CADERNO MAES O Museu como Espaço de Formação
O Museu como Espaço de Formação PROGRAMA DE ARTE EDUCAÇÃO 2009/2010 Texto e Pesquisa: Érika Sabino de Macêdo e Priscila de Souza Chisté Coordenação do Setor de Arte Educação : Ana Luiza Bringuente
Governo do Estado do Espírito Santo
Museu de Arte do Espírito Santo “Dionísio Del Santo”
Governador do Estado Paulo César Hartung Gomes
Diretora Leila Horta
Vice-governador do Estado Ricardo de Rezende Ferraço Secretária de Estado da Cultura Dayse Maria Oslegher Lemos Sub-secretário de Cultura Erlon José Paschoal Sub-secretária de Patrimônio Anna Luzia Lemos Saiter Gerente de Ação Cultural Mauricio José da Silva Presidente do Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES – Instituto SINCADES Idalberto Luis Moro Vice-Presidente Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES – Instituto SINCADES Carlos Antônio Marianelli Gerente Executivo – Instituto SINCADES Dorval de Assis Uliana
Assessora Especial Rosane Baptista Arte Educação Ana Luiza de Oliveira Bringuente Supervisor de Espaço Joaquim Galdino de Oliveira Apoio técnico Edson da Silva Estagiários – Mediadores Anderson Soares Nepomuceno Gyanna Chieppe Ivan Nepomuceno Juliana Gabriela Caetano Lara Carpanedo Carlini Marcel Velten Midiã Fraga Renan Andrade Estagiária – Biblioteca Fernanda de Souza Estagiária – Comunicação Social Rayssa dos Santos Silva Receptivo Carlos Monteiro dos Santos Fabrício Silva Pinto Jose Luis Coelho de Macedo José Renato Carneiro José Waldyr de Almeida Gomes Cleiton Wadson Rocha Apoio Andrea de Mellos Bianca da Conceição George da Conceição Sonia Maria Silva Apoio Segurança Arquiles dos Santos Alves Antônio Marcos Correa da Silva Diego Araujo Rodrigues Erasmo Vasconcelos Viana Juan Clay Nascimento Lyra Pablo dos Santos Pinto Vilmar Borges Alvim Walber Vasconcelos Barbosa Colaboração Bernadette Rubim Teixeira Raquel Baelles Programação visual, diagramação e arte final Glen Leão
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O Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo tornou-se, nos últimos anos, um dos pontos de referência mais importantes da produção cultural e das artes visuais em nosso Estado. Suas exposições, com obras de artistas renomados no Brasil e no exterior, atraem um público cada vez maior e mais diversificado. Sem dúvida, o que contribui decisivamente para o aumento do número de visitantes é o seu setor de Arte-educação, com programas educacionais adequados a cada exposição. Há muito os museus deixaram de ser apenas locais destinados à salvaguarda e à conservação de obras da História da Arte para se tornarem espaços de aprendizagem, de convivência social e de exercício do olhar. Debates, visitas monitoradas, intercâmbio com escolas, professores e alunos, e atividades lúdicas compõem as ações desenvolvidas no MAES durante as exposições. Desse modo, o Museu estimula a vivência, a descoberta e a troca de experiências, e promove a democratização do acesso à cultura. A diversificação do perfil dos visitantes impõe ao Museu a capacitação constante de sua equipe de colaboradores, a fim de atender às necessidades de um público amplo e ainda pouco habituado ao exercício da percepção estética e da avaliação crítica proposta pelas obras expostas. Um parceiro decisivo para a realização das exposições e o aprimoramento gradual dos programas educacionais tem sido o Instituto Sincades, que cumpre assim um papel de relevo no desenvolvimento cultural de nosso Estado. Por tudo isso, o presente registro das ações educativas realizadas pelo MAES é importante para os estudiosos, para o público e para o seu próprio aperfeiçoamento nos próximos anos. Dayse Maria Oslegher Lemos Secretária de Estado da Cultura do Espírito Santo
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ÍNDICE
Parte 1 – MAES: HISTÓRIA E AÇÕES - A história do MAES - As ações educativas no MAES: Um breve histórico - O contexto e o programa educativo de 2009 a 2010
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Parte 2 – A REFLEXÃO - DIÁLOGO ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA: COMO FOI FEITO? - Exposição Andy Warhol: arte e práticas para o dia a dia - Exposição Espectador em Trânsito - Vídeoinstalações - Exposição Triunfos do Carnaval - Exposição Rembrandt e a Arte da Gravura - Exposição Beatriz Milhazes: Gravuras - Dionísio Del Santo: Serigrafias
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Parte 3 - PERSPECTIVAS PARA O FUTURO - Gráficos - Cronologia das exposições - Referências
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APRESENTAÇÃO O Caderno MAES: Museu como Espaço de Formação, tem como objetivo apresentar uma retrospectiva das ações educativas realizadas no Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio del Santo – MAES. A elaboração deste material visa a constituir um registro do percurso educativo ocorrido nessa instituição, possibilitando projetar com maior segurança, eficácia e coerência suas futuras ações. A primeira parte do material apresenta um breve panorama da História do MAES e a descrição do desenvolvimento de suas ações através dos projetos educativos realizados no Museu desde sua criação, em 1998. Este aspecto histórico é relevante para a observação das transformações ocorridas nesse processo.
A segunda parte do Caderno MAES relata detalhadamente os projetos educativos realizados nos anos de 2009 e 2010 e suas repercussões. No momento seguinte, são apresentadas perspectivas para projetos em arte-educação no futuro da instituição.
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Parte
1
O MAES: História e ações
MAES: HISTÓRIA E AÇÕES A História do MAES Patrimônio Cultural do Estado do Espírito Santo, o prédio onde está sediado o MAES foi projetado pelo arquiteto tcheco Joseph Pitilick e situa-se na Avenida Jerônimo Monteiro, 631, no centro da cidade de Vitória. Foi construído em 1925, funcionou durante o governo Jerônimo Monteiro como Companhia de Desenvolvimento da Cidade e posteriormente sediou o Diário Oficial. A partir de 1998 passou a abrigar o único museu de arte do Estado, fazendo parte assim da estrutura organizacional da Secretaria de Estado da Cultura – Secult. O Museu de Artes Plásticas do Espírito Santo foi inaugurado em 18 de dezembro de 1998, com uma exposição retrospectiva da obra do artista capixaba Dionísio Del Santo. No ano seguinte passou a se chamar Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo - MAES, um ano após a morte do artista, em sua homenagem. Atualmente, o acervo é constituído por obras de Dionísio Del Santo, entre doadas e adquiridas posteriormente, composto por serigrafias, xilogravuras, desenhos e pinturas. Conta ainda com obras de artistas como Maurício Salgueiro, Nice Nascimento, Raphael Samú, entre outros. O MAES está técnica e fisicamente preparado para receber exposições nacionais e internacionais, possuindo uma área expositiva com cinco salas e hall, distribuídos em dois pisos, além de um auditório com capacidade para 40 pessoas.
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As ações educativas no MAES: um breve histórico Da abertura em 1998 a 2002 A primeira mostra realizada no MAES foi a Dionísio Del Santo: retrospectiva, em 1998, sob a direção de Tereza Giubert Cruz. Nessa ocasião apresentou-se um panorama da obra do artista estabelecendo uma relação com a arte-educação, através do projeto Conhecendo um Museu, que envolveu a Escola Municipal de Ensino Fundamental Álvaro de Castro Matos e culminou com a pintura dos muros da escola a partir de estudos das obras de Dionísio Del Santo.
exposição A Essência e os Fragmentos de Raphael Samú, em 2001, possibilitando a implementação do Projeto Arte&Escola com a elaboração de material educativo composto por Caderno do professor, dois Roteiros de leitura de imagem e um texto literário denominado Os bichos da noite inspirados pelas obras expostas e uma Oficina de Mosaico. Dentro desse contexto, o MAES abrigou em 2002, parte da exposição constante do programa do 8° Congresso Internacional de Mosaico Contemporâneo. Estive diretor do Museu de Arte do Espírito Santo entre 2002 e 2004, assumi o cargo com 26 anos de idade e desde então aprendi a amar aquele lugar. O primeiro projeto que construimos com curadoria de Neusa Mendes foi Ruído. O Museu vomitava pinturas pelas sacadas, Rosindo Torres purificava o espaço ao mesmo tempo em que David Caetano cortava e comia os próprios cabelos. Havia uma atmosfera de frescor estético que nos tomava. Ruído se desdobrou em duas outras intervenções, Ruído Poético, com um grupo de poetas e Ruído Corporal, com performances e show de rock. No ano seguinte lançamos Bíblia de Nena B, montamos a mostra Pausa com obras do acervo e artistas convidados. Em 2004 recebemos o Projeto Tempo Cor, de Enéas Valle. O MAES como disse Neusa Mendes é o Museu Casa, localizado no centro fervilhante da capital, é sempre uma ilha de cultura com portas abertas. Tudo foi muito gratificante. Fabrício Coradelo De 2003 a 2008 Desde 2002 o MAES definiu e sistematizou seu papel no campo das ações educativas, criando, em 2003, o Setor de Arte-educação coordenado por Célia Ribeiro, que em parceria com a Sedu, desenvolveu programas de destaque, como: - Distribuição de material educativo ARTE-BR, com o projeto O MAES abre as portas para a ARTE-BR;
Na exposição Retrospectiva Nice, em 2000, destacam-se aspectos ligados ao atendimento a escolas por meio de visitas mediadas, dando origem a uma mostra de releituras das obras da artista, realizadas por alunos de escolas públicas e privadas da grande Vitória. Ainda no ano de 2000 o Museu abrigou a I Mostra Internacional de Mini-gravuras - Miniprint 2000. Participaram da mostra 195 artistas oriundos de 29 países de 04 continentes e 12 estados do Brasil. Esta mostra resultou em uma parceria entre o MAES e a Pró-Reitoria de Extensão da UFES para a montagem da
- O MAES e ARTE-BR pegam a Estrada – com exposições itinerantes de gravuras de Dionisio Del Santo, acompanhadas por palestras e oficinas de gravuras para professores de artes da rede pública de ensino em todo o Estado. - Projeto Encontros de Arte-educação no MAES com seminários sobre Arte, Filosofia e Museologia. - Além disso foram realizadas importantes ações educativas vinculadas às exposições Universo do Cordel, Camile Claudel: a sombra de Rodin e Margareth Mee: uma visão da Amazônia.
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Em pesquisas elaboradas por Moema Rebouças no Projeto ARTE-BR constatou-se que a maioria dos profissionais que atuava nas escolas não possuía formação em Educação Artística ou Artes Plásticas; por isso as ações realizadas pelo MAES foram de grande valia para a formação desses professores sendo legitimadas pelo contexto, visto que muitos deles estavam iniciando seu processo de formação e necessitavam de embasamentos preliminares relativos ao ensino da arte.
processo de construção e planejamento da formação. Isso constitui um desafio para o setor de arte-educação do MAES. Além disso, vale lembrar que os programas educativos desenvolvidos pelo MAES carecem de um respaldo político e legal que garanta a sua continuidade. Desse modo, observa-se em sua trajetória, épocas de intensa elaboração de projetos e períodos nos quais essas ações quase desaparecem.
De 2005 a 2007 O Museu passa a ser dirigido por Rafaela Zanete: “Quando assumimos a direção, desenvolvemos uma série de Encontros em formato de Seminário para discutir questões importantes dos Museus como acervo, público, curadoria e ação educativa, iniciando com uma palestra cujo mote de discussão foi A crise de identidade dos museus públicos.
O contexto e o programa educativo de 2009/2010 A partir de 2007, Leila Horta assume a direção do Museu e o quadro de pessoal do Setor de Arte-educação passa a ser composto pela Coordenadora Ana Luiza Bringuente e oito estagiários, sendo todos estudantes de Artes ou áreas afins.
O MAES, sendo o único Museu de Arte público no ES, tem um papel cultural importante. Para além de abrigar os registros e as manifestações artísticas, é um espaço a serviço do conhecimento, da educação e da informação, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade como peça integrante da formação da memória cultural de uma cidade, de uma nação. A manutenção das instituições museológicas exige que sua identidade, sua missão e seus principais objetivos sejam repensados e articulados de forma a ir ao encontro das necessidades de um conjunto de públicos e destinos cada vez mais heterogêneo”. Rafaela Zanete No processo histórico de implementação do Setor de Arte-educação do MAES, destacamos o Projeto Encontro com arte-educação no MAES, realizado em 2008 pelo setor educativo, considerada uma ação inovadora por ter apresentado, pela primeira vez, atividades que se relacionavam tanto com a exposição em cartaz como com o planejamento da prática em sala de aula, colocando em debate uma linha teórica do ensino da arte - Proposta Triangular - defendida por Ana Mae Barbosa. Contudo, a elaboração da proposta esteve ainda vinculada à divulgação da exposição Canteiro de obras do artista Cláudio Tozzi, visando a promover a distribuição do material educativo referente à mostra. O Museu permanecia, ainda, focado em suas próprias fronteiras. Atualmente, pesquisadores defendem uma formação de professores que promova o debate teórico, discussões, questionamentos e que estimule sua participação no
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“Desde o dia 13 de novembro de 2007 até novembro de 2010, a ressignificação do Museu de Arte do Espírito Santo Dionísio Del Santo foi possível porque acreditamos em um sonho. Este sonho refere-se ao reconhecimento do acervo permanente que começou há doze anos, através das doações de Dionísio Del Santo. O tombamento do acervo de Del Santo foi no dia 4 de novembro de 2010, véspera do Dia Nacional da Cultura. Toda a equipe do MAES bem como as parcerias estabelecidas com as universidades no período da minha gestão, foram produtivas e realizaram um trabalho eficiente. Podemos dizer isto tanto pelo aspecto qualitativo ao observarmos as ações educativas implementadas, quanto pelo aspecto quantitativo, visto que tivemos uma visitação de média semanal de 447 visitantes”. Leila Horta
As visitas das escolas ao Museu são marcadas por e-mail, através do site da Secretaria de Cultura, e a maioria delas é realizada por professores de arte do ensino fundamental e médio. A Conversa com o Professor antes da visita ao MAES ocorre por meio dos Encontros com Arte-educação que será citado junto a outras ações nas páginas que seguem.
2) Encontros de Arte-Educação - A mediação especializada para professores promove a visitação, permitindo a participação e informação desses profissionais, para que possam iniciar seus alunos acerca de aspectos importantes da exposição e posteriormente trazê-los ao Museu para uma visita mediada.
“Assumir a Coordenação do Setor de Arte-educação do MAES me deu a oportunidade de interagir e conviver com o cotidiano de um Museu de Arte. Ser parte de uma equipe que pensa e trabalha com a arte de forma a abordar sempre a sua pluralidade e desdobramentos, nunca mantendo-a fechada para reflexões. Estar dentro do MAES e acompanhar seu crescimento, a formação do seu público e poder contribuir nesse processo é uma honra para qualquer agente da arte”. Ana Luiza de Oliveira Bringuente Nesta gestão, precisamente em 2009, foi estabelecida uma parceria com o Instituto SINCADES que permitiu ao Museu potencializar suas ações educativas. O Instituto de Ação Social e Cultural SINCADES – Instituto SINCADES – foi fundado em 21 de agosto de 2008, a partir de um contrato firmado entre o Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (SINCADES) e o Governo do Estado do Espírito Santo. Observa-se a necessidade da realização de projetos voltados para ações educativas, e uma maneira eficaz de transformar essas ações pontuais em programas sedimentados formulados pelo Setor de Arte Educação. Para isso, é preciso criar um programa educativo e cultural do MAES, o que se considera um dos grandes desafios a serem vencidos.
3) Roda de Conversa - A partir de um tema escolhido, são realizados encontros abertos ao público, onde se discutem questões pertinentes à exposição, com a participação de um especialista no assunto e o mediador. 4) MAES para todos - Objetiva criar percursos de mediação diferenciados privilegiando toda a diversidade que compõe o quadro de visitantes do Museu, levandose em conta as visitas agendadas ou os visitantes espontâneos. Os agendamentos de visitas mediadas para grupos são feitos através do site www.secult.es.gov.br 5) MAES na Rede - Possibilita o acesso, via web, de toda a programação do MAES, bem como a interação com as ações propostas nas exposições através do blog museudeartes.wordpress.com, twitter e facebook.
Entende-se que a criação de uma diretriz ou linha de trabalho, permitirá ao setor construir sua identidade, com objetivos claros e ações fluidas. Através da elaboração de um documento estratégico, de forma conjunta entre as diversas equipes envolvidas, será possível dotar o setor de uma política que assegure a continuidade das ações, mesmo em momentos de transição. Iniciando as reflexões sobre a elaboração, efetivação e sedimentação de um programa de arte-educação, foram adotadas algumas estratégias de ação: 1) Ciclo de Palestras - A cada exposição o MAES são convidados profissionais de diversas áreas a fim de discutir assuntos referentes à mostra oportunizando o debate, reflexões e ampliação de conhecimentos sobre o tema em pauta.
6) Registro fotográfico e de áudio-visual - Entendendo o Museu como um espaço de formação social vivo e de grande circulação, tanto de exposições quanto de ações paralelas, o registro fotográfico e de audiovisual é imprescindível, sendo realizado através de parcerias com universidades e instituições.
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Vejo como o período de estágio no MAES rendeu em minha construção profissional. Alguns dos colegas de estágio e de academia hoje fazem parte de dois proeminentes agrupamentos artísticos, o Coletivo Mimosas Pudicas e Coletivo Monográfico, que iniciaram suas trocas e investigações sobre a crítica, produção artística e arte-interação dentro do espaço do MAES. Idéias bastante distintas e pesquisas enriquecidas que proporcionaram o caminho que hoje estamos construindo enquanto realizadores de arte e pensamento. Especificamente, a exposição "Espectador em trânsito", a exemplo, foi um importante passo no desenvolvimento da primeira produção do Coletivo Mimosas Pudicas, a mostra INAPRECIAVEL; que através de uma videoinstalação procura os vestígios, as marcas quase invisíveis de cada uma das montagens e desmontagens de exposições, e que são indeléveis à memória do lugar.
Posso dizer que reconheci a potência da minha profissão e do meio cultural estando no MAES durante os meses de estágio, de como galgar a essência do olhar e ouvir, nesse campo de tantas vertigens e panoramas.
Horrana de Kássia Santoz
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Parte
2
A reflexão – Diálogo entre a teoria e a prática Como foi feito?
Andy Warhol: arte e práticas para o dia a dia A exposição Esta mostra internacional, realizada no período de 2 de abril a 2 de julho de 2009, foi de significativa importância para o processo histórico de efetivação do Museu como espaço educativo. Através das atividades realizadas durante esta exposição, o MAES pôde trabalhar com aspectos inovadores em seu percurso. Destaca-se a proposta interativa do recorte curatorial que enfatizou o aspecto educacional em sua montagem, criando um percurso que facilitava a observação das obras expostas e a vivência do processo de criação do artista, acompanhado da fala do mediador.
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Andy Warhol em quatro propostas Na sala localizada no primeiro andar, foi montada a instalação Silver Clouds. O visitante era convidado a entrar e interagir com inúmeros travesseiros prateados e flutuantes que ocupavam a sala. Este primeiro espaço da mostra permitiu o encontro com uma das linguagens contemporâneas trabalhadas por Andy Warhol: a instalação. As serigrafias ocuparam duas salas do segundo andar da instituição onde o público teve contato com a produção do artista Pop. Ao mesmo tempo era possível ao visitante criar suas próprias imagens em uma estação de serigrafia montada no local. Dessa forma, era estimulado o olhar e incentivada a criação de imagens através da técnica utilizada pelo artista.
A Mostra contou ainda com as obras Screen Tests e Time Capsules. Nesta última, foram expostos objetos que faziam parte do cotidiano do artista, recortes de jornal, embalagens usadas e guardadas ao longo do tempo em inúmeras caixas de papelão. Após o conhecimento dessa prática, era oferecida ao visitante a oportunidade de criar imagens dos objetos que traziam consigo através do recurso da fotocópia. Essa atividade permitia ao público deixar um registro de seu tempo e de sua cultura para a posteridade, assim como fez Andy Warhol com suas cápsulas do tempo. O espaço Screen Tests ou teste de tela apresentou uma proposta artística de linguagem audiovisual, onde eram exibidos pequenos vídeos feitos pelo artista nos quais ele registrava a atitude de diferentes pessoas, amigos, colegas de trabalho e artistas diante de uma câmera. A proposta consistia em posicionar as pessoas diante do equipamento e ali, elas tivessem liberdade de fazer o que quisessem.
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Após o contato com os vídeos, o visitante era convidado a fazer o mesmo: ele se postava diante de uma filmadora e num pequeno espaço de tempo era livre para se expor da maneira que desejasse. O material registrado, depois de editado, fazia parte, no dia seguinte, de uma projeção de vídeo naquele local. Durante a mostra no MAES foram realizados aproximadamente 1000 testes de imagem com os visitantes. As ações educativas Além do projeto curatorial da exposição que já previa aspectos educativos em sua construção, foram realizadas três ações educativas durante a mostra: 1) A Formação dos profissionais envolvidos - Nos dias que antecederam a exposição os Curadores da Mostra – Luiz Guilherme Vergara e Jessica Gogan organizaram a formação, através de palestras, de todas as equipes que atuaram direta ou indiretamente na mostra. Destaca-se a participação dos artistas pesquisadores que integraram o Projeto Piedarte, realizado na comunidade que se localiza no entorno do Museu, que se tornou um “braço” externo da exposição. A primeira palestra foi apresentada pelo curador Luis Guilherme Vergara com o tema Museu e o Mundo – apropriações e deslocamentos entre arte e vida que abordava a inclusão da obra de Andy Warhol na História da Arte. A curadora Jessica Gogam foi responsável pela segunda palestra As práticas artísticas de Andy Warhol abordando as idéias e as técnicas propostas pelo projeto Screen Tests. Essa palestra contou com a participação do educador e vídeoprodutor Leandro Batista, responsável pela oficina de Operação de Câmera e edição de vídeo oferecida aos demais profissionais envolvidos nessa formação. Essa ação educativa ainda ofereceu aos mediadores e também aos integrantes do Projeto Piedarte três oficinas de serigrafia, realizadas por Eduardo Machado, com a participação das artistas Mary Tremonte e Heather White, do grupo R.U.S.T (Radical Urban Silkscreen Team) do Andy Warhol Museum, em Pittsburgh, Pensilvânia – E.U.A. As oficinas foram realizadas no Atelier Ocupação da Galeria Homero Massena e nesta ocasião as artistas puderam apresentar a proposta idealizada pelo grupo e sua atuação junto ao Andy Warhol Museum. Essa formação foi finalizada com uma visita mediada pelos curadores da exposição. 2) O Projeto Piedarte - A idéia original desta ação educativa é do grupo R.U.S.T e promove ações em espaços urbanos próximos das instituições
museológicas, visando a interferir positivamente na relação dos indivíduos com suas comunidades através das propostas artísticas e dos conceitos apresentadas na exposição Andy Warhol: arte e práticas do dia a dia. A primeira versão deste projeto no Brasil, denominada Comuniarte, ocorreu em Niterói, através de uma iniciativa do MAC – Museu de Arte Contemporânea em parceria com Andy Warhol Museum. No projeto, pesquisadores de diferentes áreas realizaram oficinas no Morro do Palácio, comunidade próxima ao museu, gerando assim uma aproximação entre a universidade, o museu, os moradores da comunidade e o seu espaço urbano. Em Vitória, a versão do projeto recebeu a denominação de Piedarte, pois ocorreu no morro da Piedade, comunidade próxima ao MAES. A ação contou com a participação dos seguintes artistas pesquisadores: Fernanda de Castro, historiadora; Ignez Capovilla, fotógrafa; Mariana Moraes, historiadora de arte; Felipe Borba, artista plástico; e Victor Monteiro, artista plástico. Esses artistas pesquisadores realizaram oficinas e encontros com as crianças daquele local e posteriormente com os moradores adultos da comunidade, visando a ampliar e a ressignificar o olhar dos participantes em relação à arte e principalmente em relação à sua comunidade, colocando assim em discussão a importância da preservação e valorização da cultura na qual vivemos. O Piedarte buscou estimular a formação de sujeitos críticos em relação ao espaço urbano que habitam e, conseqüentemente, sujeitos atuantes e integrados à comunidade. A equipe de artistas e pesquisadores trouxe ao MAES as crianças que participaram do Projeto e nessa oportunidade, além de conhecer a exposição, puderam se ver na mesma, já que na estação de serigrafia foi exposto um painel com as imagens do Projeto Piedarte. Ao final, foi organizado um Ciclo de Palestras no qual esses pesquisadores puderam expor suas experiências.
“Desde o início, o convite do Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) para participar da sua primeira ação extramuro soou tentador. Nem precisei ter acesso a muitos detalhes para aceitar o desafio de realizar uma ação numa comunidade no entorno do Museu, pois minha breve experiência profissional já demonstrara o quanto o trabalho com comunidades pode ser rico. Claro que no decorrer do trabalho surgiram vários questionamentos, dúvidas e obstáculos. Afinal, ao desafio de trabalhar numa realidade completamente desconhecida somava-se o de compartilhar a experiência com uma equipe completamente nova, formada por profissionais ligados às artes e, portanto, com foco um pouco diferente da minha formação. Outros receios não menos angustiantes apareceram durante o processo: o tempo reduzido da ação (apenas três meses), a verba escassa, a insegurança... No entanto, mais do que entraves, os aparentes obstáculos foram provocações que me obrigaram a (re)pensar estratégias de ações, inverter lógicas e também a questionar o papel do historiador em projetos como o Piedarte, que pode (e deve!) ser muito mais amplo do que nos ensinam na academia. Além de quebrar alguns paradigmas, aprendi também a vencer limitações ao lidar com as surpresas, a imprevisibilidade, o inusitado, que sempre rondaram nossas ações, mesmo que estas estivessem mais do que planejadas. Não descobrimos receitas, modelos fechados, muito menos planos imutáveis e infalíveis que pudessem orientar ou dar as coordenadas para um próximo trabalho realizado pelo MAES. Pelo contrário, atuar no Piedarte nos ensinou a importância de estar atenta às inúmeras possibilidades e ao acervo infinito e ilimitado de perspectivas que se abrem diariamente. Sem querer incorrer em lugar-comum ou parecer romântica, durante os três meses no morro Piedade, mais aprendi do que ensinei, mas recebi do que doei. Fiz amigos, falei, ouvi, chorei, ri. Nesse incessante encontro com o outro, revi meus pontos de vista, mudei comportamentos, reavaliei princípios e valores, redimensionei olhares. Ao iniciar meu texto, falei da rica experiência proporcionada pelo trabalho de campo. Mas, ao fazer essa breve retrospectiva, reconheço que riqueza não é um adjetivo que consegue expressar todo o processo vivenciado no Piedarte. Faltam palavras para exprimir que aprendi.” Fernanda de Castro - historiadora Caderno MAES - 13
3) Ciclo de Palestras - O 1º Ciclo de Palestras, realizado nos dias 03 e 04 de abril de 2009, foi denominado Artistas e Pesquisadores: mediações entre a Sociedade e a Arte e ocorreu no auditório do MAES, onde representantes de diferentes áreas do conhecimento levantaram o potencial da ação sócio-cultural das instituições museológicas e as propostas da arte contemporânea a partir de uma abordagem interdisciplinar. A palestra de abertura denominada Conceitos curatoriais – Ressignificação dos museus como lugares de criação contínua: teorias e processos de agenciamento culturais em campo ampliado foi apresentada pelos curadores da mostra. O Ciclo de Palestras teve prosseguimento com os seguintes temas: - Toponímias – estratégias de ressignificações dos lugares e caminhos compartilhados apresentada por Marli Cigagna do Instituto de Geociência da UFF . - Memórias e Cartografias das Brincadeiras – Territorializando afetos e experiências compartilhadas com Sonia Monerat do Instituto de Letras da UFF. - Socialização e o declínio das instituições com Ana Karina Brenner – Psicóloga vinculada a grupos de estudos da UFF. - Avaliação e narrativas de um processo com a Psicóloga Renée Douek. - Jovens de espaço populares: socialização, individuação e suporte com Paulo Carrano do departamento de Educação da UFF. - Saúde como processo de construção de novas subjetividades proferida por Luiz Hubner, do Coordenador do projeto Médico de Família (Niterói-RJ).
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O 2º Ciclo de Palestras denominado Museu x Comunidade – uma experiência concreta foi realizado nos dias 01 e 02 de julho, no final do período da exposição Andy Warhol: arte e práticas para o dia a dia. Nessa oportunidade, os coordenadores do evento, Luis Guilherme Vergara e Jessica Gogan deram continuidade aos debates sobre o papel social dos museus e da arte abordados no 1º Ciclo de Palestras. Os palestrantes colocaram em discussão essa temática a partir de uma experiência concreta: o Projeto Piedarte. As palestras foram as seguintes: - Arte como território de processos e afetos ampliados com os curadores da mostra Luiz Guilherme Vergara e Jessica Gogan. - Projeto Piedarte - apresentado pela artista pesquisadora Mariana Moraes. - A vida como obra de arte com o professor de filosofia Fernando Pessoa do Departamento de Filosofia da UFES. - A arte no morro da Piedade com o artista Lincoln Guimarães Dias do Centro de Artes da UFES. - O museu de arte e a construção da democracia cultural com a arte-educadora Maria Célia Chaves Ribeiro. - Pensando a arte e sua inserção na comunidade: a proposta de um olhar fenomenológico, com a professora de filosofia Carla Francalanci do Departamento de Filosofia da UFES. - Espírito Santo: configurações sociais e políticas de sua trajetória de desenvolvimento com Marta Zorzal. - O Acervo imaterial de um museu imaginário com o artista Júlio Tigre. - Sentido do afeto com a médica e escritora Iacy Rampazzo.
A equipe de pesquisadores e artistas que atuou no Projeto Piedarte encerrou o evento juntamente com a moradora da comunidade Sandra Silva relatando todo o desenvolvimento desdobramento do projeto realizado “ Hoje eu posso dizer que isso o Piedarte foi a mistura de sonho realizado no m orro Piedade e o museu de arte. Foi pouco tempo para apresentação, mas a união mostrou muito para quem não se conhecia e se sentia incapaz de ser importante para os outros. Principalmente para as crianças com quem trabalhamos e suas famílias. O museu era tão distante do nosso pensamento que nunca fomos ao encontro dele. Mas, Victor, Felipe, Inês, Fernanda, Mariana e Cristel trouxeram o museu até nós. E mostrou o Morro da Piedade, as obras de arte que eram nós mesmos, com nossas riquezas, nossas fontes de água pura, nossa escola de samba e nossos velhos educadores que formaram o morro e nossa descendência. Mas o que o museu nos deu...a oportunidade de viver com a sociedade. Quem diria, o Museu de Arte MAES dar vida a um bairro chamado Piedade.” Sandra, moradora do bairro Piedade
Em síntese... A exposição Andy Warhol: arte e práticas do dia a dia contou com a participação de 11.935 visitantes, este número apresenta um significativo aumento do público visitante em relação as mostras anteriores. Devido ao apelo educacional e interativo da curadoria, essa mostra despertou o interesse de escolas e faculdades, o que pode ser apontado como fator primordial para que a mostra tenha atingindo este número de visitantes. A diversidade de profissionais que colaborou com os Ciclos de Palestras: médicos, filósofos, geógrafos, escritores, educadores, psicólogos, cientistas sociais e artistas plásticos foi imprescindível para o sucesso desse evento. Este fator, relacionado com a proposta da exposição, contribuiu para a qualidade do debate, mostrando assim aos participantes vários pontos de
vista, diferentes vivências e formas de pensar sobre a arte, sobre o espaço urbano, sobre cultura e sobre o papel das instituições museológicas na contemporaneidade. Outro aspecto que merece destaque é a qualidade e o aprofundamento da formação interna organizada para dar suporte técnico e conceitual aos mediadores. Este fato também se relaciona com o recorte curatorial da mostra que privilegiou aspectos educacionais, exigindo assim, uma formação diferenciada. E finalmente, ressaltamos aqui a inovação e a mudança de postura que o Projeto Piedarte introduziu no percurso histórico da instituição, visto que ações sociais deste porte ainda não haviam sido desenvolvidas pelo museu. Dar acesso a grupos que vivem em situações de vulnerabilidade ou de exclusão social, deve ser uma ação tratada com cuidado nos projetos de arte-educação dos museus, a fim de proporcionar interesse, conhecimento e acessibilidade àqueles que não se sentem representados nem reconhecidos nestes espaços, muitas vezes considerados elitistas. Além disso, organizações que trabalham com esse grupos– associações, ONGs, institutos, cooperativas, etc. - não percebem o museu como uma instituição com potencial capaz de contribuir para a inclusão cultural, entendendo-o ligado apenas à educação escolar e ao lazer.
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Espectador em Trânsito - Vídeoinstalações A exposição Ainda em 2009, o MAES recebeu entre o dias 11 de agosto e 16 de outubro, a mostra Espectador em Trânsito, uma itinerância de vídeoinstalações promovida pela parceria entre a Secult e a ArtSESC. A curadoria foi de Martin Grossmann e o projeto, de âmbito nacional, teve a participação dos artistas plásticos Luciano Mariussi, André Parente e a dupla Leandro Lima & Gisela Motta. Para sua montagem em Vitória foram convidados os capixabas Miro Soares, Juliana Morgado e Orlando da Rosa Farya. A exposição apresentou produções artísticas contemporâneas que utilizaram a linguagem tecnológica da videoarte como forma de expressão. Por meio de videoinstalações, o público foi estimulado a participar como se estivesse "em trânsito", móvel, dinâmico, em movimento.
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Em trânsito pelas obras Luciano Augusto Mariussi apresenta dois trabalhos. Um deles é Entre, composto por quatro projeções de vídeo de pessoas em tamanho natural, que utilizando uma linguagem agressiva e preconceituosa, interagem com os visitantes. O estranhamento e a ironia encontrados neste trabalho são observados na oposição entre o título que convida o espectador a entrar e o conteúdo do material audiovisual projetado que expulsa o convidado da sala. “O diálogo fazia desta obra a mais interativa da exposição. Algumas pessoas ficavam tímidas e se assustavam, outras se ofendiam e "obedeciam" as falas dos personagens, e logo saiam da sala. Mas na mediação com crianças e adolescentes, a maioria retrucava as falas, falavam "...não sairei daqui, saia você" e por vezes tentavam esbofetear as imagens projetadas na parede. O certo é que a maioria se demorava bastante na sala, ouvindo os três discursos diversas vezes. Uma das falas dizia "...sai daqui, esse lugar não é pra você, vai em bora pra casa, subir a ladeira, jogar baralho, ver tv (...)". O interessante é que houve uma turma que, segundo a professora, sempre jogava baralho no intervalo da escola, e passou a não jogar após a visita a essa obra.” Renan Andrade Silva - mediador
Gisela Motta e Leandro Lima - O Beijo e Passei-o são instalações de dois vídeos feitos separadamente por cada um dos artistas, compõem a instalação O Beijo. Projetados sobre paredes que formam uma quina de 90 graus, o espectador não pode ter uma visão frontal dos dois vídeos ao mesmo tempo. O único contato entre as imagens é um líquido que corre horizontalmente.
O trabalho Passei-o aborda o tempo e a vida, representadas pela passagem rápida e sonora de um trem, que passa em intervalos determinados de tempo. A imagem do momento de sua passagem em movimento é mesclada com imagens dos lugares fixos pelos quais passa. André Parente comparece com duas videoinstalações. Uma delas é Entre-Margens, que representa, por meio de paisagens visuais e sonoras, a condição intermediária e virtual expressa no conto A Terceira Margem do Rio, de Guimarães Rosa. O outro trabalho de André Parente é Estereoscopia, uma instalação interativa baseada em duas imagens de um casal que se olha em campo e contra-campo compondo imagens a partir de fragmentos que formam outras imagens, como sucessivos fractais. Imprecise Itineraries é o trabalho do mineiro Miro Soares, resultado de um projeto no qual o artista pediu que sete pessoas diferentes desenhassem em um mapa um itinerário qualquer que ele deveria seguir nos primeiros dias que passou em Bergen, na Noruega. Durante uma semana esses mapas o guiaram, determinando sua experiência e sua movimentação pelo espaço urbano. Seu trânsito pela cidade, determinado pelos itinerários imprecisos feitos pelos habitantes do local, culminaram na produção de um vídeo gravado com utilização da câmera de um telefone celular. As produções foram divididas em sete partes e exibidas em sete televisores. Orlando da Rosa Farya - Lando apresentou em RER D, fotografias de paisagens captadas do trem europeu que faz o percurso de Paris a Combs la Ville, pequena cidade francesa. O artista fez este percurso durante dois meses para captar as imagens que, colocadas em seqüência, reproduzem o movimento do trem. A montagem da obra no espaço expositivo oferece ao espectador a oportunidade de ver as imagens captadas sentado em um espaço que simula um vagão de trem. Dessa forma, o artista procurou oferecer a sensação que vivenciou no momento em que fez as fotografias: estar imóvel, sentado na poltrona do trem ao mesmo tempo em deslocamento, em trânsito. Lando apresentou também duas animações: Color Field, com planos de cor que mudam de acordo com o ângulo do observador; e Picasso, com fotografias captadas no Museu Picasso, em Barcelona na Espanha, apresentadas em uma montagem fragmentada e desconstruída. Juliana Morgado trouxe a instalação Itatiaia Dreams: uma torre de madeira com paredes vazadas, sendo que, na cúpula, foi projetada a imagem de uma planta conhecida como dormideira. Pendendo do teto, havia um letreiro em neon azul com a expressão: Itatiaia Dreams
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fazendo referência ao nome de um antigo e popular hotel do centro de Belo Horizonte - MG, construído na década de 40, onde o pai da artista morou por um longo período. Embora o fato ofereça à obra um caráter pessoal e com fortes referências de identidade, a instalação aborda, ao mesmo tempo, a idéia do Espectador em Trânsito, por fazer referência aos locais utilizados por pessoas em deslocamento, em momentos provisórios de suas vidas. A obra possibilita ao visitante entrar neste espaço e ouvir o depoimento de pessoas que se hospedaram no famoso hotel da capital mineira. As Ações Educativas 1) Formação de professores: a parceria com a SEDU - As ações do Setor de Arte Educação para a exposição Espectador em Trânsito iniciaram com o Curso de Formação de Professores realizado no auditório da Escola Estadual de Ensino Médio Maria Ortiz. Na ocasião o arteeducador Luiz Guilherme Vergara, apresentou a exposição e os possíveis meios de compreensão da mostra, além de suas possibilidades pedagógicas. Participaram aproximadamente 150 educadores da Secretaria de Educação do Estado e a equipe de mediadores do MAES. A mostra também contou com material educativo Espectador em Trânsito – videoinstalações, elaborado pelos arte-educadores Luiz Guilherme Vergara e Bia Jabor. Nessa exposição ocorreu uma importante mudança logística: o agendamento de visitas mediadas passou a ser realizado através do site da Secretaria de Cultura www.secult.es.gov.br, tornando-se mais eficiente e prático, para todas as partes interessadas.
2) Ciclo de Palestras - Realizado com a participação dos artistas Lando, Juliana Morgado e André Parente que discutiram seus trabalhos em exibição, com o objetivo de aproximar o público das questões da arte contemporânea. 3) A Formação dos Mediadores - Sob a coordenação de Ana Luiza Bringuente essa ação envolveu pesquisas para elaboração de mediações para o público visitante, o desenvolvimento de material informativo para as equipes internas do MAES, palestras com o idealizador do material disponibilizado para arte-educadores e conversas e palestras com os artistas expositores. 4) Programa Itinerância Vídeo Brasil 2008 – 2009 - A proposta audiovisual da mostra Espectador em Trânsito, permitiu que a instituição oferecesse paralelamente ao público o Programa Itinerância Vídeo Brasil 2008 – 2009, onde foram exibidos, no auditório do MAES, nove obras selecionadas no Festival Panorama do Sul. A realização foi do Cinesesc, através do Arte Sesc, um programa do Serviço Social do Comércio, que leva cultura para vários pontos do País. Dentre essas nove obras selecionadas para a mostra estão vídeos que vieram de diferentes estados brasileiros bem como de outros países como Argentina, Austrália, Zimbábue e Líbano. Os vídeos exibidos compõem uma diversidade de estratégia contemporânea, envolvendo o próprio vídeo como reinvenção do documentário, a incorporação da imagem nos processos de intervenção urbana e a confirmação desse meio como forma de pensamento audiovisual. Na abertura da mostra aconteceu uma mesa-redonda mediada pela artista plástica Rosana Paste, com a presença de duas cineastas do Estado: Ana Murta e Ursula Dart, sendo que cada exibição da Itinerância Videobrasil foi aberta por pequenos depoimentos dos autores, que se apresentavam e falavam sucintamente de seu trabalho.
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Em síntese... Com duração de dois meses e dezesseis dias a exposição Espectador em Trânsito levou ao museu 3.909 visitantes. Este número significativo aumenta a importância dessa mostra que possibilitou ao público capixaba o contato com produções contemporâneas. A presença de artistas capixabas na mostra facilitou uma efetiva comunicação entre os produtores e espectadores e, a distribuição de material educativo aos professores estimulou o conhecimento e o aprofundamento dos conceitos e idéias apresentados. É importante ressaltar que, de forma inovadora, essa foi a primeira mostra de vídeoinstalação que ocorreu no MAES desde sua inauguração em 1998.
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Os Triunfos do Carnaval A exposição A Exposição Os Triunfos do Carnaval aconteceu entre os dias 29 de outubro de 2009 e 15 de janeiro de 2010 em comemoração ao Ano da França no Brasil, com diversos eventos realizados em várias partes do Brasil. Resultou de uma parceria entre o Ministério da Cultura (Minc), o Governo da França, a Prefeitura de Vitória, a Comunidade Urbana de Dunkerque, e a Secretaria de Estado da Cultura (Secult). Foram apresentadas cinqüenta e quatro gravuras abordando o universo do carnaval europeu, seus personagens, festas e momentos, retratados em imagens que variam do satírico ao melancólico, do cômico ao dramático. Esta mostra ofereceu ao público capixaba, tanto uma experiência estética e artística no contato com essas imagens, quanto uma experiência histórica, através da apresentação de informações sobre a vida dos artistas, suas épocas e a realidade do carnaval na Europa. Não só suas origens no século XVI, mas as peculiaridades dessa festa, tão presente na cultura brasileira, são apresentadas em obras de nomes consagrados da História da gravura como Heyden, Goya, Tiepolo, Tempesta e Van de Velde. Durante a mostra foi lançado o catálogo bilíngüe português/francês Triunfos do Carnaval. Concomitante a essa exposição foi realizada a mostra Uma geometria poética=ponto/linha+cor de Dionísio Del Santo, sob a curadoria de Maria Helena Lindenberg.
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As Ações Educativas 1) A Formação dos Mediadores - As atividades desenvolvidas pela Arte Educação do MAES tiveram início antes mesmo da abertura da mostra. A equipe de mediadores desenvolveu roteiros, destinados aos diversos grupos: alunos, familiares, melhor idade e turistas. Por iniciativa da equipe do MAES foi criado um blog, onde os mediadores postavam suas pesquisas e opiniões acerca das atividades e seu cotidiano no Museu. Além dessas atividades, a equipe participou de uma visita apresentada pelo historiador Claude Gabinet e Dominique Toneau, curadora e Diretora do Museu de Gravelines, de onde vieram as obras expostas no MAES. Essa visita foi oferecida somente para a equipe interna do museu e teve como objetivo mostrar o recorte curatorial da exposição. Durante a vernissage, a mesma visita mediada foi oferecida para as autoridades locais, bem como para a delegação de Dunkerque que esteve presente para a abertura da mostra e tramitações políticas com a cidade de Vitória. 2) Visita On-line - Nessa mostra o MAES disponibilizou a Visita on-line, um novo dispositivo que possibilitava a visita virtual à exposição Os Triunfos do Carnaval e às dependências do MAES, através de um site produzido pela EMC Brasil. 3) Formação de professores: Roda de Conversa com Arte/Educador - Paralelo às atividades relacionadas às exposições Espectador em Trânsito e Triunfos do Carnaval acima, foi desenvolvido o Curso de Formação de Professores intitulado Roda de Conversa com o ArteEducador elaborado e executado por Érika Sabino e Priscila Chisté, coordenado por Gerda Foerste (UFES), através de um Projeto de Extensão da Universidade Federal do Espírito Santo. O projeto de cunho colaborativo, contou com a participação dos funcionários do MAES, Ana Luiza de Oliveira Bringuente e Rafael Vasconcelos Leite que atuaram como pesquisadores colaboradores, fazendo a intermediação entre os proponentes do projeto, o MAES e os participantes. Integraram o curso trinta professores de arte, pedagogos, jornalistas, profissionais de diferentes áreas e de diversas localidades do Estado do Espírito Santo. O Roda de conversa com arte-educadores, desenvolveu encontros quinzenais de discussão temática definidas em conjunto com os participantes que elencaram os seguintes temas de estudo e pesquisa:
3.1 Arte e Tecnologia Nesse encontro, procurou-se vincular as obras da exposição, Espectador em trânsito com discussões abordadas no Roda de conversa. A partir da leitura de textos selecionados, os professores participaram de uma visita mediada e relacionando os aspectos teóricos e as possibilidades artísticas e pedagógicas da mostra. 3.2 Cultura Visual A partir da leitura de textos da área foi proposta a análise de imagem da campanha publicitária da Chillibeans, empresa de moda que trabalha com óculos e relógios. Em grupo os participantes criaram um projeto educativo envolvendo a arte e a campanha apresentada. No final cada grupo apresentou suas propostas, compartilhando tais idéias. 3.3 Interculturalidade Abordou a diversidade cultural, no encontro de indígenas, quilombolas e Pomeranos no Estado do Espírito Santo, bem como obras da artista naïf capixaba Nice Nascimento a partir das três obras que compõem o acervo do Museu. Buscou-se nesse momento estabelecer relações entre as idéias e conceitos abordados na primeira parte do encontro com o processo de criação e a vida desta artista. 3.4 Arte educação e pesquisa O quarto e último tema abordado objetivou estimular o interesse pelo registro e produção teórica a partir da realidade vivida pelos professores de arte. Foi proposto um trabalho final com a realização de um texto a partir de questionamentos debatidos e que envolviam a prática de cada participante. Destacaram-se os temas: arte na educação, sustentabilidade e arte-educação e relatos de experiências educativas em museus. As Rodas de Conversa possibilitaram aos participantes o contato com diversos temas, propiciando a elaboração de um diálogo entre a teoria e a prática. A inovação do formato colaborativo proposto aconteceu por meio da
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Em síntese... Com a curta duração de 2 meses e quinze dias, a exposição Triunfos do Carnaval contou com a participação de 1.975 visitantes. A contribuição dessa mostra para o percurso educativo do MAES foi a parceria estabelecida com a UFES através do projeto Roda de Conversa com arte-educador ampliando assim as possibilidades de ações educativas a serem realizadas no Museu. Além disso, a mostra permitiu ao público do Estado entrar em contato com grandes nomes da história da arte européia através de uma temática popular na cultura brasileira, o carnaval participação e da contribuição dos professores desde o momento da escolha dos temas e, sobretudo nas discussões durante os encontros. O objetivo dessa postura visa a dar autonomia e emancipação aos participantes através do estímulo à investigação e ao questionamento de suas práticas educativas oferecendo assim, um aspecto independente ao conteúdo do debate, visto que os assuntos debatidos não estavam exclusivamente relacionados ao acervo ou à exposição.
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Rembrandt e a Arte da Gravura A exposição Com a curadoria de Janrense Boonstra, diretor do Museu Casa de Rembrandt, e Pieter Tjabbes, historiador de arte holandês, a exposição Rembrandt e a Arte da Gravura apresentou a coleção de 78 gravuras e uma placa de impressão em metal do artista holandês Rembrandt Harmenszoon van Rijn (1606-1669). Ocorrida no período de 18 de março e 16 de maio de 2010, a mostra exibiu um panorama diversificado da produção gráfica do artista. Dividida em salas temáticas, a mostra incluía autorretratos, paisagens, retratos de anônimos e celebridades da época, alegorias, nus e cenas do cotidiano.
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As ações educativas Com o objetivo de estreitar laços entre as obras de Rembrandt e os visitantes, o Setor de Arte Educação do MAES desenvolveu alguns projetos e ações que ocorreram paralelamente à mostra. 1) Ciclo de Palestras - O primeiro Ciclo de Palestras foi realizado em 19 de março de 2010 com os curadores Pieter Tjabbes e Carlos Martins. Inicialmente Pieter Tjabbes analisou a obra de Rembrandt contextualizando historicamente sua produção com a de outros artistas. Carlos Martins tratou das questões técnicas concernentes à mostra analisando as gravuras e as técnicas utilizadas em cada produção. O segundo Ciclo de Palestras ocorreu no dia 06 de maio, com a participação dos artistas Hilal Sami Hilal e Romilda Patez. Nesta ocasião Hilal Sami Hilal abordou o tema Monotipia: Derivações da gravura, tratando mais especificamente do processo de criação das suas obras e Romilda Patez apresentou Um Panorama da Gravura no Espírito Santo.
Meu trabalho mudou muito após as visitações participativas, Rembrandt, Espectador em Trânsito, Os triunfos do Carnaval, a maravilhosa Beatriz Milhazes e Dionísio Del Santos,no MAES. O contato com as obras, os detalhes, a forma como os educadores de museu abordam a temática e os palestrantes desenvolvem os temas nas formações estimula nossa criatividade e forma de trabalhar com nossos alunos. Esta ressignificação também tecnológica, em sua essência, traz uma nova roupagem a relação de Museu com passado, presente e futuro em formato criativo e participativo. Na questão educativa, estas mudanças só vieram para tornar mais eficaz o ensino aprendizagem. Profª. Neiva Aparecida de Melo -Arte/Educadora Pequiá – ES 3) Workshop Auto-Retratos: animação com flipbook Essa oficina teve um enorme apelo entre os visitantes da exposição, foram registrados dois mil cento e vinte participantes. A oficina de flipbook propunha estabelecer um diálogo com os auto-retratos de Rembrandt, que na sua época utilizava a gravura para a produção de sua imagem. Atualmente dispomos de outros meios para o mesmo fim. Na oficina de flipbook era possível criar um objeto de animação obtido através de retratos sobrepostos. Para essa atividade foi realizada uma parceria entre o MAES e o Centro Universitário de Vila Velha- UVV, através da coordenadora do Curso de Comunicação Social Aparecida Torrecillas e os alunos Hid Saib, Lanny Lube e Camila Gabriel. "A fascinação do ser humano pela sua própria imagem é uma das facetas que a arte do retrato desenvolvida por Rembrandt traz à tona. Proporcionar a experiência de encantamento ao público por meio de uma atividade lúdica e, assim, contribuir para um mergulho mais profundo nas significações dessa arte foi o objetivo principal da oficina ‘Autorretrato em flipbook’.
2) Encontros de Arte Educação - Nos dez Encontros de Arte Educação realizados ao longo da exposição Rembrandt e a Arte da Gravura, temas, tais como o ensino da arte em museus e as possibilidades educativas da exposição, foram abordados de forma recorrente. Participaram desses Encontros cento e noventa e um professores de várias cidades do Espírito Santo, que contavam ainda com visitas mediadas e apresentação e distribuição do material educativo produzido para a mostra.
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Substituindo uma técnica de reprodução em série, a gravura, por outra, a fotografia, os visitantes puderam concretizar a experiência de manipular a própria imagem e, como Rembrandt, colocar à mostra em expressões, olhares e gestos, os meandros de sua própria personalidade. A realização do flipbook e de seus desdobramentos tornou-se, assim, produto lúdico de uma reflexão sobre alguns dos possíveis sentidos da arte do retrato e do autorretrato, proporcionando ao visitante da exposição um espaço mais amplo de vivência artística." Aparecida Torrecillas
4) Oficina de Serigrafia com o Coletivo Monográfico – ME USE - Essa ação ocorreu em parceria com o MAES e o Coletivo Monográfico - coletivo de artistas composto neste momento por Horrana de Kássia, Tt Rocha e Rodrigo Hipólito, e o Pró Jovem Adolescente - Projeto da Prefeitura Municipal de Vitória. Na primeira etapa, os jovens tiveram contato com as gravuras de Rembrandt e num segundo momento, no Centro de Referência da Juventude, participando da poética do Projeto ME USE, produziram camisetas com suas imagens, juntamente com os artistas proponentes do projeto, questionando a propriedade da imagem pessoal e o processo de desvinculação dessa imagem do indivíduo dentro da cultura de massa. Estampar a imagem de indivíduos distintos em camisetas, de maneira padronizada, a transforma em produto, em brinde, em um objeto desvinculado de personalidade. Com essa ação evidenciou-se que os métodos utilizados por Rembrandt para a reprodução de imagens ainda são adotados por artistas contemporâneos, com outros desdobramentos. Durante a oficina, os artistas do Coletivo Monográfico ensinaram métodos alternativos de reprodução de imagens, aumentando as possibilidades de aplicação da técnica, inclusive com fins comerciais. 5) A parceria teve como objetivo trazer para o espaço museológico jovens artistas de periferias da Grande Vitória para visitar a exposição. Essa ação se desdobrou em dois momentos; primeiramente no Centro de Referência da Juventude, a coordenadora Ana Luiza Bringuente e os artistas do grafite Ficore e Fredone realizaram um bate-papo a respeito da obra de Rembrandt e os possíveis diálogos entre essa obra e o grafite na contemporaneidade. Na sequência foi realizada uma visita mediada à exposição, onde os pontos discutidos anteriormente vieram à tona, possibilitando um diálogo entre a realidade daqueles jovens e a obra do artista Rembrandt. Essa parceria entre o MAES e o Instituto Tamojunto culminou na elaboração de um grafite com cerca de cinquenta metros quadrados nas paredes internas do MAES transmitida ao vivo pela internet, com a
colaboração e parceria do artista Thiago Balbino do Coletivo Bolor Live Arts. A produção durou quinze horas e foi vista por aproximadamente 800 internautas durante a exibição via web. As imagens criadas pelos artistas Fredone, Hiran, Ficore e Somall abordavam a fraternidade, cenas do cotidiano e a desconstrução da realidade. 6) Parceria entre o MAES e o LDI/UFES (Laboratório de Design Instrucional) Esta parceria teve como objetivo registrar todas as atividades promovidas pelo MAES durante a exposição Rembrandt e a arte da Gravura. Para tanto, a equipe coordenada por Jo Name esteve presente nos Ciclos de Palestra, nos Encontros de Arte-Educação, na Oficina de Flipbook, na produção do grafite nas paredes do MAES, nas visitas dos jovens vinculados ao Instituto Tamojunto e nas oficinas ligadas ao projeto Coletivo Monográfico. Além de registrar na íntegra todas as ações educativas, a equipe também criou um vídeo sobre a exposição contendo imagens de sua montagem e configuração, das entrevistas com o curador da Mostra e com os demais palestrantes. A equipe contou com a presença dos estagiários Bruna Santos e Jony Williams, ambos alunos do curso de Desenho Industrial da UFES. O vídeo foi disponibilizado na internet no blog do MAES www.milhazesnomaes.blogspot.com e também para o Núcleo de Educação à Distância da UFES.
Em síntese... Durante os 60 dias da exposição Rembrandt e a Arte da Gravura, 12.939 pessoas visitaram a mostra. Desses, foram atendidos 3.939 alunos de escolas públicas e privadas. Os resultados alcançados reforçam a importância da continuidade das políticas educativas e culturais do MAES e confirmam que o Museu de Arte é um local a ser visto e entendido cada vez mais como um espaço democrático, um lugar a que todo cidadão tenha acesso e possa se apropriar. O MAES pretende a cada exposição ampliar seu leque de atuação, fomentando momentos e projetos que estejam em consonância com essa perspectiva.
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Beatriz Milhazes - Gravuras A exposição A exposição Beatriz Milhazes: gravuras foi apresentada no MAES durante o período de 1º de junho a 29 de agosto de 2010 com a Curadoria de Ivo Mesquita. A mostra trouxe a coleção de gravuras de Milhazes integrantes do acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Essa exposição inseriu o MAES em um circuito de museus que recebem obras de artistas contemporâneos de renome internacional trazendo visibilidade para o Museu, favorecendo a formação de um público para a arte contemporânea no Estado.
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As Ações Educativas As ações educativas ocorridas nessa exposição apresentaram um aspecto inovador em seu desenvolvimento: a curadoria educativa. Pela primeira vez na história do Museu foi implementado um projeto curatorial educativo. O termo Curadoria educativa foi criado por Luiz Guilherme Vergara, que sempre defendeu a importância de ações educativas em instituições culturais. “A Curadoria Educativa tem como objetivo explorar a potência da arte como veículo de ação cultural, constituindo-se como uma proposta de dinamização de experiências estéticas junto ao objeto artístico exposto perante um público diversificado”. Sustentados por estas idéias e norteados por pesquisas nesta área foram planejados projetos e ações capazes de potencializar a fruição e a compreensão das obras. O planejamento dos projetos e ações consistiu em criar propostas que além de continuar as ações já desenvolvidas pelo MAES, pudessem dialogar com a mostra e atingir um público diversificado. 1) Ciclo de Palestras - No dia 1º de Junho, o curador Ivo Mesquita e a artista Beatriz Milhazes realizaram uma palestra no auditório do MAES para aproximadamente 60 pessoas onde foram abordados aspectos pertinentes à exposição Beatriz Milhazes – Gravuras. Nessa oportunidade a artista pôde relatar ao público como sua produção gráfica dialoga com sua produção de pintura e como se deu a produção de suas gravuras na Durham Press - empresa de alta tecnologia especializada na produção de gravuras localizada na Pensilvânia, Estados Unidos da América, ao longo de quase 10 anos. 2) Olhar MAES - Intensificando a proposta de mediação foi elaborado e distribuído para os participantes das atividades educativas, um material denominado Olhar MAES, que apresenta textos sobre a vida e a obra da artista Beatriz Milhazes, além de propostas de leituras de imagens envolvendo as gravuras expostas. 3) Encontros de Arte Educação - Entre os dias 11/06 a 21/08 foram realizados 13 encontros com 184 participantes proporcionando o conhecimento da produção de gravuras de Beatriz Milhazes e suas possibilidades técnicas e artísticas, promovendo o debate sobre as obras expostas. Através de avaliação feita pelos professores participantes, constatou-se a importância atribuída ao
Projeto Encontros de Arte Educação no MAES e ao material Olhar MAES apontando para a contribuição dessas ações como fundamento e estímulo para a elaboração de projetos em sala de aula. Considero que a Arte tem enorme importância na mediação entre os seres humanos e o mundo, apontando papel de destaque para a arte-educação, e dessa forma o museu é um precioso espaço mediador entre a arte e os nossos educandos. Desde que o Museu de Arte do Espírito Santo foi inaugurado em 2000, desenvolvo um trabalho de mediação cultural entre os meus alunos e esse espaço expositivo, pois considero essa parceria “museu-escola” uma forma valiosa de sensibilização. Essas visitas propiciaram aos alunos conhecerem as diversas manifestações artísticas e o acesso a esse espaço expositivo e o contato visual com as obras de arte no original, permitiram uma melhor compreensão das diferentes propostas artísticas, deram maior significado à prática de sala de aula e também contribuíram na formação cultural dos mesmos. Vários projetos foram construídos a partir das visitas mediadas. Neles a disciplina de Arte foi o eixo norteador, todavia a interação com outras disciplinas se deu de forma natural e as conexões feitas entre a Arte, a cultura, a língua, a literatura, a ciência, permitiram aos educandos entender a relevância que existe nesse diálogo com outras matérias, pois estes proporcionaram novas aquisições de idéias, conhecimentos e uma nova visão do mundo que nos cerca. Nesse espaço, participei de cursos, palestras e encontros com arte-educadores, posso dizer que muito aprendi e que a repercussão foi extremamente positiva, em todos os projetos que realizei. Hoje posso dizer que amo esse espaço, pois é presença constante em minha prática, sinto-me não só uma parceira do museu, mas feliz e realizada por fazer da sala de aula um prolongamento do aprendizado ali conquistado. Ivana de Macedo Mattos. Professora e especialista em Arte-educação Vitória - E.S. 4) Roda de Conversa no MAES - Essa versão do projeto direcionou-se para o público em geral e não apenas aos professores como ocorreu na versão de 2009. O projeto Roda de Conversa no MAES. Foi desenvolvido em 6
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encontros entre 26 de junho e 28 de agosto com a participação de convidados que estabeleceram diálogos entre o trabalho da artista e suas próprias pesquisas. A variedade dos temas propostos promoveu a diversificação e ampliação do público enriquecendo o debate. O projeto enfocou os temas:
percurso visual da imagem, desde as artesanais até as digitais. Para embasar a conversa foram utilizados as idéias dos teóricos Walter Benjamim e Lúcia Santaella. O palestrante falou sobre sua pesquisa de mestrado denominado Hiperimagem que aborda a questão da construção da imagem no espaço virtual.
- Intervenções urbanas - no dia 26 de junho, com os palestrantes Ficore e Renato Ren, artistas grafiteiros atuantes no ES. A abordagem inicial da mediadora apresentou pesquisas e trabalhos relacionados ao tema, aprofundando sobretudo no trabalho Arte-cidade de Nelson Brissac. Os palestrantes falaram sobre o grafite em Vitória, apresentaram imagens das produções e mostraram suas pesquisas individuais.
- O diálogo entre palavras e imagens - No dia 21 de agosto, com o palestrante Ricardo Ramos Costa, foram discutidas as interfaces existentes entre dois campos no universo artístico – o verbal e o imagético. O palestrante teve como ponto de partida a exposição Beatriz Milhazes: Gravuras, discorrendo sobre diferentes expressões artísticas da modernidade e da pós-modernidade. O diferencial desse encontro foi a maneira como se deu a apresentação: Ricardo propôs um percurso com os participantes através da exposição. A partir da observação das obras expostas, o professor lançou questionamentos, fez observações, estimulando a interferência dos participantes.
- O diálogo entre a arte e o design - no dia 10 de julho, com o palestrante Hugo Cristo, que a partir de alguns trabalhos da artista Beatriz Milhazes na área do design gráfico, abordou as idéias do designer italiano Bruno Munari apresentadas na obra Arte e design - 1971. O palestrante traçou um paralelo entre os conceitos defendidos neste livro e as idéias atuais em relação entre a linguagem artística e o design.
- Questões de gênero e etnia - no dia 24 de julho, a palestra foi proferida pela artista plástica Fátima Nader Cerqueira, que abordou a imagem feminina na arte. Visando a contextualizar a discussão, foram apresentadas imagens artísticas que mostraram a transformação da imagem da mulher como objeto da representação artística até a mulher como sujeito da arte, ou seja, a mulher artista. A palestrante falou sobre sua investigação poética, o projeto Jardins e outras delicadezas - Prêmio Bolsa-ateliê de Artes Visuais 2010, da Secult. - O Processo de transformação das imagens – Foi realizado no dia 07 de agosto com o palestrante Eduardo Cozendey. A mediadora apresentou, inicialmente, um
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- O processo de criação na arte - No dia 28 de agosto foi realizado o último encontro, com o professor e artista plástico Júlio Tigre. O processo criativo de Beatriz
Milhazes foi abordado, na fala inicial da mediadora, com base no conceito da crítica genética, a partir do livro Gesto inacabado, de Cecília Almeida Salles. A importância do lugar no processo de criação foi o assunto desenvolvido e discutido pelo palestrante convidado, que se baseou em sua própria produção artística, o Projeto Inquilino. O projeto Roda de Conversa no MAES levou ao museu 103 pessoas e alcançou seus principais objetivos que foram: promover o Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo como espaço de ensino e pesquisa; estimular a formação de público; contribuir para o programa educativo da instituição; promover a aproximação do público e o conhecimento das obras de Beatriz Milhazes.
A idéia básica do projeto Roda de Conversa foi estimular o diálogo no museu. Fazer das suas salas, seu auditório e sua biblioteca um espaço de movimento de opiniões. Um local onde as pessoas se sintam à vontade para questionar, para não concordar e para trazer sugestões. Mas, discutir sobre o quê? Sobre as exposições? Interessante, mas isso o Ciclo de Palestras já faz muito bem. O diferencial do Roda de Conversa é que ele procurou extrapolar as molduras ou as paredes do museu. O objeto artístico ali exposto apenas nos deu a dica, apontou o caminho, os temas para os debates. Funcionou como provocador das discussões através da abordagem de alguns aspectos presentes nas imagens expostas. Aspectos nem sempre observados, nem sempre colocados como assunto de discussão, nos levando assim à outros artistas, outras produções, outras imagens, outras palavras. Este é o Roda de Conversa que, além disso, tem um outro diferencial: dar a palavra ao público participante. Confesso que conseguir a participação da platéia não foi tão simples assim. As pessoas vêm preparadas para ouvir e não para falar. Mas, estamos começando um movimento e isto é que é importante! Começamos em 2009 somente com professores, mas depois observamos que havia um interesse de pessoas de outras áreas, então resolvemos abrir para o público em geral e o resultado dessa mistura foi muito interessante. Arquitetos, designers, jornalistas, filósofos, artistas, professores, estudantes... as curiosidades, as perguntas, os interesses e as visões diferentes desse público geraram ricas discussões no MAES. Érika Sabino Mediadora do Roda de Conversa e arte-educadora
5) MAES Arte Urbana - Este projeto contou com a parceria entre o Instituto TAMOJUNTO e artistas do grafite, jovens participantes dos projetos do Rede Cultura Jovem, professores e demais interessados. Buscava provocar um diálogo entre as obras de Beatriz Milhazes, Del Santo e as manifestações artísticas e culturais dos jovens envolvidos. Esse evento atraiu a atenção para o espaço do Museu dando ênfase ao seu caráter aberto, democrático e acessível à diversidade de linguagens artísticas e culturais. Nesse contexto o Instituto TAMOJUNTO participou de quatro ações: - Oficina de grafite para os agentes culturais do Rede Cultura Jovem ministrada por Fricore, Fredone e Ren; - Produção de um grafite na parede interna do Museu com desenhos elaborados pelos alunos da oficina; - Palestras sobre a proposta conceitual e a técnica do grafite para professores e demais interessados; - Palestra sobre Arte Urbana no projeto Roda de Conversa no MAES. A parceria entre o TAMOJUNTO e o MAES foi, sem dúvida, muito importante para a arte, principalmente no Espírito Santo. A princípio o que seria uma pequena parceria feita com artistas de grafite ganhou mais força e o inevitável aconteceu. É impossível não enxergar o grafite, e reconhecer a produção no Estado, principalmente na Grande Vitória é um grande passo dado pelo MAES; digo isto por que, o Museu precisa ir além das paredes e o artista, não só artista de grafite quer se comunicar com o povo. Sempre notei que a palavra “Grafiteiro” ou algum rótulo do tipo muitas vezes gera um certo preconceito (e não deveria ser assim), com isso o que é produzido pelo artista fica em segundo plano. Desde a parceria na exposição do Rembrandt tivemos algumas dificuldades que comparadas às conquistas ficaram pequenas. Espero que os caminhos continuem a se abrir e que o acesso de artistas urbanos a outros espaços continuem sendo ampliados, e que estes mesmos artistas se sintam no “direito” de visitar estes mesmos espaços que muitas vezes são descriminados por nós que fazemos arte do lado de fora. Fredone Fone Artista do grafite 6) MAES na Rede - A partir do desenvolvimento dos projetos e ações que ocorreram durante a mostra, foi imperativo pensar em registrar, divulgar e dar acesso aos trabalhos desenvolvidos. O projeto MAES na Rede divulgou via internet, a mostra, os projetos desenvolvidos e da Instituição através do blog
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www.milhazesnomaes.blogspot.com . A equipe responsável por esta ação foi coordenada pela professora Maria Aparecida Torrecilas, da UVV, com a supervisão do aluno Hid Saib e executado pelas estagiárias Lanny Lube e Camila Gabriel. Entendendo o Blog como uma ferramenta da contemporaneidade, foi notado como sua implementação favoreceu a aproximação público/museu, numa perspectiva ampla e diversificada, além de possibilitar o acompanhamento das ações desenvolvidas na instituição em tempo real. O projeto MAES na Rede realizou o making-of da mostra, criou perfil para a rede social do Twitter:@MAES_a_mil, e nos posts e disponibilizou links para o You Tube, através dos quais os internautas podiam assistir a um vídeo teaser, ou seja, seguindo a mesma estratégia dos posts, o vídeo cria expectativa, sem revelar totalmente o objetivo da mensagem. Além disso divulgou e registrou os projetos educacionais que se iniciaram logo após a abertura da exposição sendo, durante todo o período da mostra, ferramenta de comunicação que contribuiu para divulgar os projetos Encontros com arte-educação, Roda de conversa no MAES e MAES Arte Urbana. Foi criada uma ferramenta denominada Mil Olhares que divulgava dados sobre as ações educativas, e ainda registrou e postou opiniões e depoimentos dos visitantes, professores, artistas plásticos, membros da equipe do Museu e coordenadores dos projetos educativos em andamento a respeito da exposição. Com o objetivo de estimular a discussão sobre arte contemporânea e sobre a educação em museus, a equipe da UVV lançou duas novas ações no blog: Mil Artes e Mil Escritos. No primeiro, os internautas foram convidados a enviar vídeos ou fotos de produções artísticas que achavam interessantes. No segundo, os participantes dos projetos educativos foram convidados a enviar textos sobre os temas debatidos. Finalizando as ações, o projeto fez o registro ao vivo da oficina de grafite realizada no MAES, parte do projeto MAES Arte Urbana. Alguns números são importantes para avaliarmos a importância de ações que envolvem procedimentos inovadores como foi o projeto MAES na Rede: foram postados no blog, durante o período da exposição, 38 vídeos, 11 depoimentos e duas transmissões ao vivo, além de textos e fotos enviadas por participantes. Esse conteúdo gerou o acesso de 2.069 visitantes, com uma média de 37 visitas diárias. A maioria dos visitantes era de Vitória e Vila Velha, mas o blog atingiu outras cidades no Brasil: Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Foram registrados também acessos de outras localidades
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no mundo: Washington, Los Angeles, Lisboa e Buenos Aires. Finalizando, o perfil da exposição no Twitter registrou a postagem de 1.065 tweets que divulgaram todas as ações ocorridas no Museu para os seus 847 seguidores. 7) MAES Documentação e Registro Áudio-Visual - Em parceria com o Curso de Desenho Industrial da UFES, sob a Coordenação de Jo Name e execução dos alunos Luna Pacheco do Nascimento e Jone Willians , foi realizado o registro áudio-visual de todos os projetos ocorridos durante a exposição. Foi criado um vídeo que sintetiza todas as ações desenvolvidas, disponível para consultas na Biblioteca do MAES. Além disso, foram realizados dois vídeos sobre a artista Beatriz Milhazes, exibidos durante a exposição no auditório do MAES e utilizados como material de m e d i a ç ã o e p o s t a d o n o b l o g www.milhazesnomaes.blogspot.com organizado pela equipe da UVV, através do projeto MAES na Rede citado anteriormente.
O objetivo inicial da proposta de documentação audiovisual foi o de abrir um espaço de aprendizado e experimentação para os estudantes do Curso de Desenho Industrial da Ufes. E essa intenção acabou se refletindo na elaboração dos vídeos. O primeiro trabalho, sobre a exposição "Rembrandt e a arte da gravura", tem um formato documental mais convencional, principalmente por ser o primeiro vídeo realizado pelo Museu. O vídeo procura, por isso, apresentar claramente todas os desdobramentos da mostra, e o trabalho dos profissionais e parceiros envolvidos. No segundo vídeo fica mais clara a intenção de não realizar meramente um registro, uma captura, mas permitir que ele servisse de canal para mostrar o que os visitantes da exposição "Beatriz Milhazes - gravuras" sentiram, aprenderam ou puderam elaborar a partir da mostra. A idéia é a de que o importante, nesta documentação" é guardar o impacto que as obras tiveram sobre os visitantes, uma vez que informações gerais sobre os artistas e suas obras estão disponíveis em outras fontes. A distinção do MAES é servir ao seu público, e procurou-se, com os vídeos, apresentar um pouco do que as pessoas apreenderam das mostras. Jo Name Professor do curso de Desenho Industrial da UFES
8) Oficina de Fotografia Mil Cores em um Click Participaram dessa oficina 44 professores e técnicos da Secretaria de Educação do Estado do Espírito Santo SEDU. As atividades tiveram inicio pela manhã no MAES com o Encontro de Arte-educação e prosseguiu no período da tarde com a oficina de fotografia Mil Cores em um Click, realizada à tarde, que propunha fotografar o entorno do MAES relacionando a imagem capturada às serigrafias de Beatriz Milhazes. O resultado dessa experiência foi compartilhado e discutido entre os participantes. A seguir Ivo Godoy apresentou os recursos e possibilidades didáticas da ferramenta Portal Yah!.
9) Oficina de grafite - O evento ocorreu na rua lateral do MAES integrando a arte do grafite, a música do movimento hip hop e a obra de Beatriz Milhazes. Estendendo-se durante todo o domingo, dia 22 de agosto. Pela manhã foi realizada uma oficina de elaboração de estencil para alunos do curso de Desenho Industrial da UFES. Posteriormente os moldes produzidos foram utilizados na execução dos grafites sobre os painéis de madeira ali dispostos. A rua, fechada pela Prefeitura, foi palco dessa ação sendo ocupada pelos participantes e outros convidados. Enquanto era produzido grafite, o Dj Popeye fazia sua música e os participantes podiam visitar a exposição em cartaz.
As formações educativas realizadas no MAES nas exposições: Rembrandt, Beatriz Milhazes proporcionaram aos professores da Rede Estadual de Ensino momentos de construção e ampliação de conhecimentos específicos sobre a relação museu escola, o artista e a obra. Entretanto, observamos que em Beatriz Milhazes foi alcançado um resultado mais amplo, pois possibilitou aos participantes a produção artística a partir do olhar na exposição, por meio da oficina Mil Cores em um Click. Acredito que além da visita ao espaço expositivo, do apreciar a obra artística, o professor precisa também experimentar vivências artísticas.
Durante os noventa dias da Beatriz Milhazes e Dionísio Del Santo foram muitas as ações desenvolvidas. Executar, acompanhar, coordenar e avaliar tudo isto foi, no mínimo, desafiador. Aceitei o desafio propondo-me a superar as minhas expectativas. Tive em mente sempre o que move a minha paixão pela arte: seu efeito transformador capaz de contribuir com a formação humana dos sujeitos, sujeitos que se constituirão pelas mediações e se tornarão cidadãos conscientes da sua realidade, capazes de transformar e escrever sua história. Priscila Chisté
Prof.ª Ms. Maria da Penha Fonseca SEDU/ES
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Dionísio Del Santo: Serigrafias A exposição Estabelecendo um diálogo com a exposição Beatriz Milhazes: gravuras, a mostra Dionísio Del Santo: serigrafias possibilitou ao Museu expor parte do seu acervo. A exposição é composta de 9 obras, sendo algumas realizadas na técnica de matriz perdida, algumas das série Permutação e as que dialogam com a Optical Art. O diálogo entre as obras se dá através da aproximação técnica entre os artistas que obtém efeitos e resultados distintos utilizando recursos similares. Isso reforçou o caráter didático e justifica a simultaneidade das exposições, apesar da distância temporal das produções dos dois artistas.
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Ações Educativas 1) Encontros de Arte educação - Os Encontros de Arteeducação da exposição Dionísio Del Santo: serigrafia aconteceram ao mesmo tempo que os da exposição Beatriz Milhazes: gravuras. O evento oportunizou também o entendimento Material Virtual de Mediação Artística para a “Exposição Dionísio Del Santo: Serigrafias”. Foram realizados 13 encontros entre os dias 11 de junho a 21 de agosto. 2) Olhar MAES - Para a exposição Dionísio Del Santo: serigrafias foi desenvolvido um material educativo virtual: Caderno de Mediação Artística, que foi disponibilizado no blog do MAES, www.museudeartes.wordpress.com. O objetivo desse material foi oferecer aos professores e pesquisadores informações sobre o trabalho do artista capixaba Dionísio Del Santo. 3) Roda de Conversa - Na Roda de Conversa, o encontro denominado O Diálogo entre palavra e imagem, o palestrante Ricardo Ramos Costa abordou a oposição clássica que diz que a palavra se desenvolve no tempo e a imagem no espaço. Os participantes percorreram e a mostra Dionísio Del Santo: Serigrafias questionando esta formulação, pois o palestrante provocou os participantes a observarem como as obras de Dionísio Del Santo desafiam esta afirmação e se apresentam como imagens que se constroem no espaço, mas também no tempo. Em seguida, foi proposto também estabelecer comparações entre a construção da obra de Beatriz Milhazes e do artista capixaba a partir dessa questão temporal.
Em síntese... A exposição Dionísio Del Santo: serigrafias faz parte de uma série de mostras que visa a apresentar o acervo do MAES permitindo o acesso e o conhecimento, a partir de curadorias com diferentes olhares. Essa preocupação partiu das discussões do Conselho Consultivo da Instituição, tornando-se então uma meta a ser alcançada pelo MAES a cada nova exposição apresentada. Durante as exposições, que duraram 90 dias, 5.380 pessoas visitaram o Museu.
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Parte
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Perspectivas para o futuro
O percurso histórico do MAES no que se refere às ações educativas revela que procedimentos e projetos desenvolvidos nessa instituição dialogam com as teorias contemporâneas de ensino da arte. Logo nas primeiras gestões, o setor de Arte-educação, estabeleceu um diálogo com as escolas e com elas desenvolveu projetos e parcerias que culminaram em exposições das produções dos alunos, demonstrando, desde o início, o interesse em revelar a missão educativa da instituição. As palestras e os congressos realizados no auditório do MAES demonstraram o interesse do Museu em se desenvolver como um espaço de diálogo entre o espectador e as obras expostas, buscando para tanto convidar interlocutores engajados com a arte.
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As ações educativas foram ganhando importância cada vez maior, transformando o MAES em um museu ativo, promotor de questionamentos e reflexões, ampliando e diversificando o seu público a cada exposição. Através de projetos que envolveram a comunidade, profissionais de diferentes áreas e linguagens não institucionalizadas, o MAES procurou quebrar preconceitos e paradigmas estabelecidos, oferecendo assim oportunidade para que diferentes vozes se comunicassem. O retorno positivo de seus procedimentos e estratégias educacionais fazem deste espaço museológico um local de referência na arte-educação no Estado. Além disso, a instituição apoia o desenvolvimento de pesquisas através de parcerias com universidades, e incentiva a formação continuada de seus mediadores através de grupos de estudos e cursos. Entende-se este momento de estágio como uma etapa de aprimoramento dos conhecimentos e práticas.
Plano Museológico. A partir da análise das ações realizadas no MAES percebe-se que muitas propostas já existem de forma concreta, a instituição tem suas metas e seu planejamento, no entanto, nem o PEC/MAES, nem o Plano Museológico existem oficialmente. Estes documentos, registrados de forma oficial, serão imprescindíveis para o prosseguimento, manutenção e desenvolvimento de todas as ações educativas que ocorrem hoje no MAES. Através deles serão apresentados os pressupostos para que a instituição prossiga mantendo-se como um Museu que se interessa pela formação de seus mediadores, pelo diálogo com a comunidade, por tornar o espaço museológico um espaço de relação, de diferentes vozes e também de debate.
No momento atual, a instituição apresenta uma série de ações que se confirmaram em seu desenvolvimento e hoje são eventos esperados e aguardados pelo público. Os estudantes esperam vivenciar as oficinas, os professores aguardam os debates e as mediações nas formações promovidas pela instituição e o público em geral anseia pelas exposições e os momentos de debate e discussão. Por este motivo, o registro e a análise desse percurso são significativos para as perspectivas futuras, pois através do olhar crítico sobre essas ações realizadas projetaremos os próximos passos com um objetivo único: avançar sempre. No entanto, para que isto ocorra o que é importante fazer? O que não se deve fazer? Enfim, quais os desafios da instituição no prosseguimento deste percurso? Todas as ações desenvolvidas no MAES colaboraram para a constituição de sua história. Uma história que coloca o MAES entre os grandes museus voltados para uma preocupação educativa. Como consolidar essas ações, projetos, procedimentos e metas que já ocorrem de forma sistemática na instituição e que foram registradas nesse material transformando-as em um programa educativo e cultural, o PEC/MAES? Entende-se que o PEC/MAES será uma ferramenta que subsidiará todas as ações a serem desenvolvidas, norteando os projetos e as atividades paralelas às exposições. Além disso, será um instrumento organizador do Setor de Arte-educação com a proposta de definir sua missão, estratégias de ação e objetivos a curto, médio e longo prazo. Além disso, é imperativo pensar em como oficializar essas ações e integrá-las a uma dimensão maior construindo assim, um
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As exposições em números Andy Warhol: arte e práticas para o dia a dia Total de visitantes: 11.935
Espectador em Trânsito - Vídeoinstalações Total de visitantes: 3.909
Os Triunfos do Carnaval Total de visitantes: 1.975
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Rembrandt e a Arte da Gravura Total de visitantes: 12.861
DionĂsio Del Santo: serigrafias Total de visitantes: 1.700
Beatriz Milhazes: gravuras Total de visitantes: 5.380
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Cronologia das Exposições do MAES no Calendário de 2007 a 2011 18/12/07 a 30/03/08 Pintura Brasileira no Acervo do MAM-SP 07/05/08 a 27/07/08 Vistas do Brasil: Coleção Brasiliana - Parceria Pinacoteca de São Paulo. 07/08/08 a 20/09/08 Canteiro de Obras - Cláudio Tozzi, parceria SESC –ES. 12/11/08 a 01/03/09 Dionísio Del Santo: Um concretista marginal ou injustamente esquecido? Coleções particulares e acervo MAES 02/04/09 a 02/07/09 Andy Warhol: Arte e Práticas para o dia-a-dia, parceria com Andy Warhol Museum , Pittsburgh Pensilvânia – E.U.A 11/08/09 a 03/10/09 Espectador em Trânsito – Vídeo-instalações , parceria SESC- ES 30/10/09 a 15/01/10 Os Triunfos do Carnaval - Parceria com a Secretária de Cultura da Prefeitura e Comunidade de Dunkererque 30/10/09 a 15/01/10 Dionísio Del Santo: Uma Geometria poética = ponto/linha+cor - Acervo MAES 18/03/ 2010 a 16/05/10 Rembrandt e a arte da Gravura - Parceria Museu de Rembrandt – Amsterdã - Holanda 01/06/10 a 29/08/10 Beatriz Milhazes: Gravuras - Parceria Pinacoteca de Estado de São Paulo 01 / 06 / 2010 a 06 de 2011 Dionísio Del Santo: Serigrafias - Acervo MAES 05/10/10 a 14/11/10 Só Lâmina - Nuno Ramos. Parceria SESC - ES 01 /12/ 2010 a 13/02/11 Tarsila sobre Papel - Parceria Base7 - SP
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Referências
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