Monografia em Jornalismo

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GEORGE GUILHERME SOARES DE OLIVEIRA SOUSA

MÍDIA LOCATIVA E REDES SOCIAIS: ESTUDO DE CASO DO TWITTER DO CENTRO DE OPERAÇÕES RIO

UERJ 2012


Mídia locativa e redes sociais: estudo de caso do twitter do Centro de Operações Rio.

GEORGE GUILHERME SOARES DE OLIVEIRA SOUSA

Monografia de conclusão do curso de Comunicação Social apresentada ao Departamento de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (FCS) da Uerj. Orientador: Sonia Virginia Moreira

Rio de Janeiro, 1. sem. de 2012


UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO FOLHA DE EXAME

Mídia locativa e redes sociais: estudo de caso do twitter do Centro de Operações Rio. George Guilherme Soares de Oliveira Sousa

Monografia submetida ao corpo docente da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Bacharel em Comunicação Social - Jornalismo.

Banca Examinadora:

__________________________________________ Sonia Virginia Moreira – Orientadora Professora Adjunta FCS/Uerj

_________________________________________ Fabio Mário Iório Professor Adjunto FCS/Uerj __________________________________________ Rafael Orazem Casé Professor Assistente FCS/Uerj

Resultado:_________________ Conceito:__________________ Grau obtido:_______________ Rio de Janeiro, ___/___/______


DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia a meus pais, Cléo e Lino (in memorian), acima de tudo, pela formação, carinho e amor que me deram. À minha tia Eunice e minha madrinha, Miriam, com as quais pude ter minha primeira noção de mundo ao perguntar

“quem

era

Collor?”

no

discurso de impeachmment do expresidente. E, também, a todos os professores, na Academia, no colégio e aqueles que ensinam fora da sala de aula com que pude aprender algo durante essa jornada chamada vida.


AGRADECIMENTOS Agradeço – e muito - a minha orientadora, Profª.

Sonia

Virginia

Moreira,

pela

disposição e paciência que tendem ao infinito. Sem sua dedicação aos nuances deste texto, sem dúvida não seria possível a sua conclusão. Aos professores Fabio Iório e Rafael Casé, pela atenção e precioso tempo depositados nesta banca. Agradeço, também, à coordenadora de comunicação do Centro de Operações Rio, “moça” Melissa

Gadelha,

e

toda

equipe

da

Assessoria de Comunicação, por todo suporte

dado

às

pesquisas

e,

principalmente, por acreditarem em meu potencial, fatores sem os quais eu nunca teria desenvolvido o pensamento central desta monografia. Aos meus amigos Ana Clara Vidal, Bruno Padrão Eiras (20 anos de amizade não é para qualquer um), Érika Villarinho, Felipe Gil, Tamiris Canejo, entre outros, que compreenderam meu sumiço neste período e, mesmo assim, me deram um apoio incondicional durante a confecção deste trabalho. Às professoras Patrícia de Miranda Iório, que acreditou e investiu neste meu lado academio atrelado à tecnologia

e

Ariane

Holzbach,

que

ministrava a disciplina de Jornalismo na Internet em 2010 e me apresentou o tema, que mais parecia a engrenagem que faltava para

minhas

obrigado.

ideias.

A

todos

vocês,


EPÍGRAFE

Os lugares se definem, pois, por sua densidade informal e sua densidade comunicacional, cuja função os caracteriza e os distingue. Essas qualidades se interpenetram. Milton Santos A Natureza do Espaço, 1996

The Internet has already started leaking into the real world.

Ben Russel Roadmap Manifest, 1999

RESUMO


SOARES, George. Mídia locativa e redes sociais: estudo de caso do twitter do Centro de Operações Rio. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Sonia Virgínia Moreira. Rio de Janeiro: UERJ/FCS, 2012, 53p. Monografia. (Graduação em Comunicação Social – Jornalismo).

A evolução da tecnologia, principalmente no que se refere à mobilidade e às relações homem / espaço urbano, está transformando o processo comunicacional. Este trabalho aborda tema já estudado por outros autores, a chamada mídia locativa, utilizada para agregar conteúdo digital a um local, no qual é elemento de funções de monitoramento, vigilância, mapeamento, geoprocessamento, localização, anotações, jogos e, também, de colaboração da produção de conteúdo jornalístico. No contexto atual de web 2.0, a mídia locativa representa uma tendência na esfera do Jornalismo. São dispositivos que permitem que as pessoas se localizem e a outras no espaço geográfico e que conectem a informação a posições geográficas. Cada vez mais essas tecnologias da mobilidade sensíveis aos locais podem acessar a Internet, permitindo que a informação seja armazenada e recuperada por meio de bancos de dados remotos, tais como perfis específicos em redes sociais, por exemplo. Neste ponto é que reside o cerne desta monografia, ao pretender aferir como se dá tal processo. Assim, por metodologia, pretende-se analisar o perfil do Twitter do Centro de Operações Rio, órgão de esfera municipal criado na final de 2009 e que utiliza o microblog como principal fonte de informações e relacionamento com os usuários, em consonância com a bibliografia publicada em outras oportunidades por autores que abordam o tema.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................08 1.

TWITTER: O MUNDO EM 140 CARACTERES...................................................11

1.1.

Mais do que uma breve mensagem: histórico do Twitter........................................11

1.2.

O Twitter e o Jornalismo: uma relação conflituosa?...............................................15

1.2.1. Tweet = notícia?............................................................................................................17

2.

MÍDIA LOCATIVA: A INFORMAÇÃO IN LOCO................................................21

2.1.

Um novo jeito de produzir conteúdo.........................................................................21

2.1.1. Origem e conceito........................................................................................................ 21 2.1.2. O meio é a mensagem: exemplos da ciberurbe.............................................................23 2.1.3. Os tipos de mídia locativa.............................................................................................27 2.2.

O hibridismo dos territórios informacionais............................................................30

2.3.

Jornalismo Móvel: a nova possibilidade de fazer notícia........................................32

3.

CENTRO DE OPERAÇÕES RIO, OS OLHOS DA CIDADE...............................35

3.1.

Histórico do Centro de Operações............................................................................35

3.2.

A comunicação do Centro de Operações Rio: o papel do Twitter........................ 38

4.

ANÁLISE.....................................................................................................................42

4.1.

A interação como forma de participação no cotidiano do Rio................................42

4.2.

Monitoramento de redes sociais no processo de tomada de decisão ......................44

5.

CONCLUSÃO.............................................................................................................48

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................50 ANEXO A................................................................................................................................52 ANEXO B.................................................................................................................................53


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INTRODUÇÃO A área da Comunicação é dinâmica e sujeita às constantes modificações devido ao modo como seus objetos de estudo se dispõem no mundo contemporâneo. Este trabalho pretende identificar como se dá o diálogo da mídia locativa com as redes sociais, dois temas atuais na área no processo de construção da notícia. Neste contexto é enfatizada a ideia de que os atores, humanos e não humanos, estão constantemente ligados a uma rede social de elementos (materiais e imateriais). Sua essência demanda novos prismas para entender melhor o agenciamento social, porque a teoria do ator-rede inclui a dinâmica de atores não humanos na rede de relações. A área da Comunicação, embora com uma bibliografia sobre a temática, ainda carece de novas visões acadêmicas. Para atingirmos nosso objetivo iremos analisar o perfil do Twitter do Centro de Operações Rio1, vinculado à Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Criado em dezembro de 2010, ele tem como objetivo trazer melhorias para a vida do cidadão carioca, não somente no que tange à tecnologia, mas às facilidades de conseguir informação de forma correta, rápida e personalizada. Em seu plano de comunicação, as redes sociais fazem parte da “linha de frente” para o diálogo do Centro de Operações com a população. Assim, iremos pontuar cada aspecto do perfil, expondo neste estudo todo o mecanismo de personalização da notícia. Por se tratar de um tema amplo, discorreremos brevemente sobre tipos e aplicações da mídia locativa, a fim de ilustrar suas possibilidades na ciberurbe – na qual o conceito de cidade não se restringe ao território físico, mas a eventos dinâmicos atrelados aos objetos e localidades desta cidade. Esta definição foi criada pelo professor da Universidade Federal da Bahia, André Lemos, em seu livro Ciberurbe: a cidade na sociedade da informação (2003). O interesse por este tema está relacionado ao fato de o autor trabalhar no Centro de Operações Rio. Assim, nós podemos acompanhar a evolução do órgão municipal e a realização de protocolos nas redes sociais e web. A nossa intenção com este trabalho de conclusão de curso é mais tarde dar continuidade ao estudo em um projeto de pós-graduação. Este trabalho se divide em quatro capítulos, sendo que os dois primeiros tratam de uma ambientação com os temas de mídia locativa e redes sociais, em especial, o Twitter. O terceiro capítulo discorre sobre o Centro de Operações Rio e como as redes sociais estão incorporadas no seu coditiano e no conceito de Cidade Inteligente 2 . O quarto (e último) capítulo consiste em um estudo de caso do Centro de Operações Rio, em que damos ênfase ao 1

www.twitter.com/operacoesrio Smart Cities é um conceito desenvolvido pela empresa de tecnologia americana IBM. Mais informações disponíveis em: http://www.nytimes.com/2012/03/04/business/ibm-takes-smarter-cities-concept-to-rio-de-janeiro.html?pagewanted=all 2


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monitoramento de redes sociais e ao processo de tomada de decisão operacional de maneira a identificar os elementos responsáveis pelo processo de construção de notícia e informação personalizada. Utilizando os temas tratados nos capítulos anteriores pretende-se aferir como as mídias locativas “permitem a troca de informação em mobilidade fornecendo dados dinâmicos sobre um determinado ambiente, resignificando-o” (LEMOS, 2007) e de que maneira isto se configura no Centro de Operações Rio. No primeiro capítulo, falaremos sobre a questão do Twitter como uma das redes sociais do Centro de Operações. Será apresentado um breve histórico do Twitter e da sua relação com o “fazer jornalismo”. O segundo capítulo trabalha com o conceito de mídia locativa. Iremos contextualizar o termo nas áreas da Sociologia e da Comunicação. Para tanto, nos respaldaremos nos textos de André Lemos (2005/2009), Alain Bourdin (2001) e Marshall McLuhan (1969). Por meio desses autores verificamos que o debate em torno do termo “mídia locativa” é ainda controverso, mas necessário para estabelecer o fio norteador para uma análise detalhada dada a extensão do tema e suas especificidades. Discorreremos sobre a questão do QR-Code, ferramenta usada, em seu início, para identificar peças de automóveis, hoje difundida no ramo da publicidade e ainda timidamente na área do jornalismo. Neste capítulo teremos, ainda, a oportunidade de apresentar um breve histórico sobre os tipos existentes de mídia locativa. A extensa possibilidade de aplicarmos a mídia locativa demandou uma revisão da bibliografia que aborda a temática hoje para, como nos diz Lemos (2009), “relativizar as teorias, cujo pessimismo das novas tecnologias de comunicação deu à cibercultura visões deturpadas sobre a decadência do corpo, o colapso dos espaços geográficos e a perda de significados”. Também trataremos da problemática dos territórios informacionais a partir de Lemos (2005) e veremos que o “urbano”, hoje, é uma paisagem em que qualquer indivíduo pode produzir notícia, no sentido defendido por Nelson Traquina (2002) e sua teoria organizacional. Segundo o autor português, as notícias são o resultado de processos de interação social que têm lugar dentro da empresa jornalística. Essa interação a que se refere Traquina dependerá da independência do veículo (aqui visto como a mídia locativa) e de sua posição sócio-política cultural. Esta última característica agirá diretamente na produção e na interpretação dos fatos e o fator econômico ganhará força e espaço. Dessa forma, afirma Lemos (2009), a dinâmica da mídia locativa reforça a comunhão entre a urbes e o virtual. Nesse contexto, abordaremos o ramo do jornalismo móvel e como as tecnologias atuais auxiliam na produção de notícia.


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O terceiro capítulo está reservado ao Centro de Operações Rio. Por sua recente inauguração e a minha participação no cotidiano do órgão, esta monografia é o primeiro trabalho acadêmico sobre a sua atuação. Neste capítulo discorreremos sobre o papel do Twitter no planejamento e nas estratégias de comunicação, principalmente no que consideramos “comunicação de crises”. Utilizaremos como exemplos a divulgação de informações durante os Jogos Mundiais Militares de 2011 e a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, em 2012. No quarto capítulo realizaremos um exame da mídia locativa, em associação às redes sociais, com o respaldo da área do jornalismo participativo. O objeto do nosso texto foi o acompanhamento de uma situação de gerenciamento de crise e sua conseguinte comunicação a partir do Centro de Operações Rio. A escolha não se deu a esmo: o evento escolhido foi o incêndio em um prédio comercial em Copacabana, no dia 6 de julho de 2012, data do aniversário de 120 anos do bairro e na véspera do início do período eleitoral para as eleições municipais deste ano no Rio de Janeiro.


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Capítulo I TWITTER: O MUNDO EM 140 CARACTERES

1.1.

Mais do que uma breve mensagem: histórico do das redes sociais e do Twitter A primeira rede social que se tem notícias data de 1997. Lançado em junho daquele ano,

o site SixDegrees.com permitia que seus usuários criassem perfis, sua lista de amigos e, a partir de 1998, interagir com essas listas de amigos. Cada uma dessas características existiu, de alguma forma, antes do SixDegrees. Perfis pessoais eram comuns na maioria dos sites de relacionamento, fóruns, comunidades de discussões etc. Comunicadores instantâneos como IRC e ICQ 3 já criavam listas de amigos, embora os amigos não fossem visíveis para os outros4. Páginas como a Classmates.com5 permitiam que as pessoas de uma comunidade se relacionassem com a sua escola ou faculdade, navegando em redes internas, mas os usuários não podiam criar perfis ou lista de amigos. O SixDegrees foi o primeiro a combinar todas essas características. O surgimento e a posterior popularização da Internet enquanto suporte de comunicação, especialmente na segunda metade dos anos 90, trouxe mudanças profundas para a sociedade6. Essas mudanças, notadamente marcadas pela apropriação simbólica e re-significação das ferramentas de comunicação mediada pelo computador, trouxe também impactos às formas sociais. O principal exemplo desses impactos está nos sites de rede social (Twitter, Orkut, Youtube, Facebook e etc.) e seus conseqüentes reflexos nas interações homem-homem. Os sites de rede social foram definidos por Boyd e Ellison, em 2007, como ferramentas que permitiriam aos seus usuários a criação de um perfil individualizado, a interação de círculos sociais e a possibilidade de intercâmbio com outros grupos, conforme explicam: We define social network sites as web-based services that allow individuals to (1) construct a public or semi-public profile within a bounded system, (2) articulate a list of other users with whom they share a connection, and (3) view and traverse their list of connections and those made by others within the system. The nature and nomenclature of these connections may vary from site to site (BOYD & ELLISON, 2007). 3

O nome “IRC” vem de Instante Relay Chat, que é um protocolo que programa a troca de mensagens e que pode ser feita em salas de bate-papo ou em salas privadas. O ICQ foi inventado em 1996 pelos israelenses da Mirabilis, uma empresa de tecnologia da informação, e conquistou a internet até metade da década de 2000. O nome ICQ é uma brincadeira com a frase “I seek you” (“eu procuro você”, em tradução livre do original em inglês), que tem o mesmo som de "ICQ" quando falado. O ICQ foi a principal porta de entrada dos iniciantes em internet para a comunicação instantânea e permitia o envio de mensagens e arquivos. 4 No Brasil, o MSN Messenger, programa de mensagens instantâneas e gratuito, foi criado em 1999 e se popularizou durante a primeira década dos anos 2000. O programa, no entanto, caiu em desuso a partir de 2011 com a difusão das redes sociais de grande interatividade, como o Twitter e Facebook. 5 www.classmates.com 6 CASTELLS, 2003.


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Figura 1 Linha do tempo mostra o início de operação de diversas redes sociais, como Twitter, Orkut, Facebook e Youtube

A apropriação desses sites não apenas levou as pessoas a utilizar essas ferramentas para publicar suas redes de contato, mas, igualmente, para modificá-las. Essas modificações, decorrentes dos novos sentidos negociados e construídos através da comunicação, fizeram com que essas redes se tornassem muito mais “associativas” (RECUERO e ZAGO, 2009): elas não mais dependiam de uma interação social constante de cada usuário. As redes sociais publicadas nessas ferramentas passaram a ser mais mecanizadas e constituídas de conexões construídas pelos próprios sites, mantidas por eles e independentes do investimento nas relações sociais de cada ator. Por conta disso, as redes sociais online tornaram-se representações muito maiores das redes sociais do “mundo”, diferentes de seus


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correspondentes off-line. Hoje, por exemplo, esse fato pode ser comprovado quando se pergunta a alguém o número de “amigos” em uma determinada rede social e a resposta geralmente é de que muitos deles sequer foram vistos. Por se basearem em novas formas de capital social construídas de modo coletivo e amplificadas pelos valores da contemporaneidade (como por exemplo, a atenção e a visibilidade), como explica LAHAN (2006), essas redes passaram a operar cada vez mais interconectadas. Estudos sobre o grau de conexão (a chamada distância social) entre os perfis no Twitter, por exemplo, mostrou que o grau de separação para as redes off-line proposto como seis (MILGRAM, 1967) passou a pouco mais do que três (BACKSTROM al., 2012). Em outras palavras significa que, quando alguém publica algo no Twitter, uma vez que uma de suas conexões a republique (“retweet”) e uma das conexões de suas conexões que divulgou também a faça, essa informação estará acessível a praticamente todos os 900 milhões de usuários da ferramenta7. Esse fenômeno é denominado "clusterização" da rede social e indica que as redes estão tornando-se mais densas e as pessoas mais conectadas. Embora pareça algo sem interesse, essa interconexão tem impactos igualmente significativos na circulação de informações, por exemplo. Os sites de rede social também se enquadram no conceito de "público mediado" de Boyd (2007), o que significa dizer que também têm as características desses, a saber: a capacidade de busca, a capacidade de replicar e a permanência das informações, ao lado da presença de audiências invisíveis. As três primeiras características basicamente implicam no fato de que a informação, nessas redes, tem validade longa. O Twitter é um site que contempla ferramentas de rede social e microblog. Criado em março de 2006 como um serviço interno da empresa Obvious, de Evan Williams, mesmo criador do Blogger 8 , ferramenta que popularizou os blogs nos anos 2000, foi lançado para o grande público em outubro do mesmo ano. Em abril de 2007, tornou-se empresa separada da Obvious sob o nome Twitter, Inc. A criação do Twitter tinha o objetivo inicial de integrar pessoas próximas – amigos, familiares, colegas de trabalho – num serviço que possibilitasse a comunicação e a conexão entre elas através da troca de mensagens rápidas que respondessem a uma simples pergunta: O que você está fazendo?9

7

Dados da comScore Inc., empresa que pesquisa dados relativos à internet, observados entre os meses de fevereiro de 2008 e de 2009. <http://www.comscore.com/blog/2009/04/twitter_traffic_explodes.html/> Acessado em: 02/07/12 8 www.blogger.com 9 Texto da página inicial do site Twitter: “Twitter is a service for friends, family, and co-workers to communicate and stay connected through the exchange of quick, frequent answers to one simple question: What are you doing?”


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O curioso é que, como já foi comprovado, a maioria das pessoas não responde a essa indagação. No estudo “Twitter: Expressions of the Whole Self, an investigation into user appropriation of a web-based communications platform”, o americano Edward Mischaud (2007) comprovou que apenas 35% dos entrevistados responderam à pergunta. O restante postou conteúdos que ele classificou como: “„Pessoal‟ (pensamentos e detalhes sobre a vida do usuário); „Família/Amigos‟ (mensagens direcionadas a uma pessoa específica; sentimentos ou pontos de vista sobre outra pessoa); Informação‟ (informação e notícias); „Trabalho‟ (referências ao local de trabalho, colegas, ou tarefas diárias); „Conversa pequena‟ (compressão dos subtemas „Comida‟, „Cultura Popular‟, e „Tempo‟); „Tecnologia‟; e „Atividade‟ (eventos que acontecem ou tarefas completadas) e „Miscelânea‟, formado por postagens inclassificáveis” (MISCHAUD, 2007).

Isto ocorre porque, como afirma Castells (2006), “uma parte considerável das comunicações que acontecem em rede é, em geral, espontânea, não organizada e diversificada em finalidade e adesão”. Apesar de o Twitter ter sido criado com um objetivo específico, esse uso inicial foi “desvirtuado” para se adaptar às necessidades dos usuários. Nesse sentido também é importante prosseguir mediante a observação de que o Twitter é um site de rede social e não um tipo próprio de rede social. Assim como os demais sites de relacionamentos – como Orkut 10, Facebook11 etc – o Twitter é mais um instrumento por meio do qual as pessoas reafirmam laços já existentes e também criam novas conexões, antes impossíveis em função de complicadores, como o da distância geográfica. Entretanto, a rede social não é fruto da internet e do ciberespaço. Ela é um fenômeno já existente e que foi potencializado pelas possibilidades comunicativas que a tecnologia ofereceu (CASTELLS, 2006). A princípio, o serviço de rede social no Twitter é construído através do mecanismo follow (seguir, em português). Ao escolher um perfil para seguir e assim receber suas postagens, o usuário do site passa a dispor de ferramentas de interação: o reply (resposta pública a uma postagem, como um comentário de blog), a direct message (mensagem direta e particular) e o retweet (republicação de uma postagem). Dentre os três recursos de interação do Twitter, o retweet é o mecanismo responsável pela disseminação de links e mensagens ao permitir a ponte entre redes diferentes. “Retuitar” significa receber uma postagem e republicála em sua própria rede, cujos contatos pertencem simultaneamente a outras redes, e que também podem retuitar a postagem recebida. Em seu blog, o jornalista e professor Alex Primo expõe algumas implicações desta ação:

10 11

www.orkut.com www.facebok.com


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“Logo, um simples retweet pode não apenas ampliar o alcance de uma informação, mas também criar novas conexões, motivar debates a partir de uma perspectiva diferente, e até mesmo gerar uma ação coletiva em rede” (PRIMO, 2009).

Essa mobilização que o Twitter pode gerar já é sentida, pois sua utilização a partir de aparelhos portáteis encaixa-se numa cultura global cuja integração com o celular é completa, como afirma a pesquisadora Lúcia Santaella: “Eles (os celulares) são tão leves, uns verdadeiros mimos, vão para onde vamos, pequenos objetos de estimação, nos bolsos, nas bolsas, colam-se ao nosso rosto, e, por meio de protocolos simples de uma interface amigável, seus infinitos fios invisíveis nos põem potencialmente em contato com pessoas em quaisquer partes do mundo” (SANTAELLA, 2009).

Aproveitando essa conexão mundial através dos celulares, o Twitter possibilita que, onde quer que esteja qualquer pessoa possa informar sua rede sobre um acontecimento e essa nota, foto ou vídeo ser repassada para outras redes, alcançando repercussões não previstas e sendo capaz de se antecipar à própria imprensa, assumindo um papel informativo significativo. Mais do que nunca, a web se mostra como um celeiro de oportunidades para o jornalismo participativo, principalmente com as possibilidades que as mídias móveis como o Twitter oferecem.

1.2.

O Twitter e o Jornalismo: uma relação conflituosa? Em 2011, Manuel Castells escreveu sobre o movimento da Primavera Árabe12 no seu

perfil do Twitter. Para ele, a possibilidade de organização, em larga escala, de milhares de indivíduos, para protestar e revolucionar é devido à estrutura da sociedade da informação, à cultura da Internet e aos atores e sua ação. Mais do que tal estrutura, é este novo jeito de lidar com as redes sociais que possibilitam que as informações circulem desse modo. Essa revolução, segundo ele, só foi adiante por conta das conversações que nasceram, se espalharam e se reproduziram dentro das redes sociais. É fato que esses sites permitiram que as pessoas estivessem muito mais conectadas e que isso impacta a circulação dessas informações, além da mobilização dos atores também 12

Em dezembro de 2010, um homem na Tunísia ateou fogo ao seu corpo que queimou até a morte em protesto contra o tratamento da polícia. O que se seguiu foi um ano extraordinário pró-democracia com as rebeliões que eclodiram em todo o Oriente Médio. Toda essa mobilização teve as redes sociais como fio centralizador e condutor dos movimentos.


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nos espaços off-line. O antropólogo e especialista em estudos de mídia, John Postill, escreveu em 2012 sobre a chamada mobilização dos "Indignados" na Espanha, 13 mostrando as articulações e mobilizações da população por meio das redes sociais e do Twitter, em especial, baseadas nas conversas entre os atores que ali estavam. O jornalismo também sente os impactos dessas trocas. A autora Gabriela Zago (2009), por exemplo, demonstrou como essas novas formas de circulação reposicionam os veículos jornalísticos e a notícia. Ela conclui que suas funções foram modificadas. Ao invés de noticiar, os veículos parecem legitimar os acontecimentos (RECUERO, 2011). Mas mais do que isso, o jornalismo também parece tornar-se cada vez mais conversacional, mais horizontal nessas ferramentas (TEIXEIRA, 2011). Fernando Firmino enfatiza o uso do microblog pelo jornalismo como uma forma de o veículo conseguir noticiar antes dos demais: “Portanto, percebe-se que essa modalidade de blog, pelas características apresentadas, enquadra-se num perfil adequado para o uso jornalístico, que exige, mais que qualquer outra prática, o caráter do imediatismo e da atualização contínua em situações de cobertura de um evento (crises, acidentes, conflitos) em que está em jogo a competição pelo tempo real entre diversas mídias” (FIRMINO, 2009, p.258).

Com o aumento exponencial de usuários do Twitter, um dos grandes beneficiários pode ser o jornalismo digital. Porém, é necessário ressaltar que a rede social de microblogs, por si só, não é jornalística, assim como todas as mídias sociais não são, sozinhas, centros de informação. Hoje em dia, é possível colocar diariamente questões – polêmicas ou não – publicadas em formatos de tweets (mensagens de até 140 caracteres) e observar a reação imediata das pessoas. E é exatamente nessa hora que a afirmação de que o Twitter por si só não é jornalístico se consolida. O número de informações publicadas na rede faz com que muitos se autodenominem centros informacionais. Porém, a credibilidade fala mais alto, principalmente no âmbito do mundo 2.0 e suas avalanches diárias de notícias. É preciso utilizar a rede social com profissionalismo para que, desse modo, a diferenciação entre a notícia "amadora" e a jornalística seja evidenciada sozinha. Muitos jornalistas estão utilizando a rede como um espaço para a busca de pautas – mesmo correndo o risco de que algo seja

13

O “Grupo dos Indignados” foi movimento social formado em 15 de maio de 2011 na Espanha, em protesto contra a crise econômica e os excessos do capitalismo. Os ativistas, em sua maioria jovens e hasteando a bandeira com o lema "Tomar as ruas", se organizam e se mobilizaram através das redes sociais, convocando concentrações em 80 cidades do país.


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lançado intencionalmente por algum usuário com má intenção 14 – e na procura por novos públicos e tendências. Mesmo com todos os perigos que uma rede social aberta e colaborativa apresenta, o jornalismo pode usufruir do Twitter como um meio de encontrar histórias distintas, segmentadas e, principalmente, trilhas que poderão levar o jornalista a furos reais. Além de uma plataforma que coloca o jornalista mais próximo de seu público, a rede social de microblogs traz consigo a possibilidade de ser utilizada como uma ferramenta para a cobertura em tempo real de algum fato ou evento. A criação de dezenas de perfis oficiais na rede permite que o Twitter seja um agregador de notícias customizadas por parte da redação, empregado para a publicação de links, notícias, informações adicionais a uma reportagem, divulgação de fontes externas e outros tipos de funcionalidades. Ao contrário do que muitos afirmam, o Twitter pode ser visto como uma ferramenta auxiliar ao jornalismo digital e não como um „exterminador‟ da capacidade crítica dos jornalistas. Na rede, todos os usuários são críticos. Não se trata de um conglomerado de informações totalmente confiáveis, tal como a imprensa tradicional, com profissionais qualificados, se propõe a ser. O Twitter, no entanto, traz às redações a opinião do leitor ao ler um artigo ou uma matéria em tempo real. Cabe ao profissional de jornalismo analisar e compreender o melhor modo de aferir os dados obtidos na rede, maximizando seu impacto construtivo para com a sociedade, e ajudando, literalmente, a separar a imprensa de trigo da imprensa de joio.

1.2.1.

Tweet = notícia?

Lançado em 2006, o Twitter é uma ferramenta que tem chamado a atenção de comunicadores em geral. Apesar do crescimento ainda pequeno no Brasil (o Ibope/NetRatings recentemente divulgou um número de cerca de um milhão de usuários, mas apenas 140 mil recorrentes), seus usos têm sido cada vez mais discutidos. Em 2008, por exemplo, vimos claramente uma parte deles na divulgação da campanha de Barack Obama, nos Estados Unidos, mais tarde na ação que resultou na morte do terrorista saudita Osama Bin Laden e, no Brasil, nas redes de cooperação formadas para ajudar aqueles atingidos pelas enchentes que ocorreram em Santa Catarina. Também foi instrumento importante na manifestação conhecida como “Primavera Árabe”, ocorrida em abril de 2012. 14

Na gíria de Internet, usuários de má índole são conhecidos como “trolls”. Eles tentam de forma abusiva e deliberada, perturbar, desqualificar, ofender ou violar regras de determinada tipo de atividade apenas pela expectativa de ser criada uma confusão em torno do ato.


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Desde o seu início, o Twitter teve uma dupla face em seu uso e apropriação: foi, ao mesmo tempo, uma ferramenta de informação e uma ferramenta de conversação. No entanto, talvez por conta da dificuldade técnica em seguir uma conversação por ali, talvez por conta da sua assincronicidade (a conversa, no Twitter, estende-se no tempo e não se sabe quando o outro responderá a sua mensagem), no Brasil parece ter uma apropriação mais focada na informação15. Ou seja: em nosso país, o Twitter ganhou destaque e usuários pelo seu papel na construção e difusão das informações. Em uma recente pesquisa com cerca de mil usuários brasileiros, foi descoberto que mais de 75% deles consideram o Twitter uma fonte de informações e 73% utilizam seu Twitter para divulgar informações que consideram relevantes. Apenas 39% afirmam utilizar a rede para fins de conversação. Isso não significa, no entanto, que o uso do Twitter é exclusivamente para notícias, mas, sobretudo, que para as redes sociais que o utilizam, a informação é um valor muito relevante. Se o principal uso do Twitter está relacionado com a informação, aí está um nicho fundamental para o jornalismo e, em especial, para o jornalismo digital. Justamente pela arquitetura leve e capacidade de espalhar rapidamente as informações especializadas, o Twitter deveria, também, ser apropriado pelos veículos informativos. No entanto, para a apropriação, é preciso também pensar um pouco nos valores que são construídos na ferramenta. O Twitter é apropriado como um veículo informativo, no entanto, não se pode esquecer que, em sua essência é um site de rede sociais16. A rede de microblog vem se destacando como ferramenta informativa não apenas porque permite que informações especializadas e com certa credibilidade 17 circulem, mas também porque permite que essas informações sirvam para conversações, debates e, através deles, ter acesso a novas informações. Mais do que gerar debate, o Twitter resulta, também, em cooperação e colaboração (no caso do apoio aos desabrigados e desalojados em Santa Catarina, durante as enchentes de novembro de 2008 ou no caso da ocupação do Complexo do

15

Gerenciadores de redes sociais como o Hootsuite e o Tweetdeck diminuem este tempo de resposta, pois é possível criar “listas de usuários específicos” neles. Isso, contudo, não altera a natureza da rede social e a resposta continua a ser atemporal, pois a natureza-fim do Twitter não é a conversação. 16 Boyd, Danah & Ellison, Nicole (2007). Social Network Sites: Definition, History, and Scholarship. Disponivel em http://jcmc.indiana.edu/vol13/issue1/boyd.ellison.html 17 O Twitter tem um selo de autenticidade chamado “Verify Account” (Conta Verificada, em livre tradução). Este selo é dado apenas para perfis que comprovem “ser eles mesmo”, ou seja, que não é um perfil falso ou que esteja usando indevidamente o nome de outra pessoa. Perfis de veículos de imprensa como o The New York Times e Rede Globo de Televisão têm este selo.


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Alemão18). Como ferramenta de conversação, o Twitter é uma via de dois sentidos, o que muitas vezes é de difícil apropriação para os veículos noticiosos. A informação, no Twitter, tem valor tanto pela sua autoria como pelo debate que gera. Esse debate é relacionado também com a própria qualidade dos vínculos estabelecidos na rede social anexa ao sistema. É justamente através dessa rede social que são construídos os valores que considero relevantes para a informação divulgada. O valor de uma informação está associado, de forma direta, à sua credibilidade e esta, por sua vez, está associada a quem a reporta. Para Raquel Recuero, esse valor é definido por três elementos da rede social: autoridade, popularidade e reputação. Esses três elementos, relacionados entre si, são as chaves para a construção da credibilidade. A autoridade é frequentemente relacionada ao poder. Assim, afirma a autora, poderíamos dizer que a autoridade está relacionada ao poder sobre os demais, que é diretamente relacionado à produção. Recuero afirma que a autoridade está relacionada à capacidade de influência na rede: Essa autoridade, na rede social, é também concedida e construída através de diversos mecanismos, entre eles, a popularidade e a reputação. A popularidade mostra o quão central na rede está um determinado nó. Em termos de rede social, isso quer dizer que uma pessoa muito popular é muito conectada na rede. Quando pensamos no Twitter, poderíamos dizer que um usuário muito popular é aquele que tem muitos seguidores ou segue muita gente (muito mais do que a média dos demais usuários). (RECUERO, 2009).

A autora alerta, porém, para o fato de que o excesso de popularidade não se traduz, necessariamente, em autoridade. Várias conexões de uma pessoa não significa que este usuário influencie os demais. Há Twitter cujo poder de influência é muito grande (quando boa parte de suas mensagens é repassada na rede), mas que não são necessariamente aqueles que ficam mais tempo online. É o caso, por exemplo, do líder budista Dalai Lama, que ingressou oficialmente no Twitter em fevereiro de 2010. Ele não segue ninguém (following) até 5 de agosto de 2012 acumulava quase 5 milhões de seguidores na rede de microblog. Figura 2 Perfil oficial de Dalai Lama no Twitter

18

Em novembro de 2010, uma ação conjunta das forças de segurança do estado do Rio de Janeiro com o Exército Brasileiro ocuparam o complexo de favelas conhecido como Complexo do Alemão. A imprensa só conseguia ter acesso seguro nas vias do entorno do complexo e não tinham notícias do que se passava no interior das favelas. Jovens das comunidades usavam o Twitter para relatar o que se passava nas ruelas e becos do Complexo do Alemão durante a ocupação.


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A reputação é o elemento qualitativo que, para Recuero (2012), está relacionado com a impressão que os demais membros da rede social possuem de determinado ator. A reputação é relacionada às ações, às mensagens e às impressões dadas por um ator. A reputação também está associada à autoridade. Pessoas com autoridade para falar sobre o período da ditadura militar brasileira (1964-1980), por exemplo, precisam ter alguma reputação, no sentido de conhecer o assunto, como ter estado presente no local dos fatos etc. Na prática, como isso está associado à credibilidade? Recuero (2012) nos diz que o Twitter está sendo apropriado, no Brasil, como uma ferramenta informativa. Talvez pelo seu caráter estrutural leve, que permite o acesso rápido via dispositivo móvel ou pela facilidade de encontrar mensagens e pela forma de construção da informação. Tal informação tem um impacto social imediato: sua consistência e qualidade influenciam a sua difusão na rede. A qualidade também está diretamente relacionada aos valores que vão ser refletidos para o ator ou veículo, tais como reputação, popularidade e autoridade. Se a informação, no sistema, é um valor, este valor é também relacionado com a sua especialidade e informação para a rede social. Quanto maior a relevância, mais credibilidade e cooperação serão geradas pelos demais atores, que vão discutir, "retwittar" e mesmo comentar a informação em outros ambientes. Ou seja, limitar-se a repetir aquilo que todos os demais veículos já disseram não faz sentido. Para o jornalismo, isso representa um trabalho cada vez maior de busca e construção de informações de qualidade, relevância e especialização.


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Capítulo 2 MÍDIA LOCATIVA: A INFORMAÇÃO IN LOCO

2.1.

Um novo jeito de se produzir conteúdo

2.1.1. Origem e conceito Para Lemos (2007), hoje o ambiente comunicacional é formado por um fluxo de informações centralizado customizado, em que qualquer indivíduto tem a capacidade de produzir, processar, armazenar e fazer circular informação através de vários formatos e modulações. Esta configuração deu um novo escopo ao âmbito urbano, que não se traduz apenas em cidade. A alma da cidade, contudo, se traduz no conjunto das diversas forças que a compõem. Lemos nos diz que o urbano é o virtual da cidade, aquilo que emerge dos processos de industrialização, de racionalização das instituições, dos meios de comunicação de massa, das diversas redes sociais (técnicas, culturais, políticas, imaginárias): O urbano se atualiza na cidade e a cidade se virtualiza no urbano. Da atualização das cidades emergem processos urbanos virtualizantes. Deste modo, verificamos que o espaço urbano é um espaço socialmente produzido. Podemos dizer que a cidade é o espaço físico das práticas sociais e que as novas experiências de localização e de tratamento inteligente da informação, a partir de dispositivos sem fio que aliam mobilidade, personalização e localização, criam novas práticas do espaço. É neste contexto que se encaixam as mídias locativas, que, como pretendo mostrar, permite a troca de informação em mobilidade fornecendo dados dinâmicos sobre um determinado ambiente, concebendo um novo significado a ele (LEMOS, 2007).

A expressão “mídia locativa” foi cunhada pelo canadense Karlis Kalnins em meados de 2003 para classificar e designar novos tipos de mídias digitais aplicáveis aos lugares reais, ou seja, meios de comunicação digitais construídos para a interação a partir da localização física, que desencadeia interações sociais reais. A mídia locativa trabalha, como já foi abordado neste trabalho, a partir de locais reais. A Mciclopedia digital das novas mídias define a mídia locativa como “tecnologia baseadas em lugares, ou seja, em tecnologias sem fio, tecnologias de vigilância, de rastreamento e de posicionamento que permitem que a informação seja ligada a espaços geográficos.” 19 São dispositivos que permitem que as pessoas se localizem a si próprias e a outras em espaços geográficos. Cada vez mais, as tecnologias da mobilidade sensíveis aos locais podem acessar a Internet, permitindo que a informação seja guardada e resgatada em banco de dados remotos. São várias e crescentes as 19

Disponível em 11/08/2012 no endereço http://wi.hexagram.ca/?p=62


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práticas de mapeamento, referenciamento, geolocalização e anotações introduzidas por essas tecnologias, ampliando o sentido de locomoção tanto dos aparelhos que os possibilitam, quanto das informações que incessantemente circulam no espaço entre o homem e o dispositivo. Elas começaram como técnica de rastreamento governamental e militar, abrindo possibilidades para uma geração de vigilância e monitoramento constante. Para Lúcia Santaella (2008), porém, mídias locativas estão sendo cada vez mais utilizadas para finalidades industriais, publicitárias e no comércio, na forma de serviços baseados no regional e no local. No mundo pós-moderno conectado à cibercultura, novos meios de comunicação e agregação de conteúdo ligado a novas mídias começam a surgir. As mídias locativas demonstram nova composição das informações e dos meios e nas relações homem-homem no que se refere à mobilidade. Na prática, é o que McLuhan identificou como determinação do meio pela mensagem, onde o primeiro define a segunda. Cada meio possui uma linguagem e características próprias (condicionamentos tecnológicos). Essa “gramática” (conteúdo, forma e efeitos) vai reger os processos de comunicação. Conforme o autor, não há mensagem sem “uma gramática que se apresenta a partir das características de um dado meio” e “sem um usuário ou sistema que atualiza, revela, esta mesma gramática” (McLuhan, 1969). Esse fenômeno está distante da crítica feita pela Escola de Frankfurt a respeito dos produtos da cultura de massa, considerados alienantes e de baixa qualidade. A aplicação das redes sociais, neste caso o Twitter, faz justamente o movimento contrário: da personalização. Um produto que para os frankfurtianos seria massivo, sem conteúdo mais profundo, se transforma em algo único. Por este motivo, a meta deste estudo é mostrar este processo e também complementar as observações sobre a temática, com base na bibliografia existente. Com o advento das redes sociais e a popularização do acesso à Internet móvel – Internet 3G20 – no Brasil, a própria maneira de produzir notícia foi transformada. Ainda que se trate de um nicho, de forma que deve ser observada com a devida atenção, a combinação desses dois fatores, alinhado ao conceito de mídia locativa, nos faz refletir sobre quando, por exemplo, o chamado “tweet” ou qualquer outra forma de produção de conteúdo online específico por estar em determinado lugar, pode ser a fagulha e pautar jornais impressos e televisivos?

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Tecnologia de terceira geração dos celulares que permite a navegação, download e upload em rede de alta velocidade.


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2.1.2. O meio é a mensagem: exemplos da ciberurbe Os objetos comunicacionais estão transformando os espaços sociais desde a gênese das cidades até as metrópoles contemporâneas. A mídia locativa, ao somar determinado conteúdo a um local, cria novas formas de conceituar a urbes. Vemos essas mudanças na agregação de pessoas em áreas wi-fi21, na busca por zonas de acesso às redes de telefonia celular, nas trocas de SMS22, fotos ou vídeos, nas conexões em redes bluetooth23, na emissão de dados por etiquetas de rádio freqüência e RFID24 . Assim, o primeiro movimento teórico neste trabalho é compreender as principais características da mídia locativa através do conceito de território informacional. Para tanto, iremos separar os tipos de mídias locativas e definir os territórios informacionais à luz do conceito de socialidade. O sociólogo Michel Maffesoli tentou, em 1984, descrever aquilo que, para o teórico, marca o cerne das sociedades ocidentais contemporâneas: a “socialidade”. Ele mostra como o conceito de socialidade é definido em oposição ao de “sociabilidade”. Para ele, a socialidade marcaria os agrupamentos urbanos contemporâneos, fornecendo nuances e especificidades de acordo com a cultura, dando um destaque na "tragédia do presente", no instante de agora, além de expectativas do futuro, nas relações banais do cotidiano, nos momentos não formais ou racionais da vida de todo dia. Isso a diferencia da sociabilidade, que se caracteriza por relações institucionalizadas e formais de uma determinada sociedade. A socialidade, portanto, é para Maffesoli um conjunto de práticas do dia-a-dia que escapam ao controle social rígido, insistindo numa perspectiva primária, tribal, sem perspectivas para o futuro, enraizando-se no agora25. Como diz Maffesoli, “é a socialidade que „faz sociedade‟, desde as sociedades mais primitivas com seus momentos efervescentes, ritualísticos ou mesmo festivos, até as sociedades tecnologicamente avançadas com sua barroquisação através das imagens” (1984, p.63) Essa característica de instantaneidade é crucial para compreendermos a rapidez com que as informações são geradas nas redes sociais e, por conseguinte, difundidas em meios como as mídias locativas. Nas aplicações de primeira geração, as mídias locativas ainda não passam de 21

Wi-Fi é um protocolo para conexão a internet por meio de ondas de rádio, 802.11b (11Mbits/s) e 802.11g (54Mbits/s) (http://ww.wi-fi.org). 22 SMS (Short Message Service) é um sistema de envio de mensagens curtas de texto por celular. 23 Bluetooth é padrão de conexão por redes sem fio com alcance de 10 metros (http://www.bluetooth.org). 24 RFID são etiquetas que emitem informações por ondas de rádio (http://www.rfidjournal.com/). A”RadioFrequency Identification”, em inglês, ou Identificação por Rádio Frequência, inclui um método de identificação automática através de sinais de rádio, que recuperam e armazenam dados remotamente através de dispositivos denominados etiquetas RFID. Esse sistema já é utilizado em carros como forma de pagamento em pedágios e estacionamento em shoppings. 25 MAFFESOLI, M., A conquista do presente. Rio de Janeiro: Rocco. 1984.


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variações de formas de busca, como encontrar um restaurante ou um prédio. Os sistemas de navegação em carros (GPS), bastante conhecidos, ainda pertencem a essa primeira geração de sistemas locativos. Muito esforço está sendo despendido na criação de aplicações mais complexas. Os engenheiros, por exemplo, trabalham na direção de recursos capazes de detectar onde estamos, quais objetos e lugares estão próximos, verificar quais dispositivos capazes de conversar com outros dispositivos por meio de protocolos novos e um modo que o local se torne um novo tipo de dado para ser aplicado à Internet e à web. Além da apropriação, por parte do público, das funções inerentes a dispositivos móveis, tais como bluetooth e SMS, cujas funções são baratas e até mesmo gratuitas, emergem novas formas espontâneas de organização que, sem os dispositivos, não seriam possíveis. Considerando a sua característica de construção coletiva, as mídias locativas mostram tanto o poder quanto os limites das novas formas de vigilância, ao desconstruirem as operações tecnológicas de controle político quando introduzem momentos de distorção ou incerteza nesses limites, ou quando constroem plataformas abertas que oferecem a chance de reverter, multiplicar ou refratar o olhar. Surge daí o potencial para mudar o modo como o percebemos e interagirmos com o espaço, com o tempo e com o outro, na medida em que atividades descentralizadas desafiam as estruturas hierárquicas da sociedade (a sociabilidade). Exemplos cabais dessa situação, no extremo oposto das formas de poder e de controle, encontram-se nos projetos artísticos com mídias locativas. Desde muito tempo, os artistas têm demonstrado sua preocupação com lugares.

Figura 3 Ação publicitária de empresa do ramo de nutrição. Os participantes pedalavam em várias bicicletas ergométricas que funcionavam como motor para a projeção de imagens na fachada de um prédio


25

Figura 4 Empresa holandesa realiza campanha de realidade aumentada em Barcelona com o jogo de internet Angry Birds 26.

Mas a combinação atual de dispositivos móveis com tecnologias de posicionamento está provocando a superabundância de diferentes modos pelos quais o espaço geográfico pode ser encontrado e desenhado, ao emoldurar uma vasta variedade de práticas espaciais. Não resta dúvida de que a pluralidade se constitui na marca mais característica da mídia locativa. Uma das formas (exemplos) mais visíveis da mídia locativa são os chamados QRCodes. Criado em 1994 pela empresa japonesa Denso-Wave 27 para identificar peças na indústria automobilística, desde 2003 é usado para adicionar dados a telefones celulares através da câmera fotográfica. Esse tipo de codificação permite que possa ser armazenada uma quantidade significativa de caracteres.

Tabela 1 Quadro informativo sobre a capacidade de armazenamento de um QR-Code

Numéricos

7.089

Alfanumérico:

4.296

Binário (8 bits):

2.953

Kanji/Kana (alfabeto japonês):

1.817

O QR-Code pode lembrar um labirinto ou um código de barras, mas trata-se de uma tecnologia que ganha cada vez mais espaço no Brasil. O código, em si, é um aplicativo gratuito que permite ao usuário apontar a câmera de um celular para a figura (que é na 26 27

Disponível em 3/10/2012 no endereço http://www.angrybirds.com/ Disponível em 3/10/2012 no endereço http://www.denso-wave.com/en/


26

verdade um código de barras em duas dimensões). O programa transforma esta imagem em uma informação específica. Algumas operadoras de telefonia cobram pelo serviço de leitura desses códigos, embora existam inúmeros leitores gratuitos na Internet. Cada QR-Code possui um tipo de conteúdo que é explorado pelo meio publicitário em outdoors, livros, jornais, comerciais, videoclipes e revistas. Os códigos também são usados para guardar endereços e URLs28, além de informações pessoais detalhadas, como cartões de visitas, facilitando muito a inserção destes dados em agendas de telefones celulares e uma série de outras situações. Para acessar o conteúdo, o usuário deve apontar o dispositivo móvel para o código QR e, assim, fazer a sua leitura. Deste modo, o aparelho irá mostrar o conteúdo "escondido" pelo código. A rede de lojas Fast Shop foi a primeira a utilizar o código QR em publicidade, em dezembro de 2007. Em junho de 2008, a rede de cervejaria Nova Schin fez um anúncio com o código e, em novembro do mesmo ano, foi a vez da empresa de telefonia Claro fazer uma campanha utilizando o Código QR. A revista Galileu, da Editora Globo, também aderiu ao QR para que o usuário tivesse acesso a informações extras via celular. Pouco depois, mas ainda em 2008, no mês de novembro, durante o Salão do Automóvel, a Volkswagen aproveitou o código para uma pequena direto no estande. Na Bahia, o jornal A Tarde, de Salvador, usa o QR-Code desde dezembro de 2008. Foi o primeiro impresso do Brasil reconhecido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), como apto para utilizar o código como um diferencial e selo integrador de mídias, levando o leitor do jornal “em papel” para o dispositivo móvel: o celular. Em janeiro de 2011, o sistema metroviário de São Paulo aderiu ao QR-Code, possibilitando o seu usuário acessar mais facilmente informações sobre “Atendimento”, “Mapas”, “Notícias”, “Cultura”, “Trajeto” e “Horários da Operação”, dentro do site mobile do Metrô. Os códigos estão disponíveis em cartazes pelas linhas da capital paulista. Figura 5 Exemplo de QR-Code: ao apontar o celular para figura, o usuário é direcionado para o portal da UERJ

28

Uniform Resource Locator, ou Localizador Uniforme de Recursos. É o endereço usado para acessar qualquer conteúdo na web.


27

2.1.3. Os tipos de mídia locativa De acordo com Lúcia Santaella, foi o holandês Ronald Lenz quem realizou o mais extenso levantamento dos diferentes tipos de mídia locativa. Sem contar subcategorias, o holandês descreveu 19 tipos de práticas para as mídias locativas, incluindo a indicação e breve descrição de vários projetos29. Santaella (2008) descreve algumas dessas categorias, entre as quais: arte, contar histórias, blogs que incorporam informação semântica geolocativa, games híbridos que conectam espaços virtuais com espaços físicos, softwares sociais móveis, anotações espaciais e geodesenhos, computação sensível a lugares, Internet móvel, triangulação de telefones celulares para calcular a posição aproximada de um usuário, posicionamento sem fio, geocódigo etc. Um exemplo bastante conhecido são as mídias que usam anotações urbanas e estimulam pessoas a postar histórias pessoais, pensamentos e alguma dica sobre localizações geográficas. A anotação é postada virtualmente em um espaço geográfico pelo uso de coordenadas de GPS (alguns casos já utilizam triangulação de celular para maior precisão) para ser recebida assincronicamente por outro usuário – como o Foursquare30. Com isso, diz Santaella, o espaço urbano fica semeado de histórias que podem ser acessadas por uma enorme variedade de pessoas – turistas recém-residentes ou antigos moradores buscando redescobrir novos espaços em lugares familiares. São projetos (...) que encontram os fios invisíveis de sua coesão no resgate da experiência pessoal de contar histórias, na recuperação da memória coletiva cujo registro se inscreve na contracorrente das histórias oficiais, na disponibilização cada vez mais abrangente para usos críticos e até mesmo singelos de dispositivos marcados pela insígnia do poder. Projetos que ensejam processos de socialização emergentes baseados em redes de reciprocidade e confiança, na comunicação colaborativa e na construção compartilhada do conhecimento (SANTAELLA, 2008).

29

Algumas das aplicações podem ser conferidas no site mantido pelo autor em: http://www.themobilecity.nl/conferencereports/speakers/lang_enproject-presentationslang_enlang_nlprojectpresentatieslang_nl/ronald-lenz/ 30 O Foursquare permite ao usuário de dispositivos móveis (smartphones e tablets) indicar onde se encontra através de “check-ins”, procurar por contatos que estejam próximo desse local, além de visualizar dicas e fotos do lugar. Fundado em 2010, hoje o Foursquare conta com mais de 19 milhões de usuários. Disponível em: www.fousquare.com


28

Figura 6 Imagem da tela inicial do Foursquare (a rede social utiliza do georreferenciamento do usuário para taggear os locais de interesse mais próximos desses pontos)

No artigo “Mídias locativas e territórios informacionais”, André Lemos classifica as mídias locativas a partir de suas funções, tais como: realidade aumentada; mapeamento e monitoramento; geotags e anotação urbana. As mídias locativas permitem que informações sobre determinada localidade sejam visualizadas em um dispositivo móvel, “aumentando” a informação (definida por Lemos como „realidade aumentada‟). Esse tipo de hiperlinkagem chama-se Mobile Augmented Reality Applications (MARA). Exemplo desta categoria é o Projeto Google Glass31, uma espécie de óculos inteligente que captura todas as imagens ao seu redor, grava, transmite, edita e realiza uma série de outras funções, tais como obter informações sobre aquele determinado lugar que o usuário está vendo. Dentre outras funções, os óculos buscariam, em tempo real, informações sobre os lugares que o usuário está observando. Segundo Sergey Brin, cofundador da Google, os óculos possuem um processador potente, microfones, alto falantes e sensores que identificam a sua localização. O dispositivo também tem um display para a pessoa ver imagens e uma câmera para captar imagens.

31

Mais sobre o Projeto Google Glass em: https://plus.google.com/111626127367496192147


29

Figura 7 Imagem divulgação do Google Glass

Lemos também pontua a categoria de mapeamento e monitoramento do movimento. Aqui temos funções locativas aplicadas a formas de mapeamento (mapping) e de monitoramento do movimento (tracing) no espaço urbano através de dispositivos móveis. A campanha publicitária da empresa de telefonia e tecnologia Sony Ericsson pode ser citada como exemplo: para o lançamento do celular modelo Xperia, a empresa finlandesa criou em 2011 uma „maratona solitária‟. A Xperiathon32 foi aberta para qualquer pessoa que tenha os aplicativos Endomondo33, Map My Fitness34 ou Runkeeper35 instalado no celular. A „corrida‟ ocorreu no dia 26 de novembro de 2011, com o usuário podendo correr em qualquer lugar. Venceria o primeiro a atingir 42 km, ganhando uma viagem para Nova York para participar da maratona real na cidade. Um terceiro tipo de mídia locativa é definido por André Lemos como geotags. Nesse tipo de mídia locativa o objetivo é agregar informação digital em mapas podendo ser acessada por dispositivos móveis. No sistema de compartilhamento de fotos Flickr 36 , por exemplo, pode-se, a partir de geotags, agregar informação textual a mapas (Google Earth ou Yahoo Maps, por exemplo) de localidades específicas. Esse sistema permite compartilhamento de tags através da localização de lugares em mapas mundiais. O projeto CitMedia, do Center for Citizen Media 37 , alia geotags e jornalismo ao agregar informações enviadas via SMS. A

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Disponível em Disponível em 34 Disponível em 35 Disponível em 36 Disponível em 37 Disponível em 33

http://www.xperiathon.com/ http://www.endomondo.com/login http://www.mapmyfitness.com/ http://runkeeper.com/ www.flickr.com http://citmedia.org/blog/2006/08/24/a-small-experiment-with-sms/


30

informação é visualizada em mapas e os usuários podem saber, imediatamente, onde um evento jornalístico está acontecendo.

2.2.

O hibridismo dos territórios informacionais A partir dos exemplos citados no item anterior, percebemos que a mídia locativa estão

transforma o espaço urbano e a vivência nas metrópoles. A relação entre mídia e cidade foi e sempre será complexa. Ainda de acordo com o pesquisador André Lemos (2007), no século XX imperou o broadcasting, produto da mídia de massa. No início do ano 2000, o surgimento da mídia “pós-massiva” (eletrônico-digitais), alterou a relação com o espaço, que passa por transformações a partir da emissão e da conexão generalizada por redes telemáticas. Para o autor, esse movimento está reconfigurando a indústria cultural do século XXI: A paisagem comunicacional contemporânea é formada hoje por processos massivos, com o fluxo informacional centralizado e pós-massivos, customizados, onde qualquer um pode produzir, processar, armazenar e circular informação sobre vários formatos e modulaçõe (LEMOS, 2006).

É o que pode ser identificado também como “mass self communication” (CASTELLS, 2006), uma configuração comunicacional que redimensionou o urbano a partir das redes telemáticas e dos computadores populares (GRAHAM e MARVIN, 2000; WHEELER e AOYAMA, 2000; SASSEN, 2001). No começo de século XXI, portanto, a mídia locativa reforça a simbiose do espaço físico com o ciberespaço, trazendo novos significados para o espaço urbano. O fluxo comunicacional se dá por redes sem fio e dispositivos móveis, caracterizando a era da comunicação “ubíqua, senciente e pervasiva” (LEMOS, 2006) das mídias locativas. Novas práticas sócio-comunicacionais emergem e as referências da cidade não se vinculam apenas às marcas territoriais físicas, mas a eventos informacionais dinâmicos, contidos nos objetos e localidades. Essas transformações configuram a ciberurbe (LEMOS, 2005). Assim, entendemos que o espaço urbano é um espaço socialmente produzido. Podemos dizer que a cidade é o espaço físico das práticas sociais e o urbano a invenção dessas práticas. É nesse sentido que Michel De Certeau (1996) refere-se ao urbano como invenções e apropriações quotidianas. Hoje, nas cibercidades contemporâneas (LEMOS, 2004), estamos assistindo à expansão de experiências de localização e de tratamento inteligente da informação com base em dispositivos sem fio que aliam mobilidade, personalização e localização, criando novas práticas do espaço. A mídia locativa, como vimos, permite a troca


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de informação em mobilidade ao fornecer dados dinâmicos sobre determinado ambiente, resignificando-o. André Lemos define a ciberurbe como o urbano da cibercidade, como a forma (genérica) da atual sociedade da informação. Ciberurbe seria a dimensão simbólica, imaginária, informacional das cibercidades contemporâneas. Dessa forma, cibercidade seria a cidade na cibercultura e ciberurbe o urbano na cibercultura. O que percebemos hoje é um redimensionamento das práticas sociais (relação através de SMS, bluetooth, busca de pontos de conexão sem fio, protestos políticos por swarming, smart mobs, anotações urbanas, geolocalização, games) criando novas “viscosidades sociais” (SHIRVANEE, 2006), que são formas de agregação social desenvolvidas onde há alta conectividade e velocidade de fluxo informacional, criando lugares sociais, territórios socialmente relevantes. Trata-se de uma reconfiguração do urbano, de uma nova relação entre a esfera midiática e o espaço urbano. Com a mídia locativa, as trocas informacionais não emergem nem dos meios de massa (rádio, TV, jornais), nem do ciberespaço acessado em espaços fechados (espaços privados ou semipúblicos), mas de objetos que emitem localmente informações processadas através de artefatos móveis. Na ciberurbe, novas práticas de mobilidade comunicacional criam novas relações sociais com o espaço. Este espaço, associado à mobilidade e à tecnologia formam o tripé para a compreensão da mídia locativa e sua relação com a ciberurbe. Mais que o abandono das cidades pelas tecnologias do ciberespaço, o que estamos vendo são novas práticas de uso do espaço urbano via deslocamentos de suportes digitais e processos de localização por redes sem fio.

2.3.

Jornalismo móvel: a nova possibilidade produzir notícia A discussão entre “jornalismo” e “mobilidade” não é nova. Desde o telégrafo sem fio,

a transmissão de informação de modo ágil se aprimora a cada nova tecnologia que surge. A característica mais consistente no momento atual é a reunião de um conjunto de dispositivos móveis que reforçam a estrutura para a transmissão instantânea de notícias. Os aparelhos celulares 38 , por exemplo, são instrumentos de produção por conta de seus avanços na concentração de diversas funções e melhoria de desempenho das suas interfaces. Se o aparelho, antes da implantação de outras funções, era utilizado no contato entre repórteres 38

Aqui incluímos aparelhos smartphones, palmtops, PDAs e tablets que possuem conexão wi-fi e/ou 3G e que, com a devida configuração, podem realizar chamadas telefônicas.


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(entre eles e com suas fontes), com a tecnologia de tráfego de dados (banda larga 3G ou wi-fi) que permite a circulação de qualquer informação, amplia-se o uso destes recursos. As modificações não são apenas tecnológicas, mas de remodelamento dos mecanismos de comunicação e circulação da informação via dispositivos móveis. Deste conjunto de aplicações surgem novas práticas e configurações relacionadas às rotinas produtivas dos jornalistas, às formas de produção e distribuição de conteúdos por multiplataformas, principalmente via celulares como dispositivos híbridos (LEMOS, 2007; LEVINSON, 2004; GOGGIN, 2006), que reúnem uma série de funções e ferramentas (câmeras embutidas, browser de internet, editores de texto, áudio, vídeo e conexões múltiplas). As práticas jornalísticas associadas a tecnologias multimídia como essas são desafios novos nos estudos acadêmicos da comunicação e da cibercultura por “constituir apropriações destas ferramentas da comunicação móvel com ampliação do espectro de possibilidades de análise de objetos construídos no entorno da „sociedade em rede móvel‟” (CASTELLS et al, 2006; COBO ROMANÍ; PARDO KUKLINSKI, 2007), que por sua vez provoca outras aplicações e práticas correlacionadas ao jornalismo, entre as quais a mobilidade no espaço urbano, verificadas no estágio atual da mídia de massa como rádio, TV e impressos, e também na mídia com “funções pós-massivas”, como blogs, wikis, podcasts, (LEMOS, 2007). A mensagem se concentra em um ou poucos emissores e isso faz com que estes espaços passem a ter características diferentes dos meios de comunicação de massa.

Figura 8 Informação deixa de ser “um-todos” e passa a ser “todos-todos”

O fluxo de mensagens é concentrado de maneira unidirecional a troca de informações praticamente não existe. No ciberespaço, o processo é diferente. Conforme Lemos, a mídia pós-massiva (eletrônico-digitais) permite


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(...) a comunicação bidirecional através de um fluxo de informação em rede. Com o desenvolvimento das tecnologias móveis, sem fio, assistimos uma relação maior entre o ciberespaço e o espaço urbano. As mídias pós-massivas, como as mídias locativas, constituem territórios informacionais, já que o indivíduo controla o fluxo de entrada e saída de informação no espaço aberto (LEMOS, 2007).

Tal mídia pós-massiva39 interage com o receptor tornando muito mais próximas as relações entre ele, o espaço e a informação. Para que isso se efetive contribui o avanço tecnológico, “que possibilita a mobilidade midiática e a expansão das noções espaciais”. A instantaneidade, que servia apenas para disponibilizar textos jornalísticos, começa a atuar em outras frentes. As redes de alta velocidade e a tecnologia 3G dos celulares possibilitaram a transmissão não só de textos, mas principalmente de vídeos, áudio e fotos. Assim, a questão da instantaneidade no jornalismo, em tempos de Internet em realtime, e a mobilidade casa com esse novo desígnio do “fazer notícia”: As tecnologias móveis digitais e as conexões sem fio introduzidas no jornalismo não se constituem em novidade de um ponto de vista histórico. Entretanto, estas novas tecnologias móveis representam mudanças na sua abrangência e operacionalização por oferecer mobilidade, portabilidade e ubiqüidade na produção e emissão de conteúdo de uma maneira nunca dantes verificada. A digitalização e o vinculo com às mais variadas conexões de alcances curtos (Bluetooth), médio (wi-fi) e longo (WiMax e 3G) são condições que permitem interpretar a mudança como mais significativa. Quando introduzidas ao fazer jornalístico observa-se que as coberturas de eventos ou a produção da notícia se reestruturam em torno da instantaneidade e da geração de novos formatos de produtos jornalísticos (FIRMINO, 2011).

Lemos, por sua vez, conceitua territórios informacionais na compreensão “das áreas de controle do fluxo informacional digital em uma zona de contato entre o que se entende por ciberespaço e o espaço urbano”. O acesso e o controle informacional realizam-se a partir de dispositivos móveis e redes sem fio. O território informacional não é o ciberespaço, mas o espaço movente, híbrido, formado pela relação entre o espaço eletrônico e o espaço físico. Para ele, o lugar de acesso sem fio em um parque por meio de redes Wi-Fi é um território informacional, distinto do espaço físico parque e do espaço eletrônico internet. Ao acessar a internet por essa rede wi-fi, o usuário está “em um território informacional inscrito no território físico do parque”. Na mídia locativa, o conteúdo informacional vincula-se a um local específico, onde o conteúdo está diretamente ligado a uma localidade. É um processo de

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Lemos (2007) diferencia as mídias de funções pós-massivas das mídias massivas (impressos, televisão, rádio) pela característica da digitalização que define as primeiras tendo a Internet e seus produtos (como Wiki, blogs, podcasts, redes sociais e dispositivos móveis) como formatadora deste ambiente e pela possibilidade de circulação de informação sem o filtro ou por intermédio dos meios de comunicação massivos.


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emissão e recepção de informações a partir de um determinado local, gerando uma intensa relação entre o espaço e a tecnologia móvel digital.

Capítulo 3 CENTRO DE OPERAÇÕES RIO, OS OLHOS DA CIDADE

3.1

O Rio mais inteligente, um histórico do Centro de Operações Inaugurado no dia 31 de dezembro de 2010 pelo prefeito Eduardo Paes, o Centro de

Operações Rio é uma espécie de quartel-general da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, que integra cerca de 30 órgãos (secretarias municipais, estaduais e concessionárias) 40, com o objetivo de monitorar e otimizar o funcionamento da cidade no dia a dia e, em especial, em grandes eventos. Além de acompanhar de perto a rotina do município durante 24 horas por dia, sete dias por semana, o Centro busca antecipar soluções e minimizar as ocorrências, alertando aos setores responsáveis sobre os riscos e as medidas urgentes que devem ser tomadas em casos de emergências como chuvas fortes, deslizamentos e acidentes de trânsito. Localizado na Cidade Nova, bairro na região central do Rio de Janeiro, o Centro é o primeiro, na linha mundial de Cidades Inteligentes da IBM, a integrar todas as etapas de um gerenciamento de crise: desde a antecipação, redução e preparação, até a resposta imediata aos eventos e realimentação do sistema com novas informações que podem ser usadas em futuros casos. No Centro são usados os melhores equipamentos de tecnologia para o gerenciamento da informação e imagens de 560 câmeras. Os dados de vários sistemas do município são interconectados para visualização, monitoramento e análise em um telão de 80 metros quadrados. A informação trabalhada de maneira inteligente permite a atuação em tempo real para a solução dos problemas. Figura 9 Prédio do Centro de Operações Rio, localizado na Cidade Nova

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Entre os órgãos públicos representados no Centro de Operações, estão: Iplan Rio, Guarda Municipal, Rio Águas, CET-Rio, Geo-Rio, Secretaria de Ordem Pública, Secretaria de Conservação, Comlurb, Rioluz, Secretaria de Saúde, Secretaria de Assistência Social, Secretaria do Meio Ambiente, Defesa Civil, Riotur, Polícia Militar e Corpo de Bombeiros, além das concessionárias de serviços públicos CEG, Cedae, Light, Metrô, Supervia, Ponte Rio – Niterói, LAMSA (Linha Amarela), Porto Novo, Rio Ônibus, entre outros.


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O Centro de Operações Rio é referência também na questão do clima. Um dos dados mais importantes recebidos pelo Centro vem do radar meteorológico, adquirido pela Prefeitura em 2010 e instalado no Morro do Sumaré. O equipamento, que tem alcance operacional de 250 quilômetros, auxilia no monitoramento das chuvas, pois possibilita prever tanto o volume da precipitação como também quais bairros da cidade serão atingidos. Para reforçar o acompanhamento de temporais, o “quartel-general” da prefeitura conta com um sistema inédito no mundo de Previsão de Meteorologia de Alta Resolução (PMAR) 41 , desenvolvido também pela IBM. Por meio da ferramenta foi possível realizar um exercício simulado de ação integrada no início do mês de novembro de 2011, o primeiro treinamento de prevenção no Brasil a interditar vias expressas. Durante 12 horas, equipes da Prefeitura se mobilizaram e trocaram experiências, simulando por meio do PMAR a aproximação e chegada de uma chuva forte. A Praça da Bandeira e uma pista da Estrada Grajaú-Jacarepaguá chegaram a ser fechadas na simulação, coordenada pela equipe do Centro de Operações Rio. O Centro conta com tecnologia de ponta: espalhados por cem salas, 300 computadores transmitem e geram informação sobre todo o funcionamento da cidade. Da sala de controle, coração do projeto, em média 50 controladores (por turno) de órgãos municipais e empresas de serviços públicos monitoram a cidade em tempo integral a partir do telão. O videowall, capaz de reproduzir qualquer matriz, é composto por 80 monitores de 46 polegadas que mostram os pontos de crise por meio de marcações identificadas pelas cores verde, amarelo e vermelho, conforme o grau de risco, em mapas feitos com ferramenta da Google. Em alta resolução, o telão também exibe imagens captadas por todas as câmeras que integram o sistema de monitoramento do Centro, cabeadas diretamente na rede do prédio. O sistema opera a partir da sala-cofre da IplanRio (Empresa Municipal de Informática), acompanha e 41

O PMAR é um modelo matemático que pode prever chuvas fortes com até 48 horas de antecedência e foi desenvolvido especialmente para a cidade do Rio. Capaz de reunir dados da bacia hidrográfica, levantamento topográfico e histórico de chuvas, o sistema também trabalha com informações de satélites e radares. Com essa tecnologia, é possível prever temporais com até 48 horas de antecedência.


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agrega informações sobre transporte, trânsito, meteorologia, índice pluviométrico, localização de escolas e hospitais e ocorrências que podem impactar a rotina do cidadão em um mapa inteligente capaz de reunir 60 camadas de dados. Assim os controladores conseguem visualizar de forma integrada, contactando e interagindo imediatamente com os agentes envolvidos. Por exemplo: se faltar energia em Ipanema, a Light repassará a informação ao Centro de Operações, que a enviará aos setores competentes para que tomem as providências necessárias – como CET-Rio, que cuida dos semáforos, Guarda Municipal, para organizar o trânsito, e Secretaria Municipal Educação, para avisar escolas e creches. Como a previsão de chuva pode ser feita com até 48 horas de antecedência, é possível preparar a cidade. Pelo funcionamento e uso do Centro de Operações, a cidade do Rio de Janeiro recebeu o título de segunda “cidade mais digital” do país em 2012 em pesquisa elaborada pelo Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD) em parceria com a Momento Editorial, que classificou as cidades de acordo com o grau de acesso à internet e nível dos serviços. A capital fluminense ficou atrás apenas de Curitiba no ranking Brasil, do qual participaram 100 municípios brasileiros. O levantamento teve como base o acesso a tecnologias digitais fornecidos aos habitantes, uma espécie de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) que, em vez de indicadores sociais, teve como foco a cidadania digital. A partir dessa pontuação, os municípios foram agrupados em seis níveis de desenvolvimento digital. A edição de 2012 mostrou que boa parte dos municípios analisados conseguiu avançar. Dos 100 participantes, 30 estão no grau intermediário de desenvolvimento digital (o equivalente ao nível três, numa escala de um a seis). Na primeira edição do estudo, realizada em 2011, apenas quatro das 75 cidades analisadas estavam nesse estágio. Apesar de estar participando pela primeira vez da pesquisa, o Rio ficou bem colocado na classificação pelos bons números apresentados em termos de infraestrutura (incluindo os 256 km de rede em fibra ótica e enlaces de radiofrequência). O Centro de Operações da Prefeitura, ao integrar serviços e auxiliar a gestão pública também contou pontos para a classificação do município: o sistema de controle de gestão do Centro de Operações integra quase todos os serviços da Prefeitura do Rio no telefone 1746. Além disso, os sistemas georreferenciados conseguem gerenciar a cidade em tempo real. Em outro levantamento, mais abrangente, o Centro de Operações Rio apareceu entre os 100 projetos de infraestrutura urbana considerados como os mais inovadores e inspiradores do mundo. O relatório foi produzido pela KPMG para a “Cúpula das Cidades do Mundo” em Cingapura. A edição


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denominada Infrastructure 100: World Cities Edition42 mostra iniciativas de grandes cidades com foco nas inovações, o que as torna 'Cidades do Futuro'.

3.2. A Comunicação do Centro de Operações Rio: o papel do Twitter O setor de comunicação representa um papel estratégico no Centro de Operações Rio. Apesar de o órgão reunir diversas secretarias, autarquias e instituições públicas, a Comunicação do Centro de Operações é autônoma. Na estrutura hierárquica, a Assessoria de Comunicação está abaixo do setor de chefia do órgão (ver o organograma no Anexo). A área de comunicação do Centro está voltada para três frentes: o cotitiano do cidadão carioca, o gerenciamento de grandes eventos (megaeventos) e o gerenciamento de crises, como acontece quando há chuvas intensas, acidentes ou outros tipos de problemas. No plano macro, o órgão máximo, acima do Centro de Operações, é a Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, personificada como a gestora do espaço urbano e instância de poder mais próxima dos cidadãos, que deve se manifestar mesmo quando as ocorrências não envolvem aspectos sob sua direta responsabilidade. A comunicação de emergência, foco do Centro de Operações Rio trabalha com uma linguagem adequada ao grupo de profissionais indicado pela Prefeitura, de acordo com os tipos de público e meios de comunicação. Nestes casos, fica sob a responsabilidade de uma autoridade municipal designada conforme a gravidade do evento, em termos de número de pessoas afetadas, pelo número de Secretarias Municipais envolvidas e do grau de comoção pública. Nenhuma comunicação de emergência pode ser veiculada sem as aprovações e verificações previstas no protocolo. Todos os dias o Centro de Operações emite três boletins informativos às 6h, 11h e 18 horas com dados sobre o trânsito da cidade, situação dos aeroportos, clima, panorama da Defesa Civil, interdições programadas e outras informações relevantes sobre a cidade. Em ocasiões atípicas, como grandes eventos (Carnaval, shows pré-agendados) ou catástrofes (enchentes, desabamentos, chuvas torrenciais), o Centro de Operações produz e distribui boletins emergenciais com informações específicas do evento em questão. Durante os Jogos Mundiais Militares de 201143, que teve o Rio de Janeiro como sede, o Centro de Operações montou um esquema especial de trânsito para as cerimônias de abertura

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Disponível em: http://www.kpmg.com/Global/en/IssuesAndInsights/ArticlesPublications/Documents/Infrastructure-100.pdf


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e encerramento nos jogos. Não houve qualquer transtorno durante esses eventos. No decorrer dos Jogos, não houve registro de incidentes (confusão, acidentes de trânsito com vítimas etc). Homens do exército estiveram durante os dias da competição no Centro de Operações Rio para estabelecer maior diálogo entre a Prefeitura e os organizadores. Informações como essas são reproduzidas por todos os veículos de comunicação da cidade do Rio de Janeiro, entre emissoras de rádio e de TV e online. Para ilustrar as ações do Centro, escolhemos aquela que a equipe considera como o primeiro grande evento internacional coordenado pelo órgão: a Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, a Rio +20. Optamos pelo recorte do primeiro dia, em que era esperada a chegada de 21 comitivas internacionais, além do início da implantação das mudanças de tráfego na cidade, dentre elas um regime especial na Avenida Niemeyer, via de ligação entre a Zona Sul e Zona Oeste da cidade. A Conferência foi realizada entre 13 a 22 de junho de 2012. A Rio+20 foi assim identificada porque marcou os 20 anos de realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) e teve como objetivo a renovação do compromisso político com o desenvolvimento sustentável, por meio da avaliação do progresso e das lacunas na implementação das decisões adotadas sobre o assunto e no tratamento de temas novos e emergentes. Cerca de 110 mil turistas estiveram no Rio de Janeiro durante a Rio+20. Aproximadamente 45 mil pessoas participaram no Riocentro, principal local do evento, dos dias da conferência oficial e mais de um milhão de visitantes participaram dos eventos paralelos, cujos destaques foram a Cúpula dos Povos (300 mil pessoas) e da Humanidade 2012 (210 mil visitantes). Com essa demanda fora do comum, a sala de controle do Centro de Operações Rio entrou em “estágio de Atenção”44. 43

Os Jogos Mundiais Militares são considerados o terceiro maior evento esportivo do mundo, atrás da Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, respectivamente primeiro e segundo lugares. Informações em http://www.rio2011.mil.br/ 44

O Centro de Operações Rio possui um protocolo próprio para indicar o nível de gravidade de um determinado evento. Se for um evento natural, como possibilidade de chuva forte, o Centro tem autonomia de mudar o estágio da cidade do Rio de Janeiro, de acordo com a intensidade deste evento. Atualmente, há quatro níveis de estágio, a saber: Estágio de Vigilância – Situação em que não há previsão de chuva ou previsão de chuva fraca nas próximas horas. Os operadores realizam apenas monitoramento das condições meterológicas. Estágio de Atenção – Previsão de chuva moderada, ocasionalmente forte, nas próximas horas. Neste estágio os operadores do Alerta Rio estão em constante comunicação com os órgãos municipais que atuam nas situações de chuva. Estágio de Alerta – Previsão de chuva forte nas próximas horas, podendo causar alagamentos e deslizamentos isolados. Nesta situação são emitidos boletins de alerta à população (via imprensa e site do Alerta Rio). Leia as recomendações sobre os boletins de alerta Estágio de Alerta Máximo – Previsão de chuva muito forte nas próximas horas podendo causar alagamentos e deslizamentos generalizados. Este estágio é acionado nas situações em que o Sistema já se encontra em estágio de Alerta e há a previsão de intensificação da chuva. As recomendações sobre os boletins de alerta também se aplicam neste estágio. Em eventos que não envolvem condições climáticas, mas demandam igual atenção, é a Sala de Controle que tem o estado mudado, como aconteceu durante a Rio+20. Em outro episódio cujo estado foi alterado, aconteceu durante o desabamento de dois prédios na Avenida Treze de Maio, na região central do Rio de Janeiro, em 25 de janeiro de 2012.


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Durante o período da Rio+20, a Prefeitura do Rio registrou 23 manifestações, das quais oito não impactaram no trânsito 45 . O protesto que reuniu maior número de pessoas aconteceu no dia 20 de junho, quarta-feira, com cerca de 50 mil manifestantes ocupando trechos das avenidas Presidente Vargas e Rio Branco. Os acampamentos foram outro ponto positivo da conferência: quase 12 mil pessoas ficaram acampadas nos locais disponibilizados pela prefeitura, como o Sambódromo e a Quinta da Boa Vista. De 13 a 22 de junho, 144 toneladas de lixo foram recolhidas nos eventos oficiais, paralelos e acampamentos pela Comlurb, que montou uma operação especial para os acampamentos, assim como a Guarda Municipal. Do total de lixo produzido, quase um terço (42 t) foi de material reciclável, separado por meio de coleta seletiva. A CET-Rio organizou um esquema especial de tráfego na cidade para garantir o rápido deslocamento dos participantes e administrar as interferências no trânsito. A operação contou com 1.170 agentes da Prefeitura do Rio, entre guardas municipais e controladores da CET-Rio, 130 viaturas operacionais e 39 reboques (leves, pesados e superpesados) para rápida desobstrução das vias. Entre os dias 13 e 22 de junho, a CET-Rio emitiu 975 informativos de trânsito, 258 ajustes de sinais, 910 mensagens diferentes nos 44 painéis de mensagens variáveis e registrou aproximadamente 1.200 deslocamentos de comitivas. Foram implantadas faixas exclusivas na Linha Vermelha e operação especial na Avenida Niemeyer. Houve ainda duas interdições no entorno do Riocentro, uma delas não programada, por conta de uma manifestação. O Comando Militar do Leste determinou o fechamento da Avenida Salvador Allende. Todas as faixas reversíveis foram suspensas nos dias 20, 21 e 22. Apesar do grande movimento não houve grandes alterações no trânsito, que obteve inclusive melhoras no tempo de descolamento nos principais corredores viários usados como rota pelas comitivas entre os dias 19 e 22. De acordo com a CET-Rio, as metas estabelecidas para os percursos das delegações foram alcançadas, com uma redução de 25% no tempo previsto para os trajetos. Neste período, a redução do fluxo de veículos na cidade foi de 21%, em média. O Centro de Operações Rio monitorou todos os locais de evento e os trajetos das comitivas e delegações, assim como as rotas alternativas, através de 410 câmeras. A sala de controle do Centro de Operações Rio permaneceu em Estado de Atenção durante toda a semana por conta das ações da Rio+20. Membros do Comando Militar do Leste (CML) passaram a semana no Centro de Operações e utilizaram as câmeras da Prefeitura do Rio para orientar os batedores.

45

Dados extraídos do boletim operacional do Centro de http://issuu.com/centrodeoperacoesrio/docs/release_balan_o_rio_20_240612

Operações

Rio

para

a

Rio+20:


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Figura 10 Boletim Especial - Planejamento da Prefeitura do Rio para a Rio+20

Dentre as estratégias de comunicação, além do boletim especial, as redes sociais também foram utilizadas para orientar os motoristas. O Twitter do Centro de Operações disseminou as principais informações sobre as operações do evento, tais como: condições de trânsito das vias do entorno dos locais de reunião dos Chefes de Estado, principais interdições e alterações de tráfego, informação ao público e à mídia sobre manifestações (programadas ou não) e sobre o seu impacto no trânsito. O alcance via Twitter e Facebook do Centro de Operações foi de 67 mil internautas.


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Capítulo 4 ANÁLISES

4.1. A interação como forma de participação do cotidiano do Rio Com a internet e os meios de comunicação móveis, os próprios internautas conseguem espalhar notícias e informações de forma eficiente por meio das suas redes, levando em conta a enorme popularidade e capilaridade desses meios. Em matéria para o Observatório da Imprensa46, Carlos Castilho afirma que hoje o repórter não pode mais ignorar a participação “dos informantes e amadores na coleta de informações, na mesma medida em que os consumidores de informações precisam do jornalista profissional para checar dados e confirmar rumores”. Por isso é importante pensar sobre formas de colaboração do público e também a função do jornalista no processo informativo, visto que esses dois papéis estarão cada vez mais presentes no processo de produção de notícias, visivelmente em transformação com a introdução de ferramentas como o Twitter em sua rotina. O artigo 2º do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros é claro ao afirmar que “a divulgação de informação, precisa e correta é dever dos meios de comunicação pública, independente da natureza de sua propriedade”. Muitas vezes, a informação chega antes através do Twitter, distribuída não pelo produtor da informação, mas pelo usuário final. O cidadão pode hoje informar o Centro de Operações através de um mention47. Assim, o que vemos de novidade é o fato de a internet interligar os indivíduos, possibilitando que estes construam o seu próprio „habitat‟ de comunicação sem, para isso, ter qualquer mediação profissional. A colaboração crescente dos usuários na produção de conteúdo para sites públicos é comum na Internet e gera uma “nova audiência” em “novos meios de comunicação”, com o uso de conteúdos multimídia que complementam, subvertem ou divergem daqueles emitidos pelos veículos da mídia de massa. A novidade está na existência cada vez mais frequente de sites e sistemas de informação que operam graças à colaboração dos usuários na publicação, troca e avaliação de conteúdos. Com as novas tecnologias da informação verificamos a emergência do processo colaborativo entre grupos para criar um trabalho e desempenhar a função de informar sobre eventos ou projetos.

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Disponível em: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/blogs.asp?id_blog=2&id={9EBAD99E-BBF4-40BB-8DC805A05D665D63}/ Acessado em 12/06/2012. 47 Menção (tradução livre). É o ato de um usuário do Twitter falar com outro usuário. Usa-se a arroba “@” antes do nome de usuário do Twitter para isso.


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Lev Manovich (??ano??) argumenta que esta interação entre autor e usuário é falsa. Para o autor, não existe uma dimensão das intenções e pressuposições do usuário em contato interativo com sua obra online. E, do ponto de vista do usuário, este não reconhece os propósitos e o processo de criação envolvido em uma obra para a nova mídia. Nesse sentido, não haveria colaboração alguma entre os dois sujeitos. A autoria, na infoesfera, se reduziria a uma “seleção de menu”, ou seja, a uma “produção dirigida por software”. Numa crítica radical à lógica colaborativa da produção em rede, o sociólogo inglês Andrew Keen (2007) argumenta, por sua vez, que a dimensão participativa da Internet diluiu as linhas divisórias entre fato e ficção, entre invenção e realidade, obscurecendo o princípio da objetividade. A criação generalizada em rede se trata, para o autor, de um culto ao amadorismo. E o culto ao amadorismo acaba por (...) dificultar a determinação da diferença entre o artista e o marketeiro (spin doctor), entre a arte e propaganda, entre o amador e especialista. O resultado deste “casamento”? O declínio da qualidade e da credibilidade da informação que recebemos (KEEN, 2007).

Ao analisar as características colaborativas da atual fase da Internet, Dan Gillmor (2005) antecipou uma tendência no âmbito do jornalismo contemporâneo: a emergência do cidadão-repórter (ou do jornalismo cidadão ou do jornalismo participativo). “As normas que regem as fontes, e não só os jornalistas, mudaram graças à possibilidade de toda a gente produzir notícias” (p.55). Para Gillmor, o jornalismo se democratizará cada vez mais e se tornará uma conversação, à medida que a própria práxis jornalística se abra fortemente para a participação dos leitores nas mais distintas fases da produção da notícia. “O crescimento do jornalismo participativo nos ajudará a ouvir. A possibilidade de qualquer pessoa fazer notícia dará nova voz às pessoas que se sentiam sem poder de fala” (GILLMOR, 2005). Assim, a publicação não é apenas o ponto final, mas sim a parte que deverá ser completada pela conversação. Na sua visão, essa nova prática jornalística está sendo diretamente influenciada pelo aparelhamento tecnológico que, principalmente através da internet, possibilita às pessoas produzirem informações e conteúdos multimídia e os distribuírem em diversos formatos, em redes sociais online, em wikis48 e em sites.

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O termo “wiki” é utilizado para identificar um tipo específico de coleção de documentos em hipertexto ou o software colaborativo usado para criá-lo. As wikis nasceram no ano de 1994-1995, a partir do trabalho de Ward Cunningham. "Wiki" significa "rápido" no idioma havaiano. Este software colaborativo permite a edição colectiva dos documentos usando um sistema que não necessita que o conteúdo tenha que ser revisto antes de sua publicação.


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4.2. Monitoramento de redes sociais e o processo de tomada de decisão operacional Para Juan Varella (2008), o jornalismo-cidadão diz respeito mais a um desejo coletivo de participação na produção de informação do que à ampliação de mecanismos de interação online. Não se trata, portanto, de um movimento derivado de um aumento da oferta de meios sociais online – ao contrário: a oferta dos meios é condicionada, em termos, por uma demanda crescente de participação social na produção de mídia. Nesse sentido, alinhamos os conceitos de jornalismo participativo com o tema da mídia locativa para ilustrarmos nossa tese de que o monitoramento nas redes sociais e, portanto, o diálogo com tal mídia é fundamental no processo de tomada de decisão do Centro de Operações Rio. Para isso aferimos episódios decorrentes do incêndio em um prédio comercial na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, em julho de 2012. As informações são baseadas no relatório diário de eventos da Assessoria de Comunicação do Centro de Operações. Às 9h16 do dia 6 de julho, o Centro de Operações Rio recebeu informação pelo Twitter, através de um mention de um seguidor que passava pelo local, de que havia incêndio na Av. Nossa Senhora de Copacabana, esquina com a Rua Figueiredo de Magalhães. Como procedimento padrão na apuração, a informação foi repassada para o coordenador da sala de controle, que a levou para os Bombeiros e a CET-Rio. A Companhia de Tráfego encaminhou um motociclista à paisana na região para o local informado e, pouco depois, retornou com a informação completa sobre o evento: a Avenida Nossa Senhora de Copacabana estava bloqueada entre as ruas Figueiredo de Magalhães e Santa Clara. A informação foi divulgada pelo Twitter oficial do Centro de Operações Rio às 9h29 e, em seguida, a sala de imprensa, localizada no mesmo prédio e que reúne repórteres de alguns veículos online e de rádio, foi avisada. Vale lembrar que a apuração das emissoras de rádio não começara com a divulgação do tweet. Este, por ter origem em um órgão público, “otimizou” a apuração para esses veículos. Após a divulgação, iniciada por um usuário e confirmada por um órgão público, a imprensa carioca se dirigiu de forma maciça para a região.


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Figura 11 Twitter do Centro de Operações foi o primeiro a divulgar o incêndio na Av. Nossa Senhora de Copacabana.

Por se tratar de horário matinal, algumas emissoras de rádio estavam transmitindo panoramas do trânsito com seus helicópteros e mostrando as condições de tráfego, acidentes e casos do dia-a-dia. Com a informação do incêndio confirmada, as emissoras de TV Globonews e Record passaram a transmitir ininterruptamente o incêndio ao vivo, com imagens aéreas. O trânsito apresentou retenção nas principais vias do bairro: Avenida Nossa Senhora de Copacabana, Avenida Atlântica, Avenida Princesa Isabel, Rua Barata Ribeiro, Rua Figueiredo de Magalhães e Rua Santa Clara. O Twitter do Centro de Operações informava em tempo real a condição dessas vias, sendo replicado principalmente pelas rádios locais.


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Figura 12 Operadores do Centro de Operações Rio gerenciam a crise de incêndio em prédio de Copacabana

Às 9h50, a CET-Rio confirmou que a pista reversível da Avenida Atlântica seria prorrogada. Avisada a sala de imprensa, foram emitidos alertas nas redes sociais e divulgada uma nota oficial às 10h05. Nesta nota, foram incluídas outras informações transmitidas pelo chefe-executivo de operações. O âncora da rádio da BandNews FM fez enfático elogio à medida, creditando-a ao Centro de Operações. O incêndio foi registrado por todos os veículos online. As imagens do Globocop entraram no telão da sala de controle. NOTA (10h05) - O Centro de Operações da Prefeitura do Rio informa que a pista reversível da Avenida Atlântica será prolongada por tempo indeterminado até que o incêndio na Avenida Nossa Senhora de Copacabana (altura do número 616) seja controlado pelo Corpo de Bombeiros e a situação do trânsito se normalize na região. A Guarda Municipal, a Polícia Militar e os Bombeiros estão reforçando suas equipes para a operação no local. Comlurb também está deslocando carros-pipa para dar suporte ao trabalho dos Bombeiros. A Nossa Senhora de Copacabana permanece interditada, entre as ruas Santa Clara e Figueiredo de Magalhães, com operadores da CET-Rio orientando os desvios de trânsito. O tráfego apresenta retenções na região. O Centro de Operações orienta que motoristas e pedestres evitem a região do bairro de Copacabana, neste momento (CENTRO DE OPERAÇÕES RIO, 2012).


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Por volta das 10h20, o diretor de operações da CET-Rio avisou que seria desfeita a pista reversível em Copacabana. Uma nova nota foi enviada à imprensa às 10h40, destacando a informação – e ela também foi replicada nas redes sociais: NOTA (10h40) - O Centro de Operações da Prefeitura do Rio informa que acaba de ser desfeita a pista reversível da Avenida Atlântica. Desta forma, a avenida está operando normalmente, com uma pista no sentido Leme (a da orla) e outra no sentido Ipanema. Segundo a CET-Rio, há painéis móveis informando as condições e os desvios de trânsito nos acessos ao bairro de Copacabana, por causa de um incêndio na altura do número 616 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana. A Nossa Senhora de Copacabana permanece interditada entre as ruas Santa Clara e Figueiredo de Magalhães. Equipes da CET-Rio, Guarda Municipal, Polícia Militar e dos Corpo de Bombeiros estão no local. Trânsito é intenso na região, neste momento (CENTRO DE OPERAÇÕES RIO, 2012).

O diretor de operações da CET-Rio também concedeu entrevista à rádio BandNews FM sobre a abertura da faixa reversível, na Sala de Imprensa do Centro de Operações 49. Às 13h20, a ASCOM-COR foi informada que as faixas BRTs50 da Avenida Nossa Senhora de Copacabana seriam liberadas em alguns minutos. As multas para os veículos que trafegavam irregularmente estavam suspensas nestas faixas, de acordo com a CET-Rio. Outra nota foi encaminhada às 13h26 e a informação foi posta nas redes sociais e avisamos aos jornalistas da sala de imprensa. NOTA (13h26) - O Centro de Operações da Prefeitura do Rio informa que as duas faixas de rolamento do corredor BRS da Avenida Nossa Senhora de Copacabana acabam de ser liberadas ao tráfego de veículos. A via foi totalmente interditada no trecho entre as ruas Santa Clara e Siqueira Campos para que o Corpo de Bombeiros pudesse combater incêndio no edifício nº 616. A Prefeitura do Rio informa que os motoristas de veículos particulares que circularem no corredor especial não serão multados. No entanto, a recomendação é para que as vias de Copacabana sejam evitadas. As outras duas faixas de rolamento seguem interditadas. Painéis móveis de mensagens variáveis informam as condições e os desvios de trânsito nos acessos ao bairro. Equipes da CET-Rio, Guarda Municipal, Defesa Civil, Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros seguem no local. Neste momento, o trânsito é lento na região (CENTRO DE OPERAÇÕES RIO, 2012).

Às 18h40, a Defesa Civil Municipal informou que mais uma faixa da Avenida Nossa Senhora de Copacabana tinha sido liberada no trecho entre as ruas Santa Clara e Siqueira 49

Áudio disponível em: http://www.clipnaweb.com.br/mediacenter/video_2005.asp?link=http://www.clipnaweb.com.br/Video/AUDIO2/1207061036 BN.wma&empresa=prefeitura2&titulo=Entrevista com o diretor da CET-Rio&midia=rd&dtMateria=06/07/2012 10:36:30 50 Bus Rapid Transit – sigla inglesa para designar serviço de ônibus rápido – inclui, além da implantação de faixas exclusivas para ônibus, a otimização da oferta (através da redução da frota de ônibus no eixo do corredor), o aumento da ocupação dos veículos, o escalonamento dos pontos de parada, bem como o controle (por câmeras) de acesso dos veículos particulares.


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Campos. Não enviamos nota, mas divulgamos nas redes sociais, avisamos aos repórteres da Sala de Imprensa e foi feito follow-up com CBN, TV Globo e TV Record. A Defesa Civil avisou ainda que a faixa que permanecia interditada (junto à calçada) não tinha previsão de ser liberada, pois os bombeiros seguiam no trabalho de rescaldo. A nota final da liberação só será enviada quando a via for totalmente liberada. Por volta de 22h30 a CET informou que os Bombeiros pediram para interditar mais uma faixa da Nossa Senhora, voltando a interditar, no total, duas faixas da via. A informação da interdição da via foi colocada não somente no Twitter do Centro de Operações, mas em seu Facebook, além de ser feito, novamente, followup com a sala de imprensa, Bandnews, CBN, TV Globo, O Globo e G1. O trânsito ficou intenso em quase toda a Nossa Senhora de Copacabana. Às 17h15 do dia seguinte, 7 de julho, a via foi totalmente liberada ao tráfego. Neste episódio podemos constatar que o jornalismo-cidadão é “uma ação por meio da informação”. De acordo com VARELLA (2007, p. 80), o cidadão-repórter informa porque quer que algo seja feito, “que seu bairro esteja limpo, que a prefeitura proporcione melhor atendimento, que o professor ensine com mais dedicação ou que a coleta de lixo seja mais organizada e eficiente”. Esta visão localiza o “jornalismo-cidadão” como uma narrativa local, dentro daquilo que se denominou como esfera do jornalismo hiperlocal.


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CONCLUSÃO

A incorporação de aparelhos móveis com conexão à internet (celulares, smartphones, tablets, palmtops etc) por uma parcela crescente da população fez sua utilização se expandir do relacionamento interpessoal ao jornalismo colaborativo em potencial, em grande parte pelas funções multimídia cada vez mais avançadas dos aparelhos. Todos fomentaram o desenvolvimento de interfaces adaptadas ao uso em formato mínimo, os microblogs, sendo o Twitter um dos mais populares. O que os indivíduos estão fazendo de posse dessas ferramentas ecoa no mundo todo, como durante as eleições presidenciais no Irã, quando a rede de microblogs teve uma importante participação. A natureza da instantaneidade se une a um dos preceitos do jornalismo: dar a notícia da forma mais rápida e precisa possível. Com o acesso crescente dos usuários às tecnologias móveis, as informações chegam aos jornalistas por vezes distorcidas, confusas e abstratas. Muitas vezes, porém, a essência das informações é procedente, cabendo ao jornalista a função de apurar a informação para saber confirmar a sua veracidade e, assim, produzir notícia. Com o envio por celular de textos, imagens e vídeos, cidadãos comuns têm reportado o que jornalistas, por várias razões de impedimento, não conseguiriam em um dado momento. Graças às novas tecnologias de informação e de comunicação, a informação pode circular independentemente do poder aquisitivo e do trabalho profissional. Ao mesmo tempo, porém, esses conhecimentos nascem e se difundem por heterogênese (ou seja, ao longo de trajetórias desenhadas por aportes criativos cumulativos, cooperativos), largamente socializados nos contextos de produção e uso. Com isso podemos, a justo título de produção de conhecimento, verificar o que traduz e denota a idéia de que passamos de um regime de reprodução para um regime de inovação (WEISSBERG in COCCO et al, 2003, p.27). O presente estudo entende que existem possíveis limitações para as conclusões aqui inseridas, dado as limitações de tempo e de espaço em uma monografia. Mas é preciso esclarecer que a proposta deste texto é servir como base para investigações mais profundas sobre o tema das apropriações culturais e tecnológicas da mídia locativa a ser desenvolvida futuramente como parte de projeto de mestrado.


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saberes simb贸licos. In: COCCO, Giuseppe et al. Capitalismo Cognitivo. Rio de Janeiro: DP&A, 2003.


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ANEXO A Organograma mostra a atuação da Assessoria de Comunicação dentro do Centro de Operações Rio


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ANEXO B

A Sala de Controle do Centro de Operações Rio entrou em Estado de Atenção na manhã do dia 18 de junho de 2012 por conta da operação montada para a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável – Rio+20. Somente naquele dia, 21 comitivas de chefes de Estado devem chegar ao Rio de Janeiro. As equipes operacionais da prefeitura ficaram de prontidão no Centro de Operações, onde é feito o monitoramento das principais vias em tempo real. Durante a manhã, o coordenador de operações e logística para a Rio+20 e secretário de Conservação e Serviços Públicos, Carlos Roberto Osorio (direita), ao lado do diretor de operações da Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio (CET-Rio), Joaquim Dinis (esquerda), estiveram no Centro de Operações para realizar um briefing para os controladores. Todo o efetivo encontra-se de plantão e preparado para atuar em situações de emergência.


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