Caderno de Resumos

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UESC, Ilhéus, 13 a 16 de agosto de 2012

CADERNO DE RESUMOS



13 a 16 de agosto de 2012

CADERNO DE RESUMOS

Universidade Estadual de Santa Cruz - UESC IlhĂŠus - Bahia


© Anpuh-Ba Associação Nacional de História – Seção Bahia Universidade estadual de Santa Cruz (UESC) Campus: Soane Nazaré de Andrade Rodovia Ilhéus-Itabuna, km 16, Ilhéus – Bahia, 45662-000 Fone: (73) 3680-5242 - e-mail: anpuhba@yahoo.com.br Organização e Revisão Carlos Alberto de Oliveira Carlos José Ferreira dos Santos Leide Rodrigues dos Santos Louise E. N. Marques Pinto Marcelo da Silva Lins Designer Gráfico: George Pellegrini (pellegrini13@yahoo.es) Marca do evento: Bruno Libertador Rangel

Observação: a adequação técnico-linguística dos textos é de responsabilidade dos autores


UESC, IlhĂŠus, 13 a 16 de agosto de 2012


Anpuh - Bahia

DIRETORIA DA ANPUH-BA Presidente Carlos Zacarias de Sena Júnior (UFBA) Secretário-Geral Carlos Augusto Lima Ferreira (UEFS) 1º Secretário(a) Lucileide Costa Cardoso (UFRB) 2º Secretário(a) Antonio Maurício Freitas Brito (UFRB) 1º Tesoureiro (a) Iracema Oliveira Lima (UESB)

CONSELHO FISCAL

Alexandre Galvão Carvalho (UESB) Gilmário Moreira Brito (UNEB) Zeneide Rios de Jesus (UEFS)


VI ENCONTRO ESTADUAL DE HISTÓRIA XXIII CICLO DE ESTUDOS HISTÓRICOS Comissão Organizadora

Anna Lúcia Côgo (UESC) Antonio Maurício Freitas Brito (UFRB) Carlos Alberto de Oliveira (UESC) Carlos Augusto Lima Ferreira (UEFS) Carlos José Ferreira dos Santos (UESC) Carlos Zacarias de Sena Júnior (UFBA) Lucileide Costa Cardoso (UFRB)

Iracema Oliveira Lima (UESB) Marcelo da Silva Lins (UESC) Philipe Murilo Santana de Carvalho (IFBA - Ilhéus) Sérgio Armando Diniz Guerra Filho (UFRB) Sharyse Piroupo do Amaral (UEFS) Suzana Maria de Sousa Santos Severs (UNEB)

Comissão Científica

Aldieris Braz Amorim Caprini Ana Paula Palamartchuk Andréa da Rocha Rodrigues Anna Lúcia Côgo AntôniAzazo Carlos da Silva Argemiro Ribeiro de Souza Filho Bárbara Maria Santos Caldeira Carlos Alberto de Oliveira Carlos Augusto Lima Ferreira Carlos José Ferreira dos Santos Carmélia Aparecida Silva Miranda Celeste Maria Pacheco de Andrade Célia Costa Cardoso Christiane Maria Cruz de Souza Cleide de Lima Chaves Coriolano Pereira da Rocha Júnior Cristiano Wellington Noberto Ramalho Denilson Lessa dos Santos Dilton Oliveira de Araújo Djaneide Argolo Eurelino Coelho Neto Felipe Eduardo Ferreira Marta Flávio Gonçalves dos Santos Francisco Antônio Zorzo Gilmário Moreira Brito Grimaldo Carneiro Zachariadhes Hélio Sochodolak Ione Celeste Jesus de Sousa Iraneidson Santos Costa Izabel de Fátima Cruz Melo Joceneide Cunha Santos José Alves Dias José Carlos Araújo Silva

Juvenal de Carvalho Conceição Lina Maria Brandão de Aras Lucileide Costa Cardoso Luiz Augusto Pinheiro Leal Luiza Nascimento dos Reis Marcelo Henrique Dias Márcia Maria da Silva Barreiros Marcia Santos Lemos Marcos Roberto Brito dos Santos Marcos Silva Maria das Graças de Andrade Leal Maria do Carmo Russo de Oliveira Maria Hilda Baqueiro Paraíso Milton Araújo Moura Natanael Reis Bomfim Oseias de Oliveira Rafael Oliveira Fontes Rafael Rodas Veras Filho Raimundo Nonato Pereira Moreira Raphael Rodrigues Vieira Filho Rita de Cassia Mendes Pereira Robson Norberto Dantas Ruy do Carmo Póvoas Sergio Armando Diniz Guerra Filho Sílvio César Oliveira Benevides Suzana Severs Tatiana Polliana Pinto de Lima Teresinha Marcis Valéria Amim Vanessa Ribeiro Simon Cavalcanti Wellington Castelucci Júnior Wilson Roberto de Mattos


REALIZAÇÃO Anpuh - Seção Bahia Universidade Estadual de Santa Cruz ( UESC) Departamento de Filosofia e Ciências Humanas (DFCH-UESC) Colegiado de História da UESC Curso de Especialização em História do Brasil (UESC) Centro Acadêmico de História Caboclo Marcelino APOIO: Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Instituto Federal da Bahia (IFBA)

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES – PARFOR)

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB)


Apresentação VI Encontro Estadual de História: Povos Indígenas, Africanidades e Diversidade Cultural: produção do conhecimento e ensino

dez anos da realização de seu I Encontro, os profissionais de História de todo o Estado retornam à terra que deu impulso ao processo de refundação da Associação Nacional de História Seção Bahia (ANPUH-BA), uma entidade que, no âmbito nacional, fez 50 anos em 2011. De 2002 de para cá muita coisa mudou: novos cursos de História foram criados, em universidades públicas e faculdades privadas, o ensino à distância avança por todo o país, e a obrigatoriedade do ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena finalmente se confirmou através da Lei 11.645/2008. Em vista desse quadro, elegeu-se como tema do VI Encontro Estadual de História “Povos Indígenas, Africanidades e Diversidade Cultural: produção do conhecimento e ensino”, como forma de criar uma oportunidade de reunir historiadores para discutir os significados e repercussões desta Lei em nossa prática cotidiana.

Mas, como todos sabem, a ANPUH é uma entidade plural e democrática. Plural como nenhuma outra, já que reúne profissionais de História do ensino básico e superior, além de historiadores que atuam em diversas frentes. Democrática como deve ser uma entidade de profissionais do ramo, buscando integrar as diferenças, ensejando os debates. Dessa maneira o tema do encontro não pretende criar exclusivismos, muito pelo contrário. Ele propõe e repõe em 2012 toda a diversidade a que estamos acostumados desde a nossa refundação: diversidade de abordagens, de métodos, de problemas, de práticas, de objetos e espaços de discussão, enfim, o VI Encontro Estadual de História pretende celebrar os 10 anos da refundação da ANPUH na Bahia e a sua consolidação entre nós, afirmando o quão diversos somos.


É por isso que o VI Encontro Estadual de História pretende ser um marco para os historiadores baianos. Um marco da diversidade, do congraçamento, mas também de discussões e polêmicas muito sérias, de acerbos debates sobre o nosso ofício e sobre o mundo em que vivemos. Afinal de contas, o pensamento crítico é uma arte que exercitamos desde sempre, de maneira que mesmo celebrando e congraçando não deixamos de refletir sobre os desafios do Brasil e do mundo, desafios esses que põem na pauta, além das alternativas de pensar o passado, os desafios de transformar o futuro. Historiadores de toda a Bahia é hora de iniciar os preparativos. A região cacaueira nos espera entre os dias 13 e 16 de agosto de 2012, para o VI Encontro Estadual de História.


Sumário Simpósio Temático 01..................................................................................... 11

“SONS, IMAGENS E CENAS: HISTÓRIA, CULTURA E LINGUAGENS NAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E RECEPÇÃO DE SUJEITOS”

Simpósio Temático 03..................................................................................... 23 ÁFRICA, SUAS HISTÓRIAS E A TRADIÇÃO ORAL AFRO-BRASILEIRA

Simpósio Temático 04..................................................................................... 38 AS RELAÇÕES DE GÊNERO E A PRODUÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS NO SABER HISTÓRICO

Simpósio Temático 05..................................................................................... 56 CATOLICISMO, REPRESSÃO E DIVERSIDADE CULTURAL NA AMÉRICA PORTUGUESA

Simpósio Temático 07..................................................................................... 66 CULTURAS, MEMÓRIAS E REPRESENTAÇÕES: OS DIFERENTES SUJEITOS E FAZERES DA HISTÓRIA

Simpósio Temático 08..................................................................................... 83 DESEJOS COLETIVOS E CULTURA URBANA NA METRÓPOLE BRASILEIRA: PERSPECTIVAS E RETOMADAS

Simpósio Temático 09..................................................................................... 89 DIMENSÕES DO PODER E DA POLÍTICA NO BRASIL: SÉCULOS XIX E XX

Simpósio temático 10 .................................................................................. 101 DIVERSIDADES, DESIGUALDADES, CONFLITO SOCIAL E LUTA POLÍTICA

Simpósio Temático 11................................................................................... 112 ENTRE A DEMOCRACIA E A DITADURA: CONFLITOS, TENSÕES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL

Simpósio Temático 12................................................................................... 122 ESTADO, NAÇÃO E CIDADANIA NO BRASIL DOS SÉCULOS XIX E XX

Simpósio Temático 13 .................................................................................. 131 ESTUDOS SOBRE AS PRÁTICAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS

Simpósio Temático 15 .................................................................................. 141 FAMÍLIA E HISTÓRIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES DOCENTES PARA UMA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA

Simpósio Temático 16 .................................................................................. 148 FONTES E CAMINHOS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BAIANA – ACERVOS ARQUIVISTICOS, PERIÓDICOS E MEMORIALISTAS

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Simpósio Temático 17 .................................................................................. 160 HISTÓRIA DA ÁFRICA: PERSPECTIVAS DE ENSINO, ESTUDO E PESQUISA

Simpósio Temático 18................................................................................... 170 HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE NO BRASIL: DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES

Simpósio Temático 19................................................................................... 178 HISTÓRIA DE FESTAS E FESTEJOS

Simpósio Temático 20 .................................................................................. 192 HISTÓRIA DO ATLÂNTICO E DA DIÁSPORA AFRICANA

Simpósio Temático 21................................................................................... 201 HISTÓRIA DO ESPORTE E DAS PRÁTICAS CORPORAIS

Simpósio Temático 22 .................................................................................. 210 HISTÓRIA E LITERATURA

Simpósio Temático 23................................................................................... 225 HISTÓRIA INDÍGENA: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS E ENSINO

Simpósio Temático 24................................................................................... 240 HISTÓRIA, BIOGRAFIA E MEMÓRIA: INTERSEÇÕES ENTRE CAMPO E CIDADE

Simpósio Temático 25 .................................................................................. 252 IDENTIDADES, FRONTEIRAS E CONFLITOS NA ANTIGUIDDE E NO MEDIEVO: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E ENSINO

Simpósio Temático 26................................................................................... 263 MEMÓRIA, AUTORITARISMO E DEMOCRACIA

Simpósio Temático 27................................................................................... 274 POVOS TRADICIONAIS – HISTÓRIA E CULTURA

Simpósio Temático 28................................................................................... 284 PROFESSORES DE HISTÓRIA: SABERES E PRÁTICAS DO ENSINO DE HISTÓRIA

Simpósio Temático 29 .................................................................................. 299 PROPRIEDADE E USUFRUTO DA TERRA NO BRASIL COLONIAL E IMPERIAL: ATORES, DIREITOS E CONFLITOS

Simpósio Temático 30................................................................................... 304 QUOTIDIANO, MEMÓRIA E HISTÓRIA DE POPULAÇÕES LITORÂNEAS E RIBEIRINHAS DO BRASIL

Simpósio Temático 31 .................................................................................. 312 RELIGIÃO, POLÍTICA E MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA

Simpósio Temático 32 ................................................................................. 324 FONTES PARA A PESQUISA HISTÓRICA DA BAHIA

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Simpósio Temático 01 “SONS, IMAGENS E CENAS: HISTÓRIA, CULTURA E LINGUAGENS NAS RELAÇÕES DE PRODUÇÃO, CIRCULAÇÃO E RECEPÇÃO DE SUJEITOS” Coordenadores: GILMÁRIO MOREIRA BRITO

Professor titular pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) // Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) gilmariobrito@uol.com.br IZABEL DE FÁTIMA CRUZ MELO

Mestre em História Social do Brasil

A

produção historiográfica brasileira recente interessada em perceber relações e tensões estabelecidas no cotidiano vem, desde os anos 1970, demonstrando interesse por fontes e objetos de estudos que registraram e deixaram impressões de juízos e valores sobre relações estabelecidas entre os sujeitos em seus modos de fazer, saber, sentir, através dos quais buscam construir seus lugares na história. Nessa perspectiva, sob patrocínio de Programas de Pós-Graduação produção historiográfica vem se abrindo para o desafio de trabalhar inter-faces da história e linguagens buscando dialogar com a música, literatura, fotografia, teatro, cinema, entre outras. Considerando que a linguagem é constitutiva do sujeito e dos enfrentamentos que estabelecem no processo de circulação e recepção da produção cultural, esse simpósio temático “Sons, imagens e cenas: História, cultura e linguagens nas relações de produção, circulação e recepção de sujeitos” busca reunir e apresentar resultados de pesquisa no campo da história e discutir como sujeitos portadores das referidas linguagens são inscritos na história pelas narrativas e olhares da recente historiografia brasileira e baiana. Assim, objetivamos apresentar e discutir como sujeitos que se manifestam através das linguagens da música, literatura, fotografia e cinema são olhados e inscritos na história da Bahia pela historiografia contemporânea; reunir pesquisadores que trabalham com música, literatura, fotografia e cinema para discutir aspectos teóricos e metodológicos da produção da história a partir dessas linguagens; discutir sobre a utilização da música, literatura, fotografia e cinema como fontes; refletir sobre a problematização dessas linguagens como desafios para historiadores e refletir sobre os lugares atribuídos aos sujeitos na produção, circulação e recepção da musica, literatura, fotografia e cinema na produção da história. 11


Alyne Martins Gomes

Pós-graduanda em História do Brasil pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) alyne_ba@hotmail.com

Rio Cachoeira (Itabuna/Ba): representações e percepções em diálogos com a historia ambiental

Este artigo apresenta um pouco da monografia de pós-graduação intitulada Rio Cachoeira (Itabuna/Ba): representações e percepções em diálogos com a historia ambiental. O trabalho buscou discutir e compreender como o Rio Cachoeira pintado pelo artista Walter Moreira poderia ser a representação da percepção de homens e mulheres moradores da cidade de Itabuna banhada por este Rio Cachoeira. A investigação está amparada na topofilia, através deste estudo pensou-se em extrair do imaginário e da simbolização apresentada nos quadros do artista a percepção que se têm do rio Cachoeira. Para tanto, o texto apresenta uma breve discussão sobre o porquê de uma história ambiental ao passo que explora e explica o uso de pinturas como fonte historiográfica. Sendo as pinturas as principais fontes tomadas na pesquisa, tornou-se imprescindível conhecer métodos sobre como interpretá-las: desde a identificação das técnicas usadas pelos artistas aos elementos que as compunham. O texto não apresenta uma sucessão temporal linear embora tenhamos um recorte temporal que segue justamente o debate das pinturas a medida que são apresentadas. Assim, como as águas que se misturam, também misturam-se presentepassado em nossa pesquisa. Ao se pretender construir um estudo com o olhar para o ambiental foi necessário também recorremos aos estudos de outras áreas do conhecimento como a geografia, ecologia, antropologia, fenomenologia. Retomamos ainda algumas das narrativas tradicionais sobre a história da cidade, fizemos usos de fotografias e mapas. Mais que apresentar uma discussão sobre a história ambiental da cidade de Itabuna pretendemos apresentar um olhar sobre este elemento que além de compor seu cenário ambiental e urbano tornou-se também um símbolo cultural: o rio Cachoeira. Palavras-chave: Itabuna, Rio Cachoeira, História ambiental.

Carlos Alberto Pereira Silva

Professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) kk.uesb@gmail.com

Música e Ecologia no Brasil Contemporâneo

Este artigo reflete sobre as relações entre música e ecologia no Brasil contemporâneo. Industrialização, urbanização acelerada, aumento da riqueza material, expansão da sociedade de consumo, estímulo à competição e degradação ambiental configuram as múltiplas dimensões do desenvolvimento ocorrido no Brasil nas últimas décadas. Durante este triste-alegre tempo, a canção esteve em, praticamente, todos os lugares: rádios, televisores, cinemas, templos, terreiros, lares, estádios, teatros, automóveis, feiras, praças, academias, shoppings, dentre outros tantos espaços. Múltiplos foram 12


os temas abordados pelos compositores nos mais diversificados gêneros, estilos e linguagens musicais: vários compositores criaram inúmeras canções que versaram sobre as aventuras e desventuras do amor romântico, sobre as belezas naturais do nosso país tropical, sobre o autoritarismo reinante na política e, também, sobre os problemas ecológicos gerados pelo desenvolvimento industrial. Animados por uma tensão vibrante e pela energia apaixonada, os artistas alargaram os entendimentos dos múltiplos acontecimentos, fenômenos e processos através do emprego da imaginação, que ainda é negligenciada pelo pensamento científico. Ao incorporar a premissa de que a arte cria “um conhecimento mais profundo e verdadeiro da essência do mundo”, conforme anuncia Arthur Schopenhauer, o objetivo deste trabalho, portanto, é destacar a crítica poética descortinada por compositores brasileiros, através de suas canções, à exploração predatória da natureza. Palavras-chave: desenvolvimento industrial, meio ambiente, Canção.

Caroline Lima Santos

Professora assistente do curso de licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia. Bolsista FAPESB. Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) carolimasantos@gmail.com

História, Cinema e Ensino de História: o Sertão, o Sertanejo, o Cangaceiro e o Beato no Cinema Brasileiro (1950 -1970)

O Sertão brasileiro foi palco no inicio do século XX de disputas políticas, territoriais, e até mesmo de guerras, entre homens e mulheres do campo e o Governo Republicano, o lugar da seca e da esperança, o espaço do Cangaceiro e do Beato, dos Coronéis e dos Jagunços, enfim, do sertanejo. Diante disso, a Comunicação ora apresentada trata de uma proposta de Iniciação Científica que está em fase de construção, no curso de História do Campus XVIII – Eunápolis, Universidade do Estado da Bahia, com o intuito de compreender as representações sociais atribuídas ao Sertão e seus personagens e eventos, na produção cinematográfica brasileira num contexto de desenvolvimento do universo cultural brasileiro, precisamente nas décadas de 1950 a 1970, para tal, será desenvolvido um trabalho de análise da construção imagética do sertão no cinema a partir dos filmes da linha nordeste, com o objetivo de identificar e estabelecer relação entre o momento histórico do surgimento dos fenômenos sociais do messianismo e do cangaço com as representações produzidas no Brasil por intelectuais urbanos, para a produção de roteiros fílmicos que alie Pesquisa e Ensino de História, evidenciando o Cinema como objeto de estudos e recurso didático. Palavras-Chave: sertão, representação, cinema, história.

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Denise Pereira Silva

historicadenise@yahoo.com.br O Teatro Livre da Bahia e a cultura popular em tempos de ditadura civil-militar

Diogo Trindade Alves de Carvalho Historiador e Mestre em Cultura e Sociedade diogocarvalho_71@hotmail.com

Adeus, URSS

Vinte anos após o fim da URSS, a historiografia não deu a devida importância ao colapso do sistema soviético. No Brasil, por diversos motivos, o estudo da sociedade soviética ainda é muito incipiente, porém, o cinema pode contribuir bastante para o acesso de brasileiros ao tema. Na atualidade, diversos filmes que eram inacessíveis aos cidadãos ocidentais, podem ser acessados através das novas tecnologias de informação. Durante a História da sociedade soviética o cinema foi uma ferramenta importantíssima na política cultural bolchevique. O cinema soviético, desde, os tempos da revolução, refletiu as transformações experimentadas pela URSS ao longo da sua história. No fim da URSS, os diretores soviéticos puderam captar o clima de crítica e reflexão que assolou os últimos anos da URSS. Este artigo visa problematizar algumas destas produções no contexto da perestroika e glasnot. Para isso, três foram utilizados como base de análise. Estes filmes se diferenciam de outras produções soviéticas, de períodos anteriores, porque foram produzidos em um período cuja sociedade soviética estava experimentando reformas singulares e determinantes nos rumos do Estado soviético. A cultura de massa, representada neste trabalho pelo cinema, absorveu elementos representativos desta atmosfera de relaxamento do realismo socialista e os seus desdobramentos na arte e cultura soviética. Palavras-chave: cultura, cinema, URSS.

Edevard Pinto França Junior

Professor da Faculdade Nossa Senhora de Lourdes. Pesquisador do Grupo de Pesquisa em Estudos para a Diversidade – GRUPED. Especialista em Estudos culturais, História e Linguagens edevardjunior@gmail.com

A Bahia e a morte do cinema: a baianidade no documentário O capeta Carybé

Este texto tem como objeto de estudo da baianidade no filme O capeta Carybé. Para fazê-lo, primeiramente vamos realizar um panorama da produção documentária na Bahia, segundo os estudos de Osmundo Pinho e Agnes Mariano. Posteriormente, analisaremos as formas de disseminação da baianidade, como a música e a literatura, através de Jorge Amado e Dorival Caymmi. É a partir deste suporte discursivo que o documentário vai basear a produção de imagens sobre a Bahia e os baianos. Nesta parte será analisado o livro homônimo de Jorge Amado e do próprio Carybé. Por 14


fim, vamos examinar as representações da baianidade no documentário O capeta Carybé, produzido na década de 1990 pelo diretor Agnaldo Siri Azevedo. Proposto para ser uma homenagem ao famoso pintor baiano, o filme acaba sendo uma reflexão sobre o desalento dos intelectuais brasileiros para com a derrota de seu projeto de nação, esboçado na década de 1970. Notamos que na historiografia baiana, pesquisas produzidas no tempo presente são cada vez mais necessárias, pois se trata de eventos e processos vivenciados, sobre os quais ainda não se refletiu. Este texto é parte dos estudos preliminares do projeto de mestrado, fruto das inquietações produzidas durante curso de especialização em Estudos Culturais, História e Linguagens Palavras-chave: documentário, baianidade, Carybé.

Ednair Carvalho Rocha

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia ednair.rocha@gmail.com

Construções de memórias: trabalhadores de ganho nos jornais e na fotografia na cidade da Conquista entre 1920 e 1940

Palavras - chave: história, memória, trabalhadores de ganho.

Gilmário Moreira Brito

Professor titular pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CNPQ. Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo gilmariobrito@uol.com.br

Produção e circulação de imagens religiosas em folhetos de Rodolfo Coelho Cavalcante

O propósito desse texto é identificar, problematizar e refletir de que maneira Rodolfo Coelho Cavalcante produziu e colocou em circulação imagens poéticas literárias e iconográficas sobre milagres de santos católicos e práticas religiosas. Essa preocupação em investigar as imagens construídas pelos autores de folhetos acerca das relações e tensões religiosas também emergiu das discussões como grupo envolvido com o projeto de pesquisa: “Produção Iconográfica no Nordeste inter-relações entre linguagens escrita, oral e gestual” que coordenamos junto ao DCHF/UEFS. Compreendendo as linguagens que se cruzam nos folhetos como constitutivas dos autores e do público com o qual dialoga, nosso objetivo é investigar os folhetos religiosos de cordel como instrumentos através dos quais poderíamos nos aproximar de experiências e vivencias de sujeitos e grupos sociais não letrados, de restrito acesso aos códigos da norma culta e/ou que realizavam leituras de linguagens distintas da escrita. Ao longo da pesquisa identificamos que os folhetos eram produzidos, em sua maioria, por homens com diferentes habilidades poéticas e iconográficas cujo domínio da escrita, de acordo com o padrão da norma culta apresenta limites. Porém, é importante observar que essa literatura, de fato, apresenta 15


na sua poesia de seis, sete ou dez estrofes, setesilábicas, decasilábicos, ritmo e rima que, mesmo grafada e impressa, guarda fortes traços da oralidade, conservando-os na escrita poética e formas da fala. Assim, as utilizações desses folhetos suscitam tanto ser memorizadas quanto a participação do outro que escuta. Essa constatação sobre de inter-relações de linguagens dos folhetos nos instigaram a investigar as possibilidades de leituras de imagens poéticas e iconográficas sobre práticas religiosas relacionadas às tradições católicas em folhetos de Rodolfo Coelho Cavalcante. Palavras-chave: produção de narrativas poéticas, recepção e leitura de imagens, circulação de folhetos.

Girley Oliveira dos Santos

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista PIBID gihistoriadora@yahoo.com.br

Festejos a Santo Antônio do Argoim: uma leitura através da fotografia e seus mistérios

O presente artigo pretende fazer um estudo histórico sobre os festejos de Santo Antonio no povoado do Argoim, nas décadas de 1970 e 1980 do século XX, através de suas imagens, que em muito revelam sobre as experiências de vida da população. Dessa forma, estas ilustrações nos permitem analisar, os elementos da cultura local, bem como visualizar o contexto social e religioso da referida época. Como a fotografia além de ser utilizada como fonte pode ser tratada como exercício de memória, usaremos também alguns depoimentos de fontes orais para o enriquecimento de nosso trabalho e assim poder desvendar os mistérios captados pelas lentes curiosas do/dos fotógrafo/os. Palavras - chave: fotografia; cultura; festejos.

Izabel de Fátima Cruz Melo Mestre em História Social do Brasil izabelc.melo@gmail.com

“Um copo vazio também está cheio de ar”: filmografia baiana como espaço de visibilidade da produção baiana

Este artigo dedica-se a sistematizar a trajetória de organização e realização das etapas iniciais do Projeto Filmografia Baiana, contemplado pela Demanda Espontânea do Fundo de Cultura da SECULT (Secretaria de Cultura do Estado da Bahia) no ano de 2007 e ganhador do edital Apoio à Pesquisa e Preservação da Memória Audiovisual Baiana, realizado pelo IRDEB (Instituto de Radiodifusão Educativa da Bahia) no ano de 2009 e vinculado à mesma secretaria. Ele consiste num projeto independente e modular que se dedica a mapear, documentar e sistematizar num banco de dados on-line a produção filmográfica baiana na sua abrangência de suportes (35, 16, 8 mm, super-8, U-matic, vídeo,etc.) desde os primórdios, o que no nosso caso corresponde à 1910 16


até 2011. Afinados com os critérios estabelecidos pela FIAF (Federação Internacional de Arquivos Filmográficos), Cinemateca Brasileira e atentos à Recomendação de Salvaguarda e Conservação das Imagens em Movimento da UNESCO (Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura) buscamos dar visibilidade às produções baianas, contribuindo para o enriquecimento do panorama audiovisual brasileiro. Entre os objetivos do projeto estão o incentivo a pesquisa sobre a história do cinema e audiovisual realizados no estado da Bahia, a divulgação das produções, além do treinamento de estudantes para pesquisa filmográfica. Palavras-chave: História do Cinema, banco de dados, filmografia Baiana.

Jairo Carvalho do Nascimento

Professor de História pela Universidade do Estado da Bahia. Doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista PAC/UNEB jairocine.uneb@gmail.com

Pornochanchada, cinema e censura no Brasil: um estudo do filme “Histórias que nossas babás não contavam” (1979)

A censura foi o principal instrumento utilizado pelo Regime Militar no Brasil para vigiar o campo político e cultural. No plano cultural, ela atingiu dois setores centrais: a imprensa e a área de diversões públicas. Jornais, revistas, televisão, rádio, eram vigiados de perto pelos militares. Jornalistas foram presos, torturados e mortos nos porões da ditadura militar, a exemplo de Vladimir Herzog. No campo de diversões públicas, o cinema e o teatro foram os alvos principais. Filmes e peças de teatro foram proibidos ou censurados com cortes, muitos cineastas e teatrólogos na mira dos censores, como Glauber Rocha e José Celso Martinez Corrêa. No cinema em particular, parece que a base do discurso censor concentrava-se, de modo geral, na “ideia de proteção”: resguardar à sociedade e a ordem política vigente de influências indesejadas em determinados filmes, como o comunismo, e proteger os valores morais da família diante do avanço do erotismo no cinema, dentre outros elementos. Um dos alvos de preocupação era com a pornochanchada, comédias eróticas recheadas de cenas simuladas de sexo, gênero que dominou o circuito comercial do cinema brasileiro durante a década de 1970. Preservar a moral e os bons costumes definia o tom do discurso e às ações dos censores. O objetivo principal deste artigo é abordar a natureza da censura aos filmes da pornochanchada durante o regime militar, mostrando suas especificidades e diferenças em relação a outros filmes, como os dramas de caráter político. Para atingir tal fim, analisaremos, a partir de pareceres e certificados de censura, a obra “Histórias que nossas babás não contavam” (1979), de Osvaldo de Oliveira, que servirá de ponto de partida para termos uma compreensão do problema, uma visão geral da relação da pornochanchada com a censura. Palavras-chave: pornochanchada, cinema, censura.

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Maiane Cruz Rocha

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista FAPESB maianerocha2008@hotmail.com

A relação conflitante entre a mulher e a política durante a Campanha Civilista (1909-1910)

Essa comunicação é o resultado de pesquisa iniciação cientifica (FAPESB) que teve como objetivo analisar charges e caricaturas que utilizaram a figura feminina para satirizar os costumes políticos durante a Primeira República, no Brasil. O material pesquisado corresponde ao período da Campanha Civilista, ocorrida entre 1909 e 1910. Analisei as publicações Revista do Brasil, Revista da Bahia, Careta e Fon-Fon! Esses meios de comunicação de forma humorística vão evidenciar as mazelas dos costumes políticos na Primeira República. Para isso, vão utilizar figuras femininas para representar / retratar a política do momento; os chargistas e caricaturistas trabalhavam imagens opositoras da mulher, ora utilizavam imagens da mulher elegante e majestosa, ora a imagem da senhora decrépita e vulgar. Outra constatação a que cheguei foi a de que os chargistas procuraram chamar atenção para as continuidades negativas dos processos eleitorais no Brasil, que vinham desde o Império e que persistiam vivas no novo regime republicano. Na sua visão, a política no Brasil sempre fora um desencontro entre as boas intenções – a Política com P maiúsculo – e a negociata, a compra de votos, o voto de cabresto, enfim, a política miúda, do “toma lá dá cá”. Durante a pesquisa, procurei dialogar com as propostas de análise de charques e caricaturas de Elias Thomé Saliba, Vera Lúcia B. Borges e Myriam Bahia Lopes. Palavras-chave: mulher, iconografia e política.

Marcelo Ribeiro Oliveira

Graduando da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) mriboliveira@hotmail.com

“Essa pornografia não pode ir ao vídeo”: a análise de Plínio Marcos sobre a adaptação da Cabana do Pai Tomás (1969)

A Cabana do Pai Tomás foi uma telenovela exibida pela Rede Globo no ano de 1969. Para interpretar o personagem principal, o escravo negro pai Tomás, foi escalado o ator branco Sérgio Cardoso. Ele foi caracterizado através de um recurso artístico denominado de blackface. A participação do teatrólogo Plínio Marcos é discutida nesse texto a partir da sistematização da análise crítica (publicada no jornal Última Hora de SP) realizada por ele quando descobriu que a adaptação de A Cabana do Pai Tomás para a TV aconteceria dessa forma. A pesquisa buscou, ainda, problematizar os argumentos utilizados por ele, no intuito de entender em que medida estão articulados com o contexto de exclusão e afastamento dos atores negros de trabalhos que dariam a eles posição de destaque. A metodologia privilegiou uma análise qualitativa e comparativa do material utilizado, os quais variaram de jornais, revistas e almanaques 18


a sites eletrônicos e depoimentos de profissionais envolvidos com a obra. Constatouse que as ideias de Plínio Marcos estavam próximas da realidade profissional dos atores negros, e, confrontadas com bibliografia apropriada, elas ainda demonstram que o problema não estava em quem era o responsável por indicar Sérgio Cardoso para estar lá, mas sim que ele estava. Dessa forma, qualquer justificativa, inclusive a econômica, para um branco interpretar pai Tomás, pode ser contestada evidenciando seus argumentos. Os quais contemplam o prejuízo profissional ocasionado por uma prática que vai além do brackface e de A cabana do pai Tomás, mas que estava inserida no contexto artístico da época que reproduzia atitudes semelhantes e seguia contribuindo com o oferecimento de limitadas oportunidades aos atores negros. Palavras-chave: Plínio Marcos, atores negros, blackface, racismo.

Marcos Ferreira Gonçalves -----bokapiu@yahoo.com.br

Imagens, memórias, ruídos e as roupas de ver deus: a construção de uma trama historiográfica sobre as vestimentas em Salvador (1958-1968)

O historiador pernambucano Antonio Paulo Rezende defende que a escrita da História deve atentar para os ruídos, silêncios, conflitos, diálogos, sussurros e outros elementos significativos que podem ser empregados na construção de narrativas históricas que se aproximem da vida ou, como denomina Rezende, dos cenários de vida. A comunicação em pauta segue essa premissa e pretende mostrar o processo de interfaces empregado na produção de uma pesquisa intitulada Roupa de ver Deus: cotidiano e vestimenta em Salvador (1958-1968). Esta pesquisa, que tem como eixo central a análise das indumentárias cotidianamente utilizadas na Salvador da década de 1960, em seu percurso empregou, como suporte analítico, múltiplos aspectos que atuaram, de forma mais ou menos direta, na construção de um padrão de vestir que marcou e influenciou a sociedade soteropolitana como um todo, entre os quais se incluem elementos advindos do universo musical, do fetichismo com artistas populares e personalidades da realeza, atingindo seu corolário na efervescência produzida pelos diversos concursos de beleza que pululavam na capital baiana no período em análise. E nesse diálogo entre uma estética de vestir influenciada pela cultura de massa e as possibilidades cotidianas que vai emergir o sentido e o significado atribuídos às roupas que foram denominadas como aquelas de ver Deus.

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Núbia Magalhães de Souza

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) bynhamagalhaes@gmail.com

“E hoje somos cultura: o negro em foco” – um estudo sobre a “reafricanização” da Bahia na década de 1980

Essa comunicação propõe uma (re) leitura sobre o espaço sócio - musical afro - baiano (capital e recôncavo açucareiro), no auge do processo de “reafricanização” em 1980, momento em que as expressões conferidas como “africanas”, suas simbologias e as “estéticas” negras são verificadas com mais intensidade e representatividade no estado. Nesse sentido, as contradições, ambigüidades e trocas convivem mutualmente e se ofuscam na idéia de “Baianidade”. As imagens são “testemunhas oculares”, evidências históricas sobre e do passado é um instrumento comunicativo, elas preservam em suas essências códigos que possibilitam a análise e a reflexão sobre o processo historiográfico e sobre as mudanças comportamentais (coletivas, individuais, sociais, econômicas, dentre outras). Elas podem ser manipuladas, forjadas e ou inventadas na medida em que os interesses e as possibilidades se fazem presentes e possíveis, sendo reproduzidas a partir de ideais políticos, sociais, ideológicas, culturais, estéticas e vivenciais. Não obstante, procuramos verificar as fotografias contidas nos álbuns da Banda Reflexu’s (Reflexu’s da Mãe África - 1987) e Banda Mel (Força Interior – 1987), grupos e álbuns que fizeram sucesso em âmbito nacional no período, e será a partir deles que pensaremos nas facetas afro - identitárias, no projeto turístico – cultural afro-baiano, e sobre a participação e as performances estético – musicais que corroboraram no processo de “reafricanização”.

Rafael Henrique Costa Santos de Jesus

Mestrando pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) // . Bolsista CAPES rafahenriqq@gmail.com

Os cinejornais da Sani Filmes e os primórdios do jornalismo audiovisual na Bahia

O estudo proposto pelo seguinte artigo concerne ao resgate histórico do cinejornal da produtora SANI Filmes, fundada em 1961, pelo cineasta Oscar Santana, como pretexto para pensar a história do jornalismo audiovisual na Bahia e sua vinculação ao discurso desenvolvimentista vigente no estado, nesse contexto. A história dos cinejornais e documentários esteve fortemente vinculada ao discurso de modernização econômica do estado, a partir dos anos 1950. A fundação da primeira produtora de cinejornais, a Iglu Filmes, no ano de 1957 é certamente um marco político fundamental para esse processo de construção da imagem de uma Bahia Modernizada. A Política já percebia o cinema como um importante mecanismo de reverberação de um discurso otimista sobre a condição econômica e social do estado. Chamará bastante atenção, o contexto da prefeitura de ACM (1967 a 1970), 20


no qual a SANI Filmes trabalhou ativamente, produzindo as principais reportagens audiovisuais acercas das obras engendradas pelo “prefeito modernizador”. A nossa questão principal aqui é revelar esse estilo de se fazer comunicação, tão presente no país, em uma conjuntura na qual a TV ainda era bastante incipiente, levando os políticos a fazerem propaganda de suas ações no cinema, naquele espaço antes da exibição dos filmes em cartaz. A SANI Filmes certamente contribuiu bastante para a construção da imagem de muitos políticos nesse período, em especial, de Antonio Carlos Magalhães, como prefeito que “modernizou Salvador”. Palavras-chave: SANI Filmes, jornalismo audiovisual, desenvolvimentismo.

Sidiney de Araújo Oliveira

Mestre em Desenho, Cultura e Interatividade pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) leonfsa@gmail.com

Os “farrapos do passado” e outros elementos na composição do desenho da Avenida Senhor dos Passos

O texto pretende abordar como a Avenida Senhor dos Passos em Feira de Santana, Bahia, foi descrita, desenhada, nos jornais da cidade entes as décadas de 1960 a 1980 e nos relatos orais de moradores e ex-moradores. Do endereço da elite econômica e política da cidade a logradouro essencialmente comercial, a Avenida Senhor dos Passos sofreu inúmeras alterações ao longo do século XX. A sociedade se transformou e a cidade atendeu às suas diretrizes. Nos últimos tempos muitos imóveis antigos foram demolidos para atender ao imperativo das atividades econômicas provocando mudanças significativas no desenho urbano e na arquitetura dos imóveis, isso causou estranhamentos a quem vive ou viveu ali por muito tempo. Diante das inevitáveis transformações, grupos de intelectuais e descendentes daquela elite mais abastada lamentam essa transformação e buscam construir uma memória visual para aquela que fora, em suas experiências urbanas, uma “avenida feliz” promovendo exposições fotográficas das imagens produzidas pelos fotógrafos, leitores privilegiados e desenhadores da cidade de Feira de Santana, na perspectiva de perpetuar a vera imagem da cidade, que desperta para o presente as múltiplas cidades que a de hoje encerra. É preciso informar que o desenvolvimento da narrativa se realiza a partir de dois principais eixos: o desenho e a memória. Ambos definem, localizam, (re) velam tempo, espaço, histórias e uma multiplicidade de experiências perceptivas. Palavras-chave: desenho, memória urbana, Avenida Senhor dos Passos.

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Sinara Carneiro de Oliveira

Mestranda do PPG em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) sinaraholiveira@hotmail.com

Folhetos populares de Cuíca de Santo Amaro: crítica política e sociedade em versos (1955-1964)

Este trabalho tem como fonte principal os folhetos populares escritos por Cuíca de Santo Amaro entre os anos de 1955 a 1964, este autor escrevia assiduamente sobre a política, assim como denunciava as mazelas sociais que atingia a população pobre de Salvador. Este trabalho encontra-se na fase inicial e está sendo construído a partir de alguns questionamentos dentre os quais levantamos o seguinte problema: De que forma o cotidiano de um grupo social encontra-se constituído nos folhetos populares de Cuíca de Santo Amaro escrito entre os anos de 1955 a 1964? O objetivo é analisar de forma minuciosa quais aspectos da sociedade onde foram criados, lidos e disseminados podem ser percebidos e por estes revelados. Utilizamos o folheto popular como fonte para este estudo por acreditar que neles estão contidos poesia, história e ficção, contudo, trazem elementos que revelam sua contemporaneidade, possibilitando leituras do contexto em que estão inseridas. Os folhetos populares de Cuíca de Santo Amaro encontrados no acervo de Literatura de cordel da Biblioteca Setorial Monsenhor Renato de Andrade Galvão, pertencente ao Museu da Casa do Sertão situada na Universidade Estadual de Feira de Santana, são as principais fontes que dão suporte e viabilidade a esta pesquisa. Essa concentra um número significativo de folhetos desse autor, contamos também com os cordéis contidos em Antologias de Cordel e os folhetos anexados nos livros biográficos sobre Cuíca de Santo Amaro. Revistas e jornais do período estão sendo pesquisados na Biblioteca Central situada no Bairro dos Barris em Salvador. Utilizamos como referencial teórico Roger Chartier, Michel de Certeau e para a discussão entre História e Literatura Nicolau Sevcenko, Sandra Pesavento, entre outros. Palavras-chave: folhetos populares, política, sociedade.

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Simpósio Temático 03 ÁFRICA, SUAS HISTÓRIAS E A TRADIÇÃO ORAL AFRO-BRASILEIRA Coordenadores: CAMÉLIA APARECIDA SILVA MIRANDA

Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) // Doutora em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) carmelia15@hotmail.com JUVENAL DE CARVALHO CONCEIÇÃO

Mestre em História Universidade Federal da Bahia (UFBA) juvenalc@gmail.com

A

Lei 10639 tem em seus fundamentos uma idéia antiga, presente no pensamento de vários autores como Nina Rodrigues, Luis Viana Filho, José Honório Rodrigues e Alberto da Costa e Silva, que consideram ser impossível compreender o Brasil sem conhecer o continente africano, pois foi da África que veio a grande maioria daqueles que colonizaram o Brasil. Os africanos aqui escravizados não traziam apenas sua força de trabalho. Trouxeram também suas crenças, seus valores, seus conhecimentos e técnicas, em resumo trouxeram também suas culturas e deixaram suas marcas em todas as dimensões da vida brasileira. Por isso é que a História da África pode explicar muito do que é o Brasil. O referido Simpósio Temático tem como proposta reunir trabalhos que discutam sobre a África e suas historias e também sobre a cultura, a memória e os saberes das populações afro-brasileiras refletindo de forma articulada sobre as duas margens do Atlântico Objetivo Geral: a) Estimular o estudo e a troca de experiências e visões entre aqueles que estudam especificamente a História da África através da identificação de professores, de grupos de estudo, de temas e estratégias, mas também das dificuldades enfrentadas. b) Discutir sobre a tradição oral e a cultura afro-brasileira.

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Alexandra da Cruz de Nantes ----alezinhanantes@hotmail.com

O ensino de história da África na educação básica: representações e estereotipias

O presente trabalho tem como objetivo analisar o Ensino de História da África na educação básica, ressaltando quais representações de África embasam as abordagens acerca desta temática. A obrigatoriedade imposta pela Lei 10.639/03 impulsionou a presença do Ensino de História da África de forma mais pontual nas escolas. Entretanto, de forma frequente, as abordagens acerca da história do continente africano assentam-se nas representações existentes na mentalidade de grande parte dos professores, em geral, construídas com base em preconceitos e estereótipos diversos. Nestas representações o continente africano é representado como um todo homogêneo, primitivo e selvagem, ignorando a diversidade no que tange as suas práticas, costumes e subestimando a contribuição das sociedades africanas para a história da humanidade. À medida que embasam as práticas pedagógicas, estas estereotipias retroalimentam preconceitos, distorções e visões equivocadas sobre um continente diverso, plural, que abriga em seu território povos distintos. Este trabalho, ainda em andamento, é parte integrante de uma pesquisa maior, intitulada A África a partir das representações, coordenada pelo Prof. Dr. Ivaldo Marciano de França Lima, professor adjunto do colegiado de História da UNEB, campus II, e integrante do GT nacional de História da África da ANPUH. Palavras chave: África, ensino, representações, professores, estereótipos.

Ana Paula Cruz Carvalho da Hora ---ana.cruz@bol.com.br

Socialismo e Tribunais Populares em Moçambique (1978 a 1989)

Moçambique pós-independência caracterizou-se pela tentativa de estender a todo país o projeto político e social que visava à construção de uma sociedade socialista, pautada pelo esforço de desmantelamento do sistema político, administrativo, cultural, econômico, educacional e jurídico do período colonial, e implantação de um sistema político, assentada na democracia e no poder popular. Além disso, o governo almejava extirpar tradições e costumes, que foram denominados de “obscurantistas” e “feudais”. Com este intuito, o governo Moçambicano implementou uma série de ações e novas instituições, como projetos de emancipação da mulher, Centros de Reeducação, Operação Produção, os Tribunais Populares etc. O objetivo desse trabalho é investigar apenas um desses mecanismos de construção da sociedade socialista em Moçambique, a saber, os Tribunais Populares, analisando como os mesmo contribuíram para a construção da “nova sociedade” almejada pelo 24


governo, e ao mesmo tempo perceber como esses tribunais foram recepcionados pela população numa sociedade fortemente marcada pela diversidade cultural e jurídica. Para tanto, são utilizados os discussões do partido socialista FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique), no período de 1974 a 1989, além da Revista Jurídica “Justiça Popular” que foi lançada em novembro de 1980 e chegou ao fim com a edição de nº 13, em dezembro de 1988. Essa revista é a principal fonte desse trabalho, principalmente por ela apresentar, por meio de seus artigos, o contexto social da implantação dos tribunais populares, no âmbito da política socialista do governo, bem como a repercussão dos tribunais populares na sociedade moçambicana. Palavras-chaves: África, Moçambique, Tribunais Populares, Socialismo.

Antônio Tadeu Santos Barbosa --tadbarbosa18@yahoo.com.br

Em busca da liberdade: experiências de escravizados nos últimos anos anteriores à abolição em Curralinho (18711888)

A pesquisa que realizo, intitulada “Negros e itinerantes: vivências cotidianas numa comunidade dos limites do recôncavo baiano. Curralinho (1860-1888)”, tem por objetivo analisar os rastros das vivências cotidianas entre escravizados, libertos e homens livres pobres. Sendo assim, torna-se fundamental reconstituir a trajetória da população negra dessa localidade para compreender as diferentes e variadas formas de vivências cotidianas, sejam elas através do trabalho ou da família, o que implica também pensar nos laços de solidariedade e amizade entre escravizados e libertos para a conquista da liberdade. Porém, interessa-nos, neste artigo, refletir alguns aspectos iniciais desta pesquisa que se encontra em andamento sobre os diferentes meios usados pelos escravizados para a conquista da liberdade. Assim, serão investigados os rastros de vivências e experiências, partindo dos laços familiares de dois casais de escravizados e de uma africana cativa, sujeitos históricos que viveram nas últimas décadas da abolição no recôncavo baiano, mais precisamente no Termo do Curralinho, atual Castro Alves-BA. Estarão sendo analisados uma notícia retirada do Jornal “O Asteróide”, sobre os escravizados Ana Rita e Balbino e as listas de Matrícula encontradas no inventário do Ten. José Rufino Eloy. As informações dessas fontes serão cruzadas com alguns nomes encontrados no livro de assento de casamento e batismo da freguesia do Curralinho (1873-1890). Estabeleceremos, também, diálogo com pesquisadores como Walter Fraga Filho, Isabel Cristina Ferreira dos Reis, Robert Conrad, Ricardo Tadeu Caires, entre outros historiadores que se debruçaram no estudo da escravidão na Bahia do Século XIX.

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Arilene Nascimento da Silva Suzart ----afrolima@gmail.com

Proliferação de Seitas Religiosas em Angola: perspectivas do Jornal de Angola

Proliferação de Seitas Religiosas: Perspectivas do Jornal de Angola “Quem vai à casa de Deus, não vai de mãos vazias”. Argumentos desse gênero impregnam os discursos dos líderes de movimentos religiosos no território angolano. Esta proliferação de seitas religiosas é um movimento que vem a marcar a Angola, principalmente porque levanta uma série de discussões nos mais variados setores da sociedade a respeito das consequências que tem trazido ao seio das comunidades angolanas. A existência das seitas parece demonstrar muito êxito e influência na vida religiosa das pessoas e ao se abordar tal temática, um assunto que é colateral ao movimento religioso è a “feitiçaria”, que se constitui enquanto “essência doutrinal” desses movimentos. Outro aspecto que comumente é abordado sobre a multiplicação desses movimentos diz respeito à lucratividade proporcionada pelas atividades, tornando-se atrativo tanto para pessoas oriundas de outros lugares como para cidadãos nacionais que por se tratar de um negócio de enriquecimento, também fundam seus “templos”. Em resposta a todos esses fatores, aproximam-se da realidade da sociedade angolana, problemas como pânico, exploração, mentira, violência, falsas acusações, vingança, divisão de famílias e morte, todos esses fatores associados à atuação dos líderes desses movimentos conhecidos como Papás Pasteur. Esta pesquisa pretende analisar a Proliferação das seitas religiosas em Angola a partir das perspectivas noticiadas pelo Jornal de Angola, na internet, com vistas a compreender e levantar uma reflexão de essa proliferação tem influenciado a cultura religiosa da sociedade angolana. Palavras-chave: proliferação de seitas religiosas, imprensa, cultura religiosa.

Átila Conceição Rodrigues

Professor de História do Colégio Estadual Vitor Soares - Salvador / Bahia. Bacharel e Licenciado em História (UCSAL) atilarc@gmail.com

A Independência de Gana no jornal A Tarde em 6 de março de 1957

Este trabalho tem a intenção de propor uma reflexão sobre a construção das imagens frente a independência de Gana no jornal A Tarde, 1957. O estudo será desenvolvido para que se possa ter uma resposta para uma questão, buscando saber por que esses acontecimentos são ignorados entre grande parcela da população baiana, que é composta, em sua maioria, por descendentes de africanos. Alem disso, nos cursos de educação básica e fundamental, esses eventos são poucos ou nada abordados. Hoje se encontram muitos trabalhos sobre as independências africanas, porém, as publicações cientificas referentes à independência de Gana são escassas. A presença africana no 26


Brasil tem sido bastante estudada por antropólogos, sociólogos, historiadores, entre outros cientistas. No entanto os eventos africanos, ou melhor, os acontecimentos referentes a história da África são pouco estudados e/ou aprofundados no Brasil. Diante da influência e presença de povos da África, na construção da sociedade brasileira, não deve ser esta a atitude da historiografia brasileira frente aquele continente. A partir da analise das imagens da África, construída pelas classes dirigentes, como os donos de jornais, grandes empresários, os representantes do legislativo, ou melhor, aqueles que detém sob seu controle, os poderes administrativos e elaboraram os símbolos que iriam compor a identidade nacional, então serão políticos, intelectuais e uma parcela da sociedade que favorecera para a construção desta imagem de África aqui no Brasil. Palavras-chave: África, Gana, Mídia.

Carmélia Miranda

Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutora em História PUC\SP. carmelia15@hotmail.com

Vivências cotidianas da comunidade Negra Rural de Barra II e Coqueiros-Microrregião de Jacobina – BA

Este artigo tem como objetivo discutir as experiências históricas das comunidades negras rurais localizadas na Microrregião de Jacobina. No referido artigo, a intenção é pesquisar especificamente, sobre duas comunidades negras rurais - Coqueiros, pertencente ao município de Mirangaba e Barra II, localizada em Morro do Chapéu. Assim pretendemos conhecer as diferentes relações que são travadas nesses dois redutos, pelos seus moradores, fazendo relação com as vivências dos seus ancestrais. A partir da década de 90, do século passado, com a pressão exercida pelos vários setores da sociedade, intelectuais, políticos e vários setores do movimento negro, as comunidades negras rurais, passaram a ter certa visibilidade. Até então viviam isoladas, algumas, sofrendo pressões de fazendeiros e outras limitações, pois não tinham a quem recorrer. Com a Constituição de 1988 e a criação da Fundação Cultural Palmares, essas comunidades têm em parte conseguido galgar os seus direitos. Na referida pesquisa, consultamos documentos localizados nos Fóruns das cidades envolvidas e nas paróquias. Também, utilizamos à história oral, pois, através da memória dos mais velhos, moradores dessas comunidades, analisamos as histórias ouvidas e contadas. Palavras-chave: Comunidade negra rural, história oral, cotidiano.

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Cristiane de Almeida Gonçalves ---cristianecatu@hotmail.com

Qual a África? Representações do Continente Africano nas histórias em Quadrinhos

As revistinhas do Fantasma fizeram grande sucesso no Brasil, entre os anos de 1930 até 1990, momento em que deixou de ser publicada. Nestes quadrinhos da revista em questão, o continente africano aparece sempre como uma grande selva, povoada por “tribos” de pessoas vestidas de forma rudimentar, e quase sempre portando armas simples, a exemplo de lanças, facas, arco e flecha, dentre outras. Fantasma é o líder destes povos, resolvendo as querelas e contendas dos mesmos, além de “resolver” problemas de ordem política para os chefes de Estado dos países africanos. Fantasma ainda encontra tempo para lutar contra os piratas e bandidos de toda ordem. Pode ser considerado como um herói que vive entre as “tribos africanas primitivas”, ou, o Espírito que Anda. Estas representações contribuíram, em conjunto com outras mídias, para a consolidação das imagens de um continente africano primitivo e selvagem, povoado por “tribos” que viviam em meio ao caos e ao atraso. Nesse sentido, este trabalho tem como objetivo discutir estas representações, mostrando as ambigüidades de Fantasma, ao mesmo tempo em que procura mostrar o confronto entre esta África das revistinhas do personagem em questão, e a que é apresentada nos trabalhos de alguns historiadores africanos, a exemplo de ElikiaM´Bokolo, Joseph Ki-Zerbo, bem como outros existentes na coleção História Geral da África. Este trabalho é parte integrante de uma pesquisa maior,intitulada. A campus II ,e integrante do GT nacional de História da África da ANPUH. Palavras-chave: África, revistas em quadrinhos, fantasma, representações.

Cristiane Soares de Santana

Professora da Faculdade da Cidade do Salvador e da Prefeitura Municipal de Madre de Deus. Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) crysthianesantana@yahoo.com.br

A construção do “Homem Novo” em Moçambique: Relações entre cultura e política na obra de Samora Machel

As obras de Samora Machel, Eduardo Mondlane, Amilcar Cabral e Kwame Nkrumah são essenciais para a compreensão do processo de descolonização da África. A importância desses pensadores para o processo de construção da identidade e da nação africana faz com que o estudo de suas obras se torne algo de suma importância para a análise desse processo. A nação moçambicana foi construída com base em um projeto com ideais políticos, sociais e econômicos que entrava em confronto com a cultura tradicional africana. De acordo com a Frelimo, seria necessário que a sociedade se livrasse do “obscuranismo” no qual se encontrava e 28


se tornasse uma nação exemplo de igualitarismo, ciência e progresso. Esse ideal de transformação social que permeava o discurso de Samora Machel via na construção do homem novo o elemento primordial para a edificação da nação moçambicana. A expressão “homem novo” ou “novo homem socialista” começou a ser utilizada desde a década de 20 visando apontar que as transformações no seio da sociedade deveriam ocorrer na economia, na política e também no âmbito individual. De tal modo, o objetivo dessa comunicação é apresentar a concepção do “homem novo” com base na obra de Machel apontando a relação entre cultura e política. Palavras-chave: Moçambique, Samora Machel, homem novo.

Cristiano Pessatti de Matos

Mestrando do PPG em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia(UNEB). Bolsista FAPESB pessatti18@hotmail.com

Administração judiciária em Morro do Chapéu – BA, 1869 – 1889

A presente pesquisa tem como temática principal, a investigação da administração do poder judiciário enquanto instrumento de controle social na Vila de Nossa Senhora da Graça do Morro do Chapéu na Bahia, durante o período de 1869 a 1889. O desenvolvimento desse estudo se dá a partir da análise das práticas criminais perpetradas pela população livre e cativa e sobre o tratamento dado a elas pela administração jurídica através dos seus mecanismos de controle social. As fontes analisadas mostram mais de cem processos crimes no recorte temporal em questão, demonstrando que não houve uma plena execução das formas de controle social estabelecidas pelo poder jurídico em Morro do Chapéu nesse período. Acredito que a população dessa região possuía seus próprios códigos de conduta social. Ou seja, valores morais, noções de honra e justiça, concepções sobre crime e violência. Elementos socioculturais baseados nas práticas costumeiras desenvolvidas nas relações interpessoais construídas no cotidiano pelos diversos sujeitos que compunham aquela comunidade. Dessa forma, as noções de “justiça” da população morrense podem ter divergido em muitos aspectos daquelas pensadas pelos agentes burocráticos que representavam o poder judiciário do Império. Partindo desses pressupostos, a problemática dessa pesquisa concentra-se na investigação sobre a forma como ocorreu a administração da justiça no sertão baiano durante o período de 1869 a 1889. Pensada a partir do confronto entre o poder jurídico através de suas medidas de controle social executadas na região de Morro do Chapéu, e a reação da população para com as mesmas a partir do descumprimento das leis pela prática criminal. No recorte espaço-temporal aqui analisado, foram identificados escravos que tiveram acesso a diversas regalias que não condiziam com suas condições de cativos, entre elas o direito de possuir propriedades, liberdade de viajar sem o consentimento de seu senhor, acesso ao porte de armas, com as quais eles podem ter realmente cometido os 29


assassinatos e ofensas físicas de que foram acusados. Ações violentas, porte de armas de fogo por escravos, conflitos entre indivíduos pertencentes à mesma camada social, parecem ter sido práticas comuns no cotidiano da população de Morro do Chapéu. Apesar de existir uma estrutura administrativa do poder judiciário que permitiu que os cativos fossem enquadrados enquanto criminosos, e levados a julgamento, ao fim dos julgamentos os mesmos acabaram sendo absolvidos.

Dandara Sílvia Matos

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) dandara.matos@hotmail.com

A Imagem da África nas músicas do mais belo dos belos

Compreendendo os anos de esquecimentos e violações que veio sofrendo o continente africano em relação a sua História, e a tentativa de seus povos e seus descendentes de reconstruir a mesma, que esse trabalho vem com objetivo de entender como essa reconstrução é feita através das letras das músicas do Bloco Afro Ilê Aiyê. O Ilê Aiyê é entidade carnavalesca e educacional, criada em 1° de novembro de 1974, no Curuzu em Salvador, desde seu primeiro desfile foi possível observar a preocupação do bloco em reconfigurar a História da África e dos negros na diáspora. Foram pesquisadas músicas nas categorias: temas e poesias, no período de 2000 e 2010, canções que contrapõem as imagens estereotipadas do continente africano e dos países, que mostram o valor das culturas dos países africanos, músicas que relatam os desejos e angustias dos descendentes na diáspora na necessidade de buscar sua origem. Ao analisar as letras das músicas é possível perceber como os compositores conseguem inverter a História “mal contada” para uma História de um continente de civilizados e civilizadores, de uma Pátria-Mãe que tem muito a ensinar e educar os restantes dos povos, é visível também nas canções o desejo que seu atual local de origem fosse como os países do continente africano. Ao fim da pesquisa é possível concluir, que o Ilê Aiyê do seu campo de criação, Liberdade – Curuzu consegue replantar no imaginário do negro baiano e brasileiro, através das letras das suas músicas, a imagem de várias Áfricas, de formar educacional e carnavalesca nos seus desfiles, é interessante perceber como a história é contada sem excessos de utopias e misticismos, mas tentando sempre ser fiel ao tema a ser abordado no ano, sendo como principal interesse não negar por completo a história, porém contar que existe outra África que tentam esconder. Palavras-chaves: África, música, Ilê Aiyê.

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Edmar Ferreira Santos

Professor Assistente do Departamento de Ciências Humanas da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Estudos Étnicos e Africanos (CEAO – UFBA) estudosafricanos.edu@gmail.com

Bitedô, cartografias da memória: territorialidades africanas e afro-brasileiras no Recôncavo Baiano

Com o advento da República quase nada mudou para a população negra, que permaneceu coagida a reconhecer “seu lugar” e a esquecer suas memórias, consideradas selvagens, a fim de não macular a construção de outra comunidade imaginada: o Brasil civilizado, modelado a partir de padrões europeus. A imprensa desempenhou um importante papel nesse processo ao assumir a “defesa da civilização”. Por outro lado, as práticas lúdicas e religiosas afro-baianas preservavam e (re)configuravam saberes de matriz africana, ao tempo que ajudavam seus participantes a elaborarem outras identidades e, muitas vezes, a se insubordinarem contra discriminações de classe, raça e de caráter religioso. No decorrer da segunda metade do século XIX, e notadamente após a abolição e a instauração da República, ocorre uma mudança na retórica e no comportamento das elites em relação às “festas negras”. Os grupos dominantes passam a enfatizar, para além dos discursos e práticas que visavam a manutenção da ordem, preocupações mais intensas com a “identidade nacional”, uma vez que esses setores letrados se presumiam como a “parte sã e civilizada” da nação, em contraposição aos setores populares, responsáveis por “costumes bárbaros”, identificados de maneira especial pela imprensa, como práticas de origem africana. Esta comunicação aborda a formação das territorialidades negras na cidade de Cachoeira nas três décadas que seguem a instituição da República no Brasil e resulta de pesquisa sistemática no jornal A Ordem dos anos de 1901 a 1934. Este jornal foi editado por 65 anos consecutivos, entre 1870 e 1935. Por ter sido o periódico de maior circulação do interior do Estado e por ter realizado e divulgado campanhas regulares contra as práticas lúdicas e religiosas afro-baianas, em especial contra os candomblés, este jornal muito contribuiu para a construção, no imaginário baiano e nacional, da cidade da Cachoeira como “a terra da macumba” ou “a cidade do feitiço”. Utilizamo-nos dos textos do jornal em combinação com a tradição oral e a memória do povo de santo. Este trabalho, não menos fascinante e complexo, possibilitou conhecer melhor os espaços das práticas religiosas negras em Cachoeira, a intimidade de alguns terreiros, bem como, elucidar sinais obscuros na documentação escrita. Palavras-chave: africanos, territorialidade, recôncavo.

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Fabio Santos Barreto

Graduando da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) fabioenaiad@yahoo.com.br

A campanha da Guiné 1908

O meu objeto de estudo é o processo de colonização portuguesa na região que hoje compreende a Guiné-Bissau, abordando a campanha militar de 1908. Este trabalho tem como objetivo repensar o que está convencionado, que o continente africano é um vasto território selvagem e atrasado onde os seus muitos povos são incapazes de auto governar-se necessitando da intervenção de povos mais “civilizados” a exemplo o Europeu. A campanha da Guiné é um diário de guerra escrito pelo tenente de artilharia da marinha portuguesa Luiz Nunes da Ponte, onde ele narra a sua primeira experiência em uma guerra. O diário é de recordação pessoal, que posteriormente foi impresso em março de 1909 em numero limitado, para presentear amigos militares próximos. O contexto deste diário encontra-se nos desdobramentos da colonização do continente africano por países Europeus, apesar de que Portugal já se encontrava na Guiné antes da partilha européia do continente. O que verdadeiramente mudou na relação entre Portugal e os povos da região após 1880? O que fez com que os reis se levantassem contra essa “dominação”? Partindo da organização espacial, dos recortes dos territórios da Guiné buscarei perceber o avanço do “domínio” português nesta colônia. A descoberta deste documento é fruto do trabalho do grupo de estudo e pesquisa de Áfricas do mestre professor Juvenal de Carvalho. Palavras-chave: Guiné-Bissau, colonização, campanha militar.

Juvenal de Carvalho ---juvenalc@gmail.com

A África na Política externa da ditadura militar

O presente trabalho é uma reflexão sobre o lugar da África na política externa do Brasil no período da ditadura militar instalada com o golpe de 1964. O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a República Popular de Angola, com capital em Luanda, e sob a liderança do MPLA, um movimento autoproclamado comunista. Fez isto no mesmo momento em que a FNLA e a UNITA, forças apoiadas pelos EUA, proclamavam a República Popular e Democrática de Angola, com capital em Huambo. Trata-se de um fato, aparentemente, surpreendente. Pois, vale lembrar que a independência das colônias portuguesas na África ocorreu num momento em que a ditadura militar instalada tinha como objetivo declarado eliminar o movimento popular por reformas de base em geral e, particularmente, os setores de esquerda, socialistas e comunistas. Foi feito para eliminar a “ameaça comunista” garantindo a permanência do Brasil na área de influência dos EUA. Como compreender então que esta ditadura tenha reconhecido, com tanta rapidez, um “regime comunista” ainda não consolidado? O 32


objetivo deste texto é debater essa questão. Para tanto faço um breve consideração sobre a política externa no período anterior ao golpe quando constatamos a oscilação entre o distanciamento e o surgimento de uma política externa independente que apostava numa inserção autônoma do pais no cenário internacional. Em seguida discuto as implicações do golpe para as relações com a África caracterizando como o “alinhamento total” com os EUA nos primeiros anos da ditadura foi lentamente sendo alterado para uma política da “diplomacia da prosperidade”, passando pela era do “interesse nacional” até chegar ao “pragmatismo responsável” momento em que foi feito o reconhecimento da independência de Angola.

Karine Costa Oliveira

Mestranda do Programa de pós-graduação - Mestrado em História, Cultura e Poder pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES karinecost@hotmail.com

África: Fotorreportagens de Pierre Verger n’O Cruzeiro

A imprensa produz representações que considera verdadeiras, discursos ou imagens que moldam comportamentos e modos de ver dos leitores. Neste sentido, a revista O Cruzeiro, através das suas fotorreportagens, destacando as fotografias, divulgou significados, mensagens sobre a África que foram apreendidos e resignificados pelos leitores. Portanto, ao tomarmos O Cruzeiro como fonte, levamos em consideração os cuidados quanto à sua utilização, pois entendemos que a mesma faz parte do contexto de uma determinada época que serviu para informar e formar opinião, importante meio de comunicação ligado a posições políticas, econômicas e ideológicas. Nosso objetivo neste texto é analisar quais imagens e mensagens foram associadas e difundidas sobre África em uma fotorreportagem da série “Acontece que são baianos” constituídas por fotografias de Pierre Verger e textos de Gilberto Freyre, entre 1946-1960 que tratou dos chamados “retornados”, ex-escravos “abrasileirados” que voltaram à África, para a região do Golfo do Benin. As balizas temporais fazem referência à entrada de Pierre Verger na referida revista como fotógrafo e enfoque por “aspectos” do continente africano. Para tanto, tomamos como aporte teórico duas noções, a saber, a de fotografia, proposta por Boris Kossoy e a de representação, prática, apropriação definidas por Roger Chartier. Como abordagem usaremos o método da micro-história, proposto por Carlo Ginzburg para a análise das fotorreportagens. Palavras-chave: representação, África, fotorreportagem.

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Lorena Michelle Silva dos Santos

Mestrando do PPG em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia(UNEB). // Bolsista CAPES santosm_@hotmail.com

“Deus me livre é feitiço”: Visões e Imagens sobre as práticas religiosas Afro-brasileiras. Amargosa(1940-1960)

O presente artigo é parte de uma pesquisa de mestrado em andamento, e tem como objetivo analisar as imagens que eram construídas sobre as práticas religiosas afrobrasileiras, principalmente o Candomblé, na cidade de Amargosa localizada no Recôncavo Sul da Bahia, no período de 1940-1960. Com base nos relatos orais é possível perceber que os discursos e imagens construídas com relação à religiosidade afro-brasileira, eram forjados a partir da ideia que se tinha acerca do poder e da eficácia dos saberes religiosos afro-brasileiros, de um lado eram temidos e de outro eram requisitadas com as mais diferentes intenções. Assim, as questões relacionadas à religiosidade afro-brasileira na cidade estiveram relacionadas com a representatividade que parte da sociedade tinha para com ela, gerando diferentes discursos. Palavras-chave: Amargosa, religiosidade afro-brasileira, práticas religiosas.

Manuela Santana Nascimento

Mestranda pelo PPG História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES manuela.rezadeiras@hotmail.com

A fé dos que benzem em Santo Antônio de Jesus-Ba (1940-1970)

A presente comunicação busca refletir acerca da formação do universo religioso de rezadores e rezadeiras, que migraram para a cidade de Santo Antônio de Jesus, localizada no Recôncavo Sul da Bahia, entre as décadas de 1940 e 1970, analisando como o catolicismo foi reinterpretado e ligado a tradições afrobrasileiras, pelos agentes de cura. Para esta comunicação, trago a trajetória de vida do rezador Crispim dos Santos, mais conhecido como Seu Crispim, que fugindo da pobreza e das condições de trabalho semi-escravistas no campo foi com sua família, por volta da década de 1950, para dentro da cidade e lá continuou a desenvolver as rezas e bezenções aprendidas ainda na infância com seus familiares, que agregam ao catolicismo uma devoção a santos, guias e orixás. Palavras-chave: populações negras, práticas de cura, catolicismos.

Marcus Bernardes de Oliveira Silveira

Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) marcus.bernardes.ciso@gmail.com

Cosmovisão, Identidade e Tradição: Os Bantos e o Samba de Roda

A escolha da temática para este ensaio envolvendo as relações entre cosmovisão e identidade justifica-se pela importância desses elementos para a construção social da 34


música no Recôncavo Baiano, mais especificamente o gênero Samba de Roda. Neste trabalho serão analisados os traços referentes à tradição banto desta manifestação musical. Embora em conjunto com os bantos, os iorubas façam parte dos dois modelos básicos de influência estética e simbólica na música afro-brasileira, a preponderância dos primeiros é extremamente relevante em se tratando de Samba de Roda. A influência lusa também não será contemplada neste ensaio. Tal método mostrarse-á eficaz na medida em que o estudo das particularidades envolverá comparações entre as diferentes matrizes culturais a posteriori. Em função da busca por perceber ligações entre fatores subjetivos de um grupo social e os reflexos imperativos na musicalidade do mesmo, a cosmovisão congo-angolense (vista como modelo de análise) apresentaria uma dupla importância: uma influência mítica e técnica na música afro-brasileira e principal referencial de criação para uma identidade banta, no movimento de diáspora África-Brasil. A metodologia remete a pesquisa bibliográfica tendo como base autores clássicos da etnomusicologia afro-brasileira (KazadiwaMukuna, Tiago de Oliveira Pinto e José Jorge de Carvalho) e a perspectiva histórica de Robert Slenes. Justamente por seu caráter ensaístico, o texto visa estabelecer conexões entre a construção de uma identidade e a aplicação de referenciais (simbólicos e estruturais) da África Central na musicalidade do Recôncavo Baiano. Palavras-chave: bantos, cosmovisão, samba de roda.

Patrícia de Santana Souza

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Bolsista PPQ pattysouza@hotmail.com

Tarzan (1932-1999): As representações de África no cinema Norte-Americano

A África foi palco de diferentes povos, berço de grandes civilizações e líderes, dotada de imensa riqueza geográfica e cultural, que se expressa na imensa diversidade de línguas, concepções míticas e filosóficas, religiões, dentre outros. No entanto, toda essa grandiosidade e diversidade são ocultadas, e em seu lugar temos as representações depreciativas, construídas sobre o continente, desde as invasões estrangeiras até os dias atuais. Neste sentido, o presente trabalho é um estudo de caso que pretende analisar a imagem de África construída pelo cinema norte-americano através de dois filmes, a saber, Tarzan, o filho da selva (1932), devido a sua popularidade e repercussão, e Tarzan (1999), por ter sido baseado no mesmo livro que deu origem ao Tarzan, o filho da selva. Produzidos por diretores e contextos diferentes, tencionamos nesse estudo, investigar não apenas as concepções de África representadas pelos filmes, mas também se houveram continuidades e mudanças quanto às formas de representação. Partimos do pressuposto que os elementos encontrados nos filme trabalhados possuam relação com a ideologia norte-americana relacionada com ao continente. Para tanto, utilizaremos as formulações feitas pelo historiador Marc Ferro 35


– o pioneiro e um dos maiores teóricos nesta área-, a fim de fazer a leitura dos filmes. Palavras-chave: cinema, África, representação.

Renato Alves de Lima ----afrolima@gmail.com

Cobertura imagética do Apartheid: imagens negras sob o olhar branco

O Apartheid foi o regime opressor, racista e assentado em leis repressivas, que vigorou na África do Sul, desde da década 1948 até 1994. Mais do que separar brancos e negros, a segregação visava apartar os negros sul-africanos das terras férteis, das riquezas minerais e dos melhores empregos. Mestiços e asiáticos também sofreram restrições, mas as sanções mais rígidas eram sempre reservadas aos negros, que representava a maioria da população oprimida. A segregação, sobretudo buscava assegurar os privilégios econômicos dos colonizadores. No ano de 1948, com a chegada ao poder do NationalistParty, foi institucionalizado o apartheid, e na medida em que o regime aumentava seus tentáculos opressores, crescia os conflitos de resistência à desigualdade, racismo e exploração. Apesar da proibição de participarem de entidades de classe, os negros criaram partidos e sindicatos e organizaram inúmeras manifestações reivindicatórias, que eram reprimidas com prisões, torturas e, a violência era o principal mecanismo para abafar toda e qualquer forma de resistência e garantir a hegemonia Africânder. Entretanto, nada disso foi capaz de conter os conflitos pela libertação. A presente comunicação planeja analisar como a produção cinematográfica, Stander um policial contra o sistema representou os conflitos sociais e econômicos, e quanto a obra contribui para disseminação de estereótipos negativos sobre as Áfricas. Palavras-chave: apartheid, Sul-africanos, conflitos, cinematografia.

Ruddy Aquino Wanderlei ----ruddyaquino@gmail.com

Da presença Banto no “Sertão da Ressaca” a formação dos primeiros Terreiros de tradição local em Vitória da Conquista

Partindo de contribuições significativas da História e da Memória, na sua acepção local e regional especificamente, reconstituir aspectos significativos da presença religiosa africana banto no antigo Sertão da Ressaca, região interiorana que abrangia nos séculos XVIII e XIX a área entre os rios Pardo e de Contas, incluindo o planalto da Conquista, onde hoje esta situado o município de Vitória da Conquista. Essa presença banto forneceu os principais elementos simbólicos dos grupos de culto afro36


brasileiros conquistenses do século XX, que se desenvolveram de formar particular, guardando especificidades locais, ainda que partilhando elementos comuns às religiões negras de todo Brasil como a antiga Macumba carioca. Alcançados pela memória através da oralidade, esses terreiros, quase todos desaparecidos atualmente, mantiveram um patrimônio religioso afro-brasileiro próprio, centrado no culto aos espíritos caboclos e aos encantados: divinização banto dos antepassados da terra profundamente hibridizados com o catolicismo barroco português, além de alguns elementos indígenas, formando um conjunto significante que orientou as práticas desses terreiros locais. Essas casas religiosas tinham na cura dos males do corpo e da alma sua principal função social, e foram responsáveis pela manutenção de uma memória afro-brasileira subterrânea como nos ensina Michel Pollak (1989), invisibilizada nos principais espaços sociais da cidade de Vitória da Conquista na atualidade.

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Simpósio Temático 04 AS RELAÇÕES DE GÊNERO E A PRODUÇÃO DE NOVOS CONHECIMENTOS NO SABER HISTÓRICO Coordenadoras: ANDRÉA DA ROCHA RODRIGUES MARCIA MARIA DA SILVA BARREIROS

A

s relações de Gênero e a produção de novos conhecimentos no saber histórico Autora: Profª Drª Andréa da Rocha Rodrigues Este simpósio tem o intuito de discutir a inserção do conceito de gênero na Academia, especificamente nas Ciências Humanas, e os efeitos desta inserção na produção de novos objetos de pesquisa ou, simplesmente a formação de novos olhares para antigos objetos.. Afinal, Gênero foi apontado pelas feministas como uma forma de referir-se à organização social das relações entre os sexos e, por este motivo, o conceito de gênero foi utilizado nos estudos acadêmicos sobre as mulheres para introduzir uma noção relacional no vocabulário analítico. Dessa forma, os conceitos de homem e mulher só poderiam ser definidos relacionando um com o outro, não se poderia compreender nenhum destes construtos separadamente. O termo gênero foi também proposto, assim como a história das mulheres, com o objetivo de transformar fundamentalmente os paradigmas da disciplina histórica. Desejava-se ampliar as noções tradicionais do significado histórico, abarcando a experiência pessoal e subjetiva dos indivíduos na história, ou seja, estendendo o campo do historiador para além das atividades públicas e políticas. Dessa forma, serão destacados os trabalhos que enfatizam as seguintes áreas: “História das Mulheres”, História da Sexualidade”, “História da Infância”, ‘História do Corpo”, “História da masculinidade”, etc. Em resumo, trabalhos que especificam a implicação entre as categorias gênero, raça e classe nas diversas áreas de atuação humana Adriana Moreira Pimentel

Mestranda do PPG em Memória: Linguagem e Sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) drica_gbi@hotmail.com

Memórias de uma mulher de elite: as relações de gênero na correspondência de Celsina Teixeira - Caetité 1926-1950

Pretende-se analisar através da categoria gênero, as memórias de uma mulher da elite 38


no Alto Sertão Baiano: Celsina Spínola Teixeira. Por meio da análise documental de vasta correspondência pessoal da primeira metade do século XX (aproximadamente 2000 cartas), pode-se inferir que as atuações de Celsina Spínola Teixeira Gomes Ladeia aparecem como integradas ao conjunto de memórias e ações de uma mulher de elite no ambiente familiar e público. Sua trajetória é exemplar e está em consonância com a atuação de outras senhoras da época. Escrevendo cartas e inscrevendo sua história por meio delas, as mulheres podiam discutir os mais variados assuntos: cultura, educação, saúde, moda, negócios, política, religião, viagens, família e os problemas regionais (seca - migração do sertanejo - crise agropecuária), que assolavam a cidade de Caetité na época. Através das cartas as mulheres registraram memórias de um tempo, partilharam confidências, estreitaram amizades e resguardaram segredos (ou não?). Nessa escrita, elas deixam escapar as miudezas do cotidiano, a experiência familiar e, sobretudo, a vivência em sociedade para além dos aspectos estritamente normativos. No início do século XX, por exemplo, mulheres instruídas surgem como personagens importantes na liderança de movimentos sociais e entidades filantrópicas. Em Caetité, Celsina se apresentou como idealizadora e presidente da Associação de Senhoras de Caridade. Sua trajetória está integrada a este conjunto de atividades nas mais diversas esferas sociais inseridas no campo das relações familiares e públicas. Palavras-chave: memória, mulheres, gênero.

Adriana Oliveira da Silva --dryoliveira@yahoo.com.br

Itabuna no trono da beleza nacional: o corpo feminino como símbolo de progresso, Itabuna 1957-1962

Mulheres e cidade foram alvos dos discursos da imprensa itabunense durante as décadas de 1950 e 1960. Usadas como referência de modernidade e progresso, tanto a estética feminina quanto a urbana passaram por transformações durante esse período. A influência do crescente mercado da moda, aliada ao interesse das elites em alicerçar imagens de uma cidade progressista e civilizada contribuíram para fomentar a “pedagogia da beleza”, responsável pela proliferação de concursos de moda e por uma intervenção mais intensa do poder público na morfologia citadina. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho reside em entender as relações entre os projetos de projeção da cidade pensados e geridos pelas elites locais e as transformações nos padrões de feminilidade cultivados pelos setores hegemônicos. Além disso, buscase compreender os usos feitos pelos membros classes abastadas sobre a vitória de a jovem itabunense, Maria Olivia Rebouças Cavalcanti, no concurso de miss Brasil 1962. Para tanto, foram analisados jornais e revistas dos anos 1950 e 1960, como Diário de Itabuna, notadamente, o caderno intitulado O Diário Feminino, dedicado a padronizar gostos e comportamentos, com temas dirigidos ao público feminino, tais 39


como, culinária, moda, puericultura, casamento; o jornal Voz de Itabuna e as revistas Cruzeiro e Manchete de junho de 1962.

Ailton José dos Santos Carneiro

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) ailtonet@hotmail.com

A fabricação do homossexual: história, verdade e poder

Trata-se de uma tentativa de demarcar o aparecimento da “homossexualidade” na História e na historiografia enquanto categoria discursiva produzida pela vontade de verdade e relações de poder na era moderna, nos séculos XVIII e XIX. Nesta perspectiva, compreende-se que a modernidade com seu cientificismo, sua busca pelo verdadeiro, pelo inteligível, fabricou novos sujeitos, concedeu-lhes uma subjetividade e impôs-lhes práticas, como uma forma de torná-los objetos discerníveis para a ciência e para seu projeto de sociedade. No cumprimento de tal anseio, o sexo exerceu um lugar privilegiado. Sobre ele, forma-se um novo campo de saber – a sexualidade – produzem “verdades” e elegem e legitimam normas e práticas morais. Assim, homens e mulheres tornaram-se portadores de uma sexualidade. Essa gama de “espécies sexualis” é essencialmente rotulada e direcionada a ocupar um lugar na sociedade. O “homossexual” surge deste interstício. No entanto, isso não significa dizer que foi o pensamento moderno que inventou a prática sexual e o amor pelo mesmo sexo, visto que é sabido por todos que muitos já se entregavam a esses prazeres muito antes de qualquer registro histórico. Todavia, tal proposição parte da compreensão de que é no período moderno que se estabelece uma categoria de indivíduos dita como “homossexual”. Neste sentido, através de uma análise teórico-conceitual, fundamentada, sobretudo, em ideias do filósofo e historiador Michel Foucault, este trabalho visa evidenciar a emergência do discurso da homossexualidade na modernidade e, consequentemente, o surgimento de sujeitos homossexuais, levando em consideração a estreita relação entre verdade e poder. Palavras-chave: homossexualidade, modernidade, verdade-poder.

Aleí dos Santos Lima

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) alei.lima@hotmail.com

“Barradas no baile”: aspectos da vida social e cultural em Retirolândia/Ba – As festas do Clube Associação Cultural Itatiaia

O presente estudo se propõe a analisar alguns aspectos da vida social e cultural da cidade de central é problematizar as representações sociais e de gênero em um contexto de relações hierárquicas entre homens e mulheres a partir dos Bailes Sociais 40


promovidos pelo Clube Associação Cultural Itatiaia. Neste espaço, admitia-se somente a entrada de sujeitos que gozassem de “bom comportamento moral”, especialmente quando se tratava de mulheres, tendo em vista a importância que os salões de festas desempenhavam como refletores do charme, da política e do poder social. Com a finalidade de investigar as peculiaridades das regras e hierarquias que vigoravam no Clube e na sociedade retirolandense utilizamos como fontes, nessa pesquisa, livros de atas; contabilidade; contratos artísticos; de admissão e regimento interno do Clube Associação Cultural Itatiaia entrecruzados com fontes orais, imagéticas e bibliográficas, pois faz-se necessário (re) significar as construções sociais, as quais são passíveis de transformações, se apropriando da utilização de métodos que dialogue o geral com o específico e perceba as experiências entre o masculino e o feminino como relações que se contradizem, articulam e intervém nas estruturas da sociedade, possibilitando assim descortinar as histórias das mulheres da pequena cidade de Retirolândia. Palavras-chave: bailes, mulheres, moralidade.

Alex dos Santos Guimarães --lexhisto@yahoo.com.br

Júlia Lopes de Almeida e o Cânone Literário: memória e exclusão

No atual quadro dos estudos literários, hoje claramente influenciados pelos Estudos Culturais, tem-se notado um explícito trabalho de revisão historiográfica, dentro de uma perspectiva teórica, na tentativa de identificar os critérios de conceitualização, bem como a emissão de juízos de valor, responsáveis pela formação dos cânones literários. Nessa dilatação do literário para o cultural, a história literária ressurge problematizada enquanto manifestação cultural inserida no processo histórico. Dessa forma, o cânone literário aparece como espaço de conflitos e contradições articulados ao poder. As discussões em torno dos processos de constituição dos cânones literários nacionais, na forma de lugares autorizados e privilegiados de projeções imaginárias da identidade de “um povo”, colocam em seu centro a própria história literária enquanto “lugar de memória”. Ao observarmos a composição canônica dos séculos XIX e XX, escrita por homens em sua ampla maioria, notaremos um gigantesco silêncio da produção literária de autoria de mulheres, embora seja flagrante o grande número de textos escritos por elas, bem como o sucesso de muitas junto ao crescente público leitor. Ao desvelarmos a relação entre gênero e a constituição de instituições simbólicas da literatura, percebemos um discurso androcêntrico que nega a legitimidade cultural da mulher enquanto sujeito do discurso, esclarecendo o interesse da prerrogativa masculina como paradigma da existência humana nos sistemas simbólicos de representação. A resistência em se reconhecer a mulher como escritora não se deve, apenas, às imagens reproduzidas pelo discurso misógino da 41


impossibilidade de criação, mas, também, pela vigência de critérios valorativos que apresentam um déficit da mulher em relação à produção masculina. Diante da subtração das mulheres do cânone literário escrito por homens, vários estudos vêm procurando rever os sistemas de representação simbólica contidos na produção canônica, enquanto locus de um determinado saber-poder, no sentido de se (re) pensar a produção literária de autoria de mulheres no século XIX, de modo a desestabilizar a fixidez totalizante e homogeneizadora do cânone tradicional. Assim, pretendemos entender como a escritora carioca Júlia Lopes de Almeida (1862-1934) – dona de uma produção notável, que se envereda pela literatura infantil, por matérias jornalísticas, crônicas, ensaios, contos, romances e peças teatrais – ficou durante tanto tempo submetida ao olvido da crítica brasileira, embora os seus coetâneos, no entreséculos, considerassem-na, na expressão de Guiomar Torresão, como “a primeira escritora do seu país”, ou ainda, como afirmou em nossa época Leonora De Luca, “a mais importante mulher-escritora do Brasil”.

Ana Elizabeth Santos Alves

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em Educação. ana_alves183@hotmail.com

Mulheres em comunidades rurais: divisão sexual do trabalho

O presente texto tem como objetivo central apresentar reflexões sobre mulheres e a divisão sexual do trabalho em comunidades rurais, a partir dos primeiros resultados da pesquisa de campo realizada em área rural do município de Planalto, BA. Do ponto de vista metodológico a pesquisa está buscando compreender historicamente a inserção das mulheres e dos homens na sociedade capitalista, considerando as contradições da formação social brasileira. Para tanto, realizamos revisão bibliográfica ancorada em autores que fazem exame crítico sobre a divisão social do trabalho e a legitimação de ações que marcam a dominação-exploração exercida pelos homens em relação às mulheres. Como procedimentos técnicos realizamos análise de documento, observações do percurso que nos levou até o lugar onde estão localizadas as comunidades de Jacó, Poço Dantas, Cerrinho e Boa Vista Pimenteira, e, entrevistas por meio da aplicação de questionários com mulheres pertencentes às famílias da região. Resultados parciais extraídos do referencial teórico reafirmam que na sociedade de classes, a transformação da atividade prática em produtos do trabalho humano abstrato gera um valor que não é apropriado nem pelo homem nem pela mulher das classes populares, entretanto, as mulheres sofrem mais diretamente do que o homem os efeitos da exploração. Além disso, apontam para uma “ideologia naturalista” que destina às mulheres as atividades reprodutivas e aos homens o trabalho produtivo. A análise (preliminar) documental permitiu inferir o conceito de comunidade rural e a história das pessoas marcada pela exclusão social. A pesquisa inicial de campo evidencia a diversidade de atividades que são desenvolvidas pelas mulheres, comprovando 42


como o trabalho desenvolvido por elas é refratário à mensuração do tempo e diverso. Palavras-chave: divisão sexual do trabalho, comunidade rural, mulheres.

Andréa da Rocha Rodrigues

Professora Adjunta pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) andrear10@hotmail.com

As relações afetivas entre Dulce e Agenor: um amor romântico e os casos de rapto na cidade do Salvador

As relações afetivas entre um homem e uma mulher não são dominadas pelos aspectos biológicos, embora estes possam influenciar, e não são imutáveis, pelo contrário, são condicionadas por variáveis históricas e pela estrutura social e cultural de uma determinada sociedade. É impossível, portanto, estudar as experiências femininas, seja no campo público ou privado, se não adotarmos uma perspectiva relacional, ou seja, de gênero. O ideal de amor romântico, por exemplo, é nitidamente diferenciado por Anthony Giddens (GIDDENS, 1993, p.48). Segundo este autor, o “(...) amor apaixonado é especificamente perturbador das relações pessoais, em um sentido semelhante ao do carisma; arranca os indivíduos das atividades mundanas e gera uma propensão às opções radicais e aos sacrifícios” (GIDDENS, 1993, p.48).Já o amor romântico, mais nitidamente presente no mundo Ocidental a partir do final do século XVIII, embora tenha incorporado elementos do amor paixão distinguiu-se deste por estar associado, ao mesmo tempo, a liberdade e auto-realização do casal. Ou seja, no amor romântico apesar da prática sexual entre os casais não ser excluída, “(...) o elemento sublime tende a predominar sobre aquele do ardor sexual” (Idem, p. 51). Sendo assim, é fundamental pesquisar estudo de casos que envolvam relações de gênero e classe. Palavras-chave: relações afetivas, rapto, Agenor e Dulce.

Angelita Cunha da Silva Sousa

Mestranda pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista CAPES angelitacunha61@yahoo.com.br

As ruas de prostituições da cidade de Vitória da ConquistaBa (1950-1970): História, memória e discurso

A proposta do artigo é analisar, em matérias jornalísticas e um romance produzidos na cidade de Vitória da Conquista os discursos em relação à prostituição feminina no período de 1950 a 1970. No foco desses discursos está o convívio quase sempre conflituoso, entre as famílias de “bem” e as meretrizes, que, em um período de acentuado crescimento econômico, compartilhavam os espaços das ruas centrais da cidade. Foi tomado suporte teórico a semiolinguistica, em especial a análise do discurso, que parte de uma concepção comunicativa do discurso, ao considerar que este está indissociavelmente relacionado à situação de comunicação em que 43


os interlocutores estão inseridos. Este modelo teórico-metodológico permite uma melhor compreensão dos textos analisados e possibilita revelar como setores da sociedade conquistense expressaram seus preconceitos e sua intolerância para com as mulheres de comportamento “desviante”. Os textos jornalisticos analisados foram publicados nos jornais O Combate (que circulou de 11 de agosto de 1929 a maio de 1964) e Jornal de Conquista (fundado em 15 de agosto de 1958 e que circulou até 13 de maio de 1988). Tendo como fundadores e redatores membros da intelectualidade conquistense, a exemplo de Aníbal Lopes Viana, Camilo de Jesus Lima, Erathósthenes Menezes, os jornais ostentataram, como princípio, a defesa dos interesses do povo conquistense. Ao lado do discurso jornalístico, foi tomado como fonte de investigação o romance Teresa, de Adson Costa, que relata a saga da personagem título desde o seu deslocameto do campo para a cidade e o seu cotidiano em uma casa de prostituição. Os discursos presentes nos textos jornalísticos e no texto literário foram confrontados com os dados elucidativos das condições e das transformações no contexto em que esses textos enquanto peças discursivas surgiram e se difundiram. Palavras-chave: representação, cotidiano, prostituição.

Azivonete Francisca Cardoso dos Santos Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) tiffany.chocolate1@hotmail.com

Prostituição na Rua do Bom e do Barato em Feira de Santana – Ba. (1930-1960)

O principal foco desse texto é analisar, noções de moralidades e as relações que existiam e que foram constituídas pelos grupos sociais em relação às profissionais do sexo que habitavam a Rua do Bom e do Barato na cidade de Feira de Santana entre as décadas de 1930 e 1960. Direcionando o olhar para a Rua do Bom e do Barato, e para as moradoras que foram consideradas como um empecilho para a modernização da cidade, assim como um entrave para o desenvolvimento do comércio. Desmitificando o mito de desenvolvimento pacifico e de cidade modernizada que imperava entre a elite feirense. Pontuando sobre o período de permanência e o desenvolvimento do prostibulo na região. Através do estudo e da análise do Código de Postura de 1937, dos processos-crimes, e principalmente dos exemplares do jornal Folha do Norte, percebe-se que as prostitutas que residiam na Rua do Bom e do Barato afrontavam os códigos de moral e os bons costumes da sociedade feirense. Assim destaca-se como essas mulheres viviam e se portavam perante uma sociedade patriarca e machista, que fazia utilizava-se dos seus serviços, mas, não aprovava a permanência dessas mulheres no centro da cidade, as quais eram por diversas vezes presas e impostas a vários tipos de humilhação. Palavras-chave: Feira de Santana, prostituição, modernização da cidade.

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Bruno Mercês de Carvalho Calhau

Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CNPq bruno_calhau89@hotmail.com

Imigração Judaica e o tráfico internacional de “polacas” em Salvador (1900-1945)

Buscar-se-á analisar no presente trabalho as estratégias de resistência por parte dos cafténs, bem como o paradeiro de cafténs e polacas que se instalaram em Salvador entre 1900 e 1945. As fontes principais da pesquisa são os processos de procura de cafténs que compõem a relação de número 5880 do Arquivo Público do Estado da Bahia, entrelaçados a periódicos da época e a processos de proibição de entrada de estrangeiros, sob os auxílios do código penal de 1890. Os processos de perseguição de cafténs permitem uma caracterização dos acusados por nacionalidade, idade, estado civil, região de origem, profissão, residência, condição de analfabeto ou não. Para além dos documentos escritos, lápides tumulares e registros de sepultura completam o quadro das fontes, as quais permitem desvendar a origem dos indivíduos, a forma de enterro, causa morte e a religião dos sepultados no local. Palavras-chave: lenocínio, judeus, imigração.

Carla Cristiane de Oliveira Marson

Mestranda pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista FAPESB carla.marson@hotmail.com

Gênero e Religião: entre Oriente e Ocidente

A noção feminista de gênero enriqueceu as pesquisas em história da religião ao realçar o caráter social e historicamente construído das diferenças entre os sexos e as relações de poder implícitas nestas diferenças. Neste sentido, observamos que as crenças religiosas exercem uma influência incontornável na produção de identidades e na definição do lugar do ser humano no universo. As religiões são construções sociais, que disseminam representações, promovem práticas e detêm o poder de enunciar e definir o sagrado como superior ao profano em prestígio, dignidade e poder. Como consequência, a exclusão do indivíduo do âmbito do sagrado acaba por ser uma forma de inferiorizarão e exclusão social. A maioria dos estudos sobre a interface gênero e religião concentrou-se no estudo das religiões ocidentais, especialmente as monoteístas, e identificou nelas um discurso de dessacralização da mulher, que concorria para sua submissão e exclusão. Mas embora a prevalência do patriarcado nas religiões seja praticamente universal, observamos que a memória de um feminino sagrado persiste e encontra caminhos inusitados de reação e resistência, tanto em religiões ocidentais quanto em orientais. O presente artigo se propõe a fazer um estudo comparativo sobre o papel da religião na definição da posição da mulher ocidental e oriental diante do sagrado, desse modo esperamos fazer uma pequena contribuição às pesquisas de gênero e religião ao incluir as religiões asiáticas, aqui 45


representadas pelo hinduísmo, que ainda estão negligenciadas em nossos estudos. Palavras-chave: mulheres, religião, hinduísmo.

Carmem Lucia Santos Jesus

Mestranda pelo PPG-História Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista FAPESB lupoema@hotmail.com

“Sem tramelas e sem gelosias”: comportamento feminino na Bahia setecentista (1750- 1800)

A historiografia brasileira pensava a família colonial associada a um modelo pelo qual o papel do homem era chefiar a família e a mulher, a ele submissa, exercia a maternidade. O tema em estudo Sem tramelas e sem gelosias: comportamento feminino na Bahia setecentista (1750-1800) lança mão de documentos manuscritos referentes à Capitania da Bahia (disponíveis no Projeto Resgate, coleção Castro e Almeida), correspondentes à segunda metade do século XVIII, e de outros corpus documental espalhados em diversos arquivos nacionais. Dentre aqueles acessíveis pelo Projeto Resgate encontram-se ofícios, processos crimes, autos de diligência, um conjunto de correspondência trocada entre o Conselho Ultramarino e as autoridades da Bahia setecentista, nos permitindo analisar indícios de um cotidiano familiar bem mais complexo percebendo os intercursos vivenciados por mulheres que estão ligadas às questões não só familiares quanto religiosas. Encontramos neles histórias femininas singulares que nos levam a observar espaços de sociabilização onde a mulher pode interferir no próprio destino, decidindo ela mesma quando e com quem casar, a hora de separar – mesmo contrário às normas da Igreja – bem como assumir comportamentos sexuais condenáveis pelos valores católicos. Essas mulheres rompiam paradigmas, distanciando-se da imagem de um ser feminino pacífico e submisso demonstrando dificuldades para seguir as normas estabelecidas pela sociedade colonial. Palavras-chave: mulher, colônia, comportamento.

Caroline Santos Silva

Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) caroluefs@gmail.com

As aventuras matrimoniais do Dr. Souza Braga

A “querela Braga” iniciou-se ao fim do mês de novembro de 1878 quando o Dr. Pedro de Souza Braga, médico opositor da cadeira de partos da Faculdade de Medicina da Bahia, um dia após o seu casamento com a filha de um rico comerciante de Salvador, devolve sua esposa ao pai alegando que ela não se casara virgem. O debate principal gira em torno do exame de corpo de delito elaborado por médicos baianos, que foi duramente contestado por médicos cariocas e estrangeiros. Ao tratar do dilema vivenciado pela noiva do Doutor Braga, Cândida Augusta 46


Ferreira, moça de 18 de anos idade, foi possível problematizar a naturalização de características e papéis sociais definidos como eram femininos, o que levou a uma reflexão sobre a condição da mulher no período, em um momento no qual os médicos pareciam acreditar que eram portadores de uma função moralizante, e até mesmo pedagógica em relação à conduta das mulheres, especialmente aquelas consideradas “de família”. Dona Cândida tivera sua vida devassada nas páginas dos periódicos como um folhetim, que os baianos acompanharam ansiosos pelo desfecho. O caso parece ter gerado uma grande comoção e, pela conduta do marido, a maioria dos que acompanhavam o caso acreditava na versão da mocinha. Palavras-chave: medicina, gênero, casamento.

Chacauana Araújo dos Santos

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) cauana_84@hotmail.com

“Guerra às Macumbas”: perseguição, resistência e relações de gênero nos cultos afro-brasileiros em Feira de Santana (1900 – 1960)

O texto a seguir faz uma analise acerca das perseguições imputadas as religiões de matriz africana em Feira de Santana no inicio do século XX. O mesmo, fala de um período em que a sociedade brasileira tentava seguir padrões urbanísticos europeus, com isso a população pobre e negra sofreu diversos tipos de perseguição. Em Feira de Santana assim como em outras cidades baianas houve uma tentativa de moldar discursos e comportamentos sociais, principalmente entre as classes populares. A população negra, praticante do culto afro brasileiro sofreu inúmeras perseguições feitas pela polícia, jornais, dentre outros segmentos da sociedade. E é nesse contexto que a mulher se torna guardiã do culto afro brasileiro. Com isso o principal objetivo do texto é mostrar de que forma as mulheres contribuíram na manutenção do culto frente às investidas da sociedade em acabar com o mesmo. Para tal foram utilizados processos crimes abertos pela promotoria pública de Feira de Santana, numa tentativa de punir as/os praticantes que insistiam em cultuar seus orixás, além disso, os jornais do período contribuíram para entender esse processo. A abordagem numa perspectiva de gênero é importante, pois possibilita perceber diferentes mecanismos que a população utilizou para enfrentar o problema e dá segmento as religiões de matriz africana. Palavras-chaves: gênero, mulheres e religião Afro-brasileira.

Daniela Nunes do Nascimento

Mestranda em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismos PPGNEIM/UFBA. Bolsista FAPESB. danielannascimento@gmail.com

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Iole Macedo Vanin

Professora Adjunta do Departamento de Ciência Politica e do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – UFBA. Doutora em História Social pela Universidade Federal da Bahia – UFBA iolevanin2007@gmail.com

As “damas” do 24: industrialização, relações de gênero, prostituição e oralidade em Candeias/BA (1940-1970)

Esta comunicação é parte de meu projeto de pesquisa do mestrado, que tem como título As “Damas” do Petróleo: prostituição, representações de gênero e masculinidade na modernização de Candeias/BA (1949- 1972). Nesta comunicação farei uma breve discussão sobre a invisibilidade das mulheres na escrita da história e nos documentos “oficiais”, ao revelar algumas das dificuldades encontradas para compor as narrativas sobre as mulheres marginalizadas que viveram da prostituição no conjunto de meretrícios conhecido como Brega do 24, durante o início das atividades petrolíferas, entre as décadas de 1940/70, na região de Candeias/Bahia. Utilizando-se principalmente da técnica da história oral, devido à carência de fontes documentais consideradas “oficiais”, descrevemos alguns dos locais de movimentação e conflitos das prostitutas deste período. Palavras chaves: prostituição, invisibilidade, história.

Eliana Cristina Lima Sousa --elianacsl@hotmail.com

Lazer e sociabilidade: identidades femininas nos clubes sociais de Feira de Santana (1960 - 1980)

As mudanças ocorridas no mundo feminino principalmente a partir dos anos 1960 no Brasil alteraram as formas de viver das muitas mulheres ao longo dos anos, com maior ou menor intensidade, no seu modo de vestir, de trabalhar, de sociabilidade, de lazer e até em suas identidades. Na metade do século XX, os clubes sociais faziam parte da vida social de Feira de Santana-Ba, onde um grande número de mulheres passaram a frequentá-los diariamente, ou em épocas de shows, aproveitando o espaço privado dos clubes para conhecer novas pessoas. Locais esses que eram reservados a uma camada distinta da população. Em Feira de Santana, entre 1960 e 1980, existiam três clubes principais onde as diferentes posições sociais eram nitidamente reconhecidas: Clube de Campo Cajueiro que neste período era frequentado por setores da elite feirense, Feira Tênis Clube que era frequentado pela classe média e a Euterpe Feirense que era, frequentada na sua maioria, de pessoas negras e de classe média baixa. Esses clubes também reproduziam conflitos e relações de poder entre os seus associados, onde as mulheres enfrentaram diversas lutas, as quais deram as mulheres níveis de autonomia e liberdade, onde existia uma 48


divisão de poder entre o sexo masculino e feminino. Durante muitos anos e em diferentes etapas, as mulheres feirenses conquistaram a autonomia de sair à noite, só ou em grupos de mulheres da mesma idade ou com os mesmos interesses. Essas passaram a frequentá-los, mesmo estando desacompanhadas, quebrando tabus e mesmo sem saber demarcando territórios e ressignificando práticas femininas. Palavras-chave: mulheres, lazer, clubes, identidades, Feira de Santana-Ba.

Joel Nolasco Queiroz de Cerqueira e Silva

Professor Me. de História da SEC-Ba e do Colégio Anchieta LTDA. Mestre em História Social pela UFBA jnqcs9@yahoo.com.br

O ‘Sexo Varonil’: as representações de homem na Bahia dos oitocentos

Os documentos produzidos pelos médicos ou romancistas sobre as representações de homem, na Bahia/Brasil dos oitocentos, não foram tão densos como os produzidos em relação ao gênero feminino. As teses de doutoramento e os manuais de educação escritos pelos esculápios da FMB parecem ter subestimado os estudos sobre os caracteres físico-psicológicos do gênero masculino. Também, na literatura de ficção as descrições foram menos pormenorizadas. Mesmo o detalhista Machado de Assis economizou a pena ao descrever os homens em suas obras. Tal situação parece se justificar no desejo dos homens oitocentistas de entenderem o outro, que para eles era um mistério, mas, sobretudo, pelo anseio de construir um imaginário de mulher que explicasse o direito de tutela do ‘Sexo Varonil’ sobre o ‘Belo Sexo’. Da mesma forma que na Bahia dos oitocentos, as pesquisas de gênero, na historiografia do século XX, priorizaram, de início, o estudo sobre as mulheres, devido a motivos sócio-políticos. Assim, observa-se a necessidade de estudos historiográficos que analise as representações de gênero por meio de sua inter-relação, valorizando, a História da masculinidade, e permitindo investigar como o imaginário de homem na Bahia/Brasil oitocentista fora construído com o objetivo de estabelecer um ideal de gênero que fosse capaz de proteger e orientar os caminhos femininos. Parti dos pressupostos teóricos dos Estudos de Gênero e da Nova História Cultural, sobretudo, daqueles defendidos por J. Scott, Sandra Pesavento e R. Chartier, e realizei estudo sobre as representações de homens expressas na literatura médica e de ficção, com o objetivo de identificar as características que compunham os perfis ideais de homem para a contração do matrimônio, bem como para as demais relações socioafetivas, principalmente, entre as camadas abastadas da sociedade baiana oitocentista. Neste sentido, foi necessário investigar o sistema de alianças matrimoniais desta sociedade, o que evidenciou que na escolha do cônjuge influía uma gama de fatores que dependiam das estratégias traçadas, da posição socioeconômica, da raça, do nível intelectual, das características físicas e comportamentais e do grau de afetividade. Assim, podemos afirmar que este trabalho lança luz sobre a 49


história da masculinidade, do gênero, das relações conjugais e da história cultural da Bahia oitocentista, bem como possibilita um debate, tanto sobre as produções dos intelectuais baianos como sobre a inter-relação entre História e Literatura. Palavras-chave: gênero, homem, Bahia.

Livia Gozzer Costa

Mestranda em História Social pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB liviagozzer@gmail.com

Em meio a explorações, silenciamentos e transgressões: o cotidiano privado e público das meninas pobres e/ou abandonadas de Feira de Santana entre 1892 e 1945

Este texto tem por objetivo traçar o cotidiano privado e público das meninas pobres e/ou abandonadas da cidade de Feira de Santana no período que se estende de 1892 e 1945. A transição do século XIX para o XX imprimiu marcas profundas no que tange a situação econômica do Estado da Bahia atingindo, sobretudo, as camadas mais empobrecidas da sociedade. A seca, fenômeno natural bastante comum na região de Feira de Santana, localizada geograficamente no polígono das secas, bem como a carestia dos gêneros alimentícios básicos, possivelmente influenciou inúmeras famílias a abandonarem suas filhas em casas de famílias ou nas portas de instituições assistencialistas, como o Asilo de Lourdes (ANSL) - instituição de matriz cristã instalada na cidade de Feira de Santana em 1879 que acolhia meninas órfãs e abandonadas. No entanto, as limitações estruturais do ANSL contribuíram decididamente para que muitas destas meninas pobres tornassem-se catarinas, ou seja, espécie de empregada doméstica de famílias que não tinham condições financeiras de sustentar uma de fato. Nosso intuito aqui é descortinar a trajetória de pobreza das quais muitas destas meninas desde tenra idade já eram personagens, desvendando seu cotidiano de artimanhas, de violência sexual, de exploração, silenciamentos no âmbito domiciliar (privado) e público (na cidade). Não é demais lembrar que neste período, assim como ainda hoje, figuravam as identidades sexuais compatíveis a cada um dos gêneros – masculino e feminino. Logo, ser menina e pobre na conjuntura aqui apresentada era, no mais das vezes, aceitar, reproduzir ou distorcer os comportamentos ditados pela cultura dominante. Neste sentido, nossas meninas protagonizaram histórias compatíveis com o que nos diz o conceito de Michel de Certeau: o cotidiano é, naturalmente, um espaço de pluralidade e inventividade, do confronto das estratégias e táticas e da disputa das resistências contra as imposições. Palavras-chave: cotidiano, meninas, Feira de Santana.

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Lucas Gabriel Oliveira Pinho --- lgsabino@gmail.com

“Este inferno de amar”: O divórcio e o concubinato no interior da Bahia oitocentista

O divórcio e o concubinato são temas que ainda hoje geram polêmicas e discussões das mais controversas. No entanto, como pensar essas mesmas questões no Brasil Império, tempo em que o patriarcalismo e o conservadorismo eram fortes e os casamentos fundamentados em valores sociais, como a virgindade e o pudor? As relações sexo afetivas da população do interior da Bahia durante a segunda metade do século XIX mostra que o concubinato era o crime dentro do processos episcopais mais denunciado, como também o mais cometido,O pecado de amancebamento não se fazia apenas por degradação de sua moral ou pelas baixas camadas da sociedade. O concubinato e o divórcio eram praticados por boa parte da sociedade oitocentista baiana, sendo que muitos ainda faziam para fugir de determinadas obrigações matrimoniais como o dote ou o casamento eclesiástico. Pretendo neste trabalho analisar as relações sexo afetivas das populações do interior da Bahia, em especifico nas cidades de Nazaré e Valença, durante todo o período oitocentista partindo do seguinte principio, se o casamento era um meio de conquistar espaço e privilégios dentro da sociedade o divórcio era a pedra e a cruz dos muitos senhores e senhoras que buscavam “bons” casamentos para os seus filhos e filhas.

Luiz Alberto Lima

Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em História pela UEFS lalima@hotmail.com.br

Na rua dentro de outra rua: gênero, territorialidades e sociabilidades em Feira de Santana 1930-1940

O presente trabalho tem por objetivo discutir e analisar as redes de sociabilidades femininas e as formas de resistências e empoderamento de mulheres pobres do centro da cidade de Feira de Santana, através de notícias e artigos veiculados pelo Jornal Folha do Norte nas décadas de 1930 a 1940. Dessa forma, analisamos os discursos e as representações sobre os sujeitos e os espaços ocupados pelas “marginais” numa relação de territorialização dos hábitos e costumes. A compreensão das relações de gênero e espaço são significativas no desenvolvendo deste trabalho, uma vez que estas mulheres surgem da sua invisibilidade histórica a partir das relações que desenvolviam com seus espaços e movimentos cotidianos que configuravam o seu território, identificados pelos códigos culturais estabelecidos e significados entre si Palavras-chaves: gênero, sociabilidade, território.

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Maria Aparecida Prazeres Sanches

Professora Doutora da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) cidaprazeres@ig.com.br

Quando o amor acontece! Regras namoro, comportamento sexual e ajustes

O artigo proposto tem por objetivo discutir a dinâmica das relações de namoro sob a égide das novas regras marcadas pelo surgimento do amor romântico, que previa como condição precípua a atração física e simpatia individual. Vivenciado por homens e mulheres na Salvador dos primeiros 40 anos do século XX, o namoro é aqui analisado enquanto uma relação social e será discutido no âmbito das normas de condutas esperadas para homens e mulheres, mercado pela forma em que os papeis de gênero hierarquizaram essa relações. As relações de namoro tinham como objetivo último e primeiro o casamento e, portanto, era uma etapa que permitia ao jovem casal um processo de conhecimento que lhes possibilitassem aprofundar a relação. O namoro constituía uma fase fluida e estava dividido em duas etapas: o namoro, propriamente dito, e o noivado oficial. Ainda que no contato entre os enamorado este proibido a vivência completa da sexualidade pelo estabelecimento de limites precisos entre o considerado “moralmente” aceito, a dinâmica erótica entre os casais de namorados, reiteradas vezes, ultrapassaram os limites e terminaram em defloramentos, gerando conflitos arbitrados pelas delegacias e tribunais baianos. Os defloramentos atestam a forma pela qual os casais desafiavam as noções de honra e virgindade tradicionais correntes e nos permite compreender de que forma os jovens das camadas populares vivenciavam sua sexualidade. Palavras Chave: regras namoro, sexualidade, comportamento.

Paloma Vanderlei da Silva

palomavanderlei@yahoo.com.br Articulando Gênero, Raça e Identidade: sociabilidades e conflitos das mulheres negras ganhadeiras na Salvador da Primeira República O objetivo desta comunicação é analisar as situações diversas e adversas que as mulheres negras ganhadeiras vivenciaram no seu cotidiano no período que compreendemos como primeira república na cidade de Salvador. Para tal, achamos imprescindível recorrermos ao Gênero enquanto categoria de análise que associado a outras categorias analíticas como: Identidade e Etnia nos permite desvendar o mundo da construção social dos papéis de gênero e percorrer as representações construídas em torno destas mulheres que foram personagens imprescindíveis na composição e memória dos grandes centros urbanos no Brasil. Sob a luz da Imprensa local buscaremos analisar de que forma foram construídos discursos a partir das relações de 52


tensão e sociabilidade que envolvia o cotidiano das mulheres Ganhadeiras no período estudado. Através dos jornais: Diário de Notícias (1900-1910) Diário da Bahia (19141924) e Jornal A Tarde (1914-1930) perscrutar de que forma as mulheres Ganhadeiras foram representadas nestas notícias sob o olhar de uma Imprensa que estava a serviço dos poderes locais além de ser um dos seus veículos de legitimação. Onde estavam estas mulheres nas páginas dos noticiários? “Crônicas”, “Acidentes”, “Conflitos”, “Seções Policiais”, foram os espaços mais recorrentes na busca por estas mulheres. De que formas foram representadas? Como esta Imprensa local se referia às condições de trabalho, vida, conduta moral e como se descortinava o cotidiano das mulheres Ganhadeiras? Essas e outras perguntas permeiam nossas discussões, na tentativa de analisar a construção de uma identidade social e étnica que se desenvolveu em meio á contradições e adversidades, frente a um modelo de projeto higienista, sanitário e modernizador que engendrava novos papéis e buscava enquadrar sujeitos sociais nesta dinâmica. Referenciais como “Raça” e “Gênero” estavam presentes nos diversos discursos estudados do período. Na tentativa de responder e analisar os problemas apresentados e as informações que as notícias nos trazem que buscaremos examinar de que forma são articulados os discursos em torno das mulheres Ganhadeiras numa sociedade marcada profundamente pelas diferenças sociais, raciais e de gênero.

Romeu dos Santos Costa

Graduando pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) romeucosta84@hotmail.com

Escrita feminina: entre a poesia e a prosa

Neste estudo discuto a trajetória das escritoras e poetisas baianas Eufrosina, Eulina e Eugenia Miranda, três irmãs, que de modo diferenciado, tiveram participação no Jornal Folha do Norte, periódico que circulou no munícipio de Feira de Santana, na Bahia, na Primeira República. Como cultoras das letras, essas mulheres exerceram o magistério e exercitaram a escrita, criando formas e estratégias, bem como artifícios para adentrar o mundo da imprensa, que no contexto de 1910-1930, era predominantemente masculino. Interessa-nos saber a trajetória intelectual dessas mulheres, o que escreviam e como eram recebidos os seus escritos na sociedade feirense do período. Para a historiografia contemporânea, interessada em investigar as experiências femininas e as tensões entre os gêneros, faz-se necessário analisar quais espaços as irmãs Mirandas ocuparam neste meio de comunicação – o jornal Folha do Norte - tão importante para a cidade que buscava se modernizar. É através desse estudo que pretendo entender como essas irmãs conquistaram ao seu modo específico, o espaço da imprensa feirense, espaço esse como já foi dito antes, predominantemente masculino. Assim como analisar em que contexto feirense se deu o desenvolver e a divulgação de seus escritos, relacionando com a sua receptividade e alcance através do Folha do Norte. Palavras-chave: História, mulheres, letradas. 53


Sabrina Guerra Guimarães

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo – PPG-NEIM - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista da FAPESB brinaguerra@hotmail.com

Relações de gênero, oralidade e medicina legal na Bahia: narrativas sobre história de vida de Maria Theresa de Medeiros Pacheco

A presente comunicação visa fazer uma análise das relações de gênero na trajetória da Medicina Legal na Bahia, tendo como principal objeto de estudo o papel de Maria Theresa de Medeiros Pacheco. Alagoana que chegou a Bahia em 1948 para ingressar na Faculdade de Medicina da Bahia. Formou-se em 1953 e daí por diante atuou nas Maternidades Climério de Oliveira e Nita Costa, nos hospitais Aristides Maltez e Santa Isabel. Em 1954, foi convidada pelo Prof. Estácio de Lima para atender no Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, na especialidade de Sexologia Forense, pela sua experiência nos serviços de ginecologia e obstetrícia, para periciar as vítimas de atentados sexuais: às crianças, adolescentes e mulheres. A partir dai se especializou e se tornou a primeira mulher médica-legista do Brasil. Portanto, pretendemos analisar o seu desempenho como médica legista, de como ela sendo mulher numa sociedade de discurso androcêntrico, numa área dominada pelos homens, conseguiu ascender na profissão, fazendo história dentro do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, onde ela conquistou o mérito de ter sido a primeira diretora de um Instituto Médico Legal e para além dele como professora na Faculdade de Medicina da Bahia se tornando a primeira catedrática titular de Medicina Legal que se tem conhecimento no mundo. O diálogo entre a metodologia da História Oral e a teoria feminista é fundamental nessa pesquisa, pois, ambas norteiam o campo de visualização de forma ampla das dificuldades enfrentadas pelas mulheres para se inserirem no campo da ciência em especial a medicina, evidente que as conquistas de muitas mulheres em especial esta que tratamos se deve e muito pelas ideias e vitórias feministas, seja ela enquanto pensamento ou movimento. A história oral permitirá, através dos depoentes, nos fornecer informações que nos levarão a avançar nesses estudos de forma responsável, ou seja, essa metodologia nos abrirá um campo vasto de possibilidades. Acreditamos que a teoria feminista nos dará embasamento para escrever sobre esta história de vida que é um compromisso com a história das mulheres, onde não podemos perder de vista a importância e a necessidade de continuar fazendo uma discussão historiográfica onde as mulheres estejam inseridas e com enfoque nas relações de gênero para compreendermos o processo histórico não só do passado como também do presente e ao percebermos que em todas as situações a história foi masculinizada, nos dá ânimo para escrever uma história com a tão real participação feminina. Palavras-chave: feminismo, Medicina Legal, biografia. 54


Valdineia Oliveira dos Santos

Professora do núcleo pedagógico da rede Anísio Teixeira. Mestre em Memória: linguagem e sociedade pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) valdineia_gal@hotmail.com

Memória, religiosidade e poder feminino nas fazendas de cacau do sul da Bahia

Esse artigo aborda a história de vida de Elza da Silva Carvalho, uma mulher cuja trajetória de vida deixou marcas na memória sobre o campo da religião, economia e política do sul da Bahia. A proposta desse artigo surgiu a partir da observância de que a narrativa histórica sobre o sul da Bahia privilegia os feitos masculinos e aborda a mulher na condição apenas de mães, esposas, donas de casa, entendo que essa é uma visão limitada, essencialista e que não dá uma perspectiva ampla sobre a realidade local. O cotidiano das mulheres na região sul da Bahia não estava centrado apenas no espaço privado, na subalternidade, mas, concentrava outras experiências no espaço público, principalmente, quando as mulheres atuavam no campo religioso e comunitário. Elza Carvalho reúne experiências na religião católica e do candomblé. Nesse universo multifacetado, ela constituiu representatividade e reconhecimento tornando-se uma liderança no campo político local, pelo papel que constituiu junto à comunidade. Seus testemunhos memorialísticos subsidiam esse texto e trazem outra perspectiva sobre a memória e o poder feminino nessa região. A análise desse artigo abre espaço para discutir o cotidiano feminino no sul da Bahia, para além do papel de coadjuvante na estrutura econômica cacaueira. Palavras-chave: gênero, memória, cotidiano.

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Simpósio Temático 05 CATOLICISMO, REPRESSÃO E DIVERSIDADE CULTURAL NA AMÉRICA PORTUGUESA Coordenadores: SUZANA SEVERS MARCOS SILVA

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catolicismo foi religião hegemônica na Ibéria moderna, devendo muito às diretrizes resultantes do Concílio de Trento, e por outro lado pela atuação do Santo Oficio da Inquisição. As colônias ultramarinas espanholas e portuguesas não ficaram de fora deste processo, mas foram aí que esta hegemonia defrontou-se com a diversidade cultural dos povos nativos e africanos escravizados, além dos traços culturais e religiosos judaicos que assinalava a população portuguesa enquanto cristã-nova e cristã-velha; bem como encontrarmos dispersamente influências ou mesmo práticas religiosas não apenas judaizantes, mas protestantes e mesmo islâmicas. O controle eclesiástico imprimiu um caráter subversivo à prática religiosa não católica ortodoxa e a comportamentos que fugissem à sua orientação doutrinária. Através das visitações pastorais, das visitações inquisitoriais (estas, sobretudo, no final do século XVI e primeiras décadas do XVII) e a atuação de agentes do Santo Ofício por todo o período colonial, a Igreja tentou reprimir e moldar comportamentos, costumes e visões de mundo não católicas. Mesmo assim estes universos cultural-religiosos se encontraram, se cruzaram, se misturaram e se individualizaram a ponto de constatarmos expressões significativas de religiões e religiosidades reprimidas. Neste Simpósio temático propomos a reunião de trabalhos que discutam a temática da religião e das religiosidades no mundo ibérico colonial, especialmente na América portuguesa e que possam contribuir para um debate historiográfico comparativo, enriquecendo este campo da história em amplo desenvolvimento. Daniel Vital dos Santos Silva

Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista PIBIC/CNPq danielvssilva@gmail.com

O Convento de Santa Maria da Arrábida e a construção do espaço sagrado no Espelho de Penitentes

As crônicas religiosas constituem uma das fontes mais curiosas para o trabalho do historiador. Longe de serem escritos apenas preocupados com narrativas de caráter religioso, estas obras oferecem várias possibilidades analíticas. Não apenas 56


descreviam modelos de santidade, mas também se ocupavam de análises sobre grandes eventos da política, bem como narrativas sobre vida cotidiana, histórias de vida, etc. O objetivo desta comunicação é explorar um aspecto sugestivo de uma crônica: a construção do espaço sagrado dentro da obra do Frei Antonio da Piedade Espelho de penitentes, e crônica da Provincia de Santa Maria da Arrabida da regular, e mais estreita observancia da Ordem do Serafico Patriarca S. Francisco, no Instituto Capucho. Lisboa, Joseph Antonio da Sylva, Impressor da Academia Real, 1728. O escrito tinha por objetivo salvar do olvido a memória de alguns dos mais gloriosos religiosos e padroeiros deste ramo da ordem franciscana. Apesar disto, seu autor ocupou grande quantidade de páginas na descrição da serra da Arrábida, e do primeiro convento. Logo, tratando a crônica como uma narrativa que selecionou e narrou os eventos mais importantes, foi possível inferir que a serra é por si só merece maiores cuidados. Este trabalho busca entender as razões deste detalhamento, bem como seu caráter delimitador, as estratégias na narrativa, etc. Para tanto, a proposta seguiu, como balizas teóricas, os estudos de Michel de Certeau sobre as narrativas do espaço, na qual o espaço é o lugar transformado, vivido, experimentado, em oposição ao lugar geometricamente definido; e as referências de Mircea Eliade sobre a centralidade do espaço sagrado para o homem religioso. Palavras-chave: Cultura escrita; religião no mundo luso-brasileiro; Portugal nos séculos XVII e XVIII.

Denise de Carvalho Zottolo

Pós graduanda no curso de Especialização em História da Bahia das Faculdades São Bento d.zottolo@globo.com

Laís Lara Campos Lima

Pós graduanda no curso de Especialização em História da Bahia das Faculdades São Bento laralyma@bol.com.br

Aspectos econômicos da Inquisição portuguesa nos cadernos dos Tesoureiros

Os cadernos dos tesoureiros da Inquisição, digitalizados e disponíveis na Torre do Tombo de Portugal, revelaram-se uma importante e rica fonte para a análise da dinâmica inquisitorial e nos permitem, somente com a análise dos gastos com seus funcionários, reconstruir, em parte, a teia de pessoas à disposição do Tribunal que trabalhavam ou prestavam serviços à instituição Inquisitorial e eram por ela sustentados, na cidade de Lisboa. Fazem parte desta lista de funcionários os inquisidores, promotores, deputados, capelães, notificadores, notificadores ajudantes, meirinhos, serventuários, porteiros da mesa, alcaides dos cárceres, solicitadores, guardas dos cárceres, oficiais da vara, despenseiros, médicos, cirurgiões, homens da vara, familiares, escrivães da vara, escrivães de visita, guardas de penitenciárias, entre outros. Além do ordenado dos seus funcionários a estrutura inquisitorial também custeava algumas despesas pessoais dos mesmos, como doenças e aluguel de casas, 57


distribuía mercês e benesses a algumas instituições da igreja, como conventos e colégios religiosos, e também realizavam pagamentos a algumas pessoas que não faziam parte do quadro de funcionários do Santo Ofício. Embora esta pesquisa se encontre em fase inicial pode-se perceber que se o aspecto econômico não foi o elemento deflagrador da Inquisição, como ainda discutem alguns teóricos, escamotear a sua importância para a manutenção da instituição inquisitorial se apresenta como inviável, pois custear uma estrutura tão repleta de tentáculos como a instituída pelo Tribunal do Santo Ofício português, tornou-se um fardo pesado. Palavras-chave: inquisição, tesoureiros, aspecto econômico.

Dimas Catai Santos Junior

Mestrando pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CNPq dimascatai@yahoo.com.br

Três paus no chão a revelar um feiticeiro: As desventuras do negro Angola Simão e os caminhos que o levaram ao Santo Ofício

Mundos misturados, vivências culturais díspares que se reelaboraram numa colônia marcada pela presença de sujeitos que rodaram o Atlântico luso e por outros que nunca deixaram suas regiões de origem antes de serem arrastados a Lisboa para responderem por seus crimes de fé. No processo de migração iniciado no século XVI, homens e mulheres levavam consigo muito mais do que apenas seus pertences, parcos objetos e os temores de se lançarem nas terras colonizadas. Seguiam com suas almas impregnadas por experiências religiosas que escapavam do modelo ideal do cristianismo católico que condenava o diálogo entre a “verdadeira religião” redentora da humanidade e práticas remanescentes de contatos constantes com outros povos ou interpretações do sagrado que, por vezes, contrariavam a doutrina católica. Somadas a estas vivências européias, outros grupos sociais integrados às novas terras católicas no processo de expansão e conquista eram identificados como pagãos. A demonização desses cultos e práticas religiosas fez com que eles fossem muitas vezes assimilados às práticas de feitiçaria correntes na Europa.Neste breve artigo pretendemos analisar o processo de Simão, escravo de origem Angola, na freguesia de Santo Amaro da Pitanga entre 1685 e 1689, acusado de praticar feitiçarias e ser o responsável pela morte de quarenta outros negros livres, libertos e escravizados. Buscaremos compreender dois dos inúmeros textos e subtextos possíveis de serem verificados através deste tipo de documentação. O primeiro ponto que nos interessa é a ligação entre membros da Igreja e o Santo Ofício a fim de combater tais desvios. Essa questão aparece de forma bem clara na comunicação travada entre Inquisição e os representantes do Convento de Nossa Senhora do Carmo, responsáveis pela denúncia do caso e posterior inquirição das testemunhas na freguesia de Santo Amaro da Pitanga. O segundo deles seria a relação entre feiticeiros e sua comunidade de entorno, 58


ou seja, os acusados de feitiçaria e a sua convivência com os demais indivíduos que os cercavam e como o fato de ter sido acusado e levado aos Estaus podiam marcar as experiências destes indivíduos mesmo quando eram considerados inocentes. Palavras-chave: feitiçaria, religiosidade popular, escravidão.

Gabriel Cordeiro Silva

Professor do Colégio Estadual Naomar Soares Alcântara e do Colégio Municipal Lourival Souto. Graduado em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) osbiel@hotmail.com

O “outro” europeu no Brasil Holandês

O presente trabalho busca abordar como foi categorizado o outro no passado. Este outro foi repugnado ou, no mínimo, tolerado, devido a sua antagônica natureza de culto religioso ou por ser opositor bélico, no século XVII, nas Guerras Brasílicas, entre holandeses e portugueses. Para alçar tal objetivo, se examinará as declarações do Padre Antônio Vieira, do Humanista e Predicante Protestante Gaspar Barléus e do Embaixador português Francisco de Andrade Leitão, em que, o outro é visto conforme as suas convenções e princípios sociais. Estes se apresentam como detentores da verdade histórica, atribuindo a visão do outrem como influência da ação demoníaca, como falsa ou criada pela convivência pouco amistosa. Destarte, a representação foi um instrumento de julgamento, levando ao estado de pouca compreensão sobre o próximo e conectada as relações sociais e ao lugar social de elaboração de conhecimento. Palavras-chave: Representação, Período Colonial, Guerras Brasílicas e Verdade.

Grayce Meyre Bonfim Souza

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) graycebs@yahoo.com.br

Agentes Santo Ofício e o Clero baiano nos cadernos do promotor da Inquisição de Lisboa

Diferentemente do que aconteceu em alguns domínios da América Espanhola e da capital do Estado Português na Índia, o Brasil não teve um Tribunal do Santo Ofício. Na América portuguesa a atuação inquisitorial se deu por meio de visitações e principalmente pela formação de uma rede de agentes – comissários, familiares, qualificadores e notários – que, devidamente habilitados, agiram em nome do Tribunal da Inquisição de Lisboa. Pretendemos com esta exposição apresentar e analisar episódios envolvendo denúncias contra membros do clero secular e regular baianos, alguns destes homens também pertencentes ao quadro de agentes inquisitoriais. Tais denúncias estão presentes em cadernos do promotor e foram encaminhadas da Bahia para a Inquisição entre o último quartel do século XVII e final do XVIII. O trabalho 59


aqui apresentado foi realizado principalmente a partir de uma amostragem de trinta cadernos e os acontecimentos nos revelam aspectos de grande importância para a análise das relações e inter-relações do clero com os seus pares e agentes inquisitoriais. É possível conjecturar a partir das informações contidas nas denúncias, sobretudo por não ter implicado em processos, que os promotores e inquisidores não tinham as mesmas interpretações ou mesmo viam as falhas com menor rigor que seus informantes no além-mar. Os manuscritos aqui analisados são registros valiosos para o estudo da sociedade colonial e obstante a dificuldade de manuseio e sistematização, é uma documentação indispensável para a investigação das ações inquisitoriais na colônia. Palavras-chave: agentes inquisitoriais, América portuguesa, cadernos do promotor.

Joseane Pereira de Souza

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) josi.anesouza@hotmail.com

Um frei solicitante denunciado às vésperas do encerramento do Santo Tribunal da Inquisição: prova da permanência das atitudes

O presente artigo tem como objetivo contribuir para a ampliação dos estudos a respeito do crime de solicitação, no Brasil. Nesse sentido traz como foco uma análise sobre a denúncia feita ao Tribunal do Santo Ofício contra um frei franciscano, José de São João Evangelista, morador na cidade de Salvador na Bahia, este é acusado de solicitar a escrava Maria Páscoa de apenas dezesseis anos, após a confissão sacramental, para ter com ela, relações carnais. A denuncia é datada do final da primeira década do século XIX, fato, muito relevante para a comprovação da permanência de certos delitos, que eram refreados e julgados pela Inquisição, como foi o caso da solicitação ou solicitatio ad turpia. A análise desta fonte e as informações adquiridas nas consultas bibliográficas que tratam do mencionado delito permitem constatar que mesmo após a tentativa do Santo Ofício em tentar conter os desejos carnais dos clérigos no território brasileiro, os sacerdotes continuaram a aflorar seus desejos. Logo, é possível considerar que as visitações do Santo Ofício ao Brasil, bem como as ações de seus designados, os familiares e comissários, além da justiça eclesiástica, apesar de muito reprimir e proibir os modos de viver de seus habitantes, no caso específico deste trabalho, os eclesiásticos não conseguiram moldar suas atitudes e muitos continuaram a viver conforme suas próprias vontades, desobedecendo assim à exigência da castidade ao celibato. Palavras-chave: inquisição, solicitação, padres.

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Josevânia Souza de Jesus Fonseca

Especialista em História Cultural pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) josevaniasouza@bol.com.br

Aspectos cabalísticos na obra de Antônio José da Silva

O presente artigo corresponde a uma pesquisa inicial que tem como objetivo identificar os aspectos da Cabala na obra de Antônio José da Silva “O Judeu” para em seguida analisar em que medida o cabalismo pode ser tomado como elemento constituinte da sua cosmovisão e da cultura criptojudaica na diáspora. Para tal utilizaremos como fonte principal o tomo primeiro da obra TheatroComicoPortuguez ou collecção das operas portuguezas, de 1759, editada por Francisco Luiz Ameno. A obra contém quatro peças teatrais inspiradas na literatura espanhola: Vida de D. Quixote de la Mancha, e na cultura greco-romana: Esopaida, ou vida de Esopo, Os Encantos de Medéa e Amphitryaõ, ou Jupter, e Alcmena. Como um porta-voz do seu tempo e da sua cultura, Antônio José utilizou-se das peças teatrais para perpetuar aspectos do misticismo judaico, ao passo que satirizava a sociedade lisboeta e a repressão católica aos cristãos-novos, sob o signo da Inquisição. Como fontes secundárias nos valeremos de processos inquisitoriais e da vasta bibliografia produzida sobre o tema, entrecruzadas à luz do paradigma indiciário e do aporte teórico da História Cultural. Por ser um trabalho introdutório não serão apresentados resultados permanentes, mas possibilidades de estudos, indicação de bibliografia, fontes e metodologia, justificando a viabilidade da pesquisa. Palavras-chave: Antônio José, cabalismo, cultura criptojudaica.

Josiane Rocha Conceição dos Santos

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Bolsista PROPAE josyrocha88@hotmail.com

O compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário e suas atribuições na cidade de Inhambupe – 1897

O presente trabalho tem como objetivo discutir as exigências da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário na cidade de Inhambupe (Bahia) para participação de irmãos nesta Confraria a partir do regulamento do ano de 1897. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário é uma entidade de caráter religioso que busca cumprir com grande veneração a devoção à sua santa patrona, como também realizar obras de caridade voltadas para os seus membros ou pessoas carentes da comunidade. Para tanto, lancei mão de uma abordagem sócio-cultural, bem como de trabalhos que explicam o compromisso e a devoção nas Irmandades; assim como sobre a religião na vida pessoal e social dos irmãos do Rosário, buscando uma imersão mais aprofundada sobre tal temática, analisando a importância da Irmandade para o devoto assim como suas atribuições. Palavras-chave: Irmandade, compromisso, devoção.

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Juscilene Souza Lima

Graduanda pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bolsista PICIN-UNEB juscilenewsouza@hotmail.com

Servidores de Deus: Um breve estudo sobre as ações dos religiosos católicos na Capitania de Sergipe Del Rey

Este artigo destina-se a fazer um breve estudo sobre as ações dos religiosos católicos (das várias ordens vindas para a América Portuguesa) na Capitania de Sergipe Del Rey. Vamos examinar os documentos do Projeto Resgate em que estão disponíveis as digitalizações das cartas e ofícios dos religiosos que se encontravam nas vilas da referida capitania. Embora iremos examinar documentos entre os períodos do século XVI e XVIII, aprofundaremos essa pesquisa no período setecentista. Desde que os europeus chegaram ao Brasil tentaram impor seus costumes religiosos e culturais. A partir da colonização a Igreja Católica começa seu trabalho de catequização e se faz presente nas capitanias, não sendo diferente na capitania de Sergipe Del Rey. O catolicismo estava sempre presente além da Capela (Igreja Matriz ou Capela Mor), nos engenhos, nas vilas, enfim no cotidiano das pessoas, conquistando assim, o seu lugar na sociedade colonial setecentista. Abordaremos a importância (e os motivos), no contexto da América Portuguesa, da posição social e econômica de se ter um religioso como membro da família; o fato de padres possuírem cargos políticos e serem proprietários de terras e como a Igreja é usada como instrumento politico. Podemos citar como exemplo um documento do Projeto Resgate, onde o Padre Antônio Dias Coelho e Melo junto com o Sargento Mor Domingos Dias Coelho e Melo que solicitaram ao príncipe D. João que fizesse a divisão das terras dos engenhos São Pedro e São Francisco o qual os dois tinham herdado dos seus pais, percebe-se assim, que os padres eram proprietários de terras. Palavras-Chave: Igrejas, impostos, dízimos.

Marcos Silva

Professor Adjunto no Departamento de História da Universidade Federal de Sergipe (UFS). // Líder do Grupo de Pesquisa Diáspora Atlântica dos Sefarditas, CNPq/UFS. silva.marcos@uol.com.br

Cabalismo na cultura cristã-nova

A diáspora Atlântica dos sefarditas deu origem, nos tempos modernos, a importantes redes comerciais e de solidariedade por meio das quais eles compartilhavam não somente interesses materiais, mas, também, uma cultura comum. Seguindo o costume dos intelectuais, a partir do humanismo renascentista, de formar a “república das letras”, os cristãos-novos judaizantes engendraram “círculos literários”, como o de Ferrara, na Itália, e “circuitos culturais” de dimensões variadas. Nesse texto, a partir de breve investigação das expressões culturais de dois indivíduos, julgados e condenados pela Inquisição, procura-se demonstrar como a Cabala, cujo conhecimento era 62


transmitido através dessas “comunidades de saber esotérico”, constituiu-se em elemento estruturante da cosmovisão e cotidiano dos sefarditas que procuravam manter sua identidade judaica. Sabe-se que o elemento místico tem sua origem e alcança camadas de significação mais profundas em tempos de crise e tribulação. Assim, a religiosidade das comunidades atlânticas sefarditas era vista, pelo próprio status quo do judaísmo dominante, como heterodoxa, principalmente devido à influência predominante da Cabala. Será sobre essa religiosidade duplamente herética que esse texto tratará. Será feita uma revisão bibliográfica de dois casos de praticantes da Cabala, já mencionados na historiografia, que foram julgados e condenados pelo Tribunal do Santo Ofício pelo crime de práticas judaizantes. O cabalismo de alguns, porém, passou desapercebido. Isso porque essa forma de vivência profundamente carregada de símbolos confundiu em muitos momentos os sensores da Inquisição católica, não iniciados no hermetismo da Cabala, embora esta não tenha sido a sorte de uma boa parcela deles. Palavras-chave: religiosidade criptojudaica, cultura cristã-nova, cabala.

Priscila Natividade de Jesus

Graduanda pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) pinknatividade@gmail.com

As bolsas de mandinga no Brasil colonial: sincretismo, demonologia e feitiçaria

O estudo sobre as bolsas de mandinga relacionado com a atuação da inquisição na repressão e julgamentos de crimes de feitiçaria ganham atenção em nosso trabalho, pois nos permite estudar acerca do universo religioso e cultural daqueles que portavam e produziam as bolsinhas de mandinga no Brasil colonial, assim como, discutir a importância dos amuletos e o poder de seu conteúdo para aqueles que os usavam. Cabe ressaltar que a utilização e crença nas bolsas de mandinga não estavam apenas entre a população negra colonial, encontrava-se também inserida entre a população de cor branca mesmo que em menor proporcionalidade. Nosso estudo se desenvolve a partir do caso de José Martins, negro livre, processado, julgado e condenado pela Inquisição Portuguesa pelo crime de feitiçaria por portar uma bolsa de mandinga. Para a inquisição as bolsas de mandinga eram sinônimo de feitiçaria e demonologia, sendo assim julgada, pelo poder e significado mágico que representava perante seus usuários assim como, pelo conteúdo que carregava em seu interior, composto por elementos da igreja católica, cujos mais comuns eram orações, pedra D’ara, hóstias consagradas e sanguinhos. O amuleto também era capas de reunir em seu interior elementos outras culturas. Deste modo, é interessante se pensar acerca do sincretismo religioso que se configurara a partir dos elementos que compunha as bolsas de mandinga. Palavras-chave: bolsa de mandinga, feitiçaria, José Martins.

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Priscilla da Silva Goés

Pós-graduada em Educação e Patrimônio Cultural em Sergipe. priscillahistoria@yahoo.com.br

A influência dos Cristãos – novos em Sergipe Del Rey

Grande parte das pessoas que fugiam das atrocidades cometidas pela Inquisição na Península Ibérica era de cristãos-novos refugiados na região que hoje compreende o nordeste brasileiro, no qual acabaram deixando suas marcas, seus costumes. Muitos cristãos-novos eram seguidores da religião oficial para não serem vítimas do Tribunal da Inquisição em suas visitas ao Brasil, porém, no interior dos seus lares, seguiam os ritos da religião mosaica. Porém, quando havia denúncias de que alguns desses cristãos-novos estavam apresentando hábitos da sua antiga religião, elas eram encaminhadas ao Tribunal da Inquisição, que veio algumas vezes para o Brasil com o intuito de perseguir, dentre outras ações, aqueles que era denunciados com judaizantes. Sergipe Del Rey não ficou fora da “caçada inquisitorial”. Houve a vinda do Santo Ofício para Sergipe Del Rey, que na época, pertencia à Bahia, tendo como principal intuito perseguir os cristãos-novos nesse território. Por ser uma capitania recém-criada, esses cristãos-novos, provavelmente, acreditavam que estariam mais seguros, podendo então, passar despercebidos. Este artigo tem como objetivo levantar questões acerca da possível influência de costumes judaicos no Estado de Sergipe, assim como ocorreu em outros estados nordestinos, pois, observando os costumes de algumas cidades sergipanas e comparando-os com os de outras regiões brasileiras que possuem influências culturais dos cristãos-novos, podemos deduzir uma presença, de fato, marcante desses povos em Sergipe, a qual foi capaz de deixar traços na vida das pessoas. Esses traços que existem até hoje, ainda que a maioria das pessoas não saibam, ao certo, como tais costumes foram herdados. Palavras-chave: Cristãos-novos, Sergipe, marranismo.

Ricardo Santana ------gueertz@hotmail.com

Lourenço de Brito Correa e os zombeteiros “da nasção”: Bahia, 1618-1620

O presente artigo é um breve resumo da trajetória de Lourenço de Brito Correa, fidalgo nascido na Bahia, proprietário de terras, escravos e cargos administrativos ainda pouco conhecido pela historiografia. Para preencher parte desta lacuna, dedico-me a expor alguns aspectos da sua genealogia, propriedades que herdou dos seus antepassados e vinculações que estabeleceu com a Igreja Católica ao longo do século XVII. Desta forma pretendo contextualizar o seu protagonismo político na Bahia Seiscentista e compreender o universo cultural que ele compartilhava. Após conhecermos os princípios que nortearam a sua educação rigorosa, 64


conheceremos o conteúdo de uma denúncia por ele apresentada ao Inquisidor D. Marcos Teixeira, em 1619, por ocasião da segunda Visitação do Santo Ofício na cidade de Salvador. Em 1618, alguns moradores estavam a enfeitar as imagens de vulto para uma procissão quando palavras descompostas foram proferidas por um cristão-novo. As zombarias agrediam a imagem de São Pedro e isto foi motivo de escândalo para o jovem Lourenço que presenciou tal falta de respeito para com os símbolos católicos. Os detalhes deste documento revelam um clima de denuncismo e perseguição contra as heterodoxias existentes na América Portuguesa e resguarda profundas conexões com a invasão holandesa à Bahia, em 1624.

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Simpósio Temático 07 CULTURAS, MEMÓRIAS E REPRESENTAÇÕES: OS DIFERENTES SUJEITOS E FAZERES DA HISTÓRIA Coordenadores: CARLOS ALBERTO DE OLIVEIRA

Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) // Doutor em História Social pela PUC/SP betoliva65@gmail.com CARLOS JOSÉ FERREIRA DOS SANTOS

Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) // Doutor em História da Arquitetura e do Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo-USP carlos.josee@uol.com.br

O

ST busca debater questões do social que vêm assumindo significativa importância na sociedade contemporânea, procurando trabalhar numa perspectiva de retirar a História do campo da erudição ou da mera especulação e colocá-la no campo da cultura e da política. Busca discutir com os temas de estudo enquanto problemáticas do social, entendendo-os como processos de disputa entre forças sociais, como processos em formação. Enfatizando sua abordagem na perspectiva da cultura, entendida como todo modo de vida e de luta, como modo de construção da experiência e dos sujeitos sociais, que envolve valores e sentimentos, tanto quanto interesses e necessidades. Nosso empenho é de compreender e explicar os nexos e as relações sociais imbricadas nas formas de expressão da experiência humana em todas as suas manifestações. Neste compasso, o ST aqui proposto tem como intenção principal propor a discussão e a reflexão das práticas de diferentes grupos sociais e etnias que se articulam em torno de diferentes territórios. Estes sujeitos na sua experiência cotidiana, vão construindo e oferecendo significados múltiplos aos espaços freqüentados por eles. Deste modo, esta proposta de ST visa também estimular o debate sobre as diversas formas de vivências e representações que formam a sociedade brasileira e baiana em particular. Possibilitar a troca de experiências entre pesquisadores das diversas Instituições de Ensino e Pesquisa, que desenvolvam leituras, pesquisas e reflexões no campo da Cultura e sobre os diferentes sujeitos, contribuindo para o debate acadêmi66


co e historiográfico; Deste modo, busca-se constituir uma Rede de Discussão Permanente entre pesquisadores das diversas Instituições de Ensino e Pesquisa no âmbito da proposta do ST Alex de Jesus Oliveira

Professor de Educação Básica (SEC/BA). lex.jesus@hotmail.com

“Num tenho medo de infrentar a vida”: Memórias e Representações de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Recôncavo - (1970 -1990)

O artigo visa investigar a partir das memórias e representações de mulheres trabalhadoras Rurais do Recôncavo Sul como elas articularam a sua vida cotidiana de trabalho no roçado ajudando o marido com as suas ações de promover o sustento da família e cuidar das “coisas do lar”, dos filhos, assumindo o papel de esposa, filha, mãe, irmã, bem como de trabalhadora, rezadeira e em alguns casos parteira em um desdobramento de vivências “múltiplas” em dimensões variáveis no tempo-espaço no seu cotidiano. Partindo da afirmação de Eric Hobsbawn que deixa claro que não há povo sem história ou que possa ser compreendido sem ela, resolvemos estudar aqueles que durante muito tempo foram negligenciados pela historiografia oficial, optamos, desta forma, por analisa uma realidade bem próxima a nossa, uma vez que por ser educador nesta Vila e possuir laços de familia com esse povo percebi a importância de contar um pouco a sua história. Buscamos pesquisar as experiências e o cotidiano dos trabalhadores rurais da Vila do São José do Itaporã, e neste estudo as mulheres da Vila se apresentaram como o ser que “almágma” aspectos da cultura do Recôncavo, tornado-se a “transmissora” de valores e costumes que “emolduram” as especificidades dos modos de vida desses trabalhadores (ras) rurais. Elas são tão importantes para economia da Vila e do Recôncavo, quanto são para manutenção de aspectos culturais no Recôncavo Sul. Portanto neste artigo demos um foco à essas mulheres, mesmo o nosso trabalho não sendo uma abordagem de gênero sobre o mundo rural do Recôncavo Sul. Palavras-chave: mulher, trabalho, memória, representações.

Álisson Cristian Santos Chagas

Graduando da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista PICIN/UNEB alyssoncristhian@hotmail.com

“Fazendo e vendendo”: produção e circulação do beiju na CEAB de Alagoinhas-BA

Este trabalho tem como objeto o registro historiográfico da produção e 67


circulação do beiju na CEAB (Central de Abastecimento de Alagoinhas-BA) nos anos de 1990. O objetivo é compreender como uma prática cultural que envolve uma infinita rede de relações sociais constituiu-se como uma tradição resistente ao tempo, e como tem singular importância para a população da região carregando consigo significados que, possivelmente, determinam um modo de vida. Com base no método da História Oral descreve como a produção e circulação do beiju comporta variados níveis de interação, sociabilidades e cooperação múltipla entre as vendedoras através da memória. Palavras-chave: memória, beiju, Alagoinhas.

Anielle da Reissureição dos Santos Graduanda em História (UFRB). ressuany@hotmail.com

Padrão e comportamento da vestimenta de mulheres evangélicas da Assembleia de Deus em Feira de Santana

A presente proposta de pesquisa está inserida no âmbito dos esforços acadêmicos e sociais que visam o aprofundamento do conhecimento e da divulgação da história das mulheres no Brasil. Este trabalho está, portanto, conectado com o contexto atual, no qual a ascensão feminina é visível e crescente, e se faz sentir em todos os setores da vida social brasileira, inclusive a religiosa. Abordando o estudo de gênero feminino, pretende-se discutir a importância que a historia cultural tem na historiografia e a partir dela, perceber o desafio que o historiador contemporâneo tem ao obter informações referentes à sua analise documental, tendo como foco central um estudo sobre costumes e mentalidades no contexto religioso cristão. Aqui entra o ponto central desta proposta de pesquisa: Em que medida a chamada Revolução Feminina teve influência sobre as mulheres pertencentes a Assembleia de Deus em Feira de Santana? Quais discursos eram construídos e divulgados acerca das “irmãs” que ousavam desviar-se do modelo de estética e vestuário estabelecido pela igreja? E, finalmente, que tipo de disciplinas ou corretivos eram aplicados sobre as referidas irmãs? O comportamento do indivíduo não está condicionado a partir do que ele veste ou se produz esteticamente, a vestimenta por si só não identifica a que grau de pureza espiritual o homem se encontra, ou seja, o que se percebe é que a roupa é imutável, quem muda são as leis humanas e nesse sentido o que leva a vulgarização e a mudança é o descontrole de quem se submete a usa-la onde não lhe é permitido. Reafirmando o que propus pesquisar, História da Religião atrelada a História da Mulher, é fundamental citar Roger Chartier em seu livro A História Cultural – Entre Práticas e Representações, quando o mesmo enaltece a importância da História Cultural nessas ramificações: “A história cultural tal como entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade social é pensada, dada ler”. (CHARTIER, 1990, p. 170). Contudo, As expectativas 68


esperadas nesse estudo estão em contribuir para a historiografia pondo em testa esses grupos que, ao longo da História, foram travando contra sua desvalorização. Palavras-chave: vestimenta, mulher, cristã.

Carlos Alberto Alves Lima

Mestrando do Programa de Pós Graduação em História na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES cal_uefs@yahoo.com.br

Complexo Rua do Meio: Território Maldito numa Feira de Santana em transformação (1950-1967)

Buscaremos analisar a História de Feira de Santana, sob a perspectiva do processo de modernização e urbanização vivenciado a partir da implantação da República no Brasil, com destaque para a fase ocorrida entre as décadas de 1950 e 1960. Tornou-se comum nesse processo, a produção de territórios, multifacentando a urbe. Direcionaremos nossos olhares para o “Complexo Rua do Meio”, formado pelas atuais Ruas Marechal Deodoro da Fonseca e Sales Barbosa e seus respectivos Becos e Ruelas, território que concentrava em seu cotidiano práticas sociais ilícitas e moralmente condenáveis pelo discurso da elite dominante, com destaque para a prostituição e a jogatina. Assim, esses espaços eram considerados proibidos e perigosos na Feira moderna, e os seus respectivos sujeitos vistos como entraves para o progresso. Dessa forma, nossa problemática, centraliza-se na interação sujeito/território, conformando uma espécie de metonímia social. Esse imbricamento faz-se de uma maneira tão marcante e intensa que indivíduo e espaço se confundem, num processo de construção mútua. Assim, centraremos a discussão em torno de como um local tradicionalmente marcado pelas práticas ilícitas ressentiu a modernização na urbe? Mais ainda, como os sujeitos recepcionaram as medidas coercitivas impostas pela administração municipal? Enfim como esse espaço ficou conhecido como uma zona maldita, proibida e perigosa. Palavras-Chave: Feira de Santana, Complexo Rua do Meio, Prostituição.

Carlos Alberto de Oliveira

Dr. em História (PUC/SP). Prof. Titular (DFCH/UESC). betoliva65@gmail.com

Trabalhos e vivências em Ilhéus e Itabuna

As reflexões sintetizadas nesta comunicação apontam temas e direções de pesquisa que venho desenvolvendo junto ao Curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Nestas pesquisas, contrapondose aos vetores constituidores da historiografia da região (terra, poder, coronéis do cacau), que reafirmam a “memória oficial”, surgem trabalhadores urbanos, como os estivadores de Ilhéus e os alfaiates de Itabuna, bem como as experiências de 69


moradores de bairros populares em Ilhéus e Itabuna. Experiências de moradores de cidades com Ipiaú e Aurelino Leal, também se fazem presentes. A partir do diálogo com estes viveres urbanos, procuramos refletir sobre as diferentes formas de ocupação do espaço urbano. Enfatizamos o trabalho da memória, buscando nela os significados que os sujeitos históricos atribuem à experiência vivida e das relações que estabelecem com a cidade e com os demais habitantes. Palavras-chave: memórias, trabalhadores, moradores.

Carlos José Ferreira dos Santos

Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Doutor em História da Arquitetura e do Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo - USP carlos.josee@uol.com.br

“Posso ser o que você é sem deixar de ser quem sou!”-Diálogos impertinentes entre a historiografia, ensinos de história e saberes indígenas dos Tupinambá de Olivença

O tema aqui em discussão envolve algumas reflexões sobre as relações entre os conhecimentos produzidos pela historiografia (no contexto acadêmico), com os ensinos de história e os saberes indígenas. As ponderações apresentadas fundamentam-se na minha trajetória como historiador e nas atividades acadêmicas desenvolvidas como professor, atualmente lecionando/pesquisando junto a Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Mas também partem das vivências que possuo como Coordenador do Subprojeto da UESC na Área de História do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) junto à Escola Indígena Tupinambá de Olivença/Ilhéus/Bahia (EEITO): PIBID-UESC/HistóriaEEITO. Inicialmente refletirei se superamos a debatida dicotomia entre ensinos da história e pesquisas históricas. Ou seja, será que ultrapassamos a divisão entre o professor de história e o historiador e/ou ainda não transpusemos as barreiras entre o saber escolar e o saber acadêmico? Não quero e nem conseguiria aqui aventar respostas conclusivas, mas reflexões na direção de contribuir com debate desta contenda que parece pairar perene e silenciosa nos cursos de graduação em história. Por fim, também sem assinalar para soluções generalizantes e finalistas, apresentarei algumas ponderações conceituais acerca das experiências que vivencio na coordenação do PIBID-UESC/História-EEITO no sentido de pensarmos: quais as possibilidades de interações entre o desenvolvimento dos conhecimentos historiográficos com os ensinos de história e os sabres indígenas. Reafirmo que estas inquietações não são pensadas procurando soluções definitivas. Até porque acredito que os possíveis caminhos a serem trilhados não são equivalências fixas e sim relativos ao cotidiano do ensino, colocando em diálogo os saberes escolares e os saberes acadêmicos, precisando de revisões, reelaborações e, por vezes, resultando em rejeições. Portanto, o que objetivo com as inquietações apresentadas é possibilitar 70


a percepção de como as teorias e abordagens historiográficas mais recentes interagem ou não com as formas de ensinar história, tendo por último os saberes indígenas como campos de possibilidades e aprendizagens para aventar possíveis caminhos no sentido da construção dos conhecimentos históricos nos universos escolares. Palavras-chave: povos indígenas, Tupinambá, ensino de história.

Célia Rocha Calvo

Drª em História (PUC/SP). Professora do INHIS-NUPEHCIT-UFU. celiarochamg@uol.com.br

Sobre cidades, culturas, memórias e histórias

Esta comunicação apresenta resultados parciais da pesquisa sobre políticas de revitalização nos espaços públicos. A investigação tem se pautado nas reflexões sobre as diretrizes políticas que orientam a execução destas ações de intervenção nas cidades, mais especificamente àquelas vinculadas as ações de revitalização dos espaços considerados como centros ou áreas históricas. A preocupação está em problematizar o processo de incursão destas políticas a seleção dos marcos culturais/estéticos da memória e historia das cidades; o processo de apropriação e expropriação bem como o reordenamento das relações constituídas nos modos de viver dos trabalhadores. Compreender os impactos destas mudanças bem como as estratégias de sobrevivência, as redes de relações e as mudanças ou não nos vínculos de pertencimento social à cidade. Problematizar os processos de construção dos sentidos de preservação histórica, por meio das memórias que vão sendo selecionadas nestes espaços, como lugares da história da cidade e, no contrapelo, entender como os trabalhadores, habitantes destas áreas, interpretam suas retiradas e ou permanências diante destas ações de intervenções e expropriação dos territórios de suas vivências transformados em lugares cenográficos para o trânsito e circuitos culturais em suas diferentes.

Danilo Ornelas Ribeiro

Graduado em História (UESC). Mestrando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). nilo_ornelas@yahoo.com.br

A cidade das elites: produção cultural e construção de identidade no cinqüentenário de Itabuna –BA nos anos de 1960

O presente artigo é um exercício metodológico que objetiva refletir sobre a atuação da elite local de Itabuna, no sul da Bahia, a partir da análise de produtos culturais, como o Guia da Cidade de Itabuna. O estudo faz parte de uma pesquisa que vem sendo realizada no curso de Especialização em História do Brasil da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) e no mestrado em História Social da Universidade 71


Federal da Bahia (UFBA). A década de 1960, período marcado pelas comemorações do cinquentenário do município, pode ser considerada de intensa atuação da elite local empenhada em agências políticas e culturais na cidade. Agências que buscaram definir uma identidade para Itabuna dentro de relações de forças regionais, a partir de produções culturais que vão desde a literatura memorialística, passando pela imprensa até produções cinematográficas. A cidade foi sendo projetada por meio de imagens e representações, tendo como mecanismos fundamentais a história, a memória e o urbanismo. Viso, portanto, estudar os discursos e ações que dão sustentação a essas agências. A documentação é composta de periódicos, literatura memorialística, fotografias e imagens encontradas no Arquivo Público Municipal de Itabuna José Dantas (APMIJD) e no Centro de Documentação e Memória Regional da UESC (CEDOC).

Palavras-chave: cidade, elites, produção cultural, comemorações. Erahsto Felício de Sousa

Professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) erahsto@yahoo.com.br

Pela tradição dos oprimidos: as histórias de cima, a crise da dominação senhorial e o valor da democracia (Itabuna, década de 1950)

Qual história deve interessar para aqueles que se filiam nas lutas de hoje? Quanto devemos nos distanciar de conformismos com histórias que, contados nos dias de hoje, retiram poder e vida daqueles que viveram ontem? Ainda é possível contemplarmos com distanciamento a obra de barbárie que a historiografia do sul da Bahia produziu sobre esta região? Nesta comunicação, buscarei analisar como uma filiação de jovens historiadores à tradição dos oprimidos pode contribuir com uma renovação historiográfica, cujo objetivo é o engajamento do sujeito político historiador. Em nosso grupo de pesquisa (Conflito Bahia, sediado na UESC) não foi incomum diálogos onde, na luta por dar o protagonismo ao subalterno, chegamos a caricaturar o poder de forma muito aquém da noção de dominação de classe. Ainda não escrevemos esta caricatura teórica sobre o poder e a classe – e nem o farei aqui. Mas o importante é perceber que desse nosso esforço reflexivo de ver o subalterno em seu poder começou a surgir uma noção mais política da história e da sociedade em que vivemos. Nos opomos à uma visão cujo poder não é vivido ou exercido dialeticamente. Fomos buscar nos testemunhos expressões de transformações da cultura de mando das classes hegemônicas que eram formadas pelas práticas subalternas de grupos que, embora marginalizados, exerciam e viviam com um distanciamento constrangedor das principais ideias elitistas. O resultado é uma visão da história em que as representações históricas de cima passam a ser frutos também de uma luta abaixo. E mais do que isto, começamos a olhar para os grupos subalternizados de ontem como observatórios que podem nos ensinar muito hoje sobre a luta e o constrangimento ao capitalismo 72


que precisamos exercer hoje. Precisamos nos filiar à uma tradição dos oprimidos que tenha nos mortos de ontem as experiências para formulações de lutas hoje Palavras-chave: Itabuna, estudos subalternos, democracia.

Giane Araújo Pimentel Carneiro

Professora da SEC-BA e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Educação/UFMG. gianeap@hotmail.com

Joseni Pereira Meira Reis

Professora da SEC-BA e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Educação/UFMG. josenimeira@gmail.com

Caetité em progresso: os ideais de modernidade expressos no jornal A Penna (1900-1930)

Esta comunicação é parte de um estudo já concluído sobre A Modernidade em Caetité expressa no Jornal a Penna (1900-1930). Tem como objetivo identificar e analisar os ideais de modernidade divulgada pelo Jornal A Penna no início do século XX, em Caetité-BA. Diante dessa temática algumas questões nos levam a pensar: o que se considerava moderno no contexto do início do século XX em uma cidade do interior da Bahia? A ideia de modernidade perpassava a vida de toda a população da cidade? Quem eram os arautos dessas ideias? Quais as concepções de cidade e modernidade que eram veiculadas pelo jornal A Penna? A Penna foi o primeiro jornal que circulou de forma efetiva no Alto Sertão da Bahia, redigido e impresso em Caetité na tipografia de João Antônio Gumes em 25 de setembro 1897. Gumes editou e fez circular o primeiro periódico da região. Um ano depois implantava definitivamente a imprensa com a circulação do jornal A Penna. Para explorar o conceito de modernidade utilizaram-se autores como Baudrilhard (1989), Veiga (1997), Veiga e Faria Filho (1997), entre outros. Na perspectiva de enquadrar a cidade de Caetité na concepção do que se considerava ser uma “cidade moderna” no início do século XX, o jornal A Penna passou a proferir discursos com o objetivo de impor modelos, práticas de comportamentos, ideias que deveriam ser adotados e seguidos pela sociedade comprometida com o ideário de progresso e desenvolvimento tão em voga no período.

Girleney Santos Araújo

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista CNPq girleneyaraujo@hotmail.com

Engenho Santo Antônio de Jacarecica: um olhar por meio da Cultura Material da segunda metade do século XIX

As margens do rio Cachoeira, ao longo dos últimos cinco séculos, vêm sendo ocupadas pelos homens de diversas formas, seja para morada, construção de 73


edificações para roças e fazendas, retirada de madeira, ou apenas para locomoção. Neste cenário, a partir da segunda metade do século XIX, se encontrava em operação o Engenho Santo Antônio de Jacarecica que, segundo documentação pesquisada, estava situado a margem direita do Rio Cachoeira, em um de seus afluentes. Partindo de pesquisas realizadas em campo e laboratório, identificamos uma serie de construções a margem esquerda do ribeiro homônimo ao Engenho, com características similares as descritas sobre os Engenhos de cana-de-açúcar da região. Assim, os trabalho com a Cultura Material e as estruturas construtivas dessa localidade são de suma importância para se entender a utilização daquela área como zona de cultivo e produção das manufaturas da cana, idéia esta tantas vezes contestada por inúmeros motivos como a dificuldade de transportar o produto final dos engenhos pelo leito do rio. Para tanto, a analise será pautada principalmente na Cultura Material (as construções a beira do afluente e a sua paisagem circundante) tendo como apoio a documentação escrita da região com o intuito de traçar um olhar sobre as instalações e seu cotidiano. Com esta pesquisa, iniciada para o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em História, pretendemos avançar no debate sobre como a Cultura Material e as formas de implantação humana na paisagem podem ser de significativa relevância para o entendimento da História Regional. Palavras-chave: Cultura Material, engenhos, Ilhéus.

Indira Silva Souza

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista CNPq indiraesteves@hotmail.com

“Nessa cidade existe cigano!” Os Fortuna Rebouças e a Presença de um Núcleo Familiar Cigano na Cidade de Itabuna (Década de 1980-1990)

Este estudo procura refletir sobre a trajetória de um grupo familiar cigano em Itabuna/Bahia autodenominado como Fortuna Rebouças. Estamos acompanhando as relações e experiências interativas deste núcleo familiar com os não ciganos naquela cidade, buscando ponderar sobre suas vivências socioculturais e acerca de suas histórias, memórias e identidades. Em nossa compreensão, esse grupo constitui uma das dimensões socioculturais itabunense que forma parte de sua história. Estudamos o período do estabelecimento daquele grupo familiar na cidade entre as décadas de 1980-1990. No entanto, este recorte cronológico não é fixo e sim um guia referencial. No transcorrer da pesquisa estamos efetuando ponderações acerca de um possível quadro (ou não) de desconhecimento e estigmatizações envolvendo aquele grupo étnico. Para isso utilizamos dos depoimentos recolhidos junto a quatro dos membros daquele núcleo familiar cigano: Senhor Gerisnal Fortuna Rebouças (patriarca da família), Dona Ione Fortuna Rebouças (matriarca da família), Cosme Fortuna Rebouças e Joceni Fortuna Rebouças (ambos os filhos 74


e suas famílias residem no mesmo sítio com seus pais, porém em casas diferentes). Somados aos relatos estamos utilizando também a análise do Jornal O Diário de Itabuna e de registros da própria família, tais como: álbum genealógico e fotografias. Palavras-chave: ciganidade, identidade étnica, memória, oralidade.

Jaqueline Argolo Rebouças

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista da CAPES jquel@hotmail.com

Construindo uma “Cidade Jardim”: memórias e representações em Amargosa – BA

A história do município de Amargosa, situado no Recôncavo Sul Baiano, abarca um período de riqueza e de destaque regional, marcado por um conjunto de intervenções urbanísticas, proporcionados pelo comércio agroexportador do café, que acabou por contribuir para a criação de uma sociedade local importante. Objetivamos, assim, problematizar a cidade enquanto espaço construído a partir das relações e práticas cotidianas, apropriando-se das transformações ocorridas na paisagem urbana, no período de 1930 a 1950, que influenciaram a criação da identidade: Amargosa, “Cidade Jardim”, que remonta, sobretudo, a construção do Jardim Público Municipal, localizado no Centro da Cidade. Através da memória e da pesquisa documental, tentamos compreender como as estruturas socioculturais interferem no cotidiano da Cidade, permitindo a construção de uma identidade. Palavras-chave: cidade, memória, identidade.

Jorge Emanuel Luz de Souza

Professor Substituto do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES jorgepesa5@yahoo.com.br

“Seus viciados pertencem à última e mais baixa escala social”: o mundo dos “maconheiros” nas páginas da imprensa soteropolitana de meados do século XX

Percorrendo a vasta produção médica acerca da maconha e seus usos no Brasil, as páginas da imprensa de Salvador nos meados do século XX, bem como a documentação policial e dos agentes do proibicionismo encontra-se uma certeza compartilhada: a maconha era a droga dos “degradados sociais”. As populações subalternas, em especial, negros e pardos, foram insistentemente associadas à maconha no que se evidencia um amplo projeto de controle social desses grupos. Diante disso, o presente trabalho tem por objetivo enveredar pelo mundo dos “maconheiros” de Salvador através das páginas dos noticiários entre 1951 e 1961, buscando demonstrar 75


como esse rótulo escondia um amplo projeto de controle social de um conjunto heterogêneo de sujeitos que vivenciavam cotidianamente os problemas da cidade. Palavras-chave: maconha, controle social, classes subalternas.

José Alberto Nascimento de Jesus

Professor do Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual e Municipal. Mestre em História Regional e Local, pelo Programa de Pós-Graduação da (UNEB) albertohist@yahoo.com.br

A dinâmica dos trabalhadores ferroviários no contexto sociocultural local

O presente artigo analisa os trabalhadores ferroviários residentes na cidade de São Félix, nas décadas de 1940 e 1950, período em que a cidade de São Félix sofre intervenções acentuadas na sua atmosfera arquitetônica, crise na atividade da indústria e do comércio local, culminando em casarões e sobrados abandonados à própria sorte. Situação vivenciada no setor de transporte fluvial, comprometendo a atividade portuária de saveiros e barcos no porto da cidade. Antes, centro urbano próspero e movimentado do início do século XX, dá lugar ao processo de desmonte da estrutura arquitetônica, em meados do século. Nesse período, com a emergência das rodovias no Brasil, e visando ajustar ao panorama do sistema viário regional, a Rede Ferroviária Federal Leste Brasileiro promoveu a transferência de parte da estrutura logística e operacional, para a cidade de Alagoinhas. Refletir como o trabalhador ferroviário da cidade de São Félix consegue se adaptar aos novos desafios impostos pela cidade e pela Empresa Ferroviária constituiu-se elemento pontual de abordagem dessa pesquisa. Identificar na teia de sociabilidade local as articulações dos ferroviários com outros sujeitos sociais, entre lazer e trabalho, tais como filarmônica, futebol e sindicato, a linha tênue reveladora de uma especificidade cultural local, para além da lógica racionalista do trabalho versus conflito e tensão, mas também envolvendo elementos da subjetividade.

Palavras-chaves: cidade, ferroviários, filarmônica. Leonardo Ferreira de Jesus

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista FAPESB lfdejesus@gmail.com

“Ovelha perdida”: o lugar dos fiéis na historiografia do protestantismo no Brasil

A historiografia referente ao protestantismo brasileiro cresceu bastante nos últimos anos. Durante muitos anos, a história do protestantismo foi alvo de interesse de estudiosos ligados a instituições religiosas. Em função disso, como representantes de suas respectivas denominações, estudiosos analisaram códigos eclesiásticos e projetos 76


missionários, por exemplo, e publicaram o que podemos chamar de “história oficial” dos presbiterianos, batistas, etc. Porém, em tais interpretações, os fiéis, normalmente são esquecidos ou deixados de lado. Por isso, neste texto, fazendo analogia a uma das parábolas mais conhecidas pelo cristianismo, comparamos os fiéis à “ovelha perdida” que, no campo da história, por muitos anos foi considerada sem importância por seus pastores/intérpretes e seus estudiosos que, em geral, que só tinham olhos para as “noventa e nove” (grandes líderes, organização institucional, etc.), mais valorizadas. Nas últimas décadas, a produção acadêmica sobre a história do protestantismo no Brasil tem provocado interpretações no campo da história social, sugerindo novos caminhos de investigação. Tal esforço tem contribuído para a inserção dos fiéis na abordagem de estudiosos desse grupo. No entendimento dos grupos protestantes enquanto sujeitos importantes na historiografia permitiu que, em meados dos anos 1980, surgisse uma produção acadêmica empenhada em analisar as experiências e as práticas de grupos protestantes. Dessa forma, a abordagem sobre o protestantismo foi aos poucos deixando de ser “tema de pastor”, tornando-se cada vez mais presente na academia. Palavras-chave: historiografia, protestantismo, História das religiões.

Maria Cristina Machado de Carvalho

Mestranda em Ciências Sociais (UFRB). Professora do Colégio Adventista de Feira de Santana; Professora pelas Faculdades Adventistas da Bahia, e pela PARFOR/UNEB. // Orientador: Dr. Walter Fraga Filho. Email: chrilcarvalho@hotmail.com.

Cazumbá: a história de um Bairro e de uma família

O presente texto traz uma discussão a respeito das experiências de indivíduos e das famílias negras no período posterior a abolição, especificamente dos moradores do Bairro São João do Cazumbá em Feira de Santana e a história da família Cazumbá. Faço uma discussão sobre as alternativas encontradas pelos descendentes de escravos para sobreviver em um período de trabalho livre e em que a sociedade não os percebiam como componentes das relações sociais, em termos de direitos. As histórias contadas pelos moradores do Bairro como seu processo de migração está associado a história da família Cazumbá, em que as experiências desses indivíduos podem ser vistos como a história da migração e conquista do espaço e território ao logo do tempo construindo sua identidade a partir do sobrenome Cazumbá. Por sua vez, este sobrenome não é apenas adotado pela família negra do Recôncavo da Bahia, mas foi tomado pela população negra de um bairro no período posterior a abolição. Será que a adoção teria sido por causa da história por qual passou a família? O certo é que estas experiências representam as redes sociais e as experiências de ex-escravos e dos descendentes deles estão relacionadas com as diversas histórias de indivíduos no Recôncavo da Bahia.

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Marilva Batista Cavalcante

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia. Bolsista FAPESB marilvabc@yahoo.com.br

Entrelaçando identidades e representações: fazeres históricos inscritos das memórias reveladas na oralidade de migrantes

O estudo das questões migratórias analisadas na perspectiva de compreender as histórias dos sujeitos, suas identidades e representações, e não somente o caráter demográfico da migração, envolve uma série de sentidos e significados constitutivos aos sujeitos que migram e de sua reorganização em um novo espaço. Experiências, que ao serem problematizadas e entrelaçadas aos artifícios da memória, podem, fomentar um fazer histórico comprometido em “dar” vez e voz a sujeitos comuns e os espaços com os quais interagem. O Trabalho aqui inscrito, aborda experiências de migrantes paraibanos no município de Irecê- Ba nas décadas e 1960 e 1970, sob a perspectiva de problematizar as identidades e representações inscritas no processo de reapropriação dos espaços e dos sujeitos dessa migração. Um estudo composto a partir da fonte oral e questionamentos sobre a memória, que revelou as identidades e representações formuladas dos migrantes e dos lugares palco dessa história. Ao rememorar as lembranças dos sujeitos, o trabalho aponta, ainda em seu bojo, a narrativa dos caminhos da migração citada, colaborando na discussão da História Regional em suas diversas especificidades imbricadas as motivações, readequações e processos de sociabilidades formados historicamente pela presença desses “novos” protagonistas da cidade Assim, as reminiscências refletidas no texto, debate a memória enquanto trilha possível de ser desvendada possibilitou treinar o olhar e o espírito na ânsia de ver além do que está posto em outras fontes históricas e fomentar novos saberes. Palavras-chave: memória, migração e história oral.

Melira Elen Mascarenhas Cazaes

Mestranda em História na área de Cultura e Poder na linha Cultura, Identidades e Linguagens pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB mell_ellen@hotmail.com

Cultura e memória: um estudo sobre a Filarmônica Minerva Cachoeirana (1964-1969)

O presente artigo tem como objeto de análise a filarmônica da cidade de Cachoeira “Minerva Cachoeirana” (1878). Intencionamos realizar um estudo acerca da filarmônica no período de 1964 a 1969, constituindo uma análise histórica da mesma no recorte temporal estabelecido. Nesse sentido, pretendemos investigar quem eram os integrantes da filarmônica. Qual o perfil dos músicos? Quem eram os sócios? Qual o papel da filarmônica nos diversos eventos sociais da época? De quais festas participava? Qual a relação da filarmônica com a Igreja Católica e as irmandades 78


religiosas? Como a filarmônica negociava com o poder local? Chegaremos às respostas dos nossos questionamentos através da análise de fontes como o livro dos sócios, as atas, o estatuto da filarmônica, os jornais do período, fotografias e pela realização de entrevistas com indivíduos que fizeram parte da história da Minerva Cachoeirana. Além de fontes bibliográficas como o livro “O semeador de orquestras” de Jorge Ramos e “EphemeridesCachoeiranas” de Aristides A. Milton. A realização desta pesquisa se justifica na medida em que propicia um conhecimento mais aprofundado sobre a Instituição “Minerva Cachoeirana” da cidade de Cachoeira. Esta desenvolveu e atualmente ainda promove um trabalho de grande importância social e educacional, uma vez que mantém gratuitamente uma escola de música para os jovens da região, em sua grande maioria pertencentes às camadas menos abastadas da cidade, aspecto que mais chamou atenção e motivou o desenvolvimento do trabalho. Palavras-chave: Filarmônica Minerva Cachoeirana, memória, Cultura.

Philipe Murillo Santana de Carvalho

Doutorando em História (UFBA). Professor do IFBA (Campus de Ilhéus). E-mail: philipesantana@yahoo.com.br

De carroceiros a motoristas: trabalhadores, controle social e luta por direitos no sul da Bahia na década de 1920

Este artigo se propõe a discutir especificamente como trabalhadores do ramo de transporte estiveram submetidos a uma lógica de controle social e, ao mesmo tempo, procuraram elaborar suas estratégias de pressionar patrões e autoridades políticas em face de seus interesses na década de 1920. Como objeto de estudo, analisaremos a atuação de carroceiros e de motoristas nas estradas e nas ruas dos municípios de Ilhéus e Itabuna. Pesquisas preliminares indicam que o desenvolvimento da cultura urbana no sul da Bahia foi acompanhado da diversificação de serviços, em especial da ampliação do número de sujeitos que se dedicou a atividade de transportes urbanos e interurbanos. Em contrapartida, as autoridades públicas e os patrões acentuaram sua preocupação com a fiscalização de carroceiros e de motoristas que percorriam as vias públicas transportando pessoas e mercadorias. Nesse sentido, as municipalidades reforçaram seus mecanismos de emissão da licença profissional, cobrando taxas elevadas para condutores de carroça e motoristas de veículos automotivos, multando aqueles que desobedeciam as leis municipais e criando estereótipos sociais. Todavia, mesmo diante da adversidade, notamos que carroceiros e motoristas não se mostraram plenamente submissos às ordens de patrões e da fiscalização municipal, criando estratégias para garantir sua profissão e continuar trabalhando nas cidades da zona cacaueira. Para este trabalho, consultamos documentos dos poderes públicos municipais e da imprensa regional em sua maior parte.

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Taís Almeida Carvalho

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista FAPESB taisalcar@yahoo.com.br

“Somos índios (...) somos que nem piaçava!”: Memórias Tupinambá de Olivença

Nosso estudo procura discutir o processo de reconhecimento étnico e demarcação das terras Tupinambá em Olivença, Ilhéus/Bahia, realizadas pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI) em 2001 e 2009, respectivamente. A principal inquietação é refletir acerca da participação do grupo indígena nestas ações, a partir da (re)construção de sua memória e etnicidade, acompanhando as possíveis contradições e contraposições. O marco temporal da pesquisa tem como baliza inicial a década de 1980, quando é possível perceber, por meio das fontes analisadas, as mobilizações indígenas em torno de direitos sociais e étnicos, tendo como mote o auto-reconhecimentoidentitário. As ações desses sujeitos se intensificam, enquanto práticas socioculturais e políticas, ao longo das décadas seguintes e podem ser compreendidas como elementos fundamentais para a concretização dos relatórios de reconhecimento/demarcação étnico/territorial feitos pela FUNAI (2001/2009), portanto nosso recorte temporal final. Assim, nossa pesquisa busca contribuir com o debate sobre o reconhecimento étnico e demarcação do território Tupinambá de Olivença, refletindo principalmente acerca da participação daquele grupo nesse processo e ponderando sobre as possíveis contradições do discurso legitimador e não legitimador do Estado, da Justiça, do saber acadêmico e dos que são contrários à demarcação. Para concretizarmos a pesquisa continuaremos o levantamento das seguintes fontes: textuais (relatórios, legislação, jornais, entre outras); iconográficas (vídeos e fotografias); e orais. Palavras-chave: memória, etnicidade, demarcação, Tupinambá.

Tamires Batista Andrade Veloso

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) tammyveloso@hotmail.com

Religiosidades, festas e rituais Tupinambá de Olivença: Reelaborações e expressões de resistências socioculturais e a luta pela terra

Este estudo procura analisar as religiosidades, festas e rituais dos índios Tupinambá de Olivença enquanto elementos fundamentais dentre os fatores apresentados no Resumo do Relatório de Identificação e Delimitação da Terra Indígena Tupinambá de Olivença de 2009 para o reconhecimento étnico e territorial destes indígenas promovido pela FUNAI. Consideramos as formas pelas quais as religiosidades Tupinambá, religiões institucionalizadas e universos de religiosidades diferenciados se relacionaram e continuam a realizarem intercâmbios. Neste sentido, analisamos possíveis formas de circularidades, resistências e reelaborações socioculturais entre 80


essas religiosidades e religiões. O presente trabalho apresenta também ponderações acerca da interação entre crenças e ritos religiosos com a reconstrução sociocultural da identidade indígena. Para isto, buscamos estudar a memória destes índios acerca de suas religiosidades e a relação entre esta e sua identidade, utilizando a oralidade como fonte e assinalando para uma metodologia própria em seu tratamento. Ponderamos também acerca da reelaboração da Festa da Puxada do Mastro de Olivença pelo poder estatal como atrativo turístico a fim de obtenção de lucros e de como este fato resultou num sentimento de estranhamento por parte de alguns índios em relação ao momento atual da festa. Destaca-se o Porancy, uma prática ritual sagrada dos índios Tupinambá de Olivença, como um expressivo exemplo deste exercício de reelaboração e resistência sociocultural, sendo resgatado e/ou reelaborado a partir do desejo comum entre os Tupinambá de Olivença de afirmarem sua identidade, etnicidade e territorialidade. Palavras-chave: religiosidades, Tupinambá, identidade.

Tatiana Almeida Rocha Barcelos

Mestre em Cultura e Turismo pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Especialista em Política do Planejamento Pedagógico pela UNEB E-mail: tatianabarcelar@yahoo.com.br

Espaços educacionais, comunidade local e aprendizagem significativa: tripé necessário para o desenvolvimento da cultura local

O presente trabalho objetiva desenvolver uma analise sobre a importância da parceria entre os espaços educacionais formais e não formais e a comunidade local, uma vez que esta consiste na possibilidade de implementação de práticas educativas de investigação, apropriação e valorização da cultura e identidade local, possibilitando o desenvolvimento do sentimento de pertença e uma dinamização social na comunidade. A partir do estudo de como esses espaços educacionais se articulam com a comunidade local visando o desenvolvimento da cultura e identidade, através da aprendizagem significativa, o presente estudo busca compreender como se da essa atuação na localidade de Morro de São Paulo, município de Cairu, Bahia, situado na Costa do Dendê, Arquipélago de Tinharé. A metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica, acompanhada de pesquisa de campo que consistiu na aplicação de entrevistas semiestruturadas a representantes de espaços educacionais e com moradores da localidade. O estudo detectou a inexistência de ações educativas vinculadas ao fortalecimento dos aspectos históricos e culturais e a desarticulação entre os espaços pesquisados. Revela-se, assim, a necessidade de que sejam criadas possibilidades de incentivo à participação da população local junto aos espaços educacionais gerando estratégias que produzam um maior conhecimento e aproveitamento do legado cultural existente neste município.

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Tiago Guerrieri Araujo

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) trguerrieri@hotmail.com

“Dos olhos teus”: A representação nos relatos do viajante Maximiliano de Vied-Neuwid sobre a vida e o cotidiano das vilas de Porto Seguro, Stª. Cruz e Belmonte nos anos de 1815 – 1817

Esta pesquisa privilegia os relatos dos viajantes europeus ao Brasil, nos idos do século XIX. A impressão que estes nos deixaram permite-nos analisar a visão que tinham por esta terra ainda diferente, envolta numa dualidade diante da velha Europa. Partimos do relato de viagem de Maximiliano Vied-Neuwied, publicada sobre o título de “Viagem ao Brasil (1815 – 1817)”. O autor percorre os territórios dos atuais estados da Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A pesquisa se propõe analisar as descrições que este faz acerca das Vilas de Porto Seguro, Stª Cruz e Belmonte, considerando, seus habitantes, os índios pataxós, os negros e os europeus, além de outros aspectos culturais. Nossa perspectiva parte do campo da representação, isto é, estes viajantes compõem um retrato daquilo que observaram, propagando uma imagem inebriante do Brasil. A pesquisa pretende transitar no âmbito cultural da historiografia para privilegiar a representação e a alteridade em seus relatos. Palavras-chave: Representação, Relatos de viagem, Maximiliano Vied Neuwied.

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Simpósio Temático 08 DESEJOS COLETIVOS E CULTURA URBANA NA METRÓPOLE BRASILEIRA: PERSPECTIVAS E RETOMADAS Coordenadores: FRANSCISCO ANTÔNIO ZORZO RAFAEL RODAS VERA FILHO

Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) // Mestre em geografia

A

proposta de um simpósio temático, para o VI Encontro Encontro de História da ANPUHBA 2012, baseia-se nos propósitos de trabalho conjunto de um grupo de pesquisadores das instituições de ensino superior da Bahia. Tais desígnios visam estabelecer laços conceituais e de investigação empírica entre as diversas abordagens teóricas da cidade. O tema do simpósio temático é a disposição dos fluxos e as formas de articulação sócio-cultural. Nos últimos séculos, as metrópoles brasileiras assistem à ascensão de novas subjetividades e formas de sociabilidade. Estudando os fluxos é possível relacionar o processo ocorrido com a emergência do capitalismo com a fragmentação e remanejo dos territórios tradicionais. Por meio do estudo da rede urbana e da disposição dos transportes, pode-se analisar o processo de transformação por que passou o espaço regional e a formação territorial do Brasil. A mesa deverá ser formada a partir de comunicações de resultados de pesquisas atuais sobre o estudo da disposição espacial dos fluxos e dos desejos coletivos no meio metropolitano. Ao estudar os fluxos de uma metrópole, é possível relacionar o processo de concentração da população em determinados eventos e lugares com o investimento dos desejos coletivos e o manejo de sua territorialidade. Através do estudo dos fluxos, podem ser analisadas algumas alterações por que vem passando a cultura das metrópoles brasileiras como é o caso de Salvador. Tendo em vista as recentes mudanças da cultura urbana do país, propõe-se uma discussão sobre as transformações ocorridas no plano dos agenciamentos do desejo coletivo. Além dos limitantes econômicos e tecnológicos que, logicamente, interferem nos fluxos da metrópole, no presente estudo, parte-se de uma concepção em que o funcionamento da cidade depende de determinadas condições sociais e culturais. Os estudos da história e da cultura da cidade demandam esse tipo de abordagem, já que a compreensão dos investimentos do desejo coletivo resulta do cruzamento de 83


modelos culturais com o modo de participação da população nas atividades coletivas. Para entender o problema do desejo coletivo e dos fluxos da metrópole é necessário tramar um arcabouço conceitual adequado. Muitas das possibilidades de avanço no estudo dos movimentos que ocorrem no espaço metropolitano dependem de uma conceituação que permita conhecer as condições sócio-culturais embutidas na rede complexa de formas e diagramas que se sobrepõem naquele meio. Além desse tecido é preciso ver como se costuram as motivações e os desejos coletivos. Edson Silva

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) edson_silva007@hotmail.com

Praticantes da cidade: resistências urbanas em Jacobina (1955-1963)

O artigo analisa as maneiras de apropriação do espaço urbano desenvolvida por parte de determinados habitantes da cidade de Jacobina de 1955 á 1963, período em que a cidade passou por uma série de intervenções urbanas como a construção e reformas de praças públicas, calçamentos, saneamento e iluminação de ruas, implante de serviço de limpeza urbana, aberturas de avenidas e uma tentativa de implantação de uma política de normatização e disciplinarização do espaço urbano empreendido pelos gestores municipais, com intuito de construir ideal de cidade “progressista” e “civilizada”. Por meio do discurso do jornal Vanguarda e das fotografias do fotógrafo Osmar Micucci investigaremos as “resistências”, “artimanhas” e “astúcias” criadas por alguns habitantes desta cidade diante do projeto de normatização do espaço urbano. Nesse sentido partimos da concepção teórica de Michel de Certeau que defende o “retorno as práticas”, aos modos e as maneiras que os sujeitos apropriam-se dos espaços. Através da noção de praticantes da cidade direcionaremos a nossa análise para esses praticantes ordinários, para as experiências desses pedestres e caminhantes do espaço urbano, para desse modo como diz Certeau “acompanhar alguns dos procedimentos – multiformes, resistentes, astuciosos e teimosos – que escapam á disciplina”, aos usos planejados e às normatizações implantadas pelos administradores urbanos. Palavras-chave: cidade, apropriações, práticas.

Francisco Antonio Zorzo ----fazfeira@gmail.com

Transporte como agenciamento coletivo: Feira de Santana e os fluxos da rede urbana da Bahia no século XX

O presente trabalho pretende aportar uma leitura de documentos que mostram alguns 84


efeitos do transporte rodoviário na rede urbana da Bahia. Essa análise foi elaborada em termos da disposição dos fluxos, do agenciamento coletivo e dos rebatimentos culturais devidos à introdução dos transportes modernos. O estudo tem como recorte espacial e temporal os fluxos ao redor de Feira de Santana na segunda metade do século XX, especialmente as décadas de 1950 e 1960. A leitura dos documentos possibilita ver os sistemas de transporte, além da imagem de empresas capitalistas, como um agenciamento do território. Trabalhando nesse plano interpretativo do agenciamento – em última análise, o avesso do dispositivo de poder – pode-se enfocar um efeito profundo dos sistemas de transporte naquilo que ela ajudava a dispor, a introduzir e encadear em termos das escolhas e desejos do sujeito social. Esta disposição atingia os usuários dos transportes. Esse vínculo foi o que garantiu o funcionamento dos transportes naquelas condições austeras e que, de certo modo, deu vida ao negócio dos caminhões e ônibus. Assim como num confronto em que as forças se desenham em dispositivo para o ataque e a defesa, em meados do século XX, o transporte rodoviário, fizeram da geografia, à sua maneira, um campo de disputas e vitórias.

Keila Nascimento Alves

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista UNEB keilasonhos@hotmail.com

Cotidiano Urbano: Jornal Lidador e as imagens fotográficas (1933-1943)

No presente texto dialogamos com os autores Michel Foucault e Michel de Certeau, no sentido de compreender os corpos enquanto construtos históricos. De Certeau (1998) afirma que a escrita no mundo moderno é uma prática, e um instrumento de produção, o corpo, ele próprio é definido, circunscrito, articulado pelo que se escreve. Desse modo, questionamos de que maneira a imprensa e a publicidade definem, circunscrevem, fabricam corpos. E então, delimitados como foco de análise o corpo feminino nos anúncios publicitários do jornal O Lidador, mais especificamente que tipo de composição corporal feminina é inscrita pelas publicidades presente no periódico. Palavras chaves: corpo feminino, publicidade, medicalização.

Marcelo Bloizi Iglesias

Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) marcelobiglesias@hotmail.com

O Jogo é um Bicho? Representações do jogo e análise à repressão dos jogos de azar na Bahia 1890-1910

A abolição da escravidão, a proclamação da República, somadas à falta de projeto para inclusão das classes subalternas, fizeram da virada do século XIX para o XX 85


um período no qual grupos marginais buscavam seu espaço social para deixar o papel de “citadinos” e gozarem da cidadania. Esses sujeitos encontraram formas de trabalho alternativas, como o jogo de aposta, àquelas maneiras consideradas corretas, nas quais não tinham inserção. Isso não significa que só começaram a jogar por uma questão de mercado, era uma forma de lazer nos espaços urbanos que viviam tempos de urbanização e ausência de divertimentos. Através do movimento “Lei e Ordem” o Estado quis manter excluídas as classes consideradas vadias, por isso deveriam puni-las com rigor. A motivação do legislador para proibir algumas práticas revela bastante acerca da moral dominante, e o jogo do(s) bicho(s) vai de encontro à ordem estabelecida. O Direito como um instrumento de poder merece uma atenção especial e como ele se tornou um campo de disputas, uma vez que o povo podia se insurgir e outras forças sociais existiam, revelando uma heterogeneidade ideológica. A interpretação do contexto e entendimento das sociabilidades do jogo, da ética social, e do trabalho, que se distanciavam da lei e do controle absoluto do Estado nesses espaços, serão objetos de análise. A fuga das verdades construídas pelas, e observância de necessidades próprias pelo “populacho” de valores próprios, faziam medo ao Estado e a ordem. Esse período foi a base de muitas construções simbólicas nacionais, entre elas o jogo do bicho, loteria legitimamente nacional, que mexe com o imaginário das pessoas. As relações sociais em torno do jogo de azar trazia possibilidades de contatos entre pessoas de diferentes realidades. Contradições e descontruções das representações criadas e reproduzidas ao longo do século XX são objetos do meu trabalho. A literatura, o cinema, o teatro, as telenovelas serão observadas como fonte das representações dessas figuras ao longo do século XX. E o Direito como aquele que buscou moldar a sociedade, tentando selecionar os que poderiam jogar, e não propriamente proibir a prática do jogo. Palavras-chave: jogo do bicho, representação cultural, trabalho urbano.

Rafael Rodas Vera Filho

Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Mestre em geografia rodas.vera@ig.com.br

Transportes no semi-árido da Bahia – Breve estudo geohistórico

Quando se estabeleceu o cultivo e beneficiamento da cana-de-açúcar como atividade primaz no litoral da Bahia (século XVI) semi-árido baiano começou a ser incorporado ao circuito produtivo, fornecendo charque, além do gado como semovente. A pecuária se expandiu em direção ao semiárido nos séculos seguintes. O latifúndio provocou um povoamento escasso e rarefeito. Assentamentos humanos relativamente dispersos e com pequena população e infraestrutura são até hoje o apanágio das elites regionais. A escala produtiva empregada e a fixação dos pecuaristas latifundiários na região não tem dado condições, desde a Bahia Colonial, à formação de redes de transporte 86


e modais compatíveis com o potencial produtivo do semi-árido. O objetivo do presente trabalho é justamente mostrar o legado da concentração fundiária presente ainda nos dias atuais na região e os reflexos na articulação e desarticulação de núcleos urbanos através da implantação de ferrovias e rodovias. Redes de transportes foram historicamente construídos pelas elites do litoral e por capitalistas estrangeiros, sempre de maneira acrítica e descompromissada com a população. Os compromissos foram invariavelmente visavam manter e ampliar a concentração de poder entre as oligarquias, tendo como resultado a dependência e a pobreza de parte significativa da população. O rodoviarismo do século XX veio a ampliar a valorização de determinados latifúndios, tal como foi verificado no século XIX com as ferrovias do semi-árido baiano. Os efeitos foram econômicos (maior concentração de renda e apropriação do Estado pelas elites regionais e forâneas, crescente pobreza da população trabalhadora rural) e políticos (concentração do poder político entre os latifundiários, ausência de democracia e impossibilidade dos marginalizados de se manifestar politicamente). Palavras-Chave: Bahia, ferrovias, rodoviarismo, semiárido.

Vanessa Souza

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) vanessasouza84@hotmail.com

Trilhos da Modernidade, Trilhas da Memória: a ferrovia Ilhéus – Conquista, 1904-1930

O projeto de pesquisa propõe o estudo da construção de memória da região cacaueira do nordeste brasileiro mediante a análise das representações culturais do patrimônio da ferrovia Ilhéus – Conquista no início do século XX. A consolidação econômica do cacau nos mercados internacionais, nas primeiras décadas do século passado, promoveu uma série de transformações econômicas e culturais vinculadas á modernização da infra-estrutura regional. A adoção de novos padrões tecnológicos de matriz européia foi um dos marcos da imagem progressista do sul da Bahia, que teve na estrada de ferro Ilhéus – Conquista um dos seus ícones. A ferrovia possui um papel fundamental na auto-representação da chamada “civilização grapiúna”, assim batizada pelos escritores Jorge Amado e Adonias Filho, com seu acervo patrimonial constitui um dos marcos fundamentais da memória do período da consolidação do sul baiano como um dos mais importantes centros econômicos e culturais do Brasil no século passado. A metodologia empregada nesse trabalho ancora-se em práticas comparativa e nos princípios norteadores da História Cultural, com reflexão sobre a construção de memória privilegiando o estudo com fontes iconográficas primárias, colecionadas em acervo público e privado ou coletadas pela própria atividade de investigação, com fontes literárias, onde a produção literária sobre o cacau é um importante registro do imaginário regional sobre as aspirações da sociedade sul baiana, para alcançar esse objetivo foi selecionada a produção ficcional do mais importante escritor regional: 87


Jorge Amado, relacionando literatura e imaginário, será feita uma análise das obras literárias selecionadas e das versões ficcionais do autor sobre as transformações culturais trazidas pela construção da ferrovia e suas implicações na sociedade e também as fontes hemerográficas, o levantamento das informações jornalísticas privilegiará a seleção de artigos e ilustrações sobre o patrimônio ferroviário e suas transformações ao longo da primeira metade do século XX. Tendo em conta a insuficiência de estudos sobre questões teóricas que relacionem a literatura, a produção jornalística e a iconografia ao processo das transformações trazidas pelo projeto modernizante de sociedade no sul da Bahia, o projeto propõe recolher, cruzar, comparar e relacionar os dados disponíveis a fim de trilhar caminhos da memória ferroviária. Palavras-chave: História do Brasil, História Regional, História Ferroviária.

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Simpósio Temático 09 DIMENSÕES DO PODER E DA POLÍTICA NO BRASIL: SÉCULOS XIX E XX Coordenadores: ARGEMIRO RIBEIRO DE SOUZA FILHO JOSÉ ALVES DIAS

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os últimos anos, os estudos sobre a história política no Brasil tiveram considerável avanço. O interesse por esse enfoque temático não apenas relaciona-se ao crescimento dos cursos de pós-graduação nas várias regiões do país, mas, sobretudo, pelas demandas que envolvem as questões relacionadas ao Estado e as articulações que possibilitaram e possibilitam a sua sustentação, como também, os processos de crise e de manifestações políticas protagonizadas por variados setores da sociedade civil. Nessa direção, temas como poder, partidos, ideologia, conflitos e aprendizados políticos, governos, movimentos sociais, estão entre algumas das abordagens que têm permitido ampliar a compreensão sobre o complexo movimento de construção da nação brasileira com base em novas proposições teóricas e metodológicas. Todavia, se por um lado, as pesquisas permitem estabelecer um novo patamar analítico acerca dos processos políticos ocorridos no Brasil nos últimos séculos, por outro, estimulam o aprofundamento de questões ainda insuficientemente abordadas, além da formulação de novos problemas. É nessa perspectiva que o Simpósio Temático “Dimensões do poder e da política no Brasil: séculos XIX e XX” propõe reunir estudiosos da História política no período referenciado com vistas a promover a discussão sobre as pesquisas realizadas e em andamento acerca da dinâmica política no processo de consolidação do Estado nacional brasileiro, seja com ênfase em contextos históricos mais amplos, seja na abordagem das particularidades locais. Argemiro Ribeiro de Souza Filho

---arsouzafilho@gmail.com

Salteadores ou rebeldes políticos? A atuação dos Mucunãs no processo de Independência no Alto Sertão da Bahia

O Estado e a nação brasileiros, nos seus primeiros anos de formação, apresentouse como um processo de densa complexidade, capaz de assegurar a hegemonia da classe senhorial em ascensão na medida em que procurou controlar a participação dos demais estratos sociais. Esta comunicação tenciona discutir as condições sócio89


políticas que favoreceram a atuação de um pequeno agrupamento rebelde que, na estreira dos acontecimentos políticos do decênio de 1820, foram tido como os principais agentes do “desassossego público” no Alto Sertão da Bahia. O bando dos Mucunãs, como ficou conhecido, desafiou, então, as autoridades locais e mesmo o presidente da província baiana, José Egídio de Barbuda Gordilho, o visconde de Camamu. De fato, em um período crítico para o poder institucional devidas às agitações do pós-independência, os Mucunãs foram acusados de perpetrarem diversos crimes, dentre os quais merecem destaque, as ações violentas contra os portugueses europeus, a recondução à liberdade a indivíduos recrutados, sob a ordem do governo imperial e, principalmente, a divulgação que fizeram de ideias políticas subversivas, razão pela qual o visconde de Camamu, em entendimento com a corte do Rio de Janeiro, mobilizou um considerável aparato repressor para perseguir e extingui o que considerou como sendo o bando de facínoras mais perigoso da Bahia no período.

Bruno Alessandro Gusmão Moreira

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista ICB/UESC brunomoreira.hist@gmail.com

Estratégias de sustentação financeira do periodismo em Itabuna na década de 1920

Esta comunicação analisará as estratégias de sustentação financeira empreendidas pelos órgãos de imprensa existentes na cidade de Itabuna na década de 1920. Existiram em Itabuna no período abordado quatro periódicos de produção regular, são eles: A Época, O Dia, Jornal de Itabuna e O Intransigente. Tais periódicos foram utilizados pelas elites locais como instrumentos políticos. A imprensa constituiuse assim como uma “arena das letras”, espaço em que as disputas política travadas pelas elites locais foram levadas ao campo da cultura letrada. Esta breve interpretação do periodismo itabunense na década de 1920 deixa claro que sua principal chave de leitura é a dimensão política. Para esta comunicação, adotamos a idéia de que não devemos entender o campo político como uma área de estudo isolada visto que ele se relaciona com a maioria dos outros domínios da vida humana, tal como a economia. Buscamos identificar e analisar informações que a primeira vista diz respeito somente à dimensão econômica dos órgãos de imprensa, mas que só fazem sentido dentro de uma diversificada trama social que envolve, além da economia, política e cultura letrada. A análise de outras dimensões proporciona uma visão mais apurada das relações entre política e cultura letrada. A identificação e a análise das estratégias de sustentação financeira empreendidas pelos órgãos de imprensa supracitados permitem-nos compreender o periodismo em Itabuna na década de 1920 como uma prática social complexa situada em um contexto histórico. Palavras-chave: sustentação financeira, imprensa, Itabuna.

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Byron de Castro Muniz Teixeira Professor mestrando byronteixeira@uol.com.br

Nação e Sertão em um periódico sertanejo (“A Penna”, 18971930)

A presente comunicação apresenta os resultados parciais da pesquisa sobre o periódico sertanejo “A Penna”, criado em 1897 na cidade de Caetité no Alto Sertão da Bahia. Propõe-se, mais especificamente, uma análise sobre as concepções de Sertão e Nação formuladas pelo jornal em um momento de grandes transformações políticas no Brasil com a transição da Monarquia para a República. O jornal foi fundado por João Antonio dos Santos Gumes e tornou-se um importante instrumento de comunicação entre a população local e as áreas vizinhas. Dentre as diversas questões abordadas pelo jornal, destacam-se as denúncias acerca do sofrimento da população sertaneja, sobretudo, em função das secas e do distanciamento dos poderes centrais para a solução dos problemas. Como um intelectual da época, João Antônio Gumes surpreende pela diversidade dos seus escritos e empenho na manutenção do periódico que perdurou por quase 30 trinta anos com alguma interrupção. “A Penna” possuía colaboradores em várias partes do Brasil e até mesmo no exterior. Contemporâneo das alterações políticas que demarcaram o fim do sistema escravista e a implantação da República no Brasil em fins do século XIX, Gumes e vários dos seus colaboradores utilizariam as páginas do periódico para tratar dos diversos problemas das áreas sertanejas, um território que encontravase longe de ser incluído na nação moderna então propagada pelas autoridades. Palavras-chave: A Penna, sertão, nação.

Camilla Fernandes Araújo

Graduada pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB) millocas.f@gmail.com

José Alves Dias

Doutor em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro jdpesquisa@yahoo.com.br

Rosalindo de Souza: a experiência de um militante comunista no Araguaia

A Guerrilha do Araguaia foi um movimento armado, ocorrido entre 1972 e 1974, na região Sul do Pará e que tinha como objetivo derrubar a ditadura militar, instaurada no Brasil com o golpe de 1964 e formalmente extinta em 1985. Este texto relata a experiência de Rosalindo de Souza, um militante comunista que, juntamente com outros companheiros do Partido Comunista do Brasil (PC do B), desapareceu combatendo a ditadura, na Guerrilha do Araguaia. A análise se baseia em textos de sobreviventes e no resgate da memória de seus familiares. Entretanto, 91


não desconsidera as delicadas questões que envolvem as relações entre Memória e História, bem como, as subjetividades intrínsecas a qualquer fonte documental. Em particular, o uso da oralidade, tão discutida nos meios acadêmicos, serviu como ferramenta indispensável à concussão dos objetivos desta pesquisa. Este estudo procurou evidenciar as principais teorias que influenciaram o pensamento da esquerda brasileira e principalmente as doutrinas que fundamentaram a construção do movimento guerrilheiro, levando em consideração os planos desenvolvidos, tanto pelos militantes, como pelos militares, para a região do Araguaia. Em particular, demonstrou a experiência particular do militante Rosalindo de Souza e como os relatos sobre sua atuação e as circunstâncias de sua morte refletem um lugar de memória. Palavras-chave: memória, guerrilha, biografia.

Elpídio Paiva Luz Segundo ---elpidioluz@gmail.com

Notas introdutórias acerca das origens do Constitucionalismo no Brasil: uma análise do Revérbero Constitucional Fluminense

Este artigo examina a formação do Estado Nacional Brasileiro, no início do século XIX, à luz do Liberalismo Político e de seu consectário jurídico: o Constitucionalismo. Para tanto, utilizar-se-á em sua análise da metodologia fenomenológica, crítico-bibliográfica, sobretudo a partir da experiência do periódico Revérbero Constitucional Fluminense que circulou na Corte do Rio de Janeiro à época da Independência (1821- 1823).O objetivo primaz desta comunicação é trazer à lume algumas questões concernentes ao constitucionalismo, a partir de uma análise do vocábulo “constituição”, bastante discutido nos números do periódico do Revérbero Constitucional Fluminense, publicado à época do processo de emancipação política do Estado Nacional. A construção do conceito sobre a Constituição, em diferentes acepções, admitia ser a Carta um documento fundamental, fiador das garantias política e social, e, no caso do Revérbero Constitucional Fluminense, um pacto político sobre a forma de governo e organização do território do Estado. Por derradeiro, o texto apresenta a ideia de Constituição como uma narrativa da vitória liberal sobre o absolutismo, pois ela se relacionava à liberdade política e limitação de poder, a partir de um Estado racionalmente construído, para que os indivíduos pudessem usufruir direitos e que o exercício do poder fosse efetivado em diferentes e complexas instituições.

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Fabiana Vieira da Silva

Mestranda do Programa de Estudos pós Graduandos da PUC-SP. Bolsista CAPES fabianaunesp@yahoo.com.br

DESMOND TUTU NA GRANDE IMPRENSA PAULISTA: A PROJEÇÃO DE UM LÍDER SUL – AFRICANO NA SEGUNDA METADE DA DÉCADA DE 1980 Palavras-chave: Imprensa, Apartheid, Desmond Tutu. Ialle Caren Silva Reis ----Iallecaren2011@gmail.com

APONTAMENTOS SOBRE O ORDENAMENTO POLÍTICO-JURÍDICO NA BAHIA E A IMPRENSA NO NASCENTE IMPÉRIO DO BRASIL Izis Guimarães Mueller

Graduada em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Especialista lato sensu em História: Política, Cultura e Sociedade pela (UESB) izismueller@hotmail.com

Memória e representação da era Vargas na obra de Dias Gomes: Dr. Getúlio, sua vida e sua glória (1968)

Esta comunicação apresenta algumas reflexões e hipóteses que foram desenvolvidas durante minha especialização cujo trabalho de conclusão apresenta uma análise comparada entre duas obras do dramaturgo Dias Gomes: o texto dramático “Dr. Getúlio, sua vida e sua glória” escrito em 1968 e a autobiografia “Apenas um subversivo” publicada em 1998. Para efeito deste trabalho, são discutidas as representações de Getúlio Vargas construídas pelo dramaturgo Dias Gomes no texto dramático “Dr. Getúlio, sua vida e sua glória” publicado e encenado pela primeira vez em 1968 e inspirado numa temática histórica: a trajetória do ex presidente, algumas de suas ações de governo e fatos que marcaram seus mandatos. A este propósito, a obra é relacionada com as circunstâncias políticas e sociais do contexto em que foi realizada e com a estrutura de sentimento compartilhada pelos artistas e intelectuais do período sem, contudo, perder de vista as especificidades da trajetória de seu autor. Abrindo mão de operar analises estéticas da obra e de investigar as inverossimilhanças entre a narrativa do dramaturgo e a era Vargas, propomos analisar a obra de Dias Gomes partindo do pressuposto de que ao abordar a produção literária de um autor, que como qualquer outro indivíduo esta inserido em uma realidade sócio-histórica que o inspira e na qual vive, é possível compreender não apenas a dimensão da sua obra, como também a sociedade que viveu. Em outras palavras, compreender como a sociedade pensa a si mesma e como ela se representa. Palavras-chave: Dias Gomes, intelectual e memória, Getúlio Vargas.

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Joaquim Antônio de Novais Filho

Professor Substituto da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista FAPESB novaisfilho@yahoo.com.br

Memória, Imprensa e Nação na cobertura da campanha de Canudos (1897) pela imprensa de Salvador

A partir da abordagem das relações entre memória, imprensa e nação pretendemos problematizar, nessa comunicação, algumas manifestações registradas em jornais publicados na capital baiana durante a campanha de Canudos (1896-1897). Mais especificamente, abordaremos aqui os registros da reação da imprensa baiana contra a acusação de que a Bahia era um reduto monarquista. Acusação difundida na imprensa do Rio de Janeiro por ocasião da derrota da expedição comandada pelo coronel Moreira Cezar na primeira semana de março de 1897. Nessa ocasião, os jornais soteropolitanos registraram e contribuíram para a circulação de um discurso que, basicamente, operava uma divisão entre os seguidores de Antonio Conselheiro e os cidadãos da Bahia republicana. De um lado, os membros de uma comunidade bárbara, atrasada, supersticiosa, mestiça. Do outro, os civilizados, avançados, habitantes da cidade, eleitores, leitores e redatores dos jornais. Primeiramente, trataremos de esboçar uma compreensão da atuação dos jornais baianos na divulgação/circulação de um discurso sobre a República e suas implicações para constituição de certa imagem da nação brasileira. Em seguida, apresentaremos uma discussão acerca das condições de possibilidade de circulação do discurso que justificou a destruição do arraial de Canudos. Por fim, uma análise acerca da “solidariedade patriótica” entre os jornais publicados na capital baiana por ocasião da derrota da expedição Moreira Cezar. Palavras-chave: campanha de Canudos, memória, nação.

Joandina Maria de Carvalho

Professora de História no Colégio Estadual Abdias Menezes. Mestre em Bens Culturais e Projetos Sociais. CPDOC/ FGV. joandinam@yahoo.com.br

A “Revolução” de 1930 e os coronéis baianos

A presente comunicação versa acerca das especificidades da política baiana, quando da “revolução” de 1930, com ênfase ao papel desempenhado por chefes políticos locais. Apoio de importantes coronéis e conspirações “revolucionárias” inusitadas contribuíram para a vitória da nova elite política no Brasil. Juracy Magalhães, interventor do novo regime na Bahia, ganhou espaço e poder não apenas per ter sido o escolhido por Vargas, mas principalmente por descobrir cedo, que o caminho para o sucesso à frente do estado seria a aliança com os coronéis. Assim sendo, a população das pequenas e médias cidades, dependentes do “poder público” exercido pelos coronéis, desconheciam o processo de aquisição de direitos políticos, civis e sociais. Palavras-chave: revolução, mandonismo, Bahia. 94


Leonardo do Amaral Alves

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) leonardoamaral1@gmail.com

Voto, barganha e desavenças na terra do “pinga fogo”: História política de Itupeva 1950-1970

Este estudo é resultante do exercício de compreensão da trama histórica, que envolve os eventos políticos que caracterizaram a identidade e memória em torno do controle do poder no distrito de Itupeva no município de Medeiros Neto, Bahia. O recorte local desta pesquisa permitiu traçar um contorno, dentro do qual estudar como o mandonismo ou coronelismo se manifestou no lugar entre os anos de 1950 e 1970. Desde a sua gênese, Itupeva teve sua vida política permeada de conflitos e disputas que marcaram a memória coletiva da comunidade. Nesse contexto, destaca-se também a resistência dos populares contra um poder oficial que se identificava, agora, com o dos principais fazendeiros da região, mas que também deixava espaço às negociações entre eleitores e políticos. Palavras-chave: Itupeva, Prefeitura de Medeiros Neto, mandonismo, coronelismo.

Lielva Azevedo Aguiar

Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) lielvaaguiar@gmail.com

“A minha carta quase parece uma resposta...”: Possibilidades de pesquisa nas correspondências da família Teixeira (segunda metade do século XIX – 1960)

No alto sertão da Bahia a escrita de cartas foi uma prática comum entre as elites letradas, sobressaindo-se, na ausência das tecnologias mais modernas, como um dos principais meios de comunicação. O dinamismo dessa atividade é comprovado pelo grande contingente de correspondências produzido pelas famílias dessa região, em especial, pela família Teixeira. Essa família viveu em Caetité a partir do ano de 1885, onde consolidou um destacado poder econômico e político-partidário, ambos mantidos a partir de um estreito contato com os centros político-administrativos do país, bem como, através de uma influente e estratégica rede de relações sociais estabelecidas no alto sertão da Bahia. Os rastros dessa trajetória estão presentes nas mais de cinco mil correspondências que formam o acervo desta família (datadas dos anos finais do século XIX até meados do século XX), constituído ainda por outros documentos. Nessa perspectiva, a presente comunicação visa apresentar algumas possibilidades de pesquisa que se evidenciam nessas correspondências, destacando, de modo singular, às cartas outrora pertencentes ao político Deocleciano Pires Teixeira (Caetité/BA). A este conjunto de documentos, se embaraçam diversos assuntos de ordem política, econômica e social, relacionados não só à conjuntura 95


regional, mas também, a estadual e nacional, contudo, registrados de modo particular e detalhista. De forma específica, estes documentos compõem um acervo inovador para os pesquisadores dedicados ao estudo da política baiana na Primeira República.

Lorena Farias Santos --loressa@hotmail.com

Franklin Ferraz Neto e o Golpe de 1964: repercussões da ditadura militar na magistratura trabalhista de Vitória da Conquista

Os documentos produzidos nas instâncias do judiciário brasileiro, por sua riqueza de informações e testemunhos do cotidiano social, são registros de inestimável valor histórico. Nas duas últimas décadas, os processos e códices têm se afirmado como fontes fundamentais para o desenvolvimento de novos e consistentes estudos historiográficos. Mediante tal perspectiva, a presente pesquisa resulta da análise dos pareceres e sentenças enunciados pelo primeiro juiz a ocupar a presidência da Junta de Conciliação e Julgamento de Vitória da Conquista: Franklin Ferraz Neto (1963-1964). O juiz esteve à frente da Junta de Conciliação e Julgamento de Vitória da Conquista em um breve período, durante o qual teve a oportunidade de mediar sessenta e dois processos trabalhistas, entre os quais figuravam reclamações, homologações e execuções de sentenças. Os seus discursos, consolidados nos pareceres e sentenças, cotejados com matérias publicadas em jornais coetâneos ao período de sua efêmera magistratura, ajudam a recuperar a sua memória e atuação e permitem desvendar o processo que culminou na sua exoneração, fundamentada em acusações que o incluíam na lista de possíveis comunistas, que depois do Golpe 1964, tiveram a sua liberdade civil cerceada pela Ditadura Militar. Franklin Ferraz teve a sua exoneração e prisão fundamentadas em acusações anticomunistas que sobremaneira obumbraram a real motivação: consolidar a nova correlação de poder instaurada com o Golpe de 1964, que em Vitória da Conquista como no restante do país significou a experiência da supressão da liberdade de expressão e da manifestação política de toda ordem e que repercutiu diretamente na dinâmica de ocupação do cargo de magistrado do trabalho da JCJ-VC. Palavras-chave: Franklin Ferraz Neto, Ditadura Militar, Magistratura trabalhista.

Luan Eloy Oliveira

Graduando em História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) luan_eloy@hotmail.com

Conjuntura e concepções políticas em “A Formação do PCB”, de Astrojildo Pereira

O objetivo da comunicação é analisar as conjunturas e as concepções políticas 96


apresentadas pelo influente militante comunista Astrojildo Pereira Duarte da Silva em sua obra “A formação do PCB”, publicada em 1962. A pesquisa propõe discutir a conjuntura política dos primeiros anos da República brasileira e, mais especificamente, o processo de formação e de intervenção política do Partido Comunista do Brasil, no período de 1922 a 1928 a partir da visão de um dos seus fundadores, Astrojildo Pereira, com ênfase em suas concepções sobre o movimento operário e o papel desempenhado pelo partido. Palavras-chave: Astrojildo Pereira, movimento operário, PCB.

Maria Aparecida Silva de Sousa

Professora Adjunta da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) mariacida3@yahoo.com.br

Estado, Nação, Sertão: poder e conflitos políticos no Alto Sertão da Bahia no Oitocentos

A comunicação apresenta os estudos preliminares sobre a conformação do Estado Imperial do Brasil nos sertões da Bahia, mais precisamente, na região denominada por Alto Sertão (Rio de Contas e Caetité). Parte-se do pressuposto que a dinâmica política nessa área fornece novos e importantes elementos para a compreensão do complexo processo de estruturação do Estado e da nação brasileiros no decorrer do Oitocentos possibilitando dimensionar os mecanismos pelos quais as classes dirigentes buscaram ordenar as populações sertanejas, ao mesmo tempo em que conflitos de natureza variada foram potencializados. Buscase, desse modo, ampliar os estudos sobre a instabilidade política na província baiana, assim como as articulações promovidas pelas classes dirigentes para assegurar a consolidação do Estado nos territórios distantes dos centros de poder. Palavras-chave: Nação, Sertão, conflitos políticos.

Roberta Lisana Rocha Santos

Graduanda em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista PIBIC/AF/CNPQ roberta.lisana@hotmail.com

Juracy Magalhães e o fisiologismo na política brasileira

Em fins de 1954, depois de um breve afastamento da política, após a implantação do Estado Novo, Juracy Magalhães foi eleito Senador pela Bahia, apoiado pela UDN, PTB e PSD e recebendo um total de 363.226 votos. Durante sua atuação no Senado Federal, o mesmo recebeu diversas correspondências de amigos, associações e correligionários. Este texto se propõe a analisar essa relação fisiológica estabelecida entre Juracy Magalhães e seus eleitores enquanto o mesmo exercia o cargo de Senador. Através dessa documentação foi possível perceber a continuidade do fisiologismo, 97


ainda que ele esteja relacionado diretamente ao período da República Velha. Ficou claro que à medida que essas práticas foram se consolidando tornaram-se um atributo da própria organização política brasileira. Podemos considerar o clientelismo como um mecanismo de controle político, baseado em barganhas e trocas de favores entre indivíduos que se encontram em situação desigual. Foi dessa maneira que essa experiência ajudou a compor as várias formas de domínio que a vida política brasileira conheceu: o mandonismo, o patrimonialismo, o coronelismo e até o populismo. A pesquisa se fundamentou basicamente nas correspondências recebidas e a análise da documentação permitiu vislumbrar a persistência do fenômeno clientelista na política brasileira. Isso possibilitou comprovar a persistência do fenômeno clientelista, mesmo num período distante do predomínio coronelista. Por outro lado, ficou bastante perceptível, por meio das correspondências, que as relações clientelísticas se mantêm ao longo dos anos, embora, se adéqüem de acordo com a própria conformação social. Palavras-chave: clientelismo, Juracy Magalhães, poder.

Valter Santana Pinheiro Júnior

Graduando da Faculdade Independente do Nordeste (FAINOR). Bolsista PIBIC valterpj@hotmail.com

Prospectiva e perspectiva do Direito no território do Brasil: da piedade legal ao ecletismo jurídico

Para analisar a composição atual da estrutura político-jurídico brasileira faz-se necessário aprofundar os processos históricos que contribuíram para a evolução do Direito moderno. A comunicação traça um paralelo entre o contexto histórico, político e jurídico do direito no território do Brasil, desde a piedade legal até a secularização jurídica com base em um estudo da evolução do Direito lusitano junto à inserção dos ideais liberais no território americano que foi o pilar da constituição do recém-criado Estado e nação brasileiros. Quanto à análise, concentra-se no processo de Independência do Brasil. A problemática do liberalismo revela-se prenhe de uma experiência concreta, mas também eclética, até chegar-se ao sistema que assegurou a estabilidade governamental, institucional e político-jurídica já no Segundo Reinado (1831-1889). Neste termos, o liberalismo clássico mostrou-se incapaz de resolver os anseios de uma modernização completa na estrutura organizacional e de poder no Brasil imperial. Essa compreensão reitera, portanto, o entendimento de que não houve uma recepção do liberalismo clássico na terraebrasilis, mas, antes, uma compreensão e adaptação que buscou conciliar modernidade e tradição, com base na piedade legal e na tradição herdada da antiga metrópole. Destaca-se, ainda, o movimento vintista, com o intuito de promover uma reflexão sobre os caminhos palmilhados no processo de Independência política da ex-colônia portuguesa na América. Palavras-chave: Constituição, Liberalismo, Movimento Vintista.

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Vanessa da Silva Nascimento

Especialista em História: Política, Cultura e Sociedade pela (UESB) e em História da Cultura Afro-Brasileira pela Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC) evanessinha@hotmail.com

Aprendizado político em tempos de crise: notas de pesquisa sobre a trajetória de Felisberto Caldeira Brante (1821-1822)

Este trabalho, resultado de uma pesquisa em desenvolvimento, propõe discutir a trajetória de Felisberto Caldeira Brant Pontes Horta, o Marquês de Barbacena, no processo de construção do Estado e da nação brasileiros. Mineiro, Caldeira Brant residiu por muitos anos na Bahia e seu percurso político e econômico acompanha as rápidas alterações verificadas na capitania, sobretudo, a partir da instalação da família real no Brasil, em 1808. De fiel servidor à monarquia portuguesa, o marquês foi um dos principais protagonistas no processo de reconhecimento da Independência do Brasil nos anos de 1820. Apesar de nossa abordagem enfatizar uma personagem importante no processo político de definição do Estado imperial, torna-se fundamental não perder de vista a conjuntura mais ampla na qual a província baiana se encontrava inserida naquela década. Procuramos evidenciar que a construção do Estado nacional brasileiro não se efetivou de maneira harmônica, pelo contrário, o embate de ideias e proposições, capitaneadas por indivíduos e grupos políticos, demonstra que a crise do absolutismo monárquico no Brasil Reino abriu fecundas possibilidades de formulação de projetos e de participação política. Desse modo, procuramos demonstrar que não se pode falar de um projeto político harmônico, mas em posicionamentos que, na dinâmica do processo, gestaram uma organização política bastante peculiar. Palavras-chave: política, Bahia, Marquês de Barbacena.

Willan de Souza Januário

Professor do Estado da Bahia. Professor na rede particular de ensino (Colégio Galileu). Pós- graduando em História do Brasil (UESC) willjanuario@yahoo.com.br

“Glossário civilista” de Rui Barbosa nas eleições presidenciais de 1910: a força de seus discursos na Campanha Civilista (1909 – 1910)

A comunicação tem como objetivo central apresentar a importância dos discursos do então candidato civilista Rui Barbosa, feitos em alguns Estados do país para entender o contexto e motivos das eleições presidenciais de 1910, tendo como base o debate de palavras-chave utilizadas pelo candidato na defesa de sua plataforma. Nesse sentido, também tem-se o intuito de apresentar um andamento parcial da pesquisa mediante a análise da plataforma de governo do candidato. Termos como Liberalismo, Brasil, povo, elites, eleições e Campanha Civilista, são palavras que fazem parte de um “glossário civilista”, que são constantemente citadas por Rui, 99


reforçando a justificativa para a conquista de uma vaga ao posto de Presidente da República Federativa do Brasil, disputada com o Marechal Hermes da Fonseca. Ao mesmo tempo em que se pretende expor alguns autores que em suas pesquisas contribuem com o debate acerca do entendimento da participação popular na Primeira República e que, especificamente, também discorrem sobre a Campanha Civilista. Eleições que se tornaram um evento histórico importante por apresentar movimentações eleitorais e/ou populares até então desconhecidas. As fontes são os discursos encontrados em três volumes intitulados “Excursões Eleitorais” que trazem textos de memórias sobre a defesa do civilismo entre agosto de 1909 a março de 1910. Palavras-chave: Rui Barbosa, cultura política, povo.

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Simpósio temático 10 DIVERSIDADES, DESIGUALDADES, CONFLITO SOCIAL E LUTA POLÍTICA Coordenador: EURELINO COELHO NETO

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om este simpósio o GT Marxismo e História propõe um espaço de discussão e intercâmbio entre pesquisadores que investigam as lutas sociais em suas diferentes manifestações. O interesse recai sobre estudos que problematizem a experiência de sujeitos em situações de conflito social, as formas de sua organização, de inscrição e representação política. Com isso o simpósio pretende reunir, por um lado, pesquisas referenciadas nas problemáticas clássicas desenvolvidas sob inspiração da História Social Inglesa sobre os movimentos sociais e grupos subalternizados. Por outro lado, estudos sobre as modalidades de processamento político das relações de poder, nas sociedades civil e política, são igualmente valorizados. Com isso o simpósio propõe aproximar os campos da História Social e da História Política e explorar as possibilidades que se abrem a partir dessa intersecção. A perspectiva é reunir pesquisadores, em diferentes níveis de formação, que se ocupam de temas como o Estado, partidos ou governos a outros que investigam, por exemplo, movimentos sociais, cultura e identidades e provocá-los, todos, a pensar seus próprios objetos em face da ampliação de perspectivas decorrente da presença de questões provenientes de dois campos de investigação histórica considerados num mesmo âmbito. Aspectos teórico-metodológicos implicados na investigação desses temas e presentes na historiografia, bem como questões que relacionam os intelectuais e a organização da cultura à problemática das lutas sociais também se incluem no escopo de interesses do simpósio. Alex de Souza Ivo

Professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Doutorando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) alexivo@gmail.com

Em nome da nação... e dos trabalhadores: A construção da identidade sindical dos petroleiros (Bahia, 1959-1985)

O presente trabalho pretende discutir o processo de formação da identidade sindical dos petroleiros baianos, nitidamente marcada por discursos e práticas de defesa da estatal do petróleo. Essa forma de ação, vista por certa corrente interpretativa como a prova cabal da inexistência de uma identidade de classe entre os trabalhadores, enseja um relevante debate relacionado às especificidades do trabalho e da vida sindical 101


nas empresas estatais. Desse modo, desejo demonstrar como se deu a constituição dessa estratégia em diferentes conjunturas (começando com a fundação do sindicato e as primeiras mobilizações e chegando às disputas entre diferentes gerações de sindicalistas), bem como identificar os principais argumentos envolvidos na prática sindical petroleira, quando da consolidação do chamado novo sindicalismo. Afinal, o sindicalismo petroleiro na Bahia viveu, no início da década de 1980, um dilema entre dois paradigmas sindicais. Opuseram-se a primeira geração de militantes (fundadora do Sindipetro-Ba e do Stiep-Ba e líderes sindicais identificados com as premissas do “cutismo”. Esse embate gerou entre os trabalhadores uma série de reflexões que envolviam temas como noção de direitos, relação entre empresa e seus funcionários, dentre tantos outros. Creio, portanto, que a discussão acerca desse enfrentamento é crucial para a compreensão do fenômeno da ação sindical nas empresas estatais.

Alisson Gonçalves Barbosa

Mestrando em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) alissongbarbosa@yahoo.com.br

A criminalidade fardada na Bahia Republicana no início do século XX

Nos primeiros anos do século XX a sociedade baiana acompanhou uma série de denúncias de arbitrariedades cometidas pela polícia baiana, nas suas ações cotidianas. Dentre elas se destacam: prisões sem nota de culpa, espancamentos, cárcere incomunicável de cidadãos inocentes, desacato de mandados judiciais e brigas provocadas por agentes da polícia, motivados pelo tão comum e exagerado consumo de álcool etc. As denuncias de abusos, chegavam ao conhecimento das autoridades, através de duas formas: uma era pela própria imprensa, que publicava notas de insatisfação, no que diz respeito à truculência policial. E a outra forma era através de correspondências oficiais, endereçadas ao Gabinete do Secretário de Segurança Pública, enviadas por juízes e delegados, cobrando providências contra os abusos. Palavras-chave: polícia, crime, prisão.

André Santana Oliveira

Mestrando pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES andre_santana2004@yahoo.com.br

Práticas política no município de Cícero Dantas 1945-1962: a utilização de “velhas” práticas na “nova” democracia

Esta comunicação faz parte da pesquisa em desenvolvimento intitulada Práticas política em Cícero Dantas na trajetória do padre Renato de Andrade Galvão (1945 – 1965). Tem como objetivo problematizar período de 1945-1964, “chamado de intervalo democrático”, mostrar que, ao contrário de alguns autores que saudaram este período 102


como democrático e de algum modo favorável à cidadania, Cícero Dantas apresenta alguns indícios de que persistiam as velhas práticas políticas oriundas da chamada “república velha” explicitamente negadas e combatidas tanto pelos políticos de então como pelos historiadores de hoje. Discutiremos as eleições em Cícero Dantas BA de 1945 – 1962 a partir do conceito gramsciano de Estado ampliado (sociedade civil e sociedade política). Problematizaremos a concepção liberal de Estado (“natural” e com a separação entre Estado e Sociedade), principalmente no que se refere à questão da cidadania. Sendo assim abordaremos a atuação da família Vieira de Andrade e dos partidos políticos (PSD e UDN) nestes momentos de acirramento nas disputas políticas (eleições). Utilizamos como fontes o Livro de Tombo da Igreja Católica de Cícero Dantas, atas das eleições do Tribunal Regional Eleitoral referente ao município de 1950 a 1962, e cartas enviadas de sujeitos que fazia parte deste “universo político” para Dantas Junior (o apoio político da UDN no município). Palavras-chave: Democracia 1945-1962, Cícero Dantas, Eleições.

Antonio Hertes Gomes de Santana

Pós-graduando em História da Bahia pela Faculdade São Bento da Bahia. hertes_historiabahia@hotmail.com

Condições sociais dos trabalhadores livres pobres e crimes de furto em Alagoinhas nos últimos anos da escravidão (1860-1890)

A presente comunicação pretende abordar as condições sociais dos trabalhadores livres pobres da Vila de Alagoinhas, Bahia, e algumas ações criminosas (furtos) na segunda metade do século XIX. Em outras palavras, procura estabelecer uma relação entre os crimes de furto envolvendo trabalhadores livres pobres e suas condições socioeconômicas. Questionamos se essas práticas eram estratégias de sobrevivência, reações dos trabalhadores contra as desigualdades sociais ou nada tinham a ver com isso. Concluímos que é possível relacionar os crimes cometidos pelos trabalhadores com suas condições, a partir do conceito de luta de classe (mas não necessariamente no sentido marxista do termo). Utilizamos como fontes documentais alguns processos criminais, posturas da Câmara Municipal, o recenseamento de 1872 e jornais. Palavras-chave: crimes, trabalhadores, Alagoinhas.

Chintamani Santana Alves

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES chintamanisantana@yahoo.com.br

Trabalhadores no Campo e seus Conflitos (Feira de Santana, 1900-1942)

Esta comunicação apresentará alguns resultados parciais da pesquisa em 103


desenvolvimento sobre os sujeitos no campo e seus conflitos em Feira de Santana (1900-1942), em um cenário de avanço capitalista. Os resultados versam sobre os trabalhadores no campo, seus modos de vida e seus diferentes conflitos. Os conflitos estão em torno da posse, limite e propriedade da terra; destruição de cercas, lavouras e benfeitorias. Chegamos a essa realidade a partir das fontes criminais e cíveis. Investigamos os processos crime da tipologia de dano e cruzamos os nomes do envolvidos com as ações cíveis. Tomamos como referência os trabalhos de Thompson, em especial o seu entendimento sobre o Direito (THOMPSON, 1987), compreendido como um meio por onde outros conflitos sociais têm se travado. Pensamos ser possível encontrarmos nos processos jurídicos expressões de alternativas, modos de ver o mundo em conflito, interpretações distintas dos diferentes sujeitos sociais. Deste modo destacamos a possibilidade de noções distintas sobre a posse da terra; em situações conflituosas, a quantidade de pessoas que poderiam ser arregimentadas fazia parte da força política; a possibilidade de uma política cotidiana de negociação, onde o aviso, a ameaça e a tentativa de resolução de maneira direta do conflito estavam presentes antes da ação de força e da ação jurídica. O mundo do trabalho no campo em Feira de Santana era diverso e conflituoso, por vezes a ênfase dada a figura do vaqueiro acaba negligenciando esses outros sujeitos e seus conflitos. Com essa contribuição pretendemos ampliar a visão sobre o campo, seus sujeitos e conflitos. Por fim, salientamos o caráter inicial da investigação. Logo essa comunicação não pretende ser conclusiva, mas sim levantar possibilidades interpretativas para o desenvolvimento da pesquisa. Palavras-chave: Feira de Santana, trabalhadores rurais, direitos.

Daniella Ataíde Lôbo

Graduando pela Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB) al.daniella@gmail.com

O “Movimento dos Indignados”: mobilização e perspectivas políticas na Espanha contemporânea

A presente comunicação, resultado de uma pesquisa monográfica em andamento, propõe discutir as manifestações recentes ocorridas na Espanha, em 2011, à luz do pensamento de Rosa Luxemburgo. As amplas mobilizações da população espanhola por meio da ocupação dos espaços públicos, assim como a diversidade dos posicionamentos dos agrupamentos dirigentes, permitem refletir, por um lado, sobre as novas formas de organização e intervenção da sociedade contemporânea, e por outro, a recuperação de uma tradição de luta dos trabalhadores. Além da participação maciça de estudantes, trabalhadores e desempregados, um dos aspectos que chama a atenção na mobilização dos manifestantes espanhóis, foi a utilização dos meios de comunicação de massa como ferramentas de mobilização. Da mesma maneira, a ocupação das principais ruas e praças das cidades espanholas e a realização de 104


assembleias com expressivo número de participantes denotam que novas formas de organização foram gestadas no decorrer do movimento a despeito da heterogeneidade políticas dos seus membros. Nesse sentido, questões políticas discutidas pela teórica e militante polonesa como espontaneísmo revolucionário, a atividade das massas e sua inserção na vida pública e democracia servirão para um exame mais apurado sobre as proposições apresentadas pelo “Movimento dos Indignados” em meio às experiências históricas dos trabalhadores e às mudanças da conjuntura atual. Palavras-chave: Espanha, mobilizações, Rosa Luxemburgo.

Ede Ricardo de Assis Soares

Mestrando em História do PPGH/UFBA. Bolsista CAPES ede.soares@gmail.com

Pecebistas e Pessedistas: Uni-vos!

O presente trabalho analisa a política aliancista empregada pelos militantes do então Partido Comunista do Brasil, PCB, frente às eleições de 1950, na cidade de Alagoinhas, Bahia. A reflexão se dará a partir de fontes primárias, dentre as quais, as matérias publicadas na primeira página do jornal O Nordeste, em agosto de 1950, intitulada, “Fortalecida a campanha de Dr. Pedro Dórea”, e “Decidiu-se o PSD Candidato o dr. Pedro Dórea – Em compensação Almiro está na chapa ao lado de dr. Heitor”. Nas matérias consta um acordo firmado entre os comunistas e o então candidato do PSD à prefeitura, Pedro Dórea. Segundo o jornal, os pecebistas “que dispunham, inegavelmente, de uns quatrocentos votos nessa cidade”, ofereceramno ao candidato pessedista em troca de sua intervenção junto ao seu amigo e candidato à Governador, o Diretor-Superintendente da Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro, VFFLB, Lauro Farani de Freitas. Os comunistas pretendiam com isso cessar as perseguições aos comunistas dentro da ferrovia, e contavam com a atuação de Pedro Dórea junto ao seu patrono, amigo e possível governados do estado. Entretanto, a historiografia tradicional generaliza que naquele contexto, o PCB havia radicalizado a sua orientação política, rejeitando o jogo político da democracia liberal. Desse modo, a aliança entre os pecebistas e o pessedistas guarda sua singularidade, haja vista que a historiografia é unânime em defender a “esquerdização” do PCB após a clandestinidade, o que nos fornece elementos para acreditar que em Alagoinhas, os comunistas buscaram negociar melhorias à sua condição clandestina, atuando à revelia das deliberações do Comitê Central. Palavras-chave: PCB, Alagoinhas, comunismo.

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Flávia Amorim Souza

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB falmorim@hotmail.com

Campo de disputa na política do MDB (1975-78)

Para este texto faremos uma breve leitura sobre o campo de disputa no MDB, entre 1975-78, período da “distensão lenta, gradual e segura”, do general Geisel. Nesta conjuntura os grupos internos do MDB disputavam como direcioná-lo. Os moderados exigiam uma atuação cautelosa para não confrontar o governo e garantir a abertura política via militares. O grupo autênticos, principalmente, na perspectiva de um dos principais líderes, Francisco Pinto, via o discurso governamental da abertura como um apaziguador de confrontos, e acreditava que os autênticos deveriam pressionar o partido para uma posição mais contundente de oposição à ditadura, assim disputavam as ideias e os cargos partidários, ao mesmo tempo sofriam os embates com a repressão do governo e do próprio partido. Nesse sentido se configuravam as disputas no MDB. Palavras-chave: MDB, Ditadura Militar, política.

João Batista Vicente do Nascimento.

Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Faculdade Visconde de Cairu jbvicente@bol.com.br

Jussara Santos Oliveira

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) jussara_cte@hotmail.com

A Influência da Coluna Prestes na Vida Social e Política de Caetité-Ba (1926)

O presente artigo discute a influência da Coluna Prestes na vida social e política do município de Caetité-Ba. Situado no Sudoeste da Bahia, Caetité constituía no início do século XX, um importante centro urbano, cultural e educacional para o Alto Sertão da Bahia. No ano de 1926, a passagem da Coluna Prestes pela região, estava representando para os sertanejos um episódio que ficaria para sempre marcado na memória social daquela população. O poder local constituído pelo coronelismo, constantemente se envolvia em disputas políticas. Nessa conjuntura, estava em ação o Coronel Dr. Deocleciano Pires Teixeira e seu filho Mário Teixeira, que foram responsáveis por articular uma estratégia de defesa da cidade no prédio do Observatório Meteorológico uma vez que este se localizava na parte alta da cidade o que permitia uma visão e um posicionamento favorável. Portanto, aborda a posição caetiteense no cenário regional, assim como sua conjuntura política na República Velha. Nesse sentido, utiliza fontes primárias como o jornal A Penna, órgão claramente posicionado a favor das oligarquias e contra qualquer movimento de caráter contrário a ordem política vigente, bem como, entrevistas orais que 106


permitem evidenciar como a passagem da Coluna está presente na memória social de Caetité, além de fontes bibliográficas que respaldam o estudo em questão. Palavras-chave: Coluna Prestes, política, sociedade e memória.

José Roberto Araújo dos Santos ---jras.htl@hotmail.com

Cultura e sociedade africana antes do contato europeu Larissa Penelu Bitencourt Pacheco

--laripenelu@gmail.com

Mundos do trabalho a partir das feiras livres: abordagens possíveis das Lutas Sociais em Feira de Santana

Diante das “estratégias de sobrevivência encontradas por trabalhadores para viver na cidade e da expansão capitalista em áreas nordestinas, buscaremos selecionar o ambiente, espaço e cultura de trabalho da “feira livre” como realidade social e histórica fundamental, no Município e região de Feira de Santana – BAHIA, para a História e a Memória das Lutas Sociais naquele espaço/tempo. As atividades de comércio na feira e as ocupações a ela estavam relacionados a postos de trabalho tradicionais perdidos ao longo do século XX, encontrando em Feira de Santana o elemento de Feira Livre mais marcadamente presente em seus costumes. Procuramos, portanto contribuir com leituras a respeito da diversidade de sujeitos que vivem os mundos do trabalho, encontrando suportes em discussões teórico-metodológicas que visam dar conta de novas compreensões a respeito da maneira como se constroem as lutas sociais, pela via da cultura, laços de solidariedades e outros elementos de aproximação identitária. Mais ainda, é possível cruzar campos de pesquisa e abordagem, antes dispersos, como a História das Cidades, a História Política e a história “vista de baixo” em busca de abarcar a experiência destes sujeitos. Esta comunicação foi uma forma que encontramos de divulgar discussões resultantes da escrita da dissertação de mestrado sobre regulamentações no mercado de alimentos no Município, associadas ao “Projeto Lutas Sociais em Feira de Santana: História e Memória dos Sujeitos Subalternizados.”

Maximiliano Meyer

Graduando pela Universidade de Santa Cruz do Sul (UNISC). Bolsista UNISC maximilianomeyer@bol.com.br

A cidade de Rio Pardo e a resistência escrava

Rio Pardo fora uma das principais cidades da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul desde sua formação mais elementar. Como centro econômico e ponto chave 107


das intermediações econômicas entre toda parte ocidental da província e o restante do império, a presença escrava foi constante, necessária e acentuada. Inegável é o fato de que o convívio entre os escravos e os senhores nem sempre fora cordial, o cativo reagia contra sua condição submissa. O presente artigo tem por finalidade analisar dois destes casos de resistência, bem como alguns aspectos da escravidão na localidade. O primeiro caso vem colaborar para o término da teoria de que escravos eram apenas objetos, sem pensamentos ou vontades; comoveremos neste exemplo, o escravo Jordão se junta a um companheiro de cativeiro, de nome Feliz, e juntos roubam, vendem, trocam e criam entre eles uma rede de roubos e distribuição dos furtos. No segundo caso analisaremos o processo contra Nazário, menor de idade que assassina sua senhora com imensa brutalidade. O chamativo a este caso está na condenação do réu: mesmo tendo todos os pré-requisitos para ser enquadrado na Lei de Exceção – e tendo o promotor solicitado esta condenação –, onde seria sumariamente executado em forca, o cativo tem sua pena comutada em açoites. O real motivo para isso não fica claro e a este respeito faremos algumas suposições. Palavras-chave: escravidão, Rio Grande do Sul, História Social.

Nayara Fernandes de Almeida Cunha

Mestranda do PPG de História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES nayfac@hotmail.com

Dos candidatos aos eleitores: uma análise do processo eleitoral em Feira de Santana (1907-1927)

Este trabalho é fruto de uma análise mais ampla no estudo da Política e das relações de poder em Feira de Santana (1907-1927), mais precisamente no período conhecido como Primeira República, que está sendo desenvolvido no programa de pós-graduação do mestrado em História na UEFS. Para tanto aqui analisaremos as eleições nesta cidade nesse período. Tentaremos entender como se dava as eleições, quem participava, quais eram os grupos e como se dava a relação dos políticos com os que votavam. Também se debruçando sobre os eleitores: quem são estes? Pensaremos o cenário eleitoral sempre fazendo uma relação dialética pensando o cenário mais amplo que são o estadual e nacional, já que acreditamos que Feira de Santana não está isolada e é preciso está analisando a sua relação com o Estado da Bahia e com o Brasil. Neste sentindo, entendemos o Estado como lugar de disputas no qual a sociedade dele faz parte e com suas questões e tensões. Objetivamos entender como se configuravam os partidos nacionais e sua conformação local na cidade. Perceber quem eram os grupos políticos partidários vigentes e quem participava destes. Assim a análise se foca no processo eleitoral no início do século XX em Feira de Santana. Palavras-chave: Feira de Santana, eleições, política.

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Rafael Quintela Alves Lins

Mestrando do PPG em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB rafaellinsfsa@gmail.com

Notas sobre política: Feira de Santana nas décadas 1940-50

O objetivo deste texto é analisar e encaminhar algumas questões, desenvolvidas a partir de resultados preliminares, do projeto de pesquisa: “A nossa causa é invencível!”: poder, política e estratégias da dominação, a trajetória da UDN de Feira de Santana (1945-1964), em fase inicial de desenvolvimento no Programa de Pós-Graduação Mestrado em História da Universidade Estadual de Feira de Santana (PGH UEFS). Ao circular pelas nossas fontes e bibliografia observamos elementos de mudanças na dinâmica política da cidade. Novos lugares e sujeitos políticos, reconfiguração de práticas do poder que exigiram rearticulações entre os que dirigiam politicamente o município. No bojo desse processo os elementos mais significativos foram: a extinção do regime denominado Estado Novo; o regresso do processo eleitoral, reservando algumas particularidades em relação às experiências anteriores; a reorganização dos partidos político, alicerçados em bases nacionais; a emergência de “novos” sujeitos e lugares políticos: trabalhadores, organizações de classe (associações, sindicatos, por exemplo). Nesse texto nos ocupamos mais detidamente da conjuntura política de Feira de Santana, nos esforçando em percebê-la sempre em relação à conjuntura nacional. Levantamos dados estatísticos sobre população, eleitores, eleições e partidos. Analisamos algumas práticas de poder da classe dominante durante processo. Identificamos aspectos das estratégias de construção da dominação política na cidade. Palavras-chave: poder, política, Feira de Santana.

Ricardo da Silva Campos

Professor da Rede Municipal de Rafael Jambeiro. Mestrando em História Local e Regional pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES camposfs@gmail.com

“A voz do mundo” ou a voz de um grupo? Imprensa Udenista em Feira de Santana (1940-1960)

Este artigo analisa relações sociais e perspectivas políticas tecidas entre as redações do jornal tradicional de Feira de Santana, a Folha do Norte, e os jornais elaborados por estudantes feirenses intitulados o Santanópolis e O Coruja entre as décadas de 1940 e 1960. O eixo central da argumentação será o de estabelecer os vínculos que uniam os dois agrupamentos jornalísticos. Um formado por alunos do Ginásio Santanópolis e o outro integrado por membros orgânicos da União Democrática Nacional (UDN). A ideia é relacionar que ambos compartilharam da visão política udenista, ao apoiar candidatos, através de propagandas e de textos apologéticos que traziam um posicionamento político, apesar de propalada pretensão de serem veículos de comunicação imparciais. Os laços de dependência se forjaram 109


quando esse grupo de estudantes decidiu fundar um periódico que circulasse em toda a cidade. No entanto, os jovens para superarem a carência de infraestrutura e viabilizarem o semanário como impresso de grande circulação optaram pela utilização das oficinas da Folha do Norte. Isso se concretizou pelas ligações de parentesco que possuíam com os donos da Folha do Norte e por comungarem da mesma bandeira política. Nesse sentido o texto analisará como setores da UDN feirense se organizaram utilizando a imprensa como uma tática política vital para a propaganda do partido, divulgação de ideias e cooptação de novos quadros. Palavras-chave: imprensa, política, Feira de Santana.

Salatiel Nascimento Damasceno

Graduando em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista CNPq salatiel_nd@hotmail.com

História e memória do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória da Conquista

Sob a influência da historiografia dos Annales, a década de 1970 assistiu ao advento de uma Nova História do Trabalho. Objetos até então pouco desprezados nos estudos acadêmicos, como associações e sindicatos, foram valorizados. E uma visão alargada de fontes históricas levou à recuperação de jornais, atas de assembleias, panfletos, cartazes, processos judiciais para a revelação de importantes aspectos da história dos trabalhadores. Inserido nestas novas perspectivas historiográficas, a presente pesquisa tem por objetivo analisar a presença do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Vitória da Conquista na luta pela organização dos trabalhadores rurais da região sudoeste da Bahia. Sem mudanças significativas em sua estrutura, mas premido pelas pressões das bases, o sindicato assume o seu papel como instrumento de luta em defesa do trabalhador tendo como palco, as mesas de negociações, os ambientes de trabalho e o judiciário trabalhista. Tais transformações, entretanto, abrem uma época de lutas pelo controle da instância sindical que, em alguns casos, extrapolaram os limites do próprio sindicato e transformaram-se em motivo para lutas no judiciário. A definição e o enfrentamento dos grupos em luta pelo controle do sindicato expõe a articulação desses grupos com as grandes correntes políticas do movimento político e sindical brasileiro que, na esteira do processo de redemocratização do país, ganharam expressão e assomaram ao poder nas esferas federal, estadual e local. Neste novo contexto, as lutas pela liberdade e autonomia sindical passam, em um de seus pontos essenciais, pela reestruturação dos sindicatos, ainda hoje subordinados a um modelo organizacional de caráter intervencionista, cujas origens remontam ao Estado varguista ou à ditadura militar.

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Tamires Assad Nery de Brito

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB tamyassad@gmail.com

A POLOP e o PT: entre a expectativa e a realidade (1971 – 1986)

Esta comunicação tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre a relação entre a POLOP (mais especificamente a OCML-PO) e o Partido dos Trabalhadores. Busca-se aqui caracterizar o debate interno da Organização Política Operária no que diz respeito ao surgimento e consequente aproximação com Partido dos Trabalhadores. O PT, no final dos nos 70, se apresenta para a POLOP como uma possibilidade de por em prática seu projeto socialista de revolução, que por sua formação marxista leninista, via num partido de vanguarda, essencialmente operário, a força catalisadora da revolução. Mas, frustrando as expectativas da POLOP, ela acaba por se dissolver por completo em meio à atuação no PT. Quais questões são colocadas neste processo de aproximação POLOP/PT?De que forma, elas contribuem ou não para o fim da POLOP?Como caracterizar a atuação da Organização dentro do Partido dos Trabalhadores?É certo que a POLOP encontrou uma série de dificuldades e pensar na relação POLOP/PT, é também pensar sobre os problemas internos vividos pela Organização que refletiu no seu modo de intervenção política da sociedade, como foi a exemplo a atuação no PT. Por outro lado, é também pensar nas questões conflitantes que se impuseram em espaços de disputa dentro do PT. Ambas, que não podem ser pensadas isoladamente, podem ter contribuído para a total dissolução da Organização. A fonte utilizada são os documentos de circulação interna da Organização que compõem o Acervo Nacional Victor Meyer. Palavras-Chave: Política Operária, Partido dos Trabalhadores, história política do Brasil.

Yolanda Cruz Barreto Leony

Mestranda pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES yoleleony@gmail.com

Conflitos e Negociações entre Trabalhadores e Patrões nas Reclamações Trabalhistas (Feira de Santana 1940- 1960)

Esta proposta de comunicação tem por objetivo apontar os caminhos da pesquisa em andamento intitulada Leis, Trabalho e Exploração: conflitos e negociações entre trabalhadores e patrões em Feira de Santana (1940-1960). Neste estudo estamos interessados em analisar os conflitos que envolveram trabalhadores e patrões e que resultaram em ações judiciais. Procuramos assim, identificar quais eram as demandas que envolveram os trabalhadores feirenses em ações judiciais, quais os possíveis significados do acesso destes trabalhadores a Justiça do Trabalho, e, como nos permite a documentação, perceber a partir desta um pouco das condições de vida daqueles trabalhadores no cotidiano da exploração. Palavras-chave: trabalhadores, conflitos e leis. 111


Simpósio Temático 11 ENTRE A DEMOCRACIA E A DITADURA: CONFLITOS, TENSÕES E PARTICIPAÇÃO POLÍTICA NO BRASIL Coordenadores: SILVIO CESAR OLIVEIRA BENEVIDES GRIMALDO CARNEIRO ZACHARIADHES

Professor da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro // Mestre grima1@ig.com.br

A

história republicana brasileira foi intercalada por períodos democráticos e de regimes de exceção, como o Estado Novo (1937-1945) e a Ditadura Militar (1964-1985). Desde a Proclamação da República, em 1889, a limitação dos direitos políticos de amplos segmentos da população marca a história brasileira. O próprio Golpe Militar de 1964 poderia ser pensado como o momento mais dramático de conflitos que existiram na luta empreendida pelos que aspiravam a uma maior participação política e os grupos que tradicionalmente detiveram o poder estatal. Este simpósio temático visa acolher trabalhos que tratem da história política, econômica e cultural brasileira a partir da discussão desta tensão, que continua também nos dias atuais. Embora não vivamos atualmente em um período ditatorial e autoritário, ainda temos muito que lutar para consolidar a democracia no país, que só será possível com uma maior participação de diversos setores da sociedade. Pretendemos neste Simpósio Temático construir um quadro o mais rico possível das transformações políticas e sociais brasileiras, congregando pesquisadores de várias temáticas com o intuito de analisar como se deu a ampliação da participação política no Brasil durante o período republicano. Para tanto, serão abarcados tanto trabalhos que tratem de momentos de aumento desta participação quanto daqueles quando ela se viu reduzida, como os chamados períodos de exceção. Adriana Martins dos Santos

martinsreligiao@uol.com.br Entre o reino do céu e da terra: evangélicos e alternativas políticas na década de 1980 A presença evangélica na política brasileira pode ser entendida como marcada por dois momentos distintos, primeiro pela presença de políticos que buscaram o 112


apoio de segmentos evangélicos para se elegerem e que faziam em troca deste apoio determinadas concessões a estes grupos, mas sem um maior comprometimento e um segundo momento, a partir das eleições constituintes de 1986, marcado pela modificação deste quadro, com a eleição dos “políticos de Cristo” para servir aos interesses dos grupos religiosos. Este “novo modelo político” se tornou predominante entre os evangélicos na década de 1990. Neste processo destacaram-se dois grupos, a Igreja Pentecostal Assembleia de Deus e a Igreja Universal do Reino Deus, que foram as principais responsáveis pela substituição do bordão “crente não se mete em política` pelo “irmão vota em irmão” e pela criação de novas práticas e representações em torno desta relação que sempre foi complexa entre Estado e Igreja. Este artigo pretende analisar quais foram as condições históricas que tornaram possível o crescimento dos evangélicos baianos nos espaços legislativos a partir da análise de sua entrada no espaço político institucional e sua relação com as disputas interreligiosas que marcaram o campo religioso baiano no início da década de 1980. Analisando alguma obras produzidas por lideranças deste segmento, jornais e revistas do período, pretende-se analisar as aproximações e afastamentos destes grupos e sua identificação em relação com grandes as questões que movimentavam o universo político e religioso neste momento de reconstrução da Democracia no Brasil.

Angelo Bento Leite dos Santos

angbenlei@hotmail.com “Eu sou o alfa”: cinema, televisão e internet na construção da memória do guerrilheiro Carlos Eugênio Paz Este artigo destina-se a fazer uma breve discussão sobre os depoimentos de Carlos Eugênio Paz nos diversos gêneros fílmicos do cinema e televisão, tendo como foco perceber como esses depoimentos colaboraram na construção da imagem de Paz como antigo guerrilheiro da Ação Libertadora Nacional (ALN). É claro que a construção sobre Carlos Eugênio Paz se deu mediante escolhas dos profissionais que confeccionaram os filmes em que ele participa; o papel desses filmes (como agentes da história) terá relevância, mas sua análise minuciosa ficaria em segundo plano. Os depoimentos de Carlos Eugênio Paz sempre repercutem na mídia. Recentemente a sua declaração em abril de 2011 ao término do capitulo da telenovela Amor e Revolução, cuja ambientação se passa no período da ditadura civil-militar brasileira - além de Carlos Eugênio Paz outros ex-guerrilheiros e opositores a ditadura também deram seus depoimentos - foi muito polêmica. Isso se deve porque Carlos Eugenio Paz descreve a morte do empresário Henning Albert Boilesen (1916-1971), então presidente do grupo Ultra. Sua morte foi um ato de justiçamento pelo grupo guerrilheiro ALN (Ação Libertadora Nacional), do qual Paz assumiu a liderança após a morte de seus líderes anteriores, Carlos Marighella e Câmara Ferreira. Essa declaração de Paz não é algo novo, pois já havia mencionado o justiçamento de Henning Albert Boilesen, 113


em seus livros de memórias e no documentário Cidadão Boilesen de ChaimLitewski (2009), no qual ele diz que o tiro de misericórdia seria dado pelo alfa, o líder da ação, que no caso seria o próprio Paz. A repercussão da declaração se fez devido ao novo veículo em que ele a executou a televisão, e por desdobramento a internet. O aspecto político pela disputa da veiculação dos depoimentos de Carlos Eugênio Paz e a preocupação da recepção da população a isso, encaixa essa pesquisa na Nova Histórica Política.

Belarmino de Jesus Souza

bjsouzahist@yahoo.com.br Do oportunismo da UDN à Conquista da arena

Camilo Alvarenga

camillocesar@gmail.com A “Revolução de 30” e o Golpe Militar de 64: A cultura entre a política e os intelectuais A presente resolução da conta de uma questão levantada acerca das similitudes e divergências histórico-sócio-políticas no que tange a organização social e política do Brasil nos períodos que compreendem a Revolução de 1930 e o Golpe de Estado de 1964. No escopo de apontar ao menos paralelos e/ou contradições parte-se na investigação de aspectos que explicitem os pontos necessários para elucidação da questão proposta. Assim sendo percorre-se o panorama das relações entre Estado e o corpus social civil dando ênfase à cultura nacional e seus possíveis avanços e retrocessos no crescimento econômico em face ao desenvolvimento das potencialidades do país. Levando em conta aspectos teóricos e metodológicos busca-se uma compreensão do universo histórico a ser explorado no que tange os períodos de 1930-1945 e 19601985, na tentativa de investigar questões como o papel e lugar dos intelectuais nos contextos questão avaliando a interação entre a cultura e o Estado no estabelecimento de influência entre o campo cultural e o campo político de forma que sem deixar de lado os aspectos sociológicos envolvidos nos pontos observados na investigação. Apontando para um imbricamento das esferas cultural e de poder têm-se de prache os presupostos críticos para averiguar a validade das premissas em estudo.

Cristina Monteiro de Andrada Luna

andradaluna@hotmail.com Entre enfrentamentos e conciliações: A Associação Brasileira de Imprensa e a ditadura militar (1964-1985) Embora a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) apareça nos livros sobre a ditadura militar como um dos principais órgãos da sociedade civil que lutaram 114


contra o regime de exceção, durante muito tempo a entidade só foi analisada por jornalistas pertencentes a seus quadros, entre eles Fernando Segismundo e Edmar Morel. Este último, aliás, é autor do conhecido livro A Trincheira da Liberdade: História da Associação Brasileira de Imprensa, no qual constrói o mito de que a Casa do Jornalista foi sempre uma instância de combate contra governos autoritários desde a sua fundação em 1908. Nos últimos anos, contudo, a ABI se tornou objeto de estudo no meio acadêmico, constituindo-se, inclusive, em tema da dissertação da proponente desta comunicação. Dessa forma, tencionamos demonstrar que nem sempre a ABI foi combativa, como defenderam alguns de seus associados. Muitas vezes, a sua resistência foi velada, pois evitando atacar o regime, a sua diretoria usava de contatos e amizades com militares para livrar jornalistas presos ou para permitir que as famílias os visitassem. Ademais, em dados momentos, a ABI, através de sua diretoria, foi colaboracionista, como ocorreu, por exemplo, em abril de 1968 e agosto de 1969, quando recebeu em suas instalações o presidente Artur da Costa e Silva e inúmeros generais do Exército, além de diretores e donos de jornal, para uma semana de homenagem ao dia do Soldado. Sendo assim, consideramos que a atuação política da entidade refletiu a própria relação que a imprensa, em geral, tinha com o regime. Neste sentido, objetivamos compreender a complexidade desta relação, que abarcava desde o enfrentamento (no caso da imprensa alternativa) até a autocensura praticada pela grande imprensa, que dependia economicamente do governo militar, que agia como regulador da importação de papel de imprensa e maior anunciante do país.

Cristiane Lopes da Mota

Mestranda pelo PPG em História Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES tiane_saj@hotmail.com

Ditadura Civil/Militar Em Santo Antônio De Jesus: “Uma Cidade Sem Passado” (1964-1970)?

Este trabalho investigar os desdobramentos do golpe de 1964 e do regime civil/militar em Santo Antônio de Jesus, entre os anos de 1964 - 1968, a partir de fontes escritas e orais que assinalam efeitos daquela conjuntura na vida política e social do município. O enfoque destaca o contexto político da cidade no momento do golpe e suas reverberações. Busca entender o posicionamento de grupos políticos e da sociedade civil urbana local em relação a esse período. Desse modo, almeja-se compreender acontecimentos ocorridos em Santo Antônio de Jesus numa tentativa de superar os silêncios que pairam sobre as ligações da política local com regime estabelecido em 1964. As principais fontes para este trabalho são, a saber: Atas da Câmara e documentos do Arquivo Municipal de SAJ, periódicos, livros de memória e depoimentos orais. Palavras-chave: adesão, regime civil/militar, Santo Antônio de Jesus.

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Débora Ataíde Reis

Graduada pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) deboraataide@yahoo.com.br

Militância e maternidade no contexto da Ação Popular

Durante a ditadura militar brasileira, a militância de esquerda resultava num entrelaçamento entre vida privada e prática política, cuja situação de clandestinidade exigia total abnegação dos(as) integrantes destas organizações. Neste contexto, mulheres militantes engravidaram e optaram por terem seus filhos, passando a conviver com a tentativa de conciliação entre maternidade e militância, o que trouxe para algumas delas a culpa pela possibilidade de exporem seus rebentos à violência do regime e/ou por precisarem se afastar repentinamente das suas crianças para protegêlas. Em determinados momentos, o conjunto destes impasses, dentre outros motivos, resultou em tomadas de decisões relativas à permanência ou abandono das suas atividades políticas. Depois de muitos anos, algumas revelaram os seus dramas em meio a uma memória acerca das suas militâncias políticas tendo como instrumento de exposição a modalidade da autobiografia. Este foi o caso de Derlei Catarina de Luca e Catarina Meloni, militantes da Ação Popular no período em questão. É sobre o drama vivenciado por estas militantes na busca da conciliação entre atividade política e maternidade, além da culpa vivenciada por terem se afastado dos seus rebentos, que este trabalho se debruça, buscando pensar na questão da maternidade como uma construção histórica e social pautada em representações, e como parte integrante das identidades femininas, cujo modelo da mulher-mãe se impõe de forma considerável. Palavras-chave: Maternidade, militância, Ditadura militar brasileira.

Diego Carvalho Corrêa

liberiaz@hotmail.com Ações políticas, historiografia e o golpe de 1964 em Feira de Santana-Bahia O golpe de 1964 resultou na ascensão de militares ao poder executivo e uma ditadura civil/militar que duraria duas décadas, dirigida pelas forças armadas e grupos civis, respaldada por vários interesses do capital nacional e imperialista. Hoje já há uma série razoável de produções historiográficas e nas Ciências Humanas e Sociais sobre o golpe e o período de governo da chamada “revolução”, resultando daí diversas determinantes a serem consideradas sobre os processos históricos que o precedem. A nos exige certa divagação sobre tema que apresenta algumas possibilidades interpretativas impondo a pesquisa uma posição quanto ao evento. Com o desenrolar do golpe a partir do sudeste e centro-oeste do país, parte dos grupos dominantes da Bahia e aderiram à nova combinação política nacional e mesmo a configuração do governo Estadual se modificou em um novo acordo político, Lomanto Jr., que desenvolvia um governo próximo das proposições reformista de João Goulart, ficou sem alternativas, sendo 116


forçada sua adesão aos golpistas. O golpe permitiu aos setores mais conservadores da UDN partido, uma posição política privilegiada, por outro lado, houve o abandono por setores mais abrandados e alguns liberais que se dispuseram contrários ao golpe. Feira de Santana foi um dos lugares do Estado onde esboços de resistência ao golpe foram encontrados. Francisco José Pinto, prefeito entre 1963-64, ficou mais de um mês após o golpe no governo, tendo tempo suficiente para manifestar planos de resistência. Juntamente com outros sujeitos, planejava uma aliança da guarda municipal com o Tiro de Guerra para resistir ao golpe, o que não aconteceu. Pinto tinha por intenção fortalecer uma resistência regional para ajuntar-se com o governo federal, sendo forçado a desistir depois da notícia do abandono do presidente da capital federal. Foi da UDN local que saiu a deposição de Francisco Pinto, caso normal em todo país no período a denuncia de opositores deste partido e do golpe, aproveitando a vaga insurrecional para afasta-los do poder. Na Bahia o golpe mostrou a possibilidade de afastamento de inimigos políticos em outras prefeituras, como as deposições do prefeito de Vitória da Conquista, Pedral Sampaio, e de Salvador, Vigildásio Senna. Diante da situação histórica, observa-se a baixa produção sobre a interpretação de tal momento na Bahia, carecemos de mais publicações e momentos de debates para amadurecimento de novas pesquisas com novas perspectivas.

Edilza Sotero

edilzasotero@yahoo.com.br Negros e representação política no período pós Estado Novo: uma história contada a partir das páginas do Jornal Diário Trabalhista (1946-1948) A comunicação tem por objetivo contribuir para análise da nova fase do protesto negro no Brasil, possibilitada pela abertura democrática pós Estado Novo. Esse novo ciclo de mobilizações se diferencia daquele em que a Frente Negra Brasileira foi uma das principais representantes e que se desarticulou durante a ditadura Vargas. Para tanto, procurarei analisar o período correspondente ao trabalhismo “sem Getúlio Vargas” no poder, que abriu espaço para novos atores e diferentes correlações de forças na disputa dentro e em torno do Estado. Trabalharei com a hipótese de que atores pertencentes a essa segunda fase de mobilização negra se utilizaram do conjunto de oportunidades específicas desse período para forjar um ativismo de aliança com forças já estabelecidas, em busca de (re)introduzir a sua “pauta negra” no meio político nacional. Irei analisar um episódio narrado nas páginas do jornal Diário Trabalhista, no qual Abdias do Nascimento tinha a função de repórter e mantinha a coluna “Problemas e aspirações do negro brasileiro” desde janeiro de 1946, data em que o jornal foi fundado. O episódio a que me refiro é a candidatura de Abdias ao cargo de vereador do Distrito Federal, nas eleições gerais de 19 de janeiro de 1947, com ampla cobertura do jornal. 117


Grimaldo Carneiro Zachariadhes Professor da Secretaria Municipal do Rio de Janeiro. Mestre grima1@ig.com.br

Entre a Cruz e a Espada: o arcebispado de D. Avelar Brandão Vilela durante a Ditadura Militar

Em 30 de maio de 1971, D. Avelar Brandão Vilela tomava posse como arcebispo da Sé primacial do Brasil, substituindo D. Eugênio de Araújo Sales que tinha assumido o arcebispado do Rio de Janeiro. D. Avelar projetou-se nacionalmente pelas funções que assumiu junto à CNBB, chegando a ser vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, em 1964. D. Avelar se tornaria também presidente do CELAM - Conselho Episcopal Latino Americano, tendo por isso uma grande responsabilidade na coordenação da Conferência de Medellín, em 1968. Já comandando a arquidiocese de Salvador seria nomeado Cardeal pelo Papa Paulo VI, em 1973. D. Avelar Brandão Vilela é tido como um bispo moderado em suas posições políticas e sociais. Ele mesmo se atribuiu esse adjetivo em várias ocasiões. O arcebispo de Salvador tentava dialogar com os vários setores da sociedade evitando entrar em radicalismos, deixando sempre a porta aberta para todos. Este artigo pretende abordar a atuação do Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela no período de seu arcebispado na arquidiocese de Salvador durante a ditadura militar. Utilizando, principalmente, a documentação do seu arquivo pessoal, procurarei demonstrar a atuação do prelado em um Regime de exceção que se pautou pela violação dos direitos humanos e a restrição às liberdades individuais. Demonstrarei, também, a tentativa do arcebispo de Salvador de procurar dialogar com os vários setores da sociedade tentando ser um moderador dos conflitos sociais e políticos. Palavras-chave: D. Avelar, Ditadura Militar, Igreja Católica.

Igor Gomes Santos

santosig@uol.com.br A “política de Marte”, do Comitê ou do PMDB?: Posições e mobilizações da esquerda baiana na campanha das “Diretas Já!” em Feira de Santana Dois partidos disputavam a representatividade das oposições no Brasil na década de 1980: MDB(PMDB) e o PT. A campanha das “Diretas Já!” foi palco dessas disputas. Além do PT e do PMDB, outros agrupamentos políticos, ainda na clandestinidade, também tinham sua compreensão acerca do movimento das “Diretas Já!” e desenvolveram suas táticas em meio a esse movimento de massas. Organizações que atuavam no PT também entendiam de variadas formas aquele complexo processo político de restauração da formalidade democrática. Estudei as “Diretas Já!” na Bahia através do comitê pró Diretas em Feira de Santana, palco de diversos conflitos entre agrupamentos partidários e sujeitos da política Estadual e nacional. 118


O texto ressalta a hegemonia, isto é, capacidade de direção por meio do consenso e de formas múltiplas de coerção (Gramsci), que o PMDB estabeleceu durante este evento na cidade e destaca as reviravoltas táticas em torno da derrota da lei Dante Oliveira. Depois o texto destaca uma nova campanha pelas eleições diretas em 1988, quando do adiamento em um ano das eleições diretas para presidente. Porém esta campanha não conta com a participação do PMDB e os rumos deste novo comitê não conseguem alcançar a proporção do movimento anterior. Nossas fontes foram jornais locais, cartas e manifestos dos Partidos e do comitê pró “Diretas Já!”.

Murilo de Souza Fernandes

Graduando pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) murilofernandes777@hotmail.com

Os estudantes do PCB na Universidade da Bahia vistos pelas lentes da repressão no pós-1964

Essa comunicação apresenta fragmentos da análise dos militares a respeito do setor estudantil filiado ao Partido Comunista Brasileiro (PCB) que atuava na Universidade da Bahia (UBa) antes do golpe de 1964. Como fonte primária foi utilizado o processo BNM 393, que contém cerca de 2.500 páginas do Inquérito policial militar (IPM) aberto para investigar a “subversão” no meio estudantil baiano. Os IPMs foram institucionalizados em abril de 1964 pelo governo Castelo Branco para a repressão política e enquadraram sindicalistas, camponeses, intelectuais, membros de partidos, organizações de esquerda e estudantes. Escolhemos dentre os documentos que constam no processo, um em especial, que servirá como base de auxílio ou fonte principal de diálogo para proceder com a pesquisa; trata-se de uma investigação realizada pelos militares nos primeiros meses após o golpe de 1964, onde constam várias informações relacionadas às organizações que participaram do “movimento subversivo na Bahia”, ou foram os “mentores da subversão”, segundo os militares. Essa documentação (doc.5219-5234), composta por 16 folhas, é uma analise superficial feita pelos agentes da repressão para apurar as atividades dos movimentos de esquerda na Bahia. Além dessa documentação, faremos referências a outros documentos para ilustrar as questões centrais da pesquisa. Esperamos apresentar tópicos sobre como a repressão viu a organização, ou seja, a ação do PCB na Universidade da Bahia (UBa). A documentação utilizada foi apenas explorada parcialmente, mas é bem sugestiva quando se trata do discurso anticomunista e da criação de imagens negativas e depreciativas da ação dos comunistas no meio estudantil. Acreditamos que só depois de uma analise mais detalhada, no decorrer da pesquisa, conseguiremos melhores resultados, e apartir desses resultados fechar lacunas presentes na historiografia sobre o período estudado. Palavras-chave: representação, resistência, Movimento Estudantil.

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Rafael Vasconcelos Cerqueira Oliveira

vasconcelos_his@yahoo.com.br Música Brega: crítica social e política nas canções de Odair José O presente trabalho busca estender uma discussão iniciada na obra de Paulo Cesar de Araújo – Eu não sou cachorro, não: música cafona e ditadura militar lançada em 2007, editora Record – RJ. Na obra o autor nos apresenta diversos cantores “brega” e indica uma participação política ativa no contexto social brasileiro entre os anos 60 e 80 destes artistas. A discussão provoca uma revisão documental dos arquivos existentes e uma rediscussão por parte dos historiadores e pesquisadores da canção, e sua relação com a ditadura militar. Este trabalho é fruto de uma pesquisa em andamento, mas as fontes documentais tratadas até o momento nos apontam para uma posição contraria a apresentada pela historiografia precisando ser comprovada. Entretanto, este trabalho, diferentemente do livro de Araújo, que fez um levantamento geral do citado campo musical, coloca para discussão apenas canções do compositor Odair José, um dos artistas mais censurados da música brasileira, mas que é sempre tido como um cantor “alienado”. Vamos discutir através dos processos existentes no (DCDP), presentes no Arquivo Nacional (AN) em Brasília e no (SCDP), disponíveis no AN no Rio de Janeiro, observando as justificativas fornecidas pelos censores enquanto argumento para o veto ou liberação de determinada canção, como estas canções e artistas sofreram censura política. Para tanto, considero os discursos dos técnicos federais da censura do DCDP e SCDP, no período militar, investigando o discurso enquanto prática político-ideológica, entendendo-o como apresentado por Fairclough, como sendo aquele que: [...] estabelece, mantém e transforma as relações de poder e as entidades coletivas (classes, blocos, comunidades, grupos) entre as quais existem relações de poder. O discurso como prática ideológica constitui, neutraliza, mantém e transforma os significados do mundo de posições diversas nas relações de poder. (FAIRCLOUGH, 2001:94) Assim compartilho da afirmativa de Kushnir de que toda censura é política, portanto, diverge da ideia de divisão na censura entre moral e política. Perceber Odair José como um dos marcos da canção brasileira e perceber que muito além do rótulo de “alienada”, suas canções dispunham de uma crítica social e política forte, mas que por muito foi negado pela historiografia. Toda essa lacuna existente se pauta inicialmente pelo fato que neste período a “MPB” esteve fortemente ligada a uma elite nacional. A “MPB designaria uma música mais refinada, adulta, pronta para o consumo das elites [...]” (SALDANHA, 2008: 8)

Zózimo Trabuco

zimotrabuco@hotmail.com A missão integral da igreja: Protestantismo e abertura política (1974-1985) Este artigo compartilha algumas reflexões da pesquisa sobre a relação entre os 120


evangélicos e as esquerdas durante a abertura política. O movimento de missão integral gestou-se nos processos de interação e conflito entre religião e política após a segunda guerra mundial, expressando o modo como cristãos e igrejas repensaram seu papel na situação social, cultural e política da América Latina. A princípio, a missão integral deslocou-se do campo fundamentalista sem avançar para o ecumenismo protestante. A abertura política foi o momento histórico em que a Teologia da Missão Integral, expressão intelectual do movimento, se constituiu como uma alternativa evangélica à Teologia da Libertação, influenciando militâncias sociais e reflexões teológicas entre conservadores não fundamentalistas e liberais moderados. Foi a partir de uma rede de movimentos de juventude e cooperação interdenominacional que se formaram lideranças, entidades e publicações do protestantismo continental que exerceram uma mediação entre as comunidades religiosas e a conjuntura política na construção do paradigma da missão integral. Mediação, entretanto, pressupõe uma interferência recíproca dos dois lados da equação, e nesse sentido a conjuntura política foi, simultaneamente, propícia à emergência dos evangélicos como agentes no espaço público e desafiadora dos pressupostos e interesses religiosos dentro do quadro de pluralismo que se instaurava de maneira conflituosa pela presença de diferentes forças sociais, políticas e culturais. Apresento a formação do movimento de missão integral a partir do itinerário das suas principais entidades, eventos, lideranças e publicações. Em seguida analiso suas intervenções no campo religioso e no campo político entre 1974 e 1985, considerando: 1) Os interlocutores religiosos e seculares que os teólogos da missão integral elegeram para se diferenciar, opor ou aproximar, 2) Como a missão integral serviu para setores do evangelicalismo articularem uma esquerda evangélica através de uma agenda social próxima ao campo das esquerdas.

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Simpósio Temático 12 ESTADO, NAÇÃO E CIDADANIA NO BRASIL DOS SÉCULOS XIX E XX Coordenadores: DILTON OLIVEIRA DE ARAÚJO

Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). / Doutor em História SERGIO ARMANDO DINIZ GUERRA FILHO

A

formação da nação brasileira não foi resultado necessário e imediato da ruptura com Portugal em 1822. Um longo caminho foi percorrido desde então, sendo mesmo difícil precisar a cronologia da sua consolidação, bem como o instante em que se definiriam com clareza o território desta nação e quem eram os nacionais. De um lado, o Estado erguido em 1822 e centrado no Rio de Janeiro tecia os seus laços, buscando agrupar as partes da antiga América portuguesa; de outro, regiões inteiras e variadas municipalidades escapavam, por uma ou outra razão e por formas diversas, à autoridade do centro, realidade que não se limitou o período monárquico, mas adentrou o republicano. Este simpósio terá como seu núcleo fundamental as discussões em torno da temática das relações de autoridade entre centro e localidades, compreendendo o período dos finais da “fase colonial”, passando pelo século XIX monárquico e estendendo-se por toda a fase republicana. O seu objetivo é a promoção de debates a respeito da construção do Estado e da nação brasileiros; da relação dessa comunidade nacional com as regiões e as localidades durante o período em foco; da cidadania e suas transformações; das rebeliões políticas e sociais, das suas ideias e participantes; e das ações políticas do Estado visando ao seu próprio fortalecimento. Antonio Cleber da Conceição Lemos

Graduando pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) cleberhist@hotmail.com

Um Balanço bibliográfico sobre a rebelião de escravos africanos durante a guerra de independência na Bahia

A guerra de independência do Brasil na Bahia foi um momento que contou com a presença de agitação popular e de rebeldia por parte de vários grupos da sociedade baiana, entre eles, os escravos de origem africana. No momento da guerra, mais especificamente, na data de 19 de novembro de 1822, durante as batalhas de Pirajá, aconteceu um levante de escravos africanos contra as tropas baianas. Não pretendemos, 122


neste texto, fazer uma análise sobre esse levante, nossa pretensão é discutir, à luz da história social, como a rebelião foi tratada pela historiografia da independência e relacionada aos fenômenos da resistência escrava e da formação do Estado nacional brasileiro. Objetivamos, especificamente, entender como esse levante está presente nas narrativas dos textos estudados, como estes o inserem nas discussões sobre a guerra e sobre os fenômenos acima mencionados, além de entender o nível de autonomia de ação política que a historiografia credita aos sujeitos que empreenderam a rebelião. Para isso, traremos, além da historiografia elencada, o relato do oficial combatente da guerra de independência Inácio Accioli, Memórias Históricas e Políticas da Província da Bahia, por esta ser uma obra que, apesar de não ser historiográfica, é a mais antiga crônica que temos conhecimento de mencionar a rebelião em questão dentro de uma narrativa de fatos ocorridos durante a guerra, além desse relato ser uma fonte para uma parcela da historiografia aqui discutida. Nosso embasamento teórico é a discussão em torno da história social, em especial, a “história vista de baixo”. Identificamos que historiadores que se preocuparam em discutir as tensões internas da sociedade baiana ocorridas durante a guerra de independência realizaram avanços no que concerne à discussão sobre a relevância da rebelião escrava aqui referida. Palavras-chaves: escravos africanos, Guerra de Independência, historiografia.

Carlos Nássaro Araújo da Paixão

Professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano (IFBaiano). Mestre em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) nassaro_batera@yahoo.com.br

Composição e ações do legislativo local: Alagoinhas, 1930-1949

O período compreendido entre os anos de 1930 e 1949 foram marcados por intensas turbulências e modificações significativas na política e na formação do Estado Brasileiro. As ressonâncias de todas estas alterações de alguma maneira afetaram as relações de poder na política local e no funcionamento do poder público em Alagoinhas, no Estado da Bahia. As inúmeras marchas e contramarchas do processo de definição do sistema político nacional afetaram sobremaneira a organização dos poderes executivo e legislativo na cidade. Este texto se propõe a analisar o comportamento, a composição e as alterações do grupo que detinha o poder político local no período supracitado, além disso, busca entender as funções e o funcionamento das casas legislativas que tiveram sua atuação alterada devido a fatores ocorridos a nível estadual e/ou federal. Há uma análise sobre o jogo de poder na cidade após 1930, como se comportaram aqueles que estavam envolvidos com as instâncias de poder, as transformações na forma de acesso a este e como as mudanças que ocorreram no Estado brasileiro e suas alterações institucionais e constitucionais provocaram alterações no funcionamento e nas características do legislativo local. O aumento gradativo do poder de intervenção e controle do poder público, 123


independente da esfera, seja ela, municipal, estadual ou federal, foram analisados através do estudo de projetos de lei discutidos na Câmara Municipal, que visavam resolver a crise econômica que se abateu sobre a cidade na década de 1930. Projetos de normatização das construções de prédios comerciais e residenciais, e de controle do abate e comércio da carne, e dos pesos e medidas dos comerciantes, contribuíram para fortalecer a política de intervenção do Estado na vida dos cidadãos. Trabalhando com a idéia da intervenção e do controle, pode-se perceber uma mudança sensível na forma de ação e da relação do poder público para com o conjunto da população. Palavras-chave: Alagoinhas, cidade, poder político.

Danielle Machado Cavalcante

Graduanda em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) danielle_mcavalcante@yahoo.com.br

Maria Bárbara Garcês de Madureira Pinto: suas cartas, seu cotidiano e sua administração no Engenho de Aramaré (1821 – 1824)

O presente artigo tem por objetivo apresentar uma breve análise sobre o cotidiano da família Pinto da França, às vésperas do processo da Independência do Brasil, e consequentemente da Bahia. Para tanto, colocamos em destaque a figura de Maria Bárbara Garcês Madureira Pinto, que com a saída do seu marido, Luis Paulino D’Oliveira Pinto da França para Portugal (nomeado Deputado das Cortes Constituintes) passou a administrar diretamente o Engenho da Família situado em Aramaré, Cachoeira – Bahia. Nesse trabalho, iremos salientar as dificuldades e preconceitos encontrados por D. Maria Bárbara, o modo de como conseguia tramitar pelos parâmetros que a sociedade estabelecia naquele período (1821-1824), bem como, lidar com as questões econômicas, sem a presença do marido e, por fim compreender seu cotidiano e como se organizava ao longo desse momento. Nesse sentido, procuramos entender como D. Maria Bárbara conseguia vivenciar os acontecimentos que perpassavam pela Bahia durante os anos de 1821-1824, uma vez que, por ser mulher, resistia ao ambiente político, social e econômico da sua época. Assim, este trabalho pode fornecer subsídios para que possamos esboçar reflexões inerentes ao cotidiano das mulheres e suas vivencias. Palavras-chave: Independência, família, Maria Bárbara.

Dilton Oliveira de Araújo

Professor da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Doutor em História diaraujo59@gmail.com

As lutas de famílias em Pilão Arcado e o processo de formação do Estado- nacional (1842-1850)

A comunicação terá como foco a narrativa e a análise da luta entre famílias que assolou 124


a região de Pilão Arcado e de outros municípios em torno do Rio São Francisco na década de 1840, contra a qual a autoridade constitucional dos governos provincial e geral não conseguiu efetivar-se, pois o seu desfecho somente se deu após a quase total eliminação física de um dos grupos inseridos no conflito, o grupo familiar dos Guerreiros e os seus aliados. Essa luta entre facções nos revela uma realidade regional da qual emerge a ausência quase completa de autoridade dos empregados públicos, sobretudo daqueles vinculados às forças militares e ao poder judiciário. Dessa forma, a partir da compreensão a respeito da realidade do conflito local a ser apresentado, o trabalho buscará realizar preliminarmente o debate da noção de centralização política do Estado imperial para aquele momento, noção esta comumente aceita pela historiografia. Do mesmo modo, fará a tentativa de compreender a medida do processo de construção de uma nação brasileira, levando em consideração que o território a ela vinculado e que as populações por esse território circunscritas ainda se encontravam longe da condição de submissão à autoridade do governo central e das suas leis. Palavras-chave: autoridade, sertão, nação.

Fernanda Villela Bastos

Mestranda da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES fernanda.villelab@yahoo.com.br

Quando os intelectuais “roubam a cena”: o Conservatório Dramático da Bahia e sua missão “civilizatória” (1855-1870)

Em meados do século XIX, o teatro era mais do que um local de entretenimento, era uma escola de moral e de bons costumes, um instrumento de civilização. Além de ser uma espécie de centro de convergência cultural de toda a cidade, lugar onde poetas, artistas e políticos encontravam público e sentiam-se a vontade para expôr ideias, o teatro era visto também como um perfeito instrumento capaz de mudar o comportamento e refinar os hábitos da população. O interesse em que seus palcos tivessem este tipo de “missão” vinha de membros da elite política e intelectual voltada para a consolidação do Estado Imperial através da manutenção da ordem e da difusão do ideal de construção de uma civilização. Enquanto a ideia de ordem relacionava-se com a manutenção dos privilégios das classes dominantes e das instituições ligadas aos poderes constituídos, a necessidade de civilizar equivalia a uma ação didática, a uma difusão de princípios como razão e progresso e de práticas e valores considerados próprios da “boa sociedade”. Para que o teatro cumprisse com tal missão era necessário primeiramente impedir que ele fosse um espaço altamente perigoso por permitir a expressão inflamada da opinião pública e, mais do que isso, era necessário um controle rigoroso sobre o conteúdo dos dramas e comédias para que eles buscassem passar lições ao público, moralizá-lo. Inicialmente a fiscalização dos teatros era de responsabilidade da polícia, mas, com o tempo, foi-se percebendo que a censura realizada por ela se tornava cada vez mais arbitrária. Parecia urgente 125


a entrada dos “homens letrados”, aqueles que de fato tinham conhecimento sobre arte e literatura, no campo da censura teatral. Isso acontece em 1843, no Rio de Janeiro, com a fundação do Conservatório Dramático Brasileiro e, mais tarde, na Bahia, em 1857, com a fundação do Conservatório Dramático da Bahia idealizado por Agrário de Souza Menezes sob inspiração do Conservatório de Lisboa. Palavras-chave: teatro, censura, civilização.

Helen Mariana Cardoso Firmino

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) helenkardoso@hotmail.com

“Terra de negros”: migração e cidadania na Costa do Dendê (1888/1910)

Este trabalho discute elementos acerca do processo migratório ocorrido após a abolição da escravatura para a região da Costa do Dendê. Consideramos relevante e de grande contribuição para a história analisar o destino dos libertos e seus descendentes após o 13 de maio, quais as expectativas de liberdade, quais fatores eram levados em consideração na escolha migratória, de que forma os ex-cativos foram inseridos na sociedade. A contribuição deste estudo é ampliar o conhecimento sobre as experiências históricas dos afro-brasileiros na Costa do Dendê após a emancipação. Palavras-chave: migração, Costa do Dendê, cidadania.

Luiza Campos Souza

Mestranda do PPG em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) luiza_base@yahoo.com.br

O banditismo rural e administração da justiça no Alto Sertão da Bahia no contexto de consolidação do Estado nacional: primeiras notas de pesquisa

No Brasil, a quase totalidade dos estudos sobre banditismo rural está direcionada ao final do século XIX e à primeira metade do século XX, trata-se de uma associação que limita o banditismo ao fenômeno do cangaço. A presente comunicação pretende abordar o banditismo rural no Alto Sertão baiano na primeira metade do século XIX. Discutirá o conceito de banditismo e suas implicações teóricas para o entendimento do fenômeno na região de Caetité e Rio de Contas. O aspecto teórico é necessário na medida em que novas possibilidades de interpretações possam emergir. No Brasil, os mais novos estudos sobre banditismo rural revelam grupos que se formavam por motivações complexas e variadas, entretanto, o tema ainda é pouco explorado pela historiografia. A apresentação visará relatar os conflitos sociais gerados pelos bandos que atuaram na região, em especial o grupo de Leolino Pinheiro Gangussú, que, na sua origem não correspondia às classes subalternas, 126


já que o mesmo era membro de grupos detentores de posses na região. Em 1845, LeolinoCangussú se envolveu em uma “contenda” e tornou-se um foragido das forças públicas na Província da Bahia, passando a agir na marginalidade com seu grupo e aterrorizar as populações de diversas vilas em busca de vingança. Procurará abordar também as relações estabelecidas pelos bandidos na região, focando sobre a administração da justiça local no contexto de consolidação do Estado nacional. Palavras-chave: banditismo, sertão, violência.

Mariana Ellen Santos Seixas

Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) seixas.marianas@gmail.com

Aberturas Legislativas para os Adeptos do Protestantismo no Brasil Monárquico e Episódios de Perseguição Religiosa na Bahia

Esta comunicação visa apresentar alguns dados relativos às modificações legislativas realizadas em favor de comunidades não-católicas, mais especificamente os protestantes, na segunda metade do século XIX. Com a fundamental iniciativa de políticos liberais, importantes mecanismos legais foram construídos para garantir um mínimo de sobrevida jurídica e civil a uma parcela da população que, mesmo minoritária, condensava boa parte das expectativas de construir uma nação mais progressista e moderna, inspirada nos parâmetros estadunidenses. Assim, entendese que a abertura do país ao protestantismo foi, seguindo o raciocínio de Boanerges Ribeiro, consciente e deliberadamente projetada, assim como a manutenção do catolicismo romano sob tutela e administração estatal, garantindo que os limites da tolerância ao protestantismo não fossem fixados pelo Vaticano, nem pelo Clero, mas sim pelo Governo Imperial, de acordo com as diretrizes da Constituição outorgada em 1824 por D. Pedro I. Analisaremos, ainda que brevemente, as medidas legislativas tomadas em favor do exercício de cidadania das comunidades protestantes, quais sejam a de separar um espaço nos cemitérios para os enterramentos de acatólicos, concessão de liberdade de propaganda (venda de Bíblias), e o direito de celebrar casamento com efeitos legais e registrar os nascimentos (lembrando, contudo, que a Lei 1.144 de 11 de setembro de 1861 e o Decreto 3.069/1863 não aprovaram o casamento civil) considerando-as fundamentais, ainda que atingissem um número não muito grande de pessoas. No que concerne à participação no sistema político, o Decreto 3.029/1881 (Lei Saraiva) eliminou a filiação à religião do Estado como condição para integrar a Assembleia Legislativa. Contudo, é preciso discutir ainda qual proveito pode ser tirado destas leis, uma vez que os protestantes eram ainda pouco numerosos. Entretanto, este é um fator a mais para acreditar que o Estado brasileiro criou condições para a introdução e estabelecimento do Protestantismo no país, recebendo-o voluntariamente, inclusive. Pretende-se também apresentar 127


alguns casos de perseguição religiosa, ocorridos a partir de Salvador, e que, ainda que nem sempre tenham sido permeados pela violência física, demonstram a dificuldade ou a recusa de algumas instituições e pessoas particulares em reconhecer a lei posta como reguladora dos limites de comportamento. Palavras-chave: protestantismo, Legislação, imprensa.

Moises Amado Frutuoso

Graduando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) moises.frutuoso@yahoo.com.br

Antilusitanismo e identidades políticas em Minas de Rio de Contas - 1822-1823

Este trabalho pretende discutir como os segmentos da população da Vila de Nossa Senhora do Livramento das Minas do Rio de Contas se mobilizaram num sentido de diferenciação e relativa autoidentificação, numa disputa política permeada pelo antilusitanismo durante o processo de Independência da Bahia. O conflito em curso no Recôncavo sob o comando do Conselho Interino de Cachoeira, com o objetivo de retomar a capital da província sitiada pelas tropas portuguesas, potencializou as tensões sociais existentes em algumas regiões da província. No caso de Minas do Rio de Contas, expressou-se através de sentimentos antilusos e na elaboração de novas identidades políticas em sua esfera social. Palavras-chave: Antilusitanismo, Identidades Políticas, Rio de Contas.

Rogério Barreto Santana

Mestrando em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Bolsista CNPq rogeriobsantana@hotmail.com

Os limites do Liberalismo no Estado Imperial Brasileiro?

Partindo de um olhar simplista, ingênuo ou a-histórico, entende-se por Liberalismo uma visão de mundo “flutuante” ou desencarnada a partir das experiências inglesa, americana ou francesa e que, quando se depara com realidades “atrasadas”, fica “fora do lugar”, “deformada”, “traída”, como se não “rendesse” em determinado lugar o que teria “rendido” no lugar a que pertenceria “originalmente”. No nosso entender, as linguagens políticas e conceitos são plurissêmicos; eles transitam de região para região e são apropriados por segmentos sociais que os julgam úteis para sua compreensão de mundo e para atingirem seus objetivos políticos. Considerando tais linguagens políticas e conceitos na sua amplitude, faria algum sentido falar em “Limites do Liberalismo no Estado Imperial Brasileiro”? A escravidão constituiria o maior entrave para o desenvolvimento do pensamento liberal no Brasil? Conforme nosso argumento, o que se pode discutir é que, quando o Liberalismo (ou qualquer outra doutrina) é apropriado em realidades muito diversas, ele tende a ser praticado 128


num âmbito mais restrito. Mas isso não significa, em outras palavras, que ele esteja “limitado”. Esta, portanto, será nossa proposta de comunicação que, entre outras coisas, visa mostrar que durante o século XIX, toda defesa da escravidão se escorou no Liberalismo, e essa triste embora eficaz fusão ajuda a esclarecer o fenômeno da dupla expansão da liberdade e do cativeiro, da riqueza e da miséria, num país que ansiava (e ainda anseia) por pertencer ao futuro da civilização e do progresso humano. Palavras-chave: escravidão, Liberalismo, limites.

Sérgio Armando Diniz Guerra Filho --sergioarmando@ig.com.br

Identidade, Alteridade e Estereótipo: Portugueses e Brasileiros na Bahia do Primeiro Reinado

Esta comunicação pretende discutir as narrativas identitárias e os estereótipos construídos durante o processo de formação do estado e da nação brasileiros na Bahia, entre 1820 e 1831. A anterior identidade portuguesa - que guardava os portugueses da Europa, da América, da África e da Ásia - viu-se cindida durante a ruptura política do antigo Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, dando origem ao Império do Brasil. Decorrente deste processo histórico, o surgimento de uma identidade política coletiva de caráter nacional - a brasileira - demandava a criação de uma narrativa identitária e de um estereótipo que, de um lado, legitimava a entidade nascente, de outro, demarcava as diferenças com a antiga identidade que era então descartada. Esta operação se dava em meio a conflitos sociais que caracterizavam a Bahia da primeira metade do século XIX.É perceptível, ao analisarmos a documentação da Bahia da época, que esta operação de constituição da especificidade do caráter identitário brasileiro se pautava em duas instâncias, as quais não estavam, no momento em que eram formuladas, cindidas. Uma, concreta e individualizada, buscava fundamentarse nas posições e ações políticas que tiveram os diversos personagens do período, em defesa ou contrárias à “Causa Brasileira”; outra, subjetiva e generalizada, buscava a definição de um “ethos”, de qualidades de caráter e de vocação, que comporiam o indivíduo brasileiro e, doravante seu contrário, o indivíduo português.

Tiago Soares da Silva e Silva

Graduando em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista FAPESB tiagosilvas17@hotmail.com

A Batalha Antiépica: O povo na guerra de Independência do Brasil na Bahia. (1822-1823)

O trabalho A Batalha Antiépica: O povo na guerra de Independência na Bahia analisa a participação popular na Independência da Bahia, presente nas Tropas do 129


Exército Pacificador, entre 1822 a 1823, período do conflito, abordando quem é esse povo, em que condições lutava, se articulava e por quem ou o porquê realmente batalhava. Estando a província sem a articulação de um exército nacional, analisar os motivos da participação popular na guerra é fundamental para entender por quais motivos as camadas populares participavam do combate, pois as mesmas não estavam sendo dirigidas unicamente por um sentimento de nacionalidade, fazendo-se necessário identificar outras motivações pessoais, que tornou possível a participação massisa do povo, dentro do exército pacificador, primeira experiência de um exército brasileiro, que tornou possível a expulsão definitiva dos portugueses que desejavam a recolonização. Cabe ainda discutir se as motivações dos populares foram concretizadas, no pós-guerra e de que maneira fizeram valer suas respectivas revindicações. Esta pesquisa também apresenta uma pequena revisão historiográfica da Independência do Brasil, mostrando que este importante acontecimento histórico não foi um evento polarizado pela ação do Imperador nas cortes fluminenses, mas um episódio de repercussão regionalizada, singularizado de diferentemente maneiras, segundo as relações políticas existentes nos diversos espaços do Brasil Colônia. Palavras-chave: povo, independência, exército.

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Simpósio Temático 13 ESTUDOS SOBRE AS PRÁTICAS CULTURAIS AFRO-BRASILEIRAS Coordenadores: JOCENEIDE SANTOS LUIZ AUGUSTO PINHEIRO LEAL

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o final do século XIX alguns intelectuais como Nina Rodrigues, Silvio Romero e João Ribeiro começaram a apontar e estudar as práticas culturais afro-brasileiras. O primeiro intelectual atendeu a uma provocação de Silvio Romero que mencionou que os africanos estariam morrendo e que por isso deveriam ser estudados naquele momento. Esses intelectuais se preocuparam com a origem dos africanos e suas práticas, e alguns desses trabalhos apontavam continuidades nessas manifestações. No período havia a discussão se os bantus ou sudaneses foram os majoritários. No período, surgiram intelectuais em várias localidades como Pernambuco, Bahia e Pará e com pesquisas sobre temas diversos, alguns desses trabalhos foram discutidos nos congressos afro-brasileiros realizados na primeira metade do século XX. Atualmente, têm crescido as pesquisas sobre as nações dos africanos, sobre as práticas culturais afro-brasileiras e os estudos sobre as mesmas. E após a publicação da lei 10639/03, aumentou o número desses trabalhos com as temáticas citadas. Este simpósio tem como objetivo identificar e discutir práticas culturas afro-brasileiras e analisá-las, bem como os debates dos intelectuais sobre as citadas praticas. Assim, trabalhos sobre capoeira, batuques, as irmandades, candomblé, bem como trabalhos sobre os intelectuais que debateram esses temas no final do século XIX e primeira metade do XX serão debatidos no simpósio. Adriana de Jesus Sacramento

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES driquinhasacramento@bol.com.br

Feitiçaria e curandeirismo nos processos crimes- Caetité- BA 1920 e 1939

O presente estudo vai tratar dos diferentes sujeitos qualificados como curandeiros e feiticeiros nos processos crimes movidos em Caetité, entre os anos de 1920 e 1939. Nos processos crimes arrolados em Caetité, investigamos quem eram os indivíduos que exerciam a arte de curar naquele município e quais eram os argumentos usados por médicos, juízes, jornalista, inspetores sanitários e outros 131


grupos sociais letrados que denunciavam e julgavam as diferentes práticas curativas como perigosas á Saúde Pública. Nas peças dos processos crimes, analisamos os depoimentos dos acusados, os acusadores, as testemunhas, na tentativa de interpretar as relações sociais engendradas na crença em feitiçarias, forças ocultas, rituais mágicos e processos de curas que havia na sociedade de Caetité naquele contexto. Palavras – chave: feitiçaria, curandeirismo e tensões sociais.

Alaíze dos Santos Conceição ---alaizesantos@yahoo.com.br

“Não aprendi a rezar com ninguém, aprendi mesmo foi com meu destino!”: aprendizado das benzeções entre Rezadeirase Rezadores do Recôncavo baiano

Pensar o Recôncavo sul baiano pelo viés cultural e religioso nos conduz a identificar elementos múltiplos das vivências de sua população, sobretudo as representações acerca de Rezadeiras e Rezadores se sobressaem na memória coletiva. Nessa perspectiva, a comunicação presente visa refletir acerca do processo de iniciação desses sujeitos sociais nas benzeções, atentando para formas principais de tais indivíduos se ‘instrumentarizarem” no ofício da benzedura. A primeira vinculada a revelação divina de um dom, geralmente revelação feita a partir de um sonho e/ ou o acometer de uma doença; já a segunda refere-se ao fator experiência atrelado as observações cotidianas dessas práticas curativas. O ato de rezar traz consigo grande simbologia, sobretudo quando levado em consideração o seu teor suplicante e solidário, no qual se objetiva proteger o enfermo das mazelas físicas ou simbólicas que estão o assolando. Nesse sentido, “ a benção, objeto múltiplo e específico do ato de benzer, pode ainda possuir um efeito de exorcização do mal, que repara a tragédia, a dor, a aflição e o sofrimento Atento para a expressiva concentração das populações negras nessas práticas de cura que concedem, a estes sujeitos, um território dos saberes, sobretudo vinculados a um legado (res) significado na experiência da diáspora. Para tanto, as fontes orais despontam como veículo principal na investigação histórica, bem como as mesmas são de fundamental importância para entender as benzeções e a possibilidade de extirpação das doenças do corpo dos enfermos, uma vez que, é através das palavras “santas” que o mal é expulso. Palavras-chave: Rezadeiras/es, práticas culturais, benzeções.

Célio Augusto de Oliveira ---celioaugusto@ig.com.br

Um olhar sobre as comunidades negras no sertão baiano, na 132


passagem do século XIX para os primeiros anos do século XX: continuidade e descontinuidade

Neste trabalho apresentamos um estudo inicial a respeito da sobrevivência das comunidades negras do sertão na passagem do século XIX até a terceira década do século XX, aproximadamente. O estudo em questão tem como foco a mesorregião sertaneja do Norte de Minas Gerais e a Região Centro Sul da Bahia. Dialogando com o texto de Pierre Nora: Entre a Memória e a História: a problemática dos lugares, as bibliografias regional e outras fontes que tratam da situação das comunidades negras e do ambiente sócio cultural em que estão inseridas, percebemos que este contexto revela violência, poder e negociação, ocorridas num processo de continuidade, descontinuidade e permanência, nas relações que marcaram a memória e a história dessas sociedades. Partindo desse entendimento, temos uma visão mais esclarecida das paisagens material e imaterial que formam o sertão, para além de definições apenas como espaço geográfico. Este cenário sugere que a libertação dos negros no sertão baiano não foi um acontecimento que se deu apenas com a assinatura da Lei Áurea em treze de maio de 1888 que determinou o fim da escravidão no Brasil. Pelo contrário, foi um processo lento e residual, onde a lei representou mais um Ato Jurídico do que a inserção dos negros na sociedade brasileira como um todo. Palavras-chave: comunidade negra, memória, sertão, violência e negociação.

Celio Silva Meira --celliosilvameira@bol.com.br

Marília Flores Seixas de Oliveira

Professora Adjunta do DFCH e professora dos Mestrados de Letras: Cultura, Educação e Linguagem e de Ciências Ambientais da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em Desenvolvimento Sustentável pela Universidade de Brasília (UnB) marilia.flores.seixas@gmail.com

Cultura e oralidade nas memórias subterrâneas da umbanda poçõense ao culto de exu pombagira

A importância da religião no Brasil é muito grande, podemos dizer que somos um país religioso por excelência. E isto se refere tanto às religiões relacionadas ao sistema de crenças judaico-cristãs, como a católica e as evangélicas – incluindo-se aí uma grande variedade de tipos e vertentes -, quanto àquelas que se reportam também a outros sistemas míticos, originários em culturas diversas à hegemônica, como o budismo, o hinduísmo, o islamismo ou as de origem africana, que apresentam grande variedade local, constituindo um amplo leque de variações e hibridismos. A vinculação das pessoas com as religiões pode ser exclusiva, professada de maneira mais formal e fundamentalista, ou mesclada, com as pessoas participando de mais de um sistema religioso ao mesmo tempo. O vínculo religioso como constituidor de 133


identidade é forte, existindo mesmo para aqueles que não frequentam habitualmente nenhuma igreja: é comum o auto reconhecimento como católico, como protestante, como espírita, como umbandistas ou como membro de qualquer outra religião, apesar de não se manter uma religiosidade prática efetiva. Há, assim, diversas formas de uma ligação com o supremo, o sagrado, se processando das mais variadas formas, de acordo com a religião que a pessoa professa ou a crença que ela vem a ter. Muitas destas religiões não dispõem do suporte de textos escritos aos seus princípios dogmáticos ou a sua história, fundamentando os sistemas ritualísticos ou míticos na oralidade. Tomando como base a ideia da oralidade como suporte para as memórias subterrâneas de muitas religiões afro-brasileiras, e partindo de uma concepção de fé e de crença como uma busca de relação com o sobrenatural, este artigo desenvolve um estudo acerca do culto à entidade de Pombagira, discutindo também elementos sobre o surgimento da Umbanda no município de Poções, na Bahia, respaldada também por pesquisa de campo realizada entre 2011 e 2012 em terreiros locais. Palavras-chave: Cultura, memórias subterrâneas, umbanda, pombagira.

Elizete Silva

--cliosilva@yahoo.com.br

Religiosidades em trânsito: irmandade, candomblés e neopentecostais Flávia Lago de Jesus Pereira

Mestranda do PPG em História da Universidade de Federal da Bahia (UFBA) flavialagopereira@yahoo.com.br

Entre a Constituição e o Código Penal: repressão aos candomblés na Bahia republicana

O presente artigo discutirá algumas questões em torno da repressão aos candomblés baianos no contexto da Primeira república relacionando-a com os ideais e projetos de modernização e civilidade que estavam presentes em diferentes discursos, particularmente na imprensa e na jurisprudência. Com o advento do republicanismo no Brasil as novas elites letradas buscavam implantar novos projetos de nação que atendessem às aspirações de progresso. Fazia-se necessário reorganizar a política, as formas de ocupação do espaço urbano, modernizando as cidades e civilizando os costumes. Tornaram-se, portanto, questões cruciais a redefinição da concepção de família, do trabalho, do público e do privado, das experiências afetivas e da definição do papel da mulher e do homem. A moral familiar passa a ser central na reforma dos hábitos. Reconfigurar e desafricanizar as ruas libertando-as das práticas “bárbaras” e “primitivas” das populações pobres e negras tornou-se essencial para as elites na construção desta nova sociedade. É neste sentido que as populações mais pobres, 134


especialmente as negras, sofriam as consequências dos mecanismos de perseguição de suas práticas e vivências em diversos aspectos, particularmente no religioso. A repressão aos candomblés dentro deste contexto será analisada a partir do caso de Procopio Xavier, adepto do candomblé perseguido pela polícia na Salvador de 1920 e que recorreu ao serviço do advogado Constantino Souza. Após o sucesso do habeas-corpus impetrado por este Bacharel, o episódio tornou-se tema de debate nos jornais baianos, que criticavam a atitude do advogado em defender Procopio. Atacado em sua reputação e questionado sobre sua posição frente ao caso, o Bacharel escreveu uma série de textos publicados no Jornal A Hora em todo mês de junho daquele ano para discutir o caso à luz da legislação brasileira: a Constituição de 1890 (que em seu artigo 72 previa liberdade de culto) e o Código Penal de 1891 (que em seus artigos 156, 157 e 158 condenava práticas de curandeirismo, uso de talismans e magias, espiritismo, homeopatia, entre outros). Colocados entre a Constituição e o Código Penal os adeptos do candomblé precisavam encontrar estratégias de sobrevivência frente a intensa repressão que sofriam em suas práticas. Palavras-chave: candomblé, repressão, República.

Gabriella Oliveira Bonomo

Graduanda pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) gabybonomo.historia@hotmail.com

Irmãos de cor: A Irmandade Bom Senhor Jesus dos Martírios e suas representações na cidade de Cachoeira, de 1765 a 1857

As irmandades de homens pretos fizeram parte do cotidiano da Bahia setecentista e eram controladas por africanos e crioulos. Essas irmandades tinham como principal objetivo o auxílio junto aos irmãos e a demonstração de sua fé, através de manifestações culturais como festas, procissões e ritos fúnebres. Este trabalho visa traçar e analisar a Irmandade Bom Senhor Jesus dos Martírios, ereta no convento de Nossa Senhora do Monte Carmo, na cidade de Cachoeira - Recôncavo da Bahia - em 1765, pelos pretos da Nação Gege, bem como a experiência de mulheres e homens que fizeram parte da mesma, no período de 1765 a 1857, sugerindo uma investigação acerca desses sujeitos da história e de suas perspectivas diante da sociedade escravista baiana. Utilizei como fonte histórica o compromisso da irmandade, testamentos e inventários postmortem, livro de assentamentos de tombos e bens, entre outros. No compromisso consta suas obrigações com a Irmandade e com seus irmãos, a função de cada cargo, como se dava a participação em festas, como era formada a mesa que liderava a irmandade, enfim, regulamentava a administração da Irmandade. Da investigação desta organização social fundada por africanos passa-se a estudar seus integrantes em uma análise sociocultural e familiar, com base nas fontes históricas encontradas. Palavras-chave: irmandade, compromisso, experiência.

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Joceneide Cunha ---jocunha@infonet.com.br

Um estudo sobre as Irmandades do Rosário dos Homens Pretos da Capitania de Sergipe del Rei (1750-1835)

Um dos espaços que possibilitou a construção de uma cultura afro-brasileira foram as Irmandades do Rosário dos Homens Pretos. As irmandades eram associação de leigos que possuíam uma devoção comum e cuja finalidade era a ajuda mútua, socialização e diversão. As irmandades são exemplos de instituições criadas pelos africanos dentro das possibilidades do novo mundo e que permitiu os africanos se relacionarem com pessoas livres, pobres ou não, em uma esfera que não era o da intimidade nem o do trabalho. Objetivo neste trabalho apontar alguns elementos dessas irmandades, como a organização e quem fazia parte. Pretendo ainda elencar alguns aspectos dessas instituições como espaço de trânsito dos africanos e também como ocorria a relação entre africanos e crioulos. Para isso, utilizei principalmente os estatutos citados e algumas correspondências que nos dão notícias das confrarias, bem como alguns testamentos de membros da irmandade. Em um primeiro momento pontuarei alguns elementos dos estatutos e da organização delas, e posteriormente sobre os africanos e suas relações com demais membros das irmandades. Nossa Senhora do Rosário foi a principal invocação dos homens e mulheres pretos sergipanos, incluindo os africanos de diversas nações, destaco os angolas, ethiopes e minas. Uma parte das irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos homens pretos foram criadas no século XVIII e nesse século também foram construídas suas capelas. As mulheres faziam parte das irmandades, ocupavam um lugar de destaque e possuía cargos importantes como o de juízas. Em dois dos estatutos há a menção a nações africanas, em São Cristóvão a confraria era dominada também pelos angolas, africanos centro-ocidentais, e em Vila pelos ethiopinos, nomenclatura genérica que se refere possivelmente a africanos cristianizados. Por fim, a relação entre africanos e crioulos variou de região a região, pois em São Cristóvão os principais cargos eram divididos entre os dois grupos, enquanto que em Vila Nova havia um revezamento entre os grupos no principal cargo.

Julio Claudio Silva

Pesquisador do Labhoi pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) julio30clps@gmail.com

Das disputas de memória em torno da constituição do teatro experimental do negro

Nos últimos anos tem se ampliado as reivindicações dos movimentos sociais em torno das políticas de ações afirmativas. O debate a cerca desta matéria remetem 136


a nossa sociedade à seguinte indagação: são racializadas as relações sociais no Brasil? Estudiosos de diversas áreas tentam responder à questão que, ainda, se encontra na ordem do dia. Pensar as relações raciais no Brasil em uma perspectiva histórica tem sido uma estratégia bastante interessante, no sentido de buscar formular novas respostas para a questão. Nossa comunicação pretende recuperar alguns aspectos da história das relações raciais na sociedade brasileira a partir da história da constituição do Teatro Experimental do Negro. O surgimento do Teatro Experimental do Negro fez parte das lutas anti-racistas pela ampliação da cidadania dos afrodescendentes no Brasil, um movimento iniciado na segunda metade do século XIX que se amplia no Pós-Abolição da escravidão e alcança o século XXI. Em nossa comunicação propomos uma análise problematizadora do processo de construção da memória sobre esse período. Através das disputas de memórias em torno da história da constituição do grupo a partir do depoimento publicado na obra de cunho biográfico sobre a trajetória de Abdias Nascimento, O griot e as muralhas, face aos documentos depositados no Arquivo Ruth de Souza/LABHOI-UFF. Palavras-chave: Teatro Experimental do Negro, memória, História.

Luísa Saad

Mestranda pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) luisagsaad@hotmail.com

Segredos e silêncios: notas sobre o uso da maconha em ritos afro-brasileiros

O uso das chamadas substâncias psicoativas está presente há séculos na humanidade e a maconha fez – e faz – parte de diversas sociedades que a ela dão variados significados, sejam eles religiosos, medicinais, comerciais ou recreativos. No Brasil, sob influência das teorias racialistas em voga na Europa, o processo de proibição da maconha representou uma perseguição à população negra, seus costumes e suas práticas religiosas. O ideal de uma República que servisse de exemplo às demais nações e que se mostrasse moderna e civilizada esbarrava em “obstáculos” representados pelos negros, seus descendentes e suas formas de viver que não se alinhassem ao ocidentalismo. Fontes de início do século XX apontam para o uso da maconha por “feiticeiros” em “festas religiosas dos africanos” para embalar suas “dansas selvagens” e “produzir alucinações”. Os relatos são carregados de descrições negativas e caricaturadas, mas deixam pistas sobre esse possível uso. Entretanto, em uma busca mais profunda, o acesso a essas informações acaba sendo dificultado por questões que envolvem a própria dinâmica interna religiosa. Assim, elementos ligados à hierarquia, poder e status, ritos de passagem e aquisição de saber emergem escondendo, por um lado, o que não pode ser dito, e evidenciando, por outro, o que se pretende ser escondido. Palavras-chave: maconha, religiões afro-brasileiras, racismo.

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Luiz Augusto Pinheiro Leal

Professor Adjunto I da Universidade Federal do Pará (UFPA). Doutor em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) sou.amazonia@gmail.com

Entre intelectuais e chefes de mandinga: a luta pela liberdade religiosa no Pará

O ano de 1937 é marcado pela intensificação formal da repressão às práticas culturais de origem negra em Belém. Capoeira, boi-bumbá e o genérico batuque estavam na mira do principal encarregado pela segurança pública, o chefe de polícia Salvador Borborema. Cada uma das práticas recebeu um tratamento próprio. Particularmente em relação ao batuque, os rigores da repressão seriam mais acentuados. A palavra estava associada à diferentes experiências culturais, mas, em especial, denominava o culto afroreligioso conhecido por tambor de mina. Este, por sua vez, aparece muitas vezes citado através do uso vulgar da palavra macumba. Era o contexto do Estado Novo. Magalhães Barata havia sido substituído por José Malcher no cargo de interventor federal no Pará. O controle rigoroso da oposição e da imprensa era a função principal do chefe de polícia Salvador Borborema. Contudo, assumidamente católico, ele não hesitou em dirigir sua atenção repressiva contra as práticas culturais negras. A repressão aos cultos afros, contudo, desencadeou uma reação política dos intelectuais paraenses. No ano seguinte, quando importantes lideranças afroreligiosas estavam ameaçadas de serem presas, vinte e cinco intelectuais apresentaram um manifesto, ao interventor federal, reivindicando a imediata liberdade de culto no Pará. Este trabalho pretende discutir o contexto das repressões afro-religiosas em Belém; a ação do chefe de polícia Salvador Borborema; a identidade e os argumentos dos principais intelectuais defensores da liberdade de culto; e, em especial, a repercussão do movimento de 1938 em suas respectivas trajetórias, produções e articulações políticas. Palavras-chave: identidade, memória e resistência afro-brasileira.

Rêmulo Veloso dos Santos --remulovelloso@yahoo.com.br

Ganhadeiras: sabores e estética negra na Bahia (1889-1922)

Nesse cenário, onde os estudos da História Social e Cultural ganham destaque e buscam romper a invisibilidade dos grupos subalternos nas discussões historiográficas, pluralizam-se os objetos da investigação histórica e, nesse bojo, as mulheres são alçadas à condição de objeto e sujeito da história. Com o objetivo de ampliar tais estudos, caminho para o estudo desses outros sujeitos históricos, as mulheres negras. Diante do exposto proponho nesse estudo destacar a figura das quitandeiras, dialogando a todo instante com suas identidades étnicas, como foram construídas e - como não são fixas e nem imutáveis - como tiveram continuidades até a atualidade. Para tanto, 138


destacaremos suas “identidades”, cultura, corpo, alimentação e a estética negra. O início desta análise é sobre a Lei do Ventre Livre nº 2.040 (também conhecida como “Lei Rio Branco”) de 1871 que também instituiu um fundo de emancipação de escravos e continuamos a análise temporal do projeto perpassando pela própria abolição da escravatura. No entanto, aprofundo a pesquisa a partir da Proclamação da República, ocorrida no final do século XIX. Apesar das figuras das quitandeiras permanecerem ao longo da história, encerramos nossas abordagens em 1922, pois nesse período analisaremos de que forma a Bahia pretendia inseri-se no contexto capitalista. Assim, percebemos a permanência da negra vendedeira na Salvador republicana. Essas mulheres – que nos registros de viajantes e pinturas dos períodos colonial e imperial aparecem com tanta frequência no espaço urbano atuando nas atividades de ganho – souberam, diante das adversidades e dificuldades de se empregarem dignamente no trabalho assalariado, mantiveram-se na informalidade do comércio de comidas produzidas por elas próprias como forma de garantir a sua sobrevivência e a de seus filhos. Diante das questões apresentadas, interessa-nos dialogar como essas mulheres quitadeiras que construiram identidades nas relações de trabalho e de suas formas de sobrevivência. Assim, a figura das quitandeiras ganha fôlego para discutirmos sua autonomia feminina, os sentidos dados ao seu corpo com dimensões simbólicas de sua cultura e suas habilidades na culinária. Para além da alimentação vendida por aquelas mulheres, merece destaque a linguagem do corpo ao longo da História, que se tornou um emblema étnico, e sua manipulação tornou-se característica cultural marcante, e necessita de uma melhor discussão. Mulheres que com sua “cozinha a céu aberto” e sua indumentária deixaram uma gama de possibilidades para inquietar os historiadores contemporâneos como eu.

Rodrigo do Nascimento Amorim ---digaonasamorim@yahoo.com.br

Práticas sociais e religiosas entre os homens de cor de Cachoeira no Século XIX: um estudo sobre a irmandade do Bom Jesus da Paciência

O artigo a seguir tem como foco principal um estudo acerca da Irmandade do Bom Jesus da Paciência, localizada na cidade de Cachoeira no Convento do Carmo, assim como existiam outras irmandades no mesmo local e na cidade, como a Irmandade do Senhor dos Martírios, de São Benedicto, de Nossa Senhora d’Ajuda e etc. Iniciaremos como um panorama social e econômico da cidade de Cachoeira a fim de compreender o ambiente que essas irmandades estavam inseridas. Mais adiante e especificamente pretendo analisar as práticas sociais, suas normas, festas, procissões que faziam parte do cotidiano dessa instituição. Temos a intenção também, de identificar quem eram esses irmãos que a frequentavam com o objetivo de observar 139


sua relação com a Irmandade e também com a sociedade. Contei nesse momento com a disponibilidade e atenção da professora Lucilene Reginaldo que nos cedeu a cópia digitalizada do compromisso da Irmandade do Bom Jesus da Paciência, do ano de 1853. Sobre tais irmandades, especificamente sobre a Irmandade do senhor Bom Jesus da Paciência existe um rico acervo de peças documentais depositados em arquivos de Cachoeira (Arquivo Regional de Cachoeira) e Salvador (Arquivo Público do Estado da Bahia, Arquivo da Cúria), que consistem em inventários e testamentos post mortem, compromisso, livro de receita e despesa, livros de ata, entre outros. Contamos, também, com o farto material bibliográfico sobre tema, que nos possibilitará um melhor entendimento acerca do tema.

Vagner José Rocha Santos

Mestrando do Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade - IHAC/UFBA. Bolsista CAPES vagner.rocha31@gmail.com

Os intelectuais e a cozinha afro-baiana: estudos sobre o acarajé

É imprescindível no estudo do acarajé, iguaria das mais conhecidas na chamada culinária afro-baiana, lançarmos mão dos estudos e pesquisas dos teóricos e pesquisadores da Antropologia da Alimentação, vertente da Antropologia Social denominada por alguns teóricos como etnoculinária. Abordaremos aqui a cozinha baiana tratada desde o contexto de Nina Rodrigues (Os africanos no Brasil), passando por Manuel Querino (A arte culinária na Bahia), Artur Ramos (A aculturação negra no Brasil), Édison Carneiro (Ladinos e Crioulos) e tantos outros pesquisadores e estudiosos que se debruçaram sobre o tema, trazendo contribuições importantes para este campo de estudo/ pesquisa. Utilizaremos teóricos que estudam a alimentação pelo viés da antropologia simbólica, analisando, tanto as formas culinárias (modus operandi) como os aspectos simbólicos, evidenciando assim os principais estudos sobre a cozinha afro-baiana - com destaque para o acarajé - e abordando os trabalhos desenvolvidos desde o final do século XIX até os dias atuais. Discutimos ainda como os estudos socioantropológicos sobre as chamadas “comidas de azeite” podem contribuir para a compreensão do contexto histórico que envolve o acarajé e a importância do azeite-de-dendê na construção de uma identidade afro-baiana, sintetizada através desse bolinho. Não é à toa que hoje o quitute se apresenta como um símbolo cultural que pode ser apreciado e degustado nas ruas e esquinas da cidade de Salvador. Palavras-chave: etnoculinária, azeite-de-dendê, acarajé.

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Simpósio Temático 15 FAMÍLIA E HISTÓRIA: DESAFIOS E PERSPECTIVAS INTERDISCIPLINARES DOCENTES PARA UMA HISTORIOGRAFIA CONTEMPORÂNEA Coordenadores: BÁRBARA MARIA SANTOS CALDEIRA VANESSA RIBEIRO SIMON CAVALCANTI

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o nos debruçarmos sobre os estudos historiográficos e sociológicos sobre a família nas últimas três décadas, nos deparamos com um conglomerado de informações e novas idéias acerca de sua definição, funções, organização estrutural, ademais das relações entre os gêneros e as gerações. O quantitativo de novos elementos ou a integração de paradigmas até então exclusivos da vida pública nos obrigam a repensar a flexão do conceito, não somente por uma questão estrutural, mas acima de tudo, por constatarmos que os modelos de agrupamento dos indivíduos acompanharam o processo de longa duração, seja no que diz respeito às permanências, seja no que tange às rupturas. Neste sentido, não podemos nos furtar a tratar a temática a partir de um olhar singular, objetivo, mas ao contrário, devemos nos atentar para as configurações sociais e culturais que enveredam pelo cotidiano de tais grupos. Destarte, estudar as famílias na sociedade contemporânea significa adentrar os emaranhados do imaginário social que povoa as relações entre os papéis exercidos por cada sujeito, desde as questões da parentalidade, família negra, família escrava, casamentos, divórcios, discursos sexistas, relações de poder e construções sociais que perpassam por dimensões históricas, políticas e econômicas (SLENES, 1999; SCHWARTZ, 1988; REIS, 2001). A historiografia contemporânea questiona desde os anos 50 o mito da predominância da família patriarcal brasileira e seu sentido ligado à propriedade privada presente nas interpretações de historiadores e sociólogos da obra de Gilberto Freyre (2002), bem como das representações construídas social e historicamente acerca das figuras masculinas e femininas que negaram a historicidade de homens e mulheres durante séculos (SAMARA, 2002). Na Historiografia encontramos novos objetos que, em especial para a História Social, trazem perspectivas dos estudos históricos sobre os diversos modelos de família desde os oitocentos, sobretudo dificuldades metodológicas para estabelecer diálogos entre pesquisa e o ensino de História à luz de tal objeto; identificam-se diferentes métodos e abordagens, que se deslocam desde a Demografia His141


tórica, a análise de arquivos locais, História Oral até a velha antropologia do parentesco. Objetiva-se, nesse contexto, dialogar com as diferentes áreas das Humanidades sobre os estudos da família desenvolvidos nos últimos tempos, identificando estratégias metodológicas direcionadas à diversidade de fontes (visuais, textuais e orais), cruzando informações e contextos entre Brasil e África em busca de novos enfoques, novas abordagens. Bárbara Maria Santos Caldeira ---barbaracaldeira@yahoo.com.br

Família, lugar de viver e ética do cuidar: Quando a deficiência segrega mulheres, mães e cuidadoras

Estudos realizados no Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional – UNEB 2009/2010, com o título “Programa Benefício de Prestação Continuada na Escola como Instrumento de Promoção da Educação Inclusiva de Salvador: impasses ou prospectivas?” trazem na conclusão, algumas ponderações de Coutinho (2010), indicativas da necessidade de análise e/ou aprofundamento dos questionamentos em novo olhar de investigação. A pesquisa relativa à implementação do Programa BPC na escola, reconhece que inegavelmente o programa de transferência direta de renda, pago pelo governo federal às pessoas com deficiência e cujo objetivo é a promoção da cidadania e inclusão educacional de seus beneficiários, em idade de zero a dezoito anos, é uma garantia de renda fundamental à sobrevivência desse grupo específico, senão a única. Interações e experiências fazem despir “verdades absolutas” e sua relação com o cotidiano da ética do cuidar e avançar no conhecimento acerca da segregação indireta que a deficiência impõe, mediante o diálogo envolvendo mulheres, mães e cuidadoras vulnerabilizadas historicamente. Objetiva-se analisar as relações, subjetividades e vivências cotidianas dessas mulheres que se tornam tão segregadas quanto, na lida com a educação e cuidado e luta pela sobrevivência, dignidade e cidadania própria e dos portadores de necessidades especiais, em função de “contingências geradas por deficiências, como também de fatores relacionais e do convívio humano desde o núcleo familiar até o societário”. Recorre-se à revisão teórica, procedendo ao resgate de episódios profissionais que reclamaram postura crítica e a “escuta das vozes” desse público freqüentador Instituto Pestalozzi, Salvador-BA.

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Camila Noêmia Rener Santos Bastos

Mestranda pelo PPG Mestrado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) cnoemia@hotmail.com

História, Família e Religião: representações de família entre as Testemunhas de Jeová - Santo Estevão/Ba (1970-2001)

As profundas transformações sociais e culturais da década de 1970, com a contracultura, o movimento hippie e mesmo, o advento da pílula, confrontou o modelo familiar tradicional, através dos questionamentos que esses movimentos de contestação trouxeram em relação à liberdade sexual e as relações de gênero, principalmente, a assimetria nos papéis estipulados para homens e mulheres, à própria submissão que era infligida à mulher dentro desse campo de relações. A História do Tempo Presente ou História Imediata, que se ocupa com essa temática de família, tem se apoiado nos estudos da Sociologia, em fontes orais, através de entrevistas, recurso este muito utilizado pela Antropologia, em vista dos desafios que as novas representações de família pedem. Quando esses estudos abrangem a relação família-religião, as contribuições dessas disciplinas se tornam ainda mais relevantes para analisar esses dois campos, suas representações e a reprodução de valores e práticas. Esta comunicação trata das representações sobre família entre as Testemunhas de Jeová, na cidade de Santo Estevão/Bahia, nas décadas de 1970 a 2001, como essas representações são construídas, pautadas no modelo tradicional de família, o modelo patriarcal, e asseguradas por um discurso religioso, a qual faz parte de um trabalho de pesquisa maior que estamos desenvolvendo. Palavras-chave: história, testemunhas de Jeová e família.

Claudia de Faria Barbosa

Doutoranda em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (UCSAL). Bolsista FAPESB barbosa.claudiadefariabarbosa@gmail.com

O legado familiar subjacente nas relações da esfera pública local

O legado familiar subjacente nas relações da esfera pública local As famílias têm sido objeto de reflexão das mais variadas áreas do conhecimento. Isso tem gerado a construção de uma multiplicidade de imagens e leituras acerca dos afetos, cooperações, tensões e disputas que se desenvolvem no contexto familiar. É dentro da família que se tece a urdidura e por entre as quais passam os fios da trama social, em uma sociedade marcada por fortes relações parentais, considerando a família como um fator que contribui para as decisões políticas e, por outro lado, os usos e abusos que os diversos grupos sociais fazem dela no processo de construção de determinada imagem sobre o passado, tomando como objetos a convivência, as relações de aliança, afinidade e parentesco, produzidos nas relações sociais e de gênero, que 143


buscam legitimar-se enquanto espaço de afetos e tensões. Pensando nessas questões, esta comunicação propõe-se a discutir aspectos que retratam a família envolvendo o domínio da política, através dos seus múltiplos atores e organizações. Lança um olhar sobre as complexas relações entre família, poder público e o conjunto da sociedade, bem como as disputas por espaços, nos quais cruzam questões vinculadas às relações entre o público e privado das mulheres na política.

Fernanda Pinto

Mestranda em Desenvolvimento Regional pela Universidade Estadual da Paraíba - UEPB/UFCG. Bolsista CNPq donnafernanda@hotmail.com

Geração e (re) configuração social: a velhice no Brasil atual

O Brasil passa atualmente por uma reconfiguração demográfica no que se refere à longevidade de seus habitantes. Cada dia mais, devido às quedas nas taxas de natalidade, sobretudo a partir das décadas de 1970 e 1980 e à diminuição gradativa das percentagens de mortalidade registradas nas últimas décadas, o envelhecimento da população brasileira é uma realidade cronologicamente nova, mas que tende a um alto aceleramento nos próximos anos. O historiador social, que busca compreender as transformações pelas quais a sociedade passa, diante da estrutura possível, dentro da temporalidade que ele analisa, não pode deixar de analisar a história demográfica de uma população, pois ela diz muito da cultura, as concepções e o cotidiano de uma dada comunidade/povo/nação. A longevidade associada às responsabilidades familiares, tem se deslocado do patriarcado e ido, de uma forma acelerada para o matriarcalismo. As famílias multigeracionais, compostas por crianças e idosos, que na maioria das vezes sãos seus avós, são cada dia mais comuns, bem como o retardamento da maternidade, resultado em partes, da entrada da mulher no mercado de trabalho, tem constituído famílias que convivem com gerações múltiplas. Sem dúvida é necessário mencionar que a velhice no Brasil ainda é uma velhice pobre e doente, por mais forte que sejam os discursos capitalista de “melhor idade”, que busca “apanhar” esse crescente mercado consumidor, vivemos num país com realidades extremamente distintas. O fenômeno demográfico da velhice não é exclusivo do Brasil, mais ele tem trazido consequências que vem transformando a configuração estrutural familiar e consequentemente social do nosso país. A concepção de velhice também vem sendo drasticamente recriada e reinventada. As múltiplas e fluídas identidades idosas perpassam o imaginário social e cultural familiar e tem construído uma gama de novas identidades familiares no país. Palavras-chave: família, geração, velhice.

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Helaine Pereira de Souza

Professora Substituta da Faculdade de educação da Universidade Federal da Bahia (FACED/UFBA); Professora Tutora de história UNEB/UAB. Professora de Historia da Secretária de Educação do Estado da Bahia (SEC/BA). Mestre em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (UCSal). Bolsista FAPESB helainep.souza@hotmail.com

Articulando geração e gênero: revisando a literatura sobre famílias pobres urbanas

A família contemporânea passa por diversas transformações, localizadas no campo afetivo, da reprodução, econômico, dentre outros. Atualmente, envelhecemos mais e esse fenômeno possibilita a convivência de diferentes gerações. Compartilhamos da ideia de que gênero e gerações são alavancas neste quadro de transformações, uma vez que vêm sendo realizadas em outra dinâmica e seguindo novas formas e códigos. Empreendemos uma breve análise do que a história diz, e, caminhando pelos campos da interdisciplinaridade, iniciar uma discussão de como as categorias gênero e gerações vêem se modificando e também produzindo mudanças nas famílias. Busca-se pensar considerar os impactos que a tecnologia tem sobre a família. Contudo, ao falar dessas tecnologias, já não tão novas, e seus impactos no âmbito familiar, de início pensa-se em técnicas de reprodução assistida e outras formas de manipulação genética, mas há, no entanto, outros artefatos que são incorporados no cotidiano, sem que haja exaustivas discussões, mas que de alguma maneira contribuem para a exaltação da individualidade, no campo familiar. Há de se discutir a constituição das redes que não seriam compostas apenas por indivíduos ligados por consanguinidade, mas pelo compromisso e pela afetividade indicados voluntariamente por seus integrantes, o que forneceria suporte em um contexto onde o masculino não é uma constante e o subsídio do estado nem sempre é satisfatório. Análise não pretende ser exaustiva, mas fomentar um debate. Palavras-chave: famílias urbanas, gênero e geração.

Ivanice Teixeira silva Ortiz ---ivaniceortiz@hotmail.com

A presença de famílias negras no alto sertão da Bahia: Caetité e rio de Contas

Este artigo apresenta alguns arranjos familiares negros no Sertão de “Sima” oitocentista. Essas relações são buscadas nas formações constituídas através de laços parentais sanguíneos, afetivos e simbólicos no cotidiano escravista, cujos atores eram mulheres e homens escravos, libertos e livres, ou seja, entre indivíduos submetidos ou não ao cativeiro e com status jurídicos diferentes. As experiências dos segmentos familiares estão sendo reconstituídas nas vilas de Caetité e Rio de Contas a partir do 145


trabalho com fontes de origem jurídica e paroquial. Ainda há o desconhecimento da organização familiar de locais como as vilas de Caetité e Rio de Contas que possivelmente não foram grandes centros de recepção de africanos oriundos do tráfico. Os senhores não eram abastados por ser a região caracterizada por uma produção que se destinava ao mercado interno. Usaremos o campo conceitual usado por Isabel Reis, “família negra” e não “família escrava” por entendermos que no Alto Sertão havia interação entre os indivíduos forros, escravos e livres no universo do trabalho, da comunidade e da família. Desse modo, este estudo pretende dar voz aos homens e mulheres negros marginalizados pela historiografia e pela “sociedade sertaneja”. Ressaltamos que as diferentes formações familiares foram cruciais para o panorama econômico, social e cultural da região e para as diferentes manifestações de resistência no universo escravista.

Maria de Fátima A. Di Gregório

Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB – Jequié). Doutora em Família na Sociedade Contemporânea pela Universidade Católica do Salvador (UCSal) f_digregorio@hotmail.com

Família e história: a questão das mulheres e o processo de submissão aos ‘ditames masculinos’

A história da educação das mulheres no Brasil é bastante singular e excepcional, além de inusitada. Seu percurso entrelaça-se ao caminho bizarro da própria história da colonização brasileira cuja dinâmica está relacionada à dinâmica de chegada de homens brancos no território brasileiro, especialmente nos aspectos ligados as suas uniões com mulheres brancas e negras em suas múltiplas manifestações e sentidos, definindo e confrontando modelos identitários a partir de um contexto onde a figura masculina ditava normas para que fossem cumpridas em nome da manutenção de uma ordem. O estudo tem como base a historiografia brasileira que aponta para a questão da família, repensando suas mudanças no papel da mulher nas relações com o trabalho e a organização da família, sinalizando como a tradição ainda está presente no que tange ao uso de normas dentro de um imaginário social fixado historicamente pela sociedade. São analisadas as principais repercussões e mudanças na história dessas mulheres em seus contextos, implicando em transformações do papel delas na estrutura política e educacional que definiram a história da educação no Brasil, repensando as práticas repensando de união, as formas de resistência e as permanências dos “ditames masculinos”. Palavras chave: História das mulheres; submissão; ditames masculinos.

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Martha Maria Brito Nogueira

Graduada em História pela Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB) mbnogueira07@yahoo.com.br

Movimento das cores no Sertão da Ressaca: A preta Maria Bernarda e seus filhos “brancos” - 1850-1880

O presente ensaio é parte integrante de uma pesquisa que pretende analisar as relações familiares por meio de estudo de caso, possibilitando identificar a influência da dinâmica das mestiçagens na formação da sociedade conquistense. Nesta perspectiva, apresentamos a História de Maria Bernarda, uma preta alforriada, que viveu maritalmente com João de Oliveira Freitas, um dos homens mais ricos da Imperial Vila da Vitória, atual Município de Vitória da Conquista, no final do século XIX. Desta união, nasceram sete filhos mulatos que vieram a herdar, além da fortuna, o sobrenome do pai, ocultando a origem preta da mãe. A reconstrução desta trajetória possibilita tornar visíveis fenômenos relacionados ao mundo mestiço que comprometem as tradições de uma sociedade estamental baseada em privilégios. Palavras chave: mestiçagem, família, sertão da Bahia.

Uerisleda Alencar Moreira

Discente do Programa de Especialização Lato Sensu em História do Brasil pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) uerisleda10@yahoo.com.br

Escravos e livres, todos foram batizados: a formação dos laços de compadrio na Vila de Porto Seguro de 1837-1845

Baseado numa perspectiva quali-quantitativa, a presente comunicação busca tecer considerações acerca do projeto de pesquisa em andamento no Programa de Especialização Lato Sensu em História do Brasil da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em que os laços de parentesco espiritual serão analisados, no intuito de tentar evidenciar questões relacionadas às dinâmicas de sociabilidade estabelecidas entre os sujeitos na Bahia colonial e imperial, buscando os fios que teceram a formação da família de negros, índios, brancos e mestiços, através do primeiro Sacramento da Igreja Católica, quando contraíam-se laços de parentesco espiritual de apadrinhamento, bem como, as relações destes sujeitos com a instituição religiosa de modo a contribuir para a composição da historicidade do local, foco da pesquisa. Palavras-chave: Compadrio, Vila de Porto Seguro, Sec. XIX.

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Simpósio Temático 16 FONTES E CAMINHOS NA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO BAIANA – ACERVOS ARQUIVISTICOS, PERIÓDICOS E MEMORIALISTAS Coordenadores: IONE CELESTE JESUS DE SOUSA JOSÉ CARLOS DE ARAÚJO SILVA

A

proposta justifica-se em dois eixos: a) O interesse em ampliar o debate sobre a História da Educação como campo historiográfico, ainda frágil nas coletâneas que tratam de problemas, abordagens ou fontes da História, publicados nos últimos dez anos no país. B) Apresentar reflexões teórico-metodológicas quanto ao uso de fontes históricas para uma História da Educação na Bahia, a partir de questões oriundas das pesquisas dos proponentes, seus orientandos, grupos de pesquisa e interlocutores, focando o recorte temporal compreendido entre os anos 1820 e 1940 quanto às possibilidades abertas pelas novas fontes, como a fotografia, a iconografia, as fontes orais em relação ao uso de fontes já clássicas, como os documentos arquivísticos e os periódicos; as memórias escritas por sujeitos da educação, como professores, diretores de instrução, inspetores paroquiais, pais de alunos, e os próprios alunos. Estas pesquisam incidem com maior enfoque nas interfaces entre História da Educação, Relações Étnicas e Trabalho, especialmente na problematização da relação entre a formação docente e a escolarização para o desempenho de ofícios, como a formação escolar – profissional de libertos, ingênuos, desvalidos; assim como a atuação de homens e mulheres negros/ as no magistério, nas suas variações como professores primários, inspectores escolares, professores secundários e do ensino superior. Por fim, interessa também discutir as várias experiências da Educação Baiana, especialmente a relação Capital (Salvador) como centro propositor de sistematização do Ensino, versus vivências, estratégias e formas de ser e fazer o magistério no interior da Província/ Estado. Palavras Chaves: Fontes na História da Educação na Bahia; Professores Negros; Ingênuos; Escolarização.

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Alaide Laiane Macedo Nascimento

Graduanda da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) lai_apenas@hotmail.com

Rapto, defloramento e sedução na província da Bahia – Os professores primários sedutores

Esta Comunicação é baseada no projeto de pesquisa que tem como tema os raptos, defloramentos e sedução de mulheres na Província da Bahia no século XIX. O tema surgiu a partir de um documento encontrado no Arquivo Público da Bahia. Trata-se de um processo disciplinar datado do ano de 1868, em que o acusado é o professor público Domingos Ramos Cedro, denunciado por sedução e rapto de uma “filhafamília de condições superiores as d’elle”, sendo esta de nome Adalgisa de Sá, que pertencia a uma família abastada da cidade de Santo Amaro. A análise de outras fontes, como as queixas de sedução e defloramento contra professores também serão abordadas nesta pesquisa, pois trazem diversos aspectos relevantes para a compreensão do que eram considerados, pelo Código Penal e pela sociedade baiana do século dezenove, atentados contra a moral e aos bons costumes. As obras A Sinhazinha, de Afrânio Peixoto e Tenda dos Milagres, de Jorge Amado serão utilizadas enquanto fonte literária na medida em que expressam, ainda que casos fictícios, a existência dessa prática. Ao serem feitas as interlocuções entre as fontes - a literatura, os documentos arquivísticos, periódicos - e a bibliografia específica, serão identificadas através dos indícios presentes nas fontes, como se caracterizavam os crimes de rapto, quais eram seus sujeitos e como estes foram construídos ao longo das fontes. Palavras-chave: Professores, Sedução, Raptos.

Edilaine dos Santos Silva

Graduada em História pela UNEB. : Professora de História Fundamental II do Colégio Municipal Nossa Senhora do Carmo – Lajedinho -BA lainnesillva@yahoo.com.br

Sob paredes: Breve História da Educação no interior baiano através da construção de prédios escolares

Durante algum tempo muitos historiadores ignoravam a História da Educação enquanto campo de análise. Atualmente as tendências estão mudando e cada vez mais aparecem pesquisas e trabalhos voltados para esta temática. A Bahia segue neste processo com várias discussões; o presente artigo, trilhando por esses novos caminhos, surge a partir de lacunas pouco exploradas: A construção de escolas primárias adentrando o interior baiano levando “luz e civilidade ao sertão”, além disso, investiga como o jornal local disseminava as ideias sobre educação em suas páginas. Dessa forma, o então trabalho entende “(...) a educação como um tema/ objeto de investigação, de vital relevância para a compreensão da formação cultural de uma sociedade.” (FONSECA; VEIGA, 2008, p.53); tentando superar antigos 149


jargões acadêmicos na área de História, que menosprezaram a História da Educação, classificando-a enquanto inferior, menos importante e simplória. Para a construção deste meu trabalho foram pesquisados relatórios e mensagens de governo, periódico O Itaberaba (1930-1937), fotografias, leis e bibliografia específica. O levantamento dos relatórios e mensagens seguiu o recorte temporal de 1925-1937, assim conseguiria notar o contexto educacional baiano antes e durante a Era Vargas, ponderando sobre algumas medidas e decretos e observando heranças e rupturas entre os períodos, o estudo do jornal obedeceu ao mesmo critério temporal, momento muito significativo porque é quando se normatiza algumas diretrizes nacionais de educação. Palavras-chave: legislação educacional, ensino primário, prédios escolares.

Eliana Evangelista Batista

Professora da rede particular de ensino / Alagoinhas-Ba. Mestra em História pela Universidade do Estado da Bahia eliana25d@hotmail.com

A Escola Normal de Alagoinhas no Estado Novo: Escolarização e sociabilidades x estratégias de controle

Esse texto ocupa-se do processo de formação da professora primária no Brasil e na Bahia durante o Estado Novo. Busca compreender o perfil assumido pela Escola Normal de Alagoinhas em comparação às Escolas Normais oficiais, sobretudo, as rurais, e destaca o processo de mobilidade social e o domínio da fala e da escrita pelas professoras primárias formadas nesse estabelecimento de ensino. Analisa também o peso e as complicações que recaíram sobre a docência feminina na educação estadonovista, especialmente porque a sua condição de divulgadora do conhecimento exigia o domínio de vários saberes e competências. Além disso, tenta perceber as novas possibilidades de atuação na esfera pública proporcionadas a essas professoras depois da formação no magistério primário, já que, como desdobramento dessa formação, uma śerie de mulheres adentravam o sistema educacional, trabalhando em escolas particulares ou como funcionárias do Estado. Essa afluência da mulher ao magistério primário, intensificado durante o Estado novo, teve seu desdobramento revelado pela escrita de algumas obras literárias. Essas obras, profundamente marcadas pelos seus escritores por um modo de pensar e se postar diante daquela realidade, constituem-se em importantes representações sociais desse momento histórico, sobretudo no que diz respeito à condição feminina no magistério. Ocupamo-nos, portanto, para reconstituir esse processo, do romance Pelos Caminhos da vida de uma professora primária (1978), da escritora e professora primária alagoinhense, Maria Feijó de Souza (1918-2001). Palavras-chave: História, normalistas, Estado Novo.

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Elizabete Pereira Barbosa dos Santos

Professora Assistente do Departamento de Educação pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Doutoranda em Educação pela FACED/UFBA beteuefs@hotmail.com

Educação da infância no Recôncavo da Bahia: especificidades da Zona Fumageira

O presente texto tem como objetivo analisar a educação para a infância no Recôncavo da Bahia no período de 1925 a 1946, estudando sua constituição histórica e a implementação de políticas educacionais imbricadas nesses processos. A perspectiva metodológica é de natureza qualitativa e a principal fonte foi o jornal “Correio de São Félix”. Os resultados evidenciam que o Recôncavo da Bahia além de ter vivenciado um processo de escolarização tardio, as primeiras experiências educacionais estiveram relacionados ao sindicato dos trabalhadores do fumo, ou seja, tem sua origem ligada a iniciativas isoladas deixando de fora a grande maioria, portanto a execução das políticas de educação para a infância não parou de se afastar dos cidadãos. Palavras-chave: Recôncavo, Política Educacional, infância.

Camila da Silva Almeida

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista PROBIC camilaalmeidatst@hotmail.com

Escola Normal da Feira de Santana- Práticas de Gratuidade de Ensino das Normalistas (1927 a 1954)

Nesta comunicação apresento o projeto de pesquisa de monografia de Graduação, no sentido que as práticas de gratuidade e caixa escolar foram práticas de apoio e de controle de jovens oriundas das classes subalternizadas, assim como reflete que estas também forçaram a entrada nos cursos normais como forma de profissionalização e estabilidade econômica. Proponho analisar a situação socioeconômica das alunas da Escola Normal da Feira de Santana entre os anos de 1927 e 1954, evidenciando a gratuidade no Curso Normal, através de práticas como a Caixa Escolar, os pedidos de políticos, as ações caritativas, religiosas de professores e a legislação escolar, tendo como fontes, notícias veiculadas no Jornal “Folha do Norte”, documentos de burocracia escolar, atas, livros de portarias, frequência e a Caixa Escolar. Palavras-chaves: Escola Normal, Feira de Santana, Gratuidade.

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Daiane Silva Oliveira

Graduada em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) daibububa@yahoo.com.br

Escolarização e civilidade: as representações de uma cultura escolar no Jornal Folha do Norte (1918 – 1935)

O trabalho Escolarização e Civilidade: as representações de uma cultura escolar no Jornal Folha do Norte (1918 – 1935) é resultado dos caminhos percorridos nas pesquisas de Iniciação Científica PROBIC/UEFS em 2009 e 2011, apresentando uma das diversas possibilidades de “leitura” da fonte histórica Jornal Folha do Norte, principal fonte desta Pesquisa, o qual trás em suas páginas considerável material sobre Instrução/Escolarização/Educação em Feira de Santana, na Bahia e no Brasil e, portanto, um farto material sobre Cultura Escolar, em suas diversas representações. É nesse sentido que esta análise propõe reflexões sobre práticas de uma Cultura Escolar em Feira de Santana na primeira metade do século XX, entendida como um conjunto de normas e práticas a serem difundidas nos espaços intra e extra - escola, pretendida como harmonizadora de práticas e conformadora de modos, no intuito de um remodelamento social e urbano, para uma cidade que sonhava em ser progressa numa nação que se pretendia civilizada. Em Feira de Santana, a Escolarização foi considerada como via rápida e eficaz na corrida para a tão almejada civilidade, pretendida pelas elites para os estratos sociais, os quais circulavam pelas ruas da cidade exercendo trabalhos manuais ou se situavam de maneira expressiva pela zona-rural, os chamados sertanejos. Palavras-chave: escolarização, cultura escolar, Jornal Folha do Norte.

Gilmara Ferreira de Oliveira Pinheiro Professora Auxiliar UNEB/ Mestranda PPGH UEFS gmaraf@hotmail.com

Um austríaco em Jacobina na primeira metade do século XX. Padre Alfredo Haasler: Contatos e alianças

Na primeira metade do século XX, a Igreja Católica Apostólica Romana contou com a vinda da Ordem Missionária dos Cistercienses para a Bahia e em 1938, foi enviado por esta Ordem, o Padre Austríaco Alfredo Haasler para a Região de Jacobina. Em pouco menos de um ano, o padre iniciou uma vasta obra missionária para a região: as Escolas Paroquias que se constituíram em uma rede de 48 Escolas entre os anos de 1939- 1954. Para a fundação e manutenção dessas escolas, o padre cercou-se de aliados representativos da elite local e tornou-se um grande símbolo de fé e obediência por parte do povo daquela região. Assim, busca-se aqui analisar indícios da trajetória da pessoa Padre Alfredo Haasler, enquanto personagem histórico, suas representações passadas e presentes; seus significados para a região de Jacobina recuperando e analisando as várias histórias contadas sobre o padre, em busca de um pouco mais sobre o seu temperamento e suas 152


posturas política e religiosa. Para essa análise, utilizarei de fontes orais, bem como de documentos escritos sobre a vida do Padre Alfredo como sua Biografia escrita pela Sra. Doracy Lemos, além de documentos das Escolas Paroquiais tais como as Atas de reuniões, Ata de Fundação, Estatuto das Escolas e fotografias da época. Palavras-chave: Escolas Paroquiais, Igreja Católica, romanização.

Ione Celeste Jesus de Sousa Doutora História Social, PEPGHS-PUC/SP ionecjs@gmail.com

Literatura memorialística: um exercício de fonte em História da Educação

Este texto apresenta experiências de cruzamento de fontes para apreensão da cultura escolar na Bahia, a partir da literatura –memorialística e romance- e de ofícios e relatórios de professores primários, na busca das formas de apropriação pelas crianças das habilidades da instrução elementar - ler, escrever e contar. Esta proposição é tributária das discussões atuais sobre o lugar da História da Educação no campo do trabalho do historiador. Classicamente considerada campo de atuação do pedagogo, e numa perspectiva de abordagem temporal evolutiva, factual e institucional, a História da Educação nos últimos vinte anos vem problematizando, e lutando, para ser reconhecida como um dos campos da História, chamando à reflexão sobre o seu lugar e quais suas relações com as diversas possibilidades de abordagem teóricometodológica. São tomados como fontes os livros de memória Bambangas, de José Lemos de Sant’ Anna; e Cazuza, de Viriato Correa. Mesmo que se critique o caráter fugidio destas escritas como marcas de experiências históricas, especialmente ao se considerar o diminuito número de pessoas que registram suas memórias, as considerei essenciais ao objetivo de apreensão das habilidades escolares por parte dos educandos. Palavras-chave: História da Educação, cultura escolar, fontes e literatura.

Izabela de Jesus Santos

Graduando em Pedagogia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CNPq jsantosbela@yahoo.com.br

A formação em professora primária como estratégia de ascensão social e estabilidade econômica de mulheres negras em Feira de Santana – 1940-1970

Desde meados do século XIX o principal objetivo das Escolas Normais no país eram assegurar a formação de professores, as primeiras décadas republicanas sofreram pela falta de professores capacitados frentes ás mudanças que se apresentavam ao sistema da época, com destaque para as regiões do interior. No qual, passava por reestruturações, tanto nos currículos escolares, quanto nos programas educacionais, 153


tendo como meta implantar novos modelos e novas práticas de ensino no país. A partir dessas mudanças, era preciso que o corpo docente fosse habilitado para implantar as novas disciplinas morais, normatizadora e modelar os novos, desejados sujeitos sociais, à ordem urbana. Tal discurso estava ancorado ao processo de feminilização do magistério, que ocorreu nos anos 1880, no qual possibilitou uma majoritária inserção da mulher neste mercado de trabalho. A profissão de professora passou a ser para muitas mulheres no período de 1880 á 1940, uma possibilidade positiva e valorizada de ingresso no mercado de trabalho, alcançado o espaço público com aprovação social. Diante a importância desta instituição de ensino, aponto meu interesse em pesquisar a formação em professora primária de mulheres negras e se o curso possibilitou foi uma estratégia de ascensão econômica e social. O período investigado são os anos de 1950-1970. Os resultados desta pesquisa indicam que a profissionalização do magistério, tornou-se um caminho para a estabilidade econômica e prestigio social dessas mulheres, bem como trouxe à tona as questões das relações raciais desenvolvidas no âmbito dessas instituições, revelando como essas questões permaneceram no campo das relações no cotidiano escolar. Palavras-chave: escola normal, professoras negras, ascensão social e econômica.

Kleyton Gonçalves e Oliveira --keu_goncalves@hotmail.com

Educação profissional na Cidade Princesa: o caso da Escola Técnica de Comércio Santanópolis (1945-1957)

As primeiras décadas republicanas foram marcadas por uma intensificação de um projeto de modernização que se iniciou no final do Império, projeto esse que ganha novos moldes, fundados em princípios urbanistas, higienistas e eugenicos. Feira de Santana, cidade do interior baiano, vive neste período uma fase de desenvolvimento e transformações. Movimentada pelo campo do gado e pela feira livre, a Princesa do Sertão enfrenta um processo de urbanização e crescimento econômico e demográfico, objetivando se tornar a segunda mais importante cidade do estado. Porém, a partir da década de 20 do século XX, os discursos de modernidade e civilização produzidos pelas elites feirenses passaram a tentar suprimir a imagem de município atrelado a pecuária e as feiras livre e de gado, substituindo-a pela de uma cidade que tinha no comércio formal seu principal expoente econômico. Diversos foram os instrumentos utilizados para sedimentar e efetivar este projeto modernizante, destacando a atuação da imprensa e da educação escolar. Em 1945 é fundada em Feira de Santana a Escola Técnica de Comércio Santanópolis. Dirigida pelo Sr. Áureo de Oliveira Filho e situada no mesmo prédio do GymnasioSantanópolis, esta instituição de ensino, em consonância com a política educacional varguista (Reforma de 1931 e Reforma Capanema), buscou fornecer uma formação técnica e científica para os profissionais 154


que atuariam na atividade econômica que deveria ocupar lugar central na identidade do município, o comércio. A presente comunicação visa analisar como a Escola Técnica de Comércio Santanópolis foi estruturada, enfatizando também a forma como esta inseriu-se nas diretrizes educacionais do governo Vargas e na construção da identidade de uma Feira de Santana comercial e moderna.

Maurício de Oliveira da Silva

Professor da Rede Municipal de Vera Cruz/ Bahia. Especialização em Educação e Sociedade mauricio.ol.silva@gmail.com

O ensino profissional no Recôncavo baiano entre os anos de 1925 e 1955

A presente comunicação refere-se acerca de minha pesquisa em andamento sobre escolas profissionais rurais e industriais no recôncavo baiano nos anos de 1925 até 1955 frente às discussões relativas ao ensino profissional. O objetivo desse trabalho é analisar a inclusão dos jovens estudantes no processo de transformação cultural via disciplinamento escolar para o trabalho e “civilizatório”. Para isso, além do estudo pautar-se no contexto histórico da época, busco analisar, através de um variado conjunto de fonte de pesquisa (fotografias, cartas, jornais e revistas da época, decretos e relatórios educacionais, documentos oficias e extraoficiais) qual foi a efetiva participação do ensino profissional no processo de escolarização de crianças e jovens pobres do Recôncavo baiano e quais os interesses que balizavam esse processo no período que abrange os anos de 1925 e 1955. Abordar esse momento histórico promove uma interface da história da educação das escolas referidas, bem como o entendimento sobre a constituição dos espaços escolares e modos de subjetivação de professores e estudantes. O estudo está pautado em uma concepção de história da educação que busca a valorização de todos os sujeitos envolvidos no processo de escolarização, ou seja, uma perspectiva da história social em diálogo com a história cultural. Palavras-chave: História da Educação, escolas profissionais, ensino rural.

Miguel José da Silva --josemmiguel@ig.com.br

Professora ou rainha do lar? – Memórias de ex-alunas do Colégio Santa Bernadete em Amargosa-Ba

O Colégio Santa Bernadete, instalado em Amargosa no ano de 1946, pertencente à Congregação das Religiosas Sacramentinas, tinha como objetivo maior atender a formação das moças, futuras mães e professoras. Foi criado por iniciativa do primeiro Bispo da Diocese de Amargosa, que contou com uma mobilização das elites locais – fazendeiros, comerciantes, funcionários públicos, clero –, constituindo-se 155


na primeira escola de Amargosa que oferecia o curso ginasial e, posteriormente o curso pedagógico, exclusivamente destinado à educação feminina, formando até o ano de 1973, quando foi vendido à Secretaria Estadual de Educação, 445 professoras. Um aspecto a ser analisado é a maneira pela qual essa educação conduzia as alunas a absorverem os papéis sociais historicamente destinados ao gênero feminino, levando-se em conta que a educação se constrói sob o signo das ideologias e das relações de poder, portanto, das relações culturalmente estabelecidas entre os sexos, classes, etnias e gerações. Sobressaem nas memórias de ex-alunas, através de seus depoimentos, a vigorosa formação firmada nas dimensões ética, espiritual e religiosa. Mediante uma educação alicerçada na observância dos valores cristãos, marcada pelo rigor da disciplina e sempre fomentando a prática do respeito, da ênfase à obediência e do testemunho e exemplo a serem vivenciados, as alunas assimilavam valores, tabus e preconceitos que reforçavam o modelo de mulher que a sociedade desejava.

Raimunda Alves Moreira de Assis Professora Dra. Pesquisadora do DCIE da UESC. assisraimunda@hotmail.com

Instituições escolares: um resgate da memória dos grupos escolares do município de Itabuna (BA)

Apresenta o resultado parcial de um estudo sobre a memória das instituições escolares públicas do município de Itabuna- BA. O objetivo principal é analisar o processo histórico de desenvolvimento e organização do Ensino a partir de documentos levantados em diferentes espaços públicos, analisando-os através de uma abordagem qualitativa. Os meios de comunicações locais tratavam com frequência os temas gerais da educação, destacando a necessidade de ampliação do número de escolas e melhoria na qualidade do ensino. Essas duas dimensões ganhavam repercussão no meio da comunidade e entre os políticos, forçando a substituição do modelo de escolas isoladas pelos grupos escolares. O movimento em defesa de uma educação moderna nos moldes dos grupos escolares com novas diretrizes tanto no âmbito do espaço escolar, quanto na forma de organização administrativo-pedagógica. Palavras - chave: Memória, Instituições Escolares, Ensino.

Shirley Alves da Silva Vinagre

Mestranda do PPG em Educação e Contemporaneidade. Bolsista FAPESB shirleysky@oi.com.br

Dilemas vivenciados pela cidade de Salvador com a transferência das escolas para a instância municipal em 1895

Este artigo faz parte de um estudo maior, realizado pelo Grupo de Pesquisa em Educação e Currículo (GPEC), que tem estudado a Escola Pública Primária na 156


Bahia, durante o período republicano, através de levantamentos realizados nos diversos arquivos históricos de Salvador. Em 1895 o Estado da Bahia, através da Lei n°. 117, passou a responsabilidade pelas escolas públicas primárias para a instância municipal, colocando diversos municípios em sérias dificuldades para administrar o ensino e custeá-lo, devido às condições financeiras de muitos destes, incluindo Salvador, do qual se trata este artigo. Sendo o ensino um serviço complexo do ponto de vista econômico e administrativo, a transferência das escolas acarretou novos problemas e questões para os Conselhos Municipais. Fazendo um balanço da situação da escola na Bahia, no final do período Imperial, verifica-se as precariedades que marcaram a educação neste momento e que foram herdadas pela República. Apesar dos esforços para mudar a realidade da educação, acreditando-se na importância desta para alcançar o progresso da nação, chega-se em 1895, ano em que essa é transferida para os municípios, apresentando ainda sérias deficiências: inadequada distribuição e localização das escolas, condições desfavoráveis dos prédios ou casa escolares, poucas mobílias e materiais didáticos, necessidade de preparação dos professores, muitas crianças fora da escola, etc. Em 1896 a cidade de Salvador assumiu a Instrução Pública Primária em seu território, criou uma legislação própria, e dividiu os distritos em duas circunscrições, para melhor administrar o ensino, sendo nomeados dois delegados escolares, que ficaram incumbidos de nestas fazer a fiscalização do mesmo. Sem a cooperação do Estado garantida por lei e recebendo uma escola que apresentava ainda muitas deficiências, Salvador, enfrentou grandes dificuldades na administração do ensino. Palavras-chave: Ensino Público Primário, Salvador, República.

Simone Maria Ramalho

--O papel social da Igreja na formação da mulher de elite O objetivo do texto é identificar o papel social da Igreja frente aos recolhimentos femininos enquanto instituições destinadas a “educar” e “formar” mulheres que atendessem à sociedade da época e analisar a função social das escolas religiosas femininas na Bahia durante o período inicial da República, com enfoque para o caso do Educandário do Sagrado Coração de Jesus, anexo ao Recolhimento do Senhor Bom Jesus dos Perdões, inaugurado em 1903. As mulheres objeto deste estudo, com poucas exceções, pertenciam às classes sociais dominantes de Salvador e do interior da Bahia, e às camadas médias desta sociedade. Apesar desse grupo apresentar algumas distinções quanto ao nível de riqueza e ao prestígio social, formavam uma elite pelo grau de instrução que possuíam e pelo estilo de vida próprio que levavam, diferenciado de outros grupos sociais. As mudanças ocorridas no final do século XIX com a implantação da República inspiravam um novo ideal de civilização, e propunham novos comportamentos femininos e novas formas de sociabilidade. Esse 157


movimento impulsionou o acesso das mulheres às escolas e aos espaços públicos. É importante ressaltar que a inserção das mulheres no mundo do trabalho e da educação na conjuntura da Primeira República estava pautada na ideologia da Igreja Católica, no ideário de pátria e no culto à família.

Tiago Ferreira Jatobá

Graduado pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) jatoba123@bol.com.br

Entre a Chapada Diamantina e o Vale do São Francisco eis um novo veio de fontes para a História da Educação

A presente comunicação tem por objetivo discutir as possibilidades de novas investigações sobre a história da Educação dos estabelecimentos educacionais de culto confessional protestante, na região norte do Estado da Bahia. De maneira mais incisiva, pretendemos apresentar, discutir e caracterizar um compêndio de fontes identificadas ao longo da realização de uma pesquisa intitulada O Vento da Mudança sobre o Morro dos Alecrins: A reação católica à instalação dos presbiterianos em campo formoso – Bahia primeira metade do século XX. que discutia sobre as tensões entre grupos católicos e presbiterianos na cidade de Campo Formoso – Bahia e que ora se amplia na realização de uma nova pesquisa que tem por finalidade investigar a criação e atuação do Colégio Presbiteriano Augusto Galvão na década de 1940 naquela mesma cidade . Essas fontes caracterizadas pela grande diversidade de documentos, podem ser aqui preliminar mente apresentadas como um conjunto de cartas, diários, livros de registros de algumas igrejas (católicas e presbiterianas), livros de memorialistas, séries de jornais regionais, acervos iconográficos e alguns depoimentos orais e a documentação do colégio Presbiteriano Augusto Galvão da qual ora destacamos as suas cadernetas e um conjunto de documentos avulsos, que oferecem uma grande abertura para a avaliação das múltiplas relações envolvendo vários grupos históricos que deram voz a essas investigações. Palavras-chave: fontes, sertão baiano, literatura confessional.

Viviane Cerqueira Matos ---viviane_angels@hotmail.com

“Renovar-se”: Os Capuchinhos na Feira de Santana Missão Vocacional – instalação do Seminário de Santo Antônio

O eixo central do trabalho consiste na análise da atuação da Ordem dos Frades Capuchinhos, na perspectiva da escolarização em Feira de Santana, no período de 1952 a 1970. Através desta investigação pretendeu-se avaliar a instalação da Ordem (Projeto de missão), o Seminário e as transformações que ocorreram para 158


implantação do Colégio Santo Antônio. Tendo em vista que o mesmo foi criado em substituição ao Seminário de Santo Antonio em 1962. No entanto, para elaboração do primeiro capítulo do trabalho monográfico, traçamos alguns objetivos sendo estes: Como se deu a vinda da Ordem Capuchinhos, e por que Feira de Santana? Como ocorreu o processo de instalação do Seminário e as “transformações” para a substituição e implantação do Colégio Santo Antonio na cidade? Para dar sequencia, procuramos investigar através de fontes bibliográficas trabalhos pertinentes que possibilitasse conhecer um pouco mais sobre a história das missões religiosas na Bahia, mais especificamente para responder a pergunta inicial. Nesse sentido, a obra “Os Capuchinhos na Bahia” de Frei Vitorino Pietro Regni, composto de três volumes, dedica-se ao estudo das missões na Bahia e em Sergipe. Contamos também com o trabalho de RiolandoAzzi “O Estado Leigo e Projeto ultramontano História do Pensamento Católico no Brasil” e a dissertação de Cristiana Ferreira Santos de Souza “Piedade e a reforma católica na Bahia (a atuação dos frades menores capuchinhos 1889-1924) em que Cristiane Ferreira analisa o processo de reforma do catolicismo promovido pelo arcebispado da Bahia, buscando examinar os instrumentos empregados pelos frades na Igreja da Piedade, bem como nas missões pelo interior da Bahia, ponto esse em que encontramos pistas e respostas do porque da pergunta inicial. Consultamos também algumas produções como revistas comemorativas em homenagem ao trabalho missionário dos freis, narrativas essas que trazem em seu teor a história de glória e ações sociais da ordem para a cidade de Feira de Santana, o mesmo ocorre ao analisar o jornal Folha do Norte, onde encontramos algumas reportagens que sinalizam a presença de membros da ordem desde a década de 40, estabelecendo relações públicas com outros membros aqui instalados, assim como, representantes do poder governamental local. Nesse sentido, buscamos demonstrar que a atividade apostólica dos capuchinhos na educação, não esteve desvinculada da luta pela conservação do prestígio e pela manutenção da religião católica como organizadora da vida social, tendo em vista o avanço da modernização na cidade.

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Simpósio Temático 17 HISTÓRIA DA ÁFRICA: PERSPECTIVAS DE ENSINO, ESTUDO E PESQUISA Coordenadores: WILSON ROBERTO DE MATTOS DENILSON LESSA DOS SANTOS

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ste simpósio temático tem o objetivo de reunir professores, pesquisadores e demais interessados na História da África, para discutir perspectivas de ensino, assim como propostas de estudo e pesquisa sobre as sociedades africanas nas mais diversas temporalidades e dinâmicas culturais. Dessa forma, deve-se aproveitar o espaço do simpósio para refletir como, ainda na contemporaneidade, imaginamos e representamos o continente africano. Geralmente vê-se ainda o continente africano como um país, como lugar de pessoas selvagens, sem cultura e até um lugar sem literatura, uma vez que muitas produções literárias e artísticas africanas não eram vistas como tal. De outra forma, discursos essencialistas, também, representavam a África como a terra mãe da raça negra, a Mamma África, congelada num tempo mítico de puro esplendor e glória, embora seja preciso dizer que para os primeiros pan-africanistas a ideia de raça negra e o próprio continente africano passaram a se constituir numa referência de unidade de luta dos negros da África e da diáspora para combater o colonialismo, principalmente, lutar contra uma das principais armas desse colonialismo: o racismo. A história vivenciada pelas sociedades africanas deve ser vista, sobretudo, a partir de perspectivas que levem em consideração as suas múltiplas e complexas experiências. Portanto, precisamos pensar as práticas sociais, econômicas, culturais e políticas dos povos africanos carregados de significados que vão se contrapor aos discursos eurocêntricos, racistas, maniqueístas construídos pelas narrativas do ocidente, a exemplo das imagens e visões veiculadas pelo filósofo Friedrich Hegel, em sua obra Filosofia de la historia Universal, especificamente no capítulo Como vejo o mundo, e nesse caso com relação à África, defendia a ideia de que o continente africano não tinha história. Portanto, este simpósio debaterá sobre o ensino, a produção historiográfica em torno das sociedades africanas, buscando problematizar os significados de muitos estudos e experiência de ensino em torno da História da África. Por fim, este simpósio propiciará, igualmente, debater que os estudos africanos no Brasil, e em especial na Bahia, ganharam força e significado a partir da edição da Lei Federal 10.639/2003 160


que passou a obrigar as escolas brasileiras a incluírem nos seus currículos os conteúdos de Historia e Cultura Africana e Afro-Brasileira. Ana Lucia da Silva Pereira João Mouzart de Oliveira Junior joaomouzart21@hotmail.com

Rose Meire da Paixão Almeida

rosetraquina@hotmail.com Educação Além dos Muros: Museu Afro-Brasileiro de Sergipe uma extensão escolar (Laranjeiras/SE) Este projeto tem como objetivo analisar e descrever a utilidade metodológica do Museu Afro-Brasileiro. A metodologia aplicada far-se-á através de diversas etapas, sendo elas, a apresentação da presente pesquisa para a comunidade escolar, realização de palestra e seminários, exibição de filmes e documentários, organização da visita monitorada ao Museu, montagem de oficinas de danças envolvendo assim, o público alvo aos diversos ritmos africanos, organização de peças teatrais que foquem o cotidiano dos afro-brasileiros no Brasil, bem como a formação de grupos de estudos sobre a temática acima elucidada; criando minicursos, debates e congressos. Nesta perspectiva, temos como principais indagações: o que a instituição representa para os moradores da localidade? Qual a importância do Museu enquanto instituição de memória? Quais os diálogos que o Museu realiza com a sociedade sergipana? Como estão sendo executadas as exposições desta instituição? Qual a relação estabelecida entre Museu/Escola? Como tem sido realizada a função social do Museu afro-brasileiro perante a comunidade? A importância da implementação deste projeto visa motivar os discentes e a comunidade a repensarem as diversas mentalidades construídas no decurso da História, especialmente por ser esta, a primeira instituição a salvaguardar a cultura material do cotidiano das populações negras no Brasil. O referencial teórico utilizado foi: Pedro cunha, Esther Vaz, Moacir Gadotti, Beatriz Gois Dantas. Com o desenrolar deste projeto, pretende-se vislumbrar o papel representativo e social do espaço do Museu Afro Brasileiro como uma ferramenta política e pedagógica, suscitando assim, novas abordagens sobre a História dos afro-brasileiros no Brasil e suas consequentes contribuições para a difusão e formação do conhecimento. Palavras- Chave: Culturas Africanas, Educação, Metodologia, Museu.

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Anselmo Ferreira Machado Carvalho

Mestrando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista da CAPES machadoanselmo@hotmail.com

Apontamentos para um ensino da História da África por dentro

Este artigo se propõe a dar uma contribuição ao que sugere a Lei 10639/03 que regulamenta o ensino da História da África e de seus descendentes no Brasil, a partir das formulações teóricas de Franz Fanon, pensador martinicano, do historiador africano Jacques Delpechin, dos cineastas contemporâneos africanos, dentre eles, SouleymaneCissé e OusmaneSembene, que nos trazem uma visão da África por si mesma, ou seja, da África por dentro. Um dos nossos objetivos é apresentar aos professores da rede pública de ensino e aos colegas historiadores - aos quais este texto possa chegar- novas perspectivas para o ensino da História da África, desconstruindo as visões centristas e, mostrando, a partir da África, que a humanidade, e os seus processos de destruição, exploração, perda da consciência histórica e desumanização foram de abrangência universal. Não queremos desta forma, negar as particularidades e idiossincrasias dos povos africanos, mas, entender a partir da relação entre a história e o cinema, aspectos do processo da dominação colonial que perdura até hoje em muitos lugares do globo Também problematizamos as apropriações que a lei brasileira faz das formulações de Fanon, apontando aproximações e possíveis equívocos, entendendo que o diálogo deve proceder nas ligações entre o Brasil e a África. Palavras-chave: África, Fanon, ensino.

Arnaldo César Fausto Oliveira

Professor de História SESI. Especialista em PROEJA pela Universidade Federal da Paraíba arnaldocesar@fiepb.org.br

Educação antirracista na EJA: uma experiência na escola do SESI de Bayeux/PB

A presente pesquisa busca discutir a questão do racismo enfrentado pelas populações negras na sociedade brasileira através da análise do Projeto África: História e Cultura Afro-Brasileira, conhecer para valorizar, na educação básica na modalidade EJA, desenvolvido na escola Corálio Soares de Oliveira pertencente ao SESI na cidade de Bayeux, Paraíba. O projeto de antirracismo teve um período de duração de dois meses e meio, onde professores e alunos pesquisaram e confeccionaram materiais que tratam da discriminação racial e suas consequências sociais no Brasil. De forma crítica os alunos e professores analisaram textos, filmes e imagens. Houve participação dos professores das seguintes áreas do conhecimento: história, geografia, biologia e português. A metodologia utilizada foi a pesquisa qualitativa, tendo como sujeitos professores e alunos envolvidos no processo. Utilizou-se de um questionário com perguntas abertas e da análise bibliográfica sobre o fenômeno estudado. 162


Para isso, analisamos o contexto do processo de discriminação racial no Brasil e sua influência presentes na atualidade, discutindo o conceito de raça e etnias e os estereótipos trazidos nesses conceitos desde os tempos do Brasil colônia até a nossa atualidade. Os resultados da pesquisa apontam para um racismo camuflado, que começa a ser desconstruído a partir de reflexões críticas entre alunos e professores. Palavras-chave: antirracismo, inclusão social, políticas afirmativas.

Cínthia Nolácio de Almeida

Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) cinthianolacio@hotmail.com

A Lei 10.639/2003: “ranços e avanços” no ensino das histórias e culturas africanas e afro-brasileiras

O presente artigo tem como objetivo principal discutir a importância da implementação da Lei 10.639/2003, analisando-a como uma ação afirmativa que beneficia os afrobrasileiros, uma vez que, tornou obrigatório o ensino das culturas e histórias africanas e afrobrasileiras nos estabelecimentos oficiais de ensino do país, historicamente relegadas e marginalizadas do processo de escolarização. Objetiva, também, discutir os malefícios gerados pelo silenciamento e negação do ensino dos referidos conteúdos. Objetiva, ainda, refletir acerca das mudanças e/ou permanências no trato da diversidade racial na educação escolar a partir da criação desse dispositivo legal, ressaltando algumas problemáticas que limitam a consubstanciação da Lei no cotidiano educacional. Palavras-chave: Lei 10.639/2003; Educação escolar; Relações Étncio-raciais.

Denilson Lessa dos Santos

Professor de História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutorando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) denilsonlessa@hotmail.com

Moçambique: colonialismo, cristianismo e cobiça (1885-1940)

Conquistar corpos e almas era a tarefa das muitas missões católicas e protestantes espalhadas pelo território de Moçambique. De modo geral os africanos, denominados pelos colonizadores portugueses de indígenas – nativos da terra – eram vistos como selvagens, incultos, abúlicos e indolentes. Tais adjetivos, na ótica de muitosmissionários, representavam a antítese do “homem civilizado, dotado e enriquecido de qualidades nobres”. Entre o mundo dos “civilizados” e dos “selvagens”, muitos missionários defendiam a tese de que era preciso intervir para que os africanos um dia pudessem compartilhar do mundo superior, civilizado e cristão, portanto, do mundo dos colonizadores. Muitos se colocavam como verdadeiros representantes de Deus – o Deus do colonizador –na terra.Os africanos eram vistos como almas, 163


as almas negras, que deveriam ser conquistadas para o mundo do “Deus branco”. Dessa forma, o objetivo desse texto é analisar aspectos em torno das incursões e repercussões missionárias, principalmente católicas, nas terras de Moçambique no período de 1885-1940. Busca-se apreender qual era a concepção de conquista em jogo, gerado a partir da cobiça e muitas vezes a partir da caótica ordem colonial. Portanto, nesse caso específico, procura-sediscutir que as missões cristãs católicas, no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX, no contexto da partilha da África após a Conferência de Berlim, foram imprescindíveis paraauxiliar o Império português na efetiva conquista e dominação colonial do território moçambicano. Palavras-chave: Moçambique, Colonialismo e Missões Cristãs.

Edite Nascimento Lopes ---editylopes@hotmail.com

Congo: um país, muitas histórias, confrontando estereótipos

Este trabalho, ainda em andamento, tem como objetivo discutir o continente africano a partir das representações fílmicas da indústria cinematográfica hollywoodiana. Através da análise da narrativa fílmica intitulada “O Congo”, lançado no Brasil em 1995, procura-se mostrar como as imagens e cenas do mesmo contribuem para consolidar visões e sentidos baseados em clichês e estereotipias clássicas, bastante presentes nos filmes análogos, que possuem o continente africano como tema. Diferente do que é mostrado no filme em questão, o termo “Congo” pode nos remeter para diferentes sentidos, a exemplo dos países homônimos do continente africano, além do império de mesmo nome, que existiu ao longo dos séculos XV e XVII. Tratase de um trabalho de pesquisa que transita nas fronteiras da História e do cinema, uma vez que objetiva mostrar como a narrativa fílmica possui propriedades de construir e consolidar representações, sobretudo aquelas que insistem em mostrar o continente africano como o lugar do caos, da desordem, das guerras e da completa ausência dos valores morais. Para esta pesquisa foram utilizados os trabalhos dos historiadores africanos ElikiaM´Bokolo e Joseph Ki-Zerbo como forma de mostrar outra África, diferente da que foi apresentada no filme em questão. Este trabalho integra o projeto de pesquisa intitulado A África a partir das representações, coordenado pelo Prof. Dr. Ivaldo Marciano de França Lima, do colegiado de História da UNEB, campus II. Palavras-chave: África, Congo, Indústria Cinematográfica hollywoodiana, História da África, cinema.

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Iris Verena Santos Oliveira ---irisverena@bol.com.br

Caboclos e encantados: práticas religiosas e de cura no sul da Bahia (1930-1960)

Esta comunicação está vinculada a pesquisa que se situa em meados do século XX e tem como objetivo primeiro evidenciar as práticas religiosas de matriz africana no interior da Bahia. O objetivo é encontrar vestígios de rituais e crenças através da análise de processos criminais. A bibliografia brasileira acerca das religiões afrobrasileiras refere-se a Bahia, a partir de experiências com o sagrado que ocorreram em sua capital, Salvador, e ao Recôncavo Baiano. Entretanto, em diversas cidades do interior do estado, o universo religioso apresenta nuances particulares, com diferentes conexões entre tradições africanas e indígenas. Permeia esta proposta o entendimento de que a despeito do discurso da valorização da tradição, por vezes, entendida como imutável nos rituais religiosos, assim como as relações entre iniciados, pais e mães de santo com os seus deuses, evidenciam transformações, conflitos, tensões e também – por que não? – adequações. Neste texto, trato especificamente de processos criminais de feitiçaria, curandeirismo e candomblé ocorridos entre as décadas de 1930 e 1960, em Itabuna. A análise dessa fonte levanta questões acerca de práticas religiosas desenvolvidas, que se diferenciam dos rituais afro-brasileiros da capital, indistintamente apresentados como candomblé. Os processos criminais que envolviam pessoas supostamente ligadas às religiões afro-brasileiras abrem diversos caminhos para a investigação histórica. Geralmente, essas fontes apresentavam leituras de supostos adeptos do candomblé acerca dos seus rituais, ainda que a adversa situação de réu provavelmente tenha levado muitos acusados a falsear a verdade, a fim de evitar a condenação. Mesmo assim, os indícios de suas práticas religiosas, que eram discutidos, disfarçados e analisados como crime, podem, obviamente, se analisados por outra perspectiva, apresentar centelhas daquele universo mágico religioso e do cotidiano das pessoas envolvidas.

João Paulo Pinto do Carmo

Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (URFB). Bolsista CNPq cjoaopaulopinto@yahoo.com

Um lugar chamado quilombo: trajetória de uma Comunidade Negra Formada em um Engenho do Recôncavo Baiano (18901930)

Este artigo analisa a trajetória da comunidade negra, Quilombo, localizada no município de São Félix-BA. A comunicação objetiva refletir acerca dos elementos que possibilitaram a formação e fixação dessa comunidade nas terras do Engenho Sinunga. Para isso, a pesquisa centrou-se nas décadas seguintes à abolição (1890165


1930), momento em que o engenho continuou em atividade operando com a mão de obra de ex-escravos que permaneceram em seus antigos ofícios. A permanência dos egressos das senzalas e descendentes nos locais de trabalho, é aqui interpretada como sendo uma das circunstâncias cruciais que permitiram a manutenção de laços comunitários no pós abolição. Uma das motivações analisadas que contribuíram para a permanência de ex-escravos e familiares nas terras do Sinunga diz respeito ao acesso a terra para o cultivo de gêneros alimentícios. Mas, ao lado do acesso a terra os laços de parentesco também motivaram a continuidade da formação comunitária. Durante as quatro primeiras décadas seguidas após o advento do 13 de maio de 1888, nesse povoado, predominou uma maioria negra que, por volta de 1940 teve forte tendência à migração tanto para outras localidades rurais, quanto para os centro urbanos. Nesse sentido, compreendemos que, o engenho e a comunidade não podem ser estudados de forma separada, atentaremos também para as suas relações. Fundamentado nisso, apresentaremos uma análise dos resultados tendo como apoio e ponto de partida as fontes documentais escritas: escrituras de compra e venda de terra, registros de óbito e nascimento, assentos de casamento e os depoimentos orais. Palavras-chave: comunidade negra, ex-escravo, trajetória.

Laura de Almeida

Professora da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Doutora em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP) lauralmeida@bol.com.br

Proposta de estudo da presença africana no movimento identitário do hip hop no ensino de língua inglesa

Neste trabalho abordamos a discussão transdisciplinar do impacto da cultura hiphop no ensino de língua inglesa. Adotamos os conceitos sobre variação linguística apresentados por Labov (1972) e Tarallo (1986); as discussões sobre preconceito linguístico de Bagno (1999); as reflexões de Souza (2011) sobre os letramentos de reexistência no hip-hop e a questão da identidade presente nas pesquisas de Hall (2002). Serão analisadas letras de hip-hop com o intuito de investigar o uso do Black English Vernacular (BEV) e como esta variante contribui para a construção de uma identidade híbrida contrastando com o inglês padrão. Observamos que o uso do BEV, uma variante linguística diferente da língua padrão, em estilos musicais não inviabiliza o uso da língua como meio de comunicação. Palavras-chave: cultura africana, Lei 10.639, movimento Hip Hop.

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Leonardo Lacerda Campos

Professor de História da Rede Municipal de Ensino de Porto Seguro – BA e do Centro Educacional Instituto SHC – CEISHC ( Trancoso) leo.lacerda.campos@gmail.com

Lei Federal 10.639/03: A implantação da disciplina “Afro” na Rede de Ensino Municipal de Porto Seguro – Bahia

O presente trabalho objetiva analisar os caminhos que foram trilhados pela implementação da Lei Federal 10.639/03 a partir da disciplina, denominada “Afro” no Município de Porto Seguro, que tem como pressuposto integrar social e culturalmente o afro-brasileiro por meio de bases educacionais nas escolas da Rede Municipal de Ensino de Porto Seguro - BA. Esta lei prevê, entre outras medidas, a inclusão obrigatória de conteúdos programáticos sobre História da África e Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares, assim como examinar de que forma as Ações Afirmativas, programas, propostas e planos curriculares atendem às orientações da referida legislação, constatando ainda se as lacunas presentes no tratamento da História, da cultura e dos demais elementos referentes ao negro e sua trajetória no Brasil e no Continente Africano estão sendo revistas no planejamento de ensino dos professores. Para o alcance do almejado sucesso das Políticas Públicas do Estado brasileiro, institucionais e pedagógicas, visando reparações, reconhecimento e valorização da identidade, da cultura e da história dos negros brasileiros, faz-se necessário a adoção de medidas voltadas às condições físicas, materiais, intelectuais e afetivas, favoráveis ao ensino e às aprendizagens; ou seja, todos os alunos negros e não negros, bem como os seus professores, precisam sentir-se valorizados e apoiados, sobretudo no processo de reeducação das relações entre negros e brancos, hoje designada como relações étnico-raciais. Depende, ainda, de trabalho conjunto, articulação entre processos educativos escolares, Políticas Públicas, movimentos sociais, visto que as mudanças éticas, culturais, pedagógicas e políticas nessas relações se limitam à escola. É neste contexto que a presente pesquisa se propõe, mensurando as relações dos Planos de Ação Municipal e de aplicação dos Recursos governamentais com a formação de professores para este processo, destacando os primeiros problemas e resultados encontrados para a implantação e como estão sendo tratados os conteúdos direcionados para a promulgação da Lei nº 10.639/2003. Palavra–chaves: afro-brasileiros, educação, Lei Federal 10.639/03, relações étnico-raciais.

Luana da Conceição Pereira

Graduanda pela Instituição Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) luana.pereira131@gmail.com

A inquisição portuguesa contra um africano em Lisboa: o caso de Antônio

Certamente o tema Inquisição tem sido bastante abordado ao longo dos tempos. 167


Contudo, tal temática ainda é muito deficiente, quando voltada aos estudos relacionados aos vários africanos “contemplados” por esta instituição políticoreligiosa. No séc. XVI a presença de negros era considerável em Lisboa, e isso obviamente causava qualquer impressão para esta sociedade. Certamente muitos deles praticavam a sodomia, um prato cheio para a ação dos inquisidores. Sabendo disso, pretendo ao fim deste trabalho [ainda em andamento] ter conseguido observar, antes de qualquer coisa, de que forma se refletiu este impacto causado em Lisboa por esta presença africana tão significante, além de mostrar que de fato muitos negros passaram pela Inquisição de maneira muito significativa, e entender ainda como o que a Santa Inquisição chama de crime de sodomia de fato poderia ser muito natural entre muitos dos acusados, como era o Caso de Antonio. A fonte pretendida para este fim é o processo inquisitorial contido no Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT) em Portugal, o qual consiste na acusação contra um negro, segundo a documentação escravo, natural do Benin, acusado de sodomia em Lisboa, no séc. XVI (1556-1558). A metodologia neste caso consistirá justamente na transcrição total e acompanhada da leitura deste documento, seguida da aplicação desta interpretação, para a sustentação da pesquisa. Em seguida serão feitas as devidas leituras da historiografia que trata sobre a Inquisição como um todo, a Inquisição portuguesa, a Inquisição em África, e ainda sobre sodomia. O terceiro e último passo será dialogar com estas leituras, procurando reter e armazenar dados necessários para o sustento do tema por mim apresentado. Palavras-chave: Inquisição, africanos, sodomia.

Marluce de Lima Macêdo

Professora/doutoranda da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista UNEB marlucemacedo@yahoo.com.br

Estudos africanos e ensino de História e cultura africana e afro-brasileira: digressões e encruzilhadas

Esse texto é uma reflexão produzida a partir da minha participação no Programa de Formação Inicial nos Estudos Africanos: História, Antropologia e Literatura, promovido pelo Centro de Estudos dos Povos Afro-índio-americanos – CEPAIA, através da Reitoria de Pesquisa e Ensino de Pós-Graduação-PPG da Universidade do Estado da Bahia – UNEB. Neste artigo apresento algumas reflexões sobre os Estudos Africanos e suas relações com o Ensino de História e Cultura Africana e Afro-brasileira, buscando explicitar o que tomo por “Estudos Africanos”, traçando relações entre estes e a formação de professores, analisando a relevância desses estudos nos processos de formação e como eles podem contribuir para ampliação das pesquisas e do ensino referentes às temáticas relativas às populações negras africanas e das diásporas. Ao falar em “Estudos Africanos”, no entanto, não me refiro a qualquer produção sobre a temática – os “Estudos Africanos” a que me reporto, diz a respeito aqueles que buscam o aprofundamento das bases 168


históricas, trazendo como protagonista o próprio povo negro, suas produções intelectuais, suas experiências cotidianas, suas memórias de dores e alegrias. Palavras-chave: estudos africanos, ensino de história, formação de professores.

Rosangela Souza da Silva ---rosangelasilva@ufrb.edu.br

A Lei 10.639/03 e o ensino da História e cultura africana e afro-brasielira na educação básica: tecendo algumas reflexões

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Simpósio Temático 18 HISTÓRIA DA ASSISTÊNCIA À SAÚDE NO BRASIL: DIVERSIDADE DE PRÁTICAS E SABERES Coordenadores: CLEIDE DE LIMA CHAVES CHRISTIANE MARIA CRUZ DE SOUZA

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presente simpósio busca ser um espaço para o debate acerca da história da assistência à saúde no Brasil, a partir de estudos sobre as instituições caritativas, filantrópicas, particulares e públicas surgidas no país para responder às mais diversas demandas de saúde; bem como visa discutir a diversidade de práticas terapêuticas, como as de origem africana, indígena e/ou europeia, e de saberes relacionados à saúde dentro e fora dessas instituições de saúde. Desta forma, procuramos ampliar o debate sobre a história sócio-cultural da saúde no Brasil, a partir das relações entre sociedade, medicina e práticas de cura. A temática da história da assistência à saúde no Brasil é relativamente recente e o campo de pesquisa em história da saúde tem crescido enormemente nos últimos anos no Brasil e na Bahia. No entanto, a divulgação das pesquisas sobre a temática da assistência à saúde na Bahia e no Brasil ainda necessita de mais canais de divulgação efetivos. Esse é o intento deste simpósio, o de divulgar pesquisas inéditas sobre a saúde no Brasil, evidenciando a diversidade de fontes, as possibilidades de temas e de pesquisa neste campo. Visa, por fim, reforçar as ações do Grupo de Pesquisa do CNPq “História da Assistência à Saúde” que vem desenvolvendo estudos em nível de mestrado, doutorado e pós-doutorado em temas filantropia e assistência; assistência e escravidão; assistência e infância; e patrimônio cultural da saúde. Adailton Ferreira Santos

Professor/Doutorando Universidade do Estado da Bahia (UNEB) aferro@ig.com.br

Arquivo saúde da população negra da Bahia oitocentista

Neste estudo, discute-se sobre a formação do Arquivo Saúde da População Negra, composto por documentação primária, referente ao percurso da saúde deste grupo de habitantes no século XIX, na Província da Bahia. A realização de estudos e projetos voltados para a história da ciência da saúde possibilitou a formação deste tipo de acervo e dota-se uma abordagem que focaliza ciência e sociedade com propósito de interação das diferentes esferas da sociedade como política, economia e cultura 170


com a produção do saber. Muitos estudos em história da ciência vêm mostrando que a historiografia da ciência, modificou-se profundamente, considerando a existência de uma produção científica em regiões como a América Latina. Essas fontes documentais são registros e testemunhos do percurso do conhecimento e compunha um dos acervos temáticos do Centro Documentação Digital em História da Ciência (CDHC). Pretende-se com este acervo temático possibilitar a pesquisa virtual em história das ciências na Universidade do Estado da Bahia (UNEB), instituição multi campi presente em todas as regiões da Bahia. Este trabalho é desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa em História, Filosofia e Ensino de Ciência (GPHFCE), formado por professores de várias áreas do saber e de IES diferentes localizadas das regiões nordeste e sudoeste do país. Os primeiros estudos dessa documentação revelaram que alguns grupos de médicos e instituições de ciências da saúde estudavam as doenças que acometiam, especialmente, a população negra e que fizeram muitas vítimas na Bahia. Palavras-chave: História das Ciências, documentos saúde da população negra, Bahia Oitocentista.

Ana Clara Farias Brito

Profa. Assistente da Universidade de Pernambuco (UPE) acbritoufba@yahoo.com.br

Ciência, Saúde e civilização no sertão: o saber médico e a modernização do Vale do São Francisco através do jornal o Pharol 1915 – 1920

O presente trabalho tem como objetivo abordar o processo de modernização do Vale do São Francisco destacando a divulgação do saber médico para a comunidade nas primeiras décadas do período republicano. Para tanto, trabalhamos com a problematização do Jornal o Pharol veículo propagador do ideário moderno no sertão. A imprensa da região, particularmente o Jornal o Pharol, se configurou como um veículo que veio a imprimir linguagens e imagens vinculadas a costumes e idéias modernas que paulatinamente repercutiram na organização dos espaços sociais e nas vivências do sertão no inicio do século XX. Desta forma tentamos perceber através do periódico em questão, como o saber médico é evidenciado em detrimento das outras práticas de cura no Vale do São Francisco. Os pesquisadores da História das Ciências demonstram, em seus estudos recentes, a existência de um desenvolvimento científico próprio e original, construindo, portanto, uma História Social das Ciências que concerne à própria cultura e identidade dos países da região, pois a ciência por ele desenvolvida produz uma interação com o meio social e é explicado por ela. Entretanto, os estudos ainda se concentram em instituições localizadas no sudeste do país. Neste sentido, objetiva-se neste trabalho problematizar outros espaços, apontando como o processo de modernização e civilidade alcança os interiores do país. De forma especifica, trabalhamos, ainda que de maneira inicial, a tentativa dos “homens de ciência” dar visibilidade ao saber médico no 171


Vale do São Francisco mais precisamente nas cidades de Petrolina e Juazeiro. Palavras-chave: sertão, modernidade, medicina.

Ana Claudia Rocha Tomagnini Igurrola

Professora Assistente do Depto de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutoranda pela Universidad de Salamanca (Espanha) anacitrica@gmail.com

A medicina popular praticada por mulheres em âmbito doméstico: a tradição do uso das ervas medicinais em Vitória da Conquista Bahia de 1950 até a atualidade

A medicina popular praticada por mulheres em âmbito doméstico: a tradição do uso das ervas medicinais em Vitória da Conquista Bahia de 1950 até a atualidade. As terapêuticas populares no Brasil têm origens que remontam à presença dos indígenas que já viviam neste país antes da chegada dos colonizadores portugueses, no século XVII. Eram estes homens, sem escrita e sem deuses cristãos que detinham os conhecimentos sobre as plantas medicinais existentes. Mesmo quando a medicina culta foi institucionalizada, os médicos, os remédios e os hospitais eram escassos. Era uma medicina cara e pouco acessível. Os terapeutas populares eram vistos por seus pacientes não só como uma opção mais barata de cura, senão que também eram considerados mais eficazes. A herança desses tempos em que a medicina popular tinha prestígio e era tolerada segue viva em diferentes práticas de cura, afastadas da ciência médica. E uma das práticas mais comuns é o a terapêutica popular com ervas medicinais praticada por mulheres, em seus lares. Em geral, essa medicina popular é desenvolvida por mulheres a nível de suas famílias e comunidade, utilizando práticas antigas (baseadas na utilização de plantas medicinales e alguns remédios tradicionais, vendidos sem receita médica) que provém de conhecimentos adquiridos, principalmente, por meio da transmissão oral. Esta combinação entre o lar e a medicina popular segue vigente por várias razões: as tradições orais permanecem, e com elas, as receitas das medicinas caseiras; o custo elevado dos remédios alopáticos. As ervasmedicinales e os cuidados dessas mulheres são gratuitos. A flora brasileira é rica em ervas medicinales, e a maioria tem sua eficácia comprovada. Palavras-chave: mulher, medicina popular, quintais.

Christiane Maria Cruz de Souza

Professor do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) christianemaria@ifba.edu.br

O sertão revelado pelas epidemias – Lócus de miséria e doenças, signo do abandono do Estado

As condições de vida e saúde nos “sertões” da Bahia, assim como o esforço dos 172


poderes públicos instituídos para interiorizar as ações de saúde no estado, no período conhecido como Primeira República, são os pontos que desenvolveremos nessa comunicação. No primeiro decênio do século XX, os centros urbanos flagelados por contínuas ondas de doenças epidêmicas e o abandono, a miséria e as doenças dos sertanejos, revelados sob o impacto das epidemias que avançavam também sobre os sertões, contribuíram para ampliar a percepção, entre as elites, que nem os mecanismos de segregação dos despossuídos, nem o assistencialismo, impediam que os efeitos externos da pobreza afetassem coletivamente os mais prósperos. A partir de então, a doença passou a ser vista pelos grupos dominantes como principal problema e maior obstáculo à ascensão do Brasil ao nível dos países modernos e civilizados e o binômio saúde/doença entrou na pauta das discussões das camadas letradas do país. Interessamo-nos por analisar a importância assumida pela saúde na Bahia nesse período e por compreender como essa questão foi conduzida no estado. Para tanto, nos valeremos das informações recolhidas em fontes primárias como jornais; boletins, cartas e relatórios dos médicos sanitaristas; mensagens dos governadores à Assembléia; leis que regulamentaram as questões de saúde no Brasil e na Bahia; jornais editados no interior e na capital; além da literatura especializada no assunto. Palavras-chave: saúde, sertão, Bahia.

Cleide de Lima Chaves

Professora Adjunta do Departamento de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) keuchaves@hotmail.com

Os “Primeiros trabalhos do Hospitalzinho”: A Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista (1913-1924)

O presente trabalho busca evidenciar as origens da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vitória da Conquista entre as décadas de 1910 e 1920. Esta instituição, originada no século XV na Europa, iniciou suas atividades em Conquista a partir da iniciativa da Sociedade Vicentina, fundada na cidade por um pároco em 1913. Os estudos sobre as Santas Casas apontam-na como irmandade leiga, ainda que com vínculos com a Igreja Católica, haja vista que seus irmãos deveriam seguir o catolicismo, conforme aponta muitos estatutos desta instituição no Brasil. No entanto, a peculiaridade da formação desta Irmandade foi ter sido forjada no interior da Igreja Católica, sob a liderança explícita de um religioso. Este trabalho visa contribuir e “interiorizar” os estudos sobre a assistência médica na Bahia, a partir da pesquisa sobre o papel desempenhado pela Santa Casa de Misericórdia na cidade de Vitória da Conquista do início do século XX. Concluímos que a Santa Casa de Vitória da Conquista teve trajetória similar às suas congêneres, tendo desempenhado as funções de assistência médico-hospitalar em uma região carente de recursos econômicos. Suas lideranças, tanto religiosas quanto 173


médicas, personagens nascidos em outras cidades, foram capazes de aglutinar interesses e criar um espaço de assistência aos pobres da cidade e sua filantropia substituiu, em grande medida, o papel que deveria ser do Município ou do Estado. Palavras-chave: assistência, saúde, Bahia.

Esdras Santos Oliveira

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista FAPESB esdras.music@hotmail.com

Notas de pesquisa sobre as doenças no jornal Diário da Bahia (1889-1930)

Nas últimas décadas do século XX, o campo de pesquisa relacionado à história da saúde e das doenças ganhou dimensão importante entre os historiadores. Com base nos pressupostos teóricos e metodológicos de uma historiografia renovada, as doenças, tanto endêmicas quanto epidêmicas, vêm sendo estudadas a partir de diversas abordagens. A proposta desta comunicação é mostrar como o Diário da Bahia, jornal da grande imprensa baiana, divulgou notícias relacionadas a essa temática. Entendemos a Grande Imprensa como uma empresa jornalística, uma indústria que mercantiliza a informação, que vende a notícia. Tendo como base de sustentação a publicidade, veicula a ideologia da classe dominante. Tratase, portanto, de apresentar resultados iniciais de uma pesquisa em andamento, relativos aos anos de 1902 a 1906. Pelo que foi possível observar até o momento, temas relacionados à saúde e à doença foram constantes nesse periódico. Matérias sobre a febre amarela, a peste bubônica, a varíola e a tuberculose apareceram sempre entre as primeiras páginas. Esse periódico noticiou, ainda, a existência de remédios prometendo “curas milagrosas”, relatos de médicos e pacientes acerca da eficácia do uso de medicamentos, além de propostas governamentais de intervenção no campo da saúde e da higiene. A doença é compreendida aqui como um fenômeno social, cujos sentidos são construídos e reconstruídos pelos diversos sujeitos sociais. Nessa perspectiva, seu estudo possibilita conhecer a multiplicidade da experiência histórica. Palavras-chave: doença, saúde, imprensa.

Kalyna Ynanhiá Silva Faria --kalynaynanhia@gmail.com

As sociedades assistencialistas em Goiânia nas décadas de 1940 e 1950, o caso do Preventório Afrânio de Azevedo

O presente trabalho propõe e propõe analisar as práticas assistencialistas de cuidados aos filhos dos internos do Leprosário Colônia Santa Marta que viviam no Preventório Afrânio de Azevedo em Goiânia entre as décadas de 1940 e 1960. Em 174


Goiás os doentes de lepra não tinham até a década de 1930 política ou instituição que regulamentasse os cuidados em relação a doença. No ano de 1937 perpassando os discursos de transferência da capital do Estado de Goiás para a região de Campinha das Flores, tornou-se plausível a construção de um leprosário e consequentemente de um preventório. A segregação dos filhos e familiares foi delimitada com a construção de um espaço que os acolhesse para que pudesse ser feito um diagnostico rápido e preciso. A construção do Preventório Afrânio de Azevedo complementava o discurso modernizador e sanitarista que justificava a transferência da capital, e que neste ponto oferecia credibilidade às medidas profiláticas de controle da lepra em Goiás na década de 1930 e foi uma iniciativa da Sociedade Goiana de Assistência aos Lázaros e de Defesa contra a Lepra. Através de reportagens da Revista Oeste e do Diário da Tarde o dia-a-dia da instituição é apresentado em aspectos distintos, pretendem-se analisar quais foram as principais influências dessas sociedades assistencialistas no Preventório Afrânio de Azevedo.

Maihara Raiane Marques Vitoria

Mestranda do PPG em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA) myamarques@hotmail.com

Os Filhos da Misericórdia: assistência à infância desvalida em Salvador na segunda metade do século XIX

A assistência institucionalizada aos enjeitados esteve presente no Brasil desde o período colonial por meio das Câmaras Municipais, Rodas de Expostos e Recolhimentos de Meninas Pobres. Na cidade de Salvador, a principal instituição responsável pelo acolhimento de crianças abandonadas foi o Asilo de Nossa Senhora da Misericórdia, popularmente conhecido por Asilo dos Expostos, fundado em 1726 e que se manteve em atividade até a década de 1930.A partir de meados do século XIX, em meio às mudanças ocorridas na sociedade, o trato dado à criação de menores tomou um novo rumo. A reformulação da legislação referente às Câmaras Municipais e à administração do Império modificou a forma de lidar com a infância desvalida. Aliado a esse fator, surgiu a inserção do saber médicohigienista, com o incentivo aos cuidados em relação à criança pequena, cujos debates tornaram-se temas freqüentes nas teses da Faculdade de Medicina. Nesse sentido, o estudo sobre os mecanismos de assistência à infância pobre de Salvador nos permite penetrar no cotidiano desses sujeitos, na busca de conhecer suas vivências, seu dia-a-dia, suas formas de relação com os demais setores sociais e seus mecanismos de sobrevivência em uma sociedade marcada pela decadência do sistema escravista e pela difusão de teorias que visavam a “modernidade” e o “progresso” e que viam em sua existência a marca do atraso e o símbolo do passado colonial. Palavras-chave: assistência, infância, abandono.

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Maria Elisa Lemos Nunes da Silva

Professora Adjunta da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutora em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) elisa.lemos@uol.com.br

A Primeira Conferência Nortista de Tisiologia (Bahia, 1938)

Entre os dias 24 e 27 de novembro de 1938, ocorreu, na cidade de Salvador, a Primeira Conferência Nortista de Tisiologia. Organizada pelo Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose – IBIT, esse evento objetivou discutir propostas para o enfrentamento da tuberculose, articulando os “tisiólogos do norte” e preparando-os para participar do Primeiro Congresso Nacional de Tuberculose que ocorreria no ano seguinte. Nesse momento, a chamada peste branca era a doença de maior incidência e mortalidade em diversas cidades do Brasil. No caso específico da cidade do Salvador, entre os anos de 1932 e 1936, 6.733 pessoas morreram por causa dessa doença, o que representava um coeficiente de mortalidade de 463.0 óbitos por 100.000 habitantes. As discussões realizadas na Primeira Conferência Nortista de Tisiologia, voltadas tanto para os aspectos terapêuticos específicos, quanto à organização de um “armamento antituberculose”, acabaram sendo direcionadas para a existência de “questões específicas regionais da tuberculose” e, embora tenha havido dificuldade em defini-las, elas se constituíram como uma forte estratégia discursiva utilizada a partir de então. Ainda que a participação dos “estados do norte” não tenha ocorrido como o esperado, uma vez que apenas o Rio Grande do Norte mandou representante, esse evento inaugurou a prática de realização de conferências nortistas de tisiologia, seguida por Recife e Manaus, cidades que sediaram a segunda e a terceira conferências, respectivamente. Palavras-chave: tuberculose, Conferência Nortista, IBIT.

Pedro Valmir Guimarães Souza pedro.valmir@bol.com.br

Wilson Pereira Costa

Saberes Populares: remédios caseiros e tradição, uma amostra de resistência na Amazônia Tocantina A pesquisa Saberes Populares: remédios caseiros e tradição, uma amostra de resistência na comunidade de Ajó, município de Cametá, utilizando fontes orais, imagéticas e bibliográficas, tem como objetivo registrar os saberes tradicionais, especialmente a medicina popular baseado no uso de plantas medicinais utilizadas pelos habitantes de Ajó, visando compreender, tanto a contextualização histórica de tais práticas, quanto, as transformações que estão enfrentando ao longo do tempo. Procurando verificar de que forma a população local se relaciona com as medicinas: convencional e popular. E como esse conhecimento se torna um elemento de resistência ao conhecimento tradicional da medicina, e também como eles se relacionam de maneira conflituosa, pois a medicina tradicional, não chega em todos os lugares, enquanto o saber popular está presente até mesmo nos lugares mais longiquo da Amazônia tocantina, dessa 176


forma é importante compreender como se da essa relação. É importante também saber como essas comunidades tão distante vivência essas realidades conflituosas entre o saber tradicional da medicina e o saber popular que tem salvado tantas vidas, não só na Amazônia, mas por todo o Brasil. Por isso é importante reconhecer que o conhecimento popular é importante para o desenvolvimento de toda a sociedade acadêmica ou não. Palavras-chave: Saberes, tradição, plantas medicinais, resistência.

Tatiane Pereira Amorim

phntaty@hotmail.com “A cidade enlutada”: política e peste em Vitória da Conquista (1920-1928) O objetivo deste artigo é analisar o surgimento e o impacto causado pela epidemia de peste bubônica que assolou a cidade de Conquista em finais de 1927 e meados de 1928. A peste bubônica, também denominada por peste negra devido aos bulbos escuros que se formavam nas axilas e virilhas das pessoas contaminadas, é transmitida ao homem por meio dos ratos, principais vetores que abrigam as pulgas transmissoras da doença. Este trabalho pretende demonstrar as relações e tensões politicas existentes nas primeiras décadas do século XX, as ações de saúde empreendidas pelos poderes municipal e estadual para o combate à peste, a posição assumida pela imprensa ao divulgar a notícia da propagação da epidemia, bem como a reação popular diante de tal calamidade. A reflexão aqui proposta se apoia em fontes primárias como — Jornais em circulação da época, Atas do Conselho Municipal da cidade de Conquista e registros de óbitos referentes aos anos de 1927 e 1928. Procuramos também recorrer a trabalhos que discorrem sobre o contexto político da cidade de Conquista no período abordado, bem como a bibliografias que abordam a temática da peste bubônica em outros locais e períodos, além de recorrer a estudos na área específica da História da Saúde.

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Simpósio Temático 19 HISTÓRIA DE FESTAS E FESTEJOS Coordenadores: RAPHAEL RODRIGUES VIEIRA FILHO MILTON MOURA

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ensamos esse ST para receber trabalhos sobre qualquer perspectiva, os mais diversos ângulos de análise ou que utilizem qualquer tipo de documento sobre as Festas. Um dos temas que mais têm crescido no âmbito dos estudos históricos é a festa. Estudos em diversos lugares e sobre diverso segmentos da população mostram uma diversidade de formas de organização, como também de abordagens, oxigenando cada vez mais a historiografia. Corpora documentais dos mais variados são elencados para proporcionar análises de diversos tempos e espaços por onde circulam ou circularam festas e festejos, oferecendo campos variados de trabalho aos historiadores dos mais diversos matizes. O que se festeja? Como? Onde? Quem festeja? De onde vêm essas manifestações? Como têm se reconfigurado continuamente até se nos apresentarem em documentos de outras épocas ou diretamente diante de nossos olhos e ouvidos? O fascínio exercido por este objeto parece vir inclusive da constatação de que a festa, se por um lado é descontínua com relação aos cânones da normalidade cotidiana, por outro lado, não deixa de estar plantada no chão dos padrões de sociabilidade vigentes. Seja pela descontinuidade, seja pela continuidade, a festa tanto compõe quanto modifica e revela a sociedade que festeja, assim como os embates e enfrentamentos dos grupos sociais com autoridades ou outros grupos, por mais espaço ou para garantir as brincadeiras, trazem elementos essenciais para a compreensão da sociedade estudada através das festas e festejos. Adriana da Silva Oliveira

Mestranda do PPG em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES adriana_lso@hotmail.com

Viva São João! Festa e sociabilidades nas comemorações em Cruz das Almas-Ba

As características que fazem agrupar os múltiplos segmentos sociais constituílos dentro de um espaço, identificá-lo com elementos afins definem festa como possibilidade de reflexão pautada através de redes de sociabilidades, onde podem ser encontrados ou criados subsídios de representatividades e identidades que 178


compões um quadro sobre ações e experiências dos sujeitos históricos através de sua cultura e vivenciados no cotidiano desses indivíduos, e como estes constroem suas relações e histórias. A partir dessas concepções procuro identificar o sentido de festejar construído no São João da cidade de Cruz das Almas - BA a partir das experiências e tensões vividas nesse festejo junino, que tem a “guerra de espadas”, como um dos principais elementos festivos, possibilitando definir para o campo das relações análises que apontam para a re-atualização de experiências para os diversos grupamentos sociais existente no festejo. A festa neste sentido apresenta-se não apenas como uma comemoração implica a construção de laços e proximidades que coadunam a composição de variados elementos da história, possibilita ainda que os diversos grupos sociais possam manter e atualizar os múltiplos significados de vida, mantendo viva através de expressões coletivas que tendem se atualizar através da incorporação de novos elementos, o abandono de outros ou mesmo a retomada de antigas práticas para a valorização das tradições. Palavras-chave: sociabilidade, identidade, festa, São João.

Alex Sandro da Conceição Brandão

Professor da Rede Estadual de Educação no Município de Cabaceiras do Paraguaçu. Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) asc.brandao@hotmail.com

A Festa dos Santos Reis em Governador Mangabeira- Ba: A Ressignificação da Tradição

Estudar os festejos em louvor aos Santos Reis, consiste em analisar o significado desta manifestação de caráter religioso marcante no Recôncavo Baiano, especificamente para os moradores da Comunidade Rural de Aldeia, (Gov. Mangabeira), que tem os Reis Magos como padroeiros da referida comunidade. Além disso, tenta perceber como essas pessoas compreendem o processo de reinvenção que a tradição de festejar os três reis magos vem passando ao longo do tempo por uma necessidade de se readaptar a um novo contexto, uma vez que as tradições não significam sobrevivência de antigas formas e práticas congeladas no tempo, mas sim, sua capacidade de agregar e articular novos elementos, com as praticas tradicionais, possibilitando, dessa forma, uma nova configuração. Outra questão que permeia o estudo dos festejos em louvor aos Santos Reis, perpassa por investigar e analisar a teia de relações e tensões sociais presentes dentro desta manifestação da cultura local, haja vista que a festa além de ser um espaço de encontro e de sociabilidade, é também uma forma da sociedade expressar uma ela estar organizada em determinado tempo e lugar. Palavras-chave: Festa, memória, tradição e poder.

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Bianca Silva Lopes Costa

biancalscosta@gmail.com.br Os significados do festejar a Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba-Ba Este trabalho analisou os sentidos e significados do festejar a Nossa Senhora do Rosário em Itaberaba-BA. Para esta pesquisa foram contempladas fontes documentais como o jornal “O Itaberaba”, além dos registros paroquiais, os quais suscitaram questionamentos, que possibilitaram a problemática dessa pesquisa, através da qual busquei analisar as relações sociais e os múltiplos sentidos e significados concedidos pelos devotos a festa de Nossa Senhora do Rosário. As narrativas orais dos sujeitos sociais sobre o festejo em Itaberaba possibilitaram considerações substanciais para a compreensão de diversificados elementos que ocorreram nos festejos a Padoreira, sobretudo aqueles relativos ao papel dos grupos sociais, e dos possíveis conflitos sociais que ocorreram no festejo. A abordagem teórica da História Cultural permeia este trabalho, a mesma mantém um expressivo diálogo com outros campos do conhecimento, o que vem a ampliar os estudos sobre a prática religiosa. Os rituais e os exercícios de fé que antecediam a festa, como a preparação do corpo espiritual, novenas, os cantos, as participações que abrilhantavam a comemoração, além das quermesses e outras situações que ocorreram na pomposa homenagem a Santa foram contemplados nesse trabalho, o qual evidenciou como homens, mulheres e crianças construíram suas identidades, a partir da multiplicidade de vivências e simbolismos ocorridos na festa religiosa.

Daniele Neris de Souza Cerqueira

Especializanda pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) danizinhauefs@yahoo.com.br

As irmandades e festas religiosas populares: expressões de fé na Bahia

O objetivo deste artigo é apontar algumas considerações sobre o campo religioso brasileiro e baiano, ressaltando que várias religiões vêm convivendo e disputando espaço no cenário baiano, mas que este é um espaço ainda majoritariamente católico. Serão destacadas também nessa análise as formas de expressão do catolicismo através do papel desempenhado pelas irmandades religiosas na Bahia (como surgiram, como atuaram e atuam, as influencias que tinham na sociedade e as várias interpretações que ainda suscitam). Além disso, pretendo demonstrar como as festas de devoção aos santos católicos se revigoraram e se tornaram um rico campo de investigações, que têm possibilitado muitos olhares a essas expressões de fé. A festa é um espaço de sociabilidade que para a maior parte da população, se realizava fora do âmbito domiciliar, uma vez que os grandes momentos de interação social eram nessas festas. As práticas católicas eram marcadas por efusivas 180


manifestações de fé que mesclavam sagrado e profano, demonstrando um dinamismo próprio para a celebração em momentos que não seguiam regras prescritas pela liturgia. Esse trabalho é uma contribuição para uma reflexão sobre a experiência pessoal e coletiva religiosa bem como as festas fornecem também indicações importantes sobre as estruturas e transformações dos costumes de um povo. Palavras-chave: irmandades, festas, campo religioso baiano.

Elvis Pereira Barbosa

elvisb@uesc.br Sacralizando espaços naturais Este trabalho busca evidenciar a sacralização de espaços naturais, em especial o ambiente de cavernas, através da realização de peregrinações cristãs em algumas regiões do sertão da Bahia. Toma-se como ponto de partida, a transformação de certas cavernas – como a Lapa da Mangabeira em Ituaçu, Gruta de Patamuté em Curaçá, Gruta do Bom Jesus em Iramaia e a Gruta do Bom Pastor em Paripiranga, todas elas localizadas no estado da Bahia – em locus sagrado. Discute-se especialmente como a população comum produz os símbolos e signos deste fenômeno cultural, a maneira como a Igreja Católica reconhece os mitos e ritos expressos pelos indivíduos que frequentam estes espaços como um local próprio para o culto religioso e a forma como a instituição apropria-se de um signo que originalmente não é seu, reprocessando-o e dando outra conotação completamente diferente, e muitas vezes divergente, do original. Na maioria dos casos o ambiente é tornado sagrado a partir da ocorrência de um fenômeno fantástico, o “milagre”, mas em outros momentos a igreja impõe a sacralização do espaço à população sem levar em consideração se ali ocorreu ou não aquilo que é considerado pelos fieis como “milagre”. Este fenômeno não ocorre de forma isolada, ele encontra-se perenizado no cotidiano do homem religioso do sertão, que busca no sobrenatural – em especial no “milagre” – a superação das agruras da região onde vive. Palavras-Chave: Romarias; Cavernas; Sagrado; Sertões da Bahia.

Fernanda Reis dos Santos Santos

Doutoranda em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista FAPESB fernanda.reisdossantos@gmail.com

A Festa de Yemanjá em Salvador (1924 – 1976)

Este trabalho pretende estuda a festa de Yemanjá realizada em Salvador como sendo a maior demonstração pública do Candomblé na cidade. Considerada pela Secretaria de Cultura e Turismo a terceira maior manifestação religiosa da Bahia, esta celebração integra o ciclo de festas religiosas que acontecem durante o verão, em Salvador. Porém, diferentemente de outras festividades que celebram algum santo católico, esta cultua 181


uma divindade africana. A festa de Yemanjá é a única manifestação religiosa pública exclusiva do Candomblé, cuja visibilidade social extrapola as fronteiras da Bahia e acontece independente do calendário da Igreja católica. Apesar de o dia 2 de fevereiro ser consagrado a Nossa Senhora das Candeias, não há nenhuma associação entre o orixá e a Virgem Maria. Uma análise dos jornais locais nos demonstra que este processo de visibilidade e reconhecimento social foi construído historicamente, atendendo especialmente a interesses políticos. Os jornais nos evidenciam que a denominação utilizada para identificar o culto à Yemanjá, até o final da década de 1950, era Presente da Mãe d’água. Somente a partir da década de 1960, encontramos esta manifestação como Festa de Yemanjá. É possível que essa mudança na denominação do culto, foi a demonstração da supremacia da tradição nagô, influenciado pelo chamado “processo de nagoização”, o qual deve ser compreendido como resultado da complexa interação de uma pluralidade de fatores. A partir da década de 1970, o discurso da baianidade é ressignificado. A partir de então, a Bahia deveria ser singularizada pela herança africana, com ênfase nos seus aspectos festivos e como estratégia política e turística, sendo consolidada no primeiro mandato do governador Antônio Carlos Magalhães, entre 1971 e 1975. Esta comunicação pretende compreender o contexto que ocasinou as transformações na festa de Yemanjá em Salvador e suas implicações. Palavras-chave: festa, candomblé e religiosidades.

Flávio Cardoso dos Santos Junior

Professor Pesquisador do Grupo Artes do Corpo da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) flavaooguerreiro@hotmail.com

Luis Vitor Castro Junior

Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica (PUC- SP) victorcapoeira@hotmail.com

Corpos “curvados” que dançam o Ijexá: história, identidades e estéticas

Este estudo trata-se de um recorte mais amplo da pesquisa intitulada “Lazer e Corpo: As expressões artísticas e culturais do corpo nas festas populares baianas”, trabalho financiado pela Rede CEDES, do Ministério dos Esportes. Apesar de ter tratado do assunto de forma bastante abrangente viemos aqui buscar um entendimento maior e mais profundo acerca do assunto. Por isso, para este texto, contextualizamos historicamente a trajetória do Afoxé Filhos de Gandy, localizado na cidade de Salvador-Ba. Para tanto, o nosso objetivo central consiste em compreender a trajetória histórica do grupo e seus desdobramentos, entender as múltiplas identidades construidas sobre os seus participantes, bem como identificar as estéticas corporais produzidas durante o desfile do cortejo. Assim, enveredamos na pesquisa etnografica – ramo da Antropologia Social - acompanhando os ensaios do bloco e no Carnaval observando todo o trajeto do afoxé. Se por um lado, os 182


antigos associados preservam a tradição do rito (o padé, ritual de saída), por outro, com o crescimento desordenado da instituição, o vestisse de Gandy no Carnaval representa inúmeras outras identidades, diferentes de sua gênese. No que tange a estética corporal, identificamos uma forma de dançar, no qual o corpo curvado vai além de um simples movimento para simbolizar a resistência da Cultura AfroBaiana ligada às danças de terreiros. Palavras-Chave: Corpos, Curvados e Ijexá. Palavras-Chave: corpos, curvados e Ijexá.

Jairo Viana de Castro --jairo.vcastro@hotmail.com

Festejos de São Sebastião em Itagimirim-Ba: memória e história de um povo (1960- 1998)

Este artigo investiga e contribui com o festejo de São Sebastião, uma manifestação religiosa e profana que caminha em silêncio desde o tempo que surgiu em ItagimirimBa. Além de ser uma demonstração de fé e agradecimento pelas bênçãos recebidas ao longo do ano, o cortejo dos foliões representa um espaço de respeito por duas religiões que mantém a tradição, mesmo fazendo parte desta cultura, algumas perguntas ficaram sem respostas, tais como: quando surgiu este festejo? Quais elementos de renovação os mantiveram durante o período percorrido? A investigação terá como objetivo compreender por que homens e mulheres festejam com devoção a um santo; que representação essas práticas significam para suas vidas; Para isso, serão necessários o uso da oralidade, das memórias, dos registros fotográficos e bibliográficos, a fim de perceber as relações enquanto constitutivas dos modos de vida dos grupos sociais da região, contribuindo com a historiografia do extremo sul da Bahia, com a manifestação imaterial, além de demonstrar as peculiaridades locais. Ressalta-se que esse festejo foi (re) significado a partir da realidade e condições do lugar, pois a memória carrega a história de um povo e suas experiências humanas, além de ser um método usado antes do surgimento da História para descrever uma sociedade e suas formas de organização. Foi observado que as pessoas iletradas trazem uma riqueza de detalhes de suas vivências por meio da oralidade e muitas vezes se perdem ou caminha em um mundo paralelo aos dos letrados. Palavras-chave: Festejo, Itagimirim, São Sebastião.

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Joanna Mendonça Carvalho

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) joannacarva@gmail.com

Representações, cultura e corporalidades em expressões de Samba de roda e dança afro-brasileira no sul da Bahiaalgumas reflexões antropológicas

Propõe-se nesse trabalho apresentar um estudo inicial sobre memória, corporalidades, dança e cultura em manifestações de samba de roda e dança afro-brasileira na cidade de Ilhéus, Bahia, procurando compreender influências e forças socio-históricas. Para tanto, foi realizado um levantamento bibliográfico em torno da temática, assim como pesquisa em material fonográfico e audiovisual e conversas com praticantes. Como pesquisa de campo ao todo foram observados um evento ligado ao samba de roda e três apresentações de dança- uma de “dança afro” ou por vezes também chamada “axé”, uma de dança afro-contemporânea e uma de dança no contexto de um evento em terreiro de candomblé na cidade. Em uma perspectiva antropológica, com foco na discussão em torno de noções como arte, dança, memória, cultura e corporalidade, notou-se uma correlação entre estas manifestações e cosmologias afro-brasileiras mescladas a outros elementos culturais que também compõem a história do Brasil, da Bahia e da região estudada, quais sejam os de proveniência de povos europeus e indígenas. Neste sentido, pode-se perceber todo um movimento de representações simbólicas implicadas nessas expressões, movimento que resignifica e ao mesmo tempo reforça a memória cultural dos sujeitos envolvidos, criando espaços valorativos de certos grupos solapados em discursos hegemônicos sobre processos históricos de nosso país. Palavras-chave: antropologia, samba de roda, dança afro-brasileira.

Julio Cesar Moreira dos Santos --- mccesar11@hotmail.com

Identidade refletida: a festa de Senhor dos Passos como lugar de guarda da memória e identidade de Lençóis

O objetivo deste artigo foi analisar como a cidade, que deve ser pensada não apenas como uma construção física, mas também, como uma construção simbólica, no qual constrói em torno de si espaços que demonstram a memória construída. Está memória se constitui de “narrativas” em que estão contidas histórias em torno do lugar. Um dos espaços constituintes, onde pode se visualizar a memória da localidade são as festas produzidas pelas comunidades. Como salienta Vovelle (1991) as festas são o produto de seu tempo, e que refleti a sociedade que a produz. Pensando as festas nestas bases, do lugar onde são demonstradas as memórias de uma localidade, e reflexo desta, objetivou-se a analisar a festa religiosa de Senhor Bom Jesus dos Passos, que acontece na Cidade de Lençóis, na Bahia, desde 1852. Com o passar dos 184


tempos a festa adquiriu elementos demonstrativos da sociedade, no qual faz com que a população local se identifique com a cidade, e as memórias em torno dela. Nesta dialética entre a festa e a memória, faz com que a população construa a identidade social delas. Pois a constituição identitaria é feita a partir dos elementos que gera identificação nas pessoas, como os demonstrados na festividade de Senhor Bom Jesus dos Passos.

Liliane de Jesus Oliveira

Mestranda do PPG em História Regional e Localpela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES liulimab@hotmail.com

Encontros festivos: Sociabilidade, solidariedade e resistência

O lazer da população negra de Santo Antônio de Jesus nas primeiras décadas do século XX, mas precisamente de 1910 a 1950 é o tema da pesquisa em andamento para a construção da Dissertação de mestrado. O principal recorte desta pesquisa é o cotidiano da cidade que se transformava impulsionada pelos ideais de modernidade e progresso É importante ressaltar que nesta cidade o discurso civilizador que pregava a modernidade e o progresso em todo país não era diferente e, aos olhos da elite, as práticas culturais da população preta e pobre eram vistas como males da civilização. Assim, a elite santoantoniense procurava a todo custo manter a ordem, e aqueles que por diversos motivos não se submetiam aos padrões estabelecidos foram punidos das mais diferentes formas. A população negra, seus descendentes tornaram-se os alvos preferenciais desta mudança. Buscava-se a exclusão do negro, pelo silêncio da sua fala e de sua cultura, a “missão” dos repressores era vigiar, reprimir e controlar a massa pobre e incivilizada que, na visão deles, não se enquadrava no projeto de uma nova cidade. A proposta metodológica para a realização desta pesquisa é entrelaçar os processos crimes, fotografias e jornais com entrevistas. Este ensaio é parte do capítulo que busca historiar os diversos momentos festivos que ocorriam em Santo Antônio de Jesus: as festas religiosas, carnavais, micaretas, entre outros. Analiso o cotidiano da população negra que não se curvava à nova realidade que estava sendo gestada e imposta, resistindo sempre, pois entendo a presença dos negros e pobres nos diversos espaços e momentos de diversão, na cidade, como prova de que resistiram com muita insistência e ousadia a ter que abandonar seus momentos de folguedo. Analiso também, como se processavam as redes de sociabilidade e solidariedade construídas ao redor do lazer, entendido como possibilidade de encontro, mais do que divertimento ou descanso, funcionando como agente agregador entre os pares. Ficou evidenciado até o momento com a análise dos documentos que a intenção de perseguir e controlar o lazer da população negra e pobre da cidade acaba também por desvendar a resistência, daqueles que, embora vigiados não se acomodavam, não se intimidavam, resistiam sempre, ainda que para boa parte 185


da população, a sua cultura, tradições e credos fossem praticamente inaceitáveis. Palavras-chave: Santo Antônio de Jesus, festa, resistência.

Lucas Nunes Stasi

Graduando da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CNPq lucas.stasi@hotmail.com

O culto ao Senhor Bom Jesus na cidade do Salvador

Desde a Idade Média, dois momentos na vida de Jesus Cristo eram comemorados com grandes festas: o nascimento e a Páscoa. Assim, desenvolveram-se dois cultos, um ao menino Jesus, no ciclo natalino, e outro, do Jesus crucificado, na sua morte e ressurreição. Em Salvador, no século XVIII, foram implantadas duas importantes devoções ao Crucificado: Confraria do Senhor Bom Jesus da Cruz, organizada, em 1719, pelos homens pardos, com sede na Igreja da Palma, na freguesia de Santana; Devoção do Nosso Senhor do Bonfim, criada pelos brancos portugueses, tendo como principal benemérito o capitão de mar e guerra e traficante de escravos, Theodósio Rodrigues de Farias, em 1745, tendo como sede a Igreja do Bonfim, na península do Itapagipe. Os compromissos revelam que a principal obrigação era preparar e realizar as procissões da Quaresma e Páscoa. Porém, os devotos realizavam grandes festas para homenagear o Salvador. Os confrades da Palma realizavam os festejos em 21 de setembro e os irmãos do Bonfim, em janeiro. A primeira associação leiga entrou em decadência na primeira república e a segunda continua em vigor até os nossos dias. Este texto tem como objetivos identificar os pontos em comuns do culto praticado por essas duas associações leigas, comparar suas formas de festejar o filho de Deus, e analisar os fatores que levaram ao desaparecimento da Confraria e a permanência da Devoção na implantação do regime republicano. Palavras-chave: irmandades religiosas, Salvador, Bom Jesus da Cruz.

Milton Moura

Professor de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA) araujomoura@terra.com.br

A propósito das representações recentes da Negritude no Carnaval de Salvador

Costuma-se tomar o advento dos blocos afro, nos anos 1970, como o marco inicial de uma atuação negra reflexiva e moderna no Carnaval de Salvador. Esta forma de organização carnavalesca é a realização mais emblemática do afro como vetor cultural contemporâneo, em que a Negritude é transfigurada em torno do apelo de brilho, força e beleza. Neste processo, sobressaem-se grupos como o Ilê Aiyê, o Olodum e a Timbalada, que encarnam modelos distintos de realização do afro. A entrada da produção musical afro no circuito pop vai acarretar modificações 186


na cadeia de criação artística. Isto se deu principalmente com a constituição da axémusic como interface de diversos tipos de atuação artística, organizacional e empresarial. A presente contribuição problematiza a relação entre o afro como vetor cultural e diversas agências organizacionais e midiáticas que de alguma forma e em alguma medida regulam o seu aparecimento no cenário da maior festa de Salvador. Aponta para uma desvinculação progressiva entre a enunciação do afro e a centralidade do bloco afro neste processo, já que a veiculação dos artistas emergentes dos ambientes dos blocos afro, hoje, cabe principalmente às estrelas da axémusic. Pergunta-se em que sentido se pode perceber a força da vigorosa atuação cultural relacionada ao afro mesmo quando seus principais intérpretes não são mais oriundos dos ambientes em que se geraram os grupos responsáveis pela sua dicção inicial. Palavras-chave: carnaval, Salvador, música afro.

Miranice Moreira da Silva

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) miranicem@gmail.com

Carnavais: linguagens da cidade de Feira de Santana

Esse artigo tem por objetivos discutir os festejos carnavalescos em Feira de SantanaBa enquanto uma linguagem da cidade no período de 1910-1939. Pensar de que forma a cidade pode tornar legível a cidade e de como ela se apresenta enquanto um espaço de múltiplas interpretações e significados. As cidades possuem várias linguagens que as representam; um conjugado de elementos que se entrecruzam e ganham significados a partir das relações estabelecidas entre os sujeitos e grupos que compõem as cidades. Partindo dessa ideia de que a cidade possui vários significados é possível ampliar as perspectivas de análise e identificar não apenas uma, mas várias cidades, que coexistem e conflitam. Os festejos também funcionam como um elemento de leituras da cidade e das relações estabelecidas nos múltiplos espaços. A festa é uma linguagem que apresenta-se enquanto polissêmica. Esses significados são construídos por diversos grupos envoltos em intencionalidades que fomentam as disputas e pela construção de uma memória. Para essa problematização as fontes jornalísticas do período fundamentam o trabalho: Revista Panorama da Bahia. O jornal Folha do Norte apresenta uma particularidade é fonte mais também é passível em alguns momentos de ser encarado enquanto objeto, pois apresenta um envolvimento na construção da festa. Seus editores faziam parte da comissão organizadora dos festejos carnavalescos, oferecendo inclusive descontos para os anunciantes no jornal caso efetuassem uma colaboração para a realização do evento. Palavras-chave: práticas carnavalescas, civilidade e cidade.

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Oslan Costa Ribeiro

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista CNPq osheikdeagadir@hotmail.com

Paróquia de São Boaventura de Canavieiras – Bahia: conflitos de uma freguesia em festa (1951-1960)

A presente comunicação é parte do projeto de pesquisa financiado pelo CNPq, intitulado: “As festas de São Boaventura em Canavieiras: uma análise de cultura, identidade, poder e religiosidade (1951-1969)”. Pretendemos apresentar a análise em andamento, do cotidiano festivo religioso da Paróquia de São Boaventura de Canavieiras, entre os anos de 1951 a 1960. Nesse período celebrava-se além dos festejos do padroeiro da paróquia e do município, também outras festas religiosas na cidade como, as festas de Natal, de Jesus, Maria e José e São Sebastião, celebradas na Capelinha de Jesus, Maria e José, interruptamente, de 20 de dezembro a 20 de janeiro de cada ano. Assim, os padres Agostinho Stauder e Shelley Andrade de Sousa, vigários da época na cidade, tinham a intenção de sacralizar as festas religiosas populares da paróquia, podando delas, a parte profana das festas. O objetivo é analisar os conflitos entre a Igreja e os leigos que organizavam esses festejos na Capelinha, e como se deu esse processo de sacralização desses festejos por parte da Igreja, provocando grandes divergências entre o povo e o padre de como e quando se festejar. Tendo por fonte primária para essa análise, os programas de festas, iconografias e, principalmente, o relato dos padres sobre essas festas registradas no livro de tombo paroquial, assim pretendemos discutir esse período de conflitos de uma freguesia em festa. Palavras-chave: festa, conflitos religiosos, sagrado e profano.

Rafael Lima Silva Soares

Graduando em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) rafasoares@ufrb.edu.br

Batuques, batuqueiros e as escolas de samba

O carnaval da Cidade do Salvador, especialmente durante a segunda metade do século XX, contou com intensa participação popular na construção de seus gestos, símbolos, grupos e agremiações. Esses carnavais contavam com trios, blocos de embalo, batucadas, fanfarras, amortalhados e até escolas de samba. As Escolas de Samba começaram seus desfiles oficiais durante a década de 1960, indo até final da década de 1970. Essa forma de se brincar o carnaval, assim como as antigas batucadas soteropolitanas, tinham a participação de várias pessoas, tanto durante os desfiles como na preparação, na organização e até na arrecadação de recursos. Esses grupos e agremiações saiam às ruas com indumentárias, símbolos e gestos distintos. Essa comunicação tem o objetivo de trazer um breve panorama retratando duas dessas entidades marcantes do carnaval da segunda metade do século passado. Dentre as manifestações discutidas estão as batucadas e as escolas de samba. Seguindo a 188


influência da chamada nova história e de uma história social da cultura, esta proposta é sensível tanto às questões de natureza política e econômica quanto às questões de tradição e mentalidade. As fontes utilizadas na elaboração dessa comunicação foram notas, crônicas, notícias e artigos publicados em diferentes jornais da capital baiana durante a época dos festejos carnavalescos dos anos estudados. Palavras-chave: Carnaval; Festa; Salvador; Cultura.

Raphael Rodrigues Vieira Filho

Professor Titular do Departamento de Educação. Professor Permanente do PPG em História Regional e Local, Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Pós-Doutor em Pesquisa Università degli Studi di Padova raphafilho@gmail.com

Indenizações, Críticas e Rainhas Negras: Carnaval como espaço de reivindicações

O carnaval sempre foi/é lembrado como um espaço de diversão e licenciosidade. Nos estudos sobre estas festas, são destacadas as fortes inversões de papeis sociais. Homens se vestem de mulher, mulheres se transmutam em homens, religiosos saem às ruas vestidos de diabo, moças recatadas saem com roupas extravagantes e decotadas. Nos tempos antigos escravos se travestiam de senhores e os mais abastados saiam ás ruas de maltrapilhos e pedintes. Os ritmos urbanos são quebrados, pois ruas são fechadas para os cortejos e aquelas abertas para o trânsito de automóveis ganham outras feições, os congestionamentos rumo aos locais de desfiles ou de apresentações fica caótico. Porém as festas dedicadas a Momo não são só esse momento onde a sociedade vive a oportunidade de inversão de seu cotidiano, ou onde tudo é possível e ou, ainda, um rito de passagem. Ele é muito mais que isso, pois as festas também são momentos onde as correlações de forças presentes na sociedade aparecem, nestes tempos festivos os mecanismos de controle e repressão amainam, permitindo protesto e reivindicações de grupos cuja presença só é percebida no bojo das festas. Este texto traz formas de reivindicação das populações negras desveladas em pesquisas históricas sobre as festas momescas desde o final do século XIX, utilizando como fonte principalmente as notas publicadas nos periódicos diários de Salvador. Foram pedidos de indenizações, críticas à morosidade e burocracia das repartições públicas e exigências de participações mais explícitas nas festas comemorativas promovidas pelas elites baianas. As pesquisas apontam, desta forma, para longevidade de utilização das festas dedicadas à Momo como espaço de reivindicação de grupos fomentadores, clamando por sua participação ativa nas decisões e gerenciamento das festas e, de certa forma, de toda a sociedade baiana. As manifestações lúdicas festivas momescas refletem o desejo das populações negras de transformar o espaço carnavalesco, recriando-o como um local possível para a demonstração pública de seu patrimônio civilizatório e de sua voz, uma vez que foi o espaço possível para expressar suas pretensões. Palavras-chave: História do Carnaval, História de Populações Negras, História da Bahia. 189


Rennan Pinto de Oliveira --rennanoliveira5@yahoo.com.br

Dias de festa: a lavagem de Santa’ana ocupa as ruas da cidade

Esta comunicação tem por objetivo fazer uma breve análise desde a gênese da Lavagem da Igreja até o seu processo de transformações e mutações entre as décadas de 30 e 70. Nesse período aconteceram diversos conflitos e disputas nascidos pelas divergências de interesses, principalmente, entre a Igreja Católica, disposta a acabar com a Lavagem e todas as manifestações consideradas de caráter profano, e a Prefeitura Municipal de Feira de Santana representado pela SETUR (Secretaria de Turismo), organizadora da parte profana da Festa de Santana e desejosa em ampliála. Este trabalho tem, também, a pretensão de mostrar os impactos gerados pela nomeação do Bispo Dom Silvério na diocese feirense e o seu forte empenho para o esvaziamento e enfraquecimento da festa profana. Além disso, tem a finalidade de revelar os sujeitos da comunidade que tinham grande interesse em conservar a Festa nos moldes mais tradicionais. Nessa análise, a Lavagem é tratada como um texto passível de ser lido, uma vez que revela uma expressão cultural popular, pertencente ao campo simbólico, visto que, durante o cortejo da Lavagem pelas ruas de Feira de Santana, de forma direta ou indireta, seus diversos símbolos e códigos podem ser interpretados e compreendidos através de uma análise mais focada.

Rosimario de Aragão Quintino

Graduando em História pela Faculdade São Bento da Bahia rosimarioaragao@hotmail.com

História da criação do trio elétrico

O presente artigo tem como objetivo analisar a relação entre o desfile do clube carnavalesco pernambucano Vassourinhas de Recife na cidade de Salvador - Bahia no começo da década de 1950 e a criação do trio elétrico, visando identificar a data em que o trio elétrico desfilou pela primeira vez no carnaval de Salvador. Buscamos matérias de jornais soteropolitanos do período que versam sobre o desfile do clube carnavalesco Vassourinhas e confrontamos com entrevistas que Osmar Macedo, um dos inventores do trio elétrico em companhia de Adolfo Nascimento (Dodô), concedeu a pesquisadores acerca da criação do trio elétrico e de seu primeiro desfile, para tentar compreender a divergência de datas que ambos concebem sobre esses episódios. Durante a tessitura desse trabalho buscamos relacionar o desfile do clube carnavalesco Vassourinhas na capital baiana como principal motivador da invenção do trio elétrico e de sua primeira apresentação na capital baiana. A divergência nas datas encontradas para o primeiro desfile do trio elétrico em Salvador, um dos símbolos maiores da especificidade do carnaval soteropolitano, 190


nos levou a problematizar questões referentes a memória coletiva das pessoas que estavam presentes no período em que trio elétrico saiu as ruas pela primeira vez, bem como a importância de um individuo, uma grande referência acerca da criação desse objeto significante, em criar uma data de nascimento a um fato tão marcante na História do carnaval baiano e não sofrer grandes questionamentos. Palavras-chave: trio elétrico, carnaval, Osmar Macedo.

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Simpósio Temático 20 HISTÓRIA DO ATLÂNTICO E DA DIÁSPORA AFRICANA Coordenadores: FLÁVIO GONÇALVES DOS SANTOS LUIZA NASCIMENTO DOS REIS

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simpósio Temático História do Atlântico e da Diáspora africana possui um recorte geográfico e cronológico amplo. Por outro lado, ele também é muito específico, pois pretende agrupar trabalhos que discutam temas vinculados à dinâmica do mundo atlântico ou aos processos da diáspora africana. A ideia de uma “História do Atlântico e da Diáspora Africana” traz consigo alguns significados e conceitos, que remetem a sua amplitude temática, geográfica e cronológica. Esses significados e conceitos têm um impacto direto sob a perspectiva pela qual se analisa os fenômenos e processos sociais, sejam eles em suas dimensões sincrônicas ou diacrônicas. O Atlântico, além de sua conotação geográfica mais imediata – o oceano que separa a Europa e a África das Américas –, tem sido pensado e proposto como um espaço de contato e circulação de pessoas procedentes destas três porções de terra e, com elas, suas idéias, memórias, valores, tradições, línguas, literaturas, políticas, economias, enfim, tudo que o ser humano carrega e que lhe confere a característica de um ente que produz cultura. Peter Linebuagh propôs que imaginássemos o oceano como uma mão e os continentes como seus dedos e o navio como um polegar que unia todos os demais. Paul Gilroy, também, evocou a imagem do navio, como um “sistema vivo, multicultural e micropolítico em movimento”, ligando os continentes banhados pelo Atlântico, onde projetos, idéias, ativistas e artefatos políticos e culturais (panfletos, livros e registros fotográficos) circulam. Entretanto, o foco das análises de Giroy está em um Atlântico visto pelo prisma dos africanos e afro-descendentes, não de uma perspectiva afrocêntrica, mas ressaltando as características hibridas, sincréticas e crioulas que esse movimento provocou nas duas margens do Atlântico. Com a discussão posta nos termos como foi colocada por Gilroy e Linebaugh, a ideia de Atlântico e a de diáspora africana apresentam-se de modo imbricado e por vezes indissociada. Com isso não se pretende circunscrever a ideia de diáspora atlântica, apenas ao movimento gerado pela movimentação de pessoas e ideias, diretamente ou indiretamente, vinculadas ao tráfico de escravos. A diáspora atlântica tem proporções muito maiores. Deste universo, 192


recortaram-se aqueles que se vinculam aos movimentos entre o Continente Africano e as Américas, entendendo que as “outras diásporas” e outros fenômenos poderão ser abordados nesse Simpósio Temático, desde que discutam processos relacionados a uma História do Atlântico. Catarina Barros Andrade

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local na Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Bolsista FAPESB catarinaandrade20@hotmail.com

Caminhos da Liberdade: escravos e libertos em Estância- Se (1836-1873)

O estudo consiste em reconstituir as diversas formas de luta empreendidas pelos escravos para a consecução de sua liberdade na localidade de Estância, o principal centro urbano e econômico da então Província de Sergipe Del Rey. Como a região estudada se destaque pelas suas características urbanas, aumentam as possibilidades de negociação entre os senhores e escravos para adquirir a liberdade e também abrange o leque de formas em que esses escravos poderiam adquirir o pecúlio, ou ainda como teciam relações com terceiros para que esses interferissem a seu favor no processo de sua liberdade. O período abrangido por essa investigação compreende os anos que vão de 1836 a 1873. Esses anos correspondem aos da série de cartas de alforria localizadas no Arquivo Geral do Judiciário de Sergipe (AGJES). Através das cartas de alforria da comarca em questão, os sujeitos desse estudo serão identificados. A partir desse momento busco em outras fontes, como os inventários e os periódicos que circulavam em Estância e também em Sergipe como um todo, construir o contexto da população escrava e livre. Esses documentos trazem a possibilidade de compreender como ocorriam as relações comerciais que os escravos possuíam com seus senhores e ainda a sociedade de uma forma geral. Palavras-chave: escravos, cartas de liberdade, Sergipe Del Rey.

Cristiane Batista da Silva Santos --tianebat@hotmail.com

Uma história da diáspora africana no sul baiano: vilas, culturas e reelaborações

A proposta deste artigo é discutir a diáspora africana no sul da Bahia bem como suas inter-relações com o tráfico transatlântico de escravos marcados tanto pelas trocas culturais quanto econômicas. Esta última foi estruturada sobremaneira pela exportação de farinha de mandioca, aguardente e o zimbo oriundos do sul baiano com destinos aos portos africanos e entre eles no caso de Ilhéus destaca193


se a relação com o porto de Luanda. Outro objetivo ainda presente no texto é o propósito de problematizar o nascimento das Vilas de entorno de Ilhéus e Camamu e acentuadamente Maraú, como sociedades marcadas pela escravidão e introdução da diversidade de culturas africanas que desembocaram num universo de recriações atlântico diaspóricas, como por exemplo, e aqui como objeto de estudo, a Vila de Maraú cuja presença de elementos-chave como os etnômios e termos observados na toponímia e nas festividades estão presentes muitos aspectos da cultura centroafricana da região Congo-Angola. O presente texto traz incursões feitas aos arquivos, às crônicas, relatos e diálogo com a bibliografia que toma a região como objeto na proposta de compor uma historiografia regional e sul baiana a partir do tráfico e da diáspora. O texto discute os resultados parciais de uma pesquisa em andamento que irrompe com outras análises para além do binômio que tem o sul baiano como cacaueiro. Por conta disso dialogo com os poucos pesquisadores cujo objeto de estudo foi a escravidão ou o tráfico nesta região.

Daniele Santos Souza ---daresouza@gmail.com

De cativo a “cabeceira”: tráfico e escravidão entre a Bahia e a Costa da Mina c.1730-c.1770

Esta pesquisa visa compreender a dinâmica que cercava o tráfico transatlântico de africanos envolvendo a Bahia e a Costa da Mina entre os decênios de 1730 e 1770, a partir da investigação da trajetória do africano João de Oliveira. Em 1738, quando atuava como marinheiro a bordo de navios negreiros, João Oliveira envolveu-se em uma querela com o capitão da Galera Nossa Senhora de Vida e Santo Antônio, Pedro Gomes Caldeyra, acusando-o de tê-lo “açoitado com correias nas nádegas”, embora fosse liberto, durante a viagem feita à Costa da Mina. Anos depois, por volta de 1770, esse africano, com aproximadamente 70 anos, ao retornar de Onim para Salvador, após “militar como cabeceira” há cerca de 37 para 38 anos na costa africana, foi preso acusado de ter “extraviado de fazendas de algodão e linho” da corveta Nossa Senhora da Conceição, São José e Almas, que o trouxe da África para o Brasil. No requerimento, o liberto narra a sua trajetória, desde a escravização na África até a sua atuação como intermediário do tráfico na costa ocidental africana, informando ter contribuído decisivamente com o comércio baiano, levando-o para os portos de Onim e Porto Novo. Este trabalho busca entender, por meio das vicissitudes da trajetória de João de Oliveira, como o tráfico entre a Bahia e os portos da Costa da Mina se desenvolveu. Assim, busca-se perscrutar a dinâmica do tráfico transatlântico na região desde o período de domínio do reino do Daomé a partir da década de 1720, com a conquista do reino de Aladá e a destruição do porto de Jaquim até o redirecionamento do tráfico baiano para o leste, na Baía de Benin, precisamente para os portos de Badagri, Porto Novo e Onim. 194


Flávio Santos --fgsantos@uesc.br

KosiEwé, KosiÒrìsà : a economia do Candomblé na Bahia1850/1937

A proposta é examinar o comércio de produtos religiosos importados da Costa d’África entre 1850 e 1937. As dimensões desse comércio podem ser apreendidas a partir das séries Despachos de Importação e dos Manifestos da Seção Alfandegária do Arquivo Público do Estado da Bahia. Outro grupo de documental, composto principalmente de jornais e fontes bibliográficas – sobretudo os trabalhos etnográficos de Edíson Carneiro, Ruth Landes, M. Herskovits, Arthur Ramos, Nina Rodrigues produzidos dentro dos marcos cronológicos da pesquisa – contribui significativamente para a complementação das informações prestadas pelas fontes alfandegárias. A partir da documentação é possível notar que casaram, em uma relação quase mutualista, a circulação de mercadorias de maior relevo e com um mercado consumidor mais abrangente e a circulação de mercadorias que possuíam uma clientela mais restrita. Do ponto de vista brasileiro, esse comércio representou uma forma de valorização dos referenciais da cultura afro-brasileira. Do ponto de vista africano, ou dos “brasileiros retornados”, essa rede comercial representou um espaço de afirmação diante da sociedade local e dos ímpetos do colonialismo europeu. A partir da ação de líderes religiosos o mercado consumidor para produtos litúrgicos de origem africana foi estimulado, assim como as implicações simbólicas e os laços identitários decorrentes do comércio e da utilização de produtos da Costa d’África. Palavras-chave: História, cultura, candomblé, comércio, Bahia, África.

Gabriel Silva de Jesus

Graduando pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) gabrielparede@hotmail.com

Contratos-Régios e os descaminhos: o direito de 3$500 rs por escravo na entrada na alfândega da Bahia (1752-1774)

O presente texto pretende fazer uma análise do direito de 3$500 reis que pagava cada escravo vindo da Costa da Mina na Alfândega da Bahia. O principal objetivo do trabalho visa observar como o direito de 3$500 reis estava sofrendo descaminhos por meio do tráfico de escravos nas Alfândegas da Ilha de São Tomé e do Príncipe, engendrando por meio dessa situação sérios prejuízos a Fazenda Real. Essa situação deve ser entendida como uma situação contrária ao pacto colonial, uma vez que tais descaminhos rompiam o monopólio da coroa. O recorte temporal aqui presente é delimitado pela famosa era pombalina (1750-1777) que marcou a segunda metade do século XVIII. Durante essa época ocorreram fortes transformações no que tange as atividades econômicas da colônia, e com fortes efeitos sobre a prática dos 195


contratos régios. Por outro lado, o seguinte artigo foi elaborado por meio do acervo dos documentos manuscritos referentes à capitania da Bahia do Projeto Resgate do Conselho Ultramarino, onde analisamos cartas, consultas e requerimentos que possibilitam observar a dinâmica do direito aqui em questão com o tráfico de escravos que ocorreu entre a Bahia e a Costa da Mina. Enfim, pretendemos a partir dessas propostas contribuir para o recente campo de pesquisa que aborda o comércio no atlântico, visando os descaminhos que ocorriam no direito de 3$500 reis. Palavras-chave: contratos, descaminhos, tráfico de escravos.

Halysson Gomes da Fonseca

Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em História (PPGH/UFBA). Bolsista CNPq halysson.gomes@yahoo.com.br

A contribuição da Inspetoria dos Reais Cortes para a sistematização da produção de peças navais na Bahia colonial

O período colonial tardio, historiograficamente reconhecido pelas tentativas de recuperação das atividades agrícolas, caracterizou-se na Bahia por crescentes demandas náuticas: correlação de interesses econômicos, militares e políticos. Objetiva-se apresentar uma analise da contribuição do agente Francisco Nunes da Costa na produção madeireira baiana de 1780 a 1792, destacando-se a administração dos cortes de madeiras na Terra de Tinharé, e sua influência sobre aqueles que se dedicaram ao tema após ter deixado a função. Em 1782 foi criada a “Inspectoria dos Reais Cortes” da Bahia que atuou nas comarcas do Sul, antecedendo o processo de ingerência metropolitana sobre as matas coloniais (criação da Conservadoria das Matas de Ilhéus – Carta Régia de 1797) e a alta produtividade de peças navais na comarca de Ilhéus atingida em 1800. Nunes da Costa permaneceu até 1792, oferecendo contribuições fundamentais para o departamento. Os avanços na atividade de exploração madeireira com fins navais visando o “bem de Estado” pautaram-se nas práticas de observação crítica dos indivíduos envolvidos nas explorações do recurso lenhoso. “Fiel vassalo”, Nunes da Costa inicia suas rebuscadas proposições sobre o tema, da comarca de Ilhéus para a metrópole, em forma de cartas, ofícios e Memórias. Palavras-chave: Bahia colonial, Inspetoria dos Reais Cortes, construção naval.

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Jacó dos Santos Souza

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Professor da Rede Municipal de Cachoeira jacocachoeira@hotmail.com

Imprensa e abolicionismo: notícias da escravidão e da liberdade em O Asteróide (Cachoeira, 1880-1889)

Esta comunicação tem como objetivo refletir a atuação do periódico abolicionista O Asteróide no movimento antiescravista, entre os anos de 1887 e 1889, quando circulou pela cidade de Cachoeira. As informações impressas nessa folha noticiosa nos ofereceram importantes caminhos para se pensar como a escravidão era vivida, noticiada e lida nessa parte do Recôncavo baiano ao longo daqueles anos. Ao longo do texto, estivemos atentos aos sentimentos e planos de reforma social defendidos pelo periódico. A ideia é perceber como os projetos de inserção social dos libertos estavam articulados com os ideais de modernidade, civilização e progresso. Este recorte cronológico abrange um momento de grande agitação social, marcado por conflitos e tensões, envolvendo diferentes atores sociais, no campo e na cidade. A escolha dessa gazeta como objeto de estudo levou em consideração sua ativa participação na campanha antiescravista, quer seja na apresentação de soluções para o encaminhamento da abolição na região, quer seja no seu envolvimento nos embates de rua. A leitura dos artigos, matérias e notas espalhadas nas seções de O Asteróide possibilitou-nos várias interpretações. Uma análise cuidadosa permite perceber estratégias implícitas dos articulistas para provocar reações nos leitores/ouvintes. As imagens projetadas da escravidão visavam provocar indignação moral naqueles que liam as páginas da gazeta. Para isso, o estudo analisa diferentes documentos do período, como processos-crime, periódicos, correspondências policiais, atas de sociedades libertadoras, entre outros. Palavras-chave: Imprensa, abolicionismo, Cachoeira.

José Ricardo Moreno Pinho --josericardomoreno@hotmail.com

O porto e a cidade do Salvador

Esta comunicação apresenta o porto, a Alfândega, o arsenal da marinha e o mercado de abastecimento em Salvador. Todas estas, instituições estavam vinculadas as atividades do porto e abastecimento da cidade até finais do século XIX e inicio do século XX, quando a construção de uma nova concepção, a do porto capitalista, ou moderno, redefine estes papeis, gerando grandes modificações tanto no ordenamento, quanto na dinâmica de funcionamento da cidade. Lista os mais significativos projetos de modernização do porto, desde o do Conde dos Arcos em 1816, até a concessão da à Companhia de Docas e Melhoramentos da Bahia. E a Frustração quanto à entrega da primeira etapa desta modernização portuária, em 1913. Recuperando as informações 197


contidas nos relatórios de Antônio Alves Câmara, juntamente com a pesquisa da professora Kátia Mattoso, conseguimos uma descrição da baia, o seu porto natural, e o porto comercial. As construções da Alfândega e do Arsenal de Marinha são muito antigas e remetem a formação da estrutura colonial e sua relação com o processo de acumulação primitiva. Já o mercado respondeu a uma demanda crescente do mercado interno de alimentos, compreendendo ainda as feiras, Tulhas, etc.

Laila Brichta --lbrichta@yahoo.com.br

Educação e associativismo: comparações entre o Brasil e Angola, 1930-61

Esta comunicação pretende apresentar algumas ações promovidas pela associação criada em Luanda / Angola em 1930, a Liga Nacional Africana (LNA) e a Frente Negra Brasileira (FNB) criada em 1931 em São Paulo / Brasil. As ações observadas aqui estavam inseridas no campo da educação e se direcionavam na oferta de uma instrução formal para seus associados, mas também para um público mais extenso. Pretende-se analisar os significados dessas ações dentro de um conjunto mais amplo de reivindicações sociais geradas pelas associações, considerando-se o contexto dos nacionalismos, da luta anti-colonialista, da combateanti-racista e os projetos nacionais para o Brasil e para Angola no período que antecedeu a guerra de libertação nacional pelos países africanos dominados por Portugal, iniciada em 1961. Utilizar-se-á uma perspectiva comparativa, e se partirá da proposta de Marcel Detienne, testando sua aplicabilidade para o caso específico, de se buscar comparar os mecanismos de pensamento presentes em duas sociedades distintas e grupos sociais diversos: os designados, até 1961, como “elite nativa angolana” e também como “indígenas” para o caso de Angola; e a “Gente Negra Brasileira” como definida pela FNB em seus Estatutos de criação, para o Brasil. Parte-se do pressuposto de que não se está comparando dois objetos já totalmente constituídos ou de histórias nacionais definidas. Observar-se-á as proposições e ações reivindicativas no campo da educação pela LNA e FNB, notando as relações de cada sociedade ou grupo social com o tempo e com o passado, e que dialogavam com a imposição de uma lógica histórica eurocêntrica.

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Luiza Nascimento dos Reis --luizanr@hotmail.com

O “caso dos Souza Castro”: itinerários de dois pesquisadores do Centro de Estudos Afro-Orientais na Nigéria (1962-1963)

No início da década de 1960, o recém-fundado Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade Federal da Bahia aglutinou jovens pesquisadores com o objetivo de fomentar um intercâmbio acadêmico com países do continente africano. Para o diretor fundador do CEAO, George Agostinho da Silva, interessava uma aproximação cultural para uma posterior aproximação política e econômica. Para os jovens pesquisadores, como Guilherme de Souza Castro e Yêda Pessoa Castro, buscava-se investigar conexões religiosas entre a Bahia e determinados países da África Ocidental. O interesse residia na busca das supostas “raízes” da africanidade baiana que conheciam através do candomblé. Da convergência desses interesses resultou a singular experiência do então casal “Souza Castro” na Nigéria, onde estiveram entre 1962 e 1963. As diversas dificuldades a contar desde a liberação das passagens, passando pela receptividade e inserção na nova Universidade, a manutenção no país bem como as experiências da pesquisa no continente africano informam sobre meandros da política africana posta em curso pelo Brasil. A palavra drama foi mobilizada por diferentes interlocutores para caracterizar essa experiência de intercâmbio a incluir Raymundo de Souza Dantas, embaixador negro brasileiro credenciado à embaixada do Brasil em Gana no período. Palavras Chave: Centro de Estudos Afro-Orientais, Intercâmbio acadêmico, Relações Brasil-África, Guilherme de Souza Castro, Yêda Pessoa de Castro.

Marcelo Loyola Andrade --mlandrae@yahoo.com.br

Alforrias na expansão da lavoura cacaueira, Ilhéus (BA), 1810-1850

Trata-se de um estudo, em andamento, das cartas de alforrias registradas nos Livros de Notas do tabelionato de Ilhéus – BA, entre 1810 e 1850. O nosso objetivo consiste em analisar e discutir as relações escravistas nesta parte do Brasil por meio de pesquisas nestas cartas, no entanto, também estamos investigando a ocorrência de alforrias no interior dos inventários post-mortem, além de utilizar como fonte para compor o contexto histórico os relatos dos viajantes estrangeiros que passaram pelo território e deixaram suas impressões, bem como a bibliografia disponível sobre a região. Nesse sentido, pretendemos ressaltar as particularidades do fenômeno da alforria na localidade dentro do período assinalado, atentando, principalmente, para os aspectos relacionados ao perfil dos alforriados, as formas de concessão ou conquista das alforrias e o papel desempenhado pelos escravizados e seus parentes 199


na luta pela libertação do cativeiro. Não obstante, acreditamos que a pesquisa nos inventários post-mortem também poderá contribuir com informações sobre a produção dos escravistas de Ilhéus, o que significa a possibilidade de auferir sobre o cultivo do cacau. Desse modo, busca-se destacar a presença das alforrias no processo de expansão da lavoura cacaueira, realçar as suas peculiaridades e inserir o trabalho entre os estudos históricos que vem sendo desenvolvidos recentemente.

Vladimir José Dantas ---vladdantas@yahoo.com.br

Nota prévia sobre a nova historiografia da escravidão

Essa comunicação não tem caráter definitivo, ao contrário é parte de um amplo projeto e tem como pano de fundo a analise de como a escravidão por muito tempo foi discutida pelos intelectuais, e a formação da memória. O projeto de iniciação cientifica intitulado, “Moradia escrava e a analise dos documentos da escravidão em Sergipe”, consiste de analises historiográficas e das transcrições paleográficas de diversos documentos, como inventários e autos de crimes. Nesta ocasião iremos nos deter nas narrativas historiográficas. As produções historiográficas durante muito tempo conceituaram a escravidão como uma jaula de ferro, onde homens e mulheres ficaram confinados e conformados com suas situações, sem nenhuma forma de resistência, vitimas, apenas vitimas. Nossa preocupação está em incentivar que importantes temas, sejam discutidos por nossos professores, ainda no momento da graduação. Neste sentido, optamos por acreditar na formação que privilegia um professor-pesquisador. A ideia de passividade que já foi alvo analise em momentos anteriores, aqui também será combatida, pois não acreditamos na figura do homem ou da mulher, que se acomodou, e mesmo aquele que passou momentos de passividade, acreditamos, o fez como uma estratégia, um recuo para depois avançar nos seus projetos, nas suas empreitadas. Estima-se que em torno de 15 milhões de grupos humanos, entre homens e mulheres entraram como escravos no continente americano. Essa intensa movimentação no atlântico favoreceu a diversos empreendimentos importantes para o desenvolvimento do mundo moderno.

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Simpósio Temático 21 HISTÓRIA DO ESPORTE E DAS PRÁTICAS CORPORAIS Coordenadores: CORIOLANO PEREIRA DA ROCHA JUNIOR

Professor da Faculdade de Educação – UFBA // Doutor em História Comparada coriolanojunior@uol.com.br FELIPE EDUARDO FERREIRA MARTA

Professor Adjunto da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB) // Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP fefmarta@gmail.com

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ando continuidade as ações desenvolvidas com sucesso no Encontro Nacional da ANPUH desde 2003 e no Encontro Regional da ANPUH-BA de 2010, propomos este simpósio como um meio de ampliação do que já foi desenvolvido e também de diálogo com outras frentes de pesquisa instaladas no país. Nossa pretensão é afirmar a Bahia no campo de produção científica da história do esporte e das práticas corporais (educação física, ginásticas, capoeira, danças, antiginástica, lutas e outras). O objetivo deste simpósio temático é criar um fórum de debates e construções teóricas para pesquisadores da Bahia e de outros estados. Um espaço para a apresentação e discussão de estudos e produções, numa perspectiva multidisciplinar, que é característica do próprio objeto. É também nossa intenção estimular a convivência e circulação acadêmica e principalmente o intercâmbio entre intelectuais que tem como foco de pesquisas a história do esporte e das práticas corporais. Georges Vigarello (2008) ao abordar a questão do esporte e de sua configuração, assevera que os jogos antigos não podem ser considerados esporte, por não terem uma institucionalização, nem uma organização mais criteriosa, embora existam em países da Europa desde os séculos XVI, XVII e XVIII, com relativa intensidade, frequência e participação, ocupando diversos espaços sociais e tempos do cotidiano das pessoas. Assim sendo, a prática esportiva como hoje é concebida, teve suas bases na Europa, mais especificamente na Inglaterra do século XVIII, a partir de um processo de modificação e reorganização dos jogos populares. Ou seja, as práticas corporais livres passaram por uma sistematização e reorientação, sendo transformadas no que hoje conhecemos como o esporte moderno, representado na forma 201


de diversas modalidades. Em sua origem, o esporte surgiu como ferramenta educativa da burguesia inglesa, existindo inicialmente nas Public Schools. Vigarello e Holt (2008) afirmam que foram os estabelecimentos escolares do ambiente da era vitoriana na Grã-Bretanha, as primeiras instituições a elaborar e atuar na construção de um novo corpo atlético, tendo por base os valores do fair-play e da esportividade. Nesse momento, o esporte caracterizava um ideal de civilidade e era tido como um elemento que poderia atuar na construção de uma nova forma de convivência social, representando símbolos e padrões de comportamento de uma sociedade que se constituía. A partir dessa compreensão, conceituamos o esporte como uma manifestação cultural característica da sociedade moderna, que se representa como uma série de atividades institucionalizadas nas escolas, como um conjunto de conteúdos culturais vividos no tempo de lazer ou ainda, como uma modalidade de caráter técnico, voltada para o rendimento. Em todas as formas e em todas as suas expressões, a prática esportiva envolve um número significativo de pessoas interessadas, sejam como praticantes ou como platéia, podendo ser considerado um dos maiores fenômenos sociais da atualidade. Para Pierre Bourdieu (1983), a prática de diferentes atividades esportivas, em diversos graus, depende do capital econômico e também, mesmo que de forma secundária, do capital cultural e do tempo livre de cada pessoa. Assim, o esporte, a partir de sua circulação e capilaridade no cotidiano das cidades e na vida dos cidadãos é um elemento importante para a construção e interpretação dos processos de identidade nacional, regional, de classe, de gênero e de etnia. Nesse sentido, Patrícia Genovez (1998) afirma que a experiência esportiva, assim como tantas outras práticas culturais é um instrumento, dentre outras coisas, utilizado para inculcar valores e normas. Peter Burke (2005) demonstra que foi graças à virada da sociedade na direção das práticas corporais, que a história do esporte tornou-se profissionalizada, um campo de estudos específicos, que dialoga com outras áreas no campo das Ciências Humanas e Sociais. Por conta disso é que entendemos ser fundamental que pesquisadores possam ter a possibilidade de compartilhar pontos de vista e referenciais teóricos e metodológicos. No campo acadêmico brasileiro, nos últimos anos, os estudos em história do esporte e práticas corporais têm ganhado volume e qualidade, com pesquisadores instalados em diversos laboratórios, grupos de pesquisa e programas de pós-graduação, em locais como: Bahia, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo e Sergipe e em diversas áreas, como: Antropologia, Economia, Educação, Educação Física, Geografia, História, Sociolo202


gia e Psicologia, contando com uma grande produção científica publicada na forma de livros ou de artigos em periódicos, com eventos próprios e revistas científicas específicas. Para Victor Melo (2007), no Brasil, os estudos em história do esporte têm obtido grande avanço, instalando-se como uma nova área de investigação. Para este autor, nas últimas décadas, se configurou um novo campo profissional de investigação histórica. Este campo, mesmo não sendo conduzido apenas por historiadores de formação, conta com pesquisadores de diferentes origens acadêmicas, que certamente se ocupam em fazer uso das discussões teórico-metodológicas específicas do campo da história. Também a Bahia já conta com um conjunto de especialistas na temática. Tais profissionais vêm desenvolvendo seus trabalhos em instituições como a UFBA, UESB, UEFS e UNEB, dentre outras, com produções de circulação nacional e com participação nos principais eventos da área de história no país e também fora dele. Este aumento da produção de estudos na área de história do esporte e das práticas corporais avança na mesma medida em que estes fenômenos ganham representatividade no mundo moderno, tornando-se elementos significativos para estudos mais amplos acerca do contexto das sociedades, articulados com dimensões sociais, culturais, econômicas e políticas, ampliando a compreensão de complexas dinâmicas sociais. A Bahia foi um dos primeiros locais do país a lidar com a prática esportiva, sendo uma inspiração “esportiva” para outras cidades nordestinas. Nas terras baianas os esportes tiveram uma difusão nas primeiras décadas do século XX – notadamente o futebol, que se transformou em fenômeno popular. De toda forma, esportes como o críquete, o remo, o ciclismo, a natação, a patinação e também o tênis e as corridas a pé tiveram desenvolvimento. Levando em conta a aproximação da realização de mega eventos esportivos no país e que a Bahia prepara-se para ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014, urge discutir-se em parâmetros globais e locais, os impactos e representações do esporte e também as condições e meios para o desenvolvimento da experiência esportiva neste estado, numa análise articulada com contextos diversos.

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André Alexandre Guimarães Couto

Mestre em História Social (UERJ/FFP). Doutorando em História Universidade Federal do Paraná (UFPR guimaraescouto@yahoo.com.br

A volta do discurso pela imagem: a segunda investida de manchete esportiva (1977-1979)

A revista Manchete Esportiva, criada pelo grupo Bloch Editores em 1955, nasceu com uma proposta de noticiar os principais eventos sobre o esporte no Brasil e também no mundo. No entanto, apesar do seu título propiciar um entendimento de que poderia ser uma cobertura múltipla e poliesportiva, o que percebemos era uma dedicação bem desequilibrada da cobertura jornalística em favor do futebol. Portanto, o objetivo deste trabalho é analisar as principais representações sociais criadas por este importante periódico no período a ser estudado, ou seja, de 1977 a 1979. Cabe, todavia, informar que Manchete Esportiva circularia semanalmente durante dois principais períodos: entre 1955 e 1959 e entre 1977 e 1979. Comentaremos, neste trabalho, a sua segunda fase, apesar de termos a primeira como referência do periódico estudado. Em um período de efervescência política, início de um processo de abrandamento da linha dura militar que governava o país, a imprensa esportiva ainda procurava reforçar o tom nacionalista do futebol brasileiro. Porém, para tanto, a relação nacionalismo/regionalismo em torno do futebol tornava-se peça chave para entender as representações sociais e coletivas criadas/reforçadas pelo periódico em questão. Por meio de um diálogo entre o fotojornalismo e das crônicas fixas de vários jornalistas das principais capitais do país, Manchete Esportiva buscava recriar a parceria entre imagens e letras, receita bem sucedida, mas que mereceria uma nova investida do Grupo Bloch, agora no final dos anos 1970. Palavras-chave: imprensa esportiva, imagens esportivas, manchete esportiva.

André Maia Schetino

Mestre em História Comparada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Doutorando em História no Programa de Pós Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGHIS-UFMG) andre.schetino@gmail.com

Cultura esportiva em Belo Horizonte (1939-1964): nas páginas da Revista Alterosa

O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma investigação sobre a presença do esporte na cidade de Belo Horizonte entre as décadas de 1940 e 1960, tendo como fonte principal a Revista Alterosa. Trata-se de uma “revista de sociedade”, no gênero das mais conhecidas “Fon-fon” e “O Cruzeiro”, que circulou no Estado de Minas Gerais, ganhando boa visibilidade no referido período. A partir de eixos de análise como a presença das mulheres no esporte, o esporte na moda, saúde e beleza, e a influência da eugenia sobre o discurso esportivo, pudemos perceber a importância da Revista Alterosa na constituição de uma cultura esportiva na cidade de Belo Horizonte. Tal 204


fato se deu, especialmente, com a difusão dos valores esportivos nas páginas da revista. Palavras-chave: história do esporte, Belo Horizonte, Revista Alterosa.

Coriolano Pereira da Rocha Junior

Professor da Faculdade de Educação – UFBA. Doutor em História Comparada coriolanojunior@uol.com.br

Uma análise comparada do remo: Rio de Janeiro e Bahia

Neste estudo temos o objetivo de identificar as formas e sentidos do remo no Rio de Janeiro e em Salvador, buscando compreender, comparativamente, como se deu sua construção como uma prática cultural de relevância, em diálogo com a modernização dessas cidades, entre fins do século XIX e primeiras décadas do século XX, usando como fontes, periódicos de Salvador e livros já produzidos sobre o Rio de Janeiro. Por ter sido a capital brasileira no período, o Rio de Janeiro era o centro da política e da economia, já a Bahia, ao contrário, vivia um período de declínio. Sobre o remo, entendemos que este teve uma trajetória que aponta semelhanças em alguns aspectos e diferenças em outros, tendo sido uma prática repleta de valores “modernos”, um relevante evento aglutinador de diferentes parcelas da população. Palavras-chave: Salvador, Rio de Janeiro, remo.

Enny Moraes

Professora Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) ennymoraes@hotmail.com

“Mulher não joga futebol no ‘país do futebol’? Questões sobre a invisibilidade e o silenciamento de histórias de mulheres futebolistas no Brasil.”

No atual trabalho objetivamos apontar para a inserção da mulher no futebol brasileiro, cuja prática sempre foi exercida pelas mulheres, com registros que vão desde o início do século XX, prolongando-se e ampliando-se até os dias de hoje, anulando a compreensão “convencional” de que mulher não joga futebol. Para isso, nos apoiamos em estudos que, com base na mídia impressa e na oralidade, demonstram essa participação e permanência. Contrariando totalmente a visão convencional de que “mulher não joga futebol”, percebemos que tal inserção se deu sobre a forma de resistência e rompimento com obstáculos que historicamente marcaram o futebol das mulheres no Brasil. Quebrar esse silenciamento é desvelar outras questões que destacam o empenho masculino em manter o futebol como uma reserva a exaltar exclusivamente sua virilidade. Palavras-Chave: futebol feminino, mulher, história.

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Enny Moraes

Professora Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) ennymoraes@hotmail.com

Felipe Eduardo Ferreira Marta (GERE) Roberto Pires

Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) gondim.roberto@gmail.com

História e Memória do Esporte em Jequié-BA

O presente trabalho de Pesquisa pretende investigar a História e Memória do Esporte na Cidade de Jequié-Ba, a partir das práticas e representações desenvolvidas no Jequié Tênis Clube. Portanto, temos a pretensão de pensar as manifestações e representações de Corpo, Esporte, Práticas corporais e Lazer no Jequié Tênis Clube enquanto lócus de memórias representativas de uma dada Educação do corpo no espaço de tal Cidade a partir de 1932, ano de fundação dessa instituição. Essa pesquisa pretende ainda inserir outros atores e autores na historiografia local, tendo como ponto de partida a participação direta ou indireta em momentos que conduziram e produziram uma visão sobre esse assunto. Palavras Chaves: Jequié, corpo, História.

Felipe Eduardo Ferreira Marta

Professor Adjunto da Universidade do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) fefmarta@gmail.com

O esporte na imprensa soteropolitana da primeira metade do século XX: A Tarde (1912 – 1950)

O esporte moderno é um fenômeno social surgido na Europa (Inglaterra) em finais do século XVIII. Sua influência na constituição da cultura corporal de São Paulo, Rio de Janeiro e outras capitais brasileiras, foi detectada por estudos históricos realizados nessas cidades. Entretanto, o mesmo não ocorre com a cidade de Salvador, uma vez que são escassos, ou restritos, os registros de pesquisas desta natureza a respeito do esporte na capital baiana. Nesse sentido, a presente comunicação apresenta para o debate as questões que estão norteando o projeto em andamento “O esporte na imprensa soteropolitana da primeira metade do século XX: A TARDE (1912 – 1950)” aprovado na chamada pública nº 237/00 - 2011 do Ministério dos Esportes/Rede Cedes. Como objetivo o projeto citado busca investigar o processo de desenvolvimento do esporte na cidade Salvador tendo como fonte o periódico A Tarde entre 1912 e 1950, período que compreende o ano de fundação do periódico e, além disso, uma série de períodos já consagrados pela historiografia brasileira, como por exemplo, a primeira e segunda 206


guerra mundial e o estado novo. Dito de outra maneira, a intenção é tentar captar as especificidades desse processo na cidade de Salvador e o câmbio de significados que o esporte pode ter assumido ao longo do período, isto tudo tendo em vista a influência das lentes do discurso jornalístico que caracteriza o periódico A Tarde. Palavras-chave: esporte, imprensa, Salvador.

Gustavo Amorim Rodrigues

Graduando em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) gwga10@hotmail.com

Futebol: um fenômeno histórico multidimensional

É notória a importância das três gerações dos Annales, em especial a terceira. Esse movimento histórico possibilitou o estudo de novos objetos. É constituído por uma História movida pela perspectiva interdisciplinar, a qual nos incita a estudar o futebol como um fenômeno multidimensional. Assim, partindo de um breve panorama da história do futebol, este estudo pretende apresentar a importância dessa manifestação cultural nas sociedades, por mexer com emoções, medos, contradições, ideologias, simbolismos e imaginários das massas, refletindo sobre as relações desse esporte com a sociedade, que se faz presente tanto na economia quanto na política, por meio da cultura futebolística. Essa comunicação insere-se na elaboração do trabalho de conclusão de curso, que está sendo desenvolvido no curso de História, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, sobre a presença do futebol na cidade de Poções. Palavras - chave: futebol, sociedade, cultura.

Henrique Sena dos Santos

Doutorando em História pela Universidade Estadual Paulista - UNESP/ASSIS. Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) henrisena@hotmail.com

No Campo da Graça: um estádio e algumas sociabilidades no futebol soteropolitano nos anos 1920

Embora o futebol esteja presente no cotidiano esportivo de Salvador desde o início do século XX, apenas nos anos 1920 é que a cidade contou com um estádio. Até então, o jogo de bola na cidade era realizado em terrenos baldios e/ou campos adaptados. Muitas partidas realizadas nestes espaços sequer contavam com gramados e no máximo tinham algumas cadeiras que serviam como arquibancadas. Dentro de um contexto de reformas urbanas e ideais de civilidade não raramente a imprensa criticava a falta de uma praça esportiva moderna. Somente em 1920 é que seria construído o Campo da Graça que rapidamente se tornou no principal espaço para a prática do futebol na cidade contando com arquibancadas, espaço para estacionamento de carros e gramado apropriado. A partir do surgimento do 207


Campo da Graça em Salvador a proposta desta comunicação é discutir em que medida a presença de um estádio de futebol dinamizou esta prática esportiva na cidade. A leitura de crônicas, editoriais, contos e charges nos permitiu perceber como o estádio foi visto pela imprensa, bem como quais sociabilidades e sensibilidades foram engendradas naquele espaço. Por fim, foi possível ensaiar uma discussão sobre de que forma os ideias de modernidade e eugenia muito em voga na década de 1920 influenciaram a constituição de sentidos do Campo da Graça, bem como as apropriações realizadas pelos sujeitos que ambientavam aquele espaço. Palavras-chave: futebol, cultura urbana, Salvador.

Jorge Miguel Acosta Soares

Doutorando pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) jorge.mas@uol.com.br

O atleta profissional e o sindicalismo tardio

Os atletas profissionais estão representados em apenas metade das Unidades da Federação. Boa parte da categoria, de cerca de 22 mil profissionais, não tem uma representação sindical. Por outro lado, as entidades de defesa dos interesses dos clubes estão organizadas em todos os estados, contanto com um poderoso lobby, inclusive parlamentar. Esse débil sindicalismo pode ser explicado, em parte, por sua origem. O primeiro sindicato de atletas no Brasil foi fundado, em São Paulo, apenas no final dos anos 40, muitos anos após a profissionalização da atividade, ocorrida em 1933. Esse sindicato foi criado, inicialmente como uma associação, por um pequeno grupo de atletas, sem condições materiais, ou representatividade junto à base. Contudo, a despeito dessa fragilidade em sua gênese, o Sindicato de Atletas foi recebido com temor e desconfiança por parte dos clubes e das autoridades do futebol. Quando da sua criação, uma inédita greve de jogadores na Argentina paralisou o campeonato nacional, confrontando os clubes, assim como o governo de Juan Domingo Perón. O exemplo vizinho trouxe insegurança aos dirigentes dos clubes brasileiros, que temiam aqui uma repetição do movimento portenho. Em pouco tempo, os dirigentes dos clubes paulistas, assim como a Federação Paulista de futebol (FPF), criaram formas de cooptação dos atletas-sindicalistas, forjando um processo de colaboração entre jogadores e clubes. Palavras-chave: futebol, atleta profissional, sindicato.

Lucas Santos Café

Mestrando em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CNPq lucascafe2000@yahoo.com.br

Espírito civilizador: esportes e atividades físicas nas teses da FAMEB (1895 - 1904)

Nesta comunicação, buscaremos analisar como as atividades físicas e os esportes foram 208


discutidos e analisados pelos doutores da FAMEB. Defendemos que estas práticas foram pensadas pelas elites baianas como ferramentas fundamentais no complicado processo de “modernização” e civilização dos costumes da cidade de Salvador no final do século XIX e início do século XX. Praticado nas escolas, nos clubes, nas ruas, ou em locais improvisados e “inapropriados”, os esportes se tornaram um tema acadêmico ao despertar a atenção dos profissionais da medicina, que tentavam descobrir seus benefícios físicos e morais para a sociedade baiana, mas que também estavam atentos para as possíveis limitações à realização destas práticas em terras tropicais. Palavras-chave: esportes, Educação Física, modernização.

Renato Pereira de Figueiredo

Professor Adjunto da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) renatofigueiredo2005@yahoo.com.br

Uma breve história da testosterona sintética

O breve relato a respeito da descoberta da testosterona por Brown-Sèquard e do seu suposto uso pela nadadora brasileira Rebeca Gusmão, feito neste artigo, expõe mais uma complicada controvérsia entre prática científica, ética e a política: quem deve responder sobre do uso indevido da testosterona no esporte? Como definir critérios de responsabilidade e de contribuição para o problema? Desenvolvida por cientistas para determinados tratamentos, o uso da testosterona sintética por esportistas revela o seu deslocamento e, de modo mais geral, nos indica que este produto da biotecnologia, como tantos outros, fugiu ao controle de seu criador. Formada pelo coletivo de humanos e não-humanos, a dinâmica da concepção da rede sociotécnica formulada por Bruno Latour (1994 e 2000), pautada em uma análise do contexto sociocultural da produção científica, possibilita uma simetria na abordagem desses seres híbridos, recusando a separação, as oposições ou polaridades, entre o artefato e a sociedade, o biológico e o social, a natureza e a cultura. A partir desta estratégia analítica é possível compreender o doping como o resultado de um conjunto de relações construídas no tempo, em uma rede de traduções, simplificações, interesses e justaposições, ordenadas de forma heterogênea, de tal forma que, muitas vezes, nossas atitudes, ações e pensamentos nos levam a esquecer que objetos tem história e que a história dos objetos não se dissocia da nossa história. Palavras-chaves: rede sociotécnica, testosterona, Brown-Séquard.

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Simpósio Temático 22 HISTÓRIA E LITERATURA Coordenador: ROBSON NORBERTO DANTAS

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o Simpósio Temático “História e Literatura” do 5º Encontro da ANPUH-BA, em 2010, os coordenadores constataram o crescente interesse de pesquisadores pelo uso da Literatura na pesquisa histórica. Na ocasião, recebemos colegas de diversos lugares da Bahia e do Brasil. O debate foi bastante intenso e acalorado, serviu para troca de ideias, de experiências e busca de afinidades de pesquisas. Entretanto, saímos do Encontro com a percepção de que tínhamos alguns desafios pela frente, ou seja, persistir no objetivo inicial de construir um mapa das pesquisas sobre o assunto no Estado da Bahia e problematizar os nossos instrumentos teóricos e metodológicos. Assim, para este Simpósio Temático continuaremos com esses objetivos, mas agora pretendemos ampliar o diálogo com os colegas de diferentes áreas de conhecimento, a exemplo de Letras, Ciências Sociais, Filosofia e Psicologia. Desse modo, acreditamos que a ampliação do diálogo trará benefícios para todos nós, principalmente aos historiadores, que muitas vezes enfrentam tremendos desafios ao lidar com o terreno movediço e altamente simbólico da Literatura. OBJETIVO GERAL Reunir pesquisadores de História e de outras áreas de conhecimento com trabalhos em desenvolvimento com foco em Literatura; debater as nossas relações de compartilhamentos e especificidades no diálogo com a Literatura; promover contatos acadêmicos e o debate teórico-metodológico no uso da Literatura como fonte. Adriana Silva Teles Boudoux

Professora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Mestre em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) adrianaboudoux@yahoo.com.br

Entre Realidade e Ficção: Literatura e História no romance Cascalho, de Herberto Sales

Apesar de se configurarem como campos de produção diferenciados, História e Literatura mantêm uma forte relação de aproximação. É o que pode ser percebido por meio da leitura e análise do romance Cascalho (1944), primeira obra literária do escritor baiano Herberto Sales. Em seu romance de estréia, o autor aborda o universo sócio-cultural das Lavras Diamantinas, região formada pelos municípios de Mucugê, 210


Palmeiras, Lençóis e Andaraí. Esta última, terra natal do romancista, é cenário por onde transitam personagens e onde se desenrolam os fatos que vão compor a trama narrativa, na qual é possível perceber um forte cruzamento entre ficção e realidade, entre literatura e história. A partir de suas experiências, do contato com a realidade representada no romance, Sales transpõe fatos e personagens extraídos da vida real para as páginas do romance. Entretanto, seu olhar sobre este universo histórico-cultural é construído por meio do dialogo com outros textos, destacando-se as produções do “romance de 30” e do pensamento social brasileiro dos anos de 1930 e 1940. Neste processo, sem desprezar as relações cotidianas e a mentalidade local, o autor expõe o seu olhar sobre as relações econômicas, sociais e políticas da sociedade diamantífera baiana, denunciando a grande propriedade, a exploração do trabalho e a dependência econômica. Entrecruzando o estético e o histórico, o autor destaca os traços que, na sua perspectiva, dão singularidade à região, e os que a aproximam do restante do país. Palavras-chave: literatura, História, representação.

Agnaldo Wanderson Santos Rabelo

Graduando em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) agrhabelo@gmail.com

O Romantismo nas Páginas de A Feiticeira

A presente comunicação visa pontuar os diálogos entre Michelet e o Romantismo tendo como base a sua obra A Feiticeira (1862).Considerado um dos mais proeminentes historiadores do século XIX na sociedade francesa, Jules Michelet não foi isento de críticas devido à sua forma de escrever suas obras, dito de outro modo, devido a seu estilo e à sua concepção de história. Conhecido principalmente por obras como: Histoire de La Revolucione Française e Histoire de France, é na obra que calca essa comunicação que se faz patente a maior parcela dos traços da historiografia micheletiana, dentre elas: seu desejo pela totalidade da história, o estilo literário, a presença de uma história que abrange o material e o espiritual e sua busca pelos silêncios da história. Em A Feiticeira é notória a presença de elementos típicos do Romantismo, a narrativa micheletiana traz em seu bojo características que justifica a alcunha de Michelet enquanto sendo um “historiador romântico”. A despeito de negar esse título, Jules Michelet dialoga constantemente com o Romantismo em suas obras, não sendo elas um mero reflexo, mas sim fruto de um homem consciente de seu tempo e vulnerável a seus movimentos. Esta comunicação endossa os resultados obtidos através da pesquisa: Discurso e Método no Silêncio da Feiticeira, que conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB).

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André Luis Mitidieri --mitidierister@gmail.com

Micro-história italiana para uma contribuição à biobibliografia de Mario Quintana

O presente trabalho tem por objetivo contribuir à história editorial de Mario Quintana, estudando composições de sua autoria publicadas na revista Ibirapuitan, de Alegrete (RS), entre os anos de 1938 e 1939, a partir das quais, encontramos publicações inéditas anteriores, da década de 1920, em jornais e revistas do Rio de Janeiro. O corpus é expandido por meio de livros de cunho crítico e biográfico que nos permitem recompor sua biobliografia. Buscando situar os trabalhos do poeta que, antes editados em periódicos, retornariam ou não às edições em livros de poemas organizados por gêneros,procuramos demonstrar certo recuo na vida editorial do escritor, pelo menos, à década de 1920. Assim, começamos por situar a história da literatura e a história literária, em relação aos estudos literários, e por divisar perspectivas de diálogo entre a historiografia literária e os campos da cultura, da história e da historiografia. Consultas a outras edições, fontes, etc. incrementam a pesquisa e consequentes análises. Da mesma forma, depõem sobre a biobibliografia de Quintana, possibilitando revisá-la e atualizá-la. O material consultado permite-nos contar uma história e compor um escrito históricoliterário cujos princípios metodológicos se fundamentam na “micro-história” italiana, especialmente, nas considerações do historiador italiano Carlo Ginzburg. Palavras chave: crítica literária, Mario Quintana, micro-história, micro-História literária.

Ângela Lacerda Santos

Mestranda do Programa de Pós Graduação Letras: Linguagem e Representação, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) angelalacerda68@gmail.com

Gisane Santana

Mestranda do Programa de Pós Graduação Letras: Linguagem e Representação – da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista da CAPES gisa_santana@yahoo.com.br

Identidade, memória e narrativa

Trata-se de uma reflexão teórico-crítica sobre a relação identidade, memória e narrativas orais com vistas à afirmação de elementos específicos da identidade cultural local. Objetiva-se, verificar que a partir da representação será possível conceituar a identidade nacional explicando a sua importância nas sociedades contemporâneas, nos domínios cultural e social. Desse modo, as narrativas orais adquirem o status de representação identitária, representações que abarcam e sintetizam os elementos da cultura do povo. Assim sendo, os produtos culturais, como as narrativas orais, 212


são vitais no processo de constituição das identidades locais. A memória do passado nessas narrativas orais liga-se a história, à sucessão de acontecimentos, que se ligam na relação passado x presente x futuro, construída pela tensão de duas forças - história e discurso (TODOROV, 2006). Para a discussão dos conceitos identidade ,memória e narrativas toma-se a ideia das questões da escrita da história e da invenção do cotidiano (CERTEAU, 2002; 1996), observando-se as questões identitárias (HALL, 2005; CASTELLS, 2000); a hibridização cultural (CANCLINI, 2003); a memória (LE GOFF, 1988; Bosi (2003); o poder vocal (ZUMTHOR, 1993); e a mestiçagem (LAPLANTINE & NOUSS, 2002). Com base nesses pressupostos teóricos, este estudo contribuirá para a compreensão das identidades culturais; para a identificação e valorização das narrativas através da descrição e discussão de elementos da memória - individual e coletiva (HALBWACHS, 1990) - e da história. Palavras-chave: história, memória, narrativa, identidade cultural.

Carolina da Purificação Costa

Mestranda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) phistcarolina@gmail.com

Homenagem à Catalunha: Orwell e a produção de memória sobre a Guerra Civil Espanhola (1936-1939)

A Revolução Espanhola foi retratada de diversas formas desde 1936, matéria prima para literatura, música, cinema, pintura, fomentou debates intensos dentro da historiografia, e se tornou exemplo histórico para as lutas sociais defensoras da transformação social e do fim da exploração capitalista. Nesse contexto de produção de memórias e sentidos sobre o conflito espanhol, o presente texto busca refletir sobre o posicionamento do escritor George Orwell, através de seu texto Homenagem à Catalunha (1938), entendendo-o como uma alternativa consciente de disputar a memória histórica do fato ao fazer oposição à maior parte da mídia inglesa do período, que o reduzia a simplesmente uma luta contra o fascismo, omitia a diversidade ideológica do conflito, e caracterizava qualquer grupo ideológico que o acirrasse na busca de uma transformação profunda da sociedade como grupos antirrevolucionários. O texto entende o relato de George Orwell inserido em um contexto de internacionalização da luta, sendo esse produzido por um estrangeiro e direcionado para um público também estrangeiro com intenção de denúncia e ampliar a noção das relações de poder em disputa na Espanha; bem como um exercício de memória, portanto parcial e seletivo, forjado no calor da experiência do front e de sua permanência em Barcelona. Palavras-chave: Guerra Civil Espanhola, George Orwell; memória e literatura.

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Clóvis Frederico Ramaiana Moraes Oliveira

Professor Assistente da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Doutor em História clovisramaiana@gmail.com

Feira de Nanan: Aloísio Resende e a modernidade feirense, 1930-1941

Neste trabalho pretendo explorar as contradições entre escrita do poeta Aloísio Resende (1900-1941) e a modernização da sua cidade natal. A construção moderna de Feira de Santana organizou o centro segundo preceitos acadêmicos, impôs as retas como instrumento para encurtar distâncias e facilitar negócios, a cidade letrada feirense também trabalhou no sentido de confiscar aos subúrbios os modos de fazer-se. Além da espessa cortina de preconceitos, as formas de organização comunitária foram criticadas, os saberes nascidos do passado africano e indígena criminalizados, as seculares construções de casas proibidas. A cidade produziu uma norma culta, codificou-a e exportou-a para as regiões vizinhas, cobrou adesões, puniu transgressões.Contra a ordem Aloísio Resende procurou nos saberes suburbanos e na linguagem que ali era entabulada, as motivações das suas falas. Usando de africanismos, declarou sua adesão ao berço mãe do outro lado do Atlântico, produzindo uma etnografia dos cultos de matriz afro reafirmou o compromisso. A conversão à fé questionava as crenças instituídas pela cidade letrada, desde o cristianismo hegemônico ao racionalismo modernizador expressado no culto ao progresso, passando pelo amor ao Deus lucro de sortudos comerciantes. O terreiro contraposto à urbe sugeria outros caminhos para a história urbana e, principalmente, propunha centros alternativos para a produção de feirenses narrativas. Pensada como referencial, a unidade territorial produzia a Princesa do Sertão a partir de uma lógica contrária à linearidade do comercial centro urbano. O “milionário sentimental” expressou, na sua obra, a voz dos suburbanos corações. Nadando contra a corrente instalada nas ruas centrais da sua urbe natal construiu uma narrativa policentrada, refez as fragmentadas histórias de oleiros, sacerdotes do candomblé, trabalhadores rurais e solitárias dançarinas. A proposta de história do agitado poeta recusava o “totalitarismo funcionalista” que ordenava ruas e casas, inundava de historicidade as memórias nascidas dos labores dos subúrbios e dialogava, enfim, com a tradição oral que colocava em movimento cultos, trabalhos e festejos. Palavras-chave: modernidade, memória, silêncio.

Edson Santos Ferreira da Silva edsonsferreira_8@hotmail.com

As fontes orais na construção da narrativa de Os Sertões

Ao longo de seus 110 anos de publicação o livro Os Sertões: campanha de Canudos, de Euclides da Cunha, vem sendo estudado por diversos pesquisadores, dentre os quais podemos citar: Leopoldo Bernucci, que publicou uma edição comentada da 214


obra; Walnice Nogueira Galvão também lançou uma edição com comentários não só de Os Sertões, mas também de Canudos (Diário de uma expedição); Roberto Ventura que além de recolher material para uma biografia de Euclides escreveu artigos sobre o livro vingador; e Berthold Zilly, traduziu para o alemão a obra do brasileiro. Portanto, chamando a atenção, seja pela construção da sua narrativa, ou pela narração dos fatos de Canudos, ou ainda pela teoria da formação etno-cultural do povo brasileiro, o livro euclidiano recebeu a atenção de diversos intelectuais que estudaram vários aspectos da obra. Dentre esses aspectos daremos destaque às fontes orais que possuem grande relevância na construção de Os Sertões, pois, a partir dessas evidências Euclides interpretou Antônio Conselheiro, Canudos e seus moradores como fanáticos religiosos, como pessoas iletradas como afirmou Roberto Ventura: “Euclides criou, em Os sertões, uma imagem de Canudos como cidade iletrada, dominada por fanatismos e superstições transmitidos de forma oral”. Assim, o presente trabalho debruça-se sobre o lugar das fontes orais na construção da narrativa da maior obra de Euclides da Cunha.

Fernando José Ferreira Aguiar fernandofaguiar36@yahoo.com.br

Janaina Aguiar janainacouvo@gmail.com

“História, Narrativas Orais e Ancestralidade”: o lugar da Literatura Africana e Afrobrasileira na experiência docente a partir da lei 10639/03

Este trabalho pretende apresentar uma análise sobre a produção literária voltada a abordagem temática da cultura afrobrasileira e africana, buscando perceber que especificidades são trabalhadas pelos autores no que diz respeito a este tema. Observamos que existe uma presença constante de obras abordando os contos e mitos africanos voltados para o público infanto-juvenil. Este um número considerável de publicações sobre este tema, apresentando as diversas narrativas sobre os orixás, suas histórias e aventuras vem contribuindo significativamente para que o professor possa desenvolver a aplicação da Lei 10639/03, que institui a obrigatoriedade do Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana. A partir desse material, é possível levar para os alunos , um universo mitológico onde os protagonistas são divindades africanas, apresentando suas particularidades, o que pode ser considerado enquanto uma grande oportunidade para se combater a intolerância religiosa tão presentes nos espaços escolares por todo o país. Assim, este trabalho é resultado de uma análise sobre essa prática em sala de aula, onde através de uma vivência com professores e alunos , foi possível apresentar propostas pedagógicas voltadas ao trabalho com a Literatura e a História, uma construção coletiva voltada a proporcionar uma experiência centrada no trabalho com a diversidade cultural afrobrasileira. 215


Isis Carolina Garcia Bispo

Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Bolsista PIBIC/FAPITEC-SE isisgarciaufs@yahoo.com.br

Bernardim Ribeiro e a prosa crítica marrana

Este trabalho pretende analisar aspectos importantes da cosmovisão cristãnova a partir da obra História de Menina e Moça do autor português Bernardim Ribeiro. Destacando o potencial da Literatura como fonte histórica e ressaltando a sua influência no imaginário popular, a citada obra se configurou em uma legítima estratégia de resistência cultural, uma fonte privilegiada para entender a visão de mundo dos sefarditas na diáspora Atlântica e como eles tiveram que manter na clandestinidade sua identidade ancestral, praticando o que ficou conhecido como criptojudaismo, em função da perseguição sofrida pelo estabelecimento da Inquisição Moderna na Espanha e Portugal. Palavras-chave: Bernardim Ribeiro, Diáspora Atlântica, Literatura Cristã-nova.

Iuri Bauler Pereira

Doutorando. Bolsista CNPq. Mestre em História Social (PPGHIS-UFRJ) iuribauler@gmail.com

O projeto indianista do literato baiano João Joaquim da Silva Guimarães (1852-1854)

O Brasil do século XIX foi marcado por um crescente interesse literário nas tradições indígenas e relatos coloniais, vistos como fontes para a realização de um projeto de nacionalismo literário. O indianismo foi um dos principais aspectos deste programa e caracterizou-se pelo uso da língua tupi em obras literárias. Nessas circunstâncias, foram crescentes as reedições de instrumentos linguísticos coloniais, bem como a produção de novos dicionários tupi-português por homens de Letras oitocentistas. A presente proposta de comunicação tem como objetivo analisar a figura do desconhecido literato baiano João Joaquim da Silva Guimarães, que editou e publicou importantes obras sobre a língua tupi, como a Grammatica da Lingua Geral dos Indios do Brasil (1852) e o Diccionario da Lingua Geral dos Indios do Brasil (1854 ), instrumentos linguisticos raríssimos no Brasil oitocentista até então. Essas publicações fazem parte de um projeto literário maior, elaborado entre 1851 e 1854, de cunho marcadamente indianista e que se articula com as concepções da literatura romântica em circulação na Corte do Império do Brasil. A análise procura explorar algumas das possibilidades que este caso oferece para o estudo das práticas letradas no Brasil oitocentista: a diversidade de gêneros literários inclusos nas publicações de Silva Guimarães; as estratégias editoriais e tipográficas de um letrado no ambiente literário da província da Bahia em relação com as instituições letradas da Corte; e as concepções do indianismo brasileiro, como representação do indígena e da língua tupi. Palavras-chave: língua tupi, indianismo, práticas letradas. 216


Jackson Novaes Santos

Especialista em História do Brasil e Graduado em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) novaisjn@hotmail.com

Algumas considerações acerca da produção memorialística Grapiúna

Buscar-se-á, por meio apresente comunicação, apresentar breve esboço dos resultados alcançados ao longo de pesquisa desenvolvida junto ao curso de Especialização em História do Brasil da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), que resultou na elaboração de estudo monográfico intitulado “A produção memorialística grapiúna: uma análise historiográfica”, elaborado sob a orientação da Prof.ª Dr. Janete Ruiz Macedo e submetido à apreciação da banca examinadora em janeiro de 2011.

João Reis Novaes

Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) jrnovaes@bol.com.br

História e literatura: a trajetória de um chefe político em Tocaia Grande

A Bahia, como ressalva Eul-Soo Pang (1979), proporciona uma série de vantagens para quem quer deslindar os meandros do sistema coronelista, seja por sua extensão física e demográfica, ou por sua importância econômica e política, que perdurou desde os tempos coloniais, perpassando o Império e desaguando no período que ficou conhecido pela historiografia como Primeira República (1889-1930). Atentos ao exposto, historiadores, dentre outros pesquisadores, produzem, constantemente, representações a respeito desse fenômeno. A literatura, como era de se esperar, também contribuirá para o enriquecimento e diversificação dessas representações, já que diversos romances trazem em seus enredos pistas, indícios, traços, que, às vezes, passam despercebidos, mas que são indispensáveis para elaborarmos uma leitura mais profunda dos acontecimentos experienciados pelos indivíduos que viviam sob a influência de práticas coronelistas. Desta forma, o presente trabalho, no exercício de pensar as interações da história com a literatura, objetiva analisar, através da trajetória de Natário da Fonseca, um dos personagens do romance Tocaia Grande: A Face Obscura, de Jorge Amado, as táticas e estratégias adotadas por um indivíduo – oriundo de outra região e não descendente de uma família abastada – para chegar à condição de Coronel no Sul do Estado da Bahia. Palavras-chave: História, Literatura, Tocaia Grande.

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Joslan Santos Sampaio

Professor da Secretaria Estadual de Educação da Bahia. Especialista em Teoria e História Literária (UESB). Mestrando em Memória: Linguagem e Sociedade (UESB) johistoria@yahoo.com.br

História e literatura: a invenção da nação

Nesta pesquisa tentarei pôr em contato dois âmbitos de pesquisa inexoravelmente comunicantes: História e Literatura. Nesse sentido, proponho uma aproximação entre esses dois discursos – o histórico e o literário –, pensando na possibilidade interdisciplinar sem, no entanto, arranhar suas identidades, entendendo que ambos os campos foram articulados para a invenção de uma identidade nacional. Entendo que a articulação entre esses dois campos do saber, no período histórico supracitado, proporciona uma identidade comum a nação, que perpassa pela interpelação de uma formação discursiva, em que todos são construídos como “um”. Desta forma, o processo de construção da identidade cultural da nação deve ser entendido como fruto do discurso de um grupo, a partir de uma identidade discursiva. Palavras-chave: História, Literatura, Nação.

Leonardo Guimarães Leite

Mestrando do programa de Pós-Graduação em História Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES caloleo@bol.com.br

O fanático e místico brasileiro dos sertões: representações literárias de Antônio Conselheiro na obra La guerra del fin del mundo

O presente trabalho discute alguns dos resultados da pesquisa intitulada “De Euclides a Vargas Llosa: um estudo sobre as representações de Antônio Conselheiro na literatura”, desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local (PPGHIS) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Assim, a comunicação objetiva discutir aspectos relacionadas ao processo de elaboração da obra La guerra del fin del mundo (1981), do escritor peruano Mario Vargas Llosa. O romance em questão tematiza a Guerra de Canudos (1896-1897), um dos principais episódios da história republicana brasileira, e utiliza como principal intertexto a clássica obra de Euclides da Cunha (1866-1909) Os Sertões (1902). Intentamos também, discutir representações literárias do líder do arraial de Belo Monte, Antônio Conselheiro, a partir do romance histórico de Vargas Llosa, travando um diálogo intertextual com as obras Um místico brasileiro (1919), do escoçês, Robert B. Cunningham Graham, e Os Sertões de Euclides da Cunha. Para a elaboração do texto, dialogamos com obras literárias, jornais, artigos e entrevistas, na perspectiva de evidenciar as hibridações entre relatos históricos e narrativas literárias no contexto das investigações da História Cultural. Finalmente, colocamos em discussão alguns conceitos como representação, memória, ficção e 218


história – com o intuito de problematizar as representações de Antônio Conselheiro na literatura e em outras obras de caráter científico, histórico e memorialístico. Palavras-chave: Antônio Conselheiro, literatura, Mario Vargas Llosa.

Marina Bezzi

emedemarina@yahoo.com.br

João de Barros e as Décadas entre a Retórica e a História (1552-1563)

A partir da obra Décadas da Ásia, de João de Barros (1496-1570), a comunicação refletirá sobre a importância do diálogo interdisciplinar para se pensar a produção ibérica de práticas letradas no início do século XVI. Para entender a obra citada em sua historicidade, são prioritários conceitos dos estudos literários sobre retórica na Idade Moderna, em que tal produção letrada cortesã configurava um produto retórico-poético-político-teológico, e não historiográfico, como hoje entendemos. Ademais, os usos antiquários feitos da obra de João de Barros já a partir do fim do séc. XVI e no séc. XVII pelo letrado português Manuel Severim de Faria (1584-1655) consideram as Décadas como obra fundamental em uma sequência de “publicações” imperiais, em que a tópica das Armas e das Letras é central num império místico cristão. Ao ressaltar a importância do diálogo entre História e Literatura, pretendese relevar não só os aspectos formais e seus sentidos retórico-históricos em Décadas da Ásia, mas também contribuir para própria historicidade das duas disciplinas em sua relação. Em outras palavras, trata-se também de perceber como nem História, nem Literatura estão dadas a priori, senão constituíram-se na longa duração e sua complexa e rica relação tampouco permaneceu a mesma ao longo do tempo.

Patrícia Vitória Mendes dos Santos Araújo pathyvitoria@yahoo.com.br

Escravidão, amor e ódio: os muros da clausura e aculturação no Brasil do século XVI

A escassez de mulheres brancas no início da colonização, confirmada pela carta do padre Manoel da Nóbrega, solicitando ao monarca que enviasse donzelas brancas ao Brasil, fez com que as índias e negras deixassem de ser concubinas dos colonos naquela época. Tal prática entrava em oposição ao que era pregado pela Igreja e pelo Estado, e a vinda de mulheres brancas significava esperança, implementação de bons costumes e a possibilidade de uma vida moral de acordo com as normas do catolicismo. A Igreja esperava dos colonos a função de fiéis súditos e católicos fervorosos. O presente trabalho visa a análise da figura feminina, Oribela, constante no romance Desmundo de Ana Miranda. A personagem em destaque, encerra a vinda de mulheres brancas, órfãs, criadas nos conventos em Portugal, que vêem-se obrigadas a atravessarem o 219


oceano para casarem-se com colonos do Brasil e serem mães de seus futuros filhos, garantindo assim a pureza racial dos descendentes de portugueses. O romance traça a história de desvalorização, reclusão e submissão da mulher àquela época, sendo vista reduzida à posse e à obediência ao marido. Para Oribela, “Desmundo” era o mundo restrito da mulher, presa a um cotidiano inerte, pleno de clausura e submissão aos padrões androcêntricos então reinantes na sociedade.

Oscar Santana dos Santos

Professor de História da Educação Básica. Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) oscarinhopp@hotmail.com

Ficção, memória, ferrovia e cotidiano na obra As estradas da esperança

O romance As estradas da esperança, publicado pela Editora Clube do Livro (SP), em 1982, escrito por Antônio Leal de Santa Inez, é o objeto e a principal fonte deste artigo por representar aspectos memorialísticos e do cotidiano da linha ferroviária que ficou conhecida como Estrada de Ferro de Nazaré (EFN). Chamada inicialmente de Tram Road de Nazareth (TRN), a ferrovia partiu de Nazaré (Bahia) em 1871, chegando a Jequié em 1927. Com extensão de 290 km, fazia o transporte de passageiros e dos principais produtos agrícolas da região, como café, fumo e cacau. Entre os anos de 1871 (início da construção) e 1971 (quando foi desativada), a estrada permitia a integração das microrregiões do Vale do Jequiriçá / Recôncavo Sul / Jequié e Salvador, conectando ferrovia e navegação, contribuindo assim com intercâmbios culturais, sociais e econômicos. O uso frequente do trem para diversão ou trabalho; como meio de deslocamento até uma cidade maior com a finalidade de estudar num colégio importante ou consultar-se com um médico da capital; o hábito de parar nas estações para fazer um lanche; comprar um cafezinho ou um mingau; almoçar; embarcar ou desembarcar produtos e passageiros; visitar familiares ou encontrar-se com a namorada; vender doces ou frutas no interior desse meio de transporte; conversar com amigos ou desconhecidos; viajar durante a noite ou o dia e irritar-se com o atraso, a poeira ou um acidente na estrada, são atividades perceptíveis na obra As estradas da esperança. Esta obra, além do cotidiano, tem como matéria a região e a desativação da EFN, pois Santa Inez usou o nome real das cidades e dos povoados que eram conectados por essa ferrovia, lamentou o fim da estrada e criou personagens baseadas em suas viagens no trem. Palavras-chave: ficção, memória, ferrovia.

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Rafael Rosa da Rocha

Graduando pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) rafael@fillnet.com.br

Xavier Marques e a representação do africano em O Feiticeiro (1922)

A presente comunicação integra um esforço no sentido de apresentar alguns resultados do projeto intitulado O Feiticeiro: representação das culturas afrobrasileiras em Xavier Marques, orientado pelo Prof. Dr. Raimundo Nonato Pereira Moreira (UNEB), contribuindo para o fortalecimento do grupo de pesquisa História, Literatura e Memória, do qual faço parte. De tal modo, o presente trabalho intenciona discutir algumas das representações forjadas no romance O Feiticeiro (1897/1922), escrito no final do século XIX por Xavier Marques (18611942), jornalista, político e literato nascido na ilha de Itaparica, que utilizou da obra ficcional para retratar a Bahia numa perspectiva regionalista. A obra de Xavier Marques estabelece um instigante diálogo verossímil com a história. Busca-se uma análise do africano – o feiticeiro –, enquanto degenerador social funcionando como um entrave para o progresso. Neste sentido, utilizamos fontes jornalísticas e algumas poesias escritas por nosso literato para compreender sua narrativa enquanto fruto de um período de intensas transformações sociais, políticas, econômicas e culturas as quais envolveram a Bahia entre o Império e a República. Os escritos de Marques são significados de quem pensou novos rumos para a província naquele contexto de transição do trabalho escravo para o trabalho livre e do Império à República. Nestes termos, consideramos que havia em Marques, mais especificamente em O Feiticeiro, a negação do passado colono-imperial da província como prerrogativa para inserção nos moldes civilizacionais europeus. Palavras-chave: representação, africano, progresso.

Raphael Coutinho Santos

Graduando pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista ICB/ UESC raphael.coutinho7@gmail.com

Entre a história e a ficção: uma leitura de Lobo Antunes a partir de Paul Ricoeur

O objetivo desta comunicação é apresentar o romance Os cus de Judas (1979) do escritor português Antunes Lobo Antunes como testemunho de sua experiência, como médico e tenente do exército português, na Guerra de Independência de Angola, datada entre 1961-1974. Apesar de privilegiar o romance Os cus de Judas (1979), outros títulos do autor português, como Memória de Elefante (1979) e Conhecimento do inferno (1981), que completam com o primeiro romance a chamado trilogia de guerra, serão citados pelas suas referencias à Guerra de Independência em Angola. A abordagem desse tema privilegiará também dois 221


aspectos: a narrativa e a memória. Como fundamentação teórica deste trabalho, a fenomenologia-hermenêutica de Paul Ricoeur fornece o subsídio metodológico necessário para o entrecruzamento da história e da ficção, mediante a abordagem de questões de narrativa e memória. Ricoeur defende que o tempo torna-se tempo humano na medida em que está articulado de modo narrativo e o mundo exibido por obra narrativa é sempre um mundo temporal; todavia Ricoeur percebeu a lacuna da memória no processo de experiência temporal e operação narrativa – cuja memória é seu nível intermediário. Em se tratando de nível intermediário entre a narrativa e a experiência temporal, persiste a relação entre memória, como produto da história, e imaginação, matéria-prima da ficção, em que o filósofo busca estabelecer um parâmetro. E como resultado preliminar, este estudo rendeu, no segundo semestre de 2011, um artigo que foi aceito e publicado na Revista Leitura Flutuante do Centro de Estudos de Semiótica e Psicanálise da PUC/SP. Palavras-chave: História, narrativa, Ricoeur.

Rita de Cássia Curvelo da Silva

Professora Adjunta da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Doutorado em Educação. ritacurvelo8@hotmail.com

História e cultura popular na literatura de cordel do território de identidade litoral sul da Bahia

O texto aborda a literatura de cordel no território de identidade litoral sul da Bahia. Resulta de uma pesquisa em andamento sobre tradições da cultura popular regionais. O cordel floresceu em Portugal no século XVII e, no Brasil, esse tipo de produção literária nos chegou através dos colonizadores e se estabeleceu no Nordeste como instrumento de pensamento coletivo e expressão da memória popular. O cordel, por recolher, registrar e interpretar fatos da vida real constitui fonte preciosa da história. Essa tradição popular tem sua produção reduzida com o passar dos tempos, contudo, os livretos publicados são fontes valiosas para conhecimento e difusão da história e da cultura local e forma de resistência cultural das classes subalternas da população. Palavras-chave: literatura de cordel, cultura popular, História Regional.

Valter Guimarães Soares

Professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Mestre em Literatura e Diversidade Cultural. Bolsista FAPESB vgsoares@hotmail.com

Literatura de viagem: a mirada de Spix e Martius sobre o sertão baiano

Muitos foram os europeus que aportaram no Brasil no início do século XIX. O fim do exclusivismo português, em 1808, possibilitou, além da entrada de navios mercantes, 222


a presença de muitos estrangeiros. Viajantes de várias origens, destacando-se entre eles ingleses, franceses e alemães, intercalando os mais diversos propósitos – comerciais, científicos, literários, relações diplomáticas, desenvolvimento científico e criação de museus, investigação das potencialidades humanas e materiais da antiga colônia – devassaram o então Reino Unido de Portugal e depois Império do Brasil. Artífices de um novo descobrimento, conforme assinala Sergio B. de Holanda, na medida em que se deslocaram em expedições pela terra desconhecida, deixaram importantes registros para a oficina historiográfica (narrativas, crônicas, diários) e ampliaram também o corpus do gênero Literatura de Viagem. Nesta comunicação, a partir da leitura da obra Através da Bahia, traduzida para o português em 1916, procuro espreitar imagens de sertão baiano a partir da perspectiva dos naturalistas bávaros Spix e Martius. A intenção é problematizar uma versão muito aceita, segundo a qual a natureza física do Brasil sempre foi motivo de encantamento por parte dos viajantes, geralmente apreendida por estes como fonte de emoções e atuando de forma marcante e arrebatadora sobre a sensibilidade do observador. Palavras-chave: Literatura de viagem, discurso, sertão.

Ynessa Cruz Santos do Vale

Graduada em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) ynessadovale85@hotmail.com

Na trilha da pobreza garimpeira representada na literatura cascalho de Herberto Sales

Este trabalho analisa a representação da pobreza e as formas de enriquecimento nas Lavras Diamantinas da Bahia, a partir do romance “Cascalho”, da autoria de Herberto Sales, assim como analisa o romance “Maria Dusá”, escrito por Lindolfo Rocha. “Cascalho” é inovador no sentido de que, nele o garimpeiro entra como elemento principal da narrativa, diferente de outros estudos sobre a região. A pobreza nas áreas de mineração tem sido alvo de atenção de alguns historiadores. Estes estudiosos têm procurado retratar as verdadeiras condições a que estavam relegados esses trabalhadores, ultrapassando o entendimento de que esses locais de mineração eram locais de riqueza fácil e acessível a todos. Herberto Sales em “Cascalho” fez um estudo que denunciou as condições de vida das populações garimpeiras e os processos exploratórios vivenciados por estes grupos. E é a partir de fragmentos da obra que analisamos a condições sociais dessa população local. Para Ângela Vilma, além da imaginação: “nesse livro estão impregnadas muito mais que a história de uma região e de uma determinada época, mas a própria memória do romancista”. (VILMA, 2006 p. 23) Pensando na relação do autor com a obra e com o contexto que a escreveu, percebo que tanto a História quanto a Literatura, são formas de representar o passado e explicar o presente. Partindo desse pressuposto, entendo que a aproximação entre essas duas áreas, contribui para o desvelamento de questões referentes à historiografia, 223


bem como penso que essa relação pode colaborar para a produção um conhecimento interdisciplinar e pautado em uma reflexão mais ampla acerca do contexto estudado. Palavras- chave: História, literatura, mineração.

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Simpósio Temático 23 HISTÓRIA INDÍGENA: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTOS E ENSINO Coordenadoras: MARIA HILDA PARAÍSO TERESINHA MARCIS

A

história indígena tem destacada presença nos eventos nacionais e regionais da ANPUH desde a implantação do modelo de Simpósio Temático em 2003. De acordo com esse modelo, nos encontros regionais da Bahia já foram debatidos temáticas relativas à produção e ensino de história indígena, com destaque para a diversidade de fontes e das concepções que, além de focalizar a violência física e cultural empreendidos contra os povos indígenas desde os princípios da colonização até a atualidade, compreendem os índios como agentes históricos e não apenas sujeitos passivos das políticas e ações dos colonizadores e sociedade dominante. Assim sendo, já foram incorporadas nas análises e reflexões, as lutas dos povos indígenas para retomada de suas terras, história, cultura e identidade étnica. Nesse sentido, o simpósio “História indígena: produção de conhecimentos e ensino” se apresenta como continuidade dos anos anteriores e objetiva proporcionar um espaço para exposição e debate das pesquisas desenvolvidas nos cursos de graduação e pós-graduação, bem como, as produções realizadas nas escolas indígenas e nos cursos de licenciatura intercultural. Para potencializar a troca de informações e de experiências, poderão ser inscritos trabalhos em diferentes estágios da pesquisa e abordando diversos temas, espaços, períodos, fontes e metodologias. Intenciona-se também iniciar a discussão sobre os reflexos desta produção de conhecimentos nas práticas didático-pedagógicas dos profissionais atuantes na rede de ensino fundamental e médio. André de Almeida Rego

--almeida_rego@yahoo.com.br

Reconstruções culturais e reformulações identitárias - as etnogêneses dos possíveis: sugestões a partir de estudos sobre a questão indígena na Bahia do século XIX

O trabalho busca apontar e refletir sobre as possibilidades de desenvolvimentos de estudos culturalistas, a partir da análise de sociedades indígenas da província da Bahia no século XIX. No âmbito da história indígena, incidem significativos descompassos 225


entre análises teóricas sobre etnogêneses/ processos culturais e trabalhos com um grau minimamente satisfatório de pesquisa empírica. Nestes casos, a teorização acaba atuando como escudo para críticas, críticas muitas vezes pertinentes. Entretanto, toda crítica tem o dever de ser construtiva, sob o risco de se descredenciar o próprio emissor das advertências. Então, ao invés de disparar contra as abordagens que se centram na perspectiva cultural, o trabalho traz o que vem sendo encontrando na massa documental até então analisada pelo pesquisador. As linhas reservadas passam a sugerir, através de fontes documentais, caminhos para pesquisas envolvendo processos de apropriações e reconstruções culturais, reformulações identitárias, etnogêneses e sincretismos realizados por vários índios na Bahia do século XIX. Por outro lado, uma vez que esta pesquisa ainda está em andamento, muitas destas evidências carecem de estudos mais aprofundados, enunciação que atua como uma proposta para trabalhos posteriores de outros pesquisadores interessados. É inegável que as várias sociedades indígenas realizaram, ao longo de suas histórias, processos de apropriações/reelaborações culturais, de reformulações e reorganizações identitárias e de etnogêneses; mas o que está em pauta aqui é o que é possível ser identificado pelos pesquisadores a partir dos registros observados. Não é despropositadamente que a este conjunto de reflexões se imputa o título Reconstrução cultural e reformulações identitárias - as etnogêneses dos possíveis.

Angelo Santos do Carmo Pataxó

Graduando em Licenciatura Intercultural em Educação Escolar Indígena – LICEEI na Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista/Supervisor no PIBIID Diversidade no Instituto Federal Baiano angelo.pataxo@ig.com.br

Tamires Santos Pereira

Graduanda em Licenciatura em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) tamiresspereira@gmail.com

História Indígena no currículo do ensino básico: o protagonismo dos povos indígenas na aplicabilidade da Lei 11.645/08 no município de Porto Seguro – BA

O presente artigo tem por objetivo descrever uma experiência de protagonismo indígena na discussão e aplicação da Lei 11.645/08 nas escolas de Porto Seguro, sul da Bahia, e é o resultado de um trabalho colaborativo realizado através de uma parceria entre a Secretaria de Educação do município, professores e representantes de comunidades indígenas locais e professores da rede municipal, cujos objetivos eram os de refletir a aplicabilidade da Lei 11.645/08 nas escolas, bem como orientar os educadores não indígenas a trabalharem com o tema. A temática indígena já vem contemplada na LDBEN 9394/96, mas foi preciso uma nova lei (11.645/08) para efetivar o que foi uma conquista das muitas lutas indígenas e indigenistas, dentre outros movimentos na educação. Sendo assim, necessário se faz a participação 226


efetiva dos grupos indígenas no processo de elaboração de diretrizes, ações e matérias didáticos pedagógicos que abordem o tema, no sentido de contribuir com a aplicabilidade da lei, assumindo um papel de protagonista em todo o processo. Os resultados alcançados a partir da participação na elaboração de diretrizes para tratar a temática no município foi bastante significativo, uma vez que alcançamos a paridade nos conteúdos programáticos, contribuímos e participamos de toda discussão da proposta curricular sobre a temática indígena no Ensino Fundamental II em Porto Seguro. A culminância desse trabalho colaborativo se deu na Escola Indígena Pataxó Aldeia Velha com a participação de lideranças, educadores e pesquisadores, onde foi possível realizar uma vivência compartilhada sobre a realidade indígena na localidade, além da disponibilização para os professores do município de livros e materiais sobre a temática que foram produzidos pelos próprios indígenas. Palavras - chave: Protagonismo Indígena; Lei 11.645/08; História Indígena no Ensino Básico.

Antonio Marcos de Almeida Ribeiro Graduando da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) macribial@yahoo.com.br

A Conquista do Paraguaçu: entre o colono que avançava e o indígena que resistia (1671-1674)

O presente trabalho trata-se da versão narrativa da Conquista do Paraguaçu. Compreendendo como o indígena Maracás, durante o processo histórico colonial, se inseriu nos conflitos, denominados “Guerra dos Bárbaros”, nos sertões da Capitania da Bahia no século XVII. Percebendo, dessa forma, as intrincadas relações estabelecidas entre o colono que avançava e o indígena que resistia. Dentro do contexto das características e especificidades da história local identificando as motivações e estratégias militares utilizadas de ambos os lados do conflito. A pesquisa parte do diálogo multifacetado referenciado que basicamente justifica a situação colonial e seu projeto de expansão, suas motivações e interesses nos espaços dos indígenas Maracás. Palavras-chave: índio colonial, guerra dos bárbaros, conquista.

Dayane Feitosa Lima --professoradayane@hotmail.com

Políticas públicas para o ensino superior: a formação de professores e práxis pedagógica no contexto do curso de pedagogia – Licenciatura Intercultural Indígena PROIND – na Universidade do Estado do Amazonas

A política para a educação indígena no decorrer dos anos vem passando por diversas reformulações, no entanto percebemos que atualmente em curso destacam-se alguns 227


aspectos: Atribuir aos Estados a responsabilidade legal pela educação indígena ou delegando essa responsabilidade aos seus municípios O projeto de pesquisa que está em andamento, visa analisar o curso de Licenciatura Intercultural Pedagogia Indígena da Universidade do Estado do Amazonas no contexto da formação e práxis educativa dos professores que atuam nas comunidades indígenas da Barreira da Missão no município de Tefé Amazonas. Especificamente, no que se refere à formação de professores (as) indígenas. Objetiva, também, caracterizar as políticas públicas para a educação indígena destacando seus principais componentes a partir das propostas de cursos destinados para essa população. A partir de informações obtidas nos documentos, referentes as políticas educacionais da Secretaria de Educação do Estado do Amazonas, e Secretaria Municipal de Educação do Município de TeféAmazonas, procurará estabelecer relações entre as propostas de Licenciaturas Específicas elaboradas/implantadas pelas IES públicas da região em questão e as expectativas indígenas. Compreender a universalização do ensino na educação básica, em face da adversidade cultural e conhecimento dos alunos na comunidade indígena, a retificação das formas didaticamente estabelecidas no currículo escolar, constitui um poderoso fator de obscurecimento, quando procura- se compreender as raízes do efeito repetitivo e consequentemente descontextualizado da educação.

Denise Batista Lira

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) deniselira2003@yahoo.com.br

A temática indígena e a História Contemporânea na sala de aula

A História Contemporânea é uma vertente historiográfica que surgiu após a Segunda Guerra Mundial, quando os depoimentos dos sobreviventes do conflito foram coletados. Isso resultou em uma construção histórica onde os próprios historiadores estavam inseridos. Entretanto, esse espaço para a História Contemporânea só foi realizado devido aos diálogos iniciados pela Revista Annales no século XX que propôs um colóquio com outras ciências como, a Antropologia, a Geografia, a Sociologia. A temática indígena pode dispor da História Contemporânea para se contrapor ao discurso do desaparecimento dos índios no século XIX e XX. A união da História Contemporânea e suas subdivisões e da História Indígena possibilitará a concretização da Lei 11.645/2008 respaldada sobre a “nova” historiografia, que ver os índios como sujeitos ativos durante todo o período colonial e pós-colonial brasileiro, compreendendo suas fugas, lutas e alianças como resistências a esse processo. Palavras-chave: História do Tempo Presente, História Indígena, Lei 11.645/2008.

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Eduardo Augusto Santos Silva

Graduando em História Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) eass25@hotmail.com

Pablo Renan Silva Campos

Graduando em História Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) pablo.marone@hotmail.com

Sociedades indígenas: reflexões sobre o “encontro” cultural entre índios e europeus e o caso Xokó em Sergipe

O presente trabalho analisará o “encontro” cultural entre os primeiros habitantes da América e os europeus, a fim de discutir reflexos ou consequências do relacionamento entre esses povos. A partir de reflexões sobre conceitos antropológicos como o de cultura expresso por certos autores como Roque de Barros Laraia, Alcida Ramos e Aracy Lopes da Silva entre outros, discutiremos como as particularidades desses dois “mundos culturais” influenciaram esse “encontro” através de películas como “Como era gostoso o meu francês” de Nelson Pereira dos Santos, “1492: A Conquista do Paraíso” de Ridley Scoot e “Hans Staden” de Luiz Alberto Pereira. Somando a essas considerações analisaremos a ideia de etnocentrismo cultural e de como a própria se manifestou nos diálogos entre os índios e os europeus. Também buscaremos associar as discussões desenvolvidas sobre as sociedades indígenas, na atualidade, através da análise de documentários, como “Pluralidade Cultural: uma experiência indígena no Brasil” de Vincent Carelli produzido pela TV Escola, com o único grupo indígena oficialmente reconhecido em Sergipe, os Xokó, tendo como base os recentes projetos desenvolvidos pelo GPCIR (Grupo de Pesquisas Culturas, Identidades e Religiosidades) pela Universidade Federal de Sergipe. Abordaremos como as atuais sociedades indígenas, no geral, lindam com os problemas herdados a partir desse “encontro” que, grosso modo, uniformizou a grande diversidade cultural dos primeiros habitantes da América. Ainda ressaltaremos como o povo Xokó tem resistido à negação de suas tradições e enfatizaremos a importância da compreensão, ao invés de propor julgamentos de valor sobre as sociedades indígenas. No entanto, é de fundamental importância salientar que nesta abordagem se partirá de uma perspectiva na qual vise compreender as vicissitudes do choque cultural entre esses povos que fuja de qualquer perspectiva anacrônica. Palavras-chave: sociedades indígenas, encontro cultural, Xokó.

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Fabricio Santos

Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutor em História Social fabriciolyrio@yahoo.com.br

Os índios da Bahia no período pombalino: notas sobre a criação de vilas nas antigas aldeias administradas pelos jesuítas

A criação de vilas nas antigas aldeias indígenas constitui um dos aspectos mais significativos da política colonial adotada em relação aos índios no período pombalino. Na Bahia, a aplicação das leis que tratavam da liberdade indígena e da transformação das aldeias em vilas e povoações estaria a cargo de três conselheiros ultramarinos enviados do reino, em conjunto com as autoridades locais, tendo resultado na transformação de treze aldeias administradas pelos jesuítas em vilas. Os índios dessas novas vilas buscaram assumir um papel ativo diante das mudanças, posicionando-se como súditos cristãos do rei de Portugal, condição que lhes foi atribuída. Com base nessas questões, buscamos indicar a importância dessas vilas para a história colonial e indígena do século XVIII. Palavras-chave: índios, vilas, jesuítas.

Francisco Eduardo Torres Cancela

Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutor em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) franciscocancela@yahoo.com.br

A experiência indígena nas escolas das vilas coloniais de Porto Seguro: políticas indigenistas e políticas indígenas na execução da “reforma dos costumes”

Este texto analisa as experiências vividas pela população indígena da antiga Capitania de Porto Seguro na execução do programa civilizacional inscrito no Diretório dos índios de 1757. Destacando o papel das escolas na estruturação do projeto de colonização reformista elaborado pelo reinado de d. José I para o território do atual extremo sul da Bahia, a abordagem aqui realizada procura demonstrar o funcionamento destas instituições no interior das novas vilas de índios criadas entre os anos de 1763 e 1808. Além disso, busca também destacar os usos empregados por colonos, autoridades e índios na defesa de seus interesses específicos, resultando na própria limitação do alcance transformador da escola na formação de uma nova geração de índios submissos e leais ao soberano português. Com um aporte teórico pautado na ideia thompsoniana de cultura e embasado em interessante escopo documental, este trabalho evidencia os embates entre políticas indigenistas e políticas indígenas na formação da sociedade porto-segurense no final do período colonial. Ao fim, o presente artigo traz à tona uma experiência bastante peculiar vivenciada na antiga Capitania de Porto Seguro, na qual a escola não se transformou em instrumento efetivo de desestruturação 230


dos laços de solidariedade, sociabilidade e identidade das populações indígenas. Palavras-chave: políticas indigenistas, políticas indígenas, Capitania de Porto Seguro.

Jamille Oliveira Santos Bastos Cardoso

Graduada em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) jamilleoliveira19@gmail.com

Um contraponto indígena no cenário colonial: a Santidade de Jaguaripe e o processo de circularidade cultural no Recôncavo da Bahia (1585-1593)

Ao analisar a documentação do Santo Ofício (processos, denunciações e confissões) em relação à Santidade de Jaguaripe, movimento indígena e sincrético que perdurou no Recôncavo Colonial (1585-1595), podemos observar que esta se difundiu não apenas entre os povos tupinambá, mas também entre os negros, brancos e mamelucos, muitos dos quais já haviam passado pelo processo de catequização católico. Em alguns casos pessoas confessam na própria mesa do visitador que se sentiram abalados e chegaram a crer que essa Santidade era verdadeira, vindo da parte de Deus. Outros tantos participaram dos cultos e cerimônias dessa abusão considerada herética e idólatra pela Inquisição. Isso nos leva a formular uma hipótese em relação ao processo de circularidade no cenário colonial: a de que a conversão não apenas partiu do cristão para o indígena, mas também do indígena para o cristão. Assim sendo o presente artigo reconstrói a história da Santidade de Jaguaripe e traz alguns pontos para uma pesquisa que está em desenvolvimento através do levantamento e análise de fontes relacionadas a Santidade de Jaguaripe tendo como objetivo o estudo do processo de transculturação interétnico que se deu através desta religiosidade ameríndia. Palavras-chave: Santidade de Jaguaripe, circularidade cultural, Recôncavo da Bahia.

Karilene Costa Fonseca

Graduada em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) karileneimper@hotmail.com

Essa terra é Timbira: Pukobyê e Crẽhchteh

O presente trabalho discute a expansão agro-pastoril nas campinas sulmaranhese, a partir do processo de invasão dos criadores de gado no território Timbira. Pretendese salutar as três via de expansão-agro-pastoril e extrativista, responsável pelo conflito entre indígena e não indígena no século XX, visto que, os conflitos agrários foram os precursores do etno-genocídio de algumas etnias da família Timbira neste período. Pretendemos contextualizar a história dos Pukobyê e Crẽhchteh, a luta contra a invasão dos seus territórios tradicionais com o viés da etnologia. Neste artigo analisamos o processo de resistência desses sujeitos: as estratégias utilizadas por estes para organização de seus grupos. Evidenciando a história a 231


partir dos indígenas, não os refutando do papel de sujeitos sociais. Estes grupos, Pukobyê e Crẽhchteh, estão localizados no sudoeste do Maranhão, o primeiro encontra-se na cidade de Amarante-MA e o segundo em Montes Altos-MA. Palavras-chave: Pukobyê, Crẽhchteh, resistência.

Laís Sampaio

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) lais.ssampaio@gmail.com

O índio no livro didático

Percebendo a importância do livro didático na construção do conhecimento histórico no ambiente escolar, seu significante uso, pois ainda hoje ele se constitui como o instrumento mais utilizado para a construção do saber, este artigo tem como objetivo perceber como a autora de um determinado livro didático de história do 4° ano do ensino fundamental de História aborda a temática indígena, qual a imagem que é passada, a quantidade e qualidade das informações sobre os povos indígenas do Brasil, pois é importante ressaltar que na maioria dos manuais escolares os indígenas aparecem de forma estereótipada, com informações deturpadas ou simplesmente são dedicados a estes apenas uma pequena parte do livro, não levando em consideração a variedade de povos existentes, seus modos de vida, seu passado, suas histórias, além do mais é importante conhecer, refletir sobre quais conteúdos nossas crianças estão entrando em contato nos seus primeiros anos escolares, pois as crianças podem sim aprender história, partindo de conhecimentos mais brandos para os mais elaborados, conhecendo sua realidade para depois partir para uma realidade distante, diversa, sendo assim, é ai, nas series iniciais que estamos semeando as variadas sementinhas de valores, pontos de vista, conceitos que no futuro germinaram e formaram a consciência histórica destes. Palavras-chave: Conhecimento histórico, índio, livro didático.

Mabel Freitas Araujo de Souza

Graduanda pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB belhist@hotmail.com

O Personagem Indígena: relação entre cinema ficcional e historiografia brasileira (1995 – 2005)

Através deste texto propomos discutir a provável relação entre a cinematografia ficcional e a historiografia brasileira na construção e perpetuação das imagens representativas dos povos indígenas. Para tanto, utilizamos da análise do discurso, visando melhor interpretar as mensagens sobrepostas nas películas tal como para discorrer sobre as possíveis similaridades entre o discurso historiográfico e a representação fílmica. As crônicas sobre o Novo Mundo são esplanadas para 232


demonstrar a influência que as mesmas exerceram sobre a construção da historiografia brasileira. A partir de então, apresentamos algumas idéias contidas na historiografia oitocentista e da primeira metade do século XX em relação aos povos indígenas. O diálogo entre as fontes historiográfica e fílmica se desenvolve a partir do pressuposto de que a narrativa cinematográfica está ligada ao imaginário social e ultrapassa seu próprio conteúdo, podendo demonstrar aspectos do contexto de sua produção e revelar que através das imagens e/ou representações, se perpassa a ideologia de uma sociedade. Para o desenvolvimento da análise, realizamos um levantamento substancial dos filmes de ficção produzidos no Brasil que, direta ou indiretamente, apresentam imagens dos povos indígenas. O Guarani, Hans Staden e Caramuru a Invenção do Brasil foram os filmes selecionados para a discussão, considerando o período de 1995 a 2005, recorte anterior e posterior aos 500 anos de Brasil. Palavras-chave: historiografia, cinema, povos indígenas.

Marcelo Lins

marceloslins@hotmail.com

A Trajetória do Posto Indígena Paraguaçú e os conflitos pelas terras em 1936

O presente artigo trata da trajetória do Posto Indígena Paraguaçú, desde os primeiros trabalhos do Serviço Nacional de Proteção ao Índio e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN) na Região Sul da Bahia, até os episódios ocorridos no final de 1936, que a mídia e o governo intitularam “revolução Comunista do Posto Paraguaçú”. Narra as diversas estratégias utilizadas pelos fazendeiros e políticos da região para expulsar os índios e os posseiros das áreas da Reserva Paraguaçú e se apoderar de tais terras. Sempre argumentando em torno da existência de poucos índios para muitas terras. Dessa maneira, demonstramos aqui como o anticomunismo também foi uma dessas estratégias, servindo como justificativa para a invasão das terras da Reserva Indígena em 1936. Utilizamos diversas fontes de informações, especialmente inquéritos policiais e processos judiciais que tratavam das atividades dos comunistas no sul da Bahia, iam parte do acervo do Tribunal de segurança Nacional e estão depositados no Arquivo Nacional, usamos documentos do Partido Comunista do Brasil (PCB), que fazem parte do fundo Internacional Comunistas e estão depositados no acervo do Centro de Documentação e Memória CEDEM/ UNESP, e matérias divulgadas nos jornais, especialmente o Estado da Bahia, que enviou Edson Carneiro como repórter para cobrir os acontecimentos.

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Quésia Ventura Souza

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista PIBID/CAPES quesiaventura@hotmail.com

Processo de formação docente do profissional na área de História

O presente artigo objetiva fazer uma reflexão da formação do docente na área de história para isso devemos compreender o perfil desse profissional que está inserido em um contexto que prioriza a função social da educação, ser professor é muito mais que transmitir um conhecimento preestabelecido é auxiliar o desenvolvimento cognitivo do discente enquanto agente reflexivo e crítico da realidade pelo qual está inserido para isso temos que pensar qual a função da educação, o que ensinar, pra que ensinar, selecionar os conteúdos, trabalhar com a contextualização, com interdisciplinaridade tendo sempre em mente que o diploma não é o fim da nossa formação pois a formação docente é dinâmica e dialética. Para isso farei uma análise da participação enquanto bolsista do Projeto Institucional de Iniciação a Docência junto a Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença, e a contribuição das atividades realizadas para a formação docente dos bolsistas, o trabalho realizado tem por finalidade especifica contribuir para o enriquecimento das práticas pedagógicas do futuro docente da área de história para isso a inserção na educação diferenciada indígena faz-se um eficaz mecanismo de percepção dos desafios pertinentes ao cenário educacional, desta forma podemos agir por meio da reflexão - ação. Por fim faremos uma reflexão sobre a prática pedagógica pensando em mecanismo que venha aperfeiçoar o trabalho docente em sala de aula contribuindo assim para uma melhor qualidade do ensino. Palavras-chave: formação docente, história, pibid.

Rafaela dos Santos Souza

Graduanda pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB rafass1@live.com

Construção de memória: comemorações do Dia do Índio nos jornais Correio da Bahia e Tribuna da Bahia (1990-2000)

Este texto é parte da reflexão proposta pela pesquisa intitulada Dia do Índio: Imagem, discurso e memória que visa traçar as diversas abordagens advindas de diferentes jornais em relação às comemorações do Dia do Índio. Neste artigo abordamos a temática das comemorações referentes ao dia 19 de abril nos jornais baianos especificamente, Tribuna da Bahia e Correio da Bahia durante a década de 1990. Propomos uma reflexão sobre as imagens transmitidas a partir dos espaços comemorativos em questão, visando questionar essas representações na construção e manutenção de uma memória acerca dos povos indígenas, bem como o papel social das comemorações. Nesse sentido, as comemorações são compreendidas enquanto construtoras de memória social por seu caráter político. As comemorações do Dia 234


do Índio seja no espaço escolar, na imprensa e até mesmo via debate historiográfico revelam tensões e conflitos. Pensar as datas comemorativas como criadora de memória sobre esses povos possibilita refletir sobre o papel que a imprensa escrita da Bahia vem desempenhando no que diz respeito aos grupos indígenas. Analisamos também a possível influência dos discursos elaborados pela historiografia dos séculos XIX e XX na construção das imagens acercas dos povos indígenas veiculadas pelas matérias jornalísticas que contribuem na formação e perpetuação de uma memória social. Palavras-chave: Povos indígenas, imprensa, memória.

Rafael dos Santos Barros barrosrafaeldossantos@hotmail.com

Nossa Senhora dos Remédios: índios Gueren na Capitania dos Ilhéus setecentista

Para além do esquecimento, os povos indígenas são apresentados como destituídos de arbítrio, se comportando como marionetes nas mãos dos europeus. Vale destacar o quanto há de equivocado nessa análise, pois assume como verdadeiras representações que serviram de justificativa para que as populações ameríndias fossem subjugadas, ao tempo da Colonização. Dessa forma os índios não eram percebidos como agentes históricos, em toda a dimensão da expressão. A maioria das análises feitas a respeito dos índios os enquadra no “modelo clássico” da aculturação e resistência. Essa perspectiva também vale para as políticas indígenas. Por conseguinte, as ações dos índios ora eram vistas como assimilacionistas ou bestiais. No entanto a partir dos estudos da nova historiografia (Almeida 2003, Monteiro 1994, Paraíso 1982) novas abordagens ampliaram o leque de possibilidades de interpretação das ações políticas dos índios. Para exemplificar, o conceito de “resistência adaptativa” tem sido bastante recorrido para esclarecer a diversidade de ações e mediações feitas pelos povos indígenas, sendo construído pela junção de dois comportamentos aparentemente dispares: resistir e se adaptar. Resistindo e se adaptando os índios conseguiam driblar as classes dominantes e conseguir nas brechas do sistema mecanismos para uma vida melhor. Foi usando os espaços das brechas desse sistema opressor que os índios do aldeamento de Nossa Senhora dos Remédios dos índios Gueren conseguiram sobreviver até a segunda metade do século XIX com suas léguas de terras demarcadas e seus direitos disputados na justiça, fato que se pretende comentar a partir de agora.

Rejane Cristine Santana Cunha resantana110@hotmail.com

O Fogo de 51 - entre a memória oficial e as subterrâneas

O presente trabalho traça uma abordagem sobre um fato histórico conhecido como O Fogo de 51, um conflito armado entre índios e autoridades governamentais em 235


consequência da criação do Parque Nacional do Monte Pascoal, no extremo sul baiano. Esse conflito armado aconteceu em 1951, com ampla repercussão no extremo sul baiano. Mesmo ofuscado pela memória oficial, esse episódio encontra-se vivo nos arquivos mnemônicos da comunidade indígena Pataxó de Barra Velha, Porto Seguro/BA. Numa perspectiva de estudar a memória coletiva dessa comunidade indígena buscamos como embasamento teórico a pesquisa de Maurice Halbwacs para compreender o cotidiano dessa comunidade em estudo; bem como o relato de memórias que permeiam o coletivo dessa comunidade, que é recontado e reinterpretado pelos seus integrantes. Além das fontes orais nos apoiamos em jornais da época que referendam esse episódio e revela a ligação de índios com integrantes do PCB. “O Fogo de 51” marcou a trajetória de vidas de índios Pataxó provocando a dispersão do grupo e a criação de novas aldeias nas proximidades de Barra Velha. Nessas memórias subterrâneas evidenciamos a voz do índio e sua representação, provocando um abalo às estruturas e/ou desconstruindo a versão oficializada pela sociedade envolvente. Palavras-chave: comunidade Pataxó, conflitos interétincos, representação.

Renata Ferreira de Oliveira

Mestranda em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES renataconquista@yahoo.com.br

Nas Trilhas da Memória: identidade e História Indígena no Planalto da Conquista Século XX

A presente comunicação tem por objetivo confrontar as narrativas sobre a colonização do Planalto da Conquista, a partir dos escritos de cronistas e relatos de jornais do século XX, aos quais se podem contrapor às memórias produzidas pelos indígenas da Batalha, materializada nas suas próprias formas de contar outra versão dessa história. Por muito tempo, os escritos sobre a história de Vitória da Conquista atribuíram existência histórica apenas aos colonizadores, estabelecendo a noção de extermínio dos povos indígenas. O grande destaque dessa produção é o Capitão-mor da Ressaca, João Gonçalves da Costa, o fundador de Conquista, eternizado por sua bravura em conquistar e dominar os povos indígenas. Contrapondo-se às narrativas observadas nos relatos dos jornais que circularam em Vitória da Conquista até fins do século XX, a exemplo do jornal O Combate, cujas extensas narrativas sobre a conquista da região são verdadeiros elogios à colonização, constitui-se a memória dos indígenas da Batalha que reinterpreta e reconstrói o seu passado histórico . A região da Batalha foi um dos primeiros lugares a ser alcançado pelo sertanista João da Silva Guimarães quando adentrou o território do posterior Arraial da Conquista, conflitando com os nativos da região. O mesmo ambiente foi palco do último e grande conflito entre os Mongoiós e a tropa de João Gonçalves da Costa. A Batalha, como é ainda conhecida atualmente, se localiza a oito quilômetros da Cidade de Vitória da Conquista, no distrito rural de José Gonçalves. A principal referência da memória do 236


lugar ainda é do último conflito entre índios e sertanistas. Seus habitantes resistem há décadas nessas terras e compõem um grupo social que se identifica com os indígenas do período da guerra da conquista. A reconstrução do passado histórico da Batalha remete a memória do grupo para as origens de Vitória da Conquista e nessa possível reconstituição aparecem os principais personagens que marcaram esse processo, o ambiente, os mitos e as mudanças. Dessa forma, esses elementos passam a existir diretamente conexos com a história de vida dos descendentes indígenas. Palavras-chave: batalha, identidade, índio.

Roquelina Lopes

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) roquelinalopes@hotmail.com

Rituais fúnebres indígenas no Brasil Império (1822-1862): uma leitura iconográfica dos viajantes

A nacionalidade/identidade da população brasileira tema bastante discutido pela historiografia, deu-se de modo que destinou um maior apresso a determinados grupos sociais, o branco. Menosprezando a contribuição do negro e do índio. Caso muito agitado por cientistas estrangeiros e eruditos brasileiros no período imperial. Von Martius, por exemplo, defendeu a opinião de que os índios eram seres civilizados idéia não compartilhada por José Bonifácio. A partir dessa discussão identidade, pretende-se nesse trabalho, analisar os Rituais Fúnebres Indígenas no Brasil Império (1822-1862): Uma Leitura Iconográfica dos Viajantes. A partir desta, buscaremos investigar a relevância destes rituais para essa população, ao mesmo tempo em que se procura mostrar o jeito como viajantes estrangeiros se apropriaram dessas práticas e as representaram segundo suas perspectivas históricas culturais de um determinado período. Enquanto suporte teórico e metodológico busca-se discorrer do campo temático da História Cultural para discutir e explicar os diferentes aspectos de expressões culturais, tendo em vista que esta é algo inerente a cada grupo social, mas, que também pode ser influenciado de acordo o tempo e o espaço. Sendo assim aplicam-se os conceitos de apropriação, práticas e representações empregados pelo historiador francês Roger Chartier para assinalar as diferentes maneiras sociais de apresentar/representar um fato cultural. Sendo assim, com esse estudo almeja-se apresentar relevância deste ao meio acadêmico e igualmente à sociedade externa. Palavras-chave: história, cultura, indígena.

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Solon Natalicio Araújo dos Santos

Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) s_natalicio@yahoo.com.br

Aldeamentos e Políticas Indígenas no Sertão das Jacobinas (Séc. XVII-XVIII)

Este estudo pretende abordar as atuações políticas e as relações conflituosas entre os índios aldeados nas missões franciscanas e os agentes coloniais no Sertão das Jacobinas. Os grupos indígenas aldeados misturados entre si, mas também com colonos e missionários, aprenderam novas práticas culturais e políticas que lhes possibilitaram negociar pelos seus próprios interesses. As questões da exploração do seu trabalho nas minas de ouro, de salitre e condução das boiadas e a consequente diminuição demográfica nos aldeamentos ocasionaram diversos confrontos entre índios, missionários, colonos e autoridades. Apresentando as formas de resistência e interação cultural dos povos, famílias e indivíduos indígenas, esta pesquisa coloca os índios como os protagonistas do processo histórico de reocupação e povoamento dos sertões da Bahia, de forma a valorizar o seu papel enquanto agentes históricos junto aos seus atuais descendentes e à comunidade local e regional. Palavras-chave: cultura política, Identidades, aldeamentos.

Tamires Cedraz Barreto

Graduanda da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) tamirescedraz@gmail.com

Revisitando um Clássico: analisando o indígena retratado por Gilberto Freyre em Casa-Grande & Senzala

O objetivo desta pesquisa trata-se, a principio, da elaboração de um mapeamento da idéias do sociólogo Gilberto Freyre contidas na obra Casa-Grande & Senzala no que se refere à caracterização dos povos indígenas – atentando para questões como a mulher indígena e a contribuição destes povos para formação do “povo brasileiro” – e a identificação das teorias utilizadas pelo autor para fundamentar suas teses. Para tanto, busquei verificar as condições de produção externa e interna da obra, bem como a vida intelectual do autor. As informações contidas em artigos e obras de comentadores foram aproveitadas nesta pesquisa, haja vista que é importante verificar como Gilberto Freyre e suas respectivas obras foram representados e apropriados por intelectuais brasileiros. Casa-Grande & Senzala foi escrita e lançada num dos períodos decisivos da história do Brasil, período em que o país necessitava de uma identidade nacional para legitimar o processo de construção da república brasileira. Freyre classifica sua obra como um “ensaio de sociologia genética” e de “história social”, e tem como objetivo “fixar” e interpretar alguns dos aspectos considerados por ele mais importantes da formação brasileira. Seu objetivo, portanto, é o de construir ou “identificar” uma possível identidade 238


brasileira através da sociologia e da história, utilizando fontes inusitadas para sua época (1930). Casa-Grande & Senzala foi escolhida pelo motivo de esta ser a mais divulgada e criticada do autor, além de proporcionar a viabilidade no que diz respeito ao objeto desta pesquisa. Diante dos resultados parciais, pôde-se averiguar que as teorias racistas, deterministas, evolucionistas, e outras tantas, estão sim presentes na interpretação de Gilberto Freyre. Elas não foram totalmente rejeitadas por ele, como afirmam alguns críticos, e nem foram completamente ou solitariamente adotadas, como acredita outra parcela. Freyre defende a tese de que foi sobre a mulher indígena que se fundou e se desenvolveu o grosso da sociedade colonial brasileira, ao contrário do homem indígena que para ele de quase nada serviu para formação desta sociedade. Tomando por base a premissa de que a historiografia se configura como uma interpretação das experiências históricas impregnada de ideologia e que revela o pensamento de uma geração de historiadores e, consequentemente, da época na qual foi gerada, pretende-se neste estudo, portanto, analisar a obra Casa-Grande & Senzala sem deixar de lado as especificidades da época na qual foi produzida (1920-1933) e de seu autor, o sociólogo pernambucano Gilberto Freyre. Palavras-chave: Gilberto Freyre, historiografia indígena, Identidade Nacional.

Teresinha Marcis tmarcis@gmail.com

Vila de Olivença: reelaboração do espaço indígena no Império brasileiro - 1828-1879

A vila de Olivença foi estabelecida no bojo das reformas legislativas e civilizacionais decretadas pelo rei português d. José I em 1758, visando a liberdade dos índios e sua integração como súditos. A execução das reformas abrangeu a supressão da administração dos jesuítas nos aldeamentos, os transformando em vilas com governo civil e as igrejas em freguesias. Completando as reformas, foi decretado o Diretório dos Índios, um conjunto legislativo que regulamentou a administração social, política e econômica das vilas e povoações de índios estabelecidas. Olivença, vila de índios situada na Comarca de Ilhéus na Bahia, teve longa duração e ultrapassou o Império brasileiro mantendo a característica étnica. Frente a esse histórico, a comunicação discute as experiências políticas e sociais vivenciados pelos moradores inseridos na estrutura política e administrativa do regime imperial. Indica a presença indígena nos espaços de disputa e exercício do poder defendendo seus direitos e autonomia em contexto do aumento da população não indígena como moradores da vila e no entorno, o aumento do comércio e das atividades de cultivo e extrativistas. Destacase o Código de Posturas municipal que regulamentava a vida urbana nos moldes ocidentais, mas que em Olivença, assim como ocorreu com o Diretório dos Índios pode servir como um elemento articulador da identificação étnica.

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Simpósio Temático 24 HISTÓRIA, BIOGRAFIA E MEMÓRIA: INTERSEÇÕES ENTRE CAMPO E CIDADE Coordenadores: MARIA DAS GRAÇAS DE ANDRADE LEAL RAIMUNDO NONATO PEREIRA MOREIRA

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ste Simpósio organiza-se a partir dos eixos temáticos História, Biografia e Memória, privilegiando, como elemento articulador, as interseções entre campo e cidade. Portanto, aceita trabalhos que problematizem os nexos entre a escrita da História, o gênero biográfico e o campo da Memória. Neste sentido, contempla pesquisas acerca da relação campo-cidade, considerando as experiências, as trajetórias, o cotidiano, as identidades e as estratégias de sobrevivências das populações urbanas e rurais nas suas dinâmicas sociais, políticas, econômicas e culturais. Em seu interior, acolhe propostas de estudos que dialoguem com a historiografia regional e local, discutam criticamente os fenômenos da memória social e esbocem leituras interdisciplinares sobre o campo e a cidade. Da mesma forma, abre-se para investigações que abordem os vínculos entre instituições, intelectuais, (auto) biografias, trajetórias, lutas políticas e produção historiográfica e memorialística. Em síntese, objetivamos discutir os vínculos que aproximam, dialeticamente, a História, as (auto) biografias e os fenômenos da memória social (ancorados no binômio campo-cidade), operando de maneira interdisciplinar no tratamento destas questões e problematizando os nexos entre instituições, trajetórias, intelectuais, lutas políticas e produção historiográfica e memorialística. A partir das razões enunciadas, o Simpósio Temático História, Biografia e Memória: interseções entre campo e cidade justifica-se pela necessidade de construir, no VI Encontro Estadual de História da ANPUH-BA, um espaço de diálogo entre os pesquisadores relacionados às temáticas em questão. Alcides de Jesus Lima

alcidjlima@gmail.com Itaberaba: por uma nova iluminação pública Este artigo tem a finalidade de analisar as mudanças e os conflitos na esfera dos serviços de iluminação, ocorridos na cidade de Itaberaba, estado da Bahia entre 1960 e 1971. Destacam-se as dificuldades da Companhia de Eletrificação Rural do Nordeste (Cerne) em atender as demandas da população provocadas pelo crescimento da 240


cidade, bem como a substituição desta empresa pela Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) na exploração dos serviços de eletricidade. A energia elétrica foi um elemento crucial no processo de modernização brasileira no século XX, no entanto a formação do setor elétrico nacional ocorreu lentamente, uma vez que a presença do capital internacional provocou um longo embate entre os defensores do estado liberal e àqueles que defendiam o estado intervencionista. A expansão do setor energético só se concretizou com o desenvolvimento da legislação (Código das águas) sobre a exploração dos recursos hídricos e a criação de Companhias hidrelétricas como a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) fundamental para a formação do setor elétrico nordestino. Dentro da perspectiva dos conflitos no setor elétrico nacional, a iluminação pública em 1960 na cidade de Itaberaba apresentou também uma situação conflituosa, porém, estes se deram em torno das dificuldades enfrentadas pelo Poder Público municipal em substituir a Cerne pela Coelba. Palavras-chave: Iluminação pública, cidade, conflitos.

Ana Paula da Silva Rocha Mendes

Aluna do Programa de Pós-Graduação “Lato Senso” em Nível de Especialização em Educação, História e Sociedade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) mrspaulinha@yahoo.com.br

Nos tempos do carbonato do Ventura: a micro-história de um arraial minerador no Sertão da Bahia de 1870 a 1930

O presente artigo traz uma abordagem micro-histórica do processo de ascensão e decadência socioeconômica da Vila Ventura, localizada no município de Morro de Chapéu, situado na região centro norte da Bahia. O recorte temporal definido compreende os anos entre 1870 a 1930, época da história da Vila Ventura que se refere ao início da exploração do carbonato e de sua queda respectivamente, quando este foi substituído por um material sintético com um custo bem inferior em relação aos carbonatos extraídos da Vila. Até então se utilizava o diamante cristalino como ponta de broca nas perfuratrizes de minas e rochas, entretanto o custo saia muito elevado, e com o aumento na demanda por matériaprima na indústria metalúrgica durante o período, demandaria um aumento de diamantes, encarecendo o processo de industrialização. Neste trabalho foi utilizado enquanto método historiográfico, a redução da escala de observação. Palavras-chave: micro-história, Ventura, carbonato.

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Ana Paula Rebouças Lessa

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES paula_lessa02@hotmail.com

Memórias da trajetória do “Escritor de Maragojipe”: Osvaldo Sá em “ Vala dos meus dias”

A presente comunicação vem à luz no intuito de trazer a público através de sua trilogia de memórias, intituladas Vala dos Meus Dias (1985-1989) a trajetória do intelectual que foi pioneiro e responsável por resguardar grande parte da documentação que se conhece acerca da História de Maragojipe – Ba, o autodidata e memorialista maragojipano Osvaldo Sá. Ao longo de seus 93 anos de vida (faleceu em 2002) publicou mais de 20 obras, cuja inspiração era sua cidade natal. O autor fazia parte de uma “elite intelectual” do município. Entretanto, não vivia só das Letras. Ocupou vários cargos nas prefeituras de Maragojipe e da cidade vizinha, Muritiba. Chegou a ser delegado na segunda, e defender várias causas jurídicas na primeira, foi um rábula. Anteriormente à sua iniciativa de resguardar os documentos históricos em suas publicações, a História local era conhecida através dos jornais que circulavam na cidade, em quadros que fixavam as datas consideradas chaves para entender o passado da localidade, dos grandes vultos e mais ainda das famílias tradicionais que até os dias atuais cedem seus sobrenomes às ruas da cidade. Desta maneira é válido ressaltar que, conhecer o autor de Vala dos Meus Dias é visualizar a intelectualidade baiana através de outro ângulo, o ângulo dos memorialistas locais que ajudaram a descortinar a história do Recôncavo. Palavras-chave: Memorialismo, Osvaldo Sá, Maragojipe.

Charles D’Almeida Santana --sant_ana_iv@yahoo.com.br

Múltiplas memórias do campo/cidade: feiras e caminhos de ferro do Recôncavo Sul da Bahia

Este artigo trata de dimensões do lugar das feiras e das estradas de ferro do Recôncavo Sul, como uma tentativa de compreender maneiras de articulações possíveis de vivências do campo e da cidade. As feiras significavam um importante momento no universo das roças e das ruas e como espaço de trabalhadores do mundo rural e do mundo urbano: feirantes de diversas origens, produtores, ajudantes, ambulantes e meninos carregadores, saveiristas e tropeiros que ofereciam serviços de transporte de mercadorias. Como definitivo espaço de sociabilidades, era nas feiras da região onde ocorriam encontros de parentes e amigos, de fofoca e de matar o tempo, e referência efetiva de marcar o tempo. Os contatos individualizados entre vendedor-produtor e comprador ultrapassam o domínio estritamente comercial, particularmente no instante da pechincha, quando praticavam a arte de argumentar, sincronizada com o saber popular local. E as estações de trem coladas às feiras, atribuíam o colorido do 242


viver urbano, particularmente as da Estrada de Ferro Nazaré e da Central da Bahia, antiga Tram Road Paraguaçu. As cidades fervilhavam à chegada dos trens. A belíssima arquitetura dos prédios das estações de Cachoeira, São Félix, Nazaré e Amargosa, sobretudo, contemplava a correria de carregadores, vendedores de guloseimas entre viajantes que embarcavam e outros que desembarcavam, muitos a procura de pousada em hotéis ou hospedarias, com suas pesadas bagagens. Os tropeiros e seus animais, vindos carregados dos sertões, e comerciantes, a cuidarem para não haver extravio ou roubo de suas mercadorias, compunham a cena urbana.

Cristiane Lima Santos Rocha

Mestre em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). cricalima04@hotmail.com

EME PORTUGAL, O NEGOCIADOR DE HONRAS: CIDADE, SUJEITOS FEMININOS E CONCEPÇÕES DE MODERNIDADE NA COLUNA SOCIEDADE – FEIRA DE SANTANA 1950-1960

Palavras-chave: história, biografia, sociabilidades.

Eliete Marques dos Santos

Mestranda em História Regional e Local pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) elietemutuipe@hotmail.com

Laços cativos: a família escrava em santo Antônio de Jesus 1871-1888

Este trabalho busca identificar as relações familiares que se estabeleceram entre escravos e libertos em Santo Antônio de Jesus, no período de 1871-1888. Dando uma maior ênfase para as relações familiares entre cativos. O objetivo da pesquisa é perceber as mudanças e permanências que se processaram no período, procurando problematizar as dificuldades enfrentadas pelos cativos, para criarem relações de solidariedade entre se e quais estratégias empreendidas por esses escravizados para manterem sólidas essas relações. Isso, através de evidências encontradas nos documentos e também com base em autores que abordam a temática da família escrava. As possíveis questões que levantamos acerca do tema supõem que a vida familiar entre os escravos dava-lhes mais forças e esperanças para lutarem, pela sua própria liberdade e a dos seus, isso por não suportarem ver seus familiares ou parentes continuarem na escravidão. Supomos ainda que a criação de laços afetivos desse aos cativos uma maior sustentabilidade emocional e material para enfrentarem a dura condição de exploração. Stuart Schwartz, afirma que os escravos procuravam criar formas sociais e culturais que lhe proporcionasse apoio e consolo, na vida tão miserável que viviam. E quando livre, essas redes de sociabilidades continuavam fazendo parte da vida dos libertos e também era uma forma de organização social entre eles. Este estudo vem contribuir de forma significativa para os estudos de trajetórias de afro descendentes, como 243


também para os estudos e pesquisas regionais, devido à busca pelas particularidades que acabam sendo ocultadas sobre a escravidão em Santo Antônio de Jesus, que no século XIX, também foi uma das regiões do Recôncavo de grande importância econômica e com um bom número de escravos, informações que são desconhecidas pelos próprios habitantes da mesma. Além de desmistificar pensamentos preconceituosos sobre a família escrava. Inventários, processos crimes, registros de terras, livros de registro de casamento e livros de notas de compra e venda, formam o conjunto das fontes principais deste trabalho, que estão localizadas no Arquivo de Santo Antônio e no APEB, a partir do qual será feito um levantamento de dados que interessam para a realização deste estudo. Buscando perceber não só as dificuldades enfrentadas pelos cativos para construir e manter suas relações de sociabilidades, mas também suas estratégias como uma iniciativa de resistência ao sistema escravista. Palavras-chave: escravidão, organização familiar, sociabilidades.

Emily Rodrigues dos Santos

Mestranda pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES emily.1000@hotmail.com

Os sertanejos e sua labuta diária: alternativas de sobrevivência frente à seca

As secas são fenômenos freqüentes em regiões de clima semi-árido do Nordeste, causando grandes prejuízos para a população, especialmente a mais carente. Na Bahia, estado nordestino com grande parte de seu território situado no semi-árido , esse fenômeno é particularmente relevante. A seca de 1932 foi uma das mais severas que se tem notícia na região e marcou profundamente a memória da população que sofreu suas consequências, assim como, as gerações posteriores. O presente trabalho tem por objetivo compreender, essas e outras questões através do cruzamento entre a História Oral e a imprensa local, onde utilizamos os jornais O Lidador e o Correio do Sertão a fim de perceber de que maneira a seca desestruturou a vida dos sertanejos, impondo o colapso do sistema produtivo rural, obrigando, principalmente, a população mais carente a recorrer a diversas estratégias para sobreviver aos efeitos da estiagem, dentre elas a adequação da dieta alimentar, sendo necessária a utilização de sementes e raízes silvestres que eram utilizados apenas quando todos os outros recursos se extinguiram, muitas apresentando inclusive características nocivas à saúde. Portanto, a seca, entendida como um fenômeno social e político e não meramente climático, nos permite compreender alguns aspectos da vida da população mais carente, nos momentos de escassez, compreendendo as estratégias de sobrevivência empregadas por essa população, demonstrando dessa forma, que a seca não atingiu com a mesma intensidade a todas as camadas da população, sendo que, a pirâmide social de Jacobina que era composta por pessoas ligadas a atividades agrícolas bastante vulneráveis aos efeitos do clima, foi a camada que sofreu os 244


impactos mais severos provocados pela estiagem. Assim, o fenômeno natural ganha proporções de catástrofe devido à fragilidade das condições de vida da população.

Gessika Ramos Silva

Graduanda em História pelo Centro Universitário Jorge Amado (UNIJORGE) gessika_ramos@hotmail.com

Homens encourados e encantados pelo seu trabalho: memória e cotidiano dos vaqueiros de Salgadália (1950-1990)

A presente comunicação pretende expor alguns dos primeiros resultados das leituras bibliográficas e das fontes que já foram utilizadas durante a construção de um projeto de pesquisa, cujo objetivo é analisar o cotidiano dos vaqueiros de Salgadália (1950-1990), distrito do interior do estado da Bahia, a 240 Km de Salvador. Apesar da quantidade de vaqueiros ter diminuído neste distrito a cultura vaqueira é marca definidora na cultura popular salgadense. Os relatos orais produzidos pela memória são as fontes centrais para compreendermos o cotidiano e as práticas culturais realizadas pelos vaqueiros, entre elas, a participação dos mesmos na Festa do Padroeiro do distrito. Além disso, a música, a literatura de cordel, as toadas, os materiais audiovisuais servirão para identificarmos as representações que foram criadas sobre este grupo social ao longo do período estudado.

Palavras-chave: Salgadália, vaqueiros, memória. Iracélli Alves

Graduanda da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista FAPESB iracelli_alves@hotmail.com

O PCB convida as mulheres à luta pela democracia! Representações femininas em O Momento (1945-1947)

A presente comunicação é um dos resultados parciais do subprojeto intitulado Mulheres Comunistas na luta pela democracia! Representações femininas em O Momento (19451947), que se integra ao projeto de pesquisa No rastro de Miranda: uma investigação histórica acerca da trajetória de Antônio Maciel Bonfim (1905-c. 1947), coordenado pelo Prof. Dr. Raimundo Nonato Pereira Moreira (UNEB), no qual participo como bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). Nesse sentido, a presente comunicação objetiva discutir algumas das representações comunistas elaboradas nas páginas do jornal baiano O Momento, visando problematizar as formas a partir das quais os comunistas vislumbravam os papéis sociais e a participação feminina na política pública. Assim, questiono: por que os comunistas se preocuparam em demandar a participação feminina no Partido? Portanto, a pesquisa tenciona analisar algumas das representações sobre as mulheres elaboradas pelos articulistas de O Momento, com a intenção de compreender a 245


atuação das mesmas no PCB durante a década de 1940. Em suma, o trabalho aqui apresentado se relaciona com as investigações recentes sobre a História das Mulheres, a Nova História Política e a História Cultural, além dos estudos sobre o imaginário. Palavras-chave: História das mulheres, comunismo, representações.

Leticia Santos Silva

Graduanda da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista PIBIC- CNPq letybahia@hotmail.com

“Como, não raro, se escreve a História”: o Levante de 1935 sob o olhar de a tarde e do diário de notícia

O presente trabalho objetiva discutir como o Levante de 1935 foi representado por dois jornais baianos: A Tarde e o Diário de Notícias. Desta forma, enquanto o Diário de Notícias caracterizou, através de uma nota elaborada por Altamirando Requião, proprietário e diretor do jornal, o motim como um movimento extremista e subversivo, já utilizando a noção de “Intentona”, A Tarde abordou o evento e os seus desdobramentos como uma manifestação de oposição ao governo de Getúlio Vargas, acusado de ser incapaz de equilibrar as forças de oposição no país. Em linhas gerais, a comunicação se propõe a discutir as diferentes interpretações dos jornais baianos sobre o Levante de 1935, confrontando-as com as pesquisas já realizadas acerca do tema. Ao longo do texto, problematizam-se, dentre outras questões, o conceito de anticomunismo e a memória oficial acerca da “Intentona Comunista”. Palavras-chave: comunismo, história, Levante de 1935.

Lucas Adriel Silva de Almeida

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) lucasadriel@gmail.com

“Passando pelos fertilíssimos terrenos”: Campo, Cidade e Ferrovias na Região de Mundo Novo – Ba na década de 1930

Buscamos analisar a relação entre ferrovias, campo e cidade no município de Mundo Novo - BA, na década de 1930. Neste momento a linha férrea avançou sobre este município e com ela todo o aparato ferroviário tangível e intangível, promovendo ou intensificando um processo de urbanização nas localidades de Piritiba e Barra em Mundo Novo. O foco é problematizar o referido processo de urbanização analisando a relação que se estabeleceu entre estes pequenos centros populacionais e o ambiente rural do entorno. Com base em relatórios de engenharia civil, notícias jornalísticas e leis municipais, tentamos entender como estes relatos pensavam a questão ferroviária na Bahia focalizando as interseções entre o urbano e o rural. Nos apoiaremos na História Regional e Local para estudar a Região de Mundo Novo no referido contexto. Palavras-chave: campo, cidade, ferrovias. 246


Magno de Oliveira Cruz

Graduado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) magno-cruz@hotmail.com

Imagens urbanas: paisagem, memória, cultura e lazer na cidade de Feira de Santana (1909-1930)

As cidades são antes de tudo uma experiência visual. Traçado de ruas, vias de circulação ladeadas de construções, os vazios das praças cercadas por igrejas e edifícios públicos, o movimento de pessoas e a agitação das atividades concentradas num mesmo espaço e mais, um lugar saturado de significações acumuladas através do tempo, uma produção social sempre referida a alguma de suas formas de inserção topográfica ou particularidades arquitetônicas. Atrelada a essa caracterização de Maria Stella Brescianni, o presente trabalho se esforça em analisar a cidade de Feira de Santana, Bahia, através do jornal Folha do Norte entre 1909 e 1930, na sua materialidade: traçado de ruas, abertura de novos bairros, zoneamento, adoção de técnicas construtivas atualizadas, estilos adequados para expressar visualmente à “chegada” do progresso. Percebe-se através dos jornais a persistente preocupação dos órgãos públicos e das autoridades locais em realizar o deslocamento da representação da Feira de Santana enquanto uma cidade de bases rurais, para defini-la como uma urbe dotada de um poderoso comércio e de uma estrutura citadina. Assim, como compreender os motivos que levaram à definição do comércio enquanto elemento identificador da Feira de Santana no Estado da Bahia? Nesse sentido, cabe inquirir as relações entre os ideais modernizantes presentes no ideário republicano e sua aliança como novas formas de percepção da cidade. Palavras-chave: Feira de Santana, modernidade, Jornal Folha do Norte.

Mauro Henrique Miranda de Alcântara

Professor do Instituto Federal de Rondônia, Campus Colorado do Oeste. Mestrando em História pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) alcantara.mauro@gmail.com

A biografia como fonte histórica: analisando o abolicionismo em D. Pedro II

A biografia, como gênero histórico, apesar de sempre questionada, resistiu e nunca deixou de ser produzida. De gênero “menor” da historiografia, a partir dos anos sessenta do século passado, um grande interesse pelo gênero foi retomado. As discussões ressurgiram no mundo acadêmico, inclusive sobre a melhor utilização das biografias pelos historiadores. Alguns deles como Michel Vovelle passaram a exaltálas como uma das mais importantes formas de escrever a história. Independente desse extremismo, de melhor ou menos confiável método desta ciência, o biográfico pode e deve ser visto não apenas como uma forma de escrever a história, mas também merece ser visualizado como a história da escrita da história e como importante fonte para 247


pesquisas históricas e demais áreas das Ciências Sociais. Concebemos o fazer biográfico como algo caro aos historiadores e devido essa longínqua relação, muita informação pode nos trazer esses escritos, colaborando de forma eficaz para a construção desta área do conhecimento. No Brasil temos um caso emblemático: o personagem histórico D. Pedro II sempre despertou grande interesse de pesquisadores e do mercado editorial, diante disso, diversas obras sobre ele foram escritas ao longo dos últimos dois séculos. Com todo esse material produzido é possível visualizar uma gama de construções sobre essa mesma personagem, inclusive contanto com diversas fontes documentais, recortes e autores, deixando para os atuais historiadores um riquíssimo material, tanto em quantidade como em qualidade. Percebendo este panorama, este trabalho visa utilizar as biografias do Imperador como fonte histórica, especificamente para esta comunicação as obras publicadas pela escritora Lídia Besouchet (1975) Pedro II e o Século XIX, pela antropóloga Lilia Moritz Schwarcz (1998) As barbas do Imperador e pelo historiador José Murilo de Carvalho (2007) D. Pedro II, para analisar como os três autores de formações diferenciadas e em tempos diferentes apesar de próximos, construíram o abolicionismo na trajetória de vida de Pedro II. Palavras-chave: D. Pedro II, abolição, biografia.

Rosimeire Pereira dos Santos ---rosipds@yahoo.com

Escola de Aprendizes Artífices da Bahia: Encruzilhadas da Educação Profissional da Bahia (1909-1937)

Esta pesquisa tem com objetivo analisar os impactos que a implementação da Escola de Aprendizes Artífices (1909-1937), antecessora histórica do atual IFBA, provocou na população pobre e, em especial os de “cor”, na cidade de Salvador, enquanto dispositivo de formação para o trabalho no contexto modernizador engendrado pela Primeira República. Procuramos averiguar o processo de implantação e transformação da Escola, não somente do seu ponto de vista descritivo, mas buscando encontrar os sujeitos históricos assistidos por esta modalidade de formação profissional, buscando investigar se esta instituição, enquanto espaço de formação para o trabalho, atendeu aos objetivos governamentais, respondeu aos anseios sociais dos alunos e/ou as demandas econômicas da cidade do Salvador no período de vigência da instituição. E, sobretudo, trazer à tona o grau de relevância que esta instituição representou nas transformações impostos pelo projeto modernizador da República na formação do mundo do trabalho. Observa-se que poucos estudos sobre a implantação da Escola de Aprendizes Artífices na Bahia foram realizados. As pesquisas que se destinaram ao estudo específico da Educação Profissional na Bahia através da instituição criada a partir do Decreto nº 7.566/1909 privilegiaram suas fases posteriores, principalmente, a partir do surgimento do Liceu Industrial (1937) e da Escola Técnica Federal (1942). 248


Nota-se também que não foram encontrados registros de pesquisas que se propunham a correlacionar a implantação da Escola de Aprendizes e Artífices da Bahia com seus impactos na formação educacional e para o trabalho da população de “cor”. Por esses motivos, consideramos relevante a aceitação desta pesquisa, a fim de que ela possa contribuir para o enriquecimento das investigações no campo de estudos sobre a formação para o trabalho dos segmentos desvaforecidos, principalmente a população de “cor”, na Salvador da Primeira República.

Silvano Sulzart Oliveira Costa

Professor-Pesquisador da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) Pafor, Pedagogo, Especialista em Psicopedagogia e Gestão de Recursos Humanos. Docente da Faculdade Maria Milza (FAMAM) sulzarty@hotmail.com

Histórias de vida, formação e memórias de educadores de escolas rurais: a voz de quem é da roça

O presente texto é resultado de uma pesquisa em andamento no município de Castro Alves – Bahia, e apresenta dados de uma investigação, sobre a utilização das narrativas auto (biográficas) no contexto da formação docente, O trabalho foi desenvolvido através da abordagem qualitativa com produção e análise de 48 memórias de docentes de classes multisseriadas de escolas rurais. Os dados coletados revelam as inúmeras dificuldades que os professores tiveram ao longo de suas trajetórias para estudar, além das atuais dificuldades que os mesmos encontram nos trabalhos em classes multseriadas e na busca pela formação superior. A escuta e o registro das vozes nos processos formativos e de escolarização possibilita rememorar e compartilhar experiências e potencializar práticas no campo pedagógico, ético e político. Palavras-chaves: campo, narrativas, formação.

Thaísa Fernandes Nunes

Pós-Graduanda em História do Brasil pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) tai2006_hta@hotmail.com

Desenvolvimento Urbano em Ilhéus (1854-1926) e o Código de Postura de 1924

O objetivo deste trabalho é abordar o desenvolvimento e a expansão das cidades que imprimiu conseqüências positivas e negativas para sociedade. Positivas pode-se dizer o urbanismo, planejamento urbano, políticas de saneamento básico e salubridade, entre outras coisas. Negativas pode-se dizer os conflitos urbanos como os problemas habitacionais e de transporte, a violência, etc. Abordarei também o processo de modernização da cidade de Ilhéus ao final do século XIX e inicio do XX e tentarei compreender, analisar e descobrir o que o Código de Postura de 1924 tem a nos dizer. Além de apresentar alguns autores, estudiosos e teóricos da história urbana e alguns 249


trabalhos sobre a história urbana da cidade de Ilhéus. Com isso, procuro construir uma memória sobre a evolução urbana de Ilhéus, sabendo que que para estudar a história urbana de um município, e para iniciar um estudo de história urbana, tendo como referencial as obras públicas, segundo Márcia Silva Santos, é importante questionar sobre a existência de um planejamento urbano, sua dinâmica e todos os mecanismos que viabilizaram seu processo de construção, preocupando-se não apenas com os pontos estratégicos, mas, principalmente com o papel do Estado na sua função de projetar e programar o crescimento da cidade nos seus diversos eixos, e é necessário vasculhar todos os documentos que dêem subsídios sobre a contratação de obras públicas pelo Estado, mas também outras fontes, inclusive as iconográficas. Palavras-chave: cidade de Ilhéus, Código de Postura, modernização.

Thiago Alberto Alves dos Santos

Mestrando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES thiagoalberto@yahoo.com.br

“Um velho político”: Abolição, Cidadania e Trabalhadores na República a partir da trajetória de Ismael Ribeiro dos Santos

O objetivo principal dessa comunicação é apresentar problemas e hipóteses levantados com a nossa pesquisa que visa recompor a história de vida de Ismael Ribeiro dos Santos, centrando a análise nos momentos em que sua trajetória cruzou com a escravidão e o movimento abolicionista, assim como, com o movimento de trabalhadores livres e a luta por cidadania no início do século XX. Quanto à investigação documental, temos dois pontos principais de partida: o livro de memórias do próprio Ismael Ribeiro, e o seu Inventário post-mortem. Em ambos utilizamos nomes e sobrenomes como “fio condutor” para chegarmos a outros documentos relacionados ao próprio personagem em questão e aos indivíduos que formaram o tecido social que ele fazia parte. Palavras-chave: abolição, República, trabalhadores.

Thiago Machado Lima

Mestrando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES thiago_machado20@hotmail.com

No tempo de Antônio Bonfim: representações memorialísticas elaboradas por Salomão Barros acerca da cidade de Alagoinhas (1905-1930)

O objetivo principal dessa comunicação é apresentar problemas e hipóteses levantados com a nossa pesquisa que visa recompor a história de vida de Ismael Ribeiro dos Santos, centrando a análise nos momentos em que sua trajetória cruzou com a escravidão e o movimento abolicionista, assim como, com o movimento de trabalhadores livres e a luta por cidadania no início do século XX. Quanto à investigação documental, temos 250


dois pontos principais de partida: o livro de memórias do próprio Ismael Ribeiro, e o seu Inventário post-mortem. Em ambos utilizamos nomes e sobrenomes como “fio condutor” para chegarmos a outros documentos relacionados ao próprio personagem em questão e aos indivíduos que formaram o tecido social que ele fazia parte.

Palavras-chave: abolição, República, trabalhadores. Viviane Andrade de Assis

Mestranda no Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista CAPES vivyaneassis@hotmail.com

“Eu gosto mais de roça do que cidade”: leituras desses espaços pelos trabalhadores rurais arrendeiros

Este artigo discute as relações campo e cidade segundo as leituras dos trabalhadores rurais arrendeiros. O uso e a significação dos espaços constituem-se e se reelaboram a partir das vivências, identidades, práticas de trabalho e vínculos estabelecidos por estes sujeitos evidenciados nas suas narrativas. Desse modo, nos interessa analisar a visão que eles têm e as arguições que utilizaram para explicar determinadas preferências por um espaço em recusa do outro. Como também notar que existem interferências contínuas na relação campo-cidade empreendidas por esses sujeitos, modificando gestos, perspectivas e rotinas diárias de ambas as partes. Ademais, será dada ênfase sobre o lugar em que esses homens e mulheres moram, Fazenda Engenho do Sururu. Tendo em vista que a permissão para morar consistia no contrato firmado oralmente entre quem possuía a terra e quem iria trabalhar nela. Assim, o arrendeiro tinha a obrigação de pagar a renda, consequentemente garantia o direito de sua família morar tão somente em casas de taipa e fazer uso das terras arrendadas, bem como o proprietário das terras estabelecia as condições para permanecer no sistema de arrendamento. Por sua vez, a partir da análise dessas experiências mediadas pelas narrativas orais, a proposta desta comunicação é pensar de que forma as leituras desses sujeitos são construídas e transformadas acerca dos espaços sociais a partir do lugar onde se vive: espaço rural e, nesse caso, tendo como prática de trabalho o arrendamento. Palavras-chave: campo-cidade, trabalhadores, arrendamento rural.

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Simpósio Temático 25 IDENTIDADES, FRONTEIRAS E CONFLITOS NA ANTIGUIDDE E NO MEDIEVO: PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO E ENSINO Coordenadoras: RITA DE CÁSSIA MENDES PEREIRA

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) / Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) ricamepe@hotmail.com MÁRCIA SANTOS LEMOS

Professora doutora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) marcialemos.uesb@gmail.com

D

iscutir a natureza diversa dos documentos disponíveis ao estudo da Antiguidade e do Medievo, pensar o texto escrito em suas múltiplas dimensões e refletir sobre o “delicado” trabalho do pesquisador é uma tarefa que se impõe aos profissionais das áreas de História Antiga e História Medieval. Hoje, no Brasil, as pesquisas associadas a estes dois campos do saber foram ampliadas e vêm se consolidando em núcleos de estudo, grupos de trabalho, associações nacionais e programas de mestrado e doutorado. Também na Bahia, nas várias Instituições de Ensino Superior, docentes têm desenvolvido estudos situados – por seus objetos, fontes e métodos – nos campos da História Antiga ou Medieval. Adivinha-se, a partir do conhecimento prévio desses trabalhos, uma excepcional contribuição dos seus pesquisadores para o debate dos temas definidos como eixos estruturadores do VI Encontro Estadual de História. Um Simpósio Temático que reúna estudantes e profissionais da área para discutir identidades, fronteiras e conflitos no mundo antigo e no mundo medieval deve se constituir em um espaço qualificado para divulgar os trabalhos produzidos nas Instituições de Ensino Superior da Bahia como de outros estados. Complementarmente, deve ser um espaço privilegiado de debates sobre as especificidades das fontes e métodos de investigação e a importância da pesquisa como base para a reestruturação dos programas de ensino de graduação e pós-graduação associados às áreas de História Antiga e Medieval no Brasil. Em última instância, o Simpósio deverá resultar em um mapeamento dos pesquisadores que, no âmbito estadual, atuam nas áreas e favorecer uma maior interlocução entre os especialistas vinculados a grupos de pesquisa e associações nacionais voltadas para o estudo da Antiguidade e do Medievo. 252


Alexandre Galvão Carvalho

Professor Adjunto do Departamento de História da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutor em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) galvaocarvalho@uol.com.br

A economia antiga e o Antigo Oriente próximo: a Mesopotâmia no seio do debate entre substantivistas, neomarxistas e formalistas

Os trabalhos do antropólogo húngaro Karl Polanyi sobre a “economia antiga”, tendo como horizonte o debate do oikos, são relevantes reflexões empíricas da corrente teórica econômica denominada “substantivista”. O artigo sobre a Mesopotâmia, escrito em 1957, na coletânea Trade and Market, único texto sobre o Antigo Oriente Próximo, gerou um intenso debate entre os assiriólogos. A tese polanyiana da ausência de mercados e da defesa de comércio administrado no Antigo Oriente Próximo tem sido tema de fortes controvérsias entre “substantivistas”, “formalistas” e “neomarxistas”. Críticas e reavaliações dessa perspectiva à luz de novas documentações são frequentemente analisadas por autores paradigmáticos dessas correntes, dentre eles: Mario Liverani, neomarxista; e John Gledhill e MogensLarsen, formalistas. Com perspectivas teóricas distintas, esses autores contestam a hipótese de Polanyi sobre a Mesopotâmia. Para Liverani, o tipo de documentação e o período histórico em questão são fundamentais para se chegar a conclusões sobre comércio administrado e preços fixos, relativizando o predomínio desses elementos na realidade mesopotâmia. Já para Gledhill e Larsen, os argumentos polanyianos da inexistência de mercado e comércio privado na Mesopotâmia não condizem com as fontes escritas e arqueológicas. O objetivo desse trabalho é apresentar um breve panorama do atual debate sobre o comércio e mercado no Antigo Oriente Próximo, tendo a Mesopotâmia como exemplo, confrontando os trabalhos de Polanyi, Liverani e Gledhill e Larsen. Palavras-chave: Economia antiga, substantivismo, Historiografia.

André Costa Aciole da Silva --andreelarissa@yahoo.com.br

Memória, identidade e medicina: instrumentos de legitimação do poder real em Portugal em fins da Idade Média

A legitimação do poder ou da autoridade passa pela construção da identidade (pessoal ou coletiva) e constituir identidade conduz à um mecanismo operatório da ideologia que é a manipulação de memória através, por exemplo, da função narrativa e de marcos visuais que expressem a presença e o poder real. Neste sentido qualquer que fosse o projeto de construção de uma memória como forma de afirmação legitimadora do poder régio levava ao empenho de múltiplos atores e múltiplos instrumentos. De modo geral, o estatuto social privilegiado do monarca precisava 253


ser expresso exteriormente. Recorreu-se à símbolos e emblemáticas que anunciavam e manifestavam o lugar do rei. Compuseram-se e divulgaram-se os signos de identificação do poder real. Tratando-se da monarquia portuguesa dos quatrocentos acreditamos que a criação de um sistema concentrado de hospitais voltados para a boa saúde do reino e de uma narrativa, que pretende instituir uma memória oficial, se enquadra neste processo paulatino de centralização do poder real. Podemos também identifica a tentativa de construção de uma memória da caráter nacional relacionada com os hospitais criados neste período. São vários os casos em que podemos verificar a elaboração de uma narrativa relacionada à assistência com o claro objetivo de valorizar a figura dos monarcas.

André Luís Silva Effgen

Graduando em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista FAPESB andre.effgen@yahoo.com.br

A reforma de Amarna (1353 -1335 A. C.) e a emergência de um novo setor da elite no Egito faraônico

O presente trabalho constitui-se em um passo inicial dentro da produção historiográfica de um período conhecido na egiptologia como um dos mais controversos da história egípcia, localizado historicamente dentro do Reino Novo (1550 – 1069 A.C.), o episódio de Amarna (1353 -1335 A. C.) é conhecido e estudado quase que sempre pela perspectiva religiosa, de forma que as maiorias dos pesquisadores acabam desconsiderando questões pertinentes à política e à economia em suas abordagens. Considerando o caráter monista do pensamento egípcio antigo observa-se que tais abordagens se mostram falhas, visto que o homem egípcio não distinguia em sua sociedade o campo religioso, do político, do econômico, entre outros. Em virtude disso propomos um novo olhar sobre o reinado do faraó Amenhotep IV/ Akhenaton, em um sentido em que se possa observar as particularidades da antiga sociedade egípcia se afastando das concepções do homem moderno. O artigo inicia uma busca sobre as mudanças na elite egípcia sob a égide de Akhenaton como motor e conseqüência das reformas realizadas pelo faraó no culto oficial do Estado a fim de colaborar com os demais aspectos que vão compor o traçado da rede de múltiplos fatores que formaram um evento ímpar em toda a história do Egito faraônico. Palavras-chave: Dom, Amarna, Egito Antigo.

Heder Claudio Oliveira Gomes ---- hc_heder@hotmail.com

A representação de Constâncio II no discurso de Juliano

Juliano foi educado inicialmente num ambiente cristão, mas tomou contato com o 254


helenismo por meio do eunuco Mardônio, instruiu-se com os ensinamentos de Libânio e Temístio e estudou em Atenas. Foi nomeado César pelo imperador Constâncio II em 355 e, em 360, foi proclamado Augusto por suas tropas. Seu reinado transcorreu essencialmente em meio a uma relação conflituosa com Constâncio II. Empreendeu uma série de reformas, entre elas, medidas que beneficiavam as práticas pagãs. Ficou conhecido como apóstata, e seu governo como o período da “restauração pagã”. Tem uma significativa produção escrita especialmente no que se refere às teorias sobre a realeza. Os dois discursos redigidos por Juliano - Sobre a Realeza e Elogio ao Imperador Constâncio - selecionados para análise nesse trabalho, versam sobre o governo do imperador Constâncio II. Nosso trabalho tem por finalidade analisar como o imperador Juliano representou o imperador Constâncio II e afirmou sua posição política dentro do Império Romano do século IV d.C. Objetivamos também, demonstrar que Juliano, em discursos sui generis, representou o príncipe ideal associado aos costumes ancestrais romanos, afirmando-se dentro da tradição literária sobre o poder monárquico e do sistema de valores defendido pela elite senatorial pagã. Palavras-chave: Juliano, Constâncio II, Panegírico, Império Romano.

Jacqueline da Silva Santos

Graduanda em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista FAPESB jacqueybia@hotmail.com

O Livro dos Césares e o Breviário: um estudo sobre cultura escrita e memória coletiva no Império Romano do século IV

O propósito deste trabalho é discutir o uso da cultura escrita, pelos intelectuais vinculados à elite senatorial pagã, para afirmar e divulgar um conjunto de noções morais e práticas sociopolíticas presente na memória coletiva do grupo, na Roma baixo-imperial. Por meio da análise de discurso, busca-se evidenciar como o mos maiorum, transmitido no seio da elite senatorial, foi preservado e utilizado como parâmetro para qualificar os imperadores e a sociedade romana. Para tanto, foram selecionadas duas crônicas que tratam da história do Império Romano, produzidas por membros da aristocracia do período: o Livro dos Césares de Aurélio Victor e o Breviário de Flávio Eutrópio. Palavras-chave: memória coletiva, cultura escrita, Império Romano.

Jacquelyne Taís Farias Queiroz

Mestre em Cultura, Educação e Linguagens pela Universidade Estadual do Sudoeste Baiano (UESB) jacquelynequeiroz@gmail.com

O ultraje ao morto e a autoridade entre os vivos: Ájax, de Sófocles

Entre os gregos antigos, o termo géras designa uma distinção honorífica, um prêmio, uma dignidade. Desta forma, negar um géras, corresponde a negar a honra, negar um 255


direito, ou, em outros termos, cometer um ultraje, uma difamação. Mas, na literatura grega antiga, o termo não se refere apenas a disputas de honra entre os homens; também os mortos são apresentados como dignos e reclamantes de honras, de um géras, que deve se apresentar na forma de adequados funerais. Ájax tem o seu géras negado ao não receber as armas de Aquiles como sinal e reconhecimento de bravura e distinção durante a guerra de Tróia. Mas por causa dessa desonra, Ájax, depois de morto, corre o risco de ficar sem outro géras: os ritos fúnebres, direito que cabe aos mortos. Ao observar o empenho de Teucro para sepultar Ájax, o intento de Menelau em deixálo exposto para servir de alimentos aos animais selvagens e a discussão em torno do cadáver de Ájax podemos relacionar os procedimentos empregados para honrar/ desonrar os mortos com a afirmação das hierarquias sociais e dos códigos de honra e comportamento que embasam a autoridade das aristocracias guerreiras na poesia trágica. Palavras-chave: Ájax, rito fúnebre, géras.

Kamilla Dantas Matias

Mestranda em História pela Universidade de Coimbra (UC) dantas765@gmail.com

Por mares nunca dantes navegados: a loucura na Stultifera Navis de Bosh

Ter um comportamento desviante não é suficiente para que uma pessoa seja reconhecida socialmente como louca. Conforme a cultura, isto pode ser interpretado como rebeldia, heresia ou crime. O louco é uma personagem social que foi enclausurada no interior do exterior e manifesta sua demência de acordo um modelo de desvio definido em conformidade com as tradições culturais próprias à sociedade na qual se originou. Na Idade Média, o louco é um ser que vive à margem da sociedade. A sua alienação se configura em uma ruptura, uma separação dos outros homens. Um procedimento em relação aos loucos aparece com frequência nas criações literárias e artísticas do final da Idade Média: a deportação. Os loucos deveriam ser deslocados para além dos muros da cidade, da corte, dos espaços ordenados. Ao lado dos loucos clássicos da literatura, como Merlin e Yvain, autoexilados em uma vida selvática, à margem do mundo habitado, a Idade Média nos legou a célebre imagem da nave dos loucos, embarcação que trazia a bordo homens e mulheres expurgados do convívio cotidiano com as pessoas “normais”. Subordinado a convenções estéticas e conceituais próprias ao seu tempo, mas, por outro modo, orientado por um impulso criador resultante da sua experiência individual, o artista dedicado a registrar, por meio de seu trabalho, a imagem da nave, fez alocar pessoas em seu interior. A individualização dos passageiros resulta de um processo complexo de seleção, classificação e valoração negativa de determinados procedimentos, entendidos como lesivos ao bom funcionamento da ordem universal. Objetiva-se analisar e contextualizar as representações da Stultifera Navis 256


de Hieronymos Bosch, com enfoque sobre os passageiros que nela se encontram, seus caracteres físicos, sociais e comportamentais, bem como as razões de sua deportação. Palavras- chave: loucura, nau dos loucos, Hieronymos Bosch.

Lívia Cristina de Souza Sigliani

Graduanda em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista UESB lisigliani@hotmail.com

O debate do oikos. Dos modernistas aos formalistas: breves apontamentos de Eduard Meyer e Barry Kemp

O “debate do oikos” eclodiu em 1895, na Alemanha, expondo a divergência entre dois conceitos paradigmáticos sobre economia antiga: a concepção modernista, defendida por Eduard Meyer, retomada posteriormente pelos formalistas, em contraponto à concepção primitivista, defendida por Karl Bücher, redimensionada posteriormente pelos substantivistas. Pretende-se nesse trabalho apresentar um extrato deste debate centenário, por meio dos trabalhos de Eduard Meyer e Barry Kemp acerca do Egito antigo. Procurar-se-á explicitar a perspectiva modernista de Eduard Meyer e formalista de Barry Kemp, em contraponto à perspectiva primitivista de Karl Bücher e substantivista de Jacob J. Janssen. Palavras-chave: Egito antigo, economia antiga. modernistas-formalistas.

Luiz Otávio de Magalhães --lotavio.magalhaes@gmail.com

Viagens de historiadores: a historiografia antiga e a presença como critério de verdade

Políbio afirmou, em sua narrativa em torno das guerras que alicerçaram o poder romano nas margens do Mediterrâneo, que um homem que pudesse estar pessoalmente presente a todos os acontecimentos teria condições de adquirir um conhecimento que se mostraria superior a todos os outros. Esta associação entre a presença – e, por consequência, o deslocamento, as viagens – e a sophia, a sabedoria, precede, na verdade, o período histórico em que viveu Políbio, tendo servido, anteriormente, para adornar com o epíteto de “sábio” (sophos ou sophistes) poetas lendários como Homero, líderes políticos como Sólon e filósofos como Pitágoras. Entre os historiógrafos gregos da antiguidade esta associação entre, por um lado, o ver, o estar presente, o observar, e, por outro lado, o conhecer, também se manifesta de forma vigorosa. Em Heródoto, Tucídides e Políbio, viajar, ver com os próprios olhos, recolher pessoalmente indícios e testemunhos, passam a ser procedimentos inerentes à investigação histórica. Neste sentido, o histôr se torna tanto um investigador como uma testemunha visual e a prática do viajante, cujo 257


protótipo mítico é a figura de Odisseu, se afirma como condição necessária ao conhecimento da verdade. Neste sentido, este trabalho tem como objetivo discorrer sobre os critérios de afirmação da verdade sobre as ações humanas construídos, a partir do século V a.C., pelas narrativas historiográficas da Grécia antiga Palavras-chave: Cinema, Guerra dos Cem Anos, Joana d’Arc.

Márcia Santos Lemos

Professora doutora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista UESB marcialemos.uesb@gmail.com

A elite senatorial, o mos maiorum e a fortuna do Império Romano nas crônicas do século IV d.C.

A proposta desta comunicação é apresentar algumas considerações sobre a relação da elite senatorial com a preservação das tradições ancestrais e a situação política do Império Romano no século IV d.C. Com este objetivo, elegemos um corpus formado por textos que expressam o desejo de preservar o pensamento sociopolítico da aristocracia senatorial romana tradicional. São três crônicas que tratam da história do Império Romano por meio da “biografia” dos seus soberanos, enaltecem os “antigos” varões e seus costumes: O Livro dos Césares de Aurélio Victor; O Breviário de Flávio Eutrópio e A História de Amiano Marcelino. Os autores são procedentes de famílias abastadas ou que ascenderam socialmente no século IV d.C., viveram em distintas regiões do Império e estavam vinculados aos cultos politeístas. A análise, estruturada a partir da “leitura isotópica”, permite verificar que os discursos, influenciados por um conjunto de ideias oriundas do período republicano, em especial, pela perspectiva de Cícero, representam a aristocracia senatorial romana tradicional como a guardiã dos costumes ancestrais – a responsável pela grandeza do Império – e os militares, a corte e a plebe, como corruptos – os responsáveis pela decadência. As imagens apreendidas dos discursos analisados associam a fortuna de Roma à elite senatorial e sua observância do mos maiorum. Palavras-chave: Elie senatorial, mos maiorum, Império Romano.

Marina Regis Cavicchioli

Professora doutora da Universidade Federal da Bahia (UFBA) cavicchioli.marina@gmail.com

A alimentação como uma fronteira identitária no mundo romano

Nas últimas décadas, novos temas têm ganhado visibilidade nos estudos da Antiguidade, entre eles podemos destacar os estudos da vida cotidiana e sobre a alimentação. É verdade que existem alguns estudos clássicos sobre vinho, azeite e garum, no entanto, estes centraram-se, sobretudo, em questões relacionadas à 258


produção, mão de obra empregada, comércio alimentício e circulação de capital, tendo como foco um estudo da economia antiga. Todavia, os fatores culturais vinculados à alimentação que transbordam a questão econômica foram de um modo geral pouco estudados. Assim, embora estes estudos sejam relevantes fatores para a compreensão do mundo romano, consideramos que o estudo da alimentação na antiguidade não pode prescindir da compreensão da rede complexa de relações simbólicas por que se constituem as representações e, por conseguinte, as relações que o ato de alimentar-se trava com outros momentos da vida social. Sabemos que a alimentação romana era um importante fator de identidade. Temos relatos de autores antigos que demonstram como os romanos distinguiam –se daqueles considerados bárbaros pelos alimentos consumidos e pela forma de consumílos. Dentro da própria sociedade romana a alimentação era também uma forma de distinção social e de gênero. Assim, nossa comunicação pretende abordar as fronteiras identidárias no mundo romano através de um estudo sobre a alimentação. Palavras-chave: alimentação, arqueologia, Roma.

Meiriane Santos Oliveira Andrade --meireandrade6@yahoo.com

Uma donzela na guerra: a Joana d’Arc de Luc Besson

A representação do passado por meio de imagens ganhou corpo ao longo do último século, especialmente com a difusão do uso do cinematógrafo. Filmes votados à reconstrução de fatos e personagens históricos são uma constante desde a invenção do cinema e a sua utilização como base de pesquisa tem sido objeto de profícuos debates entre historiadores culturais. Mais recentemente, a par dos debates sobre cultura e representações que movimentam os historiadores culturais, o filme tem sido tomado como representação social da realidade para o qual concorrem os condicionantes sociais, o gênio criador dos indivíduos envolvidos no processo de produção e as limitações de gênero e estilo correntes. Nesta perspectiva, o presente trabalho almeja apresentar uma reflexão sobre a personagem de Joana d´Arc no episódio da Guerra dos Cem Anos no filme Joana d´Arc, de Luc Besson (1999). O filme de Besson, seus cenários, enredos e personagens, permitem uma melhor compreensão do contexto em que ocorreu o processo contra Joana. O roteiro salienta a presença do diabo, o real invisível, nos discursos da Igreja Cristã do final da idade Média. É clara a intenção do diretor de ressaltar a existência de uma “Idade da Fé”, na qual se insere o final trágico de uma guerreira, julgada e condenada por não obedecer à “política dos homens”.

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Roberto Silva Oliveira

Professor Assistente da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) robertooliveira.uesb@gmail.com

A cidade como discurso: arte e política em Leon Battista Alberti

Considerado o “Vitrúvio Florentino”, Leon Battista Alberti legou à posteridade extensa obra de caráter filosófico, político, artístico e técnico, na qual destaca-se o De Re Ædificatoria. Esta obra, composta de dez livros, organizados em torno dos princípios vitruvianos da firmitas, utilitas e venustas, se caracteriza pela coerência interna e pelas soluções práticas aplicadas a arte de construir. Enquanto os humanistas do século XV versavam sobre a cidade do ponto de vista ideal, haja vista os muitos panegíricos produzidos no período, a cidade albertiana se apresenta como resultado prático do desenvolvimento histórico. A conquista dos conhecimentos arquitetônicos deu ao homem a capacidade para vencer as adversidades do tempo (firmitas), construir as condições necessárias a sobrevivência (utilitas/ commoditas) e alcançar o prazer e as conveniências civis (venustas). Sob a influência da Antiguidade Clássica, especialmente das obras de Platão, Aristóteles e Cícero, foi construído o De Re Ædificatoria. Por meio dele, Alberti ampliou o campo das discussões políticas de sua época, radicadas nos debates acerca da liberdade e da automia urbana. Portanto, a cidade apresentado por Leon Battista Alberti em seu tratado não pode ser apreendida unicamente por suas catarecterísitcas estruturais. É preciso, sobretudo, articular o De Re Ædificatoria ao conjunto da cultura na qual ela surgiu. Objetiva-se com este trabalho analisar a forma como a cidade idealizada por Alberti reflete os princípios do humanismo cívico italiano do século XV. Palavras-chave: Alberti, De Re Ædificatoria, Humanismo cívico.

Rita de Cássia Mendes Pereira

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) ricamepe@hotmail.com

Literatura, fronteiras culturais e processos identitários: A cultura de cavalaria, que tem nos romances arturianos dos séculos XII e XIII

A cultura de cavalaria, que tem nos romances arturianos dos séculos XII e XIII suas formas mais expressivas de manifestação, se auto-define na relação com as demais formações culturais e exprime os seus valores por meio dos gestos, das práticas cotidianas, mas, principalmente, dos modos peculiares de composição artística e literária. As obras de literatura arturiana, resultantes desses modos particulares de composição, evidenciam uma complexa relação com as heranças culturais disponíveis na época de sua elaboração. Os seus autores se apropriam de elementos culturais de 260


origem e natureza essencialmente diferentes. Mas, para além do debate, travado até a exaustão, sobre as fontes da matéria arturiana, que opôs durante um longo período os partidários das fontes célticas e das fontes cristãs, é necessário explicitar que, tanto quanto as heranças culturais, contribuíram para o processo de elaboração e difusão dos produtos culturais, os interesses individuais e os determinantes coletivos de assimilação entre essas diferentes heranças. A aceitação, remodelação ou recusa de temas, imagens e modelos culturais do passado estão estreitamente relacionados à sua pertinência ou não no seio da formação cultural que deles se apropria e, em última instância, da própria sociedade na qual essa formação cultural está inserida. Os autores da obras de literatura arturiana agregaram temas, enredos, personagens e conteúdos morais extraídos diretamente das heranças culturais transmitidas pela cultura clerical dominante. A utilização desses elementos possibilitou a contínua reestruturação dos princípios de existência cavaleiresca mais ou menos em conformidade com os preceitos gerais da cultura dos clérigos. Entretanto, as obras de literatura arturiana prestaram-se, também, ao resgate, valorização e promoção à condição de documento escrito de heranças – estórias, personagens e valores - cujas raízes podem ser buscadas em antigas tradições folclóricas. A cultura de cavalaria nasceu, dessa maneira, de um diálogo muito particular, caracterizado por coincidências, superposições e instabilidades, com a cultura erudita de orientação clerical e, ao mesmo tempo, com elementos extraídos de um fundo patrimonial de cultura, compartilhado com outros grupos sociais e culturais. Originalmente elaboradas sob o patrocínio e para a audiência de indivíduos pertencentes à pequena e média nobreza, essas obras refletem os interesses dessas camadas sociais em um contexto de intensas transformações. Palavras-chave: literatura medieval, identidades, cavalaria.

Tiago de Oliveira Cardoso --tiagocardoso64@yahoo.com.br

De homens e heróis: o código de ética da cavalaria em Ramon Llull

O presente trabalho procura investigar as origens da cavalaria medieval, a partir do estudo de caso do Livro da Ordem da Cavalaria, do clérigo hispânico Ramon Llull, assim como as respectivas transformas no interior da ordem no transcorrer dos séculos de sua existência, partindo desde as organizações germânicas e latinas, passando pela Alta idade Média até sua constituição enquanto ordem. Através do estudos acerca de mentalidades e representações objetiva-se caracterizar o ideal de honra cavalheiresca presente no Código de Conduta Moral, documento não escrito, mas cuja existência virtual fica subentendida nas práticas cotidanas e nos discursos de época tanto de aspectos literário, quanto técnico, jurídico ou clerical. Analisamos oportunamente a relação entre ideal e prática vivenciada e suas respectivas implicações na formulação 261


da imagem do cavaleiro. Procura-se ainda empreender uma breve análise em torno da figura emblemática de Llull e sua influência contextual. Por fim, procuramos com esse trabalho identificar ou não rupturas e continuidades na ordem ao longo da História, assim como sua permanência ressignificada sob a figura universal do herói e sua divulgação através do mais distintos meios. O trabalho insere-se assim no campo das ditas mentalidades históricas e faz parte de uma pesquisa muito maior que objetiva também a constatação do legado da cavalaria para a contemporaneidade.

Vitor Moraes Guimarães

Graduando em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) vitor.mguimaraes@hotmail.com

O clero cristão e as práticas pagãs no Reino Visigodo (Séculos V e VI)

O cristianismo estabeleceu-se no Império Romano como uma crença das camadas baixas e médias da sociedade urbana, conquistou adeptos na aristocracia e, no século IV, tornou-se o credo oficial do Estado. A Igreja se expandiu pelo Ocidente chegando até a Península Ibérica, região onde se instalou o reino Visigodo. O objetivo de nossa pesquisa é demonstrar que entre os séculos V e VI este reino não era cristão e o clero, ao desenvolver ações para combater a permanência de antigas práticas religiosas oriundas do sistema de crença greco-romano e germânico, produziu estratégias para afirmar a hegemonia do cristianismo e o modificou. Nesta comunicação, vamos apresentar o debate historiográfico sobre o tema e algumas reflexões produzidas a partir da análise do corpus documental. Palavras-chave: cristianismo, práticas pagãs, Reino Visigodo.

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Simpósio Temático 26 MEMÓRIA, AUTORITARISMO E DEMOCRACIA Coordenadoras: CÉLIA COSTA CARDOSO LUCILEIDE COSTA CARDOSO

O

simpósio tem o propósito de discutir e aprofundar reflexões sobre o Estado brasileiro e suas relações com o mundo em períodos distintos de vivência autoritária e democrática. Os conceitos de Autoritarismo e Democracia perpassam o campo da História Política, adquirindo diferentes usos e significados. Os estudos sobre projetos políticos, instituições, culturas políticas e relações de poder, considerando as tensas e conflituosas construções da memória, permitem pensar que tais conceitos exigem aproximações e distanciamentos em momentos particulares e específicos da história contemporânea. Pesquisar sobre processos históricos que já não mais existem pode promover, pelo exercício crítico da memória que ainda permanece sobre tais temporalidades, a experiência da diferença que insiste em interrogar o presente. O ST pretende abrigar trabalhos que remetem ao domínio da política, da cultura e da memória, compreendendo os períodos de vigências das duas ditaduras brasileiras (Estado Novo, 1937/45, Ditadura civil-militar, 1964/85), além dos processos transitórios entre governos ditos democráticos e a radicalização operada pelo nacional-populismo. Novas perspectivas de análises, trazidas pela renovação historiográfica vivenciada no nosso tempo, permitem recortes temático-temporais diferenciados contribuindo para uma ampliação do campo de estudo. O Simpósio tem o propósito de “socializar” e problematizar o sentido desse novo caminhar historiográfico que toma corpo no Brasil, contemplando particularidades locais ao mesmo tempo em que estabelece conexões com a produção nacional/internacional. Adailton dos Santos Andrade

(NÃO CONSEGUIR DECIFRAR) adailton.andrade@bol.com.br

Tribunal de segurança Nacional: Augusto Maynard Gomes e o assassinato de Elza Fernandes (A Garota)

Em 1939 Luís Carlos Prestes foi acusado de ter sido o mentor intelectual do assassinato de Elza Fernandes, secretaria do PCB. O processo crime teve como relator o Presidente do Tribunal de Segurança Nacional, Augusto Maynard Gomes, 263


cujo desempenho foi investigado por este trabalho. Diante da consulta às fontes documentais, observa-se que o julgamento não foi completamente imparcial, uma vez que os antecedentes históricos de Prestes foram levados em consideração. Em 07 de novembro de 1940 o “Cavaleiro da Esperança” foi condenado a 30 anos de prisão. Augusto Maynard Gomes mostrava-se fiel à repressão varguista. Os acontecimentos políticos, sociais e econômicos que marcaram o governo Vargas, que compreende os anos de 1930 a 1945, revelam o quão complexo foi este período. Na década de 30, o PCB assume papel de protagonista em vários fatos na História do Brasil. Em 1935, o PCB forma a Aliança Nacional Libertadora que obteve rapidamente um enorme apoio popular sendo constituída por centenas de comitês pelo Brasil a fora, chegando a ter 600 mil filiados. Contudo, logo depois foi posta na ilegalidade por Getúlio Vargas. Perdido o espaço legal, o partido opta por organizar a tomada do poder pela via insurrecional, sob a orientação da Internacional Comunista que, para este fim, envia para o Brasil Prestes, Olga Benário, Artur Ewert entre outros membros. Palavras-chave: Augusto Maynard Gomes, Brasil República, Tribunal de Segurança Nacional.

Ana Paula Palamartchuk ---paula.tchuk@gmail.com

Intelectuais, cultura e esquerda no Brasil contemporâneo: notas de pesquisa

Grande tema da área de História Contemporânea é a relação entre os intelectuais e a política. A formação da tradição do engajamento do intelectual a partir do Affair Dreyfus no fim do século XIX permite apreender a história do século XX também pela história das idéias e pela constituição de um novo e importante sujeito histórico. Os intelectuais tiveram papel significativo nos fenômenos históricos mais expressivos do último século. O próprio “nascimento dos intelectuais” já o demonstra. Assim, o objetivo é traçar algumas considerações de caráter mais teórico sobre as tendências analíticas das relações entre intelectuais e política. A leitura de Karl Mannheim, Antonio Gramsci e Pierre Bourdieu são, nesse sentido, obrigatórias para o entendimento do debate no âmbito da história intelectual e os desdobramentos sobre a natureza ambígua do conceito. Os elementos que surgem das relações entre intelectuais e política desde o “nascimento dos intelectuais” (Christophe Charle), as paixões e conflitos que envolvem suas ações coletivas (Jean-François Sirinelli), as formas criadas de intervenção no espaço público (A. Gramsci), as tensões vivenciadas entre autonomia e compromisso (N. Bobbio), entre razões de caráter ético e estético, a formação do campo intelectual e do campo cultural (Bourdieu), abrangem todo o século XX.

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Ary Albuquerque Cavalcanti Junior ---ajunior.ufrb@hotmail.com

Memória e política: resistência de mulheres baianas à Ditadura Militar (1964-1985)

O presente trabalho esta inserido no bojo do contexto ditatorial brasileiro (1964 -1985) período marcado por fortes ações do governo no intuito de coagir quaisquer movimentos contrários às bases ideológicas, sociais e políticas do Estado. Voltandose para a participação de mulheres baianas nesta conjuntura, o presente estudo busca contribuir para o desenvolvimento de campos até então “esquecidos” pela historiografia, tais como a história das mulheres, que desde a década de 70 passou a inovar-se. Dessa forma, no intuito de apresentar as variadas formas de “luta” e resistência durante a ditadura militar, este grupo social fora escolhido para compreender os problemas em torno da reconstrução memorialística e os mecanismos de produção do esquecimento. As experiências em movimentos sociais e em alguns casos, nas organizações armadas fizeram com que sentissem nos seus corpos e almas a experiência da clandestinidade, prisão, tortura e exílios. O objetivo, portanto, consiste em desvendar através de relatos autobiográficos, entrevistas orais, fontes jornalísticas entre outras possibilidades o processo de elaboração dessa memória. O uso da história oral como um dos métodos possibilitou a realização da entrevista com Emérita Andrade Ramos, baiana, militante comunista e presa política nos anos sessenta. Natural de Jaguaquara, estudou Teatro na Universidade da Bahia até 1964, sendo obrigada ainda neste ano a abandonar o curso em detrimento do golpe civil militar, uma vez que estava sendo procurada. Nesse ínterim, Emérita migrou para o Rio de Janeiro, viveu sobe forte tensão até ser presa pelo DOPS (Departamento de Operações Políticas e Socais) daquele Estado, sendo torturada e indiciada no Inquérito Policial Militar (IPM) contra o PCB, Partido Comunista Brasileiro.

Carla Reis

Graduanda em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Bolsista PIIC/COPES carlareisufs@gmail.com

Estado X Sociedade: A Gazeta de Sergipe e o governo de Leandro Maciel (1955-1959)

A influência exercida pela mídia faz com que os governantes busquem se aliar aos veículos de comunicação. Em Sergipe havia um periódico de alto poder persuasivo, a Gazeta de Sergipe que circulou ininterruptamente, por quase cinco décadas. Não é raro encontrar nas edições da GS denúncias contra os escândalos políticos e econômicos dos anos em que o periódico funcionou. Para entendermos os motivos pelo qual a GS tornou-se um ícone combativo do jornalismo sergipano analisamos a sua história e seu envolvimento nos meandros políticos. O estudo se propõe a traçar 265


um breve panorama histórico da Gazeta, apontando as principais características do jornal e analisar o governo de Leandro Maciel (1955 – 1959) alvo de severas críticas. Para isso foram feitas análises nos editoriais, manchetes, bem como entrevistas com ex-jornalistas que fizeram parte do quadro jornalístico da Gazeta. Palavras-chave: imprensa, política, Sergipe.

Célia Costa Cardoso

Professora Doutora da Universidade Federal de Sergipe (UFS) celcard@hotmail.com

Ditadura no Brasil: articulações políticas de resistência (1964-67)

Estudo da memória política produzida por um grupo oposicionista ao movimento civil-militar brasileiro de 1964, conhecido como “grupo do Rio”, sob o comando do ex-tenente brigadeiro Francisco Teixeira. Após o golpe de Estado, o brigadeiro foi preso e afastado de suas funções na Aeronáutica por assumir posicionamentos políticos reformistas em apoio ao governo Goulart. Esse “grupo do Rio” tornou-se um importante articulador da política de mobilização das massas para desestabilizar o governo Castelo Branco, obtendo apoio de amplos setores oposicionistas, inclusive de parte do Partido Comunista Brasileiro. Outros fatos relevantes dos anos sessenta, como os desentendimentos entre políticos civis de carreira, Adhemar de Barros e Carlos Lacerda, e o governo Castelo Branco, provocados pelo lançamento do Ato Institucional n° 2 em outubro de 1965, aproximaram, em momentos distintos, interesses políticos do governador do Estado de São Paulo, do ex-governador da Guanabara e do “grupo do Rio”. Articulação política que chegou a esboçar um movimento conspiratório interestadual para organizar um contragolpe, não assumido abertamente pelo brigadeiro Teixeira, para derrubar ou provocar a renúncia do Presidente Castelo Branco. Esse novo agrupamento, dirigido por Adhemar de Barros, foi motivado por possibilidades concretas de intervenção militar no governo paulista. Posteriormente, após a cassação do mandato do governador Adhemar de Barros, acirraram-se as divergências entre Carlos Lacerda e o governo Castelo Branco. A aproximação dessa liderança civil com o “grupo do Rio” e de políticos cassados, como João Goulart e J. Kubitschek, permitiu a criação da Frente Ampla para reivindicar eleições livres e diretas em todos os níveis de representação política. Desse modo, a pesquisa buscou compreender, com base nas memórias políticas dos envolvidos, a formação dessa frente oposicionista que agia em contrariedade a ação governamental da União de criação do sistema do bipartidarismo. Palavras-chave: ditadura, contragolpe, Frente Ampla.

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Daniela de Jesus Ferreira ---dan-his@hotmail.com

Trajetória da revista Seiva

A sobrevivência do Comitê Regional da Bahia após a forte repressão do Estado em 1935 contribuiu para que alguns comunistas baianos enveredassem pelo caminho das letras através da articulação e produção de uma revista ainda pouco estudada, e que foi relevante para a afirmação dos comunistas baianos. A criação da revista foi motivada por João Falcão estudante de Direito e precursor da ideia, sendo levada aos demais integrantes do grupo na Bahia. A proposta foi aprovada e colocada em prática em 1938. Houve todo um empenho e estratégia para sua realização. O nome foi sugerido por Armênio Guedes, ela chamar-se-ia Seiva. Tornou-se a primeira revista antifascista a circular no cenário do Estado Novo. Para driblar a censura que proibia e vistoriava toda e qualquer ação tida como contrária as posições do governo a revista teve a princípio característica literária. Circulou 18 edições ao longo da sua “primeira fase” que perdurou de 1938 a 1943, quando foi empastelada pelo Estado Novo. Retornou em 1950 com novas características e com outra roupagem. Ao longo das 18 edições seus articuladores utilizaram de textos e reproduções de autores como Michael Golde, Upton Sinclair, Máximo Gorki, Victor Hugo, Pablo Neruda, Castro Alves, Lima Barreto e Euclides da Cunha. A revista reverberou mesmo que não abertamente o sentido de luta, a defesa do nacionalismo e o combate ao imperialismo. A Seiva convocou os intelectuais, a não fugirem as suas responsabilidades, sujeitos fundamentais na unidade e libertação da América. O primeiro número lançado em 1938 refletiu bem esse posicionamento com a chamada: “Mensagem aos intelectuais da América”. Através da diversidade dos textos, a Seiva discutiu o negro na Bahia e Brasil, o materialismo dialético, a situação operária, a cultura e os conflitos internacionais de seu tempo. Transformaram as leituras de Castro Alves, de Lima Barreto e Euclides da Cunha, na mais alta literatura revolucionária e completa de incentivos. Através deles enxergaram um Brasil dependente e explorado que poucos souberam cantá-los e interpretá-los como deveria, e como realmente existia. Leituras que proporcionaram e contribuíram para formação política e intelectual dos comunistas na sociedade baiana.

Edinaldo Antonio Oliveira Souza

Professor da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Doutorando em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) edyaos@ig.com.br

Trabalhadores e processo de redemocratização (Bahia, 19451946)

Na Bahia, assim como noutros importantes estados brasileiros, as conjunturas de 267


participação do Brasil na Segunda Guerra e do imediato pós-guerra foram marcadas pela retomada do processo de organização e mobilização coletiva do operariado, após a dura reação sofrida desde o levante da ANL de 1935 e durante a vigência do regime estadonovista. A partir de fontes da imprensa e da Justiça do Trabalho, esta comunicação analisa a participação do operariado baiano no processo de transição da ditadura do Estado Novo para o Intervalo Democrático. Entrementes, avalia as iniciativas empreendidas pelos trabalhadores urbanos na luta pela satisfação das suas reivindicações mais imediatas e pela ampliação da cidadania operária. Palavras-chave: trabalhadores, transição democrática, luta por direitos

Geferson Santana de Jesus

Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Bolsista FAPESB gefsdj@hotmail.com

Barulhos de Guerra: produção historiográfica baiana sobre a Segunda Guerra Mundial (1939-45)

O presente artigo se propõe a construir um balanço da historiografia baiana sobre a Segunda Guerra Mundial, compreendida entre 1939 a 1945. Elencamos alguns elementos primordiais que precisam ser analisados nas teses, dissertações, livros e artigos dos historiadores baianos que contribuíram consideravelmente para o desenvolvimento de uma historiografia sobre a guerra, bem como sua compreensão a nível regional, analisando suas consequências, vantagens e repercussão na sociedade baiana. De forma secundária, apontaremos novos caminhos que precisam ser trilhados para além do que fora escrito por estes historiadores, muitos pontos sobre a guerra ainda precisam ser aprofundados e revisitados. Precisamos encarála por diversos âmbitos, inclusive político, e a pesquisa em curso se destina a considerar a política que esteve envolta do “segundo grande conflito mundial” que marcou profundamente o século XX de incertezas, agonias, ânsias, emoções e ira. Palavras-chave: Bahia, balanço historiográfico, II Guerra Mundial.

Grazielle Hora da Paz Silva --grazi__paz@hotmail.com

O Cinema Chileno sobre a Ditadura Pinochet (1973-1974)

Este trabalho tem como objetivo analisar os discursos cinematográficos produzidos sobre o tema da ditadura Pinochet. “Machuca” (2004), do diretor Andrés Wood e “Dawson Ilha 10” (2009), do diretor Miguel Littín, esses filmes foram produzidos após o processo de abertura política no Chile. Os dois diretores, contemporâneos ao golpe, retrataram em suas películas os fatos históricos de uma forma bem parcial, representativa do pensamento oposicionista. Os seus filmes permitem estabelecer 268


uma discussão acerca da construção ideológica desse período, tentando trazer a ressignificação da memória do Chile sobre a imagem de seu ditador. Trazendo uma reflexão sobre quem foi Pinochet para o Chile, porque apesar de apresentarem seu governo como contribuinte principal para o “milagre econômico”, a história deste país fora edificada em cima de torturas, repressões e censuras. Pois esses pontos que muitas vezes foram tratados como positivos devem ser reavaliados, porque tentam esconder a violência contra aos direitos humanos que chilenos e estrangeiros sofreram nesses dias. E devem ser analisados que durante esses anos em que a ditadura militar esteve presente neste país, muitas foram as perdas nos campos artísticos e culturais, pois estes foram reprimidos, exilados e proibidos de produzirem suas artes em liberdade. Palavras-chave: Ditadura Militar, Chile, Cinema, Memória

Heber José Fernandes de Oliveira

Mestrando do Programa de Pós-Graduação em História Regional e Local (UNEB). Bolsista CAPES heberhistoriaufrb@yahoo.com.br

“Frentes” políticas e luta em defesa do nacionalismo ente os anos de 1950 e 1964: alguns exemplos locais e possíveis perspectivas de pesquisa na Bahia

Este texto, que é produto de reflexões surgidas no trabalho de pesquisa que venho desenvolvendo junto ao Programa de Pós Graduação em História Regional e Local da UNEB – CAMPUS V, pesquisa intitulada “O movimento de luta nacionalista em Cruz das Almas – Recôncavo Baiano (1950/1964)”, tem por objetivo, inicialmente, apresentar como o nacionalismo se torna uma bandeira defendida por uma parcela da sociedade brasileira a partir dos anos de 1950 até meados do ano de 1964, no momento em que ocorre o Golpe civil-militar que vem interromper a continuidade do processo democrático brasileiro organizado a partir da Constituição de 1946, além disso, pensar como naquele momento histórico tornou-se recorrente a formação de “frentes” políticas por todo o Brasil. A partir deste entendimento, será apontado alguns movimentos ocorridos na Bahia, que tinham o nacionalismo como referência ou bandeira de reivindicação, em especial a Frente de Mobilização Popular (FMP) da cidade de Una, Sul da Bahia, e a Frente Nacionalista de Cruz das Almas (FNCA), além de outros movimentos que possivelmente ocorreram em cidades do interior baiano e na capital. Neste sentido, o texto procura apresentar como a questão nacionalista era um debate existente em diferentes localidades na Bahia entre os anos de 1950 e 1964, assim como incentivar pesquisas que avaliem temáticas que se associavam com a luta em defesa do nacionalismo ocorrida naquele período, como, por exemplo, a luta anti-imperialista, a campanha em defesa do Petróleo, a luta em defesa das reformas de base, a questão da Campanha da Legalidade, entre outros, já que são poucos os trabalhos aqui na Bahia que trate de forma mais aprofundada sobres estas questões. Palavras-chave: nacionalismo, frentes políticas, Bahia. 269


Hebert Santos Oliveira

Graduado em História. Pós-graduando (Lato Sensu) em Educação, História e Sociedade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) hebertpao@hotmail.com

Disputa de hegemonia: Crise política, nacionalismo de esquerda e golpe civil-militar em Jacobina-Ba

Este trabalho pretende analisar os meandros da disputa pelo poder executivo jacobinense em outubro 1962. Esta data foi marcada pelas eleições municipais na qual ocorreu um dos mais destacados embates políticos do município, de um lado o candidato Dr. Ângelo Brandão, apoiado pelo Coronel Francisco Rocha Pires que estava no domínio político havia 30 anos e do outro a oposição marcada pela presença do candidato, o advogado Ivanilton Costa Santos. Nesse sentido, tentaremos entender à luz da teoria de Antonio Gramsci o processo de crise de hegemonia que emergiu nessa disputa. Além disso, estaremos discutindo toda a relação deste último e seus aliados com a esquerda nacionalista, que tinha no cenário nacional a figura do deputado federal Leonel Brizola até a consolidação do golpe civil-militar e como este foi recebido em Jacobina. Palavras-Chave: Disputa de hegemonia, nacionalismo de esquerda, golpe civil-militar em Jacobina.

José Vieira da Cruz

Doutor em História (UFBA).Professor da SEED, da SEMED e da UNIT. historiadorjvdc@gmail.com

“O destino acontece”: Celso de Carvalho e a política em Sergipe na segunda metade do século XX

A presente comunicação tem por objetivo discutir um dos discursos de Sebastião Celso de Carvalho, vice-governador do Estado de Sergipe, eleito em 1963, empossado como titular do executivo estadual após a deflagração do golpe civil-militar e a consequente deposição do governador João de Seixas Dória em abril de 1964. Este discurso, publicado sobre o título “O destino acontece”, revela, por um lado, uma espécie de autobiografia desse político nascido na cidade Simão Dias (SE), formado em direito em Salvador (BA) e, por outo lado, como ele começou sua vida política no período pós-ditadura do Estado Novo, participou dos debates nacionalistas na década de 1950 e dos debates reformistas do início dos anos de 1960. Além de fazer uma avaliação de sua atuação à frente do poder executivo de Sergipe entre abril de 1964 e janeiro de 1967. Essa discussão em termos metodológicos, além do exame do referido discurso, fundamenta-se na bibliografia já produzida e no exame das fontes escritas e orais disponíveis. Neste sentido, o estudo das mencionadas fontes e da bibliografia é articulado em termos teóricos para compreender o contexto político e social em que viveu e atuou Sebastião Celso de Carvalho em meio ao contexto política partidária nacional e seus desdobramentos em Sergipe na segunda metade do século XX. Desta forma, não se restringindo ao “mundo da pessoa” ou ao universo cotidiano 270


do indivíduo, essa comunicação aponta a importância do estudo biográfico para se compreender alguns dos meandros da história política e social do país e de seus desdobramentos nos estados, em particular no caso dessa pesquisa, no Estado de Sergipe. Palavras-chave: Celso de Carvalho, biográfia, Sergipe.

Lucas Porto Marchesini Torres

Mestrando do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA) lucaspmt@hotmail.com

Antônio Prestes de Paula - Trajetórias de um rebelde brasileiro (1945-1986)

Este texto pretende apresentar, em linhas gerais, a trajetória política de Antônio Prestes de Paula (1927–2004), sujeito de participação ativa em momentos de destacada importância na história do Brasil recente, em especial na segunda metade do século XX. Seu berço político foi o ocaso do Estado Novo varguista (1937-45), quando era membro da juventude do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e, como secundarista, integrante da União Nacional dos Estudantes (UNE). Em seguida, já como militar da Aeronáutica, seu nome aparece em destaque durante o movimento dos sargentos em Brasília (1961-63), sendo ele uma importante liderança da categoria. No período da ditadura civil-militar (1964-85), tomou parte em dois grupos que pregaram a luta armada: primeiro no Movimento de Ação Revolucionária (MAR) e depois no Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR). E, por fim, na redemocratização da década de 1980, quando militou no Partido dos Trabalhadores (PT). Nele se manteve até 1986, quando foi expulso após a descoberta de participações suas em assaltos a bancos. Para composição desta trajetória política ajudarão fontes diversas: um testemunho deixado pelo próprio Prestes de Paula, jornais que registraram episódios em que participou, um processo no qual foi réu em 1986, além de bibliografia e documentários afins. Assim, com foco sobre esse personagem, este texto pretende relacionar temas e conceitos que permearam sua militância e o contexto político que a envolve: democracia, autoritarismo, revolução, socialismo. Palavras-chave: trajetória, militância política, História das esquerdas.

Lucileide Costa Cardoso

Professora Doutora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) lucileidecardoso@terra.com.br

Daniel A. Reis Filho: Militância, Repressão e Exílio

O propósito do trabalho é demonstrar através da análise dos documentos de natureza repressiva, os elementos destacados pela Justiça Militar para compor o rastro de perseguições a estudantes, intelectuais entre outros setores sociais que ousaram desafiar a ditadura. As peças do quebra-cabeça revelam lacunas, exageros, mentiras, 271


mas também evidenciam o conhecimento sobre as organizações da esquerda armada e dos seus quadros militantes. O mapeamento completo, envolvendo as estratégias de combate foi acumulado pelos órgãos responsáveis pela repressão. Um dos alvos preferidos neste período foi o movimento estudantil, pois foi dele que surgiu a maioria dos quadros das organizações revolucionárias de esquerda, além de jornalistas e parlamentares também atingidos. Buscamos acompanhar, através desses registros, a trajetória do estudante, hoje historiador, Daniel A. Reis Filho, com o objetivo de particularizar a complexa trama que envolveu parte de uma geração que sonhou com a revolução, mas logo sentiu o desencanto da repressão. Os nove processos relativos a Daniel Aarão Reis Filho, arquivados pelo Projeto Brasil Nunca Mais e aqui analisados, abrangem um período marcado pela expansão dos organismos oficiais da polícia política da ditadura. Seguir os passos dos atingidos é tentar aprofundar uma compreensão de como agia a Justiça nesse período, utilizando-se de provas materiais produzidas pelos órgãos dominados por militares e civis defensores do regime. Palavras-chave: militância, repressão, exílio.

Maurício Quadros da Mota

Mestrando em História Social da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES mauriciohistoria@gmail.com

Democracia e abertura política: ACM e o Congresso da UNE (1979)

Esse trabalho tem o propósito de remontar a atmosfera política na Bahia durante o processo de reorganização da União Nacional dos Estudantes (UNE), com a realização do seu 31º Congresso Nacional em Salvador-BA nos dias 29 e 30 de maio de 1979. Pretendemos problematizar a figura do Antônio Carlos Magalhães (ACM) nesse contexto, ao qual exercia seu segundo mandato enquanto governador da Bahia (19791983). E também da atuação Movimento Estudantil baiano, ao perceber compreender suas experiências e estratégias políticas no sentido de construir os caminhos de luta pela redemocratização política no Brasil. Não obstante, problematizaremos as questões inerentes ao processo de negociação entre governador e os estudantes com fins da realização do Congresso da UNE na capital baiana. E o contexto político que forjaram ACM enquanto “patrono da UNE” e de “liderança democrática” dentro e fora do Estado. Nesse sentido, buscamos compreender os limites da “democracia” ao qual ACM se propunha, na medida em que seu poder político foi constituído durante um regime autoritário. Compreendendo suas reais pretensões frente ao processo transitório no Brasil com o fim do Regime Militar e a instituição do Estado democrático, refletindo a cerca do caráter ambíguo das suas ações a frente do poder político na Bahia. Palavras-chave: ACM, movimento estudantil, Salvador.

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Rafael Oliveira Fontes

Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) rafamfontes@gmail.com

Juventude, boemia e o torna-se intelectual e comunista na Bahia (1938-43)

Esta comunicação discute o tornar-se comunista e intelectual de um grupo de jovens baianos da década de 1930 e o processo de organização, por parte destes, da revista SEIVA (Salvador, 1938-42). Para este estudo, observamos como estes construíram suas sociabilidades na cidade de Salvador e ingressaram no Campo Intelectual Baiano. Desta maneira, os espaços sociais, as relações com o cotidiano da cidade, da escola, dos múltiplos lugares de sociabilidade que estes jovens podem ter vivido, foi, nesta pesquisa, um tema de relativa importância. Assim como também, as questões políticas institucionais que formavam o Campo Intelectual, seus Habitus e suas representações. Analisamos ainda, como as experiências das disputas ideológicas com o Fascismo e o Integralismo, assim como a organização de uma revista voltada para a discussão desses temas em plenos anos de guerra, forma decisivos para a consolidação destes jovens enquanto comunistas. Estes, que nos anos posteriores, assumiriam no PCB e em outras organizações de esquerda, papeis importantes enquanto ideólogos. Desta maneira, entendemos que foi no vivenciar das experiências de organizar uma revista cultural de cunho anti-integralista e o de manter a organização de um partido clandestino em plena ditadura varguista que o ideário marxista se consolidou nestes jovens, formando, assim, quadros importantes para a esquerda brasileira. Palavras-Chave: Bahia, História, intelectuais, partidos políticos.

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Simpósio Temático 27 POVOS TRADICIONAIS – HISTÓRIA E CULTURA Coordenadores: HÉLIO SOCHODOLAK

Professor do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO-PR) OSEIAS OLIVEIRA

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ebates públicos em torno dos direitos, do território e políticas públicas aos povos tradicionais tem demonstrado a importância da análise acadêmica na disseminação de conceitos e conhecimentos adequados à estes sujeitos históricos, os quais se tornaram muito mais evidenciados após as conquistas legislativas de 2004 (instituição da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável das Comunidades Tradicionais), 2006 (reafirmação da Comissão Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais - CNPCT) e 2007 (instituição da Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais). Afora estes marcos legislativos, o estudo dos povos tradicionais há anos tem sido objeto de reflexão das ciências humanas e sociais, de modo que podemos considerar a projeção de muitas frentes de estudo e perspectivas teóricas construídas diante da demanda e dos espaços sociais disponibilizados para a reflexão das populações tradicionais. A proposta deste simpósio temático consiste em congregar os estudos de pesquisadores envolvidos com as seguintes abordagens: conhecimento tradicional, territórios tradicionais, direito das populações tradicionais, relação com o meio ambiente, condições de especificidade e reprodução cultural, social e religiosa, políticas públicas para os povos tradicionais, exercício de práticas comunitárias e ancestrais, memória cultural, identidade racial e étnica relacionadas aos indígenas, quilombolas, agroextrativistas, seringueiros, quebradeiras de coco babaçu, pescadores artesanais, caiçaras, geraizeiros, varzanteiros, pantaneiros, ciganos, pomeranos, campeiros, caatingueiros, comunidades de terreiro, fundos de pasto, faxinalenses, ribeirinhos e demais grupos culturalmente diferenciados e que se reconheçam como tal.

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Alessandra Cristina Rosa --ale@city10.com.br

Quilombo de Santo Antônio do Morro Grande: a dinâmica na luta pela preservação identitária como grupo remanescente de quilombos

Embora não existam mais quilombos no Brasil, comunidades remanescentes se instalaram em vários estados do país, como em São Paulo, Rio de Janeiro, Pará, Maranhão, Pernambuco, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bahia, Sergipe, Goiás e Amapá. Estas comunidades detêm os Direitos Culturais Históricos, assegurados pelos artigos 215 e 216 da Constituição Federal que tratam das questões relativas à preservação dos valores culturais da população negra. Além disso, suas terras são consideradas Território Cultural Nacional. Contudo, ao conferir direitos territoriais aos remanescentes de quilombos que estejam ocupando suas terras, sendo-lhes garantida a titulação definitiva pelo Estado brasileiro no art. 68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), a Constituição brasileira de 1988, dá ao quilombo uma significação mais atualizada. Assim, a definição de quilombo, antes visto apenas como local de fuga/resistência, modificou-se no decorrer do tempo e, portanto, passa a estar relacionada à comunidades com ancestralidade negra que compartilham de um mesmo território e de uma mesma cultura e que se auto-definem como tal. A partir da Constituição de 1988 as chamadas Comunidades Quilombolas ganham um destaque maior no cenário nacional e aparece a necessidade de mapear e comprovar a existência de tais comunidades e, a seguir, a proposta de ampliar o leque de contemplados pela referida determinação, ensejaram o recrudescimento do interesse pelos quilombos e o debate sobre a sua essência. Ao direcionar nosso olhar, portanto, para algumas dessas comunidades é possível perceber o problema que enfrentam com as mudanças estruturais e institucionais, especificamente no que tange a questão identitária. A garantia dessa ligação com o passado evidencia-se dependendo da maneira como a comunidade utiliza a memória para preservar esse passado apagado, sua identidade fragmentada. A reivindicação pela legitimação da auto-identificação por remanescentes quilombolas é expressiva e, portanto, é imprescindível compreender como vivem alguns desses grupos na luta pela preservação de suas identidades, assim como buscar quais são os patrimônios culturais materiais e imateriais resguardados e utilizados pelos mesmos. Ao lançar um olhar mais atento para as análises teóricas desenvolvidas por diversos autores sobre o assunto e entender que as discussões circundantes aos quilombos, e consequentemente aos quilombolas, é crescente, tornam-se misteres análises que levem a uma compreensão mais meticulosa desses grupos. Neste sentido, é de extrema relevância buscar informações sobre a atual situação de uma Comunidade Remanescente de Quilombola objetivando-se a compreensão de algumas das questões que se dão no cerne dessas comunidades. 275


Ana Elizabeth Costa Gomes

Professora da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Mestre em Estudos Étnicos e Africanos pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) anaeliza_gomes@hotmail.com

Baía de Camamu: terras de quilombos, historicidade, movimentos, identidades e políticas públicas

O tema da emergência étnica no Brasil, mais precisamente na Baía de Camamu, no Estado da Bahia é um importante acontecimento no campo político, antropológico, cultural e histórico especialmente para as comunidades certificadas como quilombolas na Região do Baixo Sul, uma vez que há justamente um movimento de reconfiguração territorial, histórico e identitário em andamento. Essas comunidades que até então encontravam-se invisíveis passaram a integrar cada vez mais o próprio discurso dos órgãos oficiais e muitas delas estão se organizando e procurando reivindicar direitos preconizados na Constituição Federal.Embora muito se tenha escrito sobre a história do negro no Brasil, as transformações ocorridas na sociedade brasileira, principalmente após a promulgação da Constituição Federal de 1988, considerada a Constituição Cidadã, muitas mudanças ocorreram e a extensão da cidadania para todos os brasileiros e brasileiras integrou o texto da Carta Magna, sobretudo, os artigos relacionados à questão da igualdade. Impulsionados, sobretudo, pelas reivindicações dos próprios grupos que reivindicam direitos constitucionais, esse debate que ressoa no cenário nacional gira em torno, principalmente, no que diz respeito ao processo de reconhecimento das comunidades como remanescentes de quilombo. Isso nos leva a uma reflexão mais detida sobre a dimensão política adquirida pela expressão “comunidades remanescentes de quilombos”, para a compreensão do próprio conceito de quilombo na contemporaneidade. Palavras-chave: quilombolas, historicidade, identidades, políticas públicas.

Ana Paula Cruz --apbscunica@yahoo.com.br

Comunidade remanescente de quilombos Santiago do Iguape organização política e identidade

O presente trabalho concentra-se no estudo das experiências históricas da Comunidade Remanescente de Quilombos de Santiago do Iguape. Comunidade esta que situa-se na Bacia do Iguape. Na mesma localidade ainda encontramos outras comunidades de remanescentes de quilombos como a do Engenho da Ponte, Engenho Novo, Calolé, Caimbongo, Opalma, Campinas, Caonge, Calembá, Cabonha, Dendê, Embiara, São Francisco do Paraguaçu e Tombo. O conjunto das comunidades somam aproximadamente sete mil habitantes. Santiago do Iguape comunidade remanescente de quilombo foco dessa pesquisa localiza-se a 40 km do município de Cachoeira, no 276


Recôncavo da Bahia e a 110 km da cidade de Salvador. A comunidade fica as margens da Baia do Iguape, constituída por aproximadamente, 2.500 habitantes divididas em vários núcleos familiares que se interligam por laços de parentesco e afinidade. A comunidade é reconhecida pela Fundação Cultural Palmares como comunidade remanescente de quilombos e está em processo de lutas pela titulação das terras quilombolas. Buscaremos fazer uma análise da comunidade atentado brevemente para o processo de surgimento, a organização política da comunidade, lutas pela terra, bem como o processo de construção e consolidação de uma identidade quilombola na comunidade. O presente trabalho ajuda a cristalizar os estudos sobre o Recôncavo da Bahia, se debruçando sobre um objeto de estudo ainda não analisado pela perspectiva histórica, além de se abrir frente à problemática sobre o negro. Palavras-chave: comunidade, organização política, identidade.

Ancelmo Schörner

Professor do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO/PR). Pósdoutor em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) ancelmo.schorner@hotmail.com

Terra: posses e usos entre os zagrugari e faxinalenses

Esta comunicação é parte do Projeto Migrantes Eslavos no Sul do Paraná: relações familiares, ocupações e usos da terra – os faxinais e a zadruga, desenvolvido pelo autor, com a colaboração de José Adilçon Campigoto, entre 2010 e 2011. Ela destaca as relações que zadrugari e faxinalenses tinham e têm com a terra. A Zadruga se constituía de uma família de pessoas, isto é, marido, esposa e filhos, bem como todos aqueles que à ela eram incorporados. Seu número total variou entre 20 e 40 pessoas. Esta unidade tinha direitos comuns sobre os campos, pomares, vinhas e prados, mas também lojas que trabalham com linho e cânhamo. Alimentos, medicamentos, roupas, casas e móveis eram produzidos na Zadruga, sal e ferro eram produzidos fora. A Zadruga detinha a totalidade de suas propriedades como uma unidade: seus membros viviam na mesma casa, sob a direção de um chefe e trabalhavam a terra indivisa, garantindo a alimentação e reprodução de seus membros. Para manter a independência, uma quantidade considerável de pessoas era necessária para arar a terra com uma enxada e outras ferramentas, no trabalho com linho e lã, preparar as refeições, a construção de casas e cuidar dos rebanhos. Por sua vez, o Faxinal, tem no uso comum de parte das terras para a pecuária e na criação de animais à olta sua principal característica. Ele conjuga o uso da terra em comum com a utilização dos recursos naturais - pinhões, guabirobas e araçás, jabuticabas pitangas, com a manutenção da vida em comunidade e a preservação da memória comum. Os faxinalenses utilizam a área cultivada de forma coletiva, mesmo se o terreno é privado. O plantio pode acontecer de uma maneira particular por membros de uma família ou comunidade, ou seja, várias famílias se reuniram para um trabalho específico. 277


O Faxinal é marcado pela responsabilidade coletiva, principalmente para cercas e animais. Restringir a operação poderia comprometer o caráter de Faxinal. Assim, tanto zadruga, em Faxinal, os moradores são confrontados com as necessidades que passam pela defesa de hum território, mantendo uma expressão de estilo de vida, recursos vitais para a sobrevivência do grupo de identidade ou liberdade de ação. Palavras-chave: faxinais, Zadruga, povos Eslavos.

Cassi Ladi Reis Coutinho

Doutoranda em História na Universidade de Brasília (UnB). Bolsista da CAPES cassiladi@yahoo.com.br

“Perturbadores da ordem”: ciganos mero caso de polícia?

O objetivo deste artigo é precisar o panorama sobre a situação do cigano dentro da sociedade e os discursos produzidos sobre este grupo, enfatizado a escassez de documentos que abordem de forma mais profunda o percurso dos ciganos pelo Brasil. Não existe um número especifico que defina a quantidade de ciganos que entraram no Brasil e nem o número de etnias ciganas que vieram para este país. A documentação existente aponta para a chegada dos ciganos no Brasil, em 1574, e posteriormente este grupo aparece em documentos que relatam a sua deportação, já que Portugal os via como ociosos e prejudiciais. No século XIX os documentos apontam para perseguições impedindo as andanças dos ciganos e ordenando a sua prisão. Palavras-chave: ciganos, discriminação, estigma.

Erlon Fabio de Jesus Costa

Mestrando em Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável junto a Terras e Povos Indígenas pela Universidade de Brasília (UNB). Bolsista PIBID/UESC erlonfabiocosta@hotmail.com

Kaliana Oliveira da Hora

Graduada em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Bolsista do Projeto PIBID/UESC kalihistoria@bol.com.br

Costumes alimentares e vivências indígenas: traços de memória e história do povo Tupinambá de Olivença

A presente comunicação resulta da pesquisa “Da corrida de Tora ao Poranci: A história dos Tupinambá de Olivença” realizada durante o curso de Mestrado Profissional em Desenvolvimento Sustentável junto a povos e terras indígenas do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília CDS-UnB e da oficina “Comer para festar , plantar para curar” realizada pelos integrantes do Projeto Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência em História vinculado a Universidade Estadual de Santa Cruz UESC/CAPES na Escola Estadual Indígena Tupinambá de Olivença. Durante as atividades foram realizadas entrevistas com membros da 278


comunidade e catalogação de alimentos realizadas com estudantes indígenas durante a oficina, logo após a análise das fontes apontou bebidas, ervas e demais alimentos, sendo possível destacar a fabricação e consumo da giroba (bebida de mandioca fermentada), a prática centenária de produzir mandioca entre outros hábitos como integrantes da tradição deste grupo étnico. As fontes orais em confronto com relatos, registros iconográficos e bibliografias permitiram compreender que as permanências e transformações do ato de se alimentar e manipular estes alimentos participam da identidade, história e memória dos Tupinambá de Olivença, reafirmando sua presença no Sul da Bahia, território originário deste povo por meio de traços culturais. Palavras-chave: alimentos tradicionais; memória e identidade Tupinambá.

Ivaneide Almeida da Silva

Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) neidinha.almeida@gmail.com

Vale Verde: algumas histórias de uma comunidade

O texto é uma breve apresentação de uma pesquisa social sobre Vale Verde, uma comunidade rural, distrito de Porto Seguro, Bahia. A construção da história de Vale Verde está sustentada na lembrança dos seus moradores mais antigos, e quando é relembrada e contata, desperta a atenção de muitos na comunidade e todos fazem referência às suas lembranças individuais e coletivas sobre o lugar. O registro de experiências vividas pelos informantes constitui um instrumento fundamental para compreensão do passado recente. A partir das histórias individuais, pretende-se identificar as atividades socioeconômicas e culturais, compartilhadas pelos membros da comunidade, entre elas as festas religiosas, como a festa de São Sebastião, que é tradicional na comunidade.

Palavras-chave: Vale Verde, comunidade, história oral.

José Carlos Ferreira dos Santos Filho --- joseogrande@hotmail.com.com

Naquele tempo: História e memória de Santiago do Iguape, breves abordagens sobre uma comunidade remanescente de quilombo

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Jôsy Barcellos Miranda

Mestranda pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais pelo Centro de Artes Humanidades e Letras da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Bolsista CAPES josybarcellos@yahoo.com.br

“A Comunidade do Casarão do Engenho da Vitória”: o elo que dá unidade a comunidade do Engenho da Vitória sua identidade, memória e narrativas do mundo rural

Este artigo busca apresentar uma análise descritiva da relação entre a memória e a construção da identidade, no processo de formação, da “Comunidade do Casarão do Engenho da Vitória. A história do Casarão do Engenho da Vitória inicia-se em 1812 no período de produção da cana-de-açúcar, utilizando a mão-de-obra escrava, passando ao trabalho assalariado no final do século XIX e perpetua-se no inicio do século XX. Utilizando-se dos inventários post-mortem dos membros da família Moniz Barreto de Aragão última proprietária do imóvel, da metodologia da história oral que permite realizar tanto um inventario, da memória social, política e econômica desta localidade, como também nos aproximam um pouco mais da trajetória de vida e dos “modos de ocupação” das famílias desta localidade rural, em Cachoeira, BA. Palavras-chave: identidade, memória, comunidade.

Jucélia Bispo dos Santos --prof.jucelia@bol.com.br

Comunidades quilombolas do portal do sertão da Bahia: direito, território e identidade

Esse estudo pretende identificar o processo de resignificação quilombola dos sujeitos que habitam no território do Portal do Sertão da Bahia, através do debate que gira em torno das discussões para sistematização da aplicabilidade do artigo 68 da Constituição Federal de 1988. Vale ressaltar, que esse movimento de construção da identidade quilombola se apresenta intimamente relacionada ao território. Nota-se que nessas comunidades, a noção de território está ordenada a partir de práticas jurídicas surgidas no processo de ocupação da terra e num conjunto de relações sociais com outros sujeitos que não fazem do grupo, como os fazendeiros que vivem ao redor dessas comunidades, outras comunidades e com o Estado. Nos atuais dias, os sujeitos que habitam nas comunidades quilombolas do Portal do Sertão da Bahia estão dispostos a reaver parte de seu território: para isso, eles acionam o Artigo 68 da Constituição Federal, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Atualmente, os quilombolas se voltam para a luta pela permanência na terra e a auto-declaração desta comunidade como negra e quilombola em decorrência da aplicabilidade da Constituição federal de 1988. Ao se aproximar da questão supracitada, esse projeto objetivou a seguinte problemática: como ocorre o processo 280


de construção da identidade e territorialidade quilombola nas comunidades do Portal do Sertão da Bahia? Parte da hipótese que a construção da identidade quilombola está vinculada ao território. Ou seja, nota-se que na organização política interna dessas comunidades existem noções intrínsecas de direito, uma vez que os quilombolas buscam dialogar com o Estado a possibilidade de corrigir situações de desigualdades sócio-políticas que acompanham a história do grupo. Observa-se também que, nessas comunidades existe um “ordenamento jurídico local” define os sujeitos de direitos tradicionais por meio de vínculos de pertencimento ao grupo que são definidos através das relações que são estabelecidas com base na noção de território que é articulada com base na identidade étnica. Ou seja, esses sujeitos criam suas ordens jurídicas próprias, as quais estão ligadas à organização interna da comunidade. Desse modo, o ordenamento que estabelecido na escala local, determina, dentre outras questões, as formas de sanção do grupo, como as maneiras de inclusão e exclusão de pessoas. Com isso, o ordenamento determina o uso e os direitos, os quais decorrem da perspectiva da herança e consequentemente definem os sujeitos de direito.

Nijma de Oliveira Mahmud

Graduada em História pela Universidade Estadual do Maranhão (UEMA) nijmamahmud@yahoo.com.br

Resistência Cultural e Identidade: um olhar sobre a cultura material Krikati (Crẽchteh)

O presente artigo é composto pelo estudo do artesanato das índias da etnia Krikati resultado do trabalho de iniciação científica. A Terra Indígena Krikati (Põo Cati Ji) mais especificamente a Aldeia São José está localizada no município de Montes Altos - MA, a sudoeste do estado. O povo Krikati pertence à família Timbira, tendo como tronco linguístico - macro- Jê, sendo reconhecidos entre os outros povos Timbira como o Povo Guerreiro. A Aldeia São José hoje possui cerca de 1200 pessoas, informação fornecida por Maria Lúcia (Hacýc), 40 anos. A família que serviu de base para a pesquisa e consequentemente a elaboração do artigo é composta por: Raimundo (Cohpyhí) de 36 anos que também é o Cacique, Maria Lúcia (Hacýc) de 40 anos, Raymara (Jýilc) de 11 anos, Ranna (Jarcot) de 9 anos e Raylane (Pýhicýr) de 6 anos. O objetivo é compreender a importância do artesanato da mulher Krikati, como formador de identidade cultural na comunidade para perceber a interferência do não índio (cohpẽ) na cultura material Krikati através dos processos de Endoculturação e Transculturação e analisar a contribuição do artesanato e dos adereços como meios de resistência. Enfocando com isso os conceitos de identidade, cultura matéria, endoculturação e transculturação. Palavras-chave: resistência, cultura material, identidade.

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Silvana Aparecida Kowalski --kowalski@ig.com.br

Imigrantes ucranianos em Irati e suas tradições

O presente trabalho tem como objetivo descrever o processo histórico relacionado à presença dos imigrantes ucranianos na região de Irati-Pr, levando em consideração os motivos porque imigraram, as condições que enfrentavam na Europa e as que encontraram no Brasil precisamente na Região Sul, bem como a política de incentivo de imigração no país e o contexto econômico do momento. Serão consideradas as contribuições culturais que a população ucraniana propiciou na construção da sociedade iratiense. Em Irati, os ucranianos fazem-se presentes na história e cotidiano da cidade, na religião, nas comidas, nos costumes, comércio, agricultura, no folclore e outros. Dentre os quais a religião parece estar no centro das atenções, dotados de grande senso religioso, os ucranianos fazem da religião seu ponto de partida para outras atividades. Ao chegar em uma nova terra e com as dificuldades iniciais que as colônias proporcionavam, não encontraram outra saída a não ser apegar-se à religião, e através dela desenvolver a educação, o lazer e a organização social. O texto também tem como pretensão analisar as representações coletivas e/ou sociais e culturais que ainda permanecem. A sua contribuição para a vida econômica da região, ocupando e desbravando territórios e transformando o Paraná em uma grande potência agrícola, nos mostra que sem esses braços “laboriosos”, seria mais difícil. As dificuldades de instalação e comunicação, bem como as colônias que não prosperaram forçando-os a migrarem internamente, dificultaram ainda mais sua adaptação, mas que por outro lado favoreceu o desenvolvimento de cidades a exemplo de Irati, que os acolheu.

Simone Conceição Soares Dias

Mestranda no Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Especialista em História, Cultura Urbana e Memória pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) simone.monte@hotmail.com

Trajetória dos fundos de pasto na Bahia

O fundo de pasto é uma forma comunitária de utilizar a terra, sobretudo para o pastoreio extensivo de animais. Essa forma de utilização da terra é praticada principalmente na Região Nordeste da Bahia. A origem desse tipo de utilização da terra está relacionada a ocupação do sertão para criação extensiva de gado, através das sesmarias. Os moradores que foram se estabelecendo nessa região continuaram a utilizar a criação extensiva como fonte de sobrevivência, no entanto substituindo o gado, pela criação de caprinos e ovinos. Da década de 1960 em diante iniciaramse muitos conflitos entre os praticantes dessa forma comunitária de utilizar a terra e fazendeiros que, através de um processo conhecido regionalmente como “grilagem”, invadiram muitas dessas terras, o que gerou e gera até hoje intensos 282


embates entre esses e os trabalhadores pela garantia da posse dessas áreas. Diante disso os agricultores dos fundos de pasto, passaram a buscar apoio de diversas organizações que atuam em defesa dos trabalhadores rurais, como a Comissão Pastoral da Terra - CPT, e a Associação dos Advogados dos Trabalhadores Rurais - AATR, para conseguirem o reconhecimento jurídico para que a posse dessas áreas fosse concedida a estes trabalhadores através de Associações Agropastoris. Somente em 1989, após intensas mobilizações, ocupações sucessivas aos órgãos públicos, os trabalhadores das comunidades de fundo pasto, apoiados pelas diversas organizações que os representam, conseguiram finalmente o reconhecimento legal da posse comunitária da terra na Constituição Baiana. No entanto, embora haja o reconhecimento jurídico, o processo de regularização é bastante lento e muito burocrático, o que faz com que a emissão dos títulos de propriedade em favor das associações demore anos e anos. Para que essas comunidades, que foram reconhecidas como povos tradicionais em 2007, possam continuar existindo dignamente, é necessário uma articulação cada vez maior entre os praticantes do fundo de pasto, na busca conjunta por uma regularização mais ágil, políticas públicas ambientais, hídricas, educacionais, sociais e culturais que garantam as famílias sertanejas viverem dignamente na terra onde nasceram e sonham em ver seus descendentes crescerem e se multiplicarem, tendo seu “jeito” de utilizar a terra reconhecido e valorizado. Palavras-chave: fundo de pasto, conflito, regularização.

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Simpósio Temático 28 PROFESSORES DE HISTÓRIA: SABERES E PRÁTICAS DO ENSINO DE HISTÓRIA Coordenadores: CARLOS AUGUSTO LIMA FERREIRA

Professor Adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) // Doutor em Educação pela Universidade Autônoma de Barcelona calfferreira@gmail.com TATIANA POLLIANA PINTO DE LIMA

Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) // Doutoranda em Educação pela FACED/ Universidade Federal da Bahia (UFBA) // Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) tatyalima@yahoo.com

T

odo saber pressupõe um processo de aprendizagem e formação, visto que são temas afins, portanto, buscamos produzir uma reflexão sobre as constituições de saberes e de que modo eles contribuem para a formação e prática do professor de História. Assim, é fundamental discutirmos os saberes vivenciados pelos professores na sua prática docente buscando identificar os que são produzidos e articulados na prática pedagógica. Dessa forma, o processo de produção desses saberes e o processo de formação envolvem estudos sobre currículo, culturas, saberes e práticas educativas, cotidiano escolar, aspectos psicológicos dos processos de ensino e aprendizagem e da relação professor-aluno, linguagens, processos de leitura e de escrita, portanto, ensino e aprendizagem nas diferentes áreas do conhecimento e, em História em particular. Destarte, estaremos estabelecendo um diálogo estimulante com os participantes envolvidos com o ensino da História na educação básica e também com aqueles interessados pelos problemas de formação docente na área de História, a partir das articulações entre teoria e prática fazendo com que os professores consigam ver além dos hábitos e conceitos adquiridos com a experiência e a formação inicial, por meio da sistematização do que ocorre em sala de aula. Portanto, o presente Simpósio Temático busca analisar, refletir e debater a partir de nossas experiências contemporâneas de ensinar história onde construímos as práticas e narrativas diante das questões do nos284


so tempo que precisam ser entendidos no universo dos que freqüentam os lugares de formação de saberes. Almir Oliveira --almirfbo@yahoo.com.br

Novos lugares e novos olhares na formação do profissional de História

O presente trabalho tem por objetivo discutir a necessidade de novos olhares para a formação do profissional de História, principalmente pela constituição de novos lugares de atuação que exigem novas posturas. Nesse sentido utilizamo-nos de exemplos de atuação nesses novos lugares como a constituição de memoriais virtuais, assessorias a mídias ou a atuação em lugares já conhecidos pelo profissional de História como o museu, porém reestruturados e totalmente diferentes nesse inicio de século do papel desempenhado há alguns anos atrás. Podemos incluir ai também o patrimônio cultural ou até mesmo os arquivos que atualmente tem se constituído como centro de documentação. Cada vez mais ouvimos falar de uma série de locais que solicitam a presença de um profissional de História para a boa execução de suas tarefas. Solicitações e, por conseguinte atuações que não são tão novas assim, como a programas de televisão, realização de filmes e documentários, passando por algumas mais recentes como a própria atuação em relação ao patrimônio e aos museus, até as mais inovadoras como a atuação no ciberespaço. Essas solicitações ou cobranças, mesmo que algumas não se configurem como tão novas, precisam ser respondidas e os lugares de atuação profissional precisam ser preenchidos e nesse sentido é que observamos a necessidade de mudanças/incorporação dessas novas temáticas aos currículos de graduação dos cursos de História, seja por vezes como disciplinas que buscam discutir esses novos lugares e o papel a ser desempenhado por esse novo profissional da História (temos uma série de exemplos, em relação a essas disciplinas, tais como: Museologia, Patrimônio e Memória, Arquivística Histórica – UFRN, Arquivologia Histórica, Memória e Preservação do Patrimônio Histórico, Museologia e Educação Patrimonial, Museologia – UERN, para ficarmos apenas nas duas universidades públicas com cursos de História no RN), seja como práticas de estágios curriculares diluídos nos vários semestres que compõem o período de formação desse profissional.

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André Almeida Santos --germinal.historia@gmail.com

O processo de análise do continente africano através de múltiplas fontes: a experiência em sala de aula com a disciplina de História baseada na lei 10.639/2003

O presente trabalho constitui um relato de uma experiência pedagógica vivenciada no âmbito de uma escola pública municipal localizada no município de Teixeira de Freitas, extremo sul da Bahia, e teve como objetivo analisar os impactos do colonialismo e imperialismo europeu no continente africano por meio de fontes escritas, iconográficas e audiovisuais. O trabalho apresenta reflexões realizadas na disciplina de História, viabilizando a aplicabilidade da Lei 10.639/2003 na educação escolar. O estudo teve como fundamento basilar a construção de conhecimento sobre a temática através de uma pesquisa conjunta realizada entre docente e discentes. Para tanto, utilizou-se fontes documentais, midiáticas e didáticas, destacando de que forma esses materiais corroboram na criação de imagens do continente, dos povos e da realidade africana em uma perspectiva eurocêntrica e hegemônica, buscando desconstruir alguns “mitos” comumente associados à África como a de um continente homogêneo, atrasado, e que tem como marca a aceitação passiva da escravidão. Defende-se que a lei passa a ser um instrumento fundamental para ressignificar essas imagens através da educação. Entretanto, sua aplicabilidade real depende da preparação do professor para abordar a temática, para que a educação e o conhecimento possam possibilitar momentos de reflexão sobre a história e cultura dos povos africanos para além da visão européia, amplamente difundida nos materiais didáticos pedagógicos utilizados no ambiente escolar. Palavras-chave: ensino de História; experiência pedagógica; História e cultura africana.

Antônio Vilas Boas

Professor Auxiliar da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Licenciado em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Mestre em Educação e Contemporaneidade pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) vilasbencao@gmail.com

“Tudo como Dantes no quartel de Abrantes”: uma análise das práticas educativas no ensino de História

As práticas desenvolvidas em determinadas salas de aula, na disciplina História, contradizem totalmente com o atual cotidiano de transformações. O ensino continua sendo bancário, o livro didático ainda se constitui como único recurso e o professor é aquele personagem a quem devem ser devotadas as atenções.. Na maioria dos casos, vídeo, tevê, computador, data-show, etc., ainda são ignorados. Este texto, fruto das vivências com alunos de um curso de Licenciatura em 286


História, de uma instituição de nível superior do estado da Bahia, relata alguns momentos das práticas desenvolvidas pelos professores-estagiários nas salas de aulas. Depois de acompanharmos várias aulas dos futuros professores, foi possível perceber que “tudo continua como dantes, tal qual no quartel de Abrantes”. Palavras-chaves: ensino; aprendizagem; história;

Árison Rodrigo de Brito --arisonrb@yahoo.com.br

Uma imagem vale por mil palavras: uma experiência positiva do uso do cinema no ensino fundamental

O presente trabalho se trata da construção do projeto de pesquisa intitulado “CINEMA: um documento histórico, historiográfico e didático”. Aqui se encontra presente possíveis medidas para serem trabalhadas com alunos de escolas públicas da cidade do NatalRN.O estudo do tema em questão é justificado por ser extremamente atual, muito embora o apelo para o uso de fontes não-verbais nos conduza para um passado não muito recente, observe a afirmação, em meados do século XIX, do Fustel de Coulanges: “Onde o homem passou e deixou de sua vida e inteligência aí está a História.” Sabese que muitos são os profissionais de ensino de história, que têm feito usos, e alguns abusos, do cinema no transcurso do seu fazer histórico-pedagógico. Preocupar-se com os modos de fazer é uma das nossas preocupações. Estratégias teórico-metodológicas devem ser utilizadas de maneira que a película não seja enfadonho, ou mesmo mais um filme sem sentidos aos alunos e fracassado no processo de ensino-aprendizagem. Para fomentar tal discussão nos utilizamos de bibliografia especializada sobre o uso do cinema como ferramenta metodológica, textos de ensino de ensino de história e aporte teórico. Assim, Bittencourt (2006), Mocellin (2002) e Napolitano (2003), serão imprescindíveis para construir a racionalidade do debate proposto.

Aritana Oliveira

Graduanda em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista PIBEX/UEFS aritana.lima@yahoo.com.br

Ensino de História, formação de professores e transposição didática: aspectos de uma discussão

O presente trabalho discute algumas produções acerca do ensino de historia no Brasil realizadas nas últimas três décadas. A partir dos problemas levantados pelas produções científicas referentes à temática, buscarei analisar os percursos do Ensino de Historia enquanto disciplina escolar, enfatizando as práticas metodológicas de ensino (transposição didática) e a sua relação com a formação docente. Durante muito tempo as produções acerca do Ensino de Historia no Brasil se voltavam para as 287


relações políticas e ideológicas dentro da própria escola, deixando de lado os sujeitos e elementos envolvidos no processo de ensino aprendizagem e que compõem o cotidiano escolar. A partir da década de 1970, influenciadas pela Historia Cultural, são realizadas algumas produções com um foco na cultura escolar, demonstrando que esta é construída no ambiente escolar, a partir de uma teia de relações com outras culturas trazidas pelos diferentes sujeitos. No período militar o ensino de historia sofreu profundas alterações, provenientes do modelo de educação tecnicista implementado pelo Regime. A reabertura e as pressões exercidas pelas instituições relacionadas à produção científica e ao ensino geraram um ambiente propício para uma reformulação sistemática da educação no Brasil, dando origem à LDB / 96 e PCN /97. Os Parâmetros e as Diretrizes Curriculares Nacionais normatizaram, na década de 1990, um ensino que superou os modelos de ensino de historia realizados de modo factual e linear, a partir de reformulações curriculares na educação básica e nas IES. No entanto, para que o ensino de historia tenha um sentido real, ainda é necessário que seja realizado de modo crítico e reflexivo, a partir das representações dos próprios alunos e com a utilização dos mais diversos recursos, alcançando a multiplicidade de inteligências na sala de aula. Mas isso só é possível quando os professores contam com um processo formativo que lhe possa conferir as competências e habilidades necessárias para tal. Palavras-chave: ensino de historia, formação de professores, práticas de ensino.

Carlos Augusto Lima Ferreira

Professor Adjunto da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Doutor em Educação pela Universidade Autônoma de Barcelona calfferreira@gmail.com

Maria Antonieta de Campos Tourinho

Professora Associada da Universidade Federal da Bahia (UFBA). Doutora em Educação pela FACED/ Universidade Federal da Bahia (UFBA) tucatourinho@uol.com.br

Tatiana Polliana Pinto de Lima

Professora Assistente da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutoranda em Educação pela FACED/ Universidade Federal da Bahia (UFBA). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) tatyalima@yahoo.com

Um campo a ser explorado: a produção historiográfica em ensino de história na Bahia entre 1993-2007

Esta investigação situa-se no espaço interdisciplinar educação-história, território de fronteira, no qual se constituem, se produzem e se reproduzem o ensino e a aprendizagem em História como campo de pesquisa científica e disciplina escolar. Nesse sentido, visa enriquecer a pesquisa na área do Ensino de História, a partir de um trabalho interinstitucional, envolvendo professores e pesquisadores das 288


diferentes instituições baianas que têm essa área do conhecimento como objeto de pesquisa mas que, com suas concepções, práticas e histórias particulares pesquisam e ensinam na área de forma isolada e fragmentada. O projeto visou integrá-los de forma sistematizada, levantando, organizando e analisando a produção acadêmica sobre o ensino de História, buscando detectar as tendências, as atuais reflexões e o avanço do conhecimento científico na área, no período 1993-2007, articulandoas com a produção nacional e internacional. Para isto pesquisamos neste interim as produções nos cursos de graduação em História e em Pedagogia, em cursos de especialização nas áreas de História e Educação e em Programas de Pós-graduações em História e em Educação das universidades e faculdades baianas. Ao propormos esse estudo, queríamos não só compreender essa produção como também avaliar seus avanços e seus impactos, contribuindo para a formação teórica e epistemológica de professores e pesquisadores. No processo dessa pesquisa buscou-se, também, a preparação de pesquisadores de graduação e pós-graduação, consolidando, por meio de ações inter e multidisciplinares, grupos de pesquisa dos diferentes níveis de ensino. Palavras-chave: ensino de História, pesquisa, arquivos.

Camila Magalhães Góes

Mestranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Técnica em Assuntos Educacionais do Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia Baiano (IF Baiano) camilagoes1987@gmail.com

O ensino de História e o sujeito histórico absoluto

Este artigo consiste numa investigação sobre os sujeitos históricos presentes no Ensino de História. A partir dos pressupostos advindos da História Cultural e da Didática da História tenho como objetivo, realizar uma reflexão sobre as discussões empreendidas no campo teórico e pedagógico para o acolhimento dos múltiplos sujeitos históricos no Ensino de História. Proponho inicialmente o estudo do sujeito histórico absoluto em diferentes épocas e na escrita de diferentes autores, entrelaçando discursos, aparentemente distantes, e utilizando esta metodologia para uma visão mais ampla do tema. A compreensão do sujeito histórico exterior ao homem e/ou absoluto expressa uma lógica vinculada à ciência Histórica que emerge em certos períodos, com o objetivo de legitimar sua importância enquanto ciência e valorizar seu cunho pedagógico e regulador. Escritos de Voltaire, Condorcet e Kant descrevem um movimento ascendente da humanidade, liderada por grandes homens, na busca de um sentido para a História, em direção a um estado ideal. Neste momento de crise e crescimento, o estudo deste conceito histórico fundamental, presente nas produções historiográficas, livros didáticos, aulas de História e vivências cotidianas, representa para seu ensino, uma reflexão sobre suas grandes orientações e conceitos, que compõem os saberes históricos escolares e influenciam o ensino e aprendizagem na Educação Básica. Palavras-chave: ensino de história, sujeito histórico, historiografia. 289


Célia Santana Silva --celia.santana@hotmail.com

Ensino de História e EJA: algumas considerações

O presente trabalho apresenta algumas considerações acerca de uma pesquisa que vem sendo desenvolvida nos Colégios da Rede Estadual de Ensino em Eunápolis/ Bahia. A partir de entrevistas com professores de 03 escolas que oferecem a Educação de Jovens e Adultos, buscou-se conhecer, analisar e perceber a partir das reflexões sobre as complexidades e especificidades relativas ao ensino e aprendizagem no campo da História, como esses professores que atuam nesta modalidade de ensino, compreendem e manipulam os conceitos históricos? No segundo momento, buscamos analisar a relação entre as Orientações Curriculares para o Ensino Médio- Ciências Humanas e suas Tecnologias e os diálogos com o Projeto de Educação de Jovens e Adultos do Estado da Bahia que estão de acordo com a LDB, artigo 22: “A educação básica tem por finalidades desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos superiores”. Desse modo, voltamo-nos, para uma perspectiva de discutir o currículo dos Tempos Formativos, correspondentes ao Tempo de Aprender a Ser, Conviver e Fazer. Utilizando-se das categorias históricas: tempo histórico, trabalho, cidadania, conhecimento e poder, dentre outras, mas todas elas previamente elencadas no documento base da EJA. Constata-se que os docentes não articulam suas aulas à organização desses eixos, pois não entendem que na modalidade de Educação de Jovens e Adultos a perspectiva é de área de conhecimento e não mais a disciplina. Palavras-chave: orientações curriculares, diálogo, tempos formativos, eixos temáticos, formação docente.

Daniel Brito da Silva

Graduando em História (Plataforma Paulo Freire) pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Graduado em Pedagogia e especialista em Educação das Relações Étnico-Raciais e Gestão da Educação (UESC) dbsras@ig.com.br

A investigação-ação: mudança de paradigma na prática docente do ensino de História

O presente texto faz uma breve discussão acerca da utilização da investigação-ação educacional na práxis pedagógica no ensino de História, na tentativa de socializar as contribuições que a referida metodologia de ensino abre aqueles que pretendem desenvolver uma ação pedagógica comprometida com a formação de educandos críticos reflexivos e participantes na sociedade. Com efeito, nos interessa nesta comunicação, tão somente, refletir sobre os princípios metodológicos da investigaçãoação, bem como a relevância da mesma aos processos de ensino e aprendizagem, que tem como finalidade última a formação para o exercício da cidadania. Palavras-chave: investigação-ação, História e emancipação. 290


Dulcinea Cerqueira Coutinho Barros

Especialista em Metodologia do Ensino, Pesquisa e Extensão em Educação pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB) dulcercou@hotmail.com

Possibilidades de aplicação da lei 10.639/03: o resgate das lideranças negras locais

Incluir a História e Cultura Afro-brasileira e Africana no âmbito da sala de aula, contemplando o que preconiza a Lei 10.639/03, não tem sido uma tarefa fácil para nós educadores. Uma das explicações está na formação acadêmica puramente eurocêntrica que silenciou outros sujeitos, discursos e saberes e, hoje, os currículos escolares dos ensinos Fundamental e Médio refletem essa carência de uma abordagem efetiva acerca da História da África e das Culturas Afro-brasileiras. Uma saída para tentar superar tais lacunas pode estar em associar tópicos da História e Cultura Afro-brasileira e Africana à história local, como o proposto a alunos do 1º ano do Ensino Médio do Instituto de Educação Gastão Guimarães, em Feira de Santana. A experiência pedagógica objetivou conhecer as lideranças negras locais, partindo de pesquisa diagnóstica em bairros e distritos de nossa cidade. Durante a pesquisa foram entrevistadas e biografadas dezenove trajetórias individuais de luta de homens e mulheres que desenvolvem atividades de valorização da auto-estima negra ou buscam soluções para a situação de exclusão dos afrodescendentes em nossa cidade. Esse trabalho contribuiu, em primeira instância, para a formação de um sentimento de valorização do negro em suas múltiplas contribuições, aguçando entre os alunos um sentimento de pertença, mas também, permitiu a todos os envolvidos atuar como construtores de um saber histórico local ainda pouco explorado. Palavras-chave: ensino, afrodescendência, história local.

Edicarla dos Santos Marques

Professora da Secretaria de Educação do Estado da Bahia. Mestre em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) edistoria@yahoo.com.br

“Agora, a História é outra?” Notas sobre a prática docente e o ensino de História e cultura afro-brasileira e africana

Apresenta reflexões sobre a prática de professores/as da rede pública estadual da Bahia, no que se refere aos conteúdos e orientações propostas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. As análises compartilhadas são resultantes do acompanhamento teórico-metodológico a algumas escolas, oferecidas pela SEC, no ano de 2010. As considerações tecidas versam sobre os modos como os professores/as apropriam-se da Lei 10.639/03 e das Diretrizes em questão, ao propor reflexões sobre a nossa prática cotidiana referente aos 291


conteúdos, limites, metodologias e concepções de ensino nesta temática. Em quais dimensões podemos falar de elementos totalmente novos inseridos nestas culturas escolares, ou de que modo podemos nos referir a uma “outra” história ensinada. Palavras-chave: ensino de história, prática docente, Lei 10.639/03.

Eremita Tânia Silva da Paixão

Professora do Colégio Estadual Professor Edson Carneiro. Graduada em História pela UCSAL. minhapoesia@hotmail.com

Produção de objetos de aprendizagem para aulas de História: entre teoria e prática

O Presente trabalho é fruto de reflexões mantidas durante a produção de Objetos de Aprendizagem (OA) para o Instituto Anísio Teixeira (IAT), em 2010, onde atuei juntamente a uma equipe multidisciplinar na prestação de serviços de consultoria no curso construção de OA para o Ensino de História com vistas à formação de profissionais da educação. O objetivo desse trabalho é apresentar o percurso metodológico para construção dos OA, que hoje estão disponíveis no site do IAT, como ferramentas pedagógicas para o ensino de História unindo a teoria, a prática e as novas tecnologias da informação e comunicação (TIC) como recurso no processo de ensino e aprendizagem na construção de saberes em sala de aula. Palavras-chave: objetos de aprendizagem; ensino de História; tecnologia da informação.

Erivaldo Sales Nunes

Professor do Instituto Federal da Bahia (IFBA). Mestre em História e Teoria da Literatura Universidade Federal da Bahia (UFBA). valzeba@gmail.com

A (in)formação dos professores de ensino da História da África e da Cultura Afro-brasileira: Desconstruindo valores eurocêntricos

Em consonância com os projetos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa intitulado Linguagem e Representação, com atuação na linha de pesquisa Linguagem, Literatura e Africanidade, do Departamento de Ciências Humanas e Linguagens do Instituto Federal de Educação da Bahia-IFBA, a presente comunicação pretende atender algumas expectativas das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnicos-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. No Brasil, essa política educacional vem contando com a contribuição de algumas disciplinas, entre elas a história, a literatura, as artes, a geografia, a matemática e as ciências naturais, aplicadas sobretudo à educação fundamental e média. Analisar as propostas de intervenções produzidas por professores de ensino fundamental e médio no âmbito da educação brasileira, é o 292


objetivo central desta discussão acadêmica, numa abordagem dialógica centrada nos discursos eurocêntricos e africanistas. As propostas de intervenções sugeridas pelos professores em suas instâncias pedagógicas, são frutos de discursos e narrativas construídos em oficinas pedagógicas direcionadas aos professores da rede estadual e municipal de ensino, localizados nos municípios de Jacobina, Cruz das Almas e Xique-Xique/Ba. São municípios que estão inseridos em diferentes territórios de identidades, mas que apresentam em suas propostas de intervenções contradições, continuidades e resistências no ensino da história da áfrica e da cultura afro-brasileira. Palavras-chave: História, cultura Afro-brasileira, ensino de História.

Isa Beatriz Neves

Doutoranda do Programa de Pós-graduação em Educação e Contemporaneidade pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB) isabeatriz_@hotmail.com

Confluências entre jogos digitais e o ensino de História

Nas últimas três décadas, a História e os jogos digitais têm constituído frequentes diálogos, que, por um lado, geram elogios e, por outro, causam polêmicas a respeito dessa confluência dialética entre o passado e o presente. Pode-se afirmar que, os jogos digitais descobriram a história como fonte antes de a História os descobrir como linguagem para o processo de ensino-aprendizagem. Isso significa que acontecimentos e fatos históricos foram introduzidos no universo dos jogos digitais, antes mesmo de os docentes e pesquisadores pensarem em fomentar aprendizagens através deles nos últimos anos. Muito embora esses jogos já fizessem parte da vida de seus discentes, que recorrem a essa mídia quando podem: seja na sala de aula, escondido do docente, durante o intervalo das aulas (ou recreio), em casa trancado no quarto, na casa de amigos e parentes, ou nas Lan Houses. A partir dessa interlocução, os desenvolvedores de jogos digitais passaram a, cada vez mais, utilizar os acontecimentos e fatos históricos na composição de seus enredos e, em contrapartida, pesquisadores e professores de História começaram a considerá-los enquanto documentos historiográficos (ou fonte histórica) e como linguagem potencializadora do processo de ensino-aprendizagem. Dessa aproximação surgiram três perspectivas: História dos jogos digitais (os avanços técnico-científicos dos jogos digitais ao longo dos anos), História nos jogos digitais (jogos digitais como “produtores” de discurso histórico e “interprete” de acontecimentos passados) e Jogos digitais na História (jogos digitais vistos como fonte de pesquisa e linguagem para o ensino de História). No decorrer das páginas desse artigo abordarei justamente essa relação existente entre os jogos digitais e a história, dando enfoque para a sua utilização no processo de ensino aprendizagem. Palavras-chave: Jogos digitais, ensino-aprendizagem, História.

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Jackeline Silva Lopes

Técnica Universitária da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Mestre jack.lopes.lacerda@gmail.com

Fazendo História: a militância como traço identitário dos estudantes de História

O presente artigo é fruto da dissertação de Mestrado intitula “Na Sala de Espelhos: professores de História entre representações e identificação com a profissão (Feira de Santana, 1986-1991), defendida em 2010 para obtenção do título de Mestre em História junto à Universidade Estadual de Feira de Santana. Tem por objetivo analisar a militância como traço identitário dos estudantes da primeira turma da Licenciatura em História da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), que ingressou na Universidade em 1986 e graduou-se em 1991. Pretende-se discutir como esta identidade se construiu, considerando o contexto em que o curso foi criado (redemocratização no Brasil, reformas curriculares estaduais, substituição das Licenciaturas Curtas em Estudos Sociais pelas Licenciaturas Plenas em História), o modelo de currículo implantado (predominância de disciplinas bacharelescas e teóricas, em detrimento das pedagógicas) e como alguns docentes do curso se transformaram em exemplo de atuação profissional e política. Assim, será problematizado o papel da militância na formação dos licenciados em História oriundos da UEFS. Para tanto, temse como suporte documental o Projeto de Implantação do Curso de Licenciatura em História da UEFS (1990), o Relatório de Estágio da Primeira Turma deste curso (1993) e os depoimentos de dois professores e seis ex-alunos desta turma. Palavras-chave: Formação de Professor de História, Identidade Docente, Militância.

Marcelo Souza Oliveira --historiadormarcelo@bol.com.br

Aprendendo uma história que não está nos manuais didáticos: a pesquisa histórica como princípio educativo

O presente texto relata as minhas experiências como professor História, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Baiano, Campus Catu, quando fui desafiado por seus alunos a me tornar orientador de projetos de pesquisa em Iniciação Científica Júnior – IC Jr na área de Ciências Humanas. Assim, ao tempo em que apresento tais experiências, pretendo discutir acerca da prática de educação científica nas Ciências Humanas. O grupo desenvolveu-se a partir da iniciativa de discentes com afinidade para as ciências humanas e discute, periodicamente, além de textos muito além dos livros didáticos do Ensino Médio, textos oriundos das pesquisas desenvolvidas pelos próprios alunos sobre a História de Catu e da Bahia, dentro de um contexto histórico mais amplo. Os alunos desenvolvem projetos a partir de problemas historicamente determinados e utilizam-se das fontes coletadas dos arquivos públicos e privados, da 294


revisão bibliográfica pertinente e da teoria da história para construir suas reflexões e interpretações do passado. Assim, aplica-se a pesquisa em ciências humanas, também como processo educativo, utilizando da função social da ciência para promover o enlevo intelectual e a promoção da cidadania aos alunos e demonstrando que se pode romper o tabu de que se faz educação científica apenas nas ciências exatas ou naturais.

Maristela de Oliveira Reis

Especialista em História do Brasil. Pós-Graduada da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) mari0935@hotmail.com

Caminhos trilhados, avaliação de uma década (1997-2007): egressos do Curso de História da UESC

Neste texto, apresento os resultados da pesquisa realizada no curso de Especialização em História do Brasil(2010-2011), trabalhando com uma amostragem de 30 egressos do Curso de História da UESC, que no momento da pesquisa se encontravam, em sua maioria, atuando como docentes nas escolas de Itabuna. O objetivo do trabalho foi em conhecer o percurso profissional dos egressos após a sua formação como professores de História. Esta pesquisa foi realizada com os egressos do curso, perfazendo 10% do total dos graduados no período de uma década (1997-2007), ou seja, de 300 egressos licenciados. Acreditamos que conseguimos alcançar os resultados esperados, pois a pesquisa possibilitou traçar um perfil dos egressos no que tange à sua trajetória acadêmica anterior e que hoje encontram-se inseridos no mercado de trabalho. Palavras-chave: Ensino de História, formação de professores, egresso.

Nancy Rita Sento Sé de Assis

Professora Adjunta da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF) nrsentose@uol.com.br

Ensino fundamental: a pesquisa histórica como prática pedagógica

Embora entendida como um ato político, uma atividade que deriva de uma determinada postura política, a pesquisa – condição precípua da produção do conhecimento – apresenta-se como uma conhecida “estranha” das salas de aula do ensino fundamental e médio. Já em 2003, a pesquisadora e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal de Uberlândia, Selva Fonseca, fazia uma avaliação desalentadora da prática da pesquisa no Ensino Fundamental. Suas reflexões e provocações são pontos relevantes a partir dos quais são aqui formuladas as seguintes questões: que significado os professores emprestam à pesquisa histórica como prática pedagógica? Eles acreditam na efetividade da pesquisa como instrumento de aprendizagem? Por que a pesquisa é, ordinariamente, realizada como atividade extra295


classe, conhecida também como dever/tarefa de casa? Nessa comunicação, tendo como horizonte a defesa da legitimidade da pesquisa histórica nos diversos níveis de escolaridade e maturidade escolar – posto que “vivenciar a realidade, dialogando com ela crítica e criativamente, faz da pesquisa requisito de vida, progresso e cidadania”, conforme advogam Horn e Germinari –, discute-se a questão no intuito de demonstrar que a pesquisa histórica escolar só se realiza quando é acolhida pelos professores e definida no e pelo projeto político-pedagógico da escola e seus principais sujeitos. Palavras-chave: pesquisa, ensino fundamental, projeto pedagógico.

Núbia Américo de Jesus

Aluna-professora do curso de Licenciatura em História do Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica – PARFOR nubiajuazeiro@hotmail.com

Thaís dos Santos VinhasProfessora

Mestre do Curso de Licenciatura em História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) taivinhas@hotmail.com

O que vejo no espelho? Ensino de História, memória e identidade em uma comunidade remanescente quilombola

O presente trabalho apresenta algumas considerações iniciais sobre um projeto pedagógico que encontra-se em andamento, o qual tem como objetivo analisar possibilidades de contribuições do ensino de História para o processo de afirmação identitária afrobasileira de alunos de uma comunidade remanescente quilombola. O estudo teve como fundamento a pesquisa colaborativa, envolvendo professora e alunas de um curso de Licenciatura em História, visando realizar uma reflexão conjunta acerca da História pensada e ensinada, ressignificando práticas no processo formativo de professores da área e no ensino da disciplina no contexto escolar. O encaminhamento didático-metodológico das ações pedagógicas esteve centrado nas discussões conceituais sobre História, memória social e ensino, considerando seus reflexos na constituição da identidade de diferentes grupos socioculturais brasileiros. Utilizou-se o conhecimento histórico como ponto de partida para a reflexão sobre a presença e participação de africanos na construção da história nacional, buscando ressignificar a ampla difusão de imagens desses sujeitos correlacionadas apenas ao fenômeno da escravidão, fator que pode ter incidido em um processo gradual de negativação da negritude e afrodescendência no Brasil. A proposição desse projeto fundamenta-se na hipótese de que a educação, e especificamente a disciplina História, tem um relevante papel no processo de reconhecimento e valorização da história, cultura, memória e identidade afrobrasileira. Palavras-chave: ensino de história, identidade, afrodescendência.

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Sandra Regina Mendes

Professora Mestre da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) srmba@hotmail.com

O lugar da teoria e da prática nos cursos de licenciatura em História

Desde a década de 1980, um dos grandes desafios dos cursos de licenciatura é oferecer uma formação que trate como indissociável teoria e prática, superando a permanência da concepção de que estas são âmbitos diferenciados e hierarquizados, onde as disciplinas teóricas são valorizadas em detrimento das disciplinas de âmbito prático-pedagógico, tanto pelo corpo docente, discente, como pela própria estrutura acadêmica inserida nas universidades. Pimenta e Lima (2004) denunciam que na Resolução 2/2002 existem equívocos e retrocessos quando se estabelece a distribuição de 2.800 horas dos cursos de formação em horas práticas, horas de estágio, horas de aulas para os conteúdos de natureza científico-culturais. Isso porque a distribuição da carga horária terminou por manter a separação entre teoria e prática, “o fazer e o pensar”, o que ocasiona na permanência do desprestígio da área de formação de professores como uma área de conhecimento e a desvalorização dos professores como intelectuais em permanente formação. O presente trabalho surge de uma inquietação que ora me ocupa, enquanto professora de Estágio Supervisionado do curso de Licenciatura em História da UNEB (Universidade Estadual da Bahia), campus XVIII, em Eunápolis. Trata-se de uma reflexão ainda incipiente mas, que se pretende aprofundar, de forma que possa contribuir para o entendimento de como se processa a relação teoria e prática, buscando superar a dicotomia na formação dos professores de história egressos da UNEB em Eunápolis, viabilizando assim a efetivação professor-pesquisador. Palavras-chave: licenciatura, teoria, prática.

Saoara Barbosa Costa Sotera --saoarahistoriadora@yahoo.com.br

Oficina: uma proposta metodológica para o ensino de História

Este artigo busca apresentar a oficina como uma metodologia viável para o ensino de História nas escolas, sendo mais um instrumento metodológico, que busca a prática efetiva da relação ensino-aprendizagem. Aponta-se a oficina como uma metodologia capaz de romper com o paradigma de um ensino de História, ainda tradicional e conservador, pela sua dinâmica flexível, com a possibilidade de ser moldada de acordo as múltiplas realidades de diferentes escolas e materiais didáticos disponíveis. Assim, este trabalhado apontará, de modo breve, alguns fatores que contribuíram para que este modelo de ensino reprodutivista, acrítico e mantenedor de um discurso eurocêntrico e factual se consolidasse no espaço escolar, mantendo um método 297


conteudista, iniciando com a construção da identidade nacional ainda no século XIX com consagração de heróis e fatos importantes para o estudo da História, e como esta historiografia pouco contribui para o desenvolvimento crítico-reflexivo dos alunos. A oficina é aqui considerada uma prática preocupada com o desenvolvimento do aluno, pois, pode possibilitar a formação de seres sociais capazes de ser perceberem como sujeitos de sua própria história e do seu entorno. Assim, aponto as oficinas como prática metodológica capaz de contribuir para que a educação seja um instrumento formador de um pensamento autônomo, reflexivo e transformador.

Simone Dias Cerqueira de Oliveira

Mestre em Educação pela Universidade Federal de Sergipe (UFS) simonedias9@yahoo.com.br

Professores de História: o que pensam e falam sobre suas práticas de ensino

Este artigo objetiva compreender as implicações da formação e da experiência profissional para a prática pedagógica de professores de História da rede pública municipal de ensino de Feira de Santana – 5ª a 8ª séries – entre os anos de 1994 e 1999. Para tanto, faz uma retomada de aspectos histórico-contextuais sobre como a relação dos professores com o saber histórico ensinado foi/é concebida e, em seguida, seleciona e discute trechos dos depoimentos de três professores que viveram a escola no espaço/tempo em foco. Parte do pressuposto de que professores (e alunos) são sujeitos atuantes/ativos na construção de diferentes práticas pedagógicas, pertinentes ao saber escolar, que vai além da simplificação didática dos conteúdos. Verificouse que na prática de ensino do professor de História os saberes da formação inicial foram entrecruzados com saberes adquiridos nas trocas de experiências com outros professores, na autoformação e experiências continuadas na sala de aula, onde o livro didático é interpretado pelo professor que dá uma configuração própria a aula. Conclui que os professores buscam uma interação entre diferentes fontes e linguagens no ensino da disciplina; diálogos entre diferentes experiências humanas: social, econômica, política e cultural e construções de entendimentos das pessoas comuns como partícipes da História. A prática de suas experiências continuadas aparece como fator decisivo para que os professores exerçam sua relativa autonomia disciplinar na profissão, construindo assim um referencial para uma prática de ensino criativa e participativa. Palavras-chave: práticas de ensino de História, formação profissional, experiências continuadas.

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Simpósio Temático 29 PROPRIEDADE E USUFRUTO DA TERRA NO BRASIL COLONIAL E IMPERIAL: ATORES, DIREITOS E CONFLITOS Coordenadores: ANNA LÚCIA CÔGO MARCELO HENRIQUE DIAS

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os últimos trinta anos tem-se verificado uma significativa expansão dos estudos sobre o universo rural brasileiro no período colonial e imperial, sobretudo como decorrência do impacto que o trabalho de Maria Yedda Linhares tem exercido em sucessivas gerações de historiadores. Essa historiografia trouxe a lume uma sociedade policromática, cujas relações sociais e de poder perpassavam as instituições do Antigo Regime português, adaptadas ao mundo colonial, muitas das quais permanecendo pouco alteradas ao longo do Império ou parte daquele período, como o regime sesmarial, por exemplo. Tratava-se, pois, de uma sociedade eminentemente agrária, na qual a posse e a propriedade da terra em suas diferentes vertentes representavam um importante indicador de distinção social e sustentáculo de poder. Para a Bahia, particularmente, em relação aos temas do processo de ocupação territorial, da estrutura fundiária e dos mecanismos de acesso a terra, vem sendo produzidos estudos que esquadrinham seu vasto território em recortes regionais ou locais. Em vista disso, o objetivo desse Simpósio Temático é reunir historiadores que se dedicam à pesquisa da história rural do Brasil escravista, sobretudo aqueles que elegem como objeto de investigação, questões relacionadas à propriedade e ao usufruto da terra em suas variadas vertentes, constituindo o Simpósio num espaço de divulgação de resultados e troca de experiências. Serão privilegiados trabalhos que abordam a Bahia, abrindo espaço também para reflexões que permitam comparações com outros espaços rurais brasileiros. As temáticas de interesse do Simpósio passam pelas novas dimensões da percepção dos conflitos de terra e focam, dentre outras questões: a legitimidade do domínio da terra pela propriedade individual, familiar, coletiva ou outras modalidades de direito de usufruto, como o arrendamento e a enfiteuse; a sobreposição de direitos sobre um mesmo território e os conflitos inerentes a esta situação; a legislação e os costumes como instrumentos de luta dos menos favorecidos; as formas de ação política camponesa; o posicionamento do Estado na gestão dos conflitos em torno da terra; a formação 299


de territórios indígenas, negros e de outras sociedades tradicionais no período em foco, assim como seus legados contemporâneos e o enquadramento deste passado nos processos de demarcação de terras em curso. Espera-se, a partir desta ação, o estreitamento dos laços acadêmicos entre pesquisadores e grupos de pesquisa de diferentes instituições, a fim de fortalecer e dar visibilidade à história agrária produzida na Bahia. Alexandre Gonçalves do Bonfim

Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana alexandrebonfim90@gmail.com

(UEFS).Bolsista FAPESB

Singularidades das capitanias donatárias do Paraguassu e de Itaparica e seu papel no processo de formação territorial da Bahia

Este artigo tem como objetivo estudar a concessão das capitanias do Paraguassu e de Itaparica e Tamarandiva, feitas na segunda metade do século XVI, no entorno da Bahia de Todos os Santos. Estas duas donatarias possuíram, no seu processo de constituição, especificidades que as diferenciam daquelas doadas na década de 1530. Primeiro, por serem constituídas mais de duas décadas depois das primeiras doações, na qual estão inseridas as outras capitanias cuja base territorial forma hoje o Estado da Bahia, como as capitanias da Bahia de Todos os Santos, Porto Seguro e Ilhéus. Segundo, porque as duas donatarias em questão foram elevadas da condição de sesmarias à condição de capitanias, diferindo das doações da década de 1530, que já foram instituídas nesta condição. As fontes jurídico-administrativas, tais como as cartas de doação, forais, cartas de sesmarias estabelecidas na região, o Regimento de Tomé de Souza, entre outras, serão utilizadas para entender como e porque ocorreu o processo de elevação dessas duas sesmarias à condição de capitanias. Procurar-se-á, neste sentido, associar este fenômeno a três principais elementos: a montagem de uma estrutura administrativa mais complexa decorrente do advento do Governo Geral, a importância de uma elite colonial atrelada à administração na colônia e ao papel desempenhado por estas donatarias no processo de ocupação do território baiano. Palavras-chave: História Colonial, Paraguassu e Itaparica, Capitanias Hereditárias.

Ayalla Oliveira Silva --ayallasilva@yahoo.com.br

O Aldeamento São Pedro de Alcântara no contexto da ocupação territorial de Itabuna-Ba, décadas 1840-1850

No conjunto do conhecimento histórico relativo ao processo de ocupação territorial de Itabuna (BA), é recorrente o destaque dado à atuação do imigrante sergipano como 300


“desbravador e fundador da cidade”, e onde também, em contrapartida, o elemento indígena é descrito como entrave à civilização e ao progresso regional. A partir dessas assertivas “generalizantes”, a presente pesquisa objetiva colocar em evidência certas especificidades deste processo, com destaque para a atuação do aldeamento São Pedro de Alcântara (Aldeamento de Ferradas) na viabilização efetiva da ocupação daqueles territórios no decorrer do século XIX, quando o mesmo teria exercido papel estratégico na promoção da pacificação de índios Botocudos, Camacans e Pataxós, os quais, até meados do Oitocentos, apresentou forte resistência ao avanço do processo colonizador naquela área. Nesta perspectiva, a instalação e manutenção do aldeamento São Pedro de Alcântara veio de encontro ao interesse provincial de promover o povoamento naquela área, servindo, concomitantemente, como uma espécie de garantia dos esforços empreendidos pelo governo na conservação e abertura da estrada ligando a Vila de Ilhéus à Vila Imperial de Vitória da Conquista. Tais questões serão aqui abordadas com base na pesquisa e no tratamento do leque de fontes oficias consultadas no Arquivo Público do Estado da Bahia. Palavras-chave: ocupação territorial, século XIX, Itabuna (BA), Aldeamento de Ferradas, fontes oficiais.

Daniel Mauro Souza Lemos Mestrando PRODEMA – UESC. Bolsista CAPES dmhistoria@gmail.com

A ciência do cacau: análise dos escritos de Manoel Ferreira da Câmara da cultura que modificou a economia, a sociedade e a natureza do Litoral Sul da Bahia

O presente trabalho pretende fazer uma reconstituição histórica do desenvolvimento das técnicas agrícolas que envolveram a preparação do terreno e o plantio do cacau ainda no século XVIII, no litoral sul da Bahia. Nesse período um funcionário da Coroa Portuguesa fez um estudo que visava o desenvolvimento de novas culturas agrícolas úteis ao Estado, e que estivessem opostas à degradação das matas e à cultura ociosa da mandioca. O cacau, então, aparece como uma alternativa ao plano de Manoel Ferreira da Câmara de levar aos agricultores dessa região o modelo pombalino de agricultura ilustrada, produtivista e científica. Na memória intitulada Ensaio de Descrição Física, e Econômica da Comarca dos Ilhéus na América de 1789. A visão desse funcionário nos remete a algumas ideias do que chamamos hoje de desenvolvimento sustentável. Esse resgate empodera um modelo atual de produção agrícola, que leva em conta o equilíbrio entre economia, sociedade e natureza. A pesquisa está sendo desenvolvida junto ao Mestrado de Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente, a Biblioteca do Centro de Pesquisa do Cacau na CEPLAC, que conta com uma grande quantidade de títulos (folhetos, revistas, jornais e livros) nacionais e internacionais relacionados à cultura do cacau no Brasil e no 301


mundo; assim como o Museu do Cacau sob a administração do CEDOC-UESC. Palavras-chave: cacauicultura, meio ambiente, conservacionismo.

Elielma Barbosa Lisboa

Graduanda em História pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista PICIN elielma.lisboa@hotmail.com

Relações de poder: a administração da Capitania da Baía de Todos os Santos sob Sergipe Del Rey, nos setecentos

Este presente artigo objetiva através das análises das fontes colhidas no Projeto Resgate, apontar aspectos das relações administrativas e econômicas entre as duas capitanias, Para tanto fazemos usos das cartas patentes daquele período e diversas outras petições pelos cidadãos de ambas as capitanias, nosso foco está em relacionar as referidas fontes e bibliografias para a fundamentalizaçao teórica do conteúdo. Nossas indagações de viés econômico partem de alguns questionamentos: como era a produção naquele período, qual era a destinação de produtos como o fumo, o açúcar, a farinha, o gado e sob qual tutela se encontravam esses cultivos. Nesta relação de produções se encontram as tramas de grandes embates políticos, entre a Capitania da Bahia e a de Pernambuco, por exemplo, em relação à cobrança de impostos e outras determinações políticas a respeito de Sergipe Del Rey e a posse de terras. Neste sentido nos indagamos: afinal qual é o ponto principal do interesse da Bahia em manter subordinada aquela capitania e como isso se deu? Revisamos ainda como o grande interesse da Bahia nesta capitania se justificava devido a forte produção e manutenção do status com a qual Sergipe a permitia por meio da produção que é direcionada para tutela da mesma. Palavras-chave: Sergipe Del Rey, economia, administração.

Idelma Aparecida Ferreira Novais

Doutoranda em História Econômica pela Universidade de São Paulo (USP). Bolsista CNPq. Mestre pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) idelmafn@yahoo.com.br

A Mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia (1751-1808)

O objetivo dessa comunicação é abordar a criação e funcionamento da mesa de Inspeção do Açúcar e Tabaco da Bahia de 1751, ano de sua criação, até 1808, quando ocorreu a abertura dos Portos brasileiros ao comércio internacional. Analisaremos as políticas adotadas pelo Marques de Pombal, orientadas para a revitalização do comércio português na segunda metade do século XVIII, tendo como resultado uma série de medidas conhecidas como Reformas Pombalinas. Dessas reformas, merece destaque a Mesa de Inspeção, criadas em algumas capitanias como Pernambuco, Maranhão, Rio de Janeiro e Bahia. Era um órgão administrativo e centralizador, que constituiu num importante instrumento da política mercantilista da Coroa para um 302


maior controle sobre a produção e comércio dos gêneros coloniais como a açúcar e o tabaco. A criação da Mesa de Inspeção estava regulamentada tanto pelo seu próprio Regimento de 1º de abril de 1751 como também pelo novo Regimento da Alfândega do Tabaco de 16 de janeiro de 1751 além de ser amparado por decretos e alvarás aprovados entre os meses de janeiro a agosto de 1751. Esses alvarás e decretos eram aprovados como uma forma de amparar os regimentos da casa de inspeção como da alfândega do tabaco e auxiliar na administração e comércio dos produtos coloniais. Palavras-chave: colônia, administração, economia, inspeção.

Márcio Xavier Corrêa

Mestrando do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em História da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Bolsista FAPEMIG. marcioxcorrea@yahoo.com.br

Produção agrícola e comércio nas Minas Gerais – Década de 1820

Pretende-se a sistematização de dados em busca de um dimensionamento da comercialização de produtos agrícolas com base nos registros de exportação da província por meio de procedimento comparativo (identificação e quantificação) cujos resultados são expressos por meio de tabelas. Infere-se a diversidade da produção agrícola mineira e apropriação econômica do espaço de floresta em um período que antecede o desenvolvimento da cafeicultura no leste de minas gerais: fumo, algodão (manufaturado), marmelo, café, animais (gado de corte e leiteiro, suínos). Os resultados são indicativos da atividade agrícola e manufatureira de algodão presente na porção leste da província, bem como da atividade comercial exercida pelos tropeiros no abastecimento do Rio de Janeiro. Palavras-chave: agricultura, comércio, Minas Gerais.

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Simpósio Temático 30 QUOTIDIANO, MEMÓRIA E HISTÓRIA DE POPULAÇÕES LITORÂNEAS E RIBEIRINHAS DO BRASIL Coordenadores: CRISTIANO WELLINGTON NOBERTO RAMALHO

Wellington Castelluci Júnior

Professor Adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) / Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP) wcastellucci@yahoo.com.br

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ste simpósio temático tem o objetivo de debater, acumular conhecimentos e promover uma maior integração entre pesquisadores que lidam com temáticas relacionadas à vida de populações que habitam regiões próximas ao mar ou a rios. Tem sido comum na academia uma concepção de cultura pensada enquanto estágio de um progresso e civilização, e daí decorre uma suposição de que as populações litorâneas e ribeirinhas pertenceriam ao mundo das tradições rurais, em detrimento de uma concepção que privilegiaria as formações urbano-industriais. No entanto, estas populações litorâneas, ao lidarem no seu cotidiano com situações de trabalho, cultura, lazer, indicam redes de sociabilidade e vivências urbanas e rurais. Assim, deslocam o sentido ainda presente, em estudos sociológicos, de que as atividades dessas populações litorâneas e ribeirinhas pertenceriam ainda ao mundo rural, tradicional, no sentido de desorganizado, primitivo, sem alterações profundas de seus modos de vida e trabalho. Alguns estudos, embora sejam importantes reflexões sobre as atividades das populações litorâneas e ribeirinhas, insistem na perpetuação de um modo de vida “tradicional”, indicando que tais atividades não seriam próprias de um capitalismo moderno. Nesse sentido, ratificam uma visão bucólica e mesmo primitiva das populações litorâneas e ribeirinhas. Nos últimos anos, porém, vimos que pesquisadores das áreas de humanidades, seja na História, na Sociologia e na Antropologia, vêm dedicando suas pesquisas com vistas à melhor conhecer a realidade, as condições de vida, a religiosidade, a disciplina do trabalho, as festas, as normas de conduta, os costumes e as múltiplas formas de resistência dessas populações que no mundo contemporâneo vêm sofrendo processos de expropriação e outros tipos de agressões causados pelo poder avassalador das urbanizações de áreas 304


tradicionalmente por elas ocupadas. Ao empreendermos uma perspectiva que incorpora esses sujeitos históricos como atuantes no processo de intervenção e transformação do meio em que vivem, estamos chamando-os para compartilharem suas experiências, formas de luta e todas as formas possíveis de manifestação da sua cultura material e imaterial. Isso requer uma discussão acerca de métodos e fontes utilizadas na pesquisa em História e nas Ciências Humanas. Desse modo, o Simpósio tem também como objetivo, estabelecer um profícuo debate acerca de questões relacionadas às diferentes fontes e documentos escrutinados por historiadores, antropólogos, sociólogos e demais pesquisadores, assim como os métodos empreendidos para alcançarem os objetivos estabelecidos em seus projetos. Assim, será importante a organização deste simpósio para a troca de experiências entre pesquisadores que lidam com essa temática. Aparecido Pereira --apcmocmg@gmail.com Rebelião barranqueira no Sertão do São Francisco, Minas Gerais - 1736

... o ouro era a montes, mas também as mortes a chumbo (...) eram muitas, todos os dias. Notícias do que ouvi sobre o princípio destas Minas. Códice Costa Matoso. Escreveu o historiador Diogo de Vasconcelos em obra considerada fundadora da historiografia mineira que as Minas não tiveram infância, por terem nascido como a deusa Atenas, já feitas e armadas. De sertão inóspito a joia preciosa do Brasil, as origens da capitania de Minas Gerais remontam a um tempo em que rebeliões e tantas outras formas de instabilidade social pareciam desenhar a imagem perturbadora de uma região apartada do império governada pelo instinto das paixões. Passados quinze anos da oficialização dos descobertos auríferos, os arraiais mineiros e adjacências concentravam um contingente populacional estimado entre 30 a 50 mil pessoas das mais variadas estirpes – “homens e mulheres, moços e velhos, pobres e ricos, nobres e plebeus, seculares e clérigos...” – vindas das mais diversas regiões do Brasil e de Portugal. As autoridades e cronistas coloniais contemporâneos assinalavam com perplexidade o caos que se transformaram as minas. Sem estabelecer um governo político forte o suficiente para disciplinar a sociedade mineradora, o governo metropolitano parecia deixar a vida ali transcorrer como se todos tivessem retornado ao estado de natureza.

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Cristiane Aparecida Nunes Oliveira

Professora da rede estadual de Minas Gerais. Especialista em História do Brasil pela Unimontes. cristiane.nunes.oliveira@gmail.com

Cotidiano e trabalho dos remeiros do médio São Francisco em Minas Gerais na primeira metade do século XX

O cotidiano dos remeiros do rio São Francisco começou a passar por transformações significativas com a inserção da navegação a vapor no trecho médio do rio entre Minas Gerais e Bahia a partir do início do século XX. Entendidos como sinal de progresso e civilização, os gaiolas imprimiram novos elementos às comunidades barranqueiras, e nesse contexto, os remeiros passaram a ser vistos com mais frequência como sujeitos marginais. A partir de estudos relacionados ao cotidiano do trabalho dos remeiros percebe-se a necessidade de resgatar os aspectos que dizem respeito ao dia a dia destes trabalhadores e a forma pela qual eles se viam e também como eram vistos na sociedade que estavam inseridos. Sendo assim, este trabalho pretende abordar aspectos identitários que emergem da memória destes homens, que por muitos anos ocuparam-se do manejo do varejão ou varas na movimentação de grandes barcas pelo rio São Francisco. Palavras- chave: cotidiano, identidade, remeiros.

Djaneide Silva Argolo

Professora Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Doutoranda da Universidade Nacional de Rosário (UNR - Argentina) djaneideargolo@hotmail.com

Relações sócio/comportamentais na Baía de Camamu e a inserção da atividade turística

Este artigo tem como objetivo compreender o processo de ressignificação socioespacial da Baía de Camamu – Bahia – Brasil, através da inserção da atividade turística, a fim de apresentar estratégias para o planejamento sustentável do turismo. Entende-se que o turismo, como atividade econômica e como fenômeno social, aporta impactos sociais, culturais e ambientais, negativos e/ou positivos (BOMFIM,2006; DIAS;2003;YAZIGI, 2008). Nessa perspectiva, entender a percepção dos atores principais, sobre a produção do lugar turístico, a Baía de Camamu é buscar pistas que possam permitir ao planejamento sustentável do turismo. Para tal, utiliza-se nesse estudo uma abordagem metodológica qualitativa/interpretativa. Os resultados apontam que a ressignificação do espaço da Baía de Camamu, pelos pescadores, cabaneiros e feirantes, passa pela percepção afetiva dos mesmos, na medida em que as transformações nas dimensões ambientais, sociais e culturais envolvem uma relação de alteridade entre esses sujeitos e os visitantes. Nesse sentido, um planejamento participativo pode direcionar ações para uma sustentabilidade da atividade turística. Por fim, destacamos que este estudo integra nosso doutoramento em Humanidades 306


e Artes, com ênfase em Educação, na Universidade Nacional de Rosário (Argentina). Palavras-chave: Baía de Camamu, turismo, sustentabilidade, percepção.

Edinelia Maria Oliveira Souza

Professora da Universidade Estadual da Bahia (UNEB). Doutora em História pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) edusouza7@hotmail.com

Egressos do cativeiro em Nazaré das Farinhas: uma discussão sobre legitimidade e ilegitimidade nos laços familiares

Este texto propõe uma discussão sobre os níveis de legitimidade e ilegitimidade na composição das famílias egressas do cativeiro ou de populações de cor que habitavam a cidade portuária de Nazaré das Farinhas, no Recôncavo Sul da Bahia, entre o final do século XIX e o início do século XX. As fontes utilizadas para essa análise são os registros de batismo e óbito, além de processos criminais de defloramento. O entrelaçamento de tais fontes tem permitido alcançar padrões familiares pautados pela condição de ilegitimidade, notadamente a partir da significativa presença de mães solteiras ou de filhos(as) naturais que, naquela localidade marcada pela contiguidade entre o rural e o urbano, constituíam diversificadas formas de sobrevivência e de inserção social. Sobretudo, através da análise dos processos criminais, tornou-se possível identificar tramas, sociabilidades e hierarquias constituídas em arranjos de famílias que envolviam os ex-escravos e seus descendentes no contexto do pós-abolição na Bahia. Certamente por ser um município de grande tradição da mão-de-obra escrava no sul do Recôncavo, Nazaré das Farinhas apresentou um acentuado número de mulheres negras e mestiças solteiras e de parcos recursos que, mantendo ou não relações de mancebia ou concubinato, enfrentavam cotidianamente as mais diversas dificuldades para criar seus filhos. Palavras-chave: pós-abolição, família, legitimidade.

Fabiana de Santana Andrade --fabyandrade27@gmail.com

Nas coroas, nos mangues e na maré: As vivências das pescadoras do São Miguel e Teotônio Vilela em Ilhéus-BA (1980-2007)

Nesse artigo destaco as experiências de vida e trabalho das pescadoras e pescadores que fazem parte das comunidades do São Miguel e Teotônio Vilela. A cidade possui uma extensa área de manguezais e rios e um número significativo de pessoas que sobrevivem da pesca artesanal, marítima e de águas litorâneas. Nas coroas, nos mangues e nas beiras da maré na cidade de Ilhéus é comum a cena de uma mulher 307


pescando e puxando rede. Essa história é contada pelas mulheres em seus depoimentos e são utilizadas também algumas fontes escritas: como atas e jornais da região. As pescadoras em Ilhéu trabalham nos rios ou no mar, pegam o peixe, o siri, o aratu, a ostra; e adentram nos mangues e corais para catar o sururu, o muapen, e o caranguejo. A cidade, localizada no sul da Bahia, possui cerca de 20 comunidades pesqueiras, destacando-se as do São Miguel, Mascote, Rio Pardo, Itajuípe, Itapé, Rio Cachoeira, Banco da Vitória, Salobrinho, Lagoa Encantada, Iguape, Teotônio Vilela, Vila Olímpia, Castelo Novo. Os principais locais de pesca podem ser localizados na barra de Ilhéus, na costa, e nas lagoas e rios internos: Cachoeira, Almada, e Lagoa Encantada. Palavras-chave: mulheres, pescadoras artesanais, experiências.

Gisely Nogueira Barreto

Mestranda da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Bolsista CAPES giselynb@hotmail.com

Do Campo ao Porto: escravos nascidos no Brasil e desembarcados de portos africanos entre o mundo urbano e rural em Nazareth, 1831-1850

O presente artigo apresenta dados referentes à pesquisa que estou desenvolvendo para a construção da dissertação. Este trabalho pretende expor elementos que caracterize a população da Vila de Nossa Senhora de Nazareth para compreender a dinâmica dos escravizados na realização de suas atividades cotidianas. Encontrando-se entre o mundo rural e urbano muitos escravos viveram ás margens do Rio Jaguaripe, ou trafegaram através do mesmo rio, visto que Nazareth era uma Vila portuária, produtora de bens de consumo e de importação, por isso havia uma visível interlocução entre o campo e a sede e possivelmente com várias outras cidades e povoados circunvizinhos. A presente pesquisa é uma contribuição para pensar numa região do Recôncavo que é tão carente de estudo.

Palavra chaves: escravidão, cotidiano, trabalho. Leila Maria Prates Teixeira

Professora da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Mestre em História Regional e Local PPGHIS/UNEB lmprates@hotmail.com

Cultura, tradição e identidade em comunidade ribeirinha do São Francisco

O presente texto pretende apresentar o papel das representações culturais enquanto contribuinte no processo de constituição identitária da comunidade remanescente quilombola de Tomé Nunes/BA. Para atingir este objetivo optouse pela abordagem qualitativa, a partir da utilização dos procedimentos da fonte 308


oral e análise bibliográfica. No que concerne às questões culturais e à lógica do autorreconhecimento como comunidade quilombola, identificou-se influências externas (agentes da Pastoral, políticos locais) na compreensão dos moradores dessa antiga comunidade do Médio São Francisco. A partir das entrevistas é possível observar uma cumplicidade entre moradores, de maneira geral, e as mulheres. Este fator vem suscitando significativos benefícios sociais para o grupo citado, sendo inclusive relatados com orgulho pelos habitantes e agentes pastorais ligados ao povoado. Este prestígio feminino pode ser observado pela sua marcante participação nas questões políticas, fazendo-se continuamente presentes nas reuniões que pretendem melhorias para a comunidade e, sua regularidade no grupo que preside a Associação de Moradores. Ainda foi possível reconhecer que esta comunidade possui representações culturais diferenciadas, tais como: o singular sincretismo religioso (terreiro ou casa de orações), festejos populares (como a folia de reis) e danças (como o boi girá); considerando-se inclusive que estas características compõem parte importante da individualidade deste agrupamento ribeirinho negro quilombola. Palavras-chave: Cultura, religiosidade, Identidade.

Luiz Henrique dos Santos Blume

Professor da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Doutor em História Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) luizblume@yahoo.com.br

“Porque eu não vou assassinar a minha renda, não é?” Tradições da pesca artesanal, sustentabilidade e pressões em Ilhéus, BA, 1960-2008

Esta comunicação traz narrativas orais de trabalhadoras da pesca – marisqueiras – em suas lutas pela manutenção das artes da pesca tradicionais em Ilhéus, Bahia, no período de 1960 a 2008. As narrativas nos trazem noções de ecologia e sustentabilidade constituídas na sua experiência e cultura. As marisqueiras sabem da importância da preservação da biodiversidade para a manutenção da pesca artesanal, praticada utilizando-se de apetrechos fabricados por elas mesmas, com material e iscas encontrados no próprio ambiente dos mangues, rios e matas próximas aos lugares de pesca. A pesca artesanal está sendo pressionada pela degradação ambiental, pela sobrepesca realizada pelos “barcos de arrasto” (barcos com rede) e o aumento da quantidade de trabalhadores desempregados que também estão partindo para a mariscagem como forma de sobrevivência. Para enfrentar estas pressões, as marisqueiras em Ilhéus criaram duas associações: a ASPEMAR – Associação de Pescadores e Marisqueiras do São Miguel, e a AMMA – Associação de Marisqueiras do Alto do Mambape. Criadas entre 2004 e 2008, representam a força e a luta dessas mulheres na defesa de seus modos artesanais de trabalho. Palavras-chave: trabalhadoras da pesca, memórias, Ilhéus-BA. 309


Silvana Jeha

--silvanajeha@gmail.com

Caboclos ao mar: Recrutas e marinheiros indígenas na Armada Nacional e Imperial do Brasil, Século XIX

Este trabalho é sobre o recrutamento e a presença de indígenas na Armada Nacional e Imperial do Brasil no século XIX. Trata-se de uma adaptação de uma seção da minha tese de doutorado intitulada A galera heterogênea: Naturalidade, trajetória e cultura dos recrutas e marinheiros da Armada Nacional e Imperial do Brasil, c.1822 – c.1854, onde demonstro que a participação de indígenas e seus descendentes na tripulação dos navios desta instituição representava cerca de 20% dentre os marinheiros nacionais, uma vez que a metade dos marinheiros eram estrangeiros. Os índios eram alvo de leis de recrutamento e engajamento específicas para as Forças Armadas, prática esta que estava inserida na política imperial de civilização de indígenas. Algumas expedições foram organizadas com o fim de engajá-los em províncias como Espírito Santo e Pará. Outros eram escolhidos em aldeamentos decadentes, ou mesmo entre a população geral. Muitos enviados como “índios” ou raramente com o nomes de suas nações, das diversas províncias, eram classificados como caboclos quando assentavam praça. Alguns deles, através de procuradores, reclamaram seus direitos, escreveram pedidos de dispensa da Marinha, e outros se rebelaram contra o recrutamento, mesmo antes dele acontecer em revoltas e fugas coletivas. Mas provavelmente muitos menores não conseguiram evadir e passaram muitos anos embarcados, criando provavelmente uma tradição cabocla na Armada do Brasil.

Wellington Castellucci Junior

Professor Adjunto da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB). Doutor em História Social pela USP. wcastellucci@yahoo.com.br

As populações litorâneas na História do Brasil: A experiência da Modernagem na vila de Tairu (1960-1990)

O presente texto discute aspectos das transformações espaciais e da vida quotidiana ocorridas numa vila de pescadores, de nome Tairu, situada na Ilha de Itaparica, entre os anos 1960-1990. O texto debate a importância do uso da fonte oral como método de investigação histórica para surpreender dimensões dos modos de vida de sujeitos históricos nem sempre privilegiados pela historiografia clássica. Nesse particular, uma breve descrição sobre as relações de trabalho, o laser, os processos de expropriação territorial e da cultura local, são enfocados ao longo desse artigo. Ao fazar uma reflexão acerca das mudanças ocorridas numa vila de pescadores, o que caracteriza um estudo de caso, foi possível surpreender dimensões mais amplas dos impactos que os processos de exploração de áreas de preservação ambiental tem provocado na vida desses sujeitos históricos. Na Ilha de Itaparica, esse processo de expropriação terriotial 310


começou por volta da década de 1960, mas esse mesmo fenônmeno vêm sendo verificado e estudo, por outros pesquisadores, em outras regiões da Bahia e do Brasil. Ainda que apresentem facetas diferenciadas, atitudes da iniciativa privada, dos órgãos governamentais que visão implantar indústrias, portos, atracadouros e marinas, têm provocado mudanças drásticas na vida de populações litorâneas e ribeirinhas do Brasil. Palavras-chave: cultura, trabalho, memória.

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Simpósio Temático 31 RELIGIÃO, POLÍTICA E MOVIMENTOS SOCIAIS NA AMÉRICA LATINA Coordenadores: IRANEIDSON SANTOS COSTA MARCOS ROBERTO BRITO DOS SANTOS

Doutorando pelo PPGH da Universidade Federal da Bahia (UFBA) // Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) marcosroberto13@bol.com.br

O

presente Simpósio Temático pretende reunir pesquisas e promover o debate acadêmico acerca da presença e da atuação de agentes religiosos no âmbito da política institucional e dos movimentos sociais urbanos e rurais na América Latina contemporânea. Embora se proponha a ser, sobretudo, espaço para os estudos dedicados aos movimentos e organizações (católicas e protestantes) desenvolvidos principalmente a partir da década de 1950 – denominados na historiografia como Cristianismo da Libertação, Esquerda Cristã, Cristianismo Revolucionário, Protestantismo Progressista ou mesmo Catolicismo Radical –, predispõe-se a abarcar igualmente as reflexões acerca de agentes, agrupamentos e movimentos religiosos de caráter integristas e/ou conservadores como a Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade (TFP), as Marchas da Família e as Marchas para Jesus. Da mesma maneira, abre-se para a inclusão de pesquisas sobre a participação desses agentes na política institucional e nos movimentos sociais de outras conjunturas da história latino-americana, brasileira e nordestina, com especial atenção para as investigações sobre as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Nosso objetivo geral consiste, portanto, em proporcionar a socialização e a crítica mútua das diversas investigações realizadas por pesquisadores, individualmente ou em grupos de pesquisa, estreitando o diálogo, o intercâmbio e a cooperação em âmbito estadual e regional. Antonio Thiago Gordiano Sampaio

Graduado em História pela Universidade do Estado da Bahia (UESB) thigordiano_sampaio@hotmail.com

Cristianismo e prática de libertação: grupo de Mulheres da Comunidade Cristo Rei – Açudinho

Este trabalho analisa a experiência de organização de um grupo de mulheres numa 312


comunidade eclesial de base numa paróquia do interior baiano marcada pela Teologia da Libertação, na década de 90. Para tal, parte de um breve relato histórico da construção do catolicismo na cidade de Conceição do Coité, interior da Bahia, com suas práticas devocionais, e os esforços para espalhar a presença católica por toda a extensão do território, bem como fala da chegada de novos padres, que conhecedores e adeptos da Teologia da Libertação, modificam algumas práticas comuns à Igreja Católica na dita cidade. Destacamos também o trabalho de uma congregação religiosa feminina que se instala na cidade e, articuladas com os padres, as irmãs propiciam a organização de um grupo de mulheres que, partindo de uma leitura popular da Bíblia, criam um grupo visando melhorar a renda das famílias da comunidade, com um trabalho artesanal. O trabalho deixa claro ainda a importância do trabalho destes religiosos e religiosas para a tomada de consciência política por parte de leigos e leigas engajados nas atividades pastorais no período e como isto reflete em sua prática social cotidiana, ao engajarem-se em partidos políticos, sindicatos e em outros movimentos sociais sem perderem a sua ligação com a Igreja Católica. Palavras-chave: catolicismo, teologia da libertação, organização de mulheres.

Ashley Trindade --ash.trindade@gmail.com

Igreja e política: aproximações iniciais entre a doutrina social da Igreja e as políticas eclesiásticas brasileiras

A religião sempre foi considerada uma formadora de visões de mundo. Essa relação não é diferente com a Igreja Católica (IC) que, aos olhos de vários autores, é a instituição que deu forma a grande parte do padrão civilizatório do Ocidente. Através de sua história, podemos distinguir a política eclesiástica das demais práticas políticas brasileiras, sejam estas religiosas ou seculares. Assim, é à luz de uma contínua reflexão sobre suas origens que a Igreja assume os problemas mais urgentes da vida capitalista brasileira. Isso lhe permite uma ação flexível e autônoma, possibilitando também manter um discurso ímpar, a respeito da sociedade, família e Estado, através da chamada Doutrina Social da Igreja (DSI). Como em qualquer outra instituição a Igreja é influenciada pelas mudanças na sociedade em geral. Mais especificadamente, argumentamos que ideologias políticas da sociedade brasileira tenham influenciado a concepção de fé da Igreja. Nesta perspectiva, a prática católica não pode ser reduzida imediatamente ao social e ao econômico. A partir disto, este trabalho busca compreender e analisar as ideologias políticas proferidas no interior do discurso eclesiástico. Procuramos aqui pensar a maneira pela qual a Igreja se representa no Brasil e na sociedade moderna, utilizando como recorte histórico o período de maior efervescência política da ditadura militar brasileira. Palavras-chave: igreja católica, DSI, discursos, ditadura. 313


Charlene José de Brito

Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História - PGH/UEFS. Bolsista FAPESB charlabrito@yahoo.com.br

Ameaças, Conflitos e Expulsões: a luta pela terra na Bahia – áreas de abrangência do projeto da CEDITER

Neste trabalho analisaremos as atividades realizadas pela Comissão Evangélica dos Direitos da Terra (CEDITER) nos primeiros anos de atuação, durante a década de 1980, na mediação de conflitos, conscientização de trabalhadores, assessoria jurídica e negociação com o Estado. Interessa-nos a forma como essa pastoral protestante agiu ante as agitações no campo nas regiões de Sítio do Mato e Rio das Rãs (pertencentes a Bom Jesus da Lapa), na introdução do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) na Chapada Diamantina e no assessoramento dos atingidos pela construção da Barragem Pedra do Cavalo, nas áreas do Recôncavo Baiano. A discussão será pautada na análise que Michael Löwy (1997) fez das interpretações de Karl Marx e Frederich Engels acerca da religião. Focaremos nosso estudo no papel político da religião, na formação de consciências e de contestadora da ordem. Entendemos que a CEDITER cumpriu essa função enquanto pastoral voltada para a defesa dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do campo. Para tal, utilizaremos como fontes os cadernos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) – Conflitos no Campo –, entrevista com envolvido no projeto, documentos da entidade, cadernos do Centro de Estudos e Ação Social (CEAS), Revistas da Associação Brasileira de Reforma Agrária – Reforma Agrária –, entre outras. Palavras-chave: conflitos, protestante, religião.

Danillo Rangell Pinheiro Pereira --danillorangell@yahoo.com.br

Concepções sobre História nas teologias de Leonardo e Clodovis Boff

A presente reflexão tem por meta entender e discutir algumas das principais elaborações intelectuais da Teologia da Libertação. Segundo o sociólogo Michael Lowy, este movimento foi a expressão de um amplo movimento social surgido no início dos anos 60, bem antes de suas primeiras obras. Tal evento envolveu setores significativos da Igreja (padres, ordens religiosas, bispos), movimentos religiosos laicos (juventude universitária cristã, jovens trabalhadores cristãos), intervenções pastorais de base popular (pastoral operária, camponesa, urbana) e as comunidades eclesiais de base. Sem a prática desse movimento não se pode compreender fenômenos sociais e históricos tão importantes quanto á escalada da revolução na América Central ou a emergência de um vasto movimento operário no Brasil. No aspecto da produção intelectual a Teologia da Libertação foi também um conjunto de textos produzidos a 314


partir de 1970 por intelectuais protestantes e católicos latino americanos, tais como Gustavo Gutierrez (Peru), Rubem Alves, Hugo Assmann, Carlos Mestres, Leonardo, Clodovis Boff e Frei Betto, (Brasil), Jon Sobrinho, Ignácio Ellacuria (El Salvador), Segundo Galileia, Ronaldo Munoz (Chile), Pablo Richard (Chile e Costa Rica), José Miguez Bonino, Juan Carlos Scannone, Rubem Dri (Argentina), Enrique Dusell (Argentina, México), Juan Luís Segundo (Uruguai), Samuel Silva Gotay (Porto Rico), para mencionar apenas os mais conhecidos que tinha como principal intenção refletir sobre a relação entre fé e vida, evangelho e justiça social. Esta comunicação limita-se a discussão de textos escritos por dois intelectuais católicos Leonardo Boff e seu irmão Clodovis Boff. A partir da leitura de algumas de suas principais obras pretende-se perceber as concepções de História formuladas por esses teólogos. Na análise destes trabalhos procura-se debater o que significa para os sujeitos investigados a historia enquanto processo e também sua importância como conhecimento humano. Seus escritos possuem concepções de caráter profético. Há convergências entre estes pensadores católicos da segunda metade do século XX e os antigos profetas hebreus. Neles são visíveis as tentativas de superação das visões teológicas de tendências essencialistas defensoras da preexistência de categorias universais, impositoras do status quo. Para eles não há separação entre uma história secular e outra divina da salvação, suas idéias rompem com as tendências herdadas das tradições neoplatônica, agostiniana de conceber deuses a-históricos e manipuladores dos homens.

Danilo Conceição dos Santos

Graduando em História pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) historiadordecristo@yahoo.com.br

Assembleia de Deus em cruz das Almas: um olhar sobre os efeitos do projeto “Década da colheita”

O presente trabalho tem com objeto analisar os efeitos do projeto “década da colheita”, na cidade de Cruz das Almas por meio da Igreja Evangélica Assembleia de Deus, o projeto que foi elaborado pela denominação na década de 1990. Levando como que o processo de disseminação da mensagem do movimento pentecostal no país , devolvesse como mais rapidez, mais principalmente nos municípios. Não deixando de falar sobre processo de desenvolvimento e crescimento do protestantismo e pentecostalismo em meio a um contexto tenso no qual o Brasil se constituía. Para realização desse trabalho foram utilizados livros de caráter acadêmico e confessional, mais buscando dialogar também com fontes como: revistas, iconográficas, relatos orais e dados do censo do IBGE. Tendo como referenciais teóricos autores como Roger Chartier, como o conceito de representação, para que ser possível compreender com se dar a relação dos agentes da religião e os outros agentes e elementos que constituem a sociedade a onde estão inseridos e Pierre Bourdieu e o conceito 315


de Campo Religioso, que auxiliar a compreender de que forma é constituído universo religioso e como seus agentes atuar e organiza-se em torno do seu objetivo que é a propagação de sua Fé e que ajudar a entender o campo de disputas internas para ocupas posições e como ocorre em outros segmentos da sociedade. Palavras-chave: protestantismo, pentecostalismo, Assembleia de Deus, década da colheita.

Eduardo de Lima Leite

Professor do curso de História da Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Especialista em Educação, Cultura e Memória (UESB) eduardolleite@yahoo.com.br

A luta dos posseiros da Fazenda Matas do Pau Brasil pelo direito a terra: aliança com as comunidades eclesiais de base (1972-1981)

Em 1972, inicia-se a introdução da lavoura cafeeira em Vitória da Conquista e Barra do Choça, municípios da região centro-sul do Estado da Bahia. Estimulada pela política de subsídios oficiais do governo federal, a cafeicultura valorizou as terras da região e impulsionou um significativo processo de expulsão de seus moradores. O presente trabalho aborda a luta dos posseiros da Fazenda Matas do Pau Brasil (1972-1981) para não ser expulsos das terras nas quais habitavam, o aprendizado político que vivenciaram ao longo desse processo e a aliança que estabeleceram com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) da Igreja Católica Apostólica Romana. Palavras-chave: posseiro, cultura, aprendizado político.

Edvaldo Vieira de Souza Junior

Doutorando pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista do CNPQ. Mestre pela UFPE. edvaldovieira959@gmail.com

O golpe de 1964 e a ação política das CEBs (Comunidades Eclesiais de Base): identidade e reconhecimento na periferia de Salvador

A presente Comunicação tem como proposta analisar o discurso produzido pela Igreja Católica Progressista no processo de intervenção social desenvolvido dentro das Comunidades Eclesiais de Base CEBs em todo território nacional durante o regime de exceção no Brasil (1964 a 1985). A especificidade, aqui, está no enfoque dado à linguagem, entendendo-a, ao mesmo tempo, como instituição social e como sistemas de signos. Em retrospecto, essa ala da Igreja, em confluência com a Teologia da Libertação, rompe com o Estado autoritário e passa a organizar através de tais comunidades, formas de contraposição a propaganda política do governo que negava a tortura, a censura e a exclusão social. Nesse quadro, a Igreja fornece uma possibilidade de diálogo para aqueles que pretendem expressar e legitimar suas idéias 316


como agente da história. Em princípio, é de supor-se que, não temos relação com as coisas, mas com os discursos que lhes dão sentido. O cerne teórico deste trabalho é a teoria dialógica do lingüista russo Mikhail Bakhtin. Segundo Bakhtin, todo discurso e plurivocal, isto é perpassado por outras vozes que estão na essência da formação do homem. De acordo com esse pensamento, é descartado o caráter monológico do discurso. Assim ele defende que a língua, em sua totalidade concreta, viva, em seu uso real tem a propriedade de ser dialógica. Com a concepção dialógica da linguagem, compreendemos que estas práticas políticas começam a se cruzar, a partir do Concílio Vaticano II (1962 a 1965), com uma série de discursos que sedimentam a idéia de um novo modelo de estruturação dogmática da Igreja, inaugurando uma forma singular de organização, fundada num tipo renovado de catolicismo e numa experiência voltada para os pobres. Portanto, o objetivo desse estudo é analisar o discurso da Igreja católica em dois momentos sucessivos: a origem das CEBs e a sua práxis política no período supracitado. Nesses dois processos, a Igreja Católica progressista figura, no primeiro, como uma força emergente, exigindo maior espaço democrático e, no segundo, como força de resistência, tentando defender suas prerrogativas contra a exclusão das massas, que foram apartados socialmente pelo Plano de ação econômica do governo. Essa pesquisa suscitará contribuições para a reflexão e percepção quanto a construção dialógica presente no discurso eclesial. Temas como carnavalização, discurso de outrem, signo e ideologia despontar-se-ão nas análises dessa pesquisa. Palavras-chave: CEBs, discurso, igreja.

Iraneidson Santos Costa --irancosta@terra.com.br

Igreja, profecia e política no nordeste brasileiro

Uma das questões mais recorrentes (e polêmicas) da historiografia da Igreja Católica brasileira do século XX consiste no debate em torno da compreensão mais adequada para a sensível mudança de orientação política vivenciada a partir da década de 1950 pela instituição, se não no todo, em boa e representativa parcela, a começar pelo próprio núcleo dirigente, seu episcopado, organizado a partir de 1952 na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Relacionado a esse problema, um outro, de caráter mais conceitual, permanece provocando divergência entre os estudiosos das lutas socais recentes no Brasil: a precisa qualificação destes líderes religiosos do ponto de vista ideológico. Neste caso, a discussão não se restringe ao âmbito acadêmico, espraiando-se para o campo do debate público mais amplo, sobretudo a partir da imprensa (jornal, rádio e TV), mediante a qual os próprios envolvidos (bispos, padres, religiosos/as e leigos/as), seus aliados e adversários (nas instituições governamentais ou nos diversos movimentos sociais, sindicatos e partidos) se valem de epítetos os mais diversos para tipificar esta linha de atuação: esquerdista, radical, 317


revolucionária, progressista, reformista (e suas antípodas, naturalmente: moderados, conservadores, reacionários, papistas, integristas). As abordagens também variam: de concepções instrumentais, que interpretam essa mudança como uma adaptação com fins a manter o poder eclesiástico na sociedade, a visões idealistas, segundo as quais se trata de uma transformação motivada por razões de ordem religiosa e moral, numa busca de maior fidelidade ao Evangelho. Entre essas duas posturas, uma gama variada de posições recheia esse espectro, tornando o uso destes conceitos pouco operacional para a análise mais objetiva dos processos históricos. Essa Comunicação se insere no debate acerca do caráter político-ideológico da atuação da Igreja Católica brasileira na segunda metade do século XX, elegendo como foco de análise a parcela mais combativa do episcopado brasileiro, a Igreja nordestina, mais especificamente um grupo de bispos que, por sua intensa participação política, foi objeto central das acaloradas discussões acima mencionadas, sendo igualmente classificados das mais díspares formas, de comunistas a santos, de pastores a políticos, de profetas a falsos profetas.

Jânio Lopes Oliveira

Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) janiolopes_valente@yahoo.com.br

A caneta e a enxada: movimentos rurais em Valente na década de 1970

Este trabalho faz uma abordagem sobre movimentos dos trabalhadores rurais em Valente-Ba na década de 1970, a partir do estudo das Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s), que aparece como as primeiras organizações populares do período. O desenvolvimento dessas organizações entre os trabalhadores rurais, assim como todo o processo de luta e conscientização política, são os elementos cruciais deste trabalho. As conquistas e o processo de luta destes trabalhadores são evidenciados a partir de diferentes fontes documentais e depoimentos orais que foram utilizados na produção deste trabalho, onde possibilitaram compreender as demandas dos grupos de trabalhadores no período, suas organizações, articulações e os principais problemas dentro de suas comunidades. Palavras-chave: trabalhadores rurais, Comunidades Eclesiais de Base, movimentos sociais.

Jeovane Santos de Jesus --jeovane_de_jesus@hotmail.com

O Vírus Vermelho e o Terço na Ponta do Fuzil: cristãos Amelienses entre fé e política (1965-1985)

Esta comunicação tem como objetivo apresentar algumas reflexões a respeito dos 318


cristãos amelienses (católicos e batistas). O posicionamento destes cristãos em Amélia Rodrigues-Ba frente ao contexto histórico da Ditadura Militar, instaurada em 1964. Quais relações com a política local, os discursos, memórias e representações que teceram a cerca destes acontecimentos. Logo após o golpe civil-militar de 64 várias cidades do interior baiano presenciaram momentos de agitação com embates e intervenção em prefeituras. O primeiro prefeito da cidade de Amélia Rodrigues, o negro, e advogado católico Gervásio Bacelar (1963-1967), enfrentou as acusações de seus opositores de ser ele o maior divulgador do “vírus vermelho” na cidade. Sua vinculação com Francisco Pinto, prefeito de Feira de Santana, deposto pelos militares lhe custou problemas com os detentores do poder vigente, somado a seus discursos que mesclava elementos cristãos com propostas de esquerda. A Igreja Católica brasileira contou no período estudado com a atuação de padres estrangeiros, sobretudo, espanhóis e italianos que compunham parte do clero da recém-criada Diocese de Feira de Santana (1962). Alguns destes desempenharam um significativo papel na organização popular e na luta contra a Ditadura. A exemplo dos padres italianos Joseph Pendadola e o primeiro pároco de Amélia Rodrigues, Aldo Giazzon que atuaram mediante ações da AP (Ação Popular), do trabalho com os leigos na JAC (Juventude Agrária Católica), e o auxilio aos padres progressistas da região. Os batistas da cidade contaram com o trabalho missionário do pastor norte-americano Newell Mack Shults, diretor do Seminário Batista de Feira de Santana. Missionário que cultivava um discurso anticomunista, que influenciou os irmãos amelienses através de suas conferências e da presença dos futuros pastores que realizavam estágio missionário na Igreja Batista de Amélia Rodrigues. As fontes são; Atas e outros registros do Arcebispado de Feira de Santana; Livro de Memórias do Pr. Isaías Batista, os jornais Folha do Norte, Archote e A Tarde. Análise norteada pelos conceitos de práticas e representações de Roger Chartier. Palavras-chave: cristãos, ditadura militar, Amélia Rodrigues.

Késia Caroline Souza Conceição

Graduanda da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista FAPESB kc.carol@bol.com.br

A Assembleia de Deus e o G-12 em Feira de Santana: disputando fiéis e eleitores

A Igreja Evangélica Assembléia de Deus está presente em Feira de Santana desde a década de 1930 (ADEFS). A partir de 1998 uma nova prática eclesiástica denominada G-12, alusão aos doze apóstolos de Jesus, originária de evangélicos carismáticos da Colômbia, se inseriu no campo religioso brasileiro. Trata-se de um novo modelo de organização eclesiástica, com ênfase em promoção de cultos nos lares, células, visando um crescimento maior do número de membros. Os assembleianos não aderiram ao método, mesmo este causando um crescimento exponencial nas igrejas 319


que se apropriaram dessa metodologia. A pesquisa questiona a causa da não adesão da ADEFS e as representações que estes fizeram do método G-12. Este trabalho tem como objetivo geral a análise de como a Assembléia de Deus em Feira de Santana reagiu às novas práticas eclesiásticas do G-12, introduzida em sua comunidade e os discursos assumidos a partir de então. Os objetivos específicos firmam-se em entender como se configuraram as relações de poder entre a Assembléia de Deus (AD) na Bahia e a liderança do movimento G-12 em Feira de Santana, identificar os impactos na comunidade, rupturas e continuidades, tanto na instituição quanto para os membros e analisar as disputas no campo religioso feirense bem como, as representações no campo político. O método G12 teve grande abrangência em Feira de Santana, primeira cidade da Bahia a adotá-lo, em muitas comunidades gerou conflitos e rupturas, tanto com a membrezia como suas respectivas convenções. A comunidade AD não comungava com esta metodologia, mas muitos dos seus membros migraram para comunidades “gedozistas” e outros fundaram comunidades baseadas nesses preceitos. Alguns fiéis candidataram-se a cargos políticos, disputando o voto dos irmãos assembleianos, trazendo novas configurações ao campo religioso e político feirense. O estudo da reação da comunidade assembleiana a elementos exógenos, como o G-12, está baseado na análise de documentos produzidos pelo grupo pesquisado, como revistas de Escola Dominical, jornal Mensageiro da Paz, ambos publicados pela Casa Publicadora das Assembléias de Deus (CPAD) bem como as atas de reuniões realizadas pela comunidade no período. Foram utilizadas fontes orais, entrevistas a líderes e congregados que pertenciam à igreja no período estudado e entrevistas a membros das comunidades que aderiram à metodologia. Esta análise é norteada pelos postulados da História Cultural, do conceito de práticas e representação de Roger Chartier, e de Campo Religioso de Bourdieu. Palavras-chave: Protestantismo, neopentecostalismo, Feira de Santana.

Luiz Argolo de Melo --luizargolo@gmail.com

Fé, poder e vidas nas comunidades eclesiais de base de MutipeBahia (1975-2000)

Marcos Roberto Brito dos Santos

Doutorando pelo PPGH-UFBA. Bolsista CAPES. Mestre em História pela UFBA. marcosroberto13@bol.com.br

Dom Hélder Câmara e a Revolução Não-Violenta

A comunicação é elemento que compõe e resulta de uma pesquisa mais ampla que tem como objeto de estudo a reflexão teológico-pastoral e a atuação sociopolítica de agentes religiosos durante o período da ditadura militar. Desenvolvida no âmbito do 320


Doutorado em História do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com apoio de recursos financeiros da CAPES, o trabalho geral de investigação dispõe uma análise histórica a respeito de temas como a vigilância e o controle exercido pelos órgãos do regime militar sobre agentes pastorais; a relação entre estes últimos e as classes populares; interações e distanciamentos realizados entre cristianismo e pensamento social; Teologia da Enxada, desenvolvimentismo e Educação popular. No entanto – para este VI Encontro Estadual de História da ANPUH Bahia – limitamo-nos em apresentar algumas das considerações e resultados parciais de uma reflexão ainda em andamento acerca do pensamento e da ação política de Dom Hélder Câmara, em especial, de sua concepção de revolução através do método da não-violência-ativa. Ademais, a pesquisa histórica tem como um de seus principais intuitos, aprofundar as particularidades que caracterizou uma, entre as muitas experiências latino-americanas do fenômeno denominado como “cristianismo da libertação”. As fontes utilizadas foram majoritariamente textos escritos por Dom Hélder entre os anos de 1968-1974 e documentos do acervo do DEOPS-SP. Palavras-chave: Dom Hélder Câmara; Ditadura Militar; Revolução Não-violenta.

Rafael Cardoso dos Santos

Graduando em Historia pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista PROBIC/UEFS rcshistoria@yahoo.com.br

“Só Jesus Cristo salva”: práticas e representações dos batistas sobre o processo de redemocratização (1979-1995) Palavras-chave: Batistas, redemocratização, Feira de Santana. Ramon Queiróz Souza

Graduando em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Bolsista CNPQ mom.queiroz@hotmail.com

A Companhia de Jesus: organização jesuítica, recursos pedagógicos

Objetiva-se a partir de leituras de livros e artigos de estudiosos diversos, especialistas no estudo da Companhia de Jesus e das ações jesuíticas, observar historicamente como a ordem se estabeleceu, bem como a sua formação, seu desenvolvimento e sua expansão pela Europa e nas terras do Novo Mundo a partir do final do século XVI. Os artifícios que a mesma dispunha para conquistar novos fieis para a Igreja Católica que passava por uma profunda crise, sustentada, sobretudo pelas ideias de João Calvino (1509 - 1564) e Martinho Lutero (1483 -1546). Ressaltar a utilização dos diversos recursos pedagógicos pelos jesuítas, os quais garantiam a espiritualidade de seus membros, Exercícios Espirituais, e a organização dos colégios, no que diz respeito à vida de estudos, Ratio Studiorum. Apresentar a importância dos seus membros, intelectuais nos mais diversos campos do conhecimento, e o processo de mudanças 321


política, social e econômica que se deram na Europa do final século XVI. Tendo Inácio de Loyola como o seu principal membro e fundador, a ordem apresentou-se como um importante elo no que diz respeito ao processo de conquista e domínio de várias regiões, dentro e fora da Europa, como o Brasil. Contando ao longo de sua história com intelectuais diversos, como José de Anchieta, Manuel da Nóbrega, dentre outros, especialistas nos mais diversos campos do saber. A ordem tinha sua organização orientada principalmente pelos Exercícios Espirituais pelo Ratio Studiorum. As leituras apontam para a importância dos Exercícios Espirituais, primeiro por serem instrumentos significativos para a formação dos soldados de Cristo, prontos para uma guerra espiritual. Segundo por que, já estabelecida, a Companhia, os Exercícios seriam um dos principais instrumentos de sua organização, indicando os preceitos práticos que os membros deveriam exercer para imitar a vida de Cristo, tornando-se bons cristãos. Apresentam também a Ratio Studiorum, ou plano de estudos como sendo a responsável pela minuciosa organização dos estudos na ordem, fazendo referências aos horários, organização das aulas, a preleção dos professores, ao ensino religioso. Sua elaboração tinha como orientação filosófica a teoria de Aristóteles e Tomas de Aquino. Teria constituído-se como um elemento indispensável para a educação jesuítica, possibilitando a organização da ordem dentro e fora dos colégios, mesmo apresentando-se com objetivos doutrinários. Assim, ambos os documentos teriam sido elementos de significava relevância para a manutenção e organização da Companhia de Jesus, apresentando-se como instrumentos de grande contribuição para o desenvolvimento e sucesso, das missões pretendidas por esta. Palavras-chave: organização jesuítica, recursos.

Valéria Maria Santana Oliveira --profa.valeriaoliveira@gmail.com

O discurso religioso como legitimação de práticas sociais: uma leitura a partir de Pierre Bourdieu

O presente trabalho tem como objetivo principal analisar as estratégias utilizadas pelos frades capuchinhos instalados em Aracaju, através da utilização do discurso religioso, para o estabelecimento de alianças com o Estado ao longo da História do Bairro América, na mesma capital. Os frades capuchinhos que vieram para Aracaju pertenciam (e assim é até hoje) à Província da Ordem Capuchinha da Bahia e Sergipe, Nossa Senhora da Piedade. Segundo Peccorari (2003) no período de 1937 a 1983, data da criação da nova Província da Ordem Capuchinha da Bahia e Sergipe, foi dada continuidade às Santas Missões, porém as atividades pastorais se ampliaram com a construção de colégios, orfanatos, asilos, escolas agrárias e profissionais e centros de assistência social, a exemplo do centro social criado no Bairro América. Considerando que a edificação de um templo, de um convento, de escolas e demais obras sociais se 322


constituem numa demarcação de território, onde os espaços são utilizados em nome de uma religião, há que se considerar que se configuram também em estratégias de ocupação deste espaço. Utilizou-se para tanto a noção de campo religioso e de discurso religioso, a partir de Pierre Bourdieu. Observa-se que o discurso religioso funciona como elemento catalisador das lutas populares locais, servindo como uma forma de legitimação das causas sociais.

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Simpósio Temático 32 FONTES PARA A PESQUISA HISTÓRICA DA BAHIA Coordenadoras: Celeste Maria Pacheco de Andrade Lina Maria Brandão de Aras

Professora dos Programas de Pós–Graduação em História e em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) // Doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP) laras@ufba.br

A

presente proposta de simpósio temático objetiva reunir pesquisadores (as) para discutir diferentes tipos de fontes sobre a História da Bahia. Após a realização de outros ST Fontes para a História da Bahia e com boa aceitação, apresentamos, mais uma vez, a presente proposta para ampliar as discussões sobre o conceito de documento. Le Goff (1996) ao discutir os conceitos de documento e de monumento, ao mesmo tempo em que ampliou a concepção de fonte da História, possibilita a aproximação dessa disciplina com outras tantas incluídas nas ciências humanas ou fora dela. No ofício do pesquisador em História as fontes se constituem em sua matéria prima e é através dela que nos aproximamos da realidade social, em uma tipologia bastante variada e é o que nos interessa nesse momento, diante da quantidade de documentos que podem ser pesquisados. Saímos dos documentos preconizados pelos positivistas no século XIX, passamos pelas diversas gerações da Escola francesa e inglesa e temos um leque variado de fontes sendo utilizados pelos pesquisadores da História (BURKE, 1991). A elas são formuladas perguntas e submetidas a um exaustivo inquérito, pois interessa desde o tipo de material utilizado para registro, como também as informações acessórias, como a forma de identificação e localização. Além disso, o pesquisador enfrenta o desafio de trabalhar com fontes inéditas em seu uso e em sua tipologia na História, este desafio pode ser encontrado no trato dado às fontes menos usuais como a música e a cidade como fonte da história. (CHILDE, 1964) A História Oral, mesmo com tantos estudos sobre o seu uso como na forma de coleta, continuam estimulando novas discussões diante das vertentes existentes sobre a mesma. Ao propor o presente Simpósio Temático temos a 324


convicção de que ao expor a forma como cada pesquisador realiza sua pesquisa, que tipo de instrumento utiliza para registro do material coletado e, especialmente, como poderá disponibilizar ao grande público estaremos abrindo uma nova trincheira, ao motivar a divulgação de dados já trabalhados. Além do que a metodologia utilizada na coleta realizada também interesse lançar para a discussão, pois cada tipo de fonte necessita de um tipo de coleta e cada pesquisador, muitas vezes, cria uma técnica que ajuda a realização dessa etapa da pesquisa. Ana Paula de Albuquerque Silva paulaufrb_historia@hotmail.com

Uelton Freitas Rocha

ueltonhistoria@gmail.com Os inventários post-mortem como fontes para História da Bahia Os inventários post-mortem são fontes cartoriais do Poder Judiciário, trazem em seu corpo informações variadas referentes a vida do indivíduo falecido. Permitem pensar e discutir diversos temas tais como: a evolução do patrimônio privado, níveis de riqueza, perfil social, relações comerciais, cultura material, aspectos da vida religiosa, posse de terra, entre outros. Para além da riqueza de possibilidades de pesquisa, suas descrições são valiosíssimas em detalhes, sendo apresentadas, via de regra, minuciosamente os bens legados pelo inventariado como, por exemplo, Bens de Raiz (casas, prédios, terras, terrenos e benfeitorias); Semoventes (escravos e animais), os Móveis (catres, mesas, armários, caixas, baús, cadeiras, oratórios e muito outros.) Nos utensílios pessoais destacam-se, ainda, as Joias (brincos, colares, fivelas, botões etc.), Roupas (casacos, calça, ceroulas, vestidos etc.); Utensílios domésticos (tachos, panelas, colheres, garfos, pilões, bacias, e outros), e, por fim, as Dívidas Ativas (a receber) e as Passivas (a saldar) e. Neste artigo apresentaremos como parte da historiografia da Bahia tem utilizado esta fonte de pesquisa. Em seguida nos deteremos sobre o processo do inventário em si, descrevendo seus elementos. Por fim, focaremos em três exemplos de inventariados da vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto Cachoeira, no Recôncavo da Bahia, no primeiro quartel dos Oitocentos.

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Ana Paula Queiroz de Araújo Santana

Graduada em História pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). Especialista em Educação das Relações Étnico-Racial. analinsaraujo@yahoo.com.br

Stela Dalva Teixeira Silva

Graduada em História pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL). Especialista em Arquivologia pelo Conselho Nacional de Arquivo/CAPES. dalvastela@hotmail.com

O acesso à informação no Arquivo Público Municipal de Camamu

Apesar da Lei nº 8.159 de 08 de janeiro de 1991 garantir ao cidadão brasileiro o acesso à informação aos documentos que estão em domínio público, tal lei ainda não conseguiu que os gestores públicos, em sua grande maioria, respeitassem esse instrumento legal. Atualmente situado no Centro Histórico de Camamu, na Cidade Alta, o Arquivo Público Municipal de Camamu foi criado no bojo de ações promovidas pela Fundação Pedro Calmon para implantação de Arquivos municipais na década de 90, do século XX. No presente, o Arquivo Municipal de Camamu se encontra em processo de implantação ainda e se recria com as novas conjunturas legais acerca do acesso à informação com a lei 12.527 de 18 de novembro de 2011(Lei de Acesso à Informação).A prática democrática no Brasil ainda tem muito que amadurecer, tanto isso é fato, que nossos arquivos públicos permanecem à mercê de gestões comprometidas ou não com o cuidado nos documentos que atestam a vida institucional de nossos municípios. No caso dos Arquivos Municipais é necessária a vigilância dos cidadãos para que esses lugares não passem somente de “depósitos de papéis” para centros de informação. Palavras-chaves: arquivo, informação, cidadania.

Celeste Maria Pacheco de Andrade -celestepacheco@ig.com.br

Conhecendo a Bahia através da ficção: Jorge Amado e as questões étnico-raciais

Entre as áreas de conhecimento com as quais a História vem estabelecendo diálogo frutífero está a Literatura. Especificamente a ficção e nesta, o romance, vem sendo utilizado pela pesquisa histórica como fonte inesgotável de estudo sobre as representações de determinadas realidades. O propósito do artigo é analisar as possibilidades de estudo sobre a história da Bahia através da lente o ficcionista Jorge Amado. Inscrito na história da literatura brasileira como pertencente a uma geração de escritores modernistas, é conhecido nacional e internacionalmente como um contador de histórias tomando como cenário diferentes espaços da Bahia, cidades e sertões. Também diversificou em temas que possibilitam aos pesquisadores enveredar 326


pelos mais diversos tipos, cenários e problemáticas da realidade baiana e brasileira. Entre os temas podemos indicar estudos sobre gênero, justiça social, relações de poder, questões étnico-raciais, religiosidade identidades. Para a temática do evento, definimos o romance Tenda dos Milagres (1969), como importante fonte de pesquisa para o estudos das representações do escritor sobre a diversidade cultural brasileira, a partir da trajetória de vida de Pedro Archanjo, personagem central, em torno do qual o escritor desenvolve a sua tese sobre as relações ético-raciais no Brasil, a parir da Bahia. Para cumprir o objetivo da proposta fazemos uma análise do romance identificando as representações contidas na narrativa e, em seguida, reconhecemos o potencial de uso da narrativa como fonte de pesquisa.

Iara Dias dos Santos

Graduanda em História pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) iguerreira@hotmail.com

Apontamentos para o estudo do Governo do 2º Marquês do Lavradio (Capitania da Bahia, 1768-1769)

Tendo como fonte principal de investigação as “Cartas da Bahia, 1768-1769”, o presente estudo objetiva apontar algumas possibilidades para o estudo do governo de D. Luís de Almeida Portugal, 5º Conde de Avintes, 2º Marquês do Lavradio, na capitania da Bahia. A correspondência de amizade abriga relatos sobre a viagem para a capitania da Bahia, as emoções e impressões frente aos costumes, o clima, a fauna e a flora da capitania. As cartas contemplam, ainda, um registro pessoal de D. Luis de Almeida sobre as dificuldades de governar no além-mar, sobre os desafios decorrentes do fato de viver distante de Lisboa, sua terra natal, dos amigos e parentes. Escrever carta era uma prática comum entre os governantes ultramarinos. Os laços de sociabilidade eram preservados e se renovavam por meio da escrita. Ao mesmo tempo, as cartas ajudavam na arte de governar, pois, nas entrelinhas dos textos, circulavam instruções. Nas cartas de Lavradio são perceptíveis, pois, informações importantes sobre a vida particular, mas também sobre a atuação política e administrativa do governante. A correspondência oferece um cenário do governo do 2º Marquês do Lavradio e contribui para desvendar a dinâmica administrativa no período colonial. Portanto, o estudo dessa correspondência é de fundamental relevância para compreender as relações de poder na capitania da Bahia setecentista, como em toda a América portuguesa. Palavras-chave: Bahia, governo, Marquês do Lavradio.

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Jacson Lopes Caldas

Graduando em História pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) jacson_caldas@yahoo.com.br

Museu Casa do Sertão: Uma disputa intelectual na Feira de Santana modernizada

Lugar memória da cultura popular sertaneja no Estado da Bahia, o Museu Casa do Sertão configura a disputa intelectual por uma memória coletiva na Feira de Santana modernizada. Equipamento museológico inaugurado em 1978, no campus da Universidade Estadual de Feira de Santana, a Casa do Sertão representa a disputa entre o registro e o esquecimento da cultura popular sertaneja eleita por um grupo de intelectuais feirenses. Inicialmente pensado enquanto Museu do Couro e Museu do Vaqueiro na década de 60, quando Eurico Alves Boaventura – EAB traçou em Fidalgos e Vaqueiros (1989) e A paisagem urbana e o homem (2007), a construção de um lugar memória para preservar o passado colonial da aristocracia dos currais e consequentemente a memória dos coronéis do gado. Porém, com o fortalecimento da elite comercial em meados da década de 40, acompanhado da emergência no setor industrial feirense nos anos 60, percebe-se o gradativo enfraquecimento da atividade pastoril e a transfiguração do projeto de EAB, através do projeto e construção do Museu Casa do Sertão, enquanto lugar memória da cultura popular sertaneja quando estava em voga no Brasil o Projeto de Renovação dos Museus como espaços destinados a preservação e musealização da cultura popular. Portanto, este trabalho busca identificar por quais motivos fora necessária a idealização de um “lugar memória” para fixação de um mito fundador feirense em consonância com o projeto modernizante, baseado na industrialização e no comércio, ressaltando a presença da cultura popular na polifonia cultural da região, transpondo a idéia original de EAB em favor da construção de um documento/monumento que representasse através da cultura material elementos populares que encontrar-se-ão no cerne da questão a partir da seleção e coleta dos acervos museológico, bibliográfico e documental em favor da sua criação, fortalecimento e constituição como patrimônio cultural da história local e regional. Palavras-chaves: Intelectuais, Museu Casa do Sertão, Cultura Popular.

Lais Viena de Souza

Professora EBTT História-IFBA. Mestre em História pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) laisvsouza@yahoo.com.br

História e arquivo no projeto “Genética no Sertão”

A ciência histórica vem ganhando neste século XXI novos parceiros na producão do conhecimento, como os estudos de genética médica populacional. Em uma experiência pioneira, historiadores integram uma equipe que se dedica a estudar doenças genéticas na Bahia. O projeto “Genética no Sertão” é um grupo multidisciplinar dedicado a investigação de doenças genéticas através do estudo genômico, acompanhamento 328


genético, clínico e psicológico a pacientes diagnosticados com MPS VI, PKU e Surdez no município de Monte Santo, sertão da Bahia. Foi encontrada uma incidência muito superior destas doenças registradas no município a estatísticas comparadas no Brasil e no mundo. A História e as atividades de Arquivo integraram o projeto como auxiliares nos estudos de genealogia e consaguinidade, através da digitalização de livros paroquiais da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, com destaque para os livros de Matrimônio que datam de meados do século XIX. A partir da digitalização do acervo foi feita a tabulação de infomações de registros de casamento, e posterior ligação entre os sobrenomes e consaguinidade. Deste modo, os estudos genômicos ganham um alcance temporal mais amplo na investigação da árvore genealógica de famílias afetadas. Nesta comunicação buscamos apresentar as interfaces entre História, Arquivo e estudos de genética médica populacional em prol da história e da saúde pública. Palavras-chave: arquivo, história, genética médica populacional.

Liliane Maria Fernandes Cordeiro Gomes

Professora mestre em História Regional e Local da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) liufernandesc@yahoo.com.br

Fontes para a pesquisa histórica na região do Extremo Sul Baiano: fragmentos da experiência do curso de história da Universidade do Estado da Bahia – Campus X – Teixeira de Freitas

O objetivo deste artigo é contextualizar a atuação do colegiado de História da Universidade do Estado da Bahia – UNEB – Campus X no processo de construção, desconstrução e reconstrução da história regional a partir do contato e da análise do(a)s discentes com diferentes tipos de fontes a respeito da história da Bahia que estão dispersas e sob a guarda de particulares e/ou responsáveis pelo poder público. Este contato com novas fontes documentais, não somente escritas como orais fez-se significativo e alicerçou o processo de tessitura dos trabalhos monográficos produzidos pelos estudantes da primeira turma de história, deixando visível que ações do Estágio Supervisionado contribuíram/estão contribuindo no processo de construção do conhecimento a respeito da história local. Tais produções, alinhadas à história social e cultural, ao se articularem com a história econômica e política possibilitaram reflexões referenciadas na História local e regional, com vistas a transcendê-la, e por vezes, descolonizá-la, passá-la a limpo a partir de vozes de grupos e de classes sociais antes silenciados pela história tradicional. Essas produções ganham a chancela a partir de pesquisas desenvolvidas por profissionais que atuam nas mais diversas universidades que hoje estão espalhadas em diferentes locais do estado baiano. Neste artigo enfocamos a Universidade do Estado da Bahia – Campus X situado na cidade de Teixeira de Freitas. Palavras-chave: Pesquisa, fontes históricas, extremo Sul Baiano.

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Lina Maria Brandão de Aras

Doutora em História pela USP. Professora dos Programas de Pós–Graduação em História e em Estudos Interdisciplinares sobre Mulheres, Gênero e Feminismo, da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia (UFBA) laras@ufba.br

Teixeira Moleque: um médico na literatura de Ruy Santos

A presente comunicação objetiva discutir as relações que podem ser estabelecidas entre a história e a literatura, a partir do romance “Teixeira Moleque” de autoria de Ruy Santos. Esta também se configura uma oportunidade para a discussão sobre a formação dos médicos na Faculdade de Medicina da Bahia nas primeiras décadas do século XX e o destino dos egressos daquela instituição e a experiência do exercício da profissão no interior da Bahia. Ruy Santos, médico formado pela FMB e político com larga carreira pública, é autor de várias obras literárias que fazem críticas às distinções raciais e sociais. No caso da trajetória do Dr. Teixeira, em sua passagem por Nazaré, sua cidade natal, e na sua fixação em Cachoeira, o autor apresenta as dificuldades de um médico recém-formado, saído sala de aula e que vai exercer a clínica, momento em que os problemas de uma formação teórica se deparam com os casos clínicos bastante diferentes daqueles encontrados nas enfermarias da Santa Casa de Misericórdia da Bahia, onde ele passava suas manhãs acompanhando seus professores. Neste caso, a literatura de ficção nos ajuda a compreender as condições em que eram formados os médicos e as doenças e os doentes atendidos por esses doutores no interior da Bahia, bem estudar a presença do doutor no imaginário da sociedade do recôncavo da Bahia nas primeiras décadas do século XX.

Lina Ravena Souza Santos

Graduanda da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista PROBIC/UEFS linah.ravena@hotmail.com

Salve o dois de julho: Braz do Amaral e a história da Bahia

A presente comunicação busca dar conta das reflexões, percalços e resultados obtidos durante o estudo da produção historiográfica sobre a Independência da Bahia do historiador, filho, esposo, pai, médico, político, professor e baiano, Braz Hermenegildo do Amaral(1861-1949). A Bahia a qual Braz do Amaral pertencia, resistiu em aderir ao novo regime político instaurado em 15 de novembro de 1889. Adotando uma posição conservadora a qual fez com que se mantivessem na Bahia os mesmos grupos políticos e econômicos no poder. Desta forma a Primeira República é o momento que buscamos compreender através do estudo das obras de Amaral. As produções historiográficas de Braz do Amaral devem ser analisadas como manifestadoras do desejo de uma elite letrada baiana em recobrar não só a sua fração na obra da independência nacional, mas como esse discurso almeja 330


tornar a Independência da Bahia marco importante da Independência do Brasil. Palavras-chave: historiografia, Bahia, República.

Maria José Rapassi Mascarenhas --majorap@uol.com.br

Um estudo de vida cotidiana na Bahia do século VIII: apontamentos

Os inventários post mortem e os testamentos são fontes de importância inestimáveis. Mostrar como podem oferecer abundantes subsídios quantitativos e qualitativos para o conhecimento da história econômico-social da Bahia colonial e, especialmente, da vida cotidiana baiana na segunda metade do século XVIII e início do XIX, é o nosso objetivo. Após levantar, identificar e proceder a uma avaliação geral das fontes primárias, constatamos que esses manuscritos estão entre as mais ricas sobre a Bahia colonial e possivelmente sobre o tema e período em foco, a mais rica. Procuramos devassá-las no intuito de extrair delas todos os dados possíveis para compor um quadro geral dos valores e quantidades dos bens materiais e de todos os pormenores que evidenciassem a composição e o padrão da riqueza, seus níveis, suas formas de expressão, elementos componentes da vida cotidiana e que permitissem chegar mais próximo da definição do que era ser rico e honrado na Bahia setecentista. Esses documentos por conterem relações de bens materiais com seus valores e com suas quantidades revelam a qualidade social, a variedade, o volume e o valor da riqueza de um indivíduo ou de uma família. Evidentemente, além das diversas possibilidades, essas duas fontes apresentam limites e não esgotam as informações e dados necessários para se conhecer o nosso objeto de estudo.

Odilene Vasconcelos Almeida --lene.pa1980@hotmail.com

A mineração de Caetité: Questões ambientais e sociais

Esta comunicação tem por objetivo expor, sobretudo à comunidade de Caetité-Ba, as reais disposições da exploração do minério na região, abordando análises dos benefícios ou danos a essa comunidade. Além de evidenciar as possíveis implicações ambientais e sociais, conseqüentes das explorações minerais sem planejamento adequado, nessa ótica as indagações propostas circundam especificamente a extração de urânio em Maniaçu e a extração de pedras semipreciosas em Brejinho das ametistas, no que desrespeito ao impacto ambiental, social e ao processo de saúde-doença e acidente de trabalho nesses distritos. A presente proposta norteia também o tracejado do processo histórico que envolve está temática, para apreender 331


criticamente as questões problemas que desconstroem a consciência sociopolítica dessa localidade. O tema em questão sugere uma gama cabal de pesquisa, identificar os discursos que regem estes conflitos, decifrar a obscuridade das entrelinhas é de suma importância para a pesquisa do historiador. O objeto de estudo foi acolhido por fatos lamentáveis detectados nesta região, casos de gradação ambiental, social, econômico entre ostros aqui não mencionados. Caetité, que tem tantas ramificações políticas e educacionais é alvo constante do impacto negativo da extração do minério, às vezes injustamente, pois, as decisões que conduzem essas atividades chegam ao conhecimento social tardiamente. Portanto, são inquietações cunhadas sem o consentimento da comunidade. A pesquisa se desenvolveu a partir de entrevistas na modalidade temática, suporte teórico de processos saúde-doença, fontes documentais em variadas áreas entre outros mecanismos pesquisados.

Rafael Sancho Carvalho da Silva --- rsanchosilva@gmail.com

Correspondências de Juízes do sertão baiano: fonte para a construção da História Regional do Sertão do São Francisco oitocentista

A presente comunicação é uma análise sobre as correspondências dos juízes como fonte para a pesquisa da história da Bahia. Essa documentação foi utilizada na minha dissertação de mestrado (“E de mato faria fogo”: o banditismo no sertão do São Francisco, 1848 – 1884) e nesta comunicação estaremos observando a importância desta comunicação para os estudos de história regional e para a história dos sertões baianos. O nosso foco é o sertão do São Francisco que foi o principal recorte da minha dissertação. As correspondências dos juízes permitem analisar as relações de poder construídas nos sertões. Além disso, podemos refletir sobre as considerações de quem está inserido numa perspectiva social das autoridades litorâneas (provincial e imperial) com suas leituras sobre “civilidade”, “barbárie” e “ordem” em confronto com os modos de vida e as tensões sertanejas. Essas fontes devem ser lidas como documentação oficial e por isso é necessário ponderar as caracterizações feitas pelas autoridades sertanejas que assim fazem a partir não só de suas leituras de mundo atrelada ao contexto político em que eles estavam inseridos, como pelos arranjos políticos-sociais instituídos na região. Consideramos como importantes documentos para quem for estudar a história regional, história política e social na Bahia oitocentista. Afinal, são perspectivas diferentes dos jornais que circulavam em Salvador e, principalmente, pela inviabilidade da História Oral para o estudo do período (século XIX).

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Rômulo de Oliveira Martins

Mestrando pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Bolsista CAPES romulo.om@hotmail.com

“Vinha na fé de trabalhar em diamantes!” Lençóis – Ba (18441850)

A presente comunicação analisa o período inicial da extração de diamantes na Chapada Diamantina, primeiramente (1844), nas imediações do Rio Paraguaçu, arredores do atual município de Mucugê, e a sua rápida disseminação por toda uma área, que principiava em “Santa Izabel do Paraguassú” (atual Mucugê), chegando até Lençóis. Na frenética aventura pela busca de diamantes, as serras da Chapada foram salpicadas por dezenas de milhares de garimpeiros, naturais de várias partes do Brasil. Entre esses indivíduos havia grande parcela de escravos, forros e homens livres de cor. A ocupação dos terrenos diamantinos processou-se em diminuto espaço de tempo. A abertura dessa nova frente econômica desencadeou a cobiça de muitos indivíduos, tornando a região muito fértil em conflitos de toda natureza. Corolariamente, os conflitos foram potencializados diante da incipiente e frágil presença do estado para coibir os excessos da volumosa população. Crimes espantosos deram a tônica a essa primeira fase da mineração de diamantes na Bahia, alguns fizeram fortunas, mas, muitos, a grande maioria continuou vivendo na a pobreza. A corrida desenfreada aos garimpos realçou o ímpeto aventureiro de muitos indivíduos, marcando para sempre a história da Chapada Diamantina. Palavras-chave: escravidão, migração, Chapada Diamantina.

Silmária Souza Brandão

Mestre em Gênero Feminismo e Estudo de Mulheres pelo PPGNEIM/UFBA sil.brandao@ig.com.br

As viúvas na pena do ficcionista

A importância das fontes para a pesquisa em história tem gerado discussões que se prolongam no tempo. Isto porque, não sendo a História uma ciência estática e acabada, a cada dia surgem novas fontes e fatos novos emergem para contradizer ou confirmar o que já foi dito antes. Entre outros aspectos relevantes enfatizo a interdisciplinaridade e mesmo a aproximação da História com outras ciências, a exemplo da Sociologia, Economia, Filosofia e Psicologia. A partir da aproximação com o feminismo a História experimentou inovações na forma de ver e escutar as fontes que lhe são postas. Nesta perspectiva venho desenvolvendo a pesquisa que tem como objeto mulheres viúvas e comerciantes em Salvador no século XIX, utilizando as fontes tradicionais como os textos de Lei, inventários e testamentos, mas principalmente, privilegiando nestes últimos as prestações de contas relativas a gastos pessoais com vestuário, despesas médicas, mobiliário existente, aplicações bancárias, dívidas e jóias. O inventário das casas comerciais tem se destacado como importantes fontes para a obtenção de 333


respostas a muitos questionamentos que surgem ao longo da pesquisa. De igual sorte, os almanaques registram a dinâmica comercial da Bahia em informações também referidas nos jornais da época. Por fim, a literatura tem sido um novo caminho que percorro para desvendar o universo feminino e em especial, as relações de gênero relatadas nos romances Machado de Assis e José de Alencar, autores que dedicaram algumas linhas as mulheres viúvas, descortinando a possibilidade de recompor o cenário urbano do século XIX, os costumes e a sociedade de então. Além da massa documental, todas as outras fontes aqui referidas me inspiram e me impulsionam a seguir em frente e a refletir sobre as respostas obtidas às perguntas que foram lançadas. Palavras-chaves: gênero, viuvez, riqueza.

Simone Ramos Marinho

Mestre em História Social pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) monermarinho@yahoo.com.br

Livros e leitores do Club Rio Contense. Minas do Rio de Contas: 1902-1980

Estudar as práticas de leitura desenvolvidas no município de Minas do Rio de Contas, localizado no Alto Sertão da Bahia, a partir da criação da biblioteca do Club Rio Contense, em 1902. Na perspectiva da Nova História da Leitura, propõe-se desenvolver um método que nos permita pensar a experiência da leitura nesta cidade e sua ressonância para a vida social e cultural da mesma, ou seja, refletir sobre em que medida a vida daquela população foi transformada pela prática da leitura, uma vez que esta influencia a educação e formação das pessoas. Desta forma, pretende-se analisar os catálogos e registros de movimentação da biblioteca, produzidos pelo bibliotecário do Club, bem como inquirir as marcas de leitura inscritas nos poucos livros que restaram do seu acervo. Inspirados nas proposições da historiografia da leitura, buscamos pensar a leitura e a escrita enquanto práticas que trazem consequências sociais, políticas, culturais, econômicas, cognitivas e linguísticas para o grupo social ou para o indivíduo que aprende a usá-las. Nesta perspectiva é que situamos a atuação da biblioteca no município de Minas do Rio de Contas. A criação de um espaço de socialização intelectual, no raiar do século XX, numa região rural, pouco povoada e distante dos circuitos letrados do estado da Bahia, despertou o interesse de perscrutar os elementos significativos desta iniciativa. Por isso, surgem indagações que versam sobre diversos matizes e cujas respostas pretendemos alcançar a partir do desenvolvimento desta pesquisa. A missão da biblioteca foi dinamizada no decorrer da história. Em seus primórdios, ela foi símbolo de poder e acúmulo de conhecimento por uma elite privilegiada. Com o tempo esta concepção se transformou e adquiriu um caráter democrático ao possibilitar livre e amplo acesso ao livro pelo público. Embora a biblioteca do Club tenha sido restrita aos seus sócios, esta iniciativa foi igualmente importante por iniciar, ainda que de forma incipiente, a penetração da 334


leitura naquela comunidade sertaneja. É a partir dessa singularidade que pretendemos discutir a criação da biblioteca do Club Rio Contense e sua importância para a vida social e cultural da cidade de Minas de Rio de Contas, ao propiciar a difusão da leitura. Busca-se investigar os sujeitos envolvidos em sua criação de maneira a perceber os propósitos destes e em que medida se preocuparam com a circulação da leitura. Palavras-chave: Rio de Contas, biblioteca, práticas de leitura.

Suely Moraes Ceravolo

Professora Doutora do Departamento de Museologia/FFCH/UFBA; PPG História FFCH/UFBA. Pesquisa com apoio PIBIC/UFBA sumocem@gmail.com

Museus e coleções como fontes de pesquisa histórica: o Museu do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (18941897)

O estudo do colecionismo, coleções, gabinetes e museus pode elucidar relações entre instituições e agentes sociais contribuindo para a investigação no campo da história cultural. Os museus dos institutos históricos e geográficos foram pouco pesquisados, caso do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB). Com base no movimento dos museus no Brasil no século XIX, e em parâmetros sugeridos por investigadores apresenta-se resultados de pesquisa em andamento com o objetivo de identificar as formas e tipos de objetos que deram entrada nesse museu e, a partir daí, compreender a noção de história dos membros associados e da sociedade soteropolitana refletida na constituição do acervo. Os resultados parciais apontam no período delimitado para a categoria numismática incluída no escopo de objetos ‘históricos’ indicando que o seu aceite garantia para essa agremiação a posse e presença dessa tipologia de objeto componente obrigatório em coleções do século XIX. Palavras-chave: Colecionismo, museu, Instituto Geográfico, Histórico da Bahia.

Tadeu Baliza de Souza Júnior

Graduando pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). Bolsista PROBIC/UEFS tadeubaliza@hotmail.com

Crônicas, história e historiografia: configurações historiográficas sertanejas no período colonial baiano

Este trabalho pretende investigar a historiografia sobre um recorte sertanejo, o Alto Sertão da Bahia, nas regiões Sudoeste e do Médio São Francisco, no período colonial. Trata-se de um trabalho historiográfico que busca identificar tipologias, estilos, metodologias e as fontes utilizadas nos registros históricos coloniais. Decerto a utilização dos recursos da História Regional e Local permite avaliar as configurações historiográficas sertanejas no período colonial. Discorre-se desde a definição da 335


palavra sertão, até a gênese, formação geográfica e definições territoriais do Alto Sertão da Bahia. Outrossim, a partir das atividades econômicas (criação de gado, mineração, policulturas), verifica-se intercâmbios dos sertanejos com outros grupos sociais, pois a região se articulava com outros espaços internos da capitania da Bahia e também com outras regiões do Brasil, e até externo, com o comércio de exportação e importação. Vaqueiros eram os responsáveis pela criação de gado e os boiadeiros pelo transporte; nos idos coloniais esses tipos humanos eram os protagonistas desde o nascimento até a condução das boiadas até o litoral baiano. A grande extensão dos sertões foi essencial para a criação de gado, ao mesmo tempo, que o gado era usado como força motriz nos engenhos e nos transportes da cana. O estudo discute também sobre a mineração, atividade econômica importante para a sedentarização das pessoas próximas a região de Rio de Contas e Jacobina (comunidades sertanejas), que erigiram povoações, houve migrações não só internamente da capitania da Bahia, mas também de outras capitanias e de Portugal para as minas; estimulados pela cobiça e enriquecimento rápido, da mesma forma que gerava conflitos entre os grupos sociais. Outro indivíduo do universo da mineração era o tropeiro responsável pela comercialização de alimentos para as minas. Desse modo, constata-se uma “rede de comunicação” do sertão baiano com outras regiões, desde os estudos de cronistas, destacando-se Antonil(1711). O historiador: consagrado na lida com o sertão e pioneiro Capistrano de Abreu (1907). Segue com os que escreveram nas primeiras décadas do século XX, tal como Basílio de Magalhães (1914) e Urbino Viana (1935). Até os de destaque no final do século XX e início do XXI, entre eles Erivaldo Fagundes Neves (2005/2008). Palavras-chave: História, historiografia, Sertão da Bahia.’

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