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FICHA TÉCNICA Este suplemento faz parte integrante da revista I Like This® e não pode ser vendido separadamente. Sede e sede de redação Rua das Novas Empresas - IEFP 4780-511 Santo Tirso Proprietário News Mind - Edições Unipessoal, Lda Director/Editor: Sérgio Dinis Fotografias: Cedidas pelos parceiros Publicidade: publicidade@ilikethis.pt Digital: www.ilikethis.pt

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A Agenda 2030 e o Ano Internacional do Turismo Sustentável, texto da Embaixadora Ana Martinho, presidente da Comissão Nacional da UNESCO

Reservas da Biosfera: •Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo •Reserva da Biosfera da Ilha do Corvo •Reserva da Biosfera da Ilha da Graciosa •Reserva da Biosfera da Ilha das Flores •Reserva da BiosferaTransfronteiriça Gerês-Xurés •Reserva da Biosfera dasBerlengas/Peniche •Reserva da Biosfera de Santana/Madeira •Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica •Reserva da Biosfera das Fajãs de S. Jorge •Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo Internacional

6 17 territórios UNESCO, 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, artigo de Elizabeth Silva, responsável pelo sector das Ciências da Comissão Nacional da UNESCO

8 Entrevista com Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal, sobre a sustentabilidade do turismo no país

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11 Geoparques Mundiais da UNESCO em Portugal: •Naturtejo da Meseta Meridional Geoparque Mundial da UNESCO •Arouca Geoparque Mundial da UNESCO •Açores Geoparque Mundial da UNESCO •Terras de Cavaleiros Geoparque Mundial da UNESCO

48 Património Mundial Natural e Cultural: •Paisagem Cultural de Sintra •Sítios Pré-Históricos de Arte Rupestre do Vale do Rio Côa e de Siega Verde •Alto Douro Vinhateiro •Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico


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A AGENDA 2030 E O ANO INTERNACIONAL DO TURISMO SUSTENTÁVEL A Embaixadora Ana Martinho, presidente da Comissão Nacional da UNESCO, explica importância dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável definidos em janeiro de 2016 e de que forma é que os 17 territórios UNESCO em Portugal pretendem trabalhar em rede tendo como pilares a promoção da economia local, o estímulo à criação de emprego e o uso sustentável dos recursos, com destaque para o turismo. Em janeiro de 2016 entrou em vigor a Resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) “Transformar o nosso mundo: Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável”, constituída por 17 objetivos (ODS) e 169 metas. Estes 17 ODS visam resolver as necessidades das pessoas, tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento. Trata-se assim de um desafio global de um plano de ação para as pessoas, para o planeta e para a prosperidade, com o objectivo sempre presente de fortalecer a paz universal e a erradicação da pobreza em todas as suas formas e dimensões, incluindo a pobreza extrema. Todos estes ODS, interligados entre si, procuram através de parcerias, um caminho mais sustentável e justo, tendo por fio condutor os direitos humanos. São assim integrados e indivisíveis e equilibram as três dimensões do desenvolvimento sustentável: a económica, a social e a ambiental. A UNESCO alia-se a este desígnio estimulando o trabalho em rede entre os seus diferentes Programas e Sectores: mobiliza o apoio da “família”, na qual se incluem designadamente o Património Mundial, o Património Imaterial Cultural, as Reservas da Biosfera, os Geoparques Mundiais da UNESCO, as Cátedras UNESCO, as Escolas Associadas, os Centros e Clubes UNESCO, as Cidades Criativas e as Cidades de Aprendizagem. Através destas redes UNESCO é possível realizar um verdadeiro trabalho em parceria que se espera possa contribuir de forma eficaz e eficiente para a concretização dos ODS

e respetivas metas, para os próximos 15 anos, em áreas de importância crucial para a humanidade e para o planeta. É neste enquadramento, e tendo por pano de fundo os objetivos do Ano Internacional para o Turismo Sustentável celebrado em 2017, que se torna relevante destacar o trabalho realizado por 17 territórios UNESCO no âmbito dos 17 ODS. São os instrumentos de um crescimento inclusivo, sustentável e in-

teligente, tendo como pilares estratégicos a promoção e a inovação na economia local, o estímulo à criação e sustentabilidade de emprego e o uso sustentável dos recursos, com destaque particular para o turismo. Apoiamos a promoção de um turismo sustentável, contribuindo para uma melhor compreensão entre os povos. Propomos uma maior consciência sobre o património das diversas civilizações e dos territórios onde estas se inserem. Acreditamos na criação de novas parcerias e de uma maior solidariedade internacional tal como contemplado na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. Embaixadora Ana Martinho Presidente da Comissão Nacional da UNESCO


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17 TERRITÓRIOS UNESCO, 17 OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL Sob o mote 17 territórios – 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), procura-se dar a conhecer o trabalho e as atividades dinamizadas nos sítios e territórios UNESCO que, apesar de patrimónios diversos, têm valores comuns: desenvolvimento regional sustentado, contribuir para estilos de vida saudáveis e respeitar e conservar o património natural e cultural. Em 1987 o Relatório Brundtland “Our Common Future/ O Nosso Futuro Comum” introduziu conceito de desenvolvimento sustentável na agenda política. Contudo, foi na viragem do século que a Organização das Nações Unidas (ONU) se focou neste conceito e na necessidade de se assumir um compromisso coletivo em torno da Declaração do Milénio e na formulação dos seus Oito Objetivos do Desenvolvimento do Milénio. Sublinhava-se então a necessidade de se estabelecerem parcerias entre os países desenvolvidos e em vias de desenvolvimento, de forma a se atingir um desenvolvimento equitativo e mais justo para todos, mas sobretudo implementando medidas que contribuíssem para a eliminação da pobreza. Procurando reforçar este desígnio mundial, foi posteriormente proclamada a Década das Nações Unidas da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), destacando a Educação enquanto motor para esta mudança. Esta Década possuía na sua essência uma ideia simples mas com implicações complexas. A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) fruto do seu mandato teria, assim, a responsabilidade de promover esta Década, através das suas redes e, sobretudo, através das respetivas Comissões Nacionais. Neste contexto, os 195 Estados Membros teriam 10 anos para através da Educação e de forma transversal envolvendo todos os restantes setores, dedicando cada ano a uma temática diferente, de contribuir

para a reflexão sobre os valores e atitudes capazes de gerarem novos comportamentos que pudessem dar resposta aos desafios mundiais encontrados a nível social, ambiental, económico e até cultural. Com a aprovação da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável em 2015, voltou-se a recentrar no ser humano a busca por um desenvolvimento sustentável, assente na sua forma de estar no planeta, onde a prosperidade possa ser possível para todos e a paz um valor essencial, assente em fortes parcerias, desde o nível local ao global. Assim, de acordo com a ONU, esta Agenda reflete uma nova visão da prosperidade, da paz e a forma como encaramos a nossa vida neste Planeta, para que cada sociedade possa criar e partilhar conhecimentos, cultivar fontes de inovação e criatividade e traçar um caminho mais

inclusivo, sustentável e justo para o futuro. Mais uma vez a UNESCO foi chamada a este desafio de escala global, atendendo às suas competências definidas em novembro de 1945, mas que continuam absolutamente atuais: criar condições para o diálogo entre civilizações, culturas e povos, baseadas no respeito por valores comuns partilhados e orientados para o desenvolvimento sustentável, promovendo uma cultura da paz e o respeito pelos direitos humanos, bem como a erradicação da pobreza. Tendo por preocupações específicas alcançar uma educação para todos, promover uma ciência ao serviço da sociedade e de uma investigação científica e partilha de conhecimentos assentes em princípios éticos, apoiando a expressão de identidades culturais e protegendo a herança natural e cultural do mundo, assente num fluxo livre de informação e comunicação, percebe-se por que razão esta Organização irá colaborar na dinamização dos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) e das suas 169 ambiciosas metas. São múltiplas as redes UNESCO que irão dar certamente o seu contributo para a im-

plementação dos referidos 17 ODS, mas sublinha-se aqui o papel diferenciador que os Sítios classificados como Património Mundial Natural e Cultural, as Reservas da Biosfera e os Geoparques Mundiais da UNESCO Portugueses irão ter na dinamização destes objetivos em prol de um desenvolvimento territorial sustentável. Assim, estas três diferentes designações UNESCO que derivam de Convenções ou Programas distintos, como é o caso da Convenção sobre a Proteção do Património Mundial, Cultural e Natural adotada em 1972, que chancela os Sítios como Património Mundial; o Programa O Homem e a Biosfera (MAB) criado em 1971, que tutela as Reservas da Biosfera; e mais recentemente o Programa Internacional de Geociências e Geoparques (IGGP), estabelecido em 2015, que tutela os Geoparques Mundiais da UNESCO, têm como denominador comum proteger, preservar e transmitir às gerações futuras a necessidade da salvaguarda destes territórios únicos e excecionais. No entanto, todos estes territórios promovem iniciativas que contribuem para um desenvolvimento sustentável, onde a educação, a ciência e a cultura e a envolvência das comunidades locais permitem um trabalho conjunto darão resposta aos 17 ODS da Agenda 2030. O trabalho de gestão desenvolvido diariamente nestes territórios procura sensibilizar as populações para as potencialidades dos mesmos, para o aperfeiçoamento das relações entre as comunidades e o ambiente, visando promover a economia local, o turismo, a fixação de pessoas e a criação de melhores condições de vida para os seus habitantes. No ano em que se celebra o Ano Internacional para o Turismo Sustentável, espera-se que esta comemoração permita dar maior visibilidade ao trabalho realizado

nestes territórios e suscite a curiosidade em visitá-los para os conhecer de forma mais profunda, explorando paisagens, aromas, cores, sabores, afetos, recordações e respeito pelos locais visitados e suas populações, contribuindo para a proteção do património natural e cultural que estes contêm e cujo desaparecimento seria uma perda irreparável para todos os povos do mundo. Alguns destes 17 territórios portugueses cruzam diferentes designações UNESCO. Existem Sítios do Património Mundial que fazem parte de Reservas da Biosfera ou de Geoparques Mundiais da UNESCO e vice-versa, o que permite maximizar sinergias entre os agentes envolvidos com vista a uma salvaguarda integrada, coerente e sustentada. Procura-se assim racionalizar

e potenciar os recursos disponíveis, dando expressão ao último ODS 17 – “Parcerias para a implementação dos Objetivos”. É neste enquadramento que serão destacados nesta edição da Revista I Like This diversos territórios onde se podem encontrar projetos, atividades e exemplos de boas práticas que se deseja sejam inspiradores para outros territórios e que consubstanciem um efetivo contributo para a Agenda 2030 do Desenvolvimento Sustentável. Elizabeth Silva Responsável pelo setor das Ciências da CNU; Coordenadora do Fórum Português de Geoparques Mundiais da UNESCO; Membro do Comité Nacional para o Programa MAB da UNESCO; Perita para o Programa Internacional de Geociências e Geoparques da UNESCO

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“A SUSTENTABILIDADE NO TURISMO É UM OBJETIVO ESTRATÉGICO FUTURO” Na última década, o turismo tem-se afirmado como um dos principais setores económicos em Portugal, sendo que as receitas turísticas representam já 16,7 por cento das exportações globais do país. Garantir e promover a sustentabilidade económica, social e ambiental do turismo é uma das áreas de desenvolvimento prioritário do Turismo de Portugal, explica Luís Araújo, presidente da instituição. Como avalia o turismo sustentável em Portugal nos últimos anos? O turismo converteu-se num dos principais setores económicos em Portugal. A evolução do número de hóspedes nos estabelecimentos hoteleiros passou de 11,5 milhões em 2005 para quase o dobro em 2016 (19,1 milhões). As dormidas passaram de 35,5 milhões para 53,5 milhões e as receitas do turismo de 6,2 mil milhões de euros para 12,7 mil milhões em 2016. Estes números demonstram o papel do turismo como motor de desenvolvimento económico e de geração de riqueza, mas igualmente enquanto veículo de preservação ambiental, de promoção e valorização cultural. Em Portugal, o turismo tem evoluído nesse sentido, tendo a sustentabilidade como base das políticas públicas de desenvolvimento turístico, tanto a nível nacional como local. Hoje, a sustentabilidade no turismo (nas vertentes económica, social e ambiental) é uma área de desenvolvimento prioritário, um elemento basilar das políticas públicas de turismo e constitui um objetivo estratégico em termos futuros. Foi com base nestes pressupostos que Portugal se associou à Organização Mundial do Turismo na celebração do Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento em 2017, valorizando o compromisso que agentes públicos e privados assumem todos os dias para tornar Portugal um destino turístico mais sustentável. De que forma é que Portugal se pode constituir como um destino de referência quando se fala de sustentabilidade? O Governo apresentou recentemente a

Estratégia Turismo 2027, o referencial para o desenvolvimento de políticas públicas e estratégias empresariais no setor do turismo. A visão que definimos nesse contexto passa por afirmar o turismo como hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território, posicionando Portugal como um dos destinos turísticos mais competitivos e sustentáveis do mundo. Portugal, enquanto destino turístico de qualidade, alicerça a sua vantagem competitiva nos princípios de sustentabilidade, na oferta diversificada e na valorização das suas características distintivas e inovadoras, colocando as pessoas

no centro da estratégia. Fomos ambiciosos nesse domínio, definindo metas concretas em cada um dos três pilares de sustentabilidade. No plano económico, pretendemos atingir 80 milhões de dormidas em 2027, ao mesmo tempo que pretendemos crescer em valor e duplicar as receitas turísticas nesse mesmo período. Na vertente social, consideramos a sazonalidade como o maior inimigo do emprego e, nesse contexto, os objetivos passam por alargar a atividade turística a todo o ano, reduzindo o índice de sazonalidade de 37,5 por cento para 33,5 por cento. Ainda em matéria social, pretendemos duplicar o nível de habilitações do ensino secundário e póssecundário no turismo e garantir que 90 por cento da população residente nas zonas de maior densidade turística considere positivo o impacte do turismo no seu território. Por fim, no plano ambiental, os objetivos passam por garantir que 9 em cada 10 empresas do país adotam medidas de ges-

tão eficiente de energia, água e resíduos. A implementação do plano de ação para atingir estas metas será acompanhada de um esforço redobrado em termos de monitorização da sustentabilidade dos destinos, permitindo a avaliação das políticas. Realizamos regularmente inquéritos sobre esta temática, no domínio das boas práticas ambientais e responsabilidade social na hotelaria e do desempenho ambiental dos campos de golfe. Lançaremos até ao final de maio uma bateria de indicadores de sustentabilidade dos destinos e publicaremos o Relatório de Sustentabilidade do Turismo em Portugal. Por outro lado, estão a ser desenvolvidos os trabalhos preparatórios de constituição de um observatório de sustentabilidade na região do Alentejo, numa parceria com a entidade regional do turismo, que se pretende venha a integrar a rede de observatórios da OMT - UNWTO Network of Observatories (INSTO), posicionando Portugal como destino líder nas matérias da sustentabilidade. Lançamos em 2016 a iniciativa Tourism All for All, centrada no Turismo Acessível, colocando Portugal na linha da frente no desenvolvimento de uma das áreas prioritárias do Ano Internacional do Desenvolvimento Turístico Sustentável. Qual a importância do aumento do turismo sustentável no nosso país em termos económicos? Como já referi anteriormente, o turismo é um dos setores económicos que contribui de forma mais eficaz para o desenvolvimento económico e diversificação das atividades geradoras de riqueza. Os resultados do turismo em 2016 vieram reforçar a sua importância para a economia portuguesa. As receitas geradas pelos turistas internacionais atingiram, em 2016, 12,7 mil milhões de euros, mais 10,7 por cento que em 2015. Ainda em termos económicos, as receitas do turismo representaram, em

2016, cerca de 6,9 por cento do PIB. As receitas turísticas representaram 48,2 por cento das exportações de serviços e 16,7 por cento das exportações globais, reforçando o turismo como a principal atividade exportadora do país. Em termos de emprego, só o setor do alojamento e da restauração representam cerca de seis por cento do total do emprego da economia. Quais as estratégias do Turismo de Portugal para promoção dos destinos de turismo sustentável? A sustentabilidade do nosso modelo de desenvolvimento turístico constitui um ativo fundamental da nossa estratégia promocional. Gostaria de dar dois exemplos paradigmáticos neste domínio. O primeiro é o projeto Portuguese Trails, marca criada pelo Turismo de Portugal para comunicar

internacionalmente as atividades de Turismo de Natureza, que teve um foco inicial no Cycling & Walking na região do Algarve, mas que iremos estender às restantes regiões. O património representa outro dos ativos fundamentais da nossa oferta. Temos uma agenda muito ampla nesse domínio, que envolve desde o desenvolvimento dos Roteiros Turísticos do Património Mundial em Portugal ao Programa Revive, programa pioneiro que visa promover e agilizar os processos de rentabilização e preservação de património público que se encontra devoluto, tornando-o apto para afetação a uma atividade económica com finalidade turística, gerar riqueza e postos de trabalho, promover o reforço da atratividade de destinos regionais, a desconcentração da procura e o desenvolvimento de várias regiões do país.

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GEOPARQUES MUNDIAIS DA UNESCO


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NATURTEJO DA MESETA MERIDIONAL GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO É um território que se encontra na vanguarda do desenvolvimento sustentável. Destino privilegiado para a prática de Turismo de Natureza, o Geopark Naturtejo, Geoparque Mundial da UNESCO cruza um património geológico único com experiências e vivências inesquecíveis. Deixe-se cativar por este território e desvende toda a sua beleza. O Geopark Naturtejo, Geoparque Mundial da UNESCO é um vasto território, entre a Raia, o Pinhal Interior e o Alentejo, que integra os municípios de Castelo Branco, Idanha-a-Nova, Nisa, Oleiros, Penamacor, Proença-a-Nova e Vila Velha de Ródão. Uma região de paisagens das mais antigas que existem em Portugal, com uma riqueza ímpar em geodiversidade. Pioneiro e inovador, o Geopark Naturtejo foi o primeiro geoparque português e integra a Rede de Geoparques Mundiais da UNESCO, uma chancela internacional que promove o equilíbrio entre o Homem e a Natureza. Trata-se de um território de conservação, educação, turismo e inovação que vai encontro dos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas, contemplados numa gestão comprometida com o desenvolvimento sustentável. Com mais de 10 anos de atividade, o Geopark Naturtejo tem-se notabilizado pela defesa e promoção de valores ambientais e por estimular o crescimento económico inclusivo e sustentável do seu território, apoiado na criação de riqueza e emprego locais. O contributo tem sido particularmente notável para o amadurecimento turístico de toda uma região, sua afirmação nacional e internacional. O enfoque no Turismo de Natureza e na certificação e qualificação do alojamento, da restauração, animação

e produtos tradicionais, são evidências do trabalho de grande proximidade com as comunidades locais. Em números, o balanço de uma década de Geopark Naturtejo sustenta-se, por exemplo, no crescimento de 228 por cento de unidades hoteleiras, por todo o seu território. Um dos fatores positivos deste sucesso é o facto do Geopark Naturtejo apresentar um

vasto conjunto de programas para a descoberta de todas as suas riquezas e ter uma equipa sempre disponível para ajudar o visitante a preparar as suas férias, de acordo com os seus interesses e expectativas. As propostas vão desde atividades mais experienciais – turismo ativo, percursos pedestres, de bicicleta, escalada e canoagem, a Grande Rota Muradal-Pangeia no Trilho Internacional dos Apalaches, que liga este território aos EUA para os mais ousados – às visitas acompanhadas por guias locais que explicam a importância ecológica da geodiversidade da mesma forma que introduzem a história local e as memórias ou vivências presentes. Pode-se ainda referir os inúmeros festivais

e feiras temáticas, os geoprodutos certificados pelo Geopark Naturtejo, o Boom Festival, o Fora do Lugar e o Salva a Terra, eventos internacionais que têm sempre uma preocupação ecológica e de bem-estar individual e coletivo. As sugestões são infinitas. Deixar-se seduzir pelas Aldeias Histórias ou Aldeias do Xisto da região, admirar os vestígios fósseis de Penha Garcia, ou desfrutar de bucólicos passeios de barco em plena natureza no Monumento Natural das Portas de Ródão da Serra da Gardunha e no Parque Natural do Tejo Internacional. Ou, tão simplesmente, usufruir de uma merenda, de um romântico momento, ou da paz de uma sombra nas margens de um rio selvagem ou de uma albufeira de lisas águas. A dimensão de 5000 quilómetros quadrados dá escala ao Geopark Naturtejo, permite ser um destino de qualidade, diversificado e com inúmeros fatores de atração. Com o objetivo de satisfazer as necessidades e exigências de todo o tipo de visitantes, promove-se uma oferta cada vez mais inovadora, até pelas responsabilidades que este Geopark desempenha na representação oficial da Rede de Geoparques Mundiais da UNESCO em algumas das principais feiras de turismo do mundo, como a FITUR em Madrid e a ITB em Berlim. Por outro lado, o Geopark Naturtejo tem uma ligação única à comunidade local. Percebeu cedo que a grande valia do projeto reside no envolvimento das populações locais no desenvolvimento, preservação e valorização do património que o caracteriza. Foi assim desde o início e só assim faz sentido. O desenvolvimento sustentável do território é a meta que está sempre presente. Geopark Naturtejo

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A ação do Arouca Geopark centra-se, essencialmente, em três vetores: a geoconservação, a geoeducação e o geoturismo. No caso da geoconservação, as preocupações do Arouca Geopark passam pela inventariação, classificação, conservação, valorização e divulgação dos seus geossítios (sítios de interesse geológico). No caso da geoeducação, ganham particular relevância os Programas Educativos, que abrem as portas de um verdadeiro “laboratório a céu aberto” a visitas interpretadas para alunos e professores, ou grupos que o requisitem. No âmbito do

Como podemos ver, esta estratégia de desenvolvimento sustentável assenta fortemente nos recursos endógenos. Se, por um lado, só podemos preservar o que conhecemos, é importante esta gestão entre preservação/conhecimento e divulgação/utilização. No Arouca Geopark tem sido possível e profícuo este equilíbrio, com uma dinâmica económica crescente, baseada no turismo de natureza. Tem sido, portanto, possível conjugar as

É, portanto, difícil eleger um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) sem o interligarmos com vários outros. Se é vocação do Arouca Geopark lançar parcerias para implementar o desenvolvimento sustentável (ODS 17), é, também, proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos recursos (ODS 15). Assim como assegurar padres de produção e consumo sustentáveis (ODS 12) e implementar medidas para combater as alterações climáticas (ODS 13). O mesmo acontece com a preocupação com as comunidades sustentáveis (ODS 11) e a educação inclusiva, de que os Programas Educativos e a ação pedagógica são

bons exemplos (ODS 4). De uma forma ou de outra, a estratégia geopark acaba por tocar em todos os objetivos deste documento, que se revela verdadeiramente estruturante no que diz respeito ao desenvolvimento sustentável. Mas, para compreender melhor tudo isto, nada como ver com os seus próprios olhos. Subir à Serra da Freita, encher os pulmões de ar puro nos miradouros de São Pedro Velho ou do Detrelo da Malhada. Cruzar-se com as pacatas vacas de Raça Arouquesa que se alimentam do pasto natural por estas paragens. Encher o olhar com a magnificência da Frecha da Mizarela, uma das mais altas e belas cascatas da Europa. E conhecer o fenómeno das Pedras Parideiras, no seu Centro de Interpretação, vendo como esta curiosa ocorrência geológica se cruza com as origens do Planeta. Descendo à vila há, obviamente, que parar no Mosteiro de Arouca, e perceber como a história do nosso país também teve aqui páginas douradas. E, subindo de novo, há que passar pelo Centro de Interpretação Geológica de Canelas e ver alguns dos maiores exemplares de fósseis de trilobites do mundo. Daqui, o caminho segue em direção ao Rio Paiva, com as suas águas bravas a convidar à descida em “rafting” ou “kayak”. Ou então, para quem quiser uma aventura menos radical, acompanhar o correr das águas ao longo dos famosos Passadiços do Paiva (premiados nos World Travel Awards de 2016 como Projeto Turístico Inovador na Europa e nomeados em duas categorias para a edição deste ano). Durante a caminhada verá que vale a pena fazê-la olhando para os recursos com este olhar sustentável. Que é, cada vez mais, o de cada um de nós. Arouca Geopark

© Gabriel Soeiro Mendes2

Se olharmos atentamente para a paisagem que nos rodeia, seja ela mais natural ou mais urbana, verificamos, sem grande dificuldade, que é sobre a geologia do planeta que tudo assenta. No caso da paisagem natural, no caso do Arouca Geopark, a riqueza geológica é, sem dúvida, decisiva para que encontremos, a cada passo, uma ordem, uma beleza, um testemunho forte da história da vida na Terra. Das montanhas que parecem tocar o céu, aos rios de águas cristalinas, das aldeias tradicionais, aos vales, hoje sabiamente habitados, é a partir do território, do que ele dispõe ao longo dos seus 328 quilómetros quadrados, do que o homem foi construindo (material e imaterial) sobre ele, que se constrói o Arouca Geopark. Para além da rocha sobre a qual o homem foi construindo a vida, há, também, as raízes, que as tradições, o folclore, a etnografia e a gastronomia alimentam e mantêm vivas.

geoturismo, o Arouca Geopark deu contributos relevantes à sua definição. É na “Declaração de Arouca”, saída do Congresso Internacional de Geoturismo que aqui decorreu, que se define este conceito como o de um turismo que sustenta e fomenta a identidade de um território, não só a partir da geologia, mas do ambiente, da cultura, dos valores estéticos, do património e do bem-estar dos residentes.

vertentes económica, social e ambiental, com as pessoas, pelo planeta, para a prosperidade e em parceria(s). De resto, este último aspeto tem sido fundamental para que tudo se integre, para que o território ganhe a coerência que lhe reconhecemos. No geopark é fundamental que todos os arouquenses sintam este património como seu e esta dinâmica como benéfica para si, abrindo as portas aos que nos visitam. Cada arouquense é parte integrante do Arouca Geopark, um rosto, um guia, um intérprete.

© Avelino Vieira

É interessante verificarmos como o conceito de Geopark e a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável têm tanto em comum. Pelo seu caráter holístico, os geoparks têm como missão unir praticamente todos estes objetivos num só: o desenvolvimento sustentável. Com resiliência, espírito de colaboração e sentido de futuro.

© João Martins

AROUCA GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO



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AÇORES GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO O Geoparque Açores constituiu o primeiro geoparque verdadeiramente arquipelágico, onde as nove ilhas que o integram são povoadas e possuem infraestruturas e serviços que garantem o desenvolvimento das atividades do geoparque. Assenta numa rede de 121 geossítios dispersos pelas ilhas e zona marinha envolvente, que garantem a representatividade da geodiversidade açoriana e traduzem a sua história geológica e eruptiva, com estratégias de conservação e promoção. O arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas e alguns ilhéus. Localizado em pleno Oceano Atlântico Norte, constitui, juntamente com os arquipélagos da Madeira, Canárias e Cabo Verde, a Macaronésia, designação que significa “ilhas afortunadas”. O arquipélago apresenta uma rica e vasta geodiversidade e um importante património geológico, que retratam elementos intimamente ligados às dinâmicas do planeta Terra e, em especial, ao vulcanismo e à geotectónica desta região do Globo, constituindo um laboratório natural de geodiversidade vulcânica. Tendo por base a geodiversidade, o seu património geológico e a importância das suas paisagens, foi criado em 2010 o Geoparque Açores, sendo reconhecido como Geoparque Europeu no dia 21 de março de 2013 e como Geoparque Mundial da UNESCO em novembro de 2015. Constituiu o primeiro geoparque verdadeiramente arquipelágico, onde as nove ilhas que o integram são povoadas e possuem infraestruturas e serviços que garantem o desenvolvimento das atividades do geoparque. O Geoparque Açores assenta numa rede de 121 geossítios identificados e dispersos pelas nove ilhas e zona marinha envolvente, que garantem a representatividade da geodiversidade açoriana e traduzem a sua história geológica e eruptiva, com estratégias de conservação e promoção comuns. O geoparque alia uma estratégia de geoconservação a políticas de educação e sensibilização ambientais e à

promoção de um desenvolvimento socioeconómico sustentável baseado no geoturismo, através de um trabalho em rede que une toda a equipa e os diversos parceiros do geoparque dispersos nas nove ilhas. A par do património geológico existem no arquipélago outros valores de referência, como é o caso de uma rica biodiversidade e património arquitetónico, cultural, etnográfico e imaterial de inegável valor. Desde o povoamento do arquipélago, no século XV, a riqueza natural e paisagística dos Açores constitui uma importante fonte de interesse. Desde as últimas décadas do século XX há um incremento nas preocupações de salvaguarda e valorização do património geológico açoriano, com reflexo na legislação, na implementação de medidas de geoconservação e, nos últimos anos, com a implementação do Geoparque Açores. Neste âmbito, de-

corre mensalmente a monitorização das condições ambientais e de visitação dos geossítios terrestres do Geoparque Açores, em colaboração com os Vigilantes de Natureza dos Açores, e está em fase de experimentação a monitorização das zonas costeiras e geossítios marinhos. Desde o final da década de 1990 têm sido desenvolvidas diversas atividades de educação e sensibilização ambiental nos Açores, sobretudo associadas às Ecotecas e Ecoescolas e, mais recentemente, ao Geoparque Açores. Os programas educativos do geoparque focam-se na geodiversidade, património geológico, geoconservação e demais questões relacionadas com as geociências, sociedade, ambiente e sustentabilidade, pretendendo ser veículos de promoção do estudo das Ciências da Terra e do Ambiente e estimular o espírito crítico e científico da população estudantil. Estão disponíveis conteúdos e atividades ajustados aos currículos escolares e aos diferentes níveis de ensino e acompanhamento de visitas de estudo. O geoturismo vem sendo praticado no arquipélago desde o seu povoamento, no entanto só nos últimos tem sido desenvolvido e promovido de forma estruturada. Esta

vertente turística constitui um importante instrumento de valorização de um geoparque, enquanto promotor da economia local ou regional, através de um turismo sustentável alicerçado na geologia e na valorização das geopaisagens. Neste contexto, a integração dos serviços e infraestruturas já existentes, com novos serviços e produtos interpretativos permite implementar um geoturismo de qualidade na região, em estreita ligação com outras vertentes do Turismo de Natureza. O Geoparque Açores tem contribuindo através das suas parcerias, formação a profissionais de turismo e fomentando a criação de geoprodutos. Desde cedo os açorianos aprenderam a viver o dia-a-dia com os vulcões e sismos, tirando partido dos solos férteis, recursos geológicos e bonitas paisagens para a promoção do seu desenvolvimento socioeconómico. A relação homem/ geodiversidade é evidente nas atividades quotidianas, como cozinhar no calor dos vulcões ou banhar nas águas termais, condicionando, também, a arquitetura regional (popular, religiosa e militar), a cultura (arte, gastronomia e toponímia), a etnografia (costumes e tradições) e o próprio património imaterial (histórias e lendas), para além da grande influência que tem na biodiversidade das ilhas. Conhecer os vulcões, as lagoas, as plantações de chá, observar cetáceos, mergulhar no oceano azul, calcorrear a pé as ilhas e degustar o cozido das Furnas, a doçaria regional e os vinhos regionais, são algumas das muitas sugestões para desfrutar no arquipélago. Venha, pois, conhecer os vulcões dos Açores e desfrute de uma erupção de Sabores, Aromas e Experiências! Geoparque Açores

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TERRAS DE CAVALEIROS GEOPARQUE MUNDIAL DA UNESCO O Geopark Terras de Cavaleiros, correspondendo a toda a área administrativa do concelho de Macedo de Cavaleiros, é um território de excecionais valores naturais, históricos, culturais e humanos, integrante das Redes Europeia e Global de Geoparques, desde 2014, e do “Programa de Geociências e Geoparques da UNESCO”, desde 2015. Uma viagem ao interior da terra; raras e espetaculares espécies de fauna e flora; belas paisagens; monumentos históricos notáveis; incomensuráveis riquezas gastronómicas; tradições seculares e gentes com muitas estórias para contar… Bemvindo a Terras de Cavaleiros, Geopark Mundial da UNESCO. Um território que recebe de braços abertos quem o visita. 700 quilómetros quadrados de área, com múltiplos e singulares fenómenos geológicos que remontam a 500 milhões de anos, e marcados pela ruralidade, atividades e festividades, essencialmente associadas ao calendário agrícola e religioso, sendo muitos os grupos que mantêm vivas as tradições e a cultura das gentes, a identidade do Geopark Terras de Cavaleiros. Damos-lhe a conhecer três destes grupos: Os Caretos de Podence. São cada vez mais aqueles que os conhecem. Uma tradição de origens que se perdem no tempo, mantêm uma vitalidade apreciável, responsável por um dos eventos de maior interesse no território: O Carnaval Mais Genuíno de Portugal. A Festa de Carnaval dos Caretos de Podence é, agora, Património Cultural Imaterial de Portugal, em processo de candidatura ao reconhecimento da UNESCO. Homens com trajes feitos de manta e franjas coloridas e chocalhos à cintura, que desde tempos remotos saem à rua, na época de Carnaval, e mantêm o ritual de chocalhar as raparigas novas e soltei-

ras. A tradição dos Caretos de Podence, associada a um ritual pagão que atravessa gerações, é, naturalmente, embaixadora cultural do território.

Os Pauliteiros de Salselas - grupo que à semelhança do anterior é apenas constituído por homens – preservam uma tradição e manifestação cultural extraordinária. Os homens, cujos trajes característicos que envergam são constituídos por calções, saias, coletes, chapéus com rosas e fitas, meias de lã e botas de cabedal típicas do território, dançam acompanhados por paus, com os quais fazem uma série de diferentes passos e movimentos coordenados.

Estas danças dos paus representam momentos históricos, artes e ofícios agrícolas que fazem parte da identidade das gentes que habitam o território. Não se conhece, com precisão, a origem desta dança, contudo há quem defenda que se trata de uma dança guerreira que advém dos Greco-Romanos e que os homens foram adaptando e transformando à sua maneira. O Grupo Cultural e Recreativo da Casa do Povo de Macedo de Cavaleiros é responsável pela preservação e interpretação das danças e cantares tradicionais do Geopark, num reportório baseado num trabalho cuidado de recolha em todo o concelho. Um grupo que conta, aproximadamente, com 40 anos de existência, cujos trajes são essencialmente trajes de trabalho, de romaria ou domingueiros ou ainda de lavradores abastados. As danças que exibem fazem parte do reportório tradicional dos jogos de roda e de outras danças associadas ao trabalho agrícola. Preservar e promover todo o património natural, histórico, tradicional e humano e consequente desenvolvimento local, integrado e sustentável, são alguns dos princípios nos quais assentam os objetivos do Geopark Terras de Cavaleiros, bem enquadrados no Programa de Geociências e Geoparques da UNESCO que integra. O trabalho da Associação Geoparque Terras de Cavaleiros centra-se no apoio e desenvolvimento de múltiplas atividades educativas e turísticas. Os Programas Educativos que vão ao encontro dos mais diversos níveis de ensino e às diferentes áreas do saber e os Programas Turísticos que proporcionam a vivência de experiências verdadeiramente únicas. Geopark Terras de Cavaleiros

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RESERVAS DA BIOSFERA


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RESERVA DA BIOSFERA DO PAUL DO BOQUILOBO O Paul do Boquilobo é o maior ecossistema aquático representativo de zonas húmidas interiores, outrora comuns por todo o território de Portugal. Sem prejuízo duma elevada biodiversidade a nível da fauna em geral, as aves constituem o seu principal valor, razão da sua classificação como Reserva Natural pelo Decreto -Lei nº 198/80, de 24 de junho. O reconhecimento internacional desta região foi confirmado pela sua classificação, em 1981, como Reserva da Biosfera, sendo a primeira Área Protegida portuguesa a que foi concedida esta importante distinção. Em 1996 foi também considerada uma Zona Húmida de Importância Internacional ao abrigo da Convenção de Ramsar. Desde 1999, devido à sua importância para a avifauna, está também classificada como uma Zona de Proteção Especial, de acordo com a Diretiva Aves n.º 2009/147/CE. Em 1991 foi inventariada como Biótopo CORINE C21400012. Esta região, que inclui não só a reserva natural, mas também uma vasta área dos concelhos de Golegã e Torres Novas, alberga uma importante colónia de garças, de colhereiros e outras espécies vindas em parte do continente africano. Recebe significativas populações de anatídeos do norte da Europa. É ponto importante nas migrações outonais de passeriformes e outras aves e nela ocorrem ou nidificam algumas espécies raras em Portugal e na Europa. Tendo em conta os objetivos da agenda 2030, pretendemos a curto prazo incorporar na região um novo paradigma de desenvolvimento que assentará numa ótica de conservação e valorização da natureza e dos recursos naturais, numa economia baseada no capital natural e na incorporação do seu valor de sustentabilidade ambiental, social e económica.

A Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo será, a médio prazo, um dos territórios mais qualificados, atrativos e produtivos da região, combinando a conservação da natureza com o desenvolvimento económico sustentável, contribuindo assim para os objetivos da agenda 2030 das Nações Unidas. Para este facto, a chancela da Unesco de Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo muito contribuirá para a sua valorização. A Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo apresenta-se como um espaço com elevadas potencialidades para se afirmar como um destino turístico sustentável. Os produtos de turismo da natureza, cultural, turismo equestre, turismo em espaço rural e outros emergentes identificam-se como potenciais dinamizadores deste território classificado.

O património genético, nomeadamente do cavalo lusitano, a museografia, o património arquitetónico (na sua maioria património religioso com grande interesse, parte dele classificado e reconhecido pelos visitantes), o património material, o património rural, são símbolos de qualidade. O território é rico em paisagem e tradição, características propiciadoras ao seu desenvolvimento. O património artístico, memória de tempos passados, tem sido, na última década, alvo de musealização da paisagem através da construção de monumentos que contam a história de um povo. Os relevantes eventos culturais e de lazer, onde na feira nacional do cavalo se destaca e elevado número de visitantes, propiciam desta forma um modelo de desenvolvimento sustentável, apreciada qualidade de vida, governabilidade consistente e coesão social, a caminho da sociedade do conhecimento. Atreva-se e visite-nos. Disfrute do prazer do mundo rural, aprecie a biodiversidade, a natureza, a cultura, a gastronomia. Reserva da Biosfera do Paul do Boquilobo


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RESERVA DA BIOSFERA DA ILHA DO CORVO

Na sequência deste plano, podemos verificar que as atividades dos Corvinos estão intimamente ligadas a um aproveitamento sustentável dos recursos naturais e frequentemente desenvolvem várias atividades de modo a garantir o sustento. A população corvina aprendeu, desde cedo, que vive num local especial e que para sobreviver tem de manter os seus labores em equilíbrio com a natureza. Este é um belo exemplo de como a gestão do território da Reserva da Biosfera do Corvo contempla práticas enquadráveis na Agenda 2030 da UNESCO. A implementação do projeto “Corvo Sustentável”, que resultou do contrato ARAAL assinado entre o Governo Regional dos Açores e a Câmara Municipal do Corvo, processo de substituição dos equipamentos de gás de petróleo liquefeito, visando a instalação de painéis solares e bombas de calor para aquecimento de águas sanitárias em todas as residências da ilha que estão alocadas à habitação permanente. Este evidencia as preocupações do Governo dos Açores no aproveitamento das fontes de energia endógenas em alternativa aos combustíveis fósseis. A instalação daqueles equipamentos veio refletir-se numa poupança económica significativa para as

Este projeto marca a primeira etapa para que num futuro próximo o Corvo reúna condições para implantar um sistema integrado de energias alternativas, conjugando, para além dos painéis solares, energia eólica e energia hídrica, alcançando, assim, um projeto sustentável ao nível energético. Em 2012, com a inauguração do Centro de Processamento de Resíduos, o Corvo deu um grande passo ao nível da gestão de resíduos municipais. O equipamento veio dotar o concelho das infraestruturas necessárias para corresponder ao especificado no Plano Estratégico de Gestão de Resíduos da Região Autónoma dos Açores. O centro constitui um investimento estratégico para reduzir o impacto ambiental na ilha e garan-

A criação do Centro de Reabilitação de Aves Selvagens do Corvo, pelo Governo Regional dos Açores, estrutura pioneira nos Açores, vocacionada para a recuperação e reabilitação de aves selvagens, possibilita que o Parque Natural desenvolva uma importante ação ao nível da educação ambiental e da preservação de espécies. Ao nível da salvaguarda do património cultural, decorre presentemente o projeto Ecomuseu do Corvo, inserido na Rede Regional de Museus dos Açores. A estrutura, implementada por iniciativa do Governo

Regional dos Açores, está encarregue da caraterização do território, do caráter das suas gentes e da história da comunidade, para salvaguarda e valorização da identidade cultural do Corvo. Associado a esta Reserva da Biosfera existem elementos de biodiversidade e de geodiversidade merecedores de destaque, como por exemplo, a existência de espécies endémicas de flora, fauna e Geossítios do Geoparque Açores, Geoparque Mundial da UNESCO. A juntar a estes elementos temos a importante zona húmida do Caldeirão, classificada como sítio Ramsar. Além da preservação dos valores naturais, outras atividades encontram enquadramento na Agenda 2030, como é o caso da observação de aves, atividade que inclui a ilha do Corvo no circuito do birdwatching internacional. A possibilidade de mergulhar na Reserva Voluntária do “Caneiro dos Meros”, área que é respeitada através da conciliação de boas vontades da comunidade de pescadores, caçadores e agentes turísticos, assemelha-se a uma viagem no tempo, que nos recorda como foram os nossos mares antes da pesca intensiva e como podem ser, quando são tomadas as medidas certas para salvaguardar o património natural. Quatrocentas e poucas pessoas chegam para fazer uma festa e para manterem vivas as devoções ancestrais. Motivo porque no Corvo, como em todas as ilhas deste arquipélago, as festas do Espírito Santo congregam toda a população. Entre as celebrações de cariz religioso e profano destacam-se as festividades em honra de Nossa Senhora dos Milagres – Festa da Padroeira (que se realiza a 15 de agosto de cada ano), à qual se associa o Festival dos Moinhos. Reserva da Biosfera da Ilha do Corvo

© Nuno Sá

famílias e ainda na redução da emissão de gases nocivos para atmosfera, que decorre da utilização de combustíveis fósseis.

tir a sustentabilidade ambiental da Região. No âmbito da biodiversidade e conservação da natureza, desenvolveu-se o Projeto LIFE – “Ilhas Santuário para as Aves Marinhas”, que decorreu entre 2009 e 2012. Projeto pioneiro para a conservação das colónias de aves marinhas nos Açores, visando a recuperação do seu habitat e a implementação de medidas de controlo e erradicação de espécies invasoras introduzidas. Após a sua conclusão foi implementado o plano de Ação Pós-Projeto Life, que visa dar continuidade aos compromissos assumidos aquando da implementação do projeto.

© Siaram

A ilha do Corvo, a menor das ilhas dos Açores, situada no extremo noroeste do arquipélago, foi reconhecida em setembro de 2007 como Reserva da Biosfera. A ilha e uma zona marinha envolvente constituem uma das 669 Reservas da Biosfera reconhecidas pela UNESCO que existem em todo o mundo. Em Lima, no Peru, há cerca de um ano, a UNESCO adotou um novo plano de ação para a Rede Mundial de Reservas da Biosfera. O documento impulsiona estes espaços como motor para alcançar os objetivos do desenvolvimento sustentável de 2030 e para a luta contra as alterações climáticas.

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© Kathy Rita

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Este reconhecimento reflete as características únicas da ilha de que são singular exemplo o Ilhéu da Praia, onde nidifica a mais importante e diversificada colónia de aves marinhas dos Açores, a Furna do Enxofre, imponente caverna lávica que ostenta a maior cúpula vulcânica da Europa, e a peculiar arquitetura rural promotora da denominada “Casa da Graciosa” e a “Arquitetura da Água”, original expressão da carência de água que sempre fustigou as gentes da Ilha Graciosa. Mas são, sem dúvida, os ilhéus o que maior valor acrescentou à candidatura da ilha a Reserva da Biosfera. Constituindo importantes habitats de nidificação para aves marinhas, servem igualmente como áreas de descanso/passagem de aves migratórias. Tão singular fauna tem fomentado o seu estudo e acompanhamento por parte da

À semelhança das demais ilhas do arquipélago, o povoamento da Graciosa discorre ao longo de vários anos no propósito de se garantir a sustentabilidade das gentes que nela se fixaram. A necessidade de garantir o uso sustentável de um território finito, in-

Este objetivo tem hoje uma maior relevância, uma vez que a sustentabilidade destes territórios passa pela valorização da proteção, recuperação e divulgação dos habitats e espécies locais numa lógica diferenciadora da Ilha Graciosa no panorama regional, nacional e internacional. Em 2015 ocorreu o reconhecimento da população local de asininos como raça autóctone – Burro da Graciosa – manifestação que permite o reconhecimento e preservação desta espécie pecuária.

Para além da preservação dos valores naturais, outras ações são integradas nos objetivos da Agenda 2030, como é o caso da promoção da Ilha Graciosa como o principal destino do arquipélago para o turismo de natureza nas vertentes da ornitologia e marinha, face à multiplicidade e diversidade de ambientes subaquáticos que compreendem uma grande riqueza de nichos ecológicos e ao potencial da ilha na observação de aves marinhas, atendendo à diversidade das colónias que nidificam nos diversos ilhéus e linha de costa. As características naturais da Ilha Graciosa refletiram-se na sua arquitetura, sendo o centro urbano da Vila de Santa Cruz da Graciosa classificado como conjunto de interesse público, através de decreto legislativo regional nº.10/88/A, por ser um local de interesse urbanístico, arquitetónico e histórico. As festividades e tradições musicais estão fortemente enraizadas na Ilha Graciosa. Destas celebrações destaca-se a grandiosa Festa do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Reserva da Biosfera da Ilha da Graciosa

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comunidade científica que resultou, em 2008, na descoberta de uma nova espécie de ave marinha para a ciência, um endemismo local denominado painho-de-monteiro (Hydrobates monteiroi) que nidifica nos ilhéus da Graciosa. Por outro lado, detentora de uma orla costeira facilmente acessível a partir dos inúmeros portinhos tradicionais e de um fundo marinho particularmente belo, tem vindo a destacar-se no arquipélago como “capital do mergulho dos Açores”, numa interessante dinâmica local de procura de atividades económicas ambientalmente sustentáveis.

Ainda no que concerne a objetivos da Agenda 2030, designadamente no que respeita a garantir o acesso a fontes de energia fiáveis, sustentáveis e modernas para todos, na Graciosa está a ser implantado um projeto pioneiro, gerido pela empresa Younicos, que procura tornar a ilha independente de fontes de energia não renováveis. O modelo aplicado visa a construção de um parque eólico e de um parque fotovoltaico, incluindo uma central de baterias para o armazenamento de energia produzida, que permitirá que 65 por cento da energia consumida na Ilha Graciosa seja proveniente de fontes renováveis e que sejam eliminadas menos 134 mil toneladas de CO2 nos próximos 20 anos.

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Desde sempre a Graciosa, a mais pequena das cinco ilhas do grupo central, se evidenciou das demais ilhas do arquipélago pelo seu suave e baixo-relevo. Por ser a mais baixa das ilhas açorianas é também a que denota a menor pluviosidade do arquipélago. Tais constrangimentos são, no entanto, compensados por um vasto conjunto de valores paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais únicos que fizeram com que, em setembro de 2007, a Ilha Graciosa passasse a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO por decisão do Bureau do Conselho Internacional de Coordenação do Programa MaB - Man and the Biosphere (O Homem e a Biosfera).

sular, com apenas 60,66 quilómetros quadrados, e a continuidade dos seus recursos, para assegurar o regular sustento das suas gentes, desde sempre as incitou a uma gestão ponderada dos recursos naturais, particularmente da água e do solo. Tais usos garantiram uma qualidade ambiental que subsistiu até aos nossos dias, nomeadamente, através da manutenção das funções e componentes do ecossistema onde se assegurou as condições de vida à população e a outros seres vivos, muito à semelhança do atualmente preconizado pela Agenda 2030 das Nações Unidas, no que concerne à proteção da vida marinha e terrestre.

© ©Siaram Siaram

Em 2007 a Ilha Graciosa passou a integrar a Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO. Tal reconhecimento advém de um conjunto de valores paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais únicos que perduram, refletindo um desenvolvimento sustentável baseado no conhecimento empírico que sempre guiou os Graciosenses.

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RESERVA DA BIOSFERA DA ILHA DA GRACIOSA


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RESERVA DA BIOSFERA DA ILHA DAS FLORES

A Reserva da Biosfera apresenta áreas de importância internacional por servirem de local de nidificação a importantes espécies de aves marinhas. Contempla igualmente quatro áreas integradas na Rede Natura 2000 da União Europeia: duas Zonas de Proteção Especial e dois Sítios de Importância Comunitária. Estão identificados 24 habitats naturais do Anexo I da Diretiva Habitats da União Europeia, dos quais cinco são prioritários. A ilha apresenta um relevo vigoroso, com uma estrutura planáltica em dois degraus, de onde se projetam vários aparelhos vulcânicos. Nas zonas aplanadas envolventes destes cones ocorre um grupo de caldeiras ou lagoas, antigas crateras rasas ou fundas, com água acumulada na sua parte inferior. As zonas altas e húmidas do Planalto Central contêm a maior turfeira da região, vital para o equilíbrio hídrico da ilha e para as características ribeiras e cascatas, que a definem paisagisticamente. As turfeiras altas ativas e as turfeiras arborizadas são habitats prioritários (Diretiva Habitats), estando estas últimas associadas à maior floresta de cedro-do-mato (Juniperus brevifolia) dos Açores. Também estão representados dois outros tipos de habitat prioritário, as charnecas macaronésias endémicas e a floresta

O litoral da ilha apresenta arribas altas e exibe um vigoroso recorte, complementado por inúmeros ilhéus e penedos localizados na proximidade da costa. As dificuldades de acesso preservaram ao longo dos séculos a importância destes locais como áreas de nidificação de espécies importantes de aves marinhas. O importante património natural, paisagístico e cultural, reconhecido internacionalmente, esteve na base da criação, pelo Governo Regional dos Açores, do Parque Natural da

A elevação da ilha a Reserva da Biosfera veio também reforçar a legitimidade das ações promovidas pelo Parque Natural da Ilha e projetá-la internacionalmente, encorajando atividades que valorizem a biodiversidade, desde o turismo à exportação de produtos locais. Veio também incentivar projetos de investigação com reflexos na gestão dos ecossistemas, promovendo a cooperação internacional e valorizar os incentivos locais no sentido de um desenvolvimento sustentável que recompense os conhecimentos locais e a ligação entre as atividades humanas e a diversidade biológica. A reestruturação das atividades e a revitalização da economia local têm sido uma importante meta dos Municípios, do Go-

A ilha das Flores tem suscitado o interesse de investigadores residentes no arquipélago e/ou visitantes. A investigação desenvolvida na ilha das Flores tem sido diversificada, abrangendo várias temáticas como estudos de biologia e ecologia de organismos, caracterização de populações, comunidades e sistemas, caracterização geomorfológica, hidrológica, vulcanológica, climática, aspetos demográficos, socioeconómicos, culturais, entre outros. Considerando as atividades já desenvolvidas e em curso, e a importância da ilha das Flores no contexto do arquipélago dos Açores e Atlântico Norte, esta representa um laboratório natural ideal para a implementação de planos e modelos de gestão integrada. Os resultados dos projetos desenvolvidos têm sido igualmente utilizados na criação de material e iniciativas de sensibilização, educação e divulgação ambiental, promovidas dentro e fora da ilha. A este nível desempenha importante papel a Ecoteca das Flores, que dispõe de um espaço privilegiado para garantir apoio logístico ao desenvolvimento destas ações. A construção do Centro de Interpretação Ambiental e do Boqueirão, da responsabilidade do Governo Regional, veio criar uma estrutura multidisciplinar e apoiada em novas tecnologias, vocacionada para despertar o interesse dos visitantes para o conhecimento dos habitats e recursos naturais e para o estudo do Oceano.

© Siaram

de Laurissilva. A Rocha dos Bordões, com a sua rara estrutura prismática de grandes dimensões, é um emblema paisagístico da ilha e do arquipélago, classificado como Monumento Natural.

verno Regional e dos empresários locais, traduzindo-se na elaboração e implementação de diversos instrumentos, dos quais se destacam os Planos Diretores Municipais dos dois concelhos (PDM), o Plano Regional de Ordenamento do Território dos Açores (PROTA), o Plano de Desenvolvimento Sustentável da Região Autónoma dos Açores (PReDSA) e o Plano de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores (POTRAA).

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A Reserva da Biosfera está centralizada na ilha das Flores, a sexta ilha do Arquipélago. A Reserva compreende toda a área emersa da ilha e uma zona marinha adjacente, cobrindo uma área total de 58.619 hectares, contendo no seu interior valores paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais únicos a nível regional, nacional e internacional.

Ilha das Flores. Este parque veio dar estatuto legal de proteção, através da implementação de medidas de gestão em função das figuras de proteção. Veio igualmente promover a preservação e reabilitação de ecossistemas, habitats e espécies e a harmonização da relação humana com a paisagem.

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A Reserva da Biosfera da Ilha das Flores, aprovada em maio de 2009, abrange toda a área emersa da ilha e uma zona marinha adjacente, cobrindo uma área total de 58.619 hectares, contendo no seu interior valores paisagísticos, geológicos, ambientais e culturais únicos a nível regional, nacional e internacional.

A diversidade e originalidade dos recursos naturais e culturais proporcionam à ilha das Flores um elevado potencial para a prática da atividade turística, com uma notável vocação para o aprofundamento do turismo científico e de natureza. A Reserva das Flores integra a dinâmica em curso no âmbito da REDBIOS (Rede de Reservas da Biosfera do Atlântico Este), em conjunto com as Reservas da Biosfera das ilhas do Corvo e da Graciosa, e mais recentemente as Fajãs de São Jorge alargando a cooperação e, consequentemen-

te, ampliando a visão de desenvolvimento sustentável em toda a Região Autónoma dos Açores. Nas Flores é dada grande importância à preservação dos costumes e dos traços culturais que a definem, o que é refletido pela diversidade de eventos culturais. Para além das tradicionais festividades do Divino Espírito Santo, destacam-se as Festas do Cais das Poças, em Santa Cruz, e a Festa do Emigrante nas Lajes das Flores. Reserva da Biosfera da Ilha das Flores


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RESERVA DA BIOSFERA TRANSFRONTEIRIÇA GERÊS-XURÉS Conjugar a conservação da natureza e o desenvolvimento socioeconómico é um desafio que se coloca na gestão de todos os territórios. Quando estes incluem o único Parque Nacional português (Parque Nacional da Peneda Gerês) e um Parque Natural espanhol (Parque Natural da Baixa Limia – Serra do Xurés), o desafio é muito maior. A criação da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés em 2009 marcou o momento em que as entidades com responsabilidade na gestão deste espaço demonstraram o seu empenhamento na construção de uma instituição transfronteiriça que efetivamente unisse todos os parceiros do território, o qual estando dividido por uma fronteira é efetivamente um contínuo ambiental e cultural. Ao ser incorporado o desenvolvimento sustentável na definição de estratégias para o território está a ser dado um sinal da clara aposta na alavancagem de uma estratégia de desenvolvimento económico sustentável com base nos recursos naturais. E esse é o caminho a seguir quando perspetivamos a gestão de uma Reserva da Biosfera. Temos que ter claro que se, por um lado, é essencial assegurar as atividades de salvaguarda, conservação e restauro do património natural, por outro é de fulcral importância apostar na dinamização das atividades económicas locais/regionais compatíveis com os valores naturais. É a partir desse equilíbrio que se constrói um crescimento verdadeiramente sustentável. A aprovação, pelos órgãos da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, do Plano de Ação da Reserva da Biosfera para o período de 2015-2020, com um investimento total previsto de 13.374.607 euros, é a demonstração cabal do envolvimento de todos os parceiros com respon-

sabilidade no território numa estratégia articulada de promoção da Reserva da Biosfera ao nível da consolidação da sua imagem e identidade, do desenvolvimento socioeconómico, da conservação da natureza e da participação e envolvimento da comunidade na gestão deste território. A criação da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés, mais do que dotar o território de uma chancela unanimemente reconhecida como sinónimo de qualidade, permitiu criar um novo fôlego

neste território de excelência que, fruto de uma equilibrada convivência milenar entre a presença humana e o meio ambiente, chegou aos dias de hoje com os valores naturais e culturais ímpares que o caracterizam. Equilibrar a conservação e a utilização dos recursos, aproveitar plenamente o potencial endógeno de iniciativas locais, apostar na capacidade de inovação e abertura a novos modelos é uma tarefa exigente e complexa, mas essencial à sustentabilidade deste território. Essa é a missão que assumimos na Reserva da Biosfera Gerês-Xurés, a qual, com o envolvimento de todos os agentes locais, estamos certos iremos conseguir levar adiante. Reserva da Biosfera Transfronteiriça Gerês-Xurés


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RESERVA DA BIOSFERA DAS BERLENGAS/PENICHE A Reserva da Biosfera das Berlengas/Peniche (UNESCO) assume-se como um território em que os valores naturais são complementados com abordagens inovadoras ao nível do uso sustentável dos recursos marinhos. A exploração económica – turismo e pesca, aliada à investigação e conhecimento, contribui para a existência de um laboratório vivo tendo por base a relação do Homem com a Biosfera. A Reserva da Biosfera das Berlengas (RBB) inclui o arquipélago das Berlengas (Berlenga, Farilhões- Forcadas e Estelas), um corredor marítimo e a cidade de Peniche. Abrange uma área total de 18502.3 hectares, correspondendo quatro por cento a área terrestre e 96 por cento a área marinha. O arquipélago das Berlengas, que contém os ecossistemas e habitats com maior valor de conservação, está localizada na plataforma continental Portuguesa a uma distância de 5.7 milhas náuticas do continente. O ecossistema insular, o valor biológico da área marinha envolvente, o elevado interesse botânico, o papel da ilha em termos de avifauna marinha, a presença de interessante património arqueológico subaquático e as relações com a comunidade de pescadores são fatores chave desta Reserva da Biosfera. A RBB abrange igualmente um território de enorme valor geológico, em que o geomonumento da Ponta do Trovão classificado como estratótipo do período Toarciano, pela International Union on Geological Sciences é o seu expoente máximo. Através dos atores com responsabilidade na sua gestão, Município de Peniche, Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) e Instituto Politécnico de Leiria – Escola Superior de Turismo e Tecnologia do Mar (ESTM-IPLeiria), a RBB tem vindo a implementar diversos projetos em parceria com outras entidades, que em

virtude da especificidade do território tem dado especial enfoque aos objetivos da Agenda 2030 das Nações Unidas relacionados com a proteção da vida marinha (14) e com as energias renováveis (7). Através do projeto LIFE Berlengas, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, em parceria com o ICNF, a Câmara Municipal de Peniche, a Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e tendo como observador externo a ESTM-IPLeiria, será dado um contributo para a gestão sustentável da Zona de Proteção Especial (ZPE) das Berlengas, com o objetivo de conservar os seus habitats, as plantas endémicas e as populações de aves marinhas. Com este projeto serão compreendidas as principais ameaças que afetam os va-

lores naturais das Berlengas, em terra e no mar, e definidas as estratégias para as minimizar e erradicar. Pretende-se ainda promover a utilização sustentável da ZPE das Berlengas, focando em três atividades chave: a pesca, as atividades recreativas e o turismo. A Reserva da Biosfera das Berlengas (UNESCO), engloba ecossistemas marinhos altamente produtivos e que sustentam pescarias de elevado valor económico. No entanto, tais atividades deverão pautar-se por práticas que promovam a sustentabilidade dos recursos e das componentes sócio-económicas. Nesse sentido, pretende-se implementar um comité de cogestão para a atividade da apanha de percebe no Arquipélago das Berlengas. Trata-se de um projeto submetido ao MAR2020, promovido pela ESTM-IPLeiria, através do MARE-IPLeiria, e que integra a WWF, a Universidade de Évora e o ICNF, em estreita colaboração com a Associação de Mariscadores da Berlenga. Especificamente, o projeto pretente implementar um comité de cogestão da apanha de percebe e monitorizar não apenas a pescaria mas também o recurso, e aplicar medidas de vigilância e acompanhamento das pescarias.

Atualmente é reconhecido o crescente interesse mundial na valoração dos serviços dos ecossistemas, que podem ir desde o simples fornecimento de aprovisionamento de bens essenciais (e.g. águas) aos serviços culturais (e.g. atividades recreativas) e/ou de suporte (e.g. produção primária). Neste enquadramento, surgiu da necessidade de dar a conhecer à sociedade a importância dos ecossistemas existentes RBB UNESCO. Para isso, considerou-se que a forma mais facilmente entendível por qualquer cidadão recai numa métrica económica, atribuindo-se um valor monetário a cada um dos serviços prestados pelos ecossistemas. A sua valoração económica, permitiu estimar que a Reserva da Biosfera das Berlengas tem um impacto anual em torno dos 12 milhões de euros na economia local e regional. Ao nível das energias renováveis, o território de Peniche tem se afirmado como local de excelência para o teste e validação de tecnologias inovadoras para o aproveitamento da energia das ondas. Após a fase de prova de conceito da tecnologia waveroller, será instalado em breve o primeiro parque de energia das ondas, colocando o território de Peniche na vanguarda mundial das energias renováveis marinhas. A RBB UNESCO é uma área classificada que possui constrangimentos que poderão ser limitadores da sua exploração turística. Algumas práticas dominantes nas áreas costeiras podem não se adequar, não devendo estas limitações ser entendidas como um obstáculo ao desenvolvimento turístico, mas antes como uma oportunidade. Assim, entende-se que as empresas de animação turística que forem capazes de entender as especificidades e unicidade do Arquipélago terão grandes vantagens face à concorrência. Por forma a capacitar os operadores marítimo-turísticos

com as competências necessárias para o desenvolvimento de uma atividade ecoturismo que seja de acordo com o enorme valor patrimonial da RBB UNESCO, foi definido um programa de formação dirigido aos operadores marítimo-turísticos que operam na área neste território. Com o objetivo valorizar o património e em simultâneo tornar mais atrativas as atividades de turismo de natureza no território afeto à Reserva da Biosfera das Berlengas, foi editado um conjunto de conteúdos de comunicação sobre o património natural e biodiversidade. Trata-se de um contributo ativo para a melhoria da experiência da visitação à ilha da Berlenga, para o aumento de qualidade da oferta dos operadores marítimo-turísticos e para a sensibilização ambiental dos visitantes,

por forma a adotarem comportamentos adequados à presença num território de enorme valor natural. A classificação atribuída pela UNESCO ao território Peniche/Berlengas em 2011 enquanto Reserva da Biosfera no âmbito do “Programa Homem e a Biosfera”, é o reconhecimento do seu enorme valor patrimonial, assumindo-se como um selo de qualidade que potencia a sua atratividade e desenvolvimento económico, paralelamente à responsabilização dos diferentes atores em alcançar os compromissos em torno da sustentabilidade e do equilíbrio entre a presença do homem e a conservação da natureza. Reserva de Biosfera das Berlengas/Peniche

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RESERVA DA BIOSFERA DE SANTANA/MADEIRA Santana é um concelho do norte da Ilha da Madeira com características únicas, não só pela sua paisagem e riqueza florestal como também pelo seu vasto património rural. Sendo o segundo maior concelho da Região Autónoma da Madeira, é detentor de uma biodiversidade extremamente rica em flora e fauna de onde se destaca a Floresta Laurissilva, classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Reserva da Biosfera da UNESCO desde 29 de junho de 2011, Santana é um município que se estende do mar à montanha, onde se inclui o ponto mais alto da Ilha da Madeira, o Pico Ruivo (1861metros de altitude), e a Reserva Marinha da Rocha do Navio (1996), que celebra este ano o seu 20º aniversário. O concelho de Santana oferece importantes oportunidades para o desenvolvimento de atividades humanas ecologicamente sustentáveis e educacionais que podem demonstrar a importância da fauna e da flora na vida local e na economia regional, assim como a interdependência da diversidade cultural e biológica. A Reserva da Biosfera, enquanto instrumento motivador e catalisador de actividades baseadas na conservação e uso sustentável do património natural e cultural, é entendida pelo município e pelos cidadãos como um reforço das oportunidades de diversificação e renovação do desenvolvimento local e regional, podendo ajudar a identificar e promover iniciativas capazes de renovar e revitalizar a economia e o desenvolvimento social local. A Reserva da Biosfera de Santana pretende constituir-se como espaço de confluência dos diferentes atores locais e regionais criando oportunidades de dinamização de iniciativas de conservação e valorização do património natural e cultural e de mecanismos de evidenciar essa opção pelo desenvolvimento sustentável que o município de Santana assume. O concelho de Santana é caracterizado não só pelo seu património natural, com a sua bela paisagem e riqueza florestal, mas tam-

bém pelo valioso e extenso património cultural (imóvel, móvel e imaterial) do qual se destacam as típicas casas cobertas de colmo que desempenhavam um papel primordial na economia doméstica do concelho. Existem também no concelho um conjunto de objetos etnográficos, anteriormente utilizados em atividades económicas e domésticas, como, por exemplo, os teares, utilizados na confeção de tecidos para o vestuário do agregado doméstico e para peças de enxoval, como toalhas, entre outros. Santana é essencialmente, e ainda, um município de cariz rural onde predomina a agricultura, mas com algum desenvolvimento turístico num segmento que tem sabido

manter a tradição e a paisagem. Este é um desafio aliciante que tem permitido uma mudança do modelo de desenvolvimento socioeconómico local sem perda de identidade e caráter das gentes de Santana e sem hipotecar os valores naturais de que Santana dispõe. O galardão de Reserva da Biosfera atribuído a Santana possibilitou a criação de instrumentos e dinâmicas importantes para a divulgação e conservação do património natural, histórico e cultural. O empenho dos diversos setores, as parcerias criadas com instituições locais, regionais e nacionais revelam a vontade de concretização dos objectivos propostos aquando da candidatura apresentada. A tendência que se vem a verificar da diminuição populacional devido à deslocação das populações para áreas mais urbanas da Região Autónoma da Madeira levou a que o município tenha decidido dedicar um esforço significativo na implementação de um modelo de reestruturação e revitalização do concelho, que se pretende transpor ao nível da gestão territorial das atividades a

desenvolver, destacando-se neste âmbito a revisão do Plano Director Municipal (PDM) já em fase de conclusão. Esta revisão irá possibilitar a concretização de objetivos estratégicos que irão potenciar a Reserva da Biosfera sobretudo no que diz respeito à valorização do mundo rural (fomento das atividades agrícolas, defesa da paisagem humanizada como fator capital de manutenção e valorização do produto turístico), valorização do património e qualificação urbana, promoção da identidade e da coesão territorial (propiciar condições de equidade económica, social e territorial no acesso aos bens, serviços e equipamentos). A recuperação de património edificado, e no caso específico da Reserva Santana Biosfera, tem sido um dos projetos mais visíveis, tendo em conta que as típicas casas de colmo, ex-libris do concelho e da Região Autónoma da Madeira, pertencem ao legado histórico. Para além deste, a recuperação dos troços do primitivo Caminho Real 23, que dava a volta à ilha da Madeira pelo litoral, passando pelas freguesias litorais e que tinham uma ligação mais próxima com a capital da Região. A valorização e potencialização de uma das zonas núcleo da Reserva – sítio da Rocha do Navio reserva natural, num ano em que se assinala o seu 20º aniversário - tem servido para o aumento do número de visitantes. O concelho de Santana é o segundo maior da Região Autónoma da Madeira em termos geográficos, tendo por isso uma forte representação dos elementos mais importantes da biodiversidade da Ilha da Madeira, quer ao nível das espécies quer dos ecossistemas. De facto, a existência de uma riqueza ecológica e ambiental única de elevada importância para a conservação da biodiversidade, não só a nível regional como a nível mundial, em conjunto com a existência de uma ocupação populacional reduzida

que promove e divulga a sua cultura, usos e costumes além-fronteiras, faz do concelho de Santana um local apropriado para fomentar o desenvolvimento humano e económico de uma forma sustentável – tendo sempre como princípio base a protecção e conservação da biodiversidade que o caracteriza. O projeto “Hortas biológicas pedagógicas”, implementado nas escolas associadas à Reserva, procura consciencializar a comunidade educativa para a prática da agricultura biológica/sustentável para a saúde humana e ambiental, bem como fomentar a aprendizagem de como se produzem os alimentos de forma saudável, respeitando os ciclos naturais, da reutilização

dos excedentes agrícolas e domésticos de forma a reduzir a utilização de alguns recursos naturais, protegendo o ambiente e, por sua vez, deixando uma boa herança para as gerações vindouras. A reserva Santana Madeira Biosfera apresenta-se assim como um espaço onde a biodiversidade, a par do património histórico e cultural a ela ligados, constitui um fator diferenciador importante do nosso território, e em particular da nossa Região. Santana Madeira Biosfera, Pela Vida, Para o Futuro! Reserva de Biosfera de Santana/Madeira

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RESERVA DA BIOSFERA TRANSFRONTEIRIÇA MESETA IBÉRICA “Dois países, dois territórios, um futuro comum”, é o slogan da Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica, a maior da Europa, que abrange municípios da Terra Fria, Terra Quente, Douro Superior e Beira Alta, do lado português, e Zamora e Salamanca, em Espanha. A Meseta Ibérica quer ser exemplo da conciliação entre o desenvolvimento sustentável, a ação do Homem e a preservação da biodiversidade. “Não há conservação da natureza sem ação humana, porque o homem é a estrutura basilar do ecossistema”. Esta afirmação está na base de todo o trabalho desenvolvido pela Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica, reconhecida pela UNESCO em julho de 2015, na sequência de uma candidatura conduzida pelo Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial-ZASNET AECT. Apesar da “juventude” desta Reserva, a sua atividade já é notória no território, a começar pelas ações de educação e sensibilização desenvolvidas, sempre focando maisvalia e a responsabilidade de preservação e valorização da biodiversidade existente, mas sempre vista como o resultado do respeito mútuo entre a atividade do Homem e as exigências de conservação. É junto das comunidades escolares, junto da população mais jovem, que esta aposta está a ser feita com maior incidência, um público privilegiado para a transmissão da mensagem e para a necessária construção de novas posturas adequadas ao desenvolvimento sustentável. A cultura, as tradições, o património, a gastronomia, a atividade agrícola, o turismo, entre outros fatores, são aqui considerados na componente de sustentabilidade, principalmente económica e financeira, promovendo e valorizando as práticas produtivas do território, fomentamos a produção de riqueza, a criação de postos de trabalho e a inclusão social. A educação e a sensibilização são fundamentais para que as populações possam compreender e abraçar uma chancela da UNESCO como a Meseta Ibé-

rica. O envolvimento da comunidade e dos agentes do território é determinante para o sucesso de toda e qualquer iniciativa. A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica é já responsável pela criação de uma marca única para identificar os produtos e os serviços no território. Uma marca comum, que dá ao consumidor garantia de qualidade, que acrescenta valor aos produtos locais. Esta marca está a ser apresentada à comunidade, em sessões de proximidade, indo de encontro aos agentes produtivos, conseguindo assim um maior envolvimento no projeto.

Esta Reserva da Biosfera está também na primeira linha na concretização de ações de promoção do território, mais uma vez valorizando as componentes ambientais e culturais, mas, fundamentalmente, os produtos endógenos e os serviços prestados aos visitantes que se querem atrair, para assim contribuir de forma objetiva para a dinamização da economia local, para a criação de riqueza. O turismo é visto como um setor imprescindível para o ansiado desenvolvimento, um turismo que se quer responsável, que respeite e valorize a cultura e a identidade local. Exemplo disso é a candidatura a apresentar à UNESCO para reconhecimento das Máscaras e Festas de Inverno como Património Imaterial da Humanidade. Com origem na antiguidade pagã, as Festas de Inverno mantêm um forte cariz popular, com usos e trajes que passam de geração em geração. Realizadas em várias aldeias no período que vai do Natal até ao dia de Reis

ou durante o Carnaval, estas celebrações do solstício têm em comum a presença de personagens diabólicas que trazem a promessa de um novo ciclo, com música e muita alegria. Também com o projeto “Destino Fronteira” se pretende projetar para o exterior um território com características muito particulares onde se misturam culturas de dois países. A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica participa também no movimento Slow Food, outro projeto de valorização da gastronomia local, que aproveita o saber fazer e os produtos endógenos. Quando sob esta chancela da UNESCO se promove o território, promove-se toda a comunidade, os seus valores, as suas atividades económicas, a sua essência, e contribui-se para criar riqueza, o que diretamente interfere na sua qualidade de vida, na inclusão social e até no orgulho e felicidade locais. Na área da qualidade de vida e das alterações climáticas, a Meseta Ibérica, em conjunto com outros parceiros, está envolvida num projeto de investigação sobre o clima, as culturas e modos de produção. É um exemplo claro de como a investigação pode e deve ser usada a favor das comunidades, ajudando a encontrar soluções mais adequadas no presente para garantir um melhor futuro. Este projeto em particular tem muito a ver com o aumento da produtividade das culturas locais, com a própria transformação, retirando benefícios económicos para o território. A Meseta Ibérica tem também em mãos a execução de um Plano de Prevenção de Incêndios, no qual envolve vários agentes nacionais e locais, nomeadamente ICNF e autarquias, associações de desenvolvi-

mento e instituições de ensino superior. Um plano que visa preservar o ambiente e a biodiversidade mas também salvaguardar as atividades produtivas do território. Muitas outras ações estão em curso, convém sublinhar que a Meseta Ibérica pretende ser parceira ativa das comunidades locais, criando canais de comunicação e diálogo permanentes, partilhando saberes e conhecimentos, indo de encontro às expectativas das populações. A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica integra oito áreas protegidas (três em Espanha e cinco em Portugal), 24 sítios de importância comunitária (17 em

Espanha e sete em Portugal), nove zonas de proteção especial (cinco em Espanha e quatro em Portugal) e ainda o Geopark Terras de Cavaleiros (em Portugal), um galardão de enorme importância na valorização local. A UNESCO, como entidade de elevada reputação, é uma garantia de qualidade, o que contribui para a angariação de visitantes que encaram o turismo com responsabilidade, com respeito pelos valores e cultura locais, dispostos a pagar pelo que vêem, pelo que consomem, o turista que deixa valor e riqueza no território. Reserva da Biosfera Transfronteiriça Meseta Ibérica

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As fajãs apresentam um microclima que influencia a sua procura para o cultivo de algumas culturas, como o café e diversos produtos hortícolas, e para o turismo, sendo ótimos locais de descanso e relaxamento. Com cerca de 70 fajãs contabilizadas, destaca-se a Fajã da Caldeira de Santo Cristo, um dos ex-libris de São Jorge, cenário muito procurado para quem quer usufruir da paisagem, da natureza, do surf e da vida rural de São Jorge. Para além da unicidade das múltiplas fajãs e de uma paisagem humanizada, São Jorge ainda retém zonas de habitats pouco intervencionados, sobretudo nas zonas de maior altitude e de difícil acesso, como as arribas.

Assim, nas zonas altas encontram-se diversas comunidades húmidas que são vitais para o equilíbrio hídrico da ilha e habitats naturais de elevada importância ecológica. Nas arribas e zonas costeiras aparecem ainda bem preservadas bolsas de vegetação natural e endémica com alto valor conservacionista. A Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge é relevante pelas características inerentes da ilha, combinando as zonas de maior altitude com os ecossistemas costeiros, originando um ecossistema diversificado e com uma grande variedade de endemismos. As características intrínsecas da ilha permitiram o desenvolvimento da candidatura das Fajãs de São Jorge a Reserva da Biosfera, tendo sido aprovada por unanimidade e aclamação pelo Conselho Internacional de Coordenação do Programa MaB - Man and the Biosphere (O Homem e a Biosfera), da UNESCO a 19 de março de 2016, no Peru.

© Siaram

A Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge tem uma área total de 98 114,17 hectares, correspondendo a todo o espaço terrestre da ilha e a uma área marinha envolvente, cujo limite dista três milhas da linha de costa.

de São Jorge na Rede Nacional permitiu a participação em diversas reuniões técnicas e cursos de formação onde a troca de experiências e conhecimentos com outras Reservas da Biosfera se tornaram imprescindíveis para desenvolver o seu Plano de Ação.

Para uma gestão sustentável, a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge contempla, relativamente à Agenda 2030, o modelo de desenvolvimento sustentável proposto no Quadro Estatutário, Estratégia Mab (2015-2025), dando primazia aos objetivos: qualidade na educação, igualdade de géneros, crescimento económico e de trabalho, povoações e comunidades sustentáveis, consumo e produção responsável, ação climática, vida marinha e terrestre, paz, justiça e força das instituições, e parcerias entre organizações.

Para criar o Plano de Ação da Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge, esta adotou como base o Plano de Ação de Lima e a Estratégia Nacional, visando a criação de um plano de negócios com incentivos à atividade económica e contribuir para o bem -estar e qualidade de vida da população e visitantes, sem negligenciar a conservação da biodiversidade, paisagem e identidade cultural e histórica. O Plano de Ação da Reserva pretende promover a preservação dos valores naturais e culturais, criar oportunidades de investimento e criação de emprego.

A contemplação destes objetivos no contexto do território e das populações locais visa um enquadramento da Reserva da Biosfera dentro da Rede Nacional de Reservas da Biosfera da UNESCO, sendo que esta tem como âmbito de intervenção sensibilizar para a necessidade de preservar e conservar o património natural e cultural e garantir um desenvolvimento sustentável dos territórios. A entrada da Reserva da Biosfera das Fajãs

Neste sentido, a Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge encontra-se a desenvolver projetos como o Plano Regional de Educação para o Desenvolvimento Sustentável (PREDSA), o Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasora em Áreas Sensíveis (PRECEFIAS), o Plano Regional para as Alterações Climáticas (Projeto PRAC-Açores), o Banco de Sementes dos Açores entre outros. Para promover o crescimento sustentável do território e da economia local divulga-se a marca “Biosfera Açores” de forma a potenciar a oferta disponível.

© Paulo Brasil Pereira (Siaram)

São Jorge distingue-se pelas suas fajãs, autênticos anfiteatros naturais junto ao mar que exibem a relação equilibrada entre o homem e a natureza, num misto de culturas, tradições, paisagens, biodiversidade e geodiversidade, que importa conservar e valorizar. Em março de 2016 as Fajãs de São Jorge são reconhecidas como Reservas da Biosfera.

© Paulo Brasil Pereira (Siaram)

RESERVA DA BIOSFERA DAS FAJÃS DE SÃO JORGE

A mais central das nove ilhas do Arquipélago dos Açores – a Ilha de São Jorge - apresenta uma configuração alongada, de aspeto montanhoso devido às arribas escarpadas, principalmente na costa norte, o que torna a paisagem abrupta. A par dos vales encaixados existem outros que nem chegam a atingir o nível do mar, ficando suspensos no alto da arriba, dando origem a magníficas cascatas. Na orla costeira surgem pontualmente superfícies planas, designadas de fajãs, que constituem uma característica diferenciadora da ilha, pela relação equilibrada entre o Homem e a natureza e pelas vivências únicas, paisagens e biodiversidade. Os costumes associados às fajãs, singulares nos Açores, foram sendo consolidados ao longo dos anos, resultando numa especificidade cultural que se mantém até aos dias de hoje.

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A produção de artigos e a emissão de audiovisuais tem vindo a contribuir na divulgação local, regional, nacional e internacional da Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge promovendo através do turismo/geoturismo o crescimento da economia local. Reserva da Biosfera das Fajãs de São Jorge

© Paulo Brasil Pereira (Siaram)

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RESERVA DA BIOSFERA TRANSFRONTEIRIÇA TEJO/TAJO INTERNACIONAL

A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/ Tajo Internacional (RBTTI) abrange o vale do troço fronteiriço do rio Tejo, vales confinantes e áreas aplanadas adjacentes. A paisagem é marcada pelos rios da região, em particular o rio Tejo, com vales encaixados e encostas escarpadas, que conferem beleza à paisagem natural da região; também a paisagem rural marca presença, nomeadamente o olival em socalcos com muros de suporte e as estepes de cereal. Esta área está dotada de grande diversidade de avifauna, de que se destacam a cegonha-negra, a águia-imperial-ibérica, a águia-real e o abutre-negro. Para além disso, encontram-se outras importantes espécies da fauna, como a lontra, o texugo, a abetarda e o sisão; abundam ainda espécies de elevada importância cinegética, com o javali e o veado. No que concerne à flora, destacam-se os bosquetes e montados de sobro e azinho, a vegetação ribeirinha, com predomínio dos freixos, dos salgueiros, zambujais e matos tipicamente mediterrânicos, como os rosmaninhais, os tojais e os giestais. Em termos de valores patrimoniais sobressaem, pelo seu valor cultural e etnográfico, as aldeias de Monsanto, Idanha-a-Velha e Penha Garcia. Do património edificado releva-se a Ponte Romana de Segura, a Sé Catedral de Castelo Branco, a Casa-Palácio, em Idanha-a-Nova, os Jardins Barrocos do Palácio Episcopal, em Castelo Branco e o Castelo de Penafiel, em Salvaterra do Extremo. Do lado de Espanha destacam-se a Ponte de Alcântara (séc. II), joia da engenharia romana, Alcântara Brozas, Valencia de Alcântara e Zarza la Mayor, com edifícios notáveis de caráter

civil e religioso da Idade Média. Permanecem ainda bem conservados diversos elementos rurais, como as azenhas e moinhos nas margens do rio Erges, e algumas construções tradicionais, como os montes, os arraiais, as furdas e as malhadas. Quanto às feiras e tradições, destacam-se as Romarias de N.ª Sr.ª de Mércules, em Castelo Branco, de Nª Srª dos Remédios, em Vila Velha de Rodão e de N.ª Sr.ª do Almortão, em Idanha-a-Nova, a Feira da Azeitona e do Azeite, em Malpica do Tejo, a Feira da Caça e Gastronomia, em Monfortinho. Em Espanha destacam-se os carnavais com os seus enfarinhamentos em Cedillo, o “Domingo de tiros”, em Zarza la Mayor, a Romaria de San Isidro e as Mayos, em Valência de Alcântara, Festival Alcântara Clássica Teatro e Festival”, o Magusto” em Carbajo. A crescente realização de passeios turísticos de barco tem contribuído para um incremento

muito significativo de visitantes a esta área e proporcionado a divulgação deste território. Ainda no domínio do turismo e da divulgação dos valores naturais podem ser visitados o Centro de Interpretação da Biodiversidade, em Segura, Idanha-a-Nova, e o Centro Interpretativo do Parque Natural do Tejo Internacional, em Castelo Branco, o Centro de Interpretação da Natureza em Alcântara, os Centros de Interpretação El Casón, em Cedilho e El Pendere, em Santiago de Alcântara. A RBTTI tem sido alvo de divulgação ao nível das diferentes escolas dos diversos níveis de ensino, o que vai de encontro ao previsto nos objetivos da Agenda 2030 da UNESCO. Trata-se de uma reserva da biosfera relativamente recente, que ainda está a dar os primeiros passos em termos de órgãos de gestão, regulamento de funcionamento, logótipo,. No futuro, o galardão conferido pela UNESCO conferirá a este território um maior desenvolvimento, a implementação de projetos de natureza sustentável, com inexorável interesse para as populações, e uma ampla divulgação dos diferentes valores que imperam em todo este território. Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo Internacional

© Eng.º Paulo Monteiro

A Reserva da Biosfera Transfronteiriça Tejo/Tajo Internacional foi criada no dia 19 de março de 2016 e tem uma área de 428,8 mil hectares, dos quais 169,2 mil hectares se encontram em Portugal, nos concelhos de Idanha-a-Nova, Castelo Branco e Vila Velha de Ródão. Os restantes 259,60 mil hectares estão em território espanhol, distribuídos por 14 ayuntamientos.


PATRIMÓNIO MUNDIAL NATURAL E CULTURAL


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PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA O grande propósito da Agenda 2030 é vincular os Estados, as autarquias, os cidadãos e as organizações da sociedade civil a uma cultura de participação ativa e de responsabilidade partilhada. Para a autarquia é uma excelente ferramenta de monitorização para avaliar o seu desempenho na implementação de medidas de transição para a sustentabilidade. Na definição das políticas de desenvolvimento sustentável para o município de Sintra, na sua operacionalização e na alocação de meios e recursos para a sua implementação, a aprovação dos objectivos de desenvolvimento sustentável e a universalidade da agenda 2030, tendo em conta as especificidades do concelho, vai requerer um empenho maior de todos os atores municipais na política pública de cooperação e de desenvolvimento dirigida aos 17 objectivos de desenvolvimento sustentáveis. Nesse sentido, há linhas de orientação que convergem na aplicação dos seguintes objetivos: criar marcos políticos sólidos a nível regional para apoiar investimentos acelerados nas ações de erradicação da pobreza; acabar com a fome e garantir o acesso de todas as pessoas a alimentos seguros, nutritivos e suficientes durante todo o ano; assegurar o acesso universal aos serviços de saúde sexual e reprodutiva, incluindo o planeamento familiar; construir e melhorar instalações físicas para educação, apropriadas para crianças e pessoas com deficiência; promover políticas orientadas para o desenvolvimento que apoiem as atividades produtivas, geração de emprego, empreendedorismo, criatividade e inovação, e incentivar a formalização e o crescimento das micro, pequenas e médias empresas; fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o património cultural e natural; alcançar a gestão sustentável e o uso eficiente dos recursos naturais; promover a implementação da gestão sustentável das florestas, travar a desertificação dos solos e o reflorestamen-

to; desenvolver instituições eficazes, responsáveis e transparentes a todos os níveis. A aplicação destes objetivos começa, à partida, por resolver as necessidades das pessoas. E isso, per si, é de extrema importância para um município com mais de 400 mil habitantes. A Agenda 2030 aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável - social, económico e ambiental-, mobilizando os meios de implementação dos recursos financeiros, às tecnologias de desenvolvimento e transferência de capacitação. Transformar esta visão em realidade é da responsabilidade dos governos dos países, mas irá exigir também novas parcerias e solidariedade institucional, envolvendo a sociedade civil, empresas e representantes de vários grupos de interesse na promoção de uma Sintra mais justa, mais digna e mais sustentável.

O geoturismo é um segmento emergente do turismo de natureza ou turismo ativo, com notável expansão por todo o mundo, e Sintra não é exceção. Tem, assim, como público-alvo, pessoas mais exigentes e informadas, que procuram, acima de tudo, experimentar, aprender e desfrutar do património geológico, cultural e natural. Nesse sentido, a Câmara Municipal de Sintra lançou em 2015 a marca ActiveSintra como forma de promover o turismo ativo, atraindo e retendo visitantes durante todo o ano e por estadias mais dilatadas. Associada à marca surgiu um portal que passou a reunir toda a informação necessária a quem deseja experienciar uma verdadeira aventura em Sintra. A autarquia, através da marca ActiveSintra e todos os seus parceiros - alojamentos e empresas -, está empenhada na promoção do turismo ativo sustentável, de forma a realçar a experiência do visitante, melhorar a qualidade de vida local e contribuir para uma Sintra mais verde. Património e turismo são realidades cada vez mais indissociáveis, nas quais recursos, património, natural ou cultural, se transfor-

maram num grande motor de captação de fluxos turísticos, constituindo-se como o fundamento para o desenvolvimento posterior da atração. Daí que a atribuição da classificação de Património Mundial pela UNESCO a sítios históricos e culturais, como é o caso de Sintra, tenha levado os gestores dos destinos a utilizar tal galardão nas suas estratégias de comunicação, de promoção e de posicionamento, enquanto agente poderoso de atratividade e de diferenciação entre destinos. A Câmara de Sintra está consciente de que o turismo se tornou nos últimos decénios uma das atividades mais rentáveis, em face do conhecimento existente sobre a realidade estatística desta actividade. As circunstâncias histórica e arquitetónica ditaram para Sintra e para a sua serra uma individualidade única que não se esgota no Palácio da Pena. Mas que, pelo contrário, terá oscilado entre a teoria e a assunção da “construção” de uma paisagem romântica, formalizando-se em arquétipos que desembocaram no vasto conjunto da arquitetura revivalista e que, aqui, entrou bem pelo séc. XX adentro. Sintra não é uma vila qualquer, como escreveu em 1989 o historiador Vítor Serrão, Sintra é Património Mundial da Humanidade, é Paisagem Cultural (classificada pela UNESCO). É um universo paralelo, que só conhecemos dos sonhos, mas que existe aqui bem perto e no qual destacamos os seguintes locais de visita obrigatória: Palácio Nacional da Pena, Palácio Nacional de Sintra, Palácio e Parque de Monserrate, Palácio Nacional de Queluz, Palácio e Quinta da Regaleira, Convento dos Capuchos, Castelo dos Mouros, Parque da Liberdade, Parque da Pena, Cabo da Roca, praias de Sintra, Feira de S. Pedro, Queijadas da Sapa e Travesseiros da Piriquita. Paisagem Cultural de Sintra

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SÍTIOS PRÉ-HISTÓRICOS DE ARTE RUPESTRE DO VALE DO RIO CÔA E DE SIEGA VERDE O Vale do Côa, em conjunto com outras localidades vizinhas, constitui o maior complexo de arte rupestre em estilo paleolítico ao ar livre da Europa. Depois de terem corrido o perigo de ficar debaixo das águas da barragem de Foz Côa, diversas rochas gravadas podem ser hoje visitadas. O Museu inaugurado em 2010 serve de introdução ao visitante. A arte rupestre do Côa faz parte da lista do Património Mundial da UNESCO desde 1998. Foi o processo de classificação mais rápido na história da lista. Tal facto deveu-se à intensa campanha internacional que levou ao cancelamento, por parte do Governo português, da construção da mega-barragem de Foz Côa, evitando assim a destruição de centenas de rochas gravadas desde o Paleolítico até aos nossos dias. A área que seria afetada pelo empreendimento hidroelétrico, assim como uma grande parte de outras zonas circundantes, foi transformada no Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC). Hoje conhecem-se mais de 1000 painéis em xisto com mais de 10000 gravuras. A investigação arqueológica levou também à identificação, em toda a região, de inúmeros sítios com vestígios de ocupação desde o Paleolítico Inferior até à época Romana. Em 2010, a UNESCO reconheceu que a zona de gravuras de Siega Verde, nas margens de outro dos afluentes do Douro, o Águeda, mas em Espanha, merecia igualmente ser classificada como Património Mundial, criando através de uma “extensão” um sítio transnacional da UNESCO (o único desde tipo em Portugal). Das mais de 60 localidades com gravuras no Vale do Côa, estão atualmente abertas ao público só três, com visita guiada: Canada do Inferno, Penascosa e Ribeira de Piscos. Com a inauguração do Museu do Côa, em 2011, abriu-se uma nova área do ponto de vista do turismo. O Museu,

feito de raiz, está notavelmente integrado na paisagem. Nele, o visitante pode visitar uma exposição introdutiva à arte rupestre com painéis, reproduções e filmes, assim como ver uma seleção dos mais importantes artefactos e achados. O edifício alberga serviços técnicos e científicos, um espaço didático dedicado às escolas e um restaurante/café. Estes últimos, com uma vista surpreendente sobre o Douro, proporcionam o ambiente ideal para uma curta pausa ou refeição. A prova de que se está no caminho certo vem do aumento dos visitantes, mais de 32000 no último ano, e de reconhecimentos como o “Certificado de Excelência” do TripAdvisor. Atualmente, o Museu e o Parque são geridos pela FundaçãoCôa Parque que tem tido algumas dificuldades de financiamento, que se têm tentado resolver. Vale a pena recordar que geograficamente o Parque

faz parte da “Região Demarcada do Douro”, onde nos últimos anos a produção de vinhos tintos muito premiados tem vindo a unir-se à venda de outros produtos mais tradicionais, como o azeite e a amêndoa. A Quinta de Ervamoira (Ramos Pinto), com o seu museu de sítio, é um bom exemplo de como vinho, gastronomia, arqueologia e turismo podem contribuir para o desenvolvimento sustentável de uma área. 20 anos depois do abandono da barragem, muitas das promessas estão ainda por cumprir, esperando-se que as mesmas venham a ser concretizadas no futuro. A construção de novas vias de acesso e da pousada da juventude irão contribuir, nos próximos anos, para um melhor conhecimento deste sítio e da maravilhosa herança deixada pelos antigos habitantes pré-históricos do côa, que merece ser apreciada, mas também protegida para as gerações futuras. Mila Simões de Abreu, Coordenadora da Unidade de Arqueologia, CETRAD - Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Fundadora do “Movimento para a salvaguarda da Arte Rupestre do Vale do Côa”; Membro da Federação Internacional das Organizações de Arte Rupestre


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ALTO DOURO VINHATEIRO

As metas passam ainda por, até 2030, aumentar a urbanização inclusiva e sustentável e as capacidades para o planeamento e gestão de assentamentos humanos participativos, integrados e sustentáveis; assim como fortalecer esforços para proteger e salvaguardar o património cultural e natural e apoiar relações económicas, sociais e ambientais positivas. Em termos da ação climática há o objetivo de integrar medidas nas políticas, estratégias e planeamentos nacionais e melhorar a educação, aumentar a consciencialização e a capacidade humana e institucional sobre medidas de mitigação, adaptação, redução de impacto e alerta precoce no que respeita às alterações climáticas. O setor de atividade que demonstra mais capacidade de crescimento é o turismo, facto animador tendo em conta o poten-

A par da prevenção mitigação dos problemas resultantes das alterações climáticas, o Douro tem vindo e desenvolver estudos e projetos inovadores que permitam salvaguardar a identidade e o património vitivinícola da região, numa perspetiva de adaptação das castas e culturas aos cenários que se vão traçando. Com efeito, o vinho do Porto e Douro tem sido o maior fator de internacionalização da região pelo que importa acautelar a sua qualidade e sustentabilidade enquanto produto de excelência, sem

A vitivinicultura tem sido o core da atividade económica desta região e tem sustentado o desenvolvimento do setor do Turismo, potenciado pela obtenção da classificação como Património Mundial em 2001, não só ao nível do Enoturismo, como do Touring Cultural e Turismo de Natureza. O Plano Desenvolvimento Turístico do Vale do Douro (20072013) centrou-se no valor e singularidade da paisagem duriense, identificando prioridades estratégicas, medidas e tipologia de projetos prioritários, que pudessem vir a ser cofinanciados pelos fundos comunitários. Com efeito, o passado recente da região tem sido marcado pelos investimentos feitos não só na requalificação urbana e ambiental do território, mas também num conjunto de projetos culturais e turísticos fortemente enraizados no território, ancorados nos seus produtos endógenos. O PROVERE e as oportunidades específicas direcionadas para o turismo são disso exemplo. O Douro passou a integrar a Rede Internacional de

Destinos Turísticos Sustentáveis – Geoturismo após o estabelecimento de uma parceria com a National Geographic Society, tendo sido elaborado um mapa-guia e um website. Importa ainda sublinhar o papel estratégico da Via Navegável do Douro enquanto artéria de ligação entre três sítios classificados pela UNESCO – o Centro Histórico do Porto, o ADV e os Sítios Arqueológicos de Arte Rupestre do Vale do Côa e Siega Verde, com ligação à rota do Património Mundial do outro lado da fronteira. Em paralelo, a região tem crescido no que ao conhecimento, ciência e inovação diz respeito. Para além dos projetos de investigação e desenvolvimento de novas tecnologias que a UTAD e o IPB têm colocado ao serviço do setor produtivo, destaca-se o papel do recém-criado Centro de Excelência da Vinha e do Vinho, como polo dinamizador deste setor. Recentemente o território saiu reforçado pela instituição da Cátedra UNESCO da UTAD “Geoparques, Desenvolvimento Regional Sustentado e Estilos de Vida Saudáveis” que visa criar uma rede inovadora e integrada de pesquisa, ensino, transferência de conhecimento e comunicação e dar formação aos agentes de desenvolvimento dos territórios. Acresce que a integração na Lista de Salvaguarda do Barro Negro de Bisalhães, olaria ancestral com características e fabrico muito próprio. Surge ainda o Geoparque Terras de Cavaleiros, que na globalidade permite pensar e gerir o território como um todo único, diverso e complexo. Os atores do território perceberam a importância das parcerias, pelo que se podem elencar alguns produtos dessa estratégia, como a Rede das Aldeias Vinhateiras do Douro, que expressam a realidade duriense, lendas tradições e gastronomia potencia-

© CCDR-N/Egídio Santo

O objetivo é atingir o trabalho digno e crescimento económico inclusivo e sustentável, o emprego pleno e produtivo e o trabalho digno para todos. Estes são alcançados através de níveis mais elevados de produtividade das economias através da diversificação, modernização tecnológica e inovação.

cial da região. Nesta medida, a gestão está particularmente empenhada na promoção e implementação de projetos que fomentem o desenvolvimento económico de base territorial, a partir do aproveitamento dos recursos endógenos da região.

descurar a sua importância na evolução da paisagem classificada.

© Concurso de Fotografia do Douro 2010/Sónia Arrepia

O Alto Douro Vinhateiro (ADV) foi inscrito na Lista do Património Mundial da UNESCO, categoria de Paisagem Cultural Evolutiva e Viva, a 14 de dezembro de 2001. Corresponde à área mais representativa e melhor conservada da Região Demarcada do Douro, sendo a mais antiga região vitícola demarcada e regulamentada do mundo. A aprovação pela ONU da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável, constituída por 17 objetivos, desdobrados em 169 metas, foi tida em consideração no que à gestão do ADV diz respeito, considerando o contributo mais ou menos direto para a sua implementação.

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© Concurso de Fotografia do Douro 2010/Rui Ademar Pires

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das por um programa de animação cultural. O Museu do Douro vocacionado para reunir, conservar, identificar e divulgar o vastíssimo património museológico e documental disperso pela região, a partir do qual se constituiu a MUD, Rede de Museus do Douro, uma plataforma de cooperação e comunicação entre diferentes instituições museológicas e de âmbito cultural. Ainda a Rede de Monumentos do Vale do Varosa que tem imóveis e elementos históricos de elevado interesse turístico-cultural. E, por fim, o vasto número de quintas que abriram as suas portas ao turismo oferecendo inúmeros ser-

viços que incluem o alojamento, restauração e experiencias sensoriais. Em paralelo, a região oferece um riquíssimo calendário de animação, consubstanciado em festas, feiras e romarias tradicionais, bem como num conjunto de eventos de natureza desportiva e cultural, com projeção internacional que anualmente atraem milhares de participantes e adeptos, como Festival de Música Douro Jazz, a Meia Maratona do Douro ou o Campeonato WTCC. Alto Douro Vinhateiro


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PAISAGEM DA CULTURA DA VINHA DA ILHA DO PICO A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, classificada como Património Mundial da UNESCO em julho de 2004, ocupa uma área total de 987 hectares. Este bem consiste numa espantosa rede de longos muros de pedra, erguidos para proteger do vento e da água do mar as videiras, que se encontram plantadas em campos de lava. A presença da atividade vitivinícola na ilha do Pico teve o seu início com a chegada dos povoadores à ilha no século XV. Desde essa altura que o Homem do Pico iniciou a tarefa hercúlea de plantar vinha num solo rochoso e aparentemente improdutivo, bem como a construção de um reticulado de muros, que se estendeu praticamente a toda a ilha. Construiu-se assim ao longo dos séculos uma paisagem única, com reflexos indeléveis na socio-economia da ilha. Ciente da sua importância, o Governo Regional dos Açores propôs a classificação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico como área protegida, vindo a ser classificada em 1996, através do decreto legislativo regional n.º 12/96/A, de 27 de junho, como “Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha da Ilha do Pico”, por forma a salvaguardar os valores naturais, paisagísticos e culturais aí existentes, bem como promover o desenvolvimento sustentado da zona e a qualidade de vida das populações. Posteriormente, a valia paisagística e histórico-cultural do património natural e edificado desta Paisagem, aliada ao seu caráter único e universal, originou a candidatura das suas áreas mais significativas e bem preservadas ao Comité do Património Mundial da UNESCO, tendo resultado na inscrição da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, em julho de 2004, na lista de bens Património Mundial da UNESCO, como Paisagem Cultural, cumprindo com os critérios (iii) e (v).

A Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico – Património Mundial da UNESCO ocupa uma área total de 987 hectares, envolvida por uma zona tampão com 1 924 hectares. É composta por uma faixa de território que abrange parcialmente as costas norte e sul, e a costa oeste da ilha, tendo como referência emblemática dois sítios, o Lajido da Criação Velha e o Lajido de Santa Luzia, implantados em extensos campos de lava caracterizados por uma extrema riqueza e beleza natural e paisagística. Estes sítios foram classificados por constituírem excelentes representações da arquitetura tradicional ligada à cultura da vinha, do desenho da paisagem e dos elementos naturais. Associados a esta paisagem existem elementos de biodiversidade e de geodiversidade notáveis, com particular destaque para a existência de espécies endémicas de flora e fauna e Geossítios do Geo-

parque Açores, Geoparque Mundial da UNESCO. Este bem consiste numa rede de longos muros de pedra, espaçados entre si, que correm paralelos à costa e penetram em direção ao interior da ilha. Estes muros foram construídos para proteger do vento e da água do mar as videiras, que são plantadas em milhares de pequenos recintos retangulares (currais), colados uns aos outros. Toda a ilha está repleta de muros, de diversas dimensões e tipologias, até à sua própria aplicação na arquitetura tradicional, embora a sua funcionalidade e expressão esteja enfatizada na Paisagem da Cultura da Vinha do Pico, ou não fossem os muros (pela quantidade, morfologia, organização e alinhamento) o elemento marcante desta paisagem. O cultivo da vinha, de acordo com o método original, implicava plantar os bacelos nas fendas e buracos dos campos de lava e arrumar a pedra espalhada pelo solo. Com inteligência e arte, o picaroto depressa percebeu que o excedente de pedra seria um elemento fundamental que iria garantir que as videiras vingassem neste ambiente rochoso e fustigado pelos ventos fortes e pelo rossio do mar, bastaria

para isso construir muros, ordenando e amontoando as pedras soltas, limpando o solo, e organizando as propriedades segundo espaços que protegiam as plantas, e criavam um ambiente favorável ao desenvolvimento de uvas de qualidade. Com esta classificação estabeleceu-se um conjunto de regras através da criação de um plano de ordenamento e de um sistema de incentivos financeiros, garantindo uma gestão racional dos recursos naturais e paisagísticos e o desenvolvimento de ações tendentes à salvaguarda dos mesmos, nomeadamente no que respeita aos aspetos paisagísticos, da geodiversidade e biodiversidade, aliados à salvaguarda do património histórico e tradicional da área, bem como a promoção de uma arquitetura integrada na paisagem. Ao estimular a reabilitação de áreas abandonadas de vinha, promovendo a sua produção através do sistema tradicional, aumentou-se a área de produção e a qualidade do vinho, apostando na valorização de um produto com características únicas, associando-o à notoriedade do local. Com esta nova dinâmica potenciou-se a atividade turística, em particular do turismo da natureza e enoturismo, através da criação de unidades de turismo em espaço rural, restauração e de empresas de animação turística. Em 2004, a área de produção na Paisagem da Cultura da Vinha do Pico, era de cerca de 120 hectares, estimando-se que em 2018, esta área venha a ser de cerca de 750 hectares, conseguindo assim inverter a tendência do abandono da Paisagem, transformando-a numa paisagem viva, funcionando como polo dinamizador da economia local. Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico

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