justiça verdadeira em termos evolutivos, dando ao homem o valor da personalidade humana como “princípio inteligente” que raciocina e age dentro da sua esfera de competência, merecendo tolerância resultante da compreensão do que é e como está, sem transformá-lo numa simples “peça” de um conjunto que sofre a ação generalizada e indistinta. Poderíamos conceber um impasse, porque as leis não tratam da unidade (homem) em seus desempenhos pessoais dentro do âmbito social, analisando a ação sobre o erro, em função da condição do autor. 154
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consciência evolutiva
Ao iluminarmos a cena em que vive e opera a pessoa e nos dermos conta do heterogêneo de que a cena se constitui, onde o desnível promove desequilíbrio sem número, encontramos na reação de “ordem geral”, uma negação dos princípios de justiça. Poderíamos admitir como justificável a ação genérica das leis, se as bases promovessem situação de igualdade em todos os sentidos. Entretanto, se permitimos a uns e negamos a outros, teremos resultados compatíveis com esse desnível, porque não há efeito sem causa. A justiça evangélica que consulta (ausculta) as causas através da pessoa humana, não endossa a ação genérica das leis. Se cada um há de colher segundo o que plantar, admitimos que o plantio será pela razão e consciência, devendo saber o que planta. E como o grão plantado é de origem consciencial, a colheita, por certo, voltará a este celeiro (consciência) e só será deslocada ao aproveitamento retificativo, quando souber dar o valor à experiência colhida. Se o semeador não conhece a qualidade evolutiva da semente, naturalmente não saberá também da má qualidade colhida. Em todos os casos porém, entram a razão e consciência analíticas, para deduzir com conhecimento de causa, o valor do plantio. Podemos dizer a um homem que errou, segundo a linguagem terrena e, proibi-lo da reincidência, sem que tenhamos concorrido para a compreensão racional e consciencial do valor moral do ato. Este homem ficará conhecendo que não deve errar, apenas pelos resultados que lhe serão impostos, sem entender como erro perante sua consciência, devido ao seu estado evolutivo. 155
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consciência evolutiva
Não há nesse homem a voz interior para responder sim ou não quando consultada sobre determinado procedimento. Isto demonstra que a capacidade evolutiva jamais será imposta por qualquer processo, somente o desenvolvimento da Razão e da Consciência através da metodologia pedagógica que parte do SABER e no decurso dos milênios, transforma-se em SABEDORIA. Este raciocínio baseado na realidade inconteste da esteira do tempo e seus eventos de progresso, separa a religião da moral (separação do joio e do trigo) auto-desenvolvida como constitutivo do SER, pelo qual se conduz. Como já dissemos anteriormente, a consciência evolutiva conduz-se, não é conduzida.
(recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Evolução interior como reflexo da exterior
23.
Evolução interior como reflexo da exterior
O novo conceito doutrinário reencarnação-evolução, distingue-se dos demais conceitos sob dois aspectos fundamentais: evolução exterior promovendo a resultante interior em seus reflexos imediatos. Com isto trazemos o conceito de “Ação-Reação” ao seu cunho legítimo que é pessoal e íntimo - O espírito é “produto de si mesmo” no que importa o evolucitário. Portanto, a evolução é circunscrita a dois itens fundamentais: o saber e seus reflexos utilitários. Se o saber que se compreende como evolução exterior não penetrar o interior pelas vias da razãoconsciência, não resultando em pensamentos, palavras e atos dignos, moldados na lealdade e sinceridade de propósitos, prevalecem apenas conhecimentos moldurais ilustrativos, não se reconhecendo como evolução interior. Vemos, pois, que o ato que comprova a evolução interior é sempre moldado no sentimento, reflexo imediato - Causa e Efeito. Devemos retirar da causa o efeito emotivo (vida evolutiva emotivada). Dá, portanto, à nova filosofia reencarnacionista, uma direcional inversa à tradicional que impetra razão evolucitária na ação com reflexos corretivos alienígenos ou exteriores, tornando assim, o espírito dependente de propulsores coercitivos que, por força do fato, cerceiam o sentimento vida que é a liberdade ou livre-arbítrio.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Evolução interior como reflexo da exterior
A nova escola dá senso racional ao livre arbítrio e advoga a evolução sem tempo, métodos ou processos, o que revela a elevada compreensão do FATOR (Deus), sobre a felicidade temporária de sua criação no transcurso do tempo-espaçoreencarnação. O que é a evolução senão o conhecimento da verdade trazido à prática? O que é a verdade senão tudo aquilo que possa ser entendido pela razão do homem? O espírito, a alma, o conteúdo intrínseco da verdade já habita conosco como reflexo incubado e será em nós à medida que passemos a conhecê-lo e praticá-lo pelos meandros despertadores da razão, compreensão, consciência, de que advém o resultante emotivo vivencial. “Vai, faze o mesmo e VIVERÁS”, está sintetizada a razão do nosso dizer que abarca a evolução no campo da ação-reação. Se o único objetivo é VIVER, logo temos que vida é o resultado interior da prática operacional exterior. Novamente causa vivida em seus efeitos. Todo ato que não envolva toda razão e todo sentimento, divorcia-se literalmente dos explícitos evangélicos: “Tudo o que fizeres, faze-o de todo teu entendimento e de todo teu espírito”. É a transferência do estado evolutivo ao campo realizador, que constitui a vida em seus intrínsecos componentes. Este preceito racional suplanta o tradicional, porque elimina toda e qualquer retribuição que ultrapasse a reação vida, independente de lugar ou estado, encarnado ou não.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Evolução interior como reflexo da exterior
Compreende-se, portanto, que o SER MORAL independe de qualquer exterior compulsório conducente, por exemplo, códigos doutrinários destinados a modelar a compreensão. O espírito deve coletar o exterior em termos de compreensão pessoal, ou seja: convicção provinda da capacidade de assimilação da essência ou espírito dos fatos. Desde então, passa da compreensão condicionada a ditames alienígenos que resulta no depósito de confiança denominada crença, para convicção livre geradora da certeza. Evoluir é, em síntese, a eterna busca de si mesmo, a libertação da ignorância e conseqüente usufruto do resultante: vida. Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Um côvado
24.
Um côvado
Quando o Mestre Nazareno diz que não é possível o acréscimo de um côvado (digamos milímetro) à nossa altura ou à nossa vida, faz uso de símbolos que se prestam como fixadores do pensamento hermético a ser desvendado pela busca daquilo que ele chama de verdade. Os ensinamentos do Nazareno são vazados na linguagem simples abarcando figuras e fatos do dia-a-dia da época, o que são apenas invólucros dos constitutivos reais da sua doutrina. Os verdadeiros objetivos compreendem a consolidação de uma ordem social fundamentada na justiça e dignificação do homem como pessoa humana. Assim como fez uso dos símbolos, figuras e fatos do diuturno de então, também e de maneira inteligente, valeu-se dos prometimentos das vantagens que os injustiçados de toda sorte teriam pela guarda e prática do que ensinava. Inteligente, dissemos, porque soube a um tempo introduzir sua doutrina num manual de auto-disciplina que manteria aceso o idealismo pelos séculos afora. Para que a humanidade chegue à condição predita pelo Mestre, só há um caminho, que é a evolução da sociedade. A doutrina é, portanto, unicamente evolucitária, daí o porquê de todas as figuras, símbolos e fatos, esconderem na sua simplicidade o íntegro real a ser descoberto pela análise racional. Assim, altura e vida simbolizam a evolução, e a impossibilidade do acréscimo, a ordem imutável e inviolável que governa o 160
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processo. Tudo na criação está submisso a uma ordem que caracteriza a seqüência dos fatos em todos os sentidos. Quer dizer que em evolução não existem meios que apressem um avanço fora da ordem. A pretensão das religiões, seitas ou filosofias em oferecer meios para um avanço evolutivo, é conceito ilusório e prova de que não têm noção do que seja o processo evolucitário no seu realismo inconteste. Importa esclarecer ainda, que a evolução não pode receber acréscimo de qualquer forma porque não obedece a regras aritméticas. Não é possível somar nada, porque é uma dinâmica em desabrochar constante. Ao desabrochar de uma flor nada pode ser acrescentado, todavia, segue o curso ordenado e ininterrupto. Essa é a figura que permite compreender a evolução. DO PROCESSO O único exercício que desenvolve a inteligência é o raciocínio objetivo, ou seja, na busca da solução de questões normalmente ligadas a interesses pessoais ou de grupos. Podemos dizer que o campo da razão é o da busca constante de processos que resultem em melhor forma de alcançar o proposto pela consciência analítica objetiva. Por melhor forma, entendamos maior precisão, melhores resultados, enfim, em menos tempo, aplicação ou desperdício.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Um côvado
Por consciência analítica objetiva tenhamos apenas o resultado do processo desenvolvido pela razão. Sempre que falarmos em evolução, devemos saber o que e quem é o evoluendo, que no caso é o mesmo homem terreno conhecido, como é e como está. O como está, é o que nele evoluiu, ou seja, a inteligência. Para que o homem terreno evolua, faz-se imprescindível a ação de elementos exteriores formativos e constantes do habitat que o obrigue ao raciocínio para a solução. A esta ação compulsória podemos chamar de função pedagógica, o que nos diz ser a terra uma das escolas do cômputo didático do universo. Estabelecendo relação entre o realismo em que vive o homem e a fala do Mestre, desfaz-se a nebulosa aparente do côvado, porque tratando-se de uma desenvoltura ordenada, torna-se impossível estremecer o processo sem que se tenha contrariado a lei. DAS LEIS Como falamos a evolucionistas, tornam-se desnecessários preâmbulos quanto à evolução em si, daí entrarmos no assunto de forma direta. Sabemos que no âmbito universal gravitam mundos sem conta e que cada um é regido por leis próprias e que, constituem habitats de famílias humanas. O homem terreno face a sua condição evolutiva só pode habitar neste planeta ou em outro em condições similares. 162
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Um côvado
Como são leis, por força do fato agem sem discriminação, bastando que haja condições. Assim, para as enfermidades que atingem tanto o virtuoso como o celerado, como no-lo mostra a realidade, assim também as intempéries que constituem o conjunto de fatores ambientais. A superação dos efeitos desses fatores é que obriga o homem ao uso do raciocínio na busca de meios, de que resulta o desenvolver da inteligência realizadora. Por um processo descritivo de que o aprendiz de hoje será um mestre amanhã na imensidão do cosmos, iríamos muito longe, o que é desnecessário aqui. O que na terra destaca-se como gênio, em planos outros é apenas um dos componentes daquela família humana. O exercício do raciocínio é a reação constante do homem aos motivos e circunstâncias exteriores e, a cada estado evolutivo, compete uma reação condizente. Cada habitat proporciona motivos e circunstâncias diferentes mas sempre em condizência ao estado do habitante evoluendo, no sentido biológico. Todavia, o mais evoluído encontra no habitat os motivos e circunstâncias que lhe permitem desenvolver a inteligência e usufruir em termos de conforto, das suas realizações. Está claro no exposto que a evolução é ordenada, pessoal, intransferível, inalienável, motivo pelo qual não é possível acrescentar nada, bem como abreviá-la.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica) 163
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consolador
25.
Consolador
“Se me amardes guardareis os meus mandamentos e eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro consolador, para que fique convosco para sempre; O Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós. Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito” João: cap. 14:15 a 26 e João: cap. 16:12 a 13 Consolar é a ação de conduzir a criatura ao conformismo. Conformar-se é aceitar o que é como é, e o que está como está, o que implica em neutralizar a reação em busca de modificação. Isto é aceitável quando a situação, condição ou fato, não tem solução possível. Ao contrário, todavia, quando há certeza de que a mudança de rumos em busca de outros resultados que sejam os objetivados, depende do esforço realizador, não cabe consolo ou conformismo, ou ainda a propalada esperança. Todos estes paliativos são superados, como no caso da evolução de tudo que é criado, dentre os quais tratamos aqui do homem. Sendo a AUTO-EVOLUÇÃO o resultado da dinâmica acionada pelo próprio homem em todos os campos de atividade sóciovivencial, fica compreendido que o consolo ou conformismo tornam-se conceptivos inúteis por serem inoperantes. 164
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Se o homem busca um colimado e este depende do seu trabalho, e havendo correspondência que possibilite como sejam, fatores pessoais de grupo ou comunitários, deve persistir apenas a alegria pré-usufruída que alimenta a já referida dinâmica realizadora. Este é o processo único aceitável no operacional evolutivo do homem. O “espírito de uma verdade” compreende-se como o motivo dessa verdade, visto que não existe verdade sem motivo. Sendo o motivo uma causa, como tal seria inútil, mas como toda causa resulta num efeito quando acionada, temos que a verdade acionada pelo homem surtirá o efeito que, no caso, é a autoevolução. Mas o que é a verdade para o homem? Nada mais do que aquilo que possa ser de alguma forma sensível e analisável dentro da realidade, razão e consciência comuns. A mente humana não transpõe as fronteiras do realismo, o que equivale dizer as dos efeitos observáveis. É, pois, destas verdades que o homem conhece e compreende o espírito, o motivo portanto, bem como sente e vive os seus efeitos. O espírito das verdades pré-existe ao concreto e este é o seu efeito, o que o comprova a expressão do Mestre nazareno: “Habita convosco”. O homem é, pois, um dos efeitos do espírito das verdades. O Consolador 165
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consolador
Por que “estará” e não “está” em vós? Quando estudamos os ensinamentos do Mestre nazareno, importa discernir entre os comentários construtivos e complementativos da narrativa, a palavra chave que encerra a lógica do dizer. Para que fique claro e justifique o que dissemos, devemos traçar, ainda que em síntese, o perfil do caráter do Mestre que, em inúmeras oportunidades, deu inequívocas demonstrações de repúdio à bajulação, bem como de vaidade pessoal. É deste fundamento que temos que partir para analisar a promessa de “outro” consolador. Pelo que dissemos, a referência à sua pessoa compreende-se como uma atitude necessária por vários motivos como: cultura da [época e mais precisamente da audiência seleta (os apóstolos), além do valor da psicologia sugestiva condicionante via carisma, objetivando a disciplina mantenedora dos ideais semeados que deveriam transpor os séculos à espera de condições para sua consolidação. A frase “habita convosco” nos diz da inteligência em potencial, já contida no homem em estado latente. O “estará em vós”, implica na condição desta mesma inteligência desenvolvida ao ponto de permitir a compreensão dos ensinamentos do Mestre, pela qual o homem será consolado. O verbo nos aponta o futuro, logo, diz da dependência de uma condição a ser estruturada para que o “espírito da verdade” esteja no homem. Isto é que dá razão ao “estará”, em lugar do “está” em vós. Se não estava era porque não havia a referida condição. Qual será a condição? 166
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Sendo a verdade para o homem tudo o que dentro dos limites de sua razão, consciência e sensibilidade possa ser conhecido, entendido, sentido e assimilado e, para que isso aconteça, faz-se imprescindível a desenvoltura da inteligência, possibilitando elevado nível de cultura. Resume-se nisso a condição para que se autentique o “estará em vós”. Se a verdade para o homem são os fatos, infere-se o que “estará em vós” é a compreensão do ESPÍRITO dessa verdade. Esta profunda compreensão cimentada no racional e lógico estará no homem como constitutivo dinamizador da VIDA. “Mas o consolador, o espírito santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse VOS ENSINARÁ TODAS AS COISAS, e vos fará lembrar de tudo o que eu disse.” Naturalmente tratamos com evolucionistas e não com salvacionistas. O que são todas as coisas? Ao dizer todas as coisas enfeixa tudo, absolutamente tudo. A evolução se resumirá nessas COISAS? Se assim não é, como entender então? Basta enfocarmos o evoluendo, que é o homem, e analisarmos o seu SER, TER e ESTAR mesmo na existência terrena, e teremos um quadro claro dizendo da impossibilidade de ser ensinado algo com coadjutora evolucitária em qualquer campo de atividade. O homem, bem como toda criatura, é um ser autodidata e, dentro dos limites dos efeitos através dos esforços para vencer o agressivo que constitui a lei do plano em que vive, consegue desenvolver sua inteligência que é, em suma, a base da evolução. 167
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consolador
Nada, portanto, lhe é ensinado, mas sim conquistado pelo saber desenvolvido na própria busca de conhecimentos, que o compulsório do habitat lhe impõe. Não há exagero em dizer que o homem é limitado ao campo dos efeitos, nele operando na faixa da razão, porque a própria definição de Deus deixa claro a condição. O que é Deus? Deus é a inteligência suprema, “CAUSA PRIMÁRIA DE TODAS AS COISAS”. Vemos, pois, que dos efeitos COISAS o homem parte para a definição da causa. Se ao homem fosse dado a penetração no campo das causas, ele teria possibilidade de responder e definir o que é uma inteligência. Teria, no caso, se autodefinido e também a sua própria origem, em suma, superado Deus. Fica, portanto, bem claro que a definição de Deus passa do terreno da hipótese para o da certeza porque parte do conceito de que todo efeito tem uma causa. O consolador prometido que “habitava” apenas, era a evolução em potencial e o “estará em vós”, é o aflorar dessa evolução em termos de inteligência que fará compreender pelo progresso constante e eterno, as verdade ou seja, o motivo dessas verdades. Conclui-se que, não sendo o Mestre uma criatura vaidosa, que chamasse sobre si o mérito de SER um consolador e, como o “outro” não pode vir ou ser em termos de personificação ou mesmo uma doutrina, o termo consolador deve ter outro sentido. Se o papel do consolador, segundo o próprio Mestre é instruir (ensinará), todas as coisas e, por força do fato, será recordado o 168
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Consolador
que o Mestre ensinou e, como nesses ensinamentos estão extraordinárias verdades ocultas, cuida-se desde logo face ao processo que permite a evolução, tanto o que foi ensinado como muito mais, será desvendado pelo homem através do esforço contínuo. Desde que o consolador na prática deva ensinar, não se encontra comunhão de sentido entre o consolo e a instrução. Um é estagnação, e outro dinamização construtiva. O homem, em realidade, desconhece o conformismo, a aceitação passiva do que é como é, do que está como está, mas reage sempre em busca do melhor, do mais certo, do mais rentável: é a evolução em marcha. A interpretação confessional da referência do Mestre ao consolador é muito pobre, quer de razão, ou mesmo, de inteligência. A razão deve buscar o conteúdo e não o invólucro, sob pena de confundir-se.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Graças a Deus
26.
Graças a Deus
Há pessoas que dizem que a reencarnação é o enclausuramento da carne, ou ainda cárcere da carne. Por que cárcere da carne? Serão os filhos do Pai eternos convictos, eternos condenados? Esta é uma denominação um tanto pejorativa, desconcertante, porque os que se encontram encarnados na Terra, estão num dos estágios da imensa escola de evolução. Por que cárcere, calabouço? Precisamos nos libertar desta mentalidade de criaturas escravas, pois ninguém encarcera seus filhos, e se o faz, é com muito amor. Somos filhos de Deus quando estamos encarnados ou desencarnados e em qualquer ponto do universo. É justo que tenhamos que passar encerrados nas salas de aula um período em que devemos estudar e aprender. Grande mestra é a Terra, ensina sempre o espírito como viver, como agir e como deve sentir. Existem degenerescências, sem dúvida, como em toda escola existem os néscios, os imbecis, os que vivem dentro da estultice. Sendo a Terra escola, não se pode esperar que existam só pessoas cultas, evangelizadas, boas, por ser escola. Assim sendo, vamos aceitá-la tal como ela é, ESCOLA. E uma escola é composta de seus diversos graus de ensino. “Felicidade” Felicidade, no seu sentido absoluto, demanda uma perfeição absoluta. Dizemos “felizes” face do que já conseguimos, porque se 170
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formos exigir a perfeição, ficaremos eternamente aguardando esta felicidade, que é um eterno relativo. A felicidade é vivida segundo as conquistas de cada espírito. Cada avanço, cada progresso já traz um certo sentimento de paz, de equilíbrio, de um domínio relativo, e isto deve constituir felicidade. O homem que planta, não se sente feliz somente depois da colheita. Ele observa o verdor das plantas, sente que ali dará espigas sobejas, tem uma previsão e vive aqueles instantes de emoção, de felicidade face ao trabalho já realizado, mas não completo, porque a evolução é eterna, tem caráter permanente no espírito. Se já somos capazes de ter domínio sobre uma situação, já temos forças para 10%, já conseguimos um auto-domínio, isto já deve ser motivo de alegria, já deve constituir em si, uma motivação de luta maior, já é uma felicidade. “Graças a Deus” Quando dizemos “Graças a Deus”, não é bem “graças a Deus”, mas graças às oportunidades que o Pai dá para que nos sintamos bem, através das realizações, do esforço e do trabalho. Graças à oportunidade permanente porque neste “graças a Deus”, caímos naquele cunho de caráter absoluto de entregarmos a Deus a responsabilidade de tudo quanto temos que realizar, e Deus passa a ser o promotor de tudo.
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Se dissermos: “graças a Deus” choveu, é esquisito e incoerente. Analisando concluímos que até aí está tudo certo, pois foi “graças” às leis eternas que regem o universo, que choveu. “Graças a Deus”, eu sou feliz, tenho alegria. “Graças a Deus” tenho paz no meu lar, estou bem. Ora! Isto não é obra de Deus, não é Deus quem faz. “Se Deus quiser, tudo dará certo”. Deus pra lá, Deus pra cá e, vamos chegar a dizer: “Graças a Deus” um homem assassinou o outro, ou “Graças a Deus” os homens se desentenderam, e eclode uma guerra massacrando milhões! E então, será “Graças a Deus” também? Podemos dizer que ficamos órfãos de Deus e não temos mais Pai? Por que não admitindo o “graças a Deus” ficamos mentalmente e emocionalmente órfãos, ou aleijados sem possibilidade de locomoção, pois nos tiraram as muletas? Deus é muleta deste caso. Graças às leis que Deus nos dá, indiretamente podemos dizer: “graças a Deus”. Mas, e os crimes, os descalabros sociais e os desajustes, acontecem “graças a Deus” também? Ou graças à ignorância que ainda possuímos? É graças à preguiça mental, ao desleixo das coisas superiores que vem esta reversão, esta situação destruidora que nos deixa constrangidos. A verdade é uma só: se temos que evoluir, será que Deus vai evoluir por nós? Diz-se “graças a Deus” eu consegui a virtude de ter paciência, senão, onde estará o mérito da pessoa? Para aquele que aceita a evolução do espírito será graças ao seu esforço que poderá viver, conseguir ser virtuoso em determinado sentido. Parece um tanto estranho porque é um hábito ferrenho e arraigado este de que 172
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Deus tem que ser o promotor da paz. E não será também da desordem? Não temos um acerto, uma definição. Se é Deus quem promove a paz e as coisas boas, quem promoverá a parte desregrada e má? Graças não a Deus, mas sim, às suas leis eternas e imutáveis, graças também às oportunidades que Ele nos dá, sem nos eximirmos das responsabilidades de construir a nossa própria felicidade, de estarmos bem segundo os nossos próprios esforços, a nossa própria luta. Precisamos reconhecer as “graças de Deus” segundo os princípios gerais, as possibilidades comuns a todos. Infelizmente esta expressão traz uma cunho de particularidade como se só aquela pessoa estivesse enredada nas “graças de Deus”. Seria viver no misticismo arcaico das indulgências, da benevolência parcimoniosa do Pai, no sentido de agraciar um e desagraciar outro. Quando dizemos: “graças a Deus”, dá a impressão imediata de que somos nós única e exclusivamente os agraciados. Por quê? Com que direito? O que temos feito mais do que os outros para recebermos em caráter especial e particular as “graças de Deus”? Onde estão estas “graças de Deus”? Ora, que um reinado esteja nas “graças” de sua majestade, vá lá! Mas, de um Deus, soberanamente justo e bom, nunca! Se expressarmos este “graças a Deus” na consonância das suas leis eternas, imutáveis e imparciais (iguais para todos), é um reconhecimento de ordem geral, mas “graças a Deus” no sentido de ser agraciado com a estrela, com a medalha, pelo fato de se 173
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Graças a Deus
supor bom, de se supor sumamente religioso, e por qualquer evento, a criatura estará colocada na “graça de Deus”? Vamos acabar de uma vez com esta “graça de Deus”. A justiça não sorri, ela é séria, mas é uma seriedade alegre, comunicativa, justa. Não é um tribunal. É uma justiça amiga, educativa, que vai modelando cada uma das criaturas. Precisamos entender um Deus diferente, neste caso, princípio fundamental de justiça, criador de todas as leis conhecidas pelo homem, até o presente, um Deus que, sendo criador, sua vontade é que, partindo dos princípios da evolução, o espírito chegue até Ele. Não é ter Deus, mas evoluir, conquistar, buscar sempre. “Deus” O nosso Deus é diferente. É o Deus que criou o homem. Não é o Deus que nasce da concepção vinda dos primórdios do raciocínio humano. É um Deus que não admite parcialidades, que não se busca no céu, no empírico, numa criação de paraíso, que tem seu trono com Jesus à direita, não se sabe quem à esquerda, atrás, embaixo, ou em cima. Nosso Deus é firme, seco, no qual a única poesia existente é a justiça. Seu amor pelas criaturas não é este amor perfumado que o poeta trovador canta cheio de eloqüência, um amor que os hinos vazios de sentimento pretendem ressaltar. Seu amor é paternal. Contemple tudo. Busque em tudo que os olhos possam repousar, o milagre das leis, o milagre vivido na flor, no fruto, no céu, no mar, na terra: “Pela obra conhece-se o obreiro”. É a maneira pela qual este Deus pode se apresentar, porque a 174
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concepção do homem é muito limitada para as coisas de maior alçada. A mente humana jamais poderia suportar um Deus que se apresentasse num grau superior à sua capacidade de absorção e de compreensão. Por isto, Ele se apresenta na simplicidade de tudo que o rodeia, e manda que o homem observe. A figura magistral de Saulo de Tarso, varão impávido, cheio de ousadia, soube fazer verdadeiramente do Evangelho motivo de união sincera entre os homens, soube também entregar este Evangelho à posteridade, na sua pureza ilibada dizendo aos gregos: “Este Deus que vos prego, nele vivemos, nele sentimos, nele estamos, entretanto, o procuramos tanto hoje”. Teria Saulo de Tarso falseado a verdade? Precisamos fugir da beatitude contemplativa, da estática espiritual e penetrar em profundidade na dinâmica do espírito. Vamos em busca do mais alto, da verdade, do mais firme, daquilo que nos pode proporcionar maior visão do Deus perfeito. Vamos à ação, ao imperativo do momento. O trabalho é luta, desprendimento, e o importante é o que diremos no amanhã se ficarmos dormitando ao sol da esperança, supostamente embalados pelas “graças” da divindade. A justiça do Pai toca o indivíduo, a coletividade, e aquele é envolto no cataclisma evolutivo da própria Terra, nos desajustes sociais, nas eclosões de sangue, do suor, do fogo da metralha. Tudo isto é realmente necessário para o acordar do espírito. Para que ele se purifique? Não. Nenhum espírito é impuro, não existe nada que tenha saído do Criador, desta majestade de amor, pureza e perfeição, que possa ser impuro. 175
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Não é possível mais aceitar este deísmo, esta veneração do altar, este incenso que não cheira, mas existe na concepção de purificar o espírito, tirar mazelas. Esta denominação terá que ser extinta. Não é inovação, absolutamente. Apenas estamos colocando o certo no lugar certo em tempo certo. Se nada que advém de Deus é impuro, então por que purificar o espírito? Que este se conscientize de que independe de Deus na sua evolução e não tem “graças a Deus”, mas é dada, como a todos, a mesma oportunidade em função das leis eternas e imutáveis. Não se pode misturar dois corpos antagônicos, não se pode somar quantidades heterogêneas. Não é possível. E se não é possível nas leis fundamentais da matemática, como admitir a soma de duas verdades sendo uma certa, outra suposta e ainda querer um resultado satisfatório? Evolução é aquisição de conhecimentos para que o espírito seja senhor de si e, embora não tenha alcançado e se alcandorado ao sentido de profunda contenção dos seus desvarios, mas pelo menos sentirá um pouco de paz ao alcançar o mínimo, e daí para frente lutará. Cada vez que se sentir o desejo de consultar o “porquê” da evolução, deve-se ter em mente que Deus não tem nada com isto, absolutamente nada. Ninguém depende de Deus para evoluir no sentido de Deus-existente, Deus-ser, não interessa o que Ele seja, interessa sim, que suas leis eternas e imutáveis são equânimes, imparciais e iguais para todos, para tudo, e envoltas no sublime amor da compreensão que aguarda a criatura no calor da sua paternidade. 176
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Graças a Deus
Quem pensa que está na dependência da “graça de Deus” para dar um pequeno passo na espiritualidade, está retrogradando milênios no tempo. É viver ainda na época do crê ou morre! É beber água em fonte estagnada, sem se aperceber. É preciso encarar a situação de frente, sem pejo, sem medo, sem que Deus continue sendo muleta. Se dependemos de um mínimo de Deus para a evolução, para a auto-evolução, este Deus automaticamente e de maneira indiscutível, está sendo parcial porque deixa a mancheias oportunidades através de um cem número de quesitos que possibilitam a criatura avançar na senda da espiritualidade. Assim, nada absolutamente, nem uma pessoa, nem uma pedra deixa de ter o seu papel no sentido da evolução de todos os planetas e de toda a criação, ninguém, absolutamente ninguém, está na “graça de Deus” ou na “desgraça do Pai”, porque todos são seus filhos. Ele não é o rei, não é majestade, não é o superior hierárquico que tem as suas preferências, e aqueles que o agradam, estão nas suas “graças”, e os que não o agradam, estão na sua desgraça. Acabemos com isto, cerremos o pano deste teatro o quanto antes. Que cada um procure sempre tomar a sua própria cruz nos ombros pelo caminho íngreme das lutas constantes na conquista da sua própria personalidade espiritual, impondo a si mesmo uma rígida disciplina moral em todos os sentidos, indo em busca da sua auto-redenção de encontro ao Pai de amor, não de misericórdia. O Criador não tem misericórdia de ninguém, porque Deus é justiça antes de mais nada. É justiça ilibada, essência da própria justiça. Mas, se Jesus disse: “Misericórdia quero, não sacrifício...” 177
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Graças a Deus
Compreensão quero. Misericórdia é compreensão, nada mais! Sintamos o termo na sua pureza, no sentido lato, na expressão verdadeira. “Quero compreensão e não o absurdo de um sacrifício inútil”. Tudo vai de encontro com uma realidade pulsante, palpável, sensível. Está aí o cenário do mundo. Existem centenas de milhões de filhos de Deus desgraçados porque alguns que o adoram, o amam, rezam, e são estes que vivem na “graça” de Deus! Até quando e de que maneira permanecerá esta mentira deslavada e destruidora? Quem poderá contradizer a verdade? Existirão duas verdades? Não. Existe Deus! Apenas Deus, o Criador, comprovadamente porque as suas obras estão aí. O próprio homem é obra do Pai. O bom obreiro é Deus. O homem é fruto da árvore chamada Deus e, como pelo fruto se conhece a árvore, nenhum homem é mau, nenhum homem é perverso, nenhum homem deixa de estar na “graça de Deus”, nas eternas “graças da oportunidade” da evolução. Para sentir um Deus justiça, se faz necessária alguma luz interior. Para sentir e aceitar um Deus verdade, é preciso alguma coragem e uma hercúlea força de vontade de lutar pelo seu próprio soerguimento.
(recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Encarne e desencarne
27.
Encarne e desencarne
O caminho é longo e a paisagem é triste; desolação, nem sombra existe, é causticante o sol a esturricar toda erva, mas o viajor não descansa, conserva a energia e o vigor, ansioso por palmilhar, por ir em busca do fim desta jornada, sentindo o frescor da brisa que perpassa. O que mais o anima é a esperança do “oásis” que se aproxima. Realmente, a jornada é longa e o caminho íngreme, difícil, contudo é nesta forja que se retempera a coragem daqueles que buscam a sua própria libertação. A história da humanidade encarnada está repleta de rasgos de heroísmo em prol de liberdades, repleta de gestos incomparáveis, raiando pelo estoicismo, intrépidos em busca do sonho de liberdade querendo sentir em si asas fortes e possantes para esvoaçar na amplidão. Este sentimento predominante é que vai concitando o espírito de cada um a palmilhar o caminho longo, onde a estrada é íngreme, cheia de obstáculos, de tropeços a serem vencidos. O importante é não desanimar, é volver os olhos para o ontem e encontrar-se já na infância, depois na mocidade e eis que a maturidade é hoje. O lapso de tempo é relativamente curto, diminuto, a existência é muito curta. O Pai, de um amor profundo e uma compreensão extraordinária, delimitou a existência na medida exata e justa à capacidade de suportação de cada um. Se não concebermos a existência, a reencarnação desta forma, por este
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prisma, estaremos normalmente retirando do Pai, o sentimento que o nobilita, acima de tudo, que é o da justiça. Cada criatura precisa compreender e sobretudo sentir que, embora pareça longo o caminho, tem sempre suas etapas de descanso e recuperação através das reencarnações sucessivas. Entendamos claramente que, desencarnar e reencarnar faz parte integrante da concepção de justiça do Pai, sobretudo de amor, de compreensão. Já o Mestre enunciara com precisão extraordinária, quando delimitou a capacidade de suportação da carne como fraca. Mas, o espírito em si não conhece desencarnação nem reencarnação, apenas muda de estado, de situação. Numa reencarnação o espírito vem e reinicia seu ano escolar. Quando desencarna, entra nos folguedos normais do descanso tão comum a todos. Então o caminho é longo, difícil, mas a solução de continuidade inteligente e justa feita pelo Pai, nos dá sempre a possibilidade de repouso, de um descanso, o que se limita somente àqueles que já têm consciência de causa, que pautam pelos nobilitantes princípios do progresso espiritual, do amor, do trabalho, que já acordaram para a luz, que já tomaram a direção exata e certa da ascensão e do progresso. Para outros, entretanto, a reencarnação como a desencarnação é uma confusão ainda. O embrião da mente não discerne bem. O caminho é longo, quase desanimador. Mas, se voltarmos a sentir a veracidade das reencarnações, temos que dizer: “Senhor, como é justa a tua concepção das coisas. Ontem eu era uma criança, hoje sou adulto, amanhã a senilidade me alcançará, e depois, estarei em plena liberdade no espaço sentindo novamente 180
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a aragem leve, perfumada, na recomposição, na reestruturação das energias, e terei vencido mais uma etapa do caminho longo a percorrer.” Ainda há pessoas que, embora cientes dos princípios reencarnacionistas, de maneira comprovada, clara, que receiam o desencarne. Muitos sentem realmente um caminho longo, muito longo, penoso e triste, ainda não se apercebem da beleza do desencarne, do renascer em espírito, de reviver na essência da própria vida. Habituam-se de tal forma, como o encarcerado nas penitenciárias duras e amargas da carne, que se apavoram, já não se concebem como espíritos livres após o desencarne, mas têm pavor dos “sete palmos de terra”. A impressão nítida é que ele, o eu, é que vai lá para a terra, quando não é a realidade. Precisamos incutir na mente das pessoas, que a morte é a beleza, é a libertação, é o aureolamento do espírito após uma etapa de lutas, de sacrifícios que, quando conscientemente aproveitada, cristãmente vivida, vai conceder a este espírito, não aquilo que chamamos de galardão, mas a sensação indescritível de uma vitória sobre si mesmo, e aspirar os ares puros daquilo que tem semelhança de paraíso. Há reencarnacionistas que sentem as influências dos espíritos, que os vêem, os tocam, que manuseiam o Evangelho e os livros fundamentais da verdade reencarnacionista, hoje inegável, indescritível e inadvogável, estes mesmos reencarnacionistas às vezes sentem pavor ao falar no desencarne, colocando os espíritos, muitas vezes, numa situação dúbia, desconfiando inconscientemente da verdade que eles vêm pregar aos encarnados. 181
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Por isto é que se chama “Consolador”, que não é o consolo após a morte, mas é “Consolador” porque ouve de além túmulo a voz clara com expressões nítidas de liberdade indiscutível. É “Consolador” porque nasce em cada espírito a esperança desta liberdade, quanto mais depressa melhor. Por conseguinte, cognomina-se o “Consolador” como o fator de experiência, de alegria, o motivador, a causa de uma nova vida, dando a cada um a força e a energia de suportação do estágio muito limitado da reencarnação. Enquanto certos reencarnacionistas vivem a reboque o misticismo na concepção arcaica de um céu, de um inferno, de um castigo e de um prêmio, o Consolador será uma figura negativa dentro de si, não terá motivos de existir, porque não entendeu ainda a veracidade da palavra Consolador, não se apercebeu da grandiosidade e da ofuscante luz que se lhe antepõe aos olhos espirituais. É cego ainda. Não dizemos para não se apegar de maneira comedida e sensata ao que é de direito, aos gozos normais que o conforto oferece, naturalmente sem a exorbitância do supérfluo, porque este é o timbre daquele que não tem bom senso, mas não se deixa sepultar pela concepção de que a vida é essa, não se contentando em ser como simples presidiário da carne. Renascer como filhos do homem no sentido prumo, ereto, sempre acima, numa concepção mais lúcida que os absorva completamente, que seja este o verdadeiro, único e real motivo de existir na carne, escola do amor. Que esta consolação seja a mola motora dos atos a praticar, do desejo quase que incontido da libertação, de viver num espaço mental de concepções e percepções superiores àquelas que se 182
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possui na Terra. Sensações extraordinárias aguardam os que desencarnam e que isto sim, sirva de motivação para os bons atos, pois aquele que não aprende a se libertar já na carne, ilude-se. É uma quimera de libertação do espírito, que se inicia na reencarnação, do berço ao túmulo, e novamente do berço ao túmulo, e assim sucessivamente até que possa alcançar a liberdade total. Contudo, se não forem postas em prática as missões que libertarão este espírito na vivência da carne, é utopia, é concepção arcaica de uma redenção após a morte. O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo, está tábua de leis amenas, suaves, mas de efeito magnífico, que constitui mesmo a chave da liberdade espiritual, deve ser usada aqui na Terra. Sem isto, não nos iludamos porque, ao deixar o corpo, o que espera o espírito é apenas e exclusivamente as primeiras páginas da cartilha que deveria ser decorada na reencarnação em que o espírito se encontra. Não há condescendência e nem parcialidade, pois a lei é uma só para todos. O Pai não distingue seus filhos senão pela força de aproximar-se Dele. Nós todos caminhamos para o Pai, mas com nossos próprios pés. Não existe de maneira nenhuma prioridade para ninguém. É uma realidade nua, crua e irreversível, o progresso de cada espírito, ou seja, cada etapa de progresso espiritual inicia-se no berço, tem a solução de continuidade no túmulo, inicia-se na erraticidade para reiniciar ainda um novo curso no berço. Não é um círculo vicioso, mas é uma espiral ascendente que ascende com a velocidade em relação direta à capacidade de cada um. Não há favores e nem presentes, a cada um é dado o prêmio pela sua própria conquista. Não importa conceber caminho longo 183
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Encarne e desencarne
ou curto, o que importa é palmilhá-lo impavidamente, soerguer-se das concepções arcaicas e obsoletas e palmilhá-lo sob novo sol, de base reencarnacionista comprovada, e aí terá a profunda concepção da expressão: “Eu vos enviarei o Consolador”. Cada um é dono do seu próprio destino. Não podemos nos iludir.
(recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Culto do Evangelho no Lar
28.
Culto do Evangelho no Lar
Sabemos que o mundo interior é sempre afetado pelo exterior quando o espírito é suscetível às impressões externas, quando ainda é sujeito às leis das vibrações que lhe falam de maneira mais profunda. Não é uma sujeição imposta, mas fruto do pouco discernimento, conseqüência da falta de maior esclarecimento do manuseio das vibrações interiores. No mundo material é preciso que a pessoa tenha sempre este vigor de permanecer equilibrada, na medida do possível, com base neste mundo exterior, nesta coletividade porque, afinal de contas, a primeira necessidade da subsistência, da própria vida material, faz coação ao espírito, às vezes chega a perturbar e, não raro, o leva a perder a paz. Isto não é uma crítica, porquanto o mundo material é mesmo aquele em que o espírito recebe sempre essas ondas, essas marés bravias no transcurso da reencarnação para poder despertar em si mesmo aquela força, aquele vigor de poder manter-se sempre imune aos choques e às vibrações causadas pelas faixas externas. Está bem claro quando nosso Mestre Jesus disse: “A minha paz, a paz que vivo, eu vos dou”. Dou como exemplo. Esta paz o mundo não pode dar, numa previsão muito clara dos embates da existência que a roubam. Jesus deu o exemplo de transpor toda existência terrena sem se deixar abater pela turbulência que o rodeava. Sentia segurança, calma, mas não uma serenidade a ponto de indiferença. Jesus emocionava-se ante determinados fatos, porém estes não 185
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chegavam a atingir-lhe o equilíbrio interior, dada a sua elevada superioridade. O Mestre nos dá uma receita muito sábia, um medicamento que é irretorquivelmente de grande valor, uma terapêutica muito acertada, a da “oração e vigilância”, para manutenção daquilo que chamamos de “céu interior”. Se a pessoa está familiarizada com o Evangelho que já encontrou raiz na terra fértil do espírito, esta pessoa está menos suscetível à confusão e de maneira menos profunda, sem conseqüências desastrosas. Assim, a terapêutica ensinada pelo Mestre não pode ter objetivos somente de teorias, de conhecimentos. O Evangelho é o remédio para todos os males, mas se é tomado, se não é aplicado em doses maciças, a enfermidade do espírito permanece incurável, enquanto ele, o Evangelho, não tiver uma aplicação prática quando encarnado, na vida comum, no cotidiano. A oração e a vigilância foram ensinadas para serem vividas. É muito simples querer aplicar o Evangelho. É preciso autodeterminação. Dizer que a criatura se autodetermina à aplicação e em oito dias já está auto-evangelizada, pronta, apta e preparada para conviver com seu irmão com a paciência, compreensão e indulgência necessárias, que já está evangelizada, seria uma utopia e a perfeição uma coisa muito limitada. É por isto que as pessoas devem fazer uso constante dessa eterna vigilância que garante aquilo que chamamos de paz interior, que outra coisa não é, senão a liberdade de concepção da própria vida. É interessante certas criaturas que circunscrevem sua ação evangélica nos moldes daquelas expressões de Jesus. 186
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Cumprimentam aqueles que só lhes fazem o bem, perdoam aqueles que lhes são bons, enfim, isto não é Evangelho vivido, não é aquele que traz a paz que Jesus possui e legou aos seus discípulos à guisa de exemplos. Por isso é difícil entender o Evangelho, porque o homem procura dar-lhe um tamanho descomunal, entretanto há nele uma grande simplicidade. A dificuldade de viver o Evangelho está justamente naquela interpretação um pouco esquisita que fazemos quando encarnados, achando que ele é para ser aprendido na Terra e depois, vivido no plano espiritual, como anjo, santo ou espírito evoluído. Infelizmente o que se pode ver é que na Terra o Evangelho não faz parte integrante da vida de todos. É lido, e dizem até que há horas e dias em casas de certas famílias cristãs, que fazem o culto do Evangelho! Muito engraçado fazer o culto do Evangelho em casa! E isto, infelizmente, no seio de reencarnacionistas! Culto do Evangelho! Cortam o remendo novo e querem aplicar a todo custo em roupa velha! O culto de outras compreensões que se dizem religiosas enquanto o reencarnacionismo prega o positivismo, os fatos, vai dirimindo dúvidas, esclarecendo a mente, libertando consciências, vai dando razão à fé, vai dizendo que o Evangelho é questão de prática de vivência a todo instante. Deixemos de lado o culto e vamos cultivar o Evangelho e para isto, é preciso que esse fertilizante exista e em caráter constante na mente, nas orações, em tudo, porque a planta chamada Evangelho que deve florescer no espírito, requer o cuidado constante do jardineiro que a cultiva. Se descuidar dela e puser apenas um pouco 187
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de fertilizante chamado “culto” em horas certas e determinadas, esta planta, o Evangelho, fenece, torna-se espinheiro. O “culto” é muito necessário, mas o culto permanente do Evangelho, em todos os instantes, em todos os dias, em todas maneiras, estando só ou no convívio com seus semelhantes, com aquele que não sabe que você faz o “culto do Evangelho”, que é um cristão ou um evangelizado. Um só e único ato que não tenha o traço evangélico como norte, é uma negação absoluta do Mestre. Se você, voluntária e espontaneamente, adentra uma Casa onde todos buscam a remodelação espiritual, a transformação moral, é preciso que se compenetre da sua responsabilidade e não se torne um fantoche dessas criações pueris dos “cultos evangélicos” em horas certas e especializadas, porque estará mentindo a si mesmo, não terá paz e poderá perguntar qual a vantagem desse procedimento. Outra não será senão a de obedecer ensinamentos do Mestre e não negá-lo em hipótese alguma. A vantagem de se estar vigilante é muito simples, muito fácil: a criatura estará preparando o dia de amanhã na escola do hoje. O Evangelho não pode ser condicionado à mente da criatura, mas esta é que tem que se condicionar a ele. Se o Evangelho fosse se acomodar aos interesses individuais, precisaríamos de alguns bilhões de Evangelhos para serem estudados e aprendidos, cada um à sua maneira. Portanto, o Evangelho é para ser vivido junto àqueles que o ignoram, aos que jamais ouviram falar das verdades evangélicas: viver pelo exemplo. Muitos acham que estão cansados de ouvir estas verdades, mas será que já se cansaram de praticá-las? Acham difícil viver o 188
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Evangelho na face da Terra, porém é por isto que foi dito: “Muitos os chamados e poucos os escolhidos”. Aqueles que querem se fazer escolhidos, que se façam realmente, porque do contrário, estão se iludindo e, quando desencarnam, vêem que não encontram um trampolim suficiente para alçar o desejado vôo para a alta espiritualidade, mas que sentem a prisão dos interesses subalternos, imediatos e que o seu “culto evangélico”, suas obras, não tiveram aquele cunho de amor, desprendimento, alegria, felicidade de ser bom, vê tudo desmoronar como um castelo de areia e voltam à primeira página do livro. A mesma lição em outra reencarnação. E se cansa de ouvir falar sobre o Evangelho, simples, fácil, uma árvore que dá fruto imediato, senão Jesus teria mentido. Jesus prega a felicidade, o reino do céu, não diz quando nem onde, porque é interior. O Evangelho vivido com amor na Terra, traz frutos imediatos à criatura, transformando-a numa pessoa muito feliz ainda na Terra. Feliz mas não pura, nem perfeita. Já dá os primeiros sinais do que seja o valor da felicidade, da verdadeira felicidade interior em mundos superiores. Felicidade e não evolução ou perfeição. O propósito do espírito não é só gozar da felicidade, da paz. Quando ele atinge o grau evolutivo de sentir as emoções maravilhosas da paz interior, desperta-lhe o desejo de trabalho, de fazer, de realizar, de entrar no seio da criação e então, o espírito precisa estar preparado também intelectualmente, ter conhecimentos para os trabalhos superiores para que possa desempenhá-los a contento, unindo mente, emoção, o espírito se completa no sentido de saber e santidade: “Sede sábios e santos”, 189
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isto é, adquira não só as virtudes superiores que lhe transformarão o ser, como também os profundos conhecimentos de toda a criação. É importante também penetrar nos segredos de Deus para que possa se constituir uma entidade capaz de manusear os fluidos cósmicos universais e transformá-los na beleza eterna, na primavera maravilhosa que desabrocha aos olhos de todos, para que possa trabalhar sempre na ordem do universo, para que possa enfim, ser um dos construtores e mantenedores dessa ordem através dos profundos conhecimentos da ação e reação do cosmo universal. É a perfeição! Na espiritualidade existem criaturas que também sentem as suas limitações, que lutam intensamente para conseguir a sua espiritualização, porque essas limitações são verdadeiros retratos vivos das que trouxe do mundo quando encarnados, fundamentadas às vezes, no medo, no orgulho, na presunção, na vaidade. Ainda estão presas a estas concepções porque o cristão verdadeiro, pode viver cristãmente se quiser, precisa armar-se de muita compreensão, de muito fervor interior, para conviver justa e exatamente o Evangelho nos moldes ensinados por Jesus, perdoando aquele que o ofende, orando pelos que o perseguem e caluniam. Portanto, não há limitação. O importante é não esperar nada do Evangelho depois do túmulo, porque o que é na Terra, é na espiritualidade, até as limitações. As concepções sociais que envolvem a mente da criatura, estão agregadas como verdadeiras ostras de difícil remoção. 190
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Culto do Evangelho no Lar
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Disciplina
29.
Disciplina
A disciplina vigente em aglomerações tem mostrado de maneira indiscutível, que é um fator fundamental para se alcançar os objetivos rumo ao progresso, em todos os sentidos que se queira. Entre a disciplina imposta e uma disciplina aceita, vai longa distancia. A disciplina imposta visa por em função um instrumental, uma aglomeração defensiva, uma organização que deve ser matemática no desempenho de determinadas obrigações no seio da sociedade. Disciplina imposta refere-se à das aglomerações militares e outros setores que tenham obrigações definidas no seio da sociedade e deva ser executada no sentido reto, sem falha, determinada num esquema fundamentado, pormenorizado, do qual ninguém, nenhuma peça funcional pode fugir, sob pena de desarticular toda a ação de conjunto, o que é o comum, o normal. Nessas organizações a palavra quase não existe, apenas sinais, determinações, orientações pré- estabelecidas, exercitadas. Tudo funciona no sentido matemático da disciplina imposta em função dos objetivos que se queira alcançar. Esta é a disciplina material, absolutamente necessária e que não gera desordem. É muito importante que as pessoas ajam dentro das normas estabelecidas na disciplina do conjunto disciplinar de um grupo e, todos que dele fazem parte, indiscutivelmente terão que se sujeitar voluntariamente a uma disciplina. 192
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Disciplina
Se dermos a disciplina um outro sentido, o da auto-disciplina voluntária, consciente e responsável, a pessoa que a ela se propuser e estiver entrosada com o conjunto disciplinado, além de sua colaboração perfeita, estará colhendo benefícios. A auto-disciplina, em qualquer setor, forma o hábito e este se introduz de tal maneira que a criatura passa a agir em todos os setores, com disciplina, ordem e sensatez, o que- será também um benefício. A auto-disciplina gera consciência dos atos, porque todo ser disciplinado vive os seus atos, não os pratica inconscientemente, mas entrosa-os perfeitamente às suas atitudes e,sem que perceba, vai adquirindo as virtudes da ordem, da calma A auto-disciplina exige reflexão antes do ato, e essa determina a sustação de atitudes não convenientes. É ela um fator importantíssima na formação de hábitos pensados os quais levam à aquisição de virtudes superiores. O cunho perfeito da auto-disciplina é sentirmos tudo o que fazemos, o que torna um fator, uma causa de efeitos benéficos e inumeráveis, formando assim, o hábito da disciplina, na conquista de nós mesmos e, como somos auto-disciplinados, em todo conglomerado humano,em todas sucessões, em todas as Casas de trabalho espiritual em que estamos operando, levamos nossa colaboração auto-disciplinada, sem que ninguém nos imponha. Aprendemos a ser bons um instante, só porque conhecemos as belezas do Evangelho? Não. Seremos "anjos" maravilhosos só porque queremos ou porque damos pão aos pobres? Não. 193
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Disciplina
Precisamos nos libertar, conhecer a verdade que está alicerçada nos atos conscientes, na capacidade de dizer sim e não, na maneira que coincida com a análise básica fundamentada no que convém ou não. É o que vem de encontro com os princípios da moral. Ninguém, absolutamente ninguém pode tornar-se "anjo" se não tiver a auto-disciplina, a auto-educação, no turbilhão de suas vontades, sem se deixar escravizar pelas circunstâncias, pelos desejos da anarquia, pela vaidade de não ser mandado, pelo orgulho de não querer-ser conduzido. A humildade consciente a aceitação humilde da disciplina é uma virtude primária, fundamental.Seria uma estupidez sem tamanho a pretensão de não aceitar a disciplina do conjunto,a auto-disciplina, a auto-educação, no esforço continuo para os aios conscientes e a aquisição de -virtudes através desta atitude: querer ser humilde. Tudo tem que iniciar do principio. Ninguém começa nada pelo meio ou pelo fim. Se passarmos a nos educar, a coibir nossas emoções fortes traduzidas no orgulho, na vaidade e na falta de humildade, sentiremos em nós mesmos seu bom funcionamento. Como podemos dizer que somos espiritualizados? Sem a auto-disciplina, sem a consciência das coisas, poderá alguém ter a “fé raciocinada”? Esta fé não vem através da fenomenologia da comunicação, da materialização, dos efeitos físicos, das cirurgias com ou sem expressões materiais. “Fé Racionada" é aquela que vem através da própria indução da mente, da educação mental, do pensamento claro, das deduções límpidas, ordenadas e entrelaçadas. Não vem de conjecturas porque estas são falhas dentro da matemática da 194
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Disciplina
razão, uma vez que, a : matemática da razão é que determina a "Fé raciocinada”? Só se pode obter virtudes vivendo o Evangelho dentro de uma disciplina. Quem não consegue fazer uma pequenina rachadura na imensa represa da ignorância, jamais conseguirá vazão do mundo que está represado. Irmão Ambrósio (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Esclarecimentos
30.
Esclarecimentos
Parte I Através dos modernos meios de comunicação visual, vez por outra, somos levados a assistir a algumas das manifestações exteriores do ortodoxismo religioso, em ruas e praças públicas, onde se observa a semelhança do misticismo arcaico e do religiosismo desvirtuado. Tais demonstrações nos dão a medida exata do grau ainda bastante embrionário da condição evolutiva do homem atual. As religiões que assim procedem foram moldadas, desde o seu início, na dualidade do prêmio e castigo, cujo objetivo visava, como ainda visa, manter o homem sob o guante do temor, do medo em função de castigos intermináveis pós-morte e outras ameaças, querendo-o obediente e compassivo, ou ainda infundindo-lhe esperanças vãs. Tais aspectos que deixam transparecer a necessidade de ainda hoje, apesar do tão decantado avanço tecnológico, manter o homem submisso em função do desconhecido, e psicologicamente, por saber que este homem, pela sua própria condição ou estágio evolutivo, dificilmente terá cumprido à risca todos os mandamentos da sua igreja. Vive, pois, sob uma realidade íntima do não cumprimento dos preceitos religiosos, sentindo-se, portanto, um perene devedor. Partindo dessa condição procura, por todos os meios, “pagar ou resgatar” pelo menos parte desses débitos, desfilando em procissões, adorando imagens e símbolos 196
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Esclarecimentos
diversos, frequentando cultos litúrgicos e chegando alguns, mais ignorantes, até à auto-flagelação. Tudo isso praticado de maneira a mais subserviente possível, como se fora antídoto para suprir as suas “faltas” ou pecados. Ora, na própria doutrina reencarnacionista, supostamente dita evolucionista, vamos encontrar também procedimentos senão iguais, pelo menos parecidos. O uso da terminologia diferente tal como: penas transitórias, umbral, vale das sombras e outros, não modifica o íntimo proceder, o qual ainda, muitas vezes, leva até a algumas exteriorizações similares. Amedrontados pela ameaça da Inquisição Penalógica da absurda lei de “Causa e Efeito”, resquício do romanismo na doutrina, vive o profitente espírita os mesmos temores, as mesmas pressões. Assume posturas quase idênticas para sentir-se protegido, tanto do assédio de espíritos menos evoluídos, como de evitar o sofrimento além-túmulo, agravado pela imposição das provas e expiações. No fundo, todos esses comportamentos, não importa a origem diversa, se fundem numa mesma argamassa. Daí a necessidade de, a cada dia, ouvir a voz sábia e serena do Mestre Nazareno na sua recomendação da “Busca da Verdade”, única condição para que o homem possa e venha a se libertar do seu grilhão mais pesado: a ignorância. É esse grilhão a causa maior que o aflige, tanto na sua existência carnal, como desencarnado. Premido por exigências inatingíveis no estágio atual, entre elas a de ser virtuoso antes de ser evoluído, vive sobressaltado e agarra197
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se a qualquer esperança ou salvaguarda que lhe acene com a possibilidade de uma proteção, ainda que seja vaga e indefinida. Cumpre, pois, esclarecer quanto à verdade: Deus é pai e não carrasco dos seus filhos os quais criou “simples e em estado de ignorância”. Sendo Deus a Inteligência Suprema, a Bondade e Justiça Infinita, não castiga, não pune a sua própria criatura de maneira até cruel, na expiação ou resgate de crimes cometidos no pretérito, dos quais a criatura nem lembrança tem, devido à abençoada amnésia reencarnatória e, de outras tantas ações penalógicas punitivas, ainda que praticadas sob o manto de “educativas”, que fazem do reencarnacionismo mera imitação de outras tantas religiões ortodoxas e arcaicas, que primam pela submissão física e mental do homem. Conforme já assinalamos, o Espiritismo reencarnacionista e, por excelência, o intercâmbio corpóreo-incorpóreo, não veio com essa finalidade. Não veio para ser apenas mais uma doutrina nos moldes idênticos às já existentes. Como enaltecê-la como Revelação? Revelação do quê? Se está apenas se propondo a “colocar remendos novos em roupa velha”? Já é tempo de sairmos da estagnação mental que talvez interesse a uma minoria com posições de comando doutrinário, menos, porém, daqueles que têm compromisso inalienável com a Doutrina de Evolução, preconizada pelo incomparável Mestre Nazareno, cuja assertiva categórica não admite contraposições: “Misericórdia (compreensão no sentido evolutivo) quero e não sacrifícios”. Parte II 198
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De acordo com o sentido evolutivo da Doutrina Espírita, a verdade para nós, eternos relativos, é consequentemente relativa, pois só nos é possível conhecê-la em segmentos que vamos buscando através do tempo e, por que não dizer, em função principalmente das possibilidades do intercâmbio incorpóreocorpóreo em plano real e desvinculado das limitações de doutrinas, por ser unilateral. A verdade, em seu intrínseco, não pode ser contida ou restrita por essas limitações ou outras quaisquer. Ela se impõe pela lógica da razão analítica. Não está também na dependência de “arautos”, quer encarnados ou desencarnados, e muito menos pela fé, pois fé é outra coisa. É um potencial do espírito em função da sua condição evolutiva. O raciocínio não leva a nenhuma fé. O raciocínio leva à conclusão e conclusão não precisa fé, pois se é uma conclusão, está dentro do lógico, é um fato comprovado, está, portanto, dentro da razão. O raciocínio leva à conclusão, ao discernimento, à iluminação. Se eu, através do raciocínio, concluo, desnecessário se faz a fé, pois eu tenho algo que superou esta fé, que é a certeza advinda através do raciocínio. Por isto nos foi facultada pelo Mestre a “Busca da Verdade”, porque apenas crer é submeter-se àquilo que não entendemos e que não nos chega à razão, que não está definida no sentido matemático “a posteriori”, através dos fatos e, contra fatos não há argumentos. Fé é um termo que tem sido usado inadequadamente em carência de outro. Deve-se substituir pela razão, pela certeza, pelo absolutismo dos fatos. Por que fé nos fatos comprovados? É a 199
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certeza, é a razão que nos fala. Diante de um fato comprovado, de que vale a fé? A Doutrina Espírita não veio para resolver todos os problemas do homem. Veio, isto sim, para dar-lhe conhecimentos, responsabilidade e a certeza da vida espiritual, a individualidade de cada espírito. O evangelho fala à consciência e ao entendimento e não à emoção. É preciso que a “razão” e não a “beatitude”, é preciso que a “responsabilidade” e não a “esperança” morem no espírito de cada um. Há muita diferença entre a “esperança” e a “responsabilidade”, pois uma determina a utopia de aguardar e a outra o sentido de assumir e de fazer. Não é porque uma idéia ou um ensinamento tenha milênios que não pode ser ab-rogada. Existem mentiras milenares. A própria Bíblia é um livro de concepções antagônicas. O “Alfa” e o “Omega” não são e jamais serão de conhecimento do homem, eterno relativo. O desconhecido de hoje, porém, será o fato normal do amanhã, pois “Tudo o que oculto está, será revelado”, disse Jesus. Já é tempo de dar à Doutrina Espírita uma dimensão exata daquilo que deve ser realmente. O intercâmbio corpóreoincorpóreo não veio para sancionar o místico, o mítico, o segregacionismo, o irracional, o ilógico. Kardec apenas iniciou uma obra, através de contatos com espíritos de diversas tendências e que traziam ainda as impressões de vida terrena pregressa. Se nem ao Mestre Jesus coube a última palavra. Evolução tem um significado e uma dimensão que o homem ainda não alcançou, porque tenta limitá-la com seus ditames e legislativos doutrinários. 200
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A dinâmica doutrinária preconizada por Kardec não está sendo devidamente observada pelos seus defensores intransigentes. Não seguem o espírito racional do próprio codificador que aconselhava a análise, a busca, a pesquisa e o raciocínio. Acomodaram-se mental e espiritualmente ao “dogma” Kardec e passaram a criticar os demais profitentes de outras religiões por fanatismo e outros e, ainda jactam-se de possuir a “fé racional”.
Wilson Levy Braga da Silva (excertos do Irmão Anthero e outros espíritos)
201
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Progresso Espiritual
31.
Progresso Espiritual
O avanço não determina um ponto, pois quem está avançando, não está em uma meta alcançada. O importante é sentir o valor do trabalho, a beleza do plantio, o vigor da estruturação da qual resultará o verdadeiro fruto do labor coletivo numa comunidade espiritual. Para isto é necessária a união de todos, pois a prática do Evangelho é trabalho, compreensão e esforço contínuo na remodelação na qual Jesus é tido e havido como luminar, e os seus reflexos atingem a todos e a todos fazem com que sintam o vigor e o desejo de trabalho. Beneficiar-se do labor alheio é ilícito. Como podemos entender que um espírito pretenda mudar-se para um ambiente e dele usufruir paz, compreensão, amor, se está apenas desfrutando dos benefícios? Isto considerando-se que o ambiente prevalece até certo ponto. Não se justifica que todo espírito evoluído viva na penumbra, pois o interior faz o exterior, sendo que as vibrações interiores dos espíritos mais evoluídos ajudam a criar e a manter o ambiente que lhe é agradável e confortável no seio da sociedade em que vive. Como pode o espírito encarnado que ainda não conseguiu melhorar o seu próprio meio de vivência na Terra, onde virá e voltará a reencarnar, ter a pretensão de ir para um núcleo maravilhoso, permanecendo lá séculos e séculos? Não é possível, pois somente quando todos os espíritos estiverem num ambiente e aptos a passar para um de nível superior, terão o direito de usufruir dele, porque estarão à altura 202
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de construir um ambiente melhor do que o da Terra, mas primeiro é preciso melhorar o deste planeta. Já se fala no Terceiro Milênio, e perguntamos: Quem fará o Terceiro Milênio? Será que Jesus vai reencarnar outra vez, ser crucificado, trazer um Evangelho remodelado e invalidá-lo? Estas são perguntas que o espírita, o reencarnacionista tem que fazer, não lhe assistindo ainda a pretensão de viver num lugar que não seja a própria Terra, por enquanto, mas tendo que ir e voltar no trabalho da modificação deste ambiente. Aí entra o verdadeiro papel do reencarnacionismo, ou seja, do Espiritismo, ou ainda, da manifestação do invisível e, agora, já de forma coordenada, a que denominamos de “codificação”. Esta manifestação não foi em vão, não visou demonstrar a ninguém a existência da reencarnação, porque ela já era conhecida de milênios, porém foi uma “revelação” de forma ordenada e com um objetivo definido, o que antes não ocorria, pois havia demonstrações esporádicas pertencentes ao sentido hermético, mas agora generalizou-se, portanto, não foi só para consolar e dizer que a reencarnação existe. Muitas religiões pregam a salvação, a ida para o reino dos céus, porém o que se pretende esclarecer é que este reino deve ser estabelecido no meio em que a criatura está reencarnada e no qual tem oportunidade de se preparar para a vivência amanhã em outro ambiente mas, por enquanto, este é aqui na Terra, cabendo aos homens reencarnados a responsabilidade da transformação, da modificação deste ambiente melhor, onde estará à altura de desfrutar licitamente o trabalho alheio. 203
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Para conseguir isto, é preciso cooperar com os demais, no sentido profundo de um trabalho para modificar o ambiente onde está encarnado e, não pensar em si próprio apenas, em evoluir, em progredir... Jesus não disse: “Amai-vos a vós mesmos”. Não. Jesus disse: “Amai-vos uns aos outros”, portanto, está implícito que aqueles que já têm conhecimento, que não são cegos, têm que ir em busca dos outros. Falam tanto no “Terceiro Milênio”, mas ele não virá de graça, precisará vir do espaço plêiades e mais plêiades de varões de “barbas brancas” para modificar o ambiente da Terra com sua bondade, sua pregação. O “Terceiro Milênio” será uma maravilha, dizem muitos, mas pergunta-se: A quem compete construí-lo, senão aos homens, através das vidas sucessivas, lado a lado, irmãos com irmãos e não, gozar o trabalho alheio, o que é ilícito? O espírito tem que lutar neste meio, elevando-se e elevando também o seu irmão. É preciso derrubar os princípios empíricos de páramos celestiais e dizer: É aqui na Terra, sob a égide de Jesus que este trabalho terá lugar e não, deslocar a responsabilidade da criatura para um céu inexistente, admitindo o sentido de Consolador ao Espiritismo através de um princípio veraz e comprovado por fatos, e dizer ao homem que o céu exterior inexiste. O verdadeiro céu tem que ser construído na modificação do ambiente moral, pois não pode existir espiritualidade se não houver a base moral, a moralização perfeita do homem entendendo-se entre si na Terra, na carne, e estarão aptos a um novo estágio como princípio de evolução. 204
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Existem espíritos que, embora já estejam mais evoluídos, estão ansiosos para reencarnar, porque compreendem que ainda não têm o direito de estacionar, pois lhes compete participar da construção do Terceiro Milênio. São tão responsáveis como também somos todos nós, já que compete ao homem amar o seu próximo ainda na Terra. Jesus veio até nós com a responsabilidade de conduzir os homens pelos caminhos retos da evolução, embora não precisasse mais reencarnar. “Amai-vos uns aos outros tanto quanto eu vos amo.” Cumpre, portanto, aos espíritas, aos evolucionistas, deixar arrefecer um pouco essas concepções de ir para o espaço em busca de núcleos e lares maravilhosos. O princípio fundamental é a indicação da evolução e o segundo, é o desiderato quanto ao princípio de trabalho para se conseguir a evolução, a união de todas as criaturas em torno do objetivo comum, a pregação do Evangelho no sentido de moralização da criatura na face da Terra. É um crime iludir o homem com um céu em que nem o próprio pregador crê. É um crime dizer a uma criatura que ela é candidata à “paz eterna”, retirando-lhe toda a responsabilidade com relação aos seus irmãos.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
205
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Virtudes
32.
Virtudes
Parte I Quando Jesus fala em vigilância, refere-se exatamente à crítica diária que a criatura deve fazer sobre os seus atos. Entretanto, há pessoas que descuidam disto e têm, por vezes, a vaidade de fazer um autoconceito elevado, envolvendo-se de tal maneira nesta concepção, que ultrapassam o terreno da realidade, fugindo ao bom senso. É necessário manter sempre um teor de disciplina mental atuante , prevalecendo esta autocrítica e, à noite, antes de acomodar-se, preparar-se e fazer a contabilidade diária. É preciso examinar, por assim dizer, os rendimentos do trabalho diário no que concerne ao seu aprimoramento interior e, pode ser que o autoconceito seja justificável e aceito. A repetição constante destas atitudes de vigilância forma o que chamamos de hábito, o costume de a cada instante ter a precaução de conceder mais um crédito à sua contabilidade espiritual, e nisto concerne sempre o princípio elementar no progresso do espírito. Se não partir do começo, nunca se atingirá um grau mais elevado e, como pensar em estar num grau espiritualmente elevado, se não se conhecer os primeiros degraus, os princípios simples na vida do dia-a-dia, as horas que se sucedem durante a vigília, sempre com precaução no contato com o outro e não contra ele! Tenhamos cautela conosco mesmos, pois quantas vezes deixamos este cuidado e criamos situações embaraçosas e 206
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desnecessárias! Não existe situação que requeira da pessoa uma atitude desconexa, desavisada. Todas as questões que surgem durante a existência, se observadas sob um ângulo mental ajustado, equilibrado, podem ser solucionadas através de uma atitude condizente, calma, sem passar por esta expansão que desequilibra, desajusta e desnivela as vibrações interiores. Tudo pode ser solucionado dentro da calma, da paz, do bom senso individual. Isto é necessário ao chamado espiritualista, ao evangelizado, porque uma coisa é preciso ter em conta, se analisarmos bem o Evangelho de Jesus, vamos perceber de pronto, que ele não desassocia, de forma alguma, do proceder diário. Nas confraternizações que acontecem nos Templos religiosos em que se trocam beijos e abraços fraternalmente, isto é conviver entre si com pessoas “iguais”. É uma confraternização, não há dúvidas, mas o importante é consolidá-la com as demais criaturas que desconhecem o Evangelho e que ainda estão, no dizer comum, semi-animalizadas pelas coisa terrenas e apegadas às coisas menores. Neste momento é que é necessária a intercessão do Evangelho interior, aquele que mora na pessoa, que faz parte integrante da natureza deste espírito. Se o Evangelho de Jesus pudesse ser vivido à parte do dia-a-dia, seria uma coisa extraordinária, pois durante o dia o menosprezaríamos e à noite, dentro dos templos, em horas determinadas, viveríamos em cantos de amor, em orações. O Evangelho de Jesus é composto de degraus de moralização interior que uma pessoa transmite a outra. É conquista diária e própria. É ter respeito e honestidade consigo mesmo. É ter um sentido intrínseco, penetrante, remodelador. A raiz evangélica é 207
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plantada do amanhecer ao anoitecer de cada um. Sem esta raiz, como chegar à sua florada? O Evangelho do amanhã começa hoje. Parte II A virtude é prenda que se cultiva, não se ganha e nem se compra. Não advém de Deus, como também nenhum ato praticado com a intenção de adquiri-la poderá trazê-la. A virtude nasce da vontade do espírito, do esforço constante, diário, para sua aquisição. Aquisição quer dizer: cultivo, verificação da virtude no íntimo de cada um. Portanto, as pessoas deverão sempre fazer o possível para viver entre si uma perene confraternização, não sé dentro de um Templo religioso, como também com aqueles necessitados do pão do espírito. Não quer dizer que se deva ocultar a virtude, pois ela por si só se demonstra através dos fluidos de atração e de simpatia dominantes, se é que se pode usar esta expressão. Criaturas negras, portadoras de deficiências, leprosas, cuja aproximação nos escraviza, nos domina e, entretanto, existem verdadeiros expoentes de beleza física de ambos os sexos, que nos repugnam, não no sentido de menosprezo, mas que nos afugentam, não têm domínio sobre nós porque nelas não fala a alma, por ser absolutamente vazia de virtudes. Ao praticar um ato bom, a criatura já está devidamente preparada e convertida num espírito capaz de sentir naquele ato a naturalidade de um gesto tal como cheirar uma flor ou tomar um copo d água, dizer bom-dia a um amigo, ouvir a risada de uma criança, olhar um pássaro que transpõe voando o espaço, com toda naturalidade. A prática do bem como sendo parte da rotina diária 208
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de cada um, é como ler um livro ou sentir o entusiasmo no encontro com uma pessoa querida. O ato tem que ser praticado como sendo parte integrante do nosso viver. Desta forma, não mais se pensará em recompensa, porque este ato da prática do bem é uma complementação da educação interior e, como resultado deste esforço educativo, a prática da “caridade” consigo mesmo com reflexo no seu semelhante. Não buscar na causa que transporá para si o efeito de se tornar caridoso, é o mesmo que plantar a árvore de cabeça para baixo, não tem raízes. Chegamos a uma conclusão, que a verdadeira caridade tem o seu nascedouro no sentimento de cada um, tem a sua semente no espírito. Temos que concordar, queiramos ou não, que não podemos alterar, pois é a única operação cuja alteração dos termos pode variar os resultados, porque torna-se um vício e o espírito torna-se irresponsável quanto a sua própria condução interior. Se a pessoa não tem nada para dar, que sentimento abriga dentro de si? Será capaz de olhar uma criatura que lhe ofende, com aquele sentimento de compreensão, de doçura? Será ela capaz se sentir a verdade evangélica da bofetada no rosto? Não é bofetada física, mas o espírito de tolerância. Você se educou? Já tem isto cultivado na sua alma? Já é essa virtude? Aí entra a vigilância, a autocrítica e, se respondeu áspero a alguém, faltou com a caridade para com você mesmo, perdeu a oportunidade de educar-se, de sofrer tranquilo aquela ofensa, de silenciar e retornar àquela pessoa com tolerância, com calma. Esta é a maneira de ir conseguindo o equilíbrio magnético do espírito, não com a intenção de agradar a Deus, porém com consciência de aproveitar a 209
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oportunidade para a educação fora dos Templos, dos Centros de trabalho, longe daqueles que o conhecem porque sua aproximação já injeta no ambiente uma vibração de equilíbrio e, todos que se aproximarem, sentirão que do seu interior, algo superior se irradia no eflúvio de docilidade e dominação. Isto influi na tonalidade da voz, por incrível que pareça, não que seja uma voz poética. Às vezes a pessoa fala com timbre de voz firme, mas nela denota-se de imediato, a pontualidade de expressão, de fluido e de espírito equilibrados. Assim, são raras as oportunidades desta criatura sentir a ofensa, e raras também as oportunidades de atirar-lhe pedras porque percebe o vigor daquela dominação interior e a bondade que se irradia. Isto não é esmola de Deus a ninguém e nem advém de atos exteriores, porém do vigor empregado na autoconcentração, no despertar da consciência de que a pessoa “é” porque “é”, e não no título de espírita ou reencarnacionista, ou missionário. Tudo advém do esforço diário da criatura de querer e ser, praticando aqui na Terra, onde existem pessoas de todos os tipos, constituindo cada uma delas uma oportunidade de auxiliar aquele que quer educar-se. São verdadeiras promotoras da evolução daquele que quer evoluir, com o cuidado de não resvalar na vaidade ou na superioridade. O processo é o mesmo para com a caridade, cujo ato não deve constituir uma obrigação. Se a pessoa tem motivação intrínseca, se não vive este ato no seu interior, ele será apenas social. Outra virtude é a paciência. Sem ela as criaturas são um joguete das emoções desordenadas, são desequilibradas, 210
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necessitam de educar-se emocionalmente, pois a paciência é o alicerce do edifício de virtudes de muitos andares.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Pena de Morte
33.
Pena de Morte
A adoção da pena de morte constitui um retrocesso em todos os sentidos. É a volta da lei mosaica do “Dente por Dente, Olho por Olho”, resultando mais em vingança ao invés da aplicação da justiça propriamente dita. A criminalidade deve ser analisada dentro do contexto social existente, com seu enorme rol de desigualdades, iniquidades e perversidades. A existência na sociedade de uma grande parcela constituída de pessoas egoístas, insensíveis, mercenárias, inescrupulosas, proporciona o clima e ambiente favoráveis à proliferação de crimes de toda espécie. Por outro lado, a existência de um grande número de pessoas mergulhadas na mais profunda miséria, resulta num ambiente propício para o surgimento e eclosão dos sentimentos de revolta, de ódio, de inconformação, pela ausência absoluta de qualquer esperança por parte deste segmento marginalizado da nossa sociedade. Considere-se que neste âmbito , o alcoolismo de muitos é, muitas vezes, uma tentativa desesperada de fuga da realidade cruel. A bem da verdade, é bom que se diga que as causas são muitas e não se restringem tão somente à questão da miséria. Temos na esteira da história exemplos inegáveis de criaturas que nascidas na mais absoluta indigência, tornaram-se posteriormente exemplos de proceder digno e de extraordinária tenacidade na 212
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superação dos obstáculos, os mais difíceis, entre os quais o preconceito. Constituem, em verdade, espíritos com uma herança reencarnatória de avanço espiritual. A criminalidade também ocorre no âmbito dos social e economicamente bem situados. Eis, portanto, a complexidade do assunto o qual não comporta soluções simples e milagrosas. É de impossível classificação a gama de crimes praticados. Crimes passionais, latrocínios, crimes políticos, crimes por intolerância religiosa, por disputas e ódios raciais, por ditadores corruptos, por governantes negligentes e venais, pelos cartéis de drogas, por pistoleiros e mandantes, etc. Muitos, a salvo da ação da justiça pelas distorções legais, ficam a salvo também da ação policial por inúmeros fatores. Vejam, pois, a complexidade do assunto, que não pode e não deve ser analisado com prevalência de condições emocionais. Quando indagamos sobre a adoção da pena de morte, buscando ouvir a opinião de um grupo de cidadãos de bem, pessoas responsáveis, honestas, de vivência social correta, é muito comum essas pessoas declararem-se adeptas da pena de morte. Podemos, no entanto, constatar que esta opção visa infantilmente uma posição defensiva, na tentativa de conseguir um falso sentimento de segurança para si e para os “entes queridos”. Julgam que o advento da pena de morte trará mais segurança pela eliminação física dos criminosos. Pergunto: será isto verdade? Resultará esta lei numa maior proteção à sociedade? Infelizmente sabemos com certeza que não, o que aliás, não constitui novidade e está comprovado por estatísticas em países 213
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onde existe a pena de morte. Nesses países a criminalidade continua a aumentar com crimes cada vez mais cruéis e repugnantes onde despontam requintes de perversidade e bestialismo. É uma ingenuidade acreditarmos que a pena de morte fará o criminoso pensar duas vezes ou mais antes de cometer o crime ou que irá atemorizá-lo. É desconhecer o homem no seu estado ainda embrionário de um evoluendo pré-racional. O crime é efeito. A causa ou as causas são muitas e têm suporte no primarismo evolutivo do homem com reflexos na sociedade. Este primarismo é tanto do agente do crime, como daqueles que criam, geram e propiciam o ambiente de revolta para a exaltação criminosa. E isso não se corrige absolutamente com a pena de morte. Não nos iludamos. Sabemos que os modelos atuais das penitenciárias e presídios são verdadeiras escolas do crime. A aplicação de penas temporais, tem apenas um sentido punitivo, jamais recuperando o criminoso pelo ambiente de miséria, de corrupção, de ausência absoluta de qualquer pedagogia recuperante nos presídios. É lamentável a constatação da existência de uma facção da sociedade em que a constante é a manutenção de um “status” superior, priorizando até o supérfluo e, de outro lado, uma enorme parcela miserável de submissão aparente, em cujo íntimo fervilha a revolta e, por vezes, o ódio de origem. A cultura é relegada a plano inferior e é privilégio de poucos. Diz Anthero (espírito): 214
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“Ao falarmos da cultura entramos em conexão incondicional com a evolução, visto que não pode existir esta, senão por meio daquela, o que vem ditar não ser a evolução senão a cultura. Enquanto a cultura for privilégio ou direito e não for concebida em seu legitimismo, ou seja, uma necessidade incontestável para a estruturação da sociedade como civilizada, livre, portanto, a pedagogia em que pese a excelência da metodologia aliada ao esforço, boa vontade e sacrifício dos seus executores, continuará unilateral no concerto social, deficitária em seu processo e ambígua em seus efeitos, deixando de cumprir o seu papel de alçada superior, ilhando a sociedade e não sendo ilhada por ela”. No caso da aplicação da pena capital e posteriormente comprovada a existência de um erro policial ou judicial, qual a reparação possível? Lembramos aos adeptos da pena de morte que este erro judicial pode-se dar ou ocorrer com um dos nossos “entes queridos”. Vamos entrar em um raciocínio de ordem evolutiva. O homem ainda julga a razão pelo ato. O homem evoluído equaciona os “fatos pela razão” o que se constitui numa inversão analítica. A primeira (razão pelo ato) é dependente, a segunda (fatos pela razão) independe. A primeira circunscreve-se na exterioridade que a torna dependente do ato. Não é julgar o homem (razão) pelo ato (crime) cometido, é preciso analisar o porquê do ato em função da condição (razão) do homem. Ele errou, cometeu o crime porque é um evoluendo que está nos primórdios, no embrião da evolução. Possui uma razão relativa, razão-motivo em função da sua ignorância. Justifica o 215
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Pena de Morte
motivo determinante do crime por essa carência da razão consciencial, porque ainda não tem condições para uma análise racional. Conclua-se, ele ainda é o “efeito” de uma “causa” denominada ignorância. Somente a evolução do homem trará condições para a existência de uma justiça social efetiva que tenha condições para harmonizar o conglomerado heterogêneo. Sabemos não existir soluções mágicas, principalmente quando tomadas em clima emocional acerbado. Para a redução da violência é preciso a construção de alicerces sólidos, só possível onde as desigualdades sociais não sejam tão grandes. Isto não é fácil, demandará muito esforço, desprendimento, sendo da responsabilidade social, mas tudo demandará muito tempo. Hoje a violência está num crescendo assustador, mas a solução não é a pena de morte, que é de natureza destrutiva. Destrói mas não constrói. A própria história da humanidade eivada de crimes bárbaros através dos séculos e dos milênios constitui prova irretorquível da inutilidade de se contrapor a violência com a violência. Não existem soluções fáceis para problemas difíceis. A nossa visão de justiça é ainda precária, não tem alcance evolutivo. Aplicar justiça não é adotar-se o barbarismo, representado pela pena de morte. Não nos iludamos, pois, com falsas panacéias, vazias de conteúdo e estéreis de resultados. Há que se considerar não ser a justiça dos homens infalível. Erros judiciais existem e não são poucos. Façam uma estatística da 216
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população carcerária e terão a comprovação real: a esmagadora maioria dos condenados vem das camadas miseráveis da população, o que nos revela uma ação parcial da aplicação da justiça. Já nos ensinou Anthero (espírito) que a “força do direito quando aplicada pelo direito da força, inexiste no lato do termo, porque é o próprio direito da força aplicado através das leis”. O direito do homem que subsiste pelo “direito da força” não pode acolher o direito reconhecido e respeitado em função do binômio: “consciência + razão evolutiva”. A morte, devido a um erro judicial de um só inocente, já condenará o absurdo dessa pena de impossível reparação. Lembre-se do advento do Mestre Jesus, que foi condenado à morte e executado em função de falsas acusações, sendo vítima do conluio criminoso dos poderosos da época com os sacerdotes corruptos. Temos dentro do Evangelho, a magistral lição que o Mestre dá a todos nós, no episódio da mulher adúltera: “Aquele que estiver sem pecado (erro) que atire a primeira pedra”. Depois que a multidão se afasta, Jesus dirige-se à mulher e indaga: “Mulher, onde estão os teus acusadores?” - Foram-se Mestre, responde a mulher. E Jesus, numa frase admirável, disse: - Eu também não te condeno. Vai e não peques mais! A lei mosaica que mandava apedrejar até à morte a mulher adúltera, não tinha alcance racional, analítico, imparcial no exame e julgamento do delito cometido. 217
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Pena de Morte
Aquela mulher poderia ter uma personalidade psíquica doentia, portadora de uma exacerbação histérico-sexual, ou um marido ausente, enfim, não previa a lei a análise do porquê do adultério, das causas, circunstâncias e tudo mais, do porquê do ato. Vamos continuar ainda dentro das lições do Evangelho. Alguns poderão contestar nosso argumento em função da frase de Jesus no magistral Sermão da Montanha, quando disse: “Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça porque serão saciados” (Mateus, capítulo 5, versículo 6). O significado desse dizer de Jesus não é o que tem sido pregado em decorrência de uma interpretação superficial. O dizer do Mestre tem outra conotação, muito diferente das apregoadas pelos pseudo-arautos do Evangelho. O verdadeiro sentido da frase de Jesus é clamar justiça para os injustiçados, e não clamar punição para os responsáveis pelas injustiças cometidas. Não é a “fome”, a “sede” e o desejo de justiça buscando castigo ou vingança, mas é a manifestação de que um dia as leis sociais, a humanidade, darão as “bem aventuranças” (serão saciados) para os que sofreram as injustiças. Outros intérpretes e pregadores superficiais do Evangelho, vão além ainda, interpretando o dizer de Jesus como a concretização da aplicação de sanções por uma pretensa Justiça Divina, aos causadores das injustiças, incorrendo em erro ainda maior. Vamos repetir: o Evangelho foi trazido à Terra para ser vivido aqui. O dizer do Mestre é claro, não deixa dúvidas: “... os que têm fome e sede de justiça...” e complementamos: de justiça dos homens e não de Deus! 218
Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Pena de Morte
Anthero (espírito) nos dá uma visão do futuro dizendo: “Nos planetas mais evoluídos, o homem é uma unidade autolegislada, onde prevalece a hierarquia ordenativa operacional, orientadora, educativa e não a hierarquia impositiva de superioridade ou de qualquer condição. Neste clima o homem autolegislado vive os deveres, reconhece os direitos alheios, aceita e compreende o benéfico da orientação educativa, no legítimo senso de igualdade e fraternidade em termos amplos. Isto existe em planetas ainda no sistema reencarnatório, tendo plenamente consolidada esta condição” Para finalizar, a pena de morte já existe em nosso meio. De há muito foi decretada por uma sociedade egoísta, hipócrita e ignorante. Basta ter “olhos de ver e ouvidos de ouvir” e tomarão conhecimento das centenas de milhares de crianças condenadas anualmente à morte, sendo executadas através da fome, da desnutrição, da ausência total dos comezinhos cuidados médicos. Esta pena de morte atinge também grande parte da população adulta, dos trabalhadores que convivem com a mais absoluta miséria, sobrevivendo, às vezes, nas imensas favelas, verdadeira vergonha para uma sociedade que se diz civilizada. A evolução da humanidade far-se-á através da cultura extensiva a todos como direito e não como privilégio de alguns poucos. Pelo autoconhecimento, pelo autorespeito, pela razão, pela consciência, pela sensibilidade, aí sim: “Os mansos herdarão a Terra”.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Pena de Morte
Wilson Levy Braga da Silva (excertos do Irmão Anthero e outros espíritos)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Será a Verdade?
34.
Será a Verdade?
A “inveja inconfessa” é aquela, não relacionada a terceiros, mas àquilo que o homem jamais diria de si mesmo (Ex.: Eu sou invejoso). Trata-se de um estado de consciência e não de “razão”, visto que age em função do objetivo relativo. Exemplo: Se Paulo tem dois, eu devo ter três. Mas por que devo ter três, se dois me são suficientes tanto quanto a ele, sendo que ainda um só me bastaria? Este proceder tem sido exteriormente condenado pelas religiões, como sendo pecado passível de punição, denominando-o de inveja, vaidade, egoísmo, etc.. O Evangelho nos aponta como inconveniente este modo de agir do homem, sem contudo condená-lo, pois o Mestre, profundo conhecedor do estado evolutivo do mesmo, sabia que outro sentimento não o demoveria à labuta, senão o interesse, do qual tem resultado o progresso, que é a base da evolução, isto até o presente (“Zaqueu, hoje convém que eu vá à tua casa” – Jesus). Se fugirmos à realidade, encontraremos a contradição que a nada leva, além de confundir ainda mais, ao invés de esclarecer. Erro crasso é pretender desassociar da evolução o progresso da humanidade, pois se este não se constituísse como tal, não encontraríamos o motivo da sua existência. Tem sido esta, e somente esta, a razão do atraso em que encontra o homem em relação à fraternidade e também de lutas fratricidas, visando à consolidação da mesma, embora com características ideológicas. O mal, o grande mal, é querer difundir o Evangelho “letra”, 221
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pretendendo que seja “espírito”. É querer esclarecer aquilo que não entendem, tentando acomodá-lo às conveniências de partes e de circunstâncias, em detrimento da verdade. Sabemos através da história, que inúmeros reis e imperadores não passaram de subservientes da teocracia imperante, porque convinha a ambos que a massa ignara permanecesse sob o guante do pavor face à desobediência, daí terem criado, fundamentados na “letra” do Evangelho, o inferno e, pela obediência cega e inconsciente, o prêmio do céu. Dentro desse consenso, conceba-se porque havia interesses de partes a serem defendidos, e não há meio mais eficaz de submeter uma mente que incutir-lhe o terror, usando da sensibilidade e conservando a criatura em ignorância. Na época presente, todavia, não encontramos motivo e nem razão para que tal mentalidade permaneça como padrão educativo, desde que pretendamos fugir à “letra” do Evangelho, penetrando-lhe o “espírito”. Alguns poderão arguir que, se a verdade for exposta, o homem se demandará no crime e na depravação de toda sorte, que o Evangelho é um freio para que tal não aconteça e que seu conhecimento conduz o homem ao bom caminho. Isto equivale a uma confissão de que permanece no condicionamento, o que ainda, mesmo que se proponha como verdade, não o é. Prova inconteste de que mesmo os “evangelizadores”, os “condutores”, ou permanecem cegos, ou se enxergam, transferem a responsabilidade da condução do seu semelhante, pela senda da transformação em criaturas dignas e humanas, a esse mesmo condicionamento. 222
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Se nos ativermos à balela mística que pretende colocar remendos novos em roupa velha e tinta nova sobre tinta velha, tudo é tolerável, mas falando de reencarnação e evolução, dentro de tais perímetros só o comprovado é permitido, não tem guarida essa acomodação. No seio reencarnacionista é imperiosa e urge uma completa transformação, sob pena de permanecer um círculo vicioso, a reboque das religiões. Dentro do espírito do Evangelho cumpre ao evolucionista entender que o desiderato é a transformação radical do pensamento, levando a criatura a novas concepções, como seja, o profundo senso de responsabilidade junto ao seu semelhante, não o sentindo como esmoler, mas como irmão, não descendo até ele, mas trazendo-o à sua altura em todos os sentidos e proporcionando-lhe condições de vida, cultura e moralização em moldes sócio-vivenciais dentro da dignidade que deve viver o homem. Cumpre substituir o cerúleo pelo terráqueo, aqui e agora. Cumpre desarraigar da mente humana a idéia de competição, conforme nos referimos de início, em que classificamos como inveja inconfessa, e substituí-la pela de cooperação coletiva em função do todo. Se admitirmos não se constituir este proceder em pecado ou crime, até o presente, todavia não o sancionamos como o certo, pois que o espírito objetivo do Evangelho não é outro senão “Um só rebanho e um só pastor”, o que em explícito verbo não quer dizer outra coisa, além de cooperativismo, onde o competitivo não encontra termos de ajuste, e o desnível dentro do mesmo âmbito é simplesmente incompatível. 223
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Quando dizemos desnível, não o fazemos com intenção ideológica, pois que fatores heterogêneos de per si não admitem adição, mas independente do fator tempo, nos é facultado afirmar, sem dúvida, que outro não se constitui o motivo e a meta a serem alcançados pelo reencarnacionismo evolucionário. Aqui começa a agigantar-se aos olhos dos condutores a dimensão da tarefa a ser executada. Educar a mente humana num esclarecimento contínuo, de que só o cooperativismo, e só ele, é o fator da fraternidade, sendo este o único e exclusivo objetivo dos ensinamentos do maior evolucionista que pisou sobre a Terra, e que a fraternidade não se efetiva sem estruturamento de base (não se constrói sobre areia, mas sim sobre a rocha). A base da fraternidade nada mais é do que a profunda transformação da sociedade, de competitiva superativa em cooperativa niveladora. Dentre os espíritas, uma insignificante minoria começa a ter vislumbre desta verdade e, com ingentes sacrifícios, tenta levar avante este facho de luz, enquanto a grande maioria permanece estacionária no arremedo do místico religioso, procurando na caricatura do amor fraterno, chamada “caridade”, o meio de tornar-se um bem visto aos olhos de Deus e conseguir um lugarzinho ao sol, no espaço. Esses são os que lêem e relêem o Evangelho, sem atinarem com a alma dos ensinamentos, pois que neles mesmos é que vamos encontrar a situação de tais criaturas (veja “Juízo Final”: “Afastai-vos de mim porque eu não vos conheço” - Jesus), e talvez em pensamento o completasse: “Egoístas, hipócritas, que pretendestes usar o vosso semelhante como mero instrumento de 224
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vossa salvação (evolução) praticando atos que somente vossas mãos agiram, sem contudo viverem em amor, porque a vossa intenção estava voltada para a recompensa do dando é que recebemos!”. Destes, porém, o pão do corpo, mas relegando o espírito à miséria da ignorância, deixando-o faminto de dignidade. Sabemos que em todo processo cooperativista, independente dos interesses envolvidos, o mesmo processo tem como estrutura a união, que no adágio popular gera a força. Mas o que se observa no campo do Espiritismo, ao contrário desta união, é a desunião, resultante da mentalidade comum que é a competição, ainda que sem consciência de causa. Proliferam os Centros Espíritas, cada qual agindo segundo o critério dos seus componentes, nos quais, salvo exceções, podemos sentir as mais disparatadas práticas, até mesmo do que chamam de kardecismo ou “mesa branca”, o que vem se constituindo em um vício, ao invés de um proceder educativo, evolutivo. Os “presidentes” que se desvelam na “evangelização relâmpago” de “obsessores”, pretendendo que se transformem, em poucos minutos, de algozes soezes em, até, “protetores” do obsedado, além de uma série inumerável de outras incoerências, com tintas de “doutrina” ou “caridade” e, nesse alicerce inseguro, pretende-se a evolução e conscientização do valor da tomada de contato, concreta e ordenada do mundo insomático ao somático. No terreno do trabalho social prevalece esta mesma situação, pois este trabalho circunscreve-se a grupos isolados, não sendo permitida a ingerência ou mesmo a colaboração de outras entidades, o que deixa transparecer, sem disfarce, o mesmo sentimento que os anima nas atividades da vida social, ou seja, a 225
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competição para a superação, ou como já dissemos antes, a “inveja inconfessa” e, mesmo dentro de tais grupos, verifica-se o personalismo, primado pelos mesmos sentimentos. (A justiça começa em casa). O que nos estarrece é que do “próprio espaço” advenham mensagens concitando à manutenção deste estado de coisas. Haja vista quando diz da “moeda corrente”, independente de sua denominação, pois quem mais trabalha, mais recebe, o que não ultrapassa ao critério terreno da competição, em contradição inaceitável ao básico conglomerante fraternalista, que se fundamenta no cooperativismo fraterno. Neste não deve prevalecer outro sentimento, outra vivência que não seja o desprendimento, o desinteresse, buscando tão só e unicamente o aprimoramento pelo labor educativo, como componente de um todo (rebanho), visando colocar-se sob a égide de um só pastor. “Amai-vos uns aos outros”. Portanto onde está a verdade? Será no “ter” ou no “ser”? “Não ajunteis tesouros na Terra”. Este dizer, em seu espírito, em sua significação, quer se referir não ao tesouro em si, mas ao sentimento que o mesmo desperta, como seja, a própria soberba, o egoísmo, permitindo aos menos capazes o afloramento da humilhação, quando não da inveja e mesmo do ódio. Fora da carne, o espírito é suscetível de sentimentos iguais, pois é o mesmo homem, em processo de evolução, isto é, tão humano na Terra como no espaço. Não nos demove acerba crítica, mas sem que se diga a verdade, não se pode acordar a consciência. Falamos aqui aos homens honestos que, sob nenhuma hipótese, pactuam com o 226
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convencionalismo, mas portam a boa fé para que eles analisem o Evangelho no seu aspecto “único”, que é a busca da fraternidade através da evolução e, confrontando com a concepção vigente, concluam. O que deve, e com urgência, desaparecer do âmbito espírita é o sentimento isolacionista, que enodoa a pureza da doutrina e que contradiz, na prática, o que se prega dentro dos centros espíritas, como seja, a humildade. Ainda que existam milhares de centros espíritas numa cidade, mas que toda obra de caráter social educativa (chega de esmolas!) seja “obra de espíritas”, não de um “presidente” e seus colaboradores, e de que se envaidecem. Se a união faz a força, já é tempo daqueles que se chamam de “irmãos” colocarem de lado a ignorância dos verdadeiros princípios evangélicos, e no gesto que caracteriza o conhecedor da verdade, darem-se as mãos, em simplicidade de alma e, juntos, encetarem o labor construtivo da dignificação do homem. É tempo já de recordarem que, relativamente para cada “um obsessor”, existem na Terra milhares de crianças necessitadas que, pelo descuido e descaso dos “conhecedores da verdade”, se transformarão em outros tantos “obsessores” no futuro. Já é tempo de se conscientizarem de que devem cerrar fileiras em torno do ideal comum, do alevantamento cultural e moral da humanidade encarnada, para que não venham se constituir em candidatos aos cárceres e aos prostíbulos. E isto não se consegue com leituras das obras fundamentais somente, ou deliciosas mensagens vazadas no poético evangélico, mas em não ter orgulho e nem vergonha de achegar-se aos irmãos de outros centros 227
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espíritas com a coragem que um verdadeiro discípulo do Mestre possui, e arregaçando as mangas, atirar-se ao trabalho em conjunto, na realização de idéias que se constituam o desafio àquele que está a serviço de Jesus. A dignificação da pessoa humana não se faz com evangelização esquematizada dentro dos centros espíritas ou venda de livros doutrinários, muitas vezes até a analfabetos. A educação da criança não se faz com essa enxurrada de sandices à guisa de literatura infantil, desnorteante e confusa, salvo exceções. Dar o corpo em “sacrifício agradável a Deus” tem um sentido mais amplo do que se supõe, pois trata-se de aproveitar nas reencarnações os corpos em trabalho útil ao seu semelhante e, através deste trabalho ir usufruindo como lições práticas de evolução, constitutiva e consolidante, desde que procure viver o ato em amor. Podemos como exemplo, dizer que não se deve plantar cereais, mas sim flores, o que desassocia do retributivo econômico, para trasladarmo-nos aos do sentimento de reflexo imediato. Feliz daquele que já vive o que pratica de bem ao seu próximo, porque também já sente o perfume das flores que planta, sem viver na ilusória esperança dos jardins dos céus. No plano espiritual não se faz outra coisa senão trabalhar com amor pelo nosso irmão e, se na Terra essa mesma tarefa não consegue ser executada, como pretendê-la posteriormente? As coisas começam pelo começo. Como pretendemos a unificação do que existe se, todavia, não nos propusermos a uma real aproximação física, mental e 228
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espiritual, ao invés da continuidade dessa evangelização modeladora, convencional, que temos por natimorta? Quando dizemos que evolução não se consegue somente pela leitura, tanto do Evangelho quanto das “obras fundamentais”, não estamos desaconselhando que o façam, mas queremos acrescentar a necessidade de um estudo profundo, pois que tanto o Evangelho como estas obras, inteligentemente dosadas na maneira de dizer seus conceitos, evitando choques com o pensamento prepoderante na época, trazem no seu bojo um propósito evolucionista em espírito, que carece de alicerçados conhecimentos, inclusive da ciência, além de um raciocínio livre, sempre em busca da verdade. Até o presente, a leitura e mesmo o estudo, têm se restringido ao que está escrito, à “letra”, portanto. A própria literatura doutrinária, salvo exceções, difunde-se sobre o mesmo princípio, sem penetrar o “espírito” da palavra, muito embora modificando os termos, eivando-se de fantasias. A imaginação doutrinária criou as “zonas umbralinas e purgatoriais”, afirmando que o espírito, após deixar a carne, passa por um processo de regeneração, ressarcindo débitos e purificando-se. Se isso fosse verdade, quando retornasse ao somático, seria um espírito em melhores condições evolutivas, porque já teria se ressarcido, pelo menos de parte de suas “impurezas”. Vejamos a contradição: o “Livro dos Espíritos” nos diz (resposta à pergunta 218): “... O ponto de partida do reencarnado é exatamente aquele em que findou a última existência, e que recomeçará nesta”. 229
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Ora, se um espírito passa vários anos no umbral ressarcindo e posteriormente evoluindo, não nos parece que retorne à Terra no mesmo estado em que a deixou, porque já não está no mesmo ponto de finalização, mas sim mais avançado. Isto vem consolidar o nosso dizer que o espírito só evolui no sentido exato do termo, quando na carne, muito embora, quando no espaço, possa instruirse com visos a nova reencarnação exercitativa. Estes e outros tópicos doutrinários é que devem ser trazidos à tona sem receios, para que a luz se faça. Devem constituir a base de estudos, sem aceitação “a priori” somente porque foi dito ou está escrito.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Conceitos
35.
Conceitos
A troca de idéias entre uma e pessoa e outra é um momento sublime, pois já traz em si um princípio de humildade, porque quando a criatura chega à outra e procura colher opinião, quando vai com sinceridade em busca de uma cooperação, sem princípio religioso, sem querer demonstrar que é humilde, mas com naturalidade colhe a opinião do seu semelhante, está manifestando que tem em si o princípio de humildade que reside naquela alma. São, portanto, pequenas coisas que, analisadas à luz da razão, nos mostram o quanto vai em almas grandiosas. Vemos em todos os grandes vultos que passaram pela humanidade, criaturas que buscaram a opinião do seu semelhante para “construírem-se” e para “construir” os seus objetivos. São almas humildes que já começaram a conquistar o terreno da espiritualidade. São seres que estão fora do templo sem cuidar de “coisas religiosas”, pois notamos que não é dentro destas “coisas” que se encontra, às vezes, a real humildade, natural, espontânea, que tem o seu nascedouro naquela naturalidade da criatura que não se sente humilhada por isto. Não seria um belo ato se aplicado de maneira muito mais dilatada em todos os outros da existência? É uma humildade que não diminui ninguém, mas que traz à pessoa até uma certa amizade dos demais, porque observam que ela não é prepotente nas suas opiniões e curva-se às opiniões alheias quando são acertadas e justas. Não há nisto nenhuma religião, porém existe a religião natural da criatura, essência da humildade. 231
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O que é libertar-se? Há um outro fator preponderante, muito propalado entre as pessoas. O que é libertar-se? Libertar é a pessoa fazer aquilo que quer, libertando-se de certas injunções. Entretanto, é preciso entender o que é esta liberdade. É aprender a dizer a si mesmo, dentro dos moldes normais das leis vigentes, das leis sociais, de cunho moral: “Eu sou aquilo que quero ser, e não aquilo que determinadas injunções e preconceitos me impõem.” Bondade e virtude Há seres humanos que são bons e que têm vergonha de serem bons. Será esta pessoa má? Não. É que, às vezes, deixa de ser e de viver a bondade no receio de cair em ridículo. Ainda está escravizada às injunções. Não se deve fazer economia de virtudes, e que ninguém tenha receios de que esta fonte vá secar. A virtude é como a água: uma dessedenta o corpo e outra dessedenta a alma. Amor ao próximo Nas mínimas expressões é que vamos encontra Deus. Não é preciso que a criatura seja um pobre esfarrapado, faminto, a que demos um prato de alimento forrado de iguarias, e que chamemos isto de amor ao próximo e de caridade. Na casa do “cristão” não há etiqueta social, nela todos os atos se revestem de amor, dedicação, carinho, sinceridade, lealdade. Não será isto um princípio de libertação? 232
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Todo ato que praticamos se é interiormente, no sentido de liberdade e amor, se nos impulsiona o sentimento de bem fazer, a alegria de sentir o benefício que podemos fazer a uma pessoa, este ato é a prática pura e perfeita da religião, ou seja, dos ensinamentos do Mestre Nazareno. Harmonia interior Sentir e aurir a harmonia de planos superiores é uma prece. É o exercício da harmonia interior. Não é fácil entender estas verdades, é até muito difícil, uma vez que o melhor mestre é a sinceridade na busca e, se fizermos uma simples observação de que o mesmo ato praticado na observação das regras vigentes e dos preconceitos sociais, o fazemos até com certa contrariedade, então somos escravos daquela imposição social. Mas se fizermos com alegria, libertos, meditando bem, encontraremos a oportunidade de melhorar, de progredir, de evoluir e é, portanto, o campo aberto da evolução a quem quiser. Como observamos, não há necessidade de enquadramento dos atos da criatura no âmbito da religião propriamente. Não são as obras de vulto que revelam a pureza e a evolução do espírito, mas as pequenas coisas e maneira como são feitas. Toda pessoa que se envolve no desejo do bem servir, de fazer o seu semelhante feliz, a própria emanação fluídica desta pessoa revela tudo isto àquele que o recebe e, consequentemente, esta criatura sente-se presa, como que atraída a quem está praticando aquele ato simples e comum.
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -Conceitos
É o que sentimos na lição magnífica de Saulo de Tarso quando disse: “Tudo o que fizerdes, fazei-o de todo o coração, empregai ali todo o esforço, fazei com todo o amor.” Construção do “céu interior” ainda na Terra O “cristão” não tem amanhã. O “cristão” é o hoje, o agora. O “cristão” começa a pisar no “céu” hoje. O “cristão” reencarnacionista não se ilude, não vive de esperanças empíricas. Não lê, não busca no Evangelho o amanhã de uma felicidade eterna, mas começa a construí-la aqui na Terra, por isso é que tem amanhã, porque os seus sentimentos e pensamentos pautam por uma realidade patente e irreversível. Aqui, hoje, é o começo. O reencarnacionista abre os olhos aqui, agora e começa a construir o seu “céu” interior estando ainda encarnado, tendo o hábito de amar aquilo faz. “Faze com todo o teu amor e todo o teu entendimento.” Para quê? Para que se forme o hábito de viver em paz consigo mesmo. Para que este amor seja um estado permanente em todas as suas realizações. Amor, meta da evolução do espírito Aquele que ama, que tudo faz com amor, só pode evoluir e ser um espírito com tendências para o bem. Ora, o mal ninguém faz com amor, o erro ninguém comete com amor, mas todos os atos normais da existência devem ser feitos com amor, todas a realizações devem ter o seu nascedouro no íntimo, nas emoções superiores e na razão calculista. Naturalmente que são “todos”, excetuando-se aqueles que a sociedade, quando estamos 234
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encarnados, nos força a realizar em função das obrigações normais da vivência e da sobrevivência na Terra. São o trabalho e os afazeres diários nos quais impera a razão. Toda a razão que é envolta no amor, diviniza a obra. Devemos amar simplesmente pela felicidade de amar. Quem ama objetivando algo? Ninguém. Quando o amor existe, inexiste a razão. Quanto ao aperfeiçoamento do espírito, o amor é o estágio máximo, porém não determina um ponto final no processo evolutivo, face a eternidade do espírito.
Irmão Sérvolo (recebido por via mediúnica)
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Grupo Espírita “Judas Iscariotes” -Temas Livres Volume 1 -A Ciência e a Verdade
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A Ciência e a Verdade
Já dissemos antes e afirmamos agora, sem rebuços ou receios que, venha de quem vier, a afirmativa de sofrimentos na erraticidade em “moldes ressarcitivos” é fantasia alicerçada no dogmatismo, porque tem os seus fundamentos na concepção vigente dentro dos estreitos limites da justiça social humana. Esta concepção nega, fere e contradiz o único objetivo e motivo da criação que é evoluir. Que esta idéia prevaleça entre os chamados “espíritas religiosos”, com raízes milenares fundamentadas na ira das divindades quando contrariadas e amainadas com sacrifícios até humanos, tolere-se. Que Kardec tenha se reportado à mesma, dando continuidade em diapasão idêntico quanto ao processo, embora diferenciando-o como auto-punitivo ou auto-promotor, tolere-se, pois aí falou apenas o homem. Ainda que tenha reavivado os conhecimentos multimilenares do intercâmbio do corpóreo com o incorpóreo, não deixou, todavia, de dar tintas naturais de sua própria formação religiosa, embora com nuanças mais suaves. Todavia, teve Kardec a dignidade e a inteligência, como já o fizera Jesus, de aconselhar a busca da verdade pelos meandros da evolução científica, sempre a posteriori comprovada, e nunca a priori. Se Kardec afirmou que a religião se curvaria à ciência, deixou em aberto a maleabilidade analítica que a ciência permite, não firmando conceitos rígidos e imutáveis como verdade.
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Não encontra eco na razão toda e qualquer referência que dê ao sofrimento o sentido tanto de castigo quanto de ressarcimento de débitos, porquanto a sua aceitação equivaleria a marchar em retrocesso e no desconhecimento da realidade em que vive o homem. A criatura não solicitou ao Criador a sua criação, portanto, ela é fruto espontâneo de Sua vontade. Se temos este Criador como apoteose da bondade, justiça e amor, não procede que, conhecendo as deficiências de sua criatura, tanto na fragilidade como na ignorância em que foi criada e, contrariando estes mesmos atributos, se propusesse a justiçá-la pelos processos mais desumanos, porque seria justiçar não a maldade, mas o proceder, fruto da ignorância por Ele mesmo estabelecida como ponto de partida rumo à evolução. E, permitindo ainda que em orbes agrestes tivesse a criatura como preocupação maior a luta pela subsistência do corpo, e que as sociedades se constituíssem em campos de disputa acirradas, onde o ventre fala mais alto até que o amor, permitindo ainda que os homens se distanciassem em função de diferentes ordens sociais, sendo umas favorecidas e outras carentes, resultando em fator gerador de ódios e de desajustes de toda sorte, e que tudo isso prevalecesse face à ignorância em que o homem foi criado. Em que se fundamenta, portanto, a pretensa e tão propalada justiça a ser exercida? Será sobre a sua própria obra cuja situação de ignorância e de seu conseqüente estado, conforme a realidade aponta e comprova, 237
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por Ele criada e permitida? Não seria isto uma flagrante contradição à inteligência, ao amor e à bondade suprema? Ora, a verdade não se enquadra ao sofisma, venha de quem vier, sejam quais forem as condições intelectuais, morais ou sociais em que se encontrem, tenham ou não azos de apostolado. Pelo prisma social, até o presente, castigar, corrigir, trancafiar no cárcere e torturar, têm sido as maneiras de fazer sentir ao culpado, como entender os seus erros e pretender que se reajuste. Enquanto isso, cresce assustadoramente o número da população carcerária em todos os países. Digamos agora que, na trajetória do berço ao túmulo, o objetivo social fosse evoluir, cujo sinônimo é educar. Perguntaríamos se tais métodos seriam os mais adequados, pois os ditames da criação não são outros senão estes. Em se tratando das mesmas criaturas não há como entender que métodos contraproducentes, ainda dentro dos limites da sociedade, correspondam aos objetivos da evolução-educação, haja vista que existem criaturas que, após delinqüir inúmeras vezes e permanecerem encarceradas anos a fio, quando indagadas sobre seus sentimentos, revelam frieza a toda prova, o que demonstra a ausência da “consciência-razão”. O que se faz necessário ao homem é entender que importa ao Criador o despertar da referida “consciência-razão”. O que devemos entender por “consciência-razão” é um estado íntimo, independente do temor das sanções penais, quer humanas ou do próprio Criador, não estando nem mesmo a Ele afeta a incumbência de despertar na sua criatura esta “consciência-razão” de maneira direta, mas pela senda da auto-evolução. Para tanto, o 238
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Criador estabeleceu meios e não métodos, pelos quais a criação, de motu-proprio vai, com a lentidão requerida pelo estado consciencial, transformando-se pelo despertar tanto da “consciência-razão” como da inteligência, da sensibilidade e consolidando esses requisitos como componentes ou constitutivos do ser, pois ninguém desperta a consciência de ninguém em amplitude evolutiva. Se todas as religiões que se jactam de intermediárias de Deus retirarem o retributivo, seja no céu, na erraticidade ou alhures, elas desaparecerão na poeira do esquecimento, bem como se retirarem a coação dos “infernos”, “umbrais”, “zonas purgatoriais”, etc., perderão também sua autoridade. Isto tudo não se constitui em consciência livre, mas em integral subjugação, a qual se distancia, e muito, do “Amar a Deus sobre todas as coisas”, visto que amar tem, antes de tudo, o senso de conjugação espontânea. Quem ama conduz, tolera, compreende, perdoa, e Deus ama a sua obra. Deus não é o “senhor” de tudo, mas sim o “fator” de tudo! Só a estreiteza de vista espiritual pode permitir um amor eivado de torturas e de sofrimentos. Se um celerado toma uma gleba e a cultiva com carinho, dela receberá o fruto e, se na mesma gleba labora um “santo”, dela colherá também. O que devemos compreender é que ao Pai importa o espírito eterno, imortal, e não o somático-transitório que é instrumento de trabalho destinado ao pó, e que como “carne fraca” preparada para esta reencarnação, não se constitui na unidade homem.
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Que verdade busca o homem para sua libertação? O quê e de quê se constitui essa liberdade? Para o espírito só uma liberdade importa e prevalece, “a liberdade de consciência”, ou seja, constituir-se nessa liberdade em íntimo, independente de qualquer exterioridade. Se prevalecer o conceito de penas, ainda que transitórias, perde o espírito o direito de livre-arbítrio e o mérito da auto-evolução perante sua própria personalidade, e aí tem início o cerceamento da liberdade. Devemos entender que o espírito é presa, não de impurezas a serem purificadas, não de maldades a serem ressarcidas, mas de sua própria ignorância e que desta é que deve se libertar. Para que isso venha a acontecer, terá o espírito que se cultivar pelo trabalho produtivo, que desperta e consolida a inteligência e dará a necessária compreensão dos valores superiores da existência, em horizontes amplos, ultrapassando o terra-a-terra. A busca da verdade entra no cômputo das realizações de competência do homem e, como tal, está sujeita a experiências, erros e acertos, até que se consolide como verdade realizada, de onde se conclui que o impositivo da busca da verdade é da alçada do homem, para o qual não se pode traçar métodos determinantes e, sobretudo, coercitivos ou prêmios extra-além para sua conquista. Para que o homem realize um mister, são necessários meios e liberdade de ação, sem prometimentos negativos em função dos desacertos e, desde que a própria conquista ou realização se constitua em objetivo máximo, proporcionando a satisfação desejada, nenhuma outra é necessária. Cumpre, todavia, que esta 240
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incumbência seja confiada àquele que possui predicados e conhecimentos à altura do desempenho, sendo a busca da verdade libertadora confiada ao homem, como ele é. Em se tratando pois, de mister ou tarefa evolutiva, traduz-se por auto-realização, o que não impede que, como as demais, seja passível de enganos e acertos realizáveis por este mesmo homem. Dissemos em outra ocasião, que são promovidas circunstâncias sempre condizentes com as possibilidades de realização do homem em criar um auto-processo evolutivo, dentro do qual e somente dentro dele, goza do livre-arbítrio em estudar e aplicar os métodos requeridos à sua consecução. Além das circunstâncias periódicas objetivando a aplicação de métodos mais inteligentes no auto-processo, a fim de que se consolidem novos conceitos de inter-vivência social e conquistas de ordem científica, existem outros pormenores, tais como: as enfermidades, a fome, o frio, as intempéries, como meios para concitar o homem a vencer pelos métodos adequados, promovendo assim o constante desabrochar da inteligência. Não existe, portanto, o coercitivo, o compulsório ou método esquematizado, mas o facultativo de meios e de possibilidades inteligentemente dosados à situação intelecto-evolutiva, para que o próprio homem possa usufruí-las como educativos, cônscioracional, gozando, pois, somente dentro do processo evolutivo e intelectual, do livre-arbítrio que é uma meta a qual o homem não atingiu sequer uma partícula, porque só até aí está também limitada a sua responsabilidade. O que não se pode conceber é facultar o total e absoluto livrearbítrio ou liberdade de ação ao ignorante e, posteriormente, 241
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justiçar-lhe os atos decorrentes disto. Se o mesmo, todavia, está restrito a sua capacidade de ação, poderíamos entender a justiça, mas como estamos tratando aqui em termos de consciência e de conceito evolutivo, e se o homem ainda mata, prova que não está ainda à altura consciencial de entender e julgar-se pelo tribunal da própria consciência do ato praticado, imperando-se, portanto, a “razão-motivo” determinante, sempre fundamentada num prejuízo que pode ser material ou sensorial. Podemos apreciar que, tanto no que concerne ao místicoreligioso, bem como, ao espiritismo, o espírito age e reage, sempre em função de uma “razão determinada”, envolvendo interesses, dos quais não foge também em todos os seus atos na vida em sociedade. Se o homem sabe que não deve matar, mas mata, temos que a “razão-motivo”, que é a determinante de todos os seus atos, também aí imperou, sobrepujando todos os demais considerandos, dos quais ele ainda não pode definir em termos de “razãoevolução”. Todos os homens sabem que não devem matar, mas nem todos sabem o porquê disto. Se nos propusermos a inquirir milhares deles, teremos múltiplas e díspares respostas, mas poucas, entretanto, adentrarão o campo do auto-determinismo “consciencial-razão”, independente de religião ou da justiça humana em seus coercitivos penalógicos, o que diz bem da subjugação e da dependência, revelando, portanto, o estado evolutivo em que ainda se encontra o homem. Penetrando, porém, ao “consciencial-razão” em termos evolutivos teríamos respostas fundamentadas não no ato promotor do revide matar, mas sim considerando o autor, promotor em 242
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função do seu estado “consciencial-evolutivo”, o que se deduz por compreensão da ignorância e da fragilidade intelectual, moral e sensitiva do mesmo, dando margem a que possamos entender os ensinamentos do Mestre: “... virar a outra face...”, “não resistais ao mal...”, “caminha com ele duas milhas e dá-lhe também a túnica...”. Cumpre-nos dizer que o homem não deve ser julgado pelo ato, mas o ato pelo homem. Partindo do fator “causa” e não do “efeito”, teremos a compreensão da impossibilidade de aplicação da justiça divina, não sobre a criatura pelos seus feitos, como entendem os apologistas da penalogia, mas a justiça da compreensão, tolerância, do perdão e do amor ao homem (fonte) que não pode dar senão aquilo que tem, e o seu proceder está de acordo com o que é. Se no advento do evangelho a penalogia evangélica foi necessária, também é verdade que, não pelas parábolas mas pelos atos do próprio Mestre, ficou entreaberta a porta da compreensão e do discernimento, que agora devem ser aclarados à luz da razão. Isto sempre considerando que o evoluendo é o mesmo homem que habita a Terra e, analisando-o em todos os ângulos o “ser” e o “proceder”, é que teremos elementos suficientes para estabelecer relação, dentro do critério do lógico, sob pena de extraviarmo-nos para o suposto da temática evolutiva. Um dos males do espiritismo é assimilar e disseminar, sem critério analítico ainda que gramatical, inúmeros termos dissonantes do fundo evolucionista e propiciar confusão, além de distorcer o entendimento. Muitos desses termos como: “purificar”, “purgar”, “alisar arestas”, “eliminar mazelas”, e outros de igual teor. 243
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Que tais termos e outros sejam cabíveis nas religiões em que os fins objetivados pelo Criador são seletivos, paternalistas ao ponto de premiar uns e condenar outros, e a outros tantos permitir a purgação temporária para se tornarem dignos do prêmio, tolerese! Todavia, no âmbito e conceito evolucionista, onde só dois termos cabem e se constituem meta de todos os seres que são “evoluir” e seu único sinônimo “educar”. Tais termos não têm motivo, razão ou direito de subsistir como indicativo do processo, e não se ajustam à auto-responsabilidade. O evoluendo é um homem e este não tem maldade nem impurezas, mas somente ignorância, da qual se libertará pelos meios educativos proporcionados pelo Criador através das reencarnações. Por “purificar” entende-se escoimar de impurezas, tornar limpo, o que demanda reação físico-química sobre um dado elemento no concreto. O somático não está incluído neste conceito. Se o “espírito foi criado simples e ignorante”, resta saber qual destes dois estados se constitui em impureza ou em que época começou o espírito a tornar-se “impuro”, o que indiscutivelmente, neste caso, pode ser traduzido por retrocesso evolutivo, e isto contradiz frontalmente a própria lei de evolução que, sob nenhum aspecto, pretexto ou hipótese admite esse retrocesso. Que entre povos desaparecidos há milênios subsistisse tal crença, dada a sua condição mental e cultural, através de elementos naturais como o fogo, a água e as tormentas, admite-se, mas, desde o momento em que o relacionamento entre o corpóreo e o incorpóreo vem se estreitando em moldes comprovados e concretos, apagando a fantasia (em sua maioria no âmbito extra 244
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centro espírita) do uso e apregoamento de termos inadequados, querendo visos de verdade, não se admite. Tudo isto demanda apenas fertilidade imaginativa com raízes no formativo pessoal. Tratando-se ainda o evoluir ou o educar e sendo o educando o “espírito”, o abstrato que não sofre os efeitos de qualquer reação, quer física ou química, fica sem sentido, portanto, toda terminologia empregada, por ser inadequada e confusa. Ainda que pretendêssemos estabelecer “zonas espirituais” como espaço geográfico não prevaleceria, porque desde que o espírito vive em função do seu íntimo constitutivo, ele É o que É, esteja onde estiver, donde podemos entender que a paisagem e todos os demais componentes exteriores não modificam a inteligência, a moral ou a sensibilidade do espírito, visto que, mesmo num cárcere, prevalece a vida interior, porque não havendo crime, encarcera-se o corpo mas não a consciência.
Irmão Anthero (recebido por via mediúnica)
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37.
O Racional e o Irracional
Diariamente ouve-se a afirmação que toda criatura age em função de um motivo. Toda atitude humana prende-se ao fator motivação que, na maior parte das vezes, se deve à aquisição de alguma coisa, seja de ordem material ou espiritual. Portanto, tudo se fundamenta no motivo, e isto observamos também nos seres inferiores ou irracionais. Sentimos o que podemos determinar como uma necessidade básica, ou seja: fome, sede, frio, calor. A tendência do irracional é buscar um antídoto imediato. Se tem fome, sacia-se. E assim, com todos do mundo chamado irracional. Estamos num campo primário das reações de ordem biológica. Qual é a reação do homem racional neste mesmo campo? É a mesma: de fome, sede, frio, calor. O antídoto imediato é fazer de tudo para que não exista a fome e desapareça o mal estar, a sensação dolorosa. Tudo isto não destaca o homem do irracional. Por que então, portarmos o orgulho e a vaidade, se no sentido biológico, físico, as reações são as mesmas? Há, portanto uma aproximação do homem ao irracional. Tratando-se dos reencarnados na Terra, isto é natural, já que seu corpo é igual ao do irracional. Já nos planetas de ordem superior, isto seria uma correlação, porquanto os espíritos neles reencarnados, não têm a necessidade de manter o aspecto físico exato ao do irracional, pois a matéria já não mais passa por essas necessidades físicas. O aprimoramento científico destes planetas é de tal ordem que o alimento ingerido por uma criatura durante um dia aqui na 246
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Terra, traduzindo em linguagem científica, naturalmente que não é aquele alimento extraído da terra, mas condensações para a manutenção das células delicadíssimas daquele corpo,é suficiente para mais de um ano para a vibração celular do organismo semi etéreo destes planetas superiores. Partindo deste princípio comparativo, temos um gráfico que distancia bastante um mundo do outro. O ápice deste gráfico foge um pouco à concepção terrena,todavia se voltarmos à escala, encontraremos na mesma horizontal, no que se refere à questão biológica, o racional e o irracional pisando no mesmo terreno. Outro sentido de comparação é o da proporção entre ambos. Estas necessidades são tais que ultrapassam a barreira da carne propriamente dita e avançam, durante longo período, na atmosfera espiritual da Terra. Por isso fez-se necessária a existência de núcleos, de colônias, de um campo de trabalho de semelhança material nítida e até palpável. Devemos aceitar, dentro da limitação terrena a expressão: “Vida aqui, vida lá”.Não vamos englobar no sentido comum uma expressão mais elástica que possa transcender a espiritualidade elevada esta expressão: “vida no espaço, vida na Terra”. Percebemos assim quanto a criatura é próxima do seu irmão menor, seja de qualquer espécie, porque em todo ser vibra Deus. É uma concepção mais profunda que não limita Deus. Se não fosse o espírito já desperto para a razão, seria inexistente a diferenciação entre racional e irracional. O corpo é dependência do espírito e não este uma dependência da matéria. Assim, passamos a nos valorizar mais como espírito, como essência e a sentir o mundo físico no plano secundário. Passamos a afirmar 247
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já com consciência de causa: “eu sou espírito, sou alma”. Parece que ai há um senso de liberdade para a criatura humana. Analisemos sob outro aspecto, o único fator que diferencia o racional do irracional, ou seja, a busca de algo que o mundo não pode dar :a fome de liberdade,a sede de amor. Esta motivação é mais forte e quase foge ao sentido “Terra a Terra”, distancia-se incomensuravelmente dos impulsos. Não existe coisa mais sublime. O importante é que esta fome não pode ser saciada, mitigada senão pela própria criatura. Não há plantio nem colheita, porque já existe em cada uma a semente pronta e preparada para rasgar a terra e crescer. Cabe a cada um saber como fazer para que isto venha a acontecer, dependendo, logicamente, do trabalho e esforço próprios.
Informação Científica e Vida Sensorial A informação científica não deve ser confundida com vida sensorial. Enquanto a informação, os conhecimentos vêm de fora para dentro, no espírito é sua propriedade, faz parte integrante do seu pensamento comum, é o seu intelecto, é o armazém do saber. A vida sensorial não depende da caça, do plantio ou da fonte de água pois ela já é, já existe em cada um, depende de que a pessoa a traga para o campo das motivações e faça com que aflore com a personalidade espiritual. Quem pode censurar a liberdade de um sentimento da criatura? Quem pode proibir alguém de sentir ódio, amor, compaixão pelo seu semelhante? Posso livrar-me do frio, agasalhando-me, ou da fome, alimentando-me. Podem negar-me 248
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tudo, deixando-me sucumbir à míngua pela falta destes elementos básicos à vida animal, mas ninguém pode tirar-me a vida espiritual de amar o meu próximo porque o espírito é livre vive como quer. Eis aí um principio de liberdade, de livre arbítrio no seu sentido implícito e explicito,porquanto a vida sensorial, a interior, a do espírito, não conhece barreiras à sua liberdade. Aí é que se desenrola a beleza da bondade de Deus. O espírito pode ser muito feliz, depende do valor que der à vida espiritual e, em espírito, cada um é o que quer ser, não é escravo de ninguém. “Não temais aquele que mata o corpo e nada pode fazer”, conforme expressão de Jesus. O reencarnacionista deve, sobretudo, sentir e fazer com que esta chama seja sempre incandescente dentro de si, sentir o sol da liberdade espiritual e ser aquilo que quer ser e não aquilo que a imposição da sociedade ou outros impulsos, façam parte do ser viver, aproximando-se da irracionalidade. Deve ser porque é, ser pelo ser e não porque é obrigado a ser. Há outra concepção que traz um senso de independência ainda maior. Longe dos títulos religiosos e de qualquer conceito filosófico, o espírito pode doutorar-se desde que compreenda que é um espírito e que sua vida espiritual, sensorial, não obedece a leis nem do próprio Criador. Aí sim, ajusta-se a expressão do livre arbítrio você é aquilo que quiser ser, embora muitos ainda estejam acorrentados a concepções menos elevadas, ungidos aos interesses imediatos. Aqueles que ainda não compreenderam Jesus. Há muitas criaturas que estão à mercê dos impulsos básicos e animais da fome, da sede, do frio, a quem queremos de qualquer maneira converter em Seres livres, o que seria prêmio, mas no 249
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sentido animal. Como dizer a estes seres que eles são livres, que algo melhor os espera? O princípio da caridade é sentir o seu irmão como criatura humana, espírito como todos nós, sem o que não existe fundamento, base para o início da construção. Como falar em liberdade a quem é preso da fome, da ignorância? É preciso sentir um pedaço de Deus em nosso irmão, porque uma corrente é formada de elos e, se faltar um deles, será apenas um segmento e não uma corrente. Como chegarmos a Deus, querendo alcançar o segmento da beleza da vida, esquecendo o elo básico que é nosso irmão, tão recomendado por Jesus? Importa que toda pessoa passe a olhar não só para o “céu”, mas também para a Terra, que não fique como despreocupada na senda da existência a olhar as estrelas no paraíso que se pretende conquistar não se sabe como. Os que portam o título de “cristãos” não devem agir isoladamente, mas na vida de espírito para espírito, e que exista o primeiro a ter coragem de dizer. “Eu quero ser irmão de todos”. Onde está esta coragem? A pessoa sempre espera que queiram ser seu irmão, mas não é capaz de ir até ele, de ter a coragem de ser humilde e aceitá-lo como ele é fundindo com ele o sentimento de amor. Espírito é vida, vida é espírito e toda vida, todo espírito não ultrapassam os limites do campo sensorial do interior de cada um. A verdade é o rolo compressor que não pode ser contida. É o sol que ilumina indistintamente. (recebido por via mediúnica) 250