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Todas as formas da maternidade A medicina

TODAS AS FORMAS DA MATERNIDADE

Gestar e procriar não é mais um impedimento. A medicina apresenta com segurança e eficácia todas as possibilidades de uma gravidez bem-sucedida

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Choque, raiva, desorganização mental e decisão. Este é o percurso emocional que uma mulher trilha quando descobre a infertilidade. Tudo começa pela dificuldade de compreensão do problema, duvidando ou negando. Depois bate aquele sentimento denso de inferioridade, vergonha e até culpa. A terceira fase vem com o desespero, a falta de esperança e o isolamento. Quase uma depressão. Por fim, a aceitação real do problema e a reconfiguração emocional, transformando ansiedade em projeto de vida: a maternidade.

Filhos fazem parte da jornada existencial da maioria dos homens e mulheres. A experiência carrega em seu cerne o instinto de perpetuação da espécie, sela a ideia de casal e consolida o propósito familiar. Mas, apesar das dificuldades, as mulheres encontram conforto em seus companheiros, demonstram fé na ciência e surgem corajosas e determinadas a prosseguir, assumindo o desejo e dando novo sentido à sua vida. Não há como negar: procriar tem um efeito positivo e intenso no narcisismo e na autoestima.

Rodrigo Rosa, médico especialista em reprodução humana e sócio-fundador do Mater Lab, laboratório de Reprodução Humana, em São Paulo, diz que definitivamente, a infertilidade não é frescura, desleixo do casal e muito menos um castigo de Deus. “Esse é um problema sério. Nas mulheres, a principal causa é a idade. Além disso, condições como endometriose, síndrome do ovário policístico, malformação uterina e a presença de miomas e pólipos no útero também podem afetar as chances de a mulher engravidar”, afirma. Entretanto, a boa notícia é que hoje em dia já existem muitas opções de tratamentos. Rosa ressalta que ter um bebê exige tempo e persistência. “Quando pensamos em planejar uma família, existem caminhos a seguir. As principais recomendações dizem respeito aos hábitos de vida. Boa alimentação, exercícios físicos, peso saudável, controle do estresse e não ter vícios, como cigarro e álcool, são coisas que o paciente pode fazer”, explana.

Uma das formas de engravidar naturalmente é por meio da programação da relação sexual. “De cem casais férteis que conceberam sem relações sexuais programadas, 50% engravidaram em três meses. Por outro lado, 76% dos casais semelhantes que usaram um método de relação sexual programada conceberam no primeiro mês de tentativa”, explica. Segundo o especialista, as mulheres têm uma janela fértil de cerca de cinco dias antes até um dia após a ovulação. Enquanto o esperma pode sobreviver de três a cinco dias no útero e nas trompas, um óvulo geralmente sobrevive apenas por 12 a 24 horas nas trompas.

Casais são aconselhados a procurar ajuda médica especializada após doze meses de relações sexuais desprotegidas e frequentes. “Como a fertilidade diminui com a idade, as mulheres entre 35 e 40 anos devem ir a um especialista após seis meses de tentativas. Além disso, no caso dos homens, a ajuda médica vem naqueles com histórico de cirurgia na virilha ou testicular, caxumba adulta, impotência ou qualquer outra disfunção sexual, quimioterapia e/ou radioterapia ou histórico de subfertilidade com outra parceira”, explica.

E se nada funcionar?

Indução da ovulação

Envolve tomar medicamentos, comprimidos ou injeções, para estimular a produção de hormônios que crescem e liberam um óvulo do ovário da mulher.

Inseminação intrauterina

Implica na colocação de um grande número de espermatozoides concentrados no útero. Ao fazer isso, aumenta as chances de o espermatozóide encontrar um óvulo e resultar em fertilização.

Fertilização in vitro

É a fertilização do óvulo com esperma fora do útero, antes de ser transferido de volta ao útero. “Existem duas etapas em um ciclo: recuperação de óvulos e transferência de embriões. A retirada de óvulos é realizada no hospital sob anestesia leve e normalmente leva de 15 a 20 minutos. A transferência de embriões é um procedimento curto de cinco minutos guiado por ultrassom”, explica.

Injeção intracitoplasmática de espermatozóide

Normalmente, a inseminação padrão é usada durante o processo de fertilização in vitro: o esperma encontra o óvulo e o fertiliza em um prato de laboratório. “No entanto, a injeção geralmente é recomendada quando há suspeita ou confirmação de resultados ruins com inseminação padrão. A ICSI envolve a injeção direta de um único espermatozóide no centro de um óvulo”, diz.

Mitos e verdades

A infertilidade é um problema das mulheres?

“A infertilidade é um problema feminino em quase 50% dos casos, um problema masculino em 30% dos casos, e um problema combinado do casal em 20% dos casos”, explica.

Todo mundo engravida. É só continuar tentando?

Um casal é considerado infértil se não conseguir engravidar após um ano de relações sexuais desprotegidas. Pelo menos 50% das pessoas terão uma gravidez bem-sucedida.

É um problema psicológico?

A infertilidade é uma doença ou condição do sistema reprodutivo. O diagnóstico pode estar ligado ao estilo de vida, mas, no geral, tem uma causa médica.

Congelamento, a procura

O congelamento tornou-se o procedimento procurado ao longo da pandemia. “A mulher já nasce com todo o estoque de óvulos que será utilizado durante a vida reprodutiva. Consequentemente, ao longo do tempo, há uma queda da quantidade e da qualidade dos óvulos, aumentando o risco de abortos espontâneos”, relata.

Todavia, o congelamento não é uma garantia definitiva de gestação no futuro. “Alguns óvulos podem não sobreviver ao degelo, outros não são fertilizados com sucesso. Mas, felizmente, as taxas de descongelamento e de fertilização são de 75% em mulheres de até 38 anos”. O ideal é que o procedimento seja realizado até os 35 anos. “É possível congelar até 41 ou 42 anos. Já após os 43 anos, a probabilidade é muito reduzida”.

Todo o ciclo de congelamento leva cerca de três semanas. “Uma bateria de exames e uso de pílulas anticoncepcionais. Em seguida, injeções de hormônios para estimular os ovários e amadurecer vários óvulos”, descreve Rosa. A coleta é feita sob efeito de sedação por meio de uma pequena agulha inserida na vagina e guiada por um transdutor. Outra decisão relevante é a de quantos filhos serão gerados ao longo da vida. No geral, recomenda-se que dez ovos sejam armazenados para cada tentativa de gravidez.

A popularidade da ovodoação

O método consiste, basicamente, na doação do óvulo para que seja fecundado em laboratório e implantado no útero de outra mulher. “É especialmente indicada para quem já entrou na menopausa, sofre de falência ovariana prematura, teve diversos abortos”, afirma o médico.

“Apesar de ser menos comentada, é um ato solidário, anônimo e sem fins lucrativos, que pode ser realizado por qualquer mulher com até 35 anos e que não possua doenças genéticas hereditárias”, destaca. A coleta dos óvulos é realizada ao mesmo tempo em que a receptora prepara seu útero para receber o embrião.

O processo assemelha-se à fertilização in vitro, com o óvulo sendo fecundado em laboratório pelo sêmen, que também pode ser doado. “Após fecundação e maturação, o embrião é inserido no útero da receptora”, finaliza Rosa. Neste caso, a chance de gravidez alcança 50 a 60%.

@dr.rodrigorosa

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