BRAILLE, PORQUÊ?

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Dídia Lourenço

Braille: Vários PONTOS de partida, um só ponto de chegada! Quando uma família se confronta com a notícia de que a sua criança não vê, uma das primeiras preocupações com que se depara é perceber de que modo lhe vai fazer chegar o mundo. Lembro-me que foi este um dos meus primeiros pensamentos quando o neurocirurgião que operou o meu filho, na altura com seis meses de idade, me disse que a cirurgia tinha corrido bem mas que, provavelmente, tinha ficado cego. Recordo-me também do que referiu para me reconfortar no momento em que as lágrimas me escorriam pela face logo após a notícia: “Não se preocupe porque o seu filho vai ver de outra forma. As pessoas cegas não veem o mundo como nós.”

plenitude. Mas, para que o possam ver, sem que percam o essencial do que as rodeia, é necessário que tenham acesso à informação de uma forma que não seja visual. Depressa me fui apercebendo disso nas rotinas diárias com o meu filho. Sempre atento e curioso mostrou-me que muitas vezes a sua visão ia para além do que eu estava a ver e ensinou-me a ver para além do que eu via. Após o primeiro embate com uma realidade inesperada onde as adaptações a todo um novo contexto foram acontecendo de forma atribulada, a busca por algo que pudesse conferir “normalidade” à vida de uma criança era também uma prioridade: proporcionar experiências ricas em termos sensoriais, promover contacto com brinquedos e jogos educativos estimulantes, oferecer livros para exploração tátil e histórias contadas antes de adormecer…

Naquele dia não compreendi o que aquele médico me estava a dizer. Fechava os meus olhos e imaginava como seria viver assim: sem ver. Parecia que tudo deixava de existir! Hoje, seis anos passados, percebo claramente a mensagem do neurocirurgião. Sim, as pessoas cegas veem o mundo de uma outra forma e podem experienciá-lo na sua 19


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