Martini, Maria da Graça Pedrazzi Dinâmicas de grupos e jogos relacionais / Maria da Graça Pedrazzi Martini. .- -. Porto Alegre: RS. Caifcom Editora, 2017. 227 p. ISBN - 978-85-69460-03-9 1. Dinâmicas de grupo 2. Jogos Relacionais 3. Brincadeiras I. Título
CDD (21) 266.023
1ª edição: Fevereiro/2017
Coordenação de produção: Eduardo Pellissier Capa: Eduardo Pellissier Projeto gráfico: Decomm Comunicação Visual Revisão ortográfica: Thatiane Pellissier CD músicas: voz de Francisco Gomes - Estúdio Flg Impressão: Imprensa da Fé
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
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“O que significa, entretanto, dizer mero jogo, quando sabemos que, de todos os estados do homem, é o jogo e somente ele, que o torna completo e desdobra de uma só vez a sua natureza dupla?” Schiller, 1795.
Dedicatória
A Deus, por me presentear com a vida, com o trabalho de cuidar de gente. Agradeço a Deus também por poder compartilhar minhas aprendizagens com você. Aos meus antepassados, que deixaram meu caminho pela vida mais fácil. Aos meus pais, Elza e Jayme, que me ensinaram o significado do estudo, do trabalho e do movimento da vida. À minha filha Ana Clara, que me ensina, me apoia e me incentiva a realizar meus sonhos! Meu maior tesouro na Terra. Ao amado marido Celso, que me apoia incondicionalmente, me ouve, me abraça, me massageia as costas e o coração. Meu porto seguro.
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Agradecimentos
Aos meus amigos, pelo acolhimento, refúgio, fortaleza e sabedoria. Eles me ofereceram um colo quente nos momentos de dificuldade. A todos que contribuíram com este trabalho enviando suas atividades; ou mesmo aos que desejaram enviar, mas não tiveram tempo suficiente, ou o computador pifou, ou o arquivo se perdeu, ou a Internet não funcionou e muitos outros desafios da vida que impediram que sua atividade estivesse registrada nesta coletânea. Ofereço este livro, com profunda gratidão, a todos que, direta ou indiretamente, participaram da sua concretização. Obrigada a toda equipe DAPS (Diretoria de Atenção Primária à Saúde) representando os profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, Paraná. Em especial à Adriana Henriques Ribeiro Menezes, companheira de trabalho e coordenadora, na época, do Programa de Controle do Tabagismo no período em que foi desenvolvido este trabalho, pelo convite para estar com o grupo de profissionais que atuavam junto ao programa. Aos profissionais que enviaram via e-mail suas atividades. Muitos desses profissionais já não estão mais em nossa rede municipal, mas acreditamos que estão dando a sua significativa contribuição para a saúde coletiva em
algum lugar do nosso imenso país. Este trabalho representa o esforço e competência de todos os profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, Paraná. Minha gratidão pela oportunidade de estar na vida com cada um de vocês. Maria da Graça Pedrazzi Martini
Agradecimento especial
À Maria Lucia de Andrade Reis, minha amiga irmã Malu, por ler e reler algumas vezes os rascunhos desta obra e me apoiar nesta publicação. Obrigada por sua generosa e infinita amizade. Por sua contribuição em minha prática como terapeuta comunitária. Sua presença em minha vida pessoal e profissional tem tornado minha caminhada mais intensa e profunda. Ao Francisco Gomes, meu amigo, um músico talentoso, terapeuta comunitário e profissional da música e saúde, que cedeu sua linda voz e seu estúdio para a gravação do CD que compõe esta obra. Obrigada pela sua generosidade em prol da Terapia Comunitária Integrativa e de tantos outros grupos que podem se beneficiar deste trabalho.
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Apresentação
É com imensa satisfação que aceitei o desafio de apresentar o livro “Dinâmicas de grupos e jogos relacionais”. Este livro oferece ao leitor, seja ele um iniciante ou um especialista no assunto, um vasto repertório de ferramentas para lançar mão ao conduzir diferentes grupos em contextos distintos. A autora inicia compartilhando a trajetória percorrida para a construção deste livro. Após esse resgate histórico, apresenta o significado de dinâmicas, jogos e brincadeiras, bem como algumas regras para sua utilização. Na sequência, apresenta a Terapia Comunitária Integrativa e o Programa de Controle do Tabagismo, cenário onde foi vivenciada a experiência relatada na parte inicial. Somos contemplados ainda com aspectos teórico-práticos relacionados à arte de perguntar e de escutar, e à criança interior, tema tão caro à autora. Sua tese de doutorado explora esse assunto. Depois de degustarmos temas interessantes e bem fundamentados, apresenta as dinâmicas, jogos e brincadeiras. E, generosa como é, Graça Martini nos oferece ainda músicas para que possamos usar como apoio às atividades sugeridas. E então, caro leitor e cara leitora, vamos brincar? Boa leitura! Maria Lucia de Andrade Reis
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Uma breve explicação para você que vai ler este livro
Este livro é fruto de uma oficina intitulada: Introdução à Terapia Comunitária Integrativa (TCI), oferecida aos profissionais dos NASFs (Núcleo de Apoio à Saúde da Família) e profissionais que atuam no Programa de Controle do Tabagismo, da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, com a participação de terapeutas comunitários que atuam nos dois programas. Antes de iniciar a apresentação das dinâmicas, jogos e brincadeiras trazidos pelos participantes, gostaria de pensar junto com você sobre alguns aspectos da importância deste trabalho. Neste intercâmbio de saberes, há ideias E outras ideias; e não ideias ou outras ideias. Nenhuma atividade enviada foi excluída. Esta é uma construção conjunta, realizada a partir do que cada um já desenvolveu nos grupos de tabagismo, grupos dos NASFs e no acolhimento das rodas de TCI. No movimento do brincar encontramos um espaço relacional de reconhecimento da nossa maneira de SER e PERTENCER. Ao trabalharmos em grupo nós nos sentimos fortalecidos, aprendemos a ultrapassar situações difíceis e nos tornarmos abertos para o movimento. O movimento da vida! Juntos somos mais fortes! Dinâmicas de grupos e jogos relacionais
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Mas lembre-se: você estará entrando no campo das emoções e, às vezes, um jogo, dinâmica ou brincadeira pode criar espaço para a vazão a uma emoção reprimida como: o medo, a raiva, tristeza, ansiedade, solidão, nojo, decepção, culpa, orgulho, saudade, confusão, desconfiança, vergonha, desespero, preocupação, o sentimento de exclusão ou abandono, bem como a dificuldade em perder no jogo, que traz junto à frustação e até a ira. Como facilitador(a), acolha cada participante e sentimentos que aparecem, sem julgamento e sem conselhos. Esses sentimentos são manifestações de dores do passado. Compreenda sempre. Se for possível, realize as dinâmicas com outro facilitador de apoio para ajudá-lo em situações mais difíceis. Boas emoções também aparecem com maior frequência como: alegria, amor, tranquilidade, felicidade, solidariedade, compaixão e esperança. O espaço da partilha para o intercâmbio de saberes do grupo é fundamental para que todos possam expressar seus sentimentos, desconfortos ou percepções positivas de si mesmo durante a atividade. Os exemplos de perguntas descritas nas atividades podem ajudar você a aceitar as emoções que surgem sem preconceito ou julgamento. Elas podem ajudar o processo de autoconhecimento e crescimento do participante. Fique atento(a)! Acolha o participante que sentir desconforto, deixe cada um muito à vontade para brincar ou não brincar. Evite o TEM QUE. Não tem que participar se não quiser. O não participar já diz muito sobre o como a pessoa lida com as situações na vida. Seja sempre um(a) grande observador(a) das emoções 16
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que emergem do grupo. Quem não brincou também deve ser convidado a dividir seu desconforto e como se sentiu ficando de fora. Mas sem pressão, deve partilhar somente quem deseja, quem se sente confortável. Esse é um momento de respeito às escolhas de cada um. Maria da Graça Pedrazzi Martini
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Sumário O começo... |...........................................................................| 14 Estas páginas... |....................................................................| 19 O que significa dinâmica, jogo e brincadeira |..........| 20 Regras para as dinâmicas, jogos e brincadeiras |......| 20 Importância do Espaço de Partilha |.............................| 21 Resultados da oficina |......................................................| 22 O que é Terapia Comunitária Integrativa na Saúde de Londrina, Paraná? |............................................| 25 Terapia Comunitária Integrativa e o Programa de Controle do Tabagismo |........................| 32 Saber perguntar |.................................................................| 34 Fazer perguntas |.................................................................| 34 A arte de perguntar é também saber escutar |..........| 44 Brincar é acolher nossa criança interior |...............| 43 O coitadinho de mim |.........................................................| 46 Estrutura das dinâmicas, jogos e brincadeiras |......| 52 Músicas Intertaivas |..........................................................| 57 Dinâmicas, Jogos e Brincadeiras de Apresnetação .. | 65 Dinâmicas, Jogos e Brincadeiras para Integrar e Refletir |.................................................| 84 Para finalizar o que não tem fim... |.............................| 158 Bibliografia consultada |...............................................| 160
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Nascendo uma ideia
A ideia deste livro nasceu após a conclusão da oficina de Introdução à Terapia Comunitária Integrativa (TCI). A oficina foi realizada com profissionais dos NASFs (Núcleo de Apoio a Saúde da Família) e profissionais que atuavam no Programa de Controle do Tabagismo, da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, com a participação de terapeutas comunitários que atuavam nos dois programas. A proposta deste trabalho foi se delineando a medida que chegavam por e-mail, as mais variadas dinâmicas, jogos e brincadeiras da prática dos profissionais que trabalham com grupos de tabagismo, rodas de Terapia Comunitária Integrativa e NASF. O material coletado foi tão rico que dei origem primeiramente a uma apostila, complementada com dinâmicas e brincadeiras sugeridas por mim e que já haviam sido utilizadas em grupos de dependentes químicos. Esse material retornou aos participantes da oficina, organizado, formatado de forma mais uniforme e impresso. Durante dois anos fui estruturando, colocando todas as dinâmicas em um mesmo formato e reescrevendo muitas delas para ficarem mais claras: foram acrescentados objetivos, recursos materiais; procedimentos e partilha.
Na partilha, proponho sugestões de perguntas que faço, e que foram sendo aprimoradas por meio da minha experiência com grupos. O objetivo da partilha após o término de cada dinâmica ou brincadeira é dar visibilidade aos sentimentos experimentados durante a atividade, estimular a comunicação clara, uma reflexão em relação ao “estar na vida” e reflexões para mudanças por meio do lúdico. Nessas dinâmicas, jogos e brincadeiras aqui listadas, proponho garantir um espaço de expressão para os sentimentos que surgem por meio dos conflitos, das dependências emocionais, das frustrações e inquietações do dia a dia. Por meio do lúdico é possível oferecer um “lugar afetivo”, confiável e seguro (a partilha) para expressar, de diferentes maneiras, os sentimentos, medos, conflitos e dores da alma, sem julgamento de “certo ou errado”, e ressignificá-los a partir da socialização ao final de cada atividade. Alicerçada em minha prática de mais de 30 anos com grupos de todas as idades, posso afirmar que o lúdico é muito terapêutico e facilita o trabalho de aprofundamento nas questões emocionais que ficam escondidas por detrás das couraças que criamos para lidar com o mundo e com nossas relações interpessoais. Ao propor um “brincar terapêutico”, pretendo favorecer e respeitar o potencial de cada um; estimular o diálogo respeitoso e divertido, como deveria ser na própria vida; incentivar a alegria, o espírito de equipe, o compromisso, o toque afetivo e respeitoso, a definição de limites, tão necessários em nossa vida; e, principalmente, 22
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estimular a expressão de amor por si e pelo outro. Na prática também pude constatar que as dinâmicas, os jogos e brincadeiras facilitam a clarificação do processo de comunicação entre as pessoas. Uma regra quando não está clara dificulta o andamento do jogo. Não adianta dizer: “eu falei, você que não entendeu!”, o outro deve compreender o que você diz. Assim é na vida também. Então, por meio da brincadeira, se pode voltar à regra inicial, estimular a clareza na comunicação e dizer: “me deixa ver se entendi”, ou “o que vocês entenderam que é para ser feito?”, e só então, seguir em frente. Na vida, por vezes, dizemos A e o outro entende B, aí o conflito se instala, todo mundo tem razão, ou não tem razão, mas muitas pessoas não sabem que o problema pode ter surgido na comunicação inicial. Podem então, surgirem as mágoas, os ressentimentos, as dependências, o “diz que me diz” e até rompimentos e separações, demissões do trabalho e conflitos desgastantes. Comunicar-se bem é também uma arte e pode ser aprendida. As brincadeiras podem ajudar. Cabe ao facilitador estimular a clareza na comunicação o tempo todo. Fazer perguntas e ajudar o grupo a desenvolver esta habilidade. Espero que as próximas páginas deste livro levem você a um parque de diversão para o seu corpo, sua mente e seu coração e, que possam de alguma maneira, por meio da reflexão compartilhada, contribuir com sua prática profissional.
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O começo...
Esta coletânea de jogos, brincadeiras e dinâmicas é fruto do trabalho desenvolvido na oficina: Introdução à Terapia Comunitária Integrativa (TCI) – acolher para compreender. Foi oferecida em 2010 aos profissionais da Secretaria Municipal de Saúde de Londrina, que atuavam junto aos NASFs (Núcleo de Apoio a Saúde da Família), Terapia Comunitária Integrativa e aos grupos de tabagismo. As atividades foram enviadas por e-mail e, muitas delas, aplicadas e discutidas, sob a ótica da socioterapia, jogos espontâneos criativos para multifamilias, jogos cooperativos e brincadeiras usadas nas rodas da Terapia Comunitária Integrativa. O objetivo da oficina foi sensibilizar os profissionais dos NAFS, que não conheciam a TCI, para que estes pudessem apoiar os terapeutas comunitários. Outro objetivo foi o de apresentar a TCI aos profissionais que atuavam nos grupos de combate ao tabagismo. A metodologia proposta para estes grupos está no Programa de Controle do Tabagismo do Ministério da Saúde. A necessidade de aproximar o programa de TCI e o programa de
Tabagismo surgiu porque a coordenação Municipal de Programa de Tabagismo avaliou que, quando o grupo de tabagismo era conduzido por terapeutas comunitários, estes tinham maior adesão, continuidade e resultados positivos. A pergunta feita a mim, enquanto coordenação do Programa de Terapia Comunitária Integrativa foi: O que vocês fazem de diferente na TCI que conseguem esse resultado tão positivo? A partir do interesse em nossa prática como terapeutas comunitários, montei uma oficina com três encontros, de seis horas cada. O objetivo era apresentar as características da metodologia, fazer uma roda de TCI, acolher os sentimentos dos próprios profissionais e mostrar, na prática, a nossa forma de acolher o dependente de tabaco e outras drogas. Para o terceiro encontro, solicitei que os participantes trouxessem, por escrito, dinâmicas, brincadeiras, jogos e músicas, que foram aplicadas em seus grupos e que possibilitaram obter resultados positivos, a fim de partilhar saberes e experiências. Durante as oficinas, colocamos em prática várias dessas brincadeiras, jogos e dinâmicas trazidas pelos profissionais. Por meio delas introduzi a partilha e propus um momento para reflexões sobre a contribuição da brincadeira para o trabalho e para a nossa vida. Propus também uma reflexão sobre a dimensão afetiva dos participantes. As próprias brincadeiras que eles trouxeram serviam de alavanca para as discussões nos grupos. Para cada jogo jogado, proporcionei um momento de partilha de sentimentos, reflexão e síntese. Essa forma de trabalho é resultado da minha prática de atendimento com grupos 26
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de famílias e meu trabalho com crianças e adolescentes em atendimento psicopedagógico. Também realizo partilha em atividades com vivências terapêuticas do Cuidando do Cuidador1. Vale destacar que essa forma de partilha após o fim do jogo ou brincadeira não acontece na Terapia Comunitária Integrativa (TCI). A TCI tem metodologia bem definida e suas etapas são descritas e cumpridas quando fazemos rodas de TCI, conforme preconiza seu criador Adalberto de Paula Barreto (2009). Apresentarei neste livro, as etapas da TCI para que você leitor(a) possa conhecer. Porém, conforme recomenda a ABRATECOM – Associação Brasileira de Terapia Comunitária Integrativa – as rodas de TCI só podem ser realizadas por quem passa por um curso (de 240 a 360 horas) específico de capacitação para terapeutas comunitários. Este curso é oferecido somente pelos polos formadores reconhecidos2 pela ABRATECOM, que certifica o terapeuta comunitário para atuar com esta metodologia. As atividades compiladas neste livro são para os diversos formatos de grupos. Algumas delas, como as brincadeiras cantadas, as brincadeiras rápidas de integração e “quebra gelo”, foram utilizadas no acolhimento das rodas de TCI. Cuidando do Cuidador: curso e metodologia criada por Adalberto de Paula Barreto. O Cuidando do Cuidador, trabalho realizado em forma de terapia em grupo, ancora-se nesse ato de cuidar e suas significações. Traz como eixo a palavra e o acolhimento. O alívio do estresse passa pela palavra, pelo olhar para dentro de si e pelo acolhimento nutrido pelo elo estabelecido entre os participantes. Considera em todo seu processo que a cura pode estar na troca entre as pessoas, na partilha, na fala, escuta de si e do outro, na rede de apoio e afeto em grupo. As pessoas se fortalecem por essa relação de troca, assim como a aranha se nutre e se protege pela sua teia, sua rede de sustentação. O alívio e/ou a cura das dores da alma passa pela relação com o outro, onde cada um aprende a se ver no outro, podendo o sujeito, adoecer por falta de verdadeiros vínculos e “teias” que possibilitem a partilha e as trocas afetivas. (MARTINI, 2016) 2 ABRATECOM (www.abratecom,org,br). 1
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Trabalhar com grupos por meio de jogos, dinâmicas interativas e brincadeiras é ressignificar a estratégia de atuação junto a eles. Vai além do foco de prevenção ou tratamento. Conseguimos algo maior: promoção de saúde e qualidade de vida, porque ter saúde é dar movimento à vida! A TCI, o Programa de Combate do Tabagismo e o trabalho dos NASFs, ocupam seu lugar na política de promoção de saúde da comunidade em Londrina. Incluímos os jogos, dinâmicas e as brincadeiras como sugestão metodológica para os grupos de combate ao tabagismo e NASFs, como mais uma possibilidade lúdica, divertida e profunda que favorece o processo de mudança e construção da autonomia junto à comunidade. Vamos assim, construindo redes solidárias de afeto que fortalecem e reconstroem os vínculos entre os serviços e a comunidade, e os vínculos entre os membros da própria comunidade. Os vínculos resgatam o sentimento de SER E PERTENCER, a identidade e a competência de cada participante. O SENTIR a vida também é despertado pelas brincadeiras, jogos e dinâmicas. O “sentir” possibilita receber impressão da experiência por qualquer um dos sentidos, é ser afetado pela troca afetiva, é desenvolver a consciência, é transformar as sensações que geram malestar em sentimentos claros. Conheci a Terapia Comunitária e Adalberto Barreto em 2002, quando Barreto veio dar a primeira formação em TCI na cidade de Londrina, por minha iniciativa. Levei a ideia aos gestores da época que acreditaram na proposta e financiaram a sua vinda para uma capacitação. 28
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De lá para cá minha ligação com esse trabalho só foi aumentando. Posso afirmar que a TCI foi um marco profissional e pessoal em minha vida. Para este livro, emprestei então, de Adalberto Barreto e a TCI3, alguns alicerces importantes para trabalhar com os diversos grupos aonde utilizo jogos e brincadeiras: As regras: ☑☑ Quando alguém está falando: 1. Não julgar; 2. Não dar conselhos; 3. Falar apenas de si mesmo e não dos colegas; 4. Respeitar a ética de convivência; 5. Não sair falando do que foi partilhado; 6. Cantar para acolher todo e qualquer sentimento ou aprendizagem de autoconhecimento. ☑☑ O pensamento sistêmico: abordei os jogos e brincadeiras embasados num pensamento que leva em conta o contexto, um pensamento que amplia a visão sobre o que chamamos de problema e oferece suporte para irmos além dele. ☑☑ A importância da comunicação clara durante os comandos, regras e evolução dos jogos. Isso acaba sendo transferido para o cotidiano das pessoas naturalmente. ☑☑ A provocação, por meio dos jogos e brincadeiras 3 BARRETO, Adalberto. Terapia Comunitária Passo a Passo, 3º ed., revisada e ampliada. Fortaleza: gráfica LCR, 2009.
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interativas, para uma mudança interna (autoconhecimento) modificando a forma de funcionamento do sistema (individual e do grupo). ☑☑ A evolução da espontaneidade, competência e da criatividade do grupo. Outro referencial teórico-prático que influenciou o meu trabalho com grupos foi a metodologia criada por minha amiga Eneida Holzmann4, sobre os jogos espontâneos criativos para multifamílias. Ela também é terapeuta comunitária e terapeuta de família. Foi no primeiro congresso de terapia comunitária em 2003, em Morro Branco, Ceará, que a conheci. Anos mais tarde, em Londrina, tive a oportunidade de fazer um curso com ela sobre como trabalhar com jogos e brincadeiras com várias famílias ao mesmo tempo. Aprendi com ela que os jogos são como uma conversa (um colóquio, integrados ou não às falas) que constrói compartilhadamente um evento comunicacional como se fosse ao vivo (teatro, show, novela). Acontece então um diálogo lúdico subjetivo/objetivo que, no processo, constituirá uma composição, história ou texto animado (no sentido de alma) multidimensional, com a utilização de vários códigos e canais de comunicação – o processo é de construção compartilhada. (Holzmann, 1998). Logo, o jogo passou a ter outra dimensão em minha prática profissional. E do trabalho Holzmann ampliei meu entendimento sobre: ☑☑ Fortalecimento do saber de cada participante para resolver conflitos da vida por meio dos sentimentos
HOLZMAMM, Maria Eneida F. Jogar é Preciso. Jogos Espontâneo-Criativos para Famílias e Grupos. – Porto alegre, Editora ARTMED. 1998. 4
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expressos nos jogos, dinâmicas e brincadeiras, partilha de saberes e das reflexões realizadas. ☑☑ Expressar sentimentos por meio do jogo jogado5: quando pertinente, ou seja, de acordo com a proposta do profissional que irá aplicá-los proponho refletir ao final de cada jogo: o que senti, o que aprendi sobre mim por meio desse jogo? O que o jogo tem de parecido com a minha vida? E, o que mais me deu prazer durante a brincadeira? São algumas das reflexões que se pode fazer para partilhar os saberes entre os participantes. Neste caso, não há julgamentos, consenso ou defesas de posicionamentos, apenas partilha, onde cada um é respeitado em sua expressão de como sentiu o jogo. ☑☑ Buscar por meio dos jogos e brincadeiras a INCLUSÃO dos participantes, a fim de promover o acolhimento, o fortalecimento dos vínculos e a inclusão social. As atividades devem ser adaptadas para que possibilitem a inclusão e o contato com o movimento de SER (quem sou eu?) e PERTENCER (a que rede de afeto estou conectado?), presente em toda nossa existência. Por fim, encerro esta breve contextualização da origem deste trabalho com o destaque de que, a oportunidade do jogo que é inerente à vida, devolve ao ser humano a oportunidade de se apropriar do seu querer e do seu saber. Este livro é sobre jogos, dinâmicas e brincadeiras, 5 O jogo jogado é o jogo brincado. O jogo que realmente foi sentido e experenciado pelo jogador.
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portanto, não tem a pretensão de apresentar teorias, mas sim atividades em grupos que visam levar cada um(a) a se reconectar com sua energia vital (sua criança interior vitoriosa, essência humana e divina). É um belo reencontro com a sua capacidade de estar na vida de forma confortável, divertida, prazerosa, consciente e ativa. É a essência que há em cada ser humano, desabrochando em COMUM+UNIDADE = comunidade, e ocupando seu espaço na construção da saúde coletiva. Mais uma vez agradeço a todos que colaboraram com a riqueza desta coletânea.
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Estas páginas...
Destinam-se a todas as pessoas que gostam de brincar, cantar e de trabalhar com gente. As dinâmicas, jogos e brincadeiras já foram aplicadas em grupos religiosos, de trabalho, terapêuticos, da saúde, da educação, em empresas, em comunidades etc. Algumas delas podem ser usadas com crianças, segundo nossa experiência. A restrição para as crianças está nas dinâmicas que exigem o pensamento formal, o manuseio de objetos que ofereçam algum perigo ou cujos objetivos e regras não sejam adequados a sua faixa etária. Muitas delas são mais apropriadas para a adolescência e fase adulta.
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O que significa dinâmica, jogo e brincadeira
Num significado mais amplo, me refiro a dinâmicas, jogos e brincadeiras propostas neste livro como atividades lúdicas sistematizadas pedagogicamente, de forma que sua didática proporcione um sentido, uma reflexão, interação e uma ação da pessoa sobre a realidade. Não devemos nos esquecer (eu e você) que ao brincar ou jogar existe o componente DIVERSÃO. Então, precisamos resgatar a leveza da nossa criança interior6 e reaprender com ela, como se divertir na vida!
Regras para as dinâmicas, jogos e brincadeiras No início de cada dinâmica, jogo ou brincadeira, sugiro que você comece esclarecendo as regras de convivência para evitar que alguém se machuque ou ocorram outros imprevistos. Então, cuide para ninguém passar dos limites. Se o facilitador perceber que alguém está exagerando, ele deve parar a brincadeira e retomar as regras. Sempre pautado nas habilidades do facilitador citadas neste livro. 6 Criança interna... Todos carregamos dentro de nós uma criança eterna, um jovem ser inocente e maravilhoso. E essa criança simbólica também nos carrega, carrega quem fomos, o registro de nossas experiências de formação, de nossos prazeres e dores (Abrams, 1990).