Ao correr da pena

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Ao correr da pena

Círculo do Graal

Pensamentos que fluem… Palavras ao correr da pena…

Conhecimento e espiritualidade, O caminho do homem!

Alma Lusa
Círculo do Graal circulodograal@sapo.pt Portugal

Ao correr da pena…

A folha branca toma vida no pensamento tornado escrita.

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Ao correr da pena Página 3 ÍNDICE Prefácio ………………………………………………………….. Pág. 04 01 – Porquê? ………………………………………………………….. Pág. 06 02 – E tudo isto para quê? ………………………………………. Pág. 10 03 – Sê livre …………………………………………………………… Pág. 12 04 – Ecos do Passado …………………………………………….. Pág. 16 05 – Natureza ………………………………………………………… Pág. 19 06 – Prece de Geia …………………………………………………. Pág. 22 07 – Senhor perdoa-nos por adulterarmos a Tua casa . Pág. 24 08 – Tempestade ……………………………………………………. Pág. 26 09 – Grito ………………………………………………………………. Pág. 29 10 – No silêncio da noite …………………………………………. Pág. 31 11 – O pão que falta a uns, sobra a outros ………………….. Pág. 33 12 – Nascer de novo ……………………………………………….. Pág. 36 13 – Dar a outra face ……………………………………………….. Pág. 40 14 – Partida ……………………………………………………………. Pág. 43 15 – O Mundo não vai acabar ………………………………….. Pág. 45 Epílogo …………………………………………………………… Pág. 49

PREFÁCIO

Procurando nos meandros da História os ensinamentos e aprendizados, a bem-aventurança, partindo do princípio que, a experiência como madre das coisas, serve como canal purificador do erro, o homem segue o seu caminho percorrendo o longo trajeto cósmico que é o seu evoluir.

Muitos são os atalhos que o espírito humano tem que percorrer nesta Terra para encontrar o caminho que o levará para cima em direção à Pátria, de onde proveio e para onde deverá regressar, livre de todos os liames que o enredam nesta vida, na simplicidade e amor prestimoso ao próximo, não se deixando conduzir por profetas e condutores de homens, que com palavras bonitas e cheias de emoção, nada mais fazem que aprisionar almas nas teias da indolência por falta de movimento e pensar próprio.

Pensai, tendes o direito, analisai, tendes o dever e a obrigação de o fazer, se quereis ser, efetivamente, espíritos humanos formados e livres de preconceitos e dogmas; lembrai-vos e tenham como direção que as leis da natureza não se compadecem nas filosofias humanas, o que é, não deixará de ser!

Não é porque a Humanidade ou alguém disse que a Terra é o centro do Universo que esta é, que o homem descende do macaco que passa

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a descender; o circular da Criação, obra Divina, continuará o seu percurso, independentemente do que homens letrados e eruditos digam do mesmo, da cor das suas vestes e olhar cheio de sabedoria, passos calculados numa cerimónia que só a eles apraz.

Sede simples no pensar, no conhecimento e saber que adquirirem, porque o conhecimento é o caminho para a eternidade, o saber espiritual conduz à Pátria!

Amai o Criador sobre todas as coisas, inclusive sobre todas as religiões, sobre todos os profetas, porque só a Ele devemos devoção, esquecei ou ultrapassai as divergências dos dogmas religiosos e filosóficos, a Ele, Senhor de Todos os Mundos como Criador, devemos adoração!

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Ao correr da pena Página 6 01 Porquê? “Procura e acharás, pede e ser-te-á dado…” Jesus

Desde o alvorecer da humanidade que a questão do porquê preencheu o espírito humano na sua singularidade. É esse anseio que o leva a desbravar o conhecimento de si mesmo e do meio envolvente, todas as correlações se entrosam numa tecedura intrincada e se espraiam pelo cosmos numa demanda infinda.

Inquietude é o estado emocional do ser, enquanto navega na obra da Criação e mais além se redescobre para um novo alento que não deixa tranquila a sua vontade, é impulsionado sempre para o porquê.

Inquirir, pesquisar, espírito aberto e simplicidade infantil. Assim é a vontade do Criador, expressa através de leis que regem as Criações! É no porquê que nos descobrimos, pedra filosofal cujo toque transforma o sonho em ação. Ao menos uma vez questione-se, porquê?

As ciências têm contribuído para o desenvolvimento do património cultural e educativo do ser humano, enquanto entidade individual e de grupo e consciente de si.

Deus não é produto da filosofia do homem, mas o homem é produto da vontade de Deus!

No entanto, muitos porquês ainda assolam a alma humana, mantendo-se intransponíveis no seu esclarecimento; dirão alguns, “os desígnios de Deus são insondáveis”, “é da vontade de Deus”, acomodando-se numa atitude de resignação e lançando sobre Ele a causa das coisas, dirão outros, “porquê?” e procuram…

Porque o ser humano se fechou às respostas, não quer aceitar, entre outros, o processo da causalidade, que infalivelmente advém de uma causa e efeito, também nas ações humanas. Basta olhar em redor e

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encontramos exemplos factuais, e nós somos parte integrante desta obra, estamos sujeitos ao cumprimento da lei, tanto no plano físico como mental.

A Natureza não se acomoda ao entendimento humano, o entendimento humano é que se deve adaptar naturalmente à lei, inflexível e perfeita como tal! Registo o diálogo de Sócrates com Fédon, escrito por Platão na sua obra Diálogos:

“Refleti: Se verdadeiramente a alma é imortal, cumpre que zelemos por ela, não só durante o tempo atual, isso a que chamamos viver, mas também pela totalidade do tempo; pois seria um grande perigo não se preocupar com ela. Admitamos que a morte nada mais seja do que uma total dissolução de tudo. Que admirável sorte não estaria reservada então para os maus, que se veriam nesse momento libertos de seu corpo, de sua alma e da própria maldade! Mas, em realidade, uma vez evidenciado que a alma é imortal, não existirá para ela nenhuma fuga possível a seus males, nenhuma salvação, a não ser tornando-se melhor e mais sábia.”

Porque o ser humano sente que as respostas não vão ao encontro de sua vontade e reage hostilmente, numa atitude de fraqueza e medo, àqueles que o podem ajudar e esclarecer, libertar-se de sua atitude modorrenta.

Esta hostilidade criou mártires na História da Humanidade, entre todas as religiões e sociedades. São muitos para serem enumerados… todos pereceram mercê das suas atitudes altruístas e desejo de entreajuda, diante da ignomínia e bestialidade humana; gostariam de ouvir o que soasse mais adequado ao seu comportamento e não ao que a lei determina; e assim nascem, quais cogumelos em ambiente adequado, entidades religiosas e outras para dar consolo a seres desesperados… desesperados, porque a pressão da lei não o permite de outro modo.

“Cristo não desceu à Terra absolutamente com a intenção de se deixar crucificar. Nisso também não reside libertação! Cristo foi crucificado, no entanto, como um incómodo portador da verdade devido à Sua doutrina.” (¹)

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As respostas estão no livro da Criação, abrir o pensamento e calmamente lê-lo, trará paz de espírito e esclarecimento, pressuposto é que saibamos ler! Procura e acharás, disse Jesus há dois mil anos, essa advertência mantém-se atual nos nossos dias, faz parte da lei que o Criador instituiu na Sua Obra. Procurai a Verdade e a Verdade encontrareis. Nada do que procurais vos será escondido. Ansiai por isso e isso vos será revelado. Por excelência, a obra do Altíssimo é maravilhosa e perfeita.

“Despertai, pois! Somente na convicção repousa a verdadeira crença, e a convicção só vem através de provas e análises irrestritas! Sede seres vivos na maravilhosa Criação de vosso Deus!” (¹)

Na vida, nada é absoluto, tudo é relativo [De absoluto só a relatividade – Einstein]! Devemos procurar e entender o enquadramento das coisas, visíveis e invisíveis e manter limpo o foco dos nossos pensamentos, de modo lógico; a vida, tal qual nós a vemos e vivemos, não se passa só no nosso ambiente mais próximo, nos acontecimentos ordinários do nosso dia-a-dia, mas, também, para além da nossa atuação material, prolongando-se na nossa alma e em outro ambiente mais refinado, consistente com a evolução do ser e no sentido contínuo da vida.

“Quem possui em si decisiva vontade para o bem e se esforça por outorgar limpidez a seus pensamentos, esse já achou o caminho para o Altíssimo!” (¹)

Se cumprimos com as leis dos homens, porque não cumprir com a lei de Deus?

Excertos da obra Na Luz da Verdade-Mensagem do Graal de Abdruschin

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⁽¹⁾

E tudo isto para quê?

Se as criaturas humanas na matéria, por causa de desejos erróneos, perderem o caminho certo que conduz novamente para cima, de volta para a Luz, permanecerão vagando na matéria. ⁽¹⁾

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Abdruschin

Se ao atravessarmos o rio Lete em direção ao Hades, na barca de Caronte, o sono do esquecimento tudo apagará na lembrança.

Correm mansamente entre margens agrestes As águas do esquecimento, Que no rio chamado Lete E nas brumas cinzentas da madrugada, Transportam alma adormecida Em barca deitada.

Caronte, de seu nome, Barqueiro de face coberta por capuz largo, Olhos cintilantes, rosto marmóreo, Remo na mão forte, Movimenta em ritmo certo, A alma adormecida e quieta.

Lembranças, memórias de vida passada, Fundem-se nas brumas da madrugada … No esquecimento do tempo, Na orla de Universos…

E a vida continua sincronizada

Com o relógio do tempo, Indiferente às filosofias e ao querer humano, A natureza é… e o que é… não deixa de ser!

⁽¹⁾ Dissertação, Eu sou a ressurreição e a vida; ninguém chega ao Pai, a não ser por Mim! Volume II, Mensagem do Graal.

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“A liberdade individual acaba quando prejudica a liberdade e o bem-estar do outr

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o”

No século XX, a humanidade evoluiu no desenvolvimento técnico, na ciência, na medicina, nas artes, no bem-estar… é um resultado significativo do empenho e perseverança do homem na procura do seu lugar no cosmos, do seu modo de vida e enquadramento na natureza, rodeado de beleza e conforto, no desenvolvimento da cultura e identidade de cada povo e progresso. Este século trouxe à humanidade uma estrondosa e rápida evolução em todas as áreas do conhecimento, humanista e científico, podemos afirmar, sem redundância, que a nossa capacidade intelectual atingiu o pico mais alto na escala da História da humanidade [conhecida].

As artes, o saber e o conhecimento são bem o resultado da capacidade cognitiva do intelecto. Muito promissoramente nos apelidamos de intelectuais. Magnifico! O homem moderno, tecnológico, senhor das comunicações e da mobilidade, do conhecimento, senhor do planeta e candidato ao espaço. Os meios urbanos crescem, a economia, a nossa longevidade, tudo cresce, e o cosmos à nossa frente…!

“O limite do saber da humanidade em relação a toda a Criação é sem dúvida pequeno, porém, em comparação ao saber atual, duma grandeza que nem podeis imaginar e que se aproxima do milagroso.” *

Comparando o nível e a qualidade de vida, dos últimos dois milénios até ao tempo atual, que abismo foi ultrapassado; o homem, esse enigma, uma marca de sucesso! No entanto, apesar desta evolução e marca de sucesso, nem tudo vai bem no reino da Dinamarca!

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O século XX também trouxe muito sofrimento, duas guerras mundiais registaram na memória da História o seu legado de horrores que carregam, as muitas guerras e atentados à vida e dignidade humana, por motivos políticos e religiosos, que se transportaram para o século presente, bem como a incerteza e a dúvida quanto ao futuro próximo. A fome não foi erradicada, nem a miséria, desconforto para os que tudo têm; o fosso de desenvolvimento económico entre os povos, fruto da insensibilidade dos poderosos e da impotência dos desvalidos, leva a sistemas político-económicos globais, em que os grandes grupos financeiros dominam, espalhando os tentáculos por entre os povos, permissivamente, destruindo a esperança e a dignidade do seu próximo e colhendo o lucro da sua ignomínia.

As assimetrias entre os povos ditos desenvolvidos e civilizados e os subdesenvolvidos, pobres e iletrados, são gritantes. O desequilíbrio é pujante. Os atentados ao meio ambiente e à dignidade humana são de tal modo graves, que só não vê quem não quer e só não toma consciência quem olha para o lado e se alheia. A esperança média de vida aumentou, à custa de fármacos que sustentam as maleitas que nos atormentam e enriquecem outros tantos, a pesquisa pela cura [digna e necessária] está de mãos dadas com a especulação [absolutamente desnecessária]; tornámo-nos seres artificiais? Para lá é o caminho… E tudo isto é fruto da participação do ser humano, rico ou pobre, culto ou não, religioso ou ateu, político ou simplesmente opinativo!

Lei do equilíbrio: Tem que haver uma harmonia, equilíbrio entre o desenvolvimento espiritual e material. *

No passado, o homem olhava para o céu à procura da ligação com o Criador, a sua origem e a do cosmos, hoje, o homem olha para o espaço infindo à procura de novos lugares para habitar, ciente do porvir. O maravilhoso planeta azul está a ficar esgotado e ele, homo sapiens, tem consciência que ao ritmo de consumo das matériasprimas, em determinado período de tempo, o seu modo de vida vai ser afetado ou terminar [coisa que já nos afeta no equilíbrio ambiental] e não abranda.

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A espiritualidade está enfraquecida, motivada por um cultivo exagerado do materialismo que não permite a ligação ao eu cósmico. E ele ora ou procura! O homem vive acorrentado ao espaço e ao tempo, à matéria, e a hora chegará, como em todos os processos naturais, à decomposição pela maturidade e a regeneração para um novo ciclo, qual Fénix renascida. E ele baixa o olhar em atitude beata, ou em desvario de impotência!

Não queira o homem estar presente na matéria quando esse tempo chegar! Encontremos o caminho para o espiritual e reencontremos o equilíbrio na natureza. Sejamos livres!

Procuremos o Criador na Sua obra, nas Suas leis, essas leis que regem os Universos e sobre as quais estamos sujeitos, porque dela fazemos parte integrante, como muito bem a ciência nos educa com o seu conhecimento.

“E o ser humano não pode abranger com a vista o todo, jamais poderá, porque lhe falta a faculdade para isso, visto que também ele somente é uma parte, aliás mínima, da Criação, que não pode ultrapassar seus próprios limites, naturalmente nem mesmo na compreensão.”

Possamos gritar agora, somos livres!

* Capítulo, O Circular das Irradiações da obra “Na Luz da Verdade-Mensagem do Graal”, volume III

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*

Ecos do Passado!

Mergulhamos no tempo, para colher no regaço de suas anotações, a fim de fomentar nosso saber com as coleções que ele encerra! Pois nada se perdeu, tudo ele preservou.

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⁽¹⁾
Abdruschin

Pedras que sussurram ao vento que passa, Histórias perdidas na memória do tempo!

Brumas cinzentas na leda madrugada, Zéfiro bramante em pedra eriçada!

Quanto de ti, Atlântida, os homens procuram em profundezas marítimas, escarpas vulcânicas, terra esventrada, demanda incansável na procura da sua história para ressuscitar medos antigos, velhas glórias, verdades escondidas que não dão descanso às almas peregrinas…

Graças a ti, Platão.

O que leva os homens com tanto afinco a procurar nas entranhas da terra mãe resíduos da sua História, do seu passado? O conhecimento científico do seu passado ou o despertar da sua herança genética que se revolve agitada no interior da sua alma?

Temos uma herança de milhares de anos de civilização humana e universal, que não nos deixa indiferentes, aqui com mais intensidade, num desassossego incontrolável, ali menos intenso, em que o interesse é relevado apenas ao estudo ou aos bancos da escola. Não somos indiferentes, em casos particulares, a este ou aquele episódio da História, Atlântida, Troia, cruzadas… clamam no recôndito da alma por resgate de culpas passadas!

Levantam-se os deuses antigos saídos das brumas da História, contam histórias antigas dos homens e pasme-se, não são iguais às que a História dos homens descreve. Saem da lenda e entram na vida real, revolvendo as entranhas das almas amarguradas pelo esquecimento e pelo desvirtuamento da verdade, clamam por seu Senhor e este lhes é revelado!

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Zeus o deus dos deuses, Senhor do Olimpo, servo do Altíssimo!

Almas cansadas com o peso da História, ansiosas por libertação do fardo que carregam por milénios de atos indignos, mentiras e vitupério.

Ecos do Passado murmuram aos entes do vento, filhos de Zéfiro, “Veritas vos liberabit” …

A Verdade vos libertará!

⁽¹⁾ Dissertação, Despertai, volume I, Mensagem do Graal.

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Se queres ser sadio, cuida do teu corpo e de teu espírito. Quer dizer, mantém-no em rigorosa atividade!

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Natureza
Abdruschin

O céu era azul, o sol brilhava e ia já alto. Nuvens nem vê-las, estavam para as bandas do norte onde os ventos sopravam mais agrestes e o ar era mais frio. Bela e branca era a paisagem nessas bandas. Grandes blocos de gelo deslizavam entre montanhas para o mar. Criaturas deslocavam-se nos campos de gelo com andar bamboleante e engraçado. O seu grasnar enchia o ar de melodia e a sua imagem transportava-nos para um baile em que os cavalheiros se vestiam de smoking negro e camisa branca. Bela era a imagem que preenchia os nossos sentidos e estendia-se até onde a vista alcança.

Ao longe, camuflados de branco e focinho no ar, deslocava-se calmamente um belo animal e suas crias; Vestidos a rigor, pele branca de tom amarelado, confundidos com a paisagem que vibrava de branco, cintilando em contraste com o etéreo azul, num jogo de luz e cor, estonteante para o olhar comum.

As crias mais pareciam bonecos de peluche, fofos e engraçados, que o humano com tanto carinho presenteia os seus filhos. Uns e outros deslocavam-se de olhar atento, sentido alerta, uns para evitarem servir de repasto e outros movidos pela necessidade de se manterem fortes e saudáveis. Equilíbrio, não mais do que a necessidade obriga. Os seus olhos brilhavam de alegria e vida, alerta, mas não preocupados, todos eles conhecem as regras e o que a natureza espera deles; em bandos andavam ou deslizavam pelo mar gelado, seguidos de perto por seus acompanhantes que os miravam atentos na expetativa de uma brecha.

O etéreo está povoado por corpos elegantes e fusiformes, que esbeltamente deslizam nos ares, os seus olhos controlam o espaço, as suas asas controlam os ventos, em danças irrequietas e controladas, mergulham no mar capturando os descuidados ou

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pouco velozes animais do mundo aquático, que em movimentos esguios e rápidos se esgueiram dos bicos afiados.

O céu azul aos poucos desvanece e dá lugar a uma sintonia de cores ondulantes, que num bailado efémero muda daqui para acolá, sem regra aparente, numa simplicidade organizada. Negro é o palco, multicolor o espetáculo, movimento ondulante sem formas definidas.

Equilíbrio em tudo vibra, força e vontade de uma obra única, leis justas e perfeitas! A Natureza e seus habitantes seguem o curso rítmico do horário celeste, adaptados às variações das estações que em esplendor único vestem e despem os seus trajes, qual artista em palco encarnando vários personagens.

O Altíssimo a tudo rege, com Amor, Verdade e Justiça!

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Ao correr da pena Página 22 06 Prece de Geia Os enteais são os construtores e administradores da casa de Deus, isto é, a Criação. Os espíritos são nela hóspedes. ⁽¹⁾ Abdruschin

De rosto triste e olhos marejados, contemplava a planície que se estendia à sua frente, envolvida em neblina e de cinzento vestida. Altas chaminés jorravam novelos de fumo para o ar, febrilmente os homens movimentavam-se em correria desenfreada à procura do nada…

Do alto do seu palácio, a senhora da Terra, Geia, desviou o olhar da planície dos homens e contemplou com carinho o movimento que se gerava no jardim, fadas esvoaçavam de flor em flor, rasando os gnomos que na terra espreitavam sorridentes. Altas figuras olhavam seriamente em seu redor, obra feita, montanhas, vales e rios… construtores da Natureza e dos elementos, titãs, gnomos, elfos… Pensamentos interrogativos e de tristeza cruzavam em prece o Cosmos, numa ansiedade de resposta e entendimento:

- Porque falhaste Humanidade? Sois hóspedes e senhores nesta Terra, propriedade do Eterno, deveríeis embelezar e humanizar o vosso meio, dar alegria a todos aqueles servos que prepararam com alegria e devoção este lugar para vos receber. Assim foi a vontade de nosso Senhor e assim cumprido por todos nós e tu, espírito humano, que fizeste?

Lentamente, a Mãe da Terra, levantou a sua bela cabeça coroada e as suas mãos delicadas e brancas uniram-se em prece de louvor ao Eterno.

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⁽¹⁾ Dissertação, O Enteal, volume III, Mensagem do Graal.

Todos os auxiliares enteais, grandes e pequenos, serão agora libertados de, em cumprimento da lei, terem de produzir formas trevosas, forçados pelo querer malévolo ou errado dos seres humanos.

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Senhor perdoa-nos por adulterarmos a Tua Casa
¹⁾
Abdruschin

O que a Humanidade está a fazer ao meio ambiente, não só é crime como também é suicídio, em nome de um progresso que nos traz tristeza e desalento.

A ganância dos nossos sistemas políticos e económicos levam o homem a autodestruir-se e a destruir a Natureza. Democraticamente, cada um de nós, como eleitores, estamos a contribuir para este “pesadelo”, passivamente, deixando que este estado de coisas aconteça. O materialismo está a dominar a Humanidade, o raciocínio intelectivo está a criar seres humanos frios, desprovidos de espiritualidade. Este é o momento do Anticristo. A bela natureza está conspurcada, os nossos oceanos não estão em segurança, as espécies estão em perigo de extinção. Cada um de nós, individualmente, deveria dizer “NÃO”, e muitos “NÃO” teriam mais força para parar este estado de coisas.

Oiçam o grito da mãe natureza. Esta é a obra do Senhor e nós não temos o direito de a conspurcar abusivamente, quando nos é permitido habitar nela para a nossa evolução.

⁽¹⁾ Dissertação, Peregrina uma alma, volume III, Mensagem do Graal

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“A Criação inteira é uma obra miraculosa, ordenadamente planeada e funciona em contínuo e imutável equilíbrio. Tudo o que vive se encontra em movimento. Movimento é vida!

Amai e protegei os animais e as plantas, pois são criaturas feitas pelo mesmo Criador.”

Ensinamento Sumério

Ao correr da pena Página 26 08 Tempestade

O Planeta azul movimentava-se no imenso teatro do Universo, emoldurado por miríades de luzes trémulas em palco escuro, cenário aprimorado por mãos diligentes e sábias. Nuvens cinzentas sombreavam o horizonte. A chuva caía fina alimentando o solo ressequido, numa paisagem, que de tão silenciosa, carpia recolhimento. Nem homens, nem animais, se aventuravam ao movimento. A natureza era dona e senhora do espaço. Ao longe, rios de luz iluminavam os céus, criando formas aleatórias circundadas pelo som do trovão.

Os enteais, obreiros meticulosos, trabalhavam diligentemente para manter a saúde e equilíbrio do Planeta, morada de espíritos humanos; faziam-no indiferentes ao comportamento dos hóspedes, a quem serviam, retificando os danos causados por estes à maravilhosa natureza, cópia do Paraíso eterno. A paisagem estava humanizada, cada vez mais; ao longe, dedos eriçados, morada dos homens, rasgavam os céus; indiferentes, construíam e alimentavam a máquina devoradora, para sua própria destruição: transformar o planeta. Os servos do Criador, que tinham por função manter o planeta limpo e equilibrado, sentiam um misto de perplexidade e incompreensão, por um lado, cumpriam incondicionalmente a Vontade de seu Senhor, por outro lado viam a eficácia da máquina destrutiva dos homens, que diligente e metodicamente iam destruindo o que eles construíam e reparavam. E era a estes seres que eles deviam servir e auxiliar como hóspedes na casa de seu Senhor!

Cinzento era o céu, o sol escondia-se atrás de nuvens pesadas, escuras como chumbo, prenhes de água viva. O silêncio era expectante, presságio do que estava por vir. Os animais, silenciosos e atentos, seguiam os sinais da natureza e de seus obreiros. Os

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homens, cegos e surdos, monitorizavam nos seus equipamentos o evoluir da situação, presos às difíceis decisões do seu intelecto, mantinham a fraca ilusão de que tudo passasse e os danos minimizados. A cidade estava abarrotada de gente, como deslocá-la em ordem? As estradas entupiriam, o tráfego causaria o pânico e criaria uma imensa e fatal armadilha, obra de si próprio. A teia envolveu a aranha!

Os pequenos obreiros da natureza retiraram-se e deram lugar aos grandes enteais dos elementos que com fulgor fizeram o que lhes estava destinado. Zeus, senhor do Olimpo, a tudo assistia, com ar triste, mas firme. Era necessária a depuração, a ordem deveria ser restabelecida e eliminada a fonte do desequilíbrio, que tanto sofrimento causava aos animais e à natureza. Zeus, servo do Altíssimo, cumpria com os desígnios da lei que a tudo rege, no cumprimento da Vontade de seu Senhor. Tristeza era o sentimento dominante, o homem falhara na sua missão… nem todos, e por esses poucos uma nova oportunidade nasceria da depuração e o planeta ficaria mais belo do que nunca, pátria de humanos e seres enteais que em uníssono vibrariam na Vontade e cumprimento das Leis do Altíssimo, cumprindo assim o seu desígnio, criar na Terra a imagem do Paraíso eterno.

Acordai criaturas humanas, o planeta agoniza sob o efeito da nossa evolução tecnológica, desventrado nas suas entranhas para sustento de uma sociedade desregrada e caoticamente perdida nos braços fortes do consumo e especulação. A natureza tende a regenerar-se e a procurar o equilíbrio com os seus próprios meios, tempestades, terramotos, vulcões, etc.

Ela não castiga a Humanidade pelo seu comportamento, esta é que se encontra no seu caminho!

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09 Grito!

O vislumbre róseo na distância longínqua acena promissoramente! Despertando esperanças, incentiva à movimentação mais ativa. Com o desejo de atingir esse vislumbre, os corpos de matéria fina se aprumam cada vez mais, em seus olhos surge a expressão de mais forte conscientização e, cada vez mais firmes, seguem naquela direção.

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⁽¹⁾
Abdruschin

Ecoa no silêncio da noite o grito silencioso

Dos que em desespero procuram no nada

O que perderam além-vida.

E do nada vem o eco vazio do grito lancinante

Que em desconsolo se perde no silêncio da resposta.

Cai o pano no palco da vida e os que gritam, uma e outra vez, Caminham sonâmbulos na berma do caminho…

E o caminho ali ao lado.

As brumas tudo dominam e o arrastar de passos perdidos marulham,

Qual riacho que em leito macio

Corre para o regaço do mar amigo.

Aconchegam-se uns aos outros fortalecendo-se

Na angústia que os alimenta.

Os olhos marejaram, as lágrimas caíram quentes, A alma ficou mais límpida e ao longe…

Uma ténue luz brilhou no seio das brumas, Os passos aceleraram, o olhar brilhou, E o caminho em direção à luz tornou-se claro.

De entre as brumas que se esvaíam, Nascia uma paisagem fresca e luminosa, O sol aquecia as almas desvalidas que renasciam

Para uma nova caminhada, mais segura, mais cómoda; Acercavam-se seres prestimosos que lhes indicavam o rumo E esclareciam as mil perguntas que brotavam de fontes sequiosas. Sons cristalinos enchiam os ares, aves canoras e multicoloridas emprestavam movimento e cor ao etéreo numa sinfonia Nunca dantes presenciada.

Ao longe, no horizonte, brilhava uma fonte de luz irradiando Os seus raios fulgurosos para os quatro cantos do Universo, A Cruz da Verdade!

Para lá… para lá do horizonte reside o sonho, a Eternidade!

⁽¹⁾ Dissertação, No País da penumbra, volume III, Mensagem do Graal

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Ao correr da pena Página 31 10
No silêncio da noite... Eu Sou a ressurreição e a vida; ninguém chega ao Pai, a não ser por Mim!
Jesus

No silêncio da noite eu sou mais eu...

No silêncio da noite ecoa o grito calado, Dos que procuram e não encontram...

No silêncio da noite correm versos rasgados pela mão do poeta, Febril de paixão, em devaneios de loucura e arte...

No silêncio da noite a alma procura a sua essência, o seu eu... Voa por vales e montes e procura, Procura incessantemente pelo caminho...

No silêncio da noite as lágrimas são mais quentes, Olhos fechados, em rios de água salgada...

No silêncio da noite a amargura é mais dolorosa, O silêncio mais gritante...

No silêncio da noite eu sou mais eu... Quando é a hora, quando Senhor?

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O Pão que falta a uns, sobra a outros!

A realidade é séria e inexorável. Os desejos humanos não podem, a tal respeito, provocar alterações de espécie alguma. Férrea se mantém a lei: “Aquilo que o ser humano semeia, colherá multiplicadamente!”

Ao correr da pena Página 33 11
⁽¹⁾
Abdruschin

Infelizmente as sociedades estão em desequilíbrio, cada vez mais, vivem na base de uma economia de lucro com total falta de respeito pelo ser humano bem como pelo meio ambiente. Os governos dos mais fortes sufocam os países mais fracos e pobres exaurindo-os das suas riquezas, das suas matérias-primas, pisando os princípios mais elementares dos direitos humanos, e o paradoxo desta situação é que são os países, ditos cristãos e defensores da democracia e direitos humanos, que estão à frente da lista nesta ignomínia.

Princípios cristãos em terra própria, olhar fechado e costas voltadas em terra alheia.

Nunca se falou tanto de religião e princípios como nos tempos de agora, nunca tantos lugares de culto dos mais variados proliferaram como agora, nunca tantos pregadores de trato fácil apareceram com as suas hostes, todos em benefício da razão e da fé, são como cogumelos, mas se cogumelos os há bons também há os que matam, só os atentos os conhecem e os evitam.

A sociedade de amor, que Jesus pregou e ensinou e pela qual foi sacrificado, está enterrada nos escombros e entulho da História pelo poder brutal dos senhores à força mandadores sem lei, vampiros ávidos de dinheiro, de poder, de lucro… que em seu nome e como porta-estandarte levam a cabo os seus desígnios na crueza hostil do egoísmo.

Até o poder religioso, numa base do politicamente correto e diplomático, sufocam os gritos angustiosos dos que sofrem injustiça e vitupério dos mais poderosos, para manter as suas estruturas e não entrar em contendas.

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No santuário de adoração a Deus, Jesus, há 2000 anos, expulsou os cambistas e fazedores de lucro, com ira sacrossanta, dos degraus do Templo sagrado. Hoje, no santuário que é esta Terra, propriedade do Criador e Sua obra, repetir-se-á a expulsão dos cambistas e fazedores de lucro e todo o exército de lacaios corruptos que sustentam estas classes, inclusive os oradores fáceis de olhar farisaico e benevolente, mirando de soslaio a caixa das esmolas!

Esperai os desalentados e os que sofrem que o fim das dores está próximo, esperai os prevaricadores que a justiça cumprir-se-á!

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⁽¹⁾
Dissertação, Responsabilidade, volume II, Mensagem do Graal

Nascer de novo!

João 3-1:12

“Na verdade, na verdade te digo, que aquele que não nascer de novo não pode ver o reino de Deus. (…) O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito. (…) ”

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Jesus

Quando Jesus conversou com Nicodemos, em privado por vontade deste, príncipe entre os judeus, sacerdote e guardião dos preceitos religiosos da época, esclareceu-o sobre a nova doutrina que conduzia os homens para um renovado comportamento e uma nova maneira de estar, amar o próximo como a ele mesmo, sem antagonismos, com uma nova espiritualidade, conhecer-se primeiro em espírito, dentro de si, conhecer o caminho que o conduz para o Alto e em companhia do seu próximo trilhá-lo. Era um novo “Deus” que Jesus anunciava, não o velho “deus” dos judeus, impregnado de conceitos humanos, de velhas tradições carregadas de preconceitos e discriminações sociais¹, onde os valores humanos eram adulterados numa sociedade que de humanismo tinha pouco, fruto da intolerância religiosa e comportamental de uma classe que primava pelo seu conhecimento e domínio de “deus”.

E Jesus ousou transmitir valores perenes e revolucionários, para a época, neste meio, valores de equidade, valores comportamentais e de alto significado espiritual, mais não podia fazer e ensinar porque quem o ouvia não o compreenderia, fruto da sua falta de cultura e abertura espiritual.

E hoje, quando a humanidade está num degrau de evolução cultural e do conhecimento mais evoluído, chega até nós o que Jesus prometeu², na Mensagem do Graal, Na Luz da Verdade, uma obra vinda do Alto, para que o conhecimento da humanidade possa ter o remate que as “coisas”, fruto da lei da reciprocidade, infalivelmente têm que resgatar, por força do cumprimento da lei. Mas, a humanidade, presa aos seus preconceitos, onde o querer saber melhor que o próximo é uma máxima, continua a dividir a Palavra numa sequência de acontecimentos e objetividades que

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trazem fraqueza e dúvidas sobre altos valores que a serem apreendidos pelo homem comum só proveito espiritual lhe traria. A Palavra transmitida por Jesus foi tão singular e promissora, que só mentes escuras a poderiam desvirtuar, e aconteceu! A Palavra da Mensagem do Graal, com a mesma singularidade de Jesus leva o homem “a nascer de novo”, simples e com uma nova espiritualidade, sem alimentar a intelectualidade dos preconceitos e do conhecimento enviesado, raciocínio pragmático que alcança as fronteiras da materialidade sem dela sair. Sem o sentido da oportunidade e com a melhor boa vontade pode o homem fazer mais estragos do que bênçãos.

Deveria o homem atentar para a sua espiritualidade em primeiro e só depois se aventurar em caminhos que requerem altos conhecimentos e forças que, certamente, não estará provido, nem foi mandatado. Em humildade deveria pedir em oração auxílio para o empreendimento a que se aventura. Deveria o homem seguir o caminho do ensinamento humano, primário, secundário e superior e quando chegasse a este, senhor dominante do conhecimento deveria exercer este conhecimento para unir os que, de princípio, dão os primeiros passos no conhecimento, para que estes, confusos, não se percam logo de início por força da dissensão, grave será a sua culpa.

Com o conhecimento deverá ser assegurada a humildade, assim, certamente, este conhecimento será transmitido em verdade, de outra maneira será um som vazio e repetitivo. A singularidade da Palavra deverá trazer ao ser humano bênçãos e tranquilidade espiritual, o conhecimento do caminho para o Alto, que de modo individual devemos seguir, não necessita de uma universidade espiritual, nem de guias expeditos e plenos de palavras humildes e ar cândido, mas sim de mudança comportamental e louvor ao Criador como primeiro, nascer de novo.

“Na verdade, na verdade te digo, que se não nasceres de novo não verás o reino de Deus.”

Esta advertência tem a ver com o comportamento do homem, individual, com a sua maneira de estar perante o seu próximo, o que

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ele transmite, o que faz e pensa, conforme a sua postura e exemplo para os outros, conforme a sua obra, que será medida pelos valores da nova espiritualidade e não pelos valores humanos, os quais ele domina! O tempo urge, é tempo de mudança e não de confrontos, é tempo de encontrar o caminho que conduz ao Alto de modo singelo e puro.

Unamo-nos ao redor da Palavra de Deus, em verdade!

⁽¹⁾ A mulher adultera – João, 8-1:11

⁽²⁾ A promessa do Consolador – João, 14-1:31

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13 Dar a outra face…

Mateus, 5-38:44 (Sermão da Montanha)

“Ouvistes o que foi dito: Olho por olho, e dente por dente: Eu, porém, vos digo que não resistais ao mal; mas, se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra; (…) Eu, porém, vos digo; amai os vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem;”

Jesus

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Jesus deixou-nos uma imagem de conforto, conforto na alma, conforto no sofrimento, conforto no comportamento. Transmitiu-nos valores perenes e uma imagem de respeito e rigor, tolerante, mas firme nos seus ensinamentos, o amor foi a base da Sua mensagem, valores humanos de convivência e espiritualidade viva e atuante. Ele conhecia o comportamento do ser humano, a sua tendência para responder na mesma ordem às desfeitas que lhe fizessem, o mau hábito de pensar pelo lado negativo e derrotista quando algum obstáculo se lhe atravessasse no caminho, acomodando-se ao “mal” que lhe estava a acontecer, em vez de enfrentar o “mal” com vigor, ou seja, não o alimentar.

A sua advertência, relatada por Mateus, tenta minimizar este comportamento para que as ações de hostilidade e negativismo fossem erradicadas e em seu lugar um comportamento de diálogo tolerante e mais alegre imperasse, onde o amor prestimoso fosse a base do relacionamento, “Amai-vos uns aos outros, como eu vos amei a vós (João 13-34) ”, e mesmo em agonia, na vergonha da ação dos homens, Ele respeitou o Seu ensinamento, “Pai, perdoai-lhes, pois não sabem o que fazem (Lucas 23-34) ”, cimentando no coração dos homens o mandamento!

As Suas parábolas expressavam uma via de ensino simples, pequenas histórias que encerravam os segredos da Criação, essa mesma Criação que nós, tão afincadamente pesquisamos; “Ainda tenho muito que vos dizer, mas vós não o podeis suportar agora. Mas, quando vier aquele Espírito de Verdade, ele vos guiará em toda a verdade; (João 15 -12,13)”; A continuidade dos Seus ensinamentos, da Sua mensagem, seria divulgada de um modo mais abrangente pelo Consolador, o Espírito de Verdade, “Mas, aquele consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse

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vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito. (João 14-26)”. E cumpriu-se! A palavra de Jesus está viva e testemunhada na Mensagem do Graal, na Luz da Verdade, e a Criação, em toda a sua maravilhosa estrutura, está explicada de um modo simples e em rigor, a obra do Altíssimo.

”O caminho para o Altíssimo se acha pronto na frente de cada criatura humana! Quem possui em si decisiva vontade para o bem e se esforça por outorgar limpidez a seus pensamentos, esse já achou o caminho para o Altíssimo!”

No cumprimento do 1º mandamento da Lei de Deus, deveria o homem, qualquer que seja a sua profissão de fé, inclinar a cabeça e em profundo silêncio, fazer uma autoanálise ao seu relacionamento com o mandamento, até que ponto ele está em acordo? Até que ponto ele é livre do seu credo e dos dogmas da sua fé? Até que ponto o seu olhar é livre?

“Livre só é o ser humano que vive nas Leis de Deus!” ⁽

Essas leis que Jesus disse que vinha cumprir e não derrubar; toda a obra do Altíssimo se rege por leis, fruto da Sua Vontade e a Sua Vontade é lei! E dessa obra, nem um jota ou um til se omitirá da lei, sem que tudo seja cumprido.

Atentem ao Sermão da Montanha, leiam-no de espírito aberto, e vereis a riqueza do ensinamento de Jesus, a profundidade do conhecimento humano e os conselhos que Ele dá para o nosso relacionamento, a chave da evolução da vida em sociedade. Se assim fora, quão diferente seria o homem no tempo presente e quanto sofrimento teria sido poupado a si próprio.

Lavemos as nossas vestes no sangue do cordeiro, para que o sangue do cordeiro não tenha sido derramado em vão.

Nas Leis de Deus tudo será cumprido!

⁽¹⁾ Dissertação, Que é que procurais? volume I, Mensagem do Graal. ⁽²⁾ Dissertação, Submissão, volume I, Mensagem do Graal. Sermão da Montanha, Mateus 5.

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⁽¹⁾
.
²

Partida

Tão logo, porém, a alma se desfaz de todo o peso terreno do corpo terrenal, ela entra na mobilidade da Criação.

É envolvida pelo ondular e fervilhar contínuo e vivencia então de maneira mais movimentada os seus ambientes… ¹

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Abdruschin

Não chorem por mim, Não me procurem no meu lugar de repouso Porque eu não estou lá! Parti de madrugada Na comitiva dos filhos de Zéfiro… De ocidente para oriente O vento me levou E os quatro cantos do mundo Percorri…

Longas noites de breu Foram iluminadas Por astros reluzentes, Qual farol que entre neblinas Indica o caminho Para o remanso do lar amigo, Repousei…

Nas asas da aurora conheci o amanhecer, Da penumbra à Luz Os meus olhos se afeiçoaram, E o caminho ficou claro… No etéreo naveguei, Fronteiras desconheci, A liberdade assolou-me E a vida incandesceu, Vivi…

Pressenti a Magnificência De quem com sabedoria Governa os Mundos!

Tal qual a criança

Que em confiança Se aninha no regaço Da mãe deleitosa, Assim meu espírito Caminha confiante Em direção à Luz, À Pátria!

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⁽¹⁾ Dissertação, Peregrina uma alma, volume I, Mensagem do Graal

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O mundo não vai acabar!

“Assim se encontra nas leis da reciprocidade a dádiva como uma grande graça do caminho para a liberdade ou a ascensão. Não se pode, por conseguinte, falar absolutamente em castigo. Castigo é uma expressão errada, uma vez que exatamente nisso se encontra o grandiosíssimo amor, a mão que o Criador estende para o perdão e a libertação.” ⁽¹⁾

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Abdruschin

A natureza é uma maravilhosa obra da Vontade do Criador, beleza e harmonia, equilíbrio em todas as ações, violentas ou não, só nos podemos maravilhar com a atuação dos servos do Senhor, seres da natureza. Nós, em corpo material, também somos uma parte desta obra maravilhosa de equilíbrio e beleza e em espírito seriamos senhores, assim nos aprouvesse.

Tudo ao nosso redor está perfeitamente adaptado ao ciclo evolutivo da Criação. Equilíbrio. As Leis e seus executores a laborarem no sentido da Vontade.

Então, onde começa o desequilíbrio?

Na criatura humana, no seu comportamento, na escolha das suas opções!

O mundo não vai acabar. Tranquilizem-se almas humanas amedrontadas, o mundo não vai acabar. A obra do Criador é por demais valiosa e bela para ser exterminada só porque a maioria dos seres humanos falhou na sua educação espiritual e civilizacional.

O ser humano falhou em toda a linha e ainda hoje, à beira da catástrofe, mantém-se ufano sentado num trono de lata emoldurado de lantejoulas, que de reluzente nada tem e de beleza nem risco, no entanto, toma o fruto das suas ações, essas mesmas ações que o háde levar ao precipício da perdição.

A Terra passará, porque o seu tempo ainda não chegou, mas os prevaricadores não passarão, nem as mentes tortuosas dos que agarrados aos livros sagrados deambulam pelas ruas do além na procura de almas para o seu séquito, para engrossarem fileiras flácidas de vontades e espetros bizarros de mandadores sem lei.

O Mundo não vai acabar, mas a Humanidade será expulsa do Paraíso. Triste sina, a quem tal está destinado.

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A obra do homem vai marcar, indelevelmente, o nosso planeta, o fruto do nosso sucesso e conforto marcará a negro o meio ambiente, toda a Terra está minada pelas nossas necessidades e essas serão a causa do cataclismo, eras vão passar até que este esteja limpo e revigorar-se em fulgor de beleza e equilíbrio.

O mundo não vai acabar, mas tu, criatura humana, tens razões para temer o que está por vir. Teme o Juízo, porque a esse não escaparás, tu que tens a alma cheia de sombras teme, alimenta o temor que te pertence e que por ti foi cultivado, sega o seu fruto.

O ser humano está numa encruzilhada de decisões, de ordem política, de ordem económica, de ordem social, tudo conjugado… um desarranjo espiritual!

“Uma separação, entre este mundo e o Além não existe! E também nenhum abismo! Tudo é uno, como a Criação toda. Uma força percorre tanto o Aquém como o Além e tudo vive e atua a partir dessa única corrente da vida e por isso é completa e indissoluvelmente ligado.” ⁽²⁾

O desequilíbrio comportamental do ser humano pressagia uma época de grandes convulsões sociais, isto faz-se sentir hoje em todos os países - nada de novo na sociedade humana, velha como o tempo - muitas opiniões a dilacerarem a sociedade civil e religiosa, a politica a atingir um estatuto de histeria cultural, a economia a degradar-se e a ganância a colher os seus frutos, as assimetrias sociais a serem reveladas da pior maneira, manifestações violentas e agonia, miséria, a religião a ser minada nas suas entranhas por causas hediondas e a defender-se como só ela sabe fazer, acantonada nos seus hábitos e dogmas … estamos a falar do comportamento do homem em sociedade, cívico e civilizacional, no entanto, este comportamento afeta também a estrutura natural do ciclo da natureza, os efeitos da nossa indústria e a alimentação das nossas economias têm esventrado a Terra e criado problemas insolúveis, neste momento identificados, mas cujas soluções não são aplicadas pelo efeito da teia de aranha, quanto mais se mexem mais se enredam.

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“Fizeste a cama, agora deita-te nela”, a sabedoria popular no seu estado mais simples e direto.

As profecias confirmam-se ou estão em vias de se confirmar e o homem poderia mudar tudo isto se para tanto estivesse imbuído de vontade de mudança.

“E vi outro anjo que subiu da banda do sol nascente, e que tinha o selo do Deus vivo; e clamou com grande voz aos quatro anjos, a quem fora dado o poder de danificar a terra e o mar, dizendo: Não danifiqueis a terra, nem o mar, nem as árvores, até que tenhamos assinalado, nas suas testas, os servos do nosso Deus.”

– Apocalipse 7-1:17

Mas a força que alimenta as nossas ações e os nossos pensamentos adensa-se ao nosso redor, fortalecendo mais e mais a nossa vontade, que assim alimentada mais se fortalece no desequilíbrio.

Não esqueças o cogumelo atómico, Não esqueças a loucura do homem, Não esqueças o poder da natureza! Não tenhas medo, e se o tiveres, procura dentro de ti a origem…

O mundo não vai acabar, mas tu, criatura humana, atenta para o teu comportamento, muda-o, nasce de novo!

⁽¹⁾ Dissertação, O Mistério do Nascimento, volume II, Mensagem do Graal

⁽²⁾ Dissertação, Despertai, volume I, Mensagem do Graal

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EPÍLOGO

O tempo permanece parado! Nós, sim, é que marchamos ao seu encontro! Investimos pelo tempo adentro, que é eterno, procurando dentro dele a Verdade.

O tempo permanece parado. Continua o mesmo hoje, ontem, durante mil anos! Somente as formas é que variam. Mergulhamos no tempo, para colher no regaço de suas anotações, a fim de fomentar nosso saber com as coleções que ele encerra! Pois nada se perdeu, tudo ele preservou. Nada mudou, porque é eterno.

Dissertação Despertai, volume I, Mensagem do Graal

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⁽¹⁾
⁽¹⁾
Abdruschin

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