PCN (S) facil de entender nova escola

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PCN

de 1ª a 4ª série

Parâmetros Curriculares Nacionais

Fáceis de entender ■O ■O ■O

que são eles que ensinar com eles que a turma deve ler, falar e escrever Língua Portuguesa

A dificuldade da escola em iniciar a criança no mundo das letras está na raíz da evasão e da repetência

O desafio de alfabetizar

E

nsinar as crianças a ler, a escrever e a se expressar de maneira competente na língua portuguesa é o grande desafio dos professores das quatro primeiras séries do Ensino Fundamental. Existem mudanças importantes sendo real-

izadas: vários Estados estão remodelando seus currículos e investe-se mais na atualização dos professores. Mas a verdade é que ainda há muito a fazer. O índice de repetência e de abandono no Brasil, um dos mais altos do mundo, é resultado, principalmente, da dificuldade que a escola tem em ensinar a ler e a escrever.

Os objetivos do Ensino Fundamental paulista, o carioca, o baiano e o gaúcho. Nenhum está certo ou errado. Eles são apenas diferentes. 4 - Saber distinguir e compreender o que dizem diferentes gêneros de texto. Uma bula de remédio, um bilhete da namorada ou um anúncio de carro têm intenções, estilos e vocabulários muito diferentes entre si. 5 - Entender que a leitura pode ser uma fonte de informação, de prazer e de conhecimento. Ela dá acesso às informações necessárias para Plebiscito... Plebiscito... o dia-a-dia e aos mundos criados pela literatura e pelas ciências. O aluno deve saber, ainda, como recorrer a diferentes materiais impressos para atender a necessidades específicas. Para obter informações sobre um filme, usa-se o jornal. Para achar o significado de uma palavra desconhecida, o indicaBah, guri! do é o dicionário. Para uma pesquisa de História, consultam-se enciclopédias. 6 - Ser capaz de identificar os pontos mais relevantes de um texto, organizar notas sobre esse texto, fazer rotei-

ros, resumos, índices e esquemas. Com base em trechos extraídos de fontes diferentes, o aluno deve saber compor um novo texto coerente. Em resumo, transformar a linguagem em um instrumento de aprendizagem, que lhe dê acesso e meios para usar as informações contidas nos textos que lê. 7 - Expressar seus sentimentos, experiências, idéias e opções individuais. E também ser capaz de ouvir, interpretar e refletir sobre as idéias de outros, sabendo contrapor-lhes as próprias idéias. Quando descreve, em classe, um fato ocorrido na rua, o aluno está treinando tal habilidade. 8 - Ser capaz de identificar e analisar criticamente os usos da língua como instrumento de divulgação de valores e preconceitos de raça, etnia, gênero, credo ou classe. É o que ocorre nas piadas consideradas “inocentes” sobre portugueses, judeus, baianos ou negros. No entanto, refletir sobre o real significado preconceituoso delas pode gerar uma interessante atividade em classe. Ilustrações Vilmar de Oliveira

Ao longo das oito séries do Ensino Fundamental, o aluno deve desenvolver as seguintes habilidades, segundo propõem os PCN: 1 - Expressar-se em diferentes situações. Em cablá, blá, blá... ráter privado, ou seja, com a família e os amigos, ou em público, na apresentação de um trabalho em classe ou numa solenidade escolar. 2 - Saber expressar-se de diferentes maneiras. Ou seja, usar a linguagem adequada a cada ambiente: a coloquial, em situações de intimidade; ou a formal, que utiliza a norma culta (valorizada socialmente), em situações cerimoniosas. Numa entrevista para obter emprego, as expressões usadas são diferentes das de um “papo de bar”. 3 - Conhecer e respeitar as variedades lingüísticas do português falado. O aluno deve entender que em um país grande e Oxente, de culturas varia- menino! das como o Brasil existem sotaques, expressões regionais e maneiras diferentes de falar – como o linguajar

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A linguagem, escrita ou falada, pode apresentar-se de várias formas, dependendo de seus objetivos. Um bate-papo entre amigos, uma carta ou uma lista de compras são manifestações da linguagem. Nós nos comunicamos também usando diferentes registros. É fácil entender: se você tiver de falar com o secretário de Educação de seu Estado, certamente usará termos, expressões e gestos diferentes dos que emprega quando cobra a lição de um aluno. A comunicação, nesses casos, se dará em dois registros diferentes. Dominar a linguagem é saber usá-la de maneira adequada a seus destinatários, ou seja, adaptando-se a diferentes registros e de forma coerente com seus objetivos e com o assunto tratado.

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O que se quer ensinar para as quatro séries iniciais Os alunos devem terminar a 4a série do Ensino Fundamental dominando a linguagem de maneira eficaz. Em outras palavras, devem ser capazes de produzir e interpretar textos, tanto para as necessidades do dia-a-dia – escrever um recado, ler as instruções de uso de um eletrodoméstico – como para ter acesso aos bens culturais e à participação plena no mundo letrado, entender o que é dito num telejornal e ler um livro de poesias. É preciso ler, mesmo antes de dominar o alfabeto A tradição ensina: alfabetizar é tratar da linguagem escrita e lecionar Português é treinar os alunos a representar graficamente a fala pela combinação das letras do alfabeto. Na verdade, é muito mais do que isso. Falar e escutar, além de ler e escrever, são ações que permitem produzir e compreender textos. Cabe à escola desenvolver também a linguagem oral de seus alunos. Aprende-se a falar fora dos bancos da escola, mas na sala de aula é possível mostrar as falas mais adequadas e eficientes nas diferentes situações cotidianas. 1 - A linguagem escrita Ler e escrever são atividades que se complementam. Os bons leitores têm grandes chances de escrever bem, já que a leitura fornece a matéria-prima para a escrita. Quem lê mais dispõe de um vocabulário mais rico e compreende melhor a estrutura gramatical e as normas ortográficas da Língua Portuguesa. Quanto mais variados, interessantes e divertidos forem os textos que você apresentar às crianças, maior será a chance de elas se tornarem leitoras hábeis. Se na sua sala só entrarem aqueles textos escritos explicitamente para ensinar a ler, que despertam pouca atenção nos alunos, eles se desinteressarão da leitura e terão dificuldade em aprender. Veja o que se espera que os alunos aprendam na linguagem escrita e algumas sugestões para ajudar seu trabalho: No primeiro ciclo ■ Eles devem fazer a correspondência dos segmentos falados com os segmentos escritos da Língua Portuguesa. Isso é possível realizar

com crianças em processo de alfabetização, mesmo quando tiveram pouquíssimo contato com a linguagem escrita.

Dica

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Como podemos avaliar se alguém domina de maneira eficaz a linguagem?

Escreva no quadro-negro um versinho que eles saibam de cor. (Por exemplo: Lá em cima do piano, tem um copo de veneno. Quem bebeu morreu.) Leia-o algumas vezes junto com a turma. Em uma delas, pare a leitura no meio. Peça às crianças que apontem a última palavra lida. Muitas conseguirão dar a resposta certa.

■ Os alunos devem, no início, aprender a escrever um texto separando as palavras. ■ Ao final do primeiro ciclo, eles devem ser capazes de dividir o texto escrito em frases, usando maiúsculas no início delas e os sinais de pontuação, como ponto final, exclamação, interrogação e reticências. ■ Os alunos devem conhecer as regularidades ortográficas (quando há regras) e as irregularidades (quando elas não estão presentes) das palavras. ■ Usar dicionários e outras fontes impressas para resolver dúvidas ortográficas. ■ Nos textos que escreverem, devem poder substituir o uso excessivo de “e”, “aí”, “daí” ou “então” por outros conectivo como, por exemplo, “assim”, “mas” etc.


Crianças adoram histórias em quadrinhos. Peça a elas que transcrevam os diálogos dos balõezinhos. Elas usarão os dois-pontos, o travessão ou as aspas.

■ Eles devem saber separar o discurso direto do indireto e marcar turnos do diálogo utilizando aspas, travessão ou dois-pontos.

Dica

No segundo ciclo ■ Formar critérios para selecionar leituras e desenvolver padrões de gosto pessoal. ■ Acentuar palavras utilizando as regras relacionadas à tonicidade. ■ As crianças devem saber explorar diferentes modalidades de leitura, como ler para revisar, ler para obter informações, ler para se divertir etc. Uma regra de ouro: nunca deve ser dado um texto ao aluno sem explicar para que serve e o que se pode extrair dele. Uma boa atividade é distribuir a parte do jornal que traz o roteiro cultural e pedir aos alunos que localizem, por exemplo, o cinema mais próximo da escola ou o espetáculo de teatro mais barato.

■ Desenvolver estratégias de escrita, como planejar o texto, redigir rascunhos, relêlos e cuidar da apresentação. Todo texto é provisório e sempre pode ser melhorado. Nem mesmo escritores experimentados produzem textos finais na primeira tentativa; eles também modificam e aprimoram suas obras. ■ Compor textos coerentes com base em trechos oriundos de fontes diversas, que podem ser uma combinação de produções escritas ou criadas oralmente.

Dica

Dica

Agora não se ensina mais o bê-á-bá? Não se deve mais usar a cartilha no processo de alfabetização?

Proponha aos alunos fazer uma revisão dos termos empregados como marcadores de tempo. Além de aumentar o repertório da turma, que repete as expressões “era uma vez” ou “antigamente”, o exercício permitirá situar os textos em épocas diferentes, no futuro ou no passado. São termos como: “há muitos anos”,“antes disso”, “muito tempo depois” etc.

■ Utilizar os recursos coesivos oferecidos pelo sistema de pontuação e pelo uso de conectivos adequados, manter o tempo verbal e empregar expressões que marcam temporalidade e causalidade. ■ Empregar as regências verbais e as concordâncias verbal e nominal. ■ Fazer resumos.

Não é isso. Evidentemente é possível aprender a ler e a escrever com as tradicionais cartilhas, que usam o método da silabação. Nesse método tem-se por hábito ministrar o ensino da Língua Portuguesa em dois estágios. No primeiro (o da alfabetização), apresenta-se o sistema alfabético da escrita, representando os sons das palavras graficamente. Na etapa seguinte é feito o estudo da língua propriamente dita, com exercícios de redação e treinos ortográficos e gramaticais. Atualmente se percebe que o processo de ensino baseado na silabação é desnecessário e lento. Não é preciso dominar o bê-á-bá, presente nas cartilhas, para depois avançar no ensino da língua.

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? O professor que quer acertar trata com carinho os alunos, respeita individualidades e é capaz de superar as dificuldades e carências de uma escola. Estimule a discussão e a fala das crianças. Uma idéia é explorar e valorizar suas experiências e os conhecimentos que elas trazem de casa. Por isso procure observar os hábitos dos alunos e faça com que contem e escrevam sobre suas brincadeiras mais comuns, suas músicas preferidas, as histórias de que mais gostam. Dos relatos pode surgir o material didático de que você sente falta. Enquanto fala e escreve sobre sua vida, a turma vai pensando, registra e se corrige. Você notará quanto seus alunos vão aprender e como seu trabalho ficará mais fácil. 8

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No primeiro ciclo ■ Em sala de aula, o aluno deve ser capaz de ouvir com atenção os professores e colegas e intervir sem fugir do assunto tratado, formular e responder a perguntas e manifestarse, além de acolher opiniões dos demais. ■ Fazer uma exposição oral com ajuda de um texto escrito, adequar o discurso ao conhecimento prévio de quem o ouve e a situações formais de comunicação. ■ Narrar fatos respeitando a temporalidade e registrando as relações de causa e efeito. ■ Contar histórias já conhecidas, mantendo-se próximo do texto original.

Dica

2 - A linguagem oral À medida que a criança avança na escolarização, as exposições orais, principalmente na apresentação de trabalhos, tornam-se comuns em sala de aula. Mas são poucas as escolas que costumam ensinar como falar com fluência em situações públicas. Não deveria ser assim. A linguagem oral apresenta dificuldades tanto para quem a produz (clareza) quanto para quem a recebe (compreensão). As escolas deveriam tratar da expressão oral desde as séries iniciais. O que se espera que o aluno aprenda na linguagem oral:

Crie com seus alunos uma galeria de personagens para ser usados nas histórias orais. Você pode fazer, por exemplo, vários tipos de bruxa. Peça às crianças que as desenhem e descreverem suas características. A narrativa da classe vai ficar mais rica.

■ Descrever cenários, objetos e personagens. ■ Relatar experiências, sentimentos, idéias e opiniões de forma clara e ordenada.

No segundo ciclo ■ Produzir diferentes textos, simulando os dos meios de comunicação: conversas por telefone, anúncios de rádio ou locuções dos apresentadores de TV. E perceber neles os elementos intencionais: o bom humor, o tom catastrofista das más notícias ou uma inflexão de voz “garantindo a qualidade” de um produto. ■ Identificar elementos não-verbais – como gestos, expressões faciais, mudanças no tom de voz – na comunicação. ■ Empregar a linguagem com maior nível de formalidade, quando a situação social em que o aluno estiver assim o exigir. ■ Manter um ponto de vista coerente ao longo de um debate ou uma apresentação.

As crianças vão adorar ler em voz alta para os colegas

U

m método para desenvolver o uso da linguagem oral com crianças de 2ª série foi criado pela professora Denise Santoleri Franque, de São Paulo. Ele combina a leitura silenciosa, a produção de textos e a leitura em voz alta. Para tornar a experiência mais divertida, Denise monta um pequeno palanque enfeitado em um canto da sala. As crianças devem subir nele para ler em voz alta para os colegas. No primeiro semestre, a professora dispõe, em caixas

Fotos Leonardo Carneiro

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Minha escola fica em um povoado no Maranhão. Não temos livros didáticos nem outro material. Como posso melhorar o trabalho das turmas?

Leitura dramatizada de texto no pátio (ao lado), e em sala, no palanque enfeitado coloridas, textos infantis de gêneros diversos: contos de fadas, poesias, fábulas e aventuras. A turma escolhe o que quiser, faz uma primeira leitura e leva para estudar melhor em casa. No dia

seguinte, cada um lê seu texto em sala. Após o discurso, três alunos sorteados avaliam a apresentação. “Precisa gaguejar menos” ou “melhorar a pontuação”, são alguns comentários.

No segundo semestre, Denise coloca imagens e desenhos nas caixas e estimula a turma a criar seus próprios textos para lê-los ou representá-los em forma de teatrinho.


Como o professor pode desenvolver o hábito da leitura entre seus alunos

2 - Usando textos diversificados Em muitas escolas a Língua Portuguesa ainda é ensinada de maneira formal, chata, sem entusiasmo. Esse tipo de ensino não atende mais às necessidades da sociedade. Cada vez mais o aluno terá de compreender e escrever textos diferenciados, claros e criativos. Não é preciso quebrar a cabeça para conseguir textos diversificados para utilizar em classe. Eles estão por toda parte: jornais, folhetos de propaganda, revistas. Até algumas embalagens de produtos alimentícios trazem pequenos textos repletos de informações. O importante é que o material escrito apresentado aos alunos seja interessante e desperte a curiosidade das crianças. Textos literários e poesias também devem ser usados.

Dica

1 - Incentivando a leitura diária Não se formam bons leitores se eles não têm um contato íntimo com os textos. Há inúmeras maneiras de fazer isso: os alunos podem ler em silêncio, ou em voz alta, em grupo ou individualmente, ou o professor lê um texto para a turma. Tais possibilidades devem ser escolhidas de acordo com a atividade que está sendo desenvolvida em classe. A escolha de um bom livro para iniciar o processo de leitura é fundamental para cativar a turma. No início de sua carreira, a professora Marisa foi trabalhar em uma escola de periferia na Ilha do Governador, no Rio de Janeiro. A garotada ia mal em Português e detestava a leitura. Marisa escolheu, então, um livro que falava da vida de meninos numa escola de muitos anos

atrás, na época da palmatória – O Cazuza, de Viriato Corrêa – e passou a lêlo em voz alta. Ela lia em capítulos e parava no auge da narrativa, criando suspense. Foi um sucesso. Os alunos adoraram e passaram a esperar, ansiosos, pela leitura do episódio seguinte. A partir daí foi fácil apresentar outros livros. As crianças pediam novas histórias e liam com prazer.

A turma pode não gostar de leitura porque só recebe textos chatos

O

s alunos da 2ª série da Escola Municipal Padre Avelino Canazza, em Campinas, a 98 quilômetros de São Paulo, não gostavam de ler e, quando o faziam,

era sem vontade, por pura obrigação. Explicações para isso não faltavam: a escola fica na periferia e muitas crianças tinham pais analfabetos que não lhes Fotos Sidnei Pitoco

Professora Cleuza em sala: notícias do cotidiano

escola. Os alunos recebiam uma cópia dos textos e, em seguida, debatiam o que haviam lido. Em pouco tempo, a turma passou de um texto lido por semana para um por dia. Agora, as crianças tomam a iniciativa: trazem sugestões de casa, recortam as notícias que lhes interessam e melhoraram sensivelmente o desempenho escolar.

contavam histórias. Mas não era só isso. A garotada não lia porque achava chatos os textos que recebia. “Uma criança da periferia não se identifica com a história de um executivo servido pela empregada, como estava em um livro didático”, diz a professora Cleuza Albertini. Os livros didáticos foram substituídos por contos infantis, artigos de revistas, histórias em quadrinhos, notícias sobre o cotidiano do Notícias recortadas: alunos bairro em que está a escolhem o que querem ler

Leciono para a 2a série e muitos de meus alunos escrevem errado: “papeu”, “cuanto” ou “muinto”. Como ajudá-los a falar e a escrever certo? A criança pensa que a escrita é a representação daquilo que fala. Inicialmente isso é aceitável, pois retrata uma de suas hipóteses sobre o que a escrita representa. Quando o aluno atinge a hipótese alfabética, ele já escreve e estabelece uma correspondência entre o falado (fonema) e o escrito (grafema). Pode-se, então, trabalhar o aluno para compreender que nem tudo o que se fala tem correspondência idêntica na escrita. Exemplo: “casa”, palavra na qual o “s” tem som de “z”. As variantes da língua falada precisam ser consideradas, mas deve-se ter cuidado ao escrever. A escrita depende de uma convenção, que é a ortografia, criada para unificála e facilitar o entendimento do que se lê.

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Toda a proposta elaborada pelos PCN para o desenvolvimento da leitura nas quatro séries iniciais está apoiada na existência de uma biblioteca escolar. A biblioteca deve estar permanentemente aberta aos alunos, ter regras de empréstimo e leitura bem liberais e ser agradável e atraente. É importante, também, que a biblioteca possua livros e textos bem diversificados. Há situações em que a falta de espaço ou de recursos parece impedir a criação da bi-blioteca. São entraves que podem ser vencidos com criatividade. A diretora de uma escola pública da periferia de São Paulo improvisou uma biblioteca em carrinhos de feira, pintados com cores diferentes, de acordo com a série a que se destinavam. Os alunos se encarregavam de fazer o acervo circular pelos corredores. Mesmo que a escola possua uma biblioteca, a classe também pode ter seu acervo. A bi-

blioteca de classe não precisa de um número muito grande de volumes. O que se espera é que ela apresente mais variedade do que quantidade. É preferível que ela disponha de 35 livros diferentes a 35 volumes do mesmo livro. Vídeos, slides, fotografias, transparências, gravadores, fitas e CDs também devem freqüentar a biblioteca. Eles cumprem um papel importantíssimo e combinam sistemas verbais e não-verbais de comunicação. Abaixo, uma sugestão de textos que você pode ter na biblioteca de classe: ■ Histórias em quadrinhos, textos de jornais, revistas e suplementos infantis, anúncios classificados. ■ Parlendas, canções, poesias, quadrinhas, trava-línguas. ■ Contos de fadas e de assombração, mitos e lendas populares, folhetos de cordel. ■ Textos teatrais. ■ Enciclopédias, dicionários e afins.

Leitura de textos diversificados melhora a pior turma da escola uando foi nomeada para a 1ª série de uma escola municipal de Belo Horizonte, a professora Sheila Alves de Almeida assustou-se. Os alunos, de 7 anos, não liam nem o próprio nome e quando lhes era pedido que escrevessem a palavra “bola”, por exemplo, muitos desenhavam uma bola. Para recuperar o tempo perdido, Sheila decidiu que deveria apresentar à turma textos e letras da maneira mais divertida possível. Ela trouxe quadrinhas infantis, histórias folclóricas, que as crianças adoraram, usou embalagens de margarina para formar outras palavras, fez a turma ler e preparar uma receita de doce impressa em uma lata de leite em pó, conseguiu carimbos

Aluna forma novas palavras com as sílabas de “Doriana”: uma escrita mais divertida e letras emborrachadas para ensiná-los a distinguir letras com forma parecida, como o “B” e o “P”, o “O” e o “Q”. E, principalmente, levou recortes de jornais e revistas com fatos que mexeram com as crianças. Foi o que ela fez quando morreu o elefante Zoca, no zoológico de Belo Horizonte, ou com a tragédia da morte da banda Os Mamonas Assassinas. “Fatos assim sensibilizam as crianças

e elas ficam ansiosas para se manifestar”, diz Sheila. Os resultados alcançados por ela foram bons. A turma de Sheila era considerada a “pior” da escola. Em um ano, dos 26 alunos, dezessete estavam alfabetizados, dois prestes a começar a ler e o restante abandonou a escola ou pouco avançou. Até então, em uma classe como essa, a escola nunca havia conseguido alfabetizar mais de oito alunos.

Histórias do lobisomem e da mula-sem-cabeça: a turma adora Ricardo Corrêa

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Fotos Ronaldo Guimarães

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? Para que o aluno tenha condições de gostar de ler, precisa tomar contato com leituras de diferentes níveis e assuntos. Quando a criança já lê textos simples por conta própria, o professor deve ampliar seu repertório de conhecimentos mostrando-lhe outras leituras. Por exemplo, lendo para a classe jornais, revistas e livros infantis. Isso faz com que a criança compreenda que existem textos feitos para informar, para divertir e que podem ser fonte de prazer. Com eles, o leitor pode “viajar” para lugares diferentes. O aluno logo entenderá que vale a pena se esforçar, pois ele também poderá usufruir tais prazeres.

A biblioteca escolar

César Alexandre do Nascimento

Ética

Sou professora nas séries iniciais do Ensino Fundamental e percebo que, infelizmente, a maioria de meus alunos não gosta de ler. Quero sugestões para fazer com que as crianças tomem gosto pela leitura.

Crianças brincam com letras de borracha: tirando dúvidas sobre a forma do “B” e do “P”

Os Mamonas Assassinas: emoção em classe com a tragédia do grupo


Organize projetos com sua classe Os projetos são uma ótima oportunidade para que seus alunos possam produzir textos com intenção clara. Os projetos devem ter um objetivo bem definido e as crianças precisam entender que as pesquisas, as entrevistas, as leituras, se destinam a um fim combinado em conjunto entre a classe e a professora. Um exemplo de projeto: pesquisar contos de assombração conhecidos na comunidade para produzir, no final, um livro. Depois da pesquisa de campo, os textos são revisados, reescritos e debatidos em classe. O produto final de um projeto pode ser mudado em

Alunos seguram mapa do Morro Alto: resultado final de um projeto didático

A história e a geografia do bairro Morro Alto contadas pelas crianças

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a escola, as lojas, os acidentes geográficos e as casas das crianças deveriam constar do mapa. O trajeto que elas percorriam para chegar à escola também seria assinalado. A atividade começou com os alunos de 2a série redigindo um texto em que imaginavam como teria sido o Morro Alto no passado. Em seguida,

eles saíram a campo, com lápis e papel na mão, entrevistando os moradores sobre a

história do bairro. Com as informações obtidas, a classe produziu um texto coletivo sintetizando suas descobertas. As crianças voltaram às pesquisas para mapear a vizinhança. O entusiasmo da turma fez crescer a atividade. Os alunos escreveram um livro coletivo no qual contavam as próprias episódios. As mães foram convidadas a vir à classe relatar histórias familiares. Um jornalzinho também foi organizado. Nele estavam descritas as melhorias do Morro Alto alcançadas por sua associação de bairro. Fotos Edson Vara

m um bom projeto didático, o objetivo final do trabalho é definido junto com os alunos. Foi o que fez a professora Eneida Maria Ramos de Macedo Tito, de Porto Alegre (RS). A intenção era que os alunos entrevistassem os moradores do Morro Alto, o bairro em que viviam, e realizarem pesquisas para produzir um mapa gigante do lugar. As principais vias,

Até que ponto podemos corrigir a ortografia do texto de uma criança?

comum acordo com a turma. Em nosso exemplo, além do livro, os participantes poderiam decidir apresentar o trabalho em uma feira na escola. Os projetos podem durar de uma semana a alguns meses. A grande vantagem é que eles obrigatoriamente exigem o envolvimento e o compromisso de todos os alunos. Com isso, mesmo tarefas que em outro contexto pareceriam sem sentido – como copiar, corrigir várias vezes o texto, exigir ortografia impecável – tornam-se reais e necessárias, já que as crianças conhecem o objetivo de seu trabalho e sabem que ele será lido por leitores de fora da classe. O propósito dos projetos não é só ensinar a Língua Portuguesa. Com eles é possível associar os conteúdos de Português a todas as outras áreas e aos Temas Transversais.

Trabalho de campo: entrevistas com moradores

Desde cedo as crianças devem entender que é preciso escrever corretamente. A exigência de um texto correto é, no entanto, relativa. Depende da função dessa produção (um texto que circula na classe e outro que terá leitores externos apresentam exigências de correção diferentes) e da série, ou ciclo, em que foi realizada. O que se propõe é que no Ensino Fundamental o aluno, além de escrever corretamente, aprenda também procedimentos de revisão. Se houver um computador, ele devererá conhecer as ferramentas de correção. Se não, as ferramentas poderão ser criadas: tiras de papel para ser coladas sobre o texto incorreto ou para mudar frases de lugar. Flechinhas para indicar o lugar da correção e, claro, a boa e velha borracha.

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O que você pode fazer para que seus alunos escrevam com competência O objetivo da escola deve ser o de formar escritores competentes, habilitados a produzir textos coerentes, organizados e claros. Um escritor competente – aqui se entende escritor como alguém capaz de escrever e não um romancista ou poeta – está apto a produzir um discurso apropriado ao objetivo a que se propõe. Por exemplo, se a intenção é convencer o leitor, ele fará um texto argumentativo. Se o que se quer é solicitar algo a uma autoridade, ele redigirá um ofício em linguagem formal e direta. Para enviar notícias à família, ele escreverá uma carta intimista.

Dica

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No Brasil existem milhares de crianças nessa situação. A pré-escola preocupa-se hoje em alfabetizar. Mas há crianças que não têm essa oportunidade e, aos 7 anos, são matriculadas numa classe com colegas que já lêem. As diferenças individuais devem ser respeitadas. Existem opções para ajudar esses estudantes: se houver parentes com mais escolaridade, é possível orientá-los para uma ajuda em casa. O professor pode, ainda, pedir a colaboração de alunos mais adiantados; tirar dúvidas em suas horas de trabalho pedagógico fora de sala ou dar recuperação paralelamente às aulas regulares. E, também, em alguns momentos do dia realizar atividades diferentes para os já alfabetizados e os demais alunos.

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Como avaliar o aprendizado de crianças que entram na escola na 1a série e vão estudar com outras que foram alfabetizadas na pré-escola?

O professor pode sugerir a seus alunos que escrevam uma carta a um jornal pedindo informações sobre um tema em estudo na classe. Para isso, deve explicar à turma qual é a linguagem adequada. O texto será feito em conjunto pelas crianças.

O escritor competente sabe expressar por escrito seus sentimentos, experiências ou opi-

niões. Cabe à escola, então, criar oportunidades para que os alunos escrevam textos diversificados e de aplicações práticas, como são os que circulam na sociedade. Peça que eles redijam, mesmo se ainda não souberem escrever certo Os alunos devem ser solicitados a se expressar por escrito, mesmo que não dominem a língua escrita de maneira convencional. Desde cedo, eles já são capazes de criar os mais variados discursos. Narram histórias, defendem um ponto de vista, inventam diálogos durante uma brincadeira ou contam um caso para alguém. O que ocorre é que eles já estão aptos a produzir um texto, mas têm dificuldade para redigi-lo. Eles vão render muito mais se forem desafiados a escrever e se puderem dividir as dificuldades de coordenar a escrita. Isso pode ser feito, por exemplo, propondo a um aluno que conte em voz alta uma história a outro colega, que a escreverá, enquanto um terceiro fará a revisão. Os três fortalecerão assim suas competências, podendo depois cumprir sozinhos todas essas etapas. Mas que outras razões teríamos para incentivar a escrita dos estudantes? O fato é que eles gostam de escrever. De resto, a criança tenta andar mesmo antes de poder fazê-lo, falar mesmo quando ainda é bebê ou desenhar quando mal sabe pegar em um lápis. Por estar

Ensine a turma a descrever personagens

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as redações de sua turma de 2ª série, a professora paulista Maria Eugênia Leal lia descrições

assim: “minha mãe é alta, bonita, morena...” e só. A dificuldade era a “descrição funcional”, ou seja, citar informações

1 - A classe examina a capa, o título e as ilustrações do livro. Hipóteses sobre a principal personagem e sua história são levantadas.

descritivas relevantes para o enredo. Para mudar isso, a professora usou o livro Tá Vendo uma Velhota de Óculos,

Chinelo e Vestido Azul de Bolinha Branca, no Portão daquela Casa?, de Ricardo Azevedo, e montou esta atividade:

3 - A professora lê as histórias em voz alta e pede aos alunos que as recontem. Eles podem, a todo momento, consultar o livro.

2 - Sem ler o texto, só olhando as figuras, os alunos tentam contar as três histórias da velhota: no livro ela é escritora, feiticeira e atriz.

4 - Cada aluno deve imaginar e desenhar uma quarta versão da velhota. Surgem inúmeras figuras: avó, detetive, doceira e outras personagens.


Dica

num mundo onde a linguagem escrita faz parte do cotidiano, o aluno se sente desafiado a escrever. Fazer a revisão coletiva de um texto produzido por um aluno que a classe não conheça costuma ser mais produtivo. Ao examinar o texto na lousa, ou nas cópias que recebem, as crianças enxergam erros que não vêem na própria produção.

Fazer rascunho, revisar e escrever de novo... A maioria dos escritores de primeira viagem se dá por satisfeita com a primeira e única versão do texto produzido. Muitas escolas incentivam tal procedimento. No entanto, essa postura em nada contribui para o entendimento de que a produção da língua escrita é um processo que pode ser permanentemente desenvolvido e melhorado. O trabalho com rascunhos é, portanto, imprescindível. A revisão deve ser ensinada de maneira a permitir a quem escreve, coordenar os papéis de produtor, leitor e avaliador do próprio texto. O professor pode ajudar propondo uma maneira organizada de executar essa tarefa. Pode haver um momento para escrever, outro para ler o que está no papel, e outro ainda para fazer ajustes, passar a limpo etc.

Mudar de gênero, finalizar histórias, reescrever textos... Alguns truques que podem fazer a turma evoluir no domínio da língua escrita e superar as dificuldades na criação de textos: 1 - Propor aos alunos que reescrevam ou se inspirem em um texto que eles já leram para produzir uma redação; 2 - Fazê-los transformar um gênero em outro. Por exemplo, escrever um conto de mistério a partir de uma notícia policial; 3 - Sugerir a produção de textos a partir de outros conhecidos: um bilhete que o personagem de um conto teria escrito a outro, por exemplo; 4 - Dar as primeiras frases de uma história para a classe desenvolver ou o final de uma história para que os alunos criem seu início; 5 - Planejar coletivamente o enredo de uma história, para que os alunos discorram sobre ela, individualmente ou em grupos.

7 - Deixando o livro de lado, os alunos criam uma história mais complexa. As idéias vão sendo escritas no quadro-negro.

5 - Características da personagem imaginada pelas crianças são anotadas em cartolinas. Assim, elas conhecem as idéias umas das outras.

6 - Cada um escreve mais uma versão sobre a velhota. A professora corrige os trabalhos. Todos passam os textos a limpo.

8 - Todos os textos, corrigidos e passados a limpo, são reunidos em um volume. No final, cada aluno tem um novo livro sobre a velhota.

Por que a maioria das histórias infantis começa com “Era uma vez”? É muito difícil saber onde começou esse costume. Típica de lendas, mitos e narrativas antigas, a expressão “Era uma vez” perde-se na memória. O desconhecimento da origem da expressão combina com seu sentido vago. “Era uma vez” imprime às narrativas uma indeterminação no tempo e, quase sempre, no espaço. Por essa razão, aparece com freqüência na literatura infantil, especialmente nos contos de fadas, que influenciam a educação de crianças de 5 a 10 anos. Há muitas alternativas para a expressão “Era uma vez”, que as crianças vão descobrir à medida que você contar a elas outras histórias. Alguns exemplos clássicos: “Havia uma vez um rei”, “No tempo em que os bichos falavam”, “Há muitos anos”, “Antigamente”, “Faz muito tempo”, “Num certo lugar”.

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O que se critica é a prática de ensinar ortografia ou trabalhar os erros ortográficos usando somente os treinos e exercícios de memorização. As correções de texto e ditados continuam necessários, mas as crianças devem realizar outras atividades, principalmente as que as façam entender a real função das regras ortográficas ou gramaticais. Apesar das muitas exceções, nossa língua possui regularidades. A norma que determina o uso da letra “m” antes de “b” e “p” é um exemplo. Você pode ensinar isso como regra acabada. Mas será mais produtivo e a memorização mais fácil se a criança primeiro observar essa regularidade e, só então, souber que existe uma regra para a questão.

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Muitos criticam hoje o uso das listas de palavras e ditados como treinos ortográficos. Como trabalhar a ortografia?

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Ferramentas para um bom texto nas oficinas de criação

Ortografia precisa de compreensão e de decoreba

Escritores competentes precisam dispor de um repertório amplo de modelos para criar seus textos. Ninguém é capaz de fazer surgir uma boa produção literária do nada. É preciso ter boas referências. Para escrever bem é preciso ler bem. A proposta das oficinas ou ateliês de criação de textos é fornecer às crianças material de consulta apropriado para a produção de textos. As possibilidades são quase infinitas, desde o material mais previsível, como dicionários, enciclopédias, atlas, jornais e revistas, até um banco de personagens criados pelos próprios alunos, que podem ser usados para reforçar as redações produzidas nas oficinas. O professor pode avaliar junto com os alunos os caminhos percorridos por eles para criar suas redações. É um dos momentos mais ricos nas oficinas, pois nesse instante são discutidas as preferências, as dificuldades e as alternativas de que os jovens escritores lançaram mão (com sucesso ou não) para chegar ao enredo final. O professor deve participar sempre dessa avaliação da estratégia de criação. Com o tempo, essa habilidade será assimilada pela classe. E aí, pode apostar, os alunos produzirão textos cada vez melhores.

Tradicionalmente, ensina-se ortografia – a maneira correta de grafar as palavras – apresentando e repetindo as regras ortográficas para a classe. Tudo se dá meio na base da decoreba. Depois da explanação, se o aluno desobedece a tais regras em uma redação, por exemplo, o professor corrige o erro, e pode até sugerir que o estudante copie várias vezes a versão correta das palavras escritas de maneira errada. Muitos alunos decoram tais regras, mas na hora da redação continuam escrevendo errado. Muitas normas ortográficas têm de ser mesmo decoradas. Mas isso não quer dizer que aprender a escrever certo seja um processo passivo. No capítulo dedicado à ortografia, os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem que a intervenção do professor se dê em dois níveis: no “produtivo” e no “reprodutivo”. Produtivo é o conhecimento explícito das regras ortográficas. Tal conhecimento permite aos alunos grafar corretamente mesmo as palavras que eles nunca haviam escrito anteriormente. Um exemplo: nenhuma palavra da Língua Portuguesa começa com as letras “rr”. A regra pode

Vamos consultar um bichionário? Criado pelo escritor Nilson Machado, o Bichionário é uma coleção de minipoesias com nomes de animais de A a Z e foi a inspiração para uma atividade feita na Escola de Aplicação, de São Paulo. As professoras propuseram às crianças recémalfabetizadas que preparassem os próprios minidicionários temáticos. Acompanhe a experiência.

O pequeno Fábio criou o Nominário, que registra nomes próprios de A a Z. Cada aluno escolheu seu tema e partiu para a pesquisa. As crianças fizeram as ilustrações e diagramaram os livros

Comidas e gulodices foi o tema escolhido por Soraya em seu Comidionário. Os alunos que não escreviam sozinhos receberam ajuda. As professoras corrigiam os textos enfatizando a ortografia, a clareza, o uso de maiúsculas e a redundância. A pesquisa em dicionários foi bastante encorajado

Iolanda construiu o Meu Livro de Bichos com rimas. Marcos, autor do Meu Livro de Objetos, encontrou objetos para todas letras. O texto corrigido foi passado a limpo. No fim, todos os alunos fizeram a capa e escolheram o título


parecer banal, mas é comum vermos alunos das primeiras séries escreverem palavras como “rrato” ou “rroupa”. Já o eixo reprodutivo é aquele em que o aluno memoriza a forma correta de grafar palavras que não têm regras específicas que expliquem a forma de escrevê-las. Distinguindo palavras de uso mais e menos freqüente Tal distinção é fundamental para o trabalho do professor. Quando as palavras fazem parte do vocabulário médio dos alunos, é mais produtivo que eles apresentem suas hipóteses de como devem ser escritas. Com base nessas suposições, eles poderão refletir sobre as possíveis alternativas de grafia e, comparando-as com a escrita convencional, terão progressivamente condições de tomar consciência do funcionamento da ortografia. É um momento em que o “erro” deve ser encarado pelo professor como fundamental para a construção das hipóteses ortográficas desenvolvidas pelos alunos. Por outro lado, entender que a ortografia de algumas palavras não é definida por regras faz com que os estudantes vejam, de maneira prática, a importância de consultar fontes autorizadas de registro ortográfico da língua portuguesa, como os dicionários ou manuais de redação, e reconheçam a importância da memorização.

A difícil arte de pontuar corretamente É freqüente a confusão entre o ensino da pontuação e o ensino dos sinais de pontuação. Em geral, o que se faz é uma apresentação do tipo “serve para”, “é usado para” e ponto final. Espera-se que a partir daí o aluno seja capaz de incorporar a pontuação a seus textos... No entanto, a única regra obrigatória da pontuação é a que diz onde não se pode pontuar: entre o sujeito e o verbo e entre o verbo e seu complemento. Tudo o mais são possibilidades. Ao contrário da ortografia, na pontuação a fronteira entre o certo e o errado nem sempre é bem definida. Aprender a pontuar é agrupar as palavras do texto de forma a dar ritmo e ênfase à redação. Isso é algo que as crianças só aprenderão com a ajuda do professor. A pontuação deve ser analisada do ponto de vista do sentido que o autor pretende dar ao texto. Cabe ao professor levantar com os alunos o porquê de terem usado determinados sinais de pontuação. Gêneros literários diferentes têm características de pontuação distintas. Jornais abusam de apostos para condensar o texto. Por exemplo: “Luís, marceneiro, foi preso ontem”.

Uma receita pernambucana de pontuação A professora Cinara Santana da Silva, da Escola Matias de Albuquerque, de Recife, Pernambuco, sabe que a pontuação dá sentido ao texto, não serve somente para respirar,

exclamar ou perguntar. Por isso ela propõe algumas atividades interessantes a seus a alunos de 3 série. Acompanhe:

3 - “A pontuação, para que serve?”, indaga. “A vírgula é para respirar”, responde a turma. “Não é bem assim”, diz. Cinara mostra, sem dar nomes, as funções sintáticas da vírgula.

uma avaliação de um texto conhecido. Nele devem ser necessários vários tipos de pontuação, como vírgula, travessão etc.

4 - Os alunos criam diálogos ambientados em locais que freqüentam, como um parque. O parágrafo e o travessão mostram a diferença entre o narrador e o personagem.

2 - Detectadas as dificuldades, ela divide a turma em duplas e pede que elas marquem, em um novo texto, os sinais de pontuação, discutindo os “porquês”.

5 - Propor piadas e adivinhações garante aulas divertidas sobre o uso das reticências, que marcam a interrupção na fala ou na idéia exposta no texto.

1 - A professora faz

Como utilizar dicionários com turmas da préescola à 4a série? Os dicionários ampliam o vocabulário e melhoram a interpretação da leitura. Mas, para as crianças, essa experiência pode ser um tanto complicada. A principal dificuldade é que a maioria das palavras tem vários sentidos e é o leitor quem deve verificar qual deles cabe melhor no texto. Uma boa maneira de preparar o aluno para essa consulta é incentivá-lo a descobrir, por conta própria, o significado da palavra desconhecida. As próprias crianças, do jardim-deinfância em diante, podem organizar um dicionário, escrevendo cada palavra numa folha de papel, ilustrando-a e acrescentando uma frase ou um pequeno texto em que apareça o termo em questão. Depois, é só reunir as folhas em ordem alfabética e fazer uma capa.

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Alguns exercícios do laboratório são simples, outros dão mais trabalho. Movimente aos poucos os alunos, os professores e a direção de sua escola para montar um acervo de livros, revistas, dicionários, fitas cassete (com música popular brasileira) jornais e outros materiais. Veja algumas sugestões de atividades. Hora do conto: o professor narra para os alunos histórias infantojuvenis, folclóricas, fábulas, contos de fadas ou outros. Roda de leitura: um aluno lê em voz alta uma crônica, um conto ou o capítulo de um romance, depois comenta e discute o texto com os colegas que o ouviram. Encontro com a poesia: leitura de poemas. Círculo de leitores: empréstimo e troca de livros. Feira de livros: com livros novos e usados.

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O que é preciso saber de gramática Saber o que é substantivo, adjetivo, verbo, artigo, preposição, sujeito ou predicado não garante a ninguém a aptidão para produzir bons textos. Claro, é necessário conhecer as funções sintáticas e morfológicas das palavras, mas tal ensino deve ser feito a partir da produção de texto dos alunos. O importante é que o estudo gramatical se dê com o objetivo de melhorar a produção escrita dos alunos e dentro da capacidade deles. Um exemplo: nas séries iniciais é necessário saber o que é “proparoxítona”, na medida em que os alunos, junto com o professor, devem analisar e estabelecer regularidades na acentuação de palavras. Eles chegam à regra de que serão sempre acentuadas as palavras em que a sílaba tônica for a antepenúltima. Em todas as situações em que o aluno estiver trabalhando com textos, ele está necessariamente aprendendo gramática.

Dica

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Que atividades podem ser desenvolvidas no laboratório de Português?

Dobre uma folha de papel em três colunas verticais. Na primeira, a turma escreve nomes. Na segunda, ações. Na terceira, lugares. Abra o papel e faça frases com os três elementos. É uma forma divertida de ensinar o conceito de sujeito, verbo e adjunto adverbial.

Como avaliar o aproveitamento escolar É possível determinar alguns critérios de avaliação para o primeiro e segundo ciclos no estudo da Língua Portuguesa. No primeiro ciclo ■ O aluno deve ser capaz de narrar histórias sem perder o encadeamento e a seqüência cronológica. O esperado é que ele narre uma história conhecida, ou um fato que viveu, respeitando a ordem temporal e obedecendo a uma ordenação lógica que torne o enredo compreensível. ■ O estudante deverá compreender, ainda, o sentido global dos textos lidos em voz alta por ele ou por outra pessoa. Deve mostrar que compreendeu o sentido desse texto por meio

de uma conversa em classe ou por escrito. O que se espera é que entenda a trama desenvolvida no texto – na história de Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, o aluno poderá fazer um resumo do que ouviu para ser lido por outra pessoa. ■ Quando escrevem seus textos, as crianças devem usar a escrita alfabética, preocupar-se em segmentar o texto em palavras e frases e obedecer às convenções ortográficas. Mesmo não sabendo utilizá-las adequadamente, espera-se que o aluno se preocupe com a ortografia. No segundo ciclo ■ Os alunos já devem ser capazes de resumir as idéias centrais de um texto que foi lido, ou dito, em voz alta. ■ Predende-se que o estudante faça, oralmente ou por escrito, o resumo de textos preservando suas idéias centrais. ■ Nesse ciclo a criança deve estar apta a realizar a leitura de um texto com o objetivo de encontrar elementos determinados, como o significado de uma palavra em um dicionário ou o horário de um filme no jornal (inferências). ■ Mesmo com algumas falhas, os alunos devem ser capazes de escrever textos com pontuação ou ortografia convencional, utilizando os recursos do sistema de pontuação. ■ Espera-se que o aluno esteja habilitado a conhecer as regularidades ortográficas e saiba usar o dicionário para sanar dúvidas quanto às palavras de grafia irregular. ■ O estudante deve ser capaz de produzir textos respeitando as características próprias de cada gênero e as características gráfico-espaciais (o mesmo que paginação), usando a pontuação e palavras de ligação para a coesão do texto. ■ Ele deve escrever textos autoexplicativos, que serão lidos por quem não conhece o tema. Ao narrar uma festa à qual o leitor não foi, o escritor descreverá os personagens e o ambiente em que a história se passa.


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