PCN Arte ensino fundamental

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de 1ª a 4ª série

PCN

Parâmetros Curriculares Nacionais

Fáceis de entender ■ ■ ■

Aula de Arte é divertida, mas não é recreio É a que mais incentiva a criatividade Não é preciso ser artista para gostar dela Arte

Presente nas roupas, nas fachadas, na História, em Ciências... ela ensina tudo com muito mais charme

nhecimento humano. Os exemplos são variados. Os períodos históricos podem ser mais bem entendidos quando se comparam as produções artísticas de cada época. Escolas usam trabalhos manuais como atividades de apoio ao no desenvolvimento da leitura e da escrita. As pinceladas geométricas dos pintores cubistas, as dobraduras do origami são excelentes auxiliares no ensino da Geometria. E letras de música e apresentações teatrais fazem parte da estratégia didática de disciplinas como Geografia, Educação Sexual, História, e Ciências.

Ensine a ler com agulha e linha

A

professora Albanita Guerra Araújo, de Campina Grande (PB), tem uma receita de sucesso para incentivar a escrita de seus alunos. Ela propõe que eles produzam livros que não

têm uma palavra sequer. Só gravuras. Os livros são de pano, mas para “escrevê-los” a turma faz pesquisas, entrevista pessoas e lê, lê muito. A idéia dos livros de pano foi adotada por escolas Genaro Freitas

públicas e particulares de Campina Grande. Além de bonitos, eles são baratos e acessíveis. A atividade começa com a sugestão pela professora de cinco temas a ser explorados: ecologia, ciências, fauna, flora e folclore. Os estudantes costumam

Maquiagem em aula de Arte: disciplina tão importante quanto qualquer outra

propor abordagens ligadas ao dia-a-dia. Numa escola, o tema foi os monstros que viam na TV. Nas pesquisas, vale tudo: ler nos livros, cortar revistas e jornais, entrevistar os pais... Em seguida, definem-se o enredo e o material a ser usado. É hora de desenhar e

pintar o livro. Obra pronta, passa-se à produção de textos. Os alunos contam a história em viva voz e depois a escrevem. “A alfabetização em si pode ser feita usando esse texto escrito”.

Fotos Lauren i Fochetto

Por que ensinar Arte? Porque senso de estética, sensibilidade e criatividade são habilidades que se aprende. E não existe melhor ocasião para isso do que nas aulas de Arte. Mas há ainda mais: foi-se o tempo em que se podia ouvir que ela seria uma disciplina menor sem ter bons motivos para retrucar. No processo de aprendizagem, a Arte, ensinam os PCN, é tão importante quanto qualquer outra matéria. Quando o aluno produz ou aprecia obras de arte, desenvolve sua percepção e imaginação, dois recursos indispensáveis para compreender outras áreas do co-

Sérgio Falci/Gerais

A Arte está em todas as disciplinas

A professora Albanita, seus alunos e os livros de pano feitos em classe

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É importante que o professor busque cursos de formação inicial e contínua em Arte para trabalhar na área. Um bom curso oferecerá oportunidade de experimentação e criação com diversos materiais, movimentos corporais, instrumentos e espaços. Além disso, é necessário conhecer a história da arte, da música, da dança e do teatro. E, claro, é preciso informarse sobre a produção artística atual para participar da sociedade como cidadão cultivado, ampliando o próprio horizonte e o dos alunos. Finalmente, um bom curso de formação que discuta questões relativas à aprendizagem das artes ensinará a planejar as aulas e possibilitará ao professor cooperar no projeto educativo da escola em que lecionar.

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Muito mais do que simples distração A área de Arte deve permitir aos alunos não apenas criar produtos artísticos, mas também apreciá-los, examiná-los e avaliá-los. Também é preciso que eles entendam a importância da produção artística e superem a idéia de que quando desenham, cantam, dançam ou encenam uma peça de teatro estão se distraindo da “seriedade” das outras disciplinas. É claro que não se propõe que as formas lúdicas e agradáveis de dar aula sejam abandonadas. É muito mais eficiente, por exemplo, apresentar a cultura indígena em um documentário ou espetáculo de dança do que dar uma aula expositiva sobre os ritos indígenas. A melhor maneira de tornar a Arte uma disciplina tão consistente como qualquer outra é indicar como as manifestações artísticas estão presentes no cotidiano. Como a arte está também nas ruas, vitrines, roupas ou na fachada das casas, os conceitos e habilidades desenvolvidos nas aulas de Educação Artística são necessários para entender e usufruir o mundo que nos cerca. Talvez mais do que qualquer outra matéria, o ensino da Arte pede que se estimule a criatividade natural das crianças. Isso não é difícil. Quando brinca, a criança desenvolve atividades rítmicas, melódicas, fantasia-se de adulto,

produz desenhos, danças, inventa histórias. É essa criatividade natural que deve ser aproveitada. Os PCN não trazem uma definição rígida dos conteúdos de cada ciclo. Eles orientam o professor a adequar suas atividades ao repertório cultural que a criança traz à escola. Habilidades a desenvolver ■ Interagir com material, instrumentos e procedimentos variados em artes. ■ Construir uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal, respeitando a própria criaçnao e a dos colegas. ■ Compreender e saber identificar a arte como fato histórico, contextualizando-a nas diversas culturas. ■ Observar as relações entre o homem e a realidade com interesse e curiosidade, indagando, discutindo, argumentando e apreciando a arte de modo sensível. ■ Identificar e compreender a função e os resultados do trabalho artístico, reconhecendo na própria experiência de aprendiz aspectos do processo percorrido pelo artista. ■ Buscar e organizar informações sobre a arte em contato com artistas, documentos e acervos, reconhecendo e compreendendo a variedade de produtos artísticos e concepções estéticas presentes na história das diferentes culturas e etnias.

Para fora da classe, homem-palito!

T

odos os dias, homenzinhos do tipo palito, feitos de meia dúzia de riscos, e flores de pétalas gordinhas são produzidos nas escolas. Mas desenhos primitivos assim marcam

o limite de talento e habilidade das crianças? Maria Letícia Vianna, professora de Arte em Curitiba (PR), acha que não. A pobreza das obras, diz ela, resulta do apego a velhos padrões

Dois momentos da criação escolar: figuras estereotipadas e desenhos criativos

de representação – há até quem distribua modelos xerocados para os estudantes copiarem. Maria Letícia propõe que a turma seja incentivada a desenhar de memória e procurar ângulos inusitados para retratar gatos, casas, elefantes e as nuvens de sempre. As crianças podem desenhar flores que não existem na natureza ou mostrar características físicas e expressões humanas. “Assim, abre-se um espaço no qual a garotada pode expressar-se artisticamente”, diz Maria Letícia.

Tereza Helena

Pluralidade Língua Cultural Portuguesa Geografia Meio Ambiente Ciências Naturais Educação Física Saúde Orientação Sexual História Matemática Arte Ética

Como alguém que nunca fez arte pode se preparar para ser professor na área de Educação Artística?

A professora Maria Letícia: flores que não existem na natureza


Dança: a melhor forma de conhecer o próprio corpo

Além das formas tradicionais (pintura, escultura, desenho, gravura, arquitetura, artefato, desenho industrial), também são consideradas artes visuais aquelas manifestações que resultaram dos avanços tecnológicos, tais como: fotografia, artes gráficas, cinema, televisão, vídeo, computação e performance. Como se vê, não faltam recursos. Mas, certamente, é preciso ter objetivos bem definidos para que os alunos transformem o contato com a tecnologia em arte. Não basta brincar de vídeo, é preciso que as crianças criem e se desenvolvam na área. Os estudantes também vão gostar de experimentar materiais diferentes quando forem produzir imagens. Use e abuse de lápis, giz de cera, papéis, argila, pincéis e tintas. E procure também variar as atividades para que a classe tenha acesso ao maior número possível de meios: máquinas fotográficas, computadores, vídeo, reprografia etc. A variedade de materiais e meios, além de proporcionar conhecimento mais vasto, é importante porque coloca os alunos diante da possibilidade de tomar decisões quanto a técnicas e instrumentos na construção de formas visuais.

A dança é uma das manifestações artísticas mais familiares à infância. Correr, pular, girar, subir são necessidades naturais e fazem com que a criança experimente o próprio corpo e seus “limites”. Esse é justamente um dos objetivos da dança nessa fase da aprendizagem: desenvolver na garotada a compreensão de sua capacidade de movimento. Assim, ela vai usá-lo com inteligência, autonomia e responsabilidade. Mas atenção! Você só deve propor atividades depois de observar suas habilidades naturais. O professor deverá cuidar para que a turma entre no clima e trabalhe com concentração, mas sem perder a alegria. Crianças costumam apontar as diferenças corporais individuais, como forma, volume e peso. É interessante que possam se manifestar, mas cabe ao professor cuidar para que não se prendam à observação preconceituosa. A aula de dança é, finalmente, um bom momento para que os alunos exercitem a criatividade. Deixe que improvisem com ritmos diferentes, criem coreografias e seqüências de movimentos. A tendência é que eles mesmos selecionem gestos que inventaram, imitaram ou recriaram.

Os alunos-avós fazem seus auto-retratos

Educação Artística para desenvolver tal conceito. Depois de viajarem para o passado, estudando a origem de suas famílias, os alunos da 4ª série ganharam o futuro, ao se imaginarem avós. Com lápis de cor, eles

O

Gustavo Lourenção

tema da imigração é quase obrigatório nas escolas paulistas, já que São Paulo é um dos Estados que mais imigrantes receberam em sua história. Mas,

quando as crianças são novas, nem sempre é fácil incutir-lhes a noção do deslocamento no tempo. A Escola Cooperativa pediu ajuda à

Museu Lasar Segall

Artes visuais: um bom assunto, da pintura ao micro

Aluna-avó, com sua foto desenhada, e os imigrantes de Segall: uma aula de História e Arte

desenharam sobre seus retratos (na verdade cópias xerox ampliadas de suas fotos) como se imaginavam na velhice. Para falar dos antepassados, a atividade usou, ainda, o quadro Navio de Imigrantes, do pintor Lasar Segall – ele também é imigrante, um lituano que chegou ao Brasil em 1923. “Quando se viram daqui a muitos anos, já avós e com seus decendentes, os estudantes fizeram uma rara reflexão sobre a vida”, explica a professora de Artes da Escola Cooperativa, Ana Araújo, que desenvolveu a atividade.

Que aplicações têm as dobraduras nas séries iniciais? Os pequenos participam mais das atividades com dobraduras a partir do maternal, quando já são capazes de montar figuras alusivas às histórias contadas pelo professor. No Ensino Fundamental, as dobraduras podem se inspirar em campanhas de higiene e ecológicas. Com papel, é possível representar animais extintos e plantas. Para falar sobre higiene e saúde, crie caixas que imitem embalagens de creme dental ou cubos que simbolizem dentes. As dobraduras são úteis, ainda, para ensinar formas e outros conceitos de Geometria. Com a turma mais velha, você pode construir balões, barquinho, diamantes e outros sólidos. Desse modo, a criança tem chance de visualizar conceitos abstratos, como superfícies, linhas e pontos. Também é possível formar figuras planas: quadrados, retângulos e triângulos.

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Pluralidade Língua Cultural Portuguesa Geografia Meio Ambiente Ciências Naturais Educação Física Saúde Orientação Sexual História Matemática Arte

É comum que o aluno de Ensino Fundamental diga que não sabe desenhar, justamente porque nessa fase do desenvolvimento ele pode perceber com mais clareza que existem diferentes “tipos de desenho”. Ele passa a querer fazer desenhos de modelos que observa no meio ambiente, nos livros, nos trabalhos de outros adultos e crianças, nas imagens de TV, nas roupas. Isso é bom se você deixar claro que qualquer um pode aprender a desenhar. Caso tenha oportunidade, assista ao vídeo sobre PCN da TV Escola. O desenho é importante na escola. Nesse vídeo você poderá conhecer o desenvolvimento do desenho da criança e do jovem e terá orientações de atividades que promovem essa habilidade dos alunos, tais como: desenho de memória, de imaginação e de observação.

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Música: ouvir, cantar e também brincar muito

Teatro: exercício de observação e concentração

Compor, interpretar, improvisar e ouvir. O trabalho com música deve abrir espaço para tudo isso. E também levar em consideração a enorme diversidade de composições do mundo moderno. Mas, acima de tudo, tem de ser significativo para o desenvolvimento dos alunos em sua capacidade de apreciar e produzir música. Para que a aprendizagem seja mais proveitosa, é bom que o professor procure envolver não só toda a turma mas também pessoas de fora, como compositores, cantores, instrumentista e promova encontros musicais com grupos de diferentes localidades. Nessa fase, os alunos ainda não distinguem várias etapas necessárias para que a música exista porque, quando conhecem a música, ela já está pronta. Um primeiro elemento que o professor pode diferenciar para os alunos é a composição da interpretação. Numa canção, por exemplo, a melodia ou a letra fazem parte da composição. O jeito como alguém canta determinada música é a interpretação. E é preciso mostrar que se faz necessário escolher os instrumentos, as características interpretativas, fazer amigos, imprevisações etc.

A educação em teatro tem como objetivo proporcionar experiências que contribuam para o crescimento integrado da criança sob vários aspectos. No plano individual, desenvolve a capacidade expressiva e artística. No coletivo, exercita o senso de cooperação, o diálogo, o respeito mútuo, a reflexão e torna as crianças mais flexíveis para aceitar as diferenças. Os PCN orientam os professores a incentivar essa atividade. Com ela, a garotada se relaciona, fala, ouve, observa e atua. Ou seja, pratica liberdade e solidariedade enquanto se diverte. As aulas podem ser preparadas numa seqüência que desenvolva as habilidades necessárias para o teatro, como a atenção, a observação, concentração. Podem-se, por exemplo, propor jogos preparatórios e discutir temas que instiguem a criação do estudante para favorecer a aquisição da linguagem teatral. Uma idéia: fazer uma improvisação a partir de estímulos diversos (textos dramáticos, poéticos, jornalísticos etc.). Os alunos com certeza vão diferenciar as características de cada um. Também podem ser criados jogos que utilizem máscaras, objetos, roupas, imagens e sons.

Um trabalho coletivo leva 50 anos ao palco

pelas eleições diretas, em 1984. Entusiasmados com os ensaios da professora Linei Hirsch, os alunos pesquisaram e trouxeram para a escola roupas, discos, revistas e brinquedos antigos. Se houvesse mais de um interessado em um papel específico, a classe escolhia o melhor candidato. O que tomou

P

ara comemorar seus 50 anos, o Colégio Santa Maria, de São Paulo, montou a peça teatral Tempo de Plantar, que trata da trajetória da vida da personagem Maria. Cada turma responsabilizou-se pela

pesquisa e encenação de um episódio. A peça começou com pierrôs dançando ao som de marchinhas do carnaval de 1949, mostrou as emoções das Copas do Mundo de 1962 e 1970 e passou pelo movimento

mais tempo foi a pesquisa dos fatos históricos de cada período. “À medida que recuperávamos a história dos objetos antigos, íamos formando o ambiente de época e montando as cenas”, diz o professor Carlos Colabone, responsável, junto com a turma, pela confecção dos figurinos e cenários. Fotos Gustavo Lourenção

Ética

Muitos alunos dizem que não sabem desenhar. Como ajudá-los?

A professora Linei Hirsch: ensaio com entusiasmo

Cena de Tempo de Plantar: Copas de 1962 e 1970


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