Não é saudade se você pode suportar Estávamos no meu quarto, deitados na cama. As mãos dele explorando meu corpo, minhas unhas arranhando-o suavemente, seus ombros se comprimindo ao meu toque. Seu rosto na curva do meu pescoço, meus lábios contra seu maxilar, seus dentes se fechando em meu ombro. Ele desceu a mão até minha cintura, apertando-a contra si. Meus lábios procuraram os dele novamente, sua língua quente se enroscando com a minha. Era como se um rastro de fogo ficasse por onde suas mãos passavam. Ele segurou minha coxa na lateral de seu corpo, aumentando a intensidade do beijo, subindo as mãos para meu quadril, brincando com o elástico do meu short, minha mão em sua nuca, trazendo-o para mais perto, e a outra junto da sua em minha coxa, mostrando como eu queria ser tocada cada vez mais. Parece que vou explodir de tanto prazer, todo meu corpo está sensível e minha pele formiga de ansiedade. É como se cada célula do meu corpo gritasse por mais, como se cada molécula pedisse desesperadamente para que nossos corpos se fundissem. Um par de grandes safiras me encarou, minha respiração descompassada. Ele retirou uma mecha do meu cabelo do rosto e se curvou sobre mim, beijando meu maxilar, descendo para o canto do lábio, mordendo-o uma vez e depois outra, sorri inconscientemente, acariciando os cabelos de sua nuca, seus lábios curvando-se em um sorriso irresistível, indo até minha orelha. – Me diga o que está pensando? - ele sussurra, e eu me sinto quente, e um misto de conforto, arrepios invadem todo o meu corpo. – Não é hora para isso, sr. Wade. - eu digo. Meus lábios vão a seu encontro novamente, e eu o ouço sussurrar meu nome. Charlie. Charlie. Charlie. – CHARLOTTE! Abri os olhos, assustada, me desequilibrando do sofá e caindo desajeitadamente no tapete. – Pff HAAHAHAHAHHAAHAH - Mark riu, jogando a cabeça para trás. Cocei os olhos tentando me localizar e um rubor inconsciente passar pelo meu rosto. Era só eu cair no sono por cinco segundos que
meus sonhos eram invadidos por ele. De uma forma "indecente" ainda por cima. – Você dormiu. De novo. - acusou-me Brooke, arregalando seus olhos azuis. Eu rolei os olhos e me levantei. Era uma quinta-feira de Julho, o dia seguinte seria o último dia de aula antes de o ano acabar. Nós estávamos na casa de Mark assistindo O iluminado - filme que, apesar de ser considerado um dos melhores filmes de terror do século, em minha opinião, não passa de super entediante. As luzes estavam apagadas, a sala sendo iluminada apenas pelo brilho da televisão. – Desculpe se esse filme é mais entediante que o permitido - falei, sentando-me no sofá, ao lado de Mark. – Não é entediante, é um clássico! - Brooke falou, soando ofendida e apontando para TV. – Clássico ou não, continua sendo entediante - falei. Brooke enfiou a mão na bacia de pipoca e jogou em mim. – Eeeeeei, vocês vão limpar! - Mark reclamou. – Sua sem cultura - Brooke falou para mim, rindo. – Ora, obrigada, Broo - eu falei, tirando pipoca da camiseta. Brooke riu e recostou as costas no sofá novamente. Mark esticou o controle, apertando o play. – Silêncio agora - disse, enfiando um punhado de pipocas na boca. Eu apoiei o braço no braço do sofá, e o meu rosto na mão. Pensei em meu sonho e consequentemente em Logan. Fazia cinco meses que não nos víamos. Cinco eternos meses. Cinco aflitivos meses. Cinco torturantes meses. Eu sei, não dá nem para acreditar, mas é verdade. A última vez que nos vimos foi no nosso aniversário de namoro em fevereiro, quando a "situação" do meu sonho aconteceu. Foi tão divertido, Logan estava nas gravações de Mar de Monstros, mas conseguira uma folga para o fim de semana do nosso aniversário. Ele veio para Nova Iorque e ficamos passeando pela cidade despreocupadamente na sexta feira a noite; no
sábado ficamos o dia todo no Central Park, caminhando pelo parque, tomando sorvete, deitados na grama, andando de bicicleta e beijando... Beijando muito. Na noite de sábado jantamos comida japonesa em um restaurante na Medison Square e depois voltamos para meu loft. Na tarde de domingo o levei para o aeroporto. Antes disso eu o vira um mês antes, no dia do seu aniversário. Apareci de surpresa na casa da Sra. Lerman, na noite anterior ao aniversário de Logan. Impossível apagar a imagem que eu tive. Era um pouco mais de meia-noite, meu voo atrasara três horas e eu estava parada em frente a casa dele, segurando um muffin de chocolate com uma vela acesa no centro. Logan abriu a porta e me encarou atônito, ele usava uma camiseta cinza e calça de moletom azul e tinha a cara amassada e as bochechas vermelhas de sono, eu cantei um versinho de "Parabéns pra você" e ele continuou parado me encarando por trinta segundos inteiros antes de soprar a vela e me puxar para um abraço apertado, beijando meu rosto e me chamando de doida. For tão bom passar o dia com ele sem preocupações, matando a saudade de todas as formas possíveis. Mas isso tinha passado e nem eu nem ele havíamos encontrado uma brecha em nossas agendas cheias para partir ao encontro do outro e isso estava me matando. Minha saudade se tornara física por completo e ouvir a voz dele por telefone ou vê-lo pelo webcam não surtiam mais efeito, pelo contrário, parecia que quanto mais eu o visse ou o ouvisse sem sentir seu corpo perto do meu, mais a saudade crescia. Era ainda mais difícil ver fotos dele em sites ou nos twitters do elenco de Mar de Monstros; pior que isso era tentar sufocar o ciúme quando essas tais fotos eram com Alexandra. Se tem uma coisa que eu detesto é sentir ciúme, parece que sou uma adolescente insegura e com problemas de autossuficiência - o que não deixa de ser verdade, devido aos acontecimentos de outubro - mas não tinha o porquê daquilo. Não é como se eu não confiasse em Logan. É como se eu não confiasse em mim mesma, como se EU tivesse que provar para MIM que ele me ama. O que não faz o menor sentido para quem não tem a menor intenção em me entender. Bem, de qualquer forma, nem Logan, nem eu podíamos deixar a nossa via de lado agora. Não agora que estávamos subindo sem parar em nossas carreiras, éramos jovens, teríamos todo o tempo do mundo para nós daqui alguns anos quando nossa vida profissional se estabilizasse, mas
por enquanto - por enquanto que éramos novatos nisso tudo - tínhamos que ter paciência, sufocar o amor em uma caixa e aguentar as consequências com uma saudade doída. Poético, eu sei, mas a mente de vocês vai se tornar um romancista frustrado quando você se apaixonar pela pessoa mais equivocadamente certa! O que me mantinha firme e forte depois de cinco meses afastados era que amanhã eu estaria de férias e minha querida mãe e Billy haviam me dado uma bela quantia no meu aniversário, em novembro e no então poderia voar para perto do Logan quando quisesse. Aguentei um pouco mais do filme, quase cedendo ao sono pela terceira vez, e então antes do filme acabar, me despedi dos meus amigos, dando a desculpa de que precisava fazer algumas coisas antes de dormir, o que não deixava de ser verdade, mas digamos que essas coisas sejam comer aquele resto de sorvete que estava no meu congelador e encher o saco do porteiro do meu condomínio, o Owen; nada importante como podem perceber, eu só queria fugir daquele filme terrível.
Cansaço com dose extra de discussões, por favor! Acordei animada no dia seguinte, não era para menos, último dia de aula do ano, eu mal podia acreditar que havia terminado o primeiro ano de quatro em jornalismo. Entrei no mini, mordiscando um biscoito de chocolate, joguei minha mochila e os cadernos no banco do passageiro e segui para a NYU cantarolando You and Me do Parachute junto com o rádio. Cheguei à faculdade e encontrei Brooke, Mark e Freddie na escadaria. Desde que havíamos voltado da California, Brooke estava radiante, ela realmente havia gostado de Daniel, embora soubesse que fora algo casual e sem comprometimento algum. Eu estava feliz pela minha amiga, finalmente ela tinha percebido que existem caras mais legais que o Freddie, e que gostem dela de verdade, então ela meio que tinha deixado a paixonite do Freddie no passado. O Freddie, por sua vez, percebera que Brooke não o idolatrava mais e assim, de repente, desenvolvera uma admiração e atenção inimaginável pela Brooke. Curioso, não?! Não. Ele só queria a Broo aos pés dele novamente, tentei conversar com ele, mas não deu muito certo, então parti para o plano B e sempre que ele tenta um de seus joguinhos com a Brooke e eu estou perto, dou minha olhada infalivelmente constrangedora até ele se tocar e ficar na dele. Freddie é uma pessoa muito legal, tirando o fato de que é um cafajeste. E Brooke, bom, ela pode ter toda essa pose de durona, mas se derrete inteira quando um cara bonitinho fala coisas doces para ela. Por isso que, segundo a Brooke, o Logan é um príncipe. Fui até eles e os cumprimentei, conversamos por alguns segundos e então Mark me arrastou para a aula, deixei os outros dois, mas não sem antes semicerrar os olhos para Freddie em um aviso silencioso. Mark e eu fomos para a aula de Teoria do jornalismo que passou muito rápido, o que me surpreendeu já que aquela aula sempre era extremamente cansativa e longa; logo depois subimos para a Oficina de Textos. Mark e eu entramos, nos sentamos tagarelando sobre qualquer coisa, enquanto o professor esperava o restos alunos chegar. – Tudo bem, tudo bem, gente! – começou o professor, organizando alguns papéis na mesa e então foi para o centro – Bem, como vocês obviamente sabem, hoje é o último dia de aula do ano...
Gritos e aplausos excessivamente alegres ecoaram pela turma, alguns garotos começaram a bater as mãos na bancada a sua frente e outros jogavam até papéis picados para a frente da sala, Mark gritou ao meu lado, comemorando junto com o pessoal. Eu franzi as sobrancelhas e comecei a rir da baderna desnecessária. O professor sorriu e fez gesto para o pessoal se acalmar. Quando se aquietaram, o Sr. Jules riu, sibilando “calouros” consigo mesmo. – Então – continuou ele – preciso passar alguns anúncios para vocês essas cabecinhas de Ensino médio. Srta. Benetti? Levantei os olhos do meu caderno, levando a atenção para o professor. – Sim, senhor? – Você é uma das "atas" da turma, porque não esclarece algumas das perguntas? - falou sr. Jules. – Sim, claro. - falei, me levantei e fui até a frente da classe. – Oi, gente - falei, colocando o caderno na página das anotações Ahn, primeiro, a sra. Monroe pediu para avisar que se alguém tiver alguma dúvida sobre o trabalho dela, há uma faq no portal da NYU com as respostas, se a pergunta não for esclarecida, mande um e-mail para ela, que também se encontra na faq. Lembrando que ele deve ser entregue no primeiro dia depois das férias. Sobre o passeio que faremos a Long Island em outubro, os pagamentos já estão sendo recebidos na tesouraria do prédio dois, falem com a Martha. Os interessados em participar do jornal devem se inscrever na biblioteca, lembrando que as reuniões acontecem todas as terças, quartas e quintas, na sala 334 no terceiro andar. E por último, o professor Martins pediu para que os alunos que ficaram responsáveis por televisionar o jogo de amanhã encontrarem com ele na sala dos professores, houve algumas mudanças. - eu suspirei - Alguma pergunta? - pergeuntei, encarando a turma. Uma garota de cabelos negros e olhos verdes ergueu o braço. – Sim? – É verdade que você e Logan Lerman terminaram?
A pergunta e algumas risadas ecoaram pelo ar enquanto eu encarava a garota com indignação. – Como é? - perguntei, com as sobrancelhas franzidas. – Você e Logan Lerman terminaram, é verdade? - ele repetiu. Eu bufei e inspirei. – Me desculpe, mas o que isso tem haver com as dúvidas gerais da turma? - falei, encarando a garota. – Então, é verdade? Vocês terminaram mesmo? - outra garota perguntou, curvando o corpo sobre a bancada a sua frente, mais risadas ecoaram. Eu rolei os olhos discretamente, mantendo a calma. – Olhe, eu não vou responder essa pergunta, tudo bem - falei e me voltei para a turma novamente. - Alguma outra pergunta em que minha vida pessoal não esteja envolvida? – Mas segundo a E! vocês terminaram - a garota de cabelos pretos insistiu. - e ele está namorando Alexandra Daddario. – E segundo a E! você não tem nada melhor para fazer além de cuidar da vida alheia - falei com a maior mistura de calma e cinismo possível. Uma onda de "caramba", "po***", "nossa, que grossa" e mais algumas risadas caiu sobre a sala. A garota de olhos veres cruzou os braços e recostou as costas na cadeira. – Tudo bem, tudo bem, turma - começou Sr Jules - já chega! Já chega! A turma se aquietou. – Alguém quer perguntar alguma coisa - o Sr. Jules olhou para mim que não esteja relacionado à vida pessoal da Srta. Benetti? Não? Tudo bem, obrigado, Charlotte, pode ir se sentar.
Eu voltei para meu lugar, tentando fazer meus pés não afundarem o piso e meu olhar não fuzilar nenhum inocente. – Acalma-se, gatinha, você sabe que não é verdade - Mark falou. Eu o encarei. Ninguém entendia aquilo, ninguém podia entender, eu senti uma mistura de raiva e impotência, eu não podia fazer nada, não podia mudar a cabeça dos papparazzi, não podia mudar as coisas e mesmo sabendo que era mentira, a minha própria mente estava cedendo àquelas histórias E depois suspirei. – Tá, você tem razão - falei. Passei o resto da aula nervosa, por mais que Mark tentasse me acalmar ou me distrair eu não conseguia tirar aquela pré-discussão com a garota. Não conseguia para de pensar em como a "elite da fofoca holywoodiana" já, supostamente, haviam feito Logan e eu terminarem. Não conseguia parar de pensar que ele estava passando muito mais tempo com Alexandra a ponto de acreditarem que existia um relacionamento entre eles. Tive vontade de gritar e chorar o dia todo. Dizer que eu sentia falta dele pelo celular não tinha mais efeito. A minha saudade se tornara física por completo. Eu precisava dele, do corpo dele contra o meu. Afinal, cinco meses não são pouca coisa. Ás 2h em ponto, saí em disparada da aula, não aguentava ficar mais nenhum segundo na faculdade, pelo menos por hoje. Ia me despedir de Mark, Brooke e Freddie na escadaria e Broo me avisou que teria uma festa na casa do Simon. – Quem é Simon? – perguntei. – É aquele carinha da minha aula de TC*... Dei de ombros, não me familiarizando com o nome. – Continuou sem saber - falei. – Não importa. – ela falou, fazendo um gesto com a mão, como se espantasse moscas – Você vai, não vai?! – Não sei, gente, tenho que trabalhar – E eu realmente tinha, livraria e depois revista.
– Ah, Chars, por favor – ela insistiu – você nunca mais saiu com a gente. E hoje é último dia de aula. Mordi o lábio, pensando a respeito. – A que horas é a festa? – perguntei, por fim. Talvez pudesse ir e ficar só uma horinha. – Ás nove – respondeu Freddie. – Tá, tudo bem, - falei e Broo deu um gritinho, sorrindo – mas não prometo nada. Não sei que horas vou sair da Chase. Preciso ir agora, tchau gente. Caminhei até o estacionamento, entrei no mini e fui em direção à livraria. Agora eu ficava apenas três horas na livraria, depois eu seguia para a revista, onde ficava até às nove da noite. Naquele dia eu fiquei até ás 10h30min adiantando alguns relatórios. Na volta, passei no Burger King, amaldiçoando a mim mesma por estar mantendo uma alimentação nada saudável. Por mais que eu não estivesse engordando, já que mantinha uma rotina de exercícios pelo menos duas vezes por semana, não era nada legal viver só de café da manhã, macarrão instantâneo ou fast food. Fui comendo as batatas fritas e ouvindo The Kooks no caminho de volta. O trafégo estava tranquilo já que eram quase 11h da noite. Brooke me ligou perguntando onde eu estava e quando disse que havia acabado de sair da revista, ela falou que entenderia se eu fosse para casa porque estava cansada; eu disse que ela era a melhor amiga do mundo e desliguei o celular, mudando o trajeto em direção ao Upper East Side. Tinha uns condomínios divinos no UES, realmente, daqueles que até no site do lugar toca aquela musiquinha dos restaurantes que as socialites almoçam. O Manhattan House e o The Laurel eram os piores; deixavam qualquer universitário/morador solteiro de classe média deprimido com tanta exuberância. Meu condomínio era normal, simples, mas tinha tudo o que necessitava: nada de piscina ou SPA; mas tinha aquela ala de lazer enorme onde o pessoal dava algumas festas, nada muito exagerado. Havia conhecido este condomínio por indicação da faculdade que sempre tem folhetos para estudantes que não vão morar
no campus. Eu gosto dele, digo, do condomínio, é bem tranquilo e tem moradores legais, ou melhor, moradores descentes já que muito dificilmente me encontro com algum vizinho. E do meu loft também, e não sei por que o chamo de loft, ele está mais para um “apartamento loftinspired” como os arquitetos chamam, sem falar que um loft em Manhattan custa no mínimo um milhão de dólares. Mas de qualquer forma, o que estou dizendo é que ele tem uma parede de divisão para separar meu quarto do resto do apartamento e o banheiro ao lado do quarto, óbvio; mas cozinha e a sala são um único cômodo, separados apenas por uma bancada. Mas eu realmente o acho parecido com um loft porque ele tem duas vezes a altura que uma casa/apartamento qualquer. Quando estacionei o mini, eu fiquei alguns segundos sentada com as mãos no volante e o rosto apoiado no mesmo e os olhos fechados. Eu não estava só cansada, estava quebrada, esgotada e com a mente estourando de tanta coisa que havia acontecido. Tentei relaxar um pouco, respirando fundo e soltando o ar bem lentamente. Eu só não queria pensar nele, ou no que tinha acontecido mais cedo. Não queria sentir saudade e muito menos chorar por isso. Suspirei mais uma vez, sentando direito no banco e tentando expulsar qualquer pensamento da mente. Então celular começou a tocar, esperei alguns segundos antes de começar a procurá-lo em minha mochila. Uma foto de Logan estava no visor, meio tensa atendi a ligação. – Achei que não fosse ligar - falei, assim que coloquei o celular na orelha. – "Oi, tudo bem?" pra você também, srta. Benetti - ele falou. Eu não consegui dar mais que um sorrisinho, embora ainda sim, feliz por poder ouvir a voz dele. Falar com ele doía, porque eu sabia que em algum momento ele ia desligar e eu sentiria sua falta em dobro depois disso. – Como você está? - perguntei, tentando esconder a angústia em minha voz. – Bem, linda - ele disse - e aparentemente você não está nada bem, não é?! Fiquei em silêncio alguns segundos.
– Charlie... - ele chamou. – Estou aqui - falei. – Charlie, o que está acontecendo? - ele perguntou. Eu queria dizer a ele, mas a sensação que eu tinha era de que mesmo que eu contasse nada se resolveria, não podíamos deixar nossa vida de lado e ir ao encontro do outro. – Fala pra mim - ele disse, com voz mansinha. Meus lábios se curvaram em um sorriso. – Não é nada, Lelo - falei, em meio a um suspiro - eu juro. Só tive um dia cheio, só isso. – Ainda não acredito nessa história... - ele disse - Bem, quando quiser conversar, estou à disposição. – Ok - eu disse. – Já está em casa? - ele perguntou. – Na verdade, acabei de chegar - respondi - ainda estou dentro do carro. – Eu estava pensando - ele começou - trabalhar na livraria, fazer o estágio e a faculdade, não está sobrecarregando você, Charlie? Ajeitei-me no banco. – Como assim? – Ah, você sabe, a faculdade já é uma barra com todos os trabalhos e tudo - ele explicou - você tem projetos diferentes todo mês no estágio, fica até as nove ou dez da noite na revista e ainda passa à tarde na livraria, acho que é muita coisa para você... – Mas, Logan, eu preciso... – Você não precisa, Charlie, você quer - deu ênfase na última palavra e me atingiu como um chute na canela, doído e certeiro - você
poderia muito bem se sustentar só com um emprego e eu realmente não entendo o por que de se ocupar tanto. Fiquei em silêncio, refletindo sobre o que ele disse. Não que eu precisasse pensar muito para saber que ele tinha razão, porque ele tinha, e era óbvio que sim. Eu não necessitava de dois empregos, não necessitava me sobrecarregar tanto. Mas minha mente precisava, por causa dele. Mas eu não dizer isso, soaria dramático, como se eu quisesse culpá-lo por algo. Entenda: quanto mais coisas eu tivesse para fazer, menos pensaria nele e consequentemente, menos sentiria saudade. Havia algum tempo que essa técnica não estava mais dando muito certo, mas mesmo assim, era melhor que não fazer nada. – Ouça, não estou dizendo para largar, faça o que quiser - ele falou só quero que saiba que me preocupo com você e levar uma rotina acelerada assim não vai fazer bem para você... Daqui alguns anos você pode chegar a ter um colapso nervoso. – Eu sei, Lelo, e agradeço por se preocupar - falei - mas eu preciso fazer todas essas coisas, preciso ocupar a cabeça. – Mas por quê? - tinha uma pontada de desespero, misturada à impaciência em sua voz. - por que disso? – Por sua causa! Merda. Aparentemente, minha cabeça decide uma coisa e minha boca faz outra. Silêncio. Eu podia ouvi-lo soltando o ar gradativamente, enquanto eu sentia meus músculos ficarem tensos como se ele estivesse aqui, na minha frente, me analisando com aqueles olhos profundos. – Charlie... – Logan, esquece tá?! - comecei - Está tudo bem, vai ficar tudo bem, eu prometo. Só esquece isso, tá bom?! – Mas a gente...
– Eu sei, vamos resolver isso. - falei, soando confiante, mas só soando mesmo - Depois. Por hora, deixaremos as coisas assim. – Você não sabe fingir - ele disse, com uma risada desanimada pelo menos, não para mim. Sabe disso, não sabe?! Eu bufei e recostei as costas no banco. – Sei sim. – E então, como ficamos? - ele falou depois de alguns segundos. – Ficamos como eu disse, - falei - Não se preocupe com isso agora e depois resolvemos. Talvez você tenha razão e eu estou sobrecarregada... – Vai pensar na minha proposta, então? - ele perguntou. – Vou sim - falei. – Pensar não significa que vai levar em consideração, muito menos aceitar - ele falou, como se adivinhasse meus atos. – Você é muito chato! - reclamei e ele riu - sabia disso?! Muito chato. Ele riu. – Sabe, que no fundo, eu acho que é isso que atrai as garotas - ele falou - essa minha chatice única. – Nossa, é claro que é! - eu falei usando uma tonelada de sarcasmo - O que você achou que fosse? Sua beleza? Pfff... Não me faça rir. Ele riu e eu senti a tensão entre nós se desfazendo, assim, de repente. Que relacionamento estranho, sinceramente, tiramos sarro da nossa desgraça. – Preciso ir agora, tá?! - ele falou - Mas eu ligo assim que tiver um tempo... – Está gravando ainda? - perguntei.
– Sim, estou. Cenas noturnas. - ele soou meio cansado, mas ainda sim consegui identificar um quê de empolgação em sua voz. – Vai ficar aí muito tempo? – Não faço a mínima ideia! Eles nem deram previsão. - ele disse e era como se eu pudesse o ver movendo as sobrancelhas, indignado. Eu ri comigo mesma. – Você ri, não é?! - ele disse, rindo - Saiba que a minha única alegria nesse momento é que está quente e eu não preciso me preocupar em morrer de frio! – Sua única alegria? Falar comigo não conta?! Ele riu. – Talvez, estou revendo meus princípios - ele disse, com indiferença. Rolei os olhos, rindo. Vocês já devem ter percebido minha mania de rolar os olhos por tudo, tento me policiar, mas é difícil. Igual a Logan e suas sobrancelhas. Ele suspirou. – Precisa ir? - perguntei. – Preciso - ele disse, mas soou como um pedido de desculpas. Quase pedi para que ficasse, mas mordi minha língua, sabendo que ele não podia. – Tudo bem - falei - Grave algumas cenas por mim. – Todas elas - ele disse. Eu sorri - boa noite, Charlie. – Boa noite - respondi e desliguei o celular. Subi para o loft e caminhei cegamente por ele, jogando a bolsa, os cadernos e a jaqueta no sofá da sala, tirando os tênis no caminho para a cozinha, patinando de meia pelo piso (não existe coisa mais divertida!).
Deixei as embalagens do Burger King na cozinha e fui comer o lanche na sala. Depois que terminei, tomei um banho e caĂ na cama, agradecendo por nĂŁo ter que acordar cedo no dia seguinte.
Nem todo mundo tem uma cópia masculina Acordei cedo na manhã seguinte, meu cérebro estava exausto e pilhado, contudo miseras oito horas de sono foram o suficiente para meu corpo despertar e eu não conseguir voltar a dormir. Merda de relógio biológico. Fiquei rolando na cama por cerca de vinte minutos antes de me irritar com aquilo e me levantar. Fui até o banheiro, amaldiçoando a mim mesma por não ter ido a tal festa do Simon-desconhecido-da-faculdade e ainda acordar cedo no primeiro dia das férias de verão; depois de lavar o rosto e escovar os dentes e os cabelos, vesti uma regata leve e um short de algodão; Mandei um sms de bom dia para Logan e depois outro perguntando se ele podia conversar agora, alguns segundos depois ele respondeu que estava entrando set nesse instante, que não podia agora, mas que me ligaria assim que terminasse. Eu digitei para ele um rápido “tudo bem, tenha uma ótima manhã” e ele me respondeu “Vai dormir, Charlie!” e alguns segundos depois “amo você :)”. Eu rolei os olhos e ri. Peguei uns trocados na bolsa, coloquei os fones de ouvido do ipod e saí para correr. Depois de fazer um alongamento rápido procurei e corri pela área mais tranquila do Central Park, não que ele estivesse cheio, pois ainda eram oito e pouco da manhã de sábado e os comerciantes terminavam de abrir suas lojas. Eu estava inspirada naquela manhã, portanto escolhi as músicas mais animadas da minha playlist que ia de Houdini, do Foster The People, á Sheena Is Punk Rocker, dos Ramones, passando por Coldplay e Foo Fighters. Corri em ritmo moderado por certa de dez vinte minutos, andei para regular a respiração e os batimentos cardíacos e depois voltei a correr, aumentando um pouco a velocidade dos passos. Eu tinha bronquite asmática quando era mais nova, cheguei até a usar bombinha, minha mãe conseguiu curar com um tratamento regular e acompanhamento médico, mas ás vezes ainda sinto meu peito carregado e falta de ar, geralmente depois que paro de correr isso acontece, mas nada que saber lidar com a respiração e bastante água não resolvam! Depois de correr por volta de trinta e cinco minutos, eu me alonguei novamente para acalmar os batimentos cardíacos e caminhei até uma barraquinha para comprar uma garrafa d’água, arranquei os fones de ouvido da orelha e pedi a garrafa para o vendedor; enfiei a mão no bolso do short e ver as horas e suei frio quando não o senti ali, estava prestes a ter um mini ataque do coração, um milhão das piores coisas passando pela minha cabeça em menos de cinco segundos (e se achassem o celular?
E se caísse em mãos erradas? E SE DESCOBRISSEM O NÚMERO DO LOGAN NA AGENDA?). Foi em meio a esse quase surto que lembrei que havia deixado o celular no loft. Suspirei e peguei a garra d’agua que o vendedor esticava em minha direção, paguei a ele e perguntei as horas enquanto ele contava meu troco. Ele disse que eram 9h07min, eu agradeci e fui me sentar na grama, a algumas dezenas de metros dali. Fiquei ali quietinha, usando só um lado do fone de ouvido, escutando um mashup da minha playlist e o quase caos da manhã de Manhattan. Os turistas e começava a chegar no parque, com suas câmeras e bermudas, prontos para relaxar no Central Park e tirar umas boas fotos. A Big Apple não seria um lugar para se ir e relaxar, pelo menos não para quem mora aqui, aposto que o próprio Central Park é mais movimentado que o centro de Nova Jersey. Mas eu gosto, sabe. Morei minha vida inteira em lugar deprimente, mas aqui é tão “capitalistamente” vivo (ei, essa palavra existe???), a Inglaterra é um lugar deprimente, não porque não é movimentado nem nada, eu adoro a Inglaterra, adoro de verdade, lá é o meu país, mas tudo lá é sempre tão cinza e chuvoso! As noites dentro de pubs são maravilhosas, mas os dias em baixo de um céu nublado e chuvoso não são nada animadores. Não me admira que a o maior índice suicida do mundo seja na Europa. O que estou querendo dizer é que quando os turistas vêm para Nova Iorque não estãorealmente a procura de descanso, ou talvez, sentir um pouco dessa vivacidade capitalista seja um descanso para eles. Respirei fundo, bebi mais uns goles de água antes de me levantar e começar a caminhar de volta para casa.
Cumprimentei Owen ao passar pelas portas do hall de entrada. Apertei o botão para chamar o elevador e esperei alguns minutos antes das portas se abrirem. Levantei o rosto quando ouvi o “plim” do elevador e prendi a respiração. – Ah, meu deus... – minha voz saiu num murmúrio. Ele levantou o rosto para mi e arregalou os verdes para mim, tão surpreso quanto eu. – CHARLIE! – JOSH!
Dissemos juntos. As portas do elevador começaram a se fechar e, como se o choque inicial tivesse passado, num movimento ágil, Josh, saiu do elevador. – Mas o que você... – ...tá fazendo aqui? Nós rimos. – Eu moro... – ... mudei ontem. – O QUE? – gritamos juntos e depois rimos outra vez. Eu o encarei e o abracei. Josh me apertou contra si e eu me senti miúda perto dele. Nos separamos e eu sorri para ele. – O que está fazendo aqui? – perguntei. – Eu me mudei ontem! – ele respondeu, colocando as mãos nos bolsos do jeans. – Não acredito! Mentira! – falei, arregalando os olhos e ele riu – poxa, Jay, por que não ligou? – Eu tentei hoje cedo! Mas só caía na caixa postal. Eu abri a boca para argumentar, mas me lembrei porque não havia atendido a ligação dele. – Saí parra correr e deixei o celular em casa. – falei, deixando os ombros caírem – Mas de qualquer forma, porque não ligou antes? Quando foi que chegou? – Era para ser uma surpresa, Benetti – ele disse semicerrando os olhos, por trás das lentes dos óculos – Eu queria me instalar antes e depois aparecer no seu apartamento de surpresa, nunca que eu ia imaginar que você estaria morando no mesmo prédio que eu. E eu aqui cheguei ontem a noite, mas era de madrugada... – Cheguei do trabalho onze e pouco ontem – falei.
– Por isso não nos vemos, mas eu só estou me instalando agora, aparentemente a companhia de mudança não faz mudanças de madrugada – ele falou e eu ri. – Eu ainda não acredito! Você? Vai morar em Nova Iorque? No meu prédio? – falei, ainda com os olhos arregalados. Ele deu de ombros. – Pensamos mais igual do que o permitido, coisinha! – ele falou – Bem, eu ficaria muito feliz se você me acompanhasse até lá fora, preciso pegar umas caixas e te mostrar meus novos aposentos. – Oh, com certeza, sr. Adams... Eu o acompanhei até o lado de fora do condomínio, onde um utilitário de mudanças estava com o porta-malas aberto. Ajudei Josh com as caixas depois de uma quase discussão sobre como eu era perfeitamente capaz de carregar peso mesmo sendo mulher, ele riu da minha cara, mandando eu ver como era magrela e baixinha, eu rolei os olhos e disse que ele era uma machista babaca e que a que a culpa não era minha se os meus 1,70 se reduziam vergonhosamente aos 1,85 dele. Ele riu e por fim, me deixou carregar duas caixas. Durante o caminho perguntei a Josh o porque dele ter se mudado e ele disse que a filial Nova Iorquina da empresa de cafés do pai tinha se tornado uma das mais importantes e que ele precisava de alguém que cuidasse dos negócios da loja por perto então ele se ofereceu, já que estava doido para sair de casa e morar sozinho. Enquanto caminhávamos lado a lado, conversando como se nunca tivéssemos nos separado, pecebi como Jos estava diferente e, ao mesmo tempo, tão igual ao que era no Ensino Médio. Os ombros largos, o dourado californiano da pele, a altura, a linha máscula do maxilar e a barba “três-dias-sem-fazer” eram coisas completamente novas nele; mas os olhos verdes atentos, os óculos enormes, a postura despreocupada e ao mesmo tempo tímida, a expressão irônica e travessa no rosto eram as mesmas. As mesmas que me proporcionavam aquele sentimento de familiaridade engraçado. Lidar com Josh era como lidar comigo mesma, só que sem parte da insegurança o que era muito bom. Pensávamos igual, queríamos as mesmas coisas, gostávamos e detestávamos as mesmas coisas. Com exceção de, bem, Logan.
Como era possível o Logan, uma das pessoas mais importantes da minha vida, ao lado de minha mãe e Kyle, não se dar bem com alguém que é, em termo técnicos, a minha cópia masculina? Talvez esse seja o caso, talvez se Josh não fosse homem e heterossexual, Logan pudesse gostar dele. Afinal, mesmo que ele jure de pé junto que não, era com ele que Logan “disputava” a minha atenção durante o intercâmbio. Novamente, uma idiotice, já que Logan monopolizou toda e qualquer atenção minha depois que começamos a namorar. Ele realmente fez isso, mas quem não corresponderia a aqueles olhos? De qualquer forma, conversar com Josh era como falar com o meu reflexo e Logan sabia disso, ele só interpretava as coisas de uma maneira diferente.
FLASHBACK Los Angeles, abril de 2009. – Logan, o que está fazen... – Sshh – ele fez, colocando a mão sobre a minha boca levemente. Eu pisquei e ele retirou a mão lentamente. – Desculpe – sussurrou e beijou meus lábios levemente. Por um segundo senti que ia desfalecer, eu ainda não tinha me acostumado a ideia de Logan me beijando sempre que quisesse, e toda vez que acontecia eu sentia minha pernas bambearem. – Tudo bem – falei, meio aérea e ele sorriu. Merda, Lerman, não faz isso. – O que está fazendo aqui? – perguntei baixinho. – Vim te ver!
– São três da manhã! – protestei. – Eu estava com saudades – ele disse e seus olhos caminharam dos meus olhos até meus lábios. Eu mordi o lábio. – A tia Carly pode acordar... – E você me diz isso, logo depois de morder o lábio – ele disse, suspirando – não prestei atenção em uma palavra do que você disse... Eu ri e balancei a cabeça. Nós tínhamos discutido no dia anterior, por conta da minha amizade com Josh novamente, mas era difícil ficar muito tempo sem sorrir para Logan. – Você tem que ir embora, Lelo – eu disse, tentando resistir ao sorrisinho torto dele, enquanto ele me abraçava pela cintura – AGORA! Ele riu e me soltou. Virou-se para sair pela janela e depois se voltou para mim, com uma expressão séria e me olhou nos olhos. – Me desculpe por ontem – ele falou. – Não quero ser chato e muito menos monopolizar você, Chars... Eu assenti, meio intimidada com o olhar intenso dele sobre mim. – É só que ás vezes vocês parecem tão iguais que fico imaginado se você não ficaria melhor com ele. – disse, franzindo as sobrancelhas. – Já pensou que o que me atrai em você seja essa suas diferenças em relação a minha personalidade? – perguntei e o canto de seus lábios se repuxou um sorrisinho – explicando de jeito brega e dramático, Wade, suas diferenças me completam... Ele riu. Eu me inclinei e beijei-o nos lábios. – Boa noite – ele murmurou antes de sair pela janela.
Afastei a lembrança da mente, eu não podia me render a Logan sempre que tivesse uma brecha, aquilo doía e eu não podia ficar me martirizando. Josh me contou sobre seu pai, que queria que ele cuidasse dos negócios da família e ele trancara a faculdade de inglês na UCLA para poder vir para cá. Perguntei se ele tinha intenção de terminá-la e ele respondeu que tentaria se transferir para uma faculdade daqui; falei para ele tentar na nyu no início do ano letivo e disse que o sistema de bolsas lá era ótimo. Depois perguntei a ele como decidiu que se mudaria e ele disse que há muito tempo estava doio para sair de casa, mas os pais o impediam, principalmente a mãe; a empresa precisar de alguém em Nova Iorque foi a oportunidade que teve e, mesmo sendo para fazer o que não queria (cuidar da empresa dos pais), valia a pena se fosse para morar sozinho. Nós já havíamos saído do elevador no quinto andar e Josh me guiou em direção ao apartamento 237. Ele destrancou a porta e empurrou-a com o pé, dando espaço para eu passar. Adentrei o apartamento, que era iluminado pela janela grande na parede oposta, Josh veio atrás de mim, acendendo a luz. Perguntei onde colocava a caixa, ele disse para que jogasse em qualquer lugar e eu a coloquei no chão perto da porta. Só então analisei o ambiente. Era completamente mobiliado, e algumas caixas estavam espalhadas pelos cômodos. – Comprou um apartamento mobiliado? – perguntei a Josh, erguendo a sobrancelha. Ele deu de ombros pousando as caixas que trazia no chão. – Nem todo mundo tem paciência para fazer compras – ele disse. – e meu pai estava bastante generoso... – Aproveitador – falei e ele riu. O apartamento não se parecia com o meu, com exceção da janela da sala, eu adorava aquela janela. A sala tinha paredes brancas e decorações de gesso entre o teto e a parede, o piso era em lajotas brancas e havia um tapete persa – que reconheci do porão da casa de Josh em L.A. – semi enrolado no meio da sala. E então havia uma estante de madeira com vários livros empilhados, uma TV de 27 polegadas desligada da tomada, um Xbox cheio de fios em cima e alguns jogos do lado e seu
notebook. Um sofå marrom chocolate em formato L com um monte de caixas em cima e seguia-se um pequeno corredor com a porta do banheiro, a cozinha ficava na frente e a porta para o quarto de Josh dava fim ao corredor. Ajudei Josh a arrumar o apartamento, tirando as coisas das caixas, colocando-as no lugar, ligando os eletrodomÊsticos na tomada e tudo mais o que se faz em uma mudança.
Colisão dos tempos Quando chegou a hora do almoço, levei Josh para almoçar hambúrgueres com muita mostarda no meu loft, já que os armários e geladeiras dele estavam desprovidos até de poeira já que eram novos. Prometi que o levaria para fazer compras no mercado. – Não tenho noção do que comprar – ele disse, antes de morder o lanche que segurava, – Por isso eu vou com você – falei – vou te ensinar como é uma vida de solteiro... Ele riu. – Vou viver de lasanha de micro-ondas e macarrão instantâneo – falou ele e parou de mastigar – vou engordar como um porco. – Ou pegar uma anemia – falei. Ele riu. – Muito obrigado, Charlie – ele disse – está me animando bastante! – Estou aqui para isso, Joshua – respondi, empinando o nariz. Então ficamos em silêncio de alguns minutos, Josh falou: – E você e o Lerman? Era difícil conversar sobre Logan com Josh, do mesmo jeito que era difícil conversar sobre Josh com Logan. Eu sempre me sentia desconfortável fazendo aquilo, e aquele momneto não foi exceção. – O que tem eu e ele? – perguntei. – Como vocês estão e tudo...? – Bem, - comecei e pigarreei – faz cinco meses que não nos vemos... Ele franziu as sobrancelhas. – Mas vocês terminaram ou...
Eu balancei a cabeça em negativa. – Só... Não conseguimos nos ver – falei – você sabe, não podemos ir ao encontro do outro a todo o momento... Nem em cinco meses. Josh assentiu com a cabeça, dando o assunto por encerrado. Naquele momento, era difícil falar sobre Logan com qualquer pessoa. – Prometo que te levo para jantar em um lugar decente, Jay – falei, por fim. – Só se for amanhã – ele falou, voltando a atenção para seu lanche. – Por que? – eu quis saber. – Preciso resolver umas coisas com meus pais hoje. Ele e mamãe vieram para Nova Iorque só para isso. Vamos jantar juntos. – Nossa... – falei, não sabendo o que falar ao certo – que... Agradável. – Nossa, que horrível, você querer dizer, não é – ele falou como se estivesse de saco cheio daquilo – eles só vão falar de negócios ou qualquer merda do gênero. A campainha começou a tocar desesperadamente e eu já sabia que era – ou melhor, quem eram – mesmo antes de pedir licença a Josh e ir até a sala para abrir a porta. – BOM DIA, MINHA FLOR! – Brooke gritou, arregalando os olhos azuis e mostrando seu recente clareamento denta. – Na verdade, já é tarde, Broo – falei, dando espaço para eles entrarem. – Ai, como você é desagradável! – Mark falou. – Mas eu só fal... – Tem comida aqui? – Brooke perguntou, já indo até a cozinha – estou morrendo de fome... – Tem. – falei seguindo-os – E vocês não sabem quem está aqui...
– Quem é você? – Brooke perguntou. Josh estava de costas, colocando seu prato e copo na pia se assustou com o tom acusatório de Brooke e se virou. Ele abriu a boca para falar, mas não saía nada, de repente ele pareceu o menino intimidado de quinze anos. – Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah, você é o Josh, certo?! – falou Brooke. Eu havia me esquecido que Josh e Brooke já haviam se conhecido no naquele dia no aniversário de Jake. – Sim... – disse Josh, um pouco mais relaxado, atravessando a cozinha até onde estávamos – e você é a Brooke, certo? – Isso mesmo! – Brooke falou, o cumprimentando com um beijinho na bochecha. – Josh esse é o Mark – falei, e segurei a risada e quando olhei para a cara espantada/maravilhada de Mark para Josh – Mark, esse é o Josh! – Muito prazer – Josh falou, sorrindo, esticou a mão e Mark apertou-a. Senti uma coisa boa ali, ao ver meu amigo do passado conhecendo meus amigos do presente, como de alguma forma eu conseguisse conciliar a Charlotte Intercambista de Londres com a Charlie pseudo Nova Iorquina. – Charlie, eu vou indo – Josh disse, colocando as mãos nos bolso dos jeans – preciso terminar de esvaziar aquelas caixas. – Tudo bem, marcamos o jantar para outro dia então? – falei. – Com certeza – ele disse. – Tchau, gente. – Tchau! – Mark e Brooke disseram em coro. Acompanhei Josh até a porta e lhe dei um beijo no rosto antes dele ir. Eu realmente estava feliz por tê-lo por perto novamente. Voltei para aqueles dois na sala, já esperando alguma reação de Mark sobre Josh e não me desapontei:
– Charlotte, meu bem – começou Mark, olhando para porta como se Josh ainda estivesse ali – quando você nos contou sobre Joshua Adams se esqueceu de comentar “super gostoso”! Eu olhei para Mark instantaneamente, arregalando os olhos, enquanto Brooke ria histericamente. Mark me encarou e franziu o cenho. – Não arregale esses olhos para mim, você sabe que estou certo! – ele disse e foi para a cozinha. – Ah, não sei, - começou Brookem – prefiro Daniels Pashmans. Eu ri e Mark franziu o cenho. – BROOKE! Pára com isso! Não venha dar uma de apaixonadinha! – Mark falou e então apontou para mim – Já não me basta essa aqui? – Quê? Eu não sou apaixonadinha - protestei. – Ah, não – falou Mar, usando todo o seu tom irônico – Só um pouco muito, Charlie! Passei o resto do sábado com aqueles dois, andamos por aí, se rumo e depois acompanhamos Mark que faria compras para o sei-lá-oque-evento-importante-blá-blá-blá-semana-que-vem. Ele gastou fácil trezentos dólares na Banana Republic. – Como consegue gastar tanto? – perguntei a ele, enquanto saiamos da loja. – Charlotte, quantas vezes preciso dizer: só me pergunte coisas que tenham uma resposta exata! – ele falou – Mas isso tem uma resposta exata: você é um consumista – eu falei, como se fosse óbvio. – Você também é uma. – Sou uma consumista passiva – me defendi. – Você acabou de inventar essa expressão – ele disse, semicerrando os olhos.
– Não significa que não seja verdade – eu falei. – Calem a boca, pelo amor de Deus! Parecem meus irmãos – Brooke falou e abriu a porta do motorista. Eu dei língua para Mark enquanto abria a porta do banco traseiro e ele me mostrou o dedo médio. Não voltamos para casa, fomos para um bar onde estava tendo música ao vivo no Brooklin. Nos sentamos em uma mesa do lado de fora do bar, ouvindo as músicas do Bob Dylan sendo tocadas no violão, o sol havia acabado de se pôr e tinha uma brisa leve no ar. Ficamos pouco ali, Broke e Mark só queriam me levar para sair e dar uma animada na minha vida triste-e-semLogan e eu fiquei agradecida por aquilo. Depois que eles me deixaram em casa, com a promessa de que voltariam, tomei um banho e me joguei no sofá da sala, ligando meu notebook, tentada a ligar para Logan novamente. POV LOGAN – Você precisa saber, Logan, que não fomos nós que levamos essa ideia para fora – George falava. Eu estava de braços cruzados, apoiado em um balcão o ouvindo explicar a situação-problema. M eu humor não era dos melhores depois que soubera o que estava se passando. – E agora que isso vazou, você tem duas opções: dizer a verdade, ou continuar com a brincadeira. Eu balancei a cabeça. – Não vou cooperar com uma coisa dessas, George – falei, decidido e dei de ombros – não posso. George passou a mão na testa, impaciente e depois voltou a falar: – Criemos uma terceira opção então – George começou – Você não se pronuncia. Nem verdadeiro, nem falso. Isso vai ser ótimo com os fãs... – Quantas vezes preciso dizer: eu não ligo para isso. Não ligo – fiz uma pausa – não me entenda mal, eu adoro o... pessoal... que... que... me
admira e tudo – simplesmente não consegui dizer “meus fãs” porque não consigo entender como alguém poder fã meu. Quero dizer, eu sou só um cara que ama filmes, não acho que seja digno de admiração – Mas não acho que eles precisem saber sobre essas coisas da minha vida. Poxa, cara, é a minha vida! – Por isso a terceira opção, filho, - George falou em tom descontraído – você não se pronuncia e eles pesam o que quiser... Fiquei em silêncio por alguns segundos. Nada daquilo me agradava. Nem um pouco. Nenhuma das três opções de George e muito menos toda aquela situação. – Eu não posso fazer isso com ela – falei – sei que disse a ela para não se importar com essas coisas, mas isso seria demais. Coopera com isso acabaria com tudo. – Mas você mesmo não está dizendo que não se importa com a opinião alheia? Eu ficava impressionado com a minha calma em relação a essas coisas. – Já ouviu falara que para toda regra existe uma exceção? – perguntei. – Claro. – Eu a amo, George – falei – e essa é a grande exceção. Ele bufou. – Me desculpe – falei e comecei a andar em direção a porta. – E os seus sonhos? – falou. Eu parei e me virei. – O que têm eles? – Sonhos acima de tudo, se lembra?! – falou ele – Foi você mesmo quem disse. Pense em como essa história poderia te ajudar no futuro, Logan...
– O problema – comecei – é que eu não consigo ver meus sonhos e futuro sem a Charlotte envolvida. Sua boca tornou-se uma linha, enquanto o olhar dele se intensificava. Ele disse: – Tudo bem. Você sabe o que faz. Eu assenti e saí. Respirei fundo quando cheguei ao fim do corredor, passe a mão pelo cabelo e encostei as costas na parede. Eu engoli em seco e peguei meu celular no bolso do jeans. Queria ligar para ela, dizer o que estava acontecendo antes que soubesse do e pelo jeito errado e começássemos uma puta briga desnecessária. É só que seria difícil resolvê-la a distância. Eu guardei o celular no bolso novamente. Eu era um filho da puta covarde e só conseguia xingar tudo e todos mentalmente. Acho que nuncatantos e diferentes palavrões passaram pela cabeça de alguém em um espaço de tempo tão curto. – Logan? – levantei o rosto. Era Alexandra. – Oi, Alex – cumprimentei com um meio sorriso. – Você falou com o George, não é?! – falou, se aproximando. Eu assenti. – Sinto muito – ela disse. Franzi as sobrancelhas e balancei a cabeça. – Não é sua culpa, Alex - falei – e não quero que pense que é. Por favor. Ela sorriu. – Tudo bem – falou e agarrou minha mão – vamos, o pessoal está esperando.
Cooler Ho... LOUISIANA? Três semanas haviam se passado. Estávamos na fila do festival de música Cooler Hot que acontece todo início de verão em Manhattan. No lugar onde se misturavam desde adolescentes de 16 anos a jovens adultos um pouco mais velhos que eu. Estávamos bem no início da fila para a pista premium, o que significa que ficaríamos pertinho d palco. Eu já havia me cansado de ficar duas horas seguidas em pé na fila, portanto estava jogada na sarjeta da calçada, bebendo água, Mark ao meu lado e Brooke em pé na nossa frente, fazendo sombra para nós. O pessoal ao nosso lado cantarolava músicas aleatórias, comiam, conversavam e riam alto. Eu simplesmente adorava esse clima pré-show, nada se compara a excitação da espera, a não ser talvez, o show em si. E nós íamos ter Arctic Monkeys, Foster The People e MGMT no mesmo dia, não tinha como se melhor! Estava bastante calor, por isso eu havia optado por um short de algodão estampado e uma regata azul com a abertura das mangas bem enorme e meus all star de guerra. Segundo Mark, eu havia exagerado na "hipstersagem" e queria ir para casa, trocar de roupa e exagerar na hipstersagem também. Eu havia administrado minhas últimas duas semanas, dividindo-as entre sair com Mark e Brooke, ajudar Josh com a nova vida de solteiro, trabalhar e sair com Mark, Brooke e Josh (eu incluía ele em todos os programas que fazíamos e fosse possível incluí-lo. Não queria que ele se sentisse só.). Felizmente, completei um ano trabalhando tanto na livraria, quanto no estágio e consegui minhas primeiras férias duplamente remuneradas. Falei pouco com Logan durante esse período, pois ele estava bem ocupado com as filmagens, mas prometi a ele que assim que ele voltasse para L.A. eu iria visitá-lo. Eu havia tentado durante esses dias parar de martirizar por conta da saudade que eu sentia dele e vinha dando certo, eu decidi parar de ficar me sentindo mal por isso, porque não havia muito o que fazer e sentar e chorar não era a minha cara. Além disso, eu estava me divertindo muito com meus amigos, e resolvi continuar com isso até quando pudesse ver Logan, só quando estivesse com ele pensaria e aproveitaria ao máximo. Eu disse isso a ele. Logan riu e perguntou se eu havia passado meu tempo na livraria lendo livro de auto ajuda. O mandei ir se ferrar. – Charlie - Mark sussurrou para mim e eu voltei minha atenção para ele - tem um ruivo muito gato encarando você faz uma hora.
Abri a boca para falar. – Não olhe agora - ele me interrompeu - ele está bem na sua frente. – MARK! - resmunguei. – É, Mark - manifestou-se Brooke - sua amiga favorita aqui solteira e você empurrando o ruivo gato pra amiga não favorita que já tem o Lerman. – Amiga favorita? – Empurrando? Mark e eu dissemos juntos. – Olhe, meu bem - começou Mark - se eu estivesse tentando empurrar alguém para aquele pedaço de mau caminho fazendo cosplay de fogo, esse alguém seria eu mesmo! Comecei a rir, enquanto Brooke fazia cara feia. – Sem falar que você que o Pashman - Mark terminou. – Exatamente - falei - o que acontecei com o seu pseudo romance com o Daniel? – Daniel mora em L.A. - ela explicou - não sou corajoso o suficiente a começar um relacionamento a distâcia. Muito menos sofrer por isso, como nossa amiga aqui - ela fez um gesto em minha direção. Eu abri a boca, indignada e semicerrei os olhos. – Que maldade - murmurei, balaçando a cabeça. Brooke ergueu os braços na altura das orelhas, em rendição. – Apenas verdade aqui, meu bem - ela falou. – Mudando de assunto - Mark voltou-se para mim - o seu amigo lindinho que andou saindo com a gente esses dias... – O Josh?
– Eu sei o nome dele, Charlotte. Estou tentando ser sútil aqui - ele reclamou e eu baixei a cabeça, rindo. - Então, eu sei e já estou conformado que ele é não gay... – E porque diz isso? - pergunou Broo. – Porque eu tenho gaydar - ele respondeu, empinando o nariz. – E vossa senhoria poderia nos dizer o que é isso? - perguntei. – É o radar gay - explicou - é quando você sabe que uma pessoal é homossexual mesmo nunca ter falado com a pessoa e mesmo que ela não deixe transparecer. – Faz sentido - falei. – Óbvio que faz - falou - continuando: por um acaso o sr. Adams não seja, sei lá, bi, ou algo do tipo? – Ou algo do tipo? - perguntou Brooke - Tipo o quê, panssexual, transsexual, travesti durante a noite? – AI QUE HORROR!! - comecei a rir. – ignore-a, Charlie - Mark falou - Agora me responda. – Olha, Mark, não me sinto a vontade falando sobre a vida pessoal de Josh - falei - Vocês são meus amigos, mas ele também. Não acho certo e.. – Ele é um cafajeste?! - Brooke falou, cheia de desdém. – Quê? Não, eu n... – É, ele é - concluiu Mark. – Ah! - eu fiz, apoiando a mão no queixo. - Sem comentários. Eles riram. – Por que ele não veio com a gente? - Brooke perguntou. – Ele estava ocupado com umas coisas da família - respondi - fiquei com dó, ele disse que queria vir.
– Também queria que ele viesse - Mark lamentou. Dei uma cotovelada nele. Quando faltava meia hora para os portões abrirem, no alternamos para ir ao banheiro na lanchonete do outro lado da rua - aquilo era um festival, usar o banheiro químico e sair do seu lugar na pista para procurar um banheiro químico estavam fora de cogitação. E quando todos voltamos para fila, cada um pegou sua mochila com comida de show (salgadinhos, biscoitos e água) e ficamos em pé, na expectativa. – Já sabem - Mark falou - Sem correr com uns condenados, mas nada de apreciar a vista! – Certo - falei, rindo. Então os portões se abriram e nós entramos. ... Eu estava acabada. Apenas isso, simplesmente isso. Entorpecida com o rsto de seretonina que ainda corria em minha veias, todo o meu corpo pulsava como se eu ainda estivesse pulando loucamente e as vozes maravilhosas de Alex Turner, Mark Foster e Andrew Vanwyngarden ecoando deliciosamente em meus ouvidos. A impressão que eu tinha era que ainda estaav lá no meio de todo mundo, cantando o mais alto que podia e ainda não aprecia o suficiente, e quanto mais eu pulava, mais queria ter folêgo para nunca para de pular. Precisava urgentemente me esticar em minha cama, mas trocaria qualquer descanço do mundo por mais quatorze horas de festival. Eram duas da manhã, mas eu sentia como se fosse meio-dia, saí caminhando aos pulos do show, indo para o estacionamento na rua de trás que, por conta do festival, tornara-se vinte e quatro horas. – Acho que esse foi o melhor show da minha vida - falei, jogandome no banco do passageiro. – É o que você sempre diz no final de todos os shows! - Brooke disse. Peguei meu celular no bolso e liguei a câmera.
– Foto! - anúnciei. Mark meteu-se entre o meu banco e de Brooke, que arregalou os olhos, dando o seu típico sorriso psycho, dei língua para a câmera e tirei a foto. Enquanto Brooke colocava o cinto e acelerava o carro, postei nossa foto no twitter e aproveitei para ver quem estava online e tudo. Descendo um pouco a timeline, ví Dean, dizendo no twitt que estava indo para Louisiana com Daniel, Lindsey e Lauren (a melhor amiga de Lindsey) visitar Logan. Hoje.
O que seria do mundo sem decisões de última hora? Como se tudo tivesse se dissipado da minha mente, e os acontecimentos recentes anulados temporariamente, fui para a agenda do celular, toquei em chamar no número do Dean e coloquei o telefone na orelha. – O que fo... Fiz sinal de silêncio enquanto Dean atendia ao telefone com a voz empolgada e não sonolenta como eu esperava: – E aí, Charleees! Eu ri, Dean me chamava de Charles no ensino médio quando eu ia ver os ensaios da Indigo. “Nome de homem, porque só homens podem ver o ensaio da banda”, ele dizia quando eu perguntava o porque do apelido. Depois de algum tempo abreviaram para Charlie. – Dean, tudo bom? – perguntei. – Com certeza, minha querida – falou – e com você? O que faz acordada uma hora dessas? – Tudo ótimo – respondi – Acabei de sair do melhor show de todos! – Que show? – O Cooler ho... – Hot? – Exatamente! – Ah, cara, eu estava doido para ir – confessou – o Arctic tocou não é?! – Tocou, foi muito bom, você não tem noção – falei, empolgada e ele riu – Dean, eu vi você comentando que vai pra Louisiana visitar o Logan e...
– Vamos sim, - falou - vamos amanhã, ou melhor, hoje ás três da tarde e ficaremos até terça-feira. Eu coloquei a mão no rosto. Não acredito que eu faria isso. – Eu posso ir junto? – perguntei, meio hesitante. Brooke desviou a atenção da direção para arregalar os olhos para mim como se eu fosse alguma louca. Apontei para a pista, pedindo silenciosamente para ela voltar a prestar atenção no volante enquanto Dean me respondia: – Óbvio que sim, né, Charlie?! – respondeu, sorri – Não a convidamos porque pensamos que ainda estaria ocupada com a faculdade e o trabalho... – Não, tudo bem – eu disse – Valeu, Dean. Eu já estou quase chegando em casa; vou tentar comprar as passagens pela internet e se der tudo certo posso te ligar para perguntar sobre o hotel e tudo? – Com certeza, vou ficar acordado arrumando as coisas aqui mesmo... – falou e depois de alguns segundos, continuou – Charlotte há quanto tempo exatamente você estava no festival? – Eu não sei – respondi, surpresa pela pergunta – acho que desde ás nove da manhã. – E VAI VIAJAR PARA OUTRO ESTADO DOZE HORAS DEPOIS? Só depois que ele falou a ideia soou absurda. Eu fechei os olhos, pensando por um instante, escondi o rosto na mão livre, suspirei e respondi: – Vou! Dean riu. – Charlie, se você quiser, nós podemos adiar a viagem para amanhã e... – NÃO – falei antes que ele terminasse. Eu não estragaria a viagem deles – está tudo bem, Dean, eu vou ficar bem! É sério...
– Olha, se você está dizendo, vou acreditar – ele disse – mas não haveria problema nenhum em adiar a viagem para amanhã. – Não, olha... – comecei e suspirei, não sabia o que falar ao certo. Não queria que Dean se sentisse culpado – É sério, vou ficar muito bem. Ligo para você assim que comprar as passagens, ok?! Não se preocupe, por favor. Ele riu outra vez. – Está bem, está bem – falou e suspirou – Vamos... dar uma animada na vida do Sr. Lerman... – Ah, quanto a isso – comecei - Não conte ao Logan que estou indo – falei, em tom de confidencial ele riu. – Pode deixar – ele falou, ainda rindo – ele vai meio que enlouquecer morrer e renascer como uma fênix quando você aparecer lá com a gente. – Acho que sim,- falei sorrindo – tirando a parte do “renascer como uma fênix” porque soou gay. – Até daqui a pouco então. Um beijo, coisinha. Eu sorri. – Até, Dean – e desliguei o celular. Encarei a pista escassa de carros. – Vou visitar Logan em Louisiana em doze horas! – anunciei, ainda olhando para a pista. Eles ficaram em silêncio, provavelmente refletindo sobre por que foram arranjar uma amiga doida como eu. – E eu achava que Brooke era a louca da turma – Mark falou. – Ei! – protestou a loira, franzindo o rosto. – Apenas verdades aqui, meu bem – Mark falou, imitando Brooke.
Eu ri. – Obrigada pelo apoio – resmunguei . Mark se arrastou até ficar atrás do meu banco e apoiar o queixo no mesmo. –Baby, você sabe que apoiamos todas as suas decisões – ele falou É só que viajar para outro estado doze horas antes do voo partir, depois de ter passado quase vinte horas em um festival é uma coisa muito hardcore para a nossa Charlie. Suspirei – Eu preciso vê-lo – falei, aquilo era um fato que ninguém podia discutir sobre – não aguento mais isso. E de repente me senti um pouco triste sem razão aparente; só pensava que se não fosse agora, não teria previsão para nada. Talvez no vessemos daqui uma semana, ou daqui mais cinco meses, ninguém sabia. E eu não queria arriscar saber. Dei um sorrisinho torto para meus amigos. – Nós vamos ajudar você, ok?! – Mark falou – tudo pela sua história de amor impossível! Sorri para ele.
Após chegarmos a minha casa, Brooke e Mark realmente me ajudaram com as malas enquanto eu comprava minhas passagens de Isa e volta para Louisiana, liguei para Dean avisando que meu voo sairia ás 14h50, ele falou que o deles sairia ás 15h25, então provavelmente chegaria mais cedo e combinamos de nos encontrar em frente ao portão de desembarque. Depois, pedi a Dean o nome do hotel que ficaríamos e aluguei um quarto, a diária era setenta e cinco dólares por pessos, o que significa que tinham ido trezentos dólares, além das passagens. Depois voltei minha atenção para as malas, eram apenas quatro dias, então foi difícil arrumar tudo o que precisasse, principalmente com a
ajuda de Mark e Brooke. Conseguimos organizar tudo em cerca de três horas, de modo que eram quase sete da manhã quando terminamos e nós estávamos acabados. Falei para eles dormirem em casa e irem embora depois que acordassem, mas eles recusaram, então me ofereci para leválos para casa, mas eles recusaram também, eu resmunguei e levei-os para casa mesmo assim. Quando estacionei o mini na garagem do condomínio eram sete e pouco da manhã, suspirei e saí do carro. Quando eu entrei no loft, fiquei esperando ser a vontade de me jogar no sofá e dormir até morrer me atingir, mas não aconteceu; eu estava agitada demais com tudo e meu cérebro estava a mil por hora, ou seja, nada de sono. Arrastei-me até o banheiro e tomei um banho morno e longo, lavando os cabelos, tentando relaxar o máximo possível. Depois que terminei o banho, sequei o cabelo rapidamente e deitei na cama, só por desencargo de consciência. Obviamente, não dormi, estava com medo de que, se caísse no sono, perderia a hora, então só fiquei descansando o corpo, esticada na cama, rolando de um lado para o outro; vez ou outra eu me lembrava de colocar alguma coisa na mala, então me levantava guardava a tal coisa e voltava a me deitar. As horas passaram mais rápido do que eu imaginei, e não me lembro se caí no sono alguma vez durante esse período. Eram 12h34min quando me levantei e fui para o guarda-roupa, escolher uma roupa. Nada de especial, jeans, camiseta e um cardigã, caso precisasse. Terminei de me arrumar e pensei por um instante, eu podia pegar um táxi até o aeroporto ou... Peguei meu celular, disquei o número e coloquei na orelha. – Alô? – Oi, Josh! – Oi, Charlie! Está tudo bem? – Claro. É que eu preciso de um favor... – Manda! Expliquei a situação a ele e perguntei se podia me levar ao aeroporto como o mini.
– Posso sim! – ele falou e eu sorri – Mas sem querer parecer intrometido, para aonde vai? Eu nem sabia que ia viajar. – É que foi meio de última hora, sabe?! – falei – estou indo para Louisiana visitar Logan. – Ah! – ele falou – mas como se resolve uma coisa dessas do nada? – Eu não sei – falei, porque realmente não sabia – eu simplesmente pensei que não tinha nada a perder se eu fosse e nada estava me impedindo de ir também. – É – falou e completou segundos depois – você tem razão... Josh disse que já estava subindo e quando ele apareceu no loft, me ajudou a carregar minha mala de rodinhas e minha mochila até o mini. Peguei uns pacotes de bolachae garrafas d’agua na cozinha e coloquei-os em minha mochila, eu não estava com fome no momento, mas sei que mais tarde ficaria (e comida de aeroporto é cara. E comida de avião é ruim, a menos que você esteja na primeira classe). Colocamos as bolsas no banco traseiro do carro e seguimos para o aeroporto. Josh e eu conversamos sobre algumas coisas, escutando músicas do rádio e eu contava a ele como havia sido o festival. Vinte e poucos minutos depois, ele estacionou o mini na frente do aeroporto e me ajudou a colocar a mala e a mochila em um carrinho. Perguntei se ele podia guardar as chaves do carro para mim até que eu voltasse e ele concordou sem problemas. O abracei, agradei e disse para ele se cuidar. Ele me beijou me beijou no rosto e disse “divirta-se”. – Mande um oi ao Lerman por mim – falou enquanto e o observava dar a volta no carro. Fiz uma careta, rindo. – Vou tentar. Ele riu, entrou no carro e eu acenei antes dele partir. Depois me virei e entrei no aeroporto, empurrando o carrinho. Peguei minhas passagens, fiz o check in, despachei minha mala, ficando apenas com a mochila e fui andar por aí, enquanto não dava a hora do meu voo. Eu estava com medo de sentar em algum banco e cair no soo, mas por sorte
o JFK é bem grande e eu entretive-me muito bem com a banca de jornal e a loja de lembrancinhas. Quem diabos iria querer uma lembrancinha do aeroporto? O aeroporto estava cheio por conta das férias de verão, e era difícil se movimentar por lá, de forma que quando a plataforma de embarque do meu voo foi liberada, fui direto para lá. Sentei-me ao lado de um casal com mais ou menos a minha idade (não por opção, acredite, aquele era o único lugar vazio!), quando cheguei à plataforma; falava algum tempo até a hora do voo então fiquei ouvindo música no iPod e trocando sms com Dean. A terceira sms chegou e eu já estava preparada para mais alguma bobagem de Dean quando vi o nome de Logan na tela. Minha boca abriu-se ligeiramente e fiquei meio receosa de abrir a mensagem e mandar louco “ESTOU INDO TE VERRR!!!!!” para ele. Não, Charlie, é só uma mesagem. Cliquei em ler. – O que está fazendo? ESTOU INDO TE VERRR!!!! – Nada de especial e você? Não era uma mentira, tecnicamente. Ficar sentada ali do lado de um casal que estava muito empenhado em demonstrar sua paixão publicamente não era o que eu chamaria de “fazer alguma coisa”. Ele respondeu. – Vivendo do ócio Eu ri e digitei. – Como somos produtivos para sociedade, hein?! – Demais! Mandei outra sms para ele alguns minutos depois: – Pensei que tinha uma reunião hoje...
– Ugh eu tenho, daqui duas horas. – Não seja chato – Estou tentando, mas as pessoas são tão entediantes aqui! – Está sendo chato – Tudo bem vou tentar ser “não chato” – Por que não tenta ser legal? – HAHA Aí você já está pedindo demais! Eu ri e peguei um pacote de biscoitos na bolsa, sentindo meu estômago roncar. Minutos depois outra sms chegou. – Charlie. – Oi? Ele demorou a responder. – Nada, não. Franzi o cenho. – Tem certeza? – Tenho, não é importante agora Eu não ia forçá-lo a falar, sabia que ele detestava isso, mesmo tendo ficado curiosa. Respondi: – Esta bem, se quiser conversar, estou aqui! – Ok A conversa se encerrou ali e os minutos se passaram rapidamente até a hora do embarque. O cansaço chegou naqueles minutos em que fiquei quieta, de modo que queria muito entrar no avião e dormir durante as duas horas e meia de voo. Era pouca coisa, mas pelo menos eu descansaria um pouco, eu precisava descansar um pouco. Dito e feito! Por sorte, minha poltrona era a da janela e, depois que decolamos, eu
afrouxei o cinto de segurança, abaixei a música no iPod e encostei a cabeça na janela. Nem me lembro de ter ouvido três segundos da música que começara antes de cair no sono.
A primeira coisa que vi quando abri os olhos foram nuvens, e aquela visão me deixou de bom humor. Finalmente estava indo ver Logan e finalmente a ficha estava caindo. Aquele pensamento me empolgou, queria ligar para ele e dizer que estava chegando, mas a cara de surpresa que ele faria quando me visse seria impagável. Demorou algum tempo até que a voz do capitão soasse, dizendo que pousaríamos em dez minutos, e quando isso aconteceu, eu já estava completamente animada e elétrica, o que fez o tempo passar cada vez mais lentamente. Eu só conseguia pensar na reação de Logan quando me visse. Pode falar, eu sou muito boba! O tempo entre o pouso e o aeroporto pareceu se arrastar, assim como a minha mala demorou a aparecer na esteira, assim como foi difícil achar um lugar vazio no portão de desembarque no qual o pessoal pudesse me ver assim que chegassem (o que também demorou dez séculos para acontecer!). Voltei a comer o resto das bolachas, fui ao banheiro e depois dei uma caminhada pelo aeroporto. Quando voltei ao portão em que desembarcara lá estavam eles. Dean, Daniel, Lindsey e Lauren. – OI CHARLIE! – Daniel gritou acenando e eu sorri. – Só chegou agora? – Dean perguntou enquanto eu me aproximava. Balancei a cabeça. – Fui andar por aí – falei – vocês demoraram séculos para chegar... Eu o abracei. – Que saudade de você, minha filha – ele falou e nos afastamos. – Digo o mesmo, pai – brinquei e ele riu.
– E aí, coisinha?! – Daniel falou e eu o abracei. – Como você está? – Apenas curtindo – ele falou, dando uma piscadela. – Como sempre – falei e fui até Lindsey – Oi, Linds! – Oi, Charlie! – ela me deu abraço de urso e eu fiquei tão feliz. Eu não sei, só era muito importante para mim que a família de Logan me aceitasse e eu ainda tinha esse complexo depois de dois anos e meio de namoro e quase seis anos que nos conhecíamos. – Sentimos sua falta lá em casa, faz tempo que não aparece por lá. – Também sinto a falta de vocês – falei, porque era verdade. Os Lerman haviam se tornado uma família alternativa para mim. Cumprimentei a fofíssima da Lauren, que era amiga de Lindsey desde sempre acho. Tipo Dean e Logan. Lauren era super divertida e era muito legal encher o saco dos meninos com ela. Parecíamos um bando de primosencrenqueiros de nove anos presos em um corpo de vinte poucos.
Pegamos um táxi – ou melhor, dois táxis; eu fui com Dean e Daniel em um, e as meninas foram em outro – até o centro de Louisiana onde ficava o hotel. Durante o caminho, Dean contou que Logan estava em um hotel diferente com o elenco de Mar de Monstros e passara o endereço de set de filmagens a Dean, caso eles quisessem dar uma passada lá. Dean teve que ligar para Logan para avisar que havíamos chegado, e colocou a chamada no viva-voz para que todos pudéssemos ouvir. Tive que me segurar para não gritar “eu estou aqui também!”. Ele estava tão perto e aquilo estava me deixando louca de euforia. Logan disse que iria para o hotel assim que a reunião acabasse, ou seja, em mais ou menos uma hora, se despediu e desligou o celular. – Ele nem desconfia – Dean falou, rindo.
Too close, finally Um pouco menos de uma hora depois de falar com Dean, fui dispensado da reunião e parti para o hotel do qual Dean me passara o endereço com um táxi. O hotel era bastante próximo propositalmente e, depois de pagar o taxista pela corrida fui direto a recepção, ligando para Dean. – E aí? – ele atendeu. – Estou aqui no saguão de recepção – falei. – Ok, estamos descendo! Desliguei o celular e fiquei ali. – Posso ajudá-lo, senhor? – voltei minha atenção à bela recepcionista atrás do balcão. – Ah, não, quero dizer, estou esperando uns amigos. Obrigado. – falei. – Ok, qualquer coisa é só chamar – ela sorriu e sumiu pela saída direita do balcão. Fiquei apoiado ali por alguns minutos, prestando atenção em nada e tudo ao mesmo tempo, bocejando uma hora ou outra. Eu realmente estava cansado, vinha ficando nos sets de filmagens até mais ou menos três da manhã para a, gravação de cenas noturnas, e acordando ás seis para voltar ao set. Pelo menos dormíamos em um hotel! O pior é quando temos que ficar no set a madrugada inteira e acabamos dormindo em trailers. Jake disse que se sente um escoteiro! Daí Alex falou que você dorme em barracas não em trailers quando se é escoteiro e que temos luxo demais para sermos escoteiros. Eu geralmente não me importo com luxo, riquezas e etc, mas se tem uma coisa que eu gosto, mesmo – segundo minha mãe, dormindo até em cima de uma pedra se estiver muito cansado, são camas confortáveis, ou uma noite bem dormida no geral. Não sei se é coisa da minha cabeça, se realmente é verdade, ou se estou certo, mas, em minha opinião depois de um vasto teste em camas de hotéis de todo país e até fora dele, a cama da Srta. Benetti em Nova Iorque é a melhor de todos os tempo!
Honestamente, me pergunto se existe algum tipo de poção do sono ali, ou se o fato de a cama pertencer a Charlotte e, noventa por cento das vezes que me deito ali, ela está ao meu lado já me tranquiliza o suficiente para não conseguir ficar deitado e acordado naquele colchão. Minha divagação interna sobre colchões fora interrompida quando, enquanto passava os olhos superficialmente pelo hall do hotel, um piano de cauda preencher minha visão. Parecia bastante antigo, como se estivesse no hotel desde que ele fora fundado (1833 de acordo com a placa na entrada), como tudo ali, ele era bem rústico propositalmente. Daí pensei em como Lindsey concordara em ficar em um lugar desses se tinha rinite e tudo ali a faria espirrar. Mas voltando ao piano: ele era deslumbrante e eu estava me segurando para não ir lá tocar, era como se dissesse “ei, cara, estou aqui, pronto para ser usado!”. Uma garota loura se aproximou do piano falando ao celular e como uma lata de refrigerante gelada na outra mão. Ela encostou a cintura no piano e pousou a lata no mesmo. Desviei o olhar, me controlando para não gritar com ela. Não é que eu seja chato, é só que as pessoas usam instrumentos como porta copos e isso me incomoda. Fui interrompido pela voz de Dean me chamando, voltei meu rosto para ele e vi ele e Daniel se aproximando. Esbocei um sorriso. – Fala, veado! – Dean falou antes de me abraçar daquele jeito estranho dele. Eu ri e cumprimentei Dan. – E aí, gente?! – falei. – Cara, eu não acredito que vim pra Nova Orleans para visitar você – Dean começou, fazendo-se de vítima – como você não agradece por esse anjo que chama de amigo? – falou, colocando a mão no peito. – Cala a boca, Collins – falei rindo – você só veio pelos bares, idiota... Daniel riu e colocou a mão no ombro de Dean e falou: – Você foi descoberto.
– Ah, cara, mas é tio, Nova Orleans, tá ligado?! – Dean falou, aqui tem o primeiro bar da America e ar tem cheiro de jazz, além do meu querido e amado amigo estar aqui precisando de uma visita. Já matei dois coelhos em uma machadada só. – Cadê as meninas? – perguntei a Daniel, ignorando as asneira de Dean. – Estão lá em cima terminando de arrumar as coisas – ele respondeu. – Cara, vamos numa churrascaria, preciso pedir para eles assarem um dragão para mim. – Vai com calma aí, sr. Canibal – falei – só porque é magro não significa que será a vida toda. – Diz isso para o meu estômago... – Eu não conheço nenhuma churrascaria – Dean falou. – Eu conheço - falei – fui a uma com o pessoal no início da semana. – Beleza, porque eu esto... – LOGGIE!!! – e pularam em minhas costas. Lindsey, claro. Virei-me e a abracei. – Oi, Linds. – Logan, estava com tanta saudade! Mamãe e papai também não estão se aguentado, eles me pediram para te mandar um beijo e mamãe pediu para eu ver se você está se alimentando bem e se não está bebendo toda a noite... – Fala como se eu fosse algum bêbado... Oi Lauren – abracei Lauren enquanto minha irmã continuava tagarelando. – E aí, vamos comer ou vocês precisam fazer alguma coisa antes de ir? – perguntei. – Ah, espere um instante – disse Dean e foi até o balcão, chamou a recepcionista e começou a conversar com ela.
– Logan, trouxe umas letras novas da Pacific para você – Daniel disse, eu sorri, se tinha uma coisa que me alegrava mais que tudo era a banda nova dos meus amigos – e trouxe o violão para tocarmos algumas delas... – Vamos fazer isso – falei. Dean voltou-se para nós novamente. – A recepcionista disse que o lugar mais próximo para a locação de carros já está fechado – Dean fez uma cara derrotada – que significa que vamos ter que pegar um táxi, e amanhã cedo ir alugar um carro. – Olha, por mim tudo be... – comecei a dizer. E eu pude vê-la além de Daniel e Dean, saindo apressada e eufórica do elevador. Era como se tivessem arrancado todas as palavras da minha boca e a única coisa que consegui dizer foi: – Puta merda. Fiquei paralisado, não sabia o que fazer, de repente era como se estivéssemos no ensino médio, um dia depois que ela me beijou na escada, eu a vi no corredor da escola e era como se não a visse por um ano ou mais, porque ela era a mesma pessoa, mas parecia tão diferente aos meus olhos. E a situação era a mesma ali. Quando ela parou de andar e os olhos dela alcançaram os meus a uns três metros de mim, abriu um sorriso eufórico, mas sem nenhum tipo de reação. Eu estava em êxtase só por vê-la e a minha cara deveria ser a mais idiota do planeta. Lá estava ela, a mesma de sempre, e aquilo era reconfortante, familiar e me tranquilizava de um jeito único; ao mesmo tempo em que eu sentia a minha pulsação acelerando e uma corrente elétrica passando pelo meu corpo. Ela era a mesma de cinco meses atrás, de um jeito maravilhoso: os mesmos jeans e tênis surrados, os mesmos olhos, e os lábios rosados. O cabelo estava diferente, talvez porque ela tenha mudado o corte, talvez porque a franja estava maior, e ela tinha mais olheiras embaixo dos olhos do que eu me lembrava. Mas não prestei muito atenção nisso, eu só conseguia pensar em como ela tinha um sorriso lindo e em como eu caminhava inconscientemente em direção a ele.
Quando a abracei foi como se tivessem injetado uma dose do que seria o café mais forte de todos, e eu senti o cansaço se esvaindo lentamente, como se de alguma forma, eu só precisasse dela para ficar forte, não importando as circunstâncias. Abracei Charlotte o mais forte que podia, porque mesmo ela sendo magra, era resistente o suficiente para aquilo, e quando ergui seus pés do chão, a escutei rindo e eu não pude deixar de rir também, beijando o topo de sua cabeça. Ela afastou o rosto do meu ombro, para poder me olhar, com um sorriso lindo e as bochechas coradas, e percebi seus olhos brilhando pelo que seriam lágrimas. – Você não vai chorar, vai? – murmurei, erguendo seu queixo com a mão. Ela balançou a cabeça em negativa antes de afundar o rosto na curva no meu pescoço e eu voltei a abraçá-la, com a mão subindo e descendo por suas costas. – Não posso ficar mais tanto tempo longe de você, Logan – sua voz saíra abafada – Não me deixa fazer uma besteira dessas... Nunca mais. Charlotte não usava termos absolutos, “sempre” e “nunca” estavam fora de seu vocabulário. Ela dizia que eram coisas muito fortes para se dizer e que nenhum sentimento era permanente o bastante para ser usado esses termos. – Sem termos absolutos, lembra?! – sussurrei e a senti rindo. – Estou enfrentando meu lado mais sentimental aqui, Logan, começou ela, sua voz era suave e doce cheia do sotaque mais melódico que já ouvi, e eu fechei os olhos enquanto ela falava, como se estivesse ouvindo uma das minhas músicas favoritas - nenhuma outra palavra vai ter a intensidade que preciso agora, com exceção dessa... Me afastei e segurei seu rosto entre as mãos antes de beijá-la. Seu beijo fica mais doce cada vez que a toco, e o modo como ela suspira entre um beijo e outro é encantador. Uma de suas mãos desceu até a gola de minha camiseta, enquanto a outra ia até minha nuca e fios elétricos passavam dos seus dedos para a minha pele, eu a apertei contra mim, aprofundando o beijo e ela arfou. Linda. Só conseguia descrevê-la assim. Ela se afastou um pouco e eu lhe dei vários beijos em suas bochechas, maçãs do rosto, canto dos lábios, maxilar e pescoço, enquanto ela ria.
– Babaca. – sussurrou, com resquício de risada na voz. Depois nos encontramos com o pessoal, que já nos esperava do lado de fora do hotel, e Charlotte enrubesceu fortemente e soltou um riso sem graça quando Dean disse “precisam de um quarto?”. Lindsey o socou no braço e deu uma piscadela em minha direção. Eu amo a minha irmã. Principalmente quando ela dá uma de durona. Juro que se um dia James fizer mal a ela, estiro o corpo dele numa pista de Fórmula Truck durante uma corrida. Durante nosso passeio me segurei ao máximo para não agarrar Charlotte a cada palavra que saia de sua boca, nem mesmo beijei-a depois que saímos do hotel, de alguma forma, eu sabia que não conseguiria parar se começasse (não faça esta cara, não sou um louco sexualmente ativo, só estava com saudades); é só que eu estava com saudades de todos, e queria aproveitar o tempo com eles, afinal, eu não os via desde de que as gravações de Mar de Monstros começara, com exceção de minha mãe, claro, já que ela está envolvida diretamente com a minha carreira e, mesmo depois de ter completado 18 anos, e ela ter deixado de ser minha empresária pessoal (havíamos combinado isso), é sempre bom quando ela aparece para me socorrer de algumas... situações. Mas de qualquer forma, faziam cinco meses, CINCO PORCARIAS DE MESES, que não eu tinha Charlotte por perto. Cara, eu já estava ficando deprimido. E acredite em mim quando digo que não é só por causa do sexo. Quero dizer, óbvio que isso contribui bastante, mas se fosse para eu escolher entre uma semana de sexo selvagem ou cinco meses com ela dormindo na mesma cama que eu, e apenas dormindo, com certeza eu escolheria a segunda opção. Por isso, tratei de segurar sua mão o tempo todo. Eu adoro segurar a mão da Charlotte, porque seus dedos são fininhos e ele realmente corresponde ao toque, não é como aquelas mãos mortas, ou daquelas que transpiram, embora estejam sempre quentes. O tempo passava rápido demais quando eu estava com eles. Dean falava tanta besteira que até uma pessoa com sérios problemas mentais olharia para ele e diria “Que cara retardado!”. E quando estávamos na churrascaria e minha costela doía de tanto rir, entendi o que a pessoa que disse “rir é o melhor remédio” quis dizer. Eu não sentia meus olhos se fechando involuntariamente, ou meu corpo pedindo arrego, ou Alex tendo que estalar os dedos em frente ao meu rosto me impedindo de cair no sono.
Alex. Eu havia me esquecido da situação complicada que estava. Precisava contar a Charlotte, mas não sabia como fazer isso. Meu Deus! Ela vai querer me enforcar até meus olhos saltarem para fora. Ou pior, vai se chatear comigo e vai embora. E eu ainda não sei como resolver um problema à distância. Sem falar que não estou a fim de estragar nosso fim de semana. Quando Charlotte retornou do banheiro da churrascaria e me encontrou com as sobrancelhas franzidas em uma crise interior, colocou a mão em meu ombro e perguntou o que eu tinha, em voz baixa. Sorri para ela e a beijei nos lábios.
– Caras, acho que vou explodir! – Dean falou com as mãos na barriga, depois que, quase ás dez da noite, saímos do restaurante. – Não perto de mim, por favor! – disse Lauren, indo para o outro lado de Linds. – Vem cá, Laurenzinha – Dean falava, enquanto tentava abraçar Lauren. Linsey esticou a mão para chamar o táxi e eu pigarreei. – Pessoal, levo Charlie ao hotel depois! – avisei – Leva? – Charlotte me encarou. U-hum – fiz. – Tudo bem, então – ela disse ela. – BOA NOITE, CASAAAAAAL! – Daniel gritou, sim, ele havia bebido um copo de vinho ou dez. Daniel entrou no banco da frente do táxi. – Boa noite, Dan – Chars disse, rindo. – Tchau, Loggie – Lindsey disse e me deu um beijo estalado no rosto. - Boa noite, Charlie. Charlotte disse boa noite a ela e Lauren e elas entraram no táxi.
– Não se percam, vou procurá-los no quarto amanhã, babys – Dean falou, entrando no táxi. – Pode ir, vamos esperar! – Charlotte disse. Dean fez de cara de endiabrado da janela do carro, depois fez um coração com as mãos e sorriu com a maior cara de idiota do planeta. Nós rimos e Dean mandou um beijo enquanto o táxi acelerava pela avenida. Me virei para Charlotte. – Agora somos eu e você – falei, puxando-a pela cintura. – Hmm, por que isso soa como uma ameaça? – perguntou ela. – Porque é. – falei – Estou sequestrando você. Agora você é uma donzela presa na torre mais alta. Ela riu e pousou as mãos em meu peito. – É irônico que minha bruxa má também seja meu príncipe encantado. – falou, erguendo a sobrancelha esquerda com a última palavra. – Não sou um príncipe encantado – falei – sou um vilão incrivelmente sexy e controlador e você está doida para possuir meu corpo. Ela riu, jogando a cabeça para trás. – Não me provoque sr. Vilão – ela disse. Semicerrei os olhos. – Fale provoque novamente. Sua boca fica to provocante quando você diz isso. Chars deu um sorrisinho, enrubescendo e baixando o rosto. – Logan, você faz isso de propósito, não é?! – murmurou. – Hmm, talvez – falei e agarrei a mão dela. – Vem, caso tenha se esquecido, estou te sequestrando.
Levei Charlotte a um daqueles cinemas ao ar livre, onde várias pessoas se estivam e dividiam mantas sentadas na grama ou em cadeiras de praia, e uma grande e improvisada tela de cinema exibia uma maratona de filmes. A sessão começara há uns dez minutos, e eles passavam ‘Laranja Mecânica’, (adoro o filme, Charlie ama o livro). O lugar estava apinhado de gente, casais, solteiros, quarentões, grupos de adolescentes e idosos curtindo a vida. Comprei um pacote de alcaçuz, que era vendido em uma barraquinha ali perto e nos sentamos na grama, com Charlotte encostada em meu ombro. Quando o filme acabou, o lugar havia esvaziado, mas a maioria ficara para ver o resto dos filmes. A maratona de melhores “clássicos contemporâneos” começara no dia anterior e eu estava doido para vir. O próximo filme foi ‘De volta para o futuro’. Obviamente, ficamos e assistimos. Por sorte estávamos no verão então só precisei passar o braço pelo ombro de Charlie por conta do sereno. Quando o filme acabou, fomos embora. Pergunte se Charlie queria ir para o hotel onde eu estava hospedado e ela disse que sim. E nós pegamos um táxi. Detesto pegar táxi de madrugada e quando estou com Charlotte, mas acho isso preferível que usar um motorista da produção. Por mais incrível que pareça, nós tivemos uma noite tranquila. Sem autógrafos, fotos e etc. E isso me deixou de bom humor, porque era disso que estava precisando, e tudo foi ótimo, mas só quando sentamos no táxi, percebi como estávamos cansados como o diabo. Charlotte se enroscou em mim dentro do táxi e fechou os olhos. Logo senti sua respiração ficar pesada e ela caiu no durante o curto percurso até o hotel. Consegui acordá-la só para sair do táxi e, depois que paguei a corrida, ela já estava abraçada a mim de novo e eu praticamente carreguei-a até o quarto. Eram dez para as quatro da manhã quando a coloquei na cama e tirei seus tênis meias e o jeans. Ela se encolheu, abraçando o travesseiro e eu sorri olhando para suas pernas nuas e a calcinha listrada em azul e branco. Depois tirei minha camisa e deitei ao lado dela, jogando o cobertor sobre nós, e a abracei pela cintura, trazendo-a para perto. – Boa noite, linda – sussurrei, beijando seu ombro. – hmmmmm – ela fez.
Eu ri e enfiei a cabeça em seu pescoço, satisfeito por finalmente terminar o dia do melhor jeito possĂvel.
Sem mais impedimentos Estávamos no Lafitte’s Blacksmith a mais ou menos uma hora; Logan tinha trago Alexandra, Jake (só para fazer uma média comigo) e sua namorada Allie também, então nós estávamos em nove, ocupando uma carreira de mesas de madeira escura perto da janela. O ambiente era mal iluminado e ao mesmo tempo confortável, o ar ali era um pouco úmido, já que era uma taverna e, como não podia ser diferente, jazz tocava suavemente pelos autofalantes. A história daquele lugar era quase palpável. Segundo Logan, o bar tinha sido criado em algum momento antes de 1772, tornando-o o bar mais antigo na America. As portas de madeira pareciam podres mesmo que bem cuidadas e os tijolos desgastados na fachada dava ao lugar a estranha impressão de casa abandonada, até o antigo poste de luz havia sido preservado, era como se virássemos a esquina e estávamos no século XVIII, e então dávamos três passos e estávamos de volta a 2012. Bebíamos cerveja de trincar os dentes de tão gelada, em grandes copos de chopp e eu me sentia em um comercial com toda aquela espuma transbordando e tudo. Dean mantinha a conversa acesa dando altas gargalhadas e contando piadas se fundamento algum, Daniel e Jake nos contavam sobre suas experiências bizarras, Logan fazia comentários desnecessários e idiotas, Allie e Alexandra, Lauren e Lindsay conversavam ao mesmo tempo entre elas e com os meninos. Eu apenas prestava atenção neles, rindo em noventa por cento do tempo, cheguei a puxar conversar com Allie, mas não sei se ela gostou de mim, já que quando a conversa se fez por terminada, ela se voltou para a Alexandra e não se referiu a minha pessoa novamente. Em alguns momentos, enquanto o pessoal estava distraído demais com suas próprias conversar, Logan sussurrava coisas em meu ouvido – coisas que eu não tenho coragem de repetir aqui – e tenho certeza que se a luz do Lafitte’s fosse um pouco mais clara, as pessoas teriam percebido o rubor tomando conta do meu rosto, então eu ria, encabulada, e baixava o rosto, ouvindo Logan gargalhar da minha atitude e me beijar no rosto. Não soltei a mão dele em nenhum segundo, pode parecer besteira, mas eu simplesmente não conseguia, precisava do calor dele próximo ao meu corpo de qualquer forma, ainda não tínhamos matado a saudade um do outro, pelo menos, não o suficiente. Olhe, se quer saber, duvido que essa saudade seja “assassinada” de outra forma se não fazendo as tais... coisas. Em alguns momentos eu me pegava observando Logan falando e falando,
mas não havia som e tudo era em câmera lenta, e ele sorria todo segundo e se virava para mim e erguia a sobrancelha, me analisando; parecia que cada movimento seu era feito de propósito para me deixar louca. Se eu fosse maluca ou talvez só um pouquinho ousada, arrancaria ele daquela cadeira e o levaria para o quarto do hotel. Pelo amor de Deus, como de repente esse lugar ficou tão quente? Bebi uns três ou quatro copos de cerveja antes de parar completamente, já não sou muito resistente à bebida e diminuí muito mais a quantidade depois do que aconteceu em outubro. Eu sentia vergonha de mim mesma só de pensar naquilo. Allie, Jake e Alexandra foram embora primeiro, senti minha cabeça ferver quando Alexandra se curvou sobre Logan e lhe deu um beijo no rosto, dizendo que o veria na segunda. Ela sorriu para mim, dizendo tchau e eu tentei não ser uma criança ciumenta e me despedi dela educadamente. Quando eles se foram, Dean, Daniel, Lauren e Lindsay fizeram a coisa mais legal da noite e meio que isolaram Logan e eu da conversa; eles sabiam que nós queríamos conversar e que não haviam tido tempo para isso, com exceção da noite passada, quando fomos àquele cinema ao ar livre; mas Logan tivera que ir gravar hoje, então nós acordamos ás seis da manhã, ele me levou de volta ao hotel, me beijou e foi para o set, onde ficou até mais ou menos ás cinco da tarde. Daí Dean, bêbado como é, teve a ideia de virmos ao Lafitte’s. Logan voltou o corpo todo para mim e pousou um dos braços no encosto da minha cadeira, eu continuei calada apenas observando ele me observar, queria falar um bilhão de coisas, mas nada pareceu importante o suficiente para que aquele momento fosse interrompido. Ele suspirou e sorriu antes de falar baixo, quase sussurrando: – Seus olhos... Estão parecendo gelo seco. Eu sorri. Ele esticou o braço livre e colocou uma mecha solta do meu cabelo atrás da orelha; senti um alívio com aquele carinho extremamente familiar – era uma mania que ele tinha desde o Ensino Médio, quando nem namorávamos – as coisas não tinham mudado tanto depois de cinco meses. Era isso então! A verdade é que eu tinha medo das coisas mudarem entre nós depois de tanto tempo sem se ver. Eu senti um bolo na garganta como se quisesse chorar, e tive uma vontade enorme de abraçar Logan como o abracei ontem depois que chegamos. Puxei minha
cadeira para mais perto dele, virando meu corpo e colocando uma das pernas entre as dele. Naquele momento eu já não me lembrava de que o resto do pessoal estava em volta, e todos os sons que não fossem a voz do Logan eram automaticamente ignorados pelo meu cérebro e se tornavam murmúrios abafados e distantes. Apoiei a mão no queixo bem pertinho do seu rosto, tão perto que podia sentir sua respiração; ele sorriu abertamente para mim e eu fiz o mesmo. Senti uma corrente elétrica passando pelo meu corpo quando seu nariz tocou minha bochecha levemente, deslizando de um lado para o outro até chegar ao canto dos meus lábios e depositar um beijo ali, uma de suas mãos foram para a minha cintura e eu me segurei para não agarrá-lo loucamente, e apenas senti o toque de seus lábios macios contra a minha pele e depois contra a minha boca e eu suspirei enquanto ele apertava as laterais da minha cintura, cuidadosamente levei a mão até sua nuca; ele se afastou somente o suficiente para me encarar e me dar um beijinho na ponta do meu nariz, eu ri e deixei minha testa repousar em seu ombro. Logan e eu resolvemos não conversar muito, as novidades já eram todas contadas pelo celular/skype/sms então ele só me tocava, me beijava e me fazia carinho, e eu correspondia. Eu estava êxtase de felicidade, não consegui parar de sorrir, e quando Logan me perguntava alguma coisa eu demorava a responder, porque estava meio aérea, e eu sentia seu diafragma vibrando enquanto ele ria. Depois de algum tempo paramos com aquela brincadeirinha, Logan e eu nos ajeitamos e ele passou o braço pelo encosto da minha cadeira. Nos enfiamos na conversa do pessoal que, aparentemente conversavam sobre a Pacific. – ...e conseguimos agendar os shows em Huntington para outubro – contava Daniel. – Huntington? – me manifestei – Não acredito! – Pode crer, dois shows em um final de semana – falou Dean, altivo. Huntington é uma cidade litorânea da Califórnia, no Condado de Orange, que fica logo abaixo de Los Angeles, geograficamente falando. Fomos para lá com a turma de formandos da BH High, no fim do Ensino médio. Passamos cinco dias na cidade e foi tudo tão... mágico. Logan e eu estávamos naquela fase “quase lá” e, bem, quase aconteceu várias vezes em Huntington, por isso tenho ótimas lembranças daquela cidade. O lugar
é realmente lindo, faz jus à fama de “Estado Dourado” que a Califórnia tem, sem falar na praia que é uma das melhores que já estive. Me sentei ereta na cadeira os ouvindo falar. – Conseguimos agendar para vinte e sete e vinte e oito de setembro, além do domingo que reservamos exclusivamente para a curtição – explicou Dean, todo empolgado e eu ri – Na sexta a noite, temos um show em um bar na avenida da praia e no sábado a noite vai ter um festivalzinho, ou melhor, um luau na praia com mais umas bandas. Agora falem, eu sou ou não sou demais? Todos rolaram os olhos e eu não fui exceção. Dean era um metido pretensioso, e o pior de tudo era que ele sabia, ás vezes me pergunto se é isso que nos faz gostar tanto dele. Apoiei os cotovelos na mesa e falei: – Bem, tirando o egocentrismo do sr. Collins Metido a Besta aqui... – Também te amo, Charlie! – Acho que vai ser incrível! De verdade, rapazes, estou ansiosa – falei, sorrindo abertamente. Dean e Daniel tinham muito talento, desde a Indigo já era possível perceber isso, eles só precisavam amadurecer e puff! Sucesso garantido. Torço muito para que a Pacific dê certo, as músicas deles são maravilhosas. – Sem falar que, CARA! É HUNTINGTON! – falei e eles riram da minha repentina empolgação. Mas o que eu podia fazer? Era Huntington! – Olhe, geralmente eu não dou trela para as suas imbecilidades, Dean, mas dessa vez você se superou... Dean acenou com a cabeça, em agradecimento. – Ora, muito obrigado Srta. Benetti. Conversamos sobre a Pacific e a viagem á Huntington por tempo indeterminado; faltavam três meses para a viagem acontecer, mas estávamos todos muito empolgados. E de repente em um estalo, pensei que Logan poderia estar em alguma gravação durante esse período, e implorei mentalmente para que ele, pelo menos, conseguisse folga para esse final de semana. Seria impensavelmente horrível voltar a Huntington
sem ele. Afastei aquele assunto para um canto escuro da mente, pensaríamos nisso mais tarde. Os intervalos entre um bocejo e outro de Logan estavam diminuindo, percebi que ele falava pouco e até piscava de maneira lenta, “Loganmente” falando, ele estava morrendo de sono. Era 1h57 da manhã e eu disse ao pessoal que eu e Logan estávamos indo para hotel e todo mundo concordou em ir embora; estávamos cansados da viagem e teríamos um longo dia amanhã. Só Dean não quis ir embora, mas, vocês sabem, é o Dean, e a opinião dele não conta!
Fomos para o “meu” hotel essa noite, porque Logan não trabalharia amanhã, então poderíamos dormir até cansar. Nos despedimos do pessoal quando passei o cartão-chave e Logan e eu entramos. Ele nem esperou que eu me virasse para ele antes de começar a me beijar. Sua boca estava em meu pescoço, beijando-o e mordendo-o com voracidade, mas em um ritmo lento e gostoso. Lamentei por não poder deixar marcas em seu pescoço e estava me esforçando para não fazê-lo (fotos, entrevistas, aparições em público, não seria nada legal Logan aparecer com marcas por aí). Logan me virou, abraçando minha cintura e eu passei os dedos pelos puxadores de seu jeans, trazendo-o para perto. Beijei-o nos lábios, intercalando entre beijos e mordidas. Suas mãos foram até a base da minha coluna, ele começou a subir minha camiseta lentamente e minha pele se arrepiou como seu toque. Puxei mais sua cintura contra a minha e ele andou, me segurando, me fazendo dar uns passos cegos até minhas costas encontrarem a parede. Logan ficou entre minhas pernas, levantando meus braços e segurou minhas mãos na altura da cabeça, entrelaçando nossos dedos. Eu estava o deixando comandar a situação, de forma que meus jeans e camiseta haviam sumido por algum lugar do quarto. Levantei sua camiseta e ele me ajudou a tirá-la por inteiro, deixei minha mão livre escorregar pelo seu abdômen e ele recuou ao toque, estremecendo um pouco. Nossas respirações estavam ofegantes e tivemos que nos separar quando não foi mais impossível ignorar a falta de ar. – Por um acaso, você anda malhando, sr. Lerman? – perguntei, ofegante.
– Se isso agrada vossa senhoria... Minhas mãos desceram pelo seu abdômen, parando em sua cintura, onde a sua “linha em V” que sempre existiu, estava mais acentuada, depois subiram para seus braços que estavam maiores, digo, a musculatura, sorri, sentindo minha pele formigar, enquanto ele voltava a me abraçar. – Bastante – respondi. Logan levou a atenção para meu pescoço, me prensando contra a parede, e eu deixei um suspiro pesado escapar quando senti, através de seus jeans, o quanto ele me desejava. Ele beijou meu maxilar, mordeu meu pescoço e fez uma trilha de beijos molhados até o meu colo, depois voltou para lábios, entrelaçando nossas línguas, passei o braços ao redor de seu pescoço, arqueando as costas, e colando nossos corpos em todos os lugares possíveis, Logan se afastou um pouco e tirou os tênis e as meias enquanto eu desbotava seu jeans desajeitadamente. Ele voltou a pensar na parede e a brincar com a minha boca, e suas mãos percorriam minhas costas, depois beijou meu ombro e conseguiu encontrar o fecho do meu sutiã. Ele o abriu e o fez escorregar pelos meus braços e jogá-lo longe. Senti todas as terminações nervosas do meu corpo ativas, quando seu peito nu tocou o meu sem nenhum obstáculo. Eu sentia o peito dele subindo e descendo junto ao meu, a pele quente colada a minha, suas mãos exploravam meu corpo de uma forma deliciosamente atrevida e eu estremeci e soltei um ruído baixo quando uma delas para o lugar entre minhas coxas. Eu abri as pernas e com um pequeno impulso as enrosquei na cintura de Logan, ficando alguns centímetros mais alta que ele. – Vai me deixar guiar hoje? – ele murmurou contra meus lábios. – Hoje, amanhã... – comecei, com a voz entrecortada e a respiração alta – faça o quiser comigo. Logan sorriu e prensou os lábios contra os meus, nos levando até a cama.
Mudanças de humor Logan me acordou com beijos. Beijos molhados trilhando minhas costas nuas e descobertas pelo lençol. A primeira coisa que ouvi foi a música de fundo, uma voz masculina meio rouca, calma e tranquila, e algumas notas instrumentais de algo que eu compararia a sensação com o balanço do mar se ondas, me embalava de uma forma única e a sensação era maravilhosa, mas eu não conseguia identificar a música, nem o cantor. Eu estava deitada de bruços com os braços enfiados nos milhões de travesseiros da cama do hotel. Um pouco antes de seus lábios chegarem ao meio de minhas omoplatas, Logan ficou sobre mim, com uma perna a cada lado do meu corpo, e eu soltei um suspiro pesado porque ele era mais pesado do que eu me lembrava; senti o tecido de algodão da sua calça ao redor do meu quadril e seu peito nu contra as minhas costas, Logan posicionou os braços na altura de minha cabeça, me encurralando, e eu ri internamente da posição ridícula que estávamos. Depois ele enfiou o rosto em meu pescoço, o cabelo molhado e o cheiro de sabonete denunciavam seu recente banho e eu me esqueci completamente de achar aquela posição esquisita com a respiração dele tão próxima a minha pele. Ele suspirou com os lábios contra meu pescoço e falou: – Eu sei que está acordada... Eu sorri, mas não respondi. Ele inspirou em meu pescoço e eu senti todas as minhas terminações nervosas reagindo, minha pele ficou sensível e arrepiada e eu tremi levemente por dentro. Logan riu, satisfeito com a minha reação e me beijou. – Você não vai levantar? Não sei mais o que faço, já estou em cima de você! Eu inconscientemente soltei um riso nasalado, me esquecendo do meu estado de sono fingido. – Srta. Benetti, você acabou de se denunciar – ele falou, e senti seu peito vibrar com a risada gostosa que soltou. Esfreguei o rosto no travesseiro, encolhendo-me mais entre os braços de Logan, pedindo pra que ele me abraçasse mais apertado silenciosamente e ele o fez. Estava com preguiça de mais para falar e,
naquele momento, meu cérebro achava que formar palavras era um trabalho muito duro e avançado para alguém no meu estado. E eu não queria sair dali! Estava tão quentinho e estranhamente confortável com Logan enroscado em minhas costas, pena que ele não calava a boca e voltava a dormir. – Não faça isso comigo, Chars... – ele beijou meu pescoço e depois o mordeu de leve, recuei me encolhendo – Não vou ficar o dia todo tentando te acordar. Logan roçou o rosto em minhas omoplatas antes de colocar o queixo em meu outro ombro. – Sua pele é tão macia – ele murmurou e beijou meu ombro, parecia que estava falando sozinho e eu achei engraçada a paciência dele comigo – Como você faz isso?! – aquilo era um pergunta retórica, certo?! A música mudou e eu reconheci essa com as primeiras notas de piano. Come on Skinny Love... – Just the last year – a voz de Logan era clara e lindamente calma em meus ouvidos. - Pour a little salt we were never here. Acho que essa era música favorita dele, você percebia isso só de ouvir o êxtase em sua voz, se é que isso é possível. De qualquer forma, era Bon Iver e, se não fosse pedir muito, eu podia ficar ouvindo Logan cantar o resto da vida. Logan saiu de cima de mim, caindo ao meu lado na cama e passou o braço pela minha cintura, me abraçando lateralmente. – Se eu voltar a dormir a culpa vai ser inteiramente sua – falou, e ele começou a mexer em meu cabelo, cantando baixinho – And I told you to be patient, I told you to be fine, I told you to be better, I told you to be kind... In the morning i'll be with you – Ele colocou uma mecha de meu cabelo atrás da orelha e beijou o canto dos meus lábios. – Como você quer eu acorde desse jeito? – sussurrei, sem abrir os olhos.
– Come on skinny Love – percebi que ele sorria ao cantar essa parte. – What happened here – cantei, quase inconscientemente. Digamos que eu só ouvia Bon Iver por influência do Logan, do mesmo jeito que ele só ouvia Arctic por minha influência, música era só mais uma das milhares de coisas que compartilhávamos. Quando a música acabou e Too Much to ask do Arctic começou a tocar, eu finalmente abri os olhos, Logan abriu um sorriso lindo para mim, daqueles que não tem um porque de ser lindo, não era charmoso ou tímido, ou safado, era só um sorriso, mas era lindo pelo simples fato de se sincero. – Bom dia! – falou, e eu sorri, escondendo o rosto no travesseiro, eu ainda não acreditava que estávamos dividindo a mesma cama depois de tanto tempo! – Bom dia – falei, e olhei para ele e ficamos nos encarando em silêncio. – Quer descer para comer ou quer que eu peça café no quaro? – perguntou. – Hmm, vamos descer – eu respondi – mas antes vou tomar um banho. – Ok – ele assentiu. Levantei-me da cama, pegando a toalha, me enrolando nela e indo até o banheiro. Tomar banho ouvindo música é a melhor coisa que existe, estava tão concentrada no meu show dentro do box, que nem havia percebido Logan encostado na porta, me observando cantar as músicas de sua playlist com um sorriso zombeteiro no rosto. – O que está fazendo? – perguntei a ele com as sobrancelhas erguidas. – Olhando você cantar – falou, rindo – já disse que gosto como se empolga facilmente cantando. Eu fiz uma careta para ele, e dei as costas, continuando meu banho.
Depois que saí do banho, enrolada na toalha, voltei ao quarto e Logan estava sentado na cama, com as costas na cabeceira e uma expressão de quase sofrimento no rosto, mas quando percebeu que eu havia entrado no quarto, a linha de sua mandíbula se apertou e ele forçou um sorriso para mim, como quando nos machucamos e ficamos quietos e de repente fazemos um movimento brusco e a dor volta à tona. Eu senti meu coração apertar e engoli seco, não era possível que algo tenha o chateado no período de vinte minutos! Comecei a me trocar, prestando atenção em sua expressão pensativa pelo canto dos olhos. Aproximei-me dele na cama, com o sutiã aberto nas costas e pedi para que ele fechasse para mim, ele o fez e eu coloquei a camiseta azul clara que segurava. Depois me virei para ele na cama e ficamos por tempo indeterminado em silêncio, eu olhando para ele e ele com o rosto baixo. – O que foi? – perguntei em voz baixa, por fim. Ele esticou a mão, tocando minha coxa. Parecia estar hesitando, como se precisasse dizer alguma coisa, mas não conseguisse. Seus olhos alcançaram os meus e ele me encarou intensamente. Logan me olha muito assim, mas dessa vez eu senti algo diferente. Eu estava curiosa e assustada pela repentina mudança de humor, ou simplesmente porque ele podia estar assim há algum tempo e eu não tinha percebido. Mas eu sabia que apressar as coisas só o deixaria mais inseguro e me acalmei, esperando que ele falasse a seu tempo. – Já sentiu como se tudo fosse uma grande piada cósmica? – ele perguntou, em um tom estranho de raiva e eu balancei a cabeça, assentindo, em parte porque concordava com o que ele falava, e em parte porque queria que continuasse. Logan soltou um riso sem humor e continuou. – Seja lá quem esteja, você sabe... – ele fez um movimento amplo com uma mão – cuidando disso tudo deve achar muito engraçado atrapalhar a vida das pessoas...
Franzi a sobrancelha, não sabia onde ele queria chegar, e todo aquele papo era muito estranho. – Lelo, o que houv...? – São coisas tão desnecessárias – disse e olhou para os lados, dando de ombros – faço de tudo para que as coisas sejam normais e para não ter problemas, mas, ainda sim, eles conseguem me atingir. – ele bateu a mão no colchão, não com força, mas como uma raiva simbólica – E como coisas idiotas – novamente soltou aquela risada sem humor. Eu não conseguia parar de observá-lo, queria captar o “algo mais” em sua expressão que seria o porque daquilo tudo, mas simplesmente não conseguia. Ele estava fechando a janela, me impedindo de vê-lo ou ouvi-lo com clareza e verdadeiramente, e aquilo estava me deixando meio triste, porque mesmo depois de tanto tempo, eu ainda não conseguia ser todo o apoio que Logan precisava, não sozinha. – Não sei aonde quer chegar – falei por fim – sinceramente, não sei. – Porque não é importante agora – respondeu, simplesmente. Tudo bem, agora eu estava mesmo chateada. – Não é importante agora – repeti, cruzando os braços e ele assentiu – nunca importante falar sobre você, não é?! Eu sabia que estava levando a discussão mais longe do que deveria ir, mas eu precisava, eram problemas e tinha que ser resolvido, por menores que fossem, isso podia nos afetar monstruosamente no futuro. – Não entendo porque não se abre comigo, - comecei, continuávamos falando em voz baixa - por que tem que ser tão enigmático? Por que só quer conversar sobre nós e sobre os meusinteresses e nunca sobre você? – Eu posso resolver meus problemas sozinho – ele respondeu e, naquele momento, nós dois sentimos a dor daquelas palavras, porque Logan levantara os olhos para mim numa expressão surpresa, como se por um acaso as palavras tivessem saído de sua boca.
As explicações para aquilo eram: Logan não confiava em mim o suficiente para discutirmos sobre seus problemas; ou Logan não achava que eu precisava saber daquilo; ou que eu não me importaria; ou os três juntos. Eram poucas, porém duras palavras, ambos sabíamos que era verdade – ninguém discutia que Logan era perfeitamente capaz de resolver seus próprios problemas, mas todo mundo precisa de um apoio –, o negócio era o modo como estávamos interpretando aquela frase. Ambiguidade é uma coisa do demônio criada para nos enlouquecer em momentos como este. – Charlie, eu não quis dizer... Fiz um gesto cansado com a mão, pedindo para que ele deixasse para lá. – Eu acho que entendo – falei, eu queria ser o apoio para Logan, mas como ele ia fazer isso se eu mesma não dava atenção que ele merecia?! E aqui estava eu, respondendo a pergunta que me fizera quando vi sentado na cama: ele já estava assim há algum tempo, e eu não havia percebido. – Não entende, não – ele falou – quero dizer, aposto que está pensando em como não é boa o bastante para que eu confie em você e como se fosse você em meu lugar, também não contaria e blá blá blá – ele riu e entrelaçou nossos dedos, procurando meu olhar baixo – Não é isso, Charlie. Não é você, nunca é você! Eu olhei para ele, que esperava uma resposta visual, em expectativa. Novamente, o foco estava voltado para mim. Estávamos indo bem, era para falarmos sobre Logan, mas cá estava ele, consolando a minha insegurança cretina que me traía a cada pequena brecha que se abria para ela. Soltei nossas mãos e me levantei da cama. Se não íamos falar sobre ele, também não íamos falar sobre mim! – Eu vou... lá em baixo – falei, coloquei os chinelos e fui até a porta e ouvi os passos de Logan atrás de mim. – Não – falei – vou sozinha...
– Chars, pára com isso – ele falou e me virei para ele. – Então, fala! – cruzei os braços – Qual é o problema? – Não tem problema – ele disse e depois de uma pausa – ainda. Eu olhei para ele como se dissesse “continua”. – Não vamos falar sobre isso agora – ele falou, em tom decidido. – Ótimo, me avise quando mudar de ideia – falei, mesmo sabendo que ele não mudaria. Virei-me para porta e girei a maçaneta, mas Logan foi mais rápido e me segurou pela cintura, me puxando para perto de seu corpo e me abraçando, não correspondi de primeira, porque ainda estava com raiva da situação, mas ele me abraçava de um jeito tão desesperado que foi impossível não retribuir. Ele apertou os braços ao redor do meu corpo, grudando minha cintura na sua e encostando o rosto em meu ombro e começou a beijá-lo e, por conta de um movimento brusco de seu peito, tive a impressão de que ele estava chorando, então me afastei dele para encará-lo. Ele não estava chorando, mas parecia estar furioso e triste, e esses sentimentos nunca estiveram mais aparentes em seu rosto. Finalmente ele estava abrindo a janela, eu só precisava insistir mais um pouquinho e Logan falaria... Mas ele me beijou, e os pensamentos fugiram, se desmancharam como se tivessem jogado água numa tela com uma pintura aquarela que acabara de ser pintada. Foi beijo longo e doce, e ele levou a mão até minha nuca, puxando-a contra ele, para facilitar o acesso a minha boca e cedi completamente, descendo as mãos pelos seus braços que me envolviam possessivamente. Mas eu não ia deixar isso para lá, não dessa vez, precisava saber e um pouco antes de realmente necessitar de ar, me desvencilhei dele. – Logan, não! – falei e embora não estivesse um tom ríspido, as palavras já tinham essa função. Ele me olhou – Eu só quero que você fale, - ele abriu a boca para falar, mas eu fui mais rápida – não me peça pra ficar, ou pra não ficar brava, não me peça pra entender, não me peça pra
ser paciente. Eu só quero que você fale, só quero que converse comigo, só isso... Ele passou a mão pelo cabelo, depois escondeu o rosto nas mãos e respirou fundo, segundos depois, quando levantou o rosto, seus olhos estavam vermelhos e, agora sim, ele estava prestes a chorar. Não faz isso, pensei, se ele chorasse, eu não ia aguentar e ia ceder COMPLETAMENTE. Então ele me olhou finalmente, respirando pesadamente, o rosto bem próximo ao meu. Com a voz baixa e num tom embargado, porém decidido, ele disse: – Eu vou terminar com você.
Início do fim “Passageiros do voo 7810 com destino a Nova Iorque, aqui é o capitão Heinz falando. Estaremos pousando dentro de dez minutos, peço para que desliguem todos os aparelhos eletrônicos e apertem as travas de segurança. A Airbus usa agradece a preferência. Obrigado e até a próxima." As aeromoças já passavam entre os corredores, acordando passageiros e verificando os cintos. Ajeitei-me na poltrona, apertei meu cinto de segurança e verifiquei se meu celular estava mesmo desligado. Minha cabeça doía tanto que eu não enxergava dois palmos a minha frente, quis ter uma cartela inteira de remédio para dor comigo, ou qualquer morfináceo para poder dormir. Minha cabeça ficava voltando para Louisiana, para aquele quarto de hotel, para ele, dizendo que não me queria mais. Aquilo não fazia sentido algum, ele não tinha o direito de fazer uma coisa dessas. Como ele resolve terminar comigo assim, como ele resolve parar de me amar e não ter nem noção disso? Foi como se ele dissesse "ei, Charlie, depois que nós transamos eu percebi que não te amo mais, me desculpe". Eu me sentia pesada, como se não conseguisse mais erguer os ombros, angustiada porque aquilo não parecia certo, e sentia como se segurasse meu coração nas mãos, completamente desprotegido, apenas esperando que alguém o ferisse mais, ou então esperando os olhares de pena; mas principalmente, eu sentia vontade de chorar, uma vontade imensa, achei que pudesse explodir se não colocasse toda aquela dor para fora. Depois que saí do hotel às pressas, tentei me distrair com qualquer coisa, obviamente isso não aconteceu, porque ele ficava voltando, seu rosto sorrindo e me beijando e mesmo depois de tudo que ele dissera no quarto, eu sabia que o que tínhamos era verdadeiro, e eu queria me socar por isso. Ele não te ama, será que não entende?, fiquei repetindo isso a mim mesma enquanto andava sem rumo, á procura de táxi, as lágrimas embaçavam minha visão e eu só queria chegar em casa a qualquer custo. O taxista perguntou se eu estava bem, a moça do check in perguntou se eu estava bem, a senhora que se sentou ao meu lado no avião perguntou se algo me acontecera e, por fim, a aeromoça perguntou se eu me sentia mal e se eu queria alguma coisa, pedi um analgésico a ela e depois fui ao banheiro e vi no reflexo do iPhone que meus olhos inchados e minhas feições apáticas denunciavam a minha dor mais que tudo. Então baixei a tampa do vaso sanitário, sentei-me e finalmente desabei a chorar (o que
não havia acontecido desde que eu saíra do quarto do hotel), chorei sem fazer ruído, só fungando de vez em quando, mas em alguns momentos eu sentia um negocio tão ruim na garganta, tão horrível que eu deixava um soluço escapar. Eu me detestava por não conseguir odiá-lo, por pensar que ele mentiu quando sutilmente disse que não me queria mais, e a vontade que eu tinha de chutar e bater e socar Logan, era por ele estar mentindo, por estar me fazendo sofrer mesmo ele não sentindo de verdade aquelas coisas que me dissera. Então, eu pensei se todo mundo se sentia assim após um (e minha cabeça girou só de pensar nessa palavra) término. E pensei no porque de nos ligarmos tanto emocionalmente e fisicamente ás pessoa que a qualquer momento podiam ir embora e (com ou sem a intenção de) nos machucar. O analgésico estava começando a fazer efeito e minhas pálpebras estavam pesadas. Lavei o rosto, amenizando bem pouco a situação, eu voltei a minha poltrona e dormi por cerca de uma hora.
Depois que saí do aeroporto, liguei meu iPhone e havia um bilhão de mensagens e ligações perdidas de Mark, Brooke, Daniel, Dean e Lindsey. Não retornei nenhuma, mas quando Mark ligou novamente, eu atendi, pois meus amigos não tinham que ficar preocupados por uma coisa que eles nem sabiam que havia acontecido. Mark perguntou se eu estava bem e eu disse que sim, então ele falou que Daniel ligara para Brooke contando o que acontece e perguntou se eu estava com eles porque Logan estava preocupado, então eu comecei a rir, e aí sim, consegui, mentalmente, chamá-lo de filho da puta incontáveis vezes. E comecei a chorar de novo. Consegui dizer a Mark que estava bem e ele perguntou se eu queria companhia, mas eu disse que não, obrigada. Por sorte não era Owen na portaria do prédio, de modo que apenas peguei a chave do meu loft e subi pelo elevador. A primeira coisa que fiz depois que entrei em meu loft foi jogar a mala e a mochila no chão da sala e me deitar no sofá. Eu havia parado de chorar, mas o sangue da minha cabeça pulsava como se não existisse amanha, eu sabia que deveria tomar um comprimido, ou banho para me acalmar, mas eu já estava sentindo aquela sonolência pós-choro e me rendendo por completo a ela. FLASHBACK
Depois daquelas últimas palavras, proferidas lentamente e com desespero transbordando de seus olhos heterocromáticos, eu senti seu hálito fresco batendo em meu rosto, enquanto a ficha caía e eu sentia tudo a minha volta girar e se desfocar, como se nada fosse tão importante quanto ele e sua voz. Depois de segundos que pareceram horas, consegui reagir, minha boca abriu e fechou várias vezes, mas nada parecia ser uma resposta racional para aquilo. – O que? - perguntei com a voz tão fraca quanto um sopro. Ele fechou os olhos, soltando o ar que segurava desde as últimas que dissera, e fechou os olhos lentamente. – Não me faça repetir. – Está falando sério?! - falei rapidamente. Logan olhou para baixo e com o típico "quem cala consente" ele me respondeu que sim, estava falando sério. Balancei a cabeça, sentindo uma tontura mórbida, e algo ruim crescendo no peito e na garganta. Afasteime dele, com a mão na testa e comecei andar de um lado para outro, sentindo as paredes do quarto se fechando. Ele não ia fazer isso, ele não ia. Por favor, não faz isso. A claustrofobia estava aumentando, eu precisava me acalmar antes de ter um ataque. Aquilo só podia ser um mal entendido, não era possível! – Você... - comecei, ainda olhando para lá e para cá com os olhos de Logan sobre mim. - você vai me deixar...? Você vai... Sentei-me na cama e coloquei o rosto nas mãos. Relaxe, Charlie. Suspirei algumas vezes até a pulsação voltar ao normal, então levantei a cabeça para encara-lo. – Não faz isso comigo, Logan. - pedi, seus olhos estavam opacos e desfocados, e quando me encarou foi pior que receber uma facada no estomago. Responde. Responde. – Responde, porra! - tudo bem, eu estava descontrolada.
Mas ele continuou calado e inconscientemente eu comecei a soluçar e só aí percebi que as lágrimas ameaçavam a descer. Respirei mais algumas vezes antes de voltar a falar: – tudo bem, olha, me perdoa - falei, levanto-me e indo até ele - não queria gritar. Mas vamos conversar, vem. Como qualquer casal faz... Isso é só um mal entendido - segurei sua mão, levando-o para cama e ele foi sem reclamar. – Não é, não - murmurou ele, finalmente, depois que nos sentamos na cama - é o que vou fazer. – Logan... - fechei os olhos. – Não torne mais difícil - interrompeu-me. – Não vou terminar com você - falei e encarei-o no fundo dos olhos - eu amo você, está me ouvindo?! Amo você! E você me ama, você disse isso ontem, eu senti isso ontem. Não adianta dizer que não, nem você mentiria tão bem! Ele apenas baixou a cabeça e continuou calado. POV LOGAN Passei o cartão na porta, sentindo como se monstros estivessem travando uma batalha dentro de mim e tivessem arrancado um pedaço muito importante, e eu me sentia vazio sem ela. Ela. Quis correr atrás dela assim que fechou a porta, e dizer que aquilo tudo era mentira, que eu a amo mais que tudo e por amá-la preciso deixá-la ir. Eu não quero que a façam sofrer, não quero que afetem a vida dela e destruam a normalidade da mesma. George disse que fariam isso. E pode ser contra tudo em que acredito, mas ela não vai estar perto de mim para que eu possa protegê-la dessas coisas. Mesmo pensando que fora a decisão certa, aquilo tudo me parecia tão errado! E eu me sentia tão vazio. – Logan?! Alex estava parada no corredor, com uma mão sobre a parede, me observando com seus grandes olhos azuis. Dei um sorrisinho para ela, que continuou se aproximando.
– O que hou... – Eu terminei. Ela abriu a boca. – Tive que fazer isso - falei - você estava lá, você ouviu o George! Ela assentiu lentamente, se aproximando. – Eles são cruéis, Alex - falei - Não a deixariam em paz e eu não quero que atrapalhem a vid... Alex me abraçou, um abraço de consolo e reconfortante, então se afastou e sorriu. – Não é permanente, Loggie - falou ela - vocês vão ficar juntos de novo... – Não depois do que eu disse - falei - eu disse a ela que estar perto só trazia problemas. Alex balançou a cabeça. – Ela vai te perdoar, ela ama você! Eu dei um meio sorriso para ela. – Valeu, Alex - eu disse. Ela assentiu com um sorriso. – Não me agradeça, - falou ela - isso não vai servir para nada se você não acreditar e concordar de verdade. Eu passei a língua nos lábios, baixando a cabeça. – Fica bem, tá legal?! - falou - estou aqui lá no bar se precisar conversar. Eu sorri para ela. – Obrigado, Alex. - disse. - Mesmo.
Ela segurou minha mão e apertou-a, me olhando nos olhos, dando ênfase ao que dissera. Alex é uma das pessoas mais gentis que já conheci, ela tem um coração bom e uma risada ótima, uma pessoa maravilhosa para se ter por perto.E por mais que elas nem mesmo conversem quando estão juntas, e aparentemente não terem nenhum interesse em comum, Alex é bastante sincera quando diz que espera que minha relação com a Charlie dê muito certo por um longo tempo. Relação que eu fiz o favor de estragar. Só de pensar que vou ter que esperar mais um bom tempo até a poeira da grande cagada que eu fiz abaixar, já sinto um bolo na garganta. Cara, eu tinha acabado de tê-la de volta, por que tive que abrir a merda da minha boca tão cedo? Ainda podíamos esperar um pouco, talvez o tempo desse um jeito na situação, mas não, eu tinha que estragar as coisas! Alex se despediu, me pedindo para não ficar tão mal, eu assenti, ela se foi e eu me virei para entrar no quarto.
POV CHARLIE Quando voltei a acordar, tudo que enxerguei foi o breu. Meu loft estava num perfeito estado de escuridão e, sinceramente, me sentia extremamente confortável daquele jeito, como se o mundo todo estivesse em equilíbrio, ou apenas todos os elementos da terra sussurrando entre si "vamos deixá-la quietinha, no escuro. Talvez ajude.". Mas então o barulho que me fizera acordar ecoou novamente pela sala. Batidas na porta. Refleti comigo mesma a possível decisão de manter aquela porta fechada, e em alguns minutos voltar ao meu antro de paz e dormir até o fim das férias. Nada disso. Eu me levantei, ainda sentido com se um piano de cauda estivesse pendurado em meus ombros, caminhei até a porta e contei até cinco antes de abri-la. Os olhos arregalados de Mark e Brooke preencheram a escuridão em volta. Não havia luz nem no corredor. Eles me encararam por alguns segundos, não sabendo como agir, segurando sacos de papel pardo, cheios de alguma coisa desconhecida por mim até então. – Acabou a energia em alguns quarteirões - Mark quebrou o silêncio - viemos fazer companhia.
Eu abri um pequeno sorriso e Brooke continuou: – Trouxemos sorvete! - falou, num tom sussurrado e calmo e por um momento quase não pareceu Brooke - e lanternas! - ela riu e apontou uma lanterna ligada para meu rosto. – Saíram no meio de um blackout em Manhattan para virem me fazer companhia? - perguntei, minha voz tão embargada pelo chora quanto quando falara com Brooke ao telefone horas antes. Eles assentiram. Eu ia chorar de novo e dessa vez com vontade, não me importei que estivesse sendo dramática, afinal, uma das pessoas mais importantes da minha vida me deixara e eu era inexperiente em lidar com isso. Podia lidar com a saudade. Mas com um "adeus, talvez te veja por aí em trinta anos" aparentemente era muita coisa para mim. Xinguei-me de fraca mentalmente quando o termo desabafar se fez tão convidativo. Brooke e Mark ainda me olhavam em expectativa e eu funguei, entregando-me a dor, talvez ela amenizasse depois de uma série de consolo e choradeira. – Vocês são os melhores amigos de todos! - falei, me jogando nos braços de Brooke que retribuiu o abraço com um "oh amiga".
POV LOGAN – Ainda não acredito que você fez isso... - Dean falava, pesarosamente. Ele estava sentado na poltrona ao lado da cama do hotel com o olhar tenso e desfocado. – E você acha que eu acredito? - falei, estava esparramado na cama, olhando fixamente para teto, tentando lembrar quando eu decidi começar a tomar decisões impulsivas. – Cara, você tem noção do que fez? - Dean perguntou, indignado. Ele ficou muito puto quando contei pelo telefone sobre o término terminou com o amor da sua vida por causa de mídia. Logan, cara, eu
entendo seu lado, mas vocês já passaram por tanta coisa juntos e do nada decide que eles vão afetar a vida dela? – George disse isso - me defendi. – Não importa, cara - falou - Ela é a sua menina, irmão, como você faz um negócio desses? Esfreguei o rosto com as mãos e segurei o cabelo, respirando fundo, tentando fazer aquela angustia se esvair com o ar, mas sem um mínimo sucesso. Queria esganar Dean por ter razão, mas ele estava fazendo o seu papel de melhor amigo sendo sincero comigo. – Dean, você não está ajudando! - resmunguei. Ele suspirou. – Tem razão, - falou - vim aqui pra te dar uma força, não é?! Ele se levantou e deu dois tapas no meu ombro. – Já que a merda está feita - continuou - vamos ver o lado bom das coisas: você é jovem, tem toda uma vida de sucesso pela frente, e o terceiro garota mais fofo da atualidade segundo a teen vogue desse mês. Eu ri. Só Dean para nos tirar risos nas horas mais improváveis. – Você tem duas opções... – A Brooke disse que ela já está em casa. - Daniel disse, irrompendo pela porta da varanda. Sentei-me na cama, voltando minha atenção para Daniel. – E como ela está? - perguntei. – Cara, eu não vou te responder isso, você acabou de terminar com a menina, como você acha que ela está? - falou - parece que nunca namorou antes. Eu bufei e voltei a me deitar. – É diferente dessa vez, Dan - falei - mas você tem razão.
– Bom, como eu estava dizendo - recomeçou Dean - você tem duas opções: curtir a nova vida de solteiro adoidado - virei o rosto com a maior cara de merda que pude fazer. Dean riu e continuou - ou, podemos beber umas e você pode desabafar como uma tia solteira e quarentona depois da meia noite de ano novo. Soltei uma risada nasalada. – Eu voto na segunda opção - Daniel falou - até pago as suas doses, Luggs. Pensei na proposta, até que uma bebida cairia bem, mas eu não estava nem um pouco afim de ver aquele pessoal todo lá no bar vendo eu afogar as mágoas na bebida, com certeza não. Na verdade, eu não queria ver ninguém agora. Talvez me trancar no quarto com alguma garrafa qualquer fosse a melhor das opções. Mas eu amigos estavam sendo legais e eu não iria dispensá-los assim. – Está bem, - falei, me levantando - mas me levem para um bar longe daqui!
Como as notícias se espalham – Charlie... - sussurraram, mas a voz me pareceu distante e inalcançável - Charlie... Algo tocou minhas costas por cima da malha fina do pijama. A voz me parecia familiar e eu queria correspondê-la, mas minha vontade de continuar a dormir era maior, e eu sentia como se algo estivesse errado, como se acordar fosse um terrível erro. – Charlie, sou eu - sussurrou, agora a voz me pareceu mais perto e real, era um homem e sua mãos continuou em minhas costas. Suspirei apertando os olhos e os abrindo devagar, tentando me acostumar à claridade em volta dos olhos verdes. Josh esboçou um sorriso e murmurou bom dia. Resmunguei um bom dia de volta e apertei e esfreguei os olhos antes de abri-lo de uma vez. – O que faz aqui, Jay? Que horas são? - perguntei. – Onze da manhã - ele falou - desculpa te acordar assim, mas sua porta estava aberta e eu precisava devolver suas chaves. Clark disse que você havia voltado ontem à noite... Ele falava rápido demais, mesmo que fosse num tom suave e baixo, era muito rápido, tinham muitas informações para serem processadas e minha cabeça doía como se eu tivesse bebido todas na noite passada. Mas não fora isso que acontecera na noite passada, não mesmo. – Charlie - Josh chamou, retirando-me do transe. Sentei-me no sofá, onde havia pegado no sono na noite anterior, recusando-me a pensar no assunto conhecido popularmente como fim de relacionamento. – Desculpe, Jay - eu disse - não estou muito bem hoje, pode repetir. Ele deu um sorrisinho de lado.
– Está tudo ok, Charlie?! - perguntou - Clark disse que você não estava com uma cara muito boa quando chegou. E por que você voltou mais cedo? Travei o maxilar, parando de respirar e depois soltando o ar lentamente. – Logan e eu... - comecei - nós, bem, discutimos e... Ele disse que era melhor terminarmos. O encarei, Josh parecia perplexo, não como se sentisse pena, mas como se realmente não tivesse entendendo nada. – Isso é sério? – ele perguntou franzindo a sobrancelha. Eu dei de ombros sorrindo tristemente. – Assim, do nada, ele decidiu isso? – perguntou. Eu mordi o lábio e baixei o rosto, sentindo-me pequena e insignificante. – Aparentemente sim – falei. Ele continuou me encarando e eu ergui outro sorrisinho para ele. – Não se preocupe, vai ficar tudo bem - falei, mesmo não sabendo quando aquele “tudo bem” viria e sentindo um bolo na garganta, mas então suspirei e mudei de assunto - mas e aí, o que veio fazer? Ele piscou, prestando atenção em mim. – Ah, bem, eu precisava devolver suas chaves - ele balançou as chaves do mini em frente ao rosto e eu as peguei. - Vou ter que voltar para Los Angeles por uma semana e, sabendo que você havia voltado, resolvi trazer as chaves. – Dá pra conversar mais baixo, por favor - a voz sonolenta de Mark reclamou. Olhei através de Josh e vi Brooke e Mark deitados no colchão da minha cama, que havíamos jogado na sala noite passada para eles dormirem. Eu sorri e voltei e encarar Josh.
– Obrigada, Jay - falei - você vai voltar logo, certo?! – Em uma semana - falou - não se preocupe, não vou fugir de você, baixinha - ele bagunçou meu cabelo e eu ri. Levei Josh até a porta, onde nos despedimos e ele se foi. Voltei a fechar a porta do loft, trancando-a desta vez, e me encaminhei para a cozinha, eu sentia minha garganta extremamente seca e minha cabeça latejava, como ecos em um salão vazio. Enchi um copão de água e bebi depois outro copo e por último, outro copo para ajudar o comprimido de enxaqueca descer. Depois caminhei até a janela, abri-a e passei as pernas para fora, onde ficava a saída de incêndio, me sentei no batente da janela, com os pés descalços no chão em grade cinza lascado e enferrujado. Tentei distrair a cabeça com o barulho da cidade lá embaixo, mas até Manhattan parecia mais tranquila que o normal, ou melhor, menos agitada que o normal.
Eu andava de um lado para o outro, jogando minhas coisas dentro da mala. Logan estava lá, parado, me observando. Eu sentia meu corpo todo tremer, meus músculos haviam se comprimido, e eu sentia os nervos do meu pescoço travados e os olhos cheios de lágrimas, quase transbordando toda a raiva que eu sentia. Então Logan suspirou e o som da sua voz me pareceu algo distante e surreal. – Você não precisa ir - falou. Eu joguei algumas peças de roupa dentro da mala, personificando toda a minha indignação com a força em que fazia isso.Me virei para ele. – Você é idiota? – Charlotte... - iniciou um protesto, mas eu interrompi. – Primeiro termina comigo - falei encarando-o - depois diz que não preciso ir embora? - franzi o cenho, aquela voz não era mais minha, era praticamente irreconhecível; com raiva, minha voz sempre ficava dois tons acima do normal e as palavras se enrolavam em minha língua, como se de
repente todo o meu sotaque quase inexistente voltasse à tona - O que você acha que eu sou? Algum tipo de babaca que está sempre à disposição de todo mundo? Algum tipo de garota alienada que espera a autorização de um cara pra respirar...? – Claro que não, Chars... – Então me diz o motivo - Implorei - por que está fazendo isso? Por que está me magoando desse jeito? Eu funguei, segurando o choro, o que não parecia uma das tarefas mais simples no momento. Ele continuou me encarando, os olhos emoldurados por um inchaço vermelho, o rosto completamente vermelho e o peito subindo e descendo de um jeito falho. Se ele chorasse, eu o socaria. – Não dá, Charlie - disse ele, finalmente - não dá, não consigo. – Não consegue o quê? - perguntei impacientemente. Ele me olhou, no fundo dos olhos, como se dissesse "não me faça dizer", e então abriu a boca, suspirou e quando as palavras estavam prestes a sair, ele balançou a cabeça e se afastou. Eu mordi o lábio com força, assentindo, como se já esperasse por aquilo. – Ótimo - falei, voltando para a cama, onde estava a minha mala, e fechei-a. Coloquei a mala no chão, joguei minha bolsa no ombro, caminhei até a porta, arrastando a mala de rodinhas atrás de mim, e girei a maçaneta - Só não ache que vou esperar pra sempre. O encarei pela última vez, antes de sair pela porta. Só queria ter mantido aquela postura imperativa, forte e pretensiosa quando comecei a caminhar pelo corredor. Fui retirada do meu estado de transe pelo toque estridente do meu celular, vindo de algum lugar da sala. – CHARLIE, ATENDE AQUI! – Mark resmungou, eu passei as pernas para dentro e saí correndo até a sala, procurando meu celular superficialmente.
– Nunca mais durmo aqui – Mark resmungou antes de abraçar o travesseiro e voltar a dormir. Finalmente achei o iPhone e murmurei um pedido de desculpas a Mark enquanto atendia. – Alô – só depois me lembrei de que deveria ter visto quem era ligando. Senti uma pontada no estômago quando a ideia de que seria ele do outro lado da linha passou pela minha cabeça. – Bom dia, meu bem! Por sorte era apenas a minha querida, doce e radiante mãe. – Bom dia, mãe – respondi, não correspondendo a toda aquela animação, mas pelo menos tentando. – Opa, que vozinha é essa? – Minha mãe perguntou, mudando seu tom de voz de radiante para preocupado. – O que aconteceu, hein? – Nada, mãe. – Vamos lá, Charlie, sem segredos com a sua mãe! – falou ela, me encorajando a falar e eu comecei a caminhar pelo loft, em direção à cozinha. Ai, que saco. Convoquem o exercito, as forças armadas, ou melhor, atores da Broadway, porque a Srta. Benetti não sabe fingir que está bem nem pelo telefone! – Estou bem, mãe. – É a faculdade? A revista? A livraria? Está sobrecarregada? TPM? Está se sentindo feia, gorda e não aguenta mais viver? Rolei os olhos. – Pelo amor de Deus, mãe! Claro que não! – falei. Claro que ela não cogitaria perguntar sobre Logan, ele nunca era um problema afinal, para minha mãe ele era “um rapaz adorável, carinhoso, meigo, responsável e inteligente” demais para me fazer alguma coisa ruim e, segundo ela, Logan e eu ainda nos casaríamos.
Continuei calada, até que ela voltou a falar. – Foi o Logan, amorzinho? – agora minha mãe usara a voz que usa para consolar alguém, só que um pouco meiga demais. Contei até cinco antes de responder com a voz mais calma e indiferente que pude, eu não a deixaria perceber minha tristeza, isso a deixaria preocupa e isso era a última coisa que eu queria. – Nós, hm, - pigarreei – é... nós... terminamos ontem. Silêncio. E depois minha mãe me surpreendeu. – E como você está? – minha mãe perguntou, com a voz amena. – Eu não sei. – respondi, sinceramente, e pensei que talvez pudesse me abrir sobre o assunto finalmente. Afinal, aquela era a minha mãe, certo?! – Ás vezes sinto raiva dele, raiva de mim pó ter sido estúpida e não ter percebido que as coisas estavam ruins antes... Às vezes tenho vontade de ligar para ele e perguntar o porquê, e na maioria das vezes só quero chorar. Mas eu não sei, mãe, de verdade, não sei como devo estar. – Ele não disse por que estava terminado com você? – Não. – respondi. – Disse que não dava mais e só. – Olha, querida, - começou ela – essas coisas acontecem, você sabe. Eu sei que você gostava demais dele e provavelmente ainda gosta, mas as coisas vão se acertar. Se eu só gostasse dele as coisas se acertariam mais rápido, mas a situação era outra. – Quem sabe isso não foi só um tempo?! – continuou minha mãe – a relação fica estremecida quando o contato é menor. – Pensei a distância aumentava o amor – falei. – Na verdade, é a saudade, e essa frase foi escrita por alguém do século dezenove – ela falou e eu ri – sabemos que as coisas não são mais assim. Suspirei.
– Ei, meu bem, - chamou minha mãe – sei que está triste, mas vocês sabiam que podia acontecer. E vocês são tão jovens e estão colocando a vida nos eixos agora, quem sabe não pode acontecer de novo daqui alguns anos, certo?! Eu não sabia o que pensar sobre aquilo e, eu não sei se era a fúria do momento ou a novidade da situação, que me faziam pensar que talvez não voltássemos a nos ver durante um bom tempo. Mas minha mãe estava sendo gentil e eu não iria dizer aquilo a ela. – Obrigada, mãe – falei – e você tem razão. – Não adianta concordar comigo só para me fazer calar a boca, Charlotte – ela falou e eu sorri. – De qualquer forma, não quero que guarde rancor nesse coração. Vi em algum lugar que guardar rancor aumenta as probabilidades da pessoa adquirir câncer. – Provavelmente viu no home&health – falei. – Não zombe da sua mãe, engraçadinha – falou e eu ri. – Liguei para avisar que seu irmão e eu estaremos aí em duas semanas. POV LOGAN A primeira coisa que eu ouvi foi o toque estridente do meu celular. Estiquei o braço, tateando meu criado mudo, mas acabei por tocar outra coisa: o rosto de alguém. Arregalei os olhos repentinamente, me sentando na cama e me virei, para encarar um Dean completamente desmaiado e espalhado na cama. – QUE DROGA, DEAN! - berrei, empurrando-o da cama e fazendo-o cair desajeitadamente no chão. – Porra, Loggie - esbravejou ele, com a voz embargada pelo sono. Sua cabeleira loira apareceu segundos depois, junto dos olhos azuis fundos e emoldurados por olheiras. Ele coçou os olhos. Voltei a atenção para meu celular, que ainda gritava no criado mudo, peguei-o, alimentando a esperança de que seria ela ligando, mas era só o despertador. O desativei e joguei o celular na cama. – Por que você ta aqui? - perguntei, mal humorado, a Dean.
– Bom dia pra você também, simpatia. Eu rolei os olhos e me repreendi por fazê-lo. Charlotte era a rainha no ato de rolar os olhos, assim como eu, segundo ela, e minhas sobrancelhas. – Nós bebemos e... - começou Dean. – Essa parte eu sei - interrompi - Quero saber por que você ta aqui na minha cama? – Porque o carpete é muito desconfortável e seu amigo Pashman ficou com o colchão inflável! - reclamou ele, indignado. – Então você resolveu dormir na minha cama? - ele assentiu, como se estivesse feliz por eu ter entendido - Do meu lado? – É, cara, mas eu não tinha opções! - disparou ele, falando rápido e na defensiva, eu comecei a rir enquanto ele se levantava, bufando. – Você fica mais veado a cada dia, Dean - falei, e ele me mandou um sorriso fechado e irônico. Ele se sentou na cama. – Já disseram que você fica um porre no dia seguinte de ter terminado um namoro? - falou ele, e eu ri sem humor. – Já disseram que eu só um porre quando acordo, não deve ser muito melhor nessa situação. - falei. – Pode crer - ele falou assentindo. Eu baixei os olhos para meu celular jogado no colchão e o peguei, uma foto da Charlotte estava em minha tela de bloqueio, franzindo o nariz, fechando os olhos com força e dando língua para a câmera. Eu suspirei pesado, passando a mão no cabelo, pensando que haviam milhares de escolhas que, a todo momento, eram feitas, que eram infinitamente mais estúpidas que a minha e que as pessoas se orgulhavam dessas escolhas. Era só que a minha escolha não se encaixava na expressão “coisa certa a fazer”. Porque, de fato, não era. Não era a decisão certa a ser tomada, era a decisão que precisava ser tomada. Quando decisões e escolhas envolvem mais pessoas, e tem como alvo
uma das pessoas mais importantes da sua vida, as decisões certas não são o melhor caminho, e sim as necessárias. O único problema agora era lidar com a situação.
A pior parte, com certeza, fora contar para minha irmã. Sobre Charlie e eu, digo. Descemos todos para almoçar e ela começou a perguntar onde estava Charlie, quando eu disse que ela não viria, Lindsey franziu as sobrancelhas e disse que subiria no quarto pra chamá-la, deixei que ela fosse, seria mais fácil se ela soubesse de uma forma que eu não precisasse falar, sendo assim, encontrar o quarto de Charlie, sem Charlie e seus pertences já deixaria subentendido; quando Lindsey desceu novamente, assumia uma expressão meio preocupada, meio raivosa, meio “é isso mesmo que entendi?” e anunciou: – Ela não está lá em cima. – Eu sei – falei. Dean e Daniel foram com Lauren para outro lugar, nos dando privacidade. Lindsey me analisou por algum tempo, antes de me sentar num sofá da recepção do hotel e minha irmã me seguiu, apoiando o rosto na mão e parecendo pensar consigo mesma por alguns instantes, como se tentasse entender o que havia acontecido, as razões, as causas, as consequências daquilo, mas depois de uns bons cinco minutos, deu de ombros e perguntou a mim, em voz amena: – O que aconteceu? Contei a ela. Contei sobre o que George havia dito, sobre a imprensa, sobre como não queria que tirassem a normalidade da vida dela e que isto estava prestes a acontecer, a menos que eu tomasse aquela decisão. Ela disse que estava ali caso eu precisasse, mas achava a minha escolha bastante estúpida, que eu estava jogando a história de “a mídia não vai alterar as decisões da minha vida para o alto” e que eu estava sendo precipitado e impulsivo, e que George talvez não estivesse certo sobre tudo. A opinião de meus irmãos é mais que importante para mim, eles são sempre bastante sinceros em relação a tudo comigo. Lindsey é a
rainha das conversas sérias, se quer um boa opinião sobre as coisas, converse com ela. Ela é madura e sensata, e sempre está disposta apresentar os argumentos que tornam uma das opções mais viáveis, mas nunca tentando nos persuadir de acatá-la. Em suma, ela faz um resumo simples sobre as coisas, te fazendo pensar mais claramente, tornado tudo mais fácil, Mas vou dizer que ouvi-la dizendo aquelas coisas, feriu meu orgulho e me fez parecer um garoto imaturo e impulsivo, coisa que sempre tentei não ser. Lindsey me perguntou se havia conseguido informações sobre a Charlotte e eu disse o que Daniel me dissera na noite passada. Então ela deu um sorrisinho de lado e afagou minhas costas, como se dissesse para que eu não me martirizasse sobre a minha decisão e, que apesar de tudo, entendia meus motivos. Ela me deu um beijo no rosto e se levantou, pegando o celular no bolso. – Aonde vai? – perguntei. – Contar à mamãe – falou, balançando o celular – já que você mesmo não vai fazê-lo. Bom, no fim do dia, os dois lados da família, tanto de minha mãe, quanto de meu pai, estavam sabendo da história. Ótimo.