L-09 OVACE

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Curso de Resgate e Emergências Médicas

A obstrução das vias aéreas causadas por corpo estranho (OVACE) é um evento raro. Trabalhos mostraram que nos Estados Unidos, o índice de óbito causado por OVACE é de 1,2 em 100.000 habitantes. Estes dados também são observados em outros países. Compare-se este índice com o de óbito causado por doenças coronarianas: 198 em 100.000.

Dados estatísticos atuais mostram que adultos inconscientes apresentam normalmente obstrução sem a presença de corpo estranho. A incidência de OVACE é muito menor em adultos quando comparados às crianças.

A principal causa de obstrução em adultos inconscientes é o relaxamento da língua, que dificulta a passagem do ar na faringe.

É fundamental entender que as manobras de desobstrução podem salvar a vida através de procedimentos elementares. Por exemplo, as manobras manuais de tração do queixo liberam as vias aéreas ao deslocarem anteriormente a língua. Porém, em situações em que o engasgamento total não pode ser resolvido com a manobra de Heimlich, é altamente recomendável iniciar Reanimação Cardiopulmonar .

PRINCIPAIS

CAUSAS

DE

OBSTRUÇÃO

DAS

VIAS

AÉREAS

SUPERIORES Obstrução causada pela língua: principal causa em vítimas inconscientes devido ao relaxamento da língua;

Obstrução em glote: edema local por inalação de gases aquecidos, anafilaxia sistêmica, trauma causado por tentativas de intubação traqueal sem sucesso;

Obstrução causada por hemorragia: epistaxe, ferimentos em cavidade oral, traumas cervical e de face, (hemorragia digestiva alta); Revisão JAN/09

MP 9-2


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Obstrução causada por meio fluido: água, secreções, líquido de estase proveniente do estômago;

Obstrução por corpos estranhos (OVACE): engasgamento por restos alimentares, corpos externos introduzidos pela boca e/ou nariz, próteses quebradas, etc.

Obstrução por trauma: trauma cervical ou de face;

Obstrução por enfermidades: doenças da tireóide, neoplasias (câncer), epiglote aguda infecciosa na criança.

ADVERTÊNCIAS Antes de realizar qualquer manobra de abertura ou desobstrução de vias aéreas observe o seguinte: 1. Em vítimas que respiram, ainda que com dificuldade, adotar o procedimento operacional específico; 2. Evitar a hiperextensão do pescoço e qualquer movimentação da cabeça da vítima encontrada inconsciente e que não seja possível estabelecer a causa do problema existente ou das vítimas que sofreram trauma, como precaução aos danos que possam ter sofrido na coluna vertebral, 3. A Elevação da Mandíbula é a manobra recomendada para ser empregada em vítimas com suspeita de lesão na coluna cervical. Se o socorrista atua isoladamente deverá empregar a Manobra de Tração do Queixo. 4. Em vítimas não-traumatizadas, a combinação das manobras: tração do queixo e retificação das vias aéreas (Manobra de Extensão da Cabeça) é considerada o método de escolha.

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MP 9-3


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(OVACE) – PROCEDIMENTOS OPERACIONAIS

VÍTIMAS COM OBSTRUÇÃO PARCIAL – POP RES 04-01

Procedimentos operacionais:

1. Observar se a vítima pode respirar, tossir, falar ou chorar

1.1.

Em caso positivo:

1.1.1. Orientar para continuar tossindo e não interferir. 1.1.2. Deixar que a vítima encontre uma posição de conforto ou mantenha em decúbito elevado (semi-sentado). 1.2.

Em caso negativo, tratar a vítima como obstrução total.

2. Observar se o corpo estranho foi eliminado pela tosse

2.1.

Se a obstrução parcial persistir e a vítima respirar:

2.1.1. Ministrar oxigênio por máscara facial; 2.1.2. Transportar a vítima sentada, numa posição confortável e aquecida; 2.1.3. Manter observação constante da vítima, incluindo sinais vitais.

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MP 9-4


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VÍTIMA COM OBSTRUÇÃO TOTAL CONSCIENTE – POP RES 04-01 (Técnica utilizada para vítimas com idade acima de 01 ano) Procedimentos operacionais:

1. Observar se a vítima pode respirar, tossir, falar ou chorar 1.1.

Em caso negativo:

Realizar repetidas compressões abdominais, até a desobstrução das vias aéreas. Caso a vítima se torne inconsciente adotar as manobras de desobstrução correspondente. 2. Informar a Central de Operações, empregar o POP 02-04 solicitação de SAV ou empregar o POP 02-10 Transporte Imediato.

TÉCNICA DE COMPRESSÃO ABDOMINAL PARA VÍTIMA CONSCIENTE (com idade acima de 01 ano) (Manobra de “Heimlich”) Vítima consciente em pé ou sentada (somente casos clínicos) Procedimentos operacionais: 1.1.

Posicionar-se atrás da vítima;

1.2.

Posicionar sua mão fechada com a face do polegar encostada na parede abdominal, entre o processo xifóide e a cicatriz umbilical, Fig 07-02;

1.3.

Com a outra mão espalmada sobre a primeira comprima o abdome num movimento rápido direcionado para trás e para cima, Fig 07-03;

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MP 9-5


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1.4.

Repetir a compressão até a desobstrução ou a vítima tornar-se inconsciente, quando então será executada a manobra correspondente.

Fig 07-01

Fig 07-02

Fig 07-03 Detalhe do posicionamento da mão sobreposta

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MP 9-6


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Observar que nos casos de vítimas obesas ou gestantes no último trimestre, a compressão deverá ser realizada no esterno na mesma posição em que se realiza a compressão torácica da RCP.

Manobra de Compressão Abdominal para desobstrução das VAS em vítimas inconscientes com idade superior a 01 ano (casos clínicos e traumas)

1.1. Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal numa superfície rígida; 1.2. Posicionar-se de forma a apoiar os seus joelhos um de cada lado da vítima na altura de suas coxas; 1.3. Colocar sua mão sobre o abdome da vítima de forma a apoiar a região tênar e hipotênar da mão entre o processo xifóide e a cicatriz umbilical; 1.4. Apoiar a outra mão sobre a primeira;

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MP 9-7


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1.5.

Comprimir o abdome num movimento rápido, direcionado para baixo e cranialmente;

1.6.

Efetuar 5 (cinco) compressões.

Manobra de Compressão Torácica

1.1.

Posicionar a vítima em decúbito dorsal horizontal numa superfície rígida;

1.2.

Posicionar-se de lateralmente à vítima na altura dos seus ombros;

1.3. Apoiar suas mãos sobrepostas e com dedos entrelaçados no local correspondente ao local para reanimação cardiopulmonar; 1.4. Comprimir o tórax da vítima em movimento rápido, direcionado para baixo; 1.5. Efetuar 5 (cinco) compressões.

VÍTIMA COM OBSTRUÇÃO TOTAL INCONSCIENTE (com idade acima de 01 ano) 1. Posicionar a vítima em DDH. 2. Fazer abertura da vias aéreas com a manobra mais adequada e: 2.1.

Abrir a boca da vítima;

2.2.

Inspecionar a cavidade oral e se houver corpo estranho visível remove-lo com os dedos.

3. Verificar a respiração; 3.1.

Se a respiração estiver ausente, tentar efetuar duas ventilações sucessivas;

3.2.

Se não houver expansão torácica, efetuar nova manobra de abertura das vias aéreas (reposicionamento da mandíbula), e tentar efetuar mais 2 (duas) ventilações sucessivas;

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MP 9-8


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3.3.

Se não houver sucesso nas ventilações, efetuar 5 compressões manuais esternais ( dois dedos acima do processo xifóide).

4. Inspecionar visualmente a cavidade oral e se houver corpo estranho visível removê-lo com os dedos. 5. Verificar se a vítima voltou a respirar espontaneamente. 6. Tentar a seqüência completa de manobras (ou seja, item 2 ao item 5) antes do transporte, por: 6.1.

Uma vez para vítimas abaixo de 8 anos;

6.2.

Duas vezes para vítimas acima de 8 anos.

7. Checar pulso carotídeo e, se ausente, informar à Central de Operações e iniciar manobra de RCP. 7.1.

Caso o pulso ainda esteja presente, iniciar o transporte imediato efetuando no interior da viatura as manobras de desobstrução e checando, a cada minuto, o pulso carotídeo.

8. Se a obstrução não persiste e a vítima volta a respirar 8.1.

Ministrar oxigênio por máscara facial com um fluxo de 10 l/min;

8.2.

Mantê-la aquecida e colocá-la, quando possível, em posição de recuperação (decúbito lateral);

8.3.

Monitorar os sinais vitais;

8.4.

Informar a Central de Operações.

9. Se a obstrução não persiste e a vítima não volta a respirar 9.1.

Proceder a manobras de ventilação de resgate;

9.2.

Monitorar pulso carotídeo;

9.3.

Informar a Central de Operações.

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MP 9-9


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Na vítima inconsciente e que apresentar parada cardíaca executar as manobras de reanimação cardiopulmonar para a respectiva faixa etária.

Nesse caso, inspecione a cavidade oral todas as vezes que tiver de efetuar a ventilação de resgate.

Sabendo-se que é OVACE, não coloca a cânula orofaríngea. Não sabendo, coloca-se e retira após constatação, ou seja, após a execução dos subitens 3.1 e 3.2 descritos no MP 9-8.

ATENÇÃO 

Ministrar sempre O2, acoplado ao reanimador manual.

Caso o socorrista não obtenha êxito na desobstrução, transportar a vítima ao hospital rapidamente, sem interromper a manobra correspondente de desobstrução das vias aéreas.

Se a vítima em questão for vítima de trauma, manter a imobilização manual da cabeça e coluna cervical, mantendo-a em posição neutra durante as tentativas de desobstrução das vias aéreas. Utilizar a manobra de elevação da mandíbula e manter a vítima em decúbito dorsal horizontal (DDH).

Nas vítimas de pequeno tamanho, em que se consiga apoiá-la no antebraço, poderá ser realizada a manobra do POP-04-02 (OVACE em vítimas com idade abaixo de 01 ano).

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MP 9-10


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OVACE EM VÍTIMAS COM IDADE ABAIXO DE 01 ANO (consciente ou inconsciente) Procedimentos operacionais: 1. Posicionar a vítima em DDH. 2. Liberar suas vias aéreas com a manobra mais adequada e: 2.1.

Abrir a boca;

2.2.

Visualizar o objeto;

2.3.

Tentar remover com seu dedo qualquer objeto, desde que esteja visível.

3. Verificar a respiração: 3.1.

Se a respiração estiver ausente tentar efetuar 2 (duas) ventilações.

3.2.

Se não houver expansão torácica, efetuar nova manobra para liberar as vias aéreas e mais 2 (duas) ventilações;

3.3.

Verificar novamente a expansão torácica e, se não houver sucesso, adotar os seguintes procedimentos:

3.3.1. Posicionar a vítima de bruços em seu antebraço apoiado em sua coxa; a cabeça da vítima deverá estar em nível inferior ao próprio tórax; segurando firmemente a cabeça da vítima pela mandíbula, apoiando o lábio inferior com o dedo indicador para manter a boca aberta; 3.3.2. Efetuar 5 (cinco) pancadas, com a região tênar e hipotênar da palma de sua mão, entre as escápulas da vítima. 3.3.3. Colocar o antebraço livre sobre as costas da vítima e virá-la para decúbito dorsal. 3.3.4. Manter a cabeça da vítima em nível inferior ao próprio tórax, apoiando o braço sobre a coxa. 3.3.5. Efetuar 5 (cinco) compressões esternais.

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MP 9-11


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3.3.6. Abrir a boca, visualizar e tentar remover qualquer objeto estranho visível. 3.3.7. Checar a respiração e, se ausente, efetuar 2 (duas) ventilações; 3.3.8. Após 1 (um) ciclo de manobras checar

o

pulso

braquial

e,

se

ausente, iniciar a RCP. 3.3.9. Após 1 (um) ciclo de manobras checar

o

pulso

braquial

e,

se

presente, prosseguir nas manobras de tapas nas costas e compressão no esterno.

ATENÇÃO 

No local, tentar uma única vez a seqüência completa.

Cuidado com a intensidade das pancadas, pois poderá causar lesões internas.

Vítimas com idade acima de 1 ano em que se consiga apoiá-la no antebraço, pode ser realizada esta manobra.

PARADA RESPIRATÓRIA - VENTILAÇÃO DE RESGATE (OU VENTILAÇÃO ARTIFICIAL) O ar atmosférico possui 21% de oxigênio. Dos 21% inalados, aproximadamente 5% são utilizados pelo corpo e os 16% restantes são exalados, quantidade suficiente para manter viva uma vítima.

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MP 9-12


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