O artista Gerson Reichert apodera-se das revistas Humboldt, distribuídas pelo Instituto Goethe, para fazer verter delas a sua pintura. Apropriando-se desse veículo de comunicação com pinceladas espessas de tinta a óleo, acrílica, pigmentos diversos e caneta hidrográfica, o artista rompe o fluxo de leitura corrente do espectador das revistas pintadas. Textos e imagens são sobrepostos nesse diálogo sobre as páginas da revista Humboldt, onde explora novas narrativas e ressignifica sua pintura.
Gerson Reichert, da Série Humboldt Revista, 2006 óleo e marcador sobre revista fotos: Juliana lima
The artist Gerson Reichert seizes magazine Humboldt, distributed by the Goethe Institute, to make them shed their paint. Appropriating this vehicle of communication with thick strokes of oil paint, acrylic, pigments and marker. The artist breaks up the flow of reading current viewer magazines painted. Texts and images are overlaid in this dialogue on the pages of the magazine Humboldt, in which the artist explores new narrative and reframes his painting.
Gerson Reichert, Series Humboldt Magazine Review, 2006 oil and marker on magazine photos by Juliana lima
Humboldt Revista por Gerson Reichert
G
erson Reichert afirma com propriedade que as intervenções em pintura que ele realiza lançam um novo olhar sobre o agora objeto-revista Humboltd. A pintura revisa a revista. Ela revê a partir de sua linguagem a linguagem da revista, esgueirando-se pelo texto e pela imagem, se sobrepondo, como uma leitura que se constrói transformando o que vê pela frente. O ato é de apropriação, de aproximação, mas também de barbárie. Um ataque à estrutura da revista, a sua integridade como objeto cultural – ainda que permaneça intocada sua qualidade de veículo. A pintura aqui é o selvagem descrente cuja única opção é profanar: ninguém rouba sua alma. Ela não sabe ler em outra língua que não a sua e sua linguagem é a ação. Na história pessoal do artista esse ataque tem, no entanto, a força de uma deglutição, uma proposição de mão única que procura nessa confrontação revisitar seu passado: decifra-te ou devoro-te. Mas a interferência do artista sobre a revista resulta numa forma de mediação (diálogo, como ele prefere). Para quem têm o privilégio de folhá-las, elas se mostram como um caderno de notas onde se
potencializam qualidades: idéias apenas esboçadas são exarcebadas, encobertas, outras são simplesmente inventadas. O que permeia página a página além densidade da tinta, sua oleosidade, são as astúcias do artista. Vale lembrar que a pintura precisa inventar um lugar para si, como um abrigo. O pintor usualmente o encontra num vazio qualquer que ele torna próprio e o organiza, ao modo da pintura. As intervenções de Gerson partem de um campo já semeado, convencional ao seu modo igualmente, mas que se abre e se desdobra. Por isso a abertura para o exercício, para a experimentação de idéias que poderão ou não ser aproveitadas em suas telas.
A pintura em cada página aparece como uma adição de sentido que ao se cruzar desestabiliza ambos os lados: sua presença num espaço do texto, da ilustração e da legenda nos lembra que o sentido de ordem não existe sem a eminência do caos. Flávio Gonçalves Artista plástico e profº do Instituto de Artes da UFRGS
Gerson Reichert states with conviction that the painting interventions he does introduce a new view at the current Humbold objectmagazine. The painting revises the magazine. It reviews from its language, the language of the magazine, stealing away through the text and the image, overlapping, as a reading that constructs itself transforming what it is ahead of it. The act is one of acquiring, one of approach, but also one of barbarity. An attack to the structure of the magazine, to its integrity as cultural object – despite having its quality untouched. The painting, in this case, is the unfaithful savage, whose only option is to profane: nobody steals its soul. It can not read using a different language, one that does not belong to the painting and whose language is the action. In his personal history, artist attacks the force of a
deglutition, a proposition a ‘one way only’ that looks for him, in confrontation to revisit his past: decipher it or be devoured by it. However, the interference of the artist on the magazine results in a mediation form (dialogue, as he prefers). For those with the privilege of browse them, they reveal themselves as a notebook where potentials qualities and ideas are exacerbated, hidden, others simply invented. What permeate page to page beyond the density of the ink, its oil, is the cunning of the artist. It is worth remembering that the painting needs to invent a place to itself, as a shelter. The painter usually finds it in void, which he turns it into something belonging to him, to the way of the painting. Gerson’s interventions go from an already sown field, conventional to his way in the same way, but it opens and unfolds itself. Therefore, the opening for
the exercise, the experimentation of ideas that will or not be used in his screens. The painting on each page appears as an addition to the sense: its crossing destabilizes both sides: it presents itself in a peace of text, of illustration and of the subtitle that remembers us that the sense of order does not exist without the eminence of chaos. Flávio Gonçalves Artist and Professor at the Instituto de Artes - UFRGS
“... it presents itself in a peace of text, of illustration and of the subtitle that remembers us that the sense of order does not exist without the eminence of chaos.”