Sumário
N° 15 • Ano III • Julho/Agosto 2008
CAPA
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A QUESTÃO DO CHORUME DEIXA DE SER UM PESADELO E COMEÇA A SER TRATADA DE FORMA MAIS NATURAL NO PROCESSO DE COLETA, TRANSPORTE E TRATAMENTO.
DIVULGAÇÃO / IVECO
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO / ENTERPA
CAPA: DREAMSTIME, DIVULGAÇÃO / ENTERPA, DIVULGAÇÃO / CAVO
ENTREVISTA
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GESTÃO
CLÁUDIO TERCIANO, DA FORD, FALA SOBRE SUA HISTÓRIA E SOBRE A RELAÇÃO DA EMPRESA COM O SETOR.
OS RESÍDUOS GERADOS NA PRODUÇÃO PASSAM A SER VISTOS COM MAIS ATENÇÃO PELAS EMPRESAS, CADA VEZ MAIS CONSCIENTES.
Editorial Edição e arte: Gustavo Garcia (gustavo@gestaoderesiduos.com.br) Diretor comercial: Eduardo Capello (eduardo@gestaoderesiduos.com.br) Redator: Rodrigo Zevzikovas - MTb 51.109 (rodrigo@gestaoderesiduos.com.br) Publicidade: Elaine Cristina (elaine@gestaoderesiduos.com.br) Isa Cândido (isa@gestaoderesiduos.com.br)
Expediente
Assinatura: Marcelo Abad (marcelo@gestaoderesiduos.com.br) Assinatura anual: R$ 35,00 (6 exemplares/ano) Periodicidade: bimestral Tiragem: 8.000 exemplares Impressão: Ipsis Gráfica A revista não se responsabiliza por conceitos ou informações contidas em artigos assinados por terceiros.
Redação e publicidade Rua Clodomiro Amazonas, 1.422 - 5º andar - cj. 57 Vila Olímpia - 04537-002 - São Paulo/SP - Brasil Fone/Fax: + 55 11 3045-0927 E-mail: info@gestaoderesiduos.com.br Site: www.gestaoderesiduos.com.br Gestão de Resíduos
Conscientização universal Prezar pela sustentabilidade e manter uma postura ambientalmente correta não é mais um comportamento garantido por poucos abnegados. Hoje em dia, o cerco se fecha cada vez mais, e seja qual for a motivação, pessoas e empresas já estão num caminho felizmente sem volta. Os chamados “ecochatos”, no fim das contas, não são tão chatos assim. São pessoas que, antes mesmo do modismo ecológico, encaravam o futuro do planeta com responsabilidade, algo que deveria ser inerente a qualquer ser humano. Por bem ou por mal, o mundo está despertando para essa que é, sem sombra de dúvidas, uma das questões mais importantes para a sociedade. Empurrar a sujeira para debaixo do tapete não é mais possível. De agora em diante, todo tipo de interferência na natureza terá que ser estudada sob diversos pontos de vista, da exploração inicial ao resíduos gerados pelo processo. Sim, o planeta tem futuro. Boa leitura! Gustavo Garcia Editor N° 15 • Julho / Agosto • 2008
Entrevista
e
Robustez Baixo Custo
C
por Rodrigo Zevzikovas
DIVULGAÇÃO
láudio Terciano ingressou na Ford aos 23 anos e lá fez uma brilhante carreira
ao passar por diversos cargos estratégicos. Em 2004, assumiu a Gerência Nacional de Vendas, Marketing e Serviços da Ford Caminhões. Cláudio recebeu a reportagem para um bate papo sobre o setor de caminhões e sobre o meio ambiente
Temos uma excelente carteira de clientes no setor de resíduos. Por isso, vale destacar que nossa rede de distribuidores está preparada para atender as customizações exigidas pelo setor
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RGR - Como o sr. vê o mercado de caminhões no Brasil atualmente, com o aumento gradativo nas vendas e na produção? Cláudio - O mercado nacional de caminhões vem atravessando um momento excelente. Nos primeiros sete meses do ano já foram emplacados 67.261 caminhões acima de 3,5 ton. no Brasil. A primeira quinzena de agosto registrou 537 unidades diárias de emplacamento, registrando recorde histórico de emplacamentos por dia. Conseqüentemente, as montadoras estão adequando sua produção para este novo patamar de vendas. Na opinião do sr., quais os principais motivos do aquecimento do mercado? Vários fatores contribuem para este aumento de demanda, entre eles destacamos o bom momento dos setores agrícola e da construção civil, as obras de infraestrutura (PAC), assim como o aumento do consumo das famílias brasileiras, tudo isso suportado por um aumento de disponibilidade de crédito. Qual a expectativa da Ford Caminhões para os próximos meses de 2008 e até para 2009? Agora em 2008, o ritmo do primeiro semestre deve se manter, com possibilidade de uma leve redução no crescimento, já que a base comparativa do primeiro semestre foi menor do que será no segundo semestre. A
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Ford Caminhões está prevendo uma indústria por volta de 120 mil unidades para 2008. Para 2009, a indústria deve crescer, mas em um ritmo menor do que em 2008. Como a Ford Caminhões se preparou para atender a alta na demanda? Em outubro de 2007, anunciamos um investimento de R$ 300 milhões para o desenvolvimento de produtos e para a expansão da rede de distribuidores. Agora em junho de 2008, aumentamos a produção de 136 para 145 unidades produzidas por dia, além da implantação do segundo turno na fábrica de São Bernardo do Campo, a partir de 2009. Com isso, aumentaremos a produção para 172 unidades por dia, e para isso estamos contratando mais 400 funcionários diretos. Em paralelo, a Ford Caminhões reforçou a sua rede de distribuidores exclusivos. Hoje já conta com 100 distribuidores e a previsão é fechar 2008 com 120 pontos de venda, todos padronizados. Quais as especificidades dos caminhões Ford para as exigências do setor de resíduos? Quais os modelos mais indicados? A Ford possui uma linha completa de produtos, desde um caminhão leve, como o F-350, até um caminhão pesado, como o Cargo 4532E Maxton. Es-
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Entrevista
Cláudio Terciano construiu longa carreira na Ford
pecificamente para o setor de resíduos o caminhão mais utilizado é o Cargo 1722E. Também temos o Cargo 815E que é muito utilizado em coleta de resíduos hospitalares. Sabemos que a empresa possui uma política ambiental desde a década de 60. Por que a preocupação nasceu tão cedo? Quais os principais resultados dessa iniciativa? A Ford tem uma preocupação constante com a redução dos impactos ao meio ambiente. Em todas nossas unidades produtivas no Brasil executamos programas importantes de redução de energia, de consumo de água e de recolhimento para descarte adequado ou reciclagem do lixo industrial. O desenvolvimento de novos produtos também é pensado
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para reduzir impactos. Um desses exemplos é o Ecoproject, patente desenvolvida pela Ford que utiliza sisal - matéria-prima vegetal - e polipropileno reciclado na confecção de peças plásticas do interior dos veículos. Como é a relação da empresa com os consumidores finais do setor de resíduos? Há parcerias ou desenvolvimento conjunto? Temos uma excelente carteira de clientes no setor de resíduos. O Cargo é um produto muito conhecido neste mercado, principalmente pela sua robustez e pelo baixo custo de manutenção, o que possibilita ao cliente um excelente custo-benefício. Vale destacar que nossa rede de distribuidores está preparada para atender as customizações exigidas pelo setor.
Por parte da Ford, quais são as recomendações de utilização e manutenção dos produtos, durante a operação? Recomendamos nossos clientes a efetivarem as manutenções preventivas exigidas pelo manual do proprietário, sempre se utilizando de peças genuínas. Estas revisões devem ser feitas em nossa rede de concessionárias. Nossos distribuidores no ato da entrega do produto efetuam uma entrega técnica onde todas as dicas de uso assim como de manutenção são esclarecidas pelos nossos técnicos. Esse tipo de ação agrega valor ao produto final? Na medida em que práticas ambientalmente corretas trazem economia de recursos, o custo produtivo fica menor. A utilização de matérias-primas renováveis também tem dentre os seus objetivos reduzir custos. Todas essas práticas acabam agregando valor ao produto final. Há países no mercado internacional em que as empresas adotam biocombustíveis em suas frotas. Como está essa questão no Brasil? Todos os caminhões da Ford estão habilitados para rodar com a mistura de combustível B3. E o veículo Ford Ranger já está habilitado para utilizar o combustível B5.
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Acontece Artistas plásticos transformam resíduos em arte, moda e design Como parte das comemorações de 70 anos, a Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomercio) promove nos dias 4 e 5 de setembro a Mostra Fecomercio de Sustentabilidade. Realizada em parceria com os institutos Ethos e Brasil Ambiental, a exposição reunirá artistas, empresas, organizações e entidades que apresentarão produtos e projetos em torno do tema “sustentabilidade”. A mostra será dividida em dois setores: o primeiro apresentará produtos que resultam da indústria de reciclagem, como obras de arte, móveis, design e moda, um trabalho realizado por diversas cooperativas de reciclagem de lixo de São Paulo, com participação de artistas plásticos. Entre os artistas e cooperativas convidados estão Cláudia Araujo, Naná Ayné, Maria do Rosário, Instituto Papel Solidário, Empresa de Lona, Consuelo, Oficina Boracea, Empresa Metropolitan, Móveis de Mato Grosso e Amapá, Rosely Ferraiol e Carlos Gomes. Ao apresentar as obras produzidas com resíduos, os artistas pretendem estimular a reflexão no público sobre a importância de valorizar as práticas de reciclagem.
A segunda parte exibirá as tecnologias sustentáveis, com a exposição de cases de empresas. As tecnologias apresentadas foram desenvolvidas por ONGs, centros de tecnologia, institutos de pesquisa, universidades, empreendedores sociais e empresas e serão apresentadas de forma a identificar as situações em que podem ser aplicadas, as vantagens e desvantagens econômicas, sociais e ambientais, como podem ser adequadamente utilizadas e as implicações para o usuário e para o ambiente no qual são utilizadas, o que permite a compreensão de impactos ambiental, social e econômico e as mudanças culturais decorrentes de sua implementação. A exposição faz parte da Campanha Fecomercio Sustentável, que tem por objetivo, a partir de apresentação de práticas de baixo custo, informar, conscientizar e estimular a sociedade (empresários, profissionais, educadores, políticos, sociedade civil, cientistas e jornalistas) a se comprometer com a responsabilidade sócio-ambiental. A mostra poderá ser visitada nos dias 4 e 5 de setembro, das 10h às 19h, na rua Dr. Plínio Barreto, 285, na Bela Vista, em São Paulo. A entrada é franca.
Falamansa grava clipe com engajamento ambiental
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No clipe, são usadas imagens do lixo concentrado no rio, além de legendas com dados relativos ao despejo de resíduos nas águas do Tietê e alertas sobre os problemas de saneamento do País. DIVULGAÇÃO
O grupo musical Falamansa, um dos principais nomes do gênero denominado forró universitário, lançou recentemente seu sexto disco, “Segue a Vida”, repleto de menções à questão do meio ambiente e sustentabilidade. A começar pelo encarte do CD, impresso em papel reciclado, diversas músicas presentes no álbum trazem recados relacionados à ecologia. Para reforçar a mensagem ambiental, no mês de julho a banda gravou um videoclipe em pleno Rio Tietê, marco da poluição e descaso com o meio ambiente na cidade de São Paulo. A canção escolhida para o clipe é a própria “Segue a Vida”, carro-chefe do CD e uma das mais críticas entre as novas composições.
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Setor de implementos rodoviários cresce em 2008
Abes-SP realiza workshop sobre resíduos sólidos
O aquecimento dos segmentos do agronegócio (agrícola e sucroalcooleiro), da construção civil e da mineração influiu de forma positiva no crescimento das vendas de implementos rodoviários no primeiro semestre de 2008. Por conta disso, os empresários da área revisaram as metas e projetam crescimento acima de 15% para o fim do ano. Rafael Wolf Campos, presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), recorda que a diretoria da entidade iniciou 2008 com uma estimativa de desempenho mais tímida para o exercício porque tinha como parâmetro o ano de 2007, que cresceu 37,3% sobre 2006, volume considerado recorde na história do setor. O mercado interno de reboques e semi-reboques no primeiro semestre de 2008 absorveu, por exemplo, 27.398 unidades, ou 39,94% a mais que os 19.579 implementos comercializados no mesmo período de 2007. As vendas de carroçarias sobre chassis também surpreenderam e fecharam o semestre com 31.939 unidades emplacadas, registrando desempenho 36,41% maior que as 23.414 unidades vendidas no mesmo período do ano passado. Para o presidente da Anfir, o excelente desempenho do setor de implementos rodoviários no primeiro semestre de 2008 nada mais é do que o reflexo da boa fase dos mercados de agronegócio, sucroalcooleiro, construção civil e movimentação de carga geral, cuja demanda continua muito aquecida e exigindo respostas imediatas dos seus fornecedores. No entender de Mário Rinaldi, diretor-executivo da entidade, os setores de agronegócio e os recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) serão importantíssimos para atingir a meta traçada para 2008. Rinaldi vê com mais tranqüilidade a situação produtiva do setor de implementos, que aumentou em média 30% sua capacidade de produção e algumas empresas dobraram a oferta. “No segundo semestre de 2007, a indústria trabalhou no pico. Este ano, no entanto, nossa indústria está em uma situação de total segurança com relação à entrega”, garante Mário Rinaldi.
A Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes-SP) e a Câmara Técnica de Resíduos Sólidos realizaram, no último dia 25 de junho, o 2º Workshop Gestão de Resíduos Sólidos: viabilidade de opções para municípios de pequeno e médio porte. O evento reuniu especialistas do setor para debater aspectos jurídicos, técnicos e econômicos no gerenciamento de resíduos sólidos, divididos em painéis como “A Lei de Saneamento e a Lei de Consórcios e seu impacto em municípios de pequeno e médio porte”, “A Política Estadual de Resíduos Sólidos para os municípios de pequeno e médio porte e a necessidade de planos de gerenciamento e o apoio do estado aos consórcios, à coleta seletiva e à soluções regionalizadas” e “Linhas de financiamento federal aos planos e programas de gerenciamento de resíduos sólidos”. Durante todo o dia, também foram discutidos assuntos como capacitação profissional, plano municipal e responsabilidade pós-consumo.
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Acontece
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São Paulo reduz em 12% o consumo de sacolas plásticas O Programa de Qualidade e Consumo Responsável das Sacolas Plásticas apontou uma redução de 12% no uso de sacolas práticas em São Paulo, já no primeiro mês de ação. O projeto piloto, que começou em 16 supermercados, tem como objetivo oferecer ao consumidor sacolas plásticas de melhor qualidade e promover o uso consciente. Lançado na capital paulista durante a abertura do 24º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados - Apas 2008, em maio, mais de mil pessoas se envolveram nas atividades, entre promotoras e os operadores de caixa, que participaram dos treinamentos para a orientação dos consumidores sobre o uso das sacolas mais qualificadas, além de material explicativo nos supermercados.
Pesquisa realizada pela SP Trade em 12 supermercados de São Paulo, antes do programa, revelou que 13% dos consumidores utilizavam as sacolas em duplicidade nos supermercados e, em 61% dos casos, utilizavam menos da metade da capacidade de cada sacola. Com a melhoria na qualidade das sacolas e a orientação para a população, o uso de sacolas em duplicidade caiu 6,3% e a subutilização em 32,9%. Os clientes que deixavam os supermercados com as sacolas cheias eram 26% e hoje são 60,8%. A redução obtida em um mês de programa piloto foi extremamente positiva frente às metas da campanha. “Em um ano de trabalho, com melhoria da qualidade das sacolas e com a conscientização das pessoas, pretendemos reduzir em 30% o uso das sacolas”, afirma o presidente da Plastivida Instituto Sócio Ambiental dos Plásticos, Francisco de Assis Esmeraldo. Segundo Esmeraldo, 12% em 30 dias é uma marca importante, pois “representa 40% de nosso objetivo. Estamos no caminho certo”. A Plastivida é a entidade responsável pelo desenvolvimento da campanha, em parceria com o Instituto Nacional do Plástico (INP), a Associação Brasileira da Indústria de Embalagens Flexíveis (Abief ) e a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
SP entra no programa de coleta e destinação de pneus A Prefeitura Municipal de São Paulo e a Reciclanip, braço ambiental da Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), firmaram convênio para a abertura de cinco pontos de coleta e destinação de pneus inservíveis da cidade nas subprefeituras de Santo Amaro, Butantã, Vila Maria/Vila Guilherme, São Miguel e Itaquera. O acordo de cooperação mútua tem como objetivo a prevenção da degradação do meio ambiente da maior cidade do País. Com a iniciativa, a Reciclanip contabiliza 311 pontos de coleta em 21 estados brasileiros. 12
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Agora surgem cinco novos pontos na cidade de São Paulo, disponíveis para a população promover o descarte responsável dos pneus inservíveis. Na parceria, a prefeitura oferece os locais para recepção das caçambas estacionárias disponibilizadas pela Reciclanip para acondicionamento dos pneus, que serão retirados e encaminhados para a destinação adequada. De um modo geral os pneus inservíveis coletados pela Reciclanip são utilizados no co-processamento na indústria de cimento, na fabricação de pó de borracha, artefatos, asfalto e como matériaprima para solado de sapato e dutos fluviais. N° 15 • Julho / Junho • 2008
Francal 2008 recicla mais de 28 toneladas de resíduos A 40ª Feira Internacional de Calçados, Acessórios de Moda, Máquinas e Componentes foi um sucesso não só em negócios gerados e na visitação. 2008 foi ano de bater recorde também na reciclagem de resíduos. Com o projeto Reciclagem de Coleta Seletiva no Pavilhão, a Francal Cidadania - braço de responsabilidade social empresarial da Francal Feiras, em parceria com a Ong Pueras -, reciclou 28 toneladas de material gerado durante a montagem, realização e desmontagem da feira. “Foi um sucesso absoluto. É um grande desafio fazer a gestão correta de resíduos numa feira do tamanho da Francal, com mais de mil expositores. A Ong Pueras fez um trabalho muito bem organizado, pensando em toda a logística”, lembra Dulce Piratininga, coordenadora do Francal Cidadania. “Sempre buscamos trabalhar com o tripé: econômico, com geração de renda para as cooperativas; social, com a inclusão dos catadores
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e da própria equipe da Pueras; e o ambiental, com a destinação correta de mais de 28 toneladas de material reciclável”. Em todas as feiras promovidas pela Francal ao longo do ano, a Ong Pueras coordena o processo de destinação adequada dos resíduos gerados antes, durante e após os eventos. No próprio ambiente da feira, são feitas a pré-triagem (separação do lixo reciclável do orgânico) e a triagem inicial (separação dos rejeitos) para posterior triagem final, prensagem, pesagem e comercialização. Além dessa ação, a promotora distribuiu, durante a Francal, sacos para os expositores separarem os lixos. As agentes ambientais da ONG Pueras passaram diariamente por todos os estandes, deixaram os sacos e, no final do dia, retornaram para buscá-los. “Foi uma ação nova que deve ser melhorada para as próximas feiras. O importante é conseguir a conscientização do expositor”, comenta Dulce.
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Empresas & Negócios Vega revela planos de expansão no mercado brasileiro A Vega Engenharia Ambiental, companhia que pertence à holding Solvi, anunciou recentemente seus planos de expansão para os próximos meses, cuja principal ação será a construção de uma termelétrica movida a biogás. O empreendimento, que terá investimentos na ordem de R$ 50 milhões, será instalado no município de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador, num terreno pertencente à Bahia Transferência e Tratamento de Resíduos (Battre) - empresa controlada pela Vega Engenharia Ambiental. A usina vai gerar energia a partir do gás metano proveniente do tratamento de 5,1 milhões de toneladas de lixo tratados no aterro sanitário da empresa na capital baiana. Prevista para entrar em operação no primeiro semestre de 2009, a termelétrica terá capacidade inicial de geração de energia suficiente para abastecer uma cidade com mais de 200 mil habitantes. A obra abrange uma área de 13 mil metros quadrados e vai gerar 50 empregos diretos e mais 200 indiretos. Recentemente, o presidente da empresa, Luciano Amaral, realizou uma série de almoços com representantes de diversos órgãos de imprensa, para
falar sobre sua trajetória dentro da Vega e sobre os caminhos que a companhia deve seguir. Em conversa com a reportagem da Gestão de Resíduos, Amaral contou como assumiu a presidência da Vega no início deste ano, e ressaltou a constante preocupação Luciano Amaral da empresa em relação ao meio ambiente: “Esse é um aspecto muito importante nas ações da Vega. Trabalhamos com isso em mente todos os dias”. Sobre a termelétrica e o compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentável, foi enfático ao afirmar que “operar uma usina de energia a partir do lixo é a melhor forma de se aproveitar o potencial do processo de tratamento de resíduos em aterros”.
Vomm Brasil amplia departamento de engenharia A empresa Vomm Brasil, que desenvolve soluções para diversos setores ligados ao meio ambiente, duplicou o departamento de engenharia e aumentou o número de funcionários qualificados na sede, localizada no bairro do Limão, zona norte de São Paulo. A decisão de investir na planta, com mais de 8 mil metros ao lado da Marginal do Tietê, surgiu pela necessidade de ampliação da engenharia - coração da empresa - para centralizar as áreas de projetos e de atendimento, além de modernizar o setor de comprovação tecnológica. O conselho da Vomm então contrariou a tendência industrial paulista, de se afastar da capital, e criou um sofisticado revamping na tradicional fábrica, que tem o término fixado para dezembro 2009. Para isso foi criada a “Torre Tecnológica de 14
Gestão de Resíduos
Controle”, exatamente no meio da unidade. Além do desenvolvimento da engenharia de base, com equipamentos inteiramente projetados dentro da empresa, o setor é responsável pela pesquisa aplicada junto aos técnicos da Vomm Itália. A novidade permite também que a empresa acompanhe de perto os processos de certificação, em contínua evolução, solicitados pelas entidades públicas e privadas, que são a base dos clientes da Vomm Brasil. A construção do prédio seguiu rígidos critérios de respeito ao ambiente e primou pela reutilização de materiais quando possível, como água de reuso, por exemplo. Está prevista ainda a implantação do primeiro “Bosque Vertical” nas paredes externas da “Torre Tecnológica”. N° 15 • Julho / Agosto • 2008
Empresa que fabrica móveis ecologicamente corretos comemora 22 anos Aliar a beleza do mobiliário e a versatilidade ergonômica à preocupação ambiental. Essa tem sido a maior preocupação da Intelligent Table que, em 2008, comemora 22 anos de existência. Para marcar a data e iniciar uma nova fase nos negócios, a Intelligent Table, sob o comando de Donizetti Pontim, resolveu fortalecer as ações em sustentabilidade e responsabilidade social. “Há quem critique e diga que sustentabilidade virou modismo. Mas a empresa que não se comprometer com a sociedade na qual está inserida e não optar por soluções que respeitem a natureza perderá em competitividade e, futuramente, poderá perder clientes, que estão cada vez mais exigentes e interessados em adquirir produtos de companhias com responsabilidade socioambiental”, afirma Donizetti Pontim. “Prova de que estamos pensando nas futuras gerações é que lançamos, no ano passado, a linha Horizon: a primeira, no Brasil, a otimizar e eliminar desperdícios em sua produção”. Além de utilizar apenas madeiras de reflorestamento na fabricação do mobiliário - o que garante o mesmo padrão de qualidade, mas preserva as matas e exige baixo consumo de energia durante o processo industrial -, a Intelligent Table segue padrões internacionais de produção, utilizando somente tintas sem a adição de chumbo. Para promover a responsabilidade coletiva e a elevar o clima organizacional e qualidade de vida dos colaboradores, a empresa introduziu o programa “5S”, que pretende reduzir custos, eliminar desperdícios e implementar novas práticas de trabalho. Na área de responsabilidade social, há quatro anos a Intelligent Table é mantenedora do Instituto Galileo Galilei de Educação (IGGE), uma entidade que pretende desenvolver programas que visam a construção N° 15 • Julho / Agosto • 2008
de modelos e aprimoramento de processos da educação básica e superior. “Conseguimos desenvolver, junto com colaboradores do ITA e da Embraer, um software educacional que servirá de apoio a professores do ensino médio, na área de física”, diz Donizetti. “A Intelligent Table ainda é parceira do Museu da Imagem e do Som, o que mostra que beleza e design têm tudo a ver com cultura.” Fundada em 1989, a Intelligent Table iniciou suas atividades comercializando móveis para as áreas de CPD e informática, como abafadores de ruídos para impressoras e mesas e racks para computadores. Em 1991, inaugurou, no Ipiranga (SP), a primeira fábrica, na qual começou a desenvolver sua própria linha de móveis para escritórios. Em 2005, foi eleita umas das melhores empresas do setor mobiliário e de soluções corporativas e atualmente, conta com um show room em São Paulo, uma filial em Campinas e representantes no Brasil todo.
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Empresas & Negócios
Bralimpia desenvolve padronização e treinamentos para o setor de limpeza profissional Em resposta à contaminação cruzada, a Bralimpia aposta na padronização e no treinamento dos profissionais de limpeza profissional. O trabalho da empresa é identificar erros e procedimentos inadequados como principais fatores para a contaminação cruzada e o afastamento de profissionais da área por problemas de saúde relacionados à má higienização. No âmbito de produção, a Bralimpia desenvolve o conceito de equipamentos que se diferenciam pelas cores. Isso permite que o profissional da limpeza identifique o equipamento utilizado em cada setor, o que evita a contaminação cruzada pela repartição de bactérias. A medida parece simples, mas aliada ao correto treinamento do profissional responsável pela higienização, é extremamente satisfatória. “O problema é que não existe a padronização na área da limpeza profissional ou uma norma que reforce a necessidade dessa divisão de cores nos equipamentos”, diz Célia Wada, bioquímica especializada
em análises clínicas, e que hoje assessora a Bralimpia no setor de sustentabilidade. “O agente causador da contaminação cruzada, em princípio, é a própria pessoa responsável pela limpeza. Porém, está relacionado à falta de treinamento e de estruturas de controle pelos estabelecimentos”, completa Célia. A Bralimpia encabeça um projeto para a padronização no setor da limpeza profissional para transformar a padronização empregada em seus equipamentos, em uma norma. No longo prazo, o objetivo é reduzir a contaminação cruzada e outros problemas provenientes da má higienização em hospitais e indústrias. “A padronização e treinamento de pessoal é realmente a via mais eficaz para o combate à contaminação cruzada, um dos males que diminuem a credibilidade de nossas instituições hospitalares e industriais”, acredita o consultor de gestão de competências Renato Basso, responsável pela área de treinamento da Bralimpia.
Marluvas lança projeto voltado ao meio ambiente
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nava 100% dos resíduos a aterros industriais; hoje este percentual está em 85%, os outros 15% são enviados para empresas que reciclam e reaproveitam, como por exemplo os resíduos de solado de poliuretano utilizados para a confecção de solados para calçados tradicionais e a espuma para a confecção de almofadas. A Marluvas tem ainda uma estação de tratamento de esgoto. Nela são tratados todos os resíduos provenientes dos sanitários e lavatórios, pois não existe efluente industrial. O tratamento tem supervisão diária e análise físico-química de efetividade para acompanhamento do tratamento. DIVULGAÇÃO
A Marluvas, empresa fabricante de calçados profissionais, não se limitou somente em atender as legislações ambientais municipal, estadual e federal e lançou o projeto Educam, que busca encontrar formas de envolver e despertar toda a comunidade de Dores de Campos (MG), onde fica a fábrica, para uma consciência ecológica positiva. Para isso, foi firmada uma parceria com a rádio comunitária local para criação e divulgação de chamadas periódicas sobre meio ambiente. O projeto ainda tem ações nas escolas do município, com profissionais que ministram palestras e workshops - assim, os estudantes da cidade assistem a filmes, além de discussões, concursos de frases e e outras ações que objetivam acionar uma reflexão dos jovens e crianças sobre temas relacionados ao meio ambiente. A Semana do Meio Ambiente Marluvas, integrada com a Semana Interna de Prevenção de Acidentes no Trabalho e a Semana da Qualidade são alguns dos eventos realizados na empresa, que ainda possui coleta seletiva, buscando sempre minimizar a geração e destinar corretamente os resíduos. Antes da implantação do projeto, a Marluvas desti-
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Capa
Chorume
Cada vez menos temido por Rodrigo Zevzikovas
Antigo vilão do setor de resíduos, o chorume tem assustado cada vez menos devido às avançadas tecnologias de coleta, transporte e tratamento
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m dos assuntos mais presentes nos debates de questões ambientais é o chorume, que normalmente aparece como o grande vilão da contaminação dos lençóis freáticos. Esse líquido poluente, de cor escura e odor desagradável, originado da decomposição da fração orgânica da massa de lixo por processos biológicos, químicos e físicos é considerado um dos principais problemas dos locais de disposição final de resíduos sólidos, mas pode ter seu espectro poluidor reduzido a valores mínimos ou mesmo ser neutralizado. Ou seja, o problema é sim muito sério, mas tem soluções. Devido ao tempo de deposição do lixo, desde a geração (matéria orgânica misturada com outros resíduos sólidos nos sacos plásticos em residências), até a captação final em aterros sanitários, esse líquido sofre diversas alterações químicas. 1
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Por isso, cuidados devem ser tomados desde a coleta domiciliar, na qual os caminhões coletores devem dispor de caixas compactadoras estanques e providas de recipiente apropriado para coletar o chorume em caso de escape; até a disposição final em aterros sanitários, que devem ser construídos com medidas que os tornem impermeáveis de forma a não haver percolação do chorume no subsolo e com a condução para um local seguro onde será analisado e tratado. Há outros fatores que influenciam a quantidade e a qualidade do chorume. Na quantidade a interferência é por conta das chuvas, pois somam aos líquidos produzidos pela decomposição, além de umedecer a matéria, que também é submetida ao calor, o que acelera demasiadamente o processo de transformação da matéria. Esse fato leva os técnicos a avaliarem as condições climáticas e principal-
mente os índices pluviométricos para a escolha do local. Outro fator que faz variar as condições qualitativas do chorume é a massa não-orgânica do lixo, pois os líquidos percolados levam de arraste as substâncias e elementos que compõem os resíduos, o que aumenta o poder poluidor do chorume. Normalmente esses elementos são os metais pesados, que dão grande toxidade ao já ácido chorume. Então chumbo, cromo, bromo, cádmio e mercúrio entre outros estão nas composições do chorume, que se não for tratado irá contaminar as águas subterrâneas dos lençóis freáticos. De acordo com Joaquim Neves, engenheiro civil e sanitarista responsável pela gestão de destino final de resíduos sólidos da Enterpa, para evitar ao máximo os volumes de geração de chorume em aterros sanitários, deve-se desde a geração ter consciência tanto da periculosiN° 15 • Julho / Agosto • 2008
dade quanto dos custos que serão gerados para o tratamento. “A fim de minimizar a quantidade de chorume nos aterros sanitários, cito, por exemplo, a redução da matéria orgânica colocada para a coleta domiciliar perante o munícipe. Esta conduta irá reduzir substancialmente a quantidade de líquido que será gerada no aterro sanitário”. Ele ainda dá outro exemplo. “A compactação do lixo, seja nos locais de transbordo ou antes de ser aterrado em aterros sanitários, com prensas. Assim o chorume, ainda com valores de contaminação menores, poderia ser tratado com custos inferiores ao chorume captado posteriormente no aterro sanitário, além de reduzir substancialmente o número de drenos e custos com equipamentos, como retro-escavadeiras, escavadeiras hidráulicas e pedra para execução da drenagem”. Devido à grande concentração de resíduos sólidos em decomposição que são destinados e lançados em aterros sanitários, cuidados especiais devem ser tomados para a captação de chorume, uma vez que a ineficiência na captação poderá trazer desastres catastróficos, como deslizamentos do aterro. Algumas dessas ações especiais incluem a implantação de piezômetros nos maciços, para controlar a altura do nível de água no maciço, o que mede assim a eficiência da drenagem executada. Já para Maria Rosí Melo Rodrigues, engenheira sanitarista que faz trabalhos de pesquisas junto com a 3R Ambiental, o chorume deve ser captado em sistemas de dreno, colocados no fundo do aterro e nas suas laterais, para cobrir assim toda a área de disposição dos resíduos que irão se decompor com o tempo. “Partindo destes drenos, seguem em canais até o sistema N° 15 • Julho / Agosto • 2008
de captação e tratamento adequado. Estes drenos e canais devem ser bem impermeabilizados, bem como todo o fundo do aterro, para evitar que haja contaminação do solo com este líquido. Após o tratamento, o chorume é lançado no corpo hídrico mais próximo”. Para captação e envio do chorume do ponto de sua geração até o tratamento, lembra Maria Rosí, o único equipamento que poderá ser necessário é um sistema de bombeamento, caso não se tenha gravidade suficiente para que o fluxo seja realizado naturalmente. “Já para o sistema de tratamento, no caso estudado na minha pesquisa, há necessidade de se instalar bombas para reciclo de lodo, sistemas de aeração por difusores e sopradores de ar, tanques em fibra de vidro com misturadores mecânicos e bombas dosadoras para diluição e dosagem de produtos químicos e ponte raspadora para facilitar a remoção de lodo dos decantadores secundários”. O diretor da Brasmetano, José Marcos Gryschek, dá outra alternativa. “Esse chorume também pode ser recolhido por bombeamento, nos poços de captação do biogás, ou poços especialmente abertos para essa função. Para volumes pequenos como até 100 ou 150 m³/ dia, o processo evaporativo se aplica com vantagens”. Mas ele alerta. “Os sistemas de tratamentos mais eficientes são aqueles que utilizam um pré-tratamento químico e um pós-tratamento biológico. Processos físicos de filtração podem ser adotados como acessórios ao tratamento biológico”. Além das formas tradicionais, outros métodos estão sendo utilizados, como uso de pneus e garrafas PET. Porém se adaptam em aterros de pequenas cidades e, mesmo as-
sim, devem ter inspeção contínua para assegurar a eficiência. Joaquim Neves conta que devido à grande extensão geográfica do Brasil, com diferentes tipos de climas, é necessário um estudo do tipo de tratamento de chorume a ser utilizado para cada município e, por isso, temos variações tanto de vazões quanto do líquido gerado. “O tratamento de chorume atualmente passa por simples lagoas de captação, lagoas facultativas, aeróbicas e anaeróbicas, recirculação, tratamentos físico-químicos, biorreatores de membranas externas, reatores biológicos, processo de absorção com carvão ativado, nanofiltração e osmose reversa e tratamento por evaporação através de evaporadores utilizando como combustível o próprio biogás gerado no aterro. Como vemos, um tratamento eficiente depende diretamente das análises iniciais e dos custos envolvidos em cada projeto, uma vez que a diversidade de tratamentos é muito grande”. Quando um processo é aplicado de forma pioneira a um produto complicado, complexo e difícil como o chorume gerado em aterros, o problema não está na idéia ou no princípio de base, que normalmente são seguros, porque são técnicas conhecidas, originadas em outras aplicações fora da área ambiental. O verdadeiro desafio consiste em garantir a empresa geradora do chorume uma solução tecnológica que funcione 24 horas por dia com total confiabilidade. Porque o chorume, pela característica intrínseca de ser um produto indefinido na composição, oriundo de uma série de processos biológicos, químicos e físicos que acontecem dentro da absurda composição de um aterro, é um elemento difícil de ser tratado e recusa soluções simplistas. Gestão de Resíduos
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Capa REUSO DO CHORUME Atualmente, o cuidado com o uso abusivo da água tem se tornado mais exigido pela população e órgãos públicos devido à crescente conscientização ambiental dos últimos tempos. Apesar de motivada por previsões um tanto quanto alarmistas, essa nova onda tem um impacto ambiental muito positivo, pois a água é sem dúvida material indispensável para a sobrevivência do ser humano. Diante desta necessidade, começou-se a pensar na reutilização do chorume para substituir o uso de água limpa. O engenheiro civil e sanitarista responsável pela gestão de destino final de resíduos sólidos da Enterpa, Joaquim Neves, é um incentivador da idéia. “Depois do tratamento e dependendo da eficiência do mesmo, poderemos utilizar o chorume na irrigação do próprio aterro, na lavagem de feiras livres, na lavagem de veículos e até, numa última análise e com tecnologias mais avançadas de tratamento para atingir níveis de potabilidade aceitáveis, para o consumo humano”. A colega engenheira sanitarista, Maria Rosí Melo Rodrigues, também apóia a iniciativa. Com um sistema de tratamento adequado, conforme o processo pesquisado por lodos ativados, o chorume poderá ser aproveitado para irrigação e lavagens em geral, desde que se tenha um bom controle e um polimento final no seu processo de tratamento. Esta condição já foi pesquisada e se obteve resultados relevantes para sua implantação em escala real”. Para Enrico Vezzani, diretor da Vomm Equipamentos e Processos, várias são as soluções que estão sendo desenvolvidas para dar um fim a este resíduo perigoso, mas que podem ser divididos em duas vertentes. “Tratamento em ETE requer vultosos investimentos e representa a solução mais tradicional. Redução do volume por separação da água, nesta segunda linha de raciocínio, a tecnologia existente contempla uma série de possíveis soluções mecânicas e físicas através de equipamentos que estão sendo desenvolvidos. Normalmente, importando a tecnologia de base de aplicações realizadas em outros segmentos mercadológicos”. Enrico ainda explica que como o chorume é, aproximadamente, 99% composto de H2O, a idéia de retirar toda a água só é viável com um sistema energético eficiente e que evite, na medida do possível, o uso de combustíveis fósseis. “Seria como trocar seis por meia dúzia em termos ambientais. Outro fator a ser considerado é a viabilidade econômica do investimento total para solucionar o problema. 22
Gestão de Resíduos
Porque se a empresa operadora do aterro continuar a ser cercada de soluções extremamente onerosas (exemplo: uma ETE completa específica), demorará a viabilizar o investimento e se tornará refém da lógica perversa do não tratamento, que ainda é a solução mais utilizada na maioria dos municípios”. Ele completa ao dizer que o esforço comum em desenvolver novas tecnologias para o tratamento de chorume vai beneficiar o setor ambiental. “A contribuição tecnológica não pretende solucionar um tema desta magnitude, mas nos permite sustentar que é uma solução viável e confiável, de mais fácil aplicabilidade. Também há a possibilidade de estabelecer parcerias que minimizem a preocupação técnica e econômica, que todo administrador público e privado deve ter quando se confronta com novas tecnologias”. A engenheira sanitarista é mais cética. Para ela, há uma forma correta de captar chorume em aterros sanitários, pois se considera a coleta como um sistema de drenos com impermeabilização por argila e geomembranas que permitam haver
um bom fluxo do líquido percolado e evita que ocorra contaminação do solo. “Atualmente há poucos tratamentos eficientes. Os que apresentam eficiência, a princípio, são os que têm sistemas com tratamentos avançados do tipo ultrafiltração. Nas pesquisas, verificou-se que no Rio de Janeiro pode estar ocorrendo este tipo de tratamento. Já com lodo ativado, há uma certa preocupação devido às condições de toxicidade existente em todo lixiviado”. O representante da Brasmetano concorda. “Não há tecnologia revolucionária; na verdade a situação ideal seria primeiro reduzir o volume do chorume com a cobertura dos aterros por geomembranas e depois se fazer o controle de umidade com a adição controlada do próprio chorume, para se manter a produção do biogás. Mas no final a captação é bastante deficitária e normalmente o maciço de lixo acumula grande porção de chorume, o que dificulta a obtenção do biogás que se vê impedido de circular e deixar esse maciço”. O representante da Enterpa conta que há muitos anos se pesN° 15 • Julho / Agosto • 2008
Transporte O chorume é um produto altamente tóxico devido à condição de ter sido gerado por degradação de resí-
N° 15 • Julho / Agosto • 2008
DIVULGAÇÃO / ENTERPA
quisa o tratamento de chorume em todo o mundo e a cada dia o meio ambiente está mais valorizado isto vem a tornar os cuidados com o tratamento dos líquidos percolados mais exigentes. “Há uma grande diversidade de tecnologias existentes no País e no mundo. A tecnologia que está avançando com maior qualidade é a de nanofiltração e osmose reversa”. Maria Rosí concorda que a tecnologia internacional que vem se destacando são as instalações de sistemas avançados como ultrafiltração, nanofiltração e osmose reversa. Mas lembra que os sistemas têm alto custo de implantação e operação e ainda requerem um sistema de tratamento antecedente. “Pois como a remoção de sólidos é elevada, a maior quantidade destes sólidos deve ser removida antecipadamente, para que estes equipamentos não saturem muito rapidamente, o que daria um custo ainda maior de operação”.
Estação de tratamento primário de chorume
duos de diversas composições. Desta forma, oferece risco de contaminação ao seu contato via epiderme ou respiração, pois há liberação de gases, principalmente a amônia que se encontra em alta concentração. Portanto, a remoção destes compostos ou a sua redução máxima, dá a condição do lixiviado de ser lançado no corpo hídrico sem impactar a fauna e a flora aquática e, conseqüentemente, trazer malefícios às condições de vida do ser humano. “Desta forma, o transporte e
o tratamento devem ser realizados com protetores específicos individuais, procurando automatizar o máximo possível dos processos”, explica a engenheira sanitarista Maria Rosí Melo Rodrigues. José Marcos Gryschek, diretor da Brasmetano, vai além. “O chorume é um resíduo perigoso, bastante contaminado tanto quimicamente quanto biologicamente. Para esse transporte faz-se indispensável a permissão apropriada junto a Cetesb”.
Gestão de Resíduos
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Especial
RECICLAGEM
por Rodrigo Zevzikovas
Vidro
DREAMSTIME
Atualmente ele está presente em nosso diaa-dia nos mais diversos objetos, como lâmpadas, janelas, óculos, utensílios domésticos, automóveis, microscópios, microcomputadores etc. Mil e uma utilidades, porém, é um produto que pode levar até 5 mil anos para degradar. Ou seja, esse material que pode ser tão útil, também pode sujar o planeta, comprometer o meio ambiente e nossa qualidade de vida. Daí a importância da adoção da reciclagem. Para melhorar, o vidro é um material perfeito para a reciclagem, pois tem como principal vantagem o fato de ser 100% reciclável, ou seja, ele pode ser usado e posteriormente utilizado como matéria-prima na fabricação de novos vidros. O processo pode ser repetido infinitas vezes sem perda de qualidade ou pureza do produto. Dados coletados pela Associação Técnica Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) mostram que das mais de 1 milhão de toneladas de vidro produzidas por ano no Brasil para embalagens, apenas 47% são recicladas, um índice muito baixo se comparado ao encontrado em outros países. Na Alemanha, por exemplo, cerca de 75% são reciclados, na Suíça o índice é ainda maior, 84%. O que ajuda esses países, além da oferta maior de informação à população, é a herança cultural que coloca o vidro como um vasilhame nobre e indicado para o comércio de alimentos. Apesar de baixo, esse número deve aumentar nos próximos anos. Aliás, já aumentou 24
Gestão de Resíduos
bastante, pois a reciclagem de vidro ganhou força nos últimos anos com os grandes investimentos feitos pela Abividro para promover e estimular o retorno da embalagem de vidro descartável como matéria-prima. A ação da Abividro para a reciclagem apóia-se na associação de programas de logística com programas de educação ambiental e cidadania. Com a construção de parcerias com o setor público, empresas e organizações do terceiro setor, os resultados alcançados mostram que todos ganham: a sociedade, o meio ambiente e a indústria. Enquanto isso, por aqui, fabricantes que têm como público-alvo os consumidores mais exigentes e uma excelência maior em seus produtos sabem que o vidro é o único material que não compromete o paladar ou a aparência do conteúdo, pois dispensa qualquer ingrediente químico para adaptarse a embalagem. O vidro está para a indústria de bebidas e alimentos assim como a seda ou o algodão estão para a indústria têxtil. A sua nobreza e o seu valor são automaticamente absorvidos pelo seu conteúdo. Vinhos e cervejas são os melhores exemplos de como essa embalagem é indispensável em produtos cujo sabor é determinante. O que se espera da indústria de bebidas e alimentos é que ela desperte para as possibilidades de reciclagem. O consumidor brasileiro está cada vez mais exigente, seja em relação ao que consome, seja na sua responsabilidade social, portanto, o toque de despertar para essa consciência já está dado. O vidro é obtido pela fusão de componentes inorgânicos a altas temperaturas e resfriamento rápido da massa resultante até um estado rígido, não-cristalino. O processo de produção do vidro do tipo sodacal utiliza como matéN° 15 • Julho / Agosto • 2008
rias-primas, basicamente, areia, barrilha, calcário e feldspato. Um procedimento comum do processo é adicionar-se à mistura das matérias-primas cacos de vidro gerados internamente na fábrica ou adquiridos, o que reduz sensivelmente os custos de produção. A reciclagem de vidro significa utilizar os produtos de embalagens de vidro como matéria-prima para a produção de novas embalagens. Para cada tonelada de caco de vidro limpo, obtém-se uma tonelada de vidro novo e cerca de 1,2 ton. de matéria-prima deixa de ser consumida. Além da redução de matérias-primas extraídas da natureza, a adição do caco à mistura reduz o tempo de fusão na fabricação do vidro, o que significa redução no consumo energético de produção. Para cada 10% de caco de vidro na mistura, economiza-se 2,5% de energia necessária para a fusão nos fornos industriais, o que também proporciona a redução de custos de limpeza urbana e diminuição do volume do lixo em aterros sanitários. No processo de reciclagem os produtos devem ser separados por tipo e cores. Por exemplo, as embalagens de geléia e os copos comuns não devem ser misturados aos vidros de janela. As cores mais comuns são o âmbar (garrafas de cerveja e produtos químicos), o translúcido ou “branco” (compotas), verde (refrigerantes) e azul (vinho). Tal qual os outros materiais, o grande problema do vidro consiste na coleta, e o maior cuidado a ser tomado no processo de reciclagem do vidro consiste na retirada das impurezas presentes no material. Todo cuidado deve ser tomado em relação às impurezas para que o reciclador ou coletor possa agregar mais valor ao produto. Os principais contaminantes presentes no vidro e que devem ser separados são os gargalos de metal, tampas e outros materiais diferentes presentes neste tipo de embalagem. Os cacos devem chegar às vidrarias isentos de qualquer
impureza de outra natureza, tais como pedras, pedaços de madeira, ferro, plásticos etc. Todos estes materiais provocam algum tipo de problema na hora da fabricação, alguns interferem na qualidade final do produto, outros podem inclusive causar danos ao forno. Nos sistemas de reciclagem mais complexos, o vidro bruto estocado em tambores é submetido a eletroímã para separação dos metais contaminantes. O material é lavado em tanque com água, que após o processo precisa ser tratada e recuperada para evitar desperdício e contaminação de cursos d’água. Depois, o material passa por uma esteira ou mesa destinada à catação de impurezas, como restos de metais, pedras, plásticos e vidros indesejáveis que não tenham sido retidos. Um triturador transforma as embalagens em cacos de tamanho homogêneo, que são encaminhados para uma peneira vibratória. Outra esteira leva o material para um segundo eletroímã, que separa metais ainda existentes nos cacos. O vidro é armazenado em silo ou tambores para abastecimento da vidraria, que usa o material na composição de novas embalagens. Nem todo tipo de vidro pode ser reciclado, devido a presença de produtos diferentes dos usados em embalagem na sua composição original. Entre os recicláveis, estão recipientes em geral, copos, garrafas de vários tamanhos e embalagens de molhos. Entre os que não podem ser reciclados, estão vidros planos, espelhos, lâmpadas, tubos de TV, cerâmica e porcelana. Para que o processo de reciclagem do vidro possa ser mais eficiente, recomenda-se que no momento do descarte embrulhe-se o vidro quebrado (para evitar acidentes), lave-se as embalagens (evitando mau cheiro e proliferação de insetos) e retire-se as tampas; os rótulos não precisam necessariamente ser removidos.
Das mais de 1 milhão de toneladas de vidro produzidas por ano no Brasil para embalagens, apenas 47% são recicladas, um índice muito baixo se comparado ao encontrado em outros países.
Durante o ano de 2008, este espaço é destinado a uma série de reportagens especiais sobre reciclagem de diversos tipos de materiais. A cada edição, um tema específico é abordado. N° 15 • Julho / Agosto • 2008
Gestão de Resíduos
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Sustentabilidade
Ambientalmente Corretas O produto final deixou de ser a única preocupação das empresas; agora elas também devem olhar para os resíduos gerados na produção. A gestão correta de resíduos engloba minimização, reutilização, reciclagem e destinação correta
A
gestão adequada de resíduos é um desafio inadiável para as sociedades modernas, todo mundo deve se preocupar desde a minimização de geração de resíduos até a correta disposição final dos mesmos. Essa responsabilidade aumenta ainda mais quando se fala em indústrias, pois todo processo industrial está caracterizado pelo uso de insumos (matéria-prima, água, energia etc) que, submetidos a uma transformação, dão lugar a produtos, a subprodutos e aos resíduos. As principais preocupações estão voltadas para as repercussões que podem ter sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente. Até pouco tempo, quando se falava em meio ambiente, o empresário imediatamente pensava em custo adicional. Dessa maneira passavam despercebidas as oportunidades de uma redução de custos. Mas essa realidade mudou em muitas empresas. O meio ambiente passou a ser visto como um potencial de recursos ociosos ou mal aproveitados e foi descoberto que sua inclusão no horizonte de negócios pode resultar em atividades que proporcionem lucro ou pelo menos se paguem com a poupança de energia ou de outros recursos naturais. Um bom exemplo é o Grupo Fiat, que há algumas décadas im26
Gestão de Resíduos
plantou em grande parte de suas plantas a chamada “Ilha Ecológica”. Com elas, paletes de madeira viram brinquedos, calotas de carros se transformam em relógios, fragmentos de cinto de segurança e tecidos automotivos compõem o design de bolsas. Resíduos do processo produtivo, que antes eram descartados, hoje são matérias-primas essenciais para instituições que desenvolvem trabalhos para a geração de emprego e renda nas comunidades. A atual política de gestão de resíduos reaproveita parte no próprio processo produtivo, vende materiais para outros segmentos econômicos ou encaminha para a reciclagem; apenas uma pequena parcela é enviada a aterros sanitários. Na Ilha Ecológica da Teksid do Brasil, criada em 2002 com uma área de 1.440 m² e localizada em Betim (MG), das cerca de 570 toneladas de resíduos gerenciados por mês, 70% são destinados para reciclagem, 16% para reutilização, 5% para o co-processamento (aproveitamento de resíduos industriais em fornos de alta temperatura), e 1% é recuperado. Os 8% restantes são enviados ao aterro sanitário. Entre os resíduos presentes nessa Ilha estão cavacos de ferro (material gerado no acabamento e na usinagem), madeira, tambores vazios, óleo usado, tijolos refra-
Fábrica da Iveco, em Sete Lagoas, já foi projetada com preocu
tários (usado em fornos), papel, plástico, vidro, baterias, sucata de abrasivos (sobras da ferramenta de corte) e rejeito orgânico, entre outros. “Dar uma destinação ambiental mais adequada aos resíduos, além de ser um diferencial competitivo e de contribuir para a redução dos custos da empresa, demonstra nossa preocupação com o meio ambiente e com as pessoas da região”, destaca o responsável pela Ilha Ecológica, Bruno Rodrigues Valle. Ele explica que, ao invés de comprar mais madeira, a empresa recolhe junto aos clientes as caixas usadas para embalar as peças vendidas e as transporta de volta para a Ilha. Das cerca de 280 toneladas de madeira compradas mensalmente pela Teksid, 210 são reutilizadas no processo produtivo, 60 são vendidas para fábricas de cerâmica e as outras 10 são doadas para creches e instituições cadastradas. A Ilha Ecológica da Fiat Automóveis (Fiasa), desde quando foi N° 15 • Julho / Agosto • 2008
DIVULGAÇÃO / IVECO
pação ambiental
criada em 1994 na fábrica de Betim (MG), já viabilizou a reciclagem de 17,5 mil toneladas de plástico e 16 mil toneladas de papel e papelão, o que evitou a derrubada do equivalente a uma floresta com 320 mil árvores. Além disso, o complexo ecológico vende, recicla ou reaproveita 93% de uma média mensal de 15.493 toneladas de resíduos gerados pela montadora
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- cada veículo produzido representa em média 261 kg de material residual. A Fiasa também eliminou totalmente as emissões de solventes provenientes dos fornos da secagem da pintura. Os gases produzidos nessa etapa são coletados e purificados, o que garante a qualidade do ar. Outro diferencial da Ilha da Fiat Automóveis é a reciclagem do isopor, desde 1996, por meio de uma máquina que condensa o poliestireno, componente do material. Resíduo antes vilão dos aterros pelo grande volume, baixa densidade e não biodegradabilidade, hoje o isopor tem seu volume reduzido e a composição química preservada. A reciclagem de resíduos industriais rende uma média de US$ 250 mil por mês para a empresa. Na Ilha Ecológica da Iveco, que ocupa uma área de 2,35 milhões de m² da fábrica de Sete Lagoas (MG), existem duas estações de tratamento, uma de risco químico, proveniente de produtos como tintas e solventes, e outra biológica, que cuida dos resíduos vindos da cantina, banheiros e outros espaços da empresa. Além disso, há
um espaço destinado ao armazenamento dos resíduos sólidos. A Ilha da Iveco, criada em 2000 junto com a fábrica, já recicla 92% dos resíduos. Os 8% restantes são enviados para os aterros sanitário e industrial. Para José Fernando Seabra Gomes, supervisor da Ilha, esse tipo de inovação, além do valor ambiental, pode ser encarada também como uma ação positiva de marketing, pois agrega valor a imagem da empresa e até ao produto final. “A empresa passa a ser vista como uma companhia ecologicamente correta e que desenvolve produtos ecologicamente corretos. Num cenário em que a preservação do meio ambiente é tema central, desenvolver ações socioambientais e implantar dentro do processo de produção da companhia atividades como reciclagem, separação do lixo e controle de resíduos, entre outras ações, é dizer que a cultura do descartável e do desperdício não é aceita”. Na Magneti Marelli, o correto descarte dos resíduos nas unidades é convertido na compra de kits escolares, distribuídos para filhos de funcionários e de empresas terceiras, matriculados no ensino funda-
Gestão de Resíduos
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Sustentabilidade
DIVULGAÇÃO / MALWEE (2)
mental. A ação integra o programa Recicle Melhor, criado em 2002 pela área de Segurança do Trabalho e Meio Ambiente da empresa e desenvolvido nas plantas de Mauá, Santo André e São Bernardo. O objetivo principal do programa é estimular a coleta seletiva. “Quando se implanta esse tipo de postura, o mais difícil é a conscientização das pessoas. Por isso, além dos instrumentos informativos sobre a importância e a necessidade da coleta seletiva, o Recicle Melhor promove o conceito de redução ao máximo dos resíduos, de reutilizar o possível e separar adequadamente o que não puder ser reutilizado”, explica o responsável corporativo pela área de Meio Ambiente do Grupo Magneti Marelli no Brasil, Heber Braida. A Marelli possui um Depósito Temporário de Resíduos (DTR), para onde são enviadas as sobras recolhidas. Depois de separados durante a coleta seletiva e no DTR, os resíduos são encaminhados para a reciclagem. Em 2007, foram arrecadadas 284 toneladas
Além das iniciativas dentro das plantas, a Malwee mantém áreas de preservação
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Gestão de Resíduos
de materiais recicláveis, como plásticos, papel e metais, nas unidades do Grande ABC paulista. Com a venda dos resíduos, foram arrecadados mais de R$ 20 mil, destinados à compra dos kits escolares. A Malwee Malhas, de Santa Catarina, é outra empresa que merece destaque. Com 40 anos de existência, ela é uma das maiores confecções do País. São cerca de 36 milhões de peças produzidas anualmente pelos mais de seis mil funcionários divididos em três unidades. Preocupação com o meio ambiente e as gerações futuras não é novidade na Malwee Malhas, uma empresa que mantém áreas de preservação ecológica desde a fundação. Hoje são muitos os compromissos assumidos pela empresa e que geram a realização de diversas ações, como a instalação do inovador tratamento de efluentes, que consegue a reutilização de quase 45% de água durante o processo fabril - a reutilização da água faz com que a empresa deixe de retirar dos rios mais de 200 milhões de litros por ano. Ou-
tra ação é a instalação do inovador Sistema de Absorção de Fumaça, que garante a implementação de filtros em todas as chaminés das fábricas, além da construção de um aterro industrial próprio, com mais de 17 mil m², locado em área preservada, com estudos completos para minimizar impactos. Destacase também que todas as lâmpadas incandescentes usadas nas sedes da Malwee foram trocadas pelas lâmpadas compactas fluorescentes, que apresentam melhor desempenho no fluxo luminoso. A Malwee investe na recuperação do calor gerado nos efluentes para aquecer a água limpa na entrada dos processos. Dessa forma, diminui a necessidade de aquecêla com vapor gerado nas caldeiras, reduzindo, conseqüentemente, o consumo de gás natural. Além disso, a confecção promove a preservação da Reserva de Fontes e Verdes, numa área de 1.300.000 m². Além de fauna e flora, o espaço garante a proteção de importante 30 nascentes. O local abriga uma das poucas reservas de Mata Atlântica do estado e do País, sem falar na recuperação da mata ciliar dos rios de Jaraguá do Sul. A ação já garantiu o plantio de 10 mil novas árvores nativas, gerando mais de 60.000 mil m² de área verde. WEG pelo bem do meio ambiente Ao longo dos anos, a WEG também tem investido continuamente no aprimoramento de tecnologias que permitam reduzir o consumo de recursos naturais e a geração de resíduos em suas instalações. Todos os colaboradores e prestadores de serviço recebem instruções e treinamento para a correta disposição dos resíduos resultantes da operação. N° 15 • Julho / Agosto • 2008
Os materiais recicláveis, que representam aproximadamente 80% dos resíduos gerados na empresa, são coletados separadamente e encaminhados para reciclagem. Papel e plástico são vendidos para empresas especializadas em reciclagem, enquanto uma parte dos metais retorna ao fornecedor, outra é reutilizada na própria empresa, como por exemplo os cavacos de usinagem e retalhos de chapa de aço que são utilizados no processo de fundição das carcaças dos motores. Os materiais não recicláveis são encaminhados, conforme a caracterização, para aterro próprio, de terceiros ou ainda para co-processamento em fornos de cimento. As empresas que coletam, transportam ou recebem resíduos da WEG são avaliadas anualmente, com intuito de garantir a correta movimentação
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e destinação destes materiais. Além disso, são controladas todas as licenças ambientais destas empresas. A WEG opera, desde 2004, um aterro industrial para resíduos de fundição. Este aterro foi construído e opera de acordo com as normas e legislação ambiental vigente. Para manter a qualidade do ar nas regiões onde opera, a WEG investe no desenvolvimento de processos menos poluentes e na aquisição e manutenção de equipamentos de controle da poluição atmosférica. Os processos de impregnação dos motores já utilizam vernizes à base de água que reduzem significativamente as emissões de poluentes atmosféricos. A recuperação mecânica das areias em fundições é outra inovação ecologicamente importante. O reaproveitamento contínuo da areia
e a utilização das sucatas de aço no processo de fundição substituem a matéria-prima original. Luis Carlos Scoz, especialista em meio ambiente da WEG, explica que a empresa procura gerar a menor quantidade de resíduos, desde o processo, para ver a possibilidade de reciclagem e reutilização e assim disponibilizar o menor número de resíduos. “A gente tem que gerar produtos e não gerar resíduos, esse é o papel da empresa. Com isso, também reduzimos nossa exploração do meio ambiente, da matéria-prima”. Fras-le já conta com nova Central de Resíduos A Fras-le, de Caxias do Sul, inaugurou recentemente a nova Central de Resíduos com 1.585 m². O projeto tem como prioridade o respeito ao meio ambiente e aten-
Gestão de Resíduos
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dimento à legislação vigente, assim como visa atender as necessidades da empresa em relação à segregação e acondicionamento dos resíduos industriais gerados. O local está apto para armazenar os resíduos classe I (perigosos) e II (não-perigosos). Também vai abrigar o serviço de recuperação de estrados (aproveitamento de madeira), usados na expedição de produtos. A Central de Resíduos servirá para o armazenamento temporário das sucatas metálicas, papéis e plásticos que são enviados posteriormente para reciclagem externa. Além disso, servirá para realizar a prensagem e enfardamento de sucatas de papel e plástico e dos resíduos do processo leve (EPIs, lixas etc). Gilberto Crosa, diretor industrial da Fras-le, explica que a Central é um esforço a mais para manter o “ambiente” sob controle. “Na nova central de resíduos estamos destinando espaço para resíduos passíveis de reciclagem e resíduos perigosos. Sabemos que o valor nobre desses resíduos (recicláveis) é maior quando separados e acondicionados corretamente”. Gilberto salienta ainda que a segregação dos resíduos na fonte geradora constitui aspecto extremamente importante, junto com o desenvolvimento dos procedimentos corretos no processo de classificação, o que eleva o potencial de reaproveitamento e reciclagem de um determinado resíduo. Sustentabilidade desde a construção A atual preocupação ambiental que tomou conta do mundo tem suscitado iniciativas importantes para o meio ambiente e para o futuro da população. Uma delas é a GBC Brasil, uma organização não 30
Gestão de Resíduos
DIVULGAÇÃO / WEG
Sustentabilidade
Os colaboradores da WEG recebem instruções para a correta disposição dos resíduos
governamental criada no Brasil com a missão de desenvolver a indústria da construção sustentável no país, que utiliza as forças de mercado para conduzir a adoção de práticas de green building num processo integrado de concepção, construção e operação de edificações e espaços construídos. A GBC Brasil oferece às empresas a certificação internacional Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). De acordo com Nelson Kawakami, diretor-executivo da GBC, o objetivo da certificação é disseminar as boas práticas de construção para tentar estimular as pessoas a fazerem o mesmo e a valorizarem esse tipo de iniciativa. “A preocupação com a sustentabilidade tem que vir desde a geração da idéia da construção. O LEED dá alguns recomendações antes da obra, como a escolha boa do local, o uso racional da água, economia energética, materiais adequados e desing com conforto ambiental que traga mais saúde aos usuários”. Marcos Casado, gerente técnico da GBC, explica que o primeiro passo para a certificação é o registro do projeto na GBC para
ele começar a ser acompanhado e analisado. Depois são apresentados os outros documentos que comprovem a sustentabilidade do projeto. “Depois disso vem a analise do projeto, da construção e da operação das plantas”. Casado lembra que as empresas que já têm suas plantas construídas não podem tentar a certificação, pois ela só é dada mediante a aproximação de todo o projeto. “Além do diferencial de marketing, que é agregar valor ao produto, o legal da certificação é que ela vai comprovar que realmente todo o processo de construção foi baseado nos conceitos de sustentabilidade”. A megaunidade Delboni Auriemo Luiz Dumont Villares, localizada no bairro de Santana, zona norte de São Paulo, foi o primeiro empreendimento de São Paulo e segundo do Brasil a receber a certificação LEED. Inaugurada em março deste ano, a megaunidade Luiz Dumont Villares é o primeiro laboratório de medicina diagnóstica sustentável do País. Idealizado com conceitos ambientalmente corretos, o empreendimento utiliza materiais reciclados e certificados e madeiN° 15 • Julho / Agosto • 2008
ras vindas de regiões reflorestadas, além de implantar programas para redução do consumo de água, energia, promoção da biodiversidade com espécies nativas e reciclagem de lixo. “O objetivo é garantir o menor impacto possível ao meio ambiente”, afirma Daniel Coudry, gestor de Negócios do Delboni Auriemo. O setor de construção civil está se adaptando cada vez mais aos conceitos de sustentabilidade. Atenta a esse tema, a BASF tem investido em processos e produtos de alta tecnologia que seguem critérios de sustentabilidade e que contribuem para a preservação do meio ambiente. No dia 13 de agosto, foi a vez da Suvinil receber o selo LEED. A Suvinil é a primeira marca de tintas no Brasil a receber o selo pela SustentaX, empresa de consultoria em engenharia de sustentabilidade. Para ser considerado sustentável, o produto deve apresentar redução na quantidade de contaminantes ao ar, nas substâncias irritantes e perigosas, e que não afete o conforto e bem estar dos seus usuários. A Suvinil adota
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conceitos de sustentabilidade e responsabilidade ambiental nos processos de produção da sua linha de tintas imobiliárias, feitas a base de água e, em conformidade com o limite estabelecido pelo LEED para tintas foscas ou brilhantes. Esse selo servirá como referência para as empresas construtoras de que o produto atende a todos os requisitos de sustentabilidade ambiental. “As tintas da Suvinil já atendiam a todos os requisitos necessários para fazerem parte dos empreendimentos sustentáveis e para receber o selo não foi necessário adequações nos nossos produtos. Isso comprova como sempre estivemos atentos à realidade da conscientização ambiental”, afirma Marcos Correa, gerente do departamento de Vendas para Distribuição e Construção Civil da BASF. Apesar de no início do ano a ONG não ter liberado nenhuma certificação, 2008 vai terminar com quase 100 processos em andamento. “Isso significa que o mercado está adotando rapidamente nossa ideologia. Primeiro pela tendência ecológica que estamos vivencian-
do em todo o mundo e com a gente eles garantem a adoção de boas práticas e a redução do ataque ao meio ambiente. Além da redução de custos posteriores, na operação do projeto”, acredita Marcos. Uma das construções que estão sendo acompanhadas desde o início das obras é o novo prédio da SAP Global Service Center, localizado no interior da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), em São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. A obra é parte do projeto de expansão do Parque Tecnológico. A primeira fase da construção prevê um prédio de escritórios composto por quatro pavimentos e 64 vagas de estacionamento. Alguns exemplos de aplicação de conceitos de sustentabilidade no edifício, que garantem a certificação LEED, são o sistema de irrigação com água de reuso, infra-estrutura com circulação e vagas para veículos movidos a álcool ou GNV, bacias sanitárias com dual flush (três e seis litros), infra-estrutura para coleta seletiva no edifício e na obra e a utilização de madeira certificada.
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Evento Reciclação consolida importância para a sustentabilidade A 3ª Feira Brasileira de Reciclagem, Preservação e Tecnologia Ambiental (Reciclação), realizada de 11 a 14 de junho em Curitiba, foi um sucesso. Mais uma vez o evento cumpriu com o objetivo de promover o desenvolvimento sustentável, a geração de negócios e a integração entre comunidade científica e empresariado atuantes no segmento ambiental e de reciclagem
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urante os quatro dias de evento, mais de seis mil profissionais visitaram os estandes das 83 empresas expositoras de todo o Brasil. Os números mostram que a Reciclação se consolidou como o maior evento do segmento no sul do País, como conta Valdir Bello, diretor da feira. “O evento foi além do que esperávamos. Tivemos uma ótima qualidade na visitação e ótimos resultados. O público visitante ficou satisfeito com o que encontrou e os expositores também ficaram satisfeitos. Prova disso é que mais de 50% das empresas expositoras já garantiram participação na edi-
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ção de 2009, pretendemos fazer da Reciclação um evento com a cara da nossa capital social, tornando-se mais uma vez referência para o Brasil”, finaliza Bello. O Centro de Eventos ExpoUnimed viu a apresentação de alternativas e soluções aos problemas encontrados por parte das empresas e indústrias que não sabem o que fazer com resíduos gerados e que, por isso, contribuem para a poluição ambiental. Durante a abertura oficial, o vice-governador, Orlando Pessuti, destacou a preocupação do Paraná com a questão. “A atenção com o meio ambiente é
crescente em nosso estado, não é por acaso que a Cop/Mop8 foi realizada em Curitiba em 2006 e esse ano estivemos presente na Alemanha e agora temos a felicidade de receber a Reciclação um evento com a cara do Paraná e de nossas iniciativas. Tudo isso mostra que o meio ambiente faz parte da minha missão pessoal e do atual governo”. O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, Rasca Rodrigues, reiterou o compromisso do estado com a sustentabilidade. “Nosso apoio mostra a preocupação em preservar o meio ambiente e manter aqui no Paraná e em Curitiba ações importantes como esta que, além de promover a sustentabilidade ambiental, contribuem com a economia de um modo geral, visto que o evento mobiliza empresas e pessoas de todas as partes do Brasil. Apoiaremos sempre eventos como este que venham incentivar a reciclagem, uma das soluções que mais tem recebido nossa atenção”. A Petrobras, patrocinadora do evento, realizou na sexta-feira uma palestra ministrada pelo técnico comercial da Unidade de Industrialização do Xisto, Fernando José da Silva, sobre a “Reciclagem de Pneus”. Silva N° 15 • Julho / Agosto • 2008
Evento destacou que enquanto no mundo inteiro o pneu é considerado um grave problema ambiental, principalmente pela demora para se decompor - pelo menos 600 anos - a Petrobras recicla o material. “Os pneus inservíveis são recebidos de empresas fabricantes e importadoras e transformados através de um processo feito com tecnologia própria da Petrobras, reconhecida mundialmente” salientou o técnico. Ainda segundo ele, cada pneu processado, juntamente com o xisto, fornece 52% de óleo, 2,4% de água, 3,6% de gás e 42% de resíduo que, misturado ao xisto já beneficiado, serve de insumo para termelétricas, ou pode retornar ao solo sem comprometer o meio ambiente. Cláudio Barreto, da Ambisol Soluções Ambientais e representante da Agenda 21 no Crea-PR, destacou a importância de otimizar a separação no início da cadeia produtiva de resíduos. “A principal dificulda-
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de é a segregação dos resíduos na origem, quando ele é gerado dentro dos lares. São gerados diariamente 160 milhões de toneladas de lixo, se tudo fosse reciclado, o que é completamente possível, o setor movimentaria mais de 3,5 bilhões de dólares por ano”, alerta Barreto. Eventos paralelos A organização do evento acredita que a feira contribuiu de forma decisiva no sentido de estimular o desenvolvimento sustentável e a preservação do meio ambiente. Prova disso foram os eventos realizados simultaneamente, que orientaram profissionais e estudiosos, como o Encontro Nacional de Reciclagem e Preservação Ambiental, o Seminário de Saneamento Ambiental em Parceria e o Curso Introdução ao Mercado de Reciclagem. Os expositores mostraram-se satisfeitos com a feira. Segundo Marco Losi, da Soliforte, que lançou os calçamentos e meio-
fios ecológicos, o evento foi bem dirigido e muito proveitoso. “Tivemos várias negociações e um intercâmbio entre empresas de grande importância”. Para Fabiana Dian Ferreira, da 3R Tecnologia Ambiental, empresa que além de expositora realizou o Seminário de Saneamento Ambiental, o evento atingiu completamente a expectativa. “Tivemos participantes de todo o Brasil no seminário e um público bastante direcionado visitando nosso stand”, afirma ela, que já garantiu um lugar na próxima edição. Silvia Mara Haluch, gerente de qualidade da Teclab Tecnologia em Análises Ambientais, expôs pela primeira vez no evento e disse estar completamente satisfeita com a participação. “Demos visibilidade ao nosso trabalho e mostramos a gama de serviços que oferecemos. Acreditamos termos criados vários contatos com clientes potenciais que se transformaram em parcerias e negócios futuros”.
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