Michael Faudet
Seu primeiro amor não é a primeira pessoa a quem você dá o coração: é a primeira que o quebra.
Poético e perturbador, Garotas tristes é um intrigante romance em que amor, segredos e tragédias colidem. Nascida em um campo de refugiados na Tailândia, Lang é poeta, autora best-seller e sensação nas redes sociais. Sua mensagem de amor próprio e empoderamento é expressiva em seus livros e poemas, aproximando-a de seus milhares de leitores. Lang mora na Nova Zelândia com seu parceiro, o também poeta Michael Faudet.
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“Lang Leav ataca nada menos que o amor, em todos os seus aspectos complexos, confusos e esplêndidos.” — Elle Magazine “Incrivelmente poderoso, Garotas tristes é outro livro que o fará pegar a caixinha de lenços.” — BUSTLE
ISBN: 978-85-250-6555-1
“Leav faz parte de uma nova geração de autores best-sellers, elevados a celebridade e com propostas de livros cobiçadas.” — The Guardian
O luto toma conta da cidade quando Ana tira a própria vida, mas é Audrey, uma colega de classe pouco próxima da garota, que o sente mais profundamente: uma mentira inventada por ela pode estar por trás do suicídio. Lucy e Candela, suas melhores amigas, ajudam-na a manter a história em segredo, sem saber que a trama toda foi inventada por ela. Após o ocorrido, a vida das garotas entra numa espiral decadente. Entre os ataques de pânico constantes de Audrey, a nova rotina obscura de Candela e a tentativa de mediação de Lucy, uma amizade até então estruturada começa a ruir. Um novo romance parece ser exatamente o que Audrey precisa, mas o misterioso Rad não pode ser o par ideal. Ou pode? Enquanto tenta equilibrar um romance inadequado, o começo de uma carreira e o próprio egoísmo, Audrey tem que lidar com as consequências de seus atos: a ansiedade constante e a forma como sua mentira afetou todos ao seu redor.
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Tradução
Luisa Geisler
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Copyright © 2017 by Lang Leav Copyright da tradução © 2018 by Editora Globo S.A. Trecho de Fahrenheit 451 retirado da 2ª edição da Biblioteca Azul (2012; 14ª reimpressão, 2018), tradução de Cid Knipel. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida — em qualquer meio ou forma, seja mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação etc. — nem apropriada ou estocada em sistema de banco de dados sem a expressa autorização da editora. Título original: Sad Girls Editora responsável: Veronica Armiliato Gonzalez Assistente editorial: Júlia Ribeiro Capa: Brunna Mancuso Diagramação: Douglas Kenji Watanabe Projeto gráfico original: Laboratório Secreto Revisão: Tamires Cianci von Atzingen
Texto fixado conforme as regras do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995). CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ L479g Leav, Lang Garotas tristes / Lang Leav ; ilustração Brunna Mancuso ; tradução Luisa Geisler. - 1. ed. - São Paulo : Globo Alt, 2018. 416p. ; 21 cm. Tradução de: sad girls ISBN 978-85-250-6555-1 1. Ficção infantojuvenil tailandesa. I. Mancuso, Brunna. II. Geisler, Luisa. III. Título. 18-49628
CDD: 028.5 CDU: 087.5
1ª edição, 2018
Direitos de edição em língua portuguesa para o Brasil adquiridos por Editora Globo S.A. Rua Marquês de Pombal, 25 20.230-240 – Rio de Janeiro – RJ – Brasil www.globolivros.com.br
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Em memรณria de Nicole Lewanski Que o seu amor pelos livros siga vivo nos outros.
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PARTE UM A menina e o lobo Mas não se pode obrigar as pessoas a escutarem. Elas precisam se aproximar, cada uma no seu momento, perguntando-se o que aconteceu e por que o mundo explodiu sob seus pés. — Ray Bradbury, Fahrenheit 451
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A morte, como a ficção, é brutal em sua simetria. Pegue essa história e a desnude — inteira — até ficar com apenas dois pontos. Dois pontos em uma tela vasta e vazia, separados por um oceano de branco. Aqui, nós chegamos ao primeiro ponto, em que a banheira está cheia e a mão procura a lâmina. Encontro você no próximo, perto dos eixos de uma roda barulhenta, a revolução de um relógio, o encerramento de uma órbita.
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UM
Eu estava a três semanas de completar dezoito anos quando fui atingida pela cruel aflição da ansiedade. Ela veio na forma de um ataque de pânico, aparentemente do nada — um raio súbito. Como um trovão no meu peito, um rio gelado descendo pela espinha. Terror e confusão se agarravam aos cantos do meu cérebro enquanto eu apertava os lençóis encharcados de suor em que dormira agitada, apenas momentos antes. Enquanto minha mente batalhava para entender esse novo e assustador acontecimento, um pensamento fraco ecoou pelo meio de meu pânico cego. Ele me disse, com uma certeza congelante, que nada seria o mesmo. Não tenho dúvida de que o início súbito da minha ansiedade teve tudo a ver com a mentira. Até hoje, não sei por que aquela terrível inverdade escapou dos meus lábios. Mas assim que o fez, ganhou vida própria. Se tornou uma presença maligna, uma maldição. Contei essa mentira perversa em uma
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noite infeliz para minhas duas melhores amigas, Lucy e Candela, que juraram segredo pelas vidas das pessoas que amavam. Lucy jurou por sua mãe, e Candela, por sua irmã, Eve. Talvez eu quisesse criar algum tipo de comoção, algo para quebrar a monotonia. Como o menino daquela fábula, que enganava os aldeões das redondezas com a ameaça de um lobo para o seu divertimento. Qualquer que fosse o motivo, a mentira desencadeou uma série de eventos que eu não antevira. O acontecimento em que culminou me assombra até o dia de hoje. Pois eu não tenho dúvida de que a minha vida e a vida das minhas duas melhores amigas teriam sido diferentes se aquela noite nunca tivesse acontecido. Se a mentira que saiu de meus lábios tivesse apenas escapado sem a oportunidade de persistir, como uma tempestade crescente, empurrada para o mar, para se dissipar sobre as ondas inquietas. Como na noite em que embarquei no ônibus errado por distração, com poucas moedas no bolso e um telefone sem bateria, notando que estava sendo levada cada vez mais para dentro de uma parte ruim da cidade. E meu dilema era se eu deveria confiar no motorista do ônibus para me levar de volta ao ponto onde eu poderia ligar para meus pais me buscarem ou se eu deveria descer na próxima parada e tentar encontrar meu rumo de volta a um território familiar. Escolhi a última opção, e meu pai, retornando de uma reunião que tinha ido até muito tarde, acidentalmente virou a esquina assim que desci na parada. Se eu tivesse ficado no ônibus, talvez o homem que cheirava a gim e me olhara de um jeito estranho mais de uma vez, tivesse se dado conta da minha situação. Quantas histórias nós ouvimos sobre garotas que vão parar na parte errada da cidade e nunca mais são encontradas? Eu poderia ter me tornado outra estatística, mas,
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em vez disso, eu estava segura, na carona do meu pai, parando no supermercado das redondezas para fazer compras a caminho de casa. A situação em que eu estava me fez pensar em todos os resultados possíveis: eu poderia ter sido raptada, estuprada ou assassinada. Às vezes, os cenários que eu imaginava eram tão gráficos que me deixavam perguntando se, talvez, haveria uma outra versão de mim, em algum lugar, que os viveu. Talvez nós entremos e saiamos de mundos alternativos através da nossa mente e imaginação, pegando tecido residual de outras dimensões. Minha lembrança da noite em que contei a mentira é tão vívida que parece ter sido ontem. Eu me lembro de como as palavras tropeçaram da minha boca, minha mente incerta a respeito de como a história estava se formando, como uma aranha que tece sua primeira teia sem entender de onde adquiriu a habilidade. Consigo me lembrar das expressões nos rostos de minhas duas melhores amigas, seus olhos arregalados de horror e nojo. “Eu os vi pela janela”, eu havia dito com seriedade, “quando estava coletando dinheiro para a Cruz Vermelha”. Eu era conhecida por ser uma pessoa honesta e, a não ser que fosse um completo absurdo, minha palavra valia tanto quanto a de qualquer um. A janela a que eu me referia pertencia a uma casa pela qual eu passava todos os dias a caminho da escola, e era fácil mobiliá-la com minhas meias-verdades e maquinações extremas. Pouco depois do estabelecimento da mentira, uma briga irrompeu entre mim e Candela, que chorou lágrimas de incredulidade e quis confrontar a protagonista da minha narrativa cuidadosamente construída. Percebendo que isso traria o foco para mim, fiz
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meu melhor para dissuadi-la da ideia — uma decisão da qual me arrependo profundamente, agora. De fato, se a mentira tivesse ficado entre nós três, ela teria terminado ali. Se ela tivesse surgido em conversas anos depois, eu teria admitido que era pura ficção e que eu não fazia ideia do que me havia levado a criar uma história dessas. No entanto, sem que soubéssemos, Eve, a irmã mais nova de Candela, estava com o ouvido encostado no outro lado da porta, e ela mais tarde relataria nosso diálogo para a mãe delas. Era a abertura pela qual a mentira estivera esperando. Por esse canal, ela deslizou para longe do meu alcance e se espalhou como um incêndio por nossa pequena cidade de Three Oaks. De uma só vez, todos souberam dos detalhes sórdidos da mentira que eu havia fabricado; ela foi aceita unanimemente como a verdade. Ao que parece, a mãe de Candela não havia comentado nenhum detalhe de como tinha se deparado com o rumor, já que ninguém parecia conhecer sua real origem. Nas chamas que se apagam e galhos enegrecidos de uma floresta assolada pelo fogo, quem consegue distinguir de onde a primeira faísca saiu? Apenas o incendiário sabe a localização exata de onde se acendeu o fósforo. Dias depois, a vítima da minha trama — Ana, de dezessete anos — foi encontrada na banheira de porcelana branca de sua família, com sangue escorrendo e brotando de seus dois delicados pulsos. Foi na mesma noite em que tive meu primeiro ataque de pânico.
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