TGI_II - Do invisível ao visível: urbanização de favela na região metropolitana de Campinas

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Venturini Bussaglia, Giovanni Do invisível ao visível: urbanização de favela na região metropolitana de Campinas / Giovanni Venturini Bussaglia - São Carlos, 2018. 96p. Trabalho de Graduação Integrado (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2018.

DO INVISÍVEL AO VÍSIVEL 1. Urbanização de Favela 2. Espaços Públicos 3. Infraestrutura Urbana 4. Habitação urbanização de favela na região metropolitana de campinas

“Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte”



Do invisível ao visível: urbanização de favela na região metropolitana de Campinas

Trabalho de Graduação Integrado Giovanni Venturini Bussaglia dezembro 2018 IAU-USP


Venturini Bussaglia, Giovanni Do invisível ao visível: urbanização de favela na região metropolitana de Campinas / Giovanni Venturini Bussaglia - São Carlos, 2018. 96p. Trabalho de Graduação Integrado (Graduação em Arquitetura e Urbanismo) - Instituto de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo, 2018. 1. Urbanização de Favela 2. Espaços Públicos 3. Infraestrutura Urbana 4. Habitação

“Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio, convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte”



Composição CAP David Moreno Sperlling Joubert José Lancha Lúcia Zanin Shimbo Luciana Bongiovanni Martins Schenk Simone Helena Tanoue Vizioli Composição Banca

Luciana Bongiovanni Martins Schenk (Instituto de Arquitetura e Urbanismo - USP)

Manoel Rodrigues Alves (Instituto de Arquitetura e Urbanismo - USP)

Catherine Otondo (Convidada externa)



agradecimento


Aos meus pais, Eli e Jane, e aos meus irmãos, Talita e Junior. Aos meus professores, em especial Manoel, Lúcia, Luciana e Cibele. Aos meus amigos e amigas, especialmente às colegas de TGI: Bia, Soy e Rafa. À minha companheira Beatriz. À todos os meus amigos da República Deus Tá Vendo.


sumรกrio

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questรฃo

30 tema

40 lugar


+

leituras

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propostas

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referĂŞncias


resumo resumo


resumo Este trabalho parte, em primeiro lugar, de uma leitura comum sobre a forma de produção da cidade contemporânea. O capital encontra alguns problemas para sua reprodução, o efeito disso passa a ser uma cidade que é cheia de contradições. Com acelerada urbanização nas décadas de 1970 e 80, é possível perceber manifestações de fenômenos que se assemelham nas diversas cidades brasileiras. Com isso, notando situações de retirada de direitos, de domínios que silenciam camadas da sociedade, o trabalho busca repensar a direção das nossas cidades e do trabalho do arquiteto. Para isso, a partir do caso de uma favela na região metropolitana de Campinas, que recentemente sofreu a retirada de diversas famílias e teve como efeito a promoção de um empreendimento MCMV, propõe uma alternativa urbana como projeto de cidade e de garantia de direitos.


questão


foto: ricardo stuckert


A primeira pergunta que fiz no início do meu trabalho foi: Quais são as formas de atuação na cidade contemporânea na qualidade de arquiteto? A segunda pergunta foi:

O que é essa cidade?

Cacciari (2010, p. 9) começa seu livro fazendo a afirmação: “Não existe ‘A Cidade’, se não diversas e diferenciadas formas de vida urbana”. Como chegamos até a cidade contemporânea? Os caminhos de hoje são efeitos dos caminhos passados que traçamos? Até que ponto? O que isso influencia? Quando um grego fala de polis, em primeiro lugar se refere à sede, à morada, ao lugar no qual tem a raíz do genos – uma gente (gens/ genos). A polis é aquele lugar onde um determinado grupo de habitantes, específico por suas tradições, por seus costumes, tem sua sede, seu próprio ethos. O ethos grego é a sede, antes que todo costume e tradição, o lugar onde a “minha gente” tem sua morada tradicional. E a polis é precisamente o lugar do ethos, o lugar que serve como sede a uma gente. O termo civitas, por sua vez, não compreende a mesma determinação ontológica e genealógica. A diferença é radical porque, se refletirmos, o termo latino civitas se manifesta a partir do civis, e cives formam um conjunto de pessoas que se reúnem para dar vida a cidade. Civitas, em qualquer caso, aparece como o produto dos cives em sua concorrência conjunta em um mesmo lugar e submetendo às mesmas leis. Dessa maneira, temos que, se de um lado civitas se refere a cidade, de outro, a polis está ligada ao cidadão: “Pertenço a esta polis porque ali está a sede de meus genos” Cacciari faz com que caímos numa indefinição sobre a cidade: “Damos a ela um valor fortemente étnico ou a entendemos no sentido de civitas?


Acontece que a civitas é a produção de toda uma confluência de elementos diversos, de tradições e línguas diversas. É por estarem sob uma mesma ideia, sob uma mesma estratégia, que se mantém unidos estes tão diversos; não pela sua origem, mas por um objetivo comum. Eles se reúnem para perseguir um fim. Porém, se há um fim qual seria esse fim a se alcançar? O imperium sine fine. Isso quer dizer, a Urbs deve se converter naquilo que outorga as leis, aquele que impõe a todo mundo a submissão às mesmas leis. Nessa ideia está implícito que o que rege a civitas não é um fundamento originário, senão um objetivo: viver em comum porque por meio desse acordo podemos rumar um grande fim. Trata-se da origem, da raíz, do que chamamos “globalização”. Sendo assim, para Cacciari, trata-se de fazer da orbis uma urbs a fim de o círculo mágico que encerrava e aprisionava os limites da cidade nos poleis coincida com o círculo do mundo em toda sua dimensão espacial e temporal. Foi essa a grande ideia romana que adentrou o DNA ocidental e que, sob mutações, sistemas, modos de produção, perpetuou.

“Se há uma produção da cidade, e das relações sociais na cidade, é uma produção e reprodução de seres humanos por seres humanos, mais do que uma produção de objetos. A cidade tem uma história; ela é a obra de uma história, isto é, de pessoas e de grupos bem determinados que realizam essa obra nas condições históricas”. (Lefebvre, H. 2001: 52)

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“Após a última guerra, todos sentem que o quadro das coisas se modifica em função de urgências, de coações diversas: impulso demográfico, impulso da industrialização, afluxo dos interioranos para Paris. A crise habitacional, confessada, verificada, transforma-se em catástrofe e corre o risco de agravar a situação política ainda instável. As “urgências” transbordam as iniciativas do capitalismo e da empresa privada, a qual aliás não se interessa pela construção, considerada insuficientemente rendosa. O Estado não pode mais se contentar com regulamentar os loteamentos e a construção de conjuntos, com lutar (mal) contra a especulação imobiliária. Através de organismos interpostos, toma a seu cargo a construção de habitações. Começa o período dos “novos conjuntos” e das “novas cidades”. (Lefebvre, H. 2001: 25)

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O que se pode observar, nas palavras de Kurz (1991), é o "colapso da modernização". Da condição moderna para a “condição pós-moderna”, houve uma reestruturação tecnológica e industrial, fruto do Capitalismo Avançado. Assim como o Taylorismo e o Fordismo moldaram um novo homem e uma nova sociedade, a globalização também está produzindo, como coloca Maricato, um novo homem e uma nova sociedade por meio de transformações nos Estados, nos mercados, nos processos de trabalho, na estética, nos valores, na cultura, na subjetividade individual e social, na ocupação do território, na produção do ambiente construído (Maricato, E. 2009). Após a segunda guerra até a década de 1970, as nações capitalistas industrializadas puderam crescer exponencialmente, com base na reconstrução da infraestrutura e do potencial produtivo destruídos durante a guerra, com a implantação do Estado de Bem Estar. Foram os chamados “anos dourados” (Hobsbawn, E. 1995) do Capitalismo. Entretanto, completada a reconstrução, esse ritmo de crescimento começou a esgotar-se, face às dificuldades de escoamento da produção. Em um projeto, sobretudo nas figuras de Reagan e Thatcher, a saída – nova estratégia de acumulação – encontrada, foi a manutenção da demanda para a produção mundial através de um déficit comercial às custas do abandono do acordo Bretton Woods (1973) e a paridade dólar-ouro, resultando em seu próprio endividamento, de financeirização da economia, de aliviamento do Estado através de políticas liberais de desregulação, e com os avanços tecnológicos da revolução informacional. Isso fez com que o sistema se enquadrasse em novas maneiras de acumulação, dando um novo fôlego e garantindo uma sobrevida.


Como o capitalismo se baseia justamente na generalização da forma-mercadoria (Deák, 2001 apud Ferreira, 2004), o impasse do sub-consumo e a necessidade de manter o ciclo econômico de escoamento da produção fizeram com que o sistema substituísse o ícone da produtividade pelo da competitividade. Entretanto, será que realmente houve uma substituição dos ícones? Será que não houve uma justaposição, visto as novas tecnologias e inovações na gestão do trabalho e da produção. Acontece que, em um dado momento, vender passou a ser mais importante do que produzir. Com isso, a busca do "mercado mundial" se tornou tão prioritária quanto a necessidade de competitividade. Pelo lado da produção, o salto no desenvolvimento da informática, a partir da década de 70, permitiu significativas transformações. A robotização e as novas possibilidades de comunicação e transporte fizeram com que o setor produtivo se reordenasse espacialmente, ocupando plantas industriais mais reduzidas e segmentando a produção pelo mundo. Soma-se a isso as chamadas “inovações na gestão do trabalho e da produção como modos de socialização” (Vilela, F. 2007). A partir daí, as tecnologias de produção, comunicação, conservação, transporte permitiram uma organização infinitamente mais precisa, descentralizada e complexa da produção e de seu escoamento pelo mundo. Essas mudanças desestruturam, em especial nos países industrializados, as relações fordistas de espaço e tempo, cuja rigidez foi substituída por uma nova ordem flexível de acumulação, processo a que Harvey denominou de "reestruturação produtiva" (Harvey,1992 apud Ferreira, 2004).

“Se por um lado os avanços tecnológicos no setor produtivo geraram uma crise estrutural em função do paradoxo aumento da produtividade/desemprego, por outro lado elas também abriram a porta para uma saída, mesmo que provisória, ao permitir novos arranjos espaciais/temporais que sustentaram a expansão do sistema capitalista para a periferia, permitindo um certo fôlego industrial e o acesso à novos mercados. Essas decisões das empresas dão uma primeira amostra do caráter político e ideológico do processo, já que essa expansão exacerbou as relações de dominação/ dependência”. (Ferreira, J. S. W. 2004: 134)

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O importante de notar é que tudo isso não se trata, necessariamente, de novidades no cenário capitalista. Trata-se, fundamentalmente, e é importante ter clareza disso, de uma ideologia dominante que dá essas características ao fenômeno e homogeneiza o discurso de “globalização”. Primeiramente, deve-se observar que a diferença entre a matriz econômica imposta pelos países hegemônicos da economia mundial e a realidade dos países periféricos, não é uma novidade própria do atual estágio da globalização, mas sim a lógica de um sistema “desigual e combinado”, que depende da contínua expansão, se necessário à força, do “mercado mundial”. Seria a perpetuação da civitas? Do imperium sine fine? Em paralelo aos “anos dourados” do Bem-Estar Social, o que se deu no Brasil foi a chamada “industrialização com baixos salários” (Maricato, 1996), que promoveu a “modernização do arcaico ou arcaização do moderno” (Schwartz, apud Maricato, 1996). Foi, para Ferreira (2004), a justaposição de um processo industrializante baseado na exploração da mão-de-obra barata e na exportação (em detrimento da formação de um mercado interno com poder aquisitivo para consumir) por sobre uma estrutura social arcaica estruturada em relações de desigualdade e dominação herdadas do Brasil colonial e uma estrutura econômica subalterna no sistema capitalista internacional (Sampaio Jr., 2000 apud Ferreira, 2004), dominada por uma elite nacional interessada apenas na manutenção de sua hegemonia através de um mercado – e de uma nação – inacabados (Deák, 1991 apud Ferreira, 2004).

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Acontece que, como aponta (Deák 1990 apud Ferreira, 2004) a sistemática expatriação dos excedentes gerados no país produz um impasse estrutural, pelo qual a economia brasileira, mesmo expandindo minimamente seu mercado interno nunca poderia – na ótica das elites – atingir ainda assim o estágio de acumulação intensiva necessário à construção da nação, já que não produziria mais os excedentes passíveis de expatriação que garantem a dominação dessas elites (Ferreira, J. S. W. 2004). Portanto, é nesse cenário de antagonismo nada novo que se insere o discurso da globalização, e por isso a necessidade de cuidado com o discurso. Trata-se, na verdade, da continuidade do mesmo processo, com a (re)imposição de uma nova matriz capitalista de incorporação de progressos técnicos – como visto acima – sobre uma sociedade que sequer resolveu ainda sua histórica situação de subdesenvolvimento – na sociedade brasileira o mais arcaico convive com o mais moderno (Oliveira, F. 1973) –, e que alia a extrema dependência externa à profunda desigualdade interna. Assim, como diz Ferreira (2004), assistimos a um descompasso entre as teorias e práticas políticas, econômicas e urbanas induzidas pela globalização e a realidade brasileira, já que elas não partem da premissa básica de que as condições iniciais para o surgimento de um eventual paradigma pósfordista de produção e de ocupação do espaço urbano não são as mesmas no centro e na periferia do sistema (Maricato, E. 2000). Difundem-se modelos de (des)regulação da economia e conseqüentemente da produção do espaço urbano que respondem à realidade de uma pequena minoria, assentando-se em bases de atraso e desigualdade de caráter estrutural. Não se trata, fundamentalmente, de um recuo do Estado face ao avanço da economia liberal. Pelo contrário, para que ela consiga agir como age, é necessário uma parceria com o Estado e um esforço deste.

“Os Estados não foram diminuídos como fez crer o ideário neoliberal, mas adaptaram-se às exigências das grandes corporações e do capital financeiro. Enfraqueceram-se apenas em relação às políticas sociais. Naquilo que interessa às grandes corporações e ao capital financeiro os Estados foram fortalecidos com a ajuda midiática. As suspeitas ações de privatização de empresas públicas no Brasil, largamente financiadas pelo próprio Estado, no início dos anos 90, foram precedidas de uma ampla campanha na mídia envolvendo, inclusive, os comunicadores mais populares, encarregados em desmoralizar o Estado e exaltar a capacidade da iniciativa privada”. (BIONDI, 1999 apud Maricato, 2007)

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“Será a cidade contemporânea como o aeroporto contemporâneo ‘igual a todos os outros’? (...) E se esta homogeneização aparentemente acidental – e geralmente deplorada – fosse um processo intencional, um movimento consciente de distanciamento da diferença e aproximação da semelhança? (...) O que resta se removermos a Identidade? O Genérico?” (Koolhaas, Rem)

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Para Harvey (1993), hoje, é norma procurar estratégias "pluralistas" e "orgânicas" para a abordagem do desenvolvimento urbano como uma "colagem" de espaços e misturas altamente diferenciados, em vez de perseguir planos grandiosos baseados no zoneamento funcional de atividades diferentes. Nesse momento, já não se busca mais um domínio total, uma vontade substancial de planejar o todo, ou seja, descartar o que se veio anteriormente introduzindo agressivamente algo soberano no local. Trata-se de atuar mais discretamente do ponto de vista da interferência e da amplitude das ações para entender que pequenas coisas também podem ser executadas a fim de provocar tamanha sensibilidade. Para Arantes (1998), é a apologia da cidade caótica, plural como uma colagem, fragmentária, soft, etc. Para ela, pois bem, cabe perguntar se não se está substituindo a ideologia do plano por uma outra, a ideologia da diversidade, das identidades locais, em que os conflitos são “escamoteados por uma espécie de estetização do heterogêneo”, recoberto pela “transformação da superfície desencantada das nossas cidades em cenários fascinantes de uma sociabilidade viva que há muito deixou de existir”, em virtude justamente desse traço desertificante da modernização. Nos encontramos já na presença de um espaço indefinido, homogêneo, indiferente em seus lugares, de onde os acontecimentos sucedem a base de lógicas que já não correspondem a nenhum projeto global unitário – não corresponde a nenhuma metanarrativa – como no moderno. Será?


Foucault (1972, 159 apud Harvey, 1993) rompe com a noção de que o poder esteja situado em última análise no âmbito do Estado, e nos conclama a "conduzir uma análise ascendente do poder, começando pelos seus mecanismos infinitesimais, cada qual com a sua própria história, sua própria trajetória, suas próprias técnicas e táticas, e ver como esses mecanismos de poder foram – e continuam a ser – investidos, colonizados, utilizados, involuídos, transformados, deslocados, estendidos etc. por mecanismos cada vez mais gerais e por formas de domínio global". Entretanto, há ou não há um projeto global? Ou melhor dizendo, há um projeto global na arquitetura? Acontece que a aproximação entre a cultura popular e a produção cultural do período contemporâneo parece carecer de todo impulso vanguardista ou revolucionário. Não seria, portanto, o pós-modernismo uma simples e direta rendição à mercadificação, à comercialização e ao mercado? Não se trata essencialmente de uma sensibilidade condicionada historicamente pelo Capitalismo avançado? Tudo se passa como se a ideologia do espaço público fosse enunciada diretamente pela fisionomia das cidades, definida agora por uma estratégia empresarial de novo tipo, que vai determinando com lógica própria os parâmetros de sua intervenção, realocando populações e equipamentos segundo as grandes flutuações do mercado.

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Já diria Lago (2012) “a cidade é produto e produtora de conflito e assim sendo, nossos aglomerados urbanos devem ser apreendidos como cidade”. Cidade como defende Rosa (2014) quando cita Fortuna e Leite (2009): “Plural de cidade são as cidades que existem dentro da cidade [...] são os territórios díspares que fazem a cidade, as políticas sócio-urbanas e sua ausência, o atropelo aos direitos e as paisagens de privilégio, as formas de segregação e ostentação, a cultura, a saúde, o emprego, o dinheiro, o futuro e, ao mesmo tempo, a falta de todos eles”. “A cidade contemporânea, como fenômeno cultural, responde a parâmetros que assinalam características próprias de uma época de transição. Nela, embora o espaço da cidade seja produto e reprodutor das dinâmicas que regem o seu tempo, a experiência da vida urbana, a relação de pertencimento ao espaço urbano, à sua cidade, persistem em meio a um conjunto de transformações que incidem nas dimensões técnicas e tecnológicas, nos aspectos sociais e ambientais, na desvalorização do espectro de ação do Estado, na desconfiança nos sistemas institucionais, na concentração de renda e disfunções de atividades, no empobrecimento dos sistemas simbólicos, na polarização social e retração das formas de vida coletiva, instrumentalização dos espaços de ação e redução do valor do público. Essa cidade, de fragmentações reais e aparentes, apresenta novas espacialidades e sociabilidades atreladas ao sistema econômico-produtivo, de onde emergem novas situações urbanas, e onde as relações socioespaciais anteriores exigem ser reinterpretadas” (ALVES, M. R.; RIZEK, C. S. 2011)

A hipótese é que, com o advento do neoliberalismo – que de liberal, como vimos, tem pouco – e da sua mundialização, tudo é passível de ser generalizado, incorporado, passível de se tornar um novo nicho de mercado. Portanto, até que ponto estamos diante de uma periferia, de uma exclusão?

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Tomando como exemplo os movimentos de luta por moradia. Se em um momento víamos uma política extremamente excludente e separada dos anseios populares fazendo gerar um associativismo entre esses iguais marginalizados e que buscam um fortalecimento da luta, podemos ver hoje que há uma política diferente em diversos sentidos, mas que incorpora novos mecanismos que servem para excluir, marginalizar, mas que, diferentemente, redefine o que era natural como característica, como perfil do movimento, muda seu “código genético”. O que há de novo é que a autogestão aqui é mobilizada pelas organizações populares de forma pragmática e “desencantada” do sentido político imaginativo anterior. Isso porque quase todos os movimentos convergem para uma tendência de produção de massa (que privilegia aspectos quantitativos em números de unidades e tempo de execução) - entidades habilitadas junto ao Ministério das Cidades, muitas vezes com trajetórias e filiações políticas distintas, têm estabelecido parcerias, compondo e constituindo “demandas”, indicando famílias de suas bases, para que se viabilizem conjuntos que chegam à marca de mil unidades habitacionais, dividindo o empreendimento em diversos contratos para que sejam respeitados os limites de 300 unidades da normativa que regulamenta o programa - que não deixa de ser similar a do modelo imposto pela aliança entre governo e construtoras. Nesse contexto, vão deixando de lado a prioridade na autogestão, que é lenta e tem dificuldades próprias da construção democrática de base. O que podemos perceber, de fato, quando pegamos o PMCMV, é que ele não acirra a disputa de classe e de interesses, pelo contrário, parece contentar trabalhadores e empresários em torno de uma “conciliação de classes”.

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Nós conseguimos entender o que Harvey (2011) explica sobre a (re)configuração dos movimentos pela exploração e manipulação do capital se tomamos como base Arruda (2013) que interpreta dizendo “O capital financeiro está profundamente implicado na manipulação do meio ambiente construído, na extração de renda urbana, no estabelecimento dos valores da terra e na organização do espaço urbano para consumo coletivo, facilitado pelo Estado local e nacional”. Ou seja, se temos um Estado que facilita as explorações do capital financeiro e permite a irresponsabilidade desse jogo do mercado a partir da indústria e do setor da construção civil, o cenário está montado. Nesse sentido, qual ou o que é esse “mundo social” que vem se perfilando e dando condições para o cenário de fraturas das até então importantes solidariedades de classe para a sua mercantilização e desfiguração para um outro movimento de luta por moradia? Como bem diz Harvey (2011), trata-se da saga do capitalismo, uma saga que é cheia de paradoxos, isto é, se de um lado temos crises econômicas, crises na saúde pública, o neocolonialismo, as alienações e exclusões sociais aos montes somadas às angústias e depressões; de outro lado, vemos um mundo que coloca os padrões de vida material e bem-estar em um nível exorbitante que, em conjunto às revoluções na comunicação e nas barreiras físicas e um conhecimento que se prolifera, vai servindo de alimento para uma eternização da esperança e do “tudo parece possível”. Como diria Telles (2007), que mundo social é esse, portanto, que vem se perfilando nas dobras das mutações em curso nas últimas décadas?

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“O fato é que não é coisa simples entender o que acontece por esse lado da cidade de São Paulo (não só nela), pois também aqui, no lado pobre (e expansivo) dessas recomposições, o mundo social está também muito alterado. Ponto e contraponto de uma mesma realidade, os capitais globalizados transbordam as fortalezas globais concentradas no moderníssimo e riquíssimo quadrante sudoeste da cidade, fazem expandir os circuitos do consumo de bens materiais e simbólicos que atingem os mercados de consumo popular. Mesmo nas regiões mais distantes da cidade, os circuitos do mercado e os grandes equipamentos de consumo compõem a paisagem urbana. São fluxos socioeconômicos poderosos que redesenham os espaços urbanos, redefinem as dinâmicas locais, redistribuem bloqueios e possibilidades, criam novas clivagens e afetam a economia doméstica, provocando mudanças importantes nas dinâmicas familiares, nas formas de sociabilidade e redes sociais, nas práticas urbanas e seus circuitos. Por outro lado, ao mesmo tempo e no mesmo passo em que ganha forma a versão brasileira das “metamorfoses da questão social”, os programas sociais se multiplicam pelas periferias afora e entorno deles proliferam associações ditas comunitárias que tratam de se converter à lógica gestionária do chamado empreendedorismo social, se credenciar como “parceiras” dos poderes públicos locais e disputar recursos em fundações privadas (e a chamada filantropia empresarial) e agências multilaterais, isso em interação com miríades de práticas associativas e ao lado dos movimentos de moradia e suas articulações políticas, partidos e seus agenciamentos locais, igrejas evangélicas (também proliferantes) e suas comunidades de fiéis e, claro, a quase onipresença de ONGs vinculadas a circuitos e redes de natureza diversa e extensão variada. É aí que se vê delinear um mundo social perpassado por toda sorte de ambivalências, entre formas velhas e novas de clientelismo e reinvenções políticas, convergências e disputas, práticas solidárias e acertos (ou desacertos) com máfias locais e o tráfico de drogas”. (TELLES, V. S., 2007)

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Com isso, a perspectiva dos direitos teria sido muito enfraquecida por processos que estariam contribuindo para a naturalização da desigualdade reproduzida pelo mercado. Isso porque é tão presente uma “dimensão nômade” no código genético das famílias desse território e a consequência elementar passa a ser um contínuo processo de desbravamento das margens da cidade, isto é, uma contínua produção de cidade para o que é além-cidade, “cidades outras” (ROSA, 2014). E, se bem sabemos (e nós sabemos), esse não-lugar é território de disputas das mais diversas e da oferta mais escassa do direito à cidade. Mas engana quem pensa que isso quer dizer “estão excluídos da sociedade”, como bem diz Oliveira (2006), este quadro é uma “operação de inclusão à medida que eles são excluídos”. Algo que se tomado Barbosa (2013) podemos entender com o conceito de “vida nua” de Agambem: "Como qualquer espaço de exceção, esta zona é, de fato, perfeitamente vazia, e o verdadeiramente humano que deveria ocorrer é tão somente o lugar de uma decisão incessantemente atualizada, em que as cisões e as articulações entre as mesmas são constantemente deslocadas e movidas. O que deveria ser obtido desta maneira não é, pois, nem uma vida animal, nem uma vida humana, mas apenas uma vida separada e excluída de si mesma – somente uma vida nua." (BARBOSA, J. F., 2013)

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Se somos lugar, como poderemos nĂŁo buscar lugares?

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tema



Hoje já nos encontramos em uma situação onde casa e não-casa se conectam? morada e não-morada são duas caras da mesma moeda? Como diz Lefebvre (2001): “É possível viver sem lugar? É possível habitar ali onde não se produzem lugares?” “As necessidades urbanas específicas não seriam necessidades de lugares qualificados, lugares de simultaneidade e de encontros, lugares onde a troca não seria tomada pelo valor de troca, pelo comércio e pelo lucro? Não seria também a necessidade de um tempo desses encontros, dessas trocas?” (LEFEBVRE, 2001)

Há, entretanto, um impasse para a produção habitacional e produção de uma cidade que ofereça oportunidades de uma vida leve, plenamente qualificada em todas as faculdades:

produção de habitação

x

reprodução do capital

problema fundiário

+

demanda solvável

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Lina Bo Bardi sugere que o indivíduo é o verdadeiro protagonista da aventura arquitetônica. Não o homem ideal, mas o homem real, com necessidades vitais, que participa cotidianamente da experiência arquitetônica. Mas de que modo a arquitetura atua para responder a essas exigências humanas fundamentais? Mais que isso, até que ponto há a participação de mais vetores que não a figura central do arquiteto? Para Lefebvre (2001), apesar das boas intenções humanistas e das boas vontades filosóficas, a prática caminha na direção da segregação. Por quê? Por razões teóricas e em virtude de causas sociais e políticas. No plano teórico, o pensamento analítico separa, decupa. Fracassa quando pretende atingir uma síntese. Social e politicamente, as estratégias de classes (inconscientes ou conscientes) visam a segregação. A crise da cidade, cujas condições e modalidades são pouco a pouco descobertas, não deixa de se fazer acompanhar por uma crise das instituições na escala da cidade, da jurisdição e da administração urbanas. Com aquilo que dependia do nível próprio da cidade passando cada vez mais para o controle do Estado e se institucionalizando no contexto global, a cidade tende a desaparecer como instituição específica (Lefebvre, 2001). A cidade e o urbano, em nosso horizonte, se perfilam como objetos virtuais, como projetos de uma reconstituição sintética.

Aqui está tudo o que é necessário para criar um mundo, a sociedade urbana ou o “urbano” desenvolvido. Mas esse mundo está ausente, essa sociedade só está diante de nós em estado de virtualidade. (...) Nas condições existentes, ela morre antes de nascer. (...) O urbano é a obsessão daqueles que vivem na carência, na pobreza, na frustração dos possíveis que permanecem como sendo apenas possíveis. Assim, a integração e a participação são a obsessão dos não-participantes, dos não-integrados, daqueles que sobrevivem entre os fragmentos da sociedade possível e das ruínas do passado: excluídos da cidade, às portas do “urbano”.

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Para Lefebvre (2001), por um lado, essa prática social é integrativa. Procura integrar seus elementos num todo coerente. A integração se realiza em níveis diferentes, segundo modalidades diversas: através do mercado, no “mundo da mercadoria”, em outras palavras, através do consumo e da ideologia do consumo através dos “valores”, inclusive a arte. Esta integração visa antes de mais nada a classe operária, mas também os intelectuais, o pensamento crítico (sem excluir o marxismo). O urbanismo poderia muito bem se tornar essencial para esta prática integrativa. Ao mesmo tempo, esta sociedade pratica a segregação. A mesma racionalidade que pretende ser global (organizadora, planificadora, unitária e unificante) se concretiza ao nível analítico. Ela projeta a separação para a prática. Tende a se compor de guetos ou parkings, como o dos operários, o dos intelectuais, o dos estudantes, ou dos estrangeiros, e assim por diante, sem esquecer o gueto dos lazeres ou da “criatividade”, reduzido à miniaturização e aos trabalhos manuais. “Gueto no espaço e gueto no tempo. Na representação urbanística, o termo zoning já implica separação, segregação, isolamento nos guetos arranjados. O fato torna-se racionalidade no projeto”. “Esta sociedade se pretende e se vê coerente. Ela persegue a coerência, ligada à racionalidade ao mesmo tempo como característica da ação eficaz (organizadora), como valor e critério. A ideologia da coerência revela, sob exame, uma incoerência oculta e no entanto berrante. Não seria a coerência a obsessão de uma sociedade incoerente, que procura seu caminho para a coerência querendo se deter na situação conflitante, desmentida, negada como tal?Isto não quer dizer que esta sociedade se desintegra, que ela cai aos pedaços. Não. Ela funciona. Como? Por quê? Esse é que é o problema. Isto também significa que esse funcionamento não deixa de se fazer acompanhar por um enorme mal-estar: sua obsessão”.

(Lefebvre, H. 2001)

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“A cidade, enquanto realidade acabada, se decompõem. [...] Impossível considerar a hipótese da reconstituição da cidade antiga; possível apenas encarar a construção de uma nova cidade, sobre novas bases, numa outra escala, em outras condições, numa outra sociedade”.

(LEFEBVRE, H., 2001)

Sendo assim, cabe ao arquiteto ter a humildade, a clareza e a consciência de seus limites, das suas obrigações, da ética e da responsabilidade, para poder com efetividade ter domínio do seu lugar nessa prática.

urbanização de favela

Por acreditar que no projeto formal, seja no desenho urbano ou na produção habitacional, deva levar em conta a realidade em que atua e interfere, deve-se estar ciente das situações e atividades genuinamente autonômas que encontra. Mais que isso, deve provocá-las e potencializar a oportunidade de ocorrer essas expressões, fatos sociais, encontros. Deve provocar a urbanidade nos espaços públicos que projeta. O arquiteto não irá resolver os problemas do mundo, e isso é fundamental entender. Mas o importante é não se acomodar com esta situação, saber que a crítica deve ser sempre reavivada como maneira de administrar melhorias e pequenas mudanças. E construir, da melhor maneira que é possível, o projeto de cidade. Não fazer demagogia, mas não se esconder.

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educação

urbanização de favela

lazer

esporte

hab


bitat

saúde

demandas diferentes geram consequências diferentes

habitação

a casa igual não atende da mesma maneira as famílias tão diversas

transporte 37


referĂŞncias

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Alejandro Arango


saúde Lorem ipsum

1- UVA Sol de Oriente - Medellín Realização EDU

habitação

transporte Fábio Knoll

2- Cantinho do Céu São Bernardo do Campo Boldarini Arquitetura e Urbanismo


lugar


foto: E. Avelino


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caminho (Google Earth / Street View)

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Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

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Dado um enorme déficit de moradias, o Governo Federal, através do Ministério das Cidades, instituiu uma política pública de provisão de habitação baseado principalmente na construção de conjuntos habitacionais. A inserção e forma urbana destes assentamentos , porém, não responde aos problemas e desafios das cidades face à problemática ambiental, os riscos decorrentes e as respostas para mitigação e adaptação. Os projetos não contribuem para a redução dos impactos na construção, manutenção e reformas necessárias para o futuro mais adequado e confortável para a moradia. Sendo assim, o Programa Minha Casa Minha Vida, apesar de proporcionar condições mínimas de dignidade a essa população, está muito aquém de proporcionar qualidade de vida satisfatória. No caso de Campinas, parte dessas habitações é destinada à população reassentada que vive em locais de riscos, como prevê o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, 2011. A periferia é o local onde mais se verifica esse processo de remanejamento da população. Tal é o caso dos moradores que vivem à beira do córrego do Piçarrão, no Jardim Florence II, bairro localizado na Macrozona 5, região Sudoeste de Campinas. Parte dessa população foi reassentada para dois desses empreendimentos MCMV, o que implica em diversas mudanças na dinâmica social do bairro. Nesse sentido, o presente trabalho busca expor a realidade de reassentamentos de populações ocorridos na Bacia Hidrográfica do Ribeirão Piçarrão, localizada na região sudoeste de Campinas-SP, e imaginar um cenário urbano alternativo ao atual.


Jardim Florence II, Campinas, SĂŁo Paulo

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Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

A área de estudo está localizada próxima ao córrego do Piçarrão, que é parte integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Capivari, a qual abrange, além do Município de Campinas, outros, como Louveira, Montemor, Elias Fausto, Capivari, Rafard e Mombuca. O ribeirão Piçarrão tem sua origem na região central do Município de Campinas e se desenvolve em direçãoà Região Sudoeste, onde está localizado o Jardim Florence. A região sudoeste da RMC, especialmente o trecho compreendido entre os municípios de Campinas e Hortolândia, concentra bairros populares desenvolvidos a partir de loteamentos dos anos 1950 e 1960, favelas, vazios urbanos, alguns empreendimentos da COHAB, e atividades de maior impacto como mineração, atividades industriais, lixões. Na área que compreende a favela, a população vem passando por um longo processo de remoção, sendo desocupadas as casas das famílias que vivem em áreas de risco, em uma ocupação localizada no Jardim Florence II, próxima ao córrego Piçarrão, no Município de Campinas-SP. Essas famílias estão sendo atendidas pelo PMCMV e estão sendo reassentadas no conjunto habitacional localizado no residencial Sirius. A história da ocupação da Microbacia do Córrego Piçarrão tem completa relação como processo de urbanização de Campinas e toda a sua modificação durante os anos que se sucederam ao início das ocupações na região. A favela Jardim Florence II tem 9,3 hectares com 542 imóveis. Segundo os levantamentos da Sehab, foram identificados 260 imóveis em risco. O conjunto Sirius é composto de 118 prédios de quatro andares, organizados em 14 condomínios, com um total de 2.360 unidades.

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Microbacia do Córrego do Piçarrão, São Paulo

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Jardim Florence II, Campinas, SĂŁo Paulo

fonte: Google Earth


nlop Boyd Du Av. John

s Rodovia dos Bandeirante


Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

A região é considerada com predominância de terrenos colinosos ondulados ou suavemente ondulados, com declividades variando entre 4% e 17%, que apresentam fácil erodibilidade, principalmente nas declividades superiores a 10% e nas cabeceiras de drenagem (nascentes ou talvegues) (CAMPINAS, 2006 apud ASTIER, 2013). O sítio apresenta restrições para a ocupação urbana que, quando associada a processos de ocupação irregular ou precária, pode resultar em assentamentos inadequados e inseguros quanto à integridade física das moradias e seus ocupantes, segundo o Plano Municipal de Habitação de Interesse Social (PMHIS) de Campinas, a partir da análise das características morfológicas e urbanísticas dos assentamentos precários, o qual serviu como referência para o cálculo de necessidades habitacionais (CAMPINAS, 2011). Segundo a Defesa Civil, a tipologia do processo é enchente e solapamento de margens, o grau de risco é alto. As sugestões de intervenções dadas pelos técnicos da Defesa Civil foram: Remoção das moradias ainda em risco, remanescente de solapamento de margens; Obras de engenharia de contenção de margens, para barrar os processos erosivos; Obras de melhorias na infraestrutura urbanística, como pavimentação de ruas e implantação de sistema eficiente de drenagens de águas pluviais e correto destinamento até as drenagens naturais; Implantação de políticas de controle urbano

para evitar construções e intervenções inadequadas em áreas de proteção permanente;

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Reflorestamento e reconstituição das áreas de proteção permanente, podendo-se criar um uso público, com a implantação de parques lineares às margens dos córregos e drenagens naturais; Implantação do sistema de alerta para chuvas anômalas; Implantação de pluviômetros em diversos pontos do Município.


Dessas sugestões, apenas a primeira e a pavimentação de algumas ruas foram ou estão sendo realizada pelo Poder Público. Muitas remoções estão sendo feitas no local desde o começo de 2012. Segundo Astier (2013), no PMHIS, consta de que o assentamento é consolidável com a necessidade de uma urbanização complexa no local, isto é, o terreno é adequado ou inadequado com alto índice de remoção e, ou, necessidade de realização de obras complexas. Consta também da necessidade de urbanização complexa de 271 domicílios e reassentamento de 271 domicílios. Há uma parte da favela que se encontra próxima à beira do rio, que é a área de várzea, e considerada como APP urbana, obedecendo aos 15 metros exigidos.

Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

Segundo o PMHIS, a Macrozona 5 ficou restrita para atendimento apenas do déficit oriundo de assentamentos precários, pois se entendeu que essa região já se encontrava saturada e sem condições de receber população. Devia, por outro lado, ser alvo de projetos que contemplassem equipamentos urbanos combinados com polos de geração de renda e serviços, que beneficiassem com postos de trabalho os moradores da região. Assim, o PLHIS recomendou que a região ficasse restrita apenas para acomodar moradores que já se encontravam instalados, em condições precárias, na região, de forma a não agravar os problemas já existentes a partir do aumento do contingente populacional local. Os projetos destinados às ZEIS dessa macrozona deveriam garantir áreas para implantação dos polos comerciais e de serviços e equipamentos comunitários (CAMPINAS, 2011 apud ASTIER, 2013).

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Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

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Mesmo com essas recomendações do Plano Municipal de Habitação de Interesse Social, a Macrozona 5 é alvo para contemplação de projetos sociais quase que somente como do PMCMV, promovida pelo Governo Federal. Há uma necessidade de se concentrar na qualificação ambiental da área e toda sua paisagem, visto que a área é considerada de interesse ambiental. A proximidade com o córrego faz com que, em época de chuvas intensas, a população possa ter sua moradia alagada ou mesmo derrubada, correndo risco de vida, consolidando um cenário de alta vulnerabilidade. Para além disso, as barreiras físicas que o córrego Piçarrão e a linha férrea constituem e os trechos situados entre eles formam um corredor que se encontra quase totalmente ocupado, enquanto que as áreas ao redor desses elementos têm grandes vazios urbanos e lotes ainda desocupados. As faixas até 50 metros e de 50 a 100 metros do córrego, à margem leste, encontram-se quase que totalmente ocupadas e impermeabilizadas, enquanto que, a oeste do córrego, a extensão de terra ocupada é insignificante. A impermeabilização, observada a leste, resulta em problemas de erosão e drenagem na região. Uma vez que as águas pluviais não podem penetrar na terra, acabam por encontrar seu caminho até o córrego no nível do solo, com velocidade muito maior do que ocorreria no caso de uma drenagem natural, o que pode resultar em enxurradas e enchentes com alto potencial destrutivo.


O processo de remoção, entretanto, é lento e exige certa burocracia, pois depende da aprovação de documentos e da construção e sorteio das moradias. As famílias retiradas de residências em áreas de risco devem se inscrever no PMCMV; neste caso, emum dos dois empreendimentos mais próximos, o residencial Sirius ou o Jardim Bassoli, e aguardar o sorteio das moradias (GHIRELLO; ASTIER; BUENO, 2013). Os moradores, por conta disso, são retirados aos poucos. As antigas casas são demolidas assim que a chave da nova residência é entregue, com a finalidade de evitar que voltem a ser ocupadas. Até março de 2013, a Cohab não realizava a limpeza dos escombros, também para evitar novas ocupações. Com isso, as famílias fora da área de risco, que não têm perfil para se inscrever no PMCMV, cujos processos de aquisição das novas moradias ocorreram mais lentamente, acabam morando em meio aos escombros das residências vizinhas e ficam sujeitas a diversas situações de riscos. Esses fatos tornam todo o processo contraditório em si, uma vez que o objetivo das remoções é retirar os moradores de áreas de risco, mas os submetendo a novos perigos (GHIRELLO; ASTIER; BUENO, 2013). A delonga no processo faz, ainda, com que as famílias fiquem muito tempo vivendo sem a certeza de que serão removidas e de que terão uma nova casa e, ao mesmo tempo, esperando que a casa seja entregue, o que as leva a não buscarem outras moradias e ficarem dependendo do auxílio do governo. Ademais, a demora desconsidera mudanças naturais ao espaço intraurbano, o mercado imobiliário continua funcionando, apesar de a área estar desvalorizada. Além disso, nesse momento, nem todas as moradias em pontos de ocupação irregular serão removidas, apenas aquelas em áreas consideradas de risco (faixa aproximada de 15 metros do rio). (GHIRELLO; ASTIER; BUENO, 2013).

Processo de remoção

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O processo de reassentamento

Os empreendimentos do PMCMV destinados às famílias removidas de áreas de risco, com renda de zero a três salários mínimos, do Campo Grande e de outras regiões do Município de Campinas, são o Residencial Sirius e o Jardim Bassoli. O residencial Sirius, embora seja um caso paradigmático dos problemas do PMCMV, está situado em uma área mais próxima do Jardim Florence, o que facilita o realojamento das famílias, uma vez que elas continuam relativamente próximas de seu antigo núcleo social. Jardim Bassoli se encontra mais afastado do bairro, no limite do perímetro urbano. O empreendimento não tem, em seu entorno, serviços básicos, como comércio e serviços, escolas e postos de saúde. Os moradores ficam extremamente deslocados do meio urbano e não têm acesso fácil ao transporte. A maior parte das famílias removidas encontra-se, por falta de recursos, sem alternativa. A única saída é morar nos empreendimentos do PMCMV, apesar de todos os seus problemas sociais e construtivos.

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A busca por diferentes soluções se faz necessária, ainda mais quando tratamos de moradias, estamos lidando com pessoas, vidas humanas. Devem ser levadas em consideração várias questões, como, principalmente, o bem-estar psicológico dos envolvidos, de identidade, de relação, etc. Coisas básicas não são sequer levadas em consideração, muito menos discutidas quando são feitos esses empreendimentos. O que tem real relevância é o valor da terra, da construção e a minimização de custos. Enquanto a explosão imobiliária está a todo vapor, construindo empreendimentos para a população de baixa renda, esta sofre as consequências de todo um sistema inconsequente.

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ocupação

Jardim Florence II, Campinas, São Paulo

Jardim Bassoli

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fonte: Google Earth


distâncias Favela>Conjuntos: Residencial Sirius ~300,00m Jardim Bassoli ~4.000,00m Residencial Sirius

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Empreendimentos habitacionais, áreas regularizadas e remoções

Remoção Total Realizada Minha Casa, Minha Vida Áreas Regularizadas Área Urbana Hidrografia

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fonte: SEPLAN


Ocupações Irregulares

Ocupações Favela Lotes Irregulares Área Urbana Hidrografia

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fonte: SEPLAN


Renda domiciliar

Entre 1,4 e 3,5 salários mínimos Entre 3,5 e 5,1 salários mínimos Entre 5,1 e 8,1 salários mínimos Entre 8,1 e 44,3 salários mínimos Setor censitário desabitado com menos de 100 habitantes Setor censitário desabitado

60

fonte: SEPLAN


Densidade Demográfica

Sem população Menor que 5 hab/ha 5 a 25 hab/ha 25 a 50 hab/ha 50 a 100 hab/ha 100 a 200 hab/ha Acima de 200 hab/ha

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fonte: SEPLAN


2002

Jardim Florence II, Campinas, SĂŁo Paulo

62

fonte: Google Earth

2006


2010

evolução da ocupação do solo, região do Jardim Florence II

2014

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Jardim Florence II, Campinas, SĂŁo Paulo

64

fonte: Google Earth


distância Área>Centro: 12km

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Jardim Florence II, Campinas, SĂŁo Paulo

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fonte: Google Earth


equipamentos públicos

Equipamentos de saúde

0,5 km

Equipamentos de educação Terminal de Transporte

1,0 km

2,0 km

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propostas


foto: lcvenancio


cerâmica desativada

campo de futebol

Recorte da proposta

ribeirão piçarrão

ocupação

70

fonte: Google Earth


rib eir ão piç arr ão ocupação

existências

71


Recorte da proposta

72

fonte: Google Earth


diagrama

73


baseando nas diretrizes viárias para a região, formas espontâneas de espacialização e ligação já existentes

diagrama

pautando em proporcionar oportunidades de conexão, encontro social, vivência e troca no espaço público urbanizado

um complexo de vias, diferentes velocidades e meios de transporte enquanto componentes de uma mobiilidade urbana sólida

74

fonte: Google Earth


habitar para além da habitação + lançamento de espaço público, lazer, esporte, cultura e diversidade de usos e trocas

a promoção de habitação que não se pauta exclusivamente em uma única tipologia: alternativa habitacional ao paradigma da provisão habitacional

recuperação e proteção ambiental somada a uma valorização da paisagem existente

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Implantação geral

Habitação Uso misto (habitação + possível comércio) Edifício cultural (Requalificação da Cerâmica) Escola profissionalizante Espaço público

Edifícios públicos

Via pedonal Ocupação não removida Vias carroçáveis Estacionamento

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Hidrografia



Implantação geral

1

78

escala gráfica


1

A A’

B

3

c

2

B’

c’

4

5

1 - Implementar infraestrutura a partir do intenso uso do campo de futebol, lugar de encontro e fator de conexão entre as margens do córrego; 2 - Na margem leste implementar infraestrutura que se relacione tanto com a água e a visualiza, como também impedir novas ocupações em área passível de inundamento. Na margem à oeste, implementar espaço público voltado ao córrego; 3 - Espaço público em conjunto a habitação e comércio, formando um complexo com esporte e lazer; 4 - Espaço público pontual que permite, em meio a uma clareira, se relacionar com a paisagem; 5 - Ao passo que lança mão da habitação na margem leste do córrego, oferece a oportunidade de um cultivo de hortaliças. Assim, faz uma gradação com os 15m exigidos pela APP urbana e possibilita uma nova atividade econômica.

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1

habitação esporte ciclofaixa espaço público

80


+15,00m +16,08m

+13,92m

+10,00m +8,92m

+15,00m +7,84m

+5,00m

escala: 1:500

0


2

espaço público exercícios

82


0,00m +16,08m

9,46m +9,64m

+7,54m

+5,00m +7,54m

+8,54m +8,00m

+7,00

+9,00m

+8,54m +10,00m

+8,00m

+10,00

escala: 1:500


3

habitação espaço público ciclofaixa comércio cinema esportes

84


+12,04m

+14,58m +12,04m +12,04m +6,08m

+5,54m 0,00m

+8,24m +12,04m +12,04m +12,04m

+12,04m +12,04m +9,50m

escala: 1:500


4 +5

habitação horta ciclofaixa espaço público comércio

86


+7,00m

+7,00m

0,00m

3,54

+3,72m +6,00m


corte AA’ escala 1:250



corte BB’ escala 1:200



corte CC’ escala 1:250



Referências Bibliográficas

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Referências Bibliográficas

Homem negro, inferno branco, tipo Tarantino Homem branco, inferno banto, tipo tá tirano Os menor tá desesperado, tipo atirando Eu querendo salvar o mundo, ela pergunta: Tá zuando? É que as ruas me lembram Massacre da Serra Elétrica Eles tentam roubar, é o massacre da cerca elétrica E o rap preocupa com povo ou preocupa com a métrica Mas os tentáculos do polvo é o que vai me afundar E o olho que me julga precisa fazer regime Ou algum de nós dois vai estar lá na cena do crime E eu só querendo eu e minha mina na fila do cine Vendo o filme da minha vitória Sou da sua raça, mano, é a nossa vitória Já foram farsa, vamo, contar nossa história Quilombos, favelas, no futuro seremos reis, Charles Seremos a negra mais linda desse baile, charme A negra velha mais sábia, crianças a chave Eles são cadeado, já foram corrente, sabe? O lado negro da força, mato com meu sabre Te corto com meu sabre Como se fosse a noite, cê vê tudo preto Como fosse um blackout, cê vê tudo preto São meus manos, minhas minas Meus irmãos, minhas irmãs, yeah O mundo é nosso, hã Tipo a noite, cê vê tudo preto Tipo um blackout, cê vê tudo preto São cantos de esquinas, de reis e rainhas Yeah, o mundo é nosso


Já disse, pretos no topo, e eu falava sério Tipo BK, me veja como exemplo Minha quebrada na merda, minha city fora do mapa, mano Pros meus irmão eu sou exemplo, não nasci branco Para ser franco, não nasci banco Mesmo assim a Paty quer sentar Sou elétrico, tenho em mim a resistência Sou DV Afrotribo pondo fim na concorrência Ganhar dinheiro tipo Cassino de Scorsese Gastar dinheiro tipo Até Que a Sorte Nos Separe Manos se drogam, pensam: até que a morte nos ampare E a bola de cristal do boy é a taça de Campari E o morro chora, desespero e ainda tem barro lá Prefeito diz: Senhor é meu pastor, mas nada te asfaltará Tudo te faltará, se comprometerá Pra consumir doses de alegria, e não pagará É o Homem na Estrada de todo dia E sabe a resposta, o que é clara e salgada Os mais novo vive queimando largada Não sabe ler nem escrever e sabe o nome da delegada Sejamos Abraham Lincoln, independência Com a pele de Barack Obama Sejamos Tupac Shakur, Afeni Shakur Achemos a cura pra nossa insegurança Cada bala de fuzil é uma lágrima de Oxalá Mas na rua né não, na mão dos cana né não Na cintura era um celular e eles confundem com um oitão

Djonga BK


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