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Capítulo 1 A idade do anonimato A tecnologia promete dar-nos o controle sobre a terra e sobre as pessoas. Mas a promessa não é cumprida: automóveis letais, prédios malfeitos e uma terrível burocracia devastam a Terra e tornam vidas sem sentido. As estruturas tornam-se mais importantes que as pessoas que as usam. Cuidamos mais de nossos bens, com os quais esperamos avançar no mundo, que de nossos pensamentos e sonhos, que nos dizem quem somos no mundo. Eugene Peterson, A long obedience in the same direction1 [Uma longa obediência na mesma direção] SUP HW PIR K BFN LOL Y2K onfuso? Se você for parecido conosco, as autoras, a resposta é sim. As letras acima parecem um tipo de código de computador para impedir que o mundo entre em colapso com o “Y2K”, se é que isso faz algum sentido. Na verdade, essa é uma conversa por mensagens de texto. Em linguagem normal, seria assim: What´s up? [E aí?] Homework. Parents in room. [Dever de casa. Pais na sala.] Okay. Bye for now. Laughing out loud ou lots of love. [OK, até mais. Gargalhando ou muito amor – depende do contexto] You’re too kind. [Você é muito gentil.] Contudo, a linguagem normal também pode ser usada nessas mensagens. Se alguém tivesse mencionado as expressões Facebook, sexting, Skype, Wi-Fi, upload de vídeo, YouTube ou até internet há 20 anos, você provavelmente pensaria que essas palavras fizessem parte de outra língua. É essa linguagem que abordaremos neste capítulo. De saída, precisamos dizer que nenhuma destas seções abrange
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22 - Pais modernos, valores eternos tudo. Gostaríamos que o fizessem, mas há material demais em cada assunto. Logo, faremos o possível para tocar naquilo que acreditamos ser mais útil para você no que diz respeito à criação dos filhos, com base em valores antigos – em uma geração não simplesmente moderna, mas tecnologicamente engajada. Uma mãe de um filho de 15 anos de idade disse recentemente: “Sinto-me uma ‘mãe analógica’ em um mundo digital”. Bem-vinda ao clube, do qual também fazem parte ‘pais, avós, professores e conselheiros analógicos’. Estamos sempre querendo acompanhar o progresso, mas a verdade é que tentamos estabelecer limites para coisas que mal compreendemos. Quando fazemos isso, nossos filhos dizem algo semelhante a: “Você não entende! Todo mundo hoje em dia manda SMS, tem uma conta no Facebook e usa Skype. É um mundo diferente daquele em que você cresceu”. Realmente, um mundo diferente com uma linguagem diferente. Neste capítulo, tentaremos explicar ambos, abordando seis questões tecnológicas que mais ouvimos crianças e pais abordarem. No chamado Um mundo diferente, discutiremos sobre tecnologia e tendências entre crianças e adolescentes de hoje. Em Um olhar mais profundo, revelaremos exatamente por que as crianças são tão atraídas para a tecnologia, bem como as preocupações associadas a ela. Em O que os pais modernos devem fazer? você verá ideias específicas sobre como estabelecer limites e responder à incursão de seus filhos no mundo da tecnologia. Por fim, a Programação dominical em família dará aos “pais analógicos” uma oportunidade de se “conectarem” com seus “filhos digitais” longe das pilhas e do Wi-Fi.
Telefones celulares Um mundo diferente “Minha filha envia mais de 200 mensagens SMS por dia”. Esse número parece astronômico para você, mas, em nosso consultório, temos ouvido inúmeras vezes essa mesma frase de pais preocupados. De acordo com um estudo de Nielsen de agosto de 2009, o número médio de textos enviados por adolescentes mensalmente aumentou 566% de 2007 para 2009. Em geral, um adolescente envia 2.899 mensagens SMS por mês, enquanto só faz 191 chamadas. Nielsen também concluiu que 77% dos adolescentes têm celular, 11% costumam pegar um emprestado (opa!). Destes, 83% usam SMS; 56% enviam mensagens com fotos pelo celular; 45% jogam video games em seu celular; 40% batem papo em seu celular; e 37% usam a internet em seu celular.2
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A idade do anonimato - 23 Isso se estende também às crianças. Seus filhos de seis anos de idade também podem pedir um celular. Em 2007, de acordo com a pesquisa C&R, 22% das crianças de seis a nove anos e 60% dos pré- -adolescentes de 10 a 14 anos possuem seu próprio celular. Não há dúvida de que esses números cresceram exponencialmente desde então.3 Duas escolas de Ensino Fundamental do Texas deram smartphones aos alunos do sexto ano.4 Os alunos só podiam usá-los para ter acesso à internet, ouvir podcasts [arquivos de áudio] e fazer trabalhos (as funções de fazer e receber chamadas ou enviar e receber textos estavam desabilitadas). Algumas operadoras de telefonia fornecem esses aparelhos gratuitamente. As crianças e os adolescentes não apenas costumam dizer que seu celular é o bem mais indispensável à vida, como também sustentam que ele é a ligação que têm com o mundo e a base de sua vida social. Os celulares vieram para ficar (a menos que sejam substituídos por algo que torne as conversas ainda mais rápidas ou que requeira ainda menos energia ou interação social).
Um olhar mais profundo Um dos principais benefícios dos celulares nas mãos das crianças ou dos adolescentes está relacionado à segurança: eles tornam nossos filhos sempre acessíveis – contanto que atendam os telefones (chegaremos a esse assunto no próximo tópico). Se sua filha sai com duas amigas à noite, você pode checar onde ela está a qualquer momento. Se você for divorciado, pode entrar em contato diretamente com seu filho quando ele estiver com seu ex-cônjuge, por exemplo. Isso torna a comunicação muito mais conveniente. Hoje, com os celulares com GPS, podemos ter a informação exata de onde as crianças e os adolescentes estão. Um jovem de 17 anos foi trazido para nosso aconselhamento por mentir inúmeras vezes a seus pais. Lamentavelmente, ele era bom nisso, mas, pelo fato de seu celular ter a função GPS, seus pais conseguiam identificar suas mentiras. Quando ele afirmava estar na biblioteca, eles sabiam que, na verdade, ele estava na casa da namorada. Quando dizia ter ido ao cinema, seus pais viam que ele tinha ido a uma festa. A ideia não é atuar como um serviço de inteligência da polícia, investigando a vida dos filhos, mas há situações em que é útil saber exatamente onde eles estão. Os celulares também podem incutir responsabilidade nos filhos. Eles permitem que a criança aprenda como se restringir aos minutos dados ou às
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24 - Pais modernos, valores eternos mensagens de texto de um plano e como conservar o aparelho (não o deixando cair ou molhar). Esses são grandes incentivos a que seus filhos tenham e mantenham a vida social que tanto buscam. Permita que o celular seja não só um privilégio, mas também algo de que precisem cuidar, a fim de que entendam a responsabilidade de possuí-lo. O fenômeno da telefonia celular em nossa cultura oferece muitos outros aspectos positivos. Podemos, por exemplo, descobrir imediatamente se uma criança se envolveu em um acidente. Se seu filho estiver dirigindo e perder-se, ele pode ligar para você em vez de parar para pedir informações em uma parte da cidade que não seja muito segura. Com o celular, você também tem como saber mais rapidamente se sua filha passar mal. Além disso, se precisar passar na escola mais cedo, poderá mandar uma rápida mensagem de texto para seu filho. Tratemos sobre preocupações – há várias. Talvez a maior delas seja a falta de interação social que ocorre quando o jovem se relaciona via mensagens de texto. De acordo com estatísticas, as mensagens SMS são o método preferido de comunicação entre as crianças hoje. Ao enviarem uma mensagem de texto, elas deixam de lado o trato pessoal que usariam se estivessem ao telefone. Você se lembra de como seus pais o ensinaram a atender o telefone? “Casa dos Ferreiras, aqui é o João”. Hoje, os jovens sequer dizem “alô” – simplesmente digitam: “SUP?” [What´s up?; E aí?]. O envio de mensagens com conteúdo pornográfico tornou-se uma tremenda preocupação para os pais de hoje. De acordo com uma pesquisa recente da National Campaign to Prevent Teen and Unplanned Pregnancy [Campanha Nacional para Prevenir a Gravidez Indesejada entre Adolescentes], 39% dos adolescentes do país já enviaram ou receberam mensagens sexualmente sugestivas, e 48% receberam esse tipo de mensagem. Ademais, 20% dos adolescentes já enviaram ou postaram suas próprias fotos nus ou seminus.5 Temos recebido muitos deles em nossos escritórios, meninos e meninas ingênuos – pois acreditam que suas fotos íntimas não serão passadas adiante; não pensam que elas permanecem no ciberespaço e não cogitam os efeitos que essas mensagens têm sobre a reputação deles. Os meninos enviam e pedem mensagens porque são movidos tanto pelos hormônios como pela pressão de seus amigos (todos os outros estão falando sobre as meninas para as quais mandaram mensagens pornográficas). As meninas, por sua vez, geralmente enviam mensagens pornográficas porque são solicitadas a fazê-lo ou esperam que os meninos de quem elas gostam lhes deem mais atenção. Basicamente, as mesmas razões pelas quais qualquer pré-adolescente ou adolescente se envolve em um relacionamento sexual podem fazer com que ele
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A idade do anonimato - 25 se envolva com pornografia via celular. Entretanto, para eles, mandar mensagens pornográficas é a melhor opção, pois, assim, não praticam o ato. Graças a Deus, as autoridades têm-se engajado em investigar essa prática. Como já dissemos, nós, adultos, geralmente tentamos recuperar o tempo perdido, mas o envio de mensagens pornográficas tem acontecido há vários anos, mesmo sem haver um nome para isso ou sem sabermos. Hoje, por distribuírem pornografia infantil, os adolescentes estão enfrentando acusações que vão desde má conduta até crimes hediondos. Por isso, é sempre bom que haja outra voz falando com nossos filhos; afinal, uma voz que transmita o poder da lei e das consequências de nossos atos pode pôr fim à ingenuidade que os acompanha. A legislação de trânsito – assim como os pais e responsáveis – também se preocupa com os jovens que estão usando seus celulares enquanto dirigem. Com cada vez mais telefones com acesso à internet, os jovens estão enviando textos, checando o Facebook e até fazendo chamadas (quando as outras opções são menos viáveis) ao volante. Em outubro de 2009, sete estados norte-americanos tornaram ilegal alguém falar ao telefone celular enquanto dirige. Dezoito estados e o Distrito de Columbia proibiram o envio de mensagens de texto ao volante.6 Felizmente, temos outras vozes na vida de nossos filhos, as quais geralmente são um fator um pouco melhor para a intimidação desses perigosos atos. Os celulares se tornaram uma fixação em nossa vida e na de nossos filhos. A conveniência que eles oferecem de nos permitir contatar facilmente nossos filhos nos é muito vantajosa, mas, por outro lado, os celulares podem estar contribuindo para que criemos uma geração cuja interação social e cujo respeito por si e pelos outros sejam péssimos. Os jovens tendem a se tornar mais preguiçosos, preferindo relacionar-se em um mundo bidimensional ao tridimensional, em que têm de lidar com sentimentos pessoais etc.
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Tomar cuidado com as pressões de grupo. Seu filho não precisa de um telefone apenas porque pais modernos compram celulares para seus filhos. Parece bobagem, mas, até entre adultos, é fácil sucumbir à pressão do argumento de que “todo mundo está fazendo isso”. Não devem ser os primeiros a comprar um celular para os filhos (a menos que haja uma razão específica) – para que eles não sejam
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considerados “metidos”. Tampouco devem ser os últimos, para que os filhos não sejam considerados “peixes fora d’água”. Os pais devem procurar saber como outros pais que seguem seus mesmos valores procedem com relação a isso, bem como a outros privilégios. Assim, quando seus filhos disserem: “Tenho que ter porque todo mundo tem!”, você terá contra-argumentos. Seu dever de casa. Antes de comprarem um celular, devem certificarse de que compreendem a capacidade de seus filhos. Devem também atualizar-se sobre o aparelho e desativar as funções (ou tirar os aplicativos) para os quais acham que os filhos não estão preparados. Por exemplo, muitos celulares estão conectados a um computador, de modo que as mensagens instantâneas que eles forem receber vão tanto para o computador como para o celular. Nossa amiga, especialista em cultura adolescente, Vicki Courtney, defende que, assim como usamos “rodinhas” para aprendermos a andar de bicicleta, devemos iniciar-nos na tecnologia com uma espécie de “rodinha”.7 Os pais modernos devem começar a controlar o uso de celulares por seus filhos, procurando saber o que o celular permite fazer e quanto tempo deve deixar que eles o usem. Há celulares que só podem receber chamadas dos pais ou de números pré-programados. Certos serviços telefônicos também podem ser desativados durante determinadas horas – planos pré-pagos ajudam nisso. Limitem o tempo de conversa e de envio de mensagens de textos de modo que seus filhos tenham de interagir com um mundo tridimensional. Façam isso de forma gradual: grandes limites enquanto eles ainda são pequenos e limites menores à medida que vão crescendo. Quando seu filho tiver 18 anos e mudar-se, vocês vão querer que ele tenha aprendido a se cuidar, e não que continue seguindo suas regras. Ele não terá a oportunidade de fazer isso se as “rodinhas” nunca forem retiradas. Deixar claros os limites, ajudando os filhos a conhecerem, a partir do momento em que ganham um celular, quais são suas regras e expectativas. O próprio celular trará consequências se for mal empregado. Algumas regras são: »» Ter respeito pelos outros e por si mesmo ao telefone. Isso envolve não o atender enquanto come com alguém nem onde parecer falta de educação. Além disso, não tratar, ao telefone, de assuntos que não têm cabimento.
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Atender apenas às chamadas de pessoas conhecidas. Crianças podem receber ligações de enganadores e trotes sem que vocês saibam disso. Nunca dirigir conversando ao celular ou redigindo mensagens de texto. Não deletar as mensagens de texto. Em todo caso, é possível checar a conta telefônica e descobrir se foram feitas por seus filhos. A partir de então, basta procurar saber por que fizeram isso. Usar o celular apenas em horários permitidos. Muitos pais com quem conversamos têm uma cesta de celular, para onde vão todos os celulares durante as refeições, nos momentos em família e na hora de dormir. Sempre atender quando os pais ligarem. Se seus filhos ultrapassarem os minutos ou o número de mensagens SMS a que têm direito, serão responsáveis pelos gastos. Se seus filhos perderem o celular dado por seus pais, comprarão o seguinte. Conversar sobre mensagens pornográficas com seus filhos de um jeito que seja apropriado à faixa etária deles. Se eles tiverem idade suficiente para possuir um celular, também o têm para saber que, talvez, recebam (ou serão tentados a enviar) mensagens inadequadas. Faça com que eles conheçam os perigos desse mundo e as consequências que podem gerar em seu lar com isso. Interessar-se por seu mundo. Aprenda a enviar e ler mensagens de texto e todos os outros recursos do aparelho que seus filhos utilizam. É sempre importante que falemos a língua deles, mesmo que ela nos pareça estranha.
Video games Um mundo diferente Avançamos muito desde os Space invaders [Invasores do espaço], o Frogger e o primeiro Super Mario bros [Super irmãos Mario]. Os jogos de video game de hoje têm muito mais aventura, complexidade e sangue. Também podem trazer conteúdo sexual ou personagens altamente sensuais. Uma amiga nossa disse a seus filhos adolescentes, que passavam muitas horas jogando video game por dia: “Quero que
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28 - Pais modernos, valores eternos vocês saibam que as mulheres não têm seios perfeitamente pontiagudos assim. O que vocês estão vendo não é real”. Decididamente, não, mas a tecnologia avançou tanto que os video games estão cada vez mais realistas. O movimento que fazemos com os joysticks são os feitos pelos personagens virtuais dos games. Isso nos permite praticar esportes, brigar ou matar alguém virtualmente. Hoje em dia, existem até jogos que medem nosso equilíbrio, peso e índice de massa corporal ao pisarmos sobre uma plataforma que vem com o jogo. Segundo um estudo da Harris Interactive, crianças de 8 a 12 anos jogam, em média, 13 horas por semana de video games; meninos de 13 a 18 anos, 14 horas; pré-adolescentes do sexo masculino, 16 horas; e adolescentes, também do século masculino, 18. Com relação às meninas, as pré-adolescentes jogam em média dez horas por semana; e as adolescentes, oito.8 Uma pesquisa da Amazon revela os games com mais vendagem. O primeiro lugar é um de combate em que você se vê em ruas escuras e abandonadas da África para lutar contra uma invasão. A classificação é “maduro”, o que significa que há palavras de baixo calão, violência e sangue em nível moderado (onde está o Frogger quando se precisa dele?). O número dois da lista é um jogo de corrida, de classificação “livre”. O terceiro é três em um – contém pingue-pongue, jet ski e frisbee. O quarto é de um personagem sombrio, com um passado ainda mais sombrio. Hoje em dia, há até tecnologia que permite ao jogador usar uma espingarda, enquanto faz uma escalada – e a lista de jogos não tem fim.
Um olhar mais profundo Os video games são um mundo em que crianças e adolescentes entram e podem testar habilidades, vencer seus medos e combater um sem-número de personagens de todos os tipos. Com a tecnologia de hoje, esses personagens podem ser controlados por alguém que esteja ao seu lado ou em outro país. Os video games têm seus benefícios. De acordo com um estudo do Yahoo! Shine, mais de 70% das mães de pré-adolescentes e adolescentes declaram que os jogos os ajudaram a desenvolver sua capacidade de resolver problemas.9 Outra pesquisa também concluiu isso: em junho de 2009, a Sesame Workshop [Oficina Sésamo] apresentou um relatório sobre como os games podem melhorar a vida das crianças, expandindo seu vocabulário, desenvolvendo sua capacidade de resolver problemas, melhorando sua coordenação motora, bem como sua criatividade, e, até mesmo, ensinando-os a pensar sistematicamente quando uma decisão afeta o todo.10
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A idade do anonimato - 29 Também foram dados exemplos de jogos que ajudam as crianças a lidarem com doenças, como o The asthma files [Os arquivos de asma] e Sesame street’s color me hungry [Pinte-me com fome, da Vila Sésamo], que ensina as crianças a comerem de maneira saudável. Existe também um chamado Dance, dance revolution [Revolução na dança]. Este último faz com que as crianças memorizem e façam uma sequência de passos de dança, a fim de promover mais atividade física. Além disso, as crianças dizem que se realizam ao avançarem para os níveis mais difíceis dos games. Eu (Melissa) estou trabalhando com uma adolescente de 13 anos, bastante hábil no video game. No entanto, em função de um problema de desenvolvimento, ela não possui muita facilidade para fazer e manter amizades. A melhor coisa que ela acha que faz é jogar seu Playstation 3. Jogar video game, nesse caso, ajuda a adolescente a se sentir mais confiante e no controle de sua vida. Agora, passemos aos malefícios. Um artigo britânico do The Observer [O Observador], em 2001, afirmou que “os video games estão criando uma geração de crianças idiotas, mais dispostas à violência que seus pais, de acordo com um novo estudo controverso”.11 Esse artigo explica que o problema não é apenas o conteúdo do jogo em si, mas também os efeitos do ato de jogar, os quais são prejudiciais. Um estudo japonês descobriu que as únicas áreas cerebrais estimuladas nos games são as associadas à visão e ao movimento. A aritmética, por outro lado, estimula o lobo frontal de ambos os hemisférios, que tem relação direta com o autocontrole. Por isso, as crianças precisam de atividades que desenvolvam mais o lobo frontal, e não que o ignorem. Se ao menos nossos filhos amassem matemática tanto quanto amam Zelda... Outro perigo do mundo dos jogos, assim como de outras áreas da tecnologia, é que as crianças aprendem a agir e a se relacionar no mundo virtual, e não no real. A coragem e o heroísmo do jogo Halo não se traduzem necessariamente em coragem quando um “valentão” tenta intimidar um amigo de seu filho, mas geralmente é bem mais fácil. Afinal, não é muito mais fácil atacar um adversário com arco e flecha sentado no conforto de seu sofá do que convidar uma garota para sair? Quando simulam a realidade, os video games podem ser úteis, mas, quando o mundo virtual é totalmente diferente do nosso, isso pode criar uma necessidade de o usuário permanecer naquele universo. Estatísticas indicam um problema no vício em video games. O estudo da Harris Interactive, em 2007, observou que 8,5% das crianças e dos adolescentes entre 8 e 18 anos que jogam regularmente são viciados.12 Isso não quer dizer que eles sentem a necessidade de passar uma quantidade significativa de tempo jogando, mas que são incapazes de ficar sem jogar video games por muito tempo.
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