giovanna augusto merli orientadora patrícia pimenta co-orientador marcel claro i t f g - 1 1 / 2 O 1 2
[meu quintal é a rua] transformação da vizinhança do c e n t r o
“do or do not, there is no try” mestre Yoda
para minhas três Rainhas
“como alguém poderia criar um livro, uma pintura, uma sinfonia, ou uma escultura que possa competir com uma cidade. Não há. Porque olhando em volta, cada rua, cada avenida, possui uma forma de arte peculiar.”
Woody Allen, Meia noite em Paris
aos professores amigos e os amigos professores a Bia, a Patricia, ao Marcel ao Adriano, a Maria Eliza as zebras, a família, a todos
No principio de tudo tem o espaço. A ele se junta o homem, e desse encontro as mais interessantes (inter)relações surgem. Em essência esse trabalho busca a discussão/estudo do resultado dessa interação, que, acontecendo em qualquer escala que seja, chega a um produto, cidade.¹ Cidade, que nascida da relação, imediatamente se torna palco da mesma. Fechando o foco, minha cidade, Uberlândia. Onde a 24 anos me relaciono com espaço, nele interferindo, um pouco, e por ele sendo moldada, com maior intensidade. Uberlândia que poderia ser definida em «n» categorias sistêmicas, numéricas, burocráticas: cidade de médio porte, portal do cerrado, 700mil habitantes, capital do triângulo, posicionamento estratégico e futuro do agrobusiness. Mas e Uberlândia e o uberlandense, nascido ou radicado, como isso se define, como um interfere no outro, qual o resultado dessa relação? Fechando um perímetro, é estabelecido o Centro de Uberlândia como objeto de estudo para a discussão dessas questões. E são vários os motivos desta escolha, é onde se desenvolvem os mais diversos usos e ocupações, onde acontece o maior fluxo de pedestres, onde se concentram os maiores investimentos públicos em infraestrutura e equipamentos urbanos, maior ponto de dispersão do transporte público, maior interação entre espaços públicos e privados, o que faz do centro um espaço facilitador das relações entre espaço e usuário, da construção coletiva da vida urbana.
“Na cidade grande, chama-se quarteirão o vale formado pela intersecção de penhascos residenciais feitos de aço e concreto. Para os moradores, o quarteirão é o mundo.” Wil Eisner, Nova york - Cidade Grande
1 - ALVES, Henrique Vitorino Souza. Outros vazios urbanos. Trabalho final de graduação (graduação em arquitetura e urbanismo) Faculdadede Arquitetura Urbanismo e Design, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia 2008.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
O que?
Observando bem o centro de Uberlândia, percebemos que mesmo com todos os fatores apontados acima, estamos longe de usar todo seu potencial como fomentador de interações, e oferecer um espaço de qualidade para o desenvolvimento das relações humanas. Grandes áreas alienadas do público se destinam à acomodação de carros gerando vazios que se abrem em quase todas as quadras, o espaço privado toma conta e é o grande beneficiado dos investimentos públicos que se fizeram/fazem na área. Há diversidade de usos, mas não suficiente para manter o movimento de pessoas em horários fora do comercial, antes das oito e depois das dezenove horas o fluxo cai drasticamente, deixando quase deserta a maior parte do centro. Partindo dessa premissa esse trabalho pretende propor o projeto de uma série de intervenções e apropriações dentro de um determinado perímetro do Centro de Uberlândia, articulando programas que privilegiem o máximo e os mais qualificados tipos de inter-relações e interações. Reestruturando o centro para moradores, trabalhadores e usuários, porque como já dizia Niemeyer “o importante é a vida”.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
Por que? Pra que(m)?
1.1A questão da função social da terra De encontro com a realidade do Centro, enumeradas as suas deficiências e maus usos, foi inevitável o questionamento sobre como essa terra, tão valorizada, deveria ser melhor utilizada, de forma mais democrática e em beneficio do coletivo. Em um primeiro momento, com a leitura do trabalho do Professor Renato Saboya da Faculdade de Arquitetura da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), foram dissecados os fatores que influenciam o preço da terra urbana: _Distribuição de investimentos públicos em infraestrutura, equipamentos e serviços públicos. _Acesso à pessoas, serviços, comercio. _Investimentos privados no entorno/vizinhança. _Oferta e demanda de lotes.
_Intensidade fluxo de pessoas. Assim, é fácil entender como a terra do centro, não só de Uberlândia, mas de qualquer cidade, se torna cada vez mais valorizada. O centro de Uberlândia é a parcela da cidade que mais concentra investimentos públicos em infraestrutura (água, luz, pavimentação, limpeza, manutenção), bem como em equipamentos públicos como praças, equipamentos de cultura e disponibilização de serviços, alia-se a isso ser o mais importante ponto de distribuição e conversão do transporte publico da cidade. Como área que recebe os mais diversos usos, facilita o acesso à um maior e mais variado número de serviços e comércios. Todos esses pontos resultam em um cenário do mais intenso fluxo de pessoas, sejam a pé, de automóveis particulares ou transporte público. Com isso em mente, surge a questão de como essa terra que recebe tamanho montante de dinheiro público deveria ser ocupada. A resposta vem da Constituição Brasileira de 1988, no artigo 5º parágrafo XXIII que garante “a propriedade atenderá à sua função social”, é dada à propriedade, tanto pública quanto privada, uma dimensão coletiva vinculada a sua utilização, que deve priorizar o beneficio da coletividade e evitar os sobrecargos à maquina publica gerados pelo mau uso ou a subutilização. Uma vez que todo solo urbano deve enquadrar seu uso aos princípios acima, uma área tão importante para o desenvolvimento coletivo e que recebe tanto investimento publico como o centro deveria servir de exemplo no cumprimento da função social. Na realidade do centro uberlandense acontece o imediato oposto. Recursos públicos são desperdiçados em grandes lotes vazios que, no lugar de espaços que contribuam para o crescimento coletivo, social e comunitário, servem como abrigo de automóveis particulares. O acesso a essa terra e a esses recursos não é democrático, o privado se beneficia do investimento publico enquanto
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
1 - Questões norteadoras
Entende-se claramente então, a necessidade de propostas de utilização dessa terra que garanta o cumprimento de sua função social, que em sua essência preocupe-se com o acesso democrático ao espaço urbano, a qualidade desse espaço e a fomentação das relações e dos encontros gerados nesse meio.
1.2A questão da Habitação Desde o inicio do programa “Minha Casa, Minha Vida” a questão da habitação voltou a ser discussão recorrente, principalmente dentro das escolas de arquitetura, essa discussão se fez presente em vários momentos na história da arquitetura e é imprescindível para a discussão da própria cidade. Em 1933 na Carta de Atenas os arquitetos modernos presentes no 4º CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura Moderna) discutiram a cidade ideal segundo a realidade da época. Já no inicio da Carta antecipam o artigo da nossa Constituição de 1988 relacionado acima quando afirmam que a propriedade privada do solo urbano é submetida aos interesses coletivos. Partindo disso sistematizam a discussão do espaço urbano a partir das funções exercidas pelos homens, que são: Habitação, Trabalho, Lazer e Circulação. Sendo a Habitação o eixo central de discussão e organização do espaço, de forma que as outras funções são pensadas a partir dela. Analisando e estudando a cidade da época, o CIAM chega à conclusão de que esta não satisfazia sua principal destinação de “abrigar os homens e abrigá-los bem”, essa conclusão é ainda atual para as nossas cidades que não satisfazem as necessidades básicas, biológicas e psicológicas de grande parte da população. Começava o entendimento da habitação como o conjunto de ações que as pessoas desempenhavam em sua vida. Então a Carta propunha uma forma de implantação da habitação em que as demais atividades funcionassem como um prolongamento e complemento do “morar” tornando-o pleno, “(...) nossa tarefa atual é arrancá-la (a cidade) de sua desordem por meio de planos nos quais será previsto o escalonamento dos empreendimentos, de forma que o problema da moradia, da habitação, prevaleça sobre todos. Os melhores locais da cidade devem ser reservados a ela.”² Assim, a articulação das funções cotidianas deve ser feita sob a maior economia de tempo, sendo a habitação considerada o próprio centro das preocupações urbanísticas e o ponto de união de todas as medidas. Contemporânea à Carta de Atenas, o estudo publicado por José Luis Sert “Can our cities survive?” traz, dentro da discussão da cidade da época, uma visão semelhante do papel central da habitação dentro da organização do espaço urbano. Em sua publicação Sert afirma que a habitação urbana só pode existir em relação com o meio em que se insere, pois há influência mútua e assim a habitação deve ser considerada componente principal da
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
1 - Questões norteadoras
2 - LE CORBUSIER. Carta de Atenas, 1933. Tradução Rebeca Scherer. São Paulo: HUCITEC/edusp, s/d.
estrutura de uma cidade, como disse a Carta de Atenas, sendo articuladora das demais atividades, desenvolvimento biológico, social, psicológico e enquanto conjunto, sociedade. No Brasil os arquitetos modernos discutiam a habitação de forma semelhante a que acontecia no exterior. Afonso Eduardo Reidy discute a questão em texto publicado na revista Habitat em abril de 1956, onde falava sobre o recém-inaugurado Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes, a Vizinhança do Pedregulho. No texto, Reidy coloca que a solução dos problemas da habitação excede o próprio problema da casa, se estendendo para dentro da comunidade. Assim, o habitar não pode ser medido apenas pela vida que se desenvolve dentro da casa, mas também as atividades que se desenvolvem fora dela. Com isso Reidy defende a necessária proximidade entre habitação e local de trabalho, resultando numa economia de tempo, dinheiro e saúde. No mesmo ano 1956 e na mesma revista Habitat Warchavchik também escreve a cerca da habitação, principalmente na América latina, “(...) sonhávamos com a possibilidade de tornar 'extensamente social' essa organização do espaço, porquanto a arquitetura tenha e tem de resolver o problema da vida do homem e não apenas alguns homens, (...) há no mundo latino-americano a que pertencemos um problema de habitação, não é preciso esperar uma guerra como aconteceu em Londres, que esta sendo revestida, nos seus trechos de 'slum'*, por uma reconstrução ativa sobre os escombros dos bombardeios, nossa guerra seria dirigida contra a habitação inadequada ao pleno desenvolvimento biológico e psicológico da multidão, que é preciso individualizar em seres humanos, e não amalgamar em massas destituídas de consciência própria, é preciso construir para a multidão, mas individualizando-a.” Dessa forma partindo do conceito quase biológico, ou ecológico, de “habitat” que segundo a Enciclopédia Barsa é “espaço onde seres vivos vivem, e se desenvolvem; termo utilizado na ecologia, que compreende o espaço e ecossistema onde os indivíduos se desenvolvem, dentro de uma comunidade.” A função habitar deve garantir o desenvolvimento pleno das pessoas em todos os campos de sua vida, extrapolando o simples conceito de morar e englobando também todas as atividades desempenhadas pelo homem levando ao seu desenvolvimento biológico, social, psicológico e enquanto conjunto, sociedade.
“Toda cidade deveria ser como aquela festa que dá certo, em que as pessoas se sentem tão bem e tão à vontade que acabam ficando.” Jan Gehl, em entrevista para revista Veja edição 2284, 29 agosto de 2O12
vizinhança- vi.zi.nhan.ça - sf (vizinho+ança) 1 Qualidade do que é vizinho. 2 Conjunto de pessoas que habitam os lugares vizinhos. 3 Relações entre vizinhos. 4 Arrabaldes. 5 Cercanias, proximidades. 6 Semelhança, analogia. dicionário Michaelis, ed. Melhoramentos
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*Aqui Warchavchik se refere as áreas inglesas semelhantes às nossas favelas, de ocupações com pouco planejamento e a infra estrutura
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
1 - Questões norteadoras
1.3A questão da vizinhança Como disse Reidy no texto publicado na revista Habitat “o homem é um ser sociável, não vive isoladamente, não é um mero espectador, um ser passivo, mas um participante da vida coletiva.”³ Logo a cidade, como habitat planejado para seu pleno desenvolvimento deve ser organizada para a vida em comunidade, com ambientes que promovam a convivência coletiva, importante tanto para o desenvolvimento da sociedade como um todo como do indivíduo. Essa vida coletiva poderia ser simplificada em um conceito de vizinhança, a aproximação e interação entre as pessoas que convivem e dividem os mesmo espaços, seja morando, trabalhando ou de passagem, além da interação entre as pessoas e os próprios espaços. No livro Cidades para um pequeno Planeta, Richard Rogers indaga que em um futuro muito próximo, quando perguntadas sobre as cidades às pessoas vão falar sobre os edifícios e os carros e não das ruas e praças, suas lembranças recairão sobre o distanciamento entre as pessoas e lugares, a poluição, o transito e a violência, e não sobre a vida em comunidade, a participação coletiva, animação e beleza. Os espaços urbanos estão se tornando sobras entres edifícios e as ruas se tornaram território de automóveis, motocicletas e ônibus, a população perde cada vez mais espaços e oportunidades de encontro dentro da cidade. Antes de Rogers a Carta de Atenas, comentada anteriormente, aponta que o desenvolvimento da vida só acontece com dois princípios contraditórios conciliados, o individual e o coletivo. Em sociedade as iniciativas do homem se tornam mais frutíferas, e a liberdade melhor defendida, um espaço urbano é pleno quando permite a colaboração frutífera e o máximo de liberdade individual. A lógica atual de planejamento e construção do espaço urbano tende ao favorecimento do que o cientista urbano Michael Walzer4 classifica como espaço urbano monofuncional, um espaço preenchido com uma única função e geralmente produzido pelo capital privado, shoppings centers, estacionamentos, condomínios fechados e até mesmo o automóvel, são ambientes que não comportam ou estimulam a sobreposição de usos. Em contrapartida, Walzer elabora o conceito do espaço urbano multifuncional que é pensando para a variedade de usos, participantes e usuários, espaços que estimula o encontro espontâneo entre pessoas, que desperta o olhar, a interação e a participação. Esse espaço gera a reunião de várias partes diferentes da cidade e vários tipos de usuários, desenvolvendo o sentimento de identidade, respeito e compartilhamento entre os usuários e moradores da cidade.
Plaza Mayor, Salamanca, Espanha fonte: foto da autora
Plaza Mayor, Salamanca, Espanha fonte: foto da autora
3 - REIDY, A. E. In: FERRAZ, G. Individualidades na História Atual da Arquitetura no Brasil. II - Afonso Eduardo Reidy. Habitat, n 29. p38-55, abr. 1956 4 - ROGERS (2001) apud WALZER, Michae.
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Plaza Mayor, Salamanca, Espanha fonte: foto da autora
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
1 - Questões norteadoras
Lendo os conceitos elaborados por Walzer imediatamente identifico o espaço urbano multifuncional com a Plaza Mayor da cidade de Salamanca, Espanha, e o Covent Garden em Londres, espaços público abertos que são circundados pelos mais diversos usos. A Plaza Mayor é um equipamento tradicional ás cidades espanholas, e se configura como uma praça seca com edifícios no entorno de suas quatro faces. No caso de Salamanca, abrigam restaurantes e lojas dos mais variados tipos, a prefeitura da cidade, hotéis, lan house, bares, e funciona como o maior ponto de referencia e encontro na cidade, frequentada por senhoras aposentadas colocando o papo em dia enquanto tomam um café com churros ou por grupos de jovens “borrachos” comemorando a despedida de solteiro do amigo. Covent Garden é um distrito londrino originário do antigo mercado de flores, frutas e legumes. Hoje em dia esse mercado deu lugar a várias lojas e pequenos mercados que se dedicam ao varejo de artigos exóticos, roupas, novidades, bares, restaurante e pubs. Nas ruas e na praça central artistas de rua, músicos e artesões divulgam seu trabalho ao publico, numeroso e heterogêneo, que passeia todos os dias pela região. Em lugares como esses, em que há a sobreposição de várias atividades e usos, públicos e privados, é criado o encontro entre diversos perfis de pessoas, a apropriação do espaço, a identificação das pessoas com sua cidade e fortalecimento do senso cívico. Como disse Rogers no livro já citado “Uma cidadania ativa e uma vida urbana vibrante são componentes essenciais para uma cidade e uma boa identidade cívica. Devem (as pessoas) sentir que o espaço público é responsabilidade e propriedade da comunidade. A esfera publica é o teatro de uma cultura urbana. É o elemento que pode agregar uma sociedade urbana.” Um bairro deixa de ser apenas uma área residencial e se torna uma vizinhança a partir das sobreposições, dos encontros, das interações, da “mistura”, da diversidade de usos, de usuários, de espaços, acontecimentos, são essas as áreas que fomentem as atividades humanas, como disse Richard Rogers, “as cidades são antes de tudo o lugar de encontro entre as pessoas” e quase em resposta, ou complemento, a essa fala o arquiteto dinamarquês Jan Gehl diz em seu livro “Life between buildings: Using public space” “se a cidade é o lugar de encontro por excelência, mais que qualquer outra coisa, a cidade é o seu espaço público e de pedestre.” Nesse livro Jan discute como a maior atração de uma cidade principalmente de seu centro são as pessoas, ver, ouvir, encontrar. A apropriação ou não do espaço pelo publico depende das condições que ele oferece para essas ações se desenvolverem, no livro Gehl cita o exemplo de como nos banco de um parque de Copenhague ficavam vazios por voltarem as costas para o passeio, ou ainda como os cafés abertos de Paris organizam suas cadeiras de forma que todas se voltem para a rua e a calçada. Assim, o desenho da cidade deve ser feito em uma escala próxima das pessoas, proporcionando o contato, articuladas como o catalisador das atividades e relações humanas, relações de pessoas com pessoas, e pessoas com espaço.
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Covent Garden, Londres, Inglaterra fonte: foto da autora
Covent Garden, Londres, Inglaterra fonte: foto da autora
Covent Garden, Londres, Inglaterra fonte: foto da autora
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
1 - Questões norteadoras
Antes de qualquer coisa foi necessário estabelecer qual área compreendia o Centro que me interessava trabalhar, e como determinar esse perímetro. Segundo o zoneamento da prefeitura o bairro Cento está contido entre as avenidas Getulio Vargas, Rio Branco, Cipriano Del Favero, João Naves de Ávila e as ruas Goiás e dos Pereira. A partir dessa área demarco meu perímetro de interesse, que se estende da rua Goiás à rua dos Pereira, como a delimitação da prefeitura, e da avenida Cipriano Del Favero à avenida Cesário Alvim. A escolha dessa parcela do Centro em detrimento da área como um todo foi baseada nas mesmas reflexões que me trouxeram ao Centro em um primeiro momento. A busca do espaço com maior interação entre espaços públicos e privados, grande fluxo de pedestres que possam estimular uma interação interessante entre espaço e usuário, maior diversidade de usos, grande oferta de infraestrutura e equipamentos urbanos e ser um ponto de dispersão do sistema de transporte publico. O próximo passo analisar, estudar, ler, me tornar intima da área escolhida. Prancheta em mãos fui ao Centro. Em cada uma das 49 quadras do perímetro foram observadas de acordo com os fluxos de automóveis e de pedestres, os gabaritos, uso e função do solo e a relação da ocupação com a rua, vazios com destaque para os lotes utilizados como estacionamentos privados, e uma analise da qualidade espacial do trecho. A seguir as análises feitas durante caminhadas ao redor (e em alguns casos por dentro também) de cada uma dos 49 quarteirões que compõem o perímetro. O percurso foi feito durante o mês de março, em períodos alternados do dia. Foi feito seguindo uma numeração previamente determinada e iniciada na praça Adolfo Fonseca, mais conhecida como “praça do Museu” e se encerra próximo a praça Sergio Pacheco.
1O
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2 - Perímetro proposto/ análises do espaço
ponto de ônibus (bairro - centro)
ponto de taxi
banca de jornal
rua goias
av. joão pinheiro
av. cipriano del favero
cachorro quente
praça adolfo fonseca
_intenso uso como atalho e passagem _durante período observado houve a permanência de variados perfis de usuários: - mães+crianças - senhoras - vendedores ambulantes - funcionários em horário de almoço, principalmente do supermercado _árvores proporcionam o sombreamento da praça, qualificando seu espaço de permanência. _durante os horários de entrada e saída da colégio há ocupação intensa de toda a praça pelos alunos
na
rua
ir ixe
te
módulos de cobertura para pontos de ônibus (centro-bairro) essa face parece dar as costas para a praça, o que parece ser intensificado pelo desenho da cobertura dos pontos de ônibus
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quadra O1
supermercado
rota de ônibus fluxo de passantes
supermercado = conversor de fluxo de pedestres - facilidade das compras próximo aos pontos de ônibus
análise quadra-a-quadra
as
ta an
calçada sombreada por marquise
n so pe n o f a av.
a
av. joão pinheiro
rua goias
es
rã ma
ui
g rdo
rna
e ab
ru vendedores ambulantes/ informais
rota de ônibus
calçada sombreada por marquise
entrada de uma “vila” com residências e pensionatos
quadra O2 12
serviço
comercio institucional residencial
quadra O3 misto
vazio
análise quadra-a-quadra
fluxo de passantes
lanchonete +residencias
london pub
p r a ç a rui barbosa (bicota)
rota de ônibus fluxo de passantes
rua goias _a praça rui barbosa (a.k.a. praça da bicota) é um forte ponto de permanência tanto durante o dia como a noite, tanto pelo espaço da praça quanto pelo serviços oferecidos ao seu redor _o trecho da av. floriano peixoto compreendido entre as quadra 4 e 5 é, sem dúvidas, o principal eixo de movimento noturno do centro, sendo assim talvez a única região que mantenha o movimento tanto no horário comercial quanto a noite
quadra O5 13
serviço
comercio institucional residencial
quadra O4 misto
vazio
análise quadra-a-quadra
ru
a
pr
of
es
so
rp
ed
ro
be
rn
ar
do
av. floriano peixoto
av. afonso pena
rua santos dumont
todo essa extensão pertence ao supermercado sinha
rua goias
rota de ônibus
praça adolfo fonseca
fluxo de passantes
quadra O7 14
serviço
comercio institucional residencial
_os serviços da quadra O7 que faceiam a praça adolfo fonseca parecem não atender ao público real da praça, ou seja, aquele que à ocupa ao longo do dia.
quadra O6 misto
vazio
análise quadra-a-quadra
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua santos dumont
rua santos dumont rota de ônibus fluxo de passantes
quadra O8 15
serviço
comercio institucional residencial
quadra O9 misto
vazio
análise quadra-a-quadra
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua olegario maciel
rua olegario maciel
av. cesario alvim
av. afonso pena
rua santos dumont galeria com lojas, restaurantes, bares e o teatro Rondon Paicheco, acima o Salão d o U b e r l â n d i a C l u b e a loja é implantada com um afastamento maior que o exigido pela lei de ocupação, criando uma área de sombra bem na esquina que é ocupada por um ponto de motoboys/mototaxi que improvisam mobiliários para a permanência no local
quadra 1O 16
serviço
comercio institucional residencial
rota de ônibus fluxo de passantes
quadra 11 misto
vazio
análise quadra-a-quadra
praça tubal v i l e l a
av. floriano peixoto
escola estadual bueno brandão
há um recorte no canto do edifício que cria um algo como um “nicho” de permanência u s a d o c o m o d e s c a n s o r á p i d o p e l o s p a s s a n t e s
o grande recuo da implantação do edifício com relação a cobertura, que é alinhada ao limite do terreno, o resultado é uma grande área sombreada, apropriada por ambulantes e pessoas em espera ou descansando
rua olegario maciel rota de ônibus
quadra 12 17
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
análise quadra-a-quadra
av. cesario alvim
praça tubal v i l e l a
av. floriano peixoto
rua duque de caxias
ponto de taxi
rua duque de caxias banca de jornal
banca de jornal
ponto de ônibus (centro-bairro)
rota de ônibus fluxo de passantes banca de jornal
quadra 13 18
ponto de taxi
banca de jornal
_o desembarque na tubal vilela é muito intenso. O usuário vindo dos bairros da zona Sul e Oeste, que não precisam efetuar baldeação no terminal central, já descem na praça, sendo a primeira grande “entrada” do centro aos que chegam através do transporte publico. A intensidade do desembarque/embarque se concentra nas faces próximas as avenidas afonso pena e floriano peixoto. É onde há a maior concentração de ambulantes, doces, sorvete, loterias, piqui, jabuticaba dependendo do mês, tapetes, “importados”, pipoca e de tempo em tempo algum músico de rua ou um pregador.
análise quadra-a-quadra
praça tubal v i l e l a
posto policia militar
av. floriano peixoto
av. afonso pena
ponto de ônibus (bairro - centro)
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua duque de caixias
galpão de estacionamentos
rua olegario maciel
rota de ônibus
quadra 15 19
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 14
análise quadra-a-quadra
praça tubal v i l e l a
praça luiz freitas costa
rua duque de caixias futuramente implantado o centro cultural da ufu
rota de ônibus
quadra 16 20
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 17
análise quadra-a-quadra
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua machado de assis
rua duque de caixias
rota de ônibus
quadra 18 21
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 19
análise quadra-a-quadra
av. cesario alvem
av. afonso pena
av. floriano peixoto
rua machado de assis
comercio informal
torre de telefonia
travessa cortando o quarteirão. há trafego de motos e pedestres, os carros parecem nem notar sua existência. ambiente semelhante ao de vilas, vizinhança
rota de ônibus
quadra 21 22
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 2O
análise quadra-a-quadra
rua machado de assis
av. cesário alvim
av. afonso pena
av. floriano peixoto
rua tenente virmondes
rua machado de assis
rota de ônibus
quadra 23 23
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 22
análise quadra-a-quadra
a grande maioria dos serviços oferecidos neste quarteirão se relacionam à saúde, clinicas, laboratórios, exames, inclusive a Unimed que ocupa quase toda a face da quadra voltada para a av. joão pinheiro
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua tenente virmondes
rua tenente virmondes
rota de ônibus
quadra 24 24
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 25
análise quadra-a-quadra
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua quintino bocaiuva
depósitos do titas tecidos
rua tenente virmondes
rota de ônibus
quadra 26 25
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 27
análise quadra-a-quadra
av. cesário alvim
av. afonso pena
av. floriano peixoto
rua quintino bocaiuva
rua quintino bocaiuva
rota de ônibus
quadra 29 26
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 28
análise quadra-a-quadra
av. cesário alvim
av. afonso pena
av. floriano peixoto
rua coronel antônio alves
camelodromos no térreo residências no 2º e 3º pav.
av. afonso pena
av. cipriano del favero
av. joão pinheiro
rua coronel antônio alves
uberlândia tenis clube oferece na esquina uma área sombreada em que as pessoas se sentam e d e s c a n s a m
rua quintino bocaiuva
rota de ônibus
quadra 31 27
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
quadra 3O
análise quadra-a-quadra
entrada para pedestres ao centro da quadra, com acesso à serviços e residências
quadra 33
_a quadra 34 é densamente ocupada por comercio, formal e informal. talvez em função da proximidade do terminal central, que gera um fluxo intenso de passantes. também por esse motivo existam tantos vendedores ambulantes nas calçadas do quarteirão, principalmente na esquina da av. joão pessoa e afonso pena.
e d stac e io ô nam n i b ent u o s
av . jo
ão
pe
ss
fluxo de passantes
quadra 32 28
serviço
comercio institucional residencial
rua coronel antônio alves
misto
vazio
fórum
quadra 34
análise quadra-a-quadra
camelodromo
av. afonso pena
av. joão pinheiro
rua josé andraus
rota de ônibus
l/ ra r nt t e ce n al c e in rm c k te r a t p
av. cipriano del fávero
oa
quadra 36
três galpões enormes com aparência de desativados
rua caiapônia edifício de 4 pavimentos não finalizado, o térreo foi ocupado com comércios e serviços, os demais andares permanecem no esqueleto.
pomar da residência a o l a d o
sd
e av
on
ã . jo v a
quadra 35 29
serviço
comercio institucional residencial
rota de ônibus
rua coronel antônio alves misto
vazio
análise quadra-a-quadra
ila
v eá
av. cesário alvim
av. floriano peixoto
recuo com estacionamento para loja de artigos infantis
fluxo de passantes
quadra 38
rua caiapônia
ão . jo av rota de ônibus fluxo de passantes
misto
vazio
_a quadra 38 é cortada por uma ruela, criando um ambiente parecido com o de vilas operárias, em que nos dois lados da via são implantadas casinhas geminadas iguais ou muito semelhantes. o espaço foi pouco alterado, tanto espacialmente quanto no uso. o transito nessa travessa é bem escasso, de carros e pedestres, e o ambiente é surpreendentemente traquilo.
análise quadra-a-quadra
ila
comercio institucional residencial
áv
serviço
e
31
d es
quadra 37
v na
uma escada sobe da a. afonso pena à av. joão naves de ávila. ao fim da escada se chega a uma espécie de camelodromo que passa uma impressão de informalidade e improviso, em um lugar escuro, mal ventilado e iluminado.
av. floriano peixoto
rua gardenia
rua padre mario florestan
todo o quarteirão é usado como estacionamento privado.
av. afonso pena
rua abdala haddad
quadra 4O
comercio institucional residencial
rua caiaponia rota de ônibus misto
vazio
fluxo de passantes
análise quadra-a-quadra
serviço
av. cesário alvim
rua abdala haddad
quadra 39 32
travessa muito estreita, possibilitando a passagem apenas de motos e pessoas, de paralelepípedos. possui uma área de jardim cuidada pelos moradores, é um lugar muito a g r a d á v e l d e s e p a s s a r.
cedo a m . rof tv. p
av. floriano peixoto
travessa joviano rodrigues
rua martinésia judiciário
tv. joviano rodrigues torre de telefonia reservatórios do dmae, todo o meio da quadra pertence ao departamento municipal de água e esgoto
quadra 43 33
serviço
comercio institucional residencial
rota de ônibus fluxo de passantes misto
vazio
quadra 41
análise quadra-a-quadra
av. cesário alvim
av. afonso pena
av. floriano peixoto
rua cruzeiro dos peixotos
rua abdala haddad
rota de ônibus
quadra 42 34
serviço
comercio institucional residencial
fluxo de passantes
misto
vazio
_a quadra 42 tem configuração e ambiencia semelhante a da quadra 38. com as duas ruelas que cortam o quarteirão em 3.
análise quadra-a-quadra
av. floriano peixoto
juizado especial/oab/arquivo judiciário
rua gardenia
av. afonso pena
rua padre mario florestan
rua martinésia
área de serviços do supermercado
lote vago pavimentado, com 5 grande árvores no limite que proporcionam sombra em toda a área quase uma “pocket plaza” improvisada
rua roosevelt de oliveira
estacionamento supermercado
embaixo das arquibancadas conservam-se pequenas lojas, serviços, lanchonetes.
rua cruzeiro dos peixotos antigo estádio Juca Ribeiro, sofreu intervenção para que fosse implantada nova sede de uma r e d e d e s u p e r m e r c a d o s
quadra 45 35
serviço
comercio institucional residencial
rota de ônibus misto
vazio
fluxo de passantes
quadra 44
análise quadra-a-quadra
banca de jornal
av. floriano peixoto
av. afonso pena
em um mureta, resto da construção que havia antes as pessoas se sentam na sombradas árvores
tv. manuel guerreiro
rua dos pereiras
quadra 46
rua martinésia hospital do triangulo
av. afonso pena
av. joão pinheiro
galpão com aparência de abandonado e/ou no meio de uma reforma
rua cruzeiro dos peixotos
área de estacionamento em uma cota mais baixa que a av. joão naves, há uma densa barreira de vegetação
av . jo
ão
na
ve
sá
vil
quadra 47 36
serviço
comercio institucional residencial
a
rota de ônibus fluxo de passantes
misto
vazio
análise quadra-a-quadra
dmae - todo o meio da quadra também faz parte das instalações d o d m a e
quadra 48
viveiro
37
serviço
comercio institucional residencial
r do i l v a gar s a tan o a r u éric am
quadra 49
misto
vazio
rota de ônibus
rua martinésia
fluxo de passantes
análise quadra-a-quadra
rua cruzeiro dos peixotos
av. joão pinheiro
pça. sérgio pacheco
av. brasil
rua roosevelt de oliveira
.b av ra sil
or . fl av
atual fórum de uberlândia_ possibilidade de se tornar um equipamento cultural com transferência do seu uso atual p a r a n o v a s e d e
ian eix oto
. jo av iro
o er
fav
teatro de arena
recorte da praça sub-utilizado como estacionamento d e ô n i b u s
praça oswaldo cruz
terminal central=conversor de fluxos principal “entrada” para o centro por meio do transporte publico reunião também os mais variados serviços e comércios
_a praça sérgio pacheco tem sido tema recorrente de discussões desde o seu projeto original, de autoria de Burle Marx e Ary Garcia, suas várias versões e um posterior retalhamento _as vias de fluxo intenso que cortam a praça claramente resultam num fragmentação do espaço, d i f i c u l t a n d o a t é m e s m o a c o m p r e e n s ã o d a á r e a c o m o u n i d a d e . _ainda assim a área maior desempenha seu papel de espaço público, abrigando várias atividades culturais como feiras, shows e encontros, as quadras e a pista de caminhada estão sempre em uso, mostrando que a população, local ou não, se apropriou do espaço. _o fluxo de passantes é intenso em toda a área, é o caminho que se faz após o desembarque no terminal central.
quadra 5O
38
serviço
comercio institucional residencial
rota de ônibus misto
vazio
fluxo de passantes
análise quadra-a-quadra
el
od
na
pe
ian
ipr
so
fon
he
.a av
pin
.c av
av. joão pessoa
p ç a . prof. jacy de assis
ão
praça sergio de freitas pacheco
op
av. joão naves de avila
Em 2007/2008 a Prefeitura de Uberlândia, em razão de um projeto de revitalização da área Central e do bairro Fundinho, realizou um trabalho de levantamento no perímetro que hoje se tornou meu objeto de estudo, trabalho semelhante ao que realizo, mais detalhado e aprofundado. Tendo acesso a esses dados em visita à Secretaria de Planejamento Urbano, foi possível complementar a minha pesquisa e quantificar em dados concretos as impressões que tive durante as tardes de observação no centro da cidade. Além disso, com esses dados foi possível analisar os moradores da área central. Dos aproximadamente 612mil habitantes de Uberlândia 4.460 têm sua moradia no centro da cidade, menos de 1% da população, entre esses 1.296 estão entre 55 e 85 anos de idades, representando 29% do total, a media dessa faixa etária no restante da cidade está em torno dos 10% mostrando que a população idosa tende a se concentrar na área central. Ainda a cerca da idade, 26% dos habitantes do centro estão entre os 20 e 29 anos, a região concentra os extremos da pirâmide etária com jovens e idosos. Segundo a prefeitura a renda média da área seria de R$2.915,92 e a densidade por moradia de 2,5 habitantes/casa.
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.1.1 - Um parênteses o trabalho da prefeitura
1- comparativo das pirâmides etárias do Centro e outros bairros de Uberlândia
39
fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
Como resultado desse levantamento a Prefeitura Municipal de Uberlândia apresentou projeto de “requalificação/revitalização” do centro e do bairro Fundinho, contiguo ao Centro, elaborado pelo escritório Finotti Arquitetura. Tal projeto propõe modificações na estrutura de deslocamento e de fluxos e a priorização do pedestre, criação de bolsões subterrâneos de estacionamento eliminando a faixa de estacionamento em várias ruas; legislações quanto a comunicação visual; novas soluções em drenagem; medidas de conservação e preservação do patrimônio; enfim uma serie de intervenções urbanísticas e de planejamento. Inclusive, o incentivo ao uso residencial é lançado como “solução” de várias questões apontadas ao longo da pesquisa, como o esvaziamento das áreas fora do horário comercial e o êxodo populacional da área, que levou a população residente a essa porcentagem mínima já mostrada anteriormente.
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.1.1 - Um parênteses o trabalho da prefeitura
2 - renda per capita/densidade populacional do Centro de Uberlândia
4O
fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
Dessas andanças o resultado foi uma série de mapas que resumem cada um dos tópicos analisados: gabaritos, vazios, fluxos, uso/ocupação (já apresentado na análise quadra-aquadra).
a- relação de gabaritos/cheios e vazios Esse mapa talvez seja o mais revelador. Sempre que a imagem de centro de cidade vem a mente ela se forma com vários prédios e intensa verticalização, essa imagem se choca com a realidade expressa no mapa, nosso centro esta longe de ser intensamente verticalizado. Há predominância de sobrados de uso misto e prédios de 3 a 5 andares, em toda a extensão analisada identificamos apenas 35 edifícios com dez pavimentos ou mais. Fica evidente que o centro não usufrui de todo seu potencial de adensamento. Contribuindo para a baixa densidade de ocupação do centro está o incrivelmente alto numero de estacionamentos privados, que segundo levantamento da prefeitura ocupam 6,7% da área total do Centro com seus 78 lotes. Como mostra o mapa são muito raras as quadras que não tem pelo menos um de seus lotes com esse uso implantado. Um dado beirando o revoltante, uma vez que, como já discutido, temos a maior concentração de investimentos públicos sendo desfrutado por espaços destinados a acomodações de automóveis privados. Enfim, a partir desse mapa é possível o entendimento do grande potencial de ocupação que a região central ainda oferece.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Como podia ser previsto o fluxo de automóvel na região é muito intenso, com pouquíssima variação. Nas avenidas Floriano Peixoto, Afonso Pena e João Pinheiro há uma intensidade de fluxo de automóveis ligeiramente maior que nas avenidas Cipriano Del Favero e Cesário Alvin, essas duas não fazem parte da rota de transporte publico. Perpendicular a essas avenidas as ruas Goiás, Olegário Maciel e Duque de Caxias são as mais movimentadas, talvez por serem os melhores trajetos de ligação do centro com o bairro Martins e com as Avenidas Getulio Vargas e Rondon Pacheco. A avenida João Naves também concentra intenso fluxo de automóveis bem como de dispersão do transporte publico. Cruzando a avenida João Naves com sentido ao bairro Brasil, percebe-se um aumento no fluxo de automóveis, e a eles se juntam caminhões que saem da João Naves com destino aos galpões e armazéns que ainda ocupam região. A seguir tabelas colhidas na Prefeitura de Uberlândia traduzem essas impressões em dados numéricos, reunidos em um trabalho de análise do perímetro central promovido pela própria prefeitura no ano de 2008.
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3 - aumento do fluxo de automóveis em Uberlândia em 7 anos (2001-2008) fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Em dias de semana durante o horário comercial o Centro fervilha. Entre a rua Goiás e a avenida João Naves de Ávila, as avenidas Floriano Peixoto e Afonso Pena, e todas as perpendiculares nesse intervalo, definem o perímetro com mais intensa circulação de pessoas a pé. É a área com maior concentração de lojas voltadas à rua, com grandes vitrines ou mesmo balcões de exposição bem próximos à calçada, talvez esse seja o maior atrativo do publico, combinado à proximidade de paradas de ônibus na praça Tubal Vilela e no Terminal Central. Margeando essa parcela do Centro, a avenida João Pinheiro mesmo tendo um tratamento especial não existente nas outras ruas e avenidas, com calçadas mais largas e pequenos espaços que propõem a permanência ao longo dos quarteirões e nas esquinas com bancos, canteiros altos, não é a rota mais escolhida pelos pedestres. As razões disso podem ser tanto pela retirada dos pontos de ônibus que existiam ao longo da avenida, quanto em função dos usos implantados, clinicas, cartório, restaurantes, edifícios, escolas, lojas mais especificas, serviços que dificilmente atraem usuários espontâneos de forma que quem passa pela João Pinheiro parece já ter um destino certo, algo marcado pra fazer naquela avenida. Nos extremos do perímetro estudado nas Avenidas Cesário Alvin e Cipriano Del Favero o cenário é de um fluxo de pedestres ainda menor, acredito que os motivos devem ser os mesmos que os da avenida João Pinheiro, nesses casos as avenidas não estão em nenhuma rota do transporte público. Na parcela do Centro além da avenida João Naves a proximidade do fórum tem grande influencia tanto no tipo de serviços implantados quanto no perfil dos pedestres e usuários da região. Nessa área os carros são mais numerosos que os pedestres, que mais uma vez dão a impressão de que não passam pela região sem ter já um destino, um compromisso definido.
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praça Tubal Vilela quinta-feira ás 14:30hras fonte: foto da autora
4 - áreas analisadas pela prefeitura fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
5 - volume de pedestres em cada ponto analisado fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Enfim, observando as pessoas que usam e ocupam o centro, foi pertinente a divisão de três perfis de usuários: os passantes, os ambulantes e os ocupantes. Os passantes como o nome já diz seriam aqueles que estão da passagem de um compromisso à outro, andando do ponto de ônibus ao trabalho, ou procurando algo nas lojas, esse perfil ocupa o centro como um todo, estão em todas as ruas e avenidas, mais em algumas do que em outras como dito acima. Os ambulantes e os ocupantes muitas vezes sobrepõem suas áreas de apropriação. Ambulantes são aqueles que se apropriam do espaço publico como um mercado aberto, estão em todas as praças, montam suas bancas, empurram seus carrinhos. Por fim os ocupantes, que em um momento eram passantes, mas se cansaram e pararam para descansar, ou estão adiantados para um compromisso e esperam a hora passar, se ocupam de qualquer espaço que possam se sentar ou se proteger do sol, de preferência os dois. São encontrados principalmente nas praças, mas também se apropriam de outros locais como o nicho aberto na lateral do edifício Chams, ou o muro baixo que cerca um terreno vago. O espaço da praça é onde encontram-se sempre os três tipos. Os passantes ocupam todo o Centro, ambulantes e ocupantes vão ficando mais raros a medida que se aproximam dos limites do Centro com o bairro Nossa Senhora Aparecida. O trabalho realizado pela Prefeitura de Uberlândia em 2008 também quantificou a circulação de pedestres na área Central de Uberlândia, conforme os quadros abaixo.
recuos de fachada, muretas e escadas sendo apropriadas por usuários fonte: foto da autora
vão do edifício Chams sendo utilizado fonte: foto da autora
6 - fluxo de pedestres X fluxo de automóveis_nas principais avenidas do Centro fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Uma pesquisa feita em São Francisco, California, pelo professor de desenho urbano da Universidade de Berkeley Donald Appleyard5 , pretendia analisar o impacto que o trafego de automóveis tem na rotina de uma via local, predominantemente residencial. Monitorando três ruas de uma mesma região, tendo cada uma diferentes intensidades de fluxos de automóveis. Além do monitoramento foi feito uma entrevista com moradores sobre os caminhos que eles percorriam a pé diariamente, como era a sensação de viver em determinada rua e como era a dinâmica de encontros com outras pessoas, em uma tentativa de mapear o nível de interação social. O resultado, como mostram os quadros abaixo, é que o nível de interação entre vizinhos, o senso de comunidade e até de identificação com a área, seriam inversamente proporcionais à intensidade do trânsito de automóveis. As pessoas que vivem na rua com trafego mais intenso encontra menos amigos, se apropria menos do seu espaço e até sua identificação da área como território familiar acontece em proporção menor. Essa pesquisa desenvolvida nos anos 80 foi a primeira forma de quantificar realmente as influencias e os danos que a circulação de automóveis podem causar no habitat das pessoas nas cidades, e suas relações com onde vivem. Esse estudo parece ilustrar a fala de Hertzberger que em seu livro Lições de Arquitetura diz “em bairros residenciais devemos dar à rua a qualidade de uma sala de estar, não só para a interação cotidiana como também para as ocasiões especiais(...)”.
5 - GEHL (2003) apud APPLEYARD, D.; LINTELL, M. «The environmenteal quality of city streets» Journal of the American Institute of Planners (JAIP), vol.38, n 2, março 1972, pp 84-101
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7 - pesquisa de Donald Appleyard em ruas de São Francisco - CA relação entre fluxos de carros e a dinâmica de fluxos, encontros e uso dos espaços pelos moradores fonte: La humanización del Espacio Urbano - Jan Gehl
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
8 - pesquisa de Donald Appleyard em ruas de São Francisco - CA relação entre fluxo de carros e apropriação/identificação da rua por seus moradores fonte: La humanización del Espacio Urbano - Jan Gehl
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Além dos levantamentos detalhados da área, o exercício de imersão no local discutido/estudado foi essencial para o entendimento dos fluxos de pessoas e automóveis, entendendo, assim, como acontece a relação entre o fluxo de pedestres e o espaço, essa relação, e o próprio fluxo de pedestres, é influenciada pelo fluxo de automóveis. Amadurecendo assim a vontade de chegar a um programa a partir das necessidades das pessoas que já habitam o centro, mesmo que por apenas algumas horas por dia, contribuindo para enriquecer as atividades que já se desenvolvem ali. Mais do que a arquitetura, quem dá vida, utilidade, que faz o espaço, são os usuários que da arquitetura se apropriam, ou não.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
2.2 - Conclusões/ impressões/ resultados
Levantamentos feitos, perímetro analisados, dados sistematizados em tabelas e mapas; de toda a leitura (de textos e ambientes), rabiscos, impressões anotadas a intenção de um programa se formava. A vontade de uma intervenção, ou uma série de intervenções, que transformem o centro da cidade de Uberlândia na boa festa que o dinamarquês Jan Gehl comenta em sua entrevista à revista Veja, um lugar que inspire às pessoas a permanência, que qualifica os espaços aos encontros, que fortaleça as relações entre vizinhos, usuários, que imprima nas pessoas, moradoras ou não, a sensação de apropriação e de identificação com o espaço. Na Holanda, os programas de habitação são pensados como instrumentos principais de recuperação urbana, sempre aliadas a serviços e uma rede de espaços públicos que sirvam a comunidade, de forma a diversificar o perfil de moradores e famílias consolidando a região como uma vizinhança. O próprio Gehl lança mão desse instrumento em seu plano de requalificação do centro de Melbourne na Austrália, em que cria meios de atrair a população, principalmente a de estudantes, como forma de diversificar o perfil da população e enriquecer os espaços públicos de encontro. Assim, parece claro que o programa deve contemplar edifícios de habitação articulados a espaços públicos e semi públicos que criassem áreas de encontro, permanência, lazer, esporte, passagem, contemplação, não só para os novos moradores, mas como equipamentos de qualificação do centro como um todo. A questão que surge agora é a respeito desses novos moradores, pra quem serão essas novas habitações, qual será o perfil, ou quão serão os perfis dos residentes do centro de Uberlândia. Os dados do censo da prefeitura mostram que quase 60% dos, poucos, moradores da área central estão entre os 19-29 anos e os 55-85.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
3 - Discussão de programa
Em conversa com corretores de imóvel da cidade, foi dito que a procura de imóveis residenciais no centro é cada vez menor, e que é feita em sua maioria por jovens, recémformados ou universitários, e idosos que podem desempenhar todas suas atividades pelo centro com tranquilidade a pé. A falta de edifícios com garagem repele os proprietários de automóveis. Os edifícios de alto padrão com grandes apartamentos não se vendem pelo preço alto que compete com as casas e terrenos nas áreas residenciais da cidade. Dessa forma o público “alvo” dessas habitações seriam sim os jovens e os idosos, mas também o grande número de famílias que não possuem ou usam automóvel particular para realizar suas atividades diárias, e que dependem, em vários graus, do transporte publico, preenchendo a lacuna etária atual e garantindo a diversidade de perfis de habitantes na área. O programa será composto, dessa forma, por edifícios de moradia, de perfil misto, com tipologias passiveis de abrigar desde idosos, estudantes, jovens recém-formados até famílias que participem de programas de habitações de interesse social. Os edifícios estariam articulados a áreas de uso misto de comercio e serviço, e espaços públicos de permanência, esporte e cultura. Com a disposição dos vazios e como eles se relacionam, há também a possibilidade de criar caminhos alternativos, que permeiam as quadras e avançam por várias partes do centro ligando-as e gerando em uma malha de passagem alternativa pelo centro para caminhantes e ciclistas. Complementarmente seriam propostos edifícios garagens que supririam as vagas dos estacionamentos utilizados, que aumentariam o coeficiente de aproveitamento desses terrenos, e abrigariam uma frota ainda maior que a abrigada hoje sem abrir mão da qualidade espacial do centro.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
3 - Discussão de programa
Com todo o estudo, analises e levantamentos da área foi possível a sugestão de programas para cada um dos vazios detectados a partir do programa básico discutido acima. Assim o mapa a seguir ilustra como seria a distribuição de habitações, espaços públicos, edifícios garagens, caminhos de pedestres, nunca de forma aleatória, mas sim atentando às relações entre as quadras, o entorno, a dinâmica atual e a dinâmica que a área teria a partir das intervenções.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
4 - Esboço de propostas
Como produto final desse trabalho, propõe-se a escolha de uma área particular de todo esse novo centro proposto em um primeiro momento, para um trabalho mais aproximado, detalhado e completo. Com o entendimento de que qualquer uma dessas intervenções resultaria em um grande impacto para seu entorno, criaria situações novas e interessantes de serem trabalhadas, e poderia ser objeto de trabalho para desenvolvimento do projeto, a escolha partiu de certa forma aleatória, considerando a minha identificação pessoal com cada uma das áreas. A principio aproximei-me de 3 regiões, analisando suas possibilidades e a partir destas cheguei a uma escolha final que será apresentada, estudada e discutida até que se finde o projeto.
rua quintino bocaiuva av. floriano peixoto
av. afonso pena
av. joão pinheiro
rua machado de assis
av. afonso pena
rua duque de caxias
rua santos dumont
rua tenente virmondes
av. joão pinheiro
rua machado de assis av. cesário alvim
av. floriano peixoto
rua tenente virmondes
rua goias
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
5 - Zoom
es
ui
rã ma
g rdo
rna
e ab
ru
rua olagário maciel
opção O1 54
rua duque de caxias
opção O2
opção O3
Enfim, a opção O1 que compreende as quadras 12/19/2O, foi a escolhida, em função de compreender uma área já consolidada no imaginário uberlandense como o quarteirão das lojas Americanas, ser uma área de grande dinâmica durante o dia, mas deserta durante a noite, como quase todo o centro, e pelas possibilidades que ela pode apresentar, tanto pela configuração de seus vazios, grandes e bem nos centros das quadras, que podem articular caminhos alternativos, quanto pela presença da viela residencial na quadra 2O de como a relação entre os novos caminhos e habitações podem acontecer com o que já acontece na área.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
5 - Zoom
Para iniciar essa etapa os terrenos das quadras 12/19/2O passaram por análises de ocupação, que mostrassem as possibilidades que cada um dos vazios destacados ofereciam ao programa proposto. Os estudos foram feitos em forma de testes de área e volumetria, analisando cada cenário conforme os espaços que proporcionavam, as ambiências, os desdobramentos que resultariam, a densidade populacional que gerariam. A seguir os dois cenários estudados:
1º cenário_ O primeiro teste foi feito seguindo as taxas máximas permitidas pelo plano diretos de Uberlândia para a área do Centro, que permite uma ocupação máxima de 60% da área do lote para edifícios de habitação multifamiliar. Nessa implantação os edifícios monopolizam o terreno, os recuos seriam mínimos e toda a espacialidade e a ambiência de espaços abertos, permeáveis buscadas nesse trabalho estariam comprometidas, tornando difícil a articulação de espaços comuns de convívio, áreas publicas e semi-publicas.Esse cenário foi então descartado, passando para o próximo. Em números: terreno X área ocupada quadra 12 2.551,14m² 1.530,61m² quadra 12 quadra 19 4.475m² 2.685m² quadra 2Oa 881,5m² 528,9m² quadra 2Ob 821m² 489,6m²
quadra 19
quadra 2O
a
b
Cenário O1: ocupação de 60% em todos os casos
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
6 - Possibilidades, boas intenções, estudos
2º Cenário_ Dando continuidade à experimentação, o próximo teste foi feito com uma ocupação inferior, que propõe a utilização de 45% do terreno com área construída para os edifícios de habitação e 40% para o edifício garagem. Considerando em ambos os casos o coeficiente de aproveitamento máximo permitido pelo plano diretor da cidade de 4,5. Como resultado os edifícios das quadras 12 e 19, garagem e habitação respectivamente, dialogam com o entorno e os edifícios verticalizados ao seu redor, o edifício garagem por exemplo podendo ser visto acima do prédio do banco Itaú por quem esta na praça Tubal Vilela, possibilitando a comunicação do meio da quadra com a praça. A relação 4,5 de coeficiente de aproveitamento distribuído em 45% da área do terreno, nos faz chegar como volume máximo em um edifício de dez pavimentos para as habitações multifamiliares. Em um primeiro momento esse gabarito me fez questionar como seria o contato desse andares mais elevados com a rua, será que o nível térreo seria alienado? E a relação com a viela residencial da quadra 2O se perderia com edifício vizinhos com gabaritos tão diferentes? Todos essas questões pretendem ser respondidas no desenvolver do desenho, com ligações, caminhos, pátios, que permeiam as quadras em vários níveis, distribuindo espaços públicos, semi-públicos a serem descobertos. Com a área total já determinada precisava chegar a uma idéia de densidade. Como disse Jane Jacobs em seu livro «The death and the life of great american cities», «(...) Densidades são muito baixas ou muito altas, quando frustam a diversidade da cidade ao invés de estimulá-la.(...) Quantidades certas são quantidades certas por causa de como se comportam. E o que é correto difere em instâncias específicas.» Assim fui buscar edifícios que com um programa semelhante de habitação mista, várias tipologias e áreas comuns de espaços públicos e semipúblicos, para então chegar a uma densidade que pudesse servir como base de partida para os edifícios propostos. Foram analisados a Unidade de Habitação de Marselha, de Le Corbusier e o Copan de Oscar Niemeyer, ambos escolhidos por serem importantes exemplos da arquitetura moderna enquanto proposta de edifício de uso misto, integrando habitações e usos públicos. No caso de Marselha, os 57.120m² construídos foram propostos para receber 1.600 habitantes, resultando em 35,7m² por habitante, O Copan, por sua vez, distribui seus 5.000 habitantes em 115.000m² construídos, chegando em 23m² por pessoa. Em ambos os casos a área total contempla circulação, garagem, espaços comuns e abertos. Dessa forma foi feito uma média simples dessas duas densidades, chegando aos 29m² construídos por habitantes como uma ponto de partida para as porposas. Quanto à área do edifício garagem foi usado a estimativa de 15m² por carro, conforme edifícios garagem que utilizam do sistema automatizado de elevadores, que permite essa maior densidade. O resultado desse cenário em números são mostrados na tabela a seguir:
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
6 - Possibilidades, boas intenções, estudos
Cenário O2: ocupação de 45% para habitação e 40% para garagem; coeficiente de aproveitamento de 4,5
terreno X quadra 12 2.551,14m² quadra 19 4.475m² quadra 2Oa 881,5m² quadra 2Ob 821m²
área ocupada X área construída X densidade 1.020,45m² 11.480,17m² 760 vagas 2.013,75m² 20.137,5m² 695 pessoas 396,67m² 3.966,75m² 135 pessoas 369,45m² 3.694,5m² 127pessoas
Agora que temos limites de áreas, ocupação, densidade, enfim. Quais são as possibilidades a serem exploradas e que boas intenções são essas? A algumas paginas atrás as intenções de programa foram expostas, aqui serão discutidas. Com uso de ilustrações de outros projetos, que mostram as possibilidades espaciais e experimentações volumétricas, recortes e montagens que possam nos dar impressões do resultado futuro.
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“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
6 - Possibilidades, boas intenções, estudos
ARTIGAS, Vilanova. «Caminhos da Arquitetura». são Paulo. CosacNaify (2004). 234p.
BRASIL. Constituição, 1988. BRASIL. Estatuto da Cidade: Lei 10.257/2001 que estabelece diretrizes gerais da política urbana. Brasília, Câmara dos Deputados, 2001, 1º Edição. EISNER, Will. «O Edifício - uma história sobre a vida e a morte de um edifício». Editora Abril (1987). 79p. ___________ «New York - A Grande Cidade». Martins Fontes (1989). 141p. ___________ «A vizinhança - Avenida Dropsie». Devir Ltda. (1995). 130p. FERRAZ, G. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. Gregori Warchavchik. Habitat, São Paulo, n.28, março. __________. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. Affonsso Eduardo Reidy. Habitat, São Paulo, n.29, abril. __________. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. III Rino Levi. Habitat, São Paulo, n.30, maio, p. 34-49. __________. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. MMM Roberto. Habitat, São Paulo, n.31, junho. __________. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. V Lúcio Costa Habitat, São Paulo, n.35, out. p.28-43. __________. (1956). Individualidades na história da atual arquitetura no Brasil. VI Roberto Burle Marx. Habitat, São Paulo, n.36, nov. p.12-23.
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
7 - Referências
GANZ, L.; SILVA, B. «Lotes Vagos». Belo Horizonte, ICC (2009). 111p.
GEHL, Jan. «La humanizacion del espacio urbano - la vida social entre los edificios». Barcelona, Editora Reverté S.A. (2006), 211p. GEHL, Jan; GEMZOE, Lars. «Novos espaços urbanos». Gustavo Gili, (2002). 263p. HERTZBERGER, Herman. «Lições de Arquitetura». CosacNaify, (2004). 234p. MARX, Murillo. «Nosso Chão - do sagrado ao profano». São Paulo, Edusp, (2003). 219p. ROGERS, Richard; GUMUCHDJIAN, Philip. «Cidades para um pequeno planeta». Gustavo Gili (2001). 180p.
“meu quintal é a rua” - transformação da vizinhança do centro
7 - Referências
Como produto final desse trabalho, propõe-se a escolha de uma área particular de todo esse novo centro proposto em um primeiro momento, para um trabalho mais aproximado, detalhado e completo. Com o entendimento de que qualquer uma dessas intervenções resultaria em um grande impacto para seu entorno, criaria situações novas e interessantes de serem trabalhadas, e poderia ser objeto de trabalho para desenvolvimento do projeto, a escolha foi feita considerando a minha identificação pessoal com cada uma das áreas. Enfim, optei pelas quadras 12/19, escolhidas em função de compreender uma área já consolidada no imaginário uberlandense como o quarteirão das lojas Americanas, ser uma área de grande dinâmica durante o dia, mas deserta durante a noite, como quase todo o centro, e pelas possibilidades que ela pode apresentar, tanto pela configuração de seus vazios, grandes e bem nos centros das quadras, que podem articular caminhos alternativos, quanto pela relação que oferecem com o entorno imediato, no caso a praça Tubal Vilela.
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5 - Zoom
Como já foi comentado, a Secretaria de Planejamento Urbano de Uberlândia juntamente com o escritório Finotti Arquitetura realizaram um projeto para as áreas do Centro, Fundinho e Aparecida. Esse projeto altera o perfil e o fluxo de várias ruas do Centro, incluindo ruas circundantes à área escolhida para ser trabalhada. O projeto parte da premissa de facilitar fluxos, de pedestres, ciclistas e automóveis, assim há a criação de ciclofaixas e o alargamento de calçadas. Esse alargamento além de ampliar o espaço do pedestre no centro, suprimi as faixas de estacionamento que margeiam o leito carroçável, com isso a Prefeitura entende que o transito de automóveis alcance maior fluidez, sem a interferência de entradas e saídas de automóveis nas vagas de estacionamentos laterais. Ainda pensando na hierarquização do fluxo de pessoas, o projeto indica a execução de travessias elevadas em todas as esquinas.
As ruas Olegário Maciel e Duque de Caxias passam pela mesma intervenção, com a eliminação da faixa de estacionamento a direita e com isso o alargamento dos passeios de pedestre, tanto no lado esquerdo quanto no lado direito. Na avenida Floriano Peixoto são eliminadas as faixas de estacionamento de ambos os lados. No lado direito serão criados pequenos bolsões de «estar» com o plantio de arvores que gerem sombra. Entre esses bolsões são mantidas vagas para carga e descarga, idosos e deficientes físicos. No lado direito a implantação de uma cilcofaixa e o alargamento do passeio de pedestres.
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9 - projeto para novo perfil das vias centrais fonte: secretaria de planejamento - prefeitura de uberlândia
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[em um furuto próximo]
Na quadra 12 toda a área de 2.551,14m² do seu miolo é, hoje, ocupada por um estacionamento privado, como mostrado nos levantamentos anteriores. A proposta é que toda essa área, com acesso em três das ruas que margeiam o quarteirão (av. Floriano Peixoto, r. Olegário Maciel e r. Duque de Caxias), seja devolvida à vida pública, como uma praça, com uma série de equipamentos urbanos de apoio, à permanência e apropriação do local, e aos usuários do centro.
7.1. - O estacionamento|primeiro subsolo Entendendo a necessidade real de áreas de estacionamento, é proposta uma garagem subterrânea. Em sistema modular automatizado (MAPS), as vagas ocupam a menor área possível, aumentando a capacidade de armazenagem. Esse sistema dispensa as lajes intermediárias nos pavimentos, funcionando de forma semelhante a de armazenagem de paletes, com uma estrutura independente metálica que recebe células de «vagas». O aproveitamento desse sistema é de 11,25m²/vaga de estacionamento. Com elevadores que se deslocam tanto vertical quanto horizontalmente tanto a guarda quanto a retirado do automóvel é toda automatizada e não há acesso dos motoristas à área de estacionamento. Com esse aproveitamento, em uma área total de 6mil metros quadrados, é possível a distribuição de 355 vagas de estacionamento em cinco subsolos de 1.200m². O acesso ao estacionamento será feito a partir de um primeiro subsolo, uma área intermediária entre o espaço público da praça e das ruas de acesso e a área do estacionamento em si. Além da organização de acessos o primeiro subsolo integra-se ao estacionamento subterrâneo já existente abaixo do banco Itaú, e ao estacionamento de motocicletas, unificando os fluxos de automóveis, que entrarão pela av. Floriano Peixoto e sairão pela r. Olegário Maciel. No pavimento há uma série de auto-serviços rápidos, como um lava-jato, um borracheiro e um auto-elétrico. Desse andar o acesso à praça é feito a partir de dois elevadores, e uma escada lateral ao teatro de arena que é «enterrado» no centro na praça. Ainda nesse nível com acesso a partir do próprio teatro, há uma área de apoio ao próprio teatro e um «inferninho» com bar, banheiros e pista, para festas, eventos e «farras pósespetáculos».
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6 - Quadra 12| A Praça
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7.2 - A praça Todo o programa e a implantação dos equipamentos da praça foram pensados a partir das análises in loco, tanto do entorno, dos fluxos, quanto da população da região, fixa ou de trabalhadores. Dessa forma a praça se configura em algo além de um espaço de lazer e ócio, mas um área de apoio aos usuário do centro como um todo, com equipamentos que tragam qualidade e mais facilidades a suas rotinas. As primeiras intervenções começam na própria Avenida Floriano Peixoto, entendendo as diretrizes propostas pela prefeitura, em que são criadas travessias elevadas em todas as esquinas, aqui propomos que esse conceito seja extrapolado nesse trecho, tornando toda a travessia da Floriano em frente a Praça Tubal Vilela um platô. Demarcando o espaço como espaço de pessoas, ciclistas e pedestres, facilitando o deslocamento que é feito em nível e forçando automóveis a reduzirem a velocidade e transitarem com mais atenção no trecho. No térreo a praça pode ser acessada por pedestres e ciclistas a partir das ruas Duque de Caxias e Olegário Maciel e pela avenida Floriano Peixoto, pelos dois lados do edifício do banco existente no local. No centro da quadra será implantado o Teatro de Arena, enterrado coberto por uma dobra do próprio piso, configurando-se em uma concha de proteção visual e acústica, e em uma arquibancada. Também na parte central, é pensada uma marquise, que gerará área de sombra para a permanência na praça e uma área de estar em nível elevado, acessado pelos elevadores. Essa praça elevada, além de estar pode ser palco de shows, peças e apresentações. A marquise ainda se articula com uma passarela elevada, que atravessa a rua Duque de Caxias e dá acesso ao edifício proposto na quadra 19. Na área nordeste da praça próximo à um dos acessos da avenida Floriano Peixoto, e ao acesso da rua Duque de Caxias são implantados os equipamentos de apoio e serviço. Bicicletário e bicicleteiro, vestiários, lavanderia e boxes a serem apropriados por serviços rápidos como sapateiro, chaveiro ou mesmo uma banca de jornal. No extremo oposto, sob cobertura em concreto aparente, são dispostos núcleos de apoio à bares, café ou lanchonetes, «caixas» contendo bancada, pia e área de armazenagem ou geladeira, espaços mínimos para serem apropriados de maneira informal. Ainda como equipamento de apoio aos usuários, é proposta uma parede de micro-ondas sob a marquise, na área sombreada. Algo que funcione como máquinas de sagadinhos, refrigerantes e doces, em que o usuário deposite moedas em troca do uso do aparelho. possibilitando aos trabalhadores dos arredores uma área de permanência e de realizar suas refeições nos horários de almoço. Conforme entendido na pesquisa preliminar, um dos personagens mais presentes no centro, principalmente nas praças, são os ambulantes. Assim, é proposta a distribuição de módulos eletro-hidráulicos, com saídas de água e eletricidade servindo de apoio a instalação de vendedores ambulantes, mas também no apoio de eventos que possam ser desenvolvidos na praça.
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6 - Quadra 12| A Praça
Vista aérea mostrando relação entre a praça proposta e a praça Tubal Vilela, espaço público já existente e consolidado da cidade. 45
7.3 - Os Materiais|A Estrutura O material predominante na paginação de piso da praça é a pedra portuguesa. Seguindo o padrão de listas branco e pretas da praça Tubal Vilela, que atravessam a Av. Floriano e continuam pela praça que acontece dentro do quarteirão, traçando a continuidade e complementação de espaços públicos e abertos. Na linha da concha acústica do teatro, onde o piso se eleva em cobertura, a paginação segue a angulação da dobra, mexendo com as perspectivas e noções de piso e cobertura. Ainda usando a pedra portuguesa, dessa vez a vermelha, traçasse a sinalização da ciclofaixa, que também atravessa a Floriano Peixoto, e indicando o acesso à praça mais próximo da área de serviços, próximo do bicicletário e do bicicleteiro. O piso abaixo da marquise é em concreto e seixo rolado, assim como o da escadaria e da área de palco do teatro de arena. Todas as paredes e vedações são ou em concreto armado moldado in loco ou em elemento vazado também de concreto. A marquise e a passarela têm o piso em concreto polido com resina sem brilho. Guarda corpos em aço corten e em vidro temperado. Ambas são estruturadas por uma malha metálica de viga/pilar, que estrapola o perímetro das mesmas e articula os espaços da praça, delimitando as áreas dos equipamentos e serviços propostos.
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6 - Quadra 12| A Praça
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6 - Quadra 12| A Praça
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6 - Quadra 12| A Praça
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6 - Quadra 12| A Praça
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6 - Quadra 12| A Praça
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6 - Quadra 12| A Praça
Na quadra 19 o terreno vem da desapropriação de três estacionamentos particulares, dois deles atravessando o quarteirão. O resultado é um terreno de 4.475m² em L, com fachada nas ruas Duque de Caxias e Machado de Assis e na Avenida Floriano Peixoto. Partindo da área, o primeiro passo foi estabelecer os limites a serem ocupados. Conforme plano diretor do município, é permitida a ocupação de até 60% da área do lotes na zona central, no caso de edifício de habitação multifamiliar; e a utilização de coeficiente de aproveitamento de 4,5. Resultando assim em uma área total de 20.137m² a serem divididos em pavimentos de até 2.685m² de área ocupada.
av. floriano peixoto 5m
r=
5m
passarela suspensa
5m
r=
5m
5m
r=
r=
Em seguida parti para os estudos de implantação, como esses 2.685m² poderiam ser ocupados da melhor forma, tanto em aproveitamento de área, quanto em qualidade de espaços. Assim foram traçadas as primeiras diretrizes de ocupação, com a idéia de desenvolver o projeto em três blocos de edifícios, quase laminares, de forma que os três desfrutassem das melhores condições de insolação, ventilação, acessos. Mas que de alguma forma esses edifícios fossem permeáveis, gerando contato, visual ou de acesso, entre o meio da quadra e as ruas, a esquina. Por fim, a implantação de todos os andares deveria respeitar um respiro, um diâmetro de 10metros entre os blocos em si, os blocos e a esquina, ou os limites do terreno, formando pátios no térreo, que pudessem ser tratados, ocupados e apropriados como praças internas. Um dos acessos principais é determinado pela passarela suspensa que passa sobre a rua Duque de Caxias vindo da praça [quadra 12] e chega aos 5 metros de altura próximo ao limite do terreno. av. cesário alvim
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r. machado de assis
r. duque de caxias
r=
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7 - Quadra 19|O edifício
Entendido o terreno, e determinada a forma geral de sua ocupação, estabeleci algumas diretrizes de projeto. A primeira delas foi a hierarquização de circulações. Partindo do eixo já traçado pela passarela elevada que vem da praça, determinando esse eixo, juntamente com a circulação do térreo, os eixos horizontais principais, uma vez que são a ligação direta entre o edifício e a cidade, seja térreo ou a 5 metro do chão. Os eixos secundários se formam por passarelas que conectam os três blocos nos níveis superiores, o eixo terciário é de circulação que é o acesso aos apartamentos. Por fim a circulação vertical seria feita a partir de caixas de escada e elevadores externas ao corpo do edifício, sendo acessadas pelas passarelas elevadas. O posicionamento das mesmas foi feito de forma que o caminho percorrido entre os apartamentos e o elevador ou escada mais próximo não ultrapasse 30 metros. Como o conceito de rua aérea já tão discutido pelos Smithsons e inclusive aplicado em seu projeto de Golden Lane, essa proposta de circulação tenta rebater a realidade do térreo nos vários níveis do edifício. Criando uma malha de caminhos mais complexa que o simples corredor de prédio, um único e direto caminho entre o elevador e a porta do apartamento, mas sim escolhas de percursos, que passam por vias de maior e menor fluxo. Porém, diferente do projeto de Golden Lane ou das outras propostas e discussões dos Smithsons, não há pretensão de se suprir a existência do nível da rua, mas sim trazer algo de sua ambiência, vida, fluxo, apropriação dos espaços, para os demais níveis.
caixas de circulação vertical
caixas de circulação vertical e passarelas em nível
“As unidades de habitação funcionam melhor quando as ruas em que estão localizadas funcionam bem como espaços de convivência(...).” Herman Hertzberg - Lições de Arquitetura
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7 - Quadra 19|O edifício
Essas diretrizes de circulação permitiram que outra proposta fosse pensada, os acessos serão feitos de forma a existir um espaço de transição entre público e privado, um lugar semi-publico, como um hall, um alpendre, que possa ser apropriado pelos moradores, ou não, da forma que desejar, já dando a identidade à moradia em sua entrada. Essa discussão é muito forte nos projetos que Hertzberger traz em seu livro «Lições de Arquitetura», como os espaços residuais podem ser apropriados e incorporados ao projeto em si, alpendres, pequenas escadas, terraços, que não estão formalmente na área da residência, mas que contribuem para a impressão da identidade dos moradores no espaço conforme a sua necessidade ou vontade de apropriação. Assim o primeiro nível de habitações é implantado 1,25metros elevado do solo, proporcionando à essas habitações um certo distanciamento da rua pública e uma área de transição de usos publico e privado. Nos demais níveis o desenho da passarela, com diferente larguras, demarcam esse espaço transitório.
Moradia Haarlemmer Houttuinen - amsterdam, holanda. Herman Herztberger
Moradia Haarlemmer houttuinen - amsterdam, holanda. Herman Herztberger
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De Drien Hoven «lar para idosos» - amsterdam, holanda. Herman Herztberger
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7 - Quadra 19|O edifício
Os edifícios em si são formados pelo arranjo de blocos base, módulos primeiros que resultam nas unidades de habitação. O bloco base por ser o módulo primeiro que forma as habitações foi articulado de acordo com uma modulação 3,75 X 11,25 metros, medidas entre os eixos das paredes. Essa modulação retangular responde ao formato do terreno, e permite que duas fachadas do bloco sejam amplas e possibilitem uma maior permeabilidade tanto para iluminação quanto para ventilação. O bloco base se desdobra em 5 tipologias de habitação. Usando 01, 02, 03 ou 04 blocos bases chegamos a habitações de 40m², 80m², 120m² e 160m² que são arranjados da seguinte forma: habitação tipo O1 - O1 bloco base=4Om² perspectiva da unidades O2b habitação tipo O2 - O2 bloco base=8Om² tipo O2a - arranjados horizontalmente
tipo O2b - arranjados verticalmente
habitação tipo O3 - O3 bloco base=12Om² arranjados como apartamento duplex, com dois blocos em um nível e um no outro
perspectiva da unidades O3
habitação tipo O4 - O4 bloco base=16Om² arranjados como apartamento duplex, com dois blocos em um nível e dois no outro
perspectiva da unidades O4
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7 - Quadra 19|O edifício
Essas tipologias se propõe a responder a demanda que foi discutida anteriormente, os usuários que já procuram o centro para morar, jovens e idosos, e as habitações de interesse social que responderiam a questão do acesso democrático às terras do centro, e preencheriam a lacuna etária, diversificando o perfil dos moradores. As tipologias são, assim, determinadas apenas quanto a sua área, sendo as possibilidades de layout e divisões internas do cômodos, livres, dependendo das necessidades dos usuários.
Com a leitura do texto «Reflexiones para proyectar viviendas de siglo XXI», de Josep Montaner, foi possível chegar a idéias de densidade. Segundo as diretrizes que Montaner traça para uma habitação de qualidade, 4% da área ocupada pelas habitações deve ser destinada a espaço comum, pequenas áreas de convívio e estar, uma porcentagem mínima que pode ser extrapolar. Somado a isso áreas de circulação, apoio (pequenos comércios e serviços) e áreas abertas, públicas, de lazer e ócio, chego a uma porcentagem de 40% da área total edificada destinada a esses usos. Assim nos 60% restantes ou 12.082,2m² - dos 20.137,5m² totais - serão distribuídos 287 blocos bases, que por sua vez se dividem proporcionalmente nas 4 tipologias apresentadas anteriormente. habitação tipo O1 - 66 unidades habitação tipo O2 - 37 unidades
2O tipo 2a 17 tipo 2b
habitação tipo O3 - 23 unidades habitação tipo O4 - 13 unidades A unidades são implantadas em doze pavimentos, em todos os pavimentos serão também distribuídos 26 blocos bases, como pequenas unidades de serviços e comércios, em que se sugere a implantação de lanchonetes, bares, lavanderias, pequenos mercados, video locadoras e até mesmo um pequeno cinema com área externa de projeção. Duas quadras poli-esportivas são implantadas no penúltimo pavimento do edifício, juntamente com dois vestiários públicos de apoio. No térreo são determinadas unidades de comércio voltadas para a rua e serviços como cafés e bares nos largos formados pela implantação do edifício, nessa área aberta é proposta também uma pequena pista de skate. Uma vez que o primeiro nível de habitações esta a 1,25 metros acima do solo, a térreo em si, se configura como área aberta livra, com espaços de estar, lazer, comércio, passagem, etc.
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vista das unidades|pista de skate|acesso da rua machado de assis
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7 - Quadra 19|O edifício
Depois de definidas as implantações dos níveis, toda a questão de infra-estrutura foi resolvida a partir de shatfs bipartidos, como núcleos técnicos, que independentes uns dos outros distribuem verticalmente tubulações hidráulicas, gás de cozinha, esgoto e lógica. Há um intervalo de 7,5 metros entre cada um desses shafts que acontecem no centro do blocos, tendo assim habitações de cada um dos lados dele. Dentro das habitações, em cada um dos níveis, a «rede técnica» é distribuída horizontalmente, determinado assim o posicionamento das áreas molhadas. Todas esses shafts chegam a um porão técnico, a 2,45m abaixo do nível so solo, onde se encontra as caixas de medição e inspeção de cada um deles, assim como uma área de apoio e serviço ao próprio edifício, com banheiros de serviço e D.M.L..
esgoto
elétrica
pluvial
lógica
gás água
núcleo de infra
energia/lógica/gás
água/esgoto/pluvial
caixa d’água
porão técnico
caixa de medição/manutenção
perspectiva edifícios com os shafts bipartidos
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7 - Quadra 19|O edifício
O edifício é estruturado por uma malha metálica, com modulação de 7,5 x 3,75 metros, de vigas e pilares, que hora extrapolam a área construída, hora são extrapoladas por ela. A estrutura dos três blocos se amarram formando um único bloco que distribui todos os esforços, reforçando, contraventando e balanceando as situações limites dos balanços. As lajes são todas em steel deck com 15cm de espessura. A estrutura também serve de apoio para as passarelas de ligação externas, que são chapas metálicas perfuradas, tornando-as mais permeável a luz.
perspectiva do conjunto estrutural - pilares|vigas|lajes
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7 - Quadra 19|O edifício
Por fim, todas as fachadas livres são fechadas com panos de vidro, de folhas que correm nos dois sentidos. Como existem fachadas com quatro orientações diferentes, a insolação pode ser controlada com dois tipos diferentes de esquadrias, ambas venezianas de madeira, correndo em trilhos paralelos, contudo as orientações com insolação mais severa terão aletas verticais moveis, que pode ser posicionadas e anguladas de acordo com a incidência do sol, enquanto aquelas voltadas para a insolação branda tem suas aletas horizontais e fixas. Essas venezianas além da proteção solar servem também como elemento que garante a privacidade e o escurecimento dos ambientes.
insolação severa
fachada rua Duque de Caxias
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7 - Quadra 19|O edifício
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