TCC arqurbuvv Novos Usos - A requalificação do Patrimônio Histórico Edificado:

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CURSO DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

GISLAENI PIANCA

NOVOS USOS - A REQUALIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO: UMA PROPOSTA PARA O SÍTIO HISTÓRICO DE SANTA LEOPOLDINA - ES

Vila Velha 2017


GISLAENI PIANCA

NOVOS USOS - A REQUALIFICAÇÃO DO PATRIMÔNIO HISTÓRICO EDIFICADO: UMA PROPOSTA PARA O SÍTIO HISTÓRICO DE SANTA LEOPOLDINA - ES

Trabalho de conclusão de curso de graduação apresentado ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Vila Velha como requisito para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo, sob a orientação do Prof. Me. Luiz Marcello Gomes Ribeiro.

Vila Velha 2017



AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me dado saúde e força para superar as dificuldades durante esta longa caminhada alcançando assim este objetivo. Аоs meus pais, meu irmão, e cunhada que cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para qυе еυ chegasse аté esta etapa dе minha vida. Agradeço também ао mеυ esposo, pelo companheirismo qυе dе forma especial е carinhosa mе dеυ força е coragem, mе apoiando nоs momentos dе dificuldades desde o primeiro dia. A todo o corpo docente do curso de Arquitetura e Urbanismo em especial ao Me. Luiz Marcello Gomes Ribeiro pelo excelente profissionalismo, dedicação, paciência e principalmente, pela amizade durante todo o processo.

Aos meus grandes amigos, que na verdade são considerados irmãos, em especial Jéssica Mariano e Wesley Vilete que estiveram do meu lado durante todas as dificuldades me incentivando sempre a persistir.

A todos os meus sinceros agradecimentos!


RESUMO Essa pesquisa trata de analisar e compreender a questão do uso e da sua atualidade, como um meio para a preservação do Patrimônio Histórico, a partir de uma compreensão específica das causas e efeitos do uso no edifício de interesse de preservação e suas condicionantes para o atendimento de uma dinâmica atual, frente a aspectos específicos como legislação e autossustentabilidade do patrimônio edificado em sítios históricos. O desenvolvimento da pesquisa leva ao estudo e à proposição de uma intervenção, com a intenção de requalificar o edifício "1914", propondo um novo uso e adaptando-a ao momento atual do contexto em que se insere no município de Santa Leopoldina-ES. No passado, o edifício eclético representava um marco para a comunidade, pois foi muito frequentado e valorizado com atividades socioculturais intensas. Localizado no centro da cidade, o imóvel, atualmente sem uso, representa um potencial para requalificação, não apenas do edificado, mas da área central onde se situa. Estudos com base nos principais teóricos do restauro, patrimônio cultural, memória e identidade, permeiam a proposta a ser realizada para a valorização e reconhecimento desse patrimônio, visando agora a um espaço voltado para as demandas contemporâneas da comunidade. Devido à carência da população a locais destinados à cultura, ao lazer e entretenimento; a principal intenção para o edifício "1914" consiste em torná-lo um "Cineteatro"; um espaço adaptado para pequenos espetáculos teatrais, locais e regionais, assim como a exibição comercial de filmes para um público espectador multigeracional, atraindo pessoas tanto no período diurno, quanto noturno e, consequentemente, trazendo maior vitalidade para a região. Palavra chave: Santa Leopoldina, Edifício "1914", Requalificação, Patrimônio Cultural, Novo uso.


ABSTRACT This research aims to analyze and understand the question of the use, and its actuality, as means for the preservation of the heritage. From a specific understanding of the causes and effects of the use in the heritage building and its conditions for the attendance of a current dynamic front of specific aspects like legislation and self sustainability of the built heritage in historical sites. The development of the research leads to the study and proposition of an intervention, with the intention of requalifying the building "1914", proposing a new use and adapting it to the present moment of the context in which it is inserted in the municipality of Santa Leopoldina, State of EspĂ­rito Santo, Brazil. Formerly, the eclectic building represented a milestone for the community, as it was highly frequented and valued with intense social and cultural life. Located dowtown the city, the property, currently unused, represents a potential for refurbish, not only the building, but the central area where it is located too. Studies based on the main theorists of restoration, cultural heritage, memory and identity, permeate the proposal to be realized for the valorization and recognition of this patrimony, aiming now a space directed to the contemporary demands of the community. Due to the lack of the population to places destined to culture, leisure and entertainment; The main intention for the building "1914" is to make it a "Movie Theater"; A space adapted for small shows, local and regional, as well as the commercial exhibition of films for a multigenerational spectator audience, attracting people both in the daytime and night, and consequently bringing greater vitality to the region.

Keyword: Santa Leopoldina, Building "1914", Refurbish, Cultural Heritage, New use.


LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Basílica de Santa Maria Degli Angeli e Dei Martiri ..................................... 17 Figura 2 - Igreja São Tiago 1908 ............................................................................... 18 Figura 3 - Palácio Anchieta ....................................................................................... 19 Figura 4 - Partenon Atenas, Grécia Antiga ................................................................ 20 Figura 5 - Conjunto Jesuítico de Araçatiba - Viana ................................................... 20 Figura 6 - Igreja Nossa Senhora da Ajuda ................................................................ 21 Figura 7 - Ruínas da Antiga Residência .................................................................... 22 Figura 8 - Edifício Waag em 1885 ............................................................................. 36 Figura 9 - Edifício Waag Society em 1990 ................................................................ 37 Figura 10 - Térreo do Edifício Waag ......................................................................... 38 Figura 11- Laboratório de Fabricação Fab Lab ......................................................... 39 Figura 12 - Laboratório Fab Lab ................................................................................ 39 Figura 13 - Teatro Paiol ............................................................................................. 40 Figura 14 - Arena Teatro Paiol .................................................................................. 41 Figura 15 - Entrada Teatro Paiol ............................................................................... 41 Figura 16 - A estação Pedro Nolasco em 1935 ......................................................... 42 Figura 17 - Museu Vale ............................................................................................. 43 Figura 18 - Sala da Construção................................................................................. 44 Figura 19 - Interior do Edifício Museu ....................................................................... 45 Figura 20 - Painel Interativo ...................................................................................... 45 Figura 21 - Maria Fumaça adquirida em 1940........................................................... 46 Figura 22 - Interior Maria Fumaça ............................................................................. 46 Figura 23 - Antigo Armazém de Cargas .................................................................... 47 Figura 24 - Interior do Antigo Armazém .................................................................... 48 Figura 25 - Gráfico 1 - Atrativos/Culturais ................................................................. 59 Figura 26 - Gráfico 2- Cultura/Lazer, Gráfico 3 - Entretenimento .............................. 59 Figura 27 - Gráfico 4 - Atividades Culturais, Gráfico 5 - Frequência ......................... 60 Figura 28 - Resultado da Pesquisa ........................................................................... 61 Figura 29- Brasil com Destaque na Região Sudeste ................................................. 62 Figura 30- Região Sudeste com Destaque no Espírito Santo ................................... 62 Figura 31- Espírito Santo com Destaque na cidade de Santa Leopoldina ................ 62


Figura 32 - Cidade de Santa Leopoldina - ES ........................................................... 62 Figura 33 - Conjunto de Edificações Históricas de Santa Leopoldina - ES ............... 64 Figura 34: Edifício "1914" .......................................................................................... 66 Figura 35 - Área de Projeto ....................................................................................... 66 Figura 36 - Centro da Cidade de Santa Leopoldina – ES ......................................... 68 Figura 37 - Área Urbanizada ..................................................................................... 69 Figura 38 - Mapa de Hierarquia Viária ...................................................................... 70 Figura 39 - Mapa Morfologia Urbana ......................................................................... 72 Figura 40 - Edificações de Uso Misto ........................................................................ 73 Figura 41 - Rua Presidente Getúlio Vargas - Diversidade de Usos........................... 74 Figura 42 - Mapa do Uso do Solo.............................................................................. 75 Figura 43 - Mapa de Gabarito das Edificações ......................................................... 76 Figura 44 - Montanha e Rio - Paisagem Cultural ...................................................... 77 Figura 45 - Vista do morro da Igreja Matriz Sagrada Família .................................... 78 Figura 46 - Paisagem do Sítio Histórico .................................................................... 79 Figura 47 - Imóveis tombados e a paisagem natural em seu entorno ....................... 80 Figura 48 - Rua principal e a paisagem natural em seu entorno ............................... 80 Figura 49 - Santa Leopoldina em 1876 ..................................................................... 81 Figura 50 - Rio Santa Maria da Vitória em 1873 ....................................................... 82 Figura 51- Descida Ecológica do Rio Santa Maria da Vitória .................................... 82 Figura 52 - Casarios históricos da paisagem cultural de Santa Leopoldina. ............. 83 Figura 53 - Casarios históricos em 2017 ................................................................... 84 Figura 54 - Mapa Potencialidades de Usos e Funções ............................................. 85 Figura 55 - Lojas localizada no Centro da cidade ..................................................... 86 Figura 56 - Hortifruti localizado a Rua Presidente Getúlio Vargas ............................ 87 Figura 57 - Conselho Tutelar e outros comércios existentes na cidade .................... 87 Figura 58 - Movimento de pedrestres no centro da cidade ....................................... 88 Figura 59 - Rua Presidente Getúlio Vargas ............................................................... 89 Figura 60 - Término do Centro Histórico ................................................................... 90 Figura 61 - Via de sentido a Santa Maria de Jetibá................................................... 90 Figura 62 - Caminho a Igreja Sagrada Família.......................................................... 91 Figura 63 - Caminho sombreado a Igreja Sagrada Família ....................................... 92 Figura 64 - Via local .................................................................................................. 93 Figura 65 - Rua de paralelepípedo e a igreja ao fundo ............................................. 93


Figura 66 - Residências com boa arquitetura ............................................................ 94 Figura 67 - Rua variando entre paralelepípedo e asfalto .......................................... 94 Figura 68 - Parque da cidade .................................................................................... 95 Figura 69 - Entrada do Parque da cidade ................................................................. 96 Figura 70 - Lugar de descanso no parque ................................................................ 96 Figura 71 - Monumento do Imigrante ........................................................................ 97 Figura 72 - Símbolo do monumento .......................................................................... 98 Figura 73 - Monumento cercado pela natureza ......................................................... 98 Figura 74 - Mapa Semiótica do Ambiente Urbano ..................................................... 99 Figura 75 - Imóvel de Número 11 ............................................................................ 100 Figura 76 - Imóvel à Rua do Comércio nº 15 .......................................................... 101 Figura 77 - Avenida Presidente Getúlio Vargas - ES 080 ....................................... 101 Figura 78 - Avenida Presidente Getúlio Vargas - ES 080 ....................................... 102 Figura 79 - Interior do edifício.................................................................................. 105 Figura 80 - Restos de materiais de construção ....................................................... 105 Figura 81 - Interior do edifício com utensílios, materiais e eletrodomésticos abandonados........................................................................................................... 105 Figura 82 - Paredes com fissuras e manchas de umidade ..................................... 105 Figura 83 - Teto do edifício em madeira .................................................................. 106 Figura 84 - Pavimento Superior............................................................................... 106 Figura 85 - Alvenaria Interna ................................................................................... 107 Figura 86 - Área externa com mesa de jogos de baralho ....................................... 108 Figura 87 - Telhado escorado por pedaços de madeira .......................................... 108 Figura 88 - Banheiro existente na parte externa ..................................................... 108 Figura 89 - Acesso ao segundo pavimento ............................................................. 109 Figura 90 - Trincas e rachaduras existentes ........................................................... 109 Figura 91 - Quadro conceito (Mood Board) proposto para a requalificação do edifício ................................................................................................................................ 113 Figura 92 - Quadro (Mood Board) ........................................................................... 113 Figura 93 - Acessos internos e externos ao pavimento térreo ................................ 116 Figura 94 - Setorização geral do térreo ................................................................... 117 Figura 95 - Setorização geral do segundo pavimento ............................................. 118 Figura 96 - Setorização geral do terceiro pavimento ............................................... 119 Figura 97 - Fachada Cinema Santa Leopoldina – Vista frontal ............................... 121


Figura 98 - Fachada do Cinema Santa Leopoldina voltada a Rua Presidente Getúlio Vargas ..................................................................................................................... 122 Figura 99 - Fachada Lateral Direita do Cinema Santa Leopoldina .......................... 123 Figura 100 - Espaço da Cafeteria............................................................................ 124 Figura 101 - Espaço do balcão da cafeteria ............................................................ 124 Figura 102 - Interior da cafeteria e um conceito contemporâneo ............................ 125 Figura 103 - Saída da cafeteria ............................................................................... 125 Figura 104 - Lounge do Cinema Santa Leopodina .................................................. 126 Figura 105 - Bomboniere ......................................................................................... 127 Figura 106 - Sala de Cinema................................................................................... 128 Figura 107 - Sala de Cinema................................................................................... 129


SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO ....................................................................................... 6 2. INTRODUÇÃO .......................................................................................... 10 2.1. Conceitos Iniciais .................................................................................... 10 2.1.1. Patrimônio Cultural, Patrimônio Histórico e Patrimônio Arquitetônico 10 2.1.2.

Tombamento e Preservação de Bens Culturais ............................. 12

2.1.3.

Definição de Sítio Histórico .............................................................. 13

2.1.4.

Definição de Centro Histórico .......................................................... 13

2.1.5.

Restauração, Reabilitação, Requalificação, Retrofit ...................... 14

2.2. REQUALIFICAÇÃO - NOVO USO ............................................................ 16 3. CAPÍTULO I – A REQUALIFICAÇÃO DE USO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS OU DE INTERESSE DE PRESERVAÇÃO ...................................................... 23 3.1. Os primeiro anos da preservação no Brasil .......................................... 23 3.2. A Carta de Veneza ................................................................................... 28 3.3. A Atualidade da Teoria do Restauro ...................................................... 29 3.4. Novas Exigências Arquitetônicas Contemporâneas ............................ 30 3.4.1.

Acessibilidade ..................................................................................... 30

3.4.2.

Segurança e incêndio.......................................................................... 33

3.4.3.

Conforto Térmico/Acústico .................................................................. 34

3.5. Requalificações - Novos Usos em Edifícios Históricos e de Interesse de Preservação - Estudo de Casos .................................................................... 35 3.5.1.

Waag Society Amsterdã - Holanda ..................................................... 35

3.5.2.

Teatro Paiol - Curitiba - Brasil ............................................................. 39

3.5.3.

Museu Vale - Vila Velha -Espírito Santo ............................................. 42

3.5.4.

Considerações Sobre os Estudos de Caso ......................................... 54

4. CAPÍTULO II – O CASO DO SÍTIO HISTÓRICO DE SANTA LEOPOLDINA / ESPÍRITO SANTO ........................................................................................... 55 4.1. Vitalidade Urbana dos Centros Históricos ............................................ 55 4.2. Cotidiano e vitalidade urbana em Santa Leopoldina ............................ 58 4.3. Um Lugar chamado Santa Leopoldina................................................... 61 4.4. Pensando em novas possibilidades - Propostas .................................. 65 4.5. O Novo Uso - O Cinema como fator contemporâneo para públicos multigeracionais. .......................................................................................... 109


5. PROJETO BÁSICO DE INTERVENÇÃO PARA RESTAURO E REQUALIFICAÇÃO DE USO DO EDIFÍCIO 1914 – SANTA LEOPOLDINA.110 5.1. Conceito e Partido ................................................................................. 111 5.1.1.

Programa de necessidades ............................................................ 114

5.1.2.

Conjuntos funcionais...................................................................... 114

5.1.3.

Diretrizes para layout de ocupação do espaço pré-existente ..... 114

5.1.4.

Observações gerais ........................................................................ 115

5.2. Memorial Justificativo ........................................................................... 115 5.2.1.

Implantação ..................................................................................... 115

5.2.2.

Setorização ...................................................................................... 116

5.2.3.

Cobertura ......................................................................................... 120

5.2.4.

Modulação estrutural ...................................................................... 120

5.2.5.

Fechamentos ................................................................................... 121

5.2.6.

Vocabulário de materiais ................................................................ 121

6. BIBLIOGRAFIA ....................................................................................... 131


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1. APRESENTAÇÃO A presente pesquisa para o trabalho de conclusão de graduação do curso de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade de Vila Velha, tem por finalidade analisar os aspectos conceituais sobre a preservação dos sítios históricos atuais a partir da perspectiva de novos usos como instrumento de preservação, e com isso fundamentar a concepção de um projeto de intervenção em um edifício histórico na cidade de Santa Leopoldina, Espírito Santo. A funcionalidade de uma obra e a destinação útil em edifícios que perderam sua função ou ficaram ociosos são de extrema importância para preservação do patrimônio arquitetônico. Sendo que o abandono é uma das principais causas de arruinamento e desaparecimento dos monumentos. Para tanto, trabalhou-se com o levantamento de referenciais teóricos importantes, no âmbito geral, a partir das teorias do restauro, assim como representatividades nacionais, buscando aproximação com as razões e natureza de intervenções no Brasil. Segundo Lyra (2006): Cada obra arquitetônica pertence, portanto a uma determinada família em que cada membro tem traços comuns que identificam uma linha vocacional. Além disso, cada edificação tem uma história própria e uma relação específica com a comunidade a que pertence fatores que devem condicionar a escolha de uma nova função. (LYRA, 2006, p. 57).

Conforme nos assegura esse autor, é de grande importância o uso na preservação de edifícios históricos de forma a manter sua sobrevivência e relevância para a sociedade em que está inserido. Quando a perda de sua função original desaparece, deve-se considerar a reutilização, de forma a garantir sua sobrevivência sempre condizente com sua vocação; pois caso contrário, o monumento pode ficar ocioso levando a um processo de decadência física, sem volta, tornando-o inrestaurável, ou conforme LE DUC (2007): "um monumento sem uso se deteriora rápido, enquanto aquele mantido em funcionamento pode durar séculos". (Viollet-Le-Duc, 2007, p.207).


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Com a modernização da civilização e a ocorrência de novos fenômenos sociais e culturais, nem sempre é possível manter o imóvel com suas funções originais. Porém, é possível restaurar sua estrutura física mantendo suas características iniciais e requalificando seu uso; para tanto se faz necessário um estudo detalhado da edificação sempre respeitando a realidade material e a essência do monumento. Portanto, ele deve ser analisado corretamente por meio de um juízo de valor crítico, pois pode revelar a destinação mais adequada à vocação do edifício, que não é necessariamente o uso original, ainda que este seja preferível quando possível conservá-lo; sempre respeitando a realidade material e espiritual do monumento. A reutilização é a forma mais eficaz de garantir a preservação de um bem, mas não a finalidade de intervenção, desde que a preservação seja entendida como ato de cultura, e que o objetivo da intervenção seja conservar a obra para transmiti-la, da melhor maneira possível, às futuras gerações; sendo o seu uso um meio e não o objetivo da intervenção. Importante ainda destacar as recomendações a serem seguidas conforme a Carta de Veneza (ICOMOS, 1964) que dispõe sobre a conservação dos monumentos e sítios, sendo que a requalificação sempre deverá ser feita de modo a garantir uma nova funcionalidade sem jamais perder seu valor cultural. O sítio histórico de Santa Leopoldina, localizado às margens do rio Santa Maria da Vitória, abrange casarios e sobrados antigos de imigrantes suíços, alemães, pomeranos, luxemburgueses, holandeses, italianos e austríacos que chegaram na região a partir de 1857. (IBGE, 2017). Dez anos depois, se tornou a Sede Oficial da Colônia e recebia o nome de Cachoeiro de Santa Leopoldina por estar próximo ao rio que deixava de ser encachoeirado e servia como centro de armazenagem, comercialização e distribuição do produto de maior impacto da balança comercial capixaba, o café, produzido na região e transformando a cidade na 3ª colônia mais populosa do império durante 50 anos. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA LEOPOLDINA, 2009). Naquele período de comércio intenso, vários casarios, variando do neoclássico ao eclético, se ergueram levando a emancipação da colônia e tornando-a o maior empório comercial do Estado do Espírito Santo. Ocupando uma posição social relevante, a cidade de Santa Leopoldina produzia grandes festas realizadas em ruas


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e sobrados. Surge a fundação dos primeiros blocos carnavalescos do estado, tais como: “Brasil Acorda” e o “Rosa do Sertão”. Assim, pode-se dizer que Santa Leopoldina foi um município de grande importância na colonização do interior do Espírito Santo em meados do século XIX. (PREFEITURA MUNICIPAL DE SANTA LEOPOLDINA, 2009). Porém, os dias de glória chegaram ao fim a partir de 1927 com a construção da rodovia que liga Santa Leopoldina a Cariacica, a atual ES 080. A mesma retirou da cidade o monopólio sobre a distribuição dos produtos, surgindo como uma nova opção ao escoamento da produção da região, o que marca o início da decadência do tráfego fluvial e, consequentemente, do porto e da cidade na qual estava inserido, pois o Rio Santa Maria da Vitória era o grande esteio da economia para a cidade. Somado à perda do monopólio sobre o comércio que passava pelo porto e a consequente decadência do porto fluvial da sede, acontece o período da Grande Depressão, em 1929, que afetou consideravelmente as economias brasileiras baseadas no café. Neste contexto, Santa Leopoldina teve sua economia abalada, uma vez que a produção cafeeira ainda tinha grande importância para sua condição de entreposto comercial. Outro fator agravante para a cidade foi quando duas áreas foram desmembradas para a formação dos municípios de Afonso Cláudio e Itaguaçu; fato que agravou a situação, pois enquanto os distritos vizinhos cresciam e se desenvolviam gradativamente, a sede foi aos poucos perdendo sua importância. Devido a essas mudanças, a cidade de Santa Leopoldina passou a sofrer interferências sociais e econômicas, na esperança de atender a uma nova realidade. (MORELATO, 2013). Face a esse fator e a outros, tais como: a pluralidade cultural dos diversos povos colonos imigrantes em Santa Leopoldina e o tombamento do sítio histórico em 1983, considerado um dos maiores do Espírito Santo, com 42 imóveis de interesse, sendo 32 na área urbana e 10 na área rural; justifica-se a pesquisa e o estudo da intervenção, apontando um caminho que passe pela compreensão do estado atual do sítio histórico, seu estado de conservação e a sua dinâmica urbana. Além de sua real forma de preservação e conservação do conjunto edificado. Assim, o objetivo dessa pesquisa tem como enfoque principal estudar os mecanismos de preservação para sítios históricos, de forma a compreender o fenômeno da requalificação de uso enquanto ferramenta viável para preservação e


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conservação do patrimônio cultural local. Especificamente, irá ensaiar um projeto de intervenção e restauro com foco na requalificação arquitetônica, a fim de adequar o local para atender os anseios da comunidade, trazendo benefícios culturais à população e ao centro histórico de Santa Leopoldina, Espírito Santo; mantendo a tipologia arquitetônica e a vocação primordial do monumento. Metodologicamente, o desenvolvimento dessa pesquisa está estruturado a partir do recenseamento bibliográfico sobre os temas de preservação, notadamente a requalificação de uso. Em seguida, os levantamentos de campo, junto aos órgãos de preservação, especificamente a SECULT/ES; e ainda entrevistas e levantamentos junto à população, gerando um diagnóstico breve da situação atual da cidade de Santa Leopoldina - ES onde se ressalta a importância da vitalidade urbana nos sítios históricos, identificando problemas existentes com ênfase na compreensão das demandas locais, levando a uma proposta de intervenção de requalificação de uso para um edifício do sítio histórico de Santa Leopoldina.


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2. INTRODUÇÃO A preservação do patrimônio histórico e cultural em diferentes aspectos daquilo que é considerado monumento histórico precisa ser levado em consideração. No caso dos bens edificados essa discussão está intrinsecamente ligada a uma de suas características fundamentais: o uso. Segundo Choay, (2001) “A arquitetura é a única, entre as artes maiores, cujo uso faz parte de sua essência e mantém uma relação complexa com suas finalidades estética e simbólica”. A funcionalidade de uma obra arquitetônica nos conduz a diferentes reflexões, pois, além de seu papel simbólico relativo às representações sociais, é amplamente reconhecida a necessidade de uma destinação útil para a preservação de qualquer bem, já que o abandono é uma das principais causas da degradação dos monumentos. Contudo, a adaptação a uma destinação incompatível amplia o perigo de uma perda ou destruição. Dessa forma, o tratamento dado a um determinado bem e seus usos passa a ser de extrema importância para o campo da preservação arquitetônica, de tal maneira que vem sendo abordado por diferentes teóricos ao longo da breve história da ciência da restauração. 2.1. Conceitos Iniciais A preservação do patrimônio histórico cultural abrange diversos conceitos, o que torna mais acessível o entendimento das questões teóricas relativas ao universo da preservação.

2.1.1. Patrimônio Cultural, Patrimônio Histórico e Patrimônio Arquitetônico Em geral, o conceito de patrimônio quer dizer uma herança que conta a história de um povo em comum, ou seja, herdamos do passado ou criados no presente podendo ser mantido sua memória ou preservação transmitindo a gerações futuras. (SANTOS, 2009). O Patrimônio Cultural diz respeito à herança de uma cidade, a um país, ou até a uma nação. É caracterizado como o conjunto de todos os bens; sejam eles construções, obras de arte, artefatos, tradições, religiões, manifestações populares,


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festas, comidas típicas, objetos; que ao longo dos anos foram adquirindo uma importância cultural e histórica para uma determinada região e que expressem uma época em que obteve uma grande importância para a sociedade, no entanto, é de grande importância sua preservação ou sua proteção para garantir que a geração futura possa conhecer e usufruir de toda sua história. (IPHAN, 2014). Assim, segundo TOMAZ, (2010): [...] vale destacar que o estudo do patrimônio cultural promove a valorização e consagração daquilo que é comum a determinado grupo social no tempo e no espaço. Esse patrimônio compreende três grandes categorias: a primeira engloba os elementos pertencentes à natureza, ao meio ambiente; a segunda refere-se ao conhecimento, às técnicas, ao saber e ao saberfazer; e a terceira trata mais objetivamente do patrimônio histórico, que reúne em si toda a sorte de coisas, artefatos e construções resultantes da relação entre o homem e o meio ambiente e do saber-fazer humano, ou seja, tudo aquilo que é produzido pelo homem ao transformar os elementos da natureza, adequando-os ao seu bem-estar. (TOMAZ, 2010, p.03).

O Patrimônio Histórico pode ser definido por um conjunto de bens que contam a história de uma geração, e que possui significado e importância artística, cultural, religiosa. É constituído por imóvel, objetos, utensílios, documentos entre outros, esses sendo explicativos de uma sociedade em um determinado momento, sendo assim de fundamental importância para o crescimento da sociedade preservar seu patrimônio histórico, de forma a fazer parte da vida das pessoas. (IPHAN, 2014). Ao lembrar-se de um Patrimônio Histórico muitas pessoas idealizam como algo antigo, que serve apenas para relembrar a historicidade e guardar objetos que foram interessantes para determinadas épocas, "[...] pensa-se quase sempre em uma imagem congelada do passado, em algo como um museu repleto de objetos antigos, que estão ali apenas para atestar uma herança coletiva." (Paoli, apud Cezar Tomaz, 2010, p.04). No entanto, é um elemento importante e significativo que passou por constantes transformações e presenciou inúmeros fatos no decorrer de sua história, e que esses por consequência guardam a memória e realidade de seus países. (TOMAZ, 2010). O Patrimônio Arquitetônico não é formado apenas pelos monumentos mais importantes, mas sim pelo conjunto de construções antigas que fazem parte da herança histórica das cidades ou até mesmo de um local específico, que


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representam pelo seu estilo a época e as técnicas construtivas utilizadas, sendo o capital espiritual, cultural, econômico e social de valor insubstituível, além de ter um valor educativo determinante e transformando- se em um bem comum de todos. (CARTA EUROPEIA, 1975).

2.1.2. Tombamento e Preservação de Bens Culturais O tombamento é considerado o instrumento mais conhecido do poder executivo, é uma ação administrativa, tem o objetivo de preservar e resguardar os bens culturais garantindo assim sua conservação, integridade e sua perpetuação na memória, impedindo legalmente a destruição ou mutilação do mesmo, podendo ser feito pela União, pelos Estados e pelos Municípios. Em âmbito federal, o tombamento é realizado através do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN; já quando se trata dos Estados é realizado pelas Secretarias de Estado da Cultura, e nos Municípios quando a administração dispuser de leis específicas. O tombamento também poderá ocorrer em uma esfera mundial sendo realizado pelas Organizações das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – UNESCO, cujo bem será reconhecido como Patrimônio da Humanidade. (IPHAN, 2014). O tombamento foi instituído pelo Decreto-Lei n°25, de 30 de novembro de 1937, o primeiro instrumento legal de proteção do Patrimônio Cultural Brasileiro e o primeiro das Américas que organiza através de artigos a proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional sendo fundamental para o tratamento com os bens e usuais para todo tipo de informação. (IPHAN, 2014). O tombamento pode ser aplicado em bens móveis, imóveis, imateriais e materiais que tenham interesse cultural e ambiental para preservação da memória e outros referenciais coletivos em diferentes escalas, desde que se refira a um município, em âmbito mundial, podendo ser: fotografias, obras de arte, livros, utensílios, mobiliários, acervos, ruas, praças, bairros, cidades, regiões, florestas, paisagens, festas populares, literatura, danças, culinárias, cascatas, entre outros. O processo de tombamento poderá sempre ser solicitado por qualquer pessoa física ou jurídica, sendo proprietário ou não do bem; e ainda por grupos de pessoas


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através de abaixo assinado entre outros. Torna-se necessário encaminhar a correspondência à superintendência do Iphan em seu Estado, à presidência do Iphan, ou ao Ministério da Cultura. Sendo aprovada a intenção de proteger o bem cultural, é feita uma notificação ao proprietário; em seguida, é realizada a inscrição no livro Tombo. (LOURENÇO, 2006).

2.1.3. Definição de Sítio Histórico Conhecido como o "espaço que concentra testemunhos do fazer cultural da cidade em suas diversas manifestações". (IPHAN, CARTA DE PETRÓLOLIS, 1987). O sítio histórico urbano deve ser compreendido em seu sentido operacional de área crítica e não como espaços não-histórico da cidade, já que toda cidade é um organismo histórico. (IPHAN, CARTA DE PETRÓLOLIS, 1987). O sítio histórico contempla um contexto amplo composto pela paisagem natural e construído, bem como a vivência de seus habitantes no espaço de valores produzidos no passado e no presente, sendo os novos espaços caracterizados como testemunhos ambientais em formação. É essencial que neles exista uma grande diversidade de usos, abrigando universos de trabalho e do cotidiano e construindo uma sociedade heterogênea e plural respeitando assim o espaço edificado. (IPHAN, CARTA DE PETRÓLOLIS, 1987). Sendo assim, sua preservação é de fundamental importância para sua sobrevivência, devendo ser um pressuposto do planejamento urbano entendido como um processo contínuo e permanente composto por ações integradas à comunidade, órgãos federais, estaduais e municipais capazes de assegurar a proteção do patrimônio, trazer benefícios e proporcionar um bom planejamento. (IPHAN, CARTA DE PETRÓLOLIS, 1987). 2.1.4. Definição de Centro Histórico É considerada uma determinada área da cidade, em um perímetro a ser protegido em que se evidenciam marcas do passado, onde são valorizadas as obras arquitetônicas, urbanísticas e paisagísticas que melhor representam a passagem do tempo na cidade.


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O Centro histórico são testemunhos de várias épocas, a área mais antiga da cidade que recebeu valor simbólico que ao longo da história se tornou o centro, sendo composto por funções bem determinadas como exemplo: o poder público, o administrativo e o civil. "[...] é possível afirmar que este não se conforma somente pela configuração material dos elementos que o compõe – edifícios, ruas, praças, mas também pelos usos e sentidos atribuídos por seus usuários, que configuram relações sociais [...]". (NARDI, 2010). Sendo assim, o centro histórico é parte indissociável da cidade que o abriga e da natureza que o cerca, não pode ser compreendido, somente ou prioritariamente, como uma paisagem de contemplação. As ações preservacionistas devem considerar o caráter dinâmico e vivo desse ambiente urbano, que serve de referência histórica e visual para as pessoas que o vivenciam cotidianamente, abrigando usos tradicionais e constantemente se adaptando às novidades contemporâneas. (NARDI, 2010). 2.1.5. Restauração, Reabilitação, Requalificação, Retrofit As cartas patrimoniais apresentam a evolução do pensamento e oferecem orientações gerais que devem ser usadas para justificar ações e orientar, a fim de serem aplicadas nos processos e salvaguardar o patrimônio histórico. A Carta de Veneza de 1964 determina o monumento como um documento que faz parte da vida das pessoas, que está presente no dia a dia da população, e que esclarece alguns conceitos significativos sobre restauração, tais como: Artigo 9º - A restauração é uma operação que deve ter caráter excepcional. Tem por objetivo conservar e revelar os valores estéticos e históricos do monumento e fundamenta-se no respeito ao material original e aos documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese; no plano das reconstituições conjeturais, todo trabalho complementar reconhecido como indispensável por razões estéticas ou técnicas destacar-se-á da composição arquitetônica e deverá ostentar a marca do nosso tempo. A restauração será sempre precedida e acompanhada de um estudo arqueológico e histórico do monumento. (ICOMOS, 1964, p.02).

A restauração tem a intenção de preservar a obra arquitetônica para os problemas observados, mas não é tão simples assim, significa entender várias questões relevantes sobre aquele edifício, suas histórias, sua função, a vocação daquela tipologia arquitetônica, a composição do espaço, analisando seus aspectos


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construtivos, a relação dele com a comunidade, alterando sem interferir em sua concepção original e respeitando todos os aspectos documentais. É importante ressaltar que o projeto de restauro parte de uma análise do bem histórico, respeitando-se, ao máximo, a integridade e as características históricas, estéticas e formais do bem cultural, para assim transmitir ao futuro, sendo prudente e coerente nas decisões de projeto. Um problema muito frequente na prática das intervenções são usos totalmente incoerentes ao que o edifício foi destinado, ou seja, a arquitetura era composta por espaços livres, e devido a não entender e respeitar suas características o espaço adquire uma função contrária com espaços privados e fragmentados. O projeto de restauro deve ser fruto de uma pesquisa aprofundada dos elementos que caracterizam aquele espaço, estudos urbanísticos, arqueológicos, de toda obra arquitetônica, compreendendo assim seu conjunto no qual se insere. "A restauração envolve, pois, vários campos disciplinares, que devem trabalhar de forma integrada". (KÜHL, 2011, p.222). O retrofit é uma tendência que surgiu e foi desenvolvida na Europa, que significa "colocar o antigo em forma", o conceito compreende a revitalização de edifícios, preservando aspectos originais, para adaptá-los às exigências e padrões atuais. Foi uma técnica desenvolvida que passou a ser aplicada em edifícios que precisam ser adequados para melhorias e conforto. É baseado em novas tecnologias, adequação às normas vigentes e aos novos usos para tornar os espaços funcionais para os atuais usuários; modernização estética e arquitetônica, sobretudo aplicação de soluções técnicas para facilitar a manutenção. Em resumo, a utilização desta técnica resulta na renovação completa da edificação, deve ser feito um estudo para verificar sua viabilidade, uma vez que seu objetivo principal é manter as características originais do edifício. Requalificação é inovação, ou seja, quando um espaço é requalificado significa muitas vezes que é atribuído um novo uso, ou seja, agora o edifício passará a exercer uma função, a qual nunca foi lhe atribuída; é um instrumento para melhoria da qualidade de vida do lugar, promovendo a construção e a recuperação de áreas, valorizando o espaço arquitetônico. (SAYONARA, 2013).


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Reabilitação tem por objetivo recuperar uma construção de forma a melhorar seu desempenho, readaptando novamente ao uso que havia anteriormente ou a uma nova utilização. É também aprimorar as condições dos ambientes internos, proporcionando harmonia entre a preservação das características históricas do edifício e ao novo uso para o qual será destinado, atendendo aos atuais níveis de exigências.

2.2. REQUALIFICAÇÃO - NOVO USO Conforme visto anteriormente, associa-se à ideia de requalificação o novo uso. Segundo Lyra (2006), considera-se o uso, na preservação de um edifício histórico, de extrema importância para a conservação do mesmo. Muitas obras arquitetônicas antigas devem sua vitalidade ao fato de continuar tendo uma função para atender a sociedade ao longo da sua história, uma característica que mantém sua integridade, pois muitas obras que perderam sua função ao longo dos anos foram reaproveitadas para abrigar novos usos, por conseguinte não foram demolidas ou destruídas, mas sim ajustadas ao novo momento. Por outro lado, a incapacidade de alguns edifícios de abrigar novas funções levaram muitas obras arquitetônicas importantes ao desaparecimento. As ruínas são um testemunho, pois um dia tiveram papéis importantes e em certo momento ficaram ociosas, perdendo suas principais funções, e logo após, por consequência, sofreram processos de decadência física, e em contrapartida, se tornaram ruínas; exemplo de arquiteturas não mais restauráveis. Ainda, segundo o autor, vários edifícios que não tiveram uma continuidade de utilização e se encontravam em estado de abandono físico foram destruídos. Pois também não havia uma noção de patrimônio histórico e preservação para as nacionalidades, e estes eram considerados apenas como imóveis velhos que ocupavam o lugar do progresso e do desenvolvimento. Quando, por alguma necessidade, eram reciclados, também eram descaracterizados perdendo seus aspectos históricos e artísticos. Em Roma, capital italiana, muitos edifícios foram readaptados a diferentes usos para os quais foram concebidos, sendo assim, evitou-se que muitos se arruinassem. "Embora reutilizações completamente diversas das funções originais tenham


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salvado do desaparecimento muitos monumentos, pode-se considerar que tais fatos foram excepcionais, possuindo cada tipo arquitetônico um leque finito de vocações de uso" (LYRA, 2006, p.57). Um exemplo marcante, segundo o autor, foi a igreja católica Basílica de Santa Maria Degli Angeli e Dei Martiri, (FIGURA 1) onde hoje se celebram as cerimônias oficiais do Estado Italiano, que foi orginalmente, o Tepidarium das Termas de Diocleciano responsável pelos serviços hídricos e higiênicos aos bairros romanos.

Figura 1- Basílica de Santa Maria Degli Angeli e Dei Martiri

Fonte: http://www.romapravoce.com

Podemos ainda perceber essa questão no exemplo análogo, o Palácio Anchieta (FIGURA 3) localizado em Vitória, Espírito Santo, onde hoje se encontra a Sede do Governo do Estado. O edifício foi construído inicialmente para abrigar o colégio jesuíta, (FIGURA 2) erguido no século XVI pelos padres Brás Lourenço e José de Anchieta. Até 1760, o Palácio Anchieta abrigou o Colégio de São Tiago, sendo que a Igreja de São Tiago servia espiritualmente à sociedade. Após um incêndio que destruiu a primeira sede da Igreja em 1559, missionários iniciavam a reconstrução


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de uma nova sede, agora toda feita em pedra, a obra da então Igreja foi concluída apenas em 1747.

Figura 2 - Igreja São Tiago 1908

Fonte: http://web2.ufes.br

No ano de 1912, o edifício religioso foi desativado e várias reformas foram realizadas, passando a abrigar um novo uso; a Sede do Governo do Estado do Espírito Santo - Palácio Anchieta, de acordo com esses fatos o monumento obteve uma continuidade na utilização contribuindo para preservação e conservação do mesmo. O palácio, atualmente, é considerado uma das mais antigas sedes de governo do país aberto à visitação, possui o túmulo simbólico do padre José de Anchieta, e um vasto acervo com objetos de decoração, obras de artes e espaço cultural, e possui grande importância para a cidade.


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Figura 3 - Palácio Anchieta

Fonte: https://br.pinterest.com

Seguindo o raciocínio de Lyra, (2006), algumas adaptações para novos usos, não condizente com o patrimônio edificado, podem levar a destruição total do edifício. Como exemplo, o autor destaca o Parthenon, (FIGURA 4) considerado o edifício remanescente mais conhecido da Grécia Antiga e o melhor da arquitetura grega, que foi adaptado para atender a uma nova função, essa identificada como paiol de pólvora e no ano de 1687 foi atingido por uma bala de canhão veneziana, se tornando ruina após a explosão. (LYRA, 2006). Assim como a tipologia arquitetônica resulta da função que a motivou, o que explica o fato de se diferenciarem externamente casas, igrejas, mercados e indústrias, por sua expressão formal, é de concluir que a função original marca definitivamente o edifício, conferindo-lhe um caráter. E, nesse sentido, não seria razoável fazer de uma moradia uma fábrica, de um mercado um templo, porque as características de cada tipologia barquitetônica impregnam definitivamente seus exemplares. (LYRA, 2006, p.57).


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Figura 4 - Partenon Atenas, Grécia Antiga

Fonte: http://www.portahistorica.blogspot.com.br

Outro exemplo a ser citado é o conjunto Jesuítico de Araçatiba, (FIGURA 5) localizado em Viana, Espírito Santo.

Figura 5 - Conjunto Jesuítico de Araçatiba - Viana

Fonte: http://acervodigital.iphan.gov.br


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O conjunto jesuítico foi construído no século XVIII e fazia parte do conjunto arquitetônico da antiga Fazenda de Araçatiba, território originalmente habitado pelos índios Temiminós, quando foi ocupada pelos jesuítas. A fazenda era constituída por residência, engenhos, senzalas, oficinas e a igreja.

Foi considerada uma das

maiores fazendas jesuíticas da costa brasileira, dedicada ao cultivo de cana de açúcar, criação de gado e plantação de cereais, a qual veio a ser dividida por herdeiros. (IPHAN, 2015). A Igreja de N. S. da Ajuda (FIGURA 6) nesse período de transição continuou tendo seu funcionamento, devido a isso foi preservada, já a Residência Jesuítica (FIGURA 7) em meados dos anos de 1940 ainda se encontrava em aparente estado de conservação, vindo a se arruinar nos anos seguintes devido à falta de manutenção e de um possível novo uso para que de modo fosse conservada. Atualmente, desse conjunto só existe a igreja que ainda é utilizada, e as ruínas da residência. O tombamento foi realizado pelo Iphan em 20 de março de 1950 , e em 1968 o IPHAN atuou de forma minuciosa na revisão dos diversos elementos, realizando vários reparos à obra no decorrer do tempo. (IPHAN, 2015).

Figura 6 - Igreja Nossa Senhora da Ajuda

Fonte: http://portal.iphan.gov.br


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Figura 7 - RuĂ­nas da Antiga ResidĂŞncia

Fonte: http://portal.iphan.gov.br


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3. CAPÍTULO I – A REQUALIFICAÇÃO DE USO EM EDIFÍCIOS HISTÓRICOS OU DE INTERESSE DE PRESERVAÇÃO A seguir, neste capítulo, serão desenvolvidos aspectos teóricos relevantes quanto à questão do uso e da conservação, mediante evolução do pensamento da preservação, onde diferentes teóricos, tais como: Viollet-Le-Duc; John Ruskin, e Camilo Boito, ao longo do tempo, articularam suas ideias; chegando ainda às considerações que foram atribuídas na Carta de Veneza de 1964. 3.1. Os primeiro anos da preservação no Brasil Para entendermos melhor como se deu a trajetória da Preservação Histórica Cultural no Brasil e no mundo, é preciso primeiramente, regressar no tempo e então reconhecer suas origens, como esse tipo de assunto fora tratado naquela época. De acordo com Eugène Emmanuel Viollet-le-Duc, arquiteto francês, nascido em 1814 em Paris, considerado um precursor teórico da arquitetura moderna, um dos primeiros estudiosos que tentou estabelecer os princípios de intervenção em monumentos históricos e um dos primeiros a abordar questões referentes à Restauração no século XIX, defendia a necessidade de um uso às edificações, sendo fundamental para preservação de qualquer bem, onde afirmava: Ademais, o melhor meio para conservar um edifício é encontrar para ele uma destinação, e satisfazer tão bem todas as necessidades que exige essa destinação, que não haja modo de fazer modificações. É claro, por exemplo, que o arquiteto encarregado de fazer do belo refeitório de SaintMartin des Champs uma biblioteca para a Escola de Artes e Ofícios, deveria esforçar-se, sempre respeitando o edifício e mesmo restaurando-o, para organizar as estantes de maneira tal que não fosse necessário voltar atrás e alterar as disposições dessa sala. (VIOLLET-LE-DUC, 2007, p.65).

Assim, defendia a ideia de reutilização funcional das edificações, onde a arquitetura deveria ter uma utilização concreta, ou seja, deveria encontrar um uso adequado de forma a tornar o monumento útil para a sociedade, trazendo vitalidade para aquela obra. O campo da restauração crescia e se firmava como ciência na França, no século XIX, devido a vários eventos econômicos, políticos e sociais que foram ocorrendo ao longo do tempo pela Europa, e principalmente motivados pelo Iluminismo, Revolução Francesa e Revolução Industrial. A partir daí, os conceitos sobre a


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restauração começaram a serem estabelecidos pelas ideias de Viollet-le-Duc e implantadas em diferentes países. (SANTOS; VITRUVIUS, 2005). De acordo com Viollet-le-Duc (2007) em seu modo de pensar sobre o conceito moderno de restauração, acreditava que o profissional da área deveria ter um correto conhecimento da utilização da obra, pois restaurar um edifício não resulta simplesmente em mantê-lo, repará-lo ou refazê-lo, e sim restabelecê-lo em um estado que mantenha suas funções de forma a torná-lo sempre mais cômodo. Oposto às ideias de Viollet-le-Duc, destaca-se o crítico inglês, John Ruskin (18191900), que representava as consciências romântica, moralista e literária, considerado um defensor da preservação dos monumentos e da autenticidade histórica. Para Ruskin restaurar um edifício era a mais completa destruição por qual poderia estar sujeito um bem histórico. Ruskin não acreditava na possibilidade da restituição do belo e grandioso através da restauração, pois aquilo que foi dado por “primeiro construtor” jamais poderia ser devolvido com a intervenção. Ruskin era categórico ao afirmar que outras épocas dariam ao monumento outra alma, outro enfoque, outra cara, transformando o objeto em um novo edifício, não mais aquele que a história permeou. (OLIVEIRA, 2008). Segundo (MONTEIRO, 2012) Ruskim defendia com fervor a conservação e a preservação do patrimônio, sejam elas residências ou edifícios, sendo totalmente contra a restauração. Considerava a obra arquitetônica quanto mais antiga ela fosse, mais valor ela teria para representar a história da sociedade e deveria permanecer assim intacta, pois havendo algum tipo de restauro perderia por total seu significado. "Cuide bem de seus monumentos, e não precisará restaurá-los. Algumas chapas de chumbo colocadas a tempo num telhado, algumas folhas secas e gravetos removidos a tempo de uma calha, salvarão tanto o telhado como as paredes da ruína. Zele por um edifício antigo com ansioso desvelo; proteja-o o melhor possível, e a qualquer custo, de todas as ameaças de dilapidação."(MONTEIRO, apud RUKIN 2008, p.05).

Essa visão de Ruskin desviou os olhares para a questão fundamental que é a função do edifício, o correto uso ao qual aquele monumento terá, para assim ser preservado, e sugeriu, assim como um método, a manutenção periódica, como


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forma de conservar aquele patrimônio histórico e prolongar o máximo possível sua vida, a fim de evitar maiores danos por intervenções que ele considerava traumáticas às obras. A partir das duas teorias fundamentadas por Viollet-le-Duc e John Ruskin, surge um novo pensamento o restauro científico fundamentado por Camilo Boito (1836-1914), onde considera "a coexistência dos diferentes estilos que se somam ao monumento, sem buscar nunca a unidade estilística, assim como, diferenciar claramente o antigo e o novo, eliminando os falsos históricos." A ideia era deixar claro e dar visibilidade plena entre o que foi restaurado e o acrescido (RIBEIRO, 2016). Boito defende que a restauração e a conservação são coisas diferentes, onde a conservação é tida como necessária e traz benefícios ao patrimônio, e a restauração pode ser entendida como supérflua e perigosa, mas que a conservação deve sempre estar em primeiro lugar. Apresenta uma evolução da teoria da restauração e traz grande contribuição para as intervenções contemporâneas (ARAÚJO, 2005). Segundo Ítalo Campofiorito, (1985), no Brasil, a forma que os mentores de antigamente pensavam relacionados à preservação do patrimônio histórico cultural não eram muito claras e objetivas justamente pela falta de conhecimento que se tinha sobre o assunto. No decorrer do tempo, começaram a especular algo que suprisse essa necessidade e tentaram de alguma forma solucionar eventuais problemas, quando já havia uma preocupação com a construção de uma memória nacional. Esse momento de transição foi caracterizado como o fim da primeira fase pela luta da criação de uma entidade de defesa e preservação, no ano de 1936, e o início da “fase heroica”, em 1937, onde uma série de iniciativas muito importantes foi despertando interesses para a criação de uma instituição nacional de preservação do patrimônio cultural. O então Ministro da Educação e Saúde, Gustavo Capanema, denomina a criação do serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-SPHAN, o qual teria a função de resguardar a memória nacional, e convida para a elaboração desse projeto inovador Mário de Andrade, o então intelectual, de múltiplos conhecimentos. Criou- se, então, o Decreto-Lei nº 25/37, baseado nos estudos de Mario de Andrade, que estabeleceu os principais conceitos como os de arte arqueológica, ameríndia, etnográfica e


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popular e o instrumento legal do tombamento, considerado uma medida inovadora para a preservação dos monumentos existentes. O livro do Tombo ficou muito mais acessível ao entendimento da sociedade "[...] É claro que não se podia tombar tudo, nem imobilizar o mundo, mas o fato é que os critérios de gostos que prevaleceram por mais de três décadas ficaram garantidos pelos termos da legislação [...]".(CAMPOFIORITO, 1985, p.02). Mario de Andrade, pioneiro do Departamento de Cultura do Estado de São Paulo, indicou para a direção do então SPHAN: Rodrigo Melo Franco de Andrade, advogado e jornalista, um intelectual modernista que assumiu oficialmente a direção do SPHAN em 1937 e dirigiu a instituição por mais de 30 anos, a ponto de simbolizar o patrimônio no Brasil, e a tornou uma das mais importantes do mundo. Rodrigo Melo Franco tentou conscientizar não somente o Brasil sobre a preservação do patrimônio, mas também o exterior com uma conscientização acerca da memória nacional. O Iphan, como é chamado na atualidade, durante seus primeiros 30 anos, necessitou estabelecer uma série de medidas para preservar o Patrimônio Histórico e Cultural do Brasil, e para isso contou com a contribuição de alguns nomes como Oscar Niemeyer, Carlos Drummond de Andrade, Lúcio Costa entre outros. Naquele momento, foram desenvolvidas várias atividades em favor da defesa de bens culturais isolados, os quais foram estudados, documentados; e também foram recuperados inúmeros bens protegidos como: pinturas, esculturas, mobiliário de diversas regiões do país; tais coleções constituíram um grande acervo, até então, instalados em prédios representativos e também históricos. Houve vários tombamentos de edificações históricas, religiosas e arquitetônicas naquela época: Até 1982, foram tombados 952 bens, 40% dos quais entre 1938 e 1942, numa avalanche salvadora; 50% daqueles primeiros tombamentos, e 40% do total em 44 anos. Foram de arquitetura religiosa; 94% de bens dos bens tombados são arquitetônicos, 4% bens móveis e 2% paisagístico. Com relação ao território nacional, 25% dos bens tombados ficam na 6° Diretoria regional, situados 22,5% no Rio de Janeiro; 20% são em Minas Gerais; 18% na Bahia e 8% em Pernambuco [...] (CAMPOFIORITO, 1985, p.04).


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Inúmeros tombamentos foram realizados, desde pequenas edificações religiosas até conjuntos urbanos e cidades inteiras, como o acervo arquitetônico e paisagístico de São João Del Rey, Tiradentes, Diamantina, Congonhas e Ouro Preto. Devido ao grande processo de urbanização que ocorreu no Brasil, muitos bens móveis relevantes, pelo seu valor histórico perderam-se, principalmente, nas cidades de São Paulo e Rio de Janeiro. No Brasil, essa fase se caracterizou por ter uma preocupação em não deixar que as edificações civis e religiosas viessem a desaparecer ou se arruinar coincidindo com o término da Gestão de Rodrigo Mello Franco de Andrade, na década de 1960. Pelo menos duas décadas mais tarde, viriam os desdobramentos de tantos esforços iniciais e a consolidação de uma instituição que valorizasse e desenvolvesse aspectos técnicos e administrativos a favor de uma cultura nacional. Nesse contexto, observa-se que a trajetória histórica da preservação no Brasil focou justamente na preservação intrínseca do bem. Com fortes matrizes lusitanas, a arquitetura histórica inicialmente valorizada foi aquela relacionada aos usos e tradições da cultura religiosa e da história oficial, pautada em elementos de segurança territorial, tais como fortes e fortalezas, assim como os palácios e a arquitetura institucional ligados ao poder. Com isso, portanto, a questão do uso não se faz presente nas discussões e teorias iniciais acerca da preservação no Brasil, permanecendo a doutrina onde o bem tombado não é desapropriado, ficando o direito de compra e venda mantido. Contudo, o bem não poderia ser destruído e toda obra ou reforma só viria ser realizada com a prévia autorização do SPHAN. (CHUVA, 2014). Limitava-se, desde então, parcialmente o direito do proprietário, consequentemente seu uso sobre seu bem, estabelecendo regras, que concorriam com as normas municipais, que regulamentavam o uso do solo urbano; reforçando a ideia de que as determinações impostas pelo tombamento devem ser absorvidas pela legislação urbana. Restava ao SPHAN atuar apenas como órgão fiscalizador da proteção do patrimônio nacional, fazendo uso do poder de polícia para embargar obras e impedir que alterações, modificações ou a destruição de um bem tombado se concretizasse.


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3.2. A Carta de Veneza Modus operandi, ao tratar de bens culturais é necessário recorrer às chamadas Cartas Patrimoniais. Estas são documentos de utilização e preservação do patrimônio histórico, em especial aquelas derivadas de organismos internacionais, cujo caráter é indicativo ou, no máximo, prescritivo. Foram criadas a partir das recomendações desenvolvidas por órgãos de preservação, não são documentos que constituem receituário para aplicação. (ICOMOS, 1964). As cartas são documentos concisos e sintetizam os pontos a respeito dos quais foi possível obter consenso, oferecendo indicações de caráter geral. Possuem, portanto, caráter indicativo, ou, no máximo, prescritivo. (Kühl, 2010, p.289).

Essas cartas são documentos que servem como base para diferentes áreas que atuam na preservação. A Carta de Veneza (ICOMOS, 1964) tem como finalidade a conservação e restauração de monumentos e sítios que visam salvaguardar tanto a obra de arte como o testemunho histórico. A carta possui uma série de princípiosguia, ou diretrizes, o que é algo muito diferente de regras e de um receituário para a sua aplicação. Esses princípios devem ser interpretados corretamente para cada caso particular de aplicação, traz também uma evolução do pensamento da preservação, no intuito de trazer novas formas de intervenção no imóvel e a sua apropriação enquanto patrimônio mundial. Os vários artigos da carta foram realizados abordando as questões dos usos, da conservação e da preservação de várias obras arruinadas. Segundo Kühl (2010) é possível encontrar um uso compatível com o edifício a fim de preservá-lo, isso aparece de fato nos seguintes artigos da Carta de Veneza: Artigo 4°- A conservação dos monumentos exige, antes de tudo, manutenção permanente. (ICOMOS, 1964, p.02). Artigo 5º – A conservação dos monumentos é sempre favorecida por sua destinação a uma função útil à sociedade; tal destinação é, portanto, desejável, mas não pode nem deve alterar a disposição ou a decoração dos edifícios. É somente dentro destes limites que se devem conceber e se podem autorizar as modificações exigidas pela evolução dos usos e costumes. (ICOMOS, 1964, p.02).

O uso é o principal meio de se preservar uma obra arquitetônica e assegurar a continuidade de sua vida. Deve ser entendida a finalidade da sua utilização de modo


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a respeitar seus aspectos históricos e artísticos. Sua utilização, segundo Emanuele Severino (2003), deve ser entendida como meio, algo essencial, que tem consequências distintas na forma de abordar o objeto; essa comparação é realizada através da seguinte questão "Comer para viver é algo essencialmente diverso de viver para comer." (Kühl, 2010, p.309). 3.3. A Atualidade da Teoria do Restauro Segundo Giovanni Carbonara (1942), arquiteto Italiano, historiador da arquitetura e teórico da restauração e renovação; o restauro é qualquer intervenção voltada a conservar e a transmitir ao futuro, facilitando a leitura e sem cancelar os traços da passagem do tempo, as obras de interesse histórico, artístico e ambiental. Carbonara aderiu à linha crítico-conservativa, a qual considera a análise de outros restauradores como Cesare Brandi e reiterando seus pensamentos e teorias, tais como: (...) a restauração deve visar ao restabelecimento da unidade potencial da obra-de-arte, desde que isso seja possível, sem cometer um falso artístico ou um falso histórico, e sem cancelar nenhum traço da passagem da obra de-arte no tempo. (CESARE BRANDI, 2008, P.33).

De acordo com as teorias formuladas por Brandi, argumenta que a restauração deve se basear na análise da obra "é o momento metodológico do reconhecimento da obra de arte, na sua consistência física e na sua dúplice polaridade estética e histórica, com vistas à sua transmissão ao futuro" . Cabe ressaltar que tal abordagem conduz a uma condição onde se deve levar em consideração o estado do monumento a ser restaurado. (TERRA, 2016). Segundo Kühl (2010), o principal objetivo da restauração é preservar a solução arquitetônica para eventuais problemas, todo o acréscimo realizado na obra deve ser feito em linguagem contemporânea a fim de distinguir o novo, de forma que não induza o observador ao engano. O restauro envolve ainda analisar da melhor maneira possível seus aspectos, como "ler os edifícios e o local em que está implantado, saber inserir novos elementos, alterando, sem, no entanto, ferir, a concepção original" respeitando assim seus aspectos documentais. Conforme visto, a partir dos anos 1960 abandonou-se o princípio de preservar somente os grandes monumentos e passou-se a considerar outros elementos como


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exemplos de interesse histórico, onde a preservação adotou novas possibilidades e metodologias. Para Carbonara (1942), o principal meio de preservar um monumento histórico é através das múltiplas possibilidades em agregar novo valor e qualidade ao bem histórico. Reutilizar, Reabilitar, Recuperar, onde a Requalificação será o meio mais eficaz para a preservação do bem, mas não a finalidade da intervenção. Dessa forma, depreende-se que a reutilização e suas variáveis devem ser consideradas como possibilidades na garantia da manutenção constante do edifício, pois proporciona continuidade ou novo uso ao imóvel que passe por uma intervenção de restauro, não abrindo margem para que o bem cultural venha a ser deteriorado e provoque consequências danosas que levem a sua perda ou não possa ser mais recuperáveis em sua integridade. 3.4. Novas Exigências Arquitetônicas Contemporâneas 3.4.1. Acessibilidade A acessibilidade é entendida como a “facilidade disponibilizada às pessoas que possibilite a todos a autonomia nos deslocamentos desejados, respeitando-se a legislação em vigor” (inciso III do art. 4º da Lei nº 12.587/12). Ou seja, consiste na possibilidade de alcançar com autonomia e segurança o destino desejável possibilitando que o indivíduo possa ir e vir sem obstáculos, em condições seguras, eliminando qualquer tipo de barreira. (IPHAN, 2014). Acessibilidade, arquitetura inclusiva e direito das pessoas com necessidades especiais são questões cada vez mais importantes na sociedade atual. Cabe ressaltar que para ter acessibilidade no ambiente físico, é importante conhecer e adotar os princípios do "Desenho Universal", ou seja, projetar pensando em todos os usuários. (IPHAN, 2014). "Para o Desenho Universal, qualquer ambiente poderá ser acessado fisicamente e utilizado, independente do tamanho do corpo do indivíduo ou de sua mobilidade. "(REIS, 2015). Propõe soluções a serem adotadas, podendo ser

utilizadas por todas as pessoas com deficiência e com mobilidade reduzida. O objetivo é criar ambientes que sejam convenientes, agradáveis e acessíveis, para a sociedade. (IPHAN, 2014). A cerca de estruturar os conceitos relativos ao "Desenho Universal", foram desenvolvidos sete princípios. Esses princípios são essenciais aos profissionais que


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desejam produzir espaços para a diversidade humana e podem ser aplicados para avaliar projetos existentes e guiar o processo de criação de novos projetos. (REIS, 2015). 01. Uso equiparável 02. Flexibilidade de uso 03. Uso simples e intuitivo 04. Informação perceptível 05. Tolerância ao erro 06. Baixo esforço físico 07. Tamanho e espaço para aproximação e uso Os princípios têm o objetivo de informar e orientar profissionais e consumidores quanto às características de produtos e ambientes acessíveis a toda diversidade de usuários. A falta de acessibilidade é a principal barreira enfrentada por pessoas que convivem com algum tipo de deficiência no país. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-IBGE, os resultados do Censo 2000 mostram que aproximadamente 24,5 milhões de pessoas, ou 14,5% da população total apresentaram algum tipo de incapacidade ou deficiência, considerado um grande desafio com os profissionais que atuam na área, e que provém permitir a inclusão. (IBGE, 2002). Como soluções para atender às diversas incapacidades de mobilidade das pessoas, no que concerne à acessibilidade a edifícios históricos, devem ser consideradas as recomendações universalmente estabelecidas, bem como as normas nacionais. A Lei nº 10.098, de 19.12.2000 "estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências", mediante a supressão de barreiras e de obstáculos nas vias e espaços públicos, no mobiliário urbano, na construção e reforma de edifícios, nos meios de transporte e de comunicação. (LEI Nº 10.098 ACESSIBILIDADE, 2000).


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Essa Lei, cujas normas gerais se aplicam a todos os entes da Federação, foi regulamentada pelo Decreto nº 5.296, em 2 de dezembro de 2004, a qual estabelece que “as soluções destinadas à eliminação, redução ou superação de barreiras na promoção da acessibilidade a todos os bens culturais imóveis devem estar de acordo com o que estabelece a Instrução Normativa nº 1 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, de 25 de novembro de 2003” (Decreto nº 5.296,2004).

Essa

instrução

normativa

estabelece

diretrizes,

critérios

e

recomendações para as devidas condições de acessibilidade aos bens culturais imóveis, a fim de equiparar as oportunidades de fruição destes bens pelo conjunto da sociedade, em especial pelas pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. (MIRANDA, NOVAIS, 2009). Promover a acessibilidade aos bens culturais com ganhos de funcionalidade é a garantia de melhor qualidade de vida para todos os cidadãos, segundo os quais todas as pessoas devem ter condições iguais de visitar, conhecer e adquirir algum tipo de informação ou conhecimentos sobre aquele patrimônio histórico. (IPHAN, 2014). Os bens culturais não devem ser bloqueadores do direito de usufruto, e sim permitir ao usuário a total utilização do seu espaço, não devem também isolar os indivíduos, e sim promover interação com o meio físico em que está inserido. Como soluções para atender às diversas incapacidades de mobilidade dos indivíduos, no que diz respeito à acessibilidade, devem ser consideradas as normas técnicas, em matéria de dimensionamento e segurança. (IPHAN, 2014). A NBR 9050 prevê a regulamentação da acessibilidade às edificações, ao mobiliário, aos espaços e aos equipamentos urbanos. Conforme consta de seus objetivos: "Esta Norma estabelece critérios e parâmetros técnicos a serem observados quanto ao projeto, construção, instalação e adaptação do meio urbano e rural, e de edificações às condições de acessibilidade." O objetivo é eliminar as barreiras físicas e sociais dos espaços a fim de atribuir uma melhor fruição do patrimônio cultural. (ABNT; NBR 9050, 2015). No tocante ao edifício histórico, a adequação para atender às pessoas com mobilidade reduzida não significa chegar ao ponto de causar qualquer tipo de dano


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ou descaracterização ao testemunho histórico, e sim favorecê-lo para melhorar a qualidade do uso do imóvel, proporcionando conforto e contribuindo para o seu reconhecimento e sua valorização a toda a sociedade. A NBR 9050, em sua terceira edição, no que diz respeito às qualidades que devem ser providas ao edifício histórico, estabelece que todos os projetos de adaptação para acessibilidade de bens tombados devem obedecer aos requisitos disponíveis na norma, mesmo quando houver áreas inacessíveis cuja adaptação seja impraticável, contando que assegure o acesso por meios de informações seja elas; visual auditiva ou tátil, garantindo da melhor maneira os conceitos da acessibilidade. (ABNT, 2015). 3.4.2. Segurança e incêndio Acerca das legislações de segurança e incêndio, a maioria dos incêndios pode ser evitada, desde que sejam instalados sistemas de proteção adequados, e que estes sejam mantidos e inspecionados periodicamente. Os edifícios históricos devem ser assegurados de grandes investimentos em proteção contra incêndio, compatível com sua importância histórica e cultural, pois possuem valor inestimável. É requisito obrigatório para a proteção, o projeto, a implantação e a manutenção das saídas de emergências, sistemas de detecção, alarmes entre outros, atendendo o Decreto n°56.819, de 10 de março de 2011. O Decreto n°56.819 institui o Regulamento de Segurança contra Incêndio das Edificações e Áreas de Risco. (ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DE SÃO PAULO, 2011). Propõe um conjunto de dispositivos ou sistemas a ser instalado nas edificações e áreas de risco, necessário para evitar o surgimento de um incêndio, limitar sua propagação, possibilitar sua extinção e propiciar a proteção à vida, ao meio e ao patrimônio. (DECRETO Nº 56.819, DE 10 DE MARÇO DE 2011). Em seu artigo 23, são estabelecidos os tipos de proteção contra incêndio, necessários ao ambiente construído, graduando pelo combustível médio previsto no local (carga de incêndio), mais áreas construídas, altura e tipo de ocupação. (DECRETO Nº 56.819, DE 10 DE MARÇO DE 2011).


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O intuito do decreto é implantar as medidas de segurança contra o incêndio nos ambientes, a fim de propor maior segurança, de forma a atender as exigências estabelecidas preservando o patrimônio. 3.4.3. Conforto Térmico/Acústico Um dos grandes desafios é a atualização dos edifícios históricos em relação às questões de conforto térmico e acústico. Neles, devem ser implantadas medidas que permitam aumentar as condições de conforto para com os visitantes, de modo a não descaracterizar os elementos contidos no patrimônio. (ARAÚJO, 2008). Promover conforto térmico nas edificações é fundamental para a redução do consumo de energia, além de promover aos usuários melhor desempenho das atividades do cotidiano, proporcionando uma boa arquitetura. Algumas soluções como: o bom aproveitamento da iluminação natural, a escolha de materiais eficientes, o isolamento entre as trocas de calor entre os vãos envidraçados, entre outros podem contribuir para um bom conforto térmico e uma significativa melhoria da qualidade do mesmo. "Atualmente, a preocupação com a acústica não é apenas uma questão de condicionamento acústico do ambiente, mas também de controle de ruído e preservação da qualidade ambiental." (SOUZA, ALMEIDA, BRAGANÇA, 2012). O conceito de conforto acústico se refere às principais medidas que podem ser implementadas no ambiente, para que permaneça sempre dentro do limite de ruídos, tornando o ambiente agradável e aconchegante. A maior concentração de ruídos em um ambiente, geralmente, está concentrada em seu exterior, entretanto os novos projetos podem ajudar a propor no ambiente um maior conforto através de soluções isolantes e adequadas. Contudo, a especificação do tratamento acústico parte de uma determinação do profissional da área que define primeiramente as características do ambiente interno para que o conforto acústico seja garantido. (ARAÚJO, 2008).


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3.5. Requalificações - Novos Usos em Edifícios Históricos e de Interesse de Preservação - Estudo de Casos Com o objetivo de compreender as intervenções realizadas a partir de novos usos proposto no patrimônio histórico, e a fim de destacar as circunstâncias que levaram ao estado de abandono e a perca da importância do mesmo para a sociedade, foram analisados três edifícios históricos inseridos no contexto urbano das cidades, com elevado índice de visitação, sendo eles nacionais internacionais e locais. A seleção dos edifícios levou em consideração a importância do bem cultural para a sociedade, as suas qualidades arquitetônicas e as novas funções que foram atribuídas para preservação e conservação do mesmo. 3.5.1. Waag Society Amsterdã - Holanda O edifício Waag Society está localizado na Praça Nieuwmarkt em Amsterdã, Holanda. Foi construído no século XV, datado de uma origem na arquitetura medieval, sendo considerado o mais antigo edifício não religioso remanescente de Amsterdã. Trata-se de um patrimônio importante para a capital holandesa, pois foi, originalmente, um dos portões da muralha da cidade, o Sint Antoniespoort (Portão de Santo Antônio). (HTTPS://EM.WIKIPEDIA.ORG). Em 1617, o edifício já foi reutilizado quando a cidade se expandiu para abrigar uma casa de passagem, ou seja, para ser um edifício público. O imóvel passou por uma série de adaptações, houve a necessidade de implantar um pátio interno, cobrindo as portas dianteiras e principais e, devido a isso, foi necessário eliminar algumas partes que não eram importantes para o funcionamento daquele uso. Nesse mesmo período, foi feita uma nova estrutura acoplada à existente: um salão, coberto por uma torre central octogonal que se ajustou a arquitetura existente. O edifício perdeu a função de casa de passagem em 1819 e, a partir daí, veio abrigando uma gama de funções diferentes no decorrer do tempo.


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Figura 8 - Edifício Waag em 1885

Fonte: https://commons.wikimedia.org

Em 1991, o monumento se encontrava fechado, sem nenhum tipo de função, abandonado, e foi nesse período de descaso com sua arquitetura que foi realizado um projeto de restauro e requalificação para abrigar então o novo uso. O projeto foi realizado pelo arquiteto Walter Kramer, esse por sua vez possuía conhecimento especializado

em

relação

(HTTPS://EM.WIKIPEDIA.ORG).

a

construções

medievais

e

fundações.


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Figura 9 - Edifício Waag Society em 1990

Fonte: https://br.pinterest.com

O projeto visou estabelecer que o imóvel voltasse a ter uma função de importância, voltado para a demanda da sociedade atual. Seus ambientes passam a ter funções totalmente diferentes das que o edifício teve ao longo da sua história. Nesse processo, foram realizadas inspeções em sua estrutura a fim de relatar sua atual situação. Todo entorno recebeu uma nova pavimentação e um toldo reversível foi adicionado à sua fachada. O acesso e suas atividades mudaram por completo, pois o edifício se tornou a Sede da Waag Society; um grande instituto que incentiva a experimentação

com

novas

tecnologias,

arte

e

cultura.

(HTTPS://EM.WIKIPEDIA.ORG). O edifício passou a abrigar no atual uso, um Café-Restaurante no térreo e o Fab Lab no pavimento superior, elementos importantes para a atualidade na cidade. O caférestaurante traz diversos turistas e moradores principalmente no verão, onde há


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mesas na esplanada à frente, em que as pessoas podem sentar e apreciar toda a paisagem e movimento local.

Figura 10 - Térreo do Edifício Waag

Fonte: https://br.pinterest.com

O Fab Lab (Laboratório de Fabricação) ou a chamada indústria criativa, criado e implantado nesse edifício, tem como foco a invenção e a inovação, dando oportunidade de experimentar o “fazer” digital, o aprendizado e compartilhamento de suas experiências com os outros. O Fab Lab faz parte ainda de uma rede global, onde se compartilha conhecimentos, conectados uns aos outros, usando um avançado sistema de videoconferência, onde qualquer pessoa pode expor suas ideias e, com a ajuda de equipamentos digitais, seguir transformando essas ideias em protótipos e produtos. As pessoas que querem usar o Fab Lab são pessoas que buscam fazer a diferença na sociedade, e que procuram produzir algo, estando empenhadas em compartilhar o conhecimento, para que outras pessoas possam se beneficiar.


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Figura 11- Laboratório de Fabricação Fab Lab

Fonte: http://www.makertour.fr

Figura 12 - Laboratório Fab Lab

Fonte: http://www.makertour.fr

3.5.2. Teatro Paiol - Curitiba - Brasil O edifício em forma circular foi construído em 1874 para ser utilizado pelo Exército Brasileiro como arsenal de pólvora e munições. Após ser desativado, pois o uso não


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tinha mais sentido para a atualidade, foi convertido para um novo uso, agora voltado para as demandas culturais da cidade. O Teatro inaugurado em 1971, projetado pelo arquiteto Abrão Assad é um espaço cultural e auditório para teatro e espetáculos musicais.

Figura 13 - Teatro Paiol

Fonte: http://curitibaspace.com.br

O projeto de requalificação e restauro preservou a arquitetura original do edifício, visando preservar sua história. Seu interior foi completamente adaptado para receber uma moderna estrutura de teatro; com um espaço para 225 espectadores. Essa nova estrutura se ajustou à pré-existente, adequando-se às necessidades contemporâneas de um teatro. Foram criados novos ambientes como: camarins, um espaço para o sistema de som, iluminação, e o palco para as apresentações com aconchegante proximidade entre artistas e plateia. O espaço circular externo foi reproposto para a circulação das pessoas e para a entrada principal do edifício. Já a circulação em seu interior foi projetada para dar acesso suficiente à nova arena.


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Figura 14 - Arena Teatro Paiol

Fonte:https://www.musicacuritiba.com.br

Figura 15 - Entrada Teatro Paiol

Fonte: http://www.cliquearquitetura.com.br


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A partir dessas transformações, o espaço se tornou um símbolo cultural e histórico de Curitiba, foi um marco muito importante das reformas urbanísticas e culturais implantadas na cidade, a partir da década de 70, quando o novo uso trouxe vitalidade ao edifício aproximando as pessoas à cultura e à história local, proporcionando à sociedade novas atividades e eventos, pelos quais a cidade não era beneficiada antes da requalificação do espaço. 3.5.3. Museu Vale - Vila Velha -Espírito Santo Construído em 1927, localizado às margens da Baía de Vitória na cidade de Vila Velha - ES, abrigava a antiga estação ferroviária São Carlos como era chamada. Em 1935, a estação passou a se chamar Pedro Nolasco, em homenagem ao engenheiro responsável pela construção da estrada de ferro Vitória a Minas. Essa estação fazia a ligação ferroviária entre a capital do Espírito Santo e o estado de Minas Gerais, permanecendo aberta ao transporte de passageiros até a década de 1960. Quando desativada, passou então a abrigar os setores administrativos da Companhia Vale do Rio Doce até meados dos anos 1970. (http://museuvale.com).

Figura 16 - A estação Pedro Nolasco em 1935

Fonte: http://www.estacoesferroviarias.com.br


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Desde então, o edifício de arquitetura eclética se encontrava em abandono. Em 1998, foi realizada uma intervenção de restauro, pela Companhia Vale do Rio Doce em parceria com o Banco Real, porém, agora para abrigar um novo uso, o Museu Vale. O projeto de restauro, inicialmente, não visou a grandes mudanças em relação à implantação do novo uso como museu; não houve a construção de anexos, contudo, houve a ampliação do volume existente do edifício sede, que recebeu novas salas ampliando a área do terceiro pavimento, compondo o edifício agora de forma mais maciça e sem o jogo de volumes primitivo do ecletismo. Na adaptação, permaneceram alguns ambientes, e os novos foram criados com atividades e usos diversificados a fim de atender as necessidades do novo uso como museu. O novo se ajustou forçosamente ao pré-existente, a partir de uma solução que dá oportunidade ao “falso histórico”, uma vez que os elementos novos foram construídos à imagem e semelhança do pré-existente, forjando frisos, cornijas e esquadrias de caixilharia ao modelo classicizante.

Figura 17 - Museu Vale

Fonte: http://www.museuvale.com


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O Museu Vale é dedicado à história da Estrada de Ferro Vitória a Minas. Sua fachada é composta por um pórtico central de colunas jônicas, e seu interior é enriquecido pela presença de uma cúpula central. Os novos ambientes criados foram divididos em “sala de construção”, “sala de manutenção” e “sala das estações”; espaços expositivos que contém um acervo com mais de 133 itens, sendo estes documentos, cartas, fotografias, peças centenárias, maquete ferroviária, e um painel interativo que conta a trajetória histórica dessa ferrovia. O Museu é considerado muito importante para a história do Espírito Santo e atrai diversos turistas e um público variado a todo o momento, integrando as pessoas à sua história.

Figura 18 - Sala da Construção

Fonte: http://outroblog.com


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Figura 19 - Interior do Edifício Museu

Fonte: https://secult.es.gov.br/

Figura 20 - Painel Interativo

Fonte: http://outroblog.com

Na parte posterior da antiga estação, equivalente à antiga plataforma, fica localizada uma Maria Fumaça, locomotiva a vapor, que também passou por uma restauração em 1997, o que permite aos visitantes o acesso à visitação em seu interior.


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Figura 21 - Maria Fumaรงa adquirida em 1940

Fonte: http://www.museuvale.com

Figura 22 - Interior Maria Fumaรงa

Fonte: https://br.pinterest.com


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Ao lado do edifício principal da antiga estação, fazendo parte de seu complexo, existe o antigo armazém de cargas. Esse armazém, por sua vez, estava sendo utilizado com atividades que danificavam sua arquitetura, levando a um possível processo de destruição física. A partir do ano 2000, foi adaptado para receber um novo uso, complementar ao museu histórico, abrigando exposições de arte contemporânea; o que proporcionou dinamizar novos ambientes, respeitando suas características arquitetônicas iniciais.

Figura 23 - Antigo Armazém de Cargas

Fonte: http://www.museuvale.com

O armazém é dividido em três partes: uma pequena sala de apoio às exposições realizadas e dois amplos espaços em vão livre, adaptados para a circulação das pessoas e para exposições de grande porte; as paredes de concreto e pedra que foram construídas na época permaneceram intactas, valorizando ainda mais o ambiente.


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Figura 24 - Interior do Antigo Armazém

Fonte: http://www.museuvale.com

Após essas intervenções, o museu adquiriu maior visibilidade para o turismo na cidade e a valorização do local, além de proporcionar aos visitantes o reconhecimento cultural através das obras de artes e a história da estrada de ferro construída.


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ANÁLISE

WAAG SOCIETY - AMSTERDÃ -

TEATRO PAIOL - CURITIBA - BRASIL

MUSEU VALE - VILA VELHA - ESPÍRITO

HOLANDA

SANTO

IMPLANTAÇÃO

Implantação localizada à direita da praça, com

Ocupação recuada das testadas da quadra, dando lugar a

Implantação recuada em relação à testada do lote com

pequeno recuo na esquina.

grandes calçadas e estacionamentos.

grande espaço para estacionamento.

ACESSOS PRINCIPAIS

O acesso principal é voltado para o interior da praça Nieuwmarkt.

Acesso voltado ao estacionamento principal.

O principal acesso ao local é feito pela rua Vila Isabel. Essa rua interliga Vila Velha e Vitória por meio da “Cinco Pontes”. O acesso ao edifício museu, ao armazém e ao café do museu é voltado para a baía de Vitória e para o pátio central existente.


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VISUAIS E PERSPECTIVA DOMINANTES O edifício possui visuais para o comércio local

O teatro possui visuais para o contexto urbano da cidade.

da cidade.

O local possui um visual exuberante para a Baía e para o Porto de Vitória.

Composto por um volume unitário, com marcação aos níveis existentes, criado a partir de um falso histórico, ou seja, semelhante ao existente, e por um plano que

DEFINIÇÃO

sobressai na fachada marcando o acesso principal. O

ESPACIAL

volume é característico de uma adição ao pré-existente. Composto por múltiplos volumes que acoplados

Configura-se por um volume compacto e unitário, com

formam um só, é considerado uma adição, ou

linhas retas que marcam o acesso ao edifício.

seja, é a agregação de várias unidades identificáveis, um conjunto de diferentes dimensões, onde alguns se sobressaem mais em relação à fachada.

Formado por um volume unitário retangular.


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ESTRUTURA E FORMA Apresenta um formato diversificado, formado por retângulos e sete cilíndros compondo uma estrutura marcada pela textura dos tijolos.

Apresenta uma forma circular que se adequa ao uso

Caracteriza-se por uma forma retangular formando uma

proposto, e uma estrutura formada por alvenaria de pedra e

composição harmoniosa.

cal.

EQUILÍBRIO SIMETRIA E ASSIMETRIA Considerado assimétrico constituído de

Simétrico em formato único possuindo um equilíbrio

O edifício é simétrico, utilizando-se de linhas retas,

diferentes formatos enaltecendo uma ideia de

arquitetônico em toda sua extensão.

delimitando a entrada principal.

Formado por uma sequência ritmada de aberturas bem

Apresenta uma sequência ritmada de elementos

espaçadas, o qual o novo uso proposto não alterou,

decorativos e aberturas, sendo que para o novo uso

apresentando característica de um forte.

foram acrescentados elementos semelhantes a eles.

castelo medieval.

RITMO Devido ao novo uso, o ritmo do edifício foi alterado, sendo disposto agora por ordens diversificadas que são destacadas em suas fachadas.


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COMPOSIÇÃO COMPLEXA OU

O novo uso trouxe vários benefícios. A

A composição da obra é simples e funcional, o que permite

A composição é simples e composta por uma

SIMPLES

composição do edifício é complexa

melhor entendimento ao novo uso proposto possibilita a

adaptação criada no terceiro nível semelhante às

externamente e internamente, mas harmônica,

percepção da forma de maneira clara e imediata.

outras, destacando a entrada principal com uma

com intenso jogo de volumes e fachadas

marquise plana de concreto com novos elementos.

diferenciadas, o que gera um mau entendimento do espectador em relação ao fluxo no interior da obra.

HIERARQUIA Apesar dos vários volumes acoplados, o edifício

O volume apresenta a composição de hierarquia, marcado

Apresenta composição de hierarquia em relação às

apresenta clareza marcada pela hierarquia,

por colunas que destacam o acesso da entrada principal do

colunas distribuídas na fachada do edifício

variando dos maiores volumes para os

edifício.

menores.


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CHEIOS E VAZIOS

Os novos vãos criados a partir da adição e os já

O edifício não necessitou de novas aberturas, sua massa

O volume apresenta esquadrias em formato

existentes são marcados por cheios e vazios e

predomina em relação aos vãos. Mesmo assim, as aberturas

retangulares, identificadas como semelhantes às

formatos retangulares. Em algumas fachadas,

evidenciam a iluminação no interior e se localizam em torno

pré-existentes, bem marcadas em toda a fachada, o

predominam maiores quantidades de vãos.

de todas as fachadas.

que predomina maior iluminação aos ambientes.


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3.5.4. Considerações Sobre os Estudos de Caso Através de análises comparativas, por temas de composição, fundamentadas em Pause & Clark (1984)2 foi possível constatar que a maioria dos casos observados tiveram uma função na qual não se adaptava mais ao edifício. Contudo, esses imóveis sofreram problemas de abandono e falta de público, além de degradações ao longo dos anos, porém foram encontradas soluções para a preservação e requalificação a partir da modernização e adequação dos imóveis à atualidade. Novas intervenções foram realizadas e novos usos foram adaptados aos espaços, passando a obter grande importância para a cidade, atraindo um público diversificado e ocasionando assim, um aumento do fluxo de frequentadores ao local, que não era atribuído anteriormente. O sucesso da requalificação desses edifícios ocorreu devido à nova função a que lhe foi destinado a partir de sua modernização, o que possibilitou valorizar a cultura local, gerando novos conhecimentos e diversas atividades, a fim de ajudar em sua preservação e conservação.

2

Pause & Clark arquitetos responsáveis por criar metodologias que tem por objetivo compreender o processo da concepção da forma arquitetônica.


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4. CAPÍTULO II – O CASO DO SÍTIO HISTÓRICO DE SANTA LEOPOLDINA / ESPÍRITO SANTO

4.1. Vitalidade Urbana dos Centros Históricos Dentro de um contexto modernizador, há uma grande necessidade de entender a importância da vitalidade urbana dos centros históricos na atualidade. A ideia de vitalidade urbana em centros históricos acontece a partir da interação entre diversos padrões sociais, espaciais e econômicos. Procura estabelecer qualidades, no qual as pessoas apreciam estarem, geralmente, ambientes capazes de contribuir com múltiplas atividades, e que tem por objetivo principal atrair as pessoas, ou seja, pode ser entendido como a alta intensidade, frequência e riqueza de apropriações no espaço público, bem como a interação deste com as atividades que acontecem dentro das edificações. (KOURY, 2015). Os centros históricos das cidades constituem-se como uma das principais áreas comerciais e incluem uma forte presença de edifícios marcantes em sua história; têm a importância e a capacidade de fornecer uma ampla gama de serviços; além da circulação e convívio da sociedade. Devido a isso, a continuação da sua vitalidade depende em grande parte da capacidade para atrair as pessoas de modo a permanecer com vitalidade continuada. Segundo Jane Jacobs (2012), escritora e ativista social, nascida nos Estados Unidos, a "vitalidade urbana" é composta pela vida nas ruas, passeios, praças, parques e principalmente pela diversidade de usos e funções dos edifícios. Jacobs defendia que as paisagens monótonas criadas pelos planejadores modernistas prejudicavam o convívio entre as pessoas e enfraqueciam a economia das cidades; devido, principalmente, à falta de diversidade estética e de usos nos ambientes criados. Para a autora, a cidade é um grande cenário de vivência, um local que reúne pessoas e promove o encontro. Manter a vida dos centros das cidades é propiciar o movimento constante, de modo a favorecer maior segurança. Ideias absolutamente inovadoras para sua época, como a mistura de usos, a densidade equilibrada, a proteção do patrimônio


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arquitetônico e urbano, a prioridade dos pedestres, as identidades dos bairros ou o cuidado pelo projeto do espaço público são parte de um corpo doutrinário de enorme vigência. Ainda para a autora, proporcionar diversidade de usos é oferecer melhor qualidade aos lugares, pois "combinações ou misturas de usos são fenômenos fundamentais das cidades" que promovem atratividade e interação entre as pessoas. (JACOBS, 2012, p.14). Se as ruas, praças e parques não tiverem movimento de pessoas, irão desaparecer, e o mesmo acontecerá aos edifícios antigos. “As cidades precisam tanto de prédios antigos, que talvez seja impossível obterem ruas e distritos vivos sem eles”. Ou seja, há uma grande necessidade de mesclar o novo com o antigo para que haja maior diversidade, de modo a propiciar oportunidades a pequenas empresas, pois somente atividade bem estabelecida se mantém em construções novas, onde prédios antigos são instrumentos capazes de abrigar importantes funções e se tornarem interessantes; o que possibilita "Com o passar do tempo, ter uma mistura de edifícios com várias idades e vários tipos. E o que era novo acaba se tornando velho, em meio à variedade." (JACOBS, 2012, p.18). As cidades que possuem edifícios antigos são capazes de registrar altas densidades, maiores números de atividades e habitações. São construções necessárias e insubstituíveis que permitem relembrar a história e trazer curiosidade à sociedade, além de abrigar usos que conseguem se sair muito bem neles, como por exemplo, livrarias, galerias, teatros, antiquários entre vários outros relacionados à indústria criativa, própria do momento contemporâneo. De acordo com relatório elaborado pela organização norte-americana National Trust for Historic Preservation - NTHP, os bairros mais antigos e de uso misto, com variedade ampla de idades das construções; são mais valorizados pela população mais jovem, pois estes vislumbram uma qualidade de vida maior, garantindo lugares atrativos, seguros, e agradáveis, e consequentemente são soluções enriquecedoras do local. (TRANSCHEIT, 2017). A maioria das pessoas se identifica com os lugares da cidade quando passam a utilizá-las. (JACOBS, 2012, p.13). Para tanto, a população deve sentir-se atraída e


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beneficiada por coisas que se revelem úteis, interessantes e convenientes, pois são elas que mantêm a vida nos centros. As pessoas não buscam nas cidades, locais idênticos aos outros e sim locais diferentes, com os quais se identifiquem e que propiciem a interação. No caso de áreas históricas e de interesse da preservação, segundo a metodologia crítica de restauro de Cesare Brandi (2004); a intervenção de um edifício só é qualificada quando há o seu completo entendimento em meio ao seu contexto, assim como, sobre a sua matéria. No que diz respeito a dar um uso diferente daquele originalmente estabelecido, é possível, mas este deverá ser compatível, não interferindo na esfera urbanística do seu entorno. Assim, o pensamento de Brandi defende que a composição para a intervenção deve se aplicar de maneira única, ou seja, considerando cada caso um caso, que deve ser entendido e analisado a priori. Em acordo com suas características particulares, deve-se perceber a essência e o significado do objeto edificado; o que será uma importante ferramenta para a requalificação de uma imagem que se pretende estudar. Um bem histórico não traz, em si um valor pré-determinado; são as pessoas, comunidades usuárias, que atribuem tal valor ao objeto edificado e conferem um convívio permanente, que pode significar ou representar coisas diferentes para distintos grupos: para uns, o valor de um determinado bem cultural pode ser artístico; para outros, ao contrário, histórico; para outros ainda, simbólico; ou então técnico, social ou afetivo. O mesmo bem pode ser lido e entendido de várias maneiras e ser representativo de distintos e múltiplos valores. Sob esta abordagem, a intervenção precisa se preocupar, principalmente, com aqueles elementos que apresentem influência sobre a construção da essência primeira do edifício ou obra de arte, que na perspectiva de Brandi representa sua identidade artística e social, "de forma garantir que qualquer inserção externa recupere e não altere tais componentes que tornam a obra de arte reconhecível como unidade potencial". (TERRA, 2016). Para Brandi "a restauração deve ser fundamentada na análise da obra, nos seus aspectos físicos, nas suas características formais e de sua transformação ao longo do tempo, para, pelo ato crítico, contemporizar as instâncias estética e histórica,"


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sendo necessário intervir, respeitando os elementos que caracterizam o edifício com objetivo de valorizar as características históricas verdadeiras e transmiti-la ao futuro. Assim, a preservação é tida de uma forma conjunta, que deve ser realizada por diferentes profissionais, e que deve levar em consideração os aspectos culturais locais das cidades e, quando necessário à intervenção, deve ser aplicada de forma a ser adequada com a cultura e os desejos da comunidade a qual pertence. (TERRA, 2016).

4.2. Cotidiano e vitalidade urbana em Santa Leopoldina Conforme visto anteriormente, a sociedade deve ser a primeira beneficiada em um processo de intervenção sobre bens históricos e de interesse de preservação; todo projeto deve atender a uma demanda da comunidade, do contrário, não existirá relação entre o patrimônio e o seu público. Para que isso fosse possível, nesta pesquisa, foi realizada uma coleta de dados, mediante aplicação de um formulário eletrônico, difundido pelas redes sociais, como forma de aproximar as pessoas do projeto de intervenção proposto para a cidade de Santa Leopoldina-ES. O formulário possibilitou saber o que as pessoas pensam sobre o assunto, suas necessidades na cidade, demandas e desejos; contribuindo assim com diferentes opiniões, além de fornecer dados exemplificados através de gráficos. O objetivo principal dessa metodologia é identificar e avaliar, em curto espaço de tempo, a atual demanda, latente, por cultura, entretenimento e lazer na cidade. Em razão disso, foram elaboradas sete questões de forma a avaliar os anseios da população. A primeira delas abordou se a cidade possui locais atrativos e espaços culturais. 27,8% da população responderam não e 72,2% responderam sim; citando como local atrativo o Museu do Colono, as cachoeiras, as igrejas e as praças existentes; exemplos estes identificados pela segunda questão.


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Figura 25 - Gráfico 1 - Atrativos/Culturais

Fonte: Elaborado pela Autora - 2017

A terceira questão mostra que 91,7% dos entrevistados afirmam que a cultura e o lazer em Santa Leopoldina, ainda que existentes, não são valorizados (GRÁFICO 2), consequentemente percebe-se ainda uma falta de locais de entretenimento para 97,2% dos pesquisados. (GRÁFICO 3).

Figura 26 - Gráfico 2- Cultura/Lazer, Gráfico 3 - Entretenimento

Fonte: Elaborado pela Autora - 2017


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A quinta e a sexta questões procuraram identificar se as pessoas costumam frequentar espaços que possuem atividades culturais e com qual frequência elas praticam. (GRÁFICO 4). As respostas obtidas foram que: 69,4% frequentam; sendo que 21,2% frequentam sempre, 21,2% nunca frequentam e 57,6% frequentam, às vezes, esses espaços. (GRÁFICO 5).

Figura 27 - Gráfico 4 - Atividades Culturais, Gráfico 5 - Frequência

Fonte: Elaborado pela Autora - 2017

A sétima e última questões procuraram saber os desejos da comunidade em relação ao tipo de entretenimento cultural que elas gostariam que ocorressem, caso um imóvel sem uso fosse restaurado. Percebe-se que a grande demanda está focada em um espaço que venha suprir as necessidades de lazer contemporâneo para essa população local, aparecendo o teatro com 29% e o cinema com 24%. Esta tendência ainda é reforçada porquanto o terceiro elemento da amostra aparece como Espaço Cultural, onde depreende-se que as atividades anteriores estariam englobadas. Dessa forma, considera-se o resultado satisfatório para o objetivo da pesquisa, contribuindo para um melhor entendimento do tipo de uso que será realizado no projeto de intervenção para a cidade.


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Figura 28 - Resultado da Pesquisa

Fonte: Elaborado pela Autora - 2017

Conclui-se ainda, que o uso da ferramenta formulário eletrônico seja uma boa opção para entender os desejos da população e os problemas existentes, sendo uma forma prática e experimental de aproximar o projeto das pessoas; pois são elas que manterão a vitalidade da cidade e, assim, contribuirão para a preservação do patrimônio histórico e cultural do lugar.

4.3. Um Lugar chamado Santa Leopoldina

A cidade de Santa Leopoldina está a cerca de quarenta e seis km de Vitória, capital do Espírito Santo. Fica na região serrana do Estado. Possui seis municípios limítrofes; Cariacica, Serra, Fundão, Santa Teresa, Santa Maria de Jetibá e Domingos Martins. Sua extensão territorial é de 718.097 km²; e a população estimada, em 2016, é de 12.887 habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2016.


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Figura 29- Brasil com Destaque

Figura 30- Região Sudeste com

Figura 31- Espírito Santo com

na Região Sudeste

Destaque no Espírito Santo

Destaque na cidade de Santa Leopoldina

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Fonte: Elaborado pelo Autor.

Figura 32 - Cidade de Santa Leopoldina - ES

Fonte: Elaborado pelo Autor

A partir do crescente desenvolvimento e da utilização da rodovia ES 080, o centro histórico é hoje voltado para o uso residencial com expressiva existência no setor terciário, voltada agora a demanda local, por meio dos comércios e serviços oferecidos. (MORELATO, 2013).


63

A cidade possui em toda a extensão territorial um dos mais ricos sítios históricos e um diversificado patrimônio arquitetônico. A região possui 42 imóveis tombados pela Secretaria de Estado da Cultura - SECULT/ES. Desses 42 imóveis, 32 situam-se no centro da cidade, mais precisamente na rua principal do comércio, a Avenida Presidente Getúlio Vargas3, e o restante deles situam-se nas proximidades rurais. Os imóveis localizados na Avenida Presidente Getúlio Vargas apresentam suas fachadas voltadas para a via principal do comércio e abrigam no térreo, na maioria das vezes,

3

o

uso comercial, e nos pavimentos superiores,

Nome dado à parte urbana da ES 080 dentro da sede.

residências.


64

Figura 33 - Conjunto de Edificações Históricas de Santa Leopoldina - ES


65

4.4. Pensando em novas possibilidades - Propostas

Partindo de um pensamento crítico conservativo, propõe-se o desenvolvimento de um projeto de intervenção que venha ao encontro das atuais necessidades e interesses da comunidade; visando assim um novo uso para o edifício, popularmente conhecido como "1914", um dos potenciais imóveis sem uso do Centro de Santa Leopoldina. O edifício, construído em 1914, identificado ainda como o "sobrado da ponte” está localizado no número 63 da Rua Bernardino Monteiro. Funcionando em diferentes épocas como sede de Clubes Recreativos e Esportivos da cidade, era frequentado e valorizado por uma sociedade de origem alemã, pomerana e austríaca, com atividade social e cultural intensa em tempos passados. (SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA, 2009). Tendo como primeiro proprietário um alemão, o imóvel encontra-se no eixo visual da ponte Paulo Antônio Médici que atravessa o rio Santa Maria da Vitória, no sentido da Rua Bernardino Monteiro, e apresenta uma fachada separada por um estreito balcão com balaústres, três módulos verticais e três portas de madeira entalhada com grandes vãos bem explorados e valorizados, permitindo a comunicação e identificação entre o público e o privado. Atualmente, o imóvel encontra-se abandonado devido à perda de sua função primitiva e ao grande número de degradações. (SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA-ES, 2009).


66

Figura 34: Edifício "1914"

Fonte: Acervo pessoal 20/02/2017

Figura 35 - Área de Projeto

Fonte: Google Earth, com manipulação do Autor. 2017.

Conforme visto nas análises sobre o formulário eletrônico aplicado na comunidade, como forma de aproximar o projeto das pessoas, propõe-se o desenvolvimento do


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projeto de requalificação capaz de contemplar o espaço como um "Cineteatro" voltado para a comunidade, com o objetivo de levar a cultura e o entretenimento atual, com qualidade para a cidade. Trata-se de uma proposta para um espaço adaptado voltado para pequenas apresentações locais e regionais, assim como a exibição comercial de filmes em pequenas salas de cinema para um público espectador multigeracional.


68

5. CAPITULO III – DIAGNÓSTICO 5.1. ÁREA DE ESTUDO E PROJETO

Neste capítulo, consta o processo investigativo desenvolvido em prol do objeto de estudo desta pesquisa. Busca-se a compreensão histórica e arquitetônica do objeto em estudo, o Edifício "1914". Para tanto, observa-se o seu contexto urbanístico por meio de um diagnóstico amplo de seu entorno, no sítio histórico, onde se considera aspectos relativos às configurações físicas do sítio, sistema viário, morfologia, uso e ocupação do solo, gabarito, potencialidades de usos e funções, paisagem cultural e a semiótica do ambiente urbano. Dessa forma, foi realizado um recorte da área que compreende um raio de 250 metros, área considerada do ponto de vista de um usuário caminhante a partir do núcleo central do Rio Santa Maria, em seu trecho urbano (FIGURA 36), contemplando o Centro da cidade, e áreas vizinhas ao objeto de estudo e projeto, visando, assim, analisar as características, percepções e sensações das pessoas que vivenciam aquela localidade.

Figura 36 - Centro da Cidade de Santa Leopoldina – ES

Fonte: Google Maps, com elaboração da autora 2017.


69

5.1.1. Topografia e sistema viário A região em estudo, segundo Braz (2017), apresenta-se como um importante potencial paisagístico devido a áreas com grande intensidade topográfica, e por estar localizada em meio à microrregião Central Serrana. Essa região concentra-se entre os vales e segue as margens do rio Santa Maria da Vitória apresentando um traçado sinuoso (FIGURA 37) e sendo composta por serras em meio a uma vasta paisagem natural.

Figura 37 - Área Urbanizada

Fonte: IJSN, 2012.

Quanto às vias de circulação, segundo Lynch (1997), podem ser definidas como: Canais de circulação ao longo dos quais o observador se locomove de modo habitual, ocasional ou potencial. Podem ser ruas, alamedas, linhas de trânsito, canais, ferrovias. Para muitas pessoas, são estes os elementos predominantes em sua imagem. (LYNCH, 1997).

Com base nos levantamentos de campo, foi possível identificar que o trecho em análise é composto por duas vias importantes, sendo a via arterial a Rua Presidente


70

Getúlio Vargas (em vermelho), e a via coletora a Rua Bernardino Monteiro (em roxo). Tais vias recebem o maior fluxo e são capazes de conectar a poligonal com o restante do município. Além dessas, foi identificado que as ruas, em sua maioria, se caracterizam como vias locais, devido ao pouco fluxo de veículos e pessoas, e pelo fato da região se caracterizar como um sítio histórico. Nota-se também a presença marcante de algumas ruas de pedestres o que pode ser considerado um benefício para a qualidade de vida da população. (BRAZ, 2017). A via arterial está localizada em um vale parcialmente plano (FIGURA 38), porém, as ruas laterais do lado da encosta apresentam certa elevação decorrente da implantação do sítio na parte baixa do morro, ou seja, a estrutura viária local se adequou à topografia do terreno. (MORELATO, 2013).

Figura 38 - Mapa de Hierarquia Viária

Fonte: Elaborado pela Autora, 2017.

5.1.2. Morfologia Urbana O significado da palavra morfologia é o estudo da forma (AULETE, 2017). A morfologia

urbana

consiste

no

estudo

da

configuração

urbana

e

suas


71

transformações e com isso interpreta e determina a paisagem urbana, sua estrutura, e como a ocupação do espaço influencia em seu traçado e modo de vida. Pode-se definir a forma urbana como: aspecto de realidade ou modo como se organizam os elementos morfológicos que constituem e definem o espaço urbano, relativamente à materialidade dos aspectos de organização funcional quantitativa e dos aspectos qualitativos e figurativos. (LAMAS, 1993, P.03).

Ainda segundo Lamas (1993), o espaço urbano é constituído por elementos morfológicos como solo, edifícios, lote, quarteirão, fachada, logradouro, traçado da rua, praça, monumento, árvores e o mobiliário urbano. Conforme Braz (2017), o traçado urbano (FIGURA 39) foi se adaptando à topografia e à inclinação natural do terreno, devido ao processo de ocupação fragmentado do território, que iniciou de forma linear, paralelo à bacia hidrográfica do Rio Santa Maria da Vitória. Observou- se também que, na Rua Presidente Getúlio Vargas, a maioria dos lotes ocupados possuem edificações que preenchem toda a área do lote, sendo irregulares e, devido ao período da ocupação e à sua tipologia arquitetônica, não apresentam afastamentos nas divisas ou testadas, onde ocorre um fluxo intenso de pedestres e veículos que transitam diariamente pelo local.


72

Figura 39 - Mapa Morfologia Urbana

Fonte: Elaborado pela Autora, 2017.


73

5.1.3. Usos do Solo Com base nos levantamentos efetuados na área de estudo, foi observado que o principal uso do polígono demarcado é residencial. Existe uma predominância de áreas residenciais unifamiliares de até dois pavimentos concentrados na parte sul da cidade. Já próximo ao centro, são encontradas edificações de até quatro pavimentos de uso misto, os quais contam com comércio e serviços no pavimento térreo e os demais pavimentos são de usos residenciais (FIGURA 40). (BRAZ, 2017).

Figura 40 - Edificações de Uso Misto

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Destaca-se, contudo, um eixo comercial muito importante presente na Rua Presidente Getúlio Vargas, (FIGURA 41). Esse eixo possui uma predominância de edificações de uso misto (residencial e comercial), onde no pavimento térreo se torna evidente as atividades comerciais como: Farmácias, Supermercados, Varejo de confecção, Agências bancárias, entre vários outros serviços que atendem as necessidades da demanda local. (BRAZ, 2017).


74

Figura 41 - Rua Presidente Getúlio Vargas - Diversidade de Usos

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Nota-se no mapa (FIGURA 42) que o comércio e serviço se concentram em uma só rua, sendo ela estreita e sem afastamentos suficientes para o bom dimensionamento do passeio, o que é considerado um problema na acessibilidade em toda a área. É possível observar ainda, de maneira criteriosa, a distribuição dos usos das edificações no polígono de estudo e perceber que há carência por espaços de lazer e entretenimento na cidade. (BRAZ, 2017).


75

Figura 42 - Mapa do Uso do Solo

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

5.1.4. Gabarito De maneira geral, na área de estudo apresentada no mapa (FIGURA 43), há uma predominância de gabaritos baixos, de 1 a 2 pavimentos, o que soma a maior parte com 74%; sendo que as edificações de 3 a 4 pavimentos somam somente 26%. (BRAZ, 2017). A Rua Presidente Getúlio Vargas, por ser um dos principais eixos da cidade, comporta a maior parte dos casarões e edificações históricas do sítio tombado, sendo elas com gabarito baixo, chegando até 2 pavimentos somente.


76

Figura 43 - Mapa de Gabarito das Edificações

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

5.1.5. Paisagem Cultural Segundo Del Rio (1996), entende-se "paisagem como um conjunto de elementos naturais moldando uma vista, geralmente distante e que se impõe ao observador com conotações positivas". A paisagem dever ser entendida como o cenário que nos rodeia, participa e conforma o nosso cotidiano. (DEL RIO, 1996). Sendo assim e de acordo ainda com o IPHAN, a "paisagem cultural brasileira" é uma porção peculiar do território nacional, representativa do processo de interação do homem com o meio natural, à qual a vida e a ciência humana imprimiram marcas ou atribuíram valores. (IPHAN, 2014). Nesse contexto, a paisagem cultural resulta do agenciamento do homem sobre seu espaço. Elas constroem-se a partir da utilização e da transformação dos elementos da natureza pelas atividades realizadas pelo homem.


77

Santa Leopoldina é uma cidade de antigas edificações, conhecida pelo seu conjunto histórico, sendo a paisagem cultural marcada pela forte presença da paisagem natural, representada pelas montanhas e pelo rio (FIGURA 44).

Figura 44 - Montanha e Rio - Paisagem Cultural

Fonte: http://www.folhavitoria.com.br

A localidade onde se situa a igreja matriz Sagrada Família (FIGURA 45) guarda uma forte memória histórica da cidade, além de uma paisagem composta entre edificação e natureza exuberante.


78

Figura 45 - Vista do morro da Igreja Matriz Sagrada Família

Fonte: Prefeitura Municipal de Santa Leopoldina, 2006.

De maneira geral, Santa Leopoldina possui uma paisagem cultural construída a partir de sua longa história de apogeu e decadência em virtude de sua posição como entreposto comercial por muitos anos. Assim é possível afirmar que a paisagem do sítio analisado está em constantes modificações, da mesma forma que ocorre nas grandes cidades. (MORELATO, 2013).


79

Figura 46 - Paisagem do Sítio Histórico

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

A forte presença da paisagem natural em meio aos imóveis tombados é vista por diferentes ângulos dentro do sítio histórico, sendo este um fator muito importante para a preservação da cidade, e de grande relevância para sua história, e que deve ser considerado, pois formam os principais cones visuais do sítio histórico.


80

Figura 47 - Imรณveis tombados e a paisagem natural em seu entorno

Fonte: Acervo Pessoal 25/09/2017

Figura 48 - Rua principal e a paisagem natural em seu entorno

Fonte: Acervo Pessoal 25/09/2017


81

A paisagem cultural de Santa Leopoldina foi construída a partir de sua história e do Rio Santa Maria da Vitória que sempre fez parte disso, como um grande meio de mobilidade e entreposto comercial. Hoje em dia, o rio continua fazendo parte da paisagem exuberante da cidade, e possui atividades turísticas que acontece no local em apoio à importância da preservação da bacia Hidrográfica em questão e para seu uso sustentável.

Figura 49 - Santa Leopoldina em 1876

Fonte: http://www.santaleopoldina.es.gov.br


82

Figura 50 - Rio Santa Maria da Vitรณria em 1873

Fonte: http://www.santaleopoldina.es.gov.br

Figura 51- Descida Ecolรณgica do Rio Santa Maria da Vitรณria

Fonte: http://g1.globo.com


83

As diversas atividades comerciais existentes na cidade foi um fator marcante e sempre fizeram a tradição do lugar composto por sua arquitetura, seu ambiente natural e suas paisagens (FIGURA 52, 53), sendo assim, há uma grande necessidade de preservar seus aspectos culturais e naturais para manutenção de sua identidade.

Figura 52 - Casarios históricos da paisagem cultural de Santa Leopoldina.

Fonte: https://blog.ufes.br


84

Figura 53 - Casarios históricos em 2017

Fonte: Acervo pessoal 20/02/2017

5.1.6. Potencialidades de Usos e Funções Observa-se que no Espírito Santo, Santa Leopoldina está entre os municípios que possui o maior conjunto de Edificações Históricas tombadas, totalizando XX imóveis. Este tombamento preservou a memória coletiva, além de manter, características fundamentais dos imóveis conferindo identidade ao local. (BRAZ, 20b17). Dentro do polígono de estudo, existe um parque caracterizado como um ambiente de permanência. Frequentado por crianças e adolescentes, nos finais de semana, possui barraquinhas de comidas e bebidas. (BRAZ, 2017). A igreja Católica Sagrada Família localizada em uma montanha ao sul do objeto de estudo é um marco para a cidade e possui visuais que atraem visitação constante. Conforme o mapa (FIGURA 54) nota-se que nos edifícios históricos, precisamente aqueles localizados na Rua Presidente Getúlio Vargas, há uma ampla oferta de comércio e serviços, contudo, são escassos os locais públicos de qualidade voltados ao lazer da população local. O público frequentador desses espaços é, na maioria, os próprios moradores que são atraídos pelos serviços ofertados: Fórum, Bancos, o


85

Museu do Colono com alguma programação cultural além de sua habitual exposição, Supermercados, Restaurantes, Igreja evangélica, entre outros. (BRAZ, 2017).

Figura 54 - Mapa Potencialidades de Usos e Funções

Fonte: Elaborado pela Autora, 2017.

5.1.7. Semiótica do Ambiente Urbano Segundo Santaella (2005), a semiótica é a ciência geral de todas as linguagens, a ciência que estuda os signos, um tipo de energia que reage e que é reagida pelo ser humano, uma energia que move qualquer coisa, ou seja, é a relação entre o estar e o sentir, a relação do espaço com o sentimento que ele causa. (SANTAELLA, 2005). A partir da leitura conceitual de Cullen (1983) e da realização dos levantamentos de campo no polígono de estudo, foram observados conceitos tais como: Visão Serial, formada pelas percepções sequenciais no nível do pedestre, onde há uma sensação de descoberta, de poder descobrir sempre mais alguma coisa ao continuar caminhando; a apropriação do espaço em relação ao movimento; pontos focais, conexões por pavimentação, caminhos, barreiras entre outros. Assim, nota-se que a percepção da paisagem, seus símbolos e significados podem auxiliar na capacidade crítica de sentir e perceber o ambiente em seu entorno, e enxergar quando há


86

alguma sensação ou característica marcante do local, sendo capaz de separar uma ambiência da outra. (CULLEN, 1983). De acordo com os conceitos de Cullen (1983), percebeu-se e dividiu-se o polígono de estudo em seis ambiências diferentes, a fim de serem analisadas cada uma delas e suas contribuições na compreensão da área de estudo.

a)

Ambiência 01

Área que compreende a Rua Presidente Getúlio Vargas até o eixo da ponte Paulo Antônio Médici possui uma movimentação maior de pedestres e veículos devido à presença do comércio e serviços e por ser, notadamente, o Centro da cidade.

Figura 55 - Lojas localizada no Centro da cidade

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


87

Figura 56 - Hortifruti localizado a Rua Presidente GetĂşlio Vargas

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 57 - Conselho Tutelar e outros comĂŠrcios existentes na cidade

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


88

Figura 58 - Movimento de pedrestres no centro da cidade

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

O sítio histórico de Santa Leopoldina possui características representativas do período histórico, no qual foi construído. Os sobrados e casarões históricos existentes na rua principal, em sua maioria, possuem dois pavimentos e são denominados tipicamente de inspiração eclética pelo uso de seus elementos arquitetônicos. A maior parte deles foi construída com materiais sólidos e duráveis como a pedra e o ferro e possuem cores claras, os vãos e janelas são fechados com arco pleno, frontões, há gradil metálico usado para o fechamento do guarda-corpo de algumas sacadas, presença de fachada ornamentada em massa e ritmos, com elementos decorativos como os balaústres e cornija.


89

A via principal, pelo seu caráter arterial, produz um maior ruído em relação às demais, e a falta de árvores e de espaços para a circulação de pedestres causam um desconforto aos usuários do local.

Figura 59 - Rua Presidente Getúlio Vargas

Fonte: Acervo Pessoal 03/11/2017

b)

Ambiência 02

O mesmo trecho da Rua Presidente Getúlio Vargas, iniciando a partir do edifício "1914", objeto de estudo, em sentindo à cidade de Santa Maria de Jetibá, possui grande fluxo de veículos, mas se comparado com a Ambiência 01, o fluxo de pedestres é menor em razão do término do Centro Histórico e do baixo número de comércio e serviços com predomínio de uso residencial. Destaca-se, ainda, que essa parte da rua é mais estreita, causando insegurança e conflito no trânsito.


90

Figura 60 - Término do Centro Histórico

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 61 - Via de sentido a Santa Maria de Jetibá

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


91

c)

Ambiência 03

Entorno imediato da Igreja Sagrada Família caracterizada por ser uma linha de privilégio na contemplação da paisagem local e pela presença da importante edificação religiosa para a região. O caminho que leva até o topo do local é sombreado por vegetação, o que gera um conforto térmico aos usuários e causa uma sensação de tranquilidade por se tratar de uma cidade do interior.

Figura 62 - Caminho a Igreja Sagrada Família

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


92

Figura 63 - Caminho sombreado a Igreja Sagrada Família

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

d)

Ambiência 04

Ambiente com predomínio de residências de boa arquitetura, ruas variando entre asfaltadas e de paralelepípedos, com pouco movimento de veículos e problemas de falta de acessibilidade e conforto ao pedestre, em relação às calçadas irregulares e locais com topografia desnivelada. Destaca-se, ainda, a falta de arborização ocasionando um ambiente de desconforto e cansaço aos usuários.


93

Figura 64 - Via local

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 65 - Rua de paralelepĂ­pedo e a igreja ao fundo

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


94

Figura 66 - ResidĂŞncias com boa arquitetura

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 67 - Rua variando entre paralelepĂ­pedo e asfalto

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


95

e)

Ambiência 05

Trecho que compreende o Parque da Cidade, cercado pela vegetação, considerado uma área visualmente agradável, com pouco movimento e às margens do Rio Santa Maria da Vitória. Vias com paralelepípedo e baixo fluxo de veículos.

Figura 68 - Parque da cidade

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


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Figura 69 - Entrada do Parque da cidade

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 70 - Lugar de descanso no parque

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


97

f)

Ambiência 06

Ambiente que compreende o monumento do imigrante localizado no Morro do Hospital Nossa Senhora da Penha. Essa área é cercada por uma densa vegetação e constitui outro lugar de visual privilegiado para a cidade. As ruas levam a pontos de interesse de visitação importantes para a cidade: as diversas cachoeiras da região.

Figura 71 - Monumento do Imigrante

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


98

Figura 72 - SĂ­mbolo do monumento

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017

Figura 73 - Monumento cercado pela natureza

Fonte: Acervo pessoal 03/11/2017


99

Figura 74 - Mapa Semiótica do Ambiente Urbano

Fonte: Elaborado pelo Autor, 2017.

5.2. CONCLUSÃO DO DIAGNÓSTICO DA ÁREA DE ESTUDO Por meio deste diagnóstico, percebe-se que atualmente muitos edifícios se encontram abandonados, vazios, sem nenhum tipo de utilização. Alguns se encontram, ainda, subutilizados, ou seja, possuem um uso não condizente com as vocações daquela tipologia arquitetônica e principalmente com a vocação do patrimônio do sítio histórico tombado, enquanto monumento, ocasionando a descaracterização do imóvel e, consequentemente, do lugar. Um exemplo é o imóvel de número 11, situado à Rua do Comércio, um edifício eclético classicizante, datado da primeira década do século XX. Atualmente, seu uso é destinado a uma loja de material de construção, o que não condiz com sua morfologia, marcada originalmente por ritmos regulares na modenatura; vãos formados por arcos plenos; platibanda com coroamento central em frontão circular de estilo livre; frisos e relevos; acarretando na descaracterização do bem histórico com elementos espúrios, alargamento de vão entre outros.


100

Figura 75 - Imóvel de Número 11

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Em outros imóveis, é possível notar a presença de elementos que interferem na percepção da fachada primitiva, como placas de publicidade, cartazes de propagandas, fixadas de modo inadequado nos edifícios, interferindo, assim, em sua ambiência histórica e desqualificando o local e sua paisagem cultural tombada.


101

Figura 76 - Imóvel à Rua do Comércio nº 15

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Conforme observações no local, a avenida principal da cidade sofre ainda com a poluição sonora, proveniente, em grande parte, pelos caminhões e ônibus intermunicipais que transitam a todo o momento em meio ao sítio histórico; proporcionando além de ruídos, interferência visual e danos ao patrimônio edificado.

Figura 77 - Avenida Presidente Getúlio Vargas - ES 080

Fonte: Google Street View 09/2012


102

Contudo, o fator mais agravante percebido no local, trata-se de quando as atividades comerciais encerram seus expedientes. A localidade, enquanto é dia se mostra movimentada, já à noite, apresenta-se como um lugar deserto, que não possui nenhuma vitalidade, onde as pessoas não encontram nenhum tipo de lazer ou entretenimento para sua permanência e convivência na área central. Prevalece apenas o modelo de circulação de veículos e a falta de pessoas nas ruas. Desta forma, Santa Leopoldina, que carrega um grande valor histórico e cultural para a região, necessita de melhores possibilidades para a preservação de seu sítio histórico, bem como resgatar a autoestima de sua comunidade frente a estas questões de preservação e desenvolvimento social.

Figura 78 - Avenida Presidente Getúlio Vargas - ES 080

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

5.3. OBJETO DE PROJETO - O EDIFÍCIO 1914. Considerando a impossibilidade de um acesso 100% seguro ao objeto de estudo, o Edifício “1914”, assim como a limitação de tempo para o estabelecimento da produção de um Mapeamento de Danos substancial para a pesquisa, apresenta-se a seguir uma síntese dos problemas observados mediante a exposição de um


103

quadro de danos e fotos legendas (QUADRO 1) para registro e compreensão dos problemas presentes no monumento objeto de intervenção.


104

1 2

1

3

2

O edifício possui algumas patologias devido à

Alguns elementos espúrios são

Várias bolhas apresentam-

ação do tempo. A figura acima mostra algumas

encontrados na fachada como

se

manchas

infiltrações

fios e tubulações o que causa

pintada, a maior parte delas

existentes em várias partes da fachada e

uma poluição visual além de

está localizada na coluna

principalmente no pavimento térreo.

colocar em risco o edifício

do edifício.

por

degradação

de

3

sobre

a

superfície

histórico.

4

6

5

4 Destaca-se

6

5 em

toda

a

fachada

pintura

Nos

pilares,

trincas,

e Nas

portas,

existem

descascada que se esfarela e se destaca da

desprendimento de reboco causado manchas e descascamento

superfície juntamente com partes do reboco.

pela movimentação de veículos da pesados que transitam por ali.

pintura

devido

aos

problemas com humidade.


105

Para avaliação das condições físicas da edificação, foram realizadas diversas visitas ao local, a fim de identificar o estado atual de conservação do mesmo; assim como, levantamento métrico para cadastro, pois até no momento não havia nenhum tipo de documento inicial de registro do imóvel, tais como: plantas, cortes ou fachadas. Após ser desativada a "Sede do Clube Social de Santa Leopoldina", em data ainda não identificada, a edificação não teve outro uso; ao contrário, com o passar do tempo, veio passando por uma série de depredações e nenhuma manutenção foi realizada. Atualmente, o edifício encontra-se em total abandono e servindo de depósito de restos de materiais de construção, fazendo com que o processo de degradação seja acelerado. (FIGURAS 79,80,81,82).

Figura 79 - Interior do edifício

Figura 80 - Restos de materiais de construção

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Figura 81 - Interior do edifício com utensílios, materiais e eletrodomésticos abandonados

Figura 82 - Paredes com fissuras e manchas de umidade

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017


106

No levantamento cadastral efetuado no local, foi identificado que o piso e a estrutura do primeiro pavimento são de madeira, porém o respectivo pavimento está em condições degradantes, com presença de umidade, buracos e infestação por insetos, além de partes em madeiras soltas (FIGURA 83), o que impossibilita o acesso a esse pavimento superior, devido ao risco de colapso verificado no local. (FIGURA 84)

Figura 83 - Teto do edifício em madeira

Figura 84 - Pavimento Superior

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Na parte interna, a alvenaria apresenta algumas manchas de umidade, além de muita sujeira. Em algumas partes, as paredes estão descascadas e trincadas tornando perceptível o suporte interno da construção. Já na parte exterior, a "fachada", encontra-se mais preservada com desgastes devido à ação do tempo.


107

Figura 85 - Alvenaria Interna

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Na parte posterior, em sua área externa, encontra-se muita concentração de umidade, além de sujeira e alvenarias quebradas. Está encoberto por telhado escorado com pedaços improvisados de madeira para evitar sua queda. Essa área, de acordo com relatos de vizinhos, foi construída posteriormente e serve, atualmente, para reunir algumas pessoas em apostas de jogo de baralho, contando com dois banheiros em condições degradantes.


108

Figura 86 - Ă rea externa com mesa de jogos de baralho

Figura 87 - Telhado escorado por pedaços de madeira

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Figura 88 - Banheiro existente na parte externa

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Para ter acesso ao pavimento superior, utiliza-se uma escada autĂ´noma, localizada na parte externa. Verificou-se que a mesma encontra-se muito danificada, com muitas trincas e rachaduras, impossibilitando a entrada segura ao andar superior.


109

Figura 89 - Acesso ao segundo pavimento

Figura 90 - Trincas e rachaduras existentes

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

Fonte: Acervo Pessoal 20/02/2017

4.5. O Novo Uso - O Cinema como fator contemporâneo para públicos multigeracionais.

O cinema nasceu como uma diversão popular. Desde os primeiros locais de exibição até as grandes salas que dominaram a arquitetura urbana por várias décadas no século passado, o espaço do cinema caracteriza-se como uma atividade de preços acessível e próxima do espectador. (http://cinemapertodevoce.ancine.gov.br, 2012). De acordo com os estudos da Agência Nacional do Cinema (ANCINE), poucos municípios brasileiros dispõem de salas de cinema, demonstrando que há um grande mercado a ser explorado. (SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS). O programa CINEMA PERTO DE VOCÊ, instituído pela Lei 12.599/2012, tem o objetivo de levar o cinema e serviços culturais para mais perto de todos os brasileiros. É uma medida capaz de trazer um maior crescimento aos pequenos empreendedores, a fim de fortalecer o desenvolvimento e a modernização do cinema no Brasil. O Programa se organiza em torno de um conjunto de mecanismos e ações diversificadas, destinado à melhoria do ambiente de negócios e da oferta de capital


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para os empreendedores locais. De um lado, há linhas financeiras para estimular os empreendimentos privados, além de recursos para a abertura de salas por Prefeituras e Governos Estaduais. De outro, o programa institui instrumentos de desoneração fiscal, visando à redução dos custos dos investimentos e da operação dos complexos. Articula, também, ações regulatórias e de estímulo à digitalização, visando à ampliação das receitas e à modernização dos negócios de exibição e distribuição de cinema. Considera-se, dessa forma, justificável e plenamente viável a proposta ora apresentada como uma solução para a valorização do patrimônio local, assim como o desenvolvimento social e econômico local com foco primário na atenção à população local, uma vez que o foco do Programa é a inclusão de consumidores pela oferta de cinema para a nova classe C, cerca de metade da população brasileira. Atualmente, esse é o estrato social mais dinâmico e com maior potencial e demanda que tem garantido o crescimento econômico do país. Hoje, a exibição de cinema, embora ainda predomine o modelo tradicional, urbano em shoppings, começa a projetar-se para a classe C. Com esse movimento, os agentes do setor, ao mesmo tempo em que fazem seus negócios, ajudam a construir uma rede qualificada de serviços, melhorando a vida nas pequenas cidades. (http://cinemapertodevoce.ancine.gov.br, 2012). O Programa é assim concebido para enfrentar desequilíbrios como a concentração geográfica das salas, com estímulos especiais para as regiões menos favorecidas e para as cidades do interior, não atendidas ou mal atendidas por salas. Dá atenção, também, à distribuição dos filmes, tanto pelo estímulo à digitalização, quanto pela previsão de medidas regulatórias que coíbam as práticas comerciais abusivas, além de

problemas

com

o

controle

sobre

obra

intelectual

e

pirataria.

(http://cinemapertodevoce.ancine.gov.br, 2012).

5. PROJETO BÁSICO DE INTERVENÇÃO PARA RESTAURO E REQUALIFICAÇÃO DE USO DO EDIFÍCIO 1914 – SANTA LEOPOLDINA.

Conforme visto até aqui, o edifício apresenta diversos problemas e degradações advindas de seu abandono, mau uso e falta de conservação, no entanto apresenta


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potencial para abrigar atividades que venham ao encontro dos anseio e desejos da população local por atividades que contribuam para o lazer e o entretenimento dos diferentes grupos sociais e geracionais locais. Após todas as análises e questões levantadas nessa pesquisa fica clara a carência por lugares de entretenimento, lazer e cultura na cidade. Desta forma e sob a ótica do estado de degradação do edifício foi adotado para o projeto de intervenção uma requalificação para transformar o espaço em um pequeno cineteatro local voltado intensamente para a comunidade proporcionando um lazer atual e contemporâneo à comunidade local, levando a cultura com qualidade para todos. A partir disso percebeu-se que havia algumas dificuldades em relação à área total construída do edifício, para compor o programa completo de um cineteatro, sendo assim o projeto se concretizou apenas em um "Cinema" beneficiando toda a população, aqui chamado "Cinema Santa Leopoldina". A criação desse espaço parte das necessidades observada no local e principalmente do desejo da população. A intenção do projeto foi trazer uma função útil ao edifício e assim contribuir com a qualidade de vida dos moradores e visitantes, trazendo os serviços culturais para a cidade valorizando assim ainda mais a região, além de beneficiar o crescimento aos pequenos empreendedores. Outro propósito foi tornar o lugar ativo em diferentes horários e nos finais de semana trazendo maior vitalidade e contribuindo com o desenvolvimento do Centro de Santa Leopoldina. Em linhas gerais o ponto chave da intervenção foi promover o encontro e a vivência da população usuária com local. A

partir

deste

reconhecimento

e

proposição

do

Cinema,

buscou-se

o

desenvolvimento de uma proposta amparada por uma metodologia completa relacionada à intervenção sobre patrimônios históricos e bens de interesse de preservação.

5.1. Conceito e Partido O conceito proposto para o projeto de intervenção se baseia na preservação da estrutura atual do edifício, mantendo os elementos da arquitetura pré-existente, promovendo modificações no espaço interno; utilizando técnicas e materiais


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contemporâneos, com intuito de tornar o ambiente confortável, proporcionando o encontro e a vivência dos usuários no local. Uma abordagem contemporânea foi utilizada com intuito de atualização e dinâmica do espaço, trazendo técnicas e tendênciais arquitetônicas utilizadas nos tempos atuais, juntando a contemporaneidade com a ideia de passado, sobrepondo os dois momentos em uma época só: o “Edifício 1914” no século XXI. Para viabilizar este conceito foram adotadas soluções em um partido de opções de projeto capazes de representar esta proposição em forma de mobiliários e revestimentos utilizados em todo o projeto, assim como técnicas contemporâneas de construção, visando autenticidade e reversibilidade, como nos recomendam os documentos internacionais de preservação. Externamente não houve intervenção que impactasse na volumetria ou disposições estéticas do edifício. Foi resgatada uma proposta cromática, tradicional, presente no edifício ao longo dos tempos, que contribui para a vivacidade daquele ambiente urbano que é a cabeceira da ponte na rua Bernardino Monteiro. Para o interior utilizou-se uma decoração focada em uma linguagem clean e despojada, seguindo o princípio da contemporaneidade marcada pela leveza e pela funcionalidade do momento atual. O método adotado para o desenvolvimento do projeto partiu das visitas realizadas na região e o intenso diagnóstico elaborado onde foi possível identificar os maiores problemas e potencialidades para aquela edificação. Para melhor compreensão do conceito adotado, foram elaborados dois “quadros conceitos” (Mood Boards - Fig 91 e 92) que têm por objetivo trazer a ideia geral dos elementos e clima proposto para o projeto seguindo essa tendência contemporânea.


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Figura 91 - Quadro conceito (Mood Board) proposto para a requalificação do edifício

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 92 - Quadro (Mood Board)

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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5.1.1. Programa de necessidades Este novo uso implantado contempla atividades comerciais, lazer e entretenimento para a comunidade e atende a diversos tipos de usuários de diferentes gêneros, classes sociais e faixa etária. Sendo assim o local se integra ao espaço ao qual está inserido. Para isso foram propostos espaços que possam abrigar atividades de modo a compor, essencialmente, o programa de necessidades do local, definindo alguns conjuntos funcionais. 5.1.2. Conjuntos funcionais O novo espaço abriga no térreo uma cafeteria, com um balcão e vendas de produtos alimentícios, uma bilheteria localizada no hall do edifício e sanitários acessíveis, além de acesso interno ao segundo pavimento através de escada e elevador, havendo a intenção de garantir o encontro e a vivência das pessoas. Para o pavimento superior foi destinada a sala de cinema, um lounge para espera e uma bombonière que funcionará nos horarios anteriores aos filmes. Externamente há um acesso exclusivo por uma escada externa, já existente, que continuará, porém, agora servindo para acesso à saída de emergência do cinema e também acesso pavimento que abriga a administração. Em ambos os pavimentos houve a intenção de atribuir o uso noturno com intuito de gerar movimentação ao ambiente e vitalidade ao local na área central. Observa-se que houve uma subdivisão entre os dois setores dentro do novo uso, dentre eles: administração (acesso restrito) e o público, sendo este último subdividido em atividades comerciais e serviços que funcionam integrados. Tudo isso foi pensando visando a melhor distribuição dos espaços e a melhor setorização, visando um fluxo eficiente. 5.1.3. Diretrizes para layout de ocupação do espaço pré-existente O objetivo foi preservar ao máximo a estrutura atual do edifício, reaproveitando todas as suas aberturas e a fachada, visto que elas possuem importância para leitura e entendimento da obra no contexto semiótico da cidade. Foram propostas algumas adaptações para garantir o funcionamento das atividades que serão implementadas, assim como, atingir as dimensões necessárias para os layouts de cada atividade,


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viabilizando o aproveitamento total da estrutura do Edifício no desenvolvimento de todas as atividades impostas. 5.1.4. Observações gerais A área técnica (subestação, casa de máquinas de ar condicionado etc.) foi disposta no mesmo nível da administração, em uma área restrita a entrada de pessoas estranhas, e junto ao conjunto arquitetônico de forma a não prejudicar as características históricas do edifício, tampouco a paisagem do sítio histórico tombado. 5.2. Memorial Justificativo

5.2.1. Implantação A quadra onde está situado o cinema se encontra em um local plano e com uma grande movimentação de veículos à frente da rua principal (Rua Presidente Getúlio Vargas). Sendo assim para implantação desse novo uso no espaço, foram mantidos os três acessos principais existentes na fachada frontal, voltada para a rua, na verdade um trecho da Rodovia José Sette; considerando as questões históricas do edifício assim como o fluxo intenso de pessoas. Assim, criou-se um acesso amplo, priorizando agora a acessibilidade plena. Para que isso fosse possível foi criada uma rampa de acesso ao pavimento térreo, onde existe o acesso lateral, à escada que leva a administração e também funciona como saída de emergência; possibilitando o convívio das pessoas com deficiência e atendendo a legislação brasileira de acessibilidade e desenho universal – NBR 9050/2015. O passeio frontal também foi objeto de requalificação no projeto visando atender a legislação atual (FIGURA 93). Portanto todo o projeto de requalificação foi pensado aliando soluções confortáveis e viáveis para facilitar o fluxo de todos.


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Figura 93 - Acessos internos e externos ao pavimento térreo

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

5.2.2. Setorização O projeto foi dividido em setores que se interligam entre si. A área do térreo foi setorizada a fim de permear o encontro e a vivência das pessoas no espaço projetado, mantendo o serviço, a circulação vertical e os sanitários ao fundo. A área da cafeteria é compreendida por mesas, banquetas e um balcão voltado ao atendimento dos clientes (Figura 94).


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O procedimento de entrega dos produtos alimentícios para o café/bombonière deve ser realizado semanalmente, com fluxo pequeno de acordo com a estrutura do empreendimento, em horários preestabelecidos.

Figura 94 - Setorização geral do térreo

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

No pavimento superior à frente da Rua Getúlio Vargas [Rodovia José Sette] situa-se a sala de cinema, o mesmo conta com uma saída de emergência que permite evacuação rápida das pessoas em caso de emergência de acordo com a legislação


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vigente pela norma NBR 9077, e conta com todo o ambiente acessível conforme recomenda a NBR9050. Mais atraz o local foi estendido para então abrigar o lounge, um ambiente pequeno e aconchegante capaz de acomodar pequenas esperas para então o início dos filmes, além da bombonière voltada as pessoas que queiram adquirir pequenos lanches e compra rápida de balas e pipocas.

Figura 95 - Setorização geral do segundo pavimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

O pavimento onde se situa a administração foi criado com intuito de dar suporte ao empreendimento e abrigar a área técnica de modo a preservar a arquitetura do


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monumento existente. Essa área conta com acesso restrito, via escada, sendo localizada a partir da porta de saída de emergência. Sua utilização é restrita, permitida apenas aos funcionários e pessoal interno do cinema. Essa nova área construída conta com cobertura em telhas cerâmicas, semelhantes às características da cobertura já existente no cinema, sem, contudo, representar pastiche, haja vista ser uma técnica ainda vigente. Deste modo não há descaracterização do conjunto arquitetônico inserido na paisagem cultural do sítio histórico.

Figura 96 - Setorização geral do terceiro pavimento

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Todo desenvolvimento do projeto teve por objetivo preservar as características e ambiência histórica do edifício e da área em questão existente, dotando-o de novos


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acréscimos que contam com formas, proporções e modulações alinhadas ao edifício histórico, buscando justaposição e respeito ao pré-existente. 5.2.3. Cobertura A cobertura, já existente, sobre o edifício histórico, com problemas de manutenção e infiltrações generalizadas, deve ser objeto de uma ampla recuperação que contemple a restauração total da mesma em sua materialidade, impedindo que seja removida por questões paisagísticas do sítio histórico. A cobertura que existia nos fundos do edifício, escorada com pedaços improvisados de madeira, estava caracterizada por intervenção sem critério e foi eliminada do projeto visando a implantação do novo pavimento neste trecho posterior do conjunto edificado. Essa nova cobertura recebeu especial atenção para que não prejudicasse a volumetria do edifício e ambiência histórica do lugar. Foi proposta com máximo de cuidado possível de modo que não trouxesse um impacto ao restante da construção e que não criasse um falso histórico agregado à edificação pré-existente. Para isso foi desenvolvido um desenho de estrutura em madeira, com boa qualidade visando a durabilidade, estanqueidade e capacidade de isolamento térmico para a Edificação, assim como, suportar uma calha, projetada com dimensões adequadas para escoar toda a água captada pelos dois telhados. Vale ressaltar que a visibilidade desse novo elemento inserido do ponto de vista do pedestre é muito sutil, impossibilitando qualquer contraste negativo ao edifício. 5.2.4. Modulação estrutural As intervenções propostas foram concebidas na medida do possível, a partir de um sistema de estrutura matálica, que possibilitou vãos maiores, pemitindo maior flexibilidade nos layouts e nos usos diversificados. Considerando o pequeno tamanho do edifício não existe maiores preocupações quanto a modulação sendo esta ajustável às necessidades de preservação e valorização de aspectos construtivos remanescentes tais como: Alvenarias existentes e esquadrias.


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5.2.5. Fechamentos De forma geral foram propostos fechamentos em alvenarias para compor os novos ambientes criado no projeto, garantindo assim maior conforto e estanqueidade aos ambientes. Na área da circulação vertical interna (escada) foi proposto fechamento de vidro com maior transparência para que de fato o ambiente tenha ganhos de iluminação natural, pois o projeto não contempla aberturas laterais, devido sua implantação ser na totalidade do lote. Devido a isso, os ambientes foram concebidos para ser climatizados, como naturalmente pede o uso de cinema, trazendo conforto e aconchego para os frequentadores do espaço.

Figura 97 - Fachada Cinema Santa Leopoldina – Vista frontal

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

5.2.6. Vocabulário de materiais A ideia foi preservar e valorizar a estrutura atual do edifício e suas as características históricas, mantendo os elementos da arquitetura pré-existente mediante pesquisas e prospecções murarias estratigráficas. Contudo, se propõe para a fachada uma cor


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que integre o edifício em sua dinâmica urbana histórica, porém marque seu novo uso em contexto contemporâneo. Foi proposta a restauração das esquadrias com uso de materiais de maior durabilidade, adotando a composição histórica pré-existente da madeira ao natural com proteção a partir de vernizes de alta resistência para uso em fachadas.

Figura 98 - Fachada do Cinema Santa Leopoldina voltada a Rua Presidente Getúlio Vargas

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Figura 99 - Fachada Lateral Direita do Cinema Santa Leopoldina

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Internamente optou-se por criar ambientes com destaque na contemporaneidade que o novo uso trás. Sendo assim foram propostos materiais e técnicas novas aliados ao conforto e dinâmica do ambiente requalificado. Foram propostos materiais duráveis e com qualidade nas paredes da cafeteria com intuito de facilitar o ambiente para limpeza. Os materiais utilizados foram despojados, criados para um ambiente agradável e aconchegante para o público diversificado frequentador (FIGURA 100,101).


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Figura 100 - Espaรงo da Cafeteria

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Figura 101 - Espaรงo do balcรฃo da cafeteria

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Figura 102 - Interior da cafeteria e um conceito contemporâneo

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

Um

mobiliário

contemporâneo

foi

proposto

pensando

na

durabilidade,

funcionalidade, estética, conforto e qualidade para os locais. O layout foi proposto priorizando os fluxos de acessos aos ambientes, deixando-os mais fluidos e eficiêntes para a circulação das pessoas.

Figura 103 - Saída da cafeteria

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Para o lounge, optou-se por um ambiente em cores suaves, ligadas a uma decoração simples, porém agradável com iluminação média. Esta opção se deve ao pequeno espaço e a transitoriedade já que é um espaço de espera. Este layout proporciona funcionalidade para o novo momento a ser vivenciado no edifício histórico.

Figura 104 - Lounge do Cinema Santa Leopodina

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Figura 105 - Bomboniere

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.

A proposta para a sala de cinema foi pensanda a partir de um ponto fundamental, a acústica do lugar. Nas paredes foi proposto o uso de revestimentos com painéis de madeira visando proporcionar a melhor experiência sonora aos espectadores. No piso, foi especificado o revestimento tradicional em carpete para maior conforto e à estética ao ambiente; além de absorver os impactos causados pela circulação das pessoas, criando um isolamento acústico e térmico para o lugar. As poltronas buscam conforto ao usuário e devem ser na cor vinho, mais escura, de modo a preservar e facilitar a conservação, mantendo a limpeza do espaço. A iluminação suave traz harmonia ao ambiente, durante a espera e são apagadas ao início da seção para o filme. Todo o ambiente foi pensado para ser acessível de acordo com a NBR9050. A circulação comporta bem as pessoas com mobilidade reduzida, sendo projetados, corretamente, seus lugares nas primeiras filas, de acordo com a legislação vigente.


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O ambiente possui entrada principal e saída de emergência. As portas devem ser fabricadas em painéis metálicos dobrados, preenchidos com materiais acústicos de alta densidade.

Figura 106 - Sala de Cinema

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Figura 107 - Sala de Cinema

Fonte: Elaborado pela autora, 2017.


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Conclusão A partir de uma somatória de conhecimentos adquiridos ao longo da pesquisa, notou-se que o processo de degradação dos edifícios ocorre, na maioria dos casos, devido à falta de uso adequado com a tipologia arquitetônica do monumento e por consequência do abandono. Contudo, uma série de depredações e vandalismos vão se somando, contribuindo ainda mais para os processos de degradação. Para tanto, percorrer a trajetória intelectual de autores como Viollet- Le-Duc, Beatriz Mugayar Kühl e Jane Jacobs, foram essenciais para entender questões como a importância do uso na preservação de edifícios históricos, e na vitalidade urbana. Através dos estudos de casos foi possível identificar a importância de se adaptar novas funções aos edifícios que sofreram algum tipo de abandono ao longo do tempo e com isso perceber como a requalificação deles contribuiu com a vitalidade dos centros urbanos e, principalmente, aproxima as pessoas da cultura e da história local; proporcionando novas atividades para a região, novos eventos e contribuindo assim com a melhoria da qualidade de vida da população. Desta forma o interesse da requalificação surge com intuito de valorizar o patrimônio local, promovendo o desenvolvimento social e econômico com total atenção à população interessada, e não apenas com o foco no turismo ou na comercialização do espaço histórico. A motivação deste trabalho está no fato de que o projeto possa ir ao encontro das atuais necessidades e interesses da comunidade, demonstrando soluções que possibilitem, da melhor forma, todo o objetivo estabelecido nesse processo; colaborando assim com a cultura, entretenimento, lazer e o bem-estar dos cidadãos e principalmente contribuindo com qualidade de vida do lugar, além de colaborar para a preservação e desenvolvimento da cidade, valorizando um monumento tão expressivo que pode contribuir com a vitalidade da região onde está inserido.


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