L-12 Hemorragias

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Curso de Resgate e Emergências Médicas

HEMORRAGIAS Pacientes traumatizados apresentam freqüentemente ferimentos penetrantes (abertos) ou fechados que acompanham o extravasamento de sangue. A perda contínua de sangue ativa mecanismos de compensação do próprio organismo, na tentativa de proteger o fluxo sangüíneo para órgãos fundamentais como o cérebro e o coração. Quando os mecanismos protetores não conseguem manter uma circulação satisfatória, a perfusão dos órgãos fica comprometida. Este comprometimento pode tornar-se irreversível e a perda da(s) função(ões) do(s) órgão(s) evolui para a morte do organismo. O reconhecimento precoce da hemorragia através da visualização direta ou da suspeita da hemorragia interna ao avaliar sinais e sintomas, bem como o mecanismo de lesão pode ser uma etapa fundamental para uma conduta préhospitalar decisiva na sobrevivência do paciente. O choque hemorrágico é um exemplo do quadro sindrômico denominado Choque. Outros

exemplos

são

o

choque

neurogênico,

cardiogênico,

séptico.

O

reconhecimento do choque hemorrágico pode ser uma etapa tardia e nem sempre o resultado de esforços consideráveis no tratamento dos pacientes chocados será bem sucedida. Portanto, o reconhecimento precoce da hemorragia, assim como um controle do sangramento, aumenta a chance de sobrevida. Não retarde o encaminhamento dos pacientes para um local de tratamento definitivo, pois a evolução para o choque hemorrágico diminui a chance de sobrevida dos pacientes com hemorragias não controladas. È importante lembrar que sangramentos gastrointestinais e obstétricos são casos comuns de hemorragia também.

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FUNÇÕES DO SANGUE Para melhor compreender o significado de uma perda sanguínea, é importante relembrar as seis funções do sangue. São elas: -

Transporte dos gases: oxigênio e gás carbônico através da ligação com a hemoglobina;

-

Nutrição: transporte de nutrientes através do plasma;

-

Excreção: de substâncias nocivas ao organismo;

-

Proteção: através dos glóbulos brancos;

-

Regulação: distribuição de água e eletrólitos para os tecidos;

-

Temperatura: controle de temperatura corporal.

Portanto, quando se tem uma perda sanguínea, não se está perdendo apenas o volume de sangue, mas também as propriedades que o sangue proporciona. A vítima que apresenta uma hemorragia abundante entra em estado de choque.

DEFINIÇÃO DE HEMORRAGIAS Hemorragia ou sangramento significa a mesma coisa, isto é, sangue que escapa de artérias, veias ou vasos capilares. As hemorragias podem ser definidas como uma considerável perda do volume sangüíneo circulante. O sangramento pode ser interno ou externo e em ambos os casos são perigosos. As hemorragias produzem palidez, sudorese, agitação, pele fria, fraqueza, pulso fraco e rápido, baixa pressão arterial, sede, e por fim, se não controladas, estado de choque e morte.

MECANISMOS CORPORAIS DE CONTROLE DE HEMORRAGIAS 1. vasoconstrição: que é um mecanismo reflexo que permite a contração do vaso sanguíneo lesado diminuindo a perda sangüínea; Revisão JAN/09

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2. coagulação: que consiste em um mecanismo de aglutinação de plaquetas no local onde ocorreu o rompimento do vaso sanguíneo, dando início à formação de um verdadeiro tampão, denominado coágulo, que obstrui a saída do sangue.

TIPOS DE HEMORRAGIAS 1. externa: o sangue arterial ou venoso flui através de um ferimento, é visível; 2. interna: não é tão óbvia de se constatar, pois não pode ser detectada visualmente. Pode-se suspeitar avaliando o mecanismo da lesão, constatando a presença de sinais e sintomas de choque.

CLASSIFICAÇÃO DA PERDA SANGUÍNEA Segue na tabela 1, uma classificação de hemorragia com seus respectivos sinais e sintomas para um paciente com 70 kg de peso: Grau I

Grau II

Grau III

Grau IV

Perda sangüínea

700 ml

Volume de sangue perdido

Até 15%

15 -30%

30-40%

> 40%

Freqüência cardíaca

< 100

Entre 100 120

>120

> 140

Pressão Arterial

Normal

Normal

PAS < abaixo de 100 mmHg

PAS < abaixo de 50 mmHg

Freqüência Respiratória

14-20

20-30

30-40

>35

Ansiedade, agitação, palidez, pele úmida e pegajosa.

Agonizante, cianose, semiconsciente ou inconsciente, FR aumentada, ausência de pulso palpável.

Assintomático Elevação Outros sinais moderada FC; e sintomas pele ligeiramente fria, tontura.

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750 - 1500 ml 1500 - 2000 ml

Sudorese, pele fria, sede, ansiedade, aumento FR, pulso fino.

> 2000 ml

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O volume de sangue normal corresponde a 7% do peso ideal em adultos e a 8-9% do peso ideal para crianças. Na tabela 1 os dados referentes à perda sangüínea (ml / %) são calculados para uma pessoa adulta, do sexo masculino e com peso de 70 Kg.

RECONHECIMENTO DE HEMORRAGIAS EXTERNAS Durante a análise primária, o socorrista deverá através da palpação e da visualização do corpo do acidentado, constatar: 1. Saída de sangue através de ferimentos abertos; 2. Presença de sangue nas vestes; 3. Presença de sangue no local onde a vítima se encontra.

ACESSÓRIOS PARA CONTENÇÃO DE HEMORRAGIAS 1. Compressa de gaze estéril; 2. Bandagem triangular; 3. Atadura de crepe.

MÉTODOS PARA CONTROLE DAS HEMORRAGIAS EXTERNAS 1. Compressão direta sobre a lesão:

Aplicar uma gaze estéril seca sobre o ferimento. Comprimir manualmente o local ou utilizar uma bandagem triangular ou atadura de crepe para a fixação do curativo, exercendo pressão direta sobre a área lesada. Se a compressa de gaze estéril saturar de sangue e a hemorragia persistir, não a remova, aplique outra compressa sobre a primeira e exerça maior pressão.

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0

Compressão direta

Aplicar mais compressas

2. Elevação:

Este método é usado em conjunto com a pressão direta. A elevação acima do nível do coração reduz o fluxo de sangue para a

ferida.

Somente

empregar

em

hemorragias no membro superior, se não houver fraturas e no membro inferior se não houver fraturas e/ou indícios de lesão raquimedular e/ou TCE.

3. Técnica de compressão de pontos arteriais: Se apesar de houver realizado a pressão direta e a elevação o sangramento continuar, comprima os pontos arteriais proximais à lesão. Não utilizar esta técnica quando houver suspeita de fraturas no local de compressão.

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Exemplos para aplicação da técnica de compressão de pontos arteriais proximais:

1. Operário com o antebraço preso em uma máquina: compressão da artéria braquial; Pontos arteriais

2. Múltiplos ferimentos em uma perna: compressão da artéria femoral. 3. Ferimento

no

couro

cabeludo:

compressão da artéria temporal.

4. Aplicação de torniquete: Só deve ser utilizado em situações extremas quando os procedimentos anteriores já foram tentados e falharam. Deve-se utilizar uma bandagem triangular em forma de gravata, posicionada 5 cm antes da lesão, protegendo a pele com compressas de gaze envolvendo o membro antes de sua aplicação. Colocar um bastão, girando-o até que cesse a hemorragia.

Outra opção: utilizar um manguito de esfigmomanômetro colocado cerca de 5 (cinco) cm antes da lesão e insuflar até que cesse o sangramento. Sempre se deve marcar a hora da aplicação do torniquete e informar ao médico que receber a vítima. Uma vez aplicado, nunca afrouxe o torniquete.

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Procedimentos operacionais:

1. Utilizar o torniquete somente nos membros inferior ou superior. 2. Utilizar uma bandagem triangular dobrada em gravata, posicionada 5 cm antes da lesão. 3. Envolver o membro com a bandagem, dando duas voltas e prendê-lo com apenas uma laçada.

4. Colocar um bastão, pedaço de madeira ou caneta e terminar o nó, dando outra laçada. 5. Torcer o pano com o bastão, girando-o, até que a hemorragia pare. 6. Segurar nessa posição sem aliviar a pressão em nenhum momento até chegar ao hospital. 7. Anotar a hora em que foi exercida a pressão. 8. Fixar um aviso de torniquete em lugar visível (exemplo: testa do paciente), informar a equipe do hospital.

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ATENÇÃO 

Nunca soltar o torniquete até chegar ao hospital.

Lembrar que o torniquete priva os tecidos de oxigênio e também comprime os nervos, podendo a vítima perder o membro em decorrência deste procedimento,

portanto

o

transporte

até

o

hospital deve

se

iniciar

precocemente. 

O torniquete é usado apenas como último recurso para controlar uma hemorragia que não cessou com os procedimentos anteriores.

Não aplicar torniquete em articulações.

COMPLICAÇÕES DA REMOÇÃO DO TORNIQUETE 

Perda adicional de sangue.

Liberação de coágulos de sangue ou glóbulos de gordura para a circulação podendo causar embolia pulmonar

Liberação de substâncias de degradação celular para a corrente sangüínea: toxinas, ácido láctico do metabolismo anaeróbio, etc.

IMOBILIZAÇÃO Importante técnica coadjuvante para todos os casos de hemorragias. Não se deve permitir a movimentação da área lesada. Um músculo lesado apresenta espasmos musculares, que por sua vez causam contrações nos vasos lesados impedindo ou retardando a formação do coágulo e aumentando a velocidade da perda sangüínea, agravando a hemorragia. A imobilização reduz os espasmos musculares, sendo fundamental para que não se aumente a lesão dos tecidos das proximidades e se aumente a hemorragia.

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HEMORRAGIAS INTERNAS De difícil diagnóstico, exigem que o socorrista tenha um bom nível de treinamento para pesquisar a história do acidente relacionado o mecanismo do trauma com a possibilidade de lesões ocultas e para realizar um exame secundário detalhado.

Suspeitar de hemorragia interna quando:

1. Ferimentos penetrantes no crânio; 2. Sangue ou fluídos sanguinolentos drenando pelo nariz ou orelha; 3. Vômito ou tosse com sangue; 4. Hematomas ou traumas penetrantes no pescoço; 5. Hematomas no tórax ou sinais de fraturas de costelas; 6. Ferimentos penetrantes no tórax ou abdome; 7. Abdome aumentado ou com áreas de hematoma; 8. Abdome rígido, sensível ou com espasmos; 9. Sangramento retal ou vaginal; 10. Fraturas de pelve, ossos longos da coxa e braço.

Nunca obstrua a saída de sangue através dos orifícios naturais: boca, nariz, orelha, ânus, vagina.

CHOQUE Conjunto de alterações orgânicas devido a uma inadequada perfusão e conseqüentes falta de oxigenação dos órgãos e tecidos, denominado choque hemodinâmico.

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