MISSÃO ÓRION OBERDAN VIANA NASCIMENTO
MISSÃO ÓRION
Oberdan Viana Nascimento
Edição Independente
MISSÃO ÓRION
Número Nascimento, Oberdan Viana Missão Órion Belo Horizonte: 2015
Edição Independente ISBN: XXX-XX-XXXXXX-X-X
SUMÁRIO
O Recrutamento .................................................................................................6 O Treinamento ................................................................................................ 14 Projeto Arca ..................................................................................................... 25 A Partida de Sirius ........................................................................................... 33 A Coletiva de Imprensa .................................................................................. 40 As Férias............................................................................................................ 42 A Partida ........................................................................................................... 49 A Nave Bellatrix............................................................................................... 55 O Ataque........................................................................................................... 59 A Dança em Gravidade Zero ........................................................................ 67 A Briga entre Juan e Floyd ............................................................................. 73 O Desmaio ....................................................................................................... 82 O Bólido ........................................................................................................... 88 A Aterrissagem................................................................................................. 96 A Primeira Noite em Marte ......................................................................... 108 A Tempestade de Areia ................................................................................ 114 Creatura Lacus ............................................................................................... 117
O Primeiro Casamento em Marte ............................................................... 122 A Evolução de Marte .................................................................................... 133 A espera de um marciano ............................................................................. 138 O Astronauta Guardião ................................................................................ 147
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O Recrutamento Em 2020 teve inicio o recrutamento para uma das maiores missões espaciais de todos os tempos. A Space Corp, uma agencia espacial privada, buscou ao redor do mundo as mentes mais brilhantes no campo das ciências para colonizar o Planeta Vermelho. Cinco anos de treinamento intenso estão programados para que os colonos, entre eles, militares, engenheiros, médicos, físicos, biólogos, botânicos e toda uma equipe altamente capacitada para construção da colônia. Ela será basicamente formada por um domo compartimentado em vários setores, dentre eles: espaços de convivência, alojamentos, laboratórios, unidades de saúde, almoxarifados e unidades produtivas para agricultura de subsistência. Devido ao elevado custo da missão, a viagem terá passagem só de ida e durará seis meses. Deverá ocorrer num momento de maior proximidade da Terra com Marte. A busca pelos colonos ao redor do mundo dependia principalmente daqueles que se oferecessem como voluntários, o 6
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que não era exatamente o meu caso. Vim parar na Missão Órion de forma bem inesperada. Estava no meio de uma aula de Genética no IBPM - Instituto de Biotecnologia e Pesquisa Microbiológica quando fui interrompido pelo reitor: -Dr. Dan? -Pois não, senhor Reitor! -Você tem visitas. Preciso que venha imediatamente ao meu gabinete! -Não estou esperando ninguém. Quem é? -Venha rápido, logo você saberá. Ao entrar no gabinete, me deparei com dois homens vestidos de terno preto com maletas nas mãos. -Dan, estes são Will Parker e Frank Holmes. Eles representam a Space Corp. -Good morn... -Não precisa falar inglês Dr. Dan, Dr. Holmes e eu temos um trabalho para o senhor. Nesse momento o Reitor deixou o gabinete. -Do que se trata? -O senhor conhece a Missão Órion? 7
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-O senhor se refere à Missão a Marte? -Correto! -Sim, li alguma coisa a respeito... -Também lemos muito a respeito do senhor, Dr. Dan, será muito útil em nossa missão. -Como seria útil à Missão? -O que acha de ser um colono? -Um colono, eu? Mas por quê? -Sabemos que o senhor, Dr. Dan, é um Biólogo brilhante e o queremos em nossa equipe de cientistas, o que nos Diz? -Mas isso significa ir a Marte e nunca mais voltar a Terra! Sim! -Não me agrada muito a ideia de deixar a terra, eu... -Ora, por favor, Doutor, sabemos que o senhor não tem família e não há nada que o prenda a este planeta, além do mais a Terra está falida. Estamos lhe dando a oportunidade de se tornar um herói, ter seu nome imortalizado junto daqueles que serão os desbravadores do Planeta Vermelho! Junte-se a nós e seja um colono. -Qual será o meu trabalho em Marte?
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-Bem o Senhor ainda receberá instruções, mas basicamente, montaremos uma equipe multidisciplinar que além de construir a colônia e estudarão os meios para transformar Marte num planeta favorável à vida. Inicialmente, não gostava da ideia de deixar a terra, mas aquela conversa com o Dr. Parker me deixou convencido do contrário. Não sei, mas acredito que o senso científico e a ambição pela descoberta falaram mais alto dentro de mim, do que o temor de deixar a segurança do planeta... -Então, Dr. Dan? -Quando começo o treinamento? -Sabíamos que iria aceitar. Há um helicóptero nos esperando no campus,
mandaremos
buscar
seus
pertences,
partimos
imediatamente. Bem vindo à Missão Órion! Embarcamos no helicóptero, que nos levou até o aeroporto internacional de lá fomos de jato até a base de lançamentos da Space Corp na Flórida. Fomos recepcionados pelo comando da missão, o coronel reformado da Força Aérea Norte Americana, David Smith. 9
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Eu sabia que se tratava de uma missão muito especial porque consistia num feito inédito para a humanidade desde a missão Apollo, no entanto não fazia ideia de seu tamanho até que me vi num centro de treinamento do departamento de exobiologia da missão. -Bom dia, Dr. Dan! -Bom dia Coronel Smith. -Presumo que o senhor tenha ouvido falar da Missão Órion, estou certo? -Sim, sim Senhor. -O que sabe a respeito? -Li nos jornais que se trata de uma missão cientifica que pretende colonizar Marte. -Correto. Trouxemos o Senhor aqui porque queremos que o Senhor chefie a equipe de Biologia. O Senhor sabe que encontramos água subterrânea em Marte. A sobrevivência da colônia dependerá da exploração correta e eficiente deste recurso. Tive acesso aos seus trabalhos acadêmicos e é de um especialista como o Senhor de que precisamos em nossa missão. Marte não possui uma hidrosfera, no entanto, temos indícios que num passado remoto havia oceanos e leitos de rios. Encontramos 10
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minerais que se formam apenas com a presença de água. Faremos perfurações para extrair a água do seu interior. O Senhor sabe, Dr. Dan, que atmosfera de Marte é bem fina e por isso não temos um efeito estufa e uma proteção cósmica eficiente. Pretendemos levar diversas espécies vegetais para cultivarmos, criaremos florestas. Num primeiro momento iremos reproduzi-las em estufas artificiais e aos poucos avançaremos em solo marciano até que tenhamos um efeito estufa natural. A fotossíntese e a evapotranspiração. "engrossará" a atmosfera. Tivemos acesso aos seus estudos com uma variedade da bactéria, a Halomonas que o senhor manipulou geneticamente. -Entendi o senhor quer usar a Halomonas brasilienses para extrair o oxigênio da supervicie enferrujada de Marte e liberá-lo na atmosfera. -Correto. -Não sei se o senhor tomou conhecimento, mas a eficiência do processo ainda não foi confirmada, precisamos de mais estudos.
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-Dr. Dan, sabemos dos riscos, mas acreditamos no êxito do processo, por isso o senhor contará com os investimentos necessários. Ademais, teremos duas fontes de oxigênio em marte. A fotossíntese, afinal atmosfera marciana é rica em dióxido de carbono e a ferrugem para que possamos atingir mais rapidamente a condição mínima de um efeito estufa razoável para o equilíbrio hidrológico de Marte. -Mas uma coisa está faltando? -E o que é? -Será inútil “reconstruir” o Planeta Marte e ignorar que este não possui um campo magnético como o da Terra. O Planeta Vermelho é totalmente vulnerável à radiação cósmica! -O senhor tem razão Dr. Dan, entretanto, pensamos a esse respeito. O Dr. Juan Gomez que, aliás, será seu colega de quarto, está trabalhando com os Indutores de Campo. -E o que seriam estes indutores de campos? -São equipamentos que criarão um campo magnético artificial. Teremos um indutor em cada um dos polos e amplificadores de sinal nos demais pontos cardeais. Esse campo será projetado de modo a envolver todo o Globo Marciano e assim teremos a proteção cósmica de que precisamos. Ainda estamos em fase 12
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experimental, mas devemos ter um modelo definitivo em aproximadamente um ano e meio. Nos testes que fizemos até o momento tivemos uma proteção bastante eficiente. -Entendi! A partir de amanhã o senhor começará o treinamento de astronauta, um guia apresentará todas as instalações incluindo seu alojamento.
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O Treinamento
Após conhecer todas as instalações da Space Corp, jantamos, a essa altura já eram 21 horas. Meu alojamento era simples e espaçoso. Havia duas camas de solteiro, dois roupeiros, duas escrivaninhas com um computador cada e um banheiro. A cama a esquerda tinha meu nome e a da direita tinha um adesivo "reseved for J. Gomez". No armário da direita uniformes cinzas e uma espécie de macacão com meu nome escrito na altura do peito. Enquanto olhava todo o quarto a porta de correr se abriu e um homem branco de estatura mediana entrou. -Boa noite, o senhor é o Dr. Dan, certo? -Sim, e o Senhor? -Sou Juan Gomez, serei seu colega de quarto. -Juan, prazer em conhecê-lo! -Ouvimos falar muito do senhor aqui na agência. Sua presença era muito aguardada. -Estou surpreso com essa recepção. Um cientista brasileiro chefiando uma equipe de exploração em Marte é bem inesperado.
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-Eu também fiquei surpreso. Os latinos estão bem presentes nessa missão. -É o Coronel me disse que você é o responsável pelos indutores de Campo. -Sim, mas alem disso vou trabalhar com Vulcanologia e tectonofísica, é claro, de seremos todos mão de obra braçal na construção do domo. Em solo marciano irei estudar a dinâmica do interior do planeta e sua influencia no campo magnético. Irei monitorar também a atividade vulcânica e sísmica. -Eu irei chefiar a equipe de biologia. Faremos um trabalho ligada a exploração bioquímica do oxigênio do óxido de ferro da superfície marciana. No dia seguinte, às 06h30min soou o "toque da alvorada". Após o café, nos apresentamos em um auditório, estavam presentes uns 40 recrutas. O Coronel Smith foi até a tribuna que estava à frente e começou a falar. -Senhoras e Senhores bom dia! Hoje iniciaremos os treinamentos, mas, antes de começar, iremos escutar o pronunciamento do
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Presidente dos Estados Unidos, estamos conectados via videoconferência diretamente da Casa Branca. Todos de pé. -Senhoras e Senhores, hoje é um dia especial, não só para a América, mas para todos os continentes! As maiores potencias do mundo estão empenhadas num feito inédito e isso nos enche de orgulho! A Space Corp, os países juntamente com seus governos, buscaram ao redor do mundo as mentes mais brilhantes nos mais variados campos das ciências e hoje tem início a Missão Órion! O Planeta Marte, inóspito e sem vida, representa esperança para a humanidade! Temos a oportunidade de desbravar o Planeta Vermelho e transformá-lo em uma nova morada para as novas gerações. Muitos desafios, trabalho árduo e sacrifícios serão necessários para levarmos a frente essa empreitada, não obstante, os senhores contarão com o apoio de toda a humanidade. Seus nomes serão imortalizados como os heróis que saíram em busca de uma nova esperança. Sejam bem vindos e que Deus esteja com todos vocês. Agora finalizo a transmissão e passo a palavra para o Cel. Smith. Enquanto ouvia o discurso do presidente, ficava me perguntando o porquê do nome “Missão Órion”. Na mitologia grega Órion era 16
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um caçador que se apaixonou por Artêmis. Apollo, irmão da deusa, era contra esse amor e mandou que um escorpião perseguisse o caçador a fim de matá-lo. Órion empreende uma trabalhosa fuga para os mares. Ao ver que o caçador fugia no mar. Apollo persuade Artêmis para atingir um alvo no mar, não sabendo que era Órion, acerta em cheio e o mata. Diante do feito, Artêmis roga a Zeus que leve Órion para as estrelas o transformando numa constelação. Curiosamente a Missão que levara o homem a Lua era a Missão Apollo, o inimigo de Órion. -Senhoras e senhores vocês acabaram de receber uma pasta com o cronograma de todo o treinamento da Missão. Esse cronograma deverá seguido à risca por todos. A obediência às regras garantirá o êxito da missão. O espaço sideral é um lugar perigos, e, a menor falha, poderá custar suas vidas. Hoje todos passarão por exames médicos
complementares
dando
inicio
aos
testes
de
condicionamento físico. Como é do conhecimento de vocês, teremos cinco anos de preparo, sendo dois anos de treinamento astronáutico, um ano de estudos acerca da construção e funcionamento do domo, e dois anos de formação complementar com as disciplinas de astronomia, matemática, geografia marciana
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e é claro, uma explanação do trabalho de cada um de vocês em suas respectivas especialidades. O lançamento está previsto para outubro de 2025 com pouso previsto em Marte para abril de 2026. Em caso de dúvidas recorram ao cronograma. Assim que o Cel. Smith deixou a tribuna do auditório uma voz soou nos alto-falantes da agencia: “atenção recrutas, favor comparecer imediatamente ao departamento de saúde, repetindo: comparecer ao departamento de saúde”! Cheguei ao departamento de saúde, preenchi um formulário interminável com perguntas acerca dos meus hábitos e condições de saúde. Logo em seguida foi aferida minha pressão arterial e batimentos cardíacos. Terminada essa etapa, uma enfermeira que estava a conduzindo os exames coletou amostras do meu sangue para um hemograma completo, me entregou três frascos e me disse: -Dr. Dan, o senhor tem até amanhã às 8h para comparecer com o material biológico para os exames. 18
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-Ok, mas a senhora me deu três frascos, seria para fezes, urina e? -Esperma. -Esperma?! -Sim, faremos um espermograma para verificar sua fertilidade! -Mas por quê? -Página 152 do cronograma da missão: os recrutas devem ser férteis para colonização e povoamento do planeta. Boa sorte! -Obrigado, eu acho. Terminados os exames médicos do primeiro dia, fomos submetidos ao teste ergométrico. Não via desconforto algum em fazer os testes, doloroso mesmo foi ter que depilar o tórax para que não houvesse interferência no eletrocardiograma. Tive que usar cera fria. Ao meio dia paramos para o almoço. A agencia tinha grande preocupação com a saúde dos recurtas, a alimentação era bastante balanceada. Muitos vegetais. Carboidratos, lipídios e proteínas bem cotrolados e muita fibra. O acompanhamento nutricional era bem rigoroso.
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Após o intervalo de descanso do almoço, prosseguimos com o treinamento a essa altura já eram 14 horas. Fomos levados a uma piscina com dimensões olímpicas. O treinamento consistia em nadar utilizando a roupa de astronauta. Era preciso completar três voltas. Era um treinamento muito desgastante e que seria repetido ao longo do tempo até atingíssemos o condicionamento necessário. Após as 16 horas começaram os testes com realidade virtual. Utilizando óculos especiais, fomos submetidos a algumas simulações de situações reais de voo e manipulação de equipamentos da nave. Terminados os testes do primeiro dia, Juan e eu nos encontramos no refeitório para o jantar. -Olá Juan, que dia cheio que tivemos hoje! -Nem me fale, aquele treinamento na piscina foi desumano, estou esgotado! -É, e se prepare que amanhã enfrentaremos a centrífuga humana. Você sabia que ela pode nos matar?! -Não!
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-Ela consiste num teste de aceleração. Somos submetidos até 9g, mas não se preocupe, um ser humano pode suportar até 20g em curtíssimos intervalos de tempo sem ter seus órgãos internos explodidos. -Ah, que bom, agora fico mais tranquilo em saber que meus órgãos internos não irão explodir em 9g. -Eu queria que esse treinamento terminasse logo. É muito cansativo! -Meu caro Dr. Dan, estamos apenas no começo. Gostaria mesmo de saber quando começam os testes para a missão de procriação? -Ora Juan, não está previsto nenhum teste de procriação. Colonizaremos Marte com inseminação artificial. -Mas bem que podia ser no método tradicional. Você já reparou na Dra Sofia? -A botânica Russa? Como não reparar naquela beldade de olhos azuis! Terminado o jantar, retornei ao meu alojamento e apaguei. No dia seguinte retomamos o treinamento, dessa vez o café seria após o teste da centrífuga para que ninguém vomitasse. No primeiro dia, 21
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fui submetido a 2,5g, e fui informado que ao longo dos meses, haveria um aumento progressivo por medidas de segurança. A situação de girar naquela centrífuga não era nada agradável. Para sofrer menos em meu treinamento, fechei os olhos e tentei pensar em algo que desviasse minha atenção das incomodas rotações, porém, algo estranho aconteceu. Inicialmente comecei a sentir meu corpo leve, até pensei que fosse por conta da aceleração, em seguida comecei sentir que estava flutuando, e a sensação esperada deveria ser e exatamente o contrário, logo um clarão se formou diante de meus olhos e uma mulher vestida de branco apareceu diante de mim e disse: “A Missão Órion não será uma missão de paz. Uma guerra se aproxima!”. Logo após ouvir aquela mensagem, subitamente senti o peso da aceleração da centrífuga. Terminado o teste, fiquei pensando o que significava aquela visão que tivera na centrífuga. Meu senso científico não me permitia crer em coisas sobrenaturais, mas confesso que aquela sensação me deixou intrigado. Estaria ficando louco ou se tratava realmente de um presságio?
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À tarde, após o almoço, começamos os testes de microgravidade. Fomos direcionados a um hangar. Um piloto da Força Aérea conduziu os testes daquela tarde. -Senhoras e Senhores boa tarde! Hoje vocês iniciarão a simulação de gravidade zero. Esta aeronave possui cabine especializada. Subiremos até a altitude de 30 mil pés e faremos manobras semelhantes às de uma montanha russa. O motor do avião será desligado, ficaremos em queda livre por curtos períodos de tempo e após isso retomaremos o voo. Durante a queda livre vocês terão a sensação de gravidade zero. Alguma pergunta? Todos responderam em tom uníssono: -Não! Embarcamos na aeronave e decolamos. Juan estava na mesma turma que eu, ficamos próximos para auxílio mútuo. Em poucos minutos atingimos a altitude necessária e sem prévio aviso os motores pararam de funcionar. Inicialmente a sensação que tive foi de pânico em saber que estávamos em queda livre, mas tive que me conter, afinal precisava agir de forma racional, entretanto, ao ver que todos estavam levitando lentamente como num filme de ficção o pânico passou e até que foi bem agradável.
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O avião retomou o voo após alguns instantes de queda e repetimos a manobra algumas vezes e, após uma hora de voo aterrissamos.
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Projeto Arca
No final da simulação de gravidade zero um dos guias que nos auxiliava me chamou e disse: -Dr. Dan telefone para o senhor. É o Coronel Smith. -Alô Coronel, Dan falando! -Doutor, preciso que venha ao meu gabinete imediatamente. -Sim senhor! O prédio da administração era um pouco distante do hangar, por isso fui de jipe para minha reunião com o coronel. Quando cheguei à antessala do gabinete, pedi que a secretária me anunciasse, mas antes mesmo de terminar de falar, o coronel abriu a porta e disse: -Dan, entre logo... Ao entrar na sala, vi uma mulher loira de cabelos curtos, olhos castanhos, estatura mediana. Suas feições eram bem delicadas. Ela possuía uma pinta no canto superior direito da boca. Usava um jaleco branco e era muito linda.
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-Dr. Dan gostaria de lhe apresentar a Dra. Lis ela é uma das recrutas francesas. A Dra. Lis é formada em engenharia Genética. -É um prazer Doutora! -Digo o mesmo Doutor! -Bem terminadas as apresentações, vamos continuar com nossa reunião. Chamei vocês aqui para apresentá-los ao Projeto Arca. O projeto Arca tem esse nome porque é uma alusão à história bíblica de Noé, o dilúvio é tudo mais. Doutores, por favor, me acompanhem. E seguida, saímos por uma porta que se abriu logo atrás da mesa do coronel. Esta porta deveria estar camuflada entre a decoração da parede, pois eu poderia jurar que não havia nada ali. Seguimos por um corredor estreito e iluminado com lâmpadas fluorescentes, descemos por uma escada que dava para uma porta de cofre. O coronel a destrancou com a leitura de sua íris. Entramos em uma sala resfriada. Nela havia prateleiras dispostas como em uma biblioteca que formavam longos corredores. -Aqui nestas prateleiras estão armazenados os embriões de todas as espécies de seres vivos que foram até hoje catalogadas pela humanidade. Preciso de que os senhores façam um trabalho conjunto e montem um plano de ação para que possamos 26
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introduzir uma biodiversidade no planeta Marte semelhante a que temos na terra. Os Senhores terão um ano para me entregar o plano de ação. A partir de amanhã vocês terão o treinamento de astronauta no período da manha e a tarde deverão utilizar o laboratório 35b que está reservado exclusivamente para os senhores. Em caso de dúvida, foi disponibilizado um dossiê em um diretório na rede com o nome de Projeto Arca. Nele vocês poderão entender melhor a proposta e o resultado que queremos do seu trabalho. Retornamos ao gabinete do coronel e a porta camuflada se fechou e novamente e desapareceu. -Estão dispensados! O tempo foi se passando e a complexidade do treinamento ia aumentando exponencialmente. Entre giroscópios, centrífugas e simulações de microgravidade em piscinas ou aviões, ia me habituando a vida de astronauta. Paralelo ao meu treinamento de astronauta, o trabalho com a Dra. Lis ia prosperando. Desenvolvemos um plano de ação para o povoamento vegetal e animal no planeta. Projetamos um ambiente pressurizado que simularia as condições de superfície e atmosfera do planeta para os nossos testes. 27
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-Dra. Lis, precisamos introduzir o oxigênio na atmosfera para então avançarmos com a cobertura vegetal e o consequente povoamento animal. Entendo que devemos cultivar a bactéria Halomonas para liberar o oxigênio preso no óxido de ferro do solo, para então iniciarmos a cobertura vegetal. Precisamos também bactérias nitrificantes para que o solo tenha os nutrientes necessários. E os animais maiores? Como faremos para desenvolvê-los? -O senhor não leu minha a minha teoria de mutação assistida? -Não! Em que consiste sua teoria? -Bem, consiste basicamente em criar de modo artificial as condições genéticas para que os animais sofram mutações e evoluam em outras espécies. -Seja mais específica. -Bem, sabemos que a vida surgiu nos oceanos e, que os peixes evoluíram para os anfíbios, e estes em répteis, seguidos por aves, mamíferos e etc. Devemos recriar esse processo de modo acelerado, ao invés de esperarmos milhões de anos, obter o resultado em algumas décadas. -Interessante sua teoria, mas como exatamente induziríamos essa mutação? -Implante de genes! 28
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-Entendi,
implantaríamos
as
características
necessárias
e
deixaríamos a natureza fazer o resto. -Não exatamente, eu disse que se trata de uma mutação assistida. Na verdade, faremos com que as matrizes reprodutoras possuam as
características
mutantes
para
serem
transmitidas
aos
descendentes. Não podemos deixar que as mutações saiam do programado. A mutação assistida nos permitirá acelerar o processo de surgimento de novas espécies. -Entendi, nesse caso, não precisaremos de um aparato tecnológico muito caro, como por exemplo, os úteros artificiais. -Correto. -Não sabemos quais serão os efeitos resultantes da influencia do planeta sobre as mutações, precisamos desenvolver um mecanismo de controle. -Certo, Doutor, mas já e tarde! Pensaremos em algo amanhã. -Ok, Doutora, nos vemos amanhã. Boa noite! -Boa noite Doutor. Deixamos o laboratório naquela noite, já eram 22h45min. Confesso que tinha certa dificuldade de me concentrar no trabalho, a Dra. Lis era encantadora, eu bem que gostaria de convidá-la para um jantar, no entanto, confinado no treinamento da missão era impossível. Mas de algum modo eu terei que quebrar 29
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o gelo, afinal, passaremos o resto de nossas vidas em Marte. Fui para o alojamento, Juan já estava dormindo, entrei lentamente para não acordá-lo. Após um banho relaxante me atirei na cama, mas demorei pra pegar no sono, fiquei pensando na minha vida na terra, meu trabalho no instituto e no próprio planeta em si. Marte é um lugar árido, vazio em sem vida. O que um planeta vazio poderia nos oferecer? E se a missão fracassar? Bem ao menos estou trabalhando com a Dra. Lis... Oh, meu Deus, pareço um adolescente falando! Melhor dormir logo. No dia seguinte convoquei uma reunião com a Dra. Lis e o Dr. Breytner. O Dr. Breytner era um recruta alemão. Ele chefiava o Departamento de Engenharia de Software da missão. -Bom dia Dr. Breytner, essa é a Dra. Lis e eu sou o Dr. Dan, somos responsáveis pelo departamento de biologia da missão. -Prazer em conhecê-los Doutores. Ouvi falar do trabalho dos senhores, pelo que vi são a menina dos olhos do comando. -Doutor, seremos breves. Dra Lis formulou uma teoria chamada de Mutação Assistida. Entendemos que essa teoria será importante para o povoamento animal e a criação de uma biodiversidade em Marte, no entanto, precisamos de um mecanismo de controle ainda no estágio embrionário. 30
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-Certo, mas, onde entraria a engenharia de software no trabalho de vocês? -A ferramenta de controle de que lhe falei precisa mapear o código genético das matrizes para prever possíveis erros de combinações genéticas, para evitarmos assim, mutações indesejadas. -Bem, trata-se de um algoritmo muito complexo. -Imagino que sim, mas acha que é possível? -Sim. -E quanto tempo o Senhor acha que pode entregar o software funcionando? -Um ano e meio, talvez dois... Não sei ao certo, preciso de um estudo. -Quanto tempo de estudo? -Um mês! -Certo Doutor, providencie e me encaminhe seu estudo e forneça também uma cópia para o Cel. Smith. Obrigado, e tenha uma boa tarde! -Boa tarde para os senhores! O tempo foi se passando na Missão. E a cada dia transcorrido, estávamos mais perto de nos tornar em heróis no espaço. É claro
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que isso não me confortava em nada, no entanto, já estava dentro da Missão mesmo, não ficaria bem retroceder a esta altura. Nossos trabalhos estavam bem avançados, e até o presente momento nada havia saído do planejado. Fizemos uma réplica da colônia, tivemos que simular todo o nosso modo de vida dentro do Domo. Viver no Domo era algo até interessante, tratava-se na verdade de um microcosmo. Tinha uma atmosfera própria, renovada pela nossa estufa vegetal, cultivávamos nosso próprio alimento e reciclávamos a água. A simulação era pra valer! Qualquer problema de saúde deveria ser tratado na enfermaria do Domo. É bem verdade, que não tivemos casos para tratamento, até porque, a Missão teve o cuidado de selecionar pessoas sadias e eliminar qualquer agente patogênico. Não queríamos doenças em Marte. A réplica do Domo fora construída em seis meses, o material do Domo Original já estava sendo preparado para o embarque. A nave que levará os recursos para nossa instalação em Marte partirá um ano antes em uma missão não tripulada. Após alguns meses confinados no Domo, nosso treinamento chegara ao fim.
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A Partida de Sirius
Faltava apenas um ano para a nossa partida da Terra par Marte. À medida que o tempo passava, a apreensão e a ansiedade aumentavam. Por esta ocasião acontecera o lançamento da Nave Sirius. A Sirius partira um ano antes em uma missão não tripulada para levar os suprimentos de longo prazo, os equipamentos suporte à vida e o material para construção Domo. Após o sucesso do lançamento tivemos uma noite de comemoração. Foi uma espécie de coquetel dançante. Nesta festa havia muitas autoridades civis e militares de todos os países que atuavam na missão. Terminado aquele protocolo cansativo com discursos e etc., pudemos aproveitar um pouco do evento. A festa era de gala, por isso vesti um smoke. Estava tão acostumado a ver a Dra. Lis de jaleco branco que confesso que foi difícil reconhecêla naquele vestido vermelho. -Boa noite Doutora! -Ora, por favor, já nos conhecemos tempo suficiente para mantermos tais formalidades, me chame de Lis! -Certo Lis... -Está gostando da festa, Dan? 33
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-Sim, e você! -Sim, muito. Me faz esquecer todo o trabalho que temos. -Nem me fale. Estou tão acostumado a vê-la de jaleco e crachá, que foi difícil reconhecê-la! A propósito, você está muito linda! -Obrigado, você também está muito bonito de smoke. -Obrigado! -E você Dan, sempre quis ser cientista? -Na verdade, eu não tive escolha! -Como assim, todos têm escolhas na vida! -Não, não foi bem isso, é que meus pais eram cientistas e eu cresci neste ambiente, sabe como é... -Aposto que você nunca quis ser astronauta. Estou certa? -Sim, nisso você acertou em cheio. E você. Lis, sempre quis ser cientista? -Não, não eu fui bailarina na escola. Eu era muito boa! -Imagino que sim. Mas você dançava balé clássico ou fazia outros tipos de dança? -Eu dançava de tudo, como dizem no seu país, eu era um “pé de valsa”. Mas a que eu mais gostava era o Tango! -É realmente difícil associar a cientista ao balé! -Duvida de meus talentos! -Nã, não, claro que não! 34
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-Cético! Venha, vou lhe mostrar... -Mas para onde vamos? -Venha... Segui a Dra. Lis, imaginando o que aconteceria em seguida. Fomos até o ginásio que estava vazio. -Vamos Dançar Tango! -Lis, eu não sei dançar tango... -Eu te ensino! -É serio? -Vamos, me dê sua mão! Nesse momento eu cheguei a engolir seco. Dançar tango com aquela mulher maravilhosa em um ginásio vazio, eu só podia estar sonhado. No primeiro dia em que o nosso assunto não foi do Projeto Arca, Marte ou mutação assistida, fomos dançar! Peguei a mão da Dra. Lis e ela me disse: -Esta outra mão você colocará em minha cintura. -Lis, vamos dançar sem música? -Quem disse que iremos dançar sem musica? Nesse momento ela ligou uma música no celular. -Que música bonita Lis. -Sim, chama-se “Por un beso”! -E agora, como faço? 35
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-Você me conduz assim. No tango, o homem conduz a donzela. À medida que Lis me ensinava os passos do tango pude constatar que aquele momento em minha vida valeu todo o esforço empregado na missão. Quando a música acabou, Lis estava com sua perna apoiada na minha e sua cocha ficou a mostra. Trocamos olhares ardentes e por alguns instantes nos esquecemos de que éramos cientistas responsáveis pela futura biodiversidade de Marte. Naquele instante tudo o que eu queria era beijá-la, mas me sentia inseguro. Não queria estragar aquele momento com uma atitude precipitada. -Dan, com um pouco mais de prática, você será um ótimo parceiro de Dança! -Obrigado Lis, tenho uma excelente professora. -Quem sabe não repetimos os passos em gravidade zero? Mal sabia ela que eu já estava “flutuando” aqui na terra ao estar com ela. Meu Deus eu estava apaixonado! -Lis você é uma excelente dançarina. Por que se tornou cientista? -Eu pensei que precisava de uma carreira mais segura pra sobreviver! -Entendo! 36
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-Dan estou tendo a noite mais agradável dos últimos quatro anos. -Obrigado, digo o mesmo. Sempre que quiser me ensinar alguma dança nova estarei à disposição. -Ok, vou te ensinar balé clássico. Topa usar colan? -Se for pra passar momentos agradáveis ao seu lado sim. Infelizmente, o tempo passa muito rápido quando os momentos são agradáveis. Tínhamos que ir para os alojamentos, porque no dia seguinte haveria uma coletiva de imprensa na qual os recrutas deveriam participar. -Temos que ir agora. -Que pena Lis, está tão bom aqui... -Sim, está, mas amanhã cedo teremos aquela entrevista. -É verdade, então vamos... Nos despedimos, e quando cheguei ao meu alojamento, Juan ainda estava acordado. -Olha quem apareceu! Te procurei a festa inteira, por onde você andou? -Boa noite Juan, estava no ginásio!
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-Mas o que você foi fazer no ginásio há essa hora? -Dançar tango! -Tango, como assim? -Você sabe guardar segredo? -Sim, claro que sim? -Você conhece a Dra. Lis? -A francesa? -Sim! -Vocês dançaram tango no ginásio? Você não tem cara de quem dança tango! -E não danço mesmo, mas ela é uma excelente dançarina e me ensinou. -Mas, você, ela, os dois estão... -Oh, não, quem me dera! -Meu amigo, você é um cara de sorte, dançar com aquela francesa.
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-Juan meu amigo, foram os momentos mais agradáveis nos últimos quatro anos que passei nesse lugar! Já marcamos uma próxima dança, mas agora, em gravidade zero. -Mas e ai, rolou um clima? -Ah, até que trocamos olhares ardentes, mas foi só isso. -Mas de onde surgiu a ideia de dançar no ginásio? -Da Dra. Lis! -Ela estava sóbria? -Juan, assim você me ofende! -Não foi isso que quis dizer, mas quero saber se foi espontâneo. -Sim, estávamos conversando na festa e ela me contou que fez balé na adolescência, daí quis me mostrar como ela dançava. -Meu caro, ela está gamada em você! -Juan, vamos manter esse assunto em segredo, Ok? -Ok.
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A Coletiva de Imprensa
No dia seguinte nos apresentamos no auditório que estava lotado com os recrutas e os membros da imprensa. O Cel. Smith assumiu a tribuna e começou a falar: -Senhoras e Senhores, bom dia! O lançamento da Nave Sirius foi um sucesso. Ela está a caminho de Marte transportando todos os recursos para que o primeiro núcleo Colonial se estabeleça e inicie as atividades de colonização. Estamos a pouco menos de um ano do lançamento da primeira viagem tripulada. A Nave Bellatrix levará a bordo os dez primeiros recrutas responsáveis pelo início da colonização marciana. A bordo de Bellatrix e em solo Marciano comandarei a missão. Agora, senhoras e senhores, apresento-lhes os desbravadores do Planeta Vermelho. O Capitão da Força Aérea Americana Samuel Carter pilotará a nave. Samuel possui mais de 3000 horas de voo. A equipe de responsável pelo Projeto Arca está sob o comando Dr. Dan Alves. O Dr. Dan é um biólogo que representa o Brasil na Missão. Integrando o projeto Arca, a Dra. Lis Sauzey. A Dra 40
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Lis representa a França e é especialista em genética e trabalhará em conjunto com o Dr. Dan. Ainda na equipe de biologia, a botânica Russa, Dra. Sofia Volcov será responsável pelos estudos acerca do povoamento vegetal de Marte. O geólogo Juan Gomez, representante mexicano da missão, será responsável pelos estudos de vulcanologia e tectonofísica. Breytner Kock representará a Alemanha e ficará responsável pela engenharia de software. Teremos duas médicas a bordo de Bellatrix, a Argentina Natália Ortega. A Dra. Natália é Clínica Geral e obstetra, e a Dra. Alisha Abha, cirurgiã e representa a Índia. E por fim, mas, não menos importante, o Engenheiro Mecânico, o britânico Dr. Paul Floyd. O Dr. Floyd é especialista em engenharia espacial e cuidará do funcionamento da Nave. Assim que a Bellatrix aterrissar em solo marciano, iniciaremos a montagem do Domo com os equipamentos que estão a caminho agora na Nave Sirius – finalizou o Cel. Smith.
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Missão Órion
As Férias
O tempo foi passando, e, portanto, prosseguimos com nossa formação complementar. A apreensão e a ansiedade aumentavam ainda mais. Eu pude constatar que já não era mais o mesmo desde o inicio do treinamento. Até que foi uma mudança para melhor, já que no começo de meu recrutamento tive um pouco de receio, estava até ansioso pela partida. No ultimo mês antes da viagem, tivemos férias, no entanto, as férias não foram lá essas coisas, porque não podíamos sair dos limites da agencia por questões de segurança, porém, a agencia promovera muitas atividades de lazer para os recrutas. Nessa ocasião tomei coragem e convidei a Dra. Lis para um piquenique. Fomos até uma área de reserva que a agencia possui próximo ao Laboratório de Biologia e que ficava em uma das praias. -Obrigado por aceitar meu convite Lis. -Não precisa agradecer, afinal, merecemos um descanso. 42
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-Verdade, temos trabalhado muito nestes últimos cinco anos! -Quem diria Dan. Cinco anos passaram-se num piscar de olhos. Assustador, não acha? -Sim. Ah propósito, não te assusta deixar a terra pra sempre? -Nunca parei pra refletir sobre isso! -Como que não? Nossas vidas irão mudar pra sempre. A vida como conhecemos ficará na Terra! -É eu sei disso! Mas sabe de uma coisa? -O que? -Tenho a esperança de uma vida melhor? -Em Marte? -Sim, em Marte! -Mas corremos muitos riscos, não acha? -Sim Dan, mas teremos a chance de um recomeço! Imagine a oportunidade que temos em nossas mãos de cultivar uma sociedade diferente da que temos aqui na terra, e temos um diferencial em nosso favor... 43
Missão Órion
-Que diferencial? -Conhecimento! Imagine começarmos uma sociedade do zero, porém, dominando todo o conhecimento científico e tecnológico de que dispomos até o momento! -É as possibilidades são infinitas. Mas vamos esquecer um pouco de Marte. Vamos aproveitar o pouco de tempo que nos resta na Terra. Gostou do local que escolhi para o piquenique? -Mas é claro que sim! É lindo! -Como você diria em seu país: “est magnifique”. Falei certo? -Oui, oui! -Que bom que nos entendemos bem “Mom Cher”! -Sim Dan, gosto muito de sua companhia! -Eu também Lis! Nesse momento trocamos aquele olhar ardente, o mesmo do dia em que dançamos tango no Ginásio e nesse exato me veio à cabeça a música que dançamos, eu acho que se chamava “Por una cabeza”. Estava ansioso pelo dia em que pudéssemos repetir a
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dança. Enquanto me perdia no olhar inflamado da Doutora, ela pegou em minha mão e me disse: -Sabe de uma coisa Dan? -O que? -Sabe por que não tenho medo de ir pra Marte e nunca mais voltar para Terra? -Por quê? -Porque sei que você vai comigo! Nesse momento, tudo o que eu podia escutar eram as ondas que arrebentavam na praia e as batidas de meu coração que estavam a mil por hora! Eu não sabia o que dizer! E eu estava ali paralisado olhado àquela mulher maravilhosa. -Oh Lis, eu fico até... -Não diga nada, apenas me beije... E é claro que nos beijamos! Eu não saberia descrever com palavras aquele momento, mas posso dizer que foi um dos mais maravilhosos de minha vida! Lis tinha os lábios macios, um corpo bem feito. Por alguns instantes deixamos de sermos os cientistas colonizadores de Marte. Éramos apenas homem e mulher!
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-Lis posso dizer uma coisa? -Claro! -Esperei muito por esse momento! -Serio? -Sim! Desde o dia que o Cel. Smith nos apresentou um ao outro, fiquei encantado com você. -Ora, porque não me disse antes! -Ah, eu sou muito tímido e queria ser cauteloso. Não queria por nada a perder! -Posso te confessar uma coisa! -Claro que sim! -Lembra-se da dança no Ginásio? -Aquele dia foi inesquecível! -Eu premeditei tudo! -Serio? -Sim! Lis tinha um sorriso alegre no olhar! -Mas como! -Ah, eu queria quebrar o gelo entre nós e por isso conduzi o assunto até que tivesse a chance de falar sobre o tango. Mas já estava com a música no celular! Lis sorriu contente ao me falar de sua astúcia! 46
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-E você conseguiu mesmo quebrar o gelo! Naquele dia eu fiquei ardendo de vontade de te beijar. Após o anoitecer tínhamos que voltar para a agência. Eu evitei em falar de namoro, ou de como seria nossa relação daqui para diante. Estávamos num momento de tensão com a iminente partida. Não queria ser precipitado, mas preferi deixar que as coisas fluíssem naturalmente. Ao retornar para agencia, despedimo-nos e fui para meu alojamento. E lá estava Juan, meu colega de quarto. Contei-lhe todo o meu dia com a Doutora e Juan me falou: -Não disse que ela estava apaixonada por você Dan! -Sim, você disse, mas vamos manter esse assunto em segredo. Não quero problemas com o comando da Missão.
Em Marte
estaremos fora de alcance dos figurões da Space Corp. -Você esqueceu que o Cel. Smith vai conosco? -Não, mas em Marte as coisas serão bem diferentes daqui do centro de treinamentos. -Verdade! -E você Juan, o que fez hoje? -Você conhece a Dra. Alisha? -Sim, a indiana!
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-Tivemos um dia interessante! Conversamos bastante. Foi praticamente um intercambio cultural. E almoçamos juntos, mas nada tão “caliente como usted mi amigo”! -Mas o confinamento no espaço pode te favorecer “mi amigo”. Vamos aguardar a viagem!
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A Partida
O tempo foi se passando rapidamente, até que o tão esperado dia havia chegado! Foi a 13 de outubro de 2025. Era uma segunda feira. Nesse dia levantei às 08h00min, o que não significa ter acordado. Passei a noite em claro devido à ansiedade do lançamento. Da janela do meu quarto conseguia ver bem ao longe a nave Bellatrix que já estava posicionada aguardando nossa partida. A viagem duraria seis meses, porém, os momentos mais dramáticos serão os oito minutos iniciais que com a decolagem e terminará quando entrarmos em órbita da Terra. Enquanto me distraia em meus pensamentos, Juan entrou no alojamento e me chamou: -Dan, vamos tomar café! Alisha e Lis nos esperam no refeitório. -Oh sim amigo! Será bom iniciarmos nosso último dia na Terra juntos! -O que foi Dan, parece triste! -Não, nada! Eu não consegui dormir esta noite, só isso. -Mas você se sente mal? -Não. Só estou um pouco nervoso com a viagem. Só isso! 49
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-Procure relaxar, amigo. Estamos todos apreensivos. Chegamos ao refeitório e encontramos Lis e Alisha... -Bom dia Lis e bom dia pra você também Alisha. Como vocês estão? -Estou bem - respondeu Alisha – e você? -Melhor agora ao vê-lo Dan – falou Lis -Ih Alisha, estamos sobrando aqui – cochichou Juan no ouvido de Alisha. -Estou bem também, um pouco ansioso pela viagem – respondeu Dan! -Pessoal, eu gostaria de dizer uma coisa - falou Lis - Estamos trabalhando juntos há cinco anos. Todos nós temos muita coisa em comum. Não temos família, deixamos nossos países, iremos deixar a Terra em poucas horas e iremos morar em Marte para sempre. Precisamos desde já nos tornamos em uma família. -Concordo com você Lis, já considero todos como meus irmãos – respondeu Juan! -Uma família multinacional e interplanetária – falou Alisha! -Seremos os primeiros humanos em Marte e com vocês, meus amigos, iria até os confins do universo – completou Dan. Enquanto conversávamos, pude perceber um brilho diferente no olhar de cada um, como se uma energia nova tomasse conta de 50
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nós. No fundo sabíamos que o êxito da missão estava condicionado à nossa união! Ninguém precisou verbalizar isso, mas naquele instante, todos entenderam o que significava aquele momento. Durante o café tivemos um breve momento de descontração e logo em seguida retornamos ao alojamento para fazer as malas. Levaríamos pouca coisa pessoal, o restante de nossa bagagem eram equipamentos e uniformes da missão. Ao meio dia, a Nave Bellatrix estava pronta para partida. A ignição aconteceria às 16h00mim. Às 14h00mim o alto-falante da agencia informou: “Atenção tripulação! Por favor, apresentarem-se para o embarque. Repetindo: apresentarem-se para o embarque”. Às 14h: 10mim chegamos ao elevador de acesso. O Cel. Smith já estava nos esperando junto com o Capitão Carter! -Senhoras e Senhores, boa tarde! Estamos todos prontos para embarcar na Nave Bellatrix. Como todos sabem, a ignição acontecerá pontualmente às 16h00mim e, às 16h:08mim estaremos em órbita da Terra. Iremos entrar na cabine agora checar todos os procedimentos de segurança e aguardar hora da decolagem!
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Então, como ordenado pelo Coronel, entramos em Bellatrix. Durante as verificações comecei a refletir acerca do nome da Nave. Bellatrix é uma estrela pertencente à constelação de Órion a Gamma Orionis. Trata-se da estrela mais brilhante da constelação. Seu nome significa guerreira. Neste instante, me lembrei daquela visão na centrífuga. Seria mesmo verdade que uma guerra se aproximaria? Acomodamos-nos na nave, conforme as indicações do comando. Carter pilotará a Nave e o Dr. Floyd será seu copiloto. O Coronel estará no comando. Breytner, Natália, Sofia, Juan, Alisha, Lis e eu ficamos nos assentos logo atrás do comando. Vestimos aquele típico uniforme de astronauta, em cada um havia a bandeira de seu país no braço direito. Terminadas as verificações a sequencia de lançamento estava prestes a começar. -Atenção tripulação da Bellatrix, preparar para sequencia de lançamento, menos 2 minutos – por favor, fechem e travam as viseiras dos capacetes. -Lis – cochichou Dan. -O que? – falou Lis. -Não me esqueci da dança em gravidade zero. 52
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-Eu também não! Menos 16 segundos – acionando Sistema de Supressão de Ruídos. Contagem regressiva em menos 10 segundos. Ignição – dez; nove; oito; sete; seis; cinco; quatro; três; dois; um; zero... A Neve Bellatrix deixou a Terra inaugurando uma nova era da exploração espacial com a primeira missão tripulada rumo ao Planeta Marte. A viagem terá duração de seis meses. Durante a decolagem permanecemos presos aos assentos com o cinto de segurança. Chegamos a sentir 8g de força gravitacional. Há uma velocidade de quase 5000 km/h, dois minutos após a decolagem atingimos a altura de 45 km. Nesse momento aconteceu a ejeção dos dois foguetes de combustível sólido. Aos quatro minutos, a viagem já não tinha mais retorno, ou seja, caso necessário, não havia mais chance de pousar com segurança na Terra. Aos oito minutos ejetamos o tanque principal. Bellatrix estava em orbita! -Bellatrix, aqui é o comando da Missão! Nos informe sobre sua decolagem! -Aqui é o capitão Carter! Queremos informar que nossa decolagem foi bem sucedida! A tripulação está segura. 53
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-Bellatrix, favor corrigir curso e iniciar partida para Marte. Boa sorte! Em terra, o comando da missão comemorou o êxito da decolagem e brindaram com um champanhe. Enquanto Carter e Floyd se ocupavam em manobrar a Nave, o restante da tripulação resolveu aproveitar a ausência de gravidade para nos abraçamos em um momento de comemoração. Até o sisudo Coronel Smith nesse momento conseguiu deixar a feição de militar e esboçou um sorriso descontraído.
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A Nave Bellatrix A Nave Bellatrix possuía dois conveses. No convés superior ficavam os alojamentos, cozinha, uma pequena área de convivência, uma sala que serviria de consultório médico e o cockpit. No convés inferior havia o depósito de cargas, um laboratório e as cabines de despressurização. O alojamento era comum. Dormiríamos em beliches dispostos em um corredor e no final coredor, dois pequenos vestiários. Embora tivéssemos muito trabalho a fazer a bordo da nave, a viagem poderia ser tediosa, afinal serão 180 dias confinados em espaços diminutos. Após a correção do curso, a nave Bellatrix prosseguiu em direção a Marte. A pilotagem não exigia muito de Carter e Floyd, Bellatrix possui um sistema computadorizado com a trajetória exata. A eles cabia o exaustivo oficio de monitorar eventuais desvios. O Dr. Breytner ficou responsável pelo software de controle da Nave, caso saísse algo errado, poderia corrigir. As médicas Natália e Alisha monitoravam o todo tempo a saúde da tripulação. A equipe de Biologia passava maior parte do tempo retomando os estudos
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para a execução Projeto Arca e Juan se encarregava de estudar a geografia marciana. A essa altura a Nave Sirius aterrissara com segurança havia uma semana. Enfrentávamos muitos desafios durante a viagem, mas o mais desagradável era sem dúvida se alimentar à gravidade zero. Nada de grãos, sopas, cozidos ou qualquer tipo de comida tradicional. Toda a alimentação era pastosa. É bem verdade que os sabores, aromas e cores eram bem variados, porém, com um mês de voo, já estava farto de tanta pasta. Devíamos ter também um cuidado especial com a água, sucos, chás, cafés e etc., caso uma pequena gota escapasse e flutuasse na nave poderíamos sofrer danos terríveis nos equipamentos. Havia pouco mais de um mês, não tínhamos registrado nenhuma dificuldade na missão até aquele momento, a viagem prosseguia calma e tediosa. A essa altura estávamos próximos das festas de fim de ano quando, lá pelas 23h45mim, encontro-me com o Coronel olhando em direção a Terra e com os olhos marejados, como os de quem quer chorar... -Está tudo bem Coronel Smith?
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-Dr. Dan, você sabe por que aceitei o Comando desta missão? -Não, não senhor! -Certo, vou lhe contar... Sou viúvo! -Sinto muito senhor! -Alice e eu éramos felizes juntos e tínhamos uma vida boa. A voz do coronel estava embargada, mas ele segurou o choro. -O que aconteceu senhor? -Há seis anos, havíamos ido ao teatro assistir a um espetáculo. No final da peça, na saída sofremos um assalto. O bandido atirou contra nós. Em mim, a bala passou de raspão, mas Alice não resistiu ao disparo... -Oh, Coronel, sinto muito! -Tentei socorrê-la, mas ela chegou morta no Hospital. Aquela noite era véspera de Natal e o espetáculo chamava-se “Noite Feliz”. Ironicamente, para mim tornou-se uma “noite de desgraça”. A terra me lembra de Alice. -Entendo, não sei o que dizer... 57
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-Não, não diga nada rapaz e, obrigado por me ouvir. Dispensado. Embora o Coronel Smith fosse um muito sisudo, por trás daquela patente, havia um homem de sentimentos. Todos os dias, tínhamos o compromisso de fornecer relatórios detalhados de nossas atividades para o comando da missão em Terra, por esse motivo resolvemos manter um diário de bordo. O coronel era quem conduzia a reunião e reportava as informações à Terra. O diário de bordo era resultado de um esforço coletivo. Às 16h00mim, horário de Washington, nos reuníamos para por em ordem os fatos a serem relatados a Terra. As reuniões eram obrigatórias, no entanto eram muito monótonas. Não havia muitas novidades nessas, afinal nada saíra do programado.
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O Ataque
O primeiro grande susto ocorrera no dia 8 de janeiro de 2026. O alerta amarelo da nave Bellatrix soou pontualmente às 21 horas. Nesse momento todos estávamos preparados para dormir, alguns até já haviam prendido os cintos de segurança dos leitos quando o alarme tocou. O protocolo nos casos de alerta amarelo ordenava que todos se reunissem no hall do convés superior da nave e aguardássemos instruções do comando de bordo. Foi exatamente o que fizemos. Floyd, Carter e Breytner eram os que possuíam o conhecimento técnico da nave começaram uma série de análises no computador central. Enquanto aguardávamos as respostas, o Cel. Smith ordenou que fizéssemos vistorias nos principais setores. -Coronel, o piloto automático da nave não está funcionando – disse Carter! -O que?! Como isso foi acontecer? – Perguntou Smith.
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-Não sabemos. O Dr. Breytner está avaliando o sistema operacional. -Certo! Carter assuma o controle da nave. Floyd, você e Breytner concertem o a Nave! -Coronel, os sistemas de refrigeração dos embriões falharam. Temos um intervalo de 72 horas para que o sistema volte a funcionar, caso contrário, teremos uma significativa perda – falou Dan. -Coronel, perdemos todo o contato com a Terra. Nenhum sistema computadorizado funciona. Acredito que sofremos um ataque – disse Breytner. -Mas, como um ataque? -Vírus! -Vírus, como vírus? -Não sei lhe responder isso Coronel. A única conexão de rede que temos é com o Comando da Missão. -Você acha que foi sabotagem?
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-Não, não temos registro de acessos não autorizados. Essa hipótese está descartada! -Então como aconteceu isso? -Estou tentando identificar que tipo de praga infectou o sistema. -Você acha que consegue a resposta em quanto tempo? -Não sei ao certo Coronel, duas ou três horas! -Certo. Ninguém está autorizado a interrompê-los. Um clima de desconfiança surgiu no ar. Haveria mesmo alguém que quisesse sabotar a Missão. Caso positivo, seria um suicida? Breytner e Floyd ficaram três horas investigando o caso. Nesse intervalo, ficamos de prontidão aguardando instruções do Coronel e dando suporte a Carter, Floyd e Breytner. Após toda a vistoria, o relatório de danos foi o seguinte: piloto automático desligado, contato com a Terra perdido, refrigeração dos embriões do Projeto Arca desligada e oxigenação da nave desligada. A Missão estava em risco e nesse momento começou uma corrida contra o tempo. Por ordem do Coronel e por medidas de segurança, vestimos o traje pressurizado com suporte a vida, 61
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todos vestimos o traje, exceto Breytner e Floyd. As luvas de atrapalhavam a manipulação do computador, pelo menos, a atmosfera da Bellatrix seria consumida somente por eles. Após seis horas de verificação, o Dr. Breytner identificou o código nocivo que havia infectado os sistemas da nave. Não era nenhum vírus conhecido. Não se sabia qual era sua origem ou seu comportamento. -Dr. Floyd, esse código não corresponde a nenhum tipo de vírus catalogado até então. -Precisamos rastrear onde está a vulnerabilidade de nossos sistemas e desenvolver um sistema de proteção, Dr. Breytner. -Certo, mas desenvolver um antivírus em menos de 72 horas é praticamente impossível. -Ou é isso, ou morreremos! -Não. Deve haver uma solução mais imediata. -A nossa única porta aberta são nossas comunicações com a Terra. Será que alguém interceptou o sinal? -Não creio que isso seja possível. Temos uma segurança excessiva. 62
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-Podemos tentar da seguinte forma: Você tem uma cópia do sistema certo. -Sim, tenho. No convés inferior tenho um computador com um backup do sistema operacional. -Vamos desconectar o disco rígido infectado da nave e conectar o computador do que está no convés inferior, logo em seguida vamos operar o sistema da nave pelo computador que está sem o vírus. -Só que existe um problema, o computador que está no convés inferior tem uma capacidade cinquenta por cento menor do que o computador da nave. -E se mantivermos o cotrole manual da nave e usarmos o computador para apenas ligar a refrigeração dos embriões e a oxigenação da nave? -Pode ser que dê certo, mas trabalharemos no limite por horas. Breytner e Floyd assim o fizeram. Após oito horas, conseguiram isolar o código. Decidiram que seria prudente enviar uma cópia do código ao comando da Missão a Terra, tão logo fosse reestabelecido a comunicação. O disco rígido do computador da 63
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nave tinha um peta byte de espaço e para formatá-lo foram necessárias 5 horas de trabalho. E por fim, após 13 horas de muito sufoco voltamos a operar em condições de normalidade, no entanto, ainda estávamos vulneráveis a novos ataques. É claro que diante da tensão vivida, todos passaram a noite em claro. Às 10 horas da manhã a comunicação com a Terra foi reestabelecida. -Bellatrix, aqui é comando da Missão, responda! -Aqui é o Coronel David Smith, comandante da tripulação da Nave Bellatrix. Gostaria de informar que fomos atacados. -Atacados, mas que tipo de Ataque? -Ontem, precisamente às 21h00, horário de Washington, sofremos um ataque cibernético. Um código fonte desconhecido infectou os sistemas da Nave e com isso o piloto automático da nave, sistema de oxigenação, refrigeração e comunicação foram desligados. Os doutores Breytner Kock e Paul Floyd fizeram um excelente trabalho ao transferir o controle da nave para um computador de reserva e isolaram o código. O Capitão Samuel Carter pilotou a Nave Bellatrix incansavelmente por 13 horas ininterruptas para que não tivéssemos prejuízos ou atrasos no cronograma da missão. O restante da tripulação ofereceu apoio operacional. 64
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-Mas como pode ter acontecido isso David? A única rede aos quais vocês estão conectados é conosco e temos uma rede super segura. -Conseguimos isolar o código, no entanto, não o identificamos. -A hipótese de sabotagem na tripulação foi sumariamente descartada. Não registramos nenhum acesso não autorizado. Acredito que nossa comunicação de alguma forma foi interceptada. -Certo. Você consegue nos enviar uma copia do código isolado? -Sim, está a caminho. -Certo Coronel. Em 3 horas faremos novo contato e para lhe posicionar a respeito. -Retornaremos o contato com os Senhores dentro de 8 horas. Minha tripulação e eu precisamos descansar um pouco. Foram 13 horas de trabalho duro. -Entendido. Isso é tudo. Após o merecido descanso fizemos contato com o Controle da Missão novamente.
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-Controle da Missão, aqui é o Coronel David Smith, comandante da Nave Bellatrix. Qual foi o resultado da análise do código? -David. Vocês não foram atacados. -Como? Então o que causou toda aquela pane e que raio de código é esse que quase pôs em risco a Missão. -Micro-ondas! -Seja mais especifico! -Analisamos o padrão do código que vocês nos enviaram e descobrimos que isso é radiação cósmica de fundo. -Estamos vulneráveis ao espaço sideral! -Bem coronel, essa radiação cósmica é resultante do Big bang. O computador da nave é projetado para ignorar esse tipo de sinal, no entanto, deve ter ocorrido algum erro e o sinal foi entendido como uma praga virtual ou vírus. Mas não se preocupe, já programamos um arquivo com a finalidade de corrigir esse bug. Informe ao Dr. Breytner que em 2 horas o arquivo estará disponível. Isso é tudo.
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A Dança em Gravidade Zero Desde o dia que embarcamos na Nave Bellatrix, Lis e eu não tivemos uma oportunidade ficarmos a sós. Era difícil ter momentos de privacidade. A nave era relativamente pequena para manter em segredo nossa relação. Não que quiséssemos esconder, mas entendemos ser prudente aguardar o pouso em Marte para só então declararmos para a equipe sobre nós. A cada dia que passava mais forte ficava o que sentíamos um pelo outro. Talvez, o fato não termos liberdade para expressar nossos sentimentos até favoreceu nossa relação. Tivemos que suportar silenciosamente, mas confesso estava ficando cada dia mais difícil olhar para aquela francesa e não poder tê-la em meus braços... -Lis, precisamos nos encontrar hoje... -Você ficou louco? Estamos sob olhares os vigilantes do Coronel Smith. -Não dá mais pra suportar! 67
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-É eu também quero ter um momento só nosso Dan, mas como vamos fazer para mantermos nossa privacidade? -Que tal no convés inferior? -Em que lugar? -No laboratório de biologia. -Você acha seguro? -Podemos ir após a meia noite! Todos estarão dormindo. Eu vou na frente e você vem logo depois. -O que acha? -Vale o risco! -Certo querida, nos vemos à noite! -Até a noite! Aquele dia parecia não ter fim, tamanha era minha ansiedade de estar com Lis. Durante nosso trabalho, trocávamos olhares como diria Juan “calientes” e aquele frio na barriga era recorrente. Após longa espera, o interminável dia de trabalho chegara ao fim. Para não dar pistas, recolhemo-nos como todos os outros. Para minha 68
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sorte, o Coronel estava dormindo como uma pedra, aliás, adjetivo que lhe caía muito bem, pois se tratava de um homem duro feito uma rocha. Somente Juan estava acordado. Lis e eu pedimos cobertura. Poderia ser útil, caso algo saísse do programado. A ausência de gravidade era outra aliada nossa. Com ela se evitava alguns ruídos que poderiam denunciar nossa movimentação. Deixei meu leito pontualmente às 0h15mim. Flutuei até ao convés inferior e lá fiquei a esperar a francesa. Lis não demorou muito... -Ah querida, quanto tempo espero por esse momento! -Oh amor, eu também! Nesse momento nos atracamos e nos beijamos. E foi um beijo daqueles de tirar o fôlego. Enquanto o beijo acontecia, flutuamos por toda a extensão do laboratório. Não podíamos descrever o que sentíamos em uma palavra. Parecia que o prazer de estarmos ali nos beijando tinha seu efeito potencializado pela a falta de gravidade. Ficamos apenas no beijo, afinal, estávamos num ambiente de trabalho e não era prudente arriscar. Terminado o beijo, Lis ligou uma música em seu celular. -Promessa é divida! 69
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-Tango, Doutora? -Não Doutor, dança de salão! -Estou sempre disposto a aprender com você... -Hum, que aluno aplicado! -Você que é uma excelente professora! Começamos a bailar por. É verdade que os passos eram meio desajeitados por conta da ausência de gravidade, mas o que importava mesmo era estar com Lis. Dançamos e namoramos por alguns momentos à gravidade zero. -Lis, posso te fazer uma pergunta? -Sim, claro que pode! -Não quero me precipitar em nada, e você não precisa me responder agora, mas... -Diga Dan. O que é? -É que a cada dia que passa me sinto mais apegado a você. E minha vida ganhou um brilho diferente desde o dia que te conheci há cinco anos. A todo o momento nessa nave penso em você com 70
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mais afeto, mais carinho. Lis estou verdadeiramente apaixonado por você. E por isso quero saber se você aceita namorar comigo oficialmente? -Oh, Dan! Estou apaixonada por você também e é claro que aceito. Esperava por isso desde a Terra. Mas como vamos fazer a bordo da Bellatrix? -Acho prudente aguardarmos o pouso em Marte para só então comunicarmos o Coronel. -Entendo. -Então Lis, já parou pra pensar que seremos o primeiro casal em Marte? -Não, não havia pensado nisso, mas que privilégio Dan! Após duas horas de encontro decidimos ser melhor voltar ao alojamento para que não termos problemas. Lis foi na frente e eu aguardei uns quinze minutos, para em seguida retornar ao alojamento. Difícil foi pegar no sono depois de todo o êxtase vivido no com a Dra. Lis. Ela era maravilhosa! Sentia-me o homem mais privilegiado e sortudo da face da Terra, aliás, de Marte também. 71
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Aliás, lembro-me de que consta no cronograma da missão que teremos a incumbência de povoar o planeta vermelho com a espécie humana. Terá que ser do modo tradicional! Faltavam noventa dias para nosso pouso em Marte. Estávamos exatamente na metade do caminho para chegar ao nosso destino. A essa altura os nervos de todos estavam à flor da pele isso porque não era nada fácil ficar confinado em uma nave. Para evitar conflitos, muitos se recolhiam em atividades individuais. Uns escreviam, outros ficavam assistiam vídeos, liam, mas o Coronel só trabalhava.
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A Briga entre Juan e Floyd Era até compreensível que ocorresse alguma rusga ou algum desentendimento. Geralmente a parte mais equilibrada no momento em que acontecia o fato era quem relevava e deixava por menos. Mas no fundo, sabíamos que a qualquer momento uma briga feia poderia acontecer. E de fato ela aconteceu! Ocorreu da seguinte forma. Juan, um mexicano cabeça dura, estava cantando músicas folclóricas de seu país. Isso Incomodou Floyd que estava lendo. Floyd era inglês e muito metódico... -Ô Latino, você poderia fazer a gentileza de se calar. Estou tentando ler um pouco – disse Floyd. Juan o ignorou completamente e continuou com a cantarolar alegremente. Mas Floyd insistiu. -O Mexicano, faça o favor de cantar em outro lugar. -Porque você não vai ler seu livrinho em outra parte? Quem sabe em Venus, ou em Saturno? -Com que desdém você fala da literatura inglesa? Nossa cultura é muito avançada se comparada com a de seu país!
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Nesse momento, Juan pegou a gola do macacão de Floyd apontando-lhe o dedo no rosto e disse: -Não me venha com frescuras “hombre”! Com que razão se acha melhor do que “nosotros”? Floyd empurrou, e cá entre nós, foi uma cena épica. Dois cientistas brigando como dois adolescentes por uma idiotice. Mas a gravidade zero tornou a cena melhor ainda. Ao ser empurrado, Juan flutuou lentamente pelo hall do convés superior. Em seguida, Floyd partiu pra cima do mexicano agarrando-lhe o pescoço. Juan acertou um golpe baixo no inglês que acabou sendo projetado pra cima. Floyd dá com as costas no teto da nave. Enquanto Floyd se lamentava pelo golpe recebido Juan dá um brado: - Bastardo! E parte em direção ao teto da Nave. Nesse momento o Cel. Smith entra no hall e põe fim a discussão. -Chega! Onde já se viu. Vocês não sentem vergonha? Dois cientistas, brigando feito adolescente! Apenas não vou puni-los porque a nave não foi projetada com uma cela, caso contrário. O que os Senhores têm a dizer em sua defesa? Enquanto o Coronel passava o sermão nos dois, ninguém ousou dizer uma só palavra. 74
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-Coronel, eu gostaria de pedir desculpas pela minha conduta inadequada. De fato não condiz com meu perfil de cientista. Juan me perdoe. Disse Floyd. Juan ficou calado, era orgulhoso de mais. -E você Dr. Gomez, não vai dizer nada? Perguntou o Coronel. -Tá bom, vamos deixar de lado essa bobagem. E assim terminou o primeiro desentendimento a bordo da Nave Bellatrix. Não posso negar que foi muito divertido ver aqueles dois marmanjos brigando e se estapeando com o toque especial da ausência de gravidade. -Você gostou, não é Dan? -Nã, não. Claro que não. Só achei engraçado, só isso. -Esse inglês é muito arrogante. -Ah, Juan, não é pra tanto! Estamos confinados nessa lata de sardinhas. É natural que os ânimos fiquem alterados. Temos que segurar a barra em prol da missão. -Pra você é fácil falar. A francesa acalma teus ânimos.
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Missão Órion
-É verdade! A Lis tem sido um porto seguro pra mim nesta viagem. -Gostaria de ter esse porto seguro também! -Opa, que isso cara? -Não. Estou falando de Alisha! -Ah bom! Mas vocês já conversaram a respeito? -Não! -Então porque não quebra o gelo? -Tenho medo de que ela me esnobe. -Mas você só vai descobrir se tentar -Mas depois do papel ridículo que fiz hoje com Floyd. -Ora Juan, deixe de ser negativista. Vamos arrisque. O que você tem a perder? -É você tem razão. Vou tentar! -É assim que se fala Muchacho!
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Oberdan Viana
A Doutora Alisha realmente era uma mulher linda encantadora e de uma beleza exótica. Sua pele morena, olhos castanhos, cabelos lisos e negros como o espaço sideral. A roupa de astronauta não era capaz de roubar-lhe o charme. Com razão a médica indiana havia roubado o coração do geólogo mexicano. -No dia seguinte, ninguém ousou tecer nenhum comentário sobre a briga entre Juan e Floyd. Geralmente, no café da manhã, Juan, Alisha, Lis e eu nos reuníamos, mas dessa vez, decidi dar uma ajudinha ao meu amigo. -Lis, vamos tomar o café no laboratório? -Mas por quê? -Porque preciso mostrar a você o desenvolvimento de algumas culturas de bactérias. -Mas não podemos esperar o café terminar? -Não. Venha por favor. Nesse momento dei uma piscadinha para Juan. Que arregalou os olhos pra mim sem entender nada.
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Missão Órion
-É Gomez, parece que Dan e Lis tem muito que fazer no laboratório de Biologia! -Oh, e como! -E você Juan, a quantas andam seu trabalho com os indutores de campo? -Ah, o trabalho tem sido bem monótono. Não vejo a hora de pousarmos em Marte e começar o trabalho propriamente dito. -Entendo. -Ficar confinado nessa nave em alguns momentos me chateia. Mas uma coisa me consola. -E o que é? -Temos boas companhias. Dan, Lis e você. -Que bom! -Você também é uma excelente companhia Juan! -Obrigado Alisha. -Dan, você não sente falta da Terra?
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Oberdan Viana
-Oh sim, muito! -Do que mais sente falta? -Ah, muitas coisas. Comida, praias e ar puro! -Verdade! Também estou farta desta comida pastosa! -Oh, Doutora, se eu pudesse a convidaria para comer um Chile com carne, Tacos ou quem sabe um Chutney! -Seria um prazer Dr. Gomez! Mas já que estamos confinados na nave aceitaria qualquer convite seu! -Que honra Doutora! Então o que acha de comermos esta pasta nutritiva para o café da manhã com esse sachê de leite de soja? Especialidade da Casa. -Hum, que delicia! -E você doutora. Do que mais sente falta da Terra? -Ah, a Terra é um lugar maravilhoso é até difícil de dizer, mas sinto falta da Índia. Temos uma cultura bem rica. -É verdade! Mal conhecemos nosso planeta e temos que deixá-lo assim. 79
Missão Órion
-Ah, mas não podemos negar que viemos voluntariamente. O cientista que carregamos dentro de nós falou mais alto do que o cidadão comum. -É às vezes que me incomodo com essa dicotomia, mas fazer o que? Somos mais cientistas do que seres humanos. -É verdade! -Alisha, sua companhia é muito agradável? -Obrigada Juan! Digo o mesmo. -Quem sabe em Marte podemos comer algo que não seja pastoso? Um jantar mais apropriado! -Oh, um encontro? -Não, quer dizer, porque não? Nesse momento não preciso dizer que aquele silêncio estratégico se estabeleceu instantaneamente e que ambos trocaram olhares mais ardentes do que qualquer tempestade solar. Juan havia encontrado sua parceira. -Oh será um prazer!
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Oberdan Viana
O silêncio que Juan e Alisha desfrutavam quando Natália entrou rapidamente no refeitório. -Alisha, venha logo, Coronel está passando mal e precisamos medicá-lo. -O que?
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Missão Órion
O Desmaio As médicas flutuaram pela nave e chegaram ao leito do Cel. Smith. Ele estava desmaiado e flutuava errante pelo alojamento. Verificaram seu pulso que estava fraco, mas ainda estava vivo. Com a ajuda de Breytner, o Coronel fora levado até o ambulatório onde foi preso à maca com um cinto de e todos seus sinais vitais foram checados. O Coronel era o mais velho da equipe. Tinha sessenta anos, no entanto, era um homem saudável e tinha muito vigor para sua idade, no entanto, sua pressão havia despencado! -Alisha, acredito que o Coronel tenha tido essa queda de pressão devido ao stress do confinamento da viagem. -Concordo com você Dra. Natália. Mas acredito que seja prudente fazermos alguns exames. Alisha introduziu o dedo do coronel em um equipamento que examina o sangue sem que haja perfuração da pele.
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Oberdan Viana
-Natália, os exames do sangue do coronel estão normais. O sistema não detectou nenhuma alteração. Seu metabolismo está normal. -Pupilas dilatadas? -Não! -Temperatura? -36,5º! -Batimentos fracos! -Vamos medicá-lo com um regulador de pressão e deixa-lo em observação por 24 horas. -Certo! Carter ficou no comando no período de inatividade do Coronel e reportou ao comando da missão em terra o estado de saúde do Coronel.
-Comando da Missão Órion, aqui é o Capitão Samuel Carter, piloto da Nave Bellatrix. 83
Missão Órion
-Aqui é o comando da Missão Órion. Estamos na escuta Carter! -Informamos que o Coronel David Smith teve uma indisposição. Ao que parece, sofrera uma repentina queda de pressão, culminado em um desmaio, no entanto, desconhecemos as causas. A equipe médica de bordo, Dra. Natália Ortega e Dra. Alisha Abha prestaram os devidos socorros. O Coronel segue medicado e permanecerá em observação pelas próximas 24 horas. -Certo. Qual é seu quadro clínico. Nesse momento Carter passou a palavra para Natália. -Temperatura corporal normal, hemograma sem alterações. Batimentos cardíacos normalizaram
após a medicação
e
metabolismo normal. -Obrigado Dra. Natália. Carter nos mantenha informados. Você está no comando até que o Coronel se recupere. -Entendido. Após doze horas de observação, o Coronel acorda ainda meio entorpecido pela medicação. -O que aconteceu? 84
Oberdan Viana
-O Senhor teve uma queda de pressão e desmaiou – respondeu Dra. Natália. -Quero sair daqui. -Não, o senhor terá de ficar em observação até amanhã. -Doutora essa é uma ordem direta... -Que eu não cumprirei Coronel! O senhor está sob cuidados médicos. Carter está cuidado de tudo em seu lugar e amanhã o senhor retornara suas atividades. -Mas o que aconteceu exatamente. -Não sabemos, mas acredito que o senhor teve uma queda repentina em sua pressão arterial por conta do estresse decorrente de seu trabalho. Uma estafa! -Entendo! O coronel recuperou-se rapidamente e com ele, a normalidade de nossa rotina, o que tranquilizou-nos bastante. Smith possuía muitos predicativos, alguns lhe favoreciam, outros nem tanto, mas era inegável que todos viam nele um grande líder.
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Missão Órion
Prosseguimos com a nossa viagem. Esperávamos que não tivéssemos mais sustos ou qualquer outro tipo de contratempo. Nosso trajeto era cronometrado e qualquer que fosse o mínimo atraso a missão estaria comprometida. Quando restava pouco mais de 60 dias a terra fez contato com a tripulação. -Atenção tripulação da Nave Bellatrix, aqui é o comando da Missão Órion em terra! -Aqui é o Coronel David Smith, comandante da Nave Bellatrix. Estamos na escuta! -David, Temos boas e más noticias para vocês! -Prossiga! -Marte acaba de ser atingido por um cometa! -Quais são as consequências desse evento para missão? -De acordo com nossas sondagens, tudo indica ser um cometa de gelo. Se confirmado, vocês terão um suprimento extra de água! -Essa é uma boa noticia, mas qual é a noticia ruim?
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Oberdan Viana
-O cometa caiu em uma parte do planeta que está muito distante do local indicado para a construção da Colônia. O que significa um alto grau de dificuldade para a exploração. -Entendo. Vocês já tem algum plano de ação em mente? -Ainda não. Estamos analisando a área geográfica do impacto para traçar um plano de ação. Por enquanto vocês deverão aguardar nossas instruções. -Entendido.
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Missão Órion
O Bólido
A viagem até Marte estava chegando ao fim. Quando faltavam exatos 30 dias de voo já víamos o planeta vermelho como um enorme globo no céu. Olhar para Marte seria como ver a lua cheia vista da Terra. Mesmo com alguns contratempos, nada havia saído do programado. Nesse dia, Lis e eu nos encontramos no hall do convés superior da nave! -Nosso dia está chegando Lis. -Verdade Dan! Viajamos muito desde a Terra. Estou ansiosa pelo pouso em Marte. Sinto-me presa nessa Nave! -Também estou cansado! Quero por em prática nosso trabalho do Projeto Arca. Isso nos manterá ativos e ocupados! -É e será bom também vermos o Planeta Marte renascer lentamente em nossas mãos! -Poético Doutora! 88
Oberdan Viana
-Obrigado Doutor! -Lis, será que teremos êxito nessa Missão? -Não sei Dan, mas faremos o possível juntos! Enquanto conversávamos o alerta amarelo da Nave soou novamente! Seria nova interferência da radiação cósmica? Rapidamente a equipe se reunira no hall do convés. O coronel Smith falou com Floyd... -Qual é o dano desta vez? -Ainda estamos avaliando coronel, mas nossos sistemas operam normalmente. Não perdemos o controle da nave. -Dan, Lis e Sofia inspecionem os setores do convés inferior. Natália, Alisha e Breytner os setores do convés superior. Gomez auxilie Floyd nas verificações mecânicas da nave. Tentarei contato com a Terra! -Coronel, não precisa perder tempo fazendo contato com a Terra. Fomos atingidos – disse Floyd. -O que? Como?
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Missão Órion
-Um bólido. Fragmento de meteorito. Atingiu nossa antena de comunicação com a Terra. Estamos incomunicáveis! -Como faremos para reestabelecer nossas comunicações? -Teremos que substituir! -Mas para substituir teremos que sair da nave? Perguntou o coronel. -Sim! Floyd era nosso engenheiro aeroespacial. Ele conhecia Bellatrix como a palma de sua mão. Não havia outra pessoa qualificada para qualquer tipo de manutenção. Não tínhamos realizado nenhuma missão externa até então. Naquele momento todos ficaram apreensivos, afinal, Bellatrix estava a quase 30.000 km/h. De acordo com os princípios de inércia, a tripulação também assumia esta velocidade, o que representava repouso em relação à Nave, mas mesmo sabendo disso, uma caminhada externa sempre seria perigosa. -Mas você precisará de ajuda – disse Juan. -Juan está certo Floyd – disse o coronel.
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Oberdan Viana
-Eu vou com você Floyd – Falou Juan. -Certo. Vamos preparar as peças para a manutenção. Nesse momento descemos até o depósito de cargas que fica no convés inferior e preparamos a antena substituta. A ausência de gravidade sempre é uma aliada nesses casos. A antena substituta pesaria 180 kg se estivesse na Terra. Transportamos as peças de reposição até a câmara de despressurização. Floyd e Juan vestiram o traje de Astronauta. Embora a inércia favorecesse a caminhada fora da Nave, Juan e Floyd deveriam estar presos ao casco da Nave por cabos. Após toda a preparação Juan e Floyd saíram da nave carregando a antena. No aspecto técnico, seria relativamente fácil substituir a antena. Bastava remover a base da antena danificada e acoplar a nova e ligar os circuitos. A dificuldade estava em chegar ao ponto em que deveria ser feita a manutenção. Juan e Floyd estavam prontos para sair da nave. Entram na câmara de despressurização levando consigo todo o equipamento necessário para a reposição da antena. Floyd saiu primeiro para receber o material e logo em seguida Juan saiu. Após dez minutos de caminhada, nossos colegas chegaram ao 91
Missão Órion
ponto onde seria feita a manutenção. Enquanto Floyd fazia uma avaliação inicial Juan preparava as ferramentas que seriam utilizadas por Floyd. O meteorito havia feito um enorme estrago. -Graças a Deus esse bólido não atingiu o casco da nave. Poderíamos ter sofrido uma grave avaria e quem sabe o que poderia ter acontecido! Disse Floyd. -Floyd, está tudo pronto para a manutenção? – Perguntou o Coronel Smith. -Positivo Coronel. Iniciaremos a remoção do módulo danificado – respondeu Floyd. -Gomez, os equipamentos estão prontos? -Afirmativo Coronel! -Correto doutores. Boa sorte e que Deus nos abençoe! Finalizou Smith. -Juan, vou retirar os parafusos de fixação, preciso da parafusadeira. -Entendido.
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Oberdan Viana
Enquanto Floyd removia os parafusos, Juan recolhia as peças do módulo danificado. Após quarenta minutos de trabalho intenso a base danificada já estava totalmente removida. F A nova antena estava pronta para ser acoplada no lugar da anterior. Com precisão cirúrgica, Juan e Floyd manipulavam o equipamento. -Coronel, solicitamos que seja feito um teste para confirmarmos o funcionamento da nova antena. Após a confirmação terminaremos a fixação com os parafusos. Disse Floyd. -Entendido senhores. Dr. Breytner inicie o teste! Respondeu o Coronel. -Floyd, o sistema não responde – respondeu Breytner. -Mas isso não é possível! Checamos a sequencia de montagem e ela está de acordo com a planta do circuito da antena – falou Floyd. -Espere, vou tentar reiniciar o sistema operacional da nave. Carter assuma o controle manual – Falou Breytner. -Entendido. Controle manual ativo.
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Missão Órion
-Reiniciando sistema o sistema em três, dois, um... Sistema operante! -Senhores, prontos para fazer o teste? Perguntou Smith. -Afirmativo. Iniciando o teste... Sinal recuperado! Comemorou Breytner. Nesse momento todos comemoraram a coragem e o esforço de Floyd e Juan com um “viva”. Após longos quarenta minutos de fixação dos parafusos nossos colegas retornaram para o interior da nave. O tempo total que Juan e Floyd ficaram fora da nave foi de duas horas e meia. Recebemos nossos colegas como verdadeiros heróis. Alisha não se conteve de emoção e logo se atirou aos braços de Juan dando-lhe um beijo no rosto. O coronel aproximou-se de Juan e Floyd e disse: -Senhor Gomez e Senhor Floyd, em nome da tripulação da Nave Bellatrix e em nome de toda a Missão Órion gostaria de dizer muito obrigado. Os senhores são verdadeiros heróis! -Obrigado. Coronel, fizemos o que precisava ser feito – agradeceu Juan. 94
Oberdan Viana
Após a aquele momento de agradecimentos, o Coronel tratou logo de comunicar os fatos ao Comando da Missão em terra. -Aqui é o Coronel David Smith, comandante da Tripulação da Nave Bellatrix. Responda... -Smith, aqui é o Comando da Missão Órion em Terra. Prossiga... -Senhores. Gostaria de comunicar que fomos atingidos por um bólido. Um fragmento de meteorito atingiu nossa antena de comunicação que precisou ser substituída. Após cinco meses de voo, dois tripulantes da nave tiveram que fazer uma caminhada externa para a troca do equipamento danificado. Os Doutores Paul Floyd e Juan Gomez o fizeram com sucesso. -Entendido Coronel. Houve alguma outra avaria na nave. -Negativo. -Gostaríamos de felicitar aos Senhores pelo feito. Mantenha-nos informado de tudo. -Isso é tudo.
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Missão Órion
A Aterrissagem Quinze dias! Faltavam apenas quinze dias para chegarmos à órbita de Marte. A apreensão começava a ser como no dia do embarque. A reentrada seria bem desconfortável, mas não seria mais do que dez minutos. Estavam todos cansados da gravidade zero. Poder comer algo que não fosse pastoso, beber água no modo tradicional, trabalhar enfim, queríamos sair do confinamento da nave. Mas o que mais me deixava ansioso era poder assumir meu romance com Lis. A essa altura conseguíamos avistar a olho nu as duas Luas de Marte, Fobos e Deimos. Na mitologia, Fobos e Deimos eram irmãos gêmeos filhos de Ares deus da guerra e Afrodite deusa da beleza e sexualidade. Fobos significava o medo e Deimos o pânico. Nomes até sugestivos para nós que íamos enfrentar o que nenhuma outra criatura até então havia conhecido. Por mais que tivéssemos sondado o Planeta Vermelho, estávamos a uma distância segura, na Terra. Enfrentar o desconhecido pode ser assustador! Após a manutenção do módulo de comunicação danificado, não tivemos mais contratempos. O tempo passou lentamente até que o 96
Oberdan Viana
dia havia chegado. Foi a 10 de abril de 2026, precisamente numa sexta feira chegamos ao nosso destino. -Senhoras e Senhores, bom dia! Hoje é o dia que nossa viagem chegara ao fim. Foram seis meses de confinamento a bordo da Nave Bellatrix. Nesse período tivemos alguns contratempos, mas graças ao trabalho em equipe que nós desenvolvemos nada saiu do programado. Devemos renovar nossos ânimos para essa nova etapa da Missão Órion. Em menos de 12 horas terá inicio a colonização. Os nossos nomes entrarão para a história. Chegamos aonde nenhum outro ser humano chegou. Outros virão, mas nós fomos os primeiros! Falou Coronel. Naquele momento toda a tripulação comemorou com um “viva” e com razão comemoraram. Estávamos exauridos pela viagem. A gravidade zero nos debilitava fisicamente e o confinamento mentalmente. Quando atingimos a órbita marciana tivemos que liberar quatro pequenas cápsulas que deveria levar os Indutores de Campo e os repetidores de sinal. Essas cápsulas estavam programadas de modo que um indutor pousasse em cada um dos polos marcianos e os repetidores em zonas equatoriais. Esses indutores tinham uma importância vital para a missão esse equipamento geraria o campo magnético artificial para nos 97
Missão Órion
proteger da radiação cósmica. Juan era o cientista responsável pelos Indutores de Campo. Atingimos a órbita marciana às 16 horas, horário de Washington. Fizemos o ultimo contato com a Terra notificando os preparativos para a entrada no planeta. -Terra, aqui é o Coronel Smith, comandante da tripulação da Nave Bellatrix. Gostaríamos de informar que estamos prontos para entrada na atmosfera marciana. -Aqui é o comando da missão em Terra. Entendido. -Informamos também que os indutores de campo foram lançados com sucesso. -Ok Coronel, iniciar procedimento de entrada! Começamos a preparar o cockpit da nave para entrada. Era necessário travar tudo por conta do súbito retorno da gravidade. Em seguida o Coronel reuniu toda a tripulação no convés para as últimas verificações e ordenou que vestíssemos os trajes pressurizados com suporte a vida. Após isso entramos na cabine e fizemos a mesma formação da decolagem. Carter, Floyd e o Coronel à frente e o restante logo atrás. 98
Oberdan Viana
Às 17h05mim a nave começa a manobra de entrada. Subitamente a sensação de peso retorna causando um enorme desconforto. Na descida chegamos a sentir até 8,5g, bem menos do que sentimos na decolagem. Às 17h10mim já conseguíamos fazer contato visual com o local escolhido para construção da colônia. Nesse momento era necessário utilizar os controles manuais porque Marte não possuía uma pista de pouso e deveríamos fazer um pouso vertical. Entramos na atmosfera marciana com fazendo uma trajetória em espiral e após algumas manobras para correção de curso Carter ativou os retrofoguetes e assim, às 17h30mim do dia 10 de abril de 2026 a Nave Bellatrix pousou em Marte. Demorou-se certo tempo para que acostumássemos novamente com a gravidade, que, aliás, em Marte corresponde a um terço da gravidade da Terra. Levantamos meio cambaleantes. O Coronel olhou para a tripulação e perguntou: -Estão todos bem? -Sim! - Respondemos juntos. Em seguida o Coronel informou ao comando da Missão em terra que já havíamos pousado em solo marciano. Éramos as únicas criaturas vivas em Marte e isso era realmente assustador. Tirando o 99
Missão Órion
fato de Marte ser um planeta morto quase sem campo magnético, pressão e atmosfera favoráveis à vida, não sabíamos quais outros perigos nos esperavam, portanto, era mais interessante focar na reconstrução do planeta e esquecer os perigos. Após uma hora inteira de preparação e recuperação, mais recuperação do que preparação saímos da Nave. Foram seis meses dentro de Bellatrix, exceto para Juan e Floyd que tiveram que sair em pleno voo para consertar o módulo de comunicações, mas esta vez não conta. Entramos na câmara de despressurização para sairmos da Nave. O Coronel levava consigo uma bandeira dos Estados Unidos da América presa a um pequeno mastro. Descemos por uma rampa e caminhamos lentamente pelas areias enferrujadas de Marte. Afastamos-nos por aproximadamente cem metros da Nave e então o Coronel fixou o mastro da bandeira no solo e disse: -Reivindico a posse deste planeta para a Terra! Fiquei pensando do por que daquele gesto? Quem mais no universo haveria de querer um planeta morto como Marte? Estávamos a aproximadamente 500 metros do local de construção da colônia. A Nave Sirius estava equipada com os módulos 100
Oberdan Viana
habitacionais. Eram cinco módulos ao todo com capacidade para duas pessoas. Carter retornou a Nave Bellatrix para buscar um carro apropriado para
transporte.
Deveríamos
usá-los
para
levar
nossos
equipamentos para a colônia e começar o trabalho de construção. Não tínhamos o interesse em descansar. Lis, Alisha, Natália e Sofia começaram a descer com algumas bagagens. Carter dirigia o jipe para a equipe feminina, enquanto isso o Coronel, Breytner, Floyd, Juan e eu começamos a instalar as células solares porque para começar o trabalho era necessária energia. Dispúnhamos também de um pequeno reator nucelar para casos emergenciais. Após a arrumação das instalações fizemos uma pequena pausa para almoçar. Deviam ser aproximadamente 14 horas pelo horário marciano, mas não tínhamos certeza, a única certeza era a fome que sentíamos. Dessa vez, nada de comida pastosa. Comemos feijão, arroz e carne. Tudo bem que eram comidas enlatadas em conserva, mas era a coisa mais bem elaborada que comemos desde a nossa partida da Terra. O mais incrível é que alguns se emocionaram e outros comemoram. Somente o Coronel que não se preocupava em esboçar emoção alguma. 101
Missão Órion
Terminada a organização das unidades habitacionais, Lis e eu decidimos que era o momento de comunicar ao Coronel sobre nossa relação. -Coronel, Lis e eu precisamos falar com o senhor. Falou Dan. -Ah, que bom, eu também precisava falar com vocês. Respondeu Smith. -Certo Coronel. Diga o senhor primeiro – falou Lis -Serei bem breve. Os Senhores residirão no módulo habitacional número três. -Mas, como? Quero dizer, era sobre isso que viemos falar com o Senhor – respondeu Dan. -Certo. Há alguma objeção nisso? -Não, claro que não. Era justamente isso que viemos solicitar ao senhor. Dan e eu... -Vocês estão namorando. Eu já sabia e isso favorece os interesses da missão. Espero que os outros se atentem para esse ponto importante. Como iremos povoar o planeta sem matrizes reprodutoras? Com todo o respeito ao casal. 102
Oberdan Viana
-Mas como o senhor sabia? Perguntou Dan. -Ora Doutor, sou um homem vivido! E os semblantes de vocês denunciaram tudo há muito tempo. Os próximos nesta missão são a Dra. Alisha e Dr. Gomez. A propósito vou propor que eles dividam o módulo habitacional número quatro. -Entendo. Obrigado Senhor! -Posso ajudá-los com algo mais? -Não Coronel – Respondeu Dan fazendo uma pequena continência. -Dispensados! Lis sorriu para mim com um tom de sensualidade no olhar. Retribui o olhar no mesmo tom. Tratamos logo de levar nossos pertences para a unidade habitacional número três. As unidades eram circulares. Nelas havia dois quartos, cada um com uma cama de solteiro, um armário embutido na parede, um banheiro, cozinha e uma sala com dois computadores. A unidades mais pareciam um laboratório do que uma moradia, mas Lis e eu tentamos fazer dela o nosso lar.
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Missão Órion
-Lis temos um problema? -Que problema querido? -Cama separadas. -Ora, mon cher. Todo problema tem uma solução. Vamos juntar as camas! -Oui, oui! Enquanto Lis e eu organizávamos nossa unidade habitacional, o coronel prosseguiu em organizar os demais pares de cientistas nas outras unidades. Juan e Alisha ficaram com a unidade quatro, Breytner e Natália com a unidade cinco, Sofia e Floyd com a unidade dois e Carter e o Coronel com a unidade um. O primeiro dia em Marte foi exclusivamente para nos instalarmos, os trabalhos continuariam no dia seguinte. Marte possui uma variação térmica muito acentuada. Por volta das 20 horas jantamos. Lis e Alisha resolveram cozinhar e fizeram uma sopa com legumes em conserva e carne desidratada. Estavam fazendo 50 graus negativos fora do domo, portanto, a sopa veio a calhar. As únicas fontes de luz que possuíamos no Planeta eram as lâmpadas das unidades habitacionais.
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Após o jantar Alisha, Juan, Lis e eu decidimos dar um passeio nas proximidades do domo, o restante do pessoal decidiu ficar descasando. Por segurança não fomos longe e não perdemos o Domo de vista. Marte era realmente um lugar incrivelmente lindo. Lis e eu andamos de mãos dadas devido à irregularidade do solo, aconselhamos Juan e Alisha para fazerem o mesmo. Chegamos próximo a uma grande rocha onde foi possível sentar e descansar. -Olhe pessoal, como é lindo o céu de Marte! - Falou Lis. -Realmente, nunca tinha visto um céu tão estrelado assim na Terra – respondeu Alisha. -Olhe pessoal, vocês estão vendo aquela estrela ali? - apontou Juan. -Qual? Perguntou Dan. -Aquela ali, veja... Explicou Juan. -Ah sim, estou vendo - disse Alisha. -Não é uma estrela é a Terra! Disse Juan com um brilho nos olhos. Nesse momento um silencio solene caiu sobre nós. Fiquei pensando o que se passava na cabeça dos meus companheiros. Eu me lembrei dos meus trabalhos na universidade, de meus alunos. O silencio foi rompido quando Juan que disse:
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Missão Órion
-Marte me faz lembrar quando eu ainda era estudante de Geologia acampamos no Deserto do Atacama. -Esse céu estrelado me faz lembrar de uma vez quando eu tinha nove anos quando meu pai me levou no planetário. Vimos Saturno pelo telescópio - disse Lis emocionada. -Bem, agora é minha vez. Eu me lembro de quando eu tinha 11 anos meu pai me deu um telescópio. Eu achei um máximo poder olhar para céu noturno. Eu esperava encontrar com um Marciano. E olha a ironia, nos seremos os Pais da Sociedade Marciana - falou Dan sorrindo. -Agora é sua vez Alisha - disse Juan. -Ah, tenho um lembrança não muito boa. Quando eu tinha 16 anos fui sequestrada e na primeira noite de cárcere tudo o que eu podia ver era o céu estrelado por uma pequena grade. Foram sete dias até a polícia me resgatar. Foi horrível... -Sentimos muito! Disse Juan repousando sua mão sobre a mão de Alisha. 106
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A conversa foi interrompida quando vimos Deimos surgir lentamente no horizonte, até se tornar em um enorme disco no céu. Era noite de lua cheia. Ficamos alguns instantes olhando para Deimos. Estava com uma vontade de tomar Lis em meus braços e beijá-la ardentemente, mas o traje pressurizado não permitia, portanto, propus nosso retorno ao Domo.
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A Primeira Noite em Marte Retornamos ao Domo. Era preciso Dormir porque no dia seguinte continuaríamos os trabalhos de construção da colônia, acredito que todos foram dormir de fato exceto Lis e eu. Quando chegamos a nosso quarto começamos a retirar aquele traje de astronauta. Lis solicitou ajuda... -Querido, me ajude a tirar o traje. -Sim Lis! Nesse momento eu comecei a ajudá-la a despir-se de seu traje astronáutico e ela ficou apenas com a roupa civil, ou seja, um short e uma camisa do tipo t-shirt. Mas essa francesa sempre me trazia surpresas agradáveis. -Porto querida! -Você ainda não acabou! Eu pedi pra que você tirasse meu traje, incluindo os trajes civis, querido! Falou Lis deitando-se lentamente na cama.
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Nesse momento me atirei em seus braços e nos amamos ardentemente. Após algumas horas de prazeres inexplicáveis tivemos que dormir, afinal, havia muito trabalho a fazer na Missão. Levantamos às 6 horas da manhã e após o café nos reunimos no convés superior da Nave Bellatrix que por muito tempo fora utilizado como sala de reuniões. Fizemos contato com o comando da Missão em terra que forneceu algumas instruções a respeito das atividades dos colonos. -Senhoras e Senhores, bom dia! Conforme instruções fornecidas pelo comando da Missão, o primeiro edifício a ser construído em marte será a estufa para a o cultivo vegetal. Essa estufa será dividida em dois grandes setores com alguns subsetores. O setor A será destinado a florestas que será divido por biomas. O setor A1 abrigara a floresta tropical temos alguns exemplares Amazônicos, o A2 terá florestas temperadas e o setor A3 será o espaço destinado às matas ciliares. O setor B será destinado à agricultura de subsistência. A Dra Sofia chefiará a construção das estufas. Disse o Coronel. -Em ambos os setores haverá uma lenta troca gasosa entra a atmosfera externa e a interna. Nossos vegetais produzirão o oxigênio lançado parte desse gás na atmosfera e utilizarão o gás 109
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carbônico da atmosfera marciana. Além da fotossíntese que será uma importante fonte de oxigênio teremos o início do ciclo do carbono, o que será fundamental para a manutenção da vida – Completou Sofia. -Teremos também uma segunda fonte de oxigênio. Como todos sabem a Bactéria Halomonas brasiliensis irá quebrar as moléculas de óxido de ferro para obtermos o oxigênio das areias de Marte – completou Dan. -A propósito Dr. Dan, as colônias de bactérias já podem ser lançadas? – perguntou o Coronel. -Sim Coronel. A qualquer momento! – respondeu Dan. -Por favor, hoje pela tarde você já pode iniciar as culturas no solo marciano, escolha um local que julgar adequado e comece. Quanto mais rápido tivermos uma atmosfera respirável melhor. -Entendido. -Juan, quais são os relatórios dos indutores de campo? -Os indutores de campo já iniciaram as atividades hoje pela madrugada, dentro de 12 horas, aproximadamente, terei um relatório a respeito da eficiência de proteção cósmica. Disse Juan. 110
Oberdan Viana
-Toda equipe irá trabalhar na montagem das estufas que já são pré fabricadas assim que terminarmos a estufa prosseguiremos para as demais etapas. Começamos então a montar as estufas, foram dois meses de trabalho, tudo bem era um trabalho tão pesado, nave Sirius era equipada com um guindaste. Em 30 dias terminamos as estruturas e o restante do tempo serviu para instalar as coberturas, sistemas de pressurização parte elétrica, hidráulica. Então, assim após dois meses de trabalho uma bela estufa ficou pronta. Liderados por Sofia que era a Botânica responsável pela missão, iniciamos o plantio. A estufa possuía um valor estratégico para a Missão, por isso todos se dedicavam a ela pela manhã e a tarde nós trabalhávamos em nossas atividades especificas. As bactérias que introduzimos no solo para produção de oxigênio tinham um rápido metabolismo e se reproduziam e morriam rapidamente. Isso era resultado da manipulação genética que fiz ainda em Terra, não queríamos que ocorresse uma infestação descontrolada. A bactéria se adaptara muito bem a superfície marciana de modo que se tornou a mais eficiente produtora de oxigênio. Em menos de cinco anos tivemos um aumento de 30 por cento no teor de oxigênio da atmosfera. Dispúnhamos de um 111
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ambiente de teste que era composto por uma câmara de pressurizada que continha a atmosfera natural do planeta e a bactéria Halomonas. Esse ambiente servia para medirmos a evolução atmosférica. E de acordo com nossas observações, a atmosfera de Marte já se tornara respirável, no entanto era bem rarefeita, comprada ao topo de uma montanha. Quando terminamos a construção da estufa, Lis e eu começamos a produzir alguns animais no Projeto Arca. Descongelamos alguns embriões de abelhas, afinal, sem animais polinizadores seria impossível trabalhar de modo eficiente na estufa. Próximo ao Domo havia um lugar em que decidimos plantar um pequeno bosque fora da estufa. Consistia numa tentativa de introduzir vida vegetal e posteriormente animal fora das redomas da estufa. Como Marte era um planeta frio optamos pelas espécies adaptadas ao clima temperado e frio tivemos êxito nessa empreitada! Todas as árvores e espécies vegetais se adaptaram ao inóspito clima marciano e assim a Missão Órion prosperava. O laboratório de biologia ficava dentro da estufa e o Projeto Arca englobava todos os trabalhos ligados à vida vegetal, animal e microscópica.
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Lis e eu começamos a produzir alguns animais aquáticos e Sofia trabalhava com algumas espécies de fito plâncton para serem introduzidos em um lago artificial que estava sendo construído por um robô próximo no bosque. Pouco a pouco a vida ia conquistando o planeta. Em pouco mais do que cinco meses de missão o lago ficara pronto. Tratava-se de um curso d’água que caía dentro de um tanque através de uma cascata. O sistema era todo artificial e controlado por bombas.
Durante a missão alguns romances surgiram, Lis e eu formamos o primeiro casal fora da Terra. O segundo foi formado por Juan e Alisha. Na verdade, Juan não tinha muita habilidade com as mulheres, não sei se isso é privilégio de cientistas, mas o fato é que ele precisou de uma ajuda do destino. Alisha já nutria uma singular admiração pelo mexicano e isso ficou claro desde o dia da manutenção do módulo de comunicação da Nave Bellatrix quando Alisha olhou para Juan com aquele olhar inflamado, mas Juan fora tolhido pela sua timidez. 113
Missão Órion
A Tempestade de Areia
Numa ocasião os computadores do controle da missão previram uma tempestade de areia que estava se aproximando da colônia, portanto, a ordem do Coronel era de que todos se mantivessem dentro de suas unidades habitacionais. Nesse dia suspendemos nossas atividades às 12 horas e seguimos a ordem do recolhimento. Então, a temível tempestade chegou. As rajadas de vento e poeira eram tão fortes que as unidades habitacionais balançavam. -Juan estou com medo dessa tempestade! -Não se preocupe Alisha, o comando nos informou que essa tempestade será breve. -Será mesmo? -Sim, vamos ficar bem – respondeu Juan. -Se você diz eu acredito.
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Oberdan Viana
Os ventos eram tão fortes que algo atingiu a unidade habitacional de Juan a Alisha de modo que fez um grande estrondo. O ruído assustou o casal que repentinamente se lançou ao chão Juan, porém, se lançou por cima de Alisha no intuito de protegê-la de algum impacto. Passado o susto, o mexicano e a indiana trocaram um olhar apaixonado e, após alguns instantes de contemplação mútua e respiração ofegante, Juan tomou coragem e beijou Alisha intensamente. Alisha correspondeu com a mesma paixão. A intensidade daquele momento fora tão avassaladora que o casal esqueceu-se de havia uma tempestade de areia açoitando a colônia. -Alisha quero te confessar algo. -Sim Juan o que é? -Não disse nada antes porque sou muito tímido, meio sem Jeito com essas coisas, mas é que estou apaixonado por você! -Oh Juan, esperei muito por esse momento, também estou apaixonada por você. -Você quer ser minha namorada? -Sim, mas é claro que sim! 115
Missão Órion
E o casal prosseguiu se amando até o fim da tempestade! E a tempestade foi perdendo força gradualmente e, após algumas horas o tempo normalizou. Ainda bem que não causou significativos estragos, só tivemos muito trabalho para organizar e limpar a colônia novamente.
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Oberdan Viana
Creatura Lacus
Tivemos muito trabalho com a construção da colônia. Reforçamos o campo magnético de Marte com os Indutores de Campo, produzimos oxigênio através de fotossíntese e por meio da exploração do oxigênio do solo, criamos florestas e introduzimos vida animal no planeta. Utilizamos os recursos mais avançados da ciência e tecnologia. Era questão de tempo para que Marte produzisse sua própria biodiversidade e que se tornasse autônomo, ou seja, que não dependesse de intervenção científica. O Projeto Arca tinha o objetivo de controlar a produção de seres vivos. Por esse motivo, a única vida animal que existente estava no lago artificial. Lis e eu inserimos alguns alevinos de espécies variadas de peixes de água doce, fito plâncton e algas. Diariamente controlávamos a população animal e vegetal do lago para verificarmos a eficiência do projeto. Certo dia, estávamos a caminho do lago quando avistamos em um banco de areia próximo à margem uma criatura muito estranha. Esse animal tinha o corpo fusiforme parecia com uma espécie de 117
Missão Órion
peixe que introduzimos no lago, mas o animal estava parado na margem. Pensamos que se tratava de um peixe morto que se depositou nos bancos de areia trazido por ondas no lago, porém quando nos aproximamos, a criatura deu alguns passos desajeitados. Parecia utilizar as barbatanas como patas. Quando vimos que a criatura caminhou demos conta de que o animal estava vivo e que não se incomodava com o fato de estar fora d’água. Lis deu um sorriso alegre e disse: -Você está pensando no mesmo que eu Doutor? -Anfíbios, Doutora, anfíbios! -Sim – falou Lis com um tom de voz alegre. -Isso comprova que sua teoria de mutação assistida funciona mesmo. Meus parabéns! Disse Dan sorrindo! Lis sempre andava com uma câmera para fotografar o desenvolvimento dos animais do lago, por isso antes que a criatura fugisse tratou logo de tirar fotos e fazer algumas filmagens. Continuamos a nos aproximar do lago lentamente, porém, a criatura serpenteou e caiu na água fugindo de nossa vista. Decidimos então fazer uma sondagem no lago, resolvemos 118
Oberdan Viana
introduzir uma câmera aquática que filma em ambientes escuros. Tentamos localizar a criatura, verificar a quantidade de indivíduos semelhantes que existiam, mas não tivemos sucesso. A criatura devia ter um eficiente método de camuflagem. -Lis, como vamos chamar essa criatura? -Ainda não sei, mas podemos dizer que se trata de um autêntico marciano. -Porque não chamamos de Creatura lacus? Enquanto não encontrávamos um nome melhor, Creatura lacus veio a calhar. Os créditos pela descoberta da nova espécie eram exclusividade da Dra. Lis que era autora da teoria da mutação assistida. A nova espécie era resultado de um implante de genes que foram feito em alguns peixes. Os indivíduos mutantes dariam origem a novas espécies. Retornamos imediatamente a base da Colônia e comunicamos a descoberta a todos. O coronel comemorou tanto quanto Lis. -Isso é formidável Doutora! Como aconteceu sua descoberta?
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Missão Órion
-Bem, fomos até o lago para nossas análises de rotina, mas, antes de chegarmos até a margem, avistamos a criatura imóvel nos bancos de areia da margem. Pensamos que se tratava de um peixe morto que foi trazido até a margem pelas ondas do lago, mas à medida que nos aproximamos, a criatura deu alguns passos desajeitados. Parecia usar as barbatanas como patas. Acreditamos que o processo de mutação assistida resultou no desenvolvimento de anfíbios porque a criatura parecia não se incomodar com o fato de estar fora d’água. Conseguimos tirar algumas fotografias antes da criatura retornar para o lago. Veja... -Isso é magnífico! Semeamos a vida em Marte, agora vamos esperar que o tempo faça seu trabalho. Dra. Lis providencie um relatório detalhado a respeito da criatura e para que notifiquemos a Terra. O tempo foi passando, alias o fator tempo para nós era um grande dilema. Não tínhamos muitas distrações como na Terra, nossa vida na colônia se resumia em trabalho e mais trabalho. Até tínhamos momentos de lazer, mas eram extremamente limitados às condições de vida que tínhamos na Colônia. Já fazia cinco anos que estávamos vivendo em Marte. Tivemos uma rápida evolução. A temperatura média do planeta subiu dois graus Celsius devido ao 120
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aumento da concentração de gases, com isso a registramos um tímido aumento da umidade relativa do ar, no entanto, não era o suficiente para que tivéssemos chuvas, mas para um intervalo de cinco anos, os prognósticos eram bem otimistas, ou seja, dentro de pouco tempo teremos uma atmosfera respirável e um ciclo hidrológico capaz de sustentar a vida Marciana.
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Missão Órion
O Primeiro Casamento em Marte
Nossa vida em Marte não era nada convencional, portanto, muitas formalidades foram ignoradas nos tempos da Colônia, exceto por um ponto: Lis queria se casar. -Querido nos conhecemos há dez anos e já estamos vivendo juntos há bastante tempo, mas acredito que já é hora de darmos mais um passo em nossa relação. -Que passo querida? -Precisamos nos casar! -Mas não temos nenhuma instituição dessa natureza em Marte. Como que faríamos um casamento? -Ora, mon cher, podemos solicitar a permissão do Coronel, afinal ele é a autoridade máxima em solo marciano. -Querida, estamos juntos para qualquer situação e, não será uma formalidade que provará ou negará meu amor por você! -Então quer dizer que você não quer casar-se comigo. 122
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-Não amor, não é que eu não queira, mas como faremos uma cerimônia de casamento em Marte? -Ora, podemos fazer uma pequena cerimônia familiar, afinal, somos todos uma família. Não se lembra de que fizemos esse juramento no dia de nossa partida da Terra? -Certo, certo. Vamos falar com o Coronel amanhã pela manhã! -Você jura? -Lhe dou minha palavra! -Te amo querido – disse Lis abraçando fortemente a Dan. No dia seguinte, procuramos o Coronel para conversar a respeito. -Coronel, bom dia! Lis e eu precisamos falar com o Senhor. -É a respeito do Projeto Arca? Perguntou Smith, sem tirar os olhos da tela do computador. -Não Senhor, é um assunto pessoal – respondi. -Então, por favor, sentem-se. Em que posso ajudar? – Falou o coronel deixando de lado a tela do computador.
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Missão Órion
-Bem Coronel, a Dra. Lis e eu, nós, nós queremos sua permissão para nos casar – falei meio nervoso. -Casamento?! Indagou o Coronel. -Sim senhor, Coronel. Queremos nos casar – respondeu Lis firmemente. -Vocês não precisam de minha permissão. -Quer dizer que não há objeção de sua parte para que façamos um casamento na Colônia? Perguntou Lis. -Absolutamente. A única dificuldade para vocês será em encontrar um Juiz de Paz para celebrar a cerimônia – respondeu Smith. -Mas é justamente por isso que viemos falar com o Senhor! Respondeu Dan. -Prossiga Doutor! -Nos sentiríamos honrado de que o Senhor, Coronel, celebrasse nosso casamento. Então Coronel, o que nos diz? Perguntei com um sorriso nos lábios. -Ora doutores, nunca celebrei um casamento na vida, não faço ideia de como fazê-lo, aliás... 124
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-Por favor, Coronel, o Senhor é a autoridade máxima neste planeta e, pra mim, o Senhor é como se fosse um pai. Falou Lis meio emocionada! Não sei explicar que efeito que a palavra “pai” causou no duro Coronel David Smith. Mas ele ficou em silencio por alguns instantes. Seus olhos lacrimejaram... -Lis, é melhor não incomodarmos mais o Coronel, vamos embora. Falei fazendo um gesto de quem quer se retirar da sala. -Não concedi permissão para saída Doutor Dan! Falou o Coronel energicamente! -Sim Senhor – respondi meio estremecido! -Quando será o Casamento? -O Senhor aceita celebrar a Cerimônia? Perguntou Lis meio eufórica. -Vocês têm a minha palavra! Nesse momento, Lis levantou-se da cadeira meio descontrolada, agarrou o coronel pelo pescoço e deu-lhe um beijo no rosto dizendo: 125
Missão Órion
-Obrigada Senhor, muito obrigada! Smith não tinha o hábito de demonstrar em público seus sentimentos, no entanto, a francesa conseguiu quebrar a pedra que havia em seu coração. -Obrigado Coronel, muito obrigado! Respondi ao militar. Saímos da sala do coronel e fomos comunicar ao restante da equipe acerca de nosso casamento. Perguntamos a Juan e Alisha se eles aceitariam serem nossos padrinhos de Casamento. Eles aceitaram prontamente. Um clima de euforia pairou sobre a população na colônia, afinal, seria a primeira festa a ser realizada em solo marciano. Todos precisavam de uma descontração. Nosso casamento seria bem simples, afinal, na colônia havia somente 10 pessoas. Lis e eu conversamos a respeito dos preparativos. -Querida, como faremos nossa cerimônia? -Eu acho que o melhor lugar será na estufa de vegetais. As flores e as plantas já servem de ornamentação.
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-Certo, podemos então improvisar um pequeno cerimonial, vamos colocar as cadeiras do refeitório alinhadas e uma mesa de escritório para servir de púlpito. Ah, e qual será o cardápio da festa querida? -Podemos servir salmão assado com batatas, sucos e frutas tropicais, o que acha? -Perfeito, querida, perfeito! Organizamos tudo dentro de uma semana. Não tínhamos os mesmos protocolos religiosos da Terra, entretanto, foi perfeita do jeito que aconteceu. Era domingo de manhã, precisamente às 10 horas da manhã, horário marciano. O Coronel assumiu seu posto no púlpito. Smith vestia uma farda militar de gala na qual ostentava medalhas de honra. Todos já haviam se assentado, e eu aguardava a entrada de Lis pelo corredor da estufa. Eu estava vestindo um smoke preto. Quando a porta se abriu, Breytner deu o “play” computador e tocou a música “Primavera” de Antônio Vivaldi. Nesse momento todos se puseram de pé e Lis entrou lentamente pelo corredor acompanhada por Juan e, ao som da música, a cada passo que ela dava em direção ao púlpito, era como se nossa história passasse como um filme em minha cabeça. 127
Missão Órion
Lembrava-me dos momentos que vivemos juntos desde o dia em que a conheci no gabinete do Coronel, nosso trabalho juntos na missão, quando dançamos no ginásio e no dia em que nos amamos em gravidade zero dentro da Nave Bellatrix. Lis usava um vestido branco, claro que não era um tradicional vestido de noiva, mas era um vestido longo, desses de festa e trazia nas mãos um buquê de orquídeas que tinha sido confeccionado por Sofia e Natália. Pouco antes do término da música, Lis e Juan já estavam no púlpito. Juan me cumprimentou com um abraço. O Coronel iniciou a cerimônia pedindo que todos se assentassem. -Senhoras e Senhores, estamos aqui reunidos para
celebrar o
casamento do Dr. Dan Alves e da Dra. Lis Suazey. Queremos dizer que é uma grande decisão quando um homem e uma mulher se propõem em reunirem-se nos sagrados laços do matrimônio. Não estamos aqui celebrando uma cerimônia religiosa, no entanto, vale ressaltar que em suas vidas não deve faltar a confiança no criador. Enquanto o Coronel discursava a respeito do casamento Lis e eu trocávamos olhares e sorrisos de felicidade. Não conseguia pensar 128
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em outra coisa senão no prazer que era dividir esse momento com a minha francesa. -Dan Alves é de sua livre e espontânea vontade receber a Lis Suazey como sua legítima esposa, amá-la e respeitá-la, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, todos os dias de suas vidas até que a morte os separe? Sim! -Lis Suazey é de sua livre e espontânea vontade receber Dan Alves, como seu legítimo esposo, amá-lo e respeitá-lo, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza ou na pobreza, todos os dias de sua vida até que a morte os separe? -Sim! -Pelos poderes em mim investidos pelo Comando da Missão em Terra, vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva! Não trocamos alianças porque não dominávamos as técnicas da ourivesaria, mas, o que mais importava era que Lis e eu nos tornamos oficialmente marido e mulher e com o devido reconhecimento civil na Terra e em Marte.
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Recebemos os cumprimentos de nossos colegas de missão e em seguida Lis anunciou que jogaria o buquê. Alisha, Natália e Sofia se organizaram para ver que pegaria o buquê e isso era um bom sinal, afinal meus colegas, não todos, teriam a oportunidade de encontrar uma esposa entre as recrutas. Até aquele momento, a população de homens era maior do que a população feminina e, Alisha já se comprometera com Juan, ou seja, somente Natália e Sofia estavam disponíveis. Lis lançou o buquê e, até que o destino foi coerente com a realidade, Alisha quem teve a sorte de pegar o buquê! Terminada a cerimônia desfrutamos das iguarias que foram preparadas e em seguida partimos para nossa lua de mel. Não tínhamos um roteiro de viagem, mas tivemos alguns dias de folga para aproveitar. O Coronel cedeu gentilmente veículo marciano, um tipo de jipe especifico para o solo desértico do planeta, para que nos afastássemos um pouco da colônia e tivéssemos mais privacidade. E como não podia faltar, Juan amarrou algumas latas na parte traseira. Essas latas eram da comida enlatada que consumimos por um bom tempo. 130
Oberdan Viana
É claro que diante das condições do planeta, não era prudente que nos distanciássemos muito. O Jipe era especial e por isso dava suporte a vida. Passamos uma noite longe da Colônia. Após, aproximadamente duas horas dirigindo, estávamos a mais ou menos 90 km de distancia da Colônia, estacionamos próximo a uma ravina que tinha um belo pôr do sol e ali passamos a noite, e que noite! Nossa lua de mel não foi nada convencional, no entanto, não podia ser melhor. O céu estrelado de Marte adornava nosso amor. Passamos a noite em claro nos amando intensamente. Adormecemos por volta das 4 horas da manhã. Por volta das 10 da manha levantei antes que Lis acordasse e, silenciosamente, preparei um café para nós dois. Servi uma bandeja com suco, pão e frutas. Tudo havia sido produzido em nossas unidades de agricultura de subsistência. -Bom dia querida! -Bom dia amor - disse Lis após um bocejo. -Amor, preparei um café na para nós dois. -Que horas são? 131
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-São 10h30mim. -Que noite maravilhosa! -Maravilhoso é estar com você meu amor.
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A Evolução de Marte
Trocamos alguns gracejos durante o café, e quando nos preparávamos para retornar para a Colônia escutamos um ruído agudo no exterior do veículo. -O que foi isso? - perguntou Lis meio assustada. -Veio de fora do jipe, mas não consegui identificar. Após mais alguns instantes, o ruído soara novamente. -Parece algum animal - disse Lis. -Eu vou lá fora Lis. -Eu vou com você Dan. -Não, querida, não sabemos do que se trata, pode ser perigoso. -Não querido, não deixarei você sozinho lá fora. -Certo. Vamos juntos então, mas vamos ficar próximos ao veiculo. -Ok. Vestimos então o traje pressurizado e saímos do veículo. Rodeamos a área em volta do jipe e não encontramos nenhuma criatura, no entanto vimos alguns rastros na areia. Pareciam pegadas de algum tipo de lagarto ou algum animal anfíbio. Seria a tal Creatura lacus?
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-Pelo tamanho da pata com certeza é um animal de pequeno porte - falou Lis. -Pela marca da pegada deve ter uma membrana entre os dedos. Esse animal teve origem no lago do bosque. Como veio parar tão longe? -A evolução das espécies está bem avançada. A vida está conquistando o planeta. -Vamos fotografar essas pegadas. -Certo. -Lis, vamos aonde essas marcas vão parar? -Boa ideia, mas vamos a pé. O veículo pode afugentar o animal. Andamos mais ou menos uns 15 minutos até que o rastro havia se perdido. -Perdemos o rastro. -É o vento deve ter apagado. -Veja querido, um arbusto!
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-Tão distante da colônia. Interessante. O vento deve ter trazido algumas sementes. Mas como que essa planta se desenvolveu se não temos chuva? -Eis ai um enigma a ser decifrado! E era de fato um enigma, não havíamos registrado chuva até aquele momento, mas, de alguma forma aquele arbusto encontrou condições favoráveis para seu desenvolvimento. Retornamos a colônia e com essa dúvida, mas era inegável que a vida estava conquistando o Planeta Vermelho. -Como aquele arbusto se desenvolveu? Perguntou Lis intrigada. -Talvez haja uma reserva de água subterrânea no local, ou um aquífero. -Ok, mas como a semente germinou? -Vapor, ou talvez o vento trouxe gelo dos polos que se depositou no local e a planta se desenvolveu. Enquanto discutíamos as possibilidades, Juan interrompe a conversa. -Chuva! Tivemos chuva em Marte! 135
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-Você quer dizer que choveu no planeta? Perguntei estarrecido. -Sim! - respondeu Juan sorrindo. -Como você descobriu? -Bem, não se trata ainda de uma constatação, no entanto, temos fortes indícios de chuva. -Como assim? -Registramos uma curva muito acentuada na umidade relativa do ar. Essa mudança é resultado do aumento da temperatura. -Entendi quanto mais vapor de água na atmosfera mais nebulosidade. Mas, ainda não temos uma prova concreta de que choveu. -Bem, não exatamente! -A mais ou menos 30 km a oeste da Colônia fui coletar amostras de solo para análises químicas e encontrei solo úmido numa área muito árida, indicando uma possível chuva. -Se nossas suspeitas forem comprovadas, quer dizer que nossa intervenção em Marte está dando certo! -Sim.
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Fizemos o relatório dos fatos e comunicamos ao comando da missão em Terra. Realmente nossos prognósticos se cumpriram dentro de seis meses choveu em Marte. Não choveu sobre a Colônia. A primeira chuva oficialmente registrada no planeta ocorreu em uma latitude mais alta do que a nossa mas foi muito comemorada pelo Comando da Missão e por nós. Faltavam estudos para compreender essa dinâmica hídrica recém-nascida, no entanto, sabíamos que as mudanças na atmosfera Marciana foram responsáveis pela condensação da pouca água atmosférica.
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A espera de um marciano
Fazia sete anos que estávamos vivendo em Marte e nosso trabalho estava praticamente pronto. A Colônia e o bosque se tornaram numa espécie de oásis marciano que crescia lentamente dia após dia. Tudo que tínhamos que fazer era controlar eventuais desvios do projeto. Certa feita, Lis e Sofia estavam cuidando da estufa quando Lis teve um enjoo. -O que foi Lis, você se sente mal? -Não, nada, foi só um enjoo. -Há quanto tempo você tem sentido esses enjoos? -Não sei, não reparei.
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-Teve vômitos? -Espere ai, você não está achando que eu estou... -Grávida! -Não, não pode ser! -E por que não? -Não estou preparada pra isso! -Nunca se está até que acontece. Vamos conversar com Natália – falou Sofia sorrindo. Lis e Sofia foram até o ambulatório e conversaram com Natália. -Oi Natália, precisamos conversar com você. -Pois não meninas do que se trata? Prontificou-se Natália. -Você tem exame de gravidez? – perguntou Sofia. -Tenho, por quê? Não, Lis você está grávida? – Falou Natália sorrindo. -Não sei, tenho sentidos uns enjoos!
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-Eu acredito que você esteja grávida sim - respondeu Sofia sorrindo. Nesse momento entrou Alisha na Sala. -Oh, meninas, reunião e nem me chamam – disse Alisha. -Lis está grávida! – Falou Sofia em tom provocativo! -Não sabemos – Retrucou Lis! -Que fantástico Lis. Você será mãe do primeiro marciano. Dan já sabe? – Disse Alisha. -Gente, não sabemos de nada – respondeu Lis. -Não sabemos nada ainda! Respondeu Natália entregando a Lis o exame de gravidez. Lis olhou para o frasco para urina e foi até o banheiro com exame nas mãos, e após há alguns minutos a Doutora retorna ao ambulatório. -E ai, deixe-me ver? - falou Natália! -Parabéns Doutora. Você está Grávida! Sofia e Alisha abraçaram Lis dando-lhe os parabéns. 140
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-Doutora tenho que fazer um relatório do caso para o comando da Missão e, a partir de agora, você estará sob cuidados médicos – Disse Natália. -Mas que cuidado médico? -Pré-natal! -Tudo bem, mas antes de você comunicar ao Comando da Missão deixe que eu comunique com Dan! - Disse Lis. -Certo. Mas como médica, tenho a responsabilidade pela sua saúde e, portanto, não podemos perder tempo – Advertiu Natália. -Falarei hoje à noite com Dan! Então naquela noite Lis foi conversar com Dan. -Querido preciso te contar uma coisa. -Sim amor o que é? -Bem, não sei como dizer, mas é que... -Lis está tudo bem? Você parece nervosa. Nesse momento Lis foi depressa ao banheiro para vomitar e naturalmente, fui atrás dela. -Amor você está passando mal? 141
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-Não Dan - Disse Lis meio chorosa. -Então me diz o que está acontecendo? -Estou grávida! -Você está grávida?! Nesse momento Lis novamente vomita. -Amor isso é fantástico! Vamos ter um bebê. Vamos ter um filho. Não podia conter a alegria que senti em saber que me tornaria pai. Lis, no entanto, não se sentia preparada para ser mãe. Enquanto eu comemorava Lis chorava. -O que foi Lis? Você não gostou da ideia de ser mãe? -Não, não é isso, mas é que eu não me sinto preparada, só isso. -Ora querida, ninguém está preparado pra ser mãe ou pai. Vamos aprender juntos - disse Dan pegando nas mãos de sua esposa. -Certo querido, Falando dessa forma você me conforta! Lis e Dan comunicaram ao Coronel Smith a respeito da gravidez. O Coronel comemorou o fato comunicando ao comando da missão em Terra. Em Terra, a Missão Órion era noticia nos principais jornais e noticiários de toda a natureza. Mas, nenhuma noticia repercutiu 142
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tanto quando a gravidez de Lis, afinal tratava-se do primeiro ser extraterrestre, claro que era um descendente de um terráqueo, mas isso não invalidava o fato de que era possível viver e procriar em Marte. Assim, seguiram-se os nove meses de gestação de Lis. Sua gestação foi relativamente normal. O bebê marciano se desenvolvia normalmente e Lis, como qualquer outra mulher normal, teve desejos, e dos mais absurdos possíveis. Houve um dia que ela queria comer um peixe do lago. Eram 5 horas da manhã quando tive que pescá-lo. Comer peixe não era estranho, o estranho era ter que prepará-lo sem retirar suas entranhas. -Dan, Dan, acorda querido! -Hum, o que? -Estou com desejo! -Desejo de que querida? -Peixe! Disse Lis salivando! -Onde que vou encontrar um peixe há essa hora Amor? -No lago Amorzinho! 143
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-Mas Lis, você não pode esperar até o dia amanhecer? São 5h30mim! Nesse momento Lis começou a chorar! E acabei cedendo à sua chantagem, ou melhor, seu excesso de sensibilidade, afinal, a Dra Natália já havia me advertido acerca da condição das gestantes. -Amor, acalme-se! Eu irei buscar o peixe, mas eu não sei se conseguirei pegá-lo, prometo tentar. -Tudo bem amor, eu te espero! Vesti o traje pressurizado e fui à busca do peixe! Daí eu me lembrei de que tínhamos umas trutas em um aquário no laboratório. Não pensei duas vezes, fui até o aquário e surrupiei o peixe e o levei até Lis. Aproveitei o ensejo e passei na estufa agrícola e levei alguma comida pra preparar. -Amor cheguei! -Nossa querido, você conseguiu rápido! -Tive sorte amor! Aproveitei minha saída e passei na estufa agrícola e coletei alguns legumes e tempero. O que acha de peixe com batatas sauté?
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-Sim querido, ótima ideia! Você prepara as batatas enquanto preparo o peixe! Assim começamos nossa aventura gastronômica às 6 horas da manhã. Comecei cortar e preparar as batatas. Ao passo que Lis pôs-se a preparar o peixe! Retirou a pele do peixe com uma precisão cirúrgica, bem como suas barbatanas e olhos, mas as vísceras não as retiraram! -Amor, você não vai retirar as vísceras do peixe? -Não! -Por que não querida? -Não sei Amor, quero comer o peixe assim. Parecem suculentas! -Suculentas?! -Sim! -Amor isso é nojento! -Você não vai comer? -Não, claro que não!
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Assim Lis preparou a truta e comeu como se fosse a primeira vez em sua vida que comia um peixe. Após comer, vomitou tudo no chão do alojamento, mas, pelo menos seu desejo fora satisfeito. Após limparmos tudo voltamos a dormir lá pelas sete horas.
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O Astronauta Guardião
No dia seguinte o coronel David Smith convocou uma reunião com toda a equipe. -Senhoras e Senhores, bom dia! Temos que fazer uma expedição até o polo norte do Planeta. Será necessário realizar uma manutenção no indutor de campo. Esse indutor apresentou uma pane. Não conseguimos dar uma manutenção remota. Diante disso, acreditamos que seja uma falha de hardware. Iremos de jato. Serão doze horas de voo e seis horas de jipe. Eu irei com o Dr. Juan, Carter e Dan e Breytner. Então, nossos colegas de missão partiram em direção ao Polo Norte marciano. Era uma viagem perigosa porque não sabíamos que o encontrariam no percurso. O voo transcorreu com relativa tranquilidade. A tensão estava mesmo em nossas cabeças.
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-Será que encontraremos Papai Noel verde aqui em Marte? Disse Juan em tom sarcástico. -Não seja ridículo - respondeu Breytner em tom mais sarcástico ainda. -Pessoal, vamos iniciar manobra de aterrissagem. Apertem os cintos - disse Carter. -Vamos homens, vocês ouviram o piloto! Reforçou Smith. Assim o fizemos. Para nossa surpresa, pousamos sem dificuldades. Aterrissamos em uma vasta planície gelada! -Pessoal, vamos acampar aqui esta noite. Partiremos amanhã às 06h30min. Não podemos prosseguir viagem cansados e famintos Ordenou o Coronel. Fizemos conforme Smith ordenou. Jantamos uma comida previamente preparada na colônia fomos dormir. Não foi difícil pegar no sono. A viagem foi bem desgastante. No dia seguinte, levantamos às 6 horas da manhã tomamos café e partimos. Nossa chegada estava programada para as 12 horas.
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Felizmente era verão no hemisfério Norte e isso nos dava luz solar extra para nosso trabalho. Ao chegarmos ao local do indutor de campo percebemos que não havia defeito algum. -Que estranho! - exclamou Juan - Podia jurar que esse indutor apresentou problemas técnicos. Está funcionando perfeitamente! -Como assim que funciona perfeitamente? Perguntou Smith. -Sim, o indutor funciona normalmente! -Gomez, se isso é alguma brincadeira, fique sabendo que não teve graça - respondeu Carter. -Não faria ninguém vir ate aqui à toa. As leituras apresentaram falhas - falou Juan asperamente. -Pode ter ocorrido falha na leitura? Indagou o coronel. -Impossível! Eu mesmo revisei todo o programa exaustivamente. Aliás, se fosse erro no programa isso afetaria o indutor do Polo sul -disse Breytner. De repente, uma voz grave soou no ar. -Eu os trouxe aqui! 149
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Naquele momento sentimos grande espanto. Porque não sabíamos de quem era aquela voz e, logo após a fala estrondosa, vimos uma pequena nave que descia lentamente. O aparelho era fusiforme e de cor cinza. Era rodeado por luzes verdes florescentes. Pela manobra que fazia. Tínhamos certeza de que era de uma tecnologia muito avançada para os conhecimentos terrenos. Ficamos ali imóveis diante da nave e, ainda que quiséssemos fugir, não nos conseguíamos mexer, era como se uma força estranha tivesse nos paralisado. Logo que a nave pousou, uma porta se abriu em sua lateral e uma criatura humanoide saiu. Ele vestia uma túnica branca, não tinha pelos em seu corpo. A pele era branca como uma pessoa albina. Suas feições eram semelhantes as nossas, ou seja, possuía nariz, olhos e boca como nós. A criatura não usava proteção alguma, parecia respirar normalmente e não sofria dano algum com a radiação cósmica. -Eu vos saúdo terráqueos! Não tenham medo. Chamei-os aqui porque sois dignos. Vocês e os outros que ficaram na Colônia! 150
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Quando a criatura disse para que não tivéssemos medo, era como se a força que nos manteve paralisados fosse embora e com ela o temor que sentíamos! -Dignos de que? Quem é você? Perguntou o coronel Smith. -Eu sou o Astronauta Guardião deste planeta. Para cada planeta deste sistema, há um Astronauta Guardião. A vinda de vocês já era aguardada há muitos séculos. -O que você quer dizer com isso de que éramos aguardados? Perguntou Smith. -O Astronauta Antigo vaticinou há milênios atrás que um grupo de astronautas do terceiro planeta chegariam em Marte e com eles a vida! Vocês são os escolhidos conforme a profecia, para deter o conhecimento avançado e criar a civilização perfeita! -Quem é o Astronauta Antigo? Perguntou Carter. -Um Aeon!
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-O que é esse conhecimento avançado deque você diz? Perguntou Breytner. -Vim entregar a vocês o conhecimento que muitas civilização alcançaram ao longo dos séculos. Conseguiram avanços que estão séculos além do conhecimento da Terra. Com o esse conhecimento vocês conseguirão feitos notáveis. Como eliminar doenças, longevidade de até novecentos anos e alguns feitos tecnológicos como superar a velocidade da luz. O Astronauta Guardião finalizou sua fala entregando uma esfera ao Coronel Smith. -O que é isso? Perguntou Smith. -Esse é o orbe do conhecimento. Nele está contido todo o conhecimento avançado. Use-o somente para o bem e vocês serão prósperos! -Mas como que se usamos o orbe? Perguntou Smith. -Pergunte, e ele vos responderá! Vemos-nos em breve. Até logo disse o Guardião entrando na nave e partindo para o espaço.
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Oberdan Viana
Ficamos ali por horas estarrecidos com aquela situação. Fizemos contato com um ser extraterrestre! Retornamos para Colônia com o orbe. Assim, prosseguimos com o nosso trabalho. O tempo foi passando e o dia de Lis dar a luz ao pequeno humano marciano chegou. Durante um sábado a tarde que ela estava em repouso, estávamos em nossa unidade habitacional. Ela começou a sentir fortes dores. -Querido, a bolsa rompeu. Temos que ir para o ambulatório da colônia. -Vamos! Não, fique ai que vou chamar a Dra. Natália e a Dra Alisha. -Não querido! Vamos para o ambulatório e de lá chamamos as médicas. Quando saímos de nossa unidade habitacional, encontramos Sofia no caminho e lhe falamos: 153
Missão Órion
-Sofia, por favor, chame as doutoras Natália e Alisha. -Sim, mas está tudo bem? -A bolsa... -Que bolsa? Oh meu Deus, a bolsa rompeu! -Sim. Lis está entrando em trabalho de parto! -Vou chamá-las. -Diga a elas que estaremos no ambulatório! -Certo! Fiquei ali tentando acalmar minha esposa, mas na verdade, ela que me acalmava! Eu estava tão nervoso que tremia, e me atrapalhava. -Querido, acalme-se! -Certo querida! E essas médicas que não chegam! Antes de terminar de falar todos os colonos vieram ao ambulatório e ficaram ali aguardando o parto. -Lis, Dan e Alisha vamos entrar na sala, os demais esperem aqui!
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Oberdan Viana
Entramos na sala e Natália examinou Lis e realmente constatou que já havia dilatação suficiente para o bebê nascer. Não sabíamos o sexo da criança porque o comando da missão não havia mandado equipamentos de ultrassom. Após seis horas de trabalho de parto ouviu-se o choro. Nasce o menino marciano. A Dra. Natália sai da sala e comunica aos demais. -Nasceu um menino saudável. Mãe e bebê passam bem! Após algumas horas de procedimentos de assepsia, todos puderam entrar para ver o bebê. -Então, Doutores, como será chamado o menino? Dirigiu-se o coronel para Dan e Lis. -Ele será chamado Heitor! – respondeu Dan. -Heitor, nome de príncipe! – disse o coronel sorrindo! -O Senhor quer pegá-lo, Coronel? – perguntou Lis. -Posso? -Mas é Claro! -Vem bebê, venha com o vovô!
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Missão Órion
Todos ficaram emocionados com a cena do Coronel ao dizer: “venha com o vovô”. -Posso tê-lo como meu neto?- Perguntou emocionado. -Será uma honra para nós Coronel! – Consentiu Dan. Assim nasceu o primeiro marciano. Através de uma missão de colonização. Após o primeiro mês de vida de Heitor, o Astronauta Guardião veio nos visitar e disse-nos: -Saudações colonos! Eu sou o Astronauta Guardião que vos visitei no Polo Norte. Heitor será um grande homem na sociedade marciana. Ele será especialista no conhecimento avançado. Vocês enfrentarão muitos desafios, mas usem o orbe do conhecimento para o bem e vocês serão vitoriosos.
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