BRAILLE, PORQUÊ?

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David Rodrigues

Aprendizagem do Braille: um meio e um fim. “Cegueira também é isto: viver num mundo onde se tenha acabado a esperança” José Saramago Há cerca de 7000 anos passou-se uma revolução que fez com que os humanos nunca mais fossem os mesmos que antes: a invenção da escrita. Michael Serres afirma que esta foi a primeira grande revolução da humanidade. Com ela, a humanidade começou a construir a sua história, tornando-se na primeira espécie capaz de registar e transmitir às gerações seguintes, um conhecimento que não era mais simplesmente da tradição oral e da experiência diretamente vivida e comunicada. Esta passagem da Pré-história para a História constitui também um importante marco no desenvolvimento humano ao simbolizar sons através de um meio de comunicação completamente distinto; os símbolos gráficos. Esta capacidade de representar uma coisa (a linguagem oral) por outra (a escrita) é um marco na demonstração da capacidade cognitiva dos humanos. E, como nos ensina a “neuroplasticidade”, as experiências que vivenciamos têm uma

influência decisiva na forma como se organiza o nosso cérebro. Assim, não só o nosso cérebro organiza a experiência, mas a experiência organiza e estrutura o nosso cérebro. Podemos assim entender a importância decisiva e extraordinária que o facto de representar (simbolizar) uma coisa, por outra, teve no desenvolvimento cognitivo e mesmo pessoal e comunitário das nascentes comunidades humanas. As crianças cegas dispõem desta fantástica vantagem de acesso à linguagem oral. É um instrumento extraordinário para suscitar, organizar e desenvolver a cognição. Dispomos de muita evidência (desde que o psicólogo russo Leontiev escreveu o seu fantástico ensaio sobre as ligações entre linguagem e pensamento) sobre o caráter imprescindível da aquisição e domínio da linguagem para desenvolver o pensamento. A linguagem é um poderoso e imprescindível organizador psíquico que tem influência em toda a nossa vida de relação. 15


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