Do outro lado do espectro: arquitetura, inclusão e autismo [Painel expositivo]

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que se conectam tanto com o BRT Leste - Oeste, quanto o BRT Norte - Sul (ainda em construção), dando acesso a praticamente toda a cidade, e as ruas são tranquilas e locais. Além disso, o local se encontra distante do cone de ruído do aeroporto, e o Estádio Serra Dourada só representa uma fonte de barulho aos domingos e períodos noturnos dos dias de semana, eliminando possíveis desconfortos acústicos aos alunos.

Imagine uma sala de aula onde o ar condicionado soe tão alto quanto um show de rock. Onde as lâmpadas sejam brilhantes em excesso. As carteiras parecem ser feitas do tecido mais áspero possível, e as cores ao seu redor tenham um filtro com o contraste mais elevado existente em qualquer software. Imagine que o conteúdo mais entediante esteja sendo passado enquanto fotos de todas as suas atividades de lazer preferidas estão penduradas nas paredes. Imagine aprender qualquer coisa nessa sala de aula. Essa é a realidade escolar para muitas crianças autistas no Brasil e no mundo.

O ponto chave do projeto se baseia no zoneamento sensorial. Partindo do movimento das ruas que circundam a quadra, foi adotada uma escala de transição sensorial que posiciona ambientes de maior concentração, como salas de aula, voltados para a rua 46, e ambientes de atividade mais livre, como as salas administrativas, próximos à rua 72. Dessa forma, tanto os alunos autistas quanto os de funcionamento típico terão a possibilidade de aproveitar bem o ambiente escolar. Uma vez que o som tende a subir, a zona de sensorialidade mais intensa deve se posicionar acima da zona mais tranquila. Como a rua 46 é mais silenciosa que a rua 72, o partido arquitetônico se aproveita da inclinação natural do terreno para o posicionamento de tais zonas no projeto.

Independente de ser portador ou não de qualquer síndrome, problema de mobilidade, transtornos de quaisquer naturezas ou doenças, a infância é um período de grande importância para a educação, socialização e geração de memórias afetivas com o ambiente escolar. É nesse período que a criança expande seu universo, anteriormente restrito apenas ao seu lar, e a escola passa a ser um espaço onde a ela precisa, necessariamente, se sentir acolhida. É fato que tal ambiente traz consequências para toda a vida, despertando motivação, interesse ou repulsa pelo aprendizado e o desenvolvimento das atividades sociais tão essenciais no mundo contemporâneo, carregando a responsabilidade de tornar atrativa, e não traumática, a primeira grande aventura da criança fora de casa. Dessa forma, este trabalho se propõe a pensar uma nova maneira de planejar o ambiente de ensino, com um projeto que realmente atenda à necessidade de todos os alunos.

A integração sensorial é essencial para que os alunos com Transtorno do Processamento Sensorial possam percorrer toda a extensão do edifício sem se sentirem oprimidos pela sua presença. Também é fundamental quando se trata no preparo desses indivíduos para as barreiras externas ao ambiente escolar, e os ajuda a entender qual o nível de atenção exigido para cada atividade. A relação entre espaço e natureza reforça a percepção do corpo no espaço, além de favorecer a interação entre os alunos e a instigar a comunicação. Já a racionalidade construtiva gera uma construção lógica, levando ao conforto das crianças do espectro, que se apegam à rotina e aos padrões.

O projeto se encontra na quadra C6, no Jardim Goiás, uma região que ainda carece de atendimento especializado em Goiânia. Por se encontrar em frente ao Parque Flamboyant, o terreno de 10.000 m² é silencioso e margeado por lotes ou já com edifícios em altura implantados, ou em implantação, evitando, assim, o desconforto do ruído de uma construção próxima, além de se tratar de uma zona de desaceleração de densidade. No entorno encontram-se linhas de ônibus

A sala de aula foi a responsável pela malha hexagonal no projeto. Pensada para fugir do modelo tradicional, ela estimula o convívio entre as crianças, uma vez que cada aluno não se senta sozinho em sua carteira. A paleta de cores do ambiente é neutra, já que o objetivo é que o

Características do autismo

Disfunções sociais

Acústica

Olfato

Tato

Arquitetura, inclusão e autismo Isometria geral

Com uma arquitetura pensada para trazer segurança, estimular a convivência social e, principalmente, oferecer um respiro quando os estímulos ambientais se tornarem opressivos, o ambiente de ensino pode ser um grande aliado quando se trata de dar independência para alguém que vê o mundo com outros olhos.

Hiper ou hipossensibilidade sensorial

Disfunções comportamentais

Os sete sentidos

Audição

Pensando na integração sensorial como um dos pilares do projeto, um jardim que serve a esse fim ocupa a cobertura do bloco de ensino infantil. Dentro do jardim sensorial, os caminhos são feitos de pedriscos, e a vejetação é dividida entre arbustos de folhagens e de fl o ra ç ã o . A p e r i fe r i a d o e s p a ç o é c o m p o s t a principalmente por plantas robustas e que não florescem, para que as crianças não se sintam tentadas a chegar perto do guarda corpo, feito da mesma madeira ripada presente em outros pontos da escola. Já a parte central da cobertura verde abriga flores de estação, promovendo uma coloração diversa no ambiente durante todo o ano, e arbustos de texturas interessantes e diferentes. Há ainda ilhas compostas por plantas de fragrância mais proeminente, distante das bordas do jardim para que seu cheiro característico não atinja zonas inadequadas, maciços de ervas e outras plantas comestíveis, e arbustos que atraem pássaros, trabalhando, assim, os sentido da audição, olfato, paladar, tato e visão.

Do outro lado do espectro:

Diretrizes de um projeto inclusivo

Disfunções de linguagem

Visão

professor personalize as paredes com o tema a ser seguido pela turma. Brinquedos e outros objetos também ficam dispostos de acordo com o foco de ensino do momento, por exemplo: ao aprender sobre um tema da natureza, objetos naturais são dispostos na sala. Essa é uma maneira de estimular a atenção da criança para o que ela está aprendendo no momento, visto que o estímulo errado atrapalha a concentração, tanto das crianças típicas quanto das crianças no espectro autista. A madeira e os elementos naturais em geral dão à escola uma relação direta com a natureza. Os módulos hexagonais e retangulares se abrem diretamente para pátios pensados para atender às necessidades de cada momento, e a abundância de jardins gera oportunidades de aprendizado que não se limitam ao ambiente interno.

Sequenciamento espacial

Zonas de escape

Sala de aula

Jardim sensorial

Paladar

Vestibular

Propriocepção

Compartimentalização

Transições

Zoneamento sensorial

Segurança

Processo criativo

LEGENDA: 1. Hall de entrada 2. Pátio principal 3. Recepção / secretaria 4. Almoxarifado 5. Tesouraria 6. Coordenação 7. Diretoria 8. Impressão 9. Depósito 10. Sanitário 11. DML 12. Escaninho funcionários 13. Copa funcionários 14. Vestiário 15. Cozinha

Implantação

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS | FACULDADE DE ARTES VISUAIS ARQUITETURA E URBANISMO - TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO GIOVANA DE CARVALHO NETTO | ORIENTADORA: CHRISTINE RAMOS MAHLER

16. Hall AEE 17. Dança 18. Artes 19. Atendimento especializado 20. Zona de escape 21. Playground 22. Pátio de esportes 23. Piscina 24. Casa de bombas 25. Ioga / pilates 26. Pátio descoberto 27. Pátio ensino fundamental 28. Sala de aula ensino fundamental 29. Biblioteca

30. Laboratório de ciências 31. Laboratório de informática 32. Viveiros e horta 33. Apoio Viveiros 34. Apoio horta 35. Pátio ensino infantil 36. Sala de aula ensino infantil 37. Sala dos professores 38. Enfermaria 39. Bosque 40. Pátio de serviço 41. GLP 42. Carga e descarga 43. Estacionamento

Implantação Esc.: 1:250

N 0

5

10m


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