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Tomo Água

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Tomo Terra

Tomo Terra

II

Tomo Água

Neste tomo, Água, pretendo registrar os traços marcantes do manejo da espada do nosso estilo Duas Espadas, pois fazemos treinamentos práticos tendo como modelo a água. Todavia, é difícil descrever em detalhes esse Caminho, como penso. Mesmo que minhas palavras não se articulem de maneira ordenada, creio que seus princípios serão compreendidos naturalmente. Os leitores devem refletir e se aprofundar sobre cada item, cada fato, cada letra que registrarei neste tomo. Se fizerem uma leitura desleixada, muito provavelmente cometerão erros nesse Caminho. Em se tratando dos princípios da Arte do Combate, mesmo que esteja registrado como embate de um contra um, é importante ser aplicado também para batalha entre dezenas de milhares, ampliando o escopo.

Nesse Caminho da Arte do Combate, se cometer um pequeno erro ou tiver equívoco na sua compreensão,

entrará no caminho perverso. Isso quer dizer que se ficar apenas na leitura, não atingirá esse Caminho. Terá que fazer desses princípios os do seu coração, fazer esforços para isso, e não ficar apenas na leitura, na aprendizagem e imitação.

Sobre o eStado de eSpírito na arte do Combate

No Caminho da Arte do Combate, o estado de espírito não pode ser diferente do estado no cotidiano. Seja no cotidiano ou no momento da luta, deve-se esforçar muito para o espírito estar aberto e natural, sem ficar nervoso em demasia, sem relaxar nem um pouco, permanecendo neutro, sem parcialidade, mantendo o espírito no centro e permitindo que flua sem cessar nem um instante sequer. Mesmo quando está devagar, o espírito não deve relaxar. E quando o corpo se movimenta rapidamente, o espírito não deve se abalar; o espírito não deve ser arrastado pelo corpo, tampouco o corpo, pelo espírito. O guerreiro deve atentar para o espírito sem que sua atenção seja desviada para o corpo. Para não perder o foco do espírito, não deve pensar em coisas supérfluas. Mesmo com aparência frágil, deve ser forte internamente, e cuidar para que o oponente não leia seus pensamentos. É importante que o soldado tenha percepção do geral e que o general tenha

conhecimento do particular. Isso vale tanto para os que ocupam altas patentes quanto para os de patentes mais baixas, todos devem permanecer corretos no espírito, livrando-se do egoísmo.

O samurai deve abrir o coração sem deixar que ele se turve, e usar a sabedoria, tendo um olhar amplo. É importante aprimorar a sabedoria e o espírito incessantemente. A sabedoria deve ser lapidada, tendo discernimento do que é justo e injusto no mundo, o bem e o mal das coisas. Ele deve experimentar vários Caminhos das artes para que não corra risco algum de ser enganado pelos homens. Somente assim se adquire a sabedoria da Arte do Combate.

Muitas vezes, a sabedoria da Arte do Combate na luta real pode ser diferente, se comparada aos treinos. No campo de batalha, o guerreiro deve se esforçar muito para manter o espírito sereno e atingir seu auge na Arte do Combate, mesmo em situações atribuladas. É preciso refletir bem sobre isso.

Sobre a poStura na arte do Combate

A postura na Arte do Combate deve seguir o que descrevo: não abaixar o rosto nem olhar para cima; não inclinar ou entortar a cabeça; não desviar o olhar; não enrugar a

testa, mas franzir as sobrancelhas para que os olhos não se mexam; afinar os olhos mais do que o normal como se não piscasse; fazer uma feição serena, mantendo o nariz reto, e levantar um pouco o queixo. Deve manter o nervo de trás do pescoço reto e a nuca, enrijecida; abaixar o ombro e manter o corpo simétrico, com a coluna reta; não empurrar as nádegas para trás; forçar a musculatura do joelho até a ponta dos pés; esticar a barriga para que o quadril não fique curvado. E ainda deve praticar o denominado “apertar a cunha”, ou seja, reter a bainha da espada curta com a barriga, para que a faixa do quimono não afrouxe.

De um modo geral, sobre a postura na Arte do Combate, é muito importante fazer da postura do cotidiano a postura da luta e da postura da luta a postura do dia a dia. Deve refletir bem sobre isso.

Sobre o olhar na arte do Combate

O olhar deve ser amplo, focando o geral. Há duas formas de olhar, a saber: observar e ver. O olhar da observação do geral deve superar o olhar de meros detalhes. Mas deve olhar o distante como se fosse perto, prestando atenção nos detalhes, e ver o próximo como se fosse longe, tendo uma visão geral. Isso é o mais importante na Arte do Combate.

Nessa arte, é fundamental conhecer o traço do manejo da espada do inimigo e não ficar seguindo a sua trajetória com o olhar, para não ser ludibriado pelo seu movimento. Deve-se aperfeiçoar para isso. Esse olhar é válido tanto numa luta, para enfrentar um oponente; quanto numa batalha, enfrentando diversos inimigos.

É importante também enxergar as laterais do corpo sem movimentar os olhos. Esse tipo de habilidade não se adquire repentinamente. Após ler este tomo, você deve praticar esse olhar cotidianamente e se aperfeiçoar para que seu olhar não se altere em situações incomuns.

Sobre a maneira de Segurar a eSpada longa

A espada longa deve ser segurada como se o polegar e o indicador flutuassem, sem apertar muito. O dedo médio não deve nem apertar nem afrouxar, o anelar e o mínimo é que devem ser forçados. Não pode haver frouxidão na mão que segura a espada. E também não se deve simplesmente pegar a espada, ela tem que sempre ser segurada com o intuito de golpear o inimigo. Para ferir o inimigo, não pode ser diferente, tem que segurar firme para que a mão não hesite.

Mesmo que seja necessário bater na espada inimiga, se defender, tocar ou reter, o samurai tem que sempre

segurar a espada longa mantendo a flexibilidade no polegar e no indicador, e invariavelmente com a disposição de desferir um golpe. Não há diferença no modo de segurar a espada, seja para testar a amolação ou para golpear o inimigo.

Concluindo, devemos evitar o enrijecimento tanto da espada quanto da mão. O enrijecimento é a mão que morre, o não enrijecimento é a mão que vive. Deve-se compreender bem isso.

Sobre o movimento doS péS

Os pés devem ser movimentados levantando um pouco a ponta dos dedos e pisando fortemente com o calcanhar. O movimento deve ser feito como se anda no cotidiano, embora possa variar a amplitude do passo ou a velocidade, dependendo da situação. Há três passos que devem ser evitados: o de salto, o de flutuação e imobilização, e o de pés fixos. O importante é o “pé Yin Yang”, a essência do Caminho da Arte do Combate. Esse pé consiste em não movimentar um só lado para avançar, recuar ou se defender. Deve-se sempre pisar “Yin Yang”, ou seja, o pé direito e depois o esquerdo, o direito e o esquerdo e assim sucessivamente. Reitero que nunca se deve pisar com um pé só. Deve-se aprimorar bem nisso.

Sobre aS CinCo poSiçõeS da eSpada

As cinco posições da espada são: superior, meia altura, inferior, lateral direita e lateral esquerda. Todas são usadas para golpear o oponente e não há outras posições além dessas. Em quaisquer delas, é preciso ter consciência de que são posições para golpear o inimigo.

As variações das posições devem seguir um princípio, de acordo com a situação. As posições superior, meia altura e inferior são posições essenciais do corpo, e as laterais são aplicações. As posições laterais da direita e da esquerda são alternativas para quando estiver num espaço reduzido, com limitações acima ou num dos lados. Nesse caso, as opções entre a direita e a esquerda são feitas de acordo com o espaço físico. A essência desse Caminho indica: “compreenda que o melhor das posições está na meia altura”. A posição meia altura é a principal entre todas. Se você fizer uma analogia com as patentes militares, a posição meia altura está para general, e as demais são subordinadas a ela, ou seja, são soldados. Deve-se refletir bem sobre isso.

Sobre o Caminho da eSpada longa

Saber brandir uma espada longa, que porta na cintura, significa ser capaz de manuseá-la somente com

dois dedos. A pressa de brandir uma espada contraria a sua essência e dificulta esse movimento. O importante é brandir a espada devagar, numa intensidade que seja confortável para si. Às vezes, o iniciante quer brandir uma espada longa rapidamente como se estivesse manuseando um leque ou espadim, e isso atrapalha o movimento. Isso é chamado “picar com espadim”, ou seja, com isso não se consegue ferir o adversário com espada longa. Se golpear com a espada para baixo, deve levantar pelo lado disponível; se cortar para o lado, deve voltar à posição inicial pelo lado mais fácil. Em qualquer situação, deve-se esticar bem o cotovelo e golpear com força. Esse é o Caminho da espada. Se assimilar as cinco posições básicas da minha Arte do Combate, o samurai estabelecerá o Caminho da espada longa, que facilitará o seu manejo. Deve-se aperfeiçoar bem.

Sobre a trajetória daS CinCo poSiçõeS da eSpada

Nessa trajetória, a posição inicial é à meia altura. A ponta da espada longa deve estar apontada para o rosto do inimigo; e ao confrontá-lo, se ele golpear com a espada, esta deve ser desviada para a direita, e no segundo ataque do oponente, deve virar a ponta da sua espada e contra-atacar golpeando para baixo. E, se o inimigo insistir,

deve-se atingir a mão dele por baixo. Eis a primeira trajetória da espada.

Creio que somente descrever as cinco trajetórias básicas não possibilita a compreensão delas. Isso ocorre somente com a prática, com a espada longa nas mãos. Com essas cinco trajetórias, será possível compreender o meu estilo Duas Espadas e julgar o estilo dos inimigos. Dessa forma, deve-se aprender que não há mais do que cinco trajetórias da espada longa no estilo Duas Espadas. Deve-se aperfeiçoar.

Sobre a ordenação da Segunda trajetória báSiCa da eSpada

A segunda trajetória se inicia a partir da posição superior, e no que o inimigo atacar, o golpeia simultaneamente para baixo. Se eventualmente o samurai errar o golpe, deve manter a espada baixa e, no segundo ataque do inimigo, golpeá-lo por baixo. Em caso de novo ataque, isso deve ser repetido.

Nessa trajetória, há diversos detalhes e variações, além de ritmos variados; e se treinar corretamente levando tudo isso em consideração, compreenderá minuciosamente o Caminho das cinco trajetórias da espada e será imbatível. Deve-se treinar muito.

Sobre a ordenação da terCeira trajetória báSiCa da eSpada

A terceira trajetória consiste em segurar a espada longa na posição inferior, voltada para baixo como se estivesse pendurada; e no ataque do inimigo, golpear a mão dele por baixo. E quando o inimigo tentar bater a sua espada por cima, você deve esquivar-se, ferindo o braço dele. Assim, deve-se posicionar a espada para baixo desta forma neutralizando simultaneamente o ponto em que o inimigo pretende golpear.

A posição inferior é encontrada constantemente ao longo da formação na Arte do Combate, desde a fase iniciante até a avançada. Deve-se pegar a espada e treinar com afinco.

Sobre a ordenação da quarta trajetória báSiCa da eSpada

Na quarta trajetória, a espada longa é posicionada na horizontal, no lado esquerdo, para quando o inimigo atacar, você tentar atingir sua mão por baixo. Nisso, se o inimigo tentar bater a sua espada por cima, o guerreiro deve reagir como se esticasse a sua mão seguindo

a trajetória da espada naturalmente, desferindo o golpe de forma cruzada para a direção do ombro do oponente. Isso é a trajetória da espada. É uma trajetória capaz de vencer o inimigo, mesmo quando este toma a iniciativa do ataque. Deve-se aperfeiçoar bem nisso.

Sobre a ordenação da quinta trajetória báSiCa da eSpada

A quinta sequência consiste em posicionar a espada longa na horizontal no lado direito; e de acordo com a direção em que o inimigo atacar, a partir da posição um pouco abaixo da inicial, levantar a espada na diagonal para a posição superior e desferir o golpe reto, para baixo. Essa descrição também serve para conhecer bem a trajetória da espada. Se o samurai se acostumar nessa trajetória, se tornará capaz de brandir livremente mesmo uma espada pesada.

Sobre essas cinco trajetórias básicas, não há o que escrever em detalhes. Para conhecer todas as trajetórias do meu estilo Duas Espadas, aprender a maioria dos ritmos e saber discernir a trajetória de espada do inimigo, é necessário, em primeiro lugar, treinar incessantemente essas cinco trajetórias básicas. Feito isso, é chegada a etapa de aprimorar o manejo da espada. Assim, ao enfrentar um

inimigo, o guerreiro poderá adaptar seu ataque a diversos ritmos e vencer o oponente em qualquer circunstância. Deve-se aperfeiçoar bem.

enSinamentoS Sobre a exiStênCia e a inexiStênCia da poSição

A existência e a inexistência da posição implicam não se posicionar estaticamente com a espada longa. Porém, como há cinco direções de posicionamento da espada, conforme visto anteriormente, na prática é como se existissem os posicionamentos. Independentemente da posição, a espada longa deve ser segurada de uma forma que possa golpear o inimigo de acordo com sua ação, local e circunstâncias. Mesmo a posição superior se torna à meia altura se o samurai abaixar um pouco a espada. E a posição à meia altura se torna superior caso o guerreiro erga a espada de acordo com a conveniência. Da mesma forma, a posição inferior também se torna à meia altura se a espada for um pouco levantada. Mesmo as posições laterais se tornam à meia altura ou inferior se o samurai trouxer a espada para o centro ou para baixo, dependendo da posição tomada. Disso decorre esse princípio da existência e inexistência da posição.

O guerreiro deve ter ciência, acima de tudo, de que quando se apossa da espada é para decepar o inimigo, de qualquer maneira. Mesmo que tenha que se defender, ou repelir, bater, conter, tocar etc. a espada do inimigo, tudo isso deve ser compreendido como um percurso para, em seguida, contra-atacar e golpear. Quando não consegue golpear o inimigo, é porque está se concentrando em tentar se defender, repelir, bater, conter e tocar. É muito importante considerar que tudo deve ser convertido numa oportunidade para vencer o inimigo. Deve-se refletir bem sobre isso. Se estender isso a uma situação de batalha, a disposição da tropa também é um posicionamento. Tudo se torna um meio para vencer a batalha. Não devemos nos apegar a um posicionamento. Deve-se aprimorar bem.

Sobre o golpe de ímpeto para atingir o inimigo

Dentre os ritmos para golpear o inimigo, existe aquele que se aproxima dele a ponto de os corpos se tocarem, e sem que ele perceba suas intenções, o golpeia agilmente sem movimentar o corpo. Isso deve ser feito num ímpeto que não permita ao inimigo raciocinar e se preparar para recuar a espada, desviar ou golpear. Deve assimilar bem

esse ritmo e treinar para golpear rapidamente o inimigo com esse “ritmo de ímpeto”.

Sobre o ritmo de doiS tempoS

Quando iniciamos o nosso ataque, o inimigo pode se antecipar e recuar ou tentar se defender. Então, nesse ritmo de dois tempos, inicialmente simulamos que vamos atacar. E no que o inimigo se descuidar, após a tensão inicial ou ao recuar, o atacamos de fato. Isso é o que denominamos ritmo de dois tempos. Talvez seja difícil assimilar lendo apenas esta descrição, mas se receber orientações na prática, compreenderá imediatamente.

Sobre o golpe Sem penSamento

Quando estamos enfrentando um inimigo, deparamos com situações em que ambos tentam tomar a iniciativa do ataque com a espada. Nessas condições, se dominamos esse golpe, tanto o corpo quanto a mente se posicionam naturalmente e as mãos espontaneamente golpeiam o inimigo com agilidade e força, eis o golpe sem pensamento. Isso

constitui um dos segredos da nossa arte. Esse golpe é visto com frequência, e deve ser bem treinado e aperfeiçoado.

Sobre o golpe de Corrente d’água Calma

Quando estamos enfrentando um inimigo, e esse tenciona recuar, desviar ou rebater a nossa espada rapidamente, devemos pressioná-lo e, por trás do nosso corpo, devemos golpear devagar, como água calma, com grande amplitude e intensidade. Se assimilar a técnica, ficará fácil executar esse golpe. É muito importante saber avaliar a competência do inimigo.

Sobre o golpe oportuniSta

Quando estamos para atacar o inimigo, ele tenciona parar ou repelir esse ataque. Então, num golpe só, atingimos a cabeça, a mão ou a perna. O golpe oportunista é isso, em um único golpe atingir qualquer lugar, oportunamente. Isso deve ser praticado intensamente e será sempre útil. Deve-se treinar repetidamente para compreendê-lo.

Sobre o golpe “gerar fogo Com pedra”

Em uma situação na luta em que a nossa espada toca a do inimigo, batemos fortemente sem levantar minimamente a espada. É necessário bater agilmente com a força do pé, corpo e mãos; e para isso, é preciso ter força nesses pontos. Isso requer treinamento frequente do samurai, pois se ele se aprimorar, se tornará capaz de executar esse golpe com força.

Sobre o golpe “folhagem vermelha”

Trata-se do golpe de bater a espada do inimigo e deixá-lo desarmado. Quando o inimigo está ansioso, posicionado com a espada para atacar, resistir ou se defender, batemos a espada do inimigo com força usando o golpe sem pensamento ou de gerar o fogo com pedra. E se insistir e bater com a ponta da espada para baixo, certamente a espada do inimigo cairá no chão. Se treinar bem esse golpe, será fácil desarmar o inimigo. Deve-se treinar intensamente isso.

Sobre o Corpo que alterna Com a eSpada

Pode-se dizer também da espada que alterna com o corpo. Isso quer dizer que, de modo geral, na postura em que golpeia o inimigo, não se movimenta a espada e o corpo ao mesmo tempo. De acordo com o ataque do inimigo, primeiro se posiciona o corpo para, em seguida, golpear com a espada. Eventualmente, pode ocorrer de golpear com a espada sem movimentar o corpo, mas de um modo geral, posicionar primeiro o corpo para depois usar a espada. Deve-se refletir bem sobre isso e treinar o golpe.

Sobre golpear e aCertar Com a eSpada

Golpear e acertar com a espada são movimentos distintos. Golpear é, seja de que forma for, consciente e certeiro. Acertar é algo como atingir por acaso, por mais que seja forte a ponto de o inimigo morrer instantaneamente, isso não é mais do que acertar. Golpear significa golpear com intenção. Deve-se refletir sobre isso. Acertar, seja a mão ou a perna do inimigo, significa acertar para, em seguida, golpear com força. Acertar significa, nesse contexto, algo

como tocar. Se treinar bem, acertar tem sua eficácia e deve ser aprimorada.

Sobre o Corpo de “maCaCo de braço Curto”

Ser como “macaco de braço curto” significa não esticar o braço. Ao se aproximar do inimigo na luta, não deve pensar em esticar o braço, mas posicionar o corpo rapidamente antes que ele ataque. Se pensar em esticar o braço, certamente o seu corpo se afasta; em vez disso, deve reposicionar o corpo rapidamente. Numa distância em que se alcança com o braço, é fácil posicionar o corpo. Deve-se refletir bem sobre isso.

Sobre o Corpo de “laCa-grude”

A expressão corpo de “laca-grude” significa grudar, encostar o corpo no inimigo e não se desprender. Para isso, deve-se encostar a cabeça, o corpo e as pernas com força. As pessoas conseguem encostar rapidamente o rosto e a perna, mas o corpo acaba se afastando. Deve-se fixar

bem o próprio corpo no do inimigo, sem deixar nenhum espaço entre eles. Reflita bem sobre isso.

Sobre a “diSputa de altura”

“Disputar a altura” significa, em qualquer situação ao encostar no inimigo, cuidar para que o próprio corpo não fique contraído, e esticar a perna e o quadril até o pescoço, de modo que o rosto fique na mesma altura da face do inimigo. É importante encostar com força, como se vencesse numa disputa de altura. Deve-se aprimorar isso.

Sobre ter aderênCia

No confronto com o inimigo, se ele se defender, devemos fixar nossa espada na dele e encostar o corpo como se criasse aderência. Aderência, nesse caso, seria cuidar para a espada não se soltar facilmente e encostar o corpo sem forçar muito. Ao criar essa aderência, o corpo pode ser encostado devagar. Há diferença entre criar aderência

V

Tomo VÁcuo

(manuscrito por Shibatou Sanzaemon)

O que há para registrar neste Tomo Vácuo, do Caminho da Arte do Combate do estilo Duas Espadas, é o significado do vácuo. O vácuo significa que não há nada, é algo que é impossível de captar sensorialmente. Obviamente, o vácuo é não existir. Saber o que existe é saber o que não existe, isso é o vácuo. Como os homens interpretam equivocadamente, pensam que a incompreensão das coisas é o vácuo, mas isso não é o vácuo verdadeiro. É tudo um engano.

Também nesse Caminho da Arte do Combate, não conhecer os Caminhos do samurai não constitui necessariamente um vácuo, assim como ter muitas dúvidas e não ter um rumo a seguir. Dizem que o vácuo seria ter muitas dúvidas e ficar sem ação, mas isso também não é o vácuo verdadeiro.

É preciso saber que para um samurai, o verdadeiro vácuo significa dominar concretamente a Arte do Combate;

esforçar-se em outras artes marciais, como arco e cavalaria; ser versado em Caminhos de formação de guerreiro, na estratégia militar e nas letras; não se perder nem se furtar; aprimorar a sabedoria e a vontade; afiar os dois olhares, a observação e a percepção; e estar no céu límpido distante das nuvens obscuras de dúvidas.

Enquanto não se formar no Caminho verdadeiro, o aprendiz pensa que está trilhando o caminho correto ao se apegar ao dogma budista ou às leis dos homens, mas numa avaliação mais objetiva, percebe que devido a seus preconceitos e olhares enviesados, está contrariando o verdadeiro Caminho.

O samurai deve se iluminar no Caminho tendo-o como referência, adotando-o como seu guia, treinar amplamente a Arte do Combate, ser correto e claro, conhecer o nível mais avançado e fazer do vácuo o Caminho, e do Caminho, o vácuo.

Shinmen Musashi Genshin Naomichi (sinete) Décimo segundo dia do quinto mês do ano dois da era Shouho (1645)

Sr. Terao Magonojou

Transmito-lhe os cinco tomos: Terra, Água, Fogo, Vento e Vácuo. Ofereço-lhe a cópia do registro do

que o nobre Shinmen Genshin me transmitiu e ensinou. Dentre os tomos, o do Vácuo não pôde ser registrado pelo nobre Genshin, devido à sua longa enfermidade. No entanto, se dominar objetivamente os princípios dos quatro tomos iniciais e adquirir a autonomia, naturalmente se adequará ao Caminho do vácuo. Consegui alcançar esse estágio ao me aperfeiçoar por alguns anos, dominar os princípios do Caminho e obter autonomia em relação a eles. Exclusivamente na Arte do Combate, o samurai deve seguir os princípios da natureza, estar no silêncio e repetir os treinamentos para, naturalmente, atingir o estado inabalável do espírito, e somente assim, alcançará o pleno vácuo.

“A Arte do Combate da verdadeira harmonia não perece com a morte”, foi a mensagem que o nobre Genshin deixou para seu epitáfio. Que exercitem exaustivamente a Arte do Combate. Isso é tudo.

Segundo dia do décimo mês do ano dois da era Shouho (1653)

Terao Magonojou Nobumasa Naomichi (sinete)

O mestre Musashi transmitiu os cinco tomos da Arte do Combate, os segredos do seu estilo Duas

Espadas, para Terao Nobumasa. Eu herdei esses ensinamentos e me tornei o discípulo da terceira geração, mas ainda hoje não sou capaz de afirmar que domino o verdadeiro espírito do mestre. No entanto, V. Sa. ingressou nesse Caminho e se aperfeiçoou nele por vinte e seis anos ininterruptos. Por esse motivo, lhe ofereço os cinco tomos, para lhe transmitir os segredos do referido estilo que humildemente assimilei.

Na Arte do Combate, o correto é a postura da imparcialidade, o verdadeiro Caminho correto é enfrentar o inimigo em silêncio, como uma rocha. Não seja envolvido por ele. Trate os inimigos assim, adequadamente, e pratique o Caminho da espada.

Ancião Shibatou Sanzaemon Yoshimune (assinatura estilizada) Naomichi (sinete) Segundo dia do quarto mês do ano oito da era Enpou (1680) Sr. Yoshida Tarouemon

Gravura de Musashi enfrentando Tsukahara Bokuden

Gravura de Sakakibara Yasumasa e Toyotomi Hideyoshi

Samurai montado a cavalo

Espadachim japonês travando um duelo

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