BRAILLE, PORQUÊ?

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NOTA DE ENCERRAMENTO

Ana Sofia Antunes

Seis Pontos Braille: Uma Janela para o Mundo Sou utilizadora do sistema Braille desde os seis anos de idade, altura em que iniciei o meu percurso escolar, em 1987, numa escola especializada para crianças cegas, o Instituto António Feliciano de Castilho. Tenho uma cegueira congénita, resultante de uma síndroma rara, designado Amaurose Congénita de Leber. Lembro-me bem do meu primeiro contacto com este sistema de leitura e escrita: num dos meus primeiros dias de escola, a professora Maria José, a minha professora primária da Primeira à Terceira classe, entregou-me um pequeno livro, formato A5, que mais tarde vim a perceber que fora escrito por ela mesma. Tratava-se apenas de um conjunto de folhas, ligadas entre si por duas argolas metálicas que se abriam como as argolas de um dossier, com uma capa feita de cartolina, onde a professora havia feito uma colagem com triângulos coloridos sobrepostos, com diferentes texturas. Cada uma das folhas funcionava como uma espécie de ficha, em que me era apresentada uma das letras do alfabeto. A escrita era feita no sentido mais largo da folha, ficando as argolas na parte superior da página. Conforme eu ia tomando contacto com cada uma das letras, e com um conjunto de palavras simples onde essa

letra era utilizada, novas folhas com novas letras se iam juntando ao meu livro, que foi progressivamente engrossando. Aquele livro era muito especial para mim, não só porque era só meu, mas também porque, como desde logo me apercebi de forma estranhamente muito consciente, me abriu uma enorme janela para o mundo. Da leitura naquele pequeno livro dos primeiros dias, até passar a pegar nos muitos livros que povoavam aquela escola, foi um salto muito curto. E a minha sede enorme pelos livros começou logo ali, não tendo cessado jamais. Que o diga o meu pai! Num tempo em que o acesso aos livros em Braille não era grande, assumiu uma importância fulcral na minha vida o serviço de leitura para pessoas com deficiência visual, existente na Biblioteca Nacional. Sendo o Braille um formato de leitura e escrita com uma dimensão grande (uma página a negro pode corresponder, quando trans55


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