REVISTA DA FACOM-UFBA. ANO IV, N. 6. SALVADOR, INVERNO 2009
ISSN 1982-2995
26 O CORDEL AGORA É WIRELESS 24 O BLOG É A MINHA OFICINA DE IDEIAS 28 PEQUENOS DESENHISTAS, GRANDES ILUSTRADORES
ft: wendell wagner
ft: vinicius campos
ft: aline trettin
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_ Impresso em: Gráfica Editora Comercial _ Tiragem: 4000 exemplares
CAPA Ilustração de Alice Vargas, referente a página 26.
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EDITORIAL
Graciela Natansohn
Se o sertão virou mar, por que não pode o cordel virar hipertexto multimídia, ser acessado por e-mail e celular, e o Seu Cordelista ter Twitter e Facebook? A literatura de cordel também caiu na rede, mas não só: os poetas já não definham de melancolia, olhando para o mar azul. Enxugam sua inspiração nos blogs. É que os tempos não estão fáceis para quem pretende publicar em papel. E até parece que nem precisa... _ Será que a vida transcorre nas telas? Por via das dúvidas, a Lupa também tem uma versão digital (www.lupa.facom.ufba.br). Alí também pode consultar as edições anteriores e outros textos. _ Se quer saber por onde anda o mais falado dos BBBs, dê uma espiadinha nas próximas páginas. Além disso, tem padre motoqueiro, doidos por futebol e uma pequena amostra do que faz a nova geração de ilustradores e desenhistas baianos. Boa leitura! P.S.: Boas novas para a Lupa! Fechando esta edição, ficamos sabendo que a Lupa foi premiada! A matéria Nada Será Como Antes, publicada com destaque de capa na Lupa5, foi campeã no Expocom Nordeste, que aconteceu entre 14 e 16 de maio, em Teresina, Piauí. A matéria, produzida por Samuel Barros e Edna Matos, concorreu na categoria jornalismo, modalidade reportagem interpretativa. Ainda resta mais uma etapa para levar o prêmio nacional, que será definido em setembro. O evento é organizado pela Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação – INTERCOM. Vamos torcer pelos focas da Lupa!
Capa da Lupa 5
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_Ilustração: Alice Vargas, Aleco, Bruno Aziz, Iansa Negrao, Nildão, Rodrigo Fiusa, Rodrigo Mineu, _Fotografia: Mariele Goes, Gabriela Teixeira, July Cardoso, Gether Ferreira, Graciela Natansohn. _ Direção de Arte e Diagramação: Alice Vargas
Editorial
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EXPEDIENTE
_ Redação: __ Circo Urbano: Camila Queiroz, Paula Amor, Raíza Tourinho, Rodrigo Fiusa, Carol D´Avila, Julien Karl, Guilherme Vasconcelos, Rafael Freire. __ Prova dos Nove: Mariana Sebastião, Rodrigo Fiusa, Carol D´Avila, Joseane Bispo, Rafael Freire. __ Meio e Mensagem: Mariana Sebastião, Rodrigo Fiusa, Victor Soares, Victor Gazineu, Giacomo Degani, Nelson Oliveira. __ Impressões: xxxx __ Passepartout: Paloma Ayres, Rebeca Caldas, Frederico Soares, Verena Paranhos. __ Cubo Mágico: Mariana Almofrey, Verena Paranhos, Raiza Tourinho, Victor Gazineu, Gabriela Vasconcellos, Lívia Montenegro, Luís Fernando Lisboa.
As opiniões expressas neste veículo são de inteira responsabilidade dos seus autores.
_ Reitor da UFBA: Prof. Naomar de Almeida Filho _ Diretor da Facom: Prof. Giovandro Ferreira _ Coordenação Editorial: Profa. Graciela Natansohn (DRT/BA 2702). _ Chefe de Redação: Cadu Oliveira _ Revisor: Cadu Oliveira _ Edição de Fotografia: Labfoto - Prof. José Mamede (editor) _ Projeto Gráfico: Alice Vargas (www.avargas.com.br)
Foto: Mariele Goes
Lupa é uma publicação da Faculdade de Comunicação (Facom) da Universidade Federal da Bahia (UFBA). ISSN 1982-2995. Turma da disciplina Comunicação Jornalística 2008.2. Ano IV, Número 6. Salvador, Inverno de 2009. Distribuição Gratuita.
CARTA DO LEITOR
EDITORIAL
Lord Vlad não gostou
SUMÁRIO
03 Editorial Expediente
CIRCO URBANO 05 08 10 13
Wyllys: O intelectual ex-Big Brother Saiu pra dar uma volta... Sonhos de Metal Quando o futebol é um mero pretexto
PROVA DOS NOVE 15 Tempo de Museu na Ufba 20 http://dá_pra_aprender_à_distância?
IMPRESSÕES 18 Ícaro
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Foto: Gabriela Teixeira
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Foto: Gether Ferreira
Ilustração : Bruno Aziz
MEIO E MENSAGEM 22 Pesquisas Eleitorais: metodologia e credibilidade 24 O blog é minha oficina de idéias 26 O cordel agora é wireless
PASSEPARTOUT 28 Pequenos Desenhistas, Grandes Ilustradores 31 O Senhor dos Papéis
Recebemos reclamação do Vladimir Senna, que transcrevemos quase na íntegra: “Alguns meses atrás eu recebi em minha residência dois estudantes da UFBa, Guilherme Vasconcelos e Julien Jatobá Karl, que vieram fazer um perfil de um músico de heavy metal para a Revista LUPA.Como descrito pelos próprios alunos na matéria, fui super atencioso com os 2 e agradeci o interesse. Como acertado, conversamos sobre vários assuntos, em mais de uma hora, e dividimos claramente entre entrevista e extras, sendo que eu acredito que a base da confiança entre entrevistado e entrevistador seja manter até o final a seriedade e a imparcialidade, mesmo entendendo que o intento era de um perfil e portanto, cabem alguns comentários diferenciados, porém, não cabem comentários depreciativos. Na introdução da matéria, é dito que eu ‘falava bem à vontade sobre mulheres, como se ainda fosse um adolescente e como se nem estivéssemos ali(...)’. Não ignorei o fato deles estarem ali, era uma conversa num grupo de 4 pessoas, 4 homens e portanto conversando sobre assuntos corriqueiros e totalmente distantes do que me foi proposto: minha relação com a música e os caminhos traçados a partir dessa relação. É óbvio que eu gosto do sexo feminino, ou não me relacionaria com uma mulher, mas nunca diria algo depreciativo ou machista numa revista. Já recusei várias ofertas de revistas e zines particulares, por destoarem da proposta séria, e até mesmo radical as vezes, do cenário metal. Achei que na UFBa caberia uma entrevista, até pelo caráter questionador e diferenciado de quem está entrando no mercado de trabalho, na área de jornalismo ou qualquer outra ligada à comunicação. Eu teria dito ‘O Costa Azul é o bairro que tem mais mulher gostosa em Salvador’. mesmo que eu tivesse dito isso, em que momento isso tem a ver com a proposta sugerida? A matéria me colocou como machista, desrespeitou meus laços familiares, desrepeitou a minha relação pessoal com minha namorada, desrespeitou a forma como trato as mulheres que apreciam minha música e eu gostaria de uma retratação o quanto antes. Lembro perfeitamente que conversamos sobre outros assuntos como política, drogas, religião, futebol... ou seja, assuntos corriqueiros em toda a sociedade, bem informada ou não, e que ficou claro que não entrariam na montagem do perfil, era apenas um bate-papo informal, caso contrário eu não daria a entrevista (...) Ficou 100% acertado, combinado que apesar de estarmos batendo papo entre uma pergunta ou outra, tudo que fugisse da minha relação com o meu grupo musical e minha relação com a cena heavy metal seriam ignorados na montagem da matéria. Ao me deparar com a publicação, vejo que a confiança foi nula e que a revista não foi condizente com a ética, seja pelas mãos de quem montou a matéria ou de quem autorizou sua publicação”.
Resposta dos repórteres Julien Karl e Guilherme Vasconcelos: “Não houve nenhum tipo de acordo ou acerto com o entrevistado, nem há nenhuma inverdade nesta matéria. Todavia, somos fãs do rock’n roll e da banda Malefactor”.
CUBO MÁGICO 32 Crimes Reunidos 34 Bactérias, vírus e outras pestes
ILUSTRADO 35 Por André Betonnasi
FALECOM
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CIRCO URBANO Entrevista a Carol d’Avila e Julien Karl
Então você está saturado das perguntas que se limitam à sua participação no programa? JW - Não. Há questões ligadas à minha participação no programa que eu não me canso de responder. São questões
sobre representação ou perguntas que procurem refletir, mais profunda e verticalmente, sobre o impacto do Big Brother na construção do imaginário da massa que assiste e adora o programa. Uma reflexão mais profunda não me incomoda. As perguntas mais superficiais e rasas da imprensa em geral, que ficam ali no limite do entretenimento e do interesse dos leitores de jornais e dos expectadores do programa, é que me incomodam. Você fez um curso de graduação, mestrou-se, foi escritor, professor, repórter, colunista e é ex-BBB. Para os que não lhe conhecem, você foi apenas um personagem que ganhou um reality show, mas para outros é um ativista e formador de opinião. Como você lida com essas duas imagens? JW - Eu diria que é um trânsito entre duas representações de mim mesmo, com o qual eu tenho que arcar. Eu diria até que essa distância entre essas duas
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Você já deu inúmeras entrevistas depois do Big Brother Brasil (BBB). Que tipo de perguntas já está saturado de responder? Jean Wyllys - Tem uma infinidade de perguntas, principalmente quatro anos depois do acontecido. Eu acho que as perguntas que eu estou mais saturado de responder são aquelas que estão mais especificamente ligadas ao funcionamento ou à teoria da conspiração em relação ao programa, de que é uma grande armação ou que a gente obedece a um roteiro previamente estabelecido pelos editores e produtores do programa. Também tem as perguntas ligadas às relações e aos conflitos vividos ali naquele momento, se eu ainda sou amigo de tal ou tal participante.
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Jean Wyllys (o sobrenome é uma homenagem a um modelo de carro que fascinava o pai) nasceu em Alagoinhas, no interior da Bahia. Fez parte dos estudos em Pojuca e depois veio para a capital tentar um curso universitário. Graduou-se em Jornalismo na Faculdade de Comunicação (Facom) da UFBA e fez mestrado em letras. Foi jornalista e professor universitário. Escreveu dois livros: “Aflitos”, livro de contos que foi premiado pela Fundação Jorge Amado, e “Ainda Lembro”, que trata, dentre outras coisas, do seu confinamento na casa do Big Brother Brasil. Em 2005, foi chamado para participar do programa e saiu vitorioso após adquirir a fama de intelectual e ter afirmado sua homossexualidade ao vivo no programa. Com a ajuda da Globo, consolidou sua carreira como comunicador e desempenhou funções como diretor e repórter de tevê. Recentemente lançou seu terceiro livro e planeja um doutorado no qual pretende estudar o impacto do Big Brother no imaginário do povo brasileiro.
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Charge: Rodrigo Fiusa
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representações tem diminuído muito por uma decisão minha de não alimentar a primeira, ligada ao BBB. Desde que eu saí do programa, tenho feito um movimento contrário à exposição gratuita em programas de televisão, de auditório, em revistas e sites de celebridade. Se você questionar qualquer telespectador médio, da classe C e D, e perguntar qual é a opinião ao meu respeito, além da questão sexual, que é evidente, ele vai dizer: “Jean é um cara muito inteligente’’. Então eu fiquei como esse cara muito inteligente, e sabe-se lá o que é ser um cara muito inteligente, mas na cabeça deles sou muito inteligente porque eu domino um repertório cultural exposto em algum momento ali no programa, que é a figura do professor. É mais por parte de uma classe média e média-alta e até por uma parcela da intelligentsia que há um esforço em me reduzir ao papel de ex-BBB, porque de alguma maneira eu incomodo os lugares estáveis que essas pessoas têm em relação ao intelectual. A representação do intelectual para essas pessoas ainda é a do cara que está preso na universidade, nos departamentos, trancafiado, produzindo pesquisa, sem se engajar no trabalho real. O que eu vejo é um esforço deliberado em me reduzir, em me desautorizar. Muito mais por parte dessa gente que do povo que assiste ao programa. Procuro reduzir a distância entre as minhas duas imagens, mas não me incomodo. Eu tenho certeza do meu lugar no mundo. Não tenho medo de ser ex-BBB, de jeito nenhum.
Programas como o Big Brother são considerados por muitos como fúteis. Depois de ter participado do programa, o que você pensa dessas críticas? JW - São críticas equivocadas, saudosistas e elitistas. Na verdade, existe um preconceito em relação aos gostos da maioria. Se a gente pegar a literatura, todo escritor que conseguiu alcançar uma maioria de leitores sempre foi um pouco depreciado pela crítica. Essa crítica ruidosa, que fica reclamando que o programa é fútil, esquece que as pessoas produzem diferentes significados, que a recepção de massa é recebida de diferentes formas. É uma crítica rasteira de jornalistas que querem reduzir tudo a categorias. A natural perda de visibilidade que acontece depois de ter ganhado o programa foi de alguma forma saudável? JW - Para mim, foi maravilhoso. Olha, cara, eu saio nas ruas do Rio de Janeiro e todo mundo ainda me reconhece. Então, eu continuo sendo famoso. Mas sempre tem essa tagarelice dos canalhas sobre a queda no anonimato depois da exposição. E há nos espaços de classe média e média-alta pessoas que não querem pagar o mico de dizer que assistem reality show, ou que não se importam com celebridade. Elas fingem que não veem, mas estão acotovelando e cutucando o cara do lado para mostrar. Eu sei disso, estou atento. Mas não é isso que me importa. Seria saudável para mim se essa visibilidade desaparecesse por completo. Eu queria matar o Jean do Big Brother, para dar lugar a uma nova pessoa, porque eu sou muitos. Então foda-se essa tentativa de me condenar, de me cristalizar em uma imagem, de me produzir para um reality show, eu não quero isso para mim. Se desaparecesse por completo para nascer uma nova coisa seria ótimo, mas como não vai nascer, como não vai morrer, eu vou ter que transformar isso que eu tenho. E às vezes, de uma maneira provocativa, eu não dou o que as pessoas esperam de mim. Eu fui para um evento na UFRJ em que esperavam de mim uma postura de celebridade, então eu produzi um discurso acadêmico, nos moldes da ilustração acadêmica e intelectual, que deixou todo mundo desnorteado. Da mesma maneira que, às vezes, quando esperam de mim uma postura intelectual e eu poso como uma celebridade da mídia. Faço isso para
provocar, para rasurar essas categorias. Profissionalmente, o que mudou depois do BBB? JW - Profissionalmente, me abriu mais portas. Me colocou num mercado de trabalho mais amplo e me possibilitou trabalhar como roteirista de televisão, por exemplo. Me permitiu dar vazão a outros talentos meus como comunicador, como o trabalho de direção, que eu só havia feito como professor universitário. Então, nesse sentido, o programa me ajudou, mas ele só me ajudou porque eu sou o Jean e porque eu já tinha essa história de vida. Se você olhar o conjunto dos participantes do programa e comparar com a minha trajetória de vida, vai ver que a maioria não está nesse lugar porque não tem formação para estar nesse lugar. Eu tenho uma formação na área de comunicação que me permite trabalhar nisso. Estranho seria se depois da minha participação no BBB eu tentasse ser ator. Seria uma maluquice porque eu não tenho formação pra isso. Mas eu continuei trabalhando no que eu sempre fiz e o programa me abriu mais portas. Depois da fama você sentiu alguma diferença com relação à discriminação por ser gay? JW - O que eu posso dizer é que a fama de alguma forma me blinda. Me blinda da injúria direta. Com certeza deve ter gente que fala comigo e me elogia, mas por trás deve falar mal. Eu posso dizer pra vocês que, desde que eu me afirmei gay, as pessoas perguntam assim: “Você é viado?”. Eu falo: “É, eu sou viado”. Uma vez eu estava estacionando o carro ali perto da Biblioteca Pública dos Barris e entrei na contramão sem querer e o taxista parou e começou a brigar comigo. Eu pedi desculpas, então ele perguntou: “Você é viado, é?”. E eu respondi: “Sou”. Ele ficou desconcertado e falou: “Vá tomar no cu”. Então eu disse: “A gente só manda tomar no cu quem gosta, porque tomar no cu é bom”. Jean, você se considera um militante gay? JW - Me considero, sim. Eu não estou filiado a nenhuma associação comum
eles mudarem. Eles atenderam o meu pedido. O seu livro lançado após a participação no BBB (Ainda Lembro) pode ser considerado uma frustração para aqueles que esperavam que fosse um livro mais picante ou sobre fofocas sobre o confinamento na casa. Por que não escreveu um livro bombástico? JW - Porque eu não quis. Eu sou uma pessoa com pretensões de ter uma carreira, não quis escrever um livro sobre fofocas do BBB, porque isso não me interessa como pessoa. Primeiro, o que eu faço tem que me dar prazer, tem que justificar os meus anseios, as minhas interrogações e os meus desejos, para depois justificar os interesses das pessoas às quais eu quero me dirigir. Eu não tenho interesse e jamais produziria um livro nesse sentido. Me desculpem as pessoas que ficaram decepcionadas porque não fiz isso. Problema delas, entendeu? Eu fiz um livro que achava que era o livro que eu deveria dar a essas pessoas, com discussões amenas e com pretensão a não virar papel de embrulhar peixe no dia seguinte, e tanto não virou que até hoje ele vende em catálogo. Fiquei puto porque a editora colocou minha foto na capa do livro, uma coisa
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Você tem alguma nostalgia dos tempos de Facom? JW - Muita. Eu queria muito voltar aos velhos tempos de mim. A Facom sempre foi muito rica, sempre foi muito vanguarda no pensamento, na atitude. O papo na cantina... Era a única faculdade que vendia cerveja, olha que maravilha! A gente tomava cerveja no intervalo, sem isso comprometer a responsabilidade com as disciplinas. Ainda é uma faculdade que vai um pouco além da cerveja... JW - Então tem essa coisa da liberdade e da transgressão juvenil, mas tudo muito criativo, tudo muito ligado à cultura. E eu sempre meio na contramão, porque era o único aluno que não tinha carro, o único aluno que pegava ônibus, morava no Cabula, trabalhava, era interessado em cultura de massa e gostava de novela e de axé. Os alunos de classe média tinham um interesse exótico pela pobreza. E eu dizia: “Gente, a pobreza é uma desgraça, ninguém merece ser pobre”. A pobreza pode engendrar formas simbólicas interessantes, pode gerar uma cultura interessante, que eu admiro, gosto e pratico. Mas a verdade é que a pobreza, a privação de acesso a bens de consumo e a uma vida boa, não é legal.
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A gente sabe que nem tudo é só prazer. Como contratado da Globo, em algum momento houve uma função que você não gostou de desempenhar? JW - Como contratado, eu não gostei de ir ao programa do Renato Aragão. Eu gosto do Didi, nada contra ele. Mas eu não tinha compromisso com aquilo. As piadas do programa são homofóbicas, grosseiras e misóginas, e eu não gosto do texto que aqueles roteiristas escrevem, tenho horror daquilo. Então, já que eu era uma figura popular, a emissora me pediu que eu fizesse, inclusive a pedido do próprio Renato Aragão. Quando eu recebi o roteiro do programa, achei a piada grosseira, não gostei e pedi para
“A gente só manda tomar no cu quem gosta, porque tomar no cu é bom”.
Em seu segundo livro, você disse que queria ser Paulo Coelho. Ainda quer ser lido e vendido como ele? JW - Não é que eu queira virar uma celebridade da literatura mundial como Paulo Coelho, que eu queira vender milhões de livros como ele. Eu quero vender. É claro que eu quero vender. Todo escritor quer vender. A gente escreve pra ser lido. E a gente escreve pra viver disso. Tem que parar com essa história de que atividade intelectual é retribuída por luz, de que escritor vive de luz. Eu não vou sustentar essa ingenuidade, eu quero ser lido. Quando eu falei que quero ser lido, eu estava provocando quem ia ler meu livro e provoquei mesmo. Eu sabia que uma parte da intelligentsia ruidosa que busca me desautorizar iria ler aquele livro, mesmo dizendo que não iria ler. E estava ali a provocação pra eles. Dizer que queria ser Paulo Coelho era poder também contestar. Poderia dizer que queria ser Jorge Amado. Eu também quero ser Jorge Amado. Aliás, hoje eu quero ser mais Jorge Amado do que Paulo Coelho. Eu quero ser João Ubaldo Ribeiro (muitos risos).
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Em seu blog você diz: “Aliás, assim como é própria dos gays a inclinação para a leitura, para o desenho, para a imprensa, enfim, para as artes ou para a cultura, é específica do modo de vida da ampla maioria dos gays a identificação com personagens ou personas femininas, em especial as heroínas e as divas do cinema ou da música”. Você quis dizer com essa frase que os gays são mais cultos? Como se diz aqui na Bahia: ‘’toda bicha burra nasce morta’’? JW - Na verdade, toda bicha burra nasce homem (risos). Eu acho que todo homossexual, de alguma forma, acaba sendo levado para esse lugar que eu fui, que é o lugar da leitura, o refúgio dos livros, contra uma ordem sexual que oprime, que machuca, e vai buscar refúgio no seu mundo. Tanto que a maioria dos homossexuais hoje está nessa esfera cultural, seja professor, artista ou escritor. Eles se tornam mais cultos porque vão se refugiar desse mundo. Eu acho que as figuras femininas, as heroínas na verdade, as heroínas dos romances e as divas, encarnam o ideal de liberdade, de relação com os homens que o gay não pode experimentar realmente, por causa de toda a vigilância, toda a opressão. Quero dizer que os gays acabam sendo mais cultos por causa do ato repressório.
que eu não queria. Eles fizeram à minha revelia e, quando vi, não tinha jeito. Odiei, não queria isso.
Foto: Divulgação
como o Grupo Gay da Bahia (GGB) ou o Arco-Íris e muito menos ligado a nenhum partido. Mas eu estou inserido no que a gente pode chamar, genericamente, de movimento gay, seja lá o que a gente possa chamar de movimento gay. Eu uso a esfera pública para defender os direitos dos homossexuais, para reivindicar direitos ou para discutir questões da relação entre héteros e homos, ou da relação entre homossexuais e homossexuais. Então eu sou um militante, sim, um intelectual engajado. Sem medo de dizer que eu sou.
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Revolta do Buzu: estudantes de Salvador protestaram no Iguatemi e na Praça Municipal contra o aumento da pa Salvador. Conseguiram!
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Fotos: Arquivo Pessoal
O executivo e mochileiro Frederico Mourão conta suas experiências mais inusitadas para a Lupa
_ Despojado e falante. Assim é o carioca Frederico Mourão. Sentado à vontade na poltrona da casa de seu pai, ele recebeu as repórteres da Lupa para uma conversa bem descontraída. Aos 42 anos, Frederico já visitou mais de 25 países com apenas uma mochila nas costas. No entanto, afirma “quanto mais eu viajo, mais eu sei que não conheço nada”. Ele conta as histórias de sua última viagem no livro Saí pra dar uma volta, lançado em 2007, e já foi entrevistado no Programa do Jô. _ Filho de pai cearense e mãe sergipana, Frederico passou grande parte de sua infância no litoral do Rio de Janeiro, onde morava em uma base militar com seu pai. Aos 14 anos mudou-se para a capital, onde terminou seus estudos e entrou para o curso de economia da Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Porém, Frederico confessa que não estava satisfeito com nada. A faculdade, o namoro e seu trabalho como funcionário público não o agradavam e ele tinha uma grande vontade de morar fora para aprender idiomas. Foi quando trancou a faculdade e decidiu morar por um tempo na Europa. “Quando está tudo bem, você vai deixando o barco correr, você não se mexe. Está ali, tranquilo. Não existe crescimento na zona de conforto. Não existe conforto na zona de cresci-
mento. Se a faculdade fosse boa, se o emprego fosse bom, namorada legal, provavelmente eu teria me formado e me casado”, conta. _ Foram sete meses atravessando a Europa só de carona. Para se manter lá, aos 23 anos, Frederico precisou se virar. Lavador de pratos, entregador de pizza da Pizza Hut, babá e recepcionista de albergue foram alguns de seus trabalhos temporários. Quando retornou ao Brasil, começou a trabalhar em hotelaria e decidiu voltar para a faculdade, mas trocou de curso e, em 1998, acabou se formando em administração. _ Aos 33 anos, surgiu a oportunidade de fazer um curso de especialização em Marketing na Universidade da Califórnia nos Estados Unidos. Aos 39, após ter conhecido o Brasil de norte a sul, alguns países da América do Sul e a Europa, Frederico Mourão queria conhecer países que tivessem uma cultura completamente diferente da nossa, como os da Ásia e do Oriente Médio. Foi então que vendeu carro, moto, apartamento, colocou uma mochila nas costas e “saiu para dar uma volta”, como ele mesmo diz. _ A ideia inicial, segundo Frederico, era entender como os países funcionam de fato, desviando-se do filtro da mídia. Entre cair a ficha de que realmente
teria que viajar, até o dia do embarque, Frederico levou 6 meses planejando a viagem - escolhendo para onde ia, onde ficaria e o que pretendia conhecer. “Para vocês terem uma ideia, foi tão bem planejado que eu passei dois anos rodando e não peguei nenhum inverno”. Além disso, Frederico planejou bem os seus gastos. Gastando o equivalente a R$ 60 a R$ 70 por dia, ele diz que não passava aperto. “Tomava café, almoçava, jantava direito e dormia em lugar limpo. Só ficava em albergue. Dá para viajar o mundo inteiro assim. Por isso que o título do livro é Saí pra dar uma volta, para dar uma ideia de que é simples, tranquilo, fácil de fazer”. Mas saber inglês foi fundamental. “You don’t speak English? If you don’t, you are dead (Você fala inglês? Se não, você está morto). Se você sabe inglês, você viaja para qualquer lugar do mundo. Não sabe? Esquece. Nem sai daqui”, diz Frederico. _ Dificuldades? Para ele não houve muitas. Mas imprevistos sempre acontecem, como ter os pedidos de visto para a Austrália e Japão rejeitados e ter seu guia apreendido na China por mostrar a ilha de Taiwan pintada de outra cor, como se fosse um país independente. _ Frederico conta que sempre gostou de países, de culturas, de mapas e de
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assagem de ônibus em
Texto Camila Queiroz e Paula Amor
“Quanto mais eu viajo, mais eu sei que não conheço nada”
Se interessou?
_ O livro “Saí pra dar uma volta” está disponível na Civilização Brasileira, na Siciliano e na Vídeo Hobby. Mas você pode encomendá-lo diretamente com Frederico Mourão. Acesse seu site : www.fredericomourao.com.br Valor: R$ 40,00.
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extremamente tolerantes, estão sempre felizes, estão sempre bem. Porque lá é como deveria ser o mundo inteiro. O mais importante é ser, e não ter”. _ Para ele, a principal lição de vida aprendida durante a viagem foi que “por mais que você conheça países, pessoas, culturas, raças, religiões e sistemas políticos diferentes, todo mundo quer a mesma coisa: ter uma vida tranquila com sua família, ter um emprego e uma vida digna”. Quando perguntado se faria essa viagem novamente, Frederico foi incisivo. “Claro que não. Faria outra. A mesma para quê? Já fiz. Afinal, quando você dá um passo para o conhecimento, você abre mais o seu leque. Seu horizonte vai abrindo, você quer conhecer e entender mais coisas, conhecer mais culturas”. _ Atualmente, Frederico Mourão dá palestras e workshops por todo o Brasil, nas quais conta suas experiências e como planejou sua viagem. Seu livro já vendeu quase mil cópias e mais dois livros estão sendo escritos. Um deles, De carona por aí, contará a história da sua primeira viagem. O outro será um guia para viajantes mochileiros. Três novos roteiros de viagem estão em seus planos, ainda sem data marcada. _ Frederico ainda nos revelou um de seus sonhos – ter uma pousada e morar
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gente. “Gosto de me embrenhar pelos becos, entrar nas favelinhas, conversar com as pessoas invisíveis, como o pipoqueiro, o lixeiro, o cara que vende milho”. Por isso, durante a viagem, teve muita facilidade em se misturar com as pessoas. “Viajar para outros países não é só chegar lá, tirar fotos e pronto. É se misturar com as pessoas e entender como elas vivem. Se o objetivo for só tirar fotos, não precisa ir, está lá na televisão”. Para facilitar o entrosamento, Frederico usava o que considera um manto sagrado – a camisa do Brasil. _ Foram muitas as histórias que ele ouviu e vivenciou. Na Tailândia, organizou um motim dentro de um ônibus contra o motorista que quase dormia ao volante. Em Israel, viu meninas que seguravam uma M-16 e carregavam uma mochila da Hello Kitty nas costas ao mesmo tempo. No Tibet, tomou café da manhã e banho de cachoeira com os monges, além de ver um cachorro sendo abatido no meio da rua e ainda experimentar no dia seguinte. No aeroporto da Indonésia, conheceu um rapaz que havia perdido sete familiares na tragédia do tsunami – e que tinha um amigo que havia perdido 60. Muitos países foram visitados, mas, para Frederico, foi o Tibet que mais marcou a sua viagem pela maneira como o povo vive. “Eles são
nela. A ideia de receber seus visitantes pessoalmente e o fluxo constante de pessoas e de energia o fascina. Mas nada o fascina mais do que poder transmitir tudo o que viveu. “Quando você começa a viajar, você começa a ver que tem coisa demais, a absorver muita coisa. E aquilo começa a crescer de uma maneira, que se você não dividir com as outras pessoas, você explode. E eu comecei a entender que eu tinha que partilhar tudo que eu vivi na viagem e acrescentar alguma coisa na vida das pessoas. Me sinto super bem de poder dividir o que eu vi, senti e vivenciei, as experiências que eu tive, e como eu convivi com pessoas de vários lugares do mundo”.
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Por dentro dos clubes das duas rodas
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Texto Raíza Tourinho e Rodrigo Fiusa
_ No Largo da Mariquita, famoso ponto de encontro do bairro do Rio Vermelho, as motos são as donas do pedaço. Aos desavisados, dá receio de chegar perto: grupos de sujeitos tatuados, vestidos de preto dos pés à cabeça, esbanjando caveiras e crucifixos ao lado de motocicletas monstruosas. Após o primeiro contato, a má impressão logo desaparece, revelando, na verdade, um encontro de amigos que aliviam o estresse semanal ao compartilhar de uma verdadeira paixão pela vida em duas rodas. _ Um universo singular, um modo de vida, uma maneira de encarar a realidade, uma contracultura, um bando de marmanjos tirados, rebeldes sem causa, desocupados... Chamaremos simplesmente de motociclistas (para a maioria, motoqueiro é sinônimo de confusão). Em sua maioria, se reúnem em motoclubes, grupos extremamente organizados, com leis, estatuto, obrigações e hierarquia. Cada um com sua própria ideologia, suas idiossincrasias...
Foto: Gether Ferreira
_ Grupinho de amigos que se juntam nas manhãs de domingo pra passear de moto? Que nada. Criar um motoclube não é tarefa fácil. Para ser reconhecido e respeitado, o motoclube, além de fazer um estatuto, criar um brasão e estar de acordo com as regras da AMO-BA, precisa de um ritual de iniciação. Este ritual inclui o batizado, cujo padrinho é um clube mais antigo e, claro, uma festa. E como não poderia ser diferente, assim como na universidade, o calouro (novato) é que banca a farra dos veteranos. _ Para os interessados de plantão, saibam que não é nada fácil virar “sócio” de um clube. O aspirante a membro de um motoclube tem que ser apresentado por um membro efetivo e passar por um período de avaliação que varia de quatro meses a dois anos, a depender do motoclube, tempo em que se analisa a integração, o compromisso e o engajamento com o grupo. Nesse meio tempo, o “aspira” tem que passar por processos avaliativos e, como todo bom calouro, tem que fazer todo o trabalho pesado, ouvir calado as reclamações dos superiores, além, claro, de pagar as taxas mensais que todos os membros, efetivos ou não, devem pagar.
CIRCO URBANO
“Jesus só subiu num jegue porque na época não tinha moto”
Era uma vez um grupinho de amigos....
_ Bem distante da agitação das noites do Rio Vermelho, vive uma figura singular.
A calça jeans, a camisa pólo e o sapato preto do sujeito jovem, que acaba de sair do confessionário, nos faz desconfiar de que batemos na porta errada. Depois de uma confirmação, descobrimos que o homem que acaba de ouvir uma confissão, creditada pelo seu atual cargo de Major Capelão da Aeronáutica, é mesmo o padre que procurávamos. Depois de alguns minutos de conversa, ele nos mostra o motivo principal da nossa visita: uma Suzuki GSXF 750cc, motocicleta que faz nada menos do que 260 km/h. Orgulhoso e divertido com nossa perplexidade, ele se
confessa um “apaixonado pelo motociclismo”. _ Apesar de ser um padre diferente, Gonçalves conta que não sofre nenhum tipo de preconceito dos fiéis nem da comunidade motoclística. “Pelo contrário, acho que todos me aceitam até melhor por causa disso”. O padre realiza missas para a comunidade motociclística, nas quais ele troca a batina pelo colete, e reza as orações na linguagem dos motociclistas. “Já perdi a conta de quantos já vieram pedir conselho na hora de comprar a moto”, conta sorridente. E conclui: “Jesus
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“Pai nosso que estais no asfalto, santificada seja nossa moto...”
As viagens em grupo são a razão de existir dos motoclubes
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_ Para quem pensa que clube das motos é sinônimo de Clube do Bolinha, muito se engana. A maioria dos motoclubes não só aceitam como tem mulheres em cargos importantes, como o Grupo Moto Livre, que há sete anos tem Erudina Silva, a Dina, como sua presidenta. Segundo Dina, o fato de ser mulher não atrapalha em nada: “Aqui sou como uma princesa pra turma”, declara sorridente. _ Já Márcia Pereira, motociclista independente (não pertence a nenhum motoclube), já estampa para que veio. De longe, o que mais chama a atenção não é seu casacão preto nem sua bota de cano longo, mas sim a frase acompanhada de um desenho bem sensual que traz na camisa: “Lugar de mulher é atrás do tanque... de uma motocicleta!”. Para Márcia, moto é coisa de mulher sim, e sua máquina de 600 cilindradas não deixa dúvidas. “Nunca sofri qualquer forma de preconceito por ser mulher, até por que minha moto é grande e eu imponho respeito!”, garante convicta.
Foto: July Cardoso
“Lugar de mulher é atrás do tanque... de uma motocicleta”
CIRCO URBANO
“Se ele veste um colete como o meu, ele é meu irmão, não importa de onde ele seja.”
Há tempos que as mulheres sairam das garupas
só subiu num jegue porque na época não tinha moto”.
Demônios realmente vermelhos _ Não tão receptivos ao primeiro contato como os frequentadores da Mariquita, nem tão espontâneos quanto o padre Gonçalves, os integrantes do motoclube Red Devils (Demônios Vermelhos) nos mostraram o outro lado da cultura em duas rodas. “A atitude pouco social faz parte da filosofia do grupo”, nos explicou Júlio César, um dos integrantes; “é o que chamamos de postura”, afirma. O motoclube dos demônios vermelhos é um dos poucos que não perambulam pelo Largo da Mariquita nas noites de quinta, nem estão registrado na AMO-Ba. Esse modo, digamos, singular de ser é demonstrado logo no lema da “Rock It Garage” (sede do motoclube em Brotas): ”Seja bem-vindo, mas não se sinta em casa”. _ Único motoclube internacional em Salvador, o Red Devils dá suporte ao Hells Angels (Anjos Infernais), maior e mais antigo motoclube do mundo. Ser motoclube suporte significa passar por etapas para “merecer ser” do motoclube original. “O mesmo processo de seleção que o integrante daqui passa, um Red Devils da República Tcheca também passa, então mesmo que nunca o tenha visto na vida, se ele veste um colete como o meu, é meu irmão. Não importa de onde ele seja. Não existem fronteiras”, explica Júlio César.
Politicamente incorretos...
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Fotos: Arquivo do Grupo Moto Livre
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A soliedariedade está estampada nas vidas dos motociclistas
O amor pelas duas rodas ultrapassa gerações
_ Outro motoclube nada convencional são os Cowboys From Hell (Vaqueiros do Inferno). Aparentando ter saído direto de uma festa heavy metal, os “cowboys” fazem questão de contrariar. Com um prazer particular em chocar, afirmam que são preconceituosos e machistas: no motoclube não entram nem mulheres nem homossexuais. Incansáveis “do contra”, os “cowboys” não gostam de ser comparados a “passeadores de final de semana”. _ Sem nenhum resquício do clima pacífico e “família” dos outros motoclubes, Barata, um dos integrantes do motoclube, afirma que o Cowboys surgiu a partir de um grupo de amigos que tinham em comum a paixão pelo heavy metal, por briga e por mulher - sem esquecer da loucura pelas motocicletas, é claro. Ao declarar o amor pelo motoclube, ele garante que “para tirar um colete de um motoqueiro, só o matando”, o que demonstra que, independente do perfil do motoclube, dos seus integrantes e das cilindradas das motos, o importante mesmo para pertencer a um motoclube é ter amor pelos companheiros e principalmente pelas duas rodas.
CIRCO URBANO
Quando o futebol é um mero pretexto A origem, as características e as motivações das torcidas organizadas
inevitável. O artilheiro parte confiante para a cobrança, olhar fixo na bola. Nas mãos do goleiro, que parece adiantado, a esperança rubro-negra. A bola é chutada e a euforia muda de lado: a certeza não se concretiza. _ No campo, a partida esfria. Nas arquibancadas, a disputa nunca pareceu tão acirrada. Os erros de arbitragem servem de combustível para a violência verbal. De um lado, ouve-se: “Pistola, bomba e pedra pra te destruir / Se é pra matar, se
é pra morrer, eu sou um guerreiro que sozinho mato mil”. Do outro: “O nosso grito de guerra faz o chão estremecer/ Se bater de frente, vamos ser seu pesadelo/ Ah, ah, o terror vai começar”. _ A situação acima é hipotética, mas poderia perfeitamente ser a descrição de uma partida de futebol em algum canto do país. A paisagem humana de um jogo de futebol no estádio há algum tempo não mais se limita aos torcedores comuns e à partida propriamente dita...
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_ Final do campeonato baiano. Bahia versus Vitória. Tarde quente, estádio lotado. Crianças, pais, idosos e mulheres estão espalhados por todas as partes. Nos lugares habituais, uma de frente para a outra, mas com o campo de jogo entre elas, as torcidas organizadas ditam o ritmo do estádio. O jogo é tenso. As emoções estão à flor da pele. O atacante do Bahia invade a área adversária e é “derrubado”. Pênalti. A torcida favorecida comemora, a outra xinga a mãe do juiz. O gol parece
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Texto Guilherme Vasconcelos e Rafael Freire | Ilustração Aleco
CIRCO URBANO
Dos tempos da Charanga... _ No país, o primeiro grupo a se organizar com a intenção de torcer por uma equipe de futebol foi a Charanga do Flamengo. O grupo, idealizado e liderado pelo baiano Jaime de Carvalho, revolucionou o comportamento e os trajes dentro das praças esportivas, com a introdução de instrumentos musicais e a confecção artesanal dos uniformes de jogo, que servia para destacar a Charanga dos demais espectadores. Posicionado quase sempre atrás do gol adversário, o grupo atordoava os goleiros com a sua questionável qualidade musical. _ Da década de 70 para cá, contudo, as torcidas organizadas cresceram, se burocratizaram e se tornaram cada vez mais agressivas. O pioneirismo e a irreverência da Charanga ficaram para trás, e a violência e a organização verticalizada – com presidente, vice-presidente, tesoureiro e outros cargos, boa parte deles remunerada – passaram a ser uma regra geral entre as organizadas do país. _ Em junho de 1988, aconteceu a primeira morte em decorrência de brigas entre torcidas: o palmeirense Cléo Sostenes foi assassinado com dois tiros. Entretanto, o episódio mais trágico da selvageria promovida por membros de torcidas organizadas aconteceria anos mais tarde. Em agosto de 1995, após a final da Copa São Paulo de Futebol Jr., torcedores do São Paulo e do Palmeiras, armados com pedras e barras de ferro – o estádio estava em reforma -, se enfrentaram em uma verdadeira batalha campal. As imagens do confronto foram exibidas pelas emissoras de televisão que transmitiam a partida e mostraram o momento exato da covarde agressão sofrida pelo são-paulino Marcio Gasparim, de 16 anos, que viria a morrer pouco depois.
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Nos estádios baianos... _ Na Bahia, durante muitos anos, a rivalidade sadia entre tricolores e rubro-negros foi apontada como uma das diferenças dos torcedores baianos. Gozações, piadas, brincadeiras, tudo era feito em um clima de paz e amizade. No entanto, assim como aconteceu no cenário nacional, alguns episódios puseram fim a esse clima de fraternidade e há algum tempo notícias de agressões, atentados e mortes entre torcedores baianos têm se tornado comuns. _ Quando o assunto é violência, os representantes da Bamor e da T.U.I (Torcida Uniformizada Os Imbatíveis), as duas maiores organizadas da Bahia, garantem que suas organizações não incentivam quaisquer atos violentos, e, quando algum membro é identificado praticando-os, é
“A T.U.I. e a Bamor, apesar da rivalidade, são mais parecidas do que se pode imaginar.”
pelo clube é a venda de ingressos a preços mais baixos, e destaca a boa relação dos Imbatíveis com a atual diretoria do E.C Vitória: “É uma relação boa, melhor que na época de Paulo Carneiro”, conta Marcelo. Procurada para que comentasse a relação que mantém com as torcidas organizadas, a diretoria do E.C. Vitória não quis se manifestar.
O fascínio imediatamente punido com o desligamento do grupo. Para Marcelo Lopes Braga, relações públicas da T.U.I., a violência envolvendo torcedores é um “reflexo da sociedade”. Já Cristóvão Contreiras, diretor da Bamor, atribui a violência às rivalidades existentes nos bairros: “O torcedor acha que ganha uma certa moral no bairro onde mora por estar com o agasalho da torcida. 90% das brigas é de rivalidade que vem dos bairros”. _ Apesar do discurso politicamente correto, os dois representantes deixam transparecer que suas organizações não são lá grandes defensoras da paz no futebol. Quando perguntado sobre como vê a T.U.I, o diretor da Bamor revela: “Para mim, é rival. Para muitos, é inimigo, infelizmente”. Em resposta à mesma pergunta, Marcelo Lopes Braga é mais direto e incisivo: “A Bamor para mim não existe. É rival, é inimiga, é tudo!”
Perfil e relação com os clubes _ A T.U.I. e a Bamor, apesar da rivalidade, são mais parecidas do que se pode imaginar. Pelo menos quanto ao perfil de seus integrantes, elas apresentam características bastante similares: são formadas por uma maioria jovem com faixas etárias parecidas, têm pequena presença feminina e a maioria de seus membros é oriunda da classe pobre. Além disso, ambas mantém relações estreitas com os dirigentes de seus clubes. _ Segundo dados fornecidos por Cristóvão Contreiras, um dos diretores da Bamor, a torcida conta com aproximadamente 10 mil sócios. Esse número é formado principalmente por jovens de 13 a 25 anos, mas não é difícil encontrar pessoas mais jovens e até mais velhas. Ainda segundo Cristóvão, nos últimos três anos a presença feminina aumentou sensivelmente. Hoje elas já representam cerca de 20% do número total de membros da Bamor. _ A T.U.I. (Torcida Uniformizada Os Imbatíveis) tem, segundo o seu presidente Gabriel Oliveira, cerca de 5 mil sócios. Desses, cerca de 80%, de acordo com Marcelo Lopes Braga, são homens entre 15 e 25 anos. O restante é composto por mulheres, crianças e idosos. Marcelo diz ainda que o único benefício concedido
_ É certo que não há uma causa única para o crescimento das torcidas organizadas. Dentre as possíveis motivações, está o fato de que os jovens, em sua grande maioria em condições de vulnerabilidade socioeconômica, encontram nessas organizações o acolhimento e o sentimento de pertença que lhes são negados em outras esferas da vida social. Segundo a socióloga e professora da UNICAMP, Heloisa Helena Baldy dos Reis, a perda de identidade provocada por problemas familiares e pela precariedade dos serviços públicos, como a educação, por exemplo, potencializam o fascínio que as torcidas uniformizadas exercem principalmente sobre os jovens. “O jovem [excluído] identifica-se com outros excluídos, que encontram nas torcidas organizadas um interlocutor para extravasar seus anseios”, afirma a pesquisadora. _ Outro fator de atração apontado por especialistas, como o professor de sociologia da Universidade de Taubaté, Carlos Alberto Máximo Pimenta, é o protagonismo que a participação nas torcidas organizadas proporciona. “O torcedor no modelo organizado não é mais um espectador do jogo. No grupo, ele é parte do espetáculo. Ele é o espetáculo”, explica. _ Com poucos espaços onde pode fazer a sua voz ser ouvida, o jovem marginalizado encontra nas organizadas a possibilidade de se manifestar e de interferir nos destinos de seu clube. De acordo com a socióloga Janet Lever, o futebol representa uma das poucas áreas em que o jovem pode constatar a efetividade de suas ações. “Hoje eles vaiam e amanhã o técnico é dispensado. Os torcedores não são espectadores passivos. Eles influenciam o resultado das partidas e a administração de seus clubes”, diz a especialista.
Torcidas na web _ O site Torcidas Organizadas (www. organizadasbrasil.com) traz uma lista dividida por região e estados.
PROVA DOS NOVE Foto: Graciela Natansohn
da Faculdade de Medicina da Bahia, no Terreiro de Jesus, em Salvador, o museu ocupa o espaço de onde foi o Real Colégio dos jesuítas. As mesmas paredes, as mesmas arcadas executadas em tijolos, as mesmas portas das salas de castigo. Só o clima é muito diferente. As panelas zoomorfas, as geométricas e as ritualísticas da tribo indígena Waujá, expostas no museu, põem inveja a qualquer produtor de panelas inox ou alumínio no Brasil. A singularidade da cerâmica é mesmo de admirar. Estranho mesmo é conhecer as urnas funerárias. Quem imagina que, quando morrer, será enterrado na mesma posição na qual estava dentro da barriga da mãe? Pois bem, parece esquisito, mas é muito significativo. No falecimento de um dos seus componentes, as tribos colocavam o corpo em posição fetal dentro da urna, e de acordo com as suas tradições, moldavam a argila e pintavam. Somente depois disso enterrava-se o objeto. _ Essas e outras coisas da cultura indígena fazem parte da riqueza material do MAE. Apesar de tudo, não está livre das dificuldades. Débora Cristina Nascimento, turismóloga e funcionária do museu há
dois anos, explica que há problemas com a sinalização para visitação do museu e a tradução dos textos das exposições para outras línguas: “A localização do MAE impede quase sempre a sua visitação. Ficamos dentro do Museu Afro-Brasileiro, no subsolo da Faculdade de Medicina, e não temos um banner para sinalizar a visita. Nossos textos não são traduzidos para o inglês e o espanhol, e muitos estrangeiros reclamam disso. Só temos recursos para reparar problemas como esses quando participamos de editais de cultura”. _ No mesmo prédio, na Faculdade de Medicina da Bahia, está localizado o Museu Afro-Brasileiro (MAFRO), que faz parte de um órgão suplementar da universidade, o CEAO – Centro de Estudos Afro-Orientais. Coordenado pelo professor Marcelo Nascimento, o acervo do museu traz peças da cultura material de origem ou inspiração africana que representam o cotidiano, as crenças, as artes e outros pontos da cultura afro. Localizado no Pelourinho, o MAFRO parece um museu simples para quem não o conhece por completo. Mas quem tem essa oportuni-
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_ Quem nunca ouviu falar que quem gosta de coisa velha é museu? Se isso é mesmo verdade, a UFBA, então, é a primeira da lista dos que “vivem do passado”, afinal, tem nada mais nada menos que cinco museus em seu corpo institucional. Mas, se museu é mesmo sinal de coisa velha, talvez essa seja uma boa característica, afinal, não é panela velha que faz comida boa? Sendo assim, talvez não seja tão difícil encarar o que cinco museus universitários andam cozinhando para estudantes, professores ou à população em geral. _ De acordo com a Profª. Heloísa Helena Fernandes, coordenadora do Grupo de Pesquisa em Museologia, Museus e Monumentos, os museus universitários são locais de aprendizagem informal, fruição estética e formação de habilidades específicas, e um dos seus principais fundamentos é a função de pesquisa: “eles têm um grande potencial para educar o público de maneira lúdica e criativa, e aproximam as ciências da vida cotidiana dos cidadãos”. _ Se a arqueologia estuda os vestígios das antigas civilizações, parece proposital a localização do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE). Fixado no prédio
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Texto Mariana Sebastião e Carol D’Ávila | Foto Wendel Wagner e Graciela Natansohn
Foto: Wendel Wagner
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dade dificilmente não fica impressionado com a grandiosidade das obras de Carybé, talhadas em madeira. _ O CEAO caracteriza o MAFRO como um espaço de referência para ações de afirmação identitária. André Luis Bispo, estudante do ensino médio e monitor do museu há um ano e dois meses, defende o objetivo do acervo: “O museu quer mostrar que a África sempre existiu e teve a sua organização. Ele retrata como a UFBA vê a África”. André não descarta a oportunidade de falar da visitação: “Estudantes universitários estrangeiros vêm com mais frequência, e sozinhos. As faculdades de Salvador normalmente vêm em grupo, quando um professor traz. É difícil termos a visita de um estudante universitário daqui sozinho, por interesse”. _ De fato, o interesse por museus parece não ser uma coisa comum entre os estudantes universitários. Mas essa é uma questão curiosa quando se trata da UFBA, afinal, mesmo com uma quantidade relativamente razoável de museus, não consegue despertar no seu universo estudantil a busca por informações ou atividades de pesquisa nesses locais. Segundo a profª. Heloísa Helena Fernandes, isso se dá porque existe uma carência da educação universitária voltada para o patrimônio, o que quer dizer que a própria universidade não deu ainda a devida importância aos museus. Se isso acontece, difícil esperar que o público valorize. _ Nesse caso, a questão a ser resolvida é o que pode ser feito. “Em países mais desenvolvidos na área da museologia, as universidades desenvolvem pesquisa de ponta nos laboratórios dos museus e depois fazem exposições dos resultados (...) o público é estimulado a participar das ações, sempre que possível”, explica a professora Heloísa. A solução, de acordo com ela, é o desenvolvimento de ações pró-ativas e participativas, que façam com que qualquer público possa desenvolver estima e interesse pela instituição museu: “é preciso desenvolver a atitude de formar o público de museus da mesma forma que já se faz com o teatro, na formação de platéias”. _ Se ações participativas são tão importantes, o Museu de Zoologia da UFBA (MZUFBA) é um exemplo a ser seguido. Os estudos do MZUFBA estão centrados nos biomas Mata Atlântica e Zona Costeira, Caatinga e Cerrado. Reúne todos os laboratórios do Instituto de Biologia, viabilizando a manutenção das coleções zoológicas que conservam espécimes vertebrados e invertebrados. Um dos seus laboratórios integrantes, o Núcleo de Ofiologia e Animais Peçonhentos da Bahia (NOAP), foi reconhecido recentemente também como museu, e desenvolve os projetos-ação “Rede de Zoologia Interati-
“é preciso desenvolver a atitude de formar o público de museus da mesma forma que já se faz com o teatro, na formação de platéias” Museu de Arte Sacra
va” e “Ciência, Arte & Magia: Programa de Popularização da Ciência na Bahia”, que atende estudantes do ensino médio público, aproximando-os das atividades de pesquisa acadêmica e experimentação mediante atividades em laboratório. _ Museus como o MZUFBA acabam despertando atenção especial por tratarem de animais e biodiversidade. E, ainda bem, este não é o único que traz o mundo animal para mais perto. Companheiro nessa atividade é o Museu de Anatomia Comparada (MAC), da escola de Medicina Veterinária. O MAC traz esqueletos de caprinos, bovinos, equinos, aves, roedores e répteis, além de peças taxidermizadas (animais empalhados) da fauna brasileira.
_ A ideia de que museus são lugares chatos se dão porque, queiram ou não, as pessoas suprem a ideia de que são locais que só possuem coisas velhas. E em verdade, segundo a professora Heloísa Helena, a maioria das coleções de todos os museus é formada por objetos antigos, testemunhas da história e da memória dos povos. “Essa constatação, associada à forma muito conservadora de trabalho nos museus até os anos 80, levou o público a associar museu a coisa velha”. Desde que os museus tornem mais dinâmicas e contemporâneas as diversas funções que desenvolvem, é possível uma mudança desse conceito de museus. _ Mas, como tornar dinâmicas as ati-
Museu de Arqueologia e Etnologia Terreiro de Jesus, s/n, Prédio da Faculdade de Medicina da Bahia Pelourinho. Tel.: (71) 3283-5530 Funcionamento: Segunda à sexta, das 9h às 18h, e sábados e domingos, das 10h às 17h. Entrada: R$ 5,00 (para visitação conjunta com o Museu Afro-Brasileiro), gratuito para estudantes da UFBA.
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Museus da UFBA
ou interfaces, quando disponibilizam o acervo do local. A UFBA trará o 6º museu digital do mundo: o Museu dos Ex-votos. _ Apesar de tanta riqueza material e de conteúdo, muitas coisas ainda precisam ser aperfeiçoadas no sistema museológico da UFBA. O principal elemento diz respeito aos recursos e à relação com a comunidade. “Os museus da UFBA ainda trabalham de forma tímida junto ao público (...) A UFBA ainda não apóia seus museus como deveria. Basta citar o estranho fato de que os museus da UFBA nunca tiveram a oportunidade de realizar um concurso público para contratar museólogos, mesmo tendo um curso de museologia na universidade”, conclui professora Heloísa Helena.
Museu Afro-Brasileiro Terreiro de Jesus, s/n, Prédio da Faculdade de Medicina da Bahia Pelourinho. Tel.: (71) 3283-5540 Funcionamento: Segunda à sexta, das 9h às 18h, e sábados e domingos, das 10h às 17h. Entrada: Adultos, incluindo visita ao Museu de Arqueologia e Etnologia localizado no mesmo prédio - R$ 5,00. Jovens entre 6 e 12 anos, estudantes de escolas particulares e cidadãos brasileiros acima de 60 anos - R$ 2,50. Gratuito para crianças até 5 anos e estudantes de escolas públicas e comunidade UFBA.
Foto: Graciela Natansohn
Foto: Graciela Natansohn
vidades num museu tão grande como o de Arte Sacra (MAS)? Se bem que, ao adentrar na Igreja e contemplar toda a arquitetura seiscentista brasileira, pisando em túmulos de pessoas que morreram há três séculos atrás, ao som de cantos gregorianos, já são sensações suficientes para se sentir impressionado. O antigo convento de Santa Tereza de Ávila, fundado pelos carmelitas descalços, aguça os sentidos das pessoas, com todas as pratarias, esculturas imaginárias, os móveis e as pinturas. O MAS foi tombado pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) como um dos exemplares mais significativos da arquitetura da sua época. _ A internet tem sido, sem dúvida, uma ferramenta importantíssima para a divulgação desses espaços. Todos os museus da UFBA possuem um site específico, divulgando o seu acervo, atividades, exposições, equipe técnica e outras informações. Além de sites de divulgação de acervos, existem os museus digitais ou cibermuseus. Estes podem ser apenas catálogos, quando somente informam sobre o museu,
Museu de Arte Sacra Rua do Sodré, 276 - Centro. Tel.: (71) 3243-6511 Funcionamento: Segunda à sexta das 11h30 às 17h. Entrada: R$ 2,00. Gratuito para estudantes da UFBA.
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Museu Afro-Brasileiro
Museu de Zoologia Rua Barão de Geremoabo, 147, Instituto de Biologia da UFBA - Campus de Ondina. Tel.: (71) 3283-6511 Funcionamento: Visitas agendadas mediante contato com o museu.
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Museu de Anatomia Comparada Avenida Adhemar de Barros, 500, Escola de Medicina Veterinária da UFBA - Ondina. Tel.: (71) 3283-6715 Funcionamento: Visitas agendadas mediante contato com o museu.
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Ícaro Foto e Texto Gabriela Teixeira
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sícodelico, a palavra vem do grego, representa a junção das palavras “expansão” e “mente”. Parecia ser isso tudo que queria o pobre Ícaro, quando o sol, que antes o cativara, lhe traíu, derretendo suas frágeis asas de cera, deixando-o cair para própria morte. as pode-se ainda pensar em outro Ícaro, um Ícaro mais atual, menos enfadonho, o Ícaro mitológico das boates, que só quer viajar, experimentar uma nova forma de sair do chão, de voar. Uma baforada e uma fumaça depois, as coisas podem se alterar ao seu redor, seu coração bate forte, acelerado. O ambiente vibrando ao seu redor, de repente vivo, cheio de cores. Cores lindas, belas, extravagantes, se movendo, deixando seu rastro, cheias de um cheiro, um sabor, uma liberdade, essa liberdade de criar asas e voar. então ele só quer tocá-las, buscá-las enquanto fogem dele, e assim segue, sem medo, sem rodeios, sem hesitar, voando veloz, viajando enlouquecidamente, cada vez mais rápido, cada vez mais alto... Até que seu corpo começa a pesar, suas asas parecem perder o brilho, a força. Suas cores antes amigas, agora o deixam, o enlouquecem, deixando-o tonto, sem rumo, sem direção, quase empurrando-o por um abismo, levando-o para o chão, um chão sem brilho, nem cores, nem vida.
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Fotos selecionadas entre os ensaios fotográficos dos monitores do Labfoto.
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http://dá_pra_ aprender_à_distância? Como funciona de verdade a EaD Entrevista a Mariana Sebastião e Rodrigo Fiusa | Foto Graciela Natansohn
_ A Educação Superior à Distância (EaD) tem crescido muito no Brasil, um país no qual a educação básica não parece ser prioridade e forma cidadãos incapacitados para enfrentar o mercado de trabalho e, principalmente, a vida acadêmica. Para esclarecer mais sobre o tema e o seu impacto no modelo de ensino-aprendizagem brasileiro, entrevistamos Nicia Riccio, especialista em Educação à Distância pela Pontifícia Universidade Católica de Brasília. Doutoranda do Programa de Pós-graduação da FACED – UFBA, Nicia é analista de tecnologias da informação do Centro de Processamento de Dados da UFBA e uma das responsáveis pelo ambiente virtual Moodle, ferramenta online de apoio a disciplinas presenciais utilizada por muitos professores da universidade.
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A Educação à Distância é um fenômeno novo? Nicia Riccio - É uma modalidade de ensino que vem de longas datas. Alguns historiadores acreditam que teria começado com os professores apóstolos que mandavam uns para os outros orientações sobre o evangelho, já outros trazem para fenômenos mais modernos, como o advento dos cursos por correspondência e via rádio. Basicamente, posso dizer que a principal característica da EaD é que consiste na não presença física do professor e do aluno. Existe um modelo único ou há diversidade? NC - Basicamente, temos três modelos. O modelo instrumental, baseado no autodidatismo, em que toda a iniciativa e motivação de estudo tem de partir do próprio aluno, uma vez que não há avaliações nem qualquer forma de acompanhamento do progresso dele por parte da instituição em que adquiriu o serviço. Temos também o modelo interativo, que permite ao aluno tirar dúvidas, seja via fóruns de discussão na internet, seja por carta, videoconferência ou até mesmo através de polos presenciais com monitores ou professores
disponíveis para ajudar na compreensão dos assuntos. Por fim temos o modelo colaborativo, o qual defendo, que se baseia numa proposta de comunicação horizontal, no qual todos interagem numa maior relação de contato humano. Temos os três modelos no Brasil, mas o que prevalece, sem dúvida, é o modelo instrumental, principalmente nas faculdades particulares. Muitos autores defendem que esta é uma forma de a instituição baratear a educação e conseguir o maior número de alunos possível, uma vez que esses tutores ganham muito pouco para dar conta de uma carga horária muito alta. O MEC reconhece os cursos EaD no Brasil? NC - O MEC hoje aprova a EaD como uma modalidade válida de educação. Para serem reconhecidas, as instituições que utilizarem essa modalidade precisam atender aos pré-requisitos necessários e estar de acordo com as exigências do MEC, contudo o MEC ainda não possui métodos de regulamentação no que se refere a cursos de pós-graduação, como mestrado e doutorado. Quais os cursos que podem ser forneci-
dos pela EaD? NC - Todos os cursos podem ser fornecidos à distância, entretanto alguns como os de saúde, que exigem uma carga horária alta de procedimentos práticos, como laboratórios e estágios, não podem ser fornecidos integralmente à distância. Se instituições quiserem fornecer esses cursos pela EaD, precisam ter polos presenciais. Qual a diferença da EaD nas universidades públicas e nas particulares? NC - Uma visa o lucro e a outra não. Esta é uma questão que precisa ser problematizada. Existem instituições particulares sérias, mas elas estão preocupadas com o lucro. Já as públicas têm naturalmente uma área de pesquisa mais forte, um interesse pela qualidade, apesar de também se preocupar com os custos devido às limitações orçamentais. As públicas podem oferecer uma modalidade de curso independente do retorno financeiro. Qual o perfil das pessoas que mais procuram esta modalidade de educação? NC - Jovens que precisam trabalhar, pessoas que já estão com a idade mais avançada, que estão em lugares que não
existe uma tendência, e eu não sei se isso já foi aprovado ou não, de que no diploma não deve aparecer se o curso foi presencial ou à distância, justamente para não existir discriminação. Na verdade, o que importa não é se foi presencial ou à distância, o que importa é se a instituição é qualificada, se é credenciada e se o curso é aprovado e validado no MEC. Ainda existe muito preconceito. A EaD não seria uma maneira de remediar a educação deficiente que existe no Brasil?
“A EaD tenta democratizar a educação, mas deve-se ter muito cuidado para que isso não gere novos problemas.”
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possuem educação superior presencial, que sofrem com a falta de tempo...Na verdade, um curso EaD demanda tanto tempo quanto os cursos tradicionais. Se um curso tem 360 horas-aula, este tempo será gasto da mesma forma, independentemente de ser à distância ou presencial. Na verdade, é um mito achar que, por ser uma educação a distancia, vai-se gastar menos tempo. Inclusive, a evasão nos cursos de Educação à Distância (EaD) se dá, principalmente, por acreditarem neste mito. Existe a questão da demanda nos espaços onde não existe a educação
Qual a garantia que se tem de que o indivíduo formado pela EaD é um profissional capacitado? NC - Eu lhes pergunto: como saber que o profissional formado pelas universidades tradicionais tem qualidade? Os mesmos processos de avaliação dos cursos tradicionais devem ocorrer com os alunos da EaD. O MEC avaliará da mesma forma. Inclusive, o diploma de um aluno que fez seu curso à distância tem o mesmo valor do de um aluno que fez seu curso na modalidade presencial, desde que o curso seja credenciado. Como o mercado absorve os profissionais da EaD? NC - Existiu uma polêmica recentemente sobre um edital chamando profissionais para determinado emprego. O edital dizia que eles não poderiam ser formados por EaD. Isso gerou um grande problema. O MEC não pode aprovar uma situação como essa, porque tem nas suas leis e portarias que EaD tem a mesma validade da educação presencial. Por conta disso,
NC - Não sei. Existe uma proposta do MEC de utilizar a EaD para formar o que chamamos de professores leigos, aqueles da escola básica que não têm formação superior, uma vez que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação exige que até 2010 todos esses professores estejam formados. Nesse sentido, acredito que a EaD vem com a intenção de remediar. Existe a crença de que ela pode favorecer o cumprimento dessa lei, entretanto não podemos remediar um problema criando outro. Não adianta trazermos uma educação à distância rápida e simplificada, tentando solucionar um problema e causar outro, uma vez que podem não existir profissionais bem formados. A EaD tenta democratizar a educação, mas deve-se ter muito cuidado para que isso não gere novos problemas. Dessa forma, é necessário pensar numa EaD de qualidade. Qual o impacto da EaD na cultura do ensino-aprendizagem no Brasil? NC - A EaD, antes de tudo, é educação. O impacto que pode surgir nesse processo do ensino-aprendizagem são os avanços da educação como um todo. Ela é uma modalidade educacional, mas existe muita coisa a ser pensada sobre educação.
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presencial e as pessoas procuram os meios que surgem para poderem fazer a sua graduação.
Em entrevista no 14º Congresso Internacional ABED de Educação a Distância, o secretário de Educação à Distância do MEC afirmou que a EaD já atingiu patamares de expansão que recuperam o atraso que o sistema brasileiro mantinha em relação a outros países. Como podemos interpretar essa informação? NC - Ele está falando de números, e com relação a isso, tem razão. Mas nós não temos nenhum resultado com relação à qualidade disso, e aí é que eu gosto de pensar na EaD como, antes de tudo, educação. Devemos pensar na qualidade da educação como um todo e a modalidade à distância entrando junto disso. Como está a qualidade das inúmeras faculdades particulares que temos? Como está a qualidade da educação básica pública que temos no Brasil? Não é porque é à distância que será melhor ou pior. É melhor ou pior quando existe uma preocupação com diretrizes de qualidade, com o processo de ensino-aprendizagem que está acontecendo. É necessário estar o tempo inteiro em busca dessa qualidade, fazendo pesquisas e avaliação de cursos de uma maneira geral, com relação a metodologias de processo de ensino-aprendizagem à distância e presencial, avaliar como está essa educação de massa. Existe muita coisa para ser melhorada, independente de ser à distância ou não, e a preocupação tem que estar nesse aspecto amplo de educação.
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Quando se fala em aprendizagem e nas metodologias importantes, precisa-se pensar de uma maneira bem ampla, e a EaD tem que vir pensada nessa perspectiva de melhora do processo de ensinoaprendizagem, com as suas especificidades de modalidade à distância, mas tendo isso como objetivo principal. Não acho que a EaD, por si só, traz um impacto diferenciado. O impacto diferenciado é quando pensamos na educação de forma diferenciada, quando saímos dessa perspectiva de educação de massa para uma educação dialógica e uma aprendizagem significativa.
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Pesquisas Eleitorais:
metodologia e credibilidade Até que ponto as pesquisas de intenção de voto devem ser levadas em consideração
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Texto Victor Soares, Victor Gazineu e Giácomo Degani
_ ”O pessoal é muito criterioso, não existe manipulação. Aqui a gente faz tudo direitinho”, é o que afirma Dolores Lopo, que trabalha como pesquisadora do Instituto Datafolha. O que se vê, no entanto, é que algumas pesquisas de intenção de voto produzidas em processos eleitorais, como as que não apontavam a vitória do atual governador Jaques Wagner nas eleições de 2006, foram motivos para diversas discussões em toda sociedade. _ As pesquisas eleitorais são instrumentos bastante utilizados por veículos de comunicação para tentar antecipar os resultados das eleições. O dilema dessa questão é se tais pesquisas são capazes de influenciar diretamente o voto do eleitor e até a própria condução da campanha por parte dos candidatos. _ O secretário de organização do PC do B da Bahia, Egberto Magno, diz que “a pesquisa é utilizada como uma ferramenta para a captação de recursos financeiros na fase inicial da campanha”. Além disso, ele também acredita que “uma parcela considerável do eleitorado tende a votar em quem tem perspectiva de ser eleito”. Isso significa que as empresas financiadoras das campanhas se aproximam daqueles candidatos que estão mais bem colocados nas pesquisas. E as coligações feitas entre partidos políticos, claro, tendem a ser guiadas por esses resultados... _ Segundo Lúcio Vieira Lima, presidente do PMDB na Bahia, a função das pesquisas é aferir tendências. “Assim como as empresas fazem pesquisas para
testar produtos ou imagem, os partidos e os políticos testam junto à opinião pública sua empatia, seu trabalho e a sua credibilidade. O resultado das pesquisas nos ajuda a alterar ou manter rumos na campanha”, declara o líder partidário. Para o secretário de comunicação do PV na Bahia, Marcell Moraes, as pesquisas eleitorais não deveriam existir. “Infelizmente vivemos em uma comunidade facilmente influenciada. Eu sou a favor da extinção das pesquisas de intenção de voto”, reafirma.
Existe manipulação? _ Os institutos de pesquisa afirmam que os métodos utilizados na produção dos dados são altamente confiáveis. Os pesquisadores garantem reproduzir em seus relatórios a cópia fiel do que é dito pelos entrevistados e devem seguir rigorosas instruções definidas pelos seus coordenadores. Cada pesquisador possui um local fixo de aplicação do instrumento, podendo variar até 200 metros durante cada dia de coleta. Após a entrevista, é necessário anotar todos os dados do eleitor, como nome, sobrenome, endereço e telefone, para que suas respostas sejam posteriormente confirmadas e computadas pela coordenação dos institutos. Há uma severa fiscalização por parte dessas coordenações, incluindo a utilização de um “fiscal surpresa”, responsável pelo monitoramento dos próprios entrevistadores. _ São utilizadas rigorosos critérios para
definir as amostras, de forma a garantir sua heterogeneidade. O Instituto Datafolha utiliza variáveis como sexo, idade, renda e local de residência dos eleitores. Já o Ibope (Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística) ainda acrescenta grau de instrução e setor de dependência econômica. O Ibope utiliza um método de “seleção probabilística dos setores censitários do IBGE nos quais serão realizadas as entrevistas, pelo método PPT (Probabilidade Proporcional ao Tamanho)”, como está disponibilizado no site da empresa. _ Nenhum funcionário dos institutos tem acesso aos questionários, que são restritos aos pesquisadores. Isso contribui para que a metodologia utilizada não fique tão clara para a população, o que é motivo para críticas de partidos e candidatos, principais objetos de tais pesquisas. _ Lúcio Vieira Lima confia na isenção das pesquisas: “De modo geral, os institutos aplicam estatísticas que permitem detectar as tendências com indicativos que se aproximam bastante da realidade”, diz. Egberto Magno, do PC do B baiano, constata que “a pesquisa de opinião, quando dotada de metodologias honestas, é fundamental para a definição de estratégias de campanha eleitoral”. _ Essa também é a opinião de Walter Pinheiro. “Eu não sou contrário à existência de pesquisas em eleição”, afirma. O problema normalmente reside na questão da transparência dos dados coletados. Para ele, os partidos políticos e a população não têm o acesso que deveriam à
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_ A Bahia foi palco em 2006 de uma das maiores polêmicas impulsionadas pela diferença entre o que as pesquisas de intenção de voto diziam e o resultado que as urnas registraram. A eleição para
“Quem tem que explicar são os institutos de pesquisa, não eu. Eles é que têm que dizer se estavam mentindo, se estavam vendidos”. (Jaques Wagner)
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Então, o que é que as pesquisas na Bahia têm?
governador do Estado era dita como praticamente definida, já que as pesquisas apontavam o então candidato Paulo Souto (na época ainda PFL, hoje DEM) bem a frente do seu maior adversário, Jaques Wagner (PT). A pesquisa divulgada na véspera da eleição apresentava o petista 10 pontos percentuais atrás do candidato Paulo Souto, porém o resultado no domingo, 1º de outubro de 2006, foi diferente. Wagner venceu as eleições no primeiro turno, surpreendendo a todos. _ O próprio governador eleito, Jaques Wagner, após o resultado oficial declarou ao portal Terra: “Agora quem tem que explicar são os institutos de pesquisa, não eu. Eles é que têm que dizer se estavam mentindo, se estavam vendidos”. O Ibope, porém, ao ser procurado pela Lupa, disse que não houve erro algum nas pesquisas para governador da Bahia em 2006. Helio Gastaldi, representante do instituto, afirma que “na Bahia, as pesquisas apontavam, desde o início, uma curva de crescimento para o candidato Jaques Wagner e descendente para o Paulo Souto”, deixando de lado qualquer suspeita de erro ou modificação proposital do resultado. Ele é incisivo ao dizer que as pesquisas são um retrato momentâneo e, portanto, mudam com grande intensidade nos últimos dias. _ Ou será que o eleitor não diz o que realmente pensa na hora da pesquisa de opinião? A resposta, só na próxima eleição.
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metodologia utilizada pelos institutos e existe um descompasso entre o que é coletado numa pesquisa e o que realmente acontece. “Recentemente, sentimos um nível de manipulação nos dados das pesquisas ou então na metodologia utilizada que produz variações consideráveis nos resultados”, afirma. E completa: “a relação dos meios de comunicação com os institutos de pesquisas tem que ser regida de forma transparente para evitar que haja favorecimentos”. _ Os institutos, por sua vez, defendemse. “Os maiores patrimônios de uma empresa de pesquisa como o Ibope são a credibilidade e a transparência”, diz Hélio Gastaldi, diretor de Atendimento e Planejamento do Ibope Inteligência. “Todos os clientes que contratam pesquisas eleitorais têm conhecimento da metodologia. Os resultados das pesquisas refletem fielmente o que encontramos durante as entrevistas com a população e independem totalmente dos interesses de quem nos contrata”, garante. Para Dolores Lopo, “a credibilidade está acima de tudo e quando não acertamos a decepção é geral”.
Você se considera um dos representantes dessa nova literatura blogueira? WC - Com certeza. Todo meu trabalho, desde 2004, mesmo depois de ter publicado meus folhetos de cordel e meu livro de poesias, tem girado em torno da Internet. É meu maior meio de divulgação, como escritor independente. A linguagem influenciou muito minhas poesias. “Microafetos”, meu primeiro livro, surgiu logo após meus primeiros contatos com o e-mail. Tive a ideia de reproduzir a sensação dessa nova técnica e desse novo meio em meus poemas. Eu escrevia o poema, e logo enviava esse “poema e-mail” para uma série de amigos. Daí eles respondiam, comentavam e sugeriam melhoras. Foi uma forma de experimentar minha literatura. A nova geração da literatura brasileira, que surgiu dos blogs e conseguiu espaço no mercado editorial, parece ter se esquecido do seu passado. Posso citar vários exemplos de autores que, talvez para valorizar mais o seu texto, passaram a ignorar seus blogs,
Wladimir Cazé
Entrevista a Nelson Oliveira
Atribui-se à Internet o conceito de “dispersiva”, pois é possível fazer várias coisas ao mesmo tempo, enquanto se está online. Você considera que o uso dos blogs como suporte literário altera o modo de produzir e publicar literatura, à medida que textos mais curtos comecem a ganhar espaço? Wladimir Cazé - Acho que a Internet pode servir para diversos fins, tanto como veículo para a divulgação e a publicação de textos mais tradicionais, quanto para transmitir, à criação literária, novos parâmetros. Apesar disso, o uso mais comum que se faz dela não é um uso criativo. No caso da literatura, vejo mais escritores escre-
vendo de forma tradicional e publicando na Internet, como poderia ser feito em qualquer outro suporte impresso ou em leitura em voz alta. Por outro lado, há a possibilidade de que estruturas da Internet – como o hibridismo, a fragmentação e a não-linearidade – acabem sendo incorporadas por esses textos mais tradicionais. O formato digital em si, com o hipertexto, já tem levado alguns escritores à experimentação de textos específicos para essa linguagem. No meu caso, comecei publicando em e-zines – fanzines que circulavam por e-mail – e, desde o começo, percebia as limitações da recepção dos textos nesse ambiente dispersivo da Internet. Daí a necessidade de publicarmos textos mais ágeis e sintéticos, mais adequados ao meio.
Às margens de um riacho dietético, uma borboleta cibernética intercepta um besouro tecno-ritmico: afago rápido no espaço hipercritico.
Fotos: Divulgação
O blog é minha oficina de idEias
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_ Wladimir Cazé é escritor e usuário de blogs, mas não tem receio de ser reconhecido como blogueiro. Pelo contrário. Gosta, assume e avisa: “sou um dos representantes dessa geração de escritores de blog”. Cazé não é do tipo que gosta de esperar que o ouçam. Ele quer se fazer ouvir, mesmo aparentando ser uma pessoa quieta, para quem o vê sorrir timidamente. Cazé busca espaços para que seus textos sejam lidos. Usando as tecnologias digitais a seu favor, ele já fez de tudo um pouco: publicou textos em e-zines, organizou editora independente com amigos, divulgou seus trabalhos em seus blogs. Ele está por aí, se infiltrando. A Lupa trocou algumas palavras com ele e quis saber quais as transformações por que passa a literatura, numa época em que publicar livros não parece ser mais condição para ser escritor.
A iniciativa de fundar uma editora independente, as Edições K, partiu das dificuldades de publicar pelo mercado tradicional? WC - As Edições K surgiram porque três dos quatro dos colaboradores do coletivo haviam mandado seus livros para editoras do Sul, mas não obtiveram respostas depois de um ou dois anos. Quando a gente viu a iniciativa da editora gaúcha Livros do Mal, em 2002, nós de Salvador, eu e o Patrick Brock – um dos quatro membros do coletivo – pensamos: “Se os gaúchos podem, por que não a gente?”. Quando fui morar em São Paulo, tive a chance de entrar em contato com o centro editorial do país, e assim, ansiosos para publicarmos nossos livros, aproveitamos a oportunidade de poder “chutar o balde” e romper essas barreiras do mercado editorial,
Quais as vantagens e os prejuízos de ser independente? WC - Prejuízo, de cara, é não ter a mesma divulgação que os escritores de uma grande editora. É difícil concorrer com eles, porque eles ganham mais espaço nas livrarias e são mais resenhados. Mas, ao mesmo tempo, como nossas ambições não são tão grandes, ser independente permite que a gente tenha total liberdade sobre certas coisas: capa do livro, ilustrações, tipografia e até mesmo sua comercialização. Muitas vezes todas as cópias do livro ficam com o próprio escritor. Eu mesmo devo conhecer todo mundo que comprou meu livro pessoalmente. Esse contato pessoal traz a vantagem de se ter um retorno imediato por parte do leitor. Ele pode mandar um e-mail te dizendo se gostou ou não, comentando e sugerindo qualquer coisa. É um processo de interatividade idêntico ao que é estabelecido por um blog. Eu gosto disso. Dos escritores publicados pelas Edições K, três são baianos. Como você avalia a contribuição da editora para a literatura baiana? WC - Modestamente, eu acho que as Edições K mostraram que livros independentes, produzidos pelos próprios autores, não precisam ser toscos e mal impressos. Mesmo sem contar com o apoio de uma editora, pode-se fazer com que o produto final não fique parecido com um livro amador, como eram há algum tempo as iniciativas de autor. Para isso, os novos escritores podem utilizar os recursos gráficos e de informática e aproveitar o barateamento da produção proporcionado pelas novas tecnologias. Ao mesmo tempo em que os livros K eram despretensiosos, eram bem feitos. São livros bonitos, que as pessoas gostam de pegar e folhear. Acho que foi isso que mais chamou a atenção aqui na Bahia. Há mais dificuldades, em termos de mercado, para a publicação de poesia ou prosa? Por quê? WC - É mais difícil publicar poesia. Poucas editoras investem nisso. Al-
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gumas até fecharam temporariamente seu setor de poesia, para dar espaço para outras formas de publicação. Editoras grandes, como a Companhia das Letras e a Cosac-Naify, por exemplo, não lançam mais que dez títulos de poesia anualmente. A grande dificuldade é passar pelo filtro do conselho editorial dessas casas, porque a poesia, hoje em dia, não tem um público tão amplo como o romance. Há uma grande quantidade de pessoas escre-
Blog de Wladimir Cazé: http://silvahorrida.blogspot.com vendo poesia, mas o rigor de elaboração da linguagem exigido pelos poetas que participam dos conselhos é muito alto. A poesia é cada vez mais lida apenas pelos próprios poetas. Isso limita a abertura para publicação. O que você acha que lhe deu mais reconhecimento? O livro, os recitais e os coletivos ou o blog? WC - Acho que a primeira opção. Meu blog não é muito linkado a outros locais da rede. Eu ainda não tenho uma lista de links, mas pretendo colocar. O blog das Edições K também não estava muito divulgado. Meu blog não tem atualizações constantes. As pessoas acessavam os blogs meio por acaso ou então a partir de buscas na Internet, em cima do que eu já tinha publicado. Hoje eu não tenho mais livros inéditos, então isso diminuiu um pouco. A visibilidade mais recente vem dos recitais, porque preenchem um vácuo que há em Salvador, em relação a eventos de literatura, que não é apenas lida, mas ouvida, vista e presenciada. Como nosso trabalho ainda está nesse estágio inicial, seria pretensioso dizer que o espaço que a gente conseguiu se deu pela eficácia do espetáculo. A meu ver, a visibilidade se dá porque trazemos algo diferente.
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Você acha que a presença cada vez mais forte da Internet no modo de produzir, consumir e distribuir literatura se tornou indissociável para o que se fará daqui pro futuro? WC - Sim. Os textos, independente de suas origens, hoje em dia convergem, de alguma forma, para o meio digital, até porque ele é nossa fonte de pesquisa mais imediata. Os textos são pensados, de certa forma, para que possam ter alguma repercussão na rede. Há livros que inicialmente não tinham sido pensados enquanto tais, mas que foram publicados a partir do feedback dado a postagens dos blogs. Um exemplo disso aconteceu com o Ricardo Cury, aqui em Salvador. Da mesma forma que os músicos utilizam o MySpace e o YouTube, os escritores também estão procurando uma nova ferramenta para alcançar seu público. Às vezes acontece que um novo público, totalmente diferente, passa a conhecer seu trabalho pela Internet, de modo que não conseguiria saber através do livro, até por não saber da sua existência.
publicando de maneira independente. Em 2004, quando eu, Patrick Brock, Delfin e Marcelo Benvenutti fomos para a Feira Literária Internacional de Paraty, nossos livros atraíram a atenção de outros escritores. A gente resolveu dar continuidade: ao invés de publicar só esses quatro livros, acabamos publicando mais dez. Gerou alguns frutos. Benvenutti já está no seu sexto livro e publica por uma editora de Curitiba, por exemplo.
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depois que seus livros foram publicados. Na editora eles têm contrato e recebem comissões pela publicação, enquanto na Internet os textos estão lá, de graça. Não concordo muito com esse tipo de postura. Pretendo continuar postando em blogs, mesmo enquanto tiver livros publicados. Utilizo o blog mais como uma oficina das minhas ideias, para visualizar uma espécie de evolução das pesquisas que faço, para resenhas que faço de outros livros, relato de viagens e anúncio de eventos dos quais participo. Raramente publico poesias ou outros textos inéditos. Meu objetivo ainda é o livro: tenho essa visão um pouco romântica, esse fetiche.
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O que muda na literatura de cordel quando a Internet participa de seu processo de criação.
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Texto Nelson Oliveira | Ilustração Alice Vargas
_ Quando surge uma nova tecnologia, sempre há alarmistas de plantão para decretar que o novo vai passar por cima do velho, decretando a morte da tecnologia antiga. “Corram, a Internet vai exterminar o livro impresso! O cordel, então, coitado, vai pra lata do lixo”. Mas geralmente não acontece nada disso que se pinta pelos exagerados. O fluxo natural das coisas é que segmentos da cultura mais tradicional (neste caso, a brasileira), como a literatura de cordel, agreguem aspectos das novas tecnologias, a partir dessa competição de espaço com outros meios de comunicação e persistam, de alguma forma modificados. _ O cordel sempre atualizou seus temas. A necessidade de atualização se dá porque, historicamente, o cordel era um veículo de notícias, assim como a poesia grega. Se hoje em dia a função informativa é desempenhada por outros meios de comunicação, os cordelistas mudaram sua abordagem, sem deixar de se atualizar e de falar sobre temas atuais. Como em outras vertentes literárias, a Internet tem sido muito importante em algumas das mudanças desenvolvidas no cordel. “Ela muda a linguagem do cordel e seus temas”, afirma Franklin Maxado “Nordestino”, apontado pelo pesquisador Raymond Cantel como divisor de águas no cordel brasileiro. _ Na medida em que a Internet incentiva o cordel a incorporar temas, faz com que ele incorpore práticas. A sugestão de motes para elaboração de poesias, através de e-mails ou comentários em blogs, e os duelos poéticos feitos por troca de e-mails são as formas mais simples do transporte de elementos do cordel para o meio virtual. Mudanças mais complexas, como a possibilidade
de tornar o cordel mais interativo e o deslocamento dos locais de sua venda também podem ser verificadas. _ Mesmo que a Internet traga diversas transformações no modo de produção e distribuição do cordel, os cordelistas, de maneira geral, não a utilizam para benefício de sua arte. Entre os poetas que utilizam a rede, grande parte deles a trata, apenas, como mais um espaço para publicação de textos. Seus sites ainda obedecem a primitivos esquemas de organização da web, ignorando as possibilidades que a web 2.0 oferece. Nestes sites ainda inexistem ferramentas funcionais para a interatividade, como o uso de palavras-chave (conhecidas como tags), úteis para facilitar as buscas sobre o assunto a que elas remetem. José Honório, paraibano que se intitula como “cordelista cibernético”, foi um dos primeiros poetas de cordel a usar a Internet em benefício da literatura. “Comecei disponibilizando meus versos em sites, e, depois, passei a realizar duelos poéticos através de
e-mails. Muito do que já escrevi é fruto desse novo contexto tecnológico, como O Marco Cibernético construído em Timbaúba, uma espécie de ‘cordel-manifesto’, em que eu prego a convivência pacífica entre a modernidade e a tradição, o tecnológico e o artesanal”. _ José Honório acredita que a Internet pode ajudar a mudar o modo de fazer cordel. Para ele, utilizar a rede aproxima os cordelistas, propiciando o intercâmbio entre poetas de lugares distintos, “gerando parcerias (tanto criativas quanto comerciais), como as pelejas virtuais, os duelos poéticos e a construção coletiva de poemas”.
Hipercordel na terra dos bits e bytes _ O cordel nunca foi feito para ser lido silenciosamente. Sua origem é a oralidade – a mesma de outras tradições sertanejas –, como o repente. Antes de tudo, cordel deve ser recitado. A partir do momento em que os cordéis passaram a ser publicados em folhetos ilustrados por xilogravuras (antes mesmo das primeiras imagens chegarem aos jornais), se transformaram em uma arte multimídia. José Honório acredita que o cordel, desde que começou a ser explorado por sites da web, está cada vez mais hipertextual. Além da construção coletiva de poemas, há mais outras diferenças em relação ao passado, porque novos personagens têm sido acrescentados em sua cadeia produtiva. “A hipertextualidade do cordel normalmente está centrada em um único personagem: o poeta. Ele escreve, ilustra e declama. Com a Internet, novos atores entram em cena, porque raros são os poetas populares que se dedicam a desvendar os mistérios da informática”, argumenta o cordelista cibernético. _ Atualmente, fundamentos estéticos do cordel (especialmente a xilogravura nordestina) têm sido utilizados para a concepção de obras de arte digitais.
A peleja da corda com a rede no mundo real _ A venda de cordéis, costumeiramente realizada pelos próprios cordelistas, quase não existe mais. Em Feira de Santana, onde a tradição de cordel sempre foi muito forte, os cordelistas só vendem quando há eventos literários específicos. O feirense Jurivaldo Alves da Silva é um dos poucos poetas que ainda vendem seus trabalhos à moda antiga no Nordeste. O folheteiro compra cordéis de outros cordelistas e os vende em feiras livres, feiras de cultura, romarias e zonas urbanas e rurais mais pobres. “Se o cordelista está em extinção, o folheteiro está mais ainda. A Internet é importante porque quem não pode estar
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presente nos locais de venda, pode usála para comprar. Mas lá no pé da serra, onde não tem Internet, quem tem que ir é o folheteiro, senão a cultura morre”, diz, orgulhoso de sua profissão. Depois brinca, com lábia de vendedor experiente. “Em minha opinião, a rede diminui a venda de cordéis, porque a pessoa só pede aquele que gostou mesmo. Mas quando alguém vem na minha banca e se interessa por um cordel, consigo ajeitar pra ele levar uns dez”. _ Marco di Aurélio, cordelista pernambucano e dono de um site pessoal, não acredita que a Internet atrapalhe a vida dos folheteiros. “Acho que neste caso as folhetarias saíram ganhando, já que há mais um ponto de venda e, consequentemente, maior facilidade de aquisições. Sebos virtuais estão se proliferando cada vez mais”. Além dos sebos virtuais, há uma loja virtual especializada em cordel, encontrada no site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel. Através da loja, a academia comercializa compilações especiais, que podem ser adquiridas apenas através do site ou se o comprador se dirigir à sede da academia, no Rio de Janeiro. _ Questões relativas a direitos autorais também fazem parte do mundo das publicações de cordel. Como em outras áreas, a discussão sobre a chamada “propriedade intelectual” e a veiculação das obras em sites não-autorizados é polêmica. O Portal do Cordel, por publicar obras de diversos autores, dispõe grande atenção ao assunto. “Alguns autores doam seus textos para o site. Quando isso não acontece, consultamos os poetas ou seus familiares”, explica Lira. O poeta José Honório encara a questão de maneira emblemática. “Entendo como de utilidade pública a minha atuação como cordelista. Disponibilizar meus versos é a minha contribuição para que esta expressão da cultura nordestina se fortaleça, se renove, e seja valorizada por uma parcela maior da população”, diz.
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opinativas e vídeos de outras naturezas também fazem parte do acervo. _ O Portal do Cordel também organiza uma seção para que os cordelistas se cadastrem, deixando seus dados e fazendo uma espécie de mini-biografia, falando sobre sua arte. É também um importante mecanismo para fortalecer a organização dos próprios cordelistas, que, espalhados pelo país, muitas vezes não conseguem se comunicar ou nem mesmo conhecem o trabalho de outros colegas. “Alguns cordelistas têm comentado sobre a importância e urgência de ações como a nossa, para divulgação da literatura popular. Dentre os objetivos do Portal estão a publicação de livretos, a apresentação de poetas e suas obras, e por consequência, a circulação e o comércio de produtos relacionados à literatura de cordel”, explica André Lira. Depois de cumprir as primeiras etapas do projeto, os irmãos pretendem inserir outra ferramenta de interatividade e criação de hipertexto: a criação de wikis, através da construção coletiva de textos, como se faz na conhecida Wikipédia, mais famosa expressão do gênero.
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Animações e vídeos começam a fazer parte do contexto produtivo, através da participação de designers e artistas digitais, que enxergaram as possibilidades multimidiáticas do cordel. A designer Alice Vargas fez um site (www. avargas.com.br/derepente/), no qual misturou as possibilidades de hipertexto da Internet com as das manifestações da cultura tradicional nordestina. Em 2001, ela concluiu seu bacharelado em Comunicação com o projeto experimental “De Repente: um passeio pelo universo das cantorias”, que consistia na criação de um site interativo sobre cordel e repente. Durante sua pesquisa, ela se assustou com a má qualidade dos sites existentes. “Me chamou a atenção como um tema tão rico era exposto na web de forma tão pobre, sem muito entendimento de como as características do meio digital poderiam ajudar na sua exploração. Pelo jeito, a coisa não mudou muito”, lamenta Alice Vargas. Mesmo criado há cerca de sete anos, o site ainda é um exemplo de como a Internet pode contribuir para mudar a linguagem do cordel. _ Embora alguns cordelistas estejam interagindo diretamente com as transformações da web, os sites sobre cordel que mais utilizam as ferramentas interativas da rede não foram criados pelos poetas. Esses sites geralmente são de organizações, como a Academia Brasileira de Literatura de Cordel (ABLC www.ablc.com.br) e o Portal do Cordel (www.portaldocordel.com.br), criado no início de 2008, pelos irmãos André e Luciano Lira. Os sites servem como um rico banco de dados facilmente acessível para pesquisadores e amantes da poesia narrativa: xilogravuras e cordéis (clássicos e atuais; raros e comuns; novos e antigos) estão disponíveis na íntegra para download. Material adicional multimídia, como entrevistas (escritas, em áudio ou vídeo), notícias (clipping ou criadas pelas equipes dos sites), colunas
Ilustração : Bruno Aziz
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Três profissionais que, desde cedo, rabiscaram os primeiros passos de suas carreiras
Ilustração: Iansã Negrão
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Ilustração: Rodrigo Minêu
Texto Paloma Ayres e Rebeca Caldas | Ilustração Rodrigo Minêu, Iansã Negrão, Bruno Aziz
_ Quando pequeno, todo mundo já teve um colega de sala que se destacava por saber desenhar personagens de desenho animado, historinhas em quadrinhos, modelos de carros etc. Com o tempo, de “copistas”, passam a criar personagens, histórias novas, desenvolver traços com características suas e a expressar suas idéias no papel, é aí que começam a explorar o potencial da comunicação de suas obras. _ Depois de se tornarem gente grande, e tentarem sobreviver fazendo aquilo que realmente amam, descobrem que não é tão fácil assim. A profissão de ilustrador enfrenta vários desafios, como a falta de regulamentação, o exercício do ofício por profissionais oriundos de diversas áreas e limitado reconhecimento por parte dos outros agentes do mercado de trabalho. O ilustrador que realmente quiser transformar sua habilidade em fonte de renda tem que aprender também a arte da persistência. _ Mesmo assim, há os que conseguem se estabelecer e conquistar reconhecimento na profissão. Vamos destacar aqui alguns profissionais bem-sucedidos na Bahia, são eles: Rodrigo Minêu, Iansã Negrão e Bruno Aziz. Três ilustradores, três traços, três trajetórias, perfiladas nas próximas linhas.
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Desenho: uma fada-madrinha arte, considero o trabalho da pessoa e não se ela tem a carteirinha da associação de ilustradores”, afirma Negrão que, no entanto, reconhece que uma regulamentação é muito mais do que determinar sobre o exercício do trabalho de ilustração. “Essas organizações servem, sobretudo, para ajudar a regulamentar o mercado, orientar o ilustrador a saber como cobrar de um cliente, por exemplo, e serve, ainda, para manter todo mundo junto, informado e fazendo intercâmbios”, justifica. _ Personalidade e diferencial. Essas são as características necessárias para que o ilustrador inicie a sua carreira, de acordo com Negrão: “Eu, por exemplo, não tenho técnica nenhuma, mesmo assim consigo criar uma identidade com as pessoas”. Se vai viver de ilustração e se dedicar integralmente à arte? Nem ela sabe, mas de uma coisa ela tem certeza: desenhar é distração e uma forma de relaxamento, desde a infância. “Sempre desenhei, já sujei muita carteira de escola (risos). O desenho é uma coisa natural, como uma fada-madrinha para mim”.
Iansã: auto-retrato
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_ Desde criança, a jornalista Iansã Negrão desenhava e o faz até hoje. Diretora de arte do jornal A Tarde, Iansã é formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da UFBA e iniciou na ilustração quando escrevia para o Caderno Dez, no mesmo jornal. “O interessante lá é que dava para participar de todas as etapas de produção, foi aí que comecei a dialogar com a editoria de arte e me interessar por design”. O interesse despertou nela a vontade de se especializar, fazendo cursos, pesquisas, treinamento no jornal Folha de São Paulo, até surgirem convites para trabalhos, como a elaboração de wallpapers para uma operadora de celular e uma mostra coletiva no Teatro Castro Alves. _ A Internet tem sido uma aliada de Negrão para divulgar seus trabalhos. Ela foi uma das primeiras no Brasil a montar um fotolog para expor seus trabalhos, assim como muitos de sua geração. Na opinião de Negrão, atualmente é possível ver o traço de bons ilustradores em muitos espaços, além dos tradicionais gibis e jornais. “A gente vive um momento feliz para os ilustradores, podemos ver o traço de muita gente boa em vitrines de lojas, roupas, muros, livros e revistas”, garante a jornalista, que destaca a possibilidade de os ilustradores poderem vender seus trabalhos sem atravessadores. Ganhando dinheiro ou não, para Iansã, a ilustração proporciona satisfação a quem faz. “A ilustração pode não dar dinheiro, mas dá prazer. Entretanto, isso não é categórico, tem gente que assina carteira e vive disso”, assinala. _ Ilustrador de carteirinha? Iansã Negrão derruba esse mito e acredita que vale mais um bom traço na mão e lutar pelo seu espaço do que um rigor na definição sobre quem pode ou não atuar na área, caso contrário, ela mesma estaria “perdida”, uma vez que não tem formação específica. “Como editora de
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_ Quando pequeno, foi folheando HQs que Rodrigo Minêu aprendeu a gostar de cinema e literatura. Aos vinte anos de idade, deixou de imitar outros desenhos, simplificou o traço e passou a explorar o teor comunicacional das obras: “O mais importante é a forma como a mensagem é transmitida e o desenho é apenas um instrumento para isso. Eu queria passar as ideias adiante e era necessário que alguém as desenhasse”. Começava aí a criar o seu próprio estilo. _ Mais tarde, se formou na área de Comunicação Social, nos cursos de Publicidade e Jornalismo, mas não desenvolveu a profissão de jornalista, embora os conhecimentos adquiridos tenham contribuído para o seu processo de criação. No mercado de trabalho, a publicidade e o cartunismo se complementam, a criatividade e a comunicação estão presentes nos desenhos e redações publicitárias e nos cartuns, cada um de acordo com sua linguagem própria. No entanto, as coisas podem se misturar: “As referências que tenho como cartunista se somam às referências como publicitário, às HQs que leio, aos filmes que vejo, à vida que levo. Às vezes também faço ilustrações nas propagandas, mas apenas quando considero meu traço adequado para determinado anúncio. E isso não costuma acontecer”. _ Minêu não se queixa da falta de espaço para divulgar seus trabalhos, pelo contrário, até que não é difícil. O problema é achar espaços que valorizem o seu trabalho. “É muito fácil encontrar alguém que queira publicar seu trabalho sem remuneração, apenas pela suposta divulgação que isso possa gerar. Esse não é o caminho. Isso não é profissional e não leva a lugar nenhum”. A Internet também se constitui numa ótima ferramenta para mostrar o seu trabalho ao mundo, ao mesmo tempo em que possibilita conhecer o que outros profissionais estão produzindo nas diversas regiões do planeta. É ela, inclusive, uma das principais responsáveis em fortalecer as redes de contato entre os diversos profissionais que atuam na área de Ilustração. _ Dentre os demais ilustradores, Minêu se destaca pela quantidade de prêmios que já recebeu - em torno de quinze - em salões e concursos de que participou. No entanto, eles trazem reconhecimento simbólico, ao passo que em termos financeiros, ainda não causam grandes transformações na carreira do ilustrador. Para ele, o mais importante é investir no trabalho que faz. “Foi o fato de ter acreditado no meu trabalho que fez com que eu conseguisse o respeito de profissionais que sempre admirei e é o que faz com que eu tente
melhorar a cada dia”. É nesse sentido que ele vai construindo sua carreira e buscando conquistar novos espaços, inclusive com idéias interessantes para o mercado baiano. Em dezembro de 2008, lançou uma marca de camisas. “Estou me sentindo realizado com esse projeto porque, além de ter mais liberdade para criar, estou tendo a oportunidade de unir mais o cartunismo com a publicidade”.
Ilustração: Rodrigo Minêu
Com os quadrinhos, criou sua própria história
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Ilustração : Bruno Aziz
músicas, relacionamentos etc., usando muito sarcasmo, às vezes até é ácido, violento, nonsense. O sucesso de Aziz em relação ao público é resultado de sua identificação com ele. Sobre isso, dou a palavra para o próprio ilustrador comentar: “Com relação ao público, vou ser bem sincero. Eu faço a tirinha pensando em mim primeiro, no sentido de ser rigoroso com o que eu faço. A primeira pessoa que tem que gostar sou eu, se eu não gostar de uma tirinha, ela volta pra gaveta, até eu burilar melhor a história. Acho que a identificação do público vem como consequência. Sou totalmente adolescente, aí se eu gosto, é porque o público do caderno vai gostar também”.
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_ Quando tinha doze, treze anos, Bruno Aziz consumia histórias em quadrinhos, o que lhe proporcionou gosto pela ilustração, pelo texto e sua estética. Mais tarde, começou a sua carreira ilustrando algumas cartilhas e materiais educativos e produzindo, de forma independente, histórias em quadrinhos. Criou o seu próprio fanzine, o “Placebo”, participou de coletivos locais e de projetos do quadrinista e designer Hector Sallas. Provavelmente, foi através dessas iniciativas que ele conseguiu certa visibilidade e foi convidado a atuar no Jornal A Tarde, local onde conseguiu dar uma guinada na sua carreira. _ Inicialmente, em meados dos anos 90, substituiu por um mês um ilustrador editorial da empresa que iria sair de férias. Alguns anos depois, em 2003, foi convidado a fazer uma tirinha para o Caderno Dez!, destinada ao público adolescente. A tirinha se chamava “Dilemas” e passou a ser publicada semanalmente, ao mesmo tempo em que o ilustrador colaborava com uma ou outra matéria, mas informalmente. _ Somente em 2006, ele foi contratado efetivamente para ilustrar no então criado suplemento infantil A Tardinha, no qual também criou uma tirinha, chamada Os Fabulosos Um Dois Três, e criou o Rock Sujo, do Caderno Dez!. Além disso, passou a ilustrar em todos os cadernos do jornal e eventualmente faz charges. Ou seja, ele consegue desenvolver a carreira de ilustrador editorial e cartunista na mesma empresa. Outro fator que contribuiu para o seu desenvolvimento profissional foi a
convivência com profissionais importantes da área de Ilustração, com Gentil, Cau Gomes e Simanca, todos atuando no Jornal A Tarde. _ No entanto, Aziz trabalhou suas técnicas de forma auto-didata, sem ter formação acadêmica. Ele até tentou vestibular, passou, mas sua escola mesmo foi o mercado. “Tentei fazer desenho industrial na UFBA, e perdi no teste de aptidão (ou seja, não sei desenhar né, hehe). Na Uneb passei, mas achei o curso um saco e abandonei. Já trabalhava na área, como diagramador, no setor de Marketing do Liceu de Artes e Ofícios e como freelancer em casa, comecei a me interessar mais por design. Passei do setor de Marketing para a Gráfica do Liceu, trabalhando na parte de criação. Isso me deu um background legal de design gráfico que acabou por refletir no meu trabalho como ilustrador”. _ Apesar de ser um profissional que se comunica com públicos diferenciados, são eles o infantil e o adolescente, Aziz não encontra dificuldades para a criação de suas tirinhas. Para a criançada, ele desenvolve temas educativos, de acordo com o tema da edição mas, às vezes, busca fugir dessa regra, pois “não é por ser de criança que tem que ser necessariamente educativo [...] tem mesmo é que ser divertido [...] não se deve subestimar a inteligência das crianças e a capacidade delas de adquirir referências visuais e de texto”. Já em relação ao Caderno Dez!, ele faz um humor que tem uma pegada adolescente, abrangendo temas como
Ilustração : Bruno Aziz
Rock sujo à tardinha
Só para ilustrar... _ A Sociedade dos Ilustradores do Brasil (SIB) é uma entidade que busca a integração de profissionais da área, além de oferecer workshops, palestras, exposições. www.sib.org.br _ Confira os trabalhos dos entrevistados nos sites: Rodrigo Minêu: http://rodrigomineu.zip.net/ Iansã Negrão: http://www.fotolog.com/iansa Bruno Aziz: www.fotolog.com/rabiscoland
PASSEPARTOUT Entrevista a Frederico Soares e Verena Paranhos | Foto Graciela Natansohn
Lembre-nos de algumas frases irreverentes da UPI Tem várias! “Ando sem medo, isso me amedronta”, “Penso, logotipo” e “Odara, ou desce”, que primeiro coloquei nas ruas e depois viraram títulos de livros. Seus poemas podem ser classificados como haikais? Parafraseando Millôr, haikai não é haikai, o nome original japonês é haiku. Mas como esse nome não soa bem para os brasileiros, inventaram haikai. Meu haikai é mais livre, não tem preocupação métrica nem associação com a natureza. O que eu faço é uma coisa mais de humor, eu diria que é “ha-haikai”.. A maioria dos seus livros foi publicada de maneira independente. É um tremendo esforço publicar?
Não. O que facilita bastante a impressão dos meus livros é eu ter emprestado uma grana para o pessoal de uma gráfica que não pôde me pagar e me permitiu imprimir livros de vez em quando. Como eu sou organizado, eu edito, passo para Renato, que faz a revisão, depois mando para a gráfica, faço o lançamento, com uma festa dançante. Em seguida, eu distribuo, depois eu cobro e reponho. Para que eu vou entregar isso a uma editora, se ela só vai me dar 10%? Por que entregar o ouro ao bandido? Um conselho pra um designer? Use a lógica do menos é mais. Usar o mínimo para dizer o máximo. Os Santinhos Geneticamente Modificados, criados por você e Renato da Silveira, tiveram alguma repercussão inesperada? Recebi um e-mail de uma pessoa que me disse: “Olhe, queria comprar duzentos santos de Nossa Senhora Amiga do Peito, porque eu recebi de uma amiga minha, pedi uma graça a ela e consegui”. Eu pensei: “Porra, os santos estão dando certo!”.
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É verdade que estudou jornalismo? Sim, mas quando vi como era o clima dos jornais aqui, me senti sufocado e fui à rua fazer grafite, já na década de 80. Foi quando conheci Renatinho da Silveira, antropólogo e designer, e fundamos a UPI, United Press Irmãos Metra-
lha, para pichar palavras de ordem e campanhas educativas.
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_ Mesmo na maturidade, Nildão é um menino. Um menino que brinca com palavras, traços, linhas, sprays e cores, sem perder a consciência de quem fala das coisas sérias da vida.
CUBO MÁGICO
Mãos na cabeça e entregue a Lupa! Cadu Oliveira
_ As páginas policiais dos grandes jornais não deram sequer uma linha sobre o assassinato do trema. Vendida, a imprensa marrom ficou bege diante do fato! “Acento vagabundo tem mais é que morrer”, ato-falham. Ficaram órfãs dos pontinhos as linguiças, as seriguelas e a tranquilidade. E, assim, toda a sorte de crime fica impune na terra dos acentos perdidos. Crimes contra a sintaxe, o pudor e a inteligência acontecem diariamente às catracas dos circulares lotados, no miolo dos cacetinhos vendidos a quilo e nos subterrâneos das faculdades públicas de jornalismo. Não se espante, portanto, se espirrar sangue dos crimes dos quais o(a) caro(a) leitor(a) se tornará cúmplice a partir de então. Há tanto sentido neles quanto há na criminalidade diária que vaza do Congresso. Folheie e aguarde a intimação; agora é tarde: suas digitais já estão impregnadas no objeto do crime!
A chacina do Limoeiro
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Breno Fernandes
_ Quando eu entrei no gibi, me senti oco – como se tivesse perdido todos os órgãos, todo o meu sangue. A arma, presa na cintura, pareceu triplicar de peso, e a segurei para não cair. Então, algo cheirando a suor passou voando rente ao meu nariz e eu quase me desequilibrei. Um grito: “Cebola! Vamo, véi!” Aquela voz de quem parecia ter um ovo na boca era minha conhecida. Ouvi-a muitas vezes num VHS de minha infância, A rádio do Chico Bento. Bons tempos. Quando o mundo parecia ter uma ordem clara e imutável; quando eu sabia que, depois da primeira série, o lógico seria ir para a segunda, e depois para a terceira, e quarta, e... _ Agora, o caos. Cheguei ao terceiro ano e me disseram: Vá para onde quiser, conquanto seja para a universidade – e eu não soube escolher o que cursar, mas foi até bom, porque aí me disseram: Vá para o cursinho, até saber – e, por um instante, a ordem do mundo que eu conhecia pareceu voltar. Havia, contudo, qualquer coisa de frágil nela, e isto se revelou pela primeira vez quando o papa João Paulo II morreu. Ele, que eu julgava imortal. Dois anos depois, ACM, outro imortal, morre. Sandy & Jr se separam. Todos estes pilares da minha infância sendo destruídos, e eu incapaz de fazer algo para impedir. Mas com a Turma da Mônica ia ser diferente. Eu não os deixaria crescer. Por isso entrei naquele gibi. Por isso – e por maior que fosse a vontade de abraçar o Cebolinha
(meu predileto) quando o vi sair de casa e se aproximar do Cascão – eu atirei. O mundo precisava voltar à sua ordem. _ Passei pelos corpos caídos e parei no meio da rua. Saquei um bombom do bolso e o abri fazendo o maior ruído possível com a embalagem. A garota que meteu a cabeça para fora de casa só podia ser ela. Me olhou suplicante. Eu sorri e ofereci o doce com um gesto. Ela aceitou e sumiu da janela, mas não chegou a pôr os pés na rua: assim que a porta se abriu, o tiro a fez tombar para dentro. _ Só restava a Mônica, e eu sabia que iria encontrá-la na primeira página. Tomei um atalho pelo rodapé e cheguei a um quarto de menina adolescente, com pôsteres de galãs nas paredes e ursinhos nas prateleiras, disputando espaço com CDs. Vi dois pés de unhas pintadas se balançando na cabeceira alta da cama. Uma voz lia alguma coisa, e eu também conhecia a sua dona. Acerquei-me devagar, agachado. Espreitei por cima da cabeceira e vi um par de pernas roliças e desnudas, que terminavam numa calcinha azul-bebê, cujo coelhinho da estampa, com um olho tampado pela camisola desalinhada, parecia piscar para mim. Ouvi: Estou crescida – e não tive dúvidas. Repousei a arma no chão e pulei na cama, em cima das pernas da Mônica. Que, sim, estava crescida. E
felizmente ainda não usava aparelho nos dentes.
Há crime na arte? Rafael dos Prazeres
_ No principio era o verbo, o risco e o som. A arte era reverência de temor ou respeito ao indecifrável sacrossanto. Seres humanos produziam em telas, tintas e madeiras seus suspiros sagrados ou seus mais íntimos retratos culturais. Um ID intransferível no bojo da criação artística até sua grande reprodução em cópias para concentrar cifra$ e, ao mesmo instante, distribuir a arte ao redor do mundo. Ato benevolente a sucessivos crimes. O que seria de Monalisa de Leonardo da Vinci, se não estivesse nas propagandas do cartão de estudante Salvador Card? Ou o que seria da quinta sinfonia de Beethoven se não soasse nos toques de celulares? Acaso há crime nas artes, exceto o caso John Lennon? Não! Há imitação e reprodução apenas. _ Apropriações que ajudam a disseminar conhecimentos ao longo dos séculos. Mais um dos necessários plágios de que somos cúmplices em torno de nossas produções. Seja em trabalhos acadêmicos, seja em letras de música ou caricaturas, nós nos sucumbimos ao poder da arte de deca-
pitar copyrights e desejos impetuosos de capital. _ Enquanto existir Aristóteles, Eugéne Atget, Carlitos, arrocha e gravador de CD/DVD, haverá reprodução de imagens. A diferença entre uma criação e um crime está na mão 2.0 de um artista que transita entre o assassinato e o Renascimento.
Meu primeiro furto Luciana Alves
_ Aos 5 anos de idade, fui apelidada carinhosamente por meus amiguinhos de escola de orca, Free Willy e outros nomes de animais avantajados. Minha família dizia que eu era bonita, mas realmente um regime não cairia nada mal. Gorda, eu seguia dizendo a mim mesma que iria parar de comer, contudo, nos dez minutos seguintes, estava eu devorando um pacote de biscoitos recheados. Foi quando um dia mamãe me impôs um regime severo e eu iria comer coisas saudáveis. Neste mesmo dia, vovô ia até o Supermar (antigo Bompreço) na Garibaldi fazer a cesta básica do mês e me convidou. Eu fui. Entretanto, chegando lá, cometi meu primeiro crime. Passando por uma determinada seção, não resisti. Estava em abstinência e acabei roubando um conjunto de 8 Danoninhos. Meti por debaixo da blusa
e cruzei meus bracinhos gordos. Fiquei com vergonha de pedir a vovô o Danoninho, pois ele sabia do meu regime, mas não senti vergonha de furtá-lo. Passei quase uma hora esperando vovô sair do supermercado. Naquele dia, parece que ele estendeu um pouco as compras. Ele perguntou se eu estava sentindo algo com aqueles braços cruzados. E eu simplesmente mentia fingindo dor de barriga. Passei pelo caixa e a mulher não reparou nada. Não houve apito na saída e eu levei meu furto. Infelizmente, depois do meu trabalho, não desfrutei do danoninho, pois me senti uma criminosa. Assim, só ficou a lembrança do meu primeiro crime. Não me denunciem.
A Fúria Assassina de Marcelo Ribamar Davi Boaventura
_ Fazia tempo que Marcelo Ribamar desejava matar o seu melhor amigo, um branquelo tísico somente conhecido pelo pré-nome Rivaldo e que ostentava uma cabeleira digna do mais glorioso rastafári jamaicano. O caso era grave. Mesmo com todos os ditames católicos implorando em contrário, não havia jeito. Rivaldo estava mesmo marcado para adentrar o reino do
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por Alice Vargas
desconhecido e encontrar a santíssima divindade em comunhão. Não era para menos. O branquelo era um sujeito tinhoso. Armava as mais sujas traquinagens para cima do pobre Ribamar que, coitado, mal sabia se defender. Era artimanha de todos os tipos. Daquelas que minha conservadora educação nem permite comentar. _ No entanto, o imbróglio, como vocês devem imaginar, não correu de forma tão simples assim. Culpa da afamada consciência de Marcelo Ribamar, que levou o rapaz para as mais delirantes elucubrações em longas noites insones. Rivaldo deveria morrer. Isto era fato. Só que Ribamar não queria fazer o amigo sofrer, de modo que o empacotamento deveria ser rápido e indolor. A força física, e olhe que Marcelo era forte como um minotauro grego, estava descartada. Venenos, armadilhas, facas e até feitiços foram considerados, mas todos esquecidos por ferir os mais profundos princípios éticos de Ribamar. _ Depois de muito matutar, o assassino se decidiu pela arma de fogo. Um tiro certeiro bem no meio da têmpora do colega. Isto posto, um último porém atrasava a execução do delito e deste Marcelo Ribamar não abria mão. Rivaldo deveria ser encontrado desnudo. Completamente nu e em posição indecorosa. Afinal de contas, morte desta monta era muito mais notória e expressiva. Pronto. O plano estava traçado. Como Rivaldo gostava de se engraçar com as moças, era o momento certo para alvejar o moleque. A boca na botija e o balaço na embocadura. Coisinha rápida, sem pormenores. A ansiedade cresceu em Ribamar, que mal podia se conter em realizar seu desejo. Queria gritar para o mundo que ele, finalmente, havia matado Rivaldo, aquele branquelinho metido a descolado. _ Foi quando chegou a festa de Nossa Senhora. Rivaldo, arteiro, arranjou logo duas moças muito bem nutridas para sua companhia. Foram para o quarto de Cesinha, que também estava ocupado com uma rapariga em outro lado da casa. Ribamar, calado, acompanhou tudo de longe. Olho bem aberto para não deixar escapar a oportunidade. _ Os minutos se passaram e o quarto pegava fogo com as roupas de Rivaldo pairando distante de seu corpo. Armado até os dentes, Marcelo Ribamar invadiu o aposento cuspindo fúria. Gritava e xingava, colocando toda a sua raiva descontrolada para fora. Não quis perder tempo. Meteu o trabuco na cabeça de Rivaldo e disparou. Mas só então ele percebeu seu erro. Rivaldo e Ribamar eram um só. E aí, meus caros, já era tarde demais para voltar atrás.
CUBO MÁGICO
A linguagem é um vírus. W. Burroughs
Pela culatra Raíza Tourinho
_ A verdade é individual, eu sei, você já sussurou-me em sua poesia, porém esqueceu do calibre do meu revolver.
Pronta
Gabriela Vasconcellos _ Enfim, a Lupa está pronta. Inúmeras foram as caminhadas, cobranças, revoltas, transferências e pedidos de desculpa – com um quê de “livrei-me de você” –, divagamos em busca das tão preciosas informações. Mas parecia um jogo de empurra, aliás, como tudo nesse país, em que ninguém se responsabiliza por nada. Várias vezes o pensamento “Vida de repórter não é fácil” me ocorreu, seja por causa das dificuldades ou da certeza do quanto é difícil mudar o mundo. Nunca deu vontade de desistir, afinal, o prazer de fazer o que se sonha desde bebezinho é imensurável.
bActÉriAs
Mariana Almofrey _ Bactérias. Bacteriófagos. Fagos... Fagocitar! Fagocitose, Pinocitose... Fagossomos, Pinossomos, Lisossomos... Quem somos? 23 pestes. Avaliadas por três outras pestes. Diariamente online... Quase vírus.
Desenho do reencontro
Não
Luís Fernando Lisboa _ Não vou gastar nem o meu tempo, nem o seu. Por isso: não me leia, não me fale, não exale. Não peço desculpas, não falo a palavra perdão. Grito - bordo mesmo, mas não pinto - falo coisas sem sentido. Então, servido?
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Verena Paranhos
_ Ali, em frente ao grande portão, o labirinto percorrido pela gota na face tristonha desenhou uma imensa alegria. Alegria com cores vibrantes, formas da vitória, linhas da superação. Para eles, aquele quadro era mais importante que o primeiro momento ou o beijo prematuro. Era o reencontro. Vigoroso. Maduro. A certeza de que queriam fazer uma vernissage juntos.
Sem título Victor Gazineu
_ Quando acordei, vi que tudo estava igual ao dia anterior. O mesmo quarto, com a mesma decoração; a mesma casa, com as mesmas pessoas; a mesma rua, com a mesma movimentação. A velha rotina batia na porta e pedia para passar mais uma temporada comigo.
Tanto Tempo... Lívia Montenegro
_ Todos os momentos que passamos juntos foram tão desprezíveis que não consigo entender como perdi tanto tempo com alguém tão insignificante. Como quis ter você ao meu lado? Como suportei todo esse mau humor e indiferença? Quero alguém que não se pareça tanto comigo. O que é diferente me atrai muito mais.
Ilustração Betonnasi
“A técnica depende da proposta: vai do desenho a mão à caneta esferográfica preta, do hidrocor ao Ilustrator”. É o que diz André Betonnasi, que é doutorando em Comunicação e Cultura Contemporânea pela FACOM/UFBA, fez mestrado sobre a figura do herói nas séries de mangá Dragon Ball e Dragon Ball Z, cursou Desenho Industrial na UNEB e ilustra desde criança.
ILUSTRADO
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