BRAILLE, PORQUÊ?

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NOTA DE ABERTURA

João Costa

A palavra e o silêncio Lembro-me bem da minha primeira sensibilização mais consistente para a inclusão dos cidadãos com cegueira ou baixa visão. Desempenhava funções como diretor da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da NOVA e um estagiário cego desafiou-me a convidar algumas pessoas para um dia de tomada de consciência. A apresentação que foi feita sobre os desafios que os estudantes cegos enfrentam no seu dia-a-dia, num edifício que acreditávamos que fosse “amigável” ou cheio de adaptações, tornou-me consciente do tanto que estava por fazer. Relembro dois exemplos simples: os botões do elevador estão em braille, mas não há qualquer outra indicação sobre o andar em que se está; o início dos degraus das escadas grandes não tinha qualquer saliência no chão para se sentir que vinham aí os degraus. De imediato, solicitei um levantamento de todas as barreiras existentes a partir da experiência do estagiário.

mação, alguns debates emergentes sobre a alegada desnecessidade do Braille num contexto em que a tecnologia disponibiliza outras formas de acesso à palavra escrita, designadamente através da leitura automática em áudio. Como linguista, sei que há diferentes processos de ativação e de reação associados a modalidades diferentes de receção do que nos é comunicado. A compreensão da oralidade e da escrita são competências distintas, aliás tratadas distintamente nos documentos curriculares da língua materna e das línguas estrangeiras. Quando ouvimos, ativamos vários mecanismos automáticos de descodificação, que não são mobilizados quando lemos. Temos de reconstituir sons truncados, de associar a entoação a significados, de associar tonalidades e frequências a diferentes vozes. A possibilidade de voltar atrás, mesmo em comunicação gravada, é menor, porque é mais lenta e nem sempre

É, por isso, com gratidão, pela consciência despertada, que respondo a este convite gentil que a Bengala Mágica me dirigiu para que participasse nesta edição comemorativa do Dia Mundial do Braille, aproveitando para felicitar a associação por mais um aniversário. Sigo, com atenção, mas sem grande infor9


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