REPORTAGEM ESPECIAL
10 MINUTOS
para o esclarecimento:
os avanços da medicina, as dúvidas e as certezas sobre a catarata, a doença oftalmológica mais recorrente do mundo por Flávio Bonfiglio 2 | revista Perspectiva
Julho, 2015
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rovavelmente você já deve ter conhecido alguém que tenha sofrido de catarata. Uma doença degenerativa que afeta a visão de pessoas normalmente idosas, causando dificuldade para enxergar e, em casos mais avançados, uma visível “névoa” no cristalino do olho que lembra a brancura de uma queda d’água (daí o nome), eventualmente levando à cegueira. É uma doença tão comum que afeta inclusive outros animais, como os nossos cachorros e gatos, mas ao contrário do que se espera de uma doença nos olhos, atualmente é a única patologia da visão com 100% de reversão, através de um procedimento cirúrgico cada vez menos intrusivo e mais simples. O que
sabemos, afinal de contas, sobre essa doença que assola praticamente 90% da população em diferentes níveis e que ainda não possui uma prevenção precisa, apesar de uma cura cada vez mais garantida?
Há relatos de pessoas que desenvolveram a doença somente nos seus 85 anos de idade, assim como mais cedo do que a idade esperada, além dos casos especiais, como em lesões, catarata acelerada por diabetes (outra doença cada vez mais comum) ou até catarata desenvolvida em crianças por complicações na gestação.
A catarata é, hoje, a principal causadora de cegueira no mundo. Embora reversível, as pessoas precisam submeter-se ao procedimento cirúrgico, que é ambulatorial (dispensa a necessidade de internação), e aqui há uma tendência que tende a ser modificada conforme as novas
necessidades de um mundo moderno se impõem: as rotinas dos idosos estão se adequando ao mundo moderno. Não é porque a pessoa envelhece que doenças degenerativas precisam ser encaradas com uma naturalidade passiva, como ocorria antigamente, especialmente porque idosos hoje em dia estendem cada vez mais sua produtividade nos seus campos de trabalho e fazem uso da internet, livros e demais tarefas que exigem da visão, e o cuidado com a própria visão (através de exames oftalmológicos) é primordial para o diagnóstico precoce que torna ainda mais simples a remoção da catarata.
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A doença normalmente se desenvolve em pessoas entre 55 e 65 anos de idade, embora haja uma predisposição hereditária/ genética que possa alterar a data da fase inicial da doença. Há relatos de pessoas que desenvolveram a doença somente nos seus 85 anos de idade, assim como mais cedo do que a idade esperada, além dos casos especiais, como em lesões, catarata acelerada por diabetes (outra doença cada vez mais comum) ou até catarata desenvolvida em crianJulho, 2015
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ças por complicações na gestação. É um enrijecimento de uma lente interna do olho chamada de cristalino, que pode ser sentido pela primeira vez em torno dos 40 anos de idade, onde as pessoas começam a sentir uma dificuldade de enxergar “para perto” chamada de presbiopia. Conforme a doença se desenvolve, a lente vai perdendo o brilho e ganhando o aspecto de opacidade, interferindo sensivelmente na visão, de uma forma que nem mais os óculos conseguem ajudar.
Na hora da cirurgia A cirurgia para a remoção da catarata mudou significativamente nos últimos trinta anos, através de avanços tecnológicos nos equipa4 | revista Perspectiva
mentos por onde dobrável que se abre Hoje em dia o procedimenela é administradentro do olho. Essa to cirúrgico não demora da. Antigamente incisão não exige mais que 10 minutos, era procedimento pontos, pois se fecha com o paciente podendo ir que exigia a interpela própria pressão para casa no mesmo dia. nação do paciendo olho (é chamada te por pelo menos de incisão valvulada), uma semana no hospital. Hoje em o que diminui transtornos na hora dia o procedimento cirúrgico não da cicatrização e cura, pois não há demora mais que 10 minutos, com muita vascularização na parte da o paciente podendo ir para casa no frente do olho e um ponto normalmesmo dia. mente demora muito mais para sarar do que pontos em outras partes Microincisões de 2,2 mm são do corpo onde a circulação se defeitas na parte frontal superior do senvolve normalmente. olho e um aparelho chamado facoemulsificador, através de ondas de Para todos os níveis de catarata ultrassom, consegue desmanchar o procedimento é o mesmo, emboo cristalino doente (preservando ra o trabalho empregado na remosua cápsula), aspirá-lo e, pela mes- ção seja maior, caso a doença avanma incisão, implantar uma lente ce. Existem tipos de catarata onde Julho, 2015
o cristalino chega a adquirir uma consistência muito rígida, quase pétrea, e um tom muito escuro (a chamada catarata nigra), onde níveis de ultrassom mais específicos são necessários para o desmanche e aspiração da cristalino doente, mas a recuperação continua sendo rápida.
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O processo atual tornou obsoleta uma ideia muito difundida na população de que a cirurgia da catarata precisa ser feita apenas quando o processo já está maturado, ou seja, a pessoa precisaria esperar que a catarata terminasse seu desenvolvimento até poder fazer a cirurgia.
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De fato, o procedimento antigo consistia em uma incisão maior que a atual, na remoção completa do cristalino e o emprego de óculos de 13 a 14 graus (os chamados fundo-de-garrafa) para a tentativa de compensação visual.
É possível prevenir a catarata? Como já citado, todas as pessoas desenvolvem a degeneração natural do cristalino, embora algumas cheguem ao fim da vida não tendo a visão prejudicada em um nível mais grave. Se todas as pessoas vivessem até os 100 anos de
idade, é provável que todos, sem excessão, tivessem que se submeter à cirurgia. Mas há uma maneira de pelo menos retardar seu desenvolvimento? Aparentemente sim. Partindo do pressuposto de que não há uma certeza sobre o que inicia a processo de degeneração, é provado que em países onde a incidência de raios solares é maior, há um maior índice de habitantes com cataratas desenvolvidas. A África é, portanto, o continente com maior número de casos de catarata, seguido de países com regiões próximas à linha do Equador. Logo, os cuidados básicos com radiação ultravioleta (através do uso de óculos de sol) podem sim retardar o aparecimento da catarata nas pessoas. É quase uma obviedade dizer que, no Brasil, em todo seu território, é cada vez mais urgente o cuidado com a incidência solar e todos seus malefícios. revista Perspectiva | 5