A sede da Sociedade Beneficente União Fraterna

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sede da Sociedade Beneficente União Fraterna

e os bairros de origem operária na Zona Oeste de São Paulo

a sede da Sociedade

Beneficente União Fraterna

e os bairros de origem operária na Zona Oeste de São Paulo

Trabalho final de Graduação apresentado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidede Presbiteriana Mackenzie sob a orientação da professora Dra. Cecília Rodrigues dos Santos.

São Paulo, dezembro de 2022

Andrea, Regis e Isabella por serem meu porto seguro e por terem me formado como pessoa e profissional.

Pedro, por ser meu companheiro de todos os momentos, sem exceção, e meu grande amor.

Beatriz, Carolina, Daniel, Isabella, Lucia e Nadine, minha de rede de apoio, por se tornarem ao longo desses 5 anos essenciais na minha vida.

Cecília Rodrigues e Guilherme Motta por todas as orientações e por compartilherem suas vastas experiências.

Valdelice Silva e Luiz da Silva Filho que dedicaram as suas vidas ao trabalho de conservação da União Fraterna e de sua história. Foram peças indispensáveis para a elaboração desse projeto.

Araceles e Camila , que me ensinam diariamente e me inspiram a sempre buscar o meu melhor.

Lilian, por todos os seu ensinamentos e por dividir comigo a sua paixão por línguas, cultura e arte.

Por fim, aos meus avós, pelo amor e apoio incondicional.

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resumo

O objetivo desse trabalho é a análise e o estudo aprofundado do patrimônio histórico e cultural, o edifício sede da Sociedade Beneficente União Fraterna. Inicialmente será analisado o contexto em que a sociedade e a cidade de São Paulo se inseria, quais eram as mudanças do período e como estas afetaram e condicionaram diretamente o surgimento da União Fraterna e das associações mutualistas. Por que os trabalhadores sentiam a necessidade de encontrar meios de organização interna e criar uma rede de apoio? Como isso afetava o cotidiano da metrópole e principalmente o desenvolvimento urbano da época? Quais foram as condicionantes que conceberam as associações de socorros mútuos? São algumas das questões que serão tratadas no discorrer do trabalho. A partir do panorama histórico mais amplo investigado, entra-se especificamente no estudo da União Fraterna, objeto de análise em questão. Buscará entender como foi concebida arquitetonicamente a sede da associação, refletindo sobre suas características e especialidades, sempre aliado a trajetória histórica do patrimônio e o quanto este impactou a região na qual está inserido.

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abstract

The purpose of this paper is the analysis and in-depth study of the historical and cultural heritage of the headquarters building of Sociedade Beneficente União Fraterna. Initially, the analyses focus on the context in which the society and the city of São Paulo were inserted, what were the changes of the period and how these directly affected and conditioned the emergence of União Fraterna and other mutualist associations. Why did the workers feel the need to find ways of internal organization and creating a support network? How did this affect the daily life of the metropolis and especially the urban development at the time? What were the conditions that created the mutual care associations? These are some of the matters that will be addressed in the paper. From the broader historical panorama investigated, the paper specifically enters into the study of União Fraterna, which is the main subject of the analysis. It will seek to understand how the association’s headquarters was architecturally conceived, reflecting on its characteristics and specialties, always combined with the historical trajectory of the heritage and how much it impacted the region in which it is located.

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Sumário

introdução

01 a Sociedade Beneficente União Fraterna no bairro da Água Branca

1.1 a Lapa paulistana no começo do século XX

1.2 as Sociedades de Ajuda e Mutualismo em São Paulo

02 o projeto e a construção da sede da União Fraterna

2.1 a pesquisa histórica e a pesquisa do objeto como Metodologia

03 o centro de acolhimento e lazer da União Fraterna: interação com pré existências

3.1 diagnóstico da área 3.2 proposta e partido

86 96 3.3 estudo preliminar 104

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10 12 16 22 28 30 85 considerações finais referências bibliográficas

Anexo I os bailes e atividades culturais 150

A cidade de São Paulo é uma grande trama de histórias, culturas e etnias que se sobrepõem e se interpenetram com reflexos nos seus espaços e edificações. Por outro lado, ela é caraterizada por uma dinâmica própria de crescimento e transformação- uma cidade que se constrói sobre ela mesma- perdendo assim referências urbanas, edificações, e até as marcas dos processos de transformação que vão sendo esquecidos, tornando-se difícil compreender a atual relação da morfologia urbana com as edificações remanescentes. Como cita Benedito de Toledo, em seu livro “São Paulo, três cidades em um século”, a partir do início do século XX, com a chegada do dinheiro do café e da indústria na Capital, a cidade foi se construindo “em cima”, ou sobre ela mesma, e não “ao lado” do que já existia. (TOLEDO, 2004)

“(...) a cidade de São Paulo é um palimpsesto–um imenso pergaminho cuja escrita é raspada de tempos em tempos, para receber outra nova, de qualidade literária inferior, no geral. Uma cidade reconstruída duas vezes sobre si mesma [no século XX]”

-Benedito Lima de Toledo, 1981

A motivação deste trabalho, um centro de acolhimento e lazer na vizinhança da sede da União Fraterna, partiu do interesse pelo edifício eclético que, na sua forma peculiar como um navio encalhado numa esquina da rua Guaicurus, anuncia a passagem do bairro da Água Branca para a Lapa 1 , bairro industrial ligado ao aparecimento da ferrovia e dos núcleos de habitação operaria da Zona Oeste: “

(...) quem vem da região da Barra Funda em direção à Lapa repara esta belíssima construção localizada no lado esquerdo da, hoje tão mal cuidada, Rua Guaicurus”. (NASCIMENTO, 2011)

A Rua Guaicurus, traçada e aberta em 1905 paralelamente às linhas da São Paulo Railway e à várzea do rio Tiete, é considerada um importante eixo viário para a região desde a sua inauguração. Por ela, corriam os trilhos do bonde que vinha da região central da cidade até o núcleo do bairro da Lapa. Outros bens de interesse no bairro são: o Tendal da Lapa, entreposto de carnes hoje, as oficinas da SPR, o bairro da companhia city Alto da Lapa e a Antiga Vidraria Santa Marina.

A Sociedade Beneficente União Fraterna, através de suas atividades filantrópicas, culturais e sociais, desempenhou importante papel na consolidação das relações de vizinhança do bairro da Lapa. Marco e ponto de auxílio para os moradores e trabalhadores da região, a União Fraterna até hoje apoia a populaçã, tornando-se uma referência importante no bairro.

O trabalho apresenta dois objetivos específicos, alinhados a um objetivo geral: dar subsídios ao desenvolvimento do projeto de TFG Centro de Acolhimento e Lazer na vizinhança da sede da União Fraterna. O primeiro objetivo específico é a pesquisa histórica sobre o bairro da Lapa, suas mudanças e transformações a partir do início do século passado, situando a construção da sede da entidade. O segundo objetivo específico é a pesquisa histórica sobre a União Fraterna e sua sede, para subsidiar o projeto do Centro, tornado possível a relação com edifício histórico vizinho. O resultado do projeto apresenta um conjunto de edificações de duas épocas distintas, elaborado a partir de um programa assistencial e filantrópico, incluindo as atividades que eram exercidas no início da instituição e que foram descontinuadas e complementadas ao longo do tempo.

1 Bairros do Distrito da Lapa: Alto da Lapa, Bela Aliança, Lapa, Lapa de Baixo, Parque Residencial da Lapa, Siciliano,

Vila Argentina, Vila Augusto, Vila Bela Aliança, Vila Carlina, Vila Ipojuca e Vila Romana.

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introdução
Vila Anastácio,
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12 01

a sede da Sociedade Beneficente União Fraterna no bairro da Água Branca

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tória de São Paulo em que houve a chegada de grandes fluxos de imigrantes (1870-1930), além do crescimento industrial e fabril e da ausência de leis tanto, a União Fraterna surge, assim como outras organizações mutualistas da época, com o objetivo gião que se associavam à instituição. Os benefícios proporcionados por estas iam desde assistência des filantrópicas, beneficentes e recreativas, como titui-se como uma entidade beneficente, sem fins lucrativos e, em seu departamento Social e Salão LITO, 1998). Contudo, devido à evolução no sistema previdenciário e de saúde pública, já não presta, desde aproximadamente os anos 2000, serviços de

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Figura 1: Desenho Aquarela, Eduardo Bajzek

A história da União Fraterna e de seu edifício-sede teve início em outubro de 1925, com a fusão entre duas entidades, a Sociedade Ítalo Brasileira de Mútuo Socorro, fundada em 1907, e a Mútuos Socorros Centro Operário, fundada em 1922, passando a ser chamar Sociedade de Mútuo Socorro União Fraterna da Água Branca (MACIEL, 1992). Em 1976, com a alteração de seu Estatuto Social, a instituição passou a ser denominada Sociedade Beneficente União Fraterna, designação que mantém até os dias de hoje.

“A jovem organização fundada em 1925 logo se destacaria na sociedade paulistana através das suas atividades institucionais que tanto ajudaram a coletividade, como a prestação de assistência médica gratuita ou de baixo custo – isso tudo muito antes da existência dos planos de saúde – além de atividades filantrópicas, beneficentes e de promoção humana. Na entidade também se oferecia ensino de datilografia e inúmeras atividades recreativas, como bailes, festas e eventos especialmente destinados à terceira idade”

- Douglas Nascimento, 2011

A sede está localizada na rua Guaicurus, subprefeitura da Lapa, zona Oeste de São Paulo, em uma área de transição entre os bairros operá -

rios da Lapa e da Água Branca. O terreno foi adquirido em 1928, mas a inauguração do edifício só ocorreu em 1934, após diversos desafios e mudanças nas estratégias construtivas e de projeto arquitetônicos. O projeto da sede foi elaborado pelos arquitetos José Viadana, Ítalo Catalani e Ricieri Pinotti, implantado no terreno da confluência das ruas Faustolo e Guaicurus. (AZEVEDO; LOPES, 1992)

A trajetória da União Fraterna está diretamente ligada à chegada em São Paulo dos imigrantes, que vão trabalhar nas indústrias que começaram a se instalar nas várzeas dos rios Tiete e Tamanduateí (1870-1930). A União Fraterna, assim como outras organizações mutualistas criadas na época, tinha como objetivo promover assistência aos trabalhadores da região que se associassem à Instituição. Os benefícios iam desde assistência médica, odontológica e previdenciária, até atividades filantrópicas, beneficentes e recreativas, como bailes e festas. Atualmente, a União Fraterna mantem-se como uma entidade beneficente, sem fins lucrativos. Em seu departamento social, administra o Salão Nobre, que mantém ativo os eventos culturais, recreativos e bailes para a terceira idade (FERNANDES, 1998).

Desde a criação de um sistema previdenciário e de saúde pública pelo Governo Federal, a União foi deixando de proporcionar serviços de assistência médica. (Pesquisa de campo - visita união fraterna em 03/08/2022)

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1.1 a Lapa paulistana no começo do

A cidade de São Paulo da virada do século XX acumulava rapidamente capitais e atraia um fluxo intenso imigratório europeu, buscando aqui melhores condições de vida. O primeiro agrupamento estrangeiro em massa foi o italiano, mão de obra para a indústria nascente, que se reuniam em núcleos habitacionais na vizinhança das fábricas dos bairros industriais do Brás, Mooca, Barra Funda e mais tarde Lapa e Água Branca.

Estima-se que em 1870 a população da cidade era de 32 mil habitantes e que, entre 1888 e 1900, passaram cerca de 900 mil imigrantes em São Paulo, dos quais aproximadamente 70% eram originários da Itália. Em dados oficiais, se registrou que a cidade dos anos 1900 possuía em média 250 mil habitantes e, dentre esses, supõe-se que 150 mil já eram europeus imigrantes. Nas duas décadas seguintes, outros 900 mil europeus transitaram pela capital, estes que já se dividiam quase que igualmente entre portugueses, espanhóis e italianos. Essa onda de chegada dos imigrantes duraria até meados de 1920 e apresentaria diversas etnias, além das citadas acima, como japoneses, sírios e judeus, os quais começaram a ocupar os bairros da cidade de São Paulo e criar zonas características de suas culturas, que marcam a metrópole até os dias de hoje. (ROLNIK, 2001)

século xx

Nesse momento, a cidade vivia, além das intensas ondas imigratórias que chegavam em busca de melhores condições de vida, a primeira impulsão industrial, principalmente de indústrias têxteis e alimentícias. Incialmente, as fábricas ocupavam as áreas de várzea dos rios, longe dos espigões da cidade criando grandes núcleos e vilas operárias. Segundo Carla Reis, em seu livro “Mãos que fizeram São Paulo” 1, a ocupação desses terrenos planos e inundáveis das várzeas, muito mais baratos, tornou possível a implementação de grandes parques industriais, além da construção das extensas sequências de moradias padronizadas. Essa forma de ocupação territorial dos bairros operários tinha, como uma de suas principais características, possuir em uma mesma área os espaços de trabalho e moradia, não havendo nenhum tipo de legislação que definia o uso dos terrenos. Outro ponto relevante é que o valor dos terrenos era definido a partir da extensão de suas frentes, não de seus fundos, fazendo com que a maior parte das construções possuísse uma largura posterior maior e, para aproveitamento total da área, com que as casas fossem feitas sem nenhum recuo lateral ou frontal (REIS, 2003). Em São Paulo, observa-se essa forma de composição urbana principal -

1 REIS, Longhi Carla; Mãos que fizeram São Paulo. São Paulo, Celebris, 2003

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mente nas orlas ferroviárias das zonas Leste, Oeste e Sudeste.

A origem do bairro da Lapa remonta de 1581 e passa por um período lento de ocupação por pequenas propriedades rurais. Olarias e plantações ladeavam o chamado Caminho das Tropas que seguia para o interior, representando a transição entre o interior (Jundiaí, Sorocaba e etc) e o centro da cidade. Esse processo ocorre até meados do século XIX, quando entra em operação a São Paulo Railway (1867), primeira linha férrea de São Paulo, que ligava Jundiaí ao porto exportador de café, na cidade de Santos. As ferrovias cortavam o bairro longitudinalmente, com uma única estação no bairro, a Estação da Água Branca, localizada próxima à Indústria Vidraria Santa Marina, na avenida de mesmo nome.

Em função desses acontecimentos, a grande massa de imigrantes recém-chegados, principalmente os italianos, foi atraída para a área, ocasionando o primeiro surto de “urbanidade” da região e definindo-a como um bairro. As pequenas propriedades rurais começam a ser loteadas, como a Vila Romana (1888), seguida da Vila Sofia (1891) e da então denominada “Lapa de Baixo” (ou Grão Burgo da Lapa), onde se instalaram a maioria dos operários e imigrantes.

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Figura 4:
Figura 2: Chegada dos imigrantes, 1890 Figura 3: Pátio das Oficinas, Lapa, 1936
Interior da oficina de Locomotivas

Casas coletivas, pensões, pequenos comércios, vilas e sobrados de aluguel, armazéns, oficinas e pequenas indústrias vão se estabelecendo entre os eixos viários principais, como a rua Guaicurus, as linhas da SPR e da Sorocabana e o rio Tiete.

As primeiras indústrias também aparecem gerando empregos e movimentando a economia da região: em 1896 surge a Vidraria Santa Marina, essencialmente com mão de obra de imigrantes franceses. Logo após, ocorre a transferência das oficinas da São Paulo Railway para o bairro, trazendo trabalhadores de origem inglesa, instala-se o Frigorífero Amour, com imigrantes húngaros, lituanos e poloneses e, por fim, a Fábrica de Tecidos e bordados da Lapa, com trabalhadores espanhóis (REIS, 2003).

Todas essas indústrias se beneficiavam, principalmente, da proximidade com o rio Tietê para o abastecimento das caldeiras. Foi só por volta de 1920, que se instalaram as Indústrias Matarazzo e a Companhia Melhoramentos, que posteriormente seriam agentes expressivos na expansão do território. Vale ressaltar que, apesar da grande diversidade de etnias instaladas na região, a grande maioria de imigrantes da Lapa continua sendo os de origem italiana.

Figura 5: Mapeamento Sara, 1930- Vilas Operárias

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Figura 6: Indústrias Martins Ferreira, Lapa de Baixo, 1917 Figura 7: Caldeiras das indústrias Francisco Matarazzo, 1920

A região da Lapa de Baixo, logo nas primeiras décadas do século, passou a contar com a melhor infraestrutura urbana de seu entorno; em 1915 já possuía rede de esgoto pronta e dispunha de serviços como escolas, bonde, cinemas, iluminação pública, tornando-se um centro comercial de grande importância. Em contrapartida, a região da Lapa de Cima começou a desenvolver-se apenas com a chegada da linha de bonde que vinha do centro até a rua Guaicurus, na década de 20. Consequentemente, a Rua Guaicurus (ou Rua Gomes Cadim, na época), torna-se muito relevante, pois era o único eixo viário que desempenhava o papel de ligação da Lapa com outros bairros tradicionais de São Paulo, como Santa Cecília e Perdizes (MACIEL, 1992). Além disso, abrigava equipamentos urbanos relevantes como a União Fraterna e, a partir de 1938, o Tendal da Lapa, que operava como centro de armazenamento, fiscalização e distribuição de carnes para a cidade de São Paulo.

Entretanto, a Lapa continua sendo um bairro popular em meio às grandes chaminés das fábricas e à alta densidade de vilas operárias e cortiços em estado de precariedade. Além de tudo, os empregadores exigiam de seus funcionários altas jornadas de trabalho e a remuneração não era condizente a isso. Outro fator é que o ‘boom’ industrial que impulsionava economia e o au -

mento da população devido à imigração, resultou na falta de regulamentações governamentais, que não foram capazes de se desenvolver e acompanhar as rápidas mudanças sociais.

Assim, as leis previdenciárias e de apoio aos trabalhadores só foram decretadas décadas depois, e, para obterem uma vida mais digna, diversas organizações de trabalhadores começaram a se formar nesses bairros com a intenção de proteção à classe (como as associações mutualistas). Na Lapa, não foi diferente, surgiram inúmeras instituições trabalhistas às quais os operários se associavam em busca de auxílio, como é o caso da Sociedade Beneficente União Fraterna.

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Figura 8: Vila operária da Indústria Santa Marina, 1930

1.2 as sociedades de ajuda e mutualismo em São Paulo

A cidade de São Paulo do final do século XIX, como já mencionado antes, encontra-se em um momento de fortes mudanças devido ao intenso processo de urbanização e industrialização. Contudo, em consequência ao novo cenário, começam a emergir também diferentes problemas sociais, sendo um deles a falta de legislação que asseguraria condições de vida digna aos trabalhadores urbanos.

As habitações precárias, carestia de gêneros alimentícios, baixos salários, aluguéis altos e o custo de vida em ascensão, principalmente durante o período da 1ª guerra mundial, são algumas das razões que resultaram no aparecimento de diversas sociedades de mútuos socorros na cidade de São Paulo (MACIEL, 1992), e tonaram essas, e posteriormente outras entidades, organizações essenciais para a sobrevivência dos trabalhadores.Se inicia também, o movimento da conscientização de classes, a princípio apenas dentro dos partidos operários, mas que, em seguida se tornaria uma das pautas mais discutidas dentro da história e política brasileira.

Nesse sentido, em meio ao crescimento demográfico e ocupacional da cidade, com profundas transformações em suas estruturas, a classe operária que não dispunha de nenhum tipo

de auxílio, começa a se manifestar criando ligas de resistência, sociedades de socorros mútuos e uniões para sobreviver ao espaço potencial de conflito que a cidade representava. Analisando dados da época, percebe-se o grande aumento de surgimento das entidades em função desse cenário. Em 1855, data que se tem o primeiro registro de uma sociedade mutualista, existiam apenas duas uniões em São Paulo, já em 1935, menos de 100 anos depois, esse número passa a ser de 250 instituições de ajuda mútua na cidade, representando a solidariedade operária que vinha sendo constituída (LUCA, 1996).

No caso da Água Branca e do Oeste paulista como um todo, a maior influência veio da imigração italiana desde o final do Império até o começo de 1920, de forma que as fundações das sociedades de socorros mútuos italianas acompanhavam os fluxos de imigrantes que aportavam na cidade. De 1887 a 1900, tem-se o registro da chegada de 564.800 italianos, sendo que no mesmo período fundaram-se 13 associações (equivalente a 46,4% das mutuais italianas). Fenômeno análogo ocorreu na década de 1920, quando 75.925 italianos deram entrada em São Paulo e surgiram mais 5 mutuais, 4 apenas entre os anos de 1923 e 1924.

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Relação Quiquenal e decenal das Sociedades de Socorros Mútuos, tendo por base a data de fundação ou primeira notícia encontrada1

1 LUCA, Tania Regina de. O mutualismo em São Paulo: o sonho do futuro assegurado. Tese de doutoramento, São Paulo, FFCL-USP, 1996.

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Figura 9: Pintura Operários (1933) de Tarsila do Amaral, retratando o período da industrialização brasileira e a diversidade étnica dos trabalhadores

Para se constituírem, as entidades adotavam parâmetros para definição de seus associados, como por exemplo, poderiam caracterizar-se por reunir exclusivamente assalariados de uma mesma categoria profissional, como ferroviários, ou moradores de uma mesma região da cidade, sendo tais atributos usualmente incorporados ao nome da organização. Por outro lado, existiam aquelas que não impunham qualquer tipo de restrição a seus membros, compreendendo assalariados de profissões, etnias, bairros e religiões distintos. As mutuais também expressavam preocupações com o resguardo moral de seus associados, buscando a formação de “trabalhadores exemplares” (MACIEL, 1992) e o não envolvimento com disputas religiosas e políticas.

O objetivo principal das instituições era buscar suprir as reivindicações básicas que apareciam nas pautas do movimento operário, realizando um programa assistencial com serviços médicos e tratamentos para a saúde, farmacêuticos, auxílio em caso de doenças, desemprego, invalidez, serviços funerários e jurídicos, e programas de lazer e entretenimento. Tratavam-se, então, de organizações de um “sistema” de previdência privada capaz de assegurar a sobrevivência de seus membros.

Contudo, tais entidades só passam a ser

regulamentadas e se tornam um objeto de ação estatal em 1860. Antes disso, havia apenas o Código Penal de 1830, que previa a intervenção de autoridade pública exclusivamente em casos de sociedades secretas, bem como a Lei nº 575 de 1849 e o Código Comercial, que previam a necessidade prévia de autorização governamental para sociedades com fins lucrativos. Entretanto, ambos os decretos não se aplicavam às sociedades mutuais, visto que estas não eram qualificadas nem como sociedades secretas, nem como entidades essencialmente comerciais.

Desse modo, conforme descreve Tânia de Luca em seu livro: “Sonho do futuro assegurado, o mutualismo em São Paulo”1:

“as associações de auxílio não estavam sujeitas a normas de nenhuma espécie, eram entidades de âmbito totalmente privado e tinham seus estatutos redigidos segundo a inspiração dos fundadores”

- Tânia de Luca, 1988, P.13

1 LUCA, Tania Regina de. O mutualismo em São Paulo: o sonho do futuro assegurado. Tese de doutoramento, São Paulo, FFCL-USP, 1996.

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Para o mantimento das sociedades, era cobrada uma mensalidade de seus associados além de contribuições com os fundos de reserva, donativos, juros, entre outros. Todavia, ofereciam também auxílio gratuito à parcela carente e necessitada da população. Sendo assim, constituem entidades filantrópicas sem fins lucrativos, que buscavam somente o ganho para subsistência.

Analisando a chegada do movimento no bairro da Água Branca e na Lapa, as primeiras associações mutuais de que se tem registro foram a Sociedade Beneficente dos empregados da S. Paulo Railway Co. (1899), a Sociedade Cosmopolita de Mútuo Socorro dos Vidreiros Reunidos da Água Branca (1901), e a Cooperativa Internacional Beneficente da Lapa, fundadas pelos empregados das numerosas indústrias e oficinas alocadas na região, como, por exemplo, as anteriormente mencionadas Vidraria Santa Marina, Cia. Mecânica Importadora e Fábrica de Tecidos e Bordados Lapa. (LUCA, 1988)

Vale ressaltar que as sociedades de mú -

tuo socorro não são consideradas os embriões dos sindicados, que surgiram quase no mesmo período que estas. Em alguns casos, os sindicatos operários poderiam incluir serviços de assistência social em suas atividades, porém esta não era uma regra geral e nem sua finalidade principal, como era o caso das mutuais.

Foi só a partir da década de 30 que, com a presença do Estado e de normas legalmente instituídas, houve uma alteração na estrutura sindical para um caráter previdenciário, antes característico do movimento mutualista, passando-se a serem ofertados serviços de assistência social para seus membros. (AZEVEDO; LOPES, 1992)

Logo, as associações de mútuos socorros representaram uma organização mantida pela classe operária paulistana, desde 1855 até aproximadamente 1930, como estratégia de sobrevivência, para fazer frente às precárias condições de vida da época, se tornando essenciais para a estruturação e trajetória do movimento operário brasileiro.

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Figura 11: Trabalhadores na Fábrica Martins Ferreira Figura 10: Trabalhadores na Fábrica de Tecidos e Bordados da Lapa Figura 13: Trabalhadores na Fábrica de Tambores da Pompéia Figura 12: Encontro dos trabalhadores do bairro

o projeto e a construção da sede da União Fraterna

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29 02

2.1

a pesquisa histórica e a pasquisa do objeto como metodologia

A Sociedade Beneficente União Fraterna iniciou suas atividades como associação mutualista no dia 1 de novembro de 1925, sob o nome de Sociedade de Mútuo Socorro União Fraterna da Água Branca. O surgimento da União foi diretamente condicionado pelos fatores históricos discorridos no capítulo anterior: o auge da economia cafeeira, o início do sistema viário de estradas de ferro, o grande afluxo de imigrantes que chegavam ao Brasil em busca de melhores condições de vida e a falta de regulamentações de previdência social por parte do Governo, papael este que passa a desempenhado pelas associações mutualistas e, posteriormente, reivindicado pelos movimentos operários.

A União Fraterna especificamente, tem suas ba -

ses nas experiências do mutualismo italiano e, consequentemente, foi formada pelos imigrantes dessa etnia, adotando suas tradições, posicionamentos políticos com relação às requisições trabalhistas e aspectos organizativos de sociabilidade, lazer ou luta.

O primeiro Presidente Sócio Fundador da entidade foi Augusto Décimo, no ano de formação. O cargo de presidência, diretoria e de conselheiros era sempre exercido por sócios, sem obter quaisquer tipos de benefícios, título ou remuneração, segundo descrito no Estatuto Social (Artigo 55). Em sucessão, houve 15 presidentes.

No estatuto idealizado pelos fundadores, a Sociedade não impunha qualquer tipo de restrição de credo, profissão ou origem para um operário se associar, diferentemente de algumas mutuais que, conforme já citado, poderiam se subdividir de acordo com esses critérios. Contudo, havia mesmo assim uma constante preocupação com o resguardo moral e a formação de “trabalhadores exemplares” por parte da entidade, que era uma característica deste tipo de associação:

Figura 14: Artigo contendo as premissas para admissão dos sócios

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nov. 1925 mar. 1927 mar. 1927 mai. 1927

mai. 1927 fev. 1928 fev. 1928 fev. 1930

fev. 1930 fev. 1932 fev. 1932 fev. 1934

fev. 1934 jul. 1935 jan. 1936 fev. 1940

fev. 1940 mar. 1949 mar. 1949 fev. 1958

fev. 1958 jan. 1962 fev. 1962 jan. 1963

jan. 1963 mar. 1974 mar. 1974 ago. 1995

ago. 1995 ago. 2013 ago. 2013 set. 2016

set. 2016 dez. 2020 dez. 2020 abr. 2022

set. 2022 atual

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Antônio Pinheiro da Silva Darmeval Novaes de Oliveira João Giusti Arthur José Weigand Arthur José Weigand Ângelo João Bragotto João Mantovani Filho Eudóxios Anastassiadis Luiz da Silva Filho Eudóxios Anastassiadis Maurício Bergamini Dejean Orlando Zanfelice Jorge Luchesi Mario Bueno Aguiar Orlando Cruxen Nagib Bogus ítalo Cataloni Antônio Gaburri Antônio Gaburri Linha do tempo com os presidentes da Sociedade Beneficente União Fraterna

associados em 1925

da esquerda para a direita, em pé: Ricieri Pinoti, Alexandre Stuani, Joaquim, Ângelo Cioni, Evangelista, Nagib Bogus, Jorge H. Racca, Amadeu Bisocchi, Agostinho de Bortoli e José Fedeszoni.

Sentados: Gabrile Gianoni, Armando Gonçalves, Arthur Weigand, João de Guisti, José Pisapia, Antonio Caburri e Antoni Massaia (Figura 15)

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Acerca das responsabilidades que a União Fraterna cumpria, sempre de acordo com suas possibilidades financeiras e organizacionais, têm-se:

Manter a prestação dos serviços e de assistência médica, hospitalar, e outras atividades indispensáveis à preservação da saúde de seus associados e gratuita aos seus associados e às pessoas carentes ou necessitadas, cujo atendimento se dá através de convênios com órgãos especializados nas atividades de médicos, clínicas e hospitais devidamente habitados e legalizados no país e com entidades públicas do ramo;

Dedicar-se as obras de promoção humana, beneficente, filantrópica e assistência social;

Promover e desenvolver atividades recreativas, de lazer e cultural para os associados e a coletividade;

Desenvolver e promover uma modalidade de ensino prático de computação, para associados, seus dependentes e a coletividade carente e necessitada, com o objetivo de proporcionar o aprendizado e a captação para o trabalho.

Para mais, a instituição disponibilizava aos associados, com relação a serviços médicos, diversos tipos de especialidades, como: clínico geral, odontologia, psiquiatria, psicóloga, cardiologia, entre outros.

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Figura 16 e 17 : Dr. Orlando Cruxen (dentista), realizando o atendimento do sócio e ex- Presidente da União Ângelo João Bragatto, 1972 (Alfaiate)
36 Figura 19: Associados

Contemplava também, em seu estatuto, além de assistência médica e odontológica, o auxílio a seus sócios, em caso de doenças, acidentes, desemprego e morte:

retomar as atividades, a importância era disponibilizada mensalmente até o momento em que ele estivesse apto para tal.

A Sociedade Beneficente União Fraterna se caracterizava (e se mantém assim até a atualidade), quanto ao seu tipo jurídico, como uma associação de Direito Privado, sem fins lucrativos, filantrópica, assistencial e declarada como utilidade pública nos âmbitos Federal (Decreto nº 86.871), Estadual (Lei nº 8.178) e Municipal (Decreto nº 45.092/04), em função dos bons serviços prestados à coletividade. Tratava- se, portanto, de uma instituição com um sistema de previdência privada capaz de assegurar a sobrevivência dos associados e de suas famílias durante períodos de doenças, acidentes de trabalho e desemprego, além do cunho cultural e de lazer característicos.

Figura 18: Artigo com os direitos dos sócios

Em caso de doenças que impossibilitavam o associado de exercer seu trabalho, conforme descrito no art. 15 acima, existia o pagamento de um benefício para o trabalhador, desde que esse fosse associado à União há pelo menos 6 meses. Durante os primeiros 90 dias era pago diariamente um valor integral em dinheiro, e após esse período a ajuda era reduzida para a metade, durante 3 meses. Se decorrido esse período, mesmo assim o trabalhador ainda não estivesse em condições de

A manutenção do edifício e dos serviços das sociedades mutualistas vinha essencialmente por meio do pagamento da mensalidade dos sócios, conforme discorrido. No caso da União Fraterna, mais do que as mensalidades como fonte de subsistência, eles ainda contavam com o aluguel das 5 lojas localizadas no térreo, na Rua Guaicurus, e o aluguel do Salão de Bailes, para festas, eventos e casamentos. Essa quantia arrecadada era administrada pela diretoria eleita anualmente e 90% era destinado para as despesas com os socorros aos sócios, enquanto os outros 10% iam para os fundos de reserva e de imóveis.

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Para a organização das atividades da sociedade, eram realizadas assembleias entre a diretoria e representantes associados, com pautas e atas de convenção, preservadas até os dias de hoje no acervo da União Fraterna. Entre 1935 e 1940, a época áurea da união, existiam cerca de 25 mil sócios, todavia com o transcorrer do tempo, a instauração de leis previdenciárias e o avanço do sistema de saúde público começam a adotar o papel desempenhado pelas mutuais e o número de trabalhadores que se mantinham associados reduziu. Em 1993, eram apenas 5 mil e em 2005 contavam com somente 100 associados, nessa época inclusive as contribuições mensais já não eram mais cobradas. Entretanto, a atuação social e cultural continua sendo exercida. Hoje, acredita-se que haja em torno de 35 associados, que ajudam no mantimento da instituição, e há também a parceria com o Instituto Anastassiadis para preservação do patrimônio.

“O baile n. 1, acontece na Lapa- rua Guaicurus, 1, Zona Oeste de São Paulo- desde 1925. (...) No Salão, até 500 pessoas dançam polcas, valsas e boleros. É um baile da saudade da Sociedade Beneficente União Fraterna. Nos sábados de gala, o segundo de cada mês, a pista fica repleta de damas com vestidos longos e saltos altos. Como nos “bons tempos”, rodopiam abraçadas a cavalheiros com lenços nas mãos. A União Fraterna, que já se chamou Socidade Ítalo- Brasileira de Mútuo Socorro, tinha 25mil associados nos anos 30. Na inauguração vieram a São Paulo Guilherme Marconi, inventor do rádio, e um ministro de Mussolini. De 1930 a 1940 os bailes eram organizados Ruggeroni, clube de Futebol da Lapa. (...) O clube hoje tem 5.000 afiliados e seus bailes são abertos”

- G.A para a Folha de São Paulo, 1993

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Figura 20: Atendimento da União Fraterna
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Figura 21: Ata de assembléia de 1925
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Figura 21: Ata de assembléia de 1930
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Figura 23: Sede da União Fraterna, 1934

A aquisição do terreno, localizado no nº 1 da Rua Guaicurus, para a construção da Sede da União Fraterna, ocorreu no dia 03 de outubro de 1928. Anteriormente, desde a data de fundação da Sociedade ítalo-Brasileira de Mútuo Socorro (1907), a sede localizava-se na Rua Roma, no bairro da Lapa. A compra foi realizada pelo então Presidente da associação, Arthur J. Weigand, pelo secretário Armindo Gonçalves e pelo primeiro tesoureiro George Luchesi. O lote possuía aproximadamente 830m² e fazia parte da Chácara Pirapitinguy, antiga propriedade da viúva Olívia Guedes Penteado e de seus filhos. (CAMPOS, 2007)

O projeto arquitetônico da sede foi elaborado em 1932 pelos arquitetos José Viadana, Ítalo Catalani e Ricieri Pinotti, em conjunto com o engenheiro responsável Ângelo Cione e Arthur Weigand. O projeto tinha características arquitetônicas que o assemelhavam a uma ideologia eclética e fora concebido a partir do exterior, como revelam os tratamentos de fachada e pé direito alto (PIMENTA, 1994).

Além disso, é perceptível a influência do movimento italiano na concepção das fachadas e dos ambientes como um todo, mas também dos neoclassicismos inglês e francês. Portanto, as características arquitetônicas do edifício, como a presença de ornamentações, o trabalho detalha -

do dos ambientes internos, o uso da proporção e simetria, o emprego das pilastras ornamentais, evidenciam uma arquitetura concebida a partir dos preceitos estéticos buscados na vertente arquitetônica eclética. Apesar disso, essa concepção é tida como tardia devido à ascensão do movimento modernista, que já era percebido no Brasil nesta época e buscava novas técnicas e partidos. Um exemplo desta ocasião é a Casa Modernista de Gregori Warchavchik de 1927, que é contemporânea ao edifício da União Fraterna. (AZEVEDO; LOPES, 1992)

“ O cenário é um casarão de dois andares, com carrancas italianas e arquitetura que mescla o neoclássico inglês com o francês. Projetado pelos arquitetos José Viadana e Arthur Weigand, o prédio foi concluído em 1934. Hoje, todas as terças e domingos, o palco com ornamentos trazidos de Roma é ocupado por uma orquestra”.

- G.A. para a Folha de São Paulo, 1993

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O projeto foi finalizado em 1932 e no mesmo ano foi dada entrada no requerimento da prefeitura, solicitando a licença para sua construção, que foi iniciada somente em 06 de abril de 1933, através das contribuições financeiras por parte dos sócios. Existem algumas fontes que afirmam que a construção do edifício original foi, também, fruto do trabalho dos associados que se agrupavam em seu tempo livre para auxiliar na obra (CAMPOS, 2007).

Durante a construção do prédio, muitas modificações foram realizadas e vários dos elementos que constavam no projeto não foram executados. Por este motivo, em 10 de agosto de 1933, o construtor responsável José Viadana solicitou na prefeitura a anulação de sua responsabilidade de construção pois os “interessados não seguiam as plantas e cálculos previamente definidos e aprovados” (MESQUITA, 2005), passou-se o ofício então para Arnaldo Ricci, sendo que o prédio fora inaugurado em 16 de junho de 1934.

Ainda houve problemas na emissão do Habite-se do edifício em consequência do desacordo entre as plantas aprovadas e as alterações executadas em construção, que foi expedido apenas em 1938, 4 anos após a inauguração.

Figura 24: Salão de bailes, 1934-1941

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O sobrado de dois andares projetado incialmente foi implantado a partir da confluência da Rua Guaicurus com a Faustolo, ocupando toda a esquina de forma marcante com uma área de cerca de 371m², deixando no extremo oposto uma área vaga de 510m². Posicionada no alinhamento do lote, sem recuos frontais na Guaicurus e em parte da Faustolo. O outro trecho de 13,90 m da mesma, era composto por um muro completamente vedado.

A construção foi iniciada pelo salão de bailes, sala de reuniões no pavimento térreo e as lojas voltadas para a Rua Guaicurus, que antigamente eram tipografias (MESQUITA, 2005). O sistema construtivo adotado foi a alvenaria de tijolos comuns de barro, com a cobertura de telha de barro sobre estrutura de madeira, e as ornamentações e elementos decorativos, notados tanto na fachada quanto internamente, são de cimento.

A planta originalmente aprovada na Prefeitura apresenta dois andares, com

pé direito de 4 metros em ambos os pavimentos, sendo que o programa previa no térreo o escritório, secretaria, Salão do conselho, armazéns e depósitos, e no pavimento superior o salão de festas, com aproximadamente 190m², e os camarins.

Além dos ambientes mencionados, o térreo possuía também 3 blocos independentes com a finalidade de alugar e gerar renda para a União. Cada um continha um armazém, um escritório e um depósito com acesso pela Guaicurus. Os dois primeiros, da direita para a esquerda, contavam com banheiros externos e eram dispostos espacialmente de maneira totalmente dissociada com o prédio da sede. Já o terceiro, era integrado com os demais ambientes do térreo, fazendo parte do conjunto edificado. Por fim, sobre os três cômodos, encontrava-se o salão de festas. A construção de 1934 possuía, aproximadamente, uma área construída de 668 m².

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Figura 25: Salão de bailes, 1934-1941
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Figura 26: Planta do pavimento térreo, 1932
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Figura 27: Planta do pavimento superior, 1932

Com relação às fachadas, foram executadas em argamassa raspada com mica, e, no projeto original, tinham duas cores diferentes, uma mais escura para as pilastras decorativas e outra mais clara para o restante da obra. Já apresentavam os elementos decorativos executados em cimento, como citado anteriormente, com o brasão da entidade e ornamentos nas janelas. Os vincos horizontais eram espaçados de 35 em 35cm e a platibanda que circundava todo o edifício apresentava frisos e florões decorativos. (AZEVEDO; LOPES, 1992)

As janelas do pavimento superior possuíam uma altura maior, com um formato retangular e em cima a bandeira em semicírculo com abertura basculante e decorada com pequenos florões ornamentais. Já as janelas do térreo são sempre retangulares, contornadas por uma moldura simples de cimento. As portas, assim como as janelas do térreo, são retangulares e de dois tipos: as que dão acesso as lojas são de ferro ondulado e as demais de madeira com duas folhas e elementos decorativos em relevo, assim como o brasão da Sociedade. Ambos os tipos apresentavam bandeiras com outros elementos decorativos adicionais.

Figura 28: Porta de acesso principal, térreo

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Figura 29: Reconstrução da fachada original | Rua Guaicurus

Figura 30: Reconstrução da fachada original | Rua Faustolo

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União Fraterna

Imagem da fachada final construída da União Fraterna entre os anos de 1934 e 1941, vista da esquina entre as ruas Faustolo e Guaicurus (Figura 31).

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No ano de 1941, realizou-se uma grande reforma no edifício incorporando o lote nº 59 da Rua Guaicurus à edificação (último do limite lateral direito). O anexo foi construído para adicionar mais dependências, como escritórios e consultórios de atendimento médico, e o salão de festas também fora ampliado, passando de 190m² para aproximadamente 238,8m². A área total do edifício passou a ser de 1.190m² e a fachada externa aumentou cerca de 15,4m, executada em argamassa homogênea, sem seguir os padrões de pinturas de 1934, adotando somente a cor mais clara para o edifício como um todo. Analisando a fachada atual, é possível observar o limite entre a construção original de 1934 e a ampliação tratada. Entretanto, procurou-se manter o estilo arquitetônico e composição original, assumindo a ritmação de aberturas e os tipos de janelas com ornamentação. A obra fora liderada pelo arquiteto Raul Simões com a participação dos engenheiros Ângelo Borghi e Jorge Moreira Lima, sob a presidência de Jorge

Luchesi, e foi finalizada somente em 1947. Conforme já mencionado, no pavimento superior incluiu-se, além da ampliação do salão, novos banheiros, bar e área de circulação, assim como a sala do presidente, salas de arquivo e uma pequena biblioteca de aproximadamente 36m². Já no pavimento térreo, executou-se principalmente escritórios e consultórios. Porém, a alteração mais significativa foi a inclusão de um segundo acesso ao prédio pela rua Guaicurus e uma segunda escada ligando os pavimentos. Inicialmente, para o acesso ao salão de festas e ao pavimento superior, era necessário utilizar a escada principal por meio do hall e sem conexão interna. Ou seja, se o associado estava na secretaria e gostaria de subir, ele precisaria sair do edifício e utilizar o acesso da esquina com a Faustolo. Com a reforma, criou-se esse segundo acesso e escada, no limite direito da edificação, que era possível de ser utilizado sem ter que deixar o prédio.

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Figura 32: Imagem da ampliação em andamento.

Figura 33: Ampliação da Fachada da Guaicurus

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Figura 34: Planta do pavimento térreo e superior com os ambientes da ampliação

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Entre 1942 e 1979, mais ampliações no edifício original foram executadas. A maior destas, acredita-se que ocorreu a partir da década de 60 (não há registros suficientes que confirmem essa data), que foi a construção do anexo da Rua Faustolo. A fachada da União Fraterna localizada na Rua Faustolo possuía inicialmente uma distância de 18,90m, sendo que, com a reforma realizada, ela passou a constar com uma medida de 33,69m (aumento de 14,79m), ocupando toda a área não construída que era voltada para essa via. No entanto, não foi feita nenhuma alteração na elevação, adotando o muro como fachada para a nova edificação, sem criar nenhum tipo de relação com fachada preexistente e não incorporando os conceitos arquitetônicos estabelecidos para o prédio.

Outro ponto relevante a ser destacado é a mudança na dinâmica funcional do edifício com a implementação do anexo. Além de gerar um terceiro acesso ao prédio, voltado para a Rua Faustolo, criou-se também outra escada para o pavimento superior, que dava na sacada do salão de festas, facilitando ainda mais o acesso. Com isso, as pessoas, principalmente os funcionários, passaram a utilizar essa nova circulação vertical diariamente, especialmente pelo fato de estar localizada na área do prédio considerada de serviço. Portanto, elaborou-se toda uma área de circulação e espaços de apoio, voltada para a Rua Faustolo, em uma posição em planta menos priorizada do que em relação à Rua Guaicurus, que é o acesso principal. Ademais, fora implantado também um depósito e as caixas d’água.

Porém, o mesmo processo executado na fachada pode ser identificado em planta. Os ambientes criados não eram compatíveis com os preceitos arquitetônicos do prédio e foram dispostos apenas como complementares a sede original, sem considerar nenhum tipo de conforto térmico, lumínico e espacial, resultando em ambientes mal distribuídos e iluminados.

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Figura 35: Escada de acesso secundário Figura 36: Foto da União Fraterna com o anexo executado

Já em 1984, as alterações feitas não envolviam nenhum tipo de construção, mas com relação ao funcionamento do edifício foram muito significativas. O salão de festas foi ampliado mais uma vez, retirando os ambientes que foram implantados na obra de 1941 (sala da presidência, biblioteca, arquivo, entre outros), e estendido até o final da edificação. Com essa alteração, o salão passa a ter aproximadamente 363m², dimensão final mantida que foi tombada pelo CONPRESP (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo), ou seja, a dimensão atual do salão. Adicionalmente, a posição do palco foi alterada e este foi transferido para o lado oposto do salão. Quando houve a reforma com o deslocamento do palco, houve também a preocupação de transpor os elementos originais, mantendo a estética e linguagem decorativa de acordo com o resto do ambiente, apesar disso as dimensões finais do palco, após a reforma, ficaram significativamente maiores do que o original.

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Figura 37: Posicionamento original do Salão, 1934 Figura 38: vista atual do mesmo ângulo, após a reforma
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Figura 39: configuração do salão original, 1934-1941 Figura 40: mesmo ângulo, após a reforma com o deslocamento do

do palco, anos 80

Figura 41: vista e configuração atual do palco, 2022

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O Salão de festas é acessado pelo Hall principal localizado no térreo, no ângulo das ruas Guaicurus e Faustolo. O Hall possui um forro de gesso e o piso de granilite com o brasão da União Fraterna e a data de unificação, 1925. Este abriga a bilheteria e sai à escada principal para o pavimento superior, que originalmente também era feita de granilite e depois fora coberta com um carpete vermelho.

Chegando no Salão de Festas, já se avista ao fundo o palco espaçoso emoldurado por decorações ornamentais em gesso. O Salão possui um forro de estuque com desenhos decorativos, assim como as paredes com frisos, molduras e sancas com iluminação indireta. Além das sancas, há também as arandelas e lustres decorativos em ferro preto com vidro branco e azul, estes já podem ser observados em imagens bem antigas, mas, conforme afirmam os arquitetos Maria Ester e Paulo Henrique na análise de tombamento, não são originais da construção. Apresenta ainda a fileira de janelas com a bandeira em arco e elementos decorativos que dão para a Rua Guaicurus e, na parede oposta, a mesma tipologia de janelas que, nesse momento, ainda faziam parte da fachada externa do edifício em encontro com as sacadas. Contudo, como será demonstrado adiante, através de outra reforma realizada tempos depois, essa fachada fora encoberta e atualmente faz parte da composição interna da construção.

O piso é de tacos e, como podemos observar pela comparação das imagens antigas e atuais, fora trocado, mas sem alterar o conceito e conjunto estético final. Por fim, as três portas que dão para os fundos do edifício, saindo do salão, são de peroba e originais que davam para a sacada externa.

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Figura 42: detalhe da fachada Figura 43: detalhe do brasão do piso, Hall de entrada

Figura 44: vista da entrada do salão

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Figura 45 a 50: imagens do salão de festas atualmente
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Figura 51: associados no bar ainda no seu posicionamento inicial

A última alteração feita no patrimônio foi por volta de 1985, com a construção de um novo bar no pavimento superior ao lado do salão de baile. A obra foi coordenada pelo engenheiro Arthur Catalani (CAMPOS, 2007) e consistiu em alocar um bar onde anteriormente ficava a sacada do salão de bailes, terminando de obstruir o final da fachada externa original que ainda se encontrava visível do nível da rua. Em função dessa construção, que podemos perceber as janelas internas do salão, mencionadas anteriormente, assim como as portas ornamentadas.

Entretanto, existem diversas críticas à execução do bar, isso pois esta não levou de em consideração os conceitos e características já presentes no prédio da União Fraterna e a sua história, tanto da sociedade em si como do edifício. Ao mesmo tempo, não foi proposta uma nova construção que, de certa forma, apesar de não seguir a mesma linguagem, faria um contraponto interessante e evidenciaria a União Fraterna, como é visto e estudado em diversos casos de construção com pré-existências. Além da inclusão do bar, mais alguns ambientes no pavimento térreo foram alterados, mas sem mudanças significativas e apenas na área anexa da Rua Faustolo.

Após a inclusão do bar, não houve mais construções de anexo, portanto, a planta total e edifício do ano em questão, é o que observamos atualmente na Sociedade, com uma área construída total de 1.315,62m² e o terreno com 673,80m² (conforme consta na folha de cálculo de IPTU do imóvel).

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Figura 52: o bar após a reforma

Figura 53: Planta final do edifício após todas as ampliações- Pav. Térreo

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Figura 54: Planta final do edifício após todas as ampliações- 1 pav.

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ELEVAÇÃO GUAICURUSFigura 55: Fachada final do edifício após todas as ampliações- Rua Guaicurus

cronologia construtiva1

1934 1935-1941 (ampliação do prédio) 1942-1979 1985- 2005

1984 (mudança do palco)

1 MESQUITA, Fernanda. Projeto Básico de Arquitetura e Restauração para aprovação da Lei Rouanet. São Paulo, 2005.

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Apesar da descaracterização da arquitetura original por parte da construção do bar, e das outras reformas que foram realizadas no patrimônio ao longo de sua existência, a importância histórica e arquitetônica permaneceu. Em virtude disso, em 1992 o senhor Nelson Frateschi Filho, então Administrador regional da Lapa, em conjunto com o presidente da entidade no momento, Orlando Zanfelice, solicitaram ao órgão municipal CONPRESP, responsável pelo tombamento de bens culturais, históricos e entre outros na cidade de São Paulo, a análise histórica e do objeto da União Fraterna, visando seu tombamento. O estudo foi realizado pelos arquitetos Paulo Henrique F. Azevedo, Maria Ester Araújo Lopes e a historiadora Laura Antunes Maciel em setembro do mesmo ano. Após a pesquisa feita, chegou-se à conclusão de que a União Fraterna apresentava historicamente vestígios do que foi o movimento operário em São Paulo, assim como o mutualismo, os serviços previdenciários e atividades filantrópicas, o que a tornava marco no bairro e na cidade. Para mais, o estado de conservação do conjunto arquitetônico era bom o suficiente para se prosseguir com o processo de tombamento do edifício.

Segundo o arquiteto Célio Pimenta, conselheiro no CONPRESP, havia 3 principais razões

pelas quais se deveria ser favorável ao tombamento: (i) o importante papel das associações mutualistas e o desempenho das mesmas na cidade, (ii) o valor histórico que o imóvel representava para a Lapa e seus moradores, e (iii) as características arquitetônicas do mesmo, em que, além das fachadas, ele cita a importância do Salão de Festas, principal ambiente da união.

Conforme os demais arquitetos, Pimenta concluiu sua análise dizendo que as alterações realizadas no edifício, para adaptá-lo aos novos tempos, não foram comprometedoras. A partir disso, em 21 de julho de 1994, o órgão decreta o tombamento da União Fraterna como um todo: “...abrange a edificação em sua totalidade, incluindo interiores, área externa e gradis de fechamento.”, contudo, conforme declarado no tombamento: “O presente tombamento dispensa a determinação da área envoltória de que trata o artigo 10° da legislação supramencionada.” (Carta do CONPRESP decretando o tombamento do imóvel). Portanto, a área construída após os anos 60, anexos na Rua Faustolo, não apresentaram relevância e valor histórico e arquitetônico e, sendo assim, não são abrangidos no tombamento da edificação.

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Figura 56: Documento de solicitação de tobamento, Nelson Filho

Figura 57: Documento de solicitação de tobamento, Orlando Zanfelice

Figura 58: Resolução de tombamento, CONPRESP

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O tombamento da Sede da União Fraterna fora extremamente significativo, principalmente para o bairro e seus moradores, havendo bastante repercussão e acompanhamento dos veículos de imprensa, tendo sido veiculadas diversas matérias nos jornais e uma declaração quando o processo foi concluído.

Como de praxe, após o tombamento de um edifício, qualquer alteração e reforma deve ser previamente autorizada pelo CONPRESP, por encontrar-se sob proteção legal. No caso da União Fraterna, houve um projeto em 2003 assinado pelo arquiteto Paulo Leurrei Ishikawa para realizar a regularização da edificação em relação à acessibilidade. Dentre suas propostas, uma sugestão era implementar um elevador onde está localizado o banheiro masculino no térreo até o pavimento superior, ao lado da escada principal. No entanto, o projeto não foi executado, apesar de haver o consentimento do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo.

Figura 59: Jornal da Lapa de 16 de novembro de 1991

Figura 60: Jornal da Lapa de 05 de agosto de 1994

Figura 61: Resolução do tombamento da União Fraterna, publica no jornal

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Em 2005, o patrimônio se encontrava em mal estado de conservação. Nas fachadas, era possível observar remendos em argamassa de cimento, sujidades como pichações e partes faltantes, assim como o interior do bem, que necessitava de regularização e restauração (MESQUITA, 2007). Em vista disso, a arquiteta Fernanda Mesquita realizou uma pesquisa histórica e análise da edificação completa e detalhada, que estava em estado de deterioração em função da falta de manutenção, visando o restauro e preservação da edificação. No ano de 2007, o projeto foi finalizado e apresentado, obtendo a aprovação pela Lei Rouanet, contudo não obteve arrecadação de recursos suficientes para ser realizado.

Já em 2015, a União Fraterna associou-se ao Instituto Cultural Anastassiadis e iniciou um processo de mantimento e restauração do edifício. O escritório de arquitetura Anastassiadis, dirigido pela arquiteta Patrícia Anastassiadis, elaborou no mesmo ano a proposta para restauração, auxiliando no processo de regulamentação documental do imóvel. Eudóxios Anastassiadis, presidente da União no momento, afirmou em uma entrevista ao Jornal da Gente:

“Além do restauro do prédio, nós cuidamos da infraestrutura do prédio, da elétrica, da hidráulica, das instalações de bombeiro, das licenças, da documentação. Modernizamos o salão com a instalação de ar-condicionado”, explicou. “O projeto de restauro está orçado em mais de R$ 2 milhões. A União Fraterna tinha problemas documentais que agora já está em ordem. Também conseguimos sanear uma dívida de R$ 400 mil que vinha sendo carregada há anos por vários motivos. Mais de R$ 300 mil já foram investidos no restauro e climatização, ar-condicionado”.

- Eudóxios Anastassiadis, Julho de 2017

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Figuras 62 e 63: Situação do patrimônio antes da restauração, 2011
80

No mesmo ano, o escritório de arquitetura Anastassiadis elaborou, além do plano de restauração, uma proposta para a construção de um edifício anexo ao patrimônio, desconsiderando as construções feitas a partir dos anos 60, como por exemplo, o bar do 2º pavimento de 1985, sugerindo sua substituição por uma construção inteira de vidro que restaurasse a fachada original da Rua Faustolo, que está atualmente fechada, colocando-a em evidência e propondo um novo bar que fosse mais coerente com o entorno e o bem tombado.

A restauração foi realizada no ano de 2019, em parceria com o Instituto mencionado, e atualmente o patrimônio encontra-se restaurado e preservado. Contudo, não foi possível concluir quais dos projetos de restauração foi seguido: do escritório da arquiteta Fernanda Mesquita (projeto de 2007) ou de Patrícia Anastassiadis (projeto de 2015) e o quanto do edifício fora recuperado, a não ser as fachadas que se encontram atualmente em pleno estado de conservação. Só é possível validar que, apesar de ter havido a reforma, não fora executado nenhum tipo de alteração na construção da Rua Faustolo, que não é protegida pelo tombamento, nem executado o anexo que ambas as propostas projetuais apresentavam.

Figuras 64 a 67: proposta de restauração da União Fraterna, Instituto Anastassidadis

81
82 Figuras 68 e 69: Patrimônio durante as
de restauração Figuras 70 a 71:
obras
83 71: Edifício atualmente restaurado
84 03

o centro de acolhimento e lazer da União Fraterna: interação com preexistências

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brasil estado de são paulo cidade de são paulo subprefeitura da lapa distrito da lapa

3.1 diagnóstico da área

A subprefeitura da Lapa, localizada na zona Oeste da cidade de São Paulo, é composta por seis grandes distritos muito característicos e relevantes dentro de seu contexto urbano, são eles: a Barra Funda, Perdizes, Lapa, Vila Leopoldina, Jaguaré e Jaguará. A área total da subprefeitura é de 40,1 km² e abriga uma população de 305.536 habitantes, com uma densidade demográfica de 7619 hab./km² o que, em comparação com as demais subprefeituras de são Paulo, explicita uma região não tão adensada em uma área relativamente grande.

O IDH da Lapa chega a 0,932, considerado muito elevado e um dos melhores da cidade, o que informa uma região bem desenvolvida e com grande oferta de equipamentos e estrutura urbana. De fato, isso pode ser observado para além do número, a Lapa apresenta não apenas um, mas vários critérios relevantes e de potencialidade que a tornam uma zona bem provida. Um exemplo são os equipamentos de cultura, que são importantes não só para os bairros bem como para a cidade de São Paulo como um todo, a ampla oferta de modais de transporte, instituições de ensino, serviços de saúde e gerais, comércio, moradia e entre outros.

O ponto analisado anterior acaba se refeltindo no mercado de trabalho na região, observando os dados da prefeitura verifica-se que a Lapa possui em média 356 mil postos de trabalho formais, isso corresponde a 9% do total da cidade de São Paulo, sendo que entre esses 196 mil aplicam-se ao setor de serviços. Para mais, os distritos da Lapa e Barra Funda compilam aproximadamente 58% dos empregos da Subprefeitura e 5% dos empregos formais do município.

empregos formais na Lapa 0 10mil 20mil 80mil

COMÉRCIO SERVIÇOS

INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO CONSTRUÇÃO CIVIL

fonte: Ministério do Trabalho e Emprego- RAIS 2014

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mercado da lapa 1970 | Foto: Oswaldo Jurno, Estadão

área de intervenção

legenda

vegetação curva mestra curva intermediária massa d’água

meio físico

Com relação a conformação urbana da Lapa, a malha e a forma das edificações vem se alterando de forma incisiva para adaptar-se aos novos modos de morar da sociedade. Dito isso, observa-se um movimento forte de verticalização dentro dos bairros. No período de 2000-2014 ocorreram o lançamento de 346 empreendimentos residenciais na subprefeitura, dos quais 131 ocorreram em Perdizes e 101 na Lapa, e apenas 34 lançamentos comerciais. Isso representa o movimento, mencionado anteriormente, que vem se tornando notável na região, acontecendo através principalmente do mercado imobiliário e estabelecendo construções verticais de moradia de médio e alto padrão. Isso vem alterando significantemente a tipologia arquitetônica da região, que era caracterizada principalmente por sobrados de até 3 pavimentos, galpões e vilas industriais. Consequentemente, a densidade demográfica na subprfeitura vem crescendo também.

Outro ponto relevante são as áreas de preservação dentro da área, como o Parque da Água Branca e o Parque das Perdizes, que criam pontos de permanência além de terem grande impacto no meio físico, dado que a subprefeitura é cortada em grande parte pelo Rio Tietê e ocupa também grande parte de suas várzeas, ocasionando em vários pontos de alagamento. Isso somado a alta consolidação dos bairros, poucas áreas permeáveis, arborização viária e cobertura vegetal, além de pouquíssimos espaços de respiro, caracteriza à região uma deficiência ambiental. Essa característica física se agrava em distritos como a Barra Funda e Lapa, que possuem diversos pontos de alagamento e ilhas de calor. Em contrapartida, na região mais Oeste da subprefeitura, temos distritos como a Vila Leopoldina que são extremamente arborizados e, com a morfologia urbana resultante, os pontos destacados acima são sanados.

POPULAÇÃO E DENSIDADE DEMOGRÁFICA

POPULAÇÃO E DENSIDADE DEMOGRÁFICA 2014 2030

66.655 HAB 65.810 HAB

6.483.95 HAB km2 6.401.75 HAB km2

PARÂMETROSP TEM A DENSIDADE DE 7.398,26 hab/km²

PARÂMETROSP TEM A DENSIDADE DE 7.398,26 hab/km²

Sede administrativa do Parque da Indústria Animal, na Água Branca | Foto: Acervo Estadão

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2014 2030 66.655 HAB 65.810 HAB 6.483.95 HAB km2 6.401.75 HAB km2

área de intervenção

A respeito da mobilidade e meios de transporte, a Lapa é atendida por duas linhas do Metrô, sendo essas a linha 2 Verde que conecta a Vila Madalena à Vila prudente e a linha 3 Vermelha que conecta as regiões Leste- Oeste de São Paulo. 3 linhas ferroviárias principais passam pela subprefeitura (9, 8 e 7) e os corredores Pirituba/ Lapa/ Centro e Vila Nova Cachoeirinha servem a região, mesmo assim os dados apontam que aproximadamente 54% das viagens diárias dos habitantes são feitas através de modais individuais e apenas 23,5% por meio de transporte público e 22% a pé.

Ponderando como que esses meios de transporte se comportam no território, podemos observar que as orlas ferroviárias, assim como no resto da cidade, criam barreiras que não são resolvidas urbanisticamente e que prejudicam a área de diversas formas, impedindo que polos de desenvolvimento aparecem ao redor das estações, devido a característica de difícil ocupação e desassociando assim a articulação entre os demais modos de transporte.

Grande parte dessa situação se dá também em função da localização das linhas ao longo dos trajetos dos rios Pinheiros e Tietê, que por si só e da maneira que são tratados na cidade, já conformam um caráter de barreiras urbanas. Ademais, a maneira em que a área é historicamente ocupada, ponto abordado no capítulo anterior, resulta em espaços ociosos e grandes áreas públicas vazias ou subutilizadas, como por exemplo os antigos aterros/ bota-fora, da “Light “que era utilizados como áreas de desassoreamento do canal dos rios. e os grandes galpões indústrais que atualmente estão inativos e geram arquiteturas residuais.

sistemas viários legenda projeto estação de metrô ciclofaixa estação de trem

terminal de ônibus ponto de ônibus corredor de onibus

Por fim, está em adamento a construção da nova linha de metrô laranja que atenderá a região e facilitará coma conexão com o resto da cidade . Além das ciclofaixas presentes na área que cumprem, nos dias de hoje, um pouco dessa função de ligação. Contudo, apesar de haver uma grande oferta desse modal, além de ainda não haver incentivos suficientes à população para a utilização da bicicleta como meio de transporte sustentável, as faixas na subprefeitura da Lapa estão alocadas de forma não funcional, trazendo até alguns riscos à segurança dos ciclitas, o que acaba dificultando o uso e gerando preferência por outros tipos de modais de transporte.

ferrovia

Estação da Água Branca, 1918. | Foto: O Estado de São Paulo, Monte Doyecg & Cia

91

área de intervenção

Uma das grandes ofertas dentro do distrito e que carac teriza este, é a ampla gama de estabelecimentos de cunho cultural. O SESC Pompéia, por exemplo, localizado na Rua Clé lia é um grande ponto de permanência e encontro não só para os moradores da Lapa, mas para a cidade. Contudo, o SESC apesar de vital para o contexto urbano, não é apenas o único na região, que apresenta atores culturais em sua rota, tais como: O tendal da Lapa, Memorial da América Latina, Teatro Cacilda Becker, Museus Geológico, as antigas Fábricas da Santa Marina e Matarazzo, para além das diversas cons truções tombadas que mantem a história do local viva, como por exemplo o atual Poupa Tempo que foi inteiramente restau rado pelo escritório Arquiteto Pedro Taddei e Associados, e até mesmo o edifício da Sociedade Beneficente União Fraterna.

Analisando os demais tipos de equipamentos, percebe -se que a área é bem abastecida em quase todos os aspectos, entretanto a área em recorte estudada não segue esse pa drão. Muitos dos equipamentos estão concentrados em bair ros como a Vila Romana e Perdizes, mas quando análisados bairros como a Água Branca e a Barra funda o cenário muda.

O sistema educacional público é o segundo equipamento mais presente na região, porém gran de parte das instituições é voltada apenas paa ensino infantíl e médio, havendo uma carência de equipamentos vol tados para ensino técnico e/ ou especializante para adultos.

Com relação aos equipamentos de saúde pú blica e assistência social, o quadro se intensifica mais ainda. Em um raio de 2km existe apenas um ponto voltado para a assistência social e 2 UBS, que seria o equi pamento de saúde pública de maior capacidade de aten dimento na área, sem nenhum hospital, por exemplo.

SESC Pompéia | Lina Bo Bardi

rua guaicurus

entorno imediato

Via de grande porte com muito movimento, tanto de pedestres quanto, principalmente, de carros. Possui essencialmente tipologias de sobrados de no máximo 3 pavimentos e um uso voltado para o comércio e lojas de carros. É uma área muito consolidada com pouca arborização viária e espaços de permanência. Via de fácil acesso a meios de transporte coletivos. Apesar de possuir muito fluxo de pessoas, não é um espaço com boa caminhabilidade.

rua faustolo

Via de porte pequeno e com pouco movimento de carros e pedestres. É uma rua mais local e essencialmente residencial, também com tipologia predominante de sobrados e gabarito baixo. Não possui atrativos para o público que não residentes. É uma área muito consolidada também, com pouca arborização e caminhabilidade prejudicada. Porém possui um equipamento de relevância que é a escola Estadual Raul Cortez, que atende o ensino da região.

94
planta de localização

3.2 proposta e partido

A partir das análises feitas, foram estabelecidas estratégias de implantação da volumetria de acordo com o partido adotado e programa do anexo.

Para o programa, buscou-se restabelecer as atividades filantrópicas originais da União Fraterna que não são observadas no território atualmente. Em vista disso, elencou-se 3 grandes grupos dentro dos quais as atividades aconteceriam, são eles: assistência social, assitência médica e cultura. Dentro dos grupos, o programa se divide em dois eixos, o voltado para trabalhadores empregados , que visa o apoio médico , social e finananceiro e a parte cultural, com lazer e entretenimento, E por fim o eixo voltado para trabalhadores desempregados, com acolhimento, especialização e reinserção do trabalhador no mercado de trabalho.

O partido arquitetônico adotado foi a valorização do patrimônio histórico, ou seja, todo o projeto foi pensado para deixar a sede da União Fraterna em destaque e adequar-se a essa.

Para a implantação do edifício, partiu-se primeiramente do fechamento do trecho da Rua Faustolo para integração dos lados e criação de uma praça interna com área de permanência e respiro para o bairro.

Depois, alocou-se conectado ao edifício sede da União Fraterna o programa cultural (roxo), contendo uma biblioteca e um auditório em uma volumetria linear, voltada para a Rua Guaicurus. E, no extremo oposto, foi implantado o programa assistencial(laranja), longe da Guaicurus que possui mais movimento e polição sonora. para a parte médica e de ensino.

Para a ligação entre os programas, projetou-se uma passarela sustentada por uma viga vieerendel, que servirá como mirante também.

Por último, visando a melhora da caminhabilidade e do meio físico do entorno, implantou-se uma área verde de permanência na angulação da rua Faustolo e Guaicurus.

social eixos

médico cultural

trabalhadores empregados

trabalhadores desempregados

apoio lazer acolhimento especialização reinserção

96

eixodecirculação

preexistência

conexão programa cultural programa assistêncial ligação

98 estudo da volumetria
volumetria final
implantação

acessos

Conforme mencionado anteriormente, o programa cultural ficou localizado na rua Guaicurus, diretamente ligado a União Fraterna. Como atualmente os maiores eventos na instituição são voltados para bailes e trabalhos artísticos, procurou-se manter tal conformação. Para acesso da biblioteca pode-se utilizar a entrada principal pelo edifício histórico da União ou o acesso secundário pela praça interna e lounge. Já o auditório possui um acesso separado , e o foyer é voltado para a Rua Sabaúna que é menos movimentada.

O programa de assistência médica está localizado no térreo do bloco anexo com um acesso principal pela praça interna e o acesso de emergência também voltado para a rua Sabaúna que possui menos fluxo e movimento, se tornando ideal para casos de urgência.

Por fim, os ambientes de ensino e assitência social estão localizados no primeiro pavimento do bloco anexo e possuem acesso direto ao programa cultural através da conexão suspensa e, o acesso principal, se dá através da rampa do bloco assistencial, pela praça interna.

programa

Cultural: biblioteca com acervo e sala de estudos, auditório com capacidade para 117 pessoas e área técnica, Salão de Bailes para eventos, espaços livres para intervenções e exposições e recepção com lounge.

Médico: sala de emergência, enfermaria, sala para fisioterapia, 4 consutórios para atendimento psicológico, clínico geral, odontológico e especialidades, recepção, sala de apoio e administração.

Ensino e assitência social: ateliê, sala multiuso, sala de exposições, 2 salas de ensino especializado, setor financeiro, setor de apoio social e administração.

biblioteca

união fraterna praça interna e conexão suspensa

espaços de respiro

diagrama de bolhas

101
salão de bailes assistência médica assistência social ensino auditório

vista noturna da rua Faustolo integração dos programas e fechamento da rua Faustolo para criação da praça interna e áreas de permanência para o bairro.

103

estudo preliminar

No andar de planta do subsolo, alocado no nível 725.00 com relação ao nível do mar, está implantado somente o programa cultural. Portanto, apenas o volume voltado para a rua Guaicurus apresenta contrução de subsolo para abrigar o auditório com cafateria e parte da biblioteca. A solução foi adotada para que fosse possível manter as atividades culturais ao lado do patrimônio histórico, sem que a nova construção entrasse em desacordo com o bem tombado, ou seja, criando um volume horizontal de apenas um pavimento acima do nível da rua, com volumetria simples e linear para que olhar do observador e pedestre esteja sempre voltado ao edifício sede da União Fraterna. Entretanto, sempre buscando conforto espacial e ambiental, não foi necessário mais do que 3 m do nível da rua para abrigar os locais e, para mais, os ambientes possuem um vão com pé direito duplo e iluminação natual, com janelas voltadas para a praça central, crindo uma conexão entre o interno e o externo. No pavimento térreo ficaram localizados, na área da implantação voltada para a rua Guaicurus, o auditório e o andar de cima da biclioteca. Além desses equipamentos, há também o acesso principal do patrimônio histórico, com as 5 lojas e a recepção. Esta, se conecta diretamente com a volumetria de ligação entre a construção nova e a preexistência. Na volumetria de ligação, alocou-se um espaço de estar integrado com uma cafeteria de uso público e o centro de informações do conjunto.

Além do programa cultural, implantou-se também no pavimento térreo, o programa de assistência médica, localizado no novo anexo na extremidade oposta do terreno. Isso pois, entendeu-se que por haver situações de urgência e rápidas ações, seria ideal que as atividades rela -

cionadas à saúde ficassem localizadas em uma posição de fácil acesso e circulação para a população e equipes médicas. Para facilitar ainda mais os fluxos, implantou-se um acesso de emergência voltado para a Rua Sabaúna.

Por fim, integrando os programas culturais e de assistência e criando um espaço de respiro no bairro extremamente consolidado, elaborou-se uma praça interna para apropriação da cidade, integrada à áreas de vegetação e manchas verde, para amenização de ilhas de calor e do clima local. Além disso, visando o descanso mental do público e constituindo uma arquitetura com um viés biofílico. Já no pavimento superior foi implantado todo o programa assistêncial voltado para a especialização dos trabalhadores, com salas de aula para ensino especializado, ateliê e sala multiuso. Além disso há a zona de auxílio, com o setor de apoio financeiro e o setor de assistência social. Para integrar as duas construções foi projetada uma passarela de inteligação entre os edifícios, ligando o setor de ensino ao auditório e biblioteca. Funciona também como um mirante para a região e, se necessário, um espaço para exposições temporárias. Além disso, a passarela é conectada diretamente com o salão de bailes da União Fraterna, permitindo que o público que estiver no salão aproprie-se também do resto do edifício.

104
3.3

1. reservatório 2. casa de máquinas 3. sala de reunião e estudos 4. armários 5. biblioteca 6. acervo da biblioteca 7. camarins 8. depósito 9. auditório 10. cafeteria

105
2 3 4 5 6 7 7 8 9 10 1
subsolo | N 725.00
B C
C
A A
B

biblioteca

biblioteca com pé direito duplo e vão central com espaços para leitura. Iluminação natural com vista para a praça central e integração com a cidade.

106
107

1. foyer

2. bilheteria

3. sala de controle

4. biblioteca

5. recepção e cafeteria 6. lounge

7. administraçaõ e arquivo 8. sala de apoio 9. consultório

10. sala de fisioterapia 11. sala de emergência 12. enfermaria

108

térreo | N 728.20
12
C B C D D B
1 2 3 4 5 5 7 8 9 9 9 10 11
9 6 A A

elevação 1- vista interna

109
corte aa | Edifício cultural 1

elevação 2- vista da rua Guaicurus

sistema estrutural

O sistema estrutural utilizado no projeto possui duas concepções distintas. Apesar de ser 100% constituído de concreto armado, para o assistêncial adotou-se um arranjo estrutural mais habitual com pilares de seção circular e diâmetro de 45 cm, vigas de concreto retangulares de 20x40cm e laje de concreto moldada in loco. Já para o anexo cultural, localizado ao lado da União Fraterna, utilizou-se o mesmo tipo de pilares contudo a laje escolhida foi a pré fabricada alveolar protendia, isso porque oa construção possui somente um pavimento e tinha-se a intenção de criar ambientes amplo e com o máximo de pé direito livre, sem o cruzamento das vigas de sustentação. Para mais, essa formação foi essencial no caso do adutório que ficou com mais amplitude .

A mesma ideia foi aplicada pata o pórtico sustentar-se, através dea utilização da laje de concreto protendida moldada in loco.

Já para a passarela de ligação, adotou-se a viga vieerendel como solução estrutural e estética. Os vão e organização estrutural assemelham-s em ambos os prédios com uma distância de 8mx7m para as salas de aula e 8mx10,7 para o auditório e biblioteca.

110
2

laje em cocreto armado

vigas de concreto armado moldado in loco de 20x40cm

laje alveolar protendida

viga vieerendel de concreto moldado in loco

pilares com seção circular diâmetro de 45cm

111
112

vista da rua Guaicurus

da rua Guaicurus vê-se a volumetria do anexo com o programa cultural conectado ao patrimônio histórico e, com o pórtico emoldurando a arquitetura.

113

auditório

Para a configuração do auditório, espaço bem relevante dentro da composição arquitetônica, foram relizados estudos e experimentações para projetarum espaço adequado, tanto acusticamente quando com relação ao conforto térmico e lumínico.

O primeiro desafio se deu pela localização do auditório, isso porque ele fica próximo a rua Guaicurus, que é uma via de grande porte e muito movimentada, consequentemente com muito ruído sonoro também, Para amenizar essa situação algumas estratégias e materiais foram adotados. Primeiramente, a fachada voltada apra a via não possui aberturas e é constituida de concreto armado moldado in loco com uma espessura de 40cm. Entre a fachada e a sala de apresentações localiza-se um corredor de 3,5m que conecta foyer a biblioteca e tem a função de ser um espaço de dissipação dos ruídos sonoros vindos da rua.

A segunda estratégia veio através da geometria da sala, que possui um formato retangular ideal para a refelxão de absorção do som no ambiente como um todo e dos materiais escolhidos. Os materiais como o forro de lã de vidro e as paredes revestidades de madeira e lã de pet, criam um ambiente acústicamente ideal, com as janelas voltadas para a praça interna permitem a iluminação natural na sala.

Porém, visando manter o conforto ambiental, as janelas possuem um sistema de vidro duplo com cortinas de rolo blackout, para quando for necessário. Por fim, os brises externos em chapa metálica perfurada também auxiliam no controle lumínico dentro da sala.

A sala foi projetada com capacidade máxima de 117 espectadores, com 9 fileiras de 13 lugares. Por não ser uma sala tão grande, não foi necessário a utilização de placas com rebateção acústica

114
comportamento e propagação do som em uma sala retangular curva de visibilidade do auditório mapa de medição acústica da área | Ferramenta Noise Tools

det. 2: parede acústica com painel de madeira e lã de pet fonoabsorvente

brises metálicos fixos de chapa perfurada

pisos de madeira e carpete

parede de concreto moldada in loco

forro acústico de lã de virdro paredes com o sistema massa-mola-massa Vidro laminado 7mm Vidro laminado 6mm

Espaço intermediário entre caixilhos com persiana rolo balckout Detalhe caixilho auditório

det. 1: caixilho duplo com controle lumínico e acústico

10152 |

de referência para ambientes internos Simulação do nível do som recebido dentro do projeto | Ferramenta Noise Tools

115
16/11/2022 10:16 Sound Propagation and Acoustic Barrier Calculator - NoiseTools.net
Sound level calculators that work in our browser F ee o use Sound Propagation Level Calculator Interactive noise source-to-receiver diagram with barrier calculations No barriers Single barrier Double barrier Building Off Grid (m) Distance (m) Wavelength λ) 20 °C Temperature 70 % Humidity 0 Ground Factor (G) Hard Original IS Reset all values Link to this calculation 1m 1m 2m 2m 3m 3m 4m 4m 5m 6m 7m 8m 9m 10m Sound P opagat on Leve Ca cu a or Ver on 3 6 - MAS Env onmen a Ltd 2021 - www masenv co uk S O U R C E B A R R I E R B A R R I E R R E C E I V E R W A L L + W A L L + 1 5m 4m 4m 1 7m 15 2m 7m 2m 24.2m SCALE Barriers Apply ISO limit Display Environmental Parameters Soft Options F equency 500 Hz Sound Power Level 79 dB Distance from Source 24 2 m Resulting Sound Pressure Level 21 1 dB Source Receiver Show calculation breakdown Single Frequency Multi Spectrum NBR
composição
https://noisetools.net/barriercalculator?source=[1.5,500,79]&receiver=[1.7,24.2]&barrier=[1,4,15.2,1,4,22.2]&display=2 1 4
valores

auditório

biblioteca com pé direito duplo e vão central com espaços para leitura. Iluminação natural com vista para a praça central e integração com a cidade.

116
117

118 corte bb | passarela

elevação 3- vista da rua Dr. Augusto de Miranda

estrutura metálica

uglass com encaixe duplo viga passarela 66x48cm

det.
3: fachada ventilada
3

1. bailes e eventos

2. cafeteria

3. sala de exposições

4. sala multiuso

5. sala de ensino especializado

6. setor de apoio

7. setor financeiro

8. ateliê

9. administração e arquivo 10. conexão

119
1 pavimento| N 732.20
2
3 4 5 5 6 7 8 9
B C
C D D
1
10
A A
B

lounge e cafeteria

vista do lounge e recepção do anexo cultural com a fachada original da União Fraterna voltada para a área social e restaurada.

121

A A

122 cobertura| N 736.20
B C
D D
B C

elevação 4- vista da rua Sabaúna corte cc | praça interna

123
4

materialidade

Com relação à materialiedade do projeto, segui-se o mesmo princípio da composição volumétrica. Sempre visando o conforto ambiental em todo o projeto, os materiais que constituem a arquitetura do centro de apoio possuem uma linguagem mínima, para que esteja de acordo com o patrimônio histórico e não sobressaindo-se a esse. Ao mesmo tempo, cria-se uma composição de duas épocas distintas e harmoniosa.

Partindo disso, todas as fachadas e interiores são compostos de 5 principais materiais, são eles: o vidro translúcido (u-glass), sempre nas volumetrias de encontro direto com a União Fraterna , criando também uma laterna urbana durante as noites, o concreto armado, as estruturas metálicas de chapa perfurada, a madeira e sempre a integração com as áreas externas e manchas verdes.

cobertura metálica com iluminação zenital

uglass

painelwall acústico

cobertura com iluminação zenital e fechamento em policarbonato sistema massa-mola-massa

piso de madeira

passarela sustentada por viga vieerendel

pórtico em concreto protendido

vedações fechamentos externos

brises verticais de chapa metálica perfurada

vedações

parede de concreto moldada in loco

cobertura verde pilares em concreto armado moldado in loco

estrutura de concreto armado

124

integração áreas verdes

concreto armado estruturas metálicas vista da rua Sabaúna

vidro translúcido

126 elevação
5
5- edifício assistencial

fechamento em policarbonato translúcido det. 4: Cobertura

caminhod’água

sistema de captação de água

127
viga U para escoamento da água corte dd | edifício assistêncial

rampa do edifício assistencial

vista do edifício assistencial, com os programas de apoio social, médico e educacional, de dentro da praça interna.

128
130 det. 5 corte detalhado

camada 1: vedação com caixilhos

camada 2: vedação com brises metálicos

cobertura verde com captação de água

estrutura metálica para fixação dos brises na laje pilar de concreto armado moldado in loco, d=45cm

cobertura em policarbonato com iluminação zenital

janela pivotante com abertura de 45 graus

parede em painelwall de 7cm com acabamento em concreto aparente

piso de madeira

caixilho de alumínio com pintura branca com bandeira superior e inferior fixas

laje de concreto armado moldado in loco de 20cm

viga de concreto armado moldada in loco de 20x40cm

forro acústico de madeira com vigas em madeira de 20x5cm

brise metálico de chapa perfurada vertical com abertura de 10 graus

parede de bloco de concreto de 20cm piso de granilite manta de proteção brita graúda solo

laje de concreto moldado in loco

131

vista da praça interna

vista do edifício assistencial, com os programas de apoio social, médico e educacional, de dentro da praça interna.

133

estudo solar

LAPA, SÃO PAULO 6:30, amanhecer

LAPA, SÃO PAULO 12:15, meio dia

LAPA, SÃO PAULO 18:00, anoitecer

conforto ambiental

Para garantir o conforto dentro dos ambientes da edificações, foram adotadas algumas estratégias de estudo e, a partir delas, implementado elementos de ação.

A primeira estratégia foi a identificação dos ambientes mais “sensíveis” e de longa permanência, que seria necessário a utilização dos elementos. São eles: as salas de aula e consultórios, o auditório e a biblioteca.

Depois, a segunda estratégia partiu da análise dos agentes exteriores que precisariam ser amenizados em cada caso. Por isso, fez-se um estudo da incidência solar no terreno e de ventos, além da avaliação de ruídos sonoros da região, apresentado anteriormente. Isso feito chegou-se à conclusão que para a biblioteca e o auditório a questão essencial a ser resolvida era o tratamento acústico, devido a proximidade com uma via de grande porte. E para as salas, o controle e manutenção da interferência do exterior no interior, por estarem voltadas para a praça interna pública e abrigarem programas que necessitam de ambientes mais reservados. Contudo em ambas as situações, houve uma preocupação constante o conforto do ambiente como um todo, visando a devida entrada de luz e ventilação.

Por fim, os elementos utilizados no projeto foram: a cobertura verde para promover ambientes com temperatura e acústica controlada, o uso dos brises, controlando a incidência solar na fachada norte e gerando o contado visual controlado do exterior para o interior, janelas com aberturas pensadas na ocorrência dos ventos predominantes na região , o uso de iluminação zenital e fachada ventilada em ambientes de circulação e por fim os tratamentos acústicos nos ambientes de longa permanência.

134

det. 5: cobertura verde

extrato vegetal

rufo

tela de arame tubo de PVC enrolado em bedim argila expandida camada de drenagem terra

impermeabilização camada de proteção

laje

det. 6: caixilho det. 7: brise 8m

cobertura com iluminação zenital controlada e ventilação

135 10º

segmento de planta | Pav. térreo

segmento de planta | 1 pavimento

segmento de planta | cobertura

paisagismo frontal brises metálicos

janelas com abertura em 45 graus pilar circular, diâmetro de 45cm divisória em painelwall de 7cm

piso de granilite com placas de 1,2x1,2m entrada da sala de emergência com portas de correr e vedação de concreto moldado in loco

brises metálicos avanço de 60cm da laje para manutenção dos brises e caixilhos

pilar circular, diâmetro de 45cm divisória em painelwall de 7cm piso de madeira

janelas com abertura em 45 graus

estrutura metálica para fixação do brise platibanda com rufo (ver det. 5)

extrato vegetal da cobertura verde

136
ateliê
consultório

composição

As salas de aula e consultório são modulados em tamanhos de 7x4m, acompanhando a estrutura de 7x8m. Contudo as divisórias são feitas de painewall, material ideial para manter a acústica da sala e fácil de remover, tornando os ambientes flexíveis para serem adaptados conforme a necessidade do usuário.

Os consultórios também podem ser adaptados para qualquer tipo de especialidade médica, na imagem ao lado, retrata-se um consultório para atendimento psicológico.

brise metálico para privacidade dentro da sala e controle lumínico

forro acústico com vigas de madeira painelwall de 7cm

viga de concreto armado det. 8: painel wall e piso acústico

painel wall eternit

fechamento em silicone

contrapiso

parafuso p/ madeira

perfil guia de alumínio manta acústica piso

laje de concreto armado de 20cm laje

piso de madeira com contrapiso acústico

139
141
Figuras 72: Fachada União Fraterna
Figuras 73: Sala União Fraterna

considerações finais

A Sociedade Beneficente União Fraterna, é um patrimônio muito relevante para a cidade de São Paulo. Em razão disso, o presente trabalho buscou explanar a vitalidade que esse legado simboliza e como ele foi constituído junto a cidade, unindo suas trajetórias. Além disso, a União Fraterna é a expressão do trabalho feito por todas as associações mutualistas e como estas foram indispensáveis para o apoio dos trabalhadores em um momento em que nenhum tipo de auxílio era oferecido. O importante papel representado pelas mutuais, na história de São Paulo e principalmente da Lapa, foi um dos princípios o que fomentou as discussões de direitos e necessidades trabalhistas, gerando na época um sentimento de união e coletividade em todas as regiões onde se instalavam. A União Fraterna desempenhou plenamente as funções filantrópicas e beneficentes e o edifício sede tornou-se outro símbolo na região, possuindo um valor significativo até os dias de hoje para os moradores.

Para mais, além da importância histórica, deve-se mencionar também a composição arquitetônica do edifício, que segue preservado e retratando uma linha de pensamento da arquitetura. Implantado na esquina de duas ruas extremamente relevantes para a Lapa, o prédio da União Fra -

terna funciona quase como a entrada do bairro marcando sua história e composição urbana. Contudo, nem sempre com as transformações diárias a qual a cidade está sujeita e passa diariamente, são lembrados os signos que a constituem e, assim, não se atribui a devida relevância a estes. A União Fraterna é um marco no enredo da metrópole e do bairro e foi capaz de promover ações humanas em um momento impreciso e dúbio.

O projeto do anexo do centro de apoio da União Fraterna fora concebido sempre partindo do princípio de valorizar o patrimônio, com a premissa de se restabelecer as atividades originais da associação de amparo à população necessitada da região. Assim como o resultado projetual, a pesquisa do objeto e análise histórica também procurou, para além do desenvolvimento da metodologia, reconhecer a influência citada acima.

Por fim, a União Fraterna, assim como todas as outras associações mutualistas da cidade de São Paulo, possuiu grande importância na organização da trajetória do movimento operário brasileiro, aliado a sua composição arquitetônica e histórica resulta um bem a ser preservado e lembrado.

143

lista de figuras

Figuras capa e contracapa: Matéria Cidade Nua, Folha de São Paulo por Carla Caffé, edição de fevereiro/ Março de 1993

Figura sumário e contra capa: Ilustração do autor (2022)

Figura 1: Ilustração com aquarela de Eduardo Bajzek (2021).

Figura 2: Imigração Italiana em São Paulo, Fonte: Museu da Imigração (1890)

Figura 3: Pátio das Oficinas da Lapa, São Paulo. Fonte: Em defesa do patrimônio industrial ferroviário de São Paulo: as oficinas da São Paulo Railway na Lapa, Vitruvius (1936)

Figura 4: Interior da oficina de locomotivas, Lapa, São Paulo. Fonte: Em defesa do patrimônio industrial ferroviário de São Paulo: as oficinas da São Paulo Railway na Lapa, Vitruvius (1936)

Figura 5: Mapeamento Sara. Fonte: Geosampa (1930)

Figura 6: Indústrias Martins Ferreriras, Lapa. Fonte: São Paulo Antiga (1917)

Figura 7: Casa das Caldeiras, Indústrias Matarazzo, Água Branca. Fonte: Revista Anicer(1920)

Figura 8: Vila operária da Indústria Santa Marina, Água Branca. Fonte: São Paulo Antiga(1930)

Figura 9: Os Operários, Óleo sobre tela, c.i.d., 150,00 cm x 230,00 cm, Acervo Artístico-Cultural dos Palácios do Governo do Estado de São Paulo. Palácio Boa Vista. Artista: Tarsila do Amaral (1933)

Figura 10: Trabalhadores na Fábrica de Tecidos e Bordados da Lapa. Fonte: Industrialização de São Paulo, Wordpress (1936)

Figura 11: Trabalhadores nas Indústrias Martins Ferreriras, Lapa. Fonte: São Paulo Antiga (1917)

Figura 12: Encontro dos Trabalhadores do Bairro. Fonte: Livro Mãos que fizeram São Paulo, Carlas Reis

Figura 13: Trabalhadores na fábrica de Tambores. Fonte: Sesc Pompéia (1938)

Figura 14: Artigo de premissas União Fraterna. Fonte: Processo de tombamento, DPH (1925)

Figura 15: Sócios da União Fraterna em 1925. Fonte: Acervo da União Fraterna (1925)

Figura 16: Dr. Orlando Cruxen (dentista), realizando o atendimento do sócio e ex- Presidente da União Ângelo João Bragatto. Fonte: Acervo União Fraterna (1972)

Figura 17: Dr. Orlando Cruxen (dentista), realizando o atendimento do sócio e ex- Presidente da União Ângelo João Bragatto. Fonte: Acervo União Fraterna (1972)

Figura 18: Os direitos dos associados. Artigos base da União Fraterna. Fonte: Processo de tombamento, DPH (1925)

Figura 19: Associados em um evento da Sociedade. Fonte: Acervo União Fraterna (1950, aproximadamente)

Figura 20: Secretaria da União Fraterna, no pavimento térreo. Fonte: Acervo União Fraterna (1950, aproximadamente)

Figura 21: Ata de assembléia de 1925. Fonte: Acervo União Fraterna.

Figura 22: Ata de assembléia de 1930. Fonte: Acervo União Fraterna.

Figura 23: O edifício da União Fraterna. Fonte: Acervo União Fraterna, (1934- 1941)

Figura 24: O salão de bailes, vista da entrada. Fonte: Acervo União Fraterna, (1934- 1941)

Figura 25: O salão de bailes, vista do fundo. Fonte: Acervo União Fraterna, (1934- 1941)

144

Figura 26: Planta original do pavimento térreo. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna, (1932)

Figura 27: Planta original do pavimento superior. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna, (1932)

Figura 28: Porta de acesso principal da sala de Reuniões, União Fraterna. Fonte: Fotografia do autor, (2022)

Figura 29: Reconstrução da Fachada Original de 1932, Rua Guaicurus. Fonte: Projeto Básico de Arquitetura e Restauração para aprovação da Lei Rouanet, (2005)

Figura 30: Reconstrução da Fachada Original de 1932, Rua Faustolo. Fonte: Projeto Básico de Arquitetura e Restauração para aprovação da Lei Rouanet, (2005)

Figura 31: Fachada final construída da União Fraterna. Fonte: Acervo União Fraterna, (1934-1941)

FIgura 32: União fraterna em reforma, durante o processo de ampliação do edifício. Fonte: Acervo União Fraterna, (1942)

FIgura 33: Elevação da Rua Gauicurus do projeto de ampliação. Fonte: Acervo União Fraterna, (1941)

FIgura 34: Plantas baixas do projeto de ampliação. Fonte: Acervo União Fraterna, (1941)

FIgura 35: Acesso secundário pela escada da Rua Faustolo. Fonte: Fotografia do autor, (2022)

FIgura 36: Volumetria do edifício com o anexo executado. Fonte: Acervo União Fraterna, (1970, aproximadamente)

FIgura 37: Composição espacial do salão original. Fonte: Acervo União Fraterna, (1934)

FIgura 38: O salão após as reformas. Fonte: Fotografia do autor, (2022)

FIgura 39: Composição espacial do salão original, vista das salas. Fonte: Acervo União Fraterna, (1942)

FIgura 40: A vista do salão após a mudança do palco. Fonte: Acervo União Fraterna, (1980, aproximadamente)

FIgura 41: O salão após as reformas. Fonte: Fotografia do autor, (2022)

Figura 42: Detalhe da fachada. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna, (1970, aproximadamente)

Figura 43: Detalhe do Brasão no hall de entrada. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna, (1934)

Figura 44: Vista da entrada do Salão. Fonte: São Paulo Antiga, (2019). Autor: Douglas Nascimento.

Figuras 45 a 50: Imagens do salão de festas atualmente. Fonte: Imagens do autor, (2022)

Figura 51: Imagem dos associados no bar. Fonte: Acervo União Fraterna, (1960, aproximadamente)

Figura 52: O bar após a ampliação. Fonte: Imagem do autor, (2022)

Figura 53: Planta final do edifício após todas as alterações, térreo. Fonte: Acervo União Fraterna, (2022)

Figura 54: Planta final do edifício após todas as alterações, 1 pavimento. Fonte: Acervo União Fraterna, (2022)

Figura 55: Fachada final do edifício após todas as alterações, Rua Guaicurus. Fonte: Acervo União Fraterna, (2022)

Figura 56: Documento de solicitação de tobamento, Nelson Filho. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna

Figura 57: Documento de solicitação de tobamento, Orlando Zanfelice. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna

Figura 58: Resolução de tombamento, CONPRESP. Fonte: Tombamento da Sociedade União Fraterna

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Figura 59: Manchete do Jornal da Lapa. Fonte: Acervo União Fraterna (1991)

Figura 60: Manchete do Jornal da Lapa. Fonte: Acervo União Fraterna (1994)

Figura 61: Resoluçaõ de tombamento, publicada no Jornal da Lapa: Fonte Acervo União Fraterna (1994)

Figura 62: Estado de concervação da União Fraterna. Fonte: São Paulo Antiga. Autor: Douglas Nascimento, (2011)

Figura 63: Estado de concervação da União Fraterna. Fonte: São Paulo Antiga. Autor: Douglas Nascimento, (2011)

Figuras 64 a 67: Imagens renderizadas da proposta de intervenção na sede da União Fraterma. Fonte: Acervo União Fraterna. Autor: Escritório Anastassiadis, (2019)

Figuras 68 e 69: Imagens das obras de restauração da fachda da união Fraterna. Fonte: Desconhecido, (2019)

Figuras 70 e 71: Imagens da fachada final resturada. Fonte: Desconhecido, (2022)

Figura 72: Detalhe da Fachada. Fonte: Imagem do Autor, (2022)

Figura 73: Detalhe do Salão, Fonte: Imagem do Autor, (2022)

Figura 74: Salão de Bailes, Fonte: Imagem do Autor, (2022)

Figura 75: Baile no Salão da União Fraterna. Fonte: Acervo União Fraterna (1975, aproximadamente)

Figura 76: Baile no Salão da União Fraterna. Fonte: Acervo União Fraterna (1975, aproximadamente)

Figura 77: Os bailes na União Fraterna. Fonte: Restauro de Edificações e Sítios Urbanos. Levantamento, Cadastramento e Pesquisa Histórica da Sociedade Beneficente União Fraterna (2007)

Figura 78 e 79: Os bailes na União Fraterna. Fonte: Acervo União Fraterna.

Figura 80: Capa do Filme “Chega de Saudade”. Fonte: Google Imagens (2007)

Figura 81 a 83: Bailes na União Fraterna, Fonte: Acervo União Fraterna

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referências bibliográficas

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MESQUITA, Fernanda T. Projeto Básico de Arquitetura e Restauração para aprovação da Lei Rouanet. São Paulo, 2005

ROLNIK, Raquel. São Paulo. São Paulo: PubliFolha, 2001.

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SEGATTO, José Antonio. Lapa- uma evolução histórica. São Paulo, DPH, 1988.

REIS, Longhi Carla; Mãos que fizeram São Paulo. São Paulo: Celebris, 2003

LUCA, Tania Regina de. O mutualismo em São Paulo: o sonho do futuro assegurado. Tese de doutoramento, São Paulo, FFCL-USP, 1996.

SÃO PAULO (SP). SMC. Tombamento da Sociedade União Fraterna - Rua Guaicurus, 01 / 59. São Paulo: CONPRESP, 1992. Processo nº 1992-0.008.688-8

AC CORD, Marcelo; BATALHA, Claudio H. M (orgs.). Organizar e proteger: Trabalhadores, associações e mutualismo no Brasil (séculos XIX e XX). Campinas: Editora da Unicamp, 2014.

SANTOS, Wanderley Dos . Lapa: História dos bairros de São Paulo. 1. ed. São Paulo: PMSP, 1980.

JÚNIOR, Caio Prado . Formação do Brasil Contemporâneo. 1. ed. São Paulo: Brasiliense, 1961.

MACIEL, Laura Antunes. “União Fraterna”: algumas considerações sobre o mutualismo na cidade de S. Paulo. São Paulo: Processo de Tombamento, 1992.

AZEVEDO, Paulo Henrique F.; LOPES, Maria Ester De Araujo. Relatório Histórico da União Fraterna. São Paulo: Processo de Tombamento, 1992.

ANEXO VIII- LIVRO VIII, Plano regional Estratégico sa Subprefeitura da Lapa.

CHEGA DE SAUDADE . Direção: Laís Bodanzky. São Paulo: Globo Filmes, 2007.

O BAILE . Direção: Ettore Scola. Produção: Cinéproduction. Fotografia de Ricardo Aranovich. França: Films A2, 1983. 112 minutos.

O JANTAR . Direção: Ettore Scola. Produção: Cinéproduction. Roteiro: Ettore Scola, Furio Scarpelli. França, Itália: Cinemax, 1998. 126 minutos.

148

SITES:

Dados demográficos dos distritos pertencentes às Subprefeituras, Cidade de São Paulo, 02/10/2022. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/subprefeituras/subprefeituras/dados_demograficos/index.php?p=12758>. Acesso em: 04, 06 e 2022.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MUNICÍPIO, Cidade de São Paulo, 02/12/04. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/upload/arquivos/secretarias/meio_ambiente/projetos_acoes/0004/capitulo2.pdf>. Acesso em: 25, 06 e 2022.

Origem da Lapa remonta aos primórdios do povoamento de São Paulo de Piratininga, Cidade de São Paulo, 31/07/2020. Disponível em: <https://www.prefeitura.sp.gov. br/cidade/secretarias/subprefeituras/lapa/historico/>. Acesso em: 17, 10 e 2022.

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OLIVEIRA, Abrão de. O embrião da Zona Oeste: a história da Lapa, Cidade de São Paulo, 18/07/2017. Disponível em: <https://www.saopauloinfoco.com.br/embriao-da-zona-oeste-a-historia-lapa/>. Acesso em: 14, 04 e 2022.

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DANTINE, Bárbara. União Fraterna inicia obras de restauro e acessibilidade. Jornal da Gente, Cidade de São Paulo, 19/01/2019. Disponível em: <https://jornaldagente. tudoeste.com.br/2019/01/19/uniao-fraterna-inicia-obras-de-restauro-e-acessibilidade/>. Acesso em: 05, 11 e 2022.

MILANI, Robledo. Crítica filme chega de saudade. 19/01/2019. Disponível em: <https://www.papodecinema.com.br/filmes/chega-de-saudade/>. Acesso em: 13, 09 e 2022.

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História de São Paulo, Cidade de São Paulo. Disponível em: <https://historiadesaopaulo.wordpress.com/industrializacao/>. Acesso em: 18, 08 e 2022.

149

anexo I

150

os bailes e as atividades culturais

151

As associações mutualistas continham em seu programa, como mencionado, além das diversas atividades filantrópicas voltadas para a assistência social, os programas de lazer e entretenimento. No caso da União Fraterna, esse viés cultural e de descanso que os trabalhadores buscavam foi o que, essencialmente, criou um legado para o patrimônio, deixando uma marca tanto sua história como no bairro e região da Lapa.

Primeiramente, já se percebe essa importância ao analisar a arquitetura e como as espacialidades foram concebidas. O salão de festas é o maior ambiente da construção e fora alocado em seu centro, localizado no segundo pavimento, com vista para ambas as ruas Guaicurus e Faustolo. Este ocupa praticamente todo o andar e encanta a seus espectadores com as suas ornamentações e grandiosidade, compreendendo assim todo o esforço que foi colocado ao longo da trajetória da entidade para configurar esse espaço de socialização. É, também, o ambiente mais bem preservado do edifício-sede, procurando manter as cores originarias e seus elementos históricos, como as arandelas e iluminações decorativas e o palco que, conforme mencionado anteriormente, passou por uma mudança de localização e agora, assim que se adentra o local, é a primeira composição a atrair a atenção do público. Para mais, o pal -

co, diferentemente de outros ambientes da edificação, fora transposto com a preocupação de manter-se todos os elementos originais, transparecendo a intenção de preservar a composição arquitetônica clássica do salão como um todo. Analisando historicamente, a maior parte dos registros encontrados no acervo da sociedade fazem referência aos bailes e reuniões culturais sedeados no salão de festas. Desde a formação da instituição como uma da entidade de apoio aos trabalhadores, já havia relatos dos grandes bailes e da agenda cultural. Em sua tese, “Restauro de Edificações e Sítios Urbanos. Levantamento, Cadastramento e Pesquisa Histórica da Sociedade Beneficente União Fraterna”1 a arquiteta Silvia Carneiro entrevistou Carlos Lucco em 2001, com 85 anos, e este afirma que no início da União Fraterna já existia o Baile Ruggeroni:

“Eu já dançava aqui logo após a inauguração. Era um baile paulista com marcha inicial, samba paulista e chorinho. Em 1946 os Italianos alugaram o salão e passaram a tocar Valsa, Chot, Mazurca...”.

Figuras 75 e 76: Bailes na União Fraterna, anos 70.

152
1 CAMPOS, Silvia Maria Carneiro de. Restauro de Edificações e Sítios Urbanos. Levantamento, Cadastramento e Pesquisa Histórica da Sociedade Beneficente União Fraterna. Tese, São Paulo, FAU-USP, 2007.
153
154
Figuras 77, 78 e 79: Bailes na União Fraterna.

Ao longo do decorrer dos anos, os bailes foram se tornando cada vez mais conhecidos e atraiam, não só a população local, mas pessoas da cidade inteira que se interessavam, principalmente, por Valsa (estilo de dança clássica que transformou em uma tradição nas festas). Ainda segundo Silvia Carneiro, foram adotadas inclusive algumas das regras típicas da dança de salão: Não pode dançar de rosto colado; Sempre que terminar uma dança, segue o passeio até seus lugares; Nunca corte a pista quando estiverem dançando.

Em seus tempos áureos, os bailes da União Fraterna atraiam centenas de pessoas, sendo que os mais populares eram os bailes de Carnaval, que chegavam a reunir aproximadamente 900 pessoas. Outros bailes tradicionais que aconteciam anualmente eram: de Homenagem as Mães, Baile Junino, Homenagem aos pais, Baile da Primavera, Baile do Preto e do Branco, Baile das Bandeiras, Baile da Coroação da Rainha e Confraternização dos sócios.

155

A partir disso, surgiu o Bloco da Saudade. Em seu livro “Mãos que fizeram São Paulo” 1 , Carla Reis Longhi explica que inicialmente o bloco ocupava o espaço original da Sociedade de mútuo Socorro da Lapa, em 1953 passou a chamar Clube da Saudade e transferiu a sua sede de eventos para o Salão da União Fraterna. O evento se tornou tão relevante que, no ano de 2007, foi lançado o filme “Chega de Saudade”, com roteiro e dirigido por Lais Bondanzky e direção fotográfica de Walter Carvalho.

O filme retrata uma noite de baile com personagens emblemáticos muito bem estruturados e a tradição da dança de salão, expressando sua importância através de intensos sentimentos e uma trilha sonora inteligente e crucial para o desenvolvimento da narrativa. Por meio de um elenco notável, com atores como Betty Faria, Elza Soares, Tônia Carrero, Jorge Loredo e Leonardo Villar, o longa-metragem foi totalmente filmado no salão principal da União Fraterna e recebeu diversos prêmios e indicações nos festivais de Brasília, Prêmio Contigo!, Grande prêmio do Cinema Brasileiro e Festival Films Femmes, além de grande aclamação pela crítica.

“A cineasta não decepciona em seu segundo trabalho e entrega um dos melhores filmes nacionais recentes.”

- Érico Borgo a Omelete

“Apoiado em inúmeras tramas que se sucedem, o longa-metragem de Laís Bodanzky - seu anterior foi o aclamado “Bicho de sete cabeças” – poderia ser cansativo. Mas não é. Do início ao fim, acompanhamos a evolução de uma festa onde as pessoas, dos mais diferentes tipos, dançam, jogam papo fora e se divertem. E é exatamente na diversidade de pessoas que está a graça da história.”,

- Ronaldo Pelli

“Chega de Saudade é um filme coral [...] Como não poderia deixar de ser, Chega de Saudade é um filme embalado pela música.”, - Luiz Zanin Oricchio

156
1 REIS, Longhi Carla; Mãos que fizeram São Paulo. São Paulo, Celebris, 2003

Por fim, é interessante a análise feita por Roberto Milani, na plataforma Papo de Cinema, referenciando a obra de Bondanzky com o filme O Baile, de Ettore Scola. Milani assemelha os enredos e o tema, pois ambos apresentam diversas situações passiveis de ocorrer em apenas uma noite, dentro de um baile de salão, e de fato isso pode ser percebido, além da linguagem dos signos presente nas duas produções, que conduzem a trama e o telespectador. Para mais, ainda cita outro filme de Scola, chamado “O Jantar”, dizendo: “Assim como neste emocionante trabalho estrelado por Fanny Ardant e Vittorio Gassman, Bodanzky e o marido Luiz Bolognesi construíram um enredo baseado basicamente nos personagens, nas interações entre eles e como reagem a cada nova situação.”

157
Figura 80: Filme Chega de Saudade, 2007

Baseado nisso, o tradicional Baile da Saudade se perpetuou e prosseguiu ocupando a União Fraterna até o ano de 2014. Atualmente, diversos eventos continuam sendo sedeados no espaço e a típica dança permanece um patrimônio imaterial da região. Contudo, agora os bailes são mais voltados para a população da 3ª idade e semanalmente ocorrem os cursos de dança e de Valsa. A agenda cultural ainda se entende para cursos de pintura, tricô e crochê e artesanato.

O salão, conforme mencionado anteriormente, é uma das maiores fontes de rendas para a manutenção da União Fraterna, podendo ser alugado para diversos eventos, festas e casamentos, um exemplo disso é o Instituto UniDown, voltado para o desenvolvimento de pessoas e crianças com síndrome de Down, que sedia seus encontros no salão.

81 a 83: Bailes

158
Figura
2022
dezembro

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