Caminho aberto : revista de extensão do IFSC / Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. - Ano 3, n.5 (nov. 2016). - Florianópolis: Publicação do IFSC, 2015. 132 p. : il. ; 29,7 x 21. Semestral Publicado também como revista eletrônica. Inclui bibliografias. ISSN: 2359-0580 1. Educação. 2. Extensão. I. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. II. Título. CDD: 370
Elaborada por: Paula Oliveira Camargo - CRB 14/1375 Catalogação na fonte pelo Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina - IFSC Reitoria TIRAGEM: 150 exemplares
Contato Rua 14 de Julho, nº 150, Coqueiros. CEP: 88075-010 - Florianópolis, Santa Catarina – Brasil. Coordenação Geral da Revista Caminho Aberto e-mail: douglas.juliani@ifsc.edu.br A versão eletrônica da Revista Caminho Aberto está disponível em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto
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Coordenadoria de Articulação de Políticas Sociais Paula Clarissa de Souza
Coordenadoria de Apoio à Extensão Douglas Paulesky Juliani
Todos os artigos desta publicação são de inteira responsabilidade de seus respectivos autores, não cabendo qualquer responsabilidade legal sobre o seu conteúdo à Revista Caminho Aberto ou ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC). Os artigos podem ser reproduzidos total ou parcialmente, desde que a fonte seja devidamente citada e seu uso seja para fins acadêmicos. Caminho Aberto: Revista de Extensão do IFSC. Florianópolis, no 5, novembro de 2015 Publicação da Pró-Reitoria de Extensão e Relações Externas do Instituto Federal de Santa Catarina.
Instituto Federal de Santa Catarina
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Equipe Editorial
Editor Geral Douglas Juliani, IFSC - Centro de Referência em Formação e EAD
Editora Assistente Jéssica Layne Pedro de Maria, UDESC
Conselho Editorial Altemir João Secco, IFAL - Instituto Federal de Alagoas Angelica Conceição Dias Miranda, FURG - Fundação Universidade Federal do Rio Grande Golberi de Salvador Ferreira, IFSC - Instituto Federal de Santa Catarina Ionete de Magalhães Souza, UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros Jane Lucia Santos, PUCRS - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Jane Marcia Mazzarino, UNIVATES - Unidade Integrada Vale do Taquari de Ensino Superior Jordan Juliani, UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina Josina Maria Pontes Ribeiro de Alcântara, IFAC - Instituto Federal do Acre Kyldes Batista Vicente, UNITINS - Fundação Universidade do Tocantins Manoel José Porto Júnior, IFSUL - Instituto Federal Sul-Rio-Grandense Marcelo de Souza Nogueira, CEFETRJ - Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca Maria das Neves Magalhães Pinheiro, UERR - Universidade Estadual de Roraima Paula Borges Bastos, IFF - Instituto Federal Fluminense Rosane Rosa, UFSM - Universidade Federal de Santa Maria Tatiana Emilia Dias Gomes, UNEB - Universidade do Estado da Bahia Vera Lucia Spacil Raddatz, UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do RS
Editores de Seção Ana Paula Kuczmynda da Silveira, IFSC - Câmpus Gaspar Ania Tamilis da Silva, IFSC - Reitoria Cherilo Dalbosco, IFSC - Câmpus São Miguel do Oeste Douglas Juliani, IFSC - Centro de Referência em Formação e EaD Flavia Maia Moreira, IFSC - Câmpus São José Glauco José Ribeiro Borges, IFSC - Reitoria Jeferson Vieira, IFSC - Câmpus São José Naiana Alves Oliveira, UFPEL - Universidade Federal de Pelotas Vanessa Oechsler, IFSC - Câmpus Gaspar Walter Widmer, IFSC - Câmpus Florianópolis Rafael Xavier dos Passos, IFSC - Câmpus Lages
Projeto Gráfico e Diagramação Glauco José Ribeiro Borges, IFSC - Reitoria
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A entrevista dessa edição é sobre economia solidária, temática bastante trabalhada nas ações do IFSC, principalmente, nas atividades de extensão. Entrevistamos umas das referências na área, a professora Leila Andrésia Severo Martins, da Univali. Ela foi secretária de Desenvolvimento da Prefeitura Municipal de Biguaçu, implantou e coordenou o Orçamento Participativo de Biguaçu. Como pesquisadora e extensionista, tem participado de vários projetos voltados ao empreendedorismo social. Atualmente coordena a Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Univali, projeto aprovado pela Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), órgão ligado ao Ministério do Trabalho. O relato da experiência da professora Leila Martins à frente da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da Univali é de fundamental importância para que se compreenda os processos administrativos desse tipo de organização, assim como seus meios de produção e prestação de serviços. No momento, o IFSC não possui uma incubadora tecnológica social e precisa aprofundar os estudos nesta área para viabilizar mais empreendimentos de economia solidária. Nos cursos do Programa Mulheres Sim, o tema da economia solidária costuma nortear as aulas para trabalhar temas como autogestão, solidariedade, democracia, cooperação, respeito à natureza, comércio justo e consumo solidário. Os cursos são voltados para capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade social para que possam complementar a renda, ao mesmo tempo em que possam interagir com outras mulheres, resgatar a autoestima, aprender e compartilhar conhecimentos na confecção de produtos, os quais são comercializados nas feiras de economia solidária. Agradecemos a você leitor e a todos os outros interessados que, de algum modo, contribuem para a manutenção e aprimoramento do nosso periódico. Desejo a todos uma leitura prazerosa e inspiradora! Douglas Juliani - Editor
Palavra do Editor
A Pró-Reitoria de Extensão do IFSC tem o prazer de apresentar o mais novo número da Revista de Extensão Caminho Aberto. Dedicada aos estudos e fazeres extensionistas, essa edição conta com 14 trabalhos, sendo 10 relatos de experiência e quatro artigos que contribuem com as temáticas de tecnologia, saúde, educação, trabalho, meio ambiente e cultura.
Diretrizes para a submissão de trabalhos
Categorias de trabalhos a serem publicados Artigos apresentam os resultados de atividades de extensão resultantes de pesquisas e contêm, necessariamente, fundamentação teórica, procedimentos metodológicos e resultados alcançados. Já os relatos de experiência descrevem e/ou discutem experiências desenvolvidas nas áreas temáticas da extensão e são compostos por resumo e descrição das atividades desenvolvidas. A equipe editorial poderá propor Edições Temáticas. Nesse caso, os temas definidos serão previamente anunciados. Idiomas para submissão: português, inglês ou espanhol. Resumo: no idioma do artigo e em inglês Palavras-chave: no idioma do artigo e em inglês Imagens: os artigos devem conter no mínimo três ilustrações.
Formatação dos textos: Artigos: 20 mil a 35 mil caracteres com espaços (aproximadamente de 7 a 13 páginas em tamanho A4, fonte Times New Roman 12, entrelinha 1,5 com margens 2 cm), incluídos título, resumo, abstract, palavraschave, keywords, texto completo e referências bibliográficas. Acesse os modelos para artigos em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto
Relatos de Experiência: 5 mil a 10 mil caracteres com espaços (aproximadamente de 2 a 4 páginas em tamanho A4, fonte Times New Roman 12, entrelinha 1,5 com margens 2 cm), incluídos título, resumo, abstract, palavras-chave, keywords, texto completo e referências bibliográficas. Acesse os modelos para relatos de experiência em: https://periodicos.ifsc.edu.br/index.php/caminhoaberto
Condições para submissão Como parte do processo de submissão, os autores são obrigados a verificar a conformidade da submissão em relação a todos os itens listados a seguir. As submissões que não estiverem de acordo com as normas serão devolvidas aos autores. O trabalho refere-se a uma atividade de extensão conforme as diretrizes estabelecidas na RESOLUÇÃO Nº 20/2013/CS Todos os textos enviados como colaboração à Caminho Aberto devem ser encaminhados eletronicamente pelo sistema de submissão neste ambiente. Os artigos devem ser originais e inéditos. E não podem estar em avaliação em outros períodicos concomitantemente. É considerado inédito o texto que ainda não foi publicado em outro periódico científico. As colaborações devem ser anexadas em arquivos eletrônicos formatados de acordo com as presentes normas e modelos descritos no item diretrizes para autores. São admitidas colaborações em português, inglês e espanhol. Os trabalhos devem seguir rigorosamente os critérios constantes nas diretrizes para autores no item Formatação dos textos. Para cada trabalho submetido é exigido no mínimo 3 imagens ou ilustrações que devem ser encaminhadas em arquivos separados, em formato .jpg, com resolução mínima de 300 dpi, indicando a ordem / numeração conforme legenda no artigo / relato. Os textos devem seguir as normas brasileiras NBR 6023/2002 (referências), NBR 10520/2002 (citações) e 6023/2003 (artigo em publicação periódica). Os textos escritos em português devem estar adequados ao Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. A revista recebe colaborações de extensionistas alunos, professores e técnicos administrativos. Para os alunos é obrigatória a autoria compartilhada com professores ou técnicos administrativos que possuam, no mínimo, nível superior completo. São permitidos trabalhos com até 3 coautores além do autor principal.
entrevista Leila Andresia Severo Martins “A base da Economia Solidária é a valorização da pessoa. O trabalhador em primeiro lugar”
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artigos Educação financeira para crianças: relato de experiência de um projeto de extensão
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Empreendedorismo em uma associação de mulheres rurais: propostas de melhorias e desenvolvimento
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Empreendendo em uma associação de artesanato: propostas de melhorias e capacitações
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Trabalho de extensão como uma forma de geração de renda
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relatos de experiência A prática da educação ambiental à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante, em Piripiri (PI)
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Orientações sobre vacinação contra o HPV em escolas públicas no interior do Estado de São Paulo
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Educação em saúde: a abordagem sobre doenças sexualmente transmissíveis em salas de espera
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Estágio em docência: o relato de experiência como recurso necessário na avaliação da aprendizagem
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Monitoramento e rastreamento do câncer de útero e de mama: experiência de educação em saúde no Projeto Rondon
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O IFSC e a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis: apontamentos sobre suas proximidades
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Projeto Orquestra de Violões do IFSC
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Sarau Literarte: a socialização da leitura e da arte
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Seleção da nova logomarca do Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Energia
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O uso do software livre na educação básica na Escola Antônio Guedes
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Entrevista
“A base da Economia Solidária é a valorização da pessoa. O trabalhador em primeiro lugar” Leila Andresia Severo Martins
Psicóloga e mestre em Educação e Cultura, Leila Andresia Severo Martins atua há mais de 15 anos como professora universitária, ministrando aulas nos cursos de direito, administração e gestão de recursos humanos na Universidade do Vale do Itajaí (Univali). Desde 2007, atua no acompanhamento e gestão de empreendimentos voltados à Economia Solidária. “Diferentemente de outras formas, que se limitam a um processo puramente de comercialização, a Economia Solidária tem a ideia de construir um novo jeito de se lidar com as relações de trabalho”, afirma. Para ela, além de promover esse novo jeito, a Economia Solidária busca conscientizar não apenas quem produz, mas também quem compra a valorizar o trabalho daqueles que buscam uma relação trabalho mais centrada nas pessoas, e não somente nos produtos.
Caminho Aberto A Economia Solidária é um conceito relativamente novo (no Fórum Social Mundial, realizado em Porto Alegre/RS, em 2001, foi formado o primeiro Grupo de Trabalho sobre o tema, oficializando o nascimento do movimento no país). Em linhas gerais, como você define Economia Solidária? Leila Andresia Severo Martins A Economia Solidária é um conjunto de atividades ou práticas desenvolvidas com o cunho de geração de trabalho e renda. A sua especificidade é que ela é organizada pela autogestão. Não existe a relação com as figuras do patrão e do empregado, é um trabalho realizado coletivamente e o processo decisório também é democrático e participativo, portanto, coletivo. As pessoas se juntam para realizar alguma atividade, que pode ser produzir alguma coisa ou prestar um serviço, ou ainda clubes de trocas e locais de finanças solidárias e redes cooperativas. Dentre as próprias cooperativas e associações têm algumas que se configuram dentro desta linha da Economia Solidária. Caminho Aberto Então a Economia Solidária é uma forma de cooperativismo, mas nem todo cooperativismo segue os conceitos da Economia Solidária? Leila Andresia Severo Martins Acredito que sim. Existem algumas cooperativas que são de fachada, que se aproveitam de questão financeira, de usufruir de menos impostos e assim se denominam como cooperativas. Mas, na verdade, funcionam como uma empresa. Dentre
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os princípios da economia solidária nós temos a cooperação, a solidariedade, a autogestão e a viabilidade econômica. Então essa relação de cooperativismo está presente na Economia Solidária, pois é uma relação de autoajuda em sentido mais amplo mesmo. O relacionamento entre as pessoas extrapola o sentido do trabalho, pois na Economia Solidária em vez de priorizar o lucro, como é feito nas empresas, se prioriza as pessoas.
Caminho Aberto Os empreendimentos não visam o lucro, mas o lucro não é visto com maus olhos… Leila Andresia Severo Martins Por isso que chamamos de viabilidade econômica. Como gera trabalho e renda, as pessoas precisam sobreviver a partir desse “negócio”, deste trabalho. A palavra lucro não é presente na Economia Solidária. Se o empreendimento consegue um faturamento, se pagam as contas, se divide a renda e ainda tem sobra aí em conjunto, nos Fóruns e Associações, se decide se reinveste na atividade, ou o que mais será feito. Mas tem que ter essa preocupação sim com a viabilidade econômica, ou negócio acaba não tendo sentido. E muitos empreendimentos acabam não superando essa barreira.
Caminho Aberto Por uma questão ideológica? Leila Andresia Severo Martins Não por isso. Pela dificuldade mesmo de implementar esse negócio. Existe um mercado que está aí, vendendo produtos similares e que são feitos muitas vezes com preços muito mais baratos pelas condições de fabricação. Aí entra o conceito de Economia Solidária. Você pode encontrar o mesmo produto numa loja convencional, só que aquele que você compra nas feiras tem um diferencial. Ele tem esse conceito, é produzido coletivamente e traz a renda para algumas famílias. E temos muitas que são sustentadas pela economia solidária, seja pelo artesanato, a agricultura, que é muito forte, principalmente nos produtos orgânicos.
Caminho Aberto A Economia Solidária está relacionada muitas vezes às feiras e ao artesanato. Mas também podemos encontrá-la na prestação de serviços. Nós tivemos no Câmpus Continente do IFSC uma experiência de sucesso com alunos do curso de guias de turismo. Essa área também é bastante explorada, certo? Leila Andresia Severo Martins A prestação de serviço tem grupos fortes. São cooperativas de taxi e transporte em geral, construção civil, no Cepesi (Centro Público de Economia Solidária de Itajaí) tem na área da saúde, priorizando uma linha mais natural, mais holística, sem a medicação química ou pelo menos tentando evitá-la. Lá também tem salão de beleza. Enfim, onde houver geração de emprego e renda e atenda aos conceitos e diretrizes da Economia Solidária, pode ser o serviço que for. O Cepesi é um espaço no Centro da cidade, um ponto fixo de comercialização, que tem espaço para vários serviços como salão de beleza, brechó, costura, alimentação e etc.
Caminho Aberto Seria Semelhante ao box do Mercado Público de Florianópolis, que o Fórum Municipal de Economia Solidária ganhou? Leila Andresia Severo Martins Sim, é semelhante. Só que o box é bem pequeno em relação ao Cepesi. Em Itajaí tem auditório, espaço para reuniões, é um prédio mesmo. Em Florianópolis é uma loja, espaço de comércio de alguns produtos. Ele surgiu de uma parceria entre a Superintendência Regional de Trabalho e Emprego e a Prefeitura de Florianópolis por meio do IGEOF (Instituto de Geração de Oportunidades de Florianópolis). O IGEOF conheceu o trabalho da Economia Solidária e assim formou-se essa parceria para ceder por um tempo esse box até os empreendimentos do fórum se constituírem juridicamente. Depois veremos o que será feito, por enquanto a cessão é por um período de seis meses. O grupo está pensando em se formalizar, constituir uma associação dos empreendimentos que compõem o fórum.
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Caminho Aberto Os Fóruns são as vias oficiais do movimento, então? Leila Andresia Severo Martins O Fórum é um espaço de organização do movimento da Economia Solidária. Tem os municipais, regionais, estaduais e nacionais. Há um outro caminho de organização que aí sim é a via oficial do Estado, que é por meio da Superintendência do Trabalho e Emprego. Essa prática ainda é complicada. Onde há pessoas, há conflito. Se o grupo decide mesmo sabendo que é diferente da tua forma de pensar, mas a decisão é soberana, isso é um exercício educativo. E mesmo se vai dar errado, tem que deixar, para que aprendam com os erros. Respeitar o coletivo não é tarefa fácil. Caminho Aberto Tem um projeto tramitando na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), de autoria da deputada Luciane Carminatti, que é a presidente da Frente Parlamentar de Economia Solidária, que institui a Política de Fomento à Economia Solidária no Estado. Qual a expectativa do Fórum para a aprovação dessa lei? Leila Andresia Severo Martins A expectativa é dar continuidade na tramitação, inclusive temos algumas ações já previstas para o período posterior às eleições. A ideia é que isso possa fortalecer o movimento da Economia Solidária, especialmente em nível estadual. O cenário atual é de quem divide um conselho estadual junto com o segmento do artesanato, que embora nós tenhamos alguns pontos de aproximação, nós também temos especificidades. Então a ideia de ter uma lei específica e assim pleitear outras conquistas junto ao Estado como um todo. Em especial às áreas de investimento, busca e estabilização de políticas públicas, enfim, compor um marco legal para poder trilhar um caminho de acordo com as nossas diretrizes. Ainda tem alguns pontos de conflito, mas é uma luta que tem que ser traçada. Por que é a forma de conseguirmos avançar nesse sentido de colaboração econômica e temos uma comunidade que precisa de muito apoio nesse sentido. Caminho Aberto Como os empreendimentos de Economia Solidária recebem as questões de modernização de sua relação comercial? Geralmente são resistentes às tecnologias, a expandir os seus negócios? Anderson Giovani Silva Não, de maneira nenhuma. Inclusive uma outra área de prestação de serviço é a área da informática e de tecnologias de maneira geral (startups). Os grupos de empreendimentos recebem bem. Nos processos e oficinas de capacitação sempre há essa perspectiva, inclusive por solicitação dos próprios produtores. Alguns já com um pouco mais de manejo com os aparelhos, mas mesmo aqueles que não têm muito acesso são abertos a buscar esse conhecimento, o que é uma característica da própria Economia Solidária, que une pessoas que estão abertas à construção. A nossa cultura tradicional é desse sistema capitalista que nós vivemos, com uma relação de trabalho hierárquica onde o patrão manda e o empregado obedece, é a lógica do capital que prevalece. E essa outra lógica que nós buscamos vem como algo novo, então tudo tem que ser aprendido, inclusive quanto ao uso da tecnologia. Caminho Aberto Isso não pode gerar um choque com as diretrizes, uma vez que o empreendimento pode colocar uma loja virtual e com isso aumentar o número de pedidos e assim aumentando a procura, e gerando um lucro excessivo? Leila Andresia Severo Martins A lógica é de que sempre haverá o coletivo. Se no entendimento do grupo ele consegue a partir de uma loja virtual crescer, dentro da ideia da Economia Solidária ele vai trazer outros empreendimentos com ele. Não posso te garantir que isso vai acontecer 100%, mas essa é a ideia, de crescer junto com outras pessoas. Como na economia solidária há esse respeito à coletividade, sabemos que quem chega não é um indivíduo sozinho. Mesmo no artesanato, por exemplo, a pessoa produz porque é a especificidade do segmento, é um momento de criação, seja do bordado, da cerâmica e etc, e está mais contida em si mesmo. Mas o processo de organização e comercialização é um processo coletivo. Nesse sentido o pensamento deixa de ser individual para ser compartilhado. Novamente é um processo de aprendizagem, pois nós aprendemos outra coisa desde pequenos. O conceito, então, é passar por um processo de desconstrução para posterior construção, e por vezes vamos enfrentar situações de conflito. E a lógica é que esses conflitos sejam decididos em grupo.
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IFSC promove feira de economia solidária durante seus eventos institucionais, como SEPEI
Caminho Aberto Vê-se normalmente a Economia Solidária ligada às mulheres, inclusive no IFSC há programas específicos de geração de emprego e renda (Mulheres Sim e Mulheres Mil). Por que isso? Leila Andresia Severo Martins Vejo que essa é uma percepção mais local, na região do Litoral Catarinense. Acompanho dois fóruns regionais mais de perto (Itajaí e Florianópolis) e neles eu vejo mais mulheres mesmo. Mas se pegar os dados da economia solidária no país, a maioria são homens. Existe uma distribuição diferente entre as regiões. Aqui é mais a perspectiva da mulher porque ela vem em muitas vezes numa ideia de complementação de renda ou emancipação. Ela é casada, não estudou, sempre cuidou da casa, dos filhos, do marido, e chega uma hora da vida em que ela aprendeu a fazer alguma coisa (manual) e isso gera uma renda extra. Caminho Aberto Nesse contexto esses programas que o IFSC executa são ferramentas importantes nesse trabalho? Leila Andresia Severo Martins Sem dúvida. O processo educativo na Economia Solidária não se resume à gestão do empreendimento, e nós o chamamos assim porque ele tem essas características diferentes de uma empresa. E ele é mais longo porque tem um aspecto pessoal, social, cultural que a pessoa vai adquirindo. E a mulher já carrega um histórico de luta pelos seus direitos. E nesse aspecto de busca pela cidadania e pela emancipação acaba se aproximando mais dos conceitos e diretrizes da Economia Solidária. Caminho Aberto Em muitas universidades há a presença das ITCP (Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares). Você vê a presença das entidades como um caminho para aproximação da academia com a Economia Solidária? Leila Andresia Severo Martins As ITCPs surgem e trabalham como programas ou projetos de extensão de universidades ou editais externos, e a ideia é ser articulação do tripé ensino, pesquisa e extensão. Nesse sentido o propósito da incubadora é justamente o processo de incubar, acompanhar e assessorar os empreendimentos que veem nessa perspectiva coletiva uma possibilidade de enfrentamento para a crise das relações de trabalho. Aqui no Brasil essa crise cresceu no final da década de 90, quando o contexto era justamente o de globalização, demissões em massa, e teve como resultado um processo grande de quebra de relações de trabalho, onde houve uma inclinação a trabalhos temporários, informais, e nesse cenário é que surge a economia solidária. As ITCPs ajudam na autogestão, principalmente na formação, e no apoio em questões básicas como qualificar o produto para venda, fazer a gestão jurídica, contábil, financeira, precificar o produto. Além disso, colocar esse empreendimento em rede com os outros, para incentivar não só o comércio, como também, o consumo solidário.
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Caminho Aberto Geralmente se vê a Economia Solidária pelo viés do produtor ou prestador de serviço. Como é essa relação com o consumidor? Anderson Giovani Silva A Economia Solidária, para se concretizar, precisa fechar esse ciclo, que vai desde o produtor ao consumidor. Uma de suas diretrizes é estimular também o consumo solidário, a comprar daquele que compactua com essa ideologia. É assustador o número e o efeito dos agrotóxicos, para ficarmos só no exemplo da agricultura, e é algo que as pessoas muitas vezes não se dão conta do quanto isso é avassalador e isso fica na água, fica na terra e prejudica as próximas colheitas. E você fazendo uso desses alimentos está fomentando aquele tipo de produção. Então a Economia Solidária procura o esclarecimento até chegar na conscientização de que aquele produto não deve ser comprado, e sim um que seja produzido de forma saudável e sustentável para alimentar esse mercado consumidor. Está tudo muito junto, tanto o lado do vendedor quanto do comprador. Caminho Aberto E fica difícil entrar nesse mercado? Leila Andresia Severo Martins Sim, pois são grandes grupos corporativos. São empresas que tem um poder aquisitivo muito grande. Essa lógica da Economia Solidária tem no seu bojo tentar romper com essa ideia. Claro que ainda é uma sementinha, mas não pode dizer que deve ser ignorada ou que não tem nada sendo feito. No último levantamento feito foi verificado que só em Santa Catarina já são mais de 20 mil empreendimentos econômicos solidários. Além disso, há também os empreendimentos de compras coletivas. Eles são grupos que se organizam para buscar produtos orgânicos, saudáveis, que estão longe e assim conseguem um melhor preço. Caminho Aberto E qual a principal dificuldade da autogestão dos empreendimentos? Leila Andresia Severo Martins No meu entendimento é romper com o jeito de pensar capitalista. É preciso desconstruir esse modo e construir um novo. Só que a gente não sabe muito bem como que ele é, como isso acontece. Sabemos enquanto discurso, mas na prática das relações entre as pessoas isso ainda é um confronto, pois estamos acostumados a que alguém diga o que vamos fazer, e o jeito que vamos fazer, nem que seja um agente invisível, como o mercado. A nossa vida passa por isso, nós elegemos um representante e ele vai fazendo as coisas do jeito que ele pensa, nós delegamos a ele e deixamos assim, essa é a tônica no Brasil. Romper com isso e assumir com as próprias mãos, avaliar os erros, os acertos e os caminhos que se quer buscar é um enfrentamento e uma resistência. Caminho Aberto A resistência é uma visão muito anticapitalista? Leila Andresia Severo Martins Do grupo que eu conheço a dificuldade maior é em responder a pergunta “como nós vamos fazer diferente? ”. É difícil enfrentar o mercado, pois a sociedade é a mesma, a clientela é a mesma. Então como que colocamos esse produto no mercado, competindo com os outros e com o nosso jeito. Inclusive faz parte do processo de construir o consumo solidário. Eu sei que dentro de uma feira orgânica eu estou lidando e ajudando grupos familiares que trabalham numa ideia mais saudável que outros. Se eu opto por um pano de prato de artesanato da feira e não de um mercado regular eu sei que ajudo a sustentar pessoas que vivem diretamente daquele material, eu sei que ele foi produzido respeitando o meio ambiente, reaproveitando materiais e com relações de trabalho mais justas. Caminho Aberto Quem se interessa pelo tema e gostaria de iniciar nessa ideia da Economia Solidária, o que deve fazer? Leila Andresia Severo Martins Comece a frequentar as feiras, conheça as pessoas que a compõem, vendo os produtos ou serviços que são oferecidos. Para o produtor ou prestador de serviço, o ideal é recorrer aos fóruns. Ali ele sendo recebido é encaminhado para o que for mais acessível. Podem formar empreendimentos as pessoas que estão dispostas a formar grupos de interesses semelhantes. As pessoas são bem receptivas, pois um dos princípios da Economia Solidária é a inclusão social e produtiva. Tudo vinculado à base que é a valorização da pessoa. O trabalhador em primeiro lugar. E aí ele faz as formações para compreender de fato e se é aquilo mesmo que ele quer.
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Caminho Aberto Há papéis e funções pré-estabelecidos? Leila Andresia Severo Martins Sim, há diretoria constituída. E muitas vezes elas agem como patrões e isso é um elemento de construção. Mas não hierarquia, o peso do voto de cada um é igual e as decisões são tomadas em assembleia. Aqueles que são incubados nas ITCP nós temos a liberdade de sugerir modificações quando vemos que as diretrizes não estão sendo seguidas. E há aquelas que nós fazemos assessorias pontuais. Caminho Aberto Os entes públicos entram em qual contexto nessa relação? Leila Andresia Severo Martins Seria na cessão de espaços públicos para as reuniões ou ao fomento de políticas públicas, promovendo um espaço de entreajuda entre os segmentos.
Entrevistador: Rafael Xavier dos Passos
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Artigo Educação financeira para crianças: relato de experiência de um projeto de extensão Adriana Stefanello Somavilla1 - adriana.soma@ifpr.edu.br Crisiane Rezende Vilela de Oliveira2 - crisiane.oliveira@ifpr.edu.br Cristina Miho Takahashi Ikuta3 - miho.ikuta@gmail.com Isis Moura Tavares4 - isis.tavares@ifpr.edu.br RESUMO Esse artigo destaca as ações do Projeto de Extensão Educação Financeira para Crianças, resultantes da parceria entre o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e a Escola Municipal Eny Caldeira, realizada em 2014, na cidade de Curitiba/PR. A formação financeira promovida no ambiente escolar é uma das estratégias para que o aluno se torne agente de seu próprio desenvolvimento. Nessa direção, foram realizadas oficinas pedagógicas e multidisciplinares enfatizando o conceito de educação financeira. Foram desenvolvidas atividades com base nas vertentes informação e formação da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Nesse rumo, o objetivo do projeto foi influenciar a comunidade escolar para que a educação financeira esteja inserida no ensino fundamental, pois sua abordagem colabora para que as crianças sejam mais críticas, proativas e autônomas em relação às finanças. PALAVRAS-CHAVE Educação Financeira. Ensino Fundamental. Extensão. Oficinas Pedagógicas 1 Aluna regular do Programa de Pós-graduação em Ensino (PPGEn) – Nível Mestrado na Unioeste/Foz do Iguaçu, professora de Matemática do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFPR/Foz do Iguaçu e integrante do NEPECS/IFG. 2 Aluna regular do Programa de Pós-graduação em Métodos Numéricos e Engenharia - Nível Doutorado na UFPR/Curitiba e professora de Matemática do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFPR/Curitiba e integrante do GTAO/UFPR. 3 Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Administração pela PUC/PR e acadêmica do Curso Superior em Ciências Contábeis – Bacharelado no IFPR/Curitiba. 4 Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Tecnologia pela UTFPR/PR e professora de Artes do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFPR/Curitiba.
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ABSTRACT This article highlights the actions of the Extension Project called Financial Education for Children, resulting from the partnership between the Federal Institute of Paraná (IFPR) and the City School Eny Caldeira, held in 2014, in the city of Curitiba/PR. The Financial training provided in the school environment is one of the strategies for the student to become agent their own development. In this sense, educational workshops and multidisciplinary were held emphasizing the concept of Financial Education. Activities were developed based on information and training aspects the Organization for Economic Cooperation and Development. In this way, the project objective was to influence the school community for what the financial education is inserted in elementary school, because its approach contributes to children are more critical, proactive and autonomous in relation the finances. KEYWORDS Financial Education. Elementary School. Extension. Pedagogical Workshops.
1 Introdução A disciplina de educação financeira está inclusa na maioria dos currículos escolares nos países desenvolvidos. No Brasil, apesar de ser um tema de relevância social-econômica, a educação financeira ainda não é contemplada no projeto político-pedagógico da maioria das escolas públicas. A ausência de uma formação financeira no ambiente escolar é tão preocupante quanto a situação de desconhecimento sobre tal assunto pela maioria dos cidadãos brasileiros. No artigo “Os paradigmas da educação financeira do Brasil”, os autores Savoia, Saito e Santana (2007) afirmam que o Brasil está num estágio de desenvolvimento inferior aos Estados Unidos e Reino Unido quanto à promoção da educação financeira. Os autores indicam três aspectos que diferenciam os países citados e o Brasil: a compreensão dos fatores históricos, culturais e a responsabilidade das instituições no processo da educação financeira. Embora a formação financeira dos indivíduos devesse vir de casa e ter sua complementação na escola, as instituições de ensino devem promover a formação integral da criança, inclusive no que diz respeito à educação financeira. Além disso, a criança pode ser o elo inicial entre a escolafamília e escola-comunidade no que se refere às finanças pessoais, pois a educação financeira transcende o espaço escolar, e tende a criar uma cultura de autonomia e criticidade quanto à gestão financeira da própria família e vizinhança. Nesse sentido, a abordagem do tema educação financeira nas escolas, desde o ensino infantil, além de ser uma das recomendações da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), é essencial para a construção da autonomia do aluno no que se refere às finanças. Pode-se dizer que com a instituição da Estratégia Nacional de Educação Financeira (ENEF)5, as instituições de ensino foram incentivadas a inserir o assunto no cotidiano dos alunos. Dessa forma, estabeleceu-se a parceria entre o Instituto Federal do Paraná (IFPR) e a Escola Municipal Eny Caldeira, localizados na cidade de Curitiba/PR, sendo proposto o Projeto de Extensão Educação Financeira para Crianças. Participaram 75 alunos do 5º ano do ensino fundamental dessa escola, e os encontros aconteceram quinzenalmente, às terças-feiras à tarde, no período de agosto a dezembro de 2014. A equipe do Instituto Federal do Paraná (IFPR) ficou responsável pela coordenação do projeto em questão, e foi composta por quatro docentes, uma psicóloga e 11 alunos, sendo 10 alunos do ensino técnico integrado e uma acadêmica do Curso Superior de Ciências Contábeis. Já na escola, o projeto teve a colaboração da direção, da equipe pedagógica e das professoras regentes das duas turmas. Nessa perspectiva, por meio de uma abordagem multidisciplinar e lúdica, o conceito de educação financeira teve como base as duas vertentes especificadas pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico: informação e formação. 5 O site oficial da ENEF é o portal Vida e Dinheiro, disponível em <http://www.vidaedinheiro.gov.br>. Acesso em: 21 maio 2014.
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Os colaboradores do projeto foram mediadores na proposta das oficinas pedagógicas denominadas: Escravos do dinheiro: trabalhando aspectos psicológicos do consumo, Uma conversa sobre sustentabilidade, Oficina com garrafas PET: Construção de cofrinhos, Educação para a vida financeira, Leitura e interpretação sobre finanças/Gibi de Super Heróis, Ficar doente custa caro, Sessão pipoca com filmes referentes à educação financeira infantil e Peça de teatro: Grupo Contraindicados. Assim, esse artigo destaca as ações do projeto em tela, propondo-se a divulgar as oficinas desenvolvidas, as observações feitas pelo grupo de extensionistas, bem como as suas contribuições durante o processo de aprendizagem financeira dos alunos nos encontros. Além disso, o projeto pretende salientar a importância da inserção do assunto educação financeira no ensino fundamental, e de que forma o tema pode colaborar para que as crianças sejam mais críticas, proativas e autônomas em relação às finanças.
2 Considerações sobre a educação financeira no contexto atual A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional composta por 34 países que promove políticas públicas voltadas para o desenvolvimento econômico e o bem estar social ao redor do mundo. Quanto à educação financeira, sua recomendação é para que o tema comece a ser abordado o mais cedo possível, e considera, em especial, o aspecto comportamental das crianças. Nesse sentido, seguindo a orientação da OCDE sobre a inserção da educação financeira nas escolas, pelo Decreto nº 7.397 de 22 de dezembro de 2010, foi instituída a Estratégia Nacional de Educação Finaneira (ENEF) com a finalidade de promover a educação financeira e previdenciária e contribuir para o fortalecimento da cidadania, assim como a eficiência e solidez do sistema financeiro nacional, além da tomada de decisões conscientes por parte dos consumidores. No Brasil, no documento de orientação para Educação Financeira nas escolas, proposto pela ENEF, constam as orientações pedagógicas relativas à Educação Financeira e currículo, informação e formação, e materiais didáticos. Esse documento aponta a Educação Financeira como a articuladora entre as áreas do conhecimento, e sugere ainda que o assunto seja introduzido na escola como um tema que transite entre as diversas áreas. Essa posição se confirma, porque a Educação Financeira atende aos seguintes quesitos: - seu desconhecimento pode comprometer a qualidade de vida das pessoas e impedir o exercício pleno da cidadania; - sua abrangência afeta e demanda e a implicação de todas as esferas governamentais do país; - seu estudo permite o desenvolvimento da capacidade de posicionar-se diante das questões que interferem na vida coletiva e, assim, abre a possibilidade de se superar a indiferença e de intervir nos rumos da nação de forma responsável. (ENEF, 2010, p. 80)
Nessa direção, o programa de governo federal instituiu o projeto piloto em 891 escolas públicas de ensino médio no Brasil (São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Tocantins e Distrito Federal) entre agosto de 2010 e dezembro de 2011, abrangendo aproximadamente 27 mil estudantes e 1,2 mil professores. Nesse programa, a educação financeira foi tratada como um tema transversal no currículo escolar dos jovens, sendo abordada em 72 situações didáticas nas aulas de português, matemática, história, ciências, geografia, entre outras. Foi feita uma avaliação antes e depois da aplicação dos materiais, sendo aplicados questionários aos alunos, aos professores e aos pais ou responsáveis. Para os alunos, os instrumentos foram desenvolvidos para fornecer medidas sobre: educação financeira, autonomia financeira e intenção de poupar. Segundo o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), também conhecido como Banco Mundial, os resultados desse projeto piloto foram positivos (Fig. 1), pois os alunos que participaram dele lidaram melhor com o uso do dinheiro para compras ou poupança, em comparação aos estudantes que não tiveram acesso à iniciativa.
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Figura 1: Resultados da Estratégia Nacional de Educação Financeira. Fonte: Site Educar para Investir.6
No que se refere à educação financeira infantil, D’Aquino (2008) diz que é importante que as crianças saibam o valor do dinheiro em relação ao trabalho, e que o consumo deve vir após as necessidades básicas. Para a autora, as famílias desejam ter cada vez mais dinheiro, mas dificilmente elas se propõem a ensinar seus filhos como tratá-lo corretamente, e por consequência, não há educação financeira; não se aprende como ganhar, poupar, gastar ou doar dinheiro. Já no que se refere ao modelo financeiro de uma criança, Eker (2006) afirma que se constitui essencialmente da informação que a pessoa recebeu no passado, sobretudo quando era criança. Sabemos que algumas sociedades têm formas próprias de pensar sobre o dinheiro e de lidar com ele, enquanto outras fazem isso de um modo diferente. Você acredita que a criança sai do ventre da mãe com as atitudes formadas em relação ao dinheiro ou que ela é ensinada a lidar com ele? Acertou: Toda criança é ensinada a pensar e agir no que diz respeito às finanças, (EKER, 2006, p. 25).
O Documento de Orientações para Educação Financeira nas Escolas7 (Plano Diretor da ENEF, 2010), afirma que a Educação Financeira prepara as futuras gerações para desenvolver nelas as competências e habilidades necessárias para lidar com as decisões financeiras tomadas ao longo de suas vidas. Esse documento orienta as escolas a trabalharem conectando-se, de forma interdisciplinar, às dimensões espacial e temporal (Fig.2). O cotidiano se passa sempre em espaço e tempo determinados. Estando a Educação Financeira comprometida com esse cotidiano, sugere-se que seja estudada nas dimensões espacial e temporal. Na dimensão espacial, os conceitos da educação financeira se pautam no impacto das ações individuais sobre o contexto social, ou seja, das partes com o todo e vice-versa [...]. Na dimensão temporal, os espaços são atravessados por essa dimensão que conecta passado, presente e futuro numa cadeia de inter-relacionamentos que permitirá perceber o presente não somente como fruto de decisões tomadas no passado, mas também como o tempo em que se tomam certas iniciativas cujas consequências e resultados – positivos e negativos – serão colhidos no futuro, (ENEF, 2010, p. 58).
6 Portal Educar para Investir – Educação Financeira. Disponível em: <http://www.educarparainvestir.com.br/2015/02/estrategianacional-educacao-financeira-enef-educarparainvestir.html> Acesso em: 10 março 2015. 7 O Documento de Orientações para Educação Financeira nas Escolas se encontra no portal Vida e Dinheiro, disponível em <http:// www.vidaedinheiro.gov.br/docs/PlanoDiretorENEF1.pdf> Acesso em: 21 maio 2014.
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Figura 2: Dimensões espacial e temporal da educação financeira. Fonte: Site Vida e Dinheiro.8
Esse documento identifica o conceito de educação financeira como processo a ser desenvolvido por meio de três vertentes: informação, formação e orientação. Nas escolas, são trabalhadas duas delas: informação e formação, pois as ações relativas à vertente orientação referem-se especificamente ao público adulto. A vertente informação é definida como o provimento de fatos e dados, e os conhecimentos específicos para tornar as pessoas atentas a oportunidades e escolhas financeiras, bem como às suas consequências. A vertente formação, por sua vez, refere-se ao desenvolvimento dos valores e das competências necessários para entender termos e conceitos financeiros, por meio de ações educativas que preparem as pessoas para empreender projetos individuais e sociais (ENEF, 2010, p. 81). Dessa forma, as vertentes associadas com os estudos da OCDE (2005) confirmam que tanto professores quanto alunos preferem trabalhar com situações que os envolvam em decisões da vida real (ENEF, 2010, p. 82). Por fim, dentre algumas iniciativas no campo educacional quanto à inserção do tema educação financeira, destaca-se a 1ª Semana Nacional de Educação Financeira, que ocorreu em maio de 2014. Foram incluídas palestras, seminários, distribuição de cartilhas, teatros, narração de histórias, entre outros. Essa ação teve como objetivo a promoção de práticas conscientes e inteligentes para o bom uso do dinheiro. E ainda, essa união é considerada inédita em nível mundial, envolvendo 12 entidades públicas e privadas: ministérios da Educação, Fazenda, Justiça e Previdência Social, Banco Central, Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Superintendência de Seguros Privados, Superintendência Nacional de Previdência Complementar, Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais, BMF-Bovespa, Confederação Nacional das Empresas de Seguros e Federação Brasileira de Bancos. Essas iniciativas contribuem significativamente para a formação financeira dos indivíduos, porém a escola ainda é o melhor espaço para mediação no processo de educação financeira dos cidadãos.
3 Metodologia e resultados observados Na primeira etapa do projeto de extensão, foi feita a visitação à Escola Municipal Eny Caldeira, no bairro Tingui, em Curitiba/PR. Após a concordância da escola em participar do projeto, ocorreram alguns encontros no período de março a julho de 2014, entre a equipe do Instituto Federal do Paraná (IFPR), a coordenação pedagógica, e as duas professoras regentes das turmas participantes do programa. A escola estabeleceu as turmas, o período e o dia da semana para o desenvolvimento das atividades extensionistas. 8 Disponível em <http://www.vidaedinheiro.gov.br/docs/PlanoDiretorENEF1.pdf>. Acesso em: 21 maio 2014.
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Assim, os encontros ocorreram a cada 15 dias, nas terças-feiras à tarde, com duração de duas horas para cada turma do 5º ano do ensino fundamental. Além disso, ficou decidido que as oficinas pedagógicas seriam articuladas com as disciplinas dessas turmas, na medida do possível, ou seja, na semana posterior a cada encontro, as turmas fariam atividades relativas ao assunto específico de cada oficina já trabalhada, de forma que se promovesse a integração entre o tema educação financeira com as atividades escritas, artísticas, cálculos matemáticos, entre outras. Nessa direção, as oficinas pedagógicas tiveram uma abordagem lúdica e multidisciplinar, sendo mediadas por colaboradores do IFPR - Campus de Curitiba/PR, conforme suas aptidões e competências. Nesse aspecto, destaca-se a colaboração e a presença das professoras regentes em todas as oficinas, o que contribuiu para criar uma relação de respeito mútuo, cooperação e reciprocidade entre alunos – professoras – extensionistas, formando-se um ambiente propício para o desenvolvimento da autonomia dos alunos. Para o autor Shefani (2005), a construção da autonomia faz parte de um processo constante, que começa na escola e acompanha o aluno na sua vida. Cada indivíduo participante do processo de formação do ser humano tem uma parte de responsabilidade nesse processo de mudança pela qual a educação passa. E a Educação Financeira vem ser um elo entre várias áreas do conhecimento, no sentido de fazer com que trabalhem juntas e formem na epistemologia do aluno conceitos capazes de instrumentalizá-lo para a construção de sua autonomia. (STHEPANI, 2005, p.12)
Já o conceito de educação financeira foi contextualizado com base nas vertentes informação e formação, e norteadas pelas dimensões espacial e temporal. A primeira relaciona os impactos das ações individuais com o contexto social e vice-versa, e compreende os níveis individual, local, regional, nacional e global. E na segunda dimensão, o conceito se propõe a mostrar que decisões financeiras tomadas no presente – positivas ou negativas - serão vivenciadas no futuro. Nesse sentido, a equipe considerou importante iniciar as atividades do projeto abordando alguns aspectos psicológicos envolvidos nas questões do consumo. Abordaram-se os efeitos diretos da publicidade no comportamento das crianças, uma vez que nessa faixa etária, se não houver uma orientação financeira adequada, pode haver a confusão entre desejos e necessidades. Nesse contexto, a oficina Escravos do dinheiro: trabalhando aspectos psicológicos do consumo (Fig. 3) foi conduzida em consonância com o Código de defesa do Consumidor - Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990 – como enuncia o art. 37 sobre a publicidade: Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva. § 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. § 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança (BRASIL, 1990).
Figura 3: Alunos do ensino fundamental em atividades. Fonte: Acervo particular dos autores
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Na continuidade das oficinas do projeto, os alunos analisaram situações do seu dia-a-dia quanto ao consumo consciente e a necessidade de reduzir, reutilizar e reciclar (Fig. 4). Nesse rumo, estando os temas educação financeira e sustentabilidade diretamente relacionados entre si, foram construídos cofrinhos com garrafas PET e outros materiais recicláveis trazidos de casa pelas crianças (Fig. 5). Nessas duas primeiras oficinas foi percebido que as crianças não são tão influenciadas pela publicidade quanto a maioria dos adultos julgam, e que as crianças já entendem a diferença entre desejos e necessidades. De cada turma, observou-se que em torno de 15% dos alunos se mostraram mais favoráveis ao consumismo e com certa resistência quanto às práticas que visem à sustentabilidade.
Figura 4: Uma conversa sobre sustentabilidade. Fonte: Acervo particular dos autores
Figura 5: Oficina com garrafas PET/Construção de cofrinhos. Fonte: Acervo particular dos autores
Na sequência do projeto, optou-se por utilizar a ludicidade no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, pois ao interagirem uns com os outros, desempenham papéis sociais (pai, mãe, irmãos e amigos), desenvolvendo a imaginação, a criatividade, a capacidade motora e o raciocínio lógico. Com essas atividades artísticas, além da sociabilização, alunos e professores puderam brincar de diferentes personagens, o que facilitou a abordagem de temas delicados, como a questão das finanças pessoais. Nessa perspectiva, Feijo (1992) destaca os benefícios da ludicidade no desenvolvimento da criança:
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Através do lúdico e de sua história são recuperados os modos e costumes das civilizações. As possibilidades que ele oferece à criança são enormes: é capaz de revelar as contradições existentes entre a perspectiva adulta e a infantil quando da interpretação do brinquedo; travar contato com desafios, buscar saciar a curiosidade de tudo, conhecer; representar as práticas sociais, liberar riqueza do imaginário infantil; enfrentar e superar barreiras e condicionamentos, ofertar a criação, imaginação e fantasia, desenvolvimento afetivo e cognitivo (FEIJO, 1992, p.185).
Com essa intenção, o Grupo Contraindicados fez uma adaptação teatral da coleção de livros: O Menino e o Dinheiro, do autor Reinaldo Domingos (Fig. 6).
Figura 6: Peça de teatro: poupou, poupou, poupou Grupo Contraindicados/IFPR. Fonte: Acervo particular dos autores
Na apresentação, as turmas foram separadas para que houvesse uma possibilidade de diálogo durante e após a peça de teatro. Depois de considerações sobre situações que acontecem na escola, na família e na comunidade relativas a posturas inadequadas quanto ao uso do dinheiro, por parte dos alunos, no encerramento da oficina, foi feita a doação da coleção de livros que inspirou essa encenação para a biblioteca da escola Eny Caldeira, como uma forma de incentivar a leitura dos alunos sobre educação financeira. Para o autor Domingos (2008), o “modo como administramos nossos recursos ao longo da nossa vida é determinado pelos ensinamentos que recebemos”. Nesse contexto, segundo os dados da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, houve crescimento de 7,5% do número médio de famílias endividadas, com a média percentual de endividamento anual de 62,5% do total das famílias brasileiras. A mesma pesquisa mostra, ainda, que a média anual de percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso, e do percentual sem condições de pagar seus débitos foi de 21,2% e 6,9% do total de famílias respectivamente (CNC, 2014). O autor Reinaldo Domingos aponta ainda em seu portal da internet9, o real problema das dificuldades financeiras e do endividamento da população: O real problema está na falta de educação financeira, a qual infelizmente nossa população sofre em todo o processo educacional. Como matemática, português, história, entre outras, as finanças também são fundamentais para o nosso desenvolvimento educacional e intelectual, entretanto, diferente das citadas, essa matéria não consta no currículo escolar da maioria das escolas, nem mesmo no ensino superior.
Buscando colaborar nesse sentido, na oficina Educação para a vida financeira, os alunos realizaram a simulação de uma planilha financeira, utilizando duas áreas principais: receitas e despesas. Foram feitas simulações com situações do dia-a-dia dos alunos, trabalhando as contas fixas e variáveis que trouxeram de casa: prestação da casa própria ou aluguel, luz, água, telefone, supermercado, açougue, entre outros. Tal planilha salientou a necessidade do equilíbrio nos gastos, destacando a questão do endividamento da população, de uma forma geral. Nessa oficina, foi abordada também a questão da empregabilidade, no sentido de que quanto mais a pessoa estuda melhores as possibilidades de emprego, e por consequência, uma maior qualidade quanto às finanças pessoais. 9 Disponível em: <http://www.reinaldodomingos.com.br/artigos-sobre-educacao-financeira/so-a-educacao-financeira-podemudar-a-realidade-de-endividamento>. Acesso em: 24 jul 2015.
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Na etapa seguinte do projeto, a oficina Ficar doente custa caro, iniciou com uma coleta de dados pelos próprios alunos, na família e na comunidade. Foi solicitado que eles anotassem numa planilha os remédios de uso contínuo que as pessoas usavam, o porquê do uso do medicamento e o preço. Eles tiveram um prazo de 15 dias para realizar a pesquisa. A partir dos dados trazidos pelas crianças foi constatado que para comprar os remédios, os gastos anteriormente planejados já não eram suficientes. Assim, perceberam que se tivessem bons hábitos, os benefícios futuros seriam tanto para a saúde quanto para as finanças individuais. Foi abordada também a questão da prevenção ao uso do tabaco, principalmente porque seu uso contínuo pode provocar hipertensão, câncer, problemas pulmonares, entre outros. Foi feito, ainda, um comparativo de como o hábito de fumar pode afetar as finanças dessa pessoa. Por exemplo, se ela fuma há 15 anos, quanto ela pouparia se não gastasse aquele valor todos os dias? O que poderia ser feito com aquele dinheiro? Na sequência, foi proposta a oficina Leitura e interpretação sobre finanças/Gibi de Super Heróis. Primeiramente foi utilizada a revista digital, criada pela Marvel Comics, chamada Os vingadores: Salvando o dia, sendo abordados os conceitos básicos de economia em meio à guerra entre heróis e vilões (Fig.7). Após a leitura e comentários sobre o Gibi, os alunos fizeram atividades de escrita e interpretação, relacionando com situações e práticas financeiras de seu cotidiano.
Figura 7: Gibi – Os vingadores: Salvando o dia. Fonte: Site Finanças Práticas.10
Os benefícios da história em quadrinhos para a educação já são reconhecidos, e inclusive, incentivados pelos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), que recomendam a história em quadrinhos como um gênero adequado para o trabalho com a linguagem escrita. Um dos objetivos gerais indicados para o Ensino Fundamental: Utilizar as diferentes linguagens – verbal, matemática, gráfica, plástica e corporal – como meio para produzir, expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das produções culturais, em contextos públicos e privados, atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação (BRASIL, 1997, p. 69).
O autor Flavio Calazans (2004) concorda com o uso das histórias em quadrinhos em sala de aula, citando o resultado de uma pesquisa: Segundo um artigo de Serpa e Alencar sobre HQ em sala de aula, publicado em 1988, na revista Nova Escola, ficou confirmado, após uma pesquisa sobre hábitos de leitura dos alunos, que 100% deles (ou seja, todos os alunos) gostavam mais de ler quadrinhos do que qualquer outro tipo de publicação (CALAZANS, 2004, p. 10).
A oficina citada foi conduzida somente pelas professoras regentes de cada turma, e a projeção do gibi digital foi feito no laboratório de informática da escola. Nessa data foi promovida a inserção com naturalidade do tema educação financeira, pois envolveu toda a equipe escolar, uma vez que os extensionistas não compareceram à escola. Por fim, foram abordados no desenvolvimento das diversas oficinas os conceitos de como ganhar, poupar, reaproveitar, gastar com responsabilidade, entre outros. Nesse aspecto observou-se que as crianças reconhecem a diferença entre o certo e o errado quando o assunto é dinheiro. Nesse cenário, observou-se uma integração efetiva das atividades artísticas, de escrita, cálculos matemáticos, aspectos históricos, entre outros, com o tema educação financeira. 10
Disponível em <http://www.financaspraticas.com.br>. Acesso em: 08 abril 2014.
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4 Considerações finais Tendo em vista a formação integral do aluno, a parceria nesse projeto foi importante tanto para discentes quanto para os docentes das duas Instituições. Um dos benefícios dessa interação foi a aproximação dos conhecimentos científicos com as diversas realidades dos envolvidos. Além disso, segundo as Diretrizes de Extensão, há a necessidade do comprometimento da comunidade acadêmica com interesses da sociedade, o que possibilita um diálogo mais direto com a comunidade escolar. Destacam-se ainda alguns aspectos que colaboraram para que o projeto tivesse um melhor andamento: a coesão da equipe do IFPR, o apoio das direções de ensino e direção geral, uma vez que concederam os veículos de transporte (automóvel e ônibus) para levar os extensionistas à Escola Municipal Eny Caldeira, o espaço cedido no âmbito do IFPR para os ensaios da peça teatral, além da divulgação do projeto e oficinas no site do IFPR e nas redes sociais da Instituição. Já quanto à escola Eny Caldeira, destaca-se o envolvimento das docentes regentes e da supervisão pedagógica da escola, a qual possibilitou uma relação de entendimento e cortesia durante toda a realização do projeto. Da mesma forma, o ponto considerado como limitante foi a falta de apoio financeiro ao projeto em questão. Salienta-se ainda que a colaboração de todos os envolvidos foi voluntária, não tendo bolsas de extensão aos alunos envolvidos. Uma das consequências dessa restrição financeira foi a escolha da escola convidada para participar do projeto, que se deu por ser próxima à residência da coordenadora do projeto. Outra situação foi a impossibilidade de tirar cópias do Gibi trabalhado, para que as crianças pudessem levar para casa, ficando o acesso ao material somente no laboratório da escola. Por fim, a iniciativa desse projeto teve como proposta a inserção do tema educação financeira no ensino fundamental, mostrando sua relevância para a comunidade escolar. Além disso, oportunizou a sociabilização do conhecimento e contribuiu para a promoção da cidadania na escola. A abordagem do tema educação financeira colabora para a formação de um aluno-cidadão, mais crítico, proativo e autônomo em relação às finanças, pois bons hábitos obtidos nessa faixa etária são essenciais para que suas escolhas sejam adequadas a cada desafio do cotidiano.
5 Referências BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo. Rio de Janeiro: Ed Zahar. 2007. BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8078. htm>. Acesso em: 22 maio 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf>. Acesso em : 05 jun. 2014. CALAZANS, Flávio. Histórias em quadrinhos na escola. São Paulo: Paulus, 2004. CNC - Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo. Peic – Pesquisa Nacional de Endividamento e Inadimplência do Consumidor 2014. Disponível em: <http:// www.cnc.org.br/central-do-conhecimento/pesquisas/pesquisa-nacional-de- endividamento-einadimplencia-do-consumido-31>. Acesso em: 23 jun. 2014. D’AQUINO, C. Educação financeira: como educar seu filho. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. 180p. DOMINGOS, Reinaldo. Terapia Financeira. São Paulo, Nossa Cultura, 2008. DOMINGOS, Reinaldo. Só a educação financeira pode mudar a realidade do endividamento. Em: <http://www.reinaldodomingos.com.br/artigos-sobre-educacao-financeira/so-a-educacaofinanceira-pode-mudar-a-realidade-de-endividamento>. Acesso em: 24 jul. 2015.
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Artigo Empreendedorismo em uma associação de mulheres rurais: propostas de melhorias e desenvolvimento Janaina Ferreira M. de Melo1 - janainafmmelo@gmail.com Vorster Queiroga Alves2 - vorster.queiroga@gmail.com Alberto Gustavo P. Junior3 - alberto.paashaus@palmares.ifpe.edu.br RESUMO O trabalho foi realizado com uma associação constituída por 25 mulheres do campo que necessitavam de orientações para o aprimoramento da comercialização de hortaliças orgânicas por elas produzidas. O Projeto de Extensão Capacitação Profissional para Microempreendedores (CPMEI) orientou este público com o objetivo de elaborar um diagnóstico dos problemas principais e apresentar propostas de marketing, planejamento do negócio e oferecimento de consultorias. O principal problema detectado na associação foi a falta de um planejamento financeiro. A metodologia adotada foi uma pesquisa exploratória por meio de uma visita para realizar o planejamento das atividades, onde se discutiu um diagnóstico, usando a técnica de Brainstorming (troca de ideias), uma pesquisa de mercado para apresentação de um Plano de Marketing e o Planejamento Financeiro como solução para os problemas detectados. PALAVRAS-CHAVE Empreendedorismo. Planejamento. Melhorias do negócio. Associativismo. ABSTRACT The study was an association of 25 rural women who needed guidance to improve the marketing of organic vegetables produced by them. The Extension Project CPMEI guided the public in order to make a diagnosis of the main problems and presenting marketing proposals business
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Mestre em Engenharia de Produção e professora Adjunto I da UFCG
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Mestre em Administração e professor Adjunto I da UFCG
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Mestrando em Administração Pública e professor do IFPE - Palmares
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planning and consulting offering. The main problem detected association was the lack of financial planning The methodology was an exploratory research through a visit to carry out the planning of activities, where they discussed a diagnosis using the brainstorming technique (exchange of ideas) and research market for the submission of a Marketing Plan and Financial Planning as a solution to the problems identified. KEYWORDS Entrepreneurship. Planning. Business Improvements. Associativism.
1 Introdução No ano de 2015, o projeto de extensão Capacitação Profissional para Microempreendedores (CPMEI) teve como objetivo desenvolver atividades empreendedoras por meio de consultorias no intuito de contribuir no desempenho dos empreendimentos do público assistido, objetivo este cumprido com seus parceiros. Na visão de Bittencourt et al. (2015), o empreendedor social pode ser definido como o sujeito que utiliza o conhecimento prático para criação de novos serviços e/ou produtos autossustentáveis, com o enfoque voltado para resolver problemas sociais, identificando novos mercados e criando oportunidades. Para que o empreendedor social possa criar novos mercados e novas oportunidades de negócios é preciso que ele esteja preparado e alinhado com o que se espera de um perfil adequado para lidar com negócios e problemas sociais. A Associação de Mulheres Rurais das Várzeas de Sousa é constituída por 25 mulheres que desenvolvem atividades como preparo de doces, artesanato e auxílio na plantação de coco e de banana. A partir de 2014 começaram a desenvolver uma nova atividade: plantação de hortaliças orgânicas. A união de agricultores familiares em associações, sendo de produção, comercialização ou de serviços, estabelece-se em uma das maneiras mais oportunas de sustentação das pequenas organizações de produção, visto que facilita aos produtores ultrapassarem o obstáculo da indivisibilidade dos fatores principais de produção, além disso, facilita a assistência técnica almejada e melhora o posicionamento nos âmbitos modernos da agricultura (MUENCHEN, 1996 & BARBOSA, 1988 apud LAZZAROTTO, 2002). Em 2014, o projeto CPMEI realizou um levantamento sobre o perfil e as principais necessidades da associação, no intuito de orientar suas participantes por meio de capacitações. Em 2015 ficou de contribuir no acompanhamento e assessoria no que tange a gestão de produção e vendas das hortaliças. As agricultoras da associação receberam em 2015 doações de sementes, adubo e materiais para a produção das hortaliças, além da ajuda técnica gratuita de órgãos como o Pivas - Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa e a Emater - Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Paraíba. Foi doado um terreno pelo Instituto Federal da Paraíba (IFPB) para produção de hortaliças que está localizado na região das Várzeas de Sousa - PB, área de desenvolvimento de atividades agrícolas entre o município de Sousa - PB e municípios circunvizinhos como o de Aparecida - PB, representando a mais importante área de agricultura da microrregião de Sousa. As atividades da Associação para plantio e comercialização de hortaliças tiveram início em maio de 2015. Com base neste entendimento, o projeto de extensão objetivou elaborar um diagnóstico dos problemas principais e apresentar propostas de marketing, planejamento do negócio e oferecimento de consultorias para a Associação.
2 Metodologia Inicialmente foi realizada uma pesquisa exploratória através de uma visita com o objetivo de levantar de informações sobre o público assistido para realizar o planejamento das atividades. Tratando-se do modus operandi da equipe, após a visita foi realizada uma reunião no intuito de discutir as primeiras impressões sobre a associação e sugestões para melhorias na gestão, usando a técnica de Brainstorming.
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Segundo Boy (1997), o Brainstorming é uma técnica de recolha de informação muito utilizada na investigação em Ciências Sociais e Humanas com o objetivo de explorar novas ideias sobre um tema ou alternativas de solução para problemas das mais diversas índoles, sejam em organizações, empresas, negócios, etc. Esta técnica revela mais potencial na medida em que as interações no grupo fazem despolitizar mais ideias do que as obtidas individualmente. Assim, aplicou-se a técnica permitindo que toda equipe fornecesse uma “avalanche” de ideias para a solução do caso. Estas foram anotadas e, em seguida, discutidas, verificando a sua viabilidade e delegando-se funções aos membros da equipe para a realização de pesquisas de mercado e estudos mais profundos adaptados à realidade da associação. Para o alcance da viabilidade dessas sugestões, foram detectadas atividades de pesquisa divididas pela equipe, como se segue: (1) Licença para funcionamento de barraca nas feiras no município de Sousa-PB. (2) Preço para compra de uma barraca para a feira. (3) Valor das sacolas apropriadas para orgânicos. (4) Criação de nova logomarca. (5) Propostas de Marketing. (6) Preço de compra ou confecção de um reboque. (7) Estudo da viabilidade de aumento da mensalidade da associação. Após a divisão das equipes e pesquisa, traçou-se o Plano de Marketing e o Planejamento Financeiro como solução para os problemas detectados.
3 Resultados e discussão A visita na associação foi realizada em agosto de 2015 no próprio local onde foram plantadas as hortaliças. Além de conhecer o plantio, reuniram-se todos para uma conversa e troca de ideias. A principal dificuldade relatada pelas agricultoras, relacionadas ao plantio de hortaliças, é a falta de transporte para que as mesmas possam levar seus produtos para venda em feiras livres, mercados e realizar entregas de seus produtos diretamente aos clientes. Elas reclamaram dos preços dos atravessadores, que chegam impondo o seu preço bem abaixo do mercado. A Figura 1 apresenta o pessoal do projeto CPMEI e as mulheres da associação no dia da reunião no local de plantio das hortaliças.
Figura 1: Visita do projeto CPMEI na plantação de hortaliças da associação de mulheres. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
Percebeu-se também falta de divulgação para a comercialização das hortaliças orgânicas para o consumidor final e a necessidade de se informar aos clientes sobre a qualidade e vantagens do consumo de hortaliças orgânicas. As mulheres também reclamaram dos gastos extras que estavam precisando arcar, como foi o caso do gasto de R$ 70,00 com transporte para trazer para o lote o estrume doado pelo prefeito, em virtude da distância. Também citaram compras extras de materiais para o cultivo. A partir destas informações foram realizadas várias perguntas para se conhecer a gestão financeira da associação, além de outras perguntas voltadas para a produção e venda de hortaliças. Durante a visita, as mulheres mostraram com orgulho as hortaliças plantadas, como pode ser visto na Figura 2.
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Figura 2: Plantio das hortaliças da associação de mulheres. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
Após a visita, foi marcada uma reunião com o pessoal do projeto CPMEI na universidade para discutir as primeiras impressões sobre a associação e sugestões. Por meio de outras informações coletadas, o projeto criou um evento intitulado “I Manhã Empreendedora”, com o objetivo de realizar uma troca de conhecimentos entre as agricultoras e o pessoal do CPMEI. Na primeira parte do evento, as mulheres mostraram na prática seu trabalho na plantação de hortaliças. No dia combinado, as alunas extensionistas do projeto, acompanhadas por três professores, auxiliaram na plantação de mudas de alface com a orientação das mulheres e de um técnico agrícola. O grupo fez o trabalho de roçar a terra, preparar os canteiros, adubação de fundação com compostagem e esterco para posteriormente, semear a alface. A Figura 3 ilustra um momento dessa atividade.
Figura 3: Plantio das hortaliças da associação de mulheres. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
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De acordo com as agricultoras e o produtor técnico, a colheita da alface começaria em torno de 25 a 30 dias. Estes mesmos manejos são feitos para as outras hortaliças e o que existe de diferença é apenas o tempo de colheita, que varia de acordo com o tipo de olerícola. Ao término do plantio, o sistema de irrigação foi acionado para irrigar as alfaces transplantadas. A segunda parte deste evento foi realizada em outro dia, no período da tarde, em um auditório cedido pelo DPIVAS (Distrito de Perímetro Irrigado Várzeas de Sousa), onde o CPMEI apresentou propostas com base na pesquisa de mercado realizada e estudos para dirimir as dificuldades das agricultoras. A pesquisa de mercado foi realizada pelas alunas através de informações da internet. Os primeiros problemas detectados pelo projeto a respeito do negócio das agricultoras foram: o transporte para locomoção das hortaliças para os clientes, a pequena quantidade de clientes diretos que se deslocam até o local do plantio para comprar, gastos extras e o preço imposto pelos atravessadores. Todos estes estão relacionados com a falta de administração financeira, logística e marketing. Uma consequência do primeiro problema acarreta outro: os produtos vendidos pelos atravessadores acabam sendo revendidos pelo dobro ou triplo do preço. Deste modo, as agricultoras perdem lucratividade na venda direta. Arcar com o preço de um frete para entrega ao cliente, na atual conjuntura, é inviável para a associação, em virtude do pouco capital de giro. Outra necessidade é “vender melhor o seu peixe”, divulgando mais a qualidade do seu produto, como por exemplo, informar ao consumidor que a alface orgânica produzida por elas dura 15 dias numa geladeira, mais que a média de uma alface comum. Ainda com relação à divulgação, percebeu-se que a página na rede social do Facebook da associação é muito simplória e que se poderia aproveitar melhor esta ferramenta para o marketing virtual. Outro problema detectado foi que a sigla da associação, acompanhada da logomarca atual, não é visível e não é possível fazer uma relação com a atividade desenvolvida (ACMRVS – Associação Comunitária de Mulheres Rurais nas Várzeas de Sousa). No que tange à comercialização dos produtos, verifica-se a necessidade de uma representação da associação nas feiras e a falta de uso adequado de embalagens próprias para hortaliças orgânicas. O maior problema da associação, na visão do projeto CPMEI, é a falta de um planejamento financeiro. O valor da mensalidade é de R$ 2,00 (dois reais) por associado/mês. Sendo 25 associadas, a arrecadação mensal é de R$ 50,00 para pagar despesas administrativas, gastos extras no cultivo de hortaliças e a prestação de serviços do contador. Os gastos extras não planejados com os quais as associadas arcam são frequentes. Assim, no período da tarde, na segunda parte do evento “I Manhã Empreendedora”, o projeto elencou todos os problemas detectados e posteriormente possíveis soluções. Apresentou-se para as agricultoras um Plano de Marketing e um Planejamento Financeiro. A Figura 4 apresenta os integrantes do projeto CPMEI mostrando as propostas para a associação de mulheres.
Figura 4: Apresentação das propostas para a associação de mulheres. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
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Tratando-se do tema marketing, vinculado a esta proposta, no contexto atual, é impossível negar a relevância da tecnologia para o mercado de atuação e seus novos desafios potencializados por mudanças ambientais, políticas e econômicas, sociais e tecnológicas, nas quais as entidades precisam assumir novas posturas e procurar novos meios de se diferenciar de seus concorrentes como o uso da internet para incrementar os seus negócios empresariais (TOLEDO, 2007). No Plano de Marketing foi sugerida a proposta de três logomarcas, com nova sigla: ANPIVAS Associação Comunitária das Mulheres das Várzeas de Sousa. O destaque no nome “PIVAS” é pelo fato que quem é da região já associa o nome aos orgânicos, além de maior destaque nas cores, dando ênfase às hortaliças. Outra proposta do Plano de Marketing foi a realização de postagens na página da Associação no Facebook e criar uma conta na rede social Instagram. Nestas postagens são fornecidas informações sobre produtos orgânicos (o que é; como são plantados, as vantagens de se ter uma alimentação com produtos orgânicos, explicando quais são os produtos que têm mais incidência de agrotóxicos, descrever quais produtos são produzidos), além de se fazer contato com clientes e o agendamento do horário de atendimento no lote (local de produção). Neste sentido, foi sugerido também fornecer informações sobre o perigo dos agrotóxicos, disponibilização de telefones para contato e o endereço, explicando como se dá o acesso ao lote para os interessados em comprar as hortaliças da associação. No intuito de auxiliar na divulgação virtual, o projeto se comprometeu em criar uma comissão de marketing com membros do CPMEI para preparar os materiais a serem divulgados semanalmente pela associação. Também foi sugerida, a elaboração de um cadastro de potenciais clientes por segmento: restaurantes, lanchonetes, bares, mercadinhos, supermercados, dentre outros, no intuito de buscar novos clientes e parcerias, divulgando as empresas que vendem ou compram os seus produtos. Outro ponto discutido foi buscar, por meio do SEBRAE e seus parceiros, a certificação que permite utilizar o selo de produto orgânico nos rótulos. Ainda com relação ao marketing, sugeriu-se também a divulgação nas mídias locais (rádio) e sites de notícias locais, confecção de cartões de visita, folhetos explicativos e divulgação dos produtos em feiras, supermercados e também no “calçadão” da cidade (rua do comércio que tem mais movimento). Também foi sugerido que se buscasse evidência participando de feiras, eventos e reuniões relacionadas ao negócio dos produtos orgânicos. Foi pesquisado que no município de Sousa - PB não há regulamentação específica nem pagamento para se participar das feiras livres, podendo-se participar imediatamente desde que não seja em locais onde outros feirantes já estejam previamente alocados. Como sugestões proferidas pelo projeto de extensão, o quadro 1 faz um resumo destas para a associação no que se refere ao marketing.
1
Plano de Marketing - sugestão de três logomarcas
2
Plano de Marketing - realização de postagens na página da Associação no Facebook e criar uma conta na rede social Instagram.
3
Plano de Marketing - fornecer informações sobre produtos orgânicos nas redes sociais e sobre o perigo dos agrotóxicos
4
Plano de Marketing - fazer contato com clientes e o agendamento do horário de atendimento no lote (local de produção).
5
Plano de Marketing - criar uma comissão de marketing com membros do CPMEI para preparar de materiais a serem divulgados semanalmente pela associação.
6
Plano de Marketing - elaborar um cadastro de potenciais clientes por segmento
7
Plano de Marketing - buscar, por meio do SEBRAE e seus parceiros, a certificação que permite utilizar o selo de produto orgânico nos rótulos.
8 Plano de Marketing - divulgar nas mídias locais (rádio) e sites de noticiais locais seus produtos e serviços 9
Plano de Marketing - confeccionar de cartões de visita, folhetos explicativos sobre a associação.
10 Plano de Marketing - divulgar os produtos em feiras, supermercados e também no “calçadão” da cidade.
Quadro 1: Quadro resumo de sugestões de marketing proferidas pelo CPMEI para a associação. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Plano de Marketing - participação em feiras, eventos e reuniões relacionadas ao negócio 11 dos produtos orgânicos.
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Tratando-se do Planejamento Financeiro, realizou-se uma pesquisa de mercado de itens que a associação poderia adquirir e em seguida, um plano para consegui-los. Esta pesquisa foi realizada pelas alunas na internet. A tabela 1 apresenta os principais resultados deste orçamento.
Tabela 1: Pesquisa de mercado para o orçamento financeiro na associação de mulheres. Fonte: Dados da pesquisa (2015).
Dados
Preço (R$)
Barracas prontas para a feira livre
R$ 455,00
Carreta para moto - opção 1
R$ 4.140,00
Carreta para moto - opção 2
R$ 4.193,00
Sacos próprios para hortaliças (sacos cônicos micro perfurados)
R$ 675,11
Divulgação do produto e serviço em sites da região - “Folha do Sertão”
R$ 150,00
Divulgação do produto e serviço em sites da região - “Aparecida1” (banner) - opção 1
R$ 25,00
Divulgação do produto e serviço em sites da região - “Aparecida1” (banner) - opção 2
R$ 30,00
Divulgação do produto e serviço em rádio - “104 FM - Ademar Nonato”
R$ 440,00
Divulgação do produto e serviço em rádio – “Líder FM - Radar Líder”- opção 1
R$ 330,00
Divulgação do produto e serviço em rádio – “Líder FM - Radar Líder”- opção 2
R$ 400,00
Conforme tabela 1, o primeiro orçamento realizado foi o de barracas prontas para feira livre. Foi orçado o custo de uma barraca feita em aço carbono, com proteção em galvanização que proporciona maior durabilidade e menor desgaste pelo contato, chuva e sol, com 2,00m de frente por 1,00m de largura e 1,85m de altura, completa com lona, esteira e saia na cor azul “royal”, no valor de R$ 455,00 mais frete. Outra alternativa com base no modelo da barraca, foi estudar os custos de fabricação da mesma para produção própria, utilizando outro material, como a madeira. Outro orçamento apresentado foi o da carreta para moto, pois na visão do projeto, é a única opção viável para transporte das hortaliças sem altos custos, já que a maioria das famílias possui moto. Foram orçadas duas propostas: Opção1 – Carretinha para moto com freio macro g12 ct mercado, semi-reboque, reboque c2 com carroceria em fibra de vidro (não corrosiva): pagamento a vista (R$ 4.140,00+frete) ou pagamento a prazo (R$ 4.600+frete: entrada de R$ 1.380,00 + seis parcelas de R$ 536,67). Opção 2 – Carretinha feira de madeira e aço, com lona adaptada: pagamento a vista, incluindo frete: R$ 3.778,00 ou pagamento a prazo: R$ 4.193,00 (frete: R$ 230,00 + 5 parcelas de R$ 792,60) Com relação à proposta de mudança de embalagem para as hortaliças, realizou-se uma pesquisa de mercado e verificou-se que existe uma empresa que fabrica sacos próprios para hortaliças (sacos cônicos micro perfurados), cujo orçamento para 10.920 sacos foi de R$ 675,11 (pedido mínimo do fornecedor). No que concerne à divulgação da associação em sites da região e programas de rádio local que possuem audiência, foi realizado um orçamento inicial para os portais locais “Folha do Sertão”, que cobra pelo anúncio virtual mensal R$ 150,00 e “Aparecida1” que cobra mensalmente pelo banner de 140 x 140 no site o valor de R$ 25,00 (no topo do site custaria 30,00, intercalado com a apresentação de outros banners). No que tange às propagandas nas rádios locais, foram feitos os seguintes orçamentos: “104 FM – Ademar Nonato” cobra mensalmente para uma chamada por dia o valor de R$ 440,00 (R$ 20,00 por chamada); já a “Líder FM – Radar Líder” cobra mensalmente por uma chamada R$ 330,00 (R$ 15,00 por chamada) e por duas, R$ 400,00 pelo período de 22 dias. Para de fato conseguir esses investimentos ou parte deles, foi discutido com a associação que são necessários esforços para poupar e obter capital de giro suficiente. Assim, o projeto sugeriu a abertura de conta poupança em nome da associação e aumento da mensalidade dos associados.
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Com relação à mensalidade, o projeto sugeriu alterar o valor mensal de R$ 2,00 por associado para R$ 10,00 e que esse valor fosse gradativamente aumentando até chegar a R$ 30,00 por mês, conforme disponibilidade e condições das associadas. Sobre esta questão de problema financeiro, pode-se mencionar a pesquisa de Alperstedt et al. (2014), que trata do empreendedorismo feminino, visto que uma das dificuldades apontadas nesta foi o problema financeiro relacionado a desequilíbrios de caixa e pela falta de recursos para investir no crescimento da empresa. Os problemas de caixa geralmente se dão pela falta de clientela e inadimplência, resultados da falta de maiores cuidados (ou conhecimentos) sobre a gestão financeira. Estes foram resolvidos com planejamento. Com base na pesquisa de Alperstedt et al. (2014), observa-se que a semelhança no caso da associação de mulheres, pois há problemas de administração financeira. Deste modo, um planejamento financeiro também poderia minimizar os problemas, melhorando a gestão, prevenindo incertezas e definindo metas para o futuro. Após a apresentação de todas essas propostas, as mulheres ficaram de se reunir e estudar quais poderiam ser acatadas. Deste modo, o projeto entregou toda essa pesquisa impressa, para que todas pudessem ter acesso e analisá-las com calma. Após todo o processo de levantamento e desenvolvimento de ações para resolução de problemas, as mulheres da associação se reuniram e estão em análise das propostas para implantação dos métodos e/ou ações para melhoramento do ambiente de trabalho, além dos problemas encontrados no dia a dia. Espera-se que se possam colocar em prática algumas dessas ações em 2016.
4 Conclusões Com base nas ações do projeto CPMEI percebe-se o auxílio no desenvolvimento do empreendedorismo na associação de mulheres. Deste modo, o papel social do projeto CPMEI foi o de fornecer informações que visam aprimorar a visão empreendedora das mulheres. A troca de saberes entre a associação e os membros do projeto foi essencial para o crescimento pessoal e formação profissional de todos os envolvidos. Outro aspecto está voltado para a inovação, que não é resultado da atividade isolada de indivíduos criativos. Ela é resultado da troca de experiências, do aprendizado coletivo e do trabalho em equipe. Daí a importância de ambientes propícios à inovação, onde o público assistido e toda a equipe puderam trocar informações de maneira constante, fornecendo condições para que todos possam se manifestar, abrindo espaço para as novas ideias. Outro fator da atividade extensionista é a contribuição do projeto para a melhoria no empreendimento das mulheres. Percebe-se hoje que nas comunidades há um aumento significativo da economia informal, cujos membros não têm a oportunidade de aprimorar seus conhecimentos para o desenvolvimento de seus negócios. As atividades de extensão podem também auxiliar no desenvolvimento sustentável, na integração com a sociedade e no exercício da cidadania. A solução dos problemas apresentados visa o aprimoramento do empreendedorismo, qualidade de vida, bem estar social e inclusão social.
5 Referências ALPERSTEDT, G. D; FERREIRA, J. B; SERAFIM, M. C. Empreendedorismo feminino: dificuldades relatadas em histórias de vida. Revista de Ciências da Administração, v. 16, n. 40, p. 221234, dezembro de 2014. DOI: http://dx.doi.org/10.5007/2175-8077.2014v16n40p221 BITTENCOURT, I. M; MARTINS, A. A; CARDOSO, C. A; DESIDÉRIO, P. H; NEDER, R; MARQUES, J.C. Empreendedorismo Social, seus pressupostos e sua aplicação no desenvolvimento de competências. Investigação Qualitativa em Ciências Sociais//Investigación Cualitativa en Ciencias Sociales, vol. 3, Atas CIAIQ2015.
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BOY, G. A. (1997). The group elicitation method for participatory design and usability testing. Interactions, Vol 4 (2), p. 27-33. Disponível em: http://portal.acm.org/citation. cfm?doid=245129.245132. Acesso em: 12 ago 2015. LAZZAROTTO, Joelsio J. Associativismo Rural e a sua Viabilização: estudo de caso comparativo de duas associações de produtores rurais do município de Pato Branco (PR). In: XXXI Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD), 31., 2002. Anais... Salvador: Pestana Bahia Hotel, 2002. p.2. TOLEDO, L. A. A internet e o composto de marketing: os casos do Banco do Brasil e Unimed Seguros. Tese (Doutorado), Universidade de São Paulo, 2007. Departamento de Graduação, Programa de Pós Graduação em Administração, São Paulo, 2007, p.197.
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Artigo Empreendendo em uma associação de artesanato: propostas de melhorias e capacitações Janaina Ferreira M. de Melo1 - janainafmmelo@gmail.com Alberto Gustavo P. Júnior2 - albertopaashaus@gmail.com
RESUMO Este trabalho foi realizado em um assentamento no qual funciona uma associação de artesanato denominada “Ateliê 3 N´s”. Este público necessitava de orientações para o desenvolvimento do seu negócio, pois apresentava dificuldades financeiras, de logística e de planejamento. Em parceria com o SEBRAE, o Projeto de Extensão Capacitação Profissional para Microempreendedores (CPMEI) orientou este público por meio de estudos de mercado, propostas de marketing, planejamento do negócio e oferecimento de consultorias e oficinas. Assim, foi realizado através do projeto um diagnóstico que apontou soluções para problemas apresentados no ateliê, visando o aprimoramento do empreendedorismo, qualidade de vida, bem-estar e inclusão social. PALAVRAS-CHAVE Empreendedorismo. Artesanato. Planejamento. Consultoria. Associativismo. ABSTRACT This work was conducted in a settlement in which a craft association called “Ateliê 3 N’s” is operated. That public needed guidelines for the development of its business, as it presented financial, logistics and planning difficulties. In partnership with SEBRAE, the Extension Project “Capacitação Profissional para Microempreendedores” (CPMEI) guided the group through market studies, marketing proposals, business planning and the offering consultancy and training. Thus, it
1
Mestre em Engenharia de Produção e professora Adjunto I da UFCG
2
Mestrando em Administração Pública e professor do IFPE – Campus Palmares
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was conducted through the project a diagnosis that pointed out solutions to the problems presented in the studio in order to improve entrepreneurship, quality of life, social welfare and social inclusion. KEYWORDS Entrepreneurship. Handicraft. Planning. Consultancy. Associativism.
1 Introdução O planejamento em uma organização é um processo relevante que enfatiza a sobrevivência e deve ser considerado um motivo de preocupação para os empreendedores. Neste sentido, Alday (2000) alerta na necessidade de haver um trabalho de conscientização da importância do planejamento para as empresas em cursos de empreendedorismo nas universidades, em incubadoras ou em parceria com o SEBRAE, como uma forma de despertar o interesse nos empreendedores. Uma organização pode obter vários benefícios praticando de forma correta a administração estratégica. O processo de administração estratégica tem início com a análise do ambiente, isto é, com o processo de monitorar o ambiente organizacional para identificar os riscos e as oportunidades presentes e futuras. Este trabalho surgiu da necessidade de uma associação de artesanato no ano de 2015 em aprimorar seu empreendimento em virtude das dificuldades no planejamento na administração do negócio e, principalmente, nas questões financeiras. As participantes da associação procuraram o SEBRAE do município de Sousa – PB para suprir essas dificuldades, e este, por sua vez, pediu ao parceiro “CPMEI” (um projeto de extensão, vinculado a uma Universidade Federal) para apoiar este público. A associação é formada por 10 mulheres que residem num assentamento. Elas são esposas de agricultores que decidiram se reunir para produzir e comercializar produtos artesanais. Elas trabalham sozinhas, sem o apoio de nenhuma instituição pública ou privada, não possuem o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica e nem registro formal de uma associação. Tratando de empreendedorismo no artesanato, Nascimento e Silva (2009) enfatizam que os/as trabalhadores/as foram forçados/as a procurar alternativas de emprego ou fonte de renda para poder sobreviver e sustentar suas respectivas famílias, surgindo, então, uma opção através do trabalho informal. Dentre essas alternativas de trabalho informal, muitas pessoas escolhem o artesanato como uma solução para contornar o desemprego e ser dono do seu próprio negócio. Segundo Keller (2011), o crescimento do número dos trabalhadores que tem no artesanato como sua principal fonte de renda é atribuída ao crescimento do desemprego, tanto no ambiente urbano, como no rural. Deste modo, o artesanato é uma alternativa de sobrevivência para o enfrentamento das consequências das transformações no trabalho, onde os artesãos reproduzem a cultura, a tradição e os costumes regionais. A união de agricultores familiares em associações, sendo de produção, comercialização ou de serviços, estabelece-se em uma das maneiras mais oportunas de sustentação das pequenas organizações de produção, visto que facilita aos produtores ultrapassarem o obstáculo da indivisibilidade dos fatores principais de produção. Além disso, facilita a assistência técnica almejada e melhora o posicionamento nos âmbitos modernos da agricultura (MUENCHEN, 1996 & BARBOSA, 1988 apud LAZZAROTTO, 2002). O projeto de extensão CPMEI - Capacitação Profissional para Microempreendedores, que é parceiro do SEBRAE - Sousa, tem como objetivo geral fornecer educação continuada por meio de orientação e capacitação profissional relacionada às áreas vinculadas ao empreendedorismo para as comunidades assistidas. Em virtude do problema na associação de artesanato, este projeto almejou contribuir com atividades empreendedoras para este público, realizando um diagnóstico inicial.
2 Metodologia O termo composto de duas palavras versa essencialmente sobre educação, que pode ser entendido como o conhecimento adquirido em seus diversos aspectos, seja obtido de modo
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racional ou baseado, por exemplo, em costumes, portanto, empírico, mas necessários ao entendimento e funcionamento das tarefas financeiras vitais para fazer escolhas financeiras sábias; e financeira, descrita como uma variedade de atividades que envolvem o dinheiro ao longo das nossas vidas, e variam desde o controle dos recursos financeiros disponíveis até a aquisição de créditos, investimento, entre outros (Jacob et al., 2000, p.8). O projeto CPMEI visitou o ateliê para coletar informações para traçar soluções, com base em pesquisas de mercado e na literatura vigente, visando contribuir com atividades empreendedoras. Com base nas necessidades das artesãs, bem como os problemas detectados pela equipe do projeto, traçou-se uma metodologia para resolvê-los. O modus operandi da equipe foi realizado por meio de uma reunião após a primeira visita, na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) em Sousa - PB, onde o Projeto CPMEI é vinculado. O intuito foi discutir as primeiras impressões sobre a associação e sugestões para melhorias, usando a técnica de Brainstorming. Segundo Boy (1997), o Brainstorming é uma técnica de recolher informação que é muito utilizada na investigação em Ciências Sociais e Humanas, com o objetivo de explorar novas ideias sobre um tema ou alternativas de solução para problemas das mais diversas índoles, sejam em organizações, empresas, negócios, etc. Esta técnica revela mais potencial na medida em que as interações no grupo fazem despolitizar mais ideias do que as obtidas individualmente. Toda a equipe (formada por alunos e professores) pôde fornecer uma “avalanche” de ideias para a solução do caso. Estas foram anotadas e, em seguida, discutidas, verificando a viabilidade destas. O segundo passo foi delegar funções aos membros da equipe, no intuito de realizar pesquisas de mercado e estudos mais profundos, adaptados à realidade da associação. Para o alcance da viabilidade dessas sugestões, foi realizado um estudo de mercado para traçar um plano de marketing para a associação para serem apresentados para as artesãs. Como sugestão, foram também elaboradas logomarcas para que as mesmas pudessem escolher para divulgação do seu negócio. O estudo de mercado foi baseado nas ideias discutidas na reunião e pesquisas na internet sobre o assunto. Os professores orientadores, após a visita no ateliê, forneceram capacitações empreendedoras para os alunos extensionistas nas áreas de planejamento, administração financeira pessoal e do negócio e marketing virtual (como divulgar seus negócios nas redes sociais), para que estes, em determinado momento, repassassem para as artesãs, sendo seus próprios facilitadores. Os alunos, por sua vez, aprimoraram essas capacitações, transformando-as em oficinas com vídeos, apresentação em slides e exercícios práticos, com o auxílio de seus professores orientadores, para capacitar as artesãs. A avaliação da metodologia utilizada foi realizada por meio de reuniões entre alunos, professores e as artesãs. De acordo com a necessidade do ateliê, foram realizadas consultorias, propostas de marketing, o estudo de mercado e planejamento.
3 Resultados e discussão Em uma reunião promovida pelo SEBRAE, alunos e professores do projeto CPMEI conheceram as mulheres da associação de artesanato, onde puderam tirar as primeiras conclusões. Estas apresentaram alguns produtos e falaram das dificuldades financeiras e operacionais do negócio. Não havia um planejamento das atividades e pouco capital de giro. Formada a parceria, marcouse a primeira visita ao ateliê. O CPMEI pôde conhecer a variedade de produtos das artesãs: enfeites em broches, “tictacs” e “xuxas” (para amarrar cabelo), tiaras, conjunto de banheiros, kits de cozinha (para enfeitar), varanda de crochê, tapetes, bonecas, flores, tiaras, prendedores de cabelo, dentre outros. A figura 1 mostra parte desses produtos.
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Figura 1: Alguns produtos artesanais produzidos pela associação. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
O CPMEI também verificou que as instalações do ateliê não dispunham de ventilação, o espaço era inadequado para as máquinas, estoque de matéria-prima e exposição dos produtos. O ambiente ainda era dividido com os moradores do Assentamento Nova Vida I, pertencente ao município de Aparecida - PB, que realizam reuniões de uma outra associação. Dentre as dificuldades apontadas pelas associadas, é relevante destacar as seguintes: a falta de matéria prima (tecidos de malha); poucas vendas; falta de divulgação do produto; máquinas de costura muito antigas; o preço de venda bem abaixo do mercado; e dificuldades nas vendas locais (nas comunidades) pelo fato das clientes ainda acharem o preço elevado. A falta de planejamento financeiro, divulgação dos produtos e de uma logomarca também foram observados como problemas. Percebeu-se que elas tinham muitos produtos em estoque e nesse caso, o CPMEI incentivou as artesãs para que estas saíssem para vendê-los, já que necessitavam levantar fundos para pagamento de mão de obra e compra de matéria-prima para dar continuidade à fabricação de peças artesanais. Durante a visita, as artesãs definiram o nome para a associação: “Ateliê 3 N´s”, em virtude das três fundadoras terem seus nomes iniciados com a letra “N”. A partir do nome, surgiu a ideia de elaborar uma logomarca, que enfatizasse a atividade. Após a visita, conforme a metodologia apresentada, a equipe do projeto CPMEI se reuniu e delegou funções para estudo de mercado e outras pesquisas. Um membro da equipe ficou incumbido de confeccionar algumas logomarcas e catalogar os produtos com seus respectivos preços acompanhados de uma fotografia do item. Outro ficou encarregado de fazer um levantamento nas empresas que instalam internet para o Ateliê, pois isto foi identificado como uma dificuldade que as associadas enfrentavam, impedindo de divulgar os seus produtos na rede. Os demais pesquisadores ficaram de realizar um estudo de mercado, trazendo sugestões de melhorias para o empreendimento, bem como elaboração de oficinas empreendedoras para as artesãs. Concluída a capacitação dos alunos através dos professores orientadores e aprimoramentos realizados pelos próprios alunos, a primeira oficina oferecida para as artesãs foi a de Gestão Financeira, através da qual foi apresentado um aprofundamento nas questões financeiras do negócio e do orçamento familiar, que de acordo com as associadas, é um fator crítico do negócio. Segundo os dados coletados na avaliação das atividades, todas as artesãs reconheceram a importância da administração financeira e gostaram da oficina e afirmaram que iriam colocar em prática os conhecimentos transmitidos. A figura 2 apresenta um momento desta oficina, onde aparecem algumas artesãs.
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Figura 2: Oficina fornecida pelo CPMEI sobre administração financeira. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
Posteriormente foram apresentadas as propostas de marketing, o estudo de mercado e planejamento. Apresentou-se para as artesãs um check list sobre ações de marketing, como por exemplo, a criação de um cartão de visita e de páginas na internet; sinalização na rodovia, que dá acesso ao ateliê, indicando sua localização (o mesmo não é visível para quem passa na BR do Assentamento); propostas de logomarcas para o ateliê; e modelo para catalogação de produtos fotografados na primeira visita (já com os preços inseridos e prontos para fazer a propaganda nas redes sociais). Na análise ambiental foram constatados como fatores econômicos relevantes, o baixo custo de produção dos produtos, a simplicidade no manejo e da utilização dos produtos, além do fato da personalização de peças sob encomenda. Por ser uma associação, na qual se pensa no crescimento da comunidade, foi sugerido um ponto de venda no próprio ateliê, incluindo produtos de outros artesões da comunidade, visando à questão social e a parceria local. Percebeu-se também que havia uma necessidade de uma organização no layout do ateliê. O principal problema interno do ateliê consiste na infraestrutura inadequada que pode ser aprimorada e adequada da melhor forma possível para manter a qualidade dos produtos, dar mais espaço e conforto para o desenvolvimento das atividades, organização e armazenagem da matéria-prima, confecção das peças e exposição dos produtos acabados. Analisando as principais oportunidades do negócio, destacaram-se: o uso sustentável dos recursos; o longo prazo de validade da matéria-prima e produtos; a inexistência de concorrentes diretos; a mão-de-obra na própria comunidade e talento. Já a falta de divulgação do produto; a incerteza na arrecadação da matéria-prima para a confecção das peças advindas de terceiros e o atual ponto para venda são ameaças. No que concernem aos fatores internos, verificaram-se como forças, o produto ser sustentável; ter baixo custo na confecção e mão-de-obra qualificada na elaboração das peças. Verificaramse como fraquezas a credibilidade; a falta de capital de giro e de máquinas de costura suficientes. Foi sugerido também que as artesãs firmassem parcerias com lojas de decoração e utilidade para o lar, para revenda dos produtos, parcerias com fornecedores (loja de tecido) para a compra de retalhos a preço baixo e parceria nas redes sociais com outros profissionais, podendo assim haver uma troca de divulgação entre os mesmos. A marca é a identidade da loja, ou seja, a forma como ela será conhecida. Portanto, traduzir a imagem que se deseja passar para o mercado é de grande valia e importância. Com base no nome “Ateliê 3 N´s” foram elaboradas quatro logomarcas, onde foi escolhida uma pelas artesãs, que dava mais ênfase e visibilidade na questão do produto na visão delas. Das imagens apresentadas, as artesãs escolheram e definiram a logomarca apresentada na figura 3.
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Figura 3: Oficina fornecida pelo CPMEI sobre administração financeira. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
O CPMEI fez sugestões para o planejamento das atividades do ateliê para garantir a satisfação, a confiabilidade do cliente e melhorar a visibilidade do ateliê. Algumas sugestões estão descritas a seguir: • Utilizar novas rotulagens e novos produtos; • Firmar parcerias com fornecedores para possíveis compras de materiais para a fabricação das peças, independente das doações de tecidos; e, melhorar embalagem (presente) e fazer etiqueta para os produtos; • Aumentar os meios de divulgação em pontos de venda; • Utilizar meios de comunicações em canais locais, destinados ao público-alvo; • Estruturar o ateliê com melhor ambiente de trabalho; • Ter ponto de venda fixo; e, • Instalar internet. No que tange à definição de estratégias de marketing, o CPMEI sugeriu que elas elaborassem um produto que venha satisfazer as necessidades do público consumidor com base em análises de mercado e perfil dos consumidores da região que pretendem atender. O produto poderia ser personalizado, podendo o cliente escolher a cor, o tamanho e o design. No que tange ao preço, deve ser definido a partir dos custos, procurando estabelecer um preço atrativo para os consumidores e que deixe uma lucratividade satisfatória para o ateliê. Com relação à distribuição, foi discutida a importância de uma logística eficiente e uma boa prestação de serviço para os clientes no intuito de se obter um crescimento organizado. Outro ponto relevante discutido é a necessidade de participarem de feiras de artesanato e feiras tradicionais em cidades circunvizinhas para que o produto tenha uma maior divulgação e clientela. Outra sugestão para o ateliê foi referente à promoção, que visa intensificar a divulgação do produto e da marca nos principais veículos de comunicação e publicações visuais, para que a marca se torne sólida e sempre lembrada pelos consumidores, impulsionando e influenciando na medida e na preferência dos mesmos. Em datas comemorativas como Natal, Dia das Mães e Dia das Crianças, foi sugerido fabricar produtos específicos para a ocasião, objetivando aumentar as vendas. Em relação às pessoas, foi verificado pelo CPMEI que o ateliê precisa de pessoal qualificado e dedicado ao trabalho. No próprio ateliê poderão ser desenvolvidos alguns treinamentos sobre a confecção de novos produtos, bem como incentivar as associadas a estarem sempre atentas para aprender novas técnicas de fabricação, explorando a criatividade. Outro ponto sugerido foi a divulgação nas redes sociais com atendimento ao público no ponto comercial e pela internet. Usando as redes sociais, divulgam-se os trabalhos, realizam-se vendas e firmam-se parcerias de tal maneira que as pessoas possam ter acesso a visualizar e comprar os trabalhos, sem necessidade de se deslocar até a futura loja. Neste sentido, o CPMEI se comprometeu em realizar uma oficina específica sobre o assunto.
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Após apresentadas estas propostas, outra atividade desenvolvida pelo CPMEI foi o apoio numa feira de empreendimentos do município de Sousa-PB, patrocinada pelo SEBRAE, denominada de “Inova Sertão”. O CPMEI auxiliou as artesãs na montagem de um banner para o ateliê apresentar no estande da feira. Também as orientou sobre a programação do evento, elaborando um cronograma para rodízio, para que estas participassem dos minicursos oferecidos no evento, bem como estivessem presentes no estande cedido pelo SEBRAE. O projeto também auxiliou nas inscrições das artesãs nos minicursos do evento. A figura 4 apresenta o stand do ateliê no evento “Inova Sertão” com a presença de algumas artesãs e equipe do projeto CPMEI.
Figura 4: Estande do Ateliê 3 N´s no Inova Sertão. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
O CPMEI ainda prestou assessoria para as artesãs na elaboração de 260 rifas (arte, confecção, impressão e corte) e impressão de 200 cartões de visita para divulgação do seu negócio. A rifa almejava arrecadar fundos para o pagamento do equipamento adquirido para a instalação da internet no ateliê. Como resultados, o ateliê realizou várias vendas durante o evento, as artesãs participaram de minicursos na área de artesanato e divulgaram sua marca para o público da região, realizando contatos. O projeto CPMEI, além de outras atividades, acompanhou as artesãs durante todo o evento que foi de quatro dias. Após a semana do evento, professores e alunos se reuniram para definir as últimas atividades no ano de 2015 com as artesãs. Foram elaboradas duas oficinas denominadas “Divulgando os serviços nas redes sociais” e “Divulgando seu negócio no Facebook, Instagram e dicas para uso do WhatsApp”. A figura 4 mostra uma das alunas do projeto CPMEI apresentando a primeira oficina.
Figura 5: Apresentação da oficina “Divulgando os serviços nas redes sociais” no Ateliê 3 N´s. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
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Na primeira oficina foi apresentada de um modo geral a importância de publicar as fotos de todos os produtos que as artesãs produzissem nas redes sociais e uma breve explicação sobre blogs, Facebook e Instagram. Foram ensinadas maneiras de como postar e o que postar nas páginas do ateliê. A figura 5 mostra a professora orientadora e coordenadora do projeto CPMEI apresentando a oficina “Divulgando seu negócio no Facebook, Instagram e dicas para uso do WhatsApp”, onde esses assuntos foram mais explorados.
Figura 6: Apresentação da oficina “Divulgando seu negócio no Facebook, Instagram e dicas para uso do Whatsapp” no Ateliê 3 N´s.. Fonte: Arquivo do Projeto CPMEI.
Ao concluírem-se as duas oficinas, o projeto CPMEI se comprometeu em ajudá-las na divulgação dos produtos artesanais nas redes sociais. Foi formado um grupo de marketing, onde uma dupla a cada semana daria um apoio nesta questão. Essas atividades ficaram programadas para serem desenvolvidas em 2016, visto que a vigência do projeto estava sendo encerrada. Durante a vigência do projeto, não houve tempo hábil para analisar o empreendimento do ateliê antes e depois das atividades desenvolvidas. O feedback foi decorrente das conversas com as artesãs que ficaram muito agradecidas e empolgadas com as atividades empreendedoras. Espera-se que, em 2016, haja tempo para se fazer uma análise mais precisa desses resultados.
4 Conclusões O artesanato é um setor da economia cujo crescimento possui alto potencial de geração de trabalho e renda e que necessita de uma política de desenvolvimento sustentável voltada para o setor, associada a projetos sociais e de desenvolvimento turístico. Especificamente para a geração de trabalho e renda, percebe-se que nas comunidades há um aumento significativo de atividades da economia informal. Para o alcance dessas áreas de conhecimento por empreendedores informais, a experiência com a associação de artesanato (Ateliê 3 N´s) pode ser tomada como base para auxílio em outras comunidades, na perspectiva de desenvolver atividades empreendedoras, visando o desenvolvimento sustentável, de integração com a sociedade e do exercício da cidadania. A solução dos problemas apresentados visa o aprimoramento do empreendedorismo, melhoria da qualidade de vida, bem-estar social e inclusão social. Para atingir os objetivos de crescimento e lucratividade do ateliê, necessita-se também conhecer o mercado em que se atua para o devido planejamento de suas atividades. As consultorias fornecidas realizaram um diagnóstico e apontaram soluções para o alcance dessa finalidade. Nos aspectos profissionais, o projeto de extensão CPMEI colaborou por meio de oficinas e orientações na gestão de um negócio. Deste modo, o intuito foi dar apoio para dar acesso a
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outros benefícios, como melhoria da qualificação profissional e o desenvolvimento da autoestima, atingindo assim os propósitos da extensão universitária. Apesar da limitação em não poder fazer uma análise no ateliê (antes e depois das atividades empreendedoras), percebe-se o quanto foi significativo para as artesãs e para toda a equipe do projeto
5 Referências ALDAY, H. E. C. O Planejamento Estratégico dentro do Conceito de Administração Estratégica. Rev. FAE, Curitiba, V.3, n.2, p. 9-16, maio/ago. 2000. BOY, G. A. (1997). The group elicitation method for participatory design and usability testing. Interactions, Vol 4 (2), p. 27-33. Disponível em: http://portal.acm.org/citation. cfm?doid=245129.245132. Acesso em: 12 ago 2015. KELLER, P. F. Trabalho artesanal e cooperado: realidades, mudanças e desafios. Sociedade e Cultura. ISSN: 1415-8566, vol. 14, núm. 1, enero-junio, 2011, pp. 29-40 Universidade Federal de Goiás Goiania, Brasil. Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/703/70320084004.pdf. Acesso em: 20 set. 2015. LAZZAROTTO, J. J. Associativismo Rural e a sua Viabilização: estudo de caso comparativo de duas associações de produtores rurais do município de Pato Branco (PR). In: XXXI Encontro da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração (ENANPAD), 31., 2002. Anais... Salvador: Pestana Bahia Hotel, 2002. p.2. NASCIMENTO, D. G; SILVA, E. A. A. A importância do artesanato informal: fazendo arte com fuxico. In: IX Jornada de Pesquisa e Extensão - JEPEX 2009. Recife - PE, de 19 a 23 de outubro de 2009. UFRPE, CEGOE – Centro de Ensino de Graduação. Disponível em: http://www. eventosufrpe.com.br/jepex2009/cd/resumos/r1136-2.pdf. Acesso em: 02 out. 2015.
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Artigo Trabalho de extensão como uma forma de geração de renda Ângela Leão Andrade1 - angelaleao@iceb.ufop.br Letieri Fernandes Pessoa2 Meiry Edivirges Alvarenga3 Rodrigo Chaves Amaro4
RESUMO Em uma tentativa de reduzir o alto índice de desemprego, evitar a contaminação do ambiente pelo óleo residual e melhorar a autoestima, o projeto de fabricação de sabão começou a ser realizado em Ouro Preto e, posteriormente, em um distrito de Ouro Preto. Inicialmente, para atingir esses objetivos, foram ofertados cursos sobre fabricação de sabão, meio ambiente e psicologia organizacional. Com o decorrer do projeto, foram abordados ainda os temas gestão financeira e empresarial. Durante o desenvolvimento do projeto, o crescimento foi de todos: dos professores, que trabalharam com demandas reais, dos alunos, que aprenderam sobre temas variados, e da comunidade, que aprendia teorias científicas e ensinava observações práticas. Ao final, o grupo de mulheres já conseguia fazer sabão e, com a venda do produto, a renda familiar e a autoestima delas aumentaram. PALAVRAS-CHAVE Fabricação de sabão. Cooperação. Inclusão social. Capacitação. Geração de renda.
1 Doutora em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Professora adjunta do curso de Química. UFOP/câmpus Ouro Preto/MG. 2 Graduada em Química Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP. Mestranda em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. 3 Graduada em Química Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP/câmpus Ouro Preto/MG. 4
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Graduando em Química Industrial pela Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP.
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ABSTRACT In an attempt to reduce the high unemployment, prevent environmental contamination by residual oil and improve self-esteem, the Soap Manufacturing project began to be held in Ouro Preto, and later, in a district of Ouro Preto. Initially, to achieve these objectives were offered courses menu in soap making, environment and organizational psychology. In the course of the project were discussed, also, financial management and business. During the project development, the growth was all: the teachers who worked with real demands, the students learned about various topics and the community, learning scientific theories and teaching practical observations. At the end, the women’s group was able to make soap, and with the sale of the same, family income and self-esteem increased. KEYWORDS Soap Manufacturing. Cooperation. Social inclusion. Empowerment. Income generation.
1 Introdução O aumento crescente do desemprego, atrelado ao aumento da carga tributária, tornou-se uma preocupação constante. O índice de desemprego, que em janeiro de 2014 atingia 4,9% da população (IBGE, 2014), hoje atinge cerca de 8%, o que representa, aproximadamente, 8 milhões de pessoas no país (IBGE, 2015). O desemprego torna-se ainda mais preocupante nos lares nos quais há uma renda única, ou seja, apenas uma pessoa trabalha fora - o que aumenta a dependência econômica dos demais membros da família. Mesmo nos dias atuais, ainda existe o preconceito com relação às mulheres no mercado de trabalho; ainda é comum a ideia de que as mulheres devem ser donas de casa, têm que cuidar dos filhos, do marido, e da casa (CARLOTO, 2011). Em uma tentativa de contribuir para a solução desse problema, vários grupos, localizados em diferentes universidades do país, têm feito trabalhos de extensão que buscam ampliar a geração de emprego, renda e aumentar a autoestima das mulheres participantes (MELO, 2015; CARRETA, 2010). Especificamente sobre o trabalho que será discutido nesse artigo, um grupo de professores da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) desenvolveu um trabalho de extensão com mulheres em estado de vulnerabilidade social, visando à fabricação de sabão a partir de óleo residual. A ideia de utilizar o óleo de cozinha usado resulta do fato de que o descarte incorreto do produto pode causar danos ao meio ambiente. Soma-se a isso o fato de o reuso de materiais ser uma forma muito atrativa de gerenciamento de resíduos, pois transforma o lixo em insumos, com diversas vantagens ambientais (ALBERICI, 2004). Inicialmente, as ações do projeto se concentraram em dar suporte técnico e, posteriormente, a também oferecer curso empresarial e recursos financeiros (por meio de editais) para que as participantes pudessem se estabelecer como grupo produtivo e gerar renda para si e seus familiares por meio da produção e venda de sabão. Com isso, buscou-se promover o desenvolvimento das participantes e da comunidade onde elas estão inseridas. Vários cursos foram ofertados para a formação crítica das participantes, referindo-se à capacidade e à possibilidade de se formar profissionais que levarão a criação de uma vida social mais justa e igualitária (MARANHÃO, 2012). O artigo aqui apresentado tem o objetivo de relatar o desenvolvimento desse projeto e mostrar como ele foi sendo ampliado à medida que o interesse das participantes aumentava. A proposta é também mostrar como pequenas ações, como essa, podem contribuir para melhorar a qualidade de vida das pessoas.
2 Metodologias O público-alvo desse projeto foram mulheres moradoras da cidade de Ouro Preto, em um primeiro momento, e moradoras do distrito de Antônio Pereira, no segundo e no terceiro momentos. O projeto de extensão, realizado em Ouro Preto, foi divulgado em uma rádio e ocorreu inicialmente na Escola de Farmácia da UFOP, localizada no Centro Histórico. O que pudemos observar é que
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a localização do espaço dificultou a frequência das alunas, uma vez que a maioria delas morava em bairros periféricos e as aulas foram realizadas no período da noite. Por conta disso, o local foi alterado e as aulas passaram a ser realizadas no câmpus da universidade. Observamos que as funcionárias que trabalham na limpeza do câmpus e as senhoras que integram o grupo da terceira idade “Renascer” demonstraram interesse em participar do projeto. Por conta disso, foi formada uma turma em 2011 e duas em 2012, uma a cada semestre. O número de participantes, nas três edições, foi de 80 mulheres com idade entre 30 e 60 anos. Posteriormente, o curso passou a ser ministrado em Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto. O local foi escolhido porque recebe pouco investimento público e, consequentemente, está à margem da sociedade. Enfrenta problemas sociais graves como: baixo nível de escolaridade da população, alto índice de violência e, principalmente, o registro de muitos casos de violência contra a mulher. Além disso, segundo Censo realizado em 2010, o distrito possui cerca de 4,5 mil habitantes, sendo composto por 49,60% de mulheres (LELIS, 2012). Várias delas são mães solteiras, não concluíram o Ensino Médio e não estão inseridas no mercado de trabalho (Figura 1).
Figura 1: Perfil socioeconômico realizado com um grupo de 25 mulheres moradoras de Antônio Pereira, distrito de Ouro Preto. Fonte: Dados do projeto.
Nessa segunda etapa do projeto, realizada em Antônio Pereira, os professores da UFOP entraram em contato com algumas associações de mulheres do distrito e pediram às associadas para que convidassem mulheres interessadas em participar do projeto para uma reunião. Durante o encontro, os professores propuseram um curso sobre fabricação de sabão. Todas gostaram da ideia porque: (1) elas já produziam sabão, mas a qualidade do produto não era boa (tinha muita soda, tóxica para as pessoas e para o meio ambiente); (2) o sabão é um produto básico e indispensável à sociedade, o que torna sua venda fácil; (3) o sabão a ser produzido utilizaria óleo residual e, dessa maneira, solucionaria o problema do descarte incorreto de óleo no meio ambiente sendo, portanto, uma solução ecologicamente correta. Nesses dois anos, o curso foi dividido em três módulos: meio ambiente, psicologia organizacional e produção do sabão; todos os conteúdos foram ministrados por bolsistas, com carga horária total de 20 horas. Na parte referente ao meio ambiente, falou-se sobre o descarte incorreto do óleo e dos problemas que isso causa ao meio ambiente (Figura 2)
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Figura 2: O ciclo do óleo. Fonte: Dados do projeto.
Durante essas aulas, foi mostrada a química envolvida na reação de saponificação (Figura 3).
Figura 3: Reação de saponificação. Fonte: Dados do projeto.
As aulas práticas consistiram na fabricação de sabão. Com o intuito de diminuir o desperdício e valorizar a reciclagem, ensinou-se a confeccionar embalagens artesanais, feitas a partir de rolo de papel higiênico, para as mulheres venderem seus produtos de maneira personalizada. Em uma tentativa de melhorar a qualidade do sabão produzido pelas mulheres de Antônio Pereira, os bolsistas passaram a estudar essas formulações, a discutir com os professores orientadores e a propor modificações. Para isso, eles foram alterando a quantidade dos diferentes reagentes e testando a qualidade dos mesmos em relação ao pH, ao tempo de amolecimento e ao índice de espuma até chegar a uma formulação adequada. Em Ouro Preto, a intenção das mulheres participantes do curso era fazer sabão para consumo próprio e para vender para familiares. No distrito, entretanto, a venda do sabão foi muito maior, o que levou à necessidade de formalizar a associação, com a criação do estatuto e seu registro no cartório. Com isso, iniciou-se a terceira etapa do projeto, que constou, também, do ensino da fabricação de outros produtos de limpeza. No terceiro momento, os projetos foram submetidos a alguns editais, dentre os quais o Prêmio Universidade Solidária e o de “Apoio a projetos de extensão em interface com a pesquisa” da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig). O objetivo era conseguir dinheiro para a compra de equipamentos e de matérias-primas e para a construção da fábrica de saneantes. Em 2014, foi firmada uma parceria com a Samarco Mineração, o que possibilitou a realização de diferentes cursos. Os cursos ministrados, financiados pela Samarco, tinham a intenção de: (I) motivar as mulheres a trabalharem fora de casa e aumentar sua autoestima. Para isso, foram realizadas palestras e discussões sobre cidadania, direitos, Lei Maria da Penha; (II) ampliar competências no gerenciamento da iniciativa, por meio de cursos de gestão de negócios e marketing. Também
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foram ofertados cursos de técnicas de controle de qualidade e de legislação para a fabricação dos saneantes. Foram realizadas oficinas de segurança do trabalho e utilização de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para a prevenção de acidentes e cuidados com produtos químicos. Para que os produtos tivessem sempre as mesmas características e qualidade, foram confeccionadas fichas de Procedimento Operacional Padrão (POP), processo em que se deve descrever detalhadamente a produção de cada saneante. A equipe universitária, nessa época, era formada por sete professores e 20 estudantes provenientes dos seguintes cursos: Administração, Ciências Econômicas, Comunicação Social, Direito, Farmácia, Engenharias Ambiental e Produção, Química, Serviço Social e Engenharia Civil da UFOP. Os bolsistas, que eram as pessoas mais próximas às mulheres, também se preocupavam em observar as habilidades de cada uma das participantes visando a uma posterior divisão dos trabalhos. O próximo passo foi a confecção da planta baixa da fábrica, com ajuda dos alunos e de um professor da Arquitetura. Para isso, os bolsistas e o professor precisaram estudar as normas da Vigilância Sanitária. Com muito empenho dos professores da universidade e do secretário do prefeito, conseguiu-se a doação de um terreno pela prefeitura de Ouro Preto para a construção da fábrica. Com todas essas ações, os bolsistas se tornaram protagonistas desses processos, ora assumindo o papel de líderes frente à preparação dos materiais, ora de monitores frente à aplicação das atividades. A atuação deles se deu a partir de uma abordagem mais interativa e dialógica, uma vez que as mulheres já possuíam conhecimento do assunto e buscavam esclarecer suas dúvidas. Dessa forma, o terceiro momento do projeto passou a ter um objetivo mais amplo que o inicial, que era apenas ensinar a fabricação de sabão. Ele passou a visar ao estreitamento das relações entre universidade e comunidade por meio da fabricação de sabão, com o objetivo de inclusão social de mulheres, conscientização ambiental, capacitação e geração de renda.
4 Resultados Os resultados obtidos após o curso de Fabricação de Sabão em Ouro Preto e em Antônio Pereira, primeiro e segundo momentos do projeto, foram: • Geração de renda, decorrente da venda do sabão; • Aumento da autoestima, devido ao sentimento de utilidade que o trabalho cooperativo e a contribuição para o aumento da renda familiar propiciam às pessoas; • Redução do impacto ambiental provocado pelo descarte do óleo de cozinha utilizado pelas famílias, diminuindo a contaminação do solo e dos mananciais hídricos locais; • Aprimoramento da competência humana, através de intervenções que focalizaram os níveis intrapessoal, interpessoal e de equipe, visando ao desenvolvimento pessoal e profissional das participantes; • Publicação de um livro sobre produção de sabão artesanal intitulado “Fabricação de sabão a partir do óleo residual: uma forma de conscientizar e capacitar mulheres” (ANDRADE, 2013). Em Antônio Pereira, no terceiro momento, os resultados encontrados foram ainda mais amplos: • Formalização da associação “Mãos que Brilham”, após obtenção do CNPJ; • Fabricação de outros saneantes, como sabão líquido, multiuso, desinfetante, detergente e xampu para carro; • O projeto enviado aos editais do Banco Santander e da Fapemig foi deferido e o dinheiro recebido foi empregado na compra de equipamentos, matérias-primas e na construção da fábrica de saneantes; • Doação de um terreno, pela prefeitura de Ouro Preto, para construção da fábrica de saneantes; • Confecção da planta baixa da fábrica de saneantes.
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Além desses resultados, a capacitação das mulheres e a possibilidade de aumentar a renda familiar com um trabalho fora de casa foram importantes para despertar a motivação e aumentar a autoestima das participantes do projeto. Essa motivação resultou em algumas iniciativas importantes, como o estabelecimento de parcerias que não envolveram recursos financeiros. Para a realização dos cursos, por exemplo, elas conseguiram uma sala emprestada da paróquia local. Para a fabricação inicial dos produtos, foi emprestada uma sala na secretaria de Ação Social. Elas também procuraram supermercados e armazéns para serem pontos de vendas dos produtos. Os professores também ajudaram na divulgação e comercialização dos produtos através da organização de feiras e de um simpósio, que contou com o apoio da Fiemg e da prefeitura de Mariana; A venda de porta a porta possibilitou o contato com o consumidor final. A partir disso, surgiu a necessidade de fabricação de novos produtos, pedidos pelos consumidores, e também foi importante para diagnosticar a qualidade dos produtos vendidos. Atualmente, a equipe técnica, formada por alunos de Química e professores, pesquisa indicadores de tempo médio de vida de cada um dos produtos, controle de qualidade das matérias-primas e dos produtos acabados, além de fazer planejamento da produção diária de lotes por procedimentos padrões de medidas de produção para evitar perdas desnecessárias ao pesar e medir as matérias-primas. A venda destes produtos no mercado regional expandiu depois de um curso na área de marketing e vendas, ministrado por uma professora da UFOP, e a elaboração de uma rede de vendas e uma logomarca para o produto, desenvolvido pelas mulheres com a ajuda de alunos de Comunicação Social e Ciências Econômicas. Pelos resultados acima descritos, espera-se que o projeto promova a organização de um arranjo produtivo que se sustente ao longo do tempo, por se basear na difusão do trabalho associativo, no lastro técnico-científico fornecido pela comunidade acadêmica, na educação socioambiental e na participação de agentes públicos, privados e da comunidade.
5 Conclusões O projeto alcançou seus objetivos iniciais: ensinar grupos de mulheres a fazerem sabão, conscientização ambiental a respeito do descarte do óleo de fritura, aumentar a autoestima e a renda das mesmas. O crescimento foi mútuo: dos professores, que passaram a trabalhar com demandas reais da comunidade; dos alunos, que além de aprenderem sobre temas variados tinham que transmiti-los a pessoas com baixa escolaridade; da comunidade, que aprendia teorias científicas e ensinava observações práticas. Como resultado, as mulheres de Antônio Pereira que participaram do projeto conseguiram construir um arranjo produtivo de sabão artesanal onde se tem integração social, ambiental, financeira e operacional íntegra e consistente.
6 Agradecimentos A Alfasol-Banco Santander, Fapemig (CDS - APQ-02668-13), Samarco Mineração e UFOP.
7 Referência bibliográfica ALBERICI, Rosana Maria; PONTES, Flávia Fernanda Ferraz. Reciclagem de óleo comestível usado através da fabricação de sabão. Eng.ambient. Espírito Santo do Pinhal, v.1, n.1, p.73-76, jan./dez., 2004. ANDRADE, Ângela Leão; de Guarda, Vera Lúcia Miranda; PESSOA, Letieri Fernandes et al. Fabricação de sabão a partir do óleo residual: uma forma de conscientizar e capacitar mulheres carentes. 1. ed. Ouro Preto: Gráfica da Universidade Federal de Ouro Preto, 2013.
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Relato de Experiência A prática da educação ambiental à luz da Política Nacional de Resíduos Sólidos, no Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante, em Piripiri (PI)1 Bruna de Sousa Lima2 - brunalimaadm2011@gmail.com Rayssa Marlion Guimarães Santos3 Verônica Maria César Clemente4 - verinhamaria2014@gmail.com Francílio de Amorim dos Santos5 - francilio.amorim@ifpi.edu.br RESUMO A presente atividade de extensão foi realizada no intuito de pôr em prática princípios da Educação Ambiental (EA) por todos os membros da comunidade que compõem o Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante (CEMJC). Desse modo, a atividade pautou-se na elaboração de visita ao lixão do município de Piripiri (PI), elaboração de uma cartilha e apresentação da mesma na instituição supracitada. Desse modo, a partir da presente atividade de extensão podem-
1 Projeto de Extensão financiado pelo Programa Institucional de Apoio à Extensão -ProAEx/IFPI, Subprograma IFPI em Ação Social, Projetos de Intervenção Comunitária - PRO-IC, Edital n.º 061/2014 – PROEX/IFPI 2 Bolsista do projeto. Egressa do curso de Ensino Médio Integrado à Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Piripiri. 3 Bolsista do projeto. Egressa do curso de Ensino Médio Integrado à Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Piripiri. 4 Bolsista do projeto. Egressa do curso de Ensino Médio Integrado à Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí / Campus Piripiri. 5 Supervisor do projeto. Doutorando em Geografia, pela Universidade Estadual do Ceará / Campus Itaperi. Docente do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Piauí (IFPI) / Campus Piripiri
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se perceber mudanças no público, no sentido de sua sensibilização frente aos problemas de poluição ambiental. Pois através da reciclagem ou reutilização tem-se a possibilidade de redução da quantidade de lixo produzida no citado município. Nesse contexto, a atividade de extensão mostrou-se satisfatória, podendo ser ampliada para outras instituições educacionais. PALAVRAS-CHAVE Lixo. Ensino. Reciclagem. ABSTRACT This outreach activity was carried out in order to put into practice the principles of environmental education (EE), for all the community members who make up the Municipal Education Center Joaquim Cavalcante (CEMJC). Thus, the activity it is guided in the preparation of visit to landfill in the municipality of Piripiri (PI), preparation of a booklet and presentation of it in the aforementioned institution. The results showed that from the practice in question there have been changes in public and that everyone does their part not polluting the environment. Since recycle or reuse the best possible way will reduce the amount of waste produced in that municipality. In this context, the extent of activity was satisfactory, and it must be extended to other educational institutions. KEYWORDS Trash. Environmental Education. Recycling.
1 Introdução O acúmulo de resíduos sólidos tem aumentado devido ao excessivo consumo humano, que demanda intensificação da exploração dos recursos naturais. Desse modo, é de suma importância a conscientização por parte dos discentes do ensino fundamental, do Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante (CEMJC), do quanto é importante tratar de forma adequada os resíduos sólidos produzidos pelos mesmos. Com a conscientização, evitaria a contaminação do solo e do lençol freático, além de outros inconvenientes de ordem ecológica. Portanto, o presente estudo visou beneficiar a comunidade que constitui o Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante (CEMJC), localizado no Bairro Germano, em Piripiri (PI), estado do Piauí. Pois contribuiu para a sensibilização, principalmente, dos discentes frente à redução da poluição ambiental. Nesse contexto, a Constituição da República Federativa do Brasil preconiza em seu Art. 225 que todos os brasileiros têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, este considerado bem de uso comum do povo e de suma importância para uma adequada qualidade de vida. Logo, tanto o poder público quanto a sociedade de um modo geral deve buscar de forma coletiva a preservação para o uso atual e para as gerações futuras (BRASIL, 2006). O desenvolvimento de atividades práticas no âmbito do ensino e suas possíveis influências no rendimento escolar justificam a importância desse trabalho para a formação discente de modo que o ensino-aprendizagem seja articulado à temática da educação ambiental. Dito de outra forma, as atividades práticas possibilitam maior contato dos alunos com o conteúdo, à medida que eles participam diretamente da construção do conhecimento e não tão somente da sua reprodução (CRUZ et al., 2011). A Política Nacional de Resíduos Sólidos aponta a educação ambiental como um dos instrumentos para implementação da referida política (BRASIL, 2012). A prática da educação ambiental é vista como uma resposta à crise ambiental mundial. Portanto, por meio da educação busca-se integrar sociedade e meio ambiente, objetivando o respeito aos limites ecológicos do planeta, cujos recursos são finitos (SATO e CARVALHO, 2005). Para Leff (2008), a globalização tem gerado transformações nos princípios de educação ambiental, primando pelos mecanismos do mercado como forma de transição para um futuro sustentável, visto que as instituições educacionais e a universidade pública estão direcionadas para a construção de um saber ambiental voltada para a formação de recursos humanos.
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Ações que visem a conscientização ambiental têm sido desenvolvidas por docentes no âmbito escolar e são importantes estratégias para ensinar de forma simples e prática a importância da separação do lixo (SILVEIRA et al., 2014). Nesse contexto, foram propostos os seguintes objetivos para operacionalização da atividade de extensão: despertar a consciência ambiental e a importância da sua conservação, assim como da necessidade do reaproveitamento do lixo por meio da reciclagem na escola, de modo a implementar um planejamento sobre o gerenciamento de resíduos sólidos; mostrar por meio de material audiovisual que a reciclagem traz inúmeros benefícios para a sociedade, reduzindo o volume de lixo (resíduos sólidos) enviado a aterros sanitários; elaborar uma cartilha sobre a forma de tratamento dos resíduos sólidos; produzir e expor um vídeo-documentário sobre o lixão de Piripiri.
2 Procedimentos metodológicos A atividade de extensão ora relatada foi selecionada e financiada pelo Edital nº 061/2014 – PROEX/IFPI, do Subprograma IFPI em Ação Social, que selecionou Projetos de Intervenção Comunitária - PRO-IC. A referida atividade apresenta natureza qualitativa, visto que buscou gerar mudanças e promover uma consciência ecológica, com fins de conservação ambiental. Nesse contexto, buscou-se operacionalizar o trabalho prático no período de setembro de 2014 a março de 2015, cujas atividades desenvolvidas foram as seguintes: a) levantamento bibliográfico referente à temática ambiental. b) visita ao lixão do município de Piripiri, no intuito de realizar levantamento de informações gerais sobre o processo de saneamento, coleta seletiva e atuação dos catadores de lixo. c) elaboração de cartilha e planejamento de palestra, com exposição de vídeo-documentário. d) desenvolvimento da atividade prática com os discentes da escola. Para avaliar a qualidade da atividade de extensão foi elaborado um questionário com indagações sobre a importância da consciência ambiental, sobre os conteúdos abordados na cartilha, sobre a proposição de mais atividades de extensão voltadas para o trabalho com a temática ambiental e sobre a pertinência da palestra. Os referidos questionários foram aplicados a 51 alunos do CEMJC, escolhidos de forma aleatória.
3 Resultados e discussão Inicialmente, para visualizar a questão dos resíduos sólidos em Piripiri (PI), foi realizada uma visita ao lixão do referido município, possibilitando-nos observar a forma como os resíduos sólidos são descartados. A visita ao lixão permitiu, ainda, apontar que o descarte é inadequado, prejudicando os seres humanos e os animais que ficam próximos àquela região, como mostra a Figura 1. Boa parte dos resíduos sólidos ali depositados ultimamente não está sendo utilizada para fins de redução, reciclagem ou reaproveitamento.
Figura 1: Resíduos sólidos depositados a céu aberto, no município de Piripiri (PI). Fonte: Lima et al. (2014).
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Alguns catadores utilizam determinados materiais para confecção de artesanato como, por exemplo, o pneu, que no município de Piripiri é usado para confecção de produtos de decoração, com apresentado na Figura 2. A atitude de reciclar, além de diminuir a quantidade de lixo, contribui para o aumento da renda de algumas famílias e incremento na produção de bens de consumo na economia da cidade.
Figura 2: Pneu utilizado para confecção de decoração. Fonte: Lima et al. (2014).
A atividade de extensão, proposta nesse relato, foi desenvolvida com os 132 alunos do turno vespertino do Ensino Fundamental, do Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante (CEMJC), localizado no Bairro Germano, em Piripiri (PI), no dia 15 de maio de 2015. A atividade contou com a exposição de cartilha sobre a Educação Ambiental e mostra de produtos confeccionados a partir de material reciclado, como apresentado na Figura 3.
Figura 3: Produtos confeccionados a partir de material reciclado. Fonte: Lima et al. (2014).
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A partir do questionário aplicado pode-se observar que 98% dos entrevistados afirmaram que a atividade de extensão foi importante para o desenvolvimento da consciência ambiental. Por outro lado, apenas 2% apontou que a atividade não foi interessante. Desse modo, pode-se afirmar que a produção da cartilha e sua apresentação resultaram na promoção de consciência ambiental nos alunos. De acordo com 98% dos alunos, a cartilha possibilitou conhecer e melhor entender a Política Nacional de Resíduos Sólidos, sendo que somente 2% afirmaram que a cartilha não propiciou melhor entendimento da referida temática. Nesse contexto, foi importante a elaboração da cartilha, pois criou a possibilidade dos alunos entenderem melhor parte da legislação ambiental. No que diz respeito à prática de atividades de extensão voltadas para o desenvolvimento da educação ambiental, 98% dos alunos afirmaram que gostariam que tivesse mais atividades semelhantes a que foi apresentada nesse relato. Nessa ótica, é possível perceber que o desenvolvimento de atividade prática tem sido pouco realizado, necessitando assim melhor capacitar os docentes para que consigam desenvolver com seus alunos atividades práticas que permitam a criação de consciência ambiental. Quando questionados sobre o que acharam mais interessante na palestra e apresentação da cartilha sobre educação ambiental e resíduos sólidos, os alunos responderam que o mais interessante foi conhecer algumas maneiras de reaproveitar os resíduos sólidos, ou seja, o ato de reciclar. Outro importante ponto citado foi a possibilidade de conhecer o tempo de decomposição de alguns materiais como, por exemplo, o pneu, que demora em média 600 anos para se decompor, a garrafa pet que leva 400 anos e a lata por tempo indeterminado. Abaixo, algumas respostas dadas pelos alunos: “Produtos que podem ser feitos a partir da reutilização dos resíduos sólidos”. “Interessante pois sim! A cada dia o nosso mundo ta se desenvolvendo rápido umas coisas pra melhor e outras pra pior espero que mais as pessoas saibam valorizar o ambiente”. “Muito interessante para reciclar do lixo aprender a preservar o ambiente e achei muito interessante o artesanato”. “Achei interessante as coisas que podemos reutilizar”.
4 Conclusões A ação proposta por esse projeto teve grande aceitação por parte do público alvo e pela gestão Centro Educativo Municipal Joaquim Cavalcante (CEMJC), localizado em Piripiri (PI). Os objetivos elencados pela atividade de extensão foram alcançados, posto que 98% dos alunos tenham afirmado que a atividade ora executada fora essencial para o desenvolvimento de sua consciência ambiental. Nesse sentido, a partir da utilização de material didático foi possível apontar as vantagens que a reciclagem traz à sociedade, principalmente à redução do volume de resíduos sólidos enviados a aterros sanitários. Nesse sentido, a elaboração da cartilha, contendo conceitos sobre resíduos sólidos, tempo de decomposição de alguns produtos, entrevistas a catadores de lixo, etc., propiciou aos alunos o contato com a legislação referente à Política Nacional de Resíduos Sólidos, segundo 98% das respostas dos mesmos. Em suma, atividades de extensão que almejem colocar em prática princípios da Educação Ambiental devem propiciar transformações no público-alvo, colocando de forma simples conceitos e hábitos que podem ser praticados visando a redução dos resíduos sólidos dispostos de modo inadequado no ambiente, bem como produtos que por meio da reciclagem podem contribuir para o aumento da renda de algumas famílias e incremento na produção de bens de consumo na economia da cidade.
5 Referências BRASIL. Lei n. 12.305, de 2 de agosto de 2010. Política nacional de resíduos sólidos [recurso eletrônico]. – 2. ed. – Brasília: Câmara dos Deputados, Edições Câmara, 2012.
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Relato de Experiência Orientações sobre vacinação contra o HPV em escolas públicas no interior do Estado de São Paulo Caio Vinícius da Conceição1 - caio.conceicao@hotmail.com Magali A. Alves de Moraes2 - dmagalimoraes@hotmail.com
RESUMO Com o objetivo de promover ações educativas em saúde para conscientizar estudantes de escolas públicas de uma cidade do interior de São Paulo sobre a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV), o estudo foi desenvolvido na modalidade de relato de experiência, com a utilização de recursos audiovisuais. Revelou-se o desconhecimento dos estudantes a respeito do tema e da finalidade da vacina. Sugere-se que outras ações educativas sejam realizadas para orientação em novas campanhas de vacinação. PALAVRAS-CHAVE Educação em saúde. Papilomavírus humano. Sexualidade. Vacinação. Neoplasia. ABSTRACT The aim of this research is to promote educational health actions to make students from public schools conscious about vaccination against the human papillomavirus, in a city in the state of São Paulo. This analysis was developed in the form of experience report, which was used audiovisual resources. It came out lack of knowledge from the students about the subject and
1 Estudante de Medicina da Famema 2 Doutora em Educação- UNESP, docente dos Cursos de Medicina e Enfermagem da Famema
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the purpose of the vaccine. It is suggested that other educational actions will be taken to provide guidance in new vaccination campaigns. KEYWORDS Health education. Human papillomavirus. Sexuality. Vaccination. Neoplasia.
1 Relato de experiência O câncer cérvico uterino é o terceiro tumor mais frequente na população feminina, além de ser a quarta causa de morte entre as mulheres no Brasil. Segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), 16.340 novos casos são esperados para o ano de 2016 no país. A infecção da população pelo HPV tem íntima relação com o desenvolvimento dessa neoplasia, uma vez que há, pelo menos, 13 tipos desse vírus considerados oncogênicos, os quais apresentam maior probabilidade de provocar lesões precursoras e persistentes nos tecidos alvo de ação viral. Dentre os sorotipos oncogênicos, destacam-se os tipos 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer cérvico uterino. Em contrapartida, os tipos 6 e 11, encontrados em 90% dos condilomas genitais e papilomas laríngeos, não apresentam potencial oncogênico (INCA, 2015). O período de incubação do HPV pode variar de três semanas a oito meses, mas as lesões podem permanecer por anos na forma subclínica. Os aspectos morfoclínicos vão desde verrugas genitais e papilomas orais e laríngeos a condilomas acuminados, planos e invertidos (OLIVEIRA; LEVI, 2011). Para reduzir as taxas de morbimortalidade do câncer, o Ministério da Saúde incluiu, em 2014, a vacina contra o HPV no Calendário Nacional de Vacinação. Desde então, a vacina passou a ser fornecida gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a meninas de 11 a 13 anos. Em 2015, as adolescentes de 9 a 11 anos também foram vacinadas e, em 2016, a meta é que meninas de 9 a 13 anos recebam a proteção (BRASIL, 2015). A conscientização dos profissionais da educação, dos pais e dos adolescentes sobre os benefícios da vacina é essencial para que a meta de diminuição da morbimortalidade do câncer seja alcançada e para que a cobertura vacinal seja ampliada. Em razão disso, os estudantes e profissionais da área da saúde são incumbidos de orientar e promover ações educativas e preventivas, realizando educação em saúde. Segundo Colomé e Oliveira (2012), na vertente da educação em saúde radical, leva-se em consideração a complexidade do fenômeno, e não apenas a ação preventiva, concebendo-se as pessoas como seres pensantes em um processo dialógico. Além disso, Abreu et al. (2014) enfatizam a educação em saúde como um recurso indispensável para a melhoria da qualidade de vida, delegando a tarefa para toda a equipe interprofissional. Nesse referencial, busca-se a consciência crítica das pessoas, apoiando-se na promoção da saúde para propiciar condições de vida satisfatórias. Desse modo, com o objetivo de orientar os jovens sobre a vacinação contra o HPV, estudantes dos cursos de Medicina e Enfermagem do segundo ano da Faculdade de Medicina de Marília (Famema), integrantes do projeto Programa de Educação pelo Trabalho (PET) - Redes de Atenção, mobilizaram-se para realizar palestras em escolas públicas, em setembro de 2014, no momento de aplicação da segunda dose da vacina. Tais palestras foram realizadas em salas de aulas de quatro escolas do ensino fundamental de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Cada sala possuía cerca de 25 alunos, totalizando um público de aproximadamente 200 estudantes, distribuídos em oito salas de turmas do sétimo ano, na faixa etária de 11 a 13 anos, de ambos os sexos. Inicialmente, os adolescentes foram estimulados a manifestar seus conhecimentos prévios sobre a vacina de HPV, expondo-os verbalmente ou por meio de perguntas escritas anonimamente para serem discutidas posteriormente. Em seguida, foi realizada a exposição oral pelos integrantes da equipe, utilizando slides com informação teórica e fotos de adultos e crianças com sintomas do HPV. Na sequência, houve abertura para questionamentos, nos quais os adolescentes revelaram todas as suas dúvidas. Em algumas salas, eles foram estimulados a responder às perguntas dos colegas, complementadas pelos expositores.
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Figura 1: Palestrantes na sala de aula.
Após a exposição, folders, intitulados “Vacinação contra o HPV”, foram entregues aos adolescentes com o conteúdo simplificado da palestra (Fig. 1 e 2). A preparação desse material apresentado nas escolas contou com a orientação dos preceptores do PET e fez parte da pesquisa aprovada, em 18/12/2013, pelo Comitê de Ética da Famema, via Parecer Consubstanciado n. 500.189, de acordo com a Resolução CNS/MS n. 466, de 12 de dezembro de 2012. Durante a explanação sobre a relação do HPV com o câncer de colo do útero, observou-se amplo desconhecimento dos estudantes, demonstrando fragilidade no ensino escolar, que não aborda questões relacionadas à biologia e saúde, ou o faz tardiamente. Nesse sentido, ressaltam-se questionamentos como: “O que é vírus?”; “O que é colo de útero?”. Um professor questionou o risco de aquisição do HPV por meio do sexo oral, ao mencionar essa prática entre alguns alunos. Tal questão corrobora a necessidade de administração de vacinas nessa idade e, até mesmo, antes, uma vez que há maior eficácia quando o procedimento é feito anteriormente ao início da atividade sexual. O estímulo da produção de anticorpos contra os sorotipos mais prevalentes do HPV contribui com a prevenção da infecção pelo vírus e pode diminuir taxas de morbimortalidade do câncer cérvico uterino. Selecionaram-se três imagens com verrugas decorrentes da ação do vírus localizadas em partes diferentes do corpo humano – na boca de uma criança, em um pênis e em uma vagina – todas com o objetivo de alertar aos estudantes sobre a necessidade de valorizar a sua saúde e se proteger contra o HPV. Os adolescentes ficaram impressionados e prestaram muita atenção no que estava sendo dito, mas também se manifestaram com risadas.
Figura 2: Folder “Vacinação contra o HPV” (vista anterior).
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Figura 3: Folder “Vacinação contra o HPV” (vista posterior).
Alguns adolescentes fizeram perguntas a respeito da vacina: “É normal ficar inchado?”; “Tomei a primeira dose da vacina e saiu uma bolinha lá embaixo... sabe? É normal?”. Além disso, uma professora também demonstrou desconhecimento e perguntou: “Eu também posso tomar a vacina para me prevenir?”. Destacaram-se, na fala de uma menina, questões socioculturais e desconhecimento da função e objetivo da vacina. Quando se perguntou à sala quem não havia tomado a vacina e por que, a garota respondeu: “Não tomei porque minha mãe não deixou. Nossa religião não permite.” Tendo isso em vista, é possível compreender que alguns aspectos socioculturais da sociedade dificultam práticas de promoção e prevenção à saúde; sendo necessário orientar os pais sobre as características e objetivos da vacina para que, com autonomia, a população coparticipe do seu cuidado e opine sobre o problema de sua saúde. As orientações foram ministradas, tendo a atenção, o comprometimento, a participação e o interesse dos alunos. A dificuldade encontrada foi, sobretudo, o desconhecimento em relação a conceitos de ciências biológicas. Os palestrantes, entretanto, puderam esclarecer essas lacunas. Considera-se, enfim, que ações como a aqui apresentada, que visam promover a saúde e prevenir a doença, devem ser ampliadas para as campanhas seguintes, incluindo as famílias e os profissionais da saúde e da educação, de modo a obter uma maior adesão do público-alvo.
Referências ABREU, R. N. D. C. et al. Educação em saúde para prevenção das doenças cardiovasculares: experiência com usuários de substâncias psicoativas. Revista Espaço para a Saúde, Londrina, v.15, n.3, p. 13-21, jul./set. 2014. Disponível em:< http://www.uel.br/revistas/uel/ index.php/espacoparasaude/article/view/17704/pdf_36>. Acesso em: 26 jan. 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. Nota informativa n. 149, de 2015/CEPNI/DEVIT/SVS/MS. 2015. Disponível em:< http://www.cvpvacinas.com.br/pdf/nota_informativa_149.pdf>. Acesso em: 24 jan. 2016. COLOMÉ, J. S.; OLIVEIRA, D. L. L. Educação em saúde: por quem e para quem? A visão de estudantes de graduação em enfermagem. Texto e Contexto - Enferm., Florianópolis, v. 21, n. 1, 2012. Disponível em: < http://dx.doi.org/10.1590/S0104-07072012000100020>. Acesso em: 24 mai. 2016. INCA. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Tipos de câncer: colo do útero. 2015. Disponível em:< http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/inca/portal/home>. Acesso em: 23 jan. 2016. OLIVEIRA, C. M.; LEVI, J. E. HPV de Alto e Baixo Risco para Câncer: toda regra tem sua exceção. Editorial. Rio de Janeiro. 2012. Disponível em:< http://www.dst.uff.br/ revista23-4-2011/2.EDITORIAL.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2016.
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Relato de Experiência Educação em saúde: a abordagem sobre doenças sexualmente transmissíveis em salas de espera Katy Andrade Monteiro Zacaron1 - katy.andrade@ufjf.edu.br Cristiane Diniz2 - cdufmg@yahoo.com.br Juliana Santana Lazarini3 - julianas.94@hotmail.com Luiz Eduardo de Almeida4 - luiz.almeida@ufjf.edu.br
RESUMO O presente relato de experiência buscou evidenciar a experiência do “Projeto de Extensão Sala de Espera: enfoque multiprofissional” na abordagem da temática DST/Sífilis em salas de espera de Unidades de Atenção Primária a Saúde. Dinamizado sob perspectiva crítica e reflexiva, desprende-se desta experiência o êxito da extensão universitária no fornecimento de ações promotoras de saúde e como instrumento indutório na contextualização de discentes de seus reais papeis como futuros profissionais de saúde. PALAVRAS-CHAVE Educação em Saúde. Extensão universitária. Sala de espera. Doenças sexualmente transmissíveis. Sífilis.
1 Mestre em Ciência da Reabilitação – Professora do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Avançado de Governador Valadares, MG. 2
Acadêmica do curso de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Avançado de Governador Valadares, MG.
3
Acadêmica do curso de Nutrição da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Avançado de Governador Valadares, MG.
4 Mestre em Clínica Odontológica – Professor do Departamento de Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Campus Avançado de Governador Valadares, MG
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ABSTRACT This experience report aimed to highlight the experience of the “Extension Project Waiting Room: multidisciplinary approach” in the thematic approach STD/Syphilis in waits rooms/ UAPS. Streamlined under critical and reflective perspective, detaches itself from this experience the success of the university extension in the provision of health-promoting actions and how indutório instrument in the context of students of their actual roles as future health professionals. KEYWORDS Health Education . Academic extension. Waiting room. Sexually Transmitted Diseases. Syphilis.
1 Relato de experiência Conforme as novas Diretrizes Curriculares Nacionais, os cursos de graduação da área da saúde devem ofertar ações promotoras da integração ensino-serviço-comunidade (FERREIRA, FORSTER; SANTOS, 2012). Sob esta concepção, galgando um aprendizado que ultrapasse as barreiras físicas da universidade e se concretize no âmbito da comunidade, foi idealizado, em 2014, o “Projeto de Extensão Sala de Espera: enfoque multiprofissional/PESE”, sendo delineado em uma perspectiva multiprofissional, envolvendo docentes e discentes dos cursos de Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição e Odontologia da Universidade Federal de Juiz de Fora/Campus Avançado de Governador Valadares (UFJF/GV). Quanto ao local de atuação, o PESE se fez presente em “Salas de Espera/SE” de Unidades de Atenção Primária à Saúde/UAPS (Bairros Centro, Lourdes e Vila Mariana) de Governador Valadares, MG. A eleição deste cenário se justifica pelo fato de a sala de espera configurar-se, segundo Santos et al. (2012), em um lugar pouco utilizado pelas instituições de saúde, mesmo diante do frequente tempo ocioso de espera das consultas pelos pacientes que ali se fazem presentes. Os autores ainda destacam que estes espaços podem prestar-se a importantes momentos de trocas entre saberes científicos e populares, por meio da implantação de programas de promoção de saúde. De acordo com Garcia et al. (2007), a SE se consubstancia em um espaço privilegiado da multiprofissionalidade, que exige a atuação em equipe, a responsabilização e o vínculo com os usuários. Indo além, pode-se afirmar que dinamizar espaços do serviço com a extensão universitária é levar o conhecimento científico de forma prática e acessível à população, ao mesmo tempo em que fornece aos alunos uma experiência precoce na comunidade (ALMEIDA, 2009). Permeado ao seu objetivo, o de descrever um relato de experiência da atividade desenvolvida pelo PESE-UFJF/GV, cujo enfoque temático, norteado pelos gestores das UAPS assistidas, foi “Doenças sexualmente transmissíveis – DST’s”, o presente estudo traz em seu bojo a análise de conteúdo de um fato, sendo organizado sob recorte analítico-transversal e dinamizado sob estratégia narrativa (BELL, 2008). Desprende-se deste percurso a sistematização de desenvolvimento das ações do PESE, extraindo daí três pontos estruturais: o planejamento, a execução e a autoavaliação. O sucesso de ações de educação em saúde não se restringe a grandes ideias, na verdade, o fundamental é desenvolver meios para alcançá-lo, ou seja, perceber a importância de se planejar (ALMEIDA, 2009). Durante o planejamento, o primeiro ponto trabalhado pela equipe do PESE foi a definição do tema a ser abordado. Direcionados pela gerência administrativa do serviço, buscando assim atender as reais necessidades das comunidades adstritas às UAPS, destacou-se a importância de se discutir a temática “Doenças Sexualmente Transmissíveis/ DST”, sendo ainda enfocada a alta prevalência de casos de sífilis. Confrontando esta realidade com a literatura, constata-se que as DST requerem, além do tratamento individualizado, trabalhos de prevenção e ações de promoção de saúde para que se consiga uma efetiva redução da incidência dessas doenças (Rodrigues et al.,2011). Aprofundando, como exposto por Araújo et al. (2012) e Magalhães et al. (2013), a sífilis destaca-se dentre as DST por acarretar problemas sociais, econômicos e sanitários. No Brasil, em 2011, registrou-se uma taxa de cinco casos de sífilis por mil nascidos vivos no Brasil (BRASIL, 2012).
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Posteriormente, com o intuito de se estabelecer um contato direto com os usuários, bem como direcionar a equipe do PESE para a construção da dinâmica interativa, urnas foram instaladas nas UAPS para que os usuários depositassem suas principais inquietações frente ao assunto a ser abordado, destacando como as mais frequentes: “O que é DST?; Usar camisinha previne contra todas as DST?; Como é feito o tratamento para DST?; É muito complicado?; É possível pegar DST pelo beijo?; Quem pode pegar?; Quais são os tipos de DST?; Tem cura?; Se eu estiver grávida, eu posso passar para meu filho?”. Ressalta-se deste percurso a saída do comum e antidialógico desenvolvimento da extensão, ensino-centrado, para o encontro de um cenário extensionista de “via de mão dupla”, que visa em sua existência a troca de experiências entre ensino e serviço em prol da comunidade (ALMEIDA, 2009; FREIRE, 2006). Concluído o direcionado plano de ação, iniciou-se a execução das atividades. Com média de duração de 30 minutos, foram abordadas as questões supracitadas, bem como outras interpelações surgidas durante a atividade. Desta dinâmica foi construído e afixado um painel interativo – designado, pela equipe, como “Cantinho interativo/UFJF/UAPS” (Figuras 1, 2 e 3). Afirma-se que este modelo pedagógico vai de encontro ao explanado por Cervera, Parrera e Goulart (2011), que destacam o importante papel da educação em saúde na capacitação da comunidade como agentes promotores de saúde, ou seja, “empoderando” os indivíduos a serem capazes de se autoperceberem e, principalmente, de cuidarem da sua própria saúde. Por fim, porém não menos importante, descreve-se a autoavaliação. De forma crítica e reflexiva foram expostos pela equipe os pontos positivos e negativos por eles percebidos durante todo o processo. O quantitativo de usuários, a receptividade e/ou participação da equipe profissional da UAPS, a dinâmica e a presença do corpo docente foram os principais pontos positivos apontados pelos discentes. Quanto aos pontos negativos, as dificuldades centraram-se no tema, na pouca participação dos usuários e nos ruídos do ambiente. Por fim, de posse destas reflexões, ponderando os pontos positivos e negativos, a equipe do PESE-UFJF/GV caracterizou a atividade como exitosa, entretanto, foi consenso dos membros que o sucesso da ação não esteve apenas atrelado aos acertos, pelo contrário, a discussão sobre os erros foi fundamental para um aprendizado mais coerente com a realidade. Em síntese, pode-se afirmar que o espaço sala de espera se consagra como um território dinâmico para atividades extensionistas, onde diferentes indivíduos aguardam seu atendimento de saúde, constituindo-se, portanto, em um espaço fértil para implantação de ações educativas, que podem contribuir significativamente para a promoção da saúde, prevenção de agravos e encaminhamento para outras atividades, portanto, encorpando e otimizando ainda mais o papel da atenção primária junto aos serviços de saúde prestados pelo Sistema Único de Saúde, SUS.
Figura 1: Dinâmica interativa abordando o tema “DST/Sífilis”. Fonte: Projeto de Extensão Sala de Espera: enfoque multiprofissional, 2014
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Figura 2: Dinâmica interativa abordando o tema “DST/Sífilis”. Fonte: Projeto de Extensão Sala de Espera: enfoque multiprofissional, 2014
Figura 3: Dinâmica interativa abordando o tema “DST/Sífilis”. Fonte: Projeto de Extensão Sala de Espera: enfoque multiprofissional, 2014
2 Referências ALMEIDA, L.E. Pró-Saúde: Ensino, Pesquisa e Extensão. 1. ed. Juiz de Fora: Editar, 2009. ARAÚJO, C.L. et al. Incidência da sífilis congênita no Brasil e sua relação com a Estratégia Saúde da Família. Rev Saúde Pública, 46(3):479-486, 2012. BELL, J. Projeto de Pesquisa: guia para pesquisadores iniciantes em educação, saúde e ciências sociais. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de DST, Aids e Hepatites Virais. Boletim Epidemiológico - Sífilis 2012. Brasília-DF, 2012. CERVERA, D.P.P.; PARREIRA, B.D.M.; GOULART, B.F. Educação em saúde: percepção dos enfermeiros da atenção básica em Uberaba (MG). Ciência & Saúde Coletiva, 16(Supl.l): 1547-1554, 2011.
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FERREIRA, J.B.B.; FORSTER, A.C.; SANTOS, J.S. Reconfigurando a interação entre ensino, serviço e comunidade. Rev. bras. educ. med., 36(1): 127-133, 2012. FREIRE, P. Extensão ou Comunicação. 13. ed. São Paulo: Paz e Terra. 2006. GARCIA, M.A.A. et al. A Interdisciplinaridade Necessária à Educação Médica. Rev. bras. educ. med., 31 (2): 147-155, 2007. MAGALHÃES, D.M.S.; KAWAGUCHI, I.A.L.; DIAS, A.; CALDERON, I.M.P. Sífilis materna e congênita: ainda um desafio. Cad. Saúde Pública, 29(6): 1109-1120, 2013. RODRIGUES, L.M.C. et al. Abordagem às Doenças Sexualmente Transmissíveis em Unidades Básicas de Saúde da Família. Cogitare Enferm., 16(1):63-69, 2011. SANTOS, D.S. et al. Sala de espera para gestantes: uma estratégia de educação em saúde. Rev. bras. educ. med., 36(1): 62-67, 2012.
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Relato de Experiência Estágio em docência: o relato de experiência como recurso necessário na avaliação da aprendizagem Natalia Lopes Braga1 - nataliabraga1@hotmail.com Natália Parente Pinheiro2 - nataliaparentep@gmail.com Larissa de Brito Feitosa3 - larissabf@hotmail.com
RESUMO Este artigo objetivou descrever e refletir sobre a experiência de estágio em docência na disciplina de Psicologia Social. Como método, fez-se uma descrição, trazendo a discussão de limitações e potencialidades do estágio. Percebeu-se que a troca de experiências entre alunos, professor e estagiárias proporcionou o crescimento e o aprendizado de todos os envolvidos. Conclui-se que a experiência da docência oferece capacitação necessária para a formação holística do futuro profissional. PALAVRAS-CHAVE Estágio em docência. Psicologia social. Formação acadêmica. ABSTRACT This paper aims to describe and reflect about the experience of the Teaching Assistantship in the discipline of Social Psychology. There was a description, bringing the discussion of limitations and potencial brought by the experience. The exchange of experiences made possible and provided the growth and learning of all involved, the students, teachers and trainees. It is concluded that
1 Psicóloga. Especialista em Psicologia Social e Comunitária. Mestre e Doutoranda em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR). 2
Psicóloga. Mestre em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (UNIFOR).
3 Professora da Universidade de Fortaleza. Mestre em Psicologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC).
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Teaching Assistantship experience offers the necessary training to holistic training of future professionals. KEYWORDS Teaching Assistantship. Social Psychology. Academic growth.
1 Relato de experiência O estágio é o momento em que o aluno busca capacitar-se, sob a supervisão de um profissional, para realizar as atividades que em breve lhe serão exigidas no mercado de trabalho. A partir desta experiência, o aluno pode ter contato com a realidade que o cerca e, munido de seus conhecimentos teóricos, promover uma prática mais condizente com a realidade social e com a necessidade das pessoas atendidas, sempre ciente de seu compromisso ético, social e político. Desse modo, pode-se afirmar que o estágio em docência é uma importante etapa do processo de formação, pois se fundamenta tanto em um plano teórico quanto prático, de modo dialético, uma vez que exige do pós-graduando um movimento de leitura constante, discussão e busca pelo aprofundamento das temáticas trabalhadas em sala de aula, bem como o exercício de ministrar aulas e favorecer o processo ensino-aprendizagem. Em concordância, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) estabelece que o estágio de docência é “parte integrante da formação do pós-graduando, objetivando a preparação para a docência e a qualificação do ensino de graduação”. Percebe-se que a expansão dos cursos de mestrado e de doutorado no Brasil possibilita a formação de professores mais capacitados para atender a demanda do ensino superior do país, bem como para elevar a qualidade do ensino oferecido pelas Universidades e ampliar o desenvolvimento de pesquisas científicas (CHAMLIAN, 2003). Verhine e Dantas (2007) destacam três principais desafios que o pós-graduando tem no desenvolvimento de sua experiência de estágio em docência: a aprendizagem dos alunos, sua própria aprendizagem em relação ao exercício da docência e a aproximação prática da sala de aula com o desenvolvimento de pesquisas que aproximam o estudante da realidade social, em diversos contextos. Entendemos que o processo de troca de experiências é importante para a construção do conhecimento e formação profissional dos sujeitos, além da necessidade de se compartilhar o aprendizado, as dificuldades e os conhecimentos colhidos durante o estágio em docência. Diante disso, este trabalho teve como objetivo descrever e refletir sobre a experiência de estágio realizada por duas mestrandas do curso de Pós-Graduação em Psicologia na disciplina de Psicologia Social I, do curso de graduação em Psicologia. A disciplina de Psicologia Social I é oferecida no 3º semestre do curso de Psicologia da Universidade e exige 60 horas/aula. Esta disciplina tem como finalidade: estudar a história da Psicologia Social e seus desdobramentos epistemológicos, o fenômeno social nas várias abordagens psicológicas da contemporaneidade, a emergência do sujeito em sua dimensão dialética, suas implicações para a Psicologia Social, além de fomentar uma consciência crítica e reflexiva diante de questões sociais vigentes. Segundo Freschi (2008), é necessário diversificar as metodologias utilizadas em sala de aula, de modo que o aluno possa reconstruir, da melhor forma, significativamente o conteúdo estudado. Durante a experiência do estágio em sala de aula, foram disponibilizados diversos recursos para o desenvolvimento do processo de ensino e aprendizagem, como a veiculação de filmes e documentários, pesquisas de campo, apresentação de seminários, rodas de conversa, construção de mapas afetivos, estudos de casos, dentre outros (Figura 1). A presença do estagiário enquanto estudante em aulas que se utilizam de metodologias variadas é um momento propício para a avaliação da eficiência de tais metodologias. Dessa forma, o futuro professor se torna apto a eleger o melhor tipo de metodologia para cada situação e a tornar sua prática profissional cada vez mais competente.
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Figura 1: Folders construídos pelos alunos como ilustração de metodologia diferenciada.
Mesmo diante da segurança da importância do momento do estágio, algumas questões tornaram-se desafiadoras e impulsionaram o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento por parte das estagiárias. Primeiramente, a necessidade de organização do tempo com o mestrado, que exige atividades como: participar dos laboratórios de pesquisa, cursar disciplinas (obrigatórias e eletivas) e ainda desenvolver uma dissertação. Outra dificuldade que se pode destacar é relacionada à habilidade de falar em público, eminentemente ministrando aulas, o que exige, além de desinibição e didática, uma boa oratória e capacidade de articulação entre teoria e prática. Na situação em questão, a estratégia utilizada para a superação dessa dificuldade foi desenvolver um bom plano de aula, treinar e revisar a matéria, ter conhecimento e leitura do conteúdo/ temática, buscar informações sobre a atualidade e dicas/trocas com outros estagiários, bem como com professores, além de utilizar metodologias criativas e participativas que confiram sentido e impulsionem a participação dos alunos (Figura 2).
Figura 2: Roda de conversa com exposição na Universidade como disparadora.
Diante do exposto, é possível afirmar que o estágio em docência é uma importante etapa do processo de formação do aluno de pós-graduação, pois contribui para o aprendizado prático do exercício e da experiência de ser professor. Este processo impulsiona a capacitação de discentes em futuros docentes.
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A vivência dos momentos em sala de aula proporcionada pelo estágio possibilitou adquirir conhecimentos teóricos mais aprofundados da teoria da Psicologia Social, do contexto histórico de seu surgimento e do seu desenvolvimento até a contemporaneidade, bem como da aplicabilidade de seus conteúdos. Para Ribeiro (2012), dentre as principais contribuições do estágio em docência pode-se destacar o aprendizado da importância do planejamento e de aspectos relacionados aos alunos, além da importância de atentar-se para a necessidade e interesse dos mesmos. Pode-se concluir que a troca de experiências realizada no estágio em docência, que inclui o entrelaçamento das vivências do professor, aluno e estagiário, possibilita o crescimento e o aprendizado de todos aqueles envolvidos neste processo, pois a presença de um estudante junto com o professor pode proporcionar uma série de questionamentos e reposicionamentos de ambos, promovendo uma formação constante e renovação dos conhecimentos teórico-práticos (Figura 3). Por fim, ressalta-se que o “processo de ensino-aprendizagem, a despeito do nível de formação em que ocorre e longe do que o senso comum imagina, exige por parte do docente a aquisição de um conjunto de competências específicas, que vão muito além do domínio de um saber historicamente acumulado” (ARROIO; RODRIGUES FILHO; SILVA, 2006, p. 1388).
Figura 3: Estudo e planejamento de atividades.
2 Referências ARROIO, A.; RODRIGUES FILHO, U. P.; SILVA, A. B. F. A formação dos pós-graduando em Química para a docência em nível superior. Química Nova, v. 29, n. 6, p. 1387-1392, 2006. CHAMLIAN, H. C. Docência na universidade: professores inovadores na USP. Cadernos de pesquisa, n. 118, p. 41-64, 2003.
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COORDENAÇÃO DE APERFEIÇOAMENTO DE PESSOAL DE NÍVEL SUPERIOR (CAPES). Portaria n.º 052, de 26 de setembro de 2002. Dispõe sobre a aprovação do regulamento para o Programa de Demanda Social. Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 26 set. 2002. Disponível em: <http://www.capes.gov.br/export/sites/capes/download/legislacao/ Portaria_CAPES_052_2002.> Acesso em: 16 de agosto de 2015. FRESCHI, M. As percepções docentes sobre a dimensão metodológica no processo ensinoaprendizagem. Práxis Educativa, v. 1, n. 2, p.149-157, 2008. RIBEIRO, G. M. Estágio de docência na graduação: Possibilidades e limites na formação de professores universitários. Dissertação (Mestrado em Educação), Universidade Federal de Pelotas, 2012. VERHINE, R. E.; DANTAS, L. M. V. Estágio de docência: conciliando o desenvolvimento da tese com a prática em sala de aula. Revista Brasileira de Pós-Graduação, v. 4, n. 8, p. 171-191, 2007.
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Relato de Experiência Monitoramento e rastreamento do câncer de útero e de mama: experiência de educação em saúde no Projeto Rondon Giovana Cossio Rodriguez1 - giovanacossio@gmail.com Sidnéia Tessmer Casarin2 - stcasarin@gmail.com Michele Mandagará de Oliveira3 - mandagara@hotmail.com Camila do Canto Perez4 - camilacperez@gmail.com
RESUMO Este artigo tem por objetivo relatar a experiência de extensão acadêmica acerca da promoção da saúde e prevenção do câncer de colo de útero e de mama, desenvolvida por acadêmicos e professores da Universidade Federal de Pelotas durante o Projeto Rondon Operação Mandacaru. As ações foram direcionadas aos profissionais de saúde e mulheres usuárias dos serviços de atenção básica. Foram realizadas oito oficinas, as quais atingiram diretamente noventa e duas pessoas. As oficinas proporcionaram o debate entre os participantes do projeto e a população alvo, promovendo a troca de conhecimentos e experiências para superar as dificuldades e facilitar as ações de combate ao câncer ginecológico. PALAVRAS-CHAVE Extensão Universitária. Projeto Rondon. Saúde da Mulher.
1
Graduada em Enfermagem pela Universidade Federal de Pelotas.
2
Professora Assistente do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas.
3
Professora Adjunta do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Pelotas.
4
Acadêmica do curso de Psicologia da Universidade Federal de Pelotas.
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ABSTRACT This article aims to describe the academic extension experience about health promotion and cervical and breast cancer prevention developed by academics and university professors from the Universidade Federal de Pelotas during the Rondon Project - Mandacaru Operation. The actions developed were directed to health care professionals and women users of primary care services. Eight workshops were developed which reached directly ninety two people. These developed workshops promoted rich debates between the project participants and the target population, promoting the exchange of knowledge and experience to overcome difficulties and facilitate actions to combat gynecologic cancer. KEYWORDS University Extension. Rondon project. Women’s Health.
1 Relato de experiência O Projeto Rondon é coordenado pelo Ministério da Defesa, em parceria com o Ministério da Educação e com as universidades brasileiras, e tem como objetivo auxiliar no desenvolvimento de comunidades consideradas carentes (RIEDER, 2012; SILVA; dos SANTOS, 2014). O projeto é desenvolvido através de operações– que são definidas como imersões, com duração média de 15 dias, nos locais previamente selecionados. A operação Mandacaru abrangeu 15 municípios do estado do Ceará, com a participação de 30 instituições e o envolvimento de 299 rondonistas (BRASIL, 2016). Os participantes foram divididos entre o conjunto A, que atuou nas áreas de Cultura, Direitos Humanos e Justiça, Educação e Saúde; enquanto o conjunto B atuou na Comunicação, Tecnologia e Produção, Meio Ambiente e Trabalho. Durante a operação Mandacaru, a equipe da Universidade Federal de Pelotas (Fig. 1) integrou as ações do conjunto A.
Figura 1: Equipe de rondonistas integrantes da Operação Mandacaru, conjunto A da UFPEL. Fonte: Acervo fotográfico do Projeto Rondon da UFPEL
Para aplicabilidade do projeto, foram escolhidas temáticas a serem trabalhadas na comunidade com base na discussão de relevância dos temas e dados populacionais ancorados na literatura científica atual. Estima-se que por ano sejam registrados em média 500 mil novos casos de câncer de colo de útero no mundo, e que pelo menos a metade destes casos resultam em óbitos (RODRIGUES et al., 2012; BRASIL, 2013). No Brasil, estima-se que sejam registrados em média 18 mil novos casos por ano, sendo o câncer de colo de útero a terceira neoplasia que mais acomete as mulheres (MELO; SALIMENA; SOUZA, 2012).
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Tem-se como protocolo de atividade nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) a realização de exame citopatológico e exame clínico das mamas, práticas que podem ser realizadas pelos profissionais médicos ou enfermeiros (BRASIL, 2011; 2013). Tais práticas visam a promover a saúde das mulheres e prevenir os cânceres de útero e de mama a partir do rastreamento e monitoramento de mulheres que possuem idade entre 25 e 64 anos (BRASIL, 2011; 2013). Com isso, percebeu-se a necessidade de atenção à saúde da mulher e decidiu-se pelo trabalho com profissionais de saúde e mulheres usuárias dos serviços de atenção básica, acerca do rastreamento e do monitoramento do câncer de colo de útero e de mama. Na prática foram realizadas atividades de educação continuada em saúde frente ao monitoramento e rastreamento do câncer de mama e de colo de útero. Porém, tendo em vista as particularidades dos grupos, foram propostas duas oficinas diferentes: uma para os profissionais de saúde, intitulada “Monitoramento das ações de prevenção do câncer de colo de útero”, e outra para as mulheres usuárias dos serviços de atenção básica, intitulada “Saúde da mulher com foco no câncer ginecológico”. A oficina “Monitoramento das ações do câncer de colo de útero” foi desenvolvida pensando em sensibilizar os profissionais da atenção básica (enfermeiros, médicos, agentes comunitários de saúde, auxiliar/técnicos de enfermagem e recepcionistas) para realizar o monitoramento das ações de prevenção do câncer de colo de útero e de mama– captação das mulheres na faixa etária prioritária para os dois tipos de câncer, busca ativa, qualidade dos registros, levantamento e avaliação dos indicadores de qualidade. Para tanto, foram realizados quatro grupos de discussão em quatro UBS, sendo três rurais e uma urbana. Para o desenvolvimento das atividades, primeiramente os profissionais de saúde foram reunidos e questionados sobre a situação da prevenção do câncer de colo de útero e mama na área de cobertura da unidade básica de saúde. Após esta etapa, os rondonistas fizeram exposição sobre a importância da equipe estar organizada para realizar o monitoramento da ação programática e formas para facilitar a identificação das usuárias que não acessam o serviço. Foram expostos, aos profissionais de saúde, materiais de suporte ao monitoramento, como: planilhas de acompanhamento e utilização de fichas espelho, as quais poderiam ser adotadas e/ou adaptadas para a realidade da equipe. Também foi utilizado, como recurso visual, uma apresentação em slides a respeito dos aspectos conceituais referentes ao monitoramento das ações em saúde da mulher. Participaram das atividades cerca de 32 profissionais de saúde (médicos, dentistas, enfermeiros, agentes comunitários de saúde e técnicos de enfermagem) (Fig 2.) Esperou-se com essas atividades, a curto prazo, a promoção da reflexão sobre a importância do monitoramento das ações de prevenção do câncer ginecológico; a médio e longo prazo, espera-se a melhora nos resultados da cobertura da realização dos exames preventivos.
Figura 2: Mosaico com fotos das oficinas realizadas com profissionais de saúde. Fonte: Acervo fotográfico do Projeto Rondon da UFPEL
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A oficina intitulada “Saúde da mulher com foco no câncer ginecológico” visou a sensibilizar a população feminina usuária dos serviços de atenção básica para a prevenção dos cânceres ginecológicos e, assim, promover o empoderamento das mesmas em relação à prevenção dos cânceres ginecológicos. Foram realizadas quatro atividades coletivas de educação em saúde com a comunidade em geral, sendo três em comunidades rurais e uma na área urbana do município. Participaram das quatro oficinas cerca de 60 mulheres (Fig 3). Inicialmente, as rondonistas abordavam o tema a partir de um banner produzido previamente. Os temas abordados envolveram aspectos referentes ao câncer de mama e ao câncer de colo de útero, exames de rastreamento, sinais de alerta e formas de prevenção, chamando atenção aos fatores de risco nas mulheres entre a faixa etária mais prevalente. Ao iniciar a atividade, as rondonistas deixavam claro que as perguntas poderiam ser realizadas a qualquer momento. Dessa forma, as atividades foram sempre dinâmicas, proporcionando a problematização do tema e não centralizando a atenção apenas nas rondonistas. Ao final das oficinas foi distribuído um folheto, contendo as informações discutidas durante as atividades.
Figura 3: Mosaico com fotos das oficinas realizadas com as mulheres usuárias dos serviços de atenção básica de saúde. Fonte: Acervo fotográfico do Projeto Rondon da UFPEL
A curto prazo, essa oficina almeja o empoderamento e sensibilização das mulheres para realizarem os exames de prevenção do câncer de colo de útero e mama; a médio e longo prazo, a melhora na cobertura dos exames de prevenção dos cânceres ginecológicos. As oficinas foram avaliadas pelos participantes como positivas, potenciais indutoras de outras ações e iniciativas de educação em saúde, além de serem passíveis de replicação em outras comunidades. As principais dificuldades centraram-se em três aspectos: o deslocamento até as UBS, que estão localizadas distantes da área central do município; o espaço físico para as atividades, que ocorreram nas UBS, algumas sem climatização e com espaço físico inadequado (uma das oficinas precisou ocorrer no consultório odontológico); a manutenção do cronograma, que teve que ser readequado várias vezes, a fim de poder atingir um maior número de pessoas.
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As dificuldades, contudo, não superaram os pontos positivos da prática extensionista, uma vez que os participantes se mostraram interessados nos temas debatidos, participando ativamente das atividades. Além disso, é importante afirmar que as atividades de extensão desenvolvidas no Projeto Rondon possuem fundamental importância para os acadêmicos e professores, os quais podem ultrapassar as fronteiras acadêmicas do conhecimento universitário, chegando à comunidade e, junto a ela, construir um novo saber. Ressaltando também a experiência marcante na formação profissional e que certamente refletirá na vida pessoal.
2 Referências BRASIL. Projeto Rondon - Institucional. Ministério da Defesa. Disponível em: <http://www. projetorondon.defesa.gov.br/portal/index/pagina/id/343/area/C/module/default>. Acesso em: 24 jul. 2015. BRASIL. Projeto Rondon - Operações Realizadas. Ministério da Defesa. Disponível em: <http:// www.projetorondon.defesa.gov.br/portal/operacao/realizadas/module/default?id=108429> Acesso em: 05 de ago. 2016. BRASIL. Instituto Nacional de Câncer. Diretrizes brasileiras para o rastreamento do câncer do colo do útero. Rio de Janeiro: INCA, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Caderno de atenção básica nº13: controle dos cânceres do colo do útero e da mama. Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2013. de MELO, Maria Carmen Simões Cardoso, et al. O enfermeiro na prevenção do câncer do colo do útero: o cotidiano da atenção primária. Revista Brasileira de Cancerologia, v.5, n.3, p.389-398, 2012. RIEDER, Arno. A extensão universitária através do Projeto Rondon: participação das universidades públicas de Mato Grosso. Revista GUAL, Florianópolis, v.5, n.2, p. 58-71, 2012. RODRIGUES, Bruna Cortez. et al. Educação em Saúde para a Prevenção do Câncer CérvicoUterino. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 36, n. 1, p.149-154, 2012. SILVA, Daniele Sousa.; dos SANTOS, Jerusa Nunes Neiva Eulalio. O exercício da responsabilidade social e cidadania: experiência no Projeto Rondon dos estudantes da Faculdade Projeção. Periódico Científico Outras Palavras, v.10, n.1, p.88-96, jun. 2014.
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Relato de Experiência O IFSC e a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis: apontamentos sobre suas proximidades Mariana de Fátima Guerino1 - mariana.guerino@ifsc.edu.br RESUMO O projeto de extensão “IFSC e ACOMAR: uma troca sustentável sobre saberes do trabalho” teve como foco o intercâmbio de saberes entre o IFSC, a Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de São Miguel do Oeste (ACOMAR) e a comunidade em geral. As ações foram realizadas pelos estudantes bolsistas do IFSC, no ambiente da ACOMAR, e pelos trabalhadores da ACOMAR, no campus do IFSC, oportunizando uma troca sobre diferentes entendimentos acerca do meio ambiente e das relações de trabalho inscritas no contexto da luta pela sobrevivência. PALAVRAS-CHAVE IFSC, ACOMAR, Trabalho. Educação, Intercâmbio de saberes. ABSTRACT The extension project “IFSC and ACOMAR: a sustainable exchange on labor knowledge”, focused on the exchange of knowledge between the IFSC, the Association of recyclable material collectors of São Miguel do Oeste (ACOMAR) and the community general. The shares were held by the IFSC the scholarship students in the ACOMAR environment, and the ACOMAR workers on campus IFSC, providing opportunities for the exchange of the most different understandings about the environment and working relations entered in the context of the struggle for survival. KEYWORDS IFSC, ACOMAR, Work. Education, Knowledge exchange.
1 Cientista Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL); Mestra em Educação pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); Doutoranda em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). É professora de Sociologia no IFSC.
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1 Introdução Quem sabe mais? Catadores de materiais recicláveis que, em decorrência de sua classe social, não tiveram acesso aos estudos ou nós, estudantes e professores de uma instituição pública federal, como o Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC)? Essa questão motivou a organização deste projeto, que não pretende apontar qual conhecimento é válido ou não, mas privilegiar o intercâmbio de saberes entre esses dois grupos com trajetórias distintas, porém com irrefutáveis proximidades. No nível geográfico, a Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis localizase muito próxima ao IFSC; no nível social a proximidade se dá pela atenção ao meio ambiente, assim como pela dimensão do trabalho coletivo como expressão da própria sobrevivência; além da dimensão educativa e política (como fazer, como organizar, a atribuição de significados diversos). Por essas razões, o projeto, que contou com a participação de três integrantes (coordenadora e duas alunas bolsistas), buscou viabilizar a troca de saberes entre o IFSC e os trabalhadores da Associação de Catadores de Materiais Recicláveis de São Miguel do Oeste (ACOMAR), em conjunto com a comunidade em geral. Os estudantes do IFSC realizaram oficinas na ACOMAR e, em contrapartida, a ACOMAR ofertou oficinas no IFSC. Nelas, foram debatidas questões sobre o mundo do trabalho, oportunizando a compreensão das dinâmicas sociais e dos saberes relativos à sobrevivência. Objetivou-se, nesse sentido, ampliar o entendimento acerca da diversidade de trajetórias de luta pela vida, com enfoque nas lutas pela sobrevivência e na organização do trabalho autogestionado, buscando alternativas que pudessem ser, de fato, reflexivas a respeito do trabalho e da construção de uma história de resistências relacionadas ao cuidado com o meio ambiente. No projeto, procuramos ir além dos modismos sobre o assunto da sustentabilidade, e, sobretudo, oportunizamos debates com indivíduos que invariavelmente estão nos bastidores da vida social, porém são protagonistas na realização de atividades que envolvem melhorias em âmbito coletivo, como os trabalhadores da ACOMAR. Nesse sentido, é preciso assimilar o fato de que, no presente projeto, não estamos falando de experiências ou troca de saberes soltos e desenvolvidos aleatoriamente, tanto aqueles presentes no IFSC quanto os existentes na ACOMAR: Evidentemente, a questão é como o indivíduo veio a ocupar esse “papel social” e como a organização social específica (com seus direitos de propriedade e estrutura de autoridade) aí chegou. Estas são questões históricas. Se determos a história num determinado ponto, não há classes, mas simplesmente uma multidão de indivíduos com um amontoado de experiências (THOMPSON, 2010, p. 12).
Portanto, não consideramos o IFSC, tampouco a ACOMAR, como destituídos de história e de contradições de classe. Buscamos intensificar o diálogo entre os grupos, com o intuito de que todos os componentes do projeto tenham condições de: criar novos mecanismos de ação; elaborar ideias antes não desenvolvidas; obter melhores noções sobre as contradições do trabalho na atualidade, assim como o aprimorar as argumentações na defesa de suas causas, fato proveniente de um olhar mais atento sobre a própria atuação na sociedade.
2 Metodologia A escolha pelas oficinas se deu em função do tipo de atividade que esperávamos desenvolver junto à ACOMAR, que deveria ter como núcleo a troca de saberes e experiências, oriundos de nossas relações com o mundo do trabalho. Por essa razão, elegemos esse caminho metodológico. Uma oficina é, pois, uma oportunidade de vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos. Nesse sentido, a metodologia da oficina muda o foco tradicional da aprendizagem (cognição), passando a incorporar a ação e a reflexão. Em outras palavras, numa oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva (PAVIANI; FONTANA 2009, p. 78).
Nas oficinas realizadas entre o IFSC e ACOMAR, utilizamos recursos didáticos, tais como: textos, imagens, vídeos, músicas, cartazes e poesias. No total, foram realizadas quatro oficinas; uma delas no IFSC e três na ACOMAR. Nelas foram privilegiados o convívio e a troca de experiências entre
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os envolvidos no projeto de extensão. Conforme o diálogo ocorria, eram dadas explicações sobre temáticas em âmbito científico, como trabalho, classes sociais, modo de produção capitalista etc. As oficinas foram preparadas e realizadas pelos estudantes bolsistas com o auxílio da coordenadora e dos trabalhadores da ACOMAR. No entanto, a dinâmica que se desdobrava revelava muito além do que havíamos planejado em teoria, trazendo muitas surpresas nos relatos, tanto dos trabalhadores quanto dos estudantes do IFSC, ou seja, a realidade e os saberes a ela atribuídos mesclavam-se e traziam novas elaborações e contradições que não estavam presentes no preparo das oficinas, exemplo de que os saberes são parte da totalidade histórica contraditória. O que está em causa é reconhecer que as condições sob as quais se processa o conhecimento compreendem inclusive o modo pelo qual a sociedade absorve, seleciona, critica ou rejeita o produto da atividade intelectual (...). Não é apenas a teoria que se põe em prática nesta ou naquela modalidade; é o movimento da história que frequentemente se decanta em teoria (IANNI, 2004, p. 53).
Os registros foram feitos por meio de textos, vídeos e fotografias, que foram a base para a produção de análises e debates. Realizar esse trabalho não foi fácil, na medida em que muitos estavam desconfiados sobre nossas motivações, receosos sobre a divulgação de suas imagens ou mesmo envergonhados pela condição de catadores, pelas roupas e o ambiente não estarem limpos, ou seja, o próprio reconhecimento de si, do IFSC e do trabalho realizado precisavam ser discutidos, superando a aparência de suas determinações. Na imagem a seguir (Fig. 1), registrou-se uma das oficinas:
Figura 1: Oficina ocorrida na ACOMAR. Fonte: Dados da pesquisa.
Cabe citar que a Associação é composta por 44 membros, sendo que 40 são mulheres e estão à frente das organizações de trabalho, da relação com empresas, prefeituras e comunidade, assim como das tomadas de decisão acerca de variados assuntos internos, os quais são tratados democraticamente.
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Figura 2: Mulheres da ACOMAR. Fonte: Dados da pesquisa.
Realizamos uma exposição no Museu Municipal de São Miguel do Oeste, a partir dos registros fotográficos que foram possíveis. A exposição ocorreu, intencionalmente, na semana de primeiro de maio, dia dos trabalhadores. Além da contextualização sobre o dia dos trabalhadores, foram expostas fotografias que relatavam a história da ACOMAR, suas lutas e sua importância para a cidade. Foram também expostos alguns materiais manuseados pelos trabalhadores, tais como vidros, plásticos e papéis, com a explicação de suas classificações e valores de venda (Fig. 3). O espaço do Museu Municipal de São Miguel do Oeste foi compartilhado com o IFSC de forma muito generosa. Contamos com a ajuda da imprensa local para a divulgação da exposição, convidamos escolas públicas e privadas para a visitação, que contou com o total de 157 pessoas. A exposição esteve aberta gratuitamente ao público durante os dias 4 e 5 de maio.
Figura 3: Espaço do Museu Municipal de São Miguel do Oeste com a exposição de fotos da ACOMAR. Fonte: Dados da pesquisa.
Figura 4: : Exposição sobre o dia dos trabalhadores e a história da ACOMAR – classificação e valores de materiais manuseados pelos trabalhadores. Fonte: Dados da pesquisa.
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Os visitantes da exposição ficaram surpresos ao saber que 1kg de vidro, por exemplo, era vendido para empresas de reciclagem por apenas três centavos, ou seja, um valor muito baixo. Puderam observar, também, a lógica de classificação de plásticos, vidros de cores diferentes, dentre outros saberes que foram trocados naquele momento e, sobretudo, compreendidos.
Figura 5: Trabalhadores da ACOMAR. Fonte: Dados da pesquisa.
3 Resultados Os trabalhadores da ACOMAR se envolveram, olharam-se, observaram seu trabalho e puderam refletir sobre suas próprias práticas, além de estreitar os laços com o IFSC que, segundo a fala de um dos trabalhadores, até então era visto como “um prédio estranho, ali perto da associação”. Tivemos a participação da comunidade de forma atuante em uma das oficinas no IFSC. Em seu decorrer, organizamos um documento, solicitando maior atenção da prefeitura em relação ao trabalho realizado pela ACOMAR, especialmente em relação à estrutura, que necessita de melhorias. O documento foi protocolado na prefeitura e estamos aguardando encaminhamentos. Muitos estudantes puderam conhecer a realidade da associação e compreender a importância da separação de resíduos como forma de solidariedade ao trabalho de quem é catador (a). Um dos alunos afirmou: “Agora vendo tudo o que vocês passam, vou ficar mais atento e separar o lixo para vocês não se machucarem”. Os trabalhadores puderam refletir um pouco mais sobre as suas práticas e ampliaram a reflexão sobre eles próprios e sobre os desdobramentos de suas atividades, ocultas na rotina cotidiana. Por isso, tanto as oficinas como a exposição promoveram o olhar para a essência da Associação. A realidade é interpretada não mediante a redução a algo diverso de si mesma, mas explicando-a com base na própria realidade, mediante o desenvolvimento e a ilustração das suas fases, dos momentos do seu desenvolvimento (KOSIK, 1976, p. 35). Verifica-se, na imagem a seguir (Fig. 3), o ambiente de trabalho na ACOMAR, até então pouco conhecido pelos habitantes de São Miguel do Oeste e pouco refletido em sua essência pelos seus trabalhadores e a comunidade em geral.
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Figura 6: Ambiente de trabalho na ACOMAR. Fonte: Dados da pesquisa.
4 Considerações finais Todo o percurso do projeto apontou para a reflexão sobre o trabalho, com foco na difusão de reflexões sobre os seus saberes e suas formas de efetivação. Com o propósito de realizar este intercâmbio entre o IFSC, a ACOMAR e a comunidade em geral, o projeto contribuiu para dar mais atenção para as relações no âmbito do trabalho e da educação. Percebemos que não há a distinção entre quem sabe mais ou quem sabe menos, pois os saberes e o trabalho tecem a dinâmica histórica da vida, seja no contexto científico, como é o nosso caso dentro do IFSC, seja no contexto da luta pela sobrevivência, como é o caso da ACOMAR. Os membros da Associação não têm ensino fundamental completo, no entanto, se desejarem, poderão concluir seus estudos no IFSC, no âmbito do PROEJA. Todos foram orientados sobre a gratuidade do ensino e as formas pelas quais ocorre o ingresso no IFSC, além de nos colocarmos à disposição para quaisquer diálogos.
5 Referências IANNI. Octavio. (org.). Forestan Fernandes: Sociologia crítica e militante. São Paulo: Expressão Popular, 2004. KOSIK. Karel. Dialética do concreto. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976. PAVIANI, Neires, FONTANA, Niura. Oficinas pedagógicas: um relato de experiência. Conjectura, V. 14, N. 2, 2009. THOMPSON. Edward. P. A Formação da Classe Operária Inglesa. V. 1. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2010.
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Relato de Experiência Projeto Orquestra de Violões do IFSC Conrado Bach Neto Jr1 - conrado.junior@ifsc.edu.br
RESUMO O projeto Orquestra de Violões do IFSC surgiu com o intuito de oferecer uma oportunidade a alunos (internos e externos) de participação e acesso ao conhecimento musical (oficinas de violão), bem como de organizar um grupo instrumental de violões. Durante o período de execução, tivemos alguns desafios a serem superados, mas também significativo retorno, constatado a partir dos bons resultados obtidos, o que nos motivou a dar continuidade ao projeto. Atualmente, estamos concentrando nossos esforços no sentido de consolidar as ações do projeto, a fim de torná-lo de duração permanente. PALAVRAS-CHAVE Violão. Orquestra. Educação Musical. Inclusão musical. ABSTRACT The Guitar Orchestra project of IFSC arose in order to provide the opportunity of access to musical knowledge (guitar workshops) for students (internal and external) and to organize an instrumental group of guitars. During the implementation period, we had some challenges to be overcome but also a significant return, found from the good results obtained, which motivated us to continue the project. Currently, we are concentrating our efforts to consolidate the activities of the project in order to make it with permanent duration. KEYWORDS Guitar. Orchestra. Music Education. Music inclusion.
1 Licenciado em Música (UFSM), Pós-Graduado em Educação (IFSC); atua no IFSC Câmpus Lages na coordenação do Núcleo Pedagógico e de projetos de Extensão.
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Figura 1: Grupo instrumental - Biblioteca do IFSC - Câmpus Lages. Fonte: Acervo de imagens do projeto.
1 Relato de experiência Justificativa O projeto de Extensão ‘Orquestra de Violões do IFSC’ (Câmpus Lages) iniciou suas atividades em setembro de 2014, aprovado pelo Programa Institucional de Apoio a Projetos de Extensão do IFSC (APROEX – edital nº 03/2014), tendo como principais objetivos: viabilizar o acesso (da comunidade) ao conhecimento musical, por meio de oficinas de violão, e organizar a formação de um grupo instrumental. Surge a partir da necessidade que (ainda) temos em nosso entorno (Câmpus/comunidade) de atividades culturais e artísticas, carência esta constatada em projetos anteriores e também no dia a dia, bem como pelo amparo da Lei 11.769/20082, que sugere a importância da música ao determiná-la como conteúdo obrigatório (mas não exclusivo) no ensino escolar. Optou-se pelo termo ‘orquestra’ por uma questão estética, mas também pela ambição – por assim dizer – contida na idealização do projeto, no sentido de ser uma meta a ser alcançada.
Metodologia Escolhemos o violão (modalidade) por ser um instrumento popular, de grande praticidade, versátil e de fácil aquisição. A princípio, foi realizada a divulgação do projeto nas comunidades participantes (Escolas e Câmpus), resultando em um número significativo de alunos inscritos. Antes de iniciar as oficinas, foram realizadas dinâmicas de aprendizagem com os alunos bolsistas e voluntários, com o objetivo de identificar, desenvolver e aperfeiçoar a didática musical de cada um, e visando também a padronização dos procedimentos metodológicos. Em seguida, começamos as atividades nas oficinas, que eram ofertadas semanalmente (60 minutos/semana), em grupos de até seis alunos. Os locais de funcionamento foram definidos de modo estratégico, para que pudéssemos atender, dentro de nossas possibilidades e limitações, tanto o público externo quanto interno (IFSC). Assim sendo, tivemos atividades nas dependências do Câmpus e em outros locais da comunidade: EEB Melvin Jones (bairro Gralha Azul), EMEB Oscar Schweitzer (Bairro Guadalajara) e Irmandade Nossa Senhora das Graças (Bairro Popular). Nesses encontros, foram abordados conteúdos musicais diversos: ritmo, melodia, harmonia, timbre, intensidade, entre outros, relacionados à prática musical, objetivando o aprendizado dos participantes. Dentre o repertório musical, priorizou-se a música regional e folclórica (sul brasileira e latino-americana), com o intuito de preservar e valorizar nossas ‘raízes culturais’. Buscou-se, também, desenvolver qualidades como: respeito mútuo, organização de tempo e espaço, disciplina e assiduidade, bem como o cuidado com o instrumento. Para facilitar a compreensão e o aprendizado, elaboramos uma apostila para os alunos, contendo conceitos básicos da música e exercícios para desenvolver a técnica instrumental, paralelamente relacionados ao repertório musical. Na equipe de execução, tivemos, além do coordenador do projeto, o apoio de voluntários e de dois alunos bolsistas que, por serem músicos amadores, já dispunham de habilidade musical suficiente para que pudessem dar suporte aos demais participantes nas aulas de instrumento e nos ensaios do grupo instrumental. 2 BRASIL. Lei 11.769/2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Brasília, 2008.
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Figura 2: Alunos das oficinas aprendendo a fazer a manutenção e regulagem de seus instrumentos. Fonte: Acervo de imagens do projeto.
Resultados Das Oficinas de Instrumento Conforme avançava o trabalho com as oficinas, confirmavam-se as questões pressupostas na idealização do projeto, ou seja, sua necessidade e relevância social, cultural e educativa, especialmente para as comunidades mais periféricas, uma vez que estas se encontram, de modo geral, excluídas e privadas de certos benefícios que são comuns e de fácil acesso para outros, seja pela localização geográfica ou por questões econômicas, culturais, etc., e este era um dos desafios iniciais: fazer o projeto chegar a esse público estratégico. Em seguida, nos deparamos com outro desafio: administrar os recursos (limitados) provindos do projeto, de modo a conseguir atender a uma demanda específica, sem reforçar a questão da exclusão social, mas com certa qualidade na oferta. Para tanto, delimitamos as comunidades participantes, bem como o perfil dos alunos, classificados por faixa etária (acima de sete anos), dando prioridade ao público infantil e adolescente. No decorrer dos primeiros meses, as oficinas já estavam sendo ofertadas em duas escolas e uma ONG (Organização Não Governamental), além daquelas realizadas no próprio Câmpus, que atendiam o público interno e também participantes vinculados ao CAPS (Centro de Apoio Psicossocial), os quais passaram a frequentar as oficinas como convidados especiais do projeto, por intermédio de uma parceria entre IFSC e Secretaria de Saúde do município. Por se tratar de um público com características e necessidades especiais, estes alunos eram acompanhados por uma equipe especializada: assistente social e psicólogo (além do motorista), disponibilizada pela própria Secretaria, que também passaram a participar das aulas, enquanto davam suporte aos alunos aprendizes.
Figura 3: Participação do CAPS nas oficinas (na foto: aprendiz de violão, psicólogo e aluna voluntária). Fonte: Acervo de imagens do projeto.
Conforme ocorriam os encontros (oficinas), procurávamos discutir resultados e problemas que surgiam, tal como o desinteresse de alguns alunos pelo estudo diário e as dificuldades específicas de outros, para, a partir daí, definir estratégias para solucionar da melhor forma possível cada questão. De modo geral, tivemos resultados bastante satisfatórios, dentre os quais destacam-se: a
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aprendizagem dos participantes (técnica/teórica), o crescimento dos alunos bolsistas e voluntários (aspecto pessoal e profissional), a divulgação externa da instituição e o impacto positivo causado nas comunidades participantes. Tivemos, também, a desistência de alguns dos participantes (alunos/ voluntários/parcerias), o que julgamos ser algo natural. Transcorrido o prazo de um ano, submetemos novamente a proposta, visando dar continuidade ao projeto, e fomos contemplados por mais um período de igual duração, sendo que, atualmente (2016), as oficinas continuam acontecendo, tendo ocorrido alguns pequenos ajustes, bem como a participação de novas instituições parceiras: a Biblioteca Municipal de Lages, a qual disponibiliza estrutura e espaço físico para os ensaios, e a Secretaria de Assistência Social do município, que organiza a logística e direciona as atividades do projeto para determinadas comunidades que apresentam maior necessidade de projetos sociais e culturais, por intermédio dos ‘CRAS’ (Centros de Referência de Assistência Social).
Figura 4: Oficina de violão, na biblioteca do Câmpus. Fonte: Acervo de imagens do projeto.
Do Grupo Instrumental Paralelamente às oficinas, realizou-se o trabalho de formação de um grupo instrumental, que se deu da seguinte forma: logo após o início do projeto, foi realizada uma divulgação (interna - Câmpus) para possíveis interessados em participar do Grupo de Violões do IFSC, tendo como pré-requisito saber tocar o instrumento, pelo menos o básico (acompanhamento - ritmo/harmonia). Transcorridos alguns dias, foi possível realizar o primeiro ensaio, com um número não muito grande de participantes (cinco alunos de cursos técnicos e dois do ensino superior), porém, suficiente para formar o grupo inicial. Após alguns ensaios, estávamos com um repertório musical um tanto modesto, porém suficiente para realizar a primeira apresentação3. Os alunos iniciantes (das oficinas) também foram convidados a participar (figura nº 5), com o intuito de que os mesmos pudessem, quando aptos, vir a fazer parte efetivamente do grupo instrumental, o que se concretizou para alguns.
Figura 5: Ensaio com alunos das oficinas e integrantes do grupo instrumental. Fonte: Acervo de imagens do projeto.
3 O repertório musical e a execução instrumental (da referida apresentação) podem ser acessados no canal Youtube, disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GPX4LH1mL44 >
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Em meados do ano de 2015, surge a primeira oportunidade de apresentação artística do grupo, a partir de um convite da direção do Câmpus para participarmos do Fórum de Tecnologia, Empreendedorismo e Inovação4. Nesse mesmo período, o projeto foi selecionado para representar o Instituto Federal de Santa Catarina em participação no III Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica (III FMEPT), na cidade de Recife/PE, onde pudemos falar sobre o trabalho realizado nas oficinas e executar, com o grupo instrumental, músicas regionais do sul do Brasil.
Figura 6: Participação no III FMEPT (Recife/PE 2015). Fonte: Acervo de imagens do projeto.
Figura 7: Participação no “Natal Felicidade” (Lages/SC, 2015). Fonte: Encarte Cultural - produções.
Atualmente (2016), o grupo segue com os ensaios e eventuais apresentações. Transcorrido mais de um ano, alguns alunos (do IFSC) já concluíram o curso, mas continuam participando ativamente das atividades (reuniões/ensaios/apresentações). Em outros casos, participantes externos se interessaram pelo projeto, vindo a fazer parte do grupo, juntamente com alunos novos que ingressaram há pouco na instituição, elevando o número para 14 integrantes. Futuramente, objetiva-se ampliar esse número, a partir de ações inclusivas, mas também com a preocupação em elevar o nível de qualidade musical do grupo, porém, de modo equilibrado, sem exigir demais e procurando manter um ambiente saudável entre os participantes.
4 FORTEI 2015, realizado no dia 19 de maio, no auditório do IFSC-Lages. Disponível em: <https://www.youtube.com/ watch?v=bcaAS_GxzFo>
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Do projeto (de modo geral) Em sua primeira edição, o projeto beneficiou o seguinte público: pessoas da comunidade (bairros vizinhos), alunos do Câmpus Lages e de outras instituições (EMEB’s/ONG/CAPS). Durante esse período, mais de 80 alunos participaram das oficinas, em sua maioria, externos (IFSC), os quais demonstraram bastante satisfação ao participar do projeto. Como já mencionado, o projeto segue adiante, com a intenção de continuar sendo uma intervenção positiva na vida de cada participante, tendo como referência o relato de alguns alunos, que afirmam estar mais motivados após haverem ingressado no projeto. Isto nos leva a crer que o incentivo dado a projetos dessa natureza (que contribuam para o bem-estar dos alunos) é de extrema importância, pois, acredita-se que em muitos casos pode fazer a diferença, inclusive, no rendimento escolar5, tal como sugere Storr (2002) - ao mencionar o filósofo Nietzsche - quando afirma que uma atividade musical é capaz de alterar, para melhor, nosso estado de ânimo, dando sentido à vida e tornando-a mais prazerosa6.
2 Considerações finais De modo geral, o objetivo maior é fazer com que o projeto continue sendo um trabalho consistente e relevante, em nível social, educativo e cultural. Para tanto, faz-se necessário seguir direcionando nossos esforços para torná-lo um projeto permanente da instituição, um grande desafio a ser superado. É nosso propósito, portanto, seguir buscando novas parcerias para poder ampliar os recursos que subsidiam o projeto, e, consequentemente, ter um número maior de bolsistas, adquirir instrumentos e acessórios musicais (violões, afinadores, etc.), o que possibilitará atender um público ainda maior. De igual modo, pretende-se seguir com os trabalhos do grupo instrumental, promovendo novas apresentações artísticas, bem como procurando inserir novos integrantes ao grupo, com a preocupação de promover condições para que os mesmos possam desenvolver seus conhecimentos e habilidades musicais, por meio de ensaios periódicos, dinâmicas de aprendizagem e apresentações artísticas, para chegarmos a formar, quem sabe algum dia (não tão distante), uma grande Orquestra de Violões!
Referências BRASIL. Lei 11.769/2008. Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, Lei de Diretrizes e Bases da Educação, para dispor sobre a obrigatoriedade do ensino da música na educação básica. Brasília, 2008. STORR, Anthony. La música y la mente. Barcelona: Paidós Ibérica S.A., 2002.
5 Destaca-se a influência (positiva) que o projeto vem exercendo na vida e na rotina estudantil dos alunos participantes, a maioria, provenientes de escola pública. 6
STORR, Anthony. La música y la mente. Barcelona: Paidós Ibérica S.A., 2002. p. 233-234.
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Relato de Experiência Sarau Literarte: a socialização da leitura e da arte Lisiane Ferreira de Lima1 - lisi.lima.rg@hotmail.com Twyne Soares Ramos2 - twyneramos@yahoo.com.br RESUMO O presente trabalho visa relatar a experiência com o desenvolvimento do projeto de extensão “Literarte: literatura em movimento”, que está vinculado a um projeto de maior abrangência, intitulado “Socializando a leitura”, desenvolvido pelo Instituto de Letras e Artes, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG). O projeto envolve literatura e outras artes, como dança, desenho, fotografia, música e teatro. PALAVRAS-CHAVE Sarau. Literatura. Socialização da leitura. FURG. ABSTRACT This paper aims to describe the experience of organizing the extension project “Literarte: literature em movimento”, which is linked to a more extensive project called “Socializando a leitura”, developed by the Instituto de Letras e Artes of the Universidade Federal do Rio Grande (FURG). The project encompasses literature and other forms of art, such as dancing, drawing, photography, music and theater. KEYWORDS Literary soiree. Literature. Socialization of Reading. FURG.
1 Relato de experiência Este trabalho apresenta e discute os resultados do projeto de extensão “Literarte: literatura em movimento”, que envolve a área da Literatura, e outras artes, como dança, desenho, fotografia,
1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras – História da Literatura, da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista CAPES. 2 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Letras – História da Literatura, da Universidade Federal do Rio Grande. Bolsista CAPES.
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música e teatro. As atividades são coordenadas pelos professores Artur Emílio Alarcon Vaz e Mairim Link Piva e pelas mestrandas Lisiane Ferreira de Lima e Twyne Soares Ramos, vinculados à Universidade Federal do Rio Grande (FURG). Inicialmente, o projeto promove saraus, realizados no espaço Café Cultural, da FURG e, posteriormente, visa ser realizado em outros locais, promovendo a socialização da literatura e de outras artes. Ao refletirmos sobre a arte e a literatura no contexto contemporâneo, pensamos no quanto é importante despertar o prazer da leitura, pois ela é capaz de ampliar a consciência, a criticidade e a sensibilidade do sujeito frente ao mundo em que vive. Segundo James Paul Gee (2004), a leitura envolve, também, o processo cultural. Ainda que necessite de uma instrução estruturada, ou seja, a decodificação das letras, a leitura de textos é uma experiência prática e contínua que nos permite obter um conhecimento de nós mesmos e do mundo através do olhar do outro. A linguagem é o ponto que entremeia a relação de conhecimento entre nós e o outro. A partir desse pressuposto, os projetos de extensão, na área de literatura e leitura, desenvolvidos pelo Instituto de Letras e Artes (ILA), da FURG, organizam-se em função de diferentes ações que buscam propiciar cursos de formação para professores da rede pública. Com isso, qualificando e multiplicando o conhecimento sobre o mundo da leitura e sobre formas de incentivo ao ato de ler para os alunos de Ensino Fundamental e Ensino Médio. Além disso, os projetos promovem atividades de incentivo à leitura diretamente para alunos de escolas públicas e comunidade em geral, além de levar aos leitores a possibilidade de trocar livros. Nessa medida, surge a proposta de ampliação do projeto “Socializando a leitura” para um novo viés, dando início ao projeto de extensão “Literarte: literatura em movimento”. Tal projeto é um desdobramento das múltiplas ações de extensão sobre arte e literatura oferecidas dentro da FURG (Fig.1).
Figura 1: Identidade visual do Literarte, por Marco Müller. Fonte: Foto de Natalie Piragine.
Na esfera de cursos de extensão, mostra-se como uma ampliação de cursos como “Literatura: leituras e ensino”, das experiências do curso “Literatura sul-rio-grandense contemporânea”, do “Conto sul-rio-grandense contemporâneo” e do curso “O imaginário nos contos de fadas”. Além disso, o atual projeto dialoga com a “Oficina de contação: a formação de leitores” e com o projeto “Troca de livros”, cujas presenças vêm se ampliando no Município de Rio Grande. Sabemos que a Literatura é uma das áreas de destaque na formação do profissional de Letras, constituindo, inclusive, diversas linhas de pesquisa dos cursos de graduação e Pós-graduação do Instituto de Letras e Artes, da FURG. Ademais, a ampliação de conhecimentos e a reflexão sobre os caminhos da literatura contemporânea e da produção escrita como processo são pertinentes para a atuação de mediadores de leitura na contemporaneidade. Por este motivo, a proposta atual tem caráter extensionista, pois além de direcionada ao meio acadêmico, está aberta para profissionais de diversas áreas da educação e mesmo para a comunidade em geral.
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Sendo assim, o projeto ‘Literarte: literatura em movimento’ justifica-se, também, pela sua abrangência social e artística, uma vez que promove um encontro entre artistas e admiradores da arte da universidade e da comunidade em geral. O projeto possibilita, além da visibilidade a autores consagrados pela crítica literária, a difusão de textos autorais dos participantes do sarau. Além disto, destaca-se o fato de que o sarau encontra-se aberto durante sua realização caso os espectadores desejem participar de variadas formas, objetivando a interação entre as artes e a cultura. Para Paulo Freire, ler não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. É também representá-lo pela linguagem escrita, falar sobre ele e o interpretar. Ler, dentro desta perspectiva, é também libertar-se. Apesar de sua importância, a leitura em nossa sociedade ainda encontra barreiras, seja no seu valor sociocultural ou no valor financeiro que o livro, seu instrumento, obtém no mercado. Assim, as ações propostas nesse projeto permitem que a comunidade possa tanto ampliar quanto socializar sua bagagem de cultura e arte. Deste modo, o projeto visa à interação entre a literatura e diferentes artes, contribuindo para desenvolvimento da leitura e funcionando como um espaço no qual a comunidade poderá acercar-se da arte e, inclusive, mostrar seus próprios trabalhos artísticos. A primeira edição do “Literarte: literatura em movimento” ocorreu em novembro de 2015, na forma de um sarau que buscava incentivar a arte e a literatura, bem como movimentar o espaço Café Cultural, da FURG. Tivemos a participação de mais de 30 atividades, que envolveram desde obras de autores já canonizados e/ou de autoria dos próprios participantes do evento, além de apresentações musicais de voz, violão e violino e apresentação teatral, contando também com o lançamento de dois livros de acadêmicos da graduação e Pós-graduação da universidade. O palco de apresentações esteve aberto durante toda realização do sarau (Fig. 2).
Figura 2: I Literarte em andamento. Fonte: Foto de Natalie Piragine.
Desse modo, contamos com a participação da comunidade acadêmica e da comunidade em geral, bem como com os integrantes dos projetos “Socializando a leitura: troca de livros”, “Oficina de contação: a formação do leitor” e “Conto Sul-rio-grandense Contemporâneo”, que também fizeram parte da atividade. O que foi relatado, a todo o momento, pelos participantes do encontro, é que sentiam a falta de um espaço de interação artística, sendo exatamente o que o Literarte busca realizar. Na visão dos integrantes dos demais projetos de extensão que compuseram o evento, o mesmo tornou-se importante dentro das atividades do ano letivo, pois busca integrar todos os participantes, valendose da união de todos os trabalhos, tornando assim o Literarte um espaço que pode proporcionar a visibilidade dos resultados de cada ação.
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As atividades do sarau contemplaram diferentes artes e houve leitura de textos literários em língua inglesa, espanhola e portuguesa. A mobilização acadêmica foi expressiva e o público presente não era composto apenas por acadêmicos da universidade, mas também pela comunidade, de modo geral. Segundo Fernanda Machado Johannsen, participante do evento, o projeto “deve ser contínuo, com propostas temáticas diferenciadas a cada edição, acrescentando mais esse momento cultural e de integração artística no âmbito acadêmico, porque a arte e a literatura são instrumentos de inspiração de vida”. Ressalta, além disto, que “há uma contribuição do projeto em expor os artistas e escritores da cidade, valorizando a arte e cultura produzidas em nosso município”. Durante o evento, intercalaram-se leituras de textos literários com outras atividades, dentre elas a apresentação de uma peça teatral, que ficou por conta dos integrantes do grupo “Oficina de contação: a formação de leitores” (Luciana Padovani, Ana Luisa Cosme, Bianca Barros, Lucas Dionizio, Myrelli Serra, Giulia Guadagnini) com a peça “A verdadeira história dos três porquinhos”. No âmbito musical, houve apresentação de voz e violão, de Eduarda Pires e Fabiano Silva, e de voz, violão e violino, de Twyne Ramos, Henrique Meneses e André Soares (Fig. 3).
Figura 3: Apresentação de Voz, violão e violino, de Twyne, Henrique e André. Fonte: Foto de Natalie Piragine.
Além dessas atividades artísticas, foram lançados os livros Mas enfim, de Léo Ottesen, e África, prazer em conhecer!, organizado por Juliana Cruz. Houve, também, a participação das fotógrafas Natalie Piragine e Juliana Rodrigues, que fotografaram o evento; de Marco Müller, responsável pela identidade visual do Literarte e de Paula Liaroma, com a exposição de fotos do projeto “Ponto de Cultura ArtEstação”. No encerramento do evento, tivemos a participação da Banda Tio Clóvis. Interpretamos de forma muito positiva a realização e a repercussão da primeira edição do Sarau Literarte, pois todas as atividades previamente planejadas ocorreram de forma contempladora e o ânimo de quem participou enalteceu ainda mais a interação do evento, tornando-o um espaço enriquecedor de trocas de experiências. Além disto, fomos prestigiados pelos núcleos de pesquisa e extensão da universidade, com o apoio da PROEXC - Pró-Reitoria de Extensão e Cultura, da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), como também das equipes da FURG TV e Rádio, que fizeram a cobertura e divulgação do evento (Fig. 4)
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Figura 4: I Literarte em andamento. Fonte: Foto de Natalie Piragine.
Em virtude da urgência de um espaço dentro do meio acadêmico que contemple e busque a integração de todas as artes, as próximas edições do Literarte já estão sendo organizadas, buscando desenvolver atividades temáticas, dando espaço e voz para os discentes, docentes e comunidade em geral. Conforme afirma Antônio Candido, a leitura literária “confirma no homem aqueles traços que reputamos essenciais, como o exercício da reflexão, a aquisição do saber, a boa disposição para com o próximo, o afinamento das emoções, a capacidade de penetrar nos problemas da vida, o senso da beleza, a percepção da complexidade do mundo e dos seres, o cultivo do humor” (2004, p. 180). Assim, nosso maior objetivo é a socialização da arte e da cultura dentro do ciclo universitário, difundindo e celebrando a leitura e a arte.
2 Referências BAPTISTA, Anna Maria Haddad. Literatura e Ensino: duas propostas para reflexão. Disponível em: http://www.uninove.br/PDFs/Mestrados/Educa%C3%A7%C3%A3o/IIIENCONTRO/AnaHaddad.pdf. Acesso em 02 de jan. de 2016. BRAGA, Regina; SILVESTRE, Maria de Fátima. Construindo o leitor competente: atividades de leitura interativa para a sala de aula. São Paulo: Peirópolis, 2002. CANDIDO, Antônio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. 7ª. edição. São Paulo: Nacional, 1985. ______________. Vários escritos. São Paulo/Rio de Janeiro: Duas cidades / Ouro sobre Azul, 2004. COELHO, N.N. Literatura: arte, conhecimento e vida. São Paulo: Peirópolis, 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996. ______________. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 50.ed. São Paulo: Cortez, 2009. GEE, J. P. Situated language and learning: a critique of traditional schooling. London: Routledge, 2004.
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Relato de Experiência Seleção da nova logomarca do Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Energia Fabrício Y. K. Takigawa1 - takigawa@ifsc.edu.br Edison A. C. Aranha Neto2 - earanha@ifsc.edu.br Rubipiara C. Fernandes3 - piara@ifsc.edu.br
RESUMO O Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Energia (CSTSE) do Departamento Acadêmico de Eletrotécnica (DAE) está situado no Câmpus Florianópolis do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (IFSC). Após 10 anos de vigência do CSTSE, foi proposta uma renovação da logomarca do curso, por meio de um concurso aberto à comunidade, visto que a antiga logomarca estava desatualizada e há tempos foi esquecida. Neste sentido, o intuito principal do projeto de extensão foi a mobilização da comunidade e dos discentes do curso no sentido de incentivar a criatividade e também a divulgação do CSTSE. Como resultado principal, foi observado o incentivo aos discentes e a aceitação da comunidade sobre a escolha da nova logomarca do CSTSE. PALAVRAS-CHAVE Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Curso Superior de Tecnologia em Sistemas de Energia. Concurso. Logomarca. Questionário avaliativo. ABSTRACT The Technology Course in Energy Systems (TCES) of the Electrotechnical Academic Department (EAD) is located at the Florianópolis Campus of Federal Institute of Santa Catarina (FISC). 1
Dr. em Eng. Elétrica, Prof. do Depto de Eletrotécnica – IFSC Câmpus Florianópolis.
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Dr. em Eng. Elétrica, Prof. do Depto de Eletrotécnica – IFSC Câmpus Florianópolis.
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Dr. em Eng. Elétrica, Prof. do Depto de Eletrotécnica – IFSC Câmpus Florianópolis.
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After ten years of the TCES it is proposed a renewal of the logo of the course, through an open competition to the community. In this sense, the extension project aims to mobilize the community and students of the course in order to encourage the creativity and also the TCES publication. The main results of the project were the students encouragement and the community acceptance of the new TCES logo. KEYWORDS Federal Institute of Santa Catarina. Technology Course in Energy Systems. Open Competition. Logo. Evaluative Questionnaire.
1 Relato de experiência Justificativa Os primeiros materiais elaborados para o curso superior de tecnologia em sistemas de energia (CSTSE) foram efetuados próximos à sua criação, no segundo semestre do ano de 2005. Neste relato de experiência, serão inicialmente ilustrados os primeiros folders elaborados para o CSTSE e, posteriormente, a elaboração do concurso, a divulgação e a seleção da nova logomarca. A Figura 1 ilustra o primeiro banner utilizado para a divulgação do CSTSE.
Figura 1: Primeiro banner do CSTSE. Fonte: DAE-IFSC (2012).
Pode-se observar que o nome do CSTSE ainda utilizava o termo gestão, que foi retirado em 2009. Da mesma maneira, pode-se observar o antigo nome do IFSC, que até 2009 utilizava o nome de Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (CEFET-SC). No sentido de divulgar um curso que já estava em funcionamento e já possuía suas primeiras turmas, era necessária uma logomarca para o CSTSE. Neste sentido, os docentes do curso junto com os discentes da época, elaboraram a primeira logomarca do CSTSE. A Figura 2 ilustra a elaboração da mesma, em que o primeiro intuito foi utilizar a foto de discentes, o nome do CSTSE em uma vista arredondada, como um esboço para a logomarca do curso.
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Figura 2: Intuito inicial paraa logomarca do CSTSE, pelos docentes. Fonte: DAE-IFSC (2012).
Na sequência, os discentes do CSTSE evoluíram o intuito inicial dos docentes do curso e elaboraram duas ideias principais, ilustradas na Figura 3.
Figura 3: Principais ideias para a logomarca do CSTSE, pelos discentes. Fonte: DAE-IFSC (2012).
A Figura 4 ilustra a primeira logomarca do CSTSE, em sua versão final, elaborada pelos discentes do curso.
Figura 4: : Primeira logomarca do CSTSE. Fonte: DAE-IFSC (2012).
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A primeira logomarca foi amplamente utilizada para a divulgação do CSTSE, tanto nos banners e folders, como ilustrado respectivamente nas figuras 5 e 6.
Figura 5: Banners com as informações gerais e a grade curricular do CSTSE. Fonte: DAE-IFSC (2012).
Figura 6: Primeiro folder do CSTSE (frente e verso) Fonte: DAE-IFSC (2012).
Pode-se observar que os materiais de divulgação do CSTSE utilizaram a logomarca criada. No entanto, foi de entendimento dos docentes ativos do curso e que, atualmente, pertencem ao núcleo docente estruturante (NDE) e do colegiado do CSTSE, que seria interessante para o curso uma renovação da logomarca. Após diversos debates e discussões no NDE do CSTSE, que ocasionou na deliberação do colegiado do curso, foram estipuladas algumas condições, sendo que as principais delas seriam: • Que ocorresse um concurso aberto para a comunidade, em que fosse incentivada a participação de discentes do curso, mas também da comunidade como um todo; • Que tivesse uma ampla divulgação e uma premiação para maior aderência da comunidade; • Que tivesse regras claras e concisas para a seleção da nova logomarca e que fosse elaborado um regulamento específico para o concurso; • Que a premiação fosse entregue no evento Semana de Sistemas de Energia, na comemoração dos 10 anos de curso; • Que a nova logomarca do CSTSE fosse utilizada na divulgação do evento, tanto nos folders, cartazes, banners, camisetas, entre outros; • Que fosse elaborado um questionário avaliativo para a comunidade sobre a nova logomarca do CSTSE.
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Objetivos Este trabalho é resultado de um projeto de extensão que teve como objetivo principal a reformulação da logomarca do CSTSE. A escolha da mesma foi efetuada por meio de um concurso aberto à comunidade, em que a logomarca vencedora deveria contemplar a: • Criatividade (visão nova de logomarca); • Originalidade (desvinculação de outras logomarcas existentes); • Comunicação (transmissão da ideia e universalidade); • Aplicabilidade (seja em cores, em preto e branco, em variadas dimensões e sobre diferentes fundos); • Relação com o curso. A nova logomarca escolhida passa a ser de propriedade exclusiva do CSTSE e pode ser utilizada em todos os eventos, folders, cartazes, impressos, envelopes, site e outras situações definidas pelo DAE ou pela Coordenação do CSTSE.
Desenvolvimento O concurso para a nova logomarca para o CSTSE foi aberto no dia 28 de setembro de 2015 e divulgado nas redes sociais, no site oficial do IFSC (IFSC, 2015a) e no site do Câmpus Florianópolis (IFSC, 2015b). A divulgação nas redes sociais foi efetuada por meio da página pessoal de docentes e discentes e pelo grupo de Sistemas de Energia no Facebook (SE_IFSC, 2015). A divulgação pelo IFSC pode ser acessada nos sites descritos nas referências (IFSC, 2015a; IFSC, 2015b). A Figura 7 ilustra as notícias divulgadas sobre o concurso da logomarca do CSTSE nos sites do IFSC, sendo que nas mesmas pode-se acessar o regulamento e demais informações do concurso, assim como, o formulário de inscrição, datas pertinentes e a maneira de envio das logomarcas criadas.
Figura 7: Publicação do concurso da logomarca do CSTSE nos sites do IFSC. Fonte: IFSC (2015 a) e IFSC (2015 b).
O regulamento permitia até duas logomarcas a serem enviadas para cada participante e o prazo inicial da inscrição e do envio das logomarcas era até o dia 18 de outubro de 2015. No entanto, como a divulgação no site do IFSC não ocorreu de maneira rápida e satisfatória, o concurso foi prorrogado até o dia 31 de outubro de 2015, como ilustrado na Figura 8.
Figura 8: Prorrogação do concurso da logomarca do CSTSE nos sites do IFSC. Fonte: IFSC (2015 a) e IFSC (2015 b).
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No total foram 25 inscritos no concurso da nova logomarca do CSTSE. O perfil dos mesmos está descrito na Figura 9.
Figura 9: Tipos de inscritos no concurso da nova logomarca do CSTSE. Fonte: Elaboração própria.
Pode-se observar na Figura 9 que 76% dos inscritos ou são discentes universitários ou já possuem uma formação universitária (do IFSC ou de outra instituição). Outro aspecto relevante é que 40% dos inscritos no concurso são da comunidade externa ao IFSC. Do quantitativo de inscritos relacionado ao IFSC, aluno ou ex-aluno, representado pelos 60% ilustrados na Figura 9, existiram a participação de oito cursos diferentes e de diferentes localidades da rede IFSC. A Figura 10 ilustra que apenas 53% do montante de inscritos que tem alguma ligação com o IFSC são discentes ou egressos do CSTSE (o que representa 32% do total de inscritos).
Figura 10: Tipos de cursos do IFSC dos inscritos no concurso da logomarca do CSTSE. Fonte: Elaboração própria.
Desta forma, fica comprovado que o concurso da nova logomarca do CSTSE conseguiu atingir a comunidade externa e interna do IFSC, por meio da divulgação efetuada (redes sociais, site do IFSC, cartazes, murais, docentes e discentes, entre outras). A análise das logomarcas inscritas foi efetuada pelos autores deste artigo, de maneira individual, sem o conhecimento de quem era o autor, apenas com a logomarca e a descrição da mesma
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pelo próprio autor (breve memória descritiva sobre as intenções criativas da proposta). Desta maneira, cada avaliador efetuou notas aos diversos pontos destacados anteriormente, resultando em uma nota final do avaliador para cada logomarca inscrita. Essas notas então foram compiladas juntando as notas dos demais avaliadores, de maneira que a nota final da logomarca fosse a média simples das notas dos avaliadores. Como resultado final, a logomarca que obteve a maior média (8,0) foi a do Sr. Anderson da Silva Francisco, ilustrada na Figura 11.
Figura 11: Logomarca vencedora do concurso. Fonte: IDAE-IFSC (2015).
A descrição da logomarca pelo autor foi: “Ao lado esquerdo a logo começa com a representação de uma bateria, cujo polo positivo apresenta a sigla do curso com letras soldadas para remeter a ideia de condutores elétricos. Na parte verde, a ideia é utilizar as letras “SE” como se fosse um condutor e um plug de tomada.”. A publicação do resultado, com os três melhores colocados, ocorreu nos sites do IFSC, assim como nos murais do DAE e do CSTSE. A Figura 12 ilustra o resultado no site do Câmpus Florianópolis (IFSC, 2015 b).
Figura 12: Divulgação do vencedor do concurso e da entrega da premiação. Fonte: IFSC (2015 b).
O autor da logomarca, Sr. Anderson, recebeu uma menção honrosa na abertura do evento comemorativo de dez anos de CSTSE, no dia 2 de dezembro de 2015. O prêmio do concurso, um Tablet Samsung Galaxy Tab, foi entregue pela reitora do IFSC, professora Maria Clara Kaschny Schneider, e pelo coordenador do CSTSE, professor Fabrício Yutaka Kuwabata Takigawa. A Figura 13 ilustra o momento do recebimento do prêmio no evento.
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Figura 13: Entrega da premiação ao vencedor do concurso da nova logomarca do CSTSE. Fonte: DAE-IFSC (2015).
A nova logomarca do CSTSE foi utilizada no evento comemorativo dos 10 anos do curso (2 a 4 de dezembro de 2015), na divulgação do evento nas redes sociais e nos sites de internet, nas camisetas comemorativas, banners, folders, cartazes e no fundo das apresentações dos palestrantes. Posteriormente ao evento, os participantes fizeram uma avaliação da nova logomarca do CSTSE, por meio de um questionário avaliativo. O questionário foi respondido por 47 pessoas que estiveram no evento. O resultado está ilustrado na Figura 14.
Figura 14: Avaliação da logomarca pelo questionário avaliativo. Fonte: Elaboração própria.
Pode-se observar que apenas 9% consideraram a nova logomarca do CSTSE regular, ou seja, teve-se a aprovação da mesma por 91% dos respondentes.
Considerações finais Como resultados principais do projeto de extensão e do concurso da nova logomarca do CSTSE, destaca-se uma relativa participação da comunidade externa e interna; a mobilização dos mesmos para a elaboração criativa de uma logomarca; a divulgação do curso e da instituição; e o incentivo aos discentes do CSTSE. As maiores dificuldades encontradas estão relacionadas à greve dos servidores de 2015, que culminou em quase três meses de paralização do IFSC. Neste sentido, a participação dos discentes nas reuniões do NDE e do colegiado do CSTSE e a devida divulgação do concurso nos sites e na instituição foram afetadas. Como sugestões futuras, recomenda-se que dentro de alguns anos seja efetuada uma consulta à comunidade para uma possível substituição ou revisão da logomarca do CSTSE, assim como a elaboração de outras atividades de extensão que incentivem os discentes e que ilustrem o curso para a sociedade e para as empresas.
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2 Referências DAE-IFSC. Acervo técnico do curso superior de tecnologia em sistemas de energia. Departamento Acadêmico de Eletrotécnica do IFSC. Florianópolis, SC. 2012. _____. Fotos do evento comemorativo aos 10 anos do curso superior de tecnologia em sistemas de energia. Departamento Acadêmico de Eletrotécnica do IFSC. Florianópolis, SC. Disponível em: < https://www.dropbox.com/sh/nbjwq1tje3k918t/ AAAQLcEthezgSATNn8b5KElxa?dl=0>. Acesso em: 17 de dez. de 2015. IFSC. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina. Disponível em: <http://www.ifsc.edu.br>. Acesso em: 17 de dez. de 2015a. IFSC. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina - Câmpus Florianópolis. Disponível em: <http://www.florianopolis.ifsc.edu.br>. Acesso em: 17 de dez. de 2015b. SE-IFSC. Sistemas de Energia - IFSC. Disponível em: <http://www. https://www.facebook. com/groups/218076891563657/?fref=ts>. Acesso em: 17 de dez. de 2015.
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Relato de Experiência O uso do software livre na educação básica na Escola Antônio Guedes Francisco de Assis da Costa Silva1 - saoassis@yahoo.com.br
RESUMO O desconhecimento sobre como trabalhar com programas livres dificulta a inserção das TIC em atividades pedagógicas nas escolas públicas municipais de Patos – PB. Desde 2011, vem sendo desenvolvido um projeto de extensão que visa capacitar alunos da escola pública Antônio Guedes para trabalhar com programas livres. O projeto contribui para a inclusão digital dos alunos, já que apenas 12% dispõem de computador em casa. Além disso, colabora na luta para diminuir a exclusão, já que este tem uma dimensão social. PALAVRAS-CHAVE Inclusão digital; TIC; Software livre. ABSTRACT Lack of knowledge about how to work with free programs hinders the integration of ICT in educational activities in public schools in Patos - PB. Since 2011, has been carried out an extension project that aims to enable the students of Antônio Guedes state school to work with free software. The project contributes to the digital inclusion of students, as only 12% have computer at home. Moreover, it helps in the fight to reduce social exclusion, as the project has a social dimension. KEYWORDS Digital Inclusion; TIC; Free software.
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Doutor em Multimídia Educativa. Professor Associado da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG)
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1 Introdução Até poucos anos atrás, praticamente nenhuma escola pública de Patos - PB tinha computadores disponíveis para o alunado, tampouco para os professores. No atual momento, a maioria já dispõe de um laboratório de informática e algumas, inclusive, com acesso à Internet. Porém, essa infraestrutura não é explorada pelos professores, pois pouquíssimos a utilizam em suas atividades pedagógicas. Diante do exposto, foi elaborado um projeto de extensão na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Campus de Patos, que visou a formação do professorado de escola pública municipal para incorporar as TIC em suas atividades. A falta de horário livre disponível para capacitação e a rotatividade de professores inviabilizaram o projeto. A alternativa foi direcioná-lo para atender ao alunado. Deste modo, foi iniciado, em 2011, o projeto de extensão O software livre na escola pública municipal de Patos, que visa capacitar os alunos de escola pública para trabalharem com o computador e o software livre. A unidade de ensino selecionada para o projeto foi a Escola Pública Municipal Antônio Guedes (imagem 1), localizada em um bairro periférico e carente da cidade de Patos - PB. 77% das famílias dos alunos desta Escola recebem Bolsa Família. O uso do software livre avança praticamente em todos os setores estratégicos da sociedade, inclusive na área de educação (ADELL; BERNABÉ-MUÑOZ, 2007; GUHLIN, 2007; OSUNA, 2009; RIOSECO, 2008; RIOSECO; FABRES, 2011; SILVA; ESCOFET, 2013a; SILVA; ESCOFET, 2013b).
Imagem 1: Laboratório de Informática da escola. Fonte: Arquivo pessoal do Coordenador do projeto.
O referido projeto, além de contribuir para a inclusão digital desses atores, também é uma tentativa de diminuir a exclusão, considerando que este tem uma dimensão social. Também visa integrar a comunidade universitária (Imagem 2) com a sociedade em geral.
Imagem 2: Apresentação do projeto na escola. Fonte: Arquivo pessoal do Coordenador do projeto.
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2 O projeto Ao longo desses quatro anos, 296 alunos já participaram do projeto. A grande maioria teve o primeiro contato com o computador e a Internet por meio dele. Consultados sobre a possibilidade de acesso ao computador além da escola, 30% responderam que o acessam nas lan houses, 12% o fazem em casa, outros 10% em casa de familiares e 12% em casa de amigos e ONGs. Os dados reforçam a importância que tem a escola no processo de inclusão digital, já que apenas 12% do alunado dispõe de computador em casa. É interessante destacar também a importância das lan houses nesse processo.
2.1 Metodologia Inicialmente os participantes têm uma apresentação do hardware do microcomputador e do sistema Linux Educacional. A fase seguinte consiste em trabalhar com programas livres. Neste caso, são trabalhados os temas que os professores consideram mais relevantes e de maior dificuldade de aprendizagem por parte do alunado, como as operações matemáticas e elementos da língua portuguesa. Alguns dos principais programas livres usados são: • O LibreOffice, em que além de aprender a trabalhar com um editor de texto, os alunos utilizam para atividades da língua portuguesa como ditados e reforço da escrita. • O GCompris e TuxMath, para reforço das atividades de matemática. • O Kgeography, ferramenta de aprendizagem de geografia. • O Mozilla Firefox, ferramenta para navegar na Internet. • Alguns jogos educativos, tais como: KhangMan, Paciência, Kminas e KolourPaint. É inegável a importância dessas atividades, já que é frequente encontrarmos alunos, mesmo que dos anos finais do ensino básico, com uma grande dificuldade nas operações matemáticas básicas, na escrita e na leitura. A Internet é objeto de trabalho na fase seguinte do projeto. Além de aprender a navegar, o alunado é orientado a fazer buscas por assuntos relacionados aos temas das aulas e ler e interpretar os tópicos de interesse.
Imagem 3: Atividade desenvolvida por um aluno utilizando o KolourPaint2. Fonte: Arquivo pessoal do Coordenador do projeto.
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Ferramenta de edição gráfica
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Os alunos são divididos em duas turmas de acordo com o seu respectivo ano escolar. A ideia é ter uma proporção de um aluno por computador. Este coletivo tem um encontro semanal de 2h para as atividades práticas.
2.2 Resultados É significativa a melhora dos participantes com relação ao seu rendimento em língua portuguesa e matemática. Em conversas com professores, fica claro que se tem uma maior participação dos mesmos em sala de aula, bem como na realização das tarefas escolares, o que tem implicação direta no rendimento escolar. As principais dificuldades na execução do projeto estão relacionadas, especialmente, ao fato de que os participantes que dispõem de computadores em casa geralmente não têm instalada nenhuma distribuição Linux, tampouco o LibreOffice em suas máquinas, o que lhes impossibilita praticar e ter mais contato com esses programas livres. Por outro lado, tampouco na escola os alunos têm acesso extracurso aos computadores por falta de pessoal técnico ou funcionários que possam acompanhá-los e/ou orientá-los. Apesar de o laboratório de Informática oportunizar o uso do computador para fazer parte do projeto político pedagógico da escola, isso ainda não tem ocorrido. Os professores não receberam formação para essa realidade. Esse é um grande problema a ser superado no atual momento de implantação das TIC na educação na região. Um ponto que vale destacar é que se percebe anualmente um aumento no número de alunos com computadores pessoais e acesso à internet em casa, embora esses percentuais ainda sejam muito baixos. Em 2011, apenas 6% disseram ter computadores em casa, enquanto que, no ano de 2014, foram 12%. Observa-se uma boa receptividade da comunidade escolar ao referido projeto. Tem-se uma significativa participação nas atividades planejadas, o que aponta para uma sensibilização desta comunidade para as questões relacionadas com o uso das TIC no entorno educativo.
3 Considerações finais O presente projeto contribui para levar à comunidade escolar discussões relacionadas com a implantação das TIC na educação, enfatizando, especialmente, o software livre. A experiência demonstra que a temática precisa ser melhor trabalhada com todos os atores da escola, principalmente com relação ao professorado. É preciso investir, sobretudo, na sua formação para atuar nesta área, caso contrário, todas as expectativas serão frustradas. De fato, vários autores têm enfatizado que a preparação inadequada dos professores para trabalhar com as TIC é um sério problema ao longo das últimas décadas. O próximo passo será oferecer um curso de formação para os professores da escola e de outras localizadas na região circunvizinha, para que esses atores da escola possam introduzir o software livre em suas atividades pedagógicas. Sabemos que o papel do professor nesse novo ambiente escolar é decisivo, merece uma atenção ou mesmo uma preocupação especial. Desde o ponto de vista de Nóvoa (1992, p. 145), não há ensino de qualidade, nem reforma educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores. Esta afirmação é de uma banalidade a toda prova. E, no enquanto, vale a pena recordá-la num momento em que o ensino e os professores se encontram sob fogo cruzado das mais diversas críticas e acusações. O resultado positivo de algumas políticas governamentais, como o ProInfo Integrado, demonstra que o Brasil conquistou avanços importantes na área educacional nos últimos anos, embora ainda se tenha muito a investir. É uma luta contra o tempo para melhorar o sistema educacional do país. Apesar dos avanços e conquistas, verifica-se que ainda há muito por fazer no sentido da operacionalização de projetos que ajudem a proporcionar a inclusão digital.
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