Caparaó - A primeira luta armada contra a ditadura.

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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS UMANAS CURSO DE LICENCIATURA EM HISTÓRIA

EUTENCIANO DA SILVA CHAGAS VERA LÚCIA PAULA SOUZA

CAPARAÓ – A PRIMEIRA LUTA CONTRA A DITADURA A GUERRILHA QUE NUNCA ACONTECEU

Carangola – Minas Gerais 2019


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INTRODUÇÃO A Guerrilha do Caparaó, ocorrida no fim de 1966 e início de 1967, foi o primeiro movimento que teve um impácto relevante na implantação da resistência armada contra o Regime Militar implantado no ano de 1964. Localizado na divisa entre os estados de Minas Gerais e Espírito Santo encontra-se o Pico da Bandeira, com seu principal acesso sendo localizado no município de Caparaó (o Local recebeu sua emancipação em 1995 e hoje é nominado de Alto-Caparaó); e este foi considerado um ponto estratégico para a implantação de uma Guerrilha, por sua localização geográfica estar próximo des grandes cidades dos Estados e por seu dificil acesso por pessoas despreparada para o combate em região montanhosa. O movimento contava com o apoio e a experiência prática de, na sua grande maioria, Sargentos e Marinheiros de vários Quartéis e regimentos do País, exonerados de seus postos por se declararem contrários a política do Regime implantado; contavam também, com o apoio do ex-governador do Rio Grande do Sul, Leonel Brizola, que se encontrava exilado no Paraguai. Segundo os relatos do Guerrilheiro Amadeu Felipe da Luz (ex Sargento do Exército Brasileiro), Araken Vaz Galvão (ex Sargento do Exército Brasileiro) e Avelino Capitani (ex marinheiro), eles foram derrotados mesmo antes do primeiro conflito; ou seja, o movimento de guerrilha nunca aconteceu de fato; nenhum tiro foi disparado em prol do movimento, apenas na forma de defesa pessoal no dia em que os acampamentos foram estourados, pela Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. Segundo José Caldas, Escritor e Jornalista; o erro fatal da causa foi o não diálogo com os moradores locais numa tentativa de permanência pacífica ou até mesmo receber apoio à causa; como isso não aconteceu, os moradores assustados contribuíram com os Policiais Militares de Minas Gerais na delação e captura do Grupo Guerrilheiro. Sendo assim, este projeto propõe analisar e auxiliar no resgate da memória sobre fatos ocorrido no período de segundo semestre de 1966 e início de 1967, em Caparaó. Uma vez que, os fatos narrados são controversos quando estudamos as versões relatadas, em forma de depoimentos, pelos integrantes do movimento (os Guerrilheiros), a versão apresentada pelo Governo através de notas oficiais divulgadas nos jornais da época sobre o incidente na Serra do Caparaó e a visão dos moradores que, após a descoberta dos guerrilheiros que sondavam a região, deflagraram uma onda de medo e quase pânico, acreditando que a intenção era de dominar o País a mando de estrangeiros, e que sua principal ação seria o envenenamento das nascentes d’água do entorno do Pico da Bandeira.


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LEVANTAMENTO BIBLIOGRÁFICO Os primeiros anos após a Ditadura Militar no Brasil ficaram marcados pelo surgimento de vários movimentos que promoviam a luta armada como sendo a melhor forma de resistência ao Regime implantado no País. Mas existem controvérsias sobre as reais intenções dos líderes desses movimentos; para alguns estudiosos atuais, esses movimentos visavam algo além de uma libertação do Regime; eles queriam na verdade a implantação de outro regime que vinha tomando forças em outros países pelo mundo: “A Revolução Socialista”. Na revista, a Central Única de Trabalhadores da América Latina (CUTAL), cujo congresso de criação foi realizado em Brasília, é apresentada como um organismo pertencenteao “Partido Comunista mundial”, sendo uma central ideológica que busca realizar a revolução socialista. A prova disso seria a presença de delegados da “Rússia e Checoslováquia” no encontro. O texto ainda dá destaque para as mobilizações ocorridas no Rio de Janeiro e, principalmente, em Belo Horizonte onde a A mesma Revista ainda traria pelo menos outros dois pequenos artigos com críticas ao comunismo: num deles se fala sobre o perigo de a Argélia, após 7 anos de guerra, se tornar uma nova Cuba, e o outro, já discutido anteriormente, relata a desagregação familiar na União Soviética. (GUIMARÃES, Plínio Ferreira. Caparaó, a lembrança do medo, Universidade Federal dde Juiz de Fora.Programa de Pós-Graduação em História – Mestrado, Juiz de Fora 2006, p.95)

Denise Rollemberg, em sua obra “O apoio à Luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro.” Afirma que, esse sonho de luta armada já vinha sendo organizado muito antes da implantação do governo ditatorial no Brasil em 1964; incluindo a esse projeto, alguns diálogos e contatos diretos com o Governo Cubano com a finalidade de busca por apoio financeiro e auxilio nos treinamentos táticos em guerrilha; os pioneiros nessa busca Foram as Ligas Camponesas: A relação das Ligas com Cuba evidencia a definição de uma parte da esquerda pela luta armada no Brasil, em pleno governo democrático, bem antes da implantação da ditadura Civil-militar (...) É claro que o golpe e a ditadura redefiniam o quadro político. No entanto, a interpretação da luta armada como, essencialmente, de resistência deixa à sombra aspectos centrais da experiência dos embates travados pelos movimentos sociais de esquerda no período anterior a 1964. (ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: MAUAD, 2011, p.26.)

A guerrilha do Caparaó (como ficou conhecida) foi, provavelmente, o primeiro movimento armado em carácter de resistência contra o governo ditatorial, ocorrido entre o fim de 1966 e início de 1967. O nome “Guerrilha do Caparaó” deve-se ao local de concentração dos simpatizantes pela causa. A região do Parque Nacional do Caparaó, considerado um ponto estratégico por estar localizado na divisa dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, ocupando vários municípios dos dois estados; a área já vinha sendo estudada por vários outros


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grupos, mesmo durante o governo de João Goulart, para a implantação de focos guerrilheiros logo após o golpe em 1964: “Moniz Bandeira tem informações de que o local havia sida estudado para a implantação do foco com militantes das Ligas Camponesas desde o ano de 1963 e que a POLOP tentou fazer aí em 1964, depois do golpe, com sargentos e marinheiros, mas o plano foi abortado” (ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro: MAUAD, 2011, p.26.)

Segundo Amadeu Rocha em depoimento coletado para um Documentário (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Gênero: Documentário. Diretor: Flavio Frederico. Duração: 77 min

Ano: 2006

País: Brasil

UF: SP) , a região era bem

conhecida por vários movimentos, inclusive a POLOP (POLícia OPerária): “A POLOP não deu apoio à guerrilha, mas simplesmente cedeu a área, porque não tinha condições de explorála. Eles tinham um trabalho feito lá.” (REBELLO, Gilson. A Guerrilha da Caparaó. São Paulo: AlfaOmega, 1980.

P.184).

Anterior a esse episódio, o efetivo do Exército já havia realizado

treinamentos na região do Caparaó com a finalidade de defender o Governo Militar em uma possível tentativa de retomada do poder (mesmo antes da consumação do ato em 1964), reforçando a importância estratégica do local para esse tipo de movimento. Os integrantes do grupo permaneceram no local por vários dias, alguns dizer que foram por alguns meses, mesmo antes que o movimento tivesse sua ação declarada oficial, para o reconhecimento da região, assim como para o treinamento dos militantes à táticas de sobrevivência naquela região peculiarmente rochosa e montanhosa. Os integrantes do MRV (Movimento Nacionalista Revolucionário), eram Civis vindos de organizações esquerdistas que tiveram suas oportunidades de se oporem ao regime barrado pelo AI-2 que extinguiu os partidos já existentes e adotando um sistema bipartidarista. No entanto, em sua maioria, os integrantes eram os “restantes” das manifestações ocorridas dentro das próprias forças armadas em apoio aos ideais do, então presidente, João Goulart, e desses, sua maioria eram marinheiros e ex-sargentos considerados opositores ao Governo implantado, inclusive alguns já haviam sido presos por envolvimento em manifestações de apoio a Jango, em outras ocasiões. O movimento contou, ainda, com o apoio de Leonel Brizola; que, na época, se encontrava exilado no Uruguai por tentar conter o golpe mobilizando políticos e militares fieis a Jango. No entanto, o Presidente desistiu de resistir e cedeu ao golpe, obrigando o ex governador do Rio Grande do Sul (Brizola) a embarcar para o país vizinho, de onde passara a tramar uma resistência popular. E foi durante esse exílio que Brizola obteve sucesso no


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contato com o governo de Cuba, recebendo apoio financeiro do mesmo e a recepção de homens em Cuba para treinamento em táticas de Guerrilha, do quais, segundo Denise Rollemberg em sua obra O apoio de Cuba à luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro, Cinco deles viriam a participar posteriormente da Guerrilha do Caparaó. Mas, nem mesmo com toda a trama e apoio e nem com toda experiência militar da maioria de seus integrantes, o movimento teve êxito em seu objetivo principal; na verdade, ele nem chegou a se organizar por completo. Encarando a total dificuldade de locomoção dos homens, dos armamentos, munições e dos mantimentos necessários para a permanência de um acampamento montado na Serra; alguns dos integrantes, que já se encontravam acampados na região, se viram na necessidade de acessar por algumas vezes uma farmácia e mercearia do vilarejo, o que causou uma estranheza anormal nos proprietários e moradores, uma vez que, conheciam apenas o que a mídia (manipulada pela Ditadura) vinha noticiando sobre os possíveis focos Comunistas emergentes no País. O que resultou em uma denúncia ao batalhão da Polícia Militar, que, ao investigar e questionar um dos integrantes descobriu todo esquema que estava sendo montado na região e os mesmos acabaram sendo presos por “meros soldados” da Polícia Militar de Minas Gerais. Vale ressaltar que, apesar de nossa visão macro do ocorrido, de todas informações que temos sobre a importância do movimento para o período; a população que residia no entorno do Parque Nacional do Caparaó naquela época não via um grupo de pessoas dispostas a lutar contra o regime ditatorial e confrontar o Governo Militar. As recordações da Guerrilha revelam o medo e a insegurança que viveram aquelas pessoas durante aqueles dias de fortes tensões e pressão psicológicas, pois, as tropas do exército fortemente armadas, permaneceram no local por vários dias com o intuito de encontrar outros rebeldes escondidos. Por um lado, o medo de sofrerem retaliações por razões dos fatos ocorridos nos últimos dias, por outro lado, o medo e angústia de encontrarem com os guerrilheiros comunistas em rota de fuga. “O medo é o hábito que se tem, em um grupo humano, de temer tal ou tal ameaça (real ou imaginária) (...) o medo tem um objetivo determinado ao qual se pode fazer frente. A angústia não o tem e é vivida como uma espera dolorosa diante de um perigo tanto mais temível quanto menos claramente identificado: é um sentimento global de insegurança”. (DELUMEAU, Jean. História do medo no Ocidente: 1300 – 1800, uma cidade sitiada. São Paulo, Companhia das letras, 1989, p. 24-25)

O medo ocorre quando a população se depara com o contato direto com o chamado “perigo Comunista” e com a certeza de que seriam dominados a qualquer momento. Diante do pressuposto de que todos temos uma cultura política diferente, temos que considerar também,


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a visão de Comunismo que era propagada na época. No período, havia por todo território nacional: Escolas, Político locais, Mídia e até mesmo as pregações religiosas; que propagavam o “anticomunismo”, ou seja, esse já era um sentimento enraizado nas pessoas daquela região. Entretanto, não se pode deixar de relatar a visão deturpada do Comunismo que era compartilhada pela população: “O mito político é fabulação, deformação ou interpretação objetivamente recusável do real”. (GIRARDET, Raoul. Mitos e Mitologias políticas. São Paulo. Companhia das letras, 1989, p. 13). Podemos, assim, dizer que o “mito do comunista mau” se fazia presente entre os moradores da região. O chamado “Guerrilheiro Comunista” vinha para subverter a ordem moral. Encaixa-se aqui a mitologia da conspiração desenvolvida por Raoul Girardet, onde o autor diz que a visão construída dos homens do complô, são a daqueles que se utilizam das estratégias “da corrupção, do aviltamento dos costumes, da desagregação sistemática das tradições sociais e dos valores morais”. (GIRARDET, Raoul. Mitos e Mitologias políticas. São Paulo. Companhia das letras, 1989, p. 40) estes utilizam da noite para agir e fogem completamente dos padrões da normalidade social: “os fanáticos da conspiração encarnam o estrangeiro no sentido pleno do termo”. (GIRARDET, Raoul. Mitos e Mitologias políticas. São Paulo. Companhia das letras, 1989, p. 42) Após a prisão daqueles homens por militares estaduais, começa-se a questionar se eles seriam realmente guerrilheiros revolucionários ou simples bandidos comuns. Em um ato de reconhecimento, os militares que efetuaram a prisão fotografaram os “meliantes” e seus documentos para a comprovação de vida dos mesmos e de que se tratava realmente de exmilitares; só depois de tal confirmação é que se formou uma operação conjunta entre o Exército e a Força Aérea brasileira, com o intuito de capturar ou eliminar os demais guerrilheiros escondidos na mata. No entanto, não havia mais ninguém e a operação não passou de uma demonstração de força armamentista, com o objetivo de desencorajar outros focos de resistência armada pelo país.


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OBIJETIVOS

 Gerais. Estudar as modificações políticas vividas na época, compreendendo o processo que culminou na ação da Guerrilha na Serra do Caparaó, e apresentar como a Guerrilha foi vista pelos Guerrilheiros e pelos Militares (que representavam o Governo do País na época). compreender o plano de ação aplicado no movimento e analisar a impotância da guerrilha para os outros movimentos posteriores.  Específicos Para que se possa identificar o contexto político, compreender o plano de ação e analisar o contexto da guerrilha, deve-se considerar alguns passos: 

Analisar e identificar: Por quem, como e porque foi implantado o Regime militar no Brasil.

Analisar, num primeiro momento, o quadro político em que se encontrava o país e, consequentemente, a região; na sequência, faremos uma análise de compreensão daquilo que se temia: A imagem do perigo iminente e a chegada da Guerrilha em Caparaó.

Apresentar o que é, de fato, uma Guerrilha.

Justificar porque a ação em Caparaó foi considerada a primeira.


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JUSTIFICATIVA Há uma grande carência de pesquisas acerca deste movimento; o que muito se encontra são especulações e/ou exaltações ideológicas contra ou a favor do movimento. Ainda assim, o projeto se apoia em alguns dos poucos trabalhos já realizados e disponíveis para acesso no Domínio Público; e tem como fonte primária de pesquisa o depoimento dos Guerrilheiros que atuaram no movimento, que foram conferidos ao Documentário intitulado CAPARAÓ, do Diretor Flávio Frederico, publicado em 2006. Levando em consideração a visão do movimento apresentada pelos militares aos moradores, e uma vez que, não se noticiou outra versão sobre a guerrilha, os moradores ainda vivem sob a memória do medo de dias em que os comunistas tentaram dominar a Serra do Caparaó. O foco principal é identificar, com embasamento teórico, que todo o movimento foi um acontecimento cheio de sonhos e ideais; que, mesmo sem ações práticas, se resumiu no aprisionamento de seus idealizadores. Podemos, então, localizar as lacunas deixadas pelo tempo e memória dos envolvidos no movimento; para que, assim, se construa uma narrativa com respaldo teórico e baseado em fatos históricos ocorridos, com um olhar e uma análise micro historiográfica para que se possa compreender o contexto político da época. Toda história é fruto do seu próprio tempo, devemos nos apropriar de ferramentas e métodos para se fazer um levantamento consideravelmente relevante para um estudo histórico. O caso ocorrido em Caparaó trouxe para o Brasil uma fundamental importância por se tratar do início da resistência armada. Mesmo não ocorrendo a Guerrilha, ela se tornou um símbolo das revoltas armadas por causa da tamanha movimentação de tropas à região para combater apenas uns “vinte e poucos” homens. Todos foram presos e tiveram seus “sonhos de liberdade” interrompidos. Mas esse movimento se tornou conhecido por todo país, mesmo que fosse noticiado em forma de vitória do Exército sobre os rebeldes, eles estavam sendo noticiados e divulgados pelo país... Todos tomaram conhecimento da história e dos ideais daqueles homens. Trazemos nesse projeto, fontes diversificadas sobre o mesmo assunto; para que o mesmo seja abordado da forma mais neutra e clara; visando, ainda, que o tema proposto proporciona um diálogo entre as fontes apresentadas e os membros atuantes no movimento guerrilheiro. Portanto, todos esses elementos serão estudados e analisados minunciosamente,


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para que sejam expostos de forma coerente e para que não haja contradições nas ideias no decorrer do projeto.

HIPÓTESE Observamos que a manipulação da mídia, e de todas as outras formas de comunicação usada na década de 60, levam a população a acreditar que qualquer manifestação que fosse realizada contra o regime militar implantado era de caráter comunista. Aprofundamos ainda mais no contexto, para apresentar quais foram as causas e efeitos , que mesmo com toda a propaganda contrária, a Guerrilha do Caparaó ocasionou no surgimento de vários outros movimentos com o mesmo ideal: “A luta armada como forma de reagir ao regime instaurado pelos militares.” Que mesmo com todas as notícias divulgadas e compartilhadas sobre a situação dos guerrilheiros, o movimento teve sua importância para o período, contribuindo para a formação sociocultural e política da região.

QUADRO TEÓRICO O Projeto tem, em seu foco principal, estudar a realidade política vivida na época; não somente na região em torno da Serra do Caparaó, mas também, todo complexo político que o país vinha atravessando desde o Golpe de 1964. Assim como analisar a consequência das ações dos envolvidos juntamente com os da população local e como elas contribuíram para a derrota sofrida pelo grupo. Utilizamos de depoimentos dos “Guerrilheiros” que estiveram presentes no ato que ocorreu no fim de 1966 e início de 1967 na Serra do Caparaó, Testemunhos de: Amadeu Felipe da Luz , ex Sargento do Exército Brasileiro. Araken Vaz Galvão, ex Sargento do Exército Brasileiro. Avelino Capitani, ex marinheiro. Edival Melo, ex Sargento da Marinha brasileira. Hermes Machado Neto, ex funcionário da Caixa Econômica Federal. Jacinto Amaral Melo, Comandante do 11º Batalhão da PMMG em 1967. Jelci Rodrigues Corrêa, ex Sub Tenente paraquedista do Exército Brasileiro. José Caldas, Escritor e Jornalista .

com o apoio de obras historiográficas para dar suporte a metodologia utilizada. Ainda nos dia de hoje, a população local tem conclusões divergentes sobre o que ocorreu naqueles dias. Mas uma coisa é fato, todos lembram daquele episódio tenebroso aos olhos dos


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civis locais. Lembrar da Revolta do Cabeludos (Nome pelo qual os moradores da Comunidade Paraíso – Espera Feliz/MG – apelidaram o movimento) é o mesmo que reviver aqueles dias de sofrimento, angústia e medo do iminente domínio comunista ao Pico da Bandeira, com a intenção de escravizar a população da redondeza ou até mesmo matar a todos os moradores das proximidades de seus acampamentos. Esse medo era fruto de uma propaganda anticomunista viabilizada na época, todos propagavam a ideia negativa que pairava sobre o termo COMUNISTA. Mesmo com toda essa repercussão que generalizava toda e/ou qualquer manifestação da esquerda como um “Levante comunista”, os homens que lá estavam não tinham uma ligação direta com o partido, ou pelo menos, nem todos. Como afirma o ex-Sargento da Marinha brasileira, Edval Melo: Eu mesmo que não era militante de, assim de, nenhum partido; daí em diante, de tanto me dizer que eu era comunista, que eu fui obrigado a saber, a me aprofundar nessa área pra saber o que é que significava essa coisa toda. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento da marinha brasileira Edval Melo. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 06:22 – 06:43)

O que não significa que, seu integrantes não fossem ligado de forma indireta ao Partido comunista. O que queremos ressaltar aqui são os ideais do movimento, que foram manipulados pelo governo da época, para garantir que esses opositores ao Governo não conseguissem o apoio da população. Podemos ver no depoimento de Amadeu Felipe da Luz que sua linhagem sanguínea e seus círculos de convivência eram todos de esquerda e que ele se declarava membro do Partido Comunista; mas que sua indignação e luta nos movimentos não era com a finalidade de implantação de um Regime Comunista mas, sim, contra as injustiças ocorridas durante sal atuação como militante, que vinha de muito antes do golpe de 1964. Eu sou de família de esquerda: Meu pai era do exército, meu padrasto era oficial do exército e era comunista. Quando fui eu, continuei isto né; este tipo de militância; e também entrei no partido muito moço, muito menino; num partido Comunista. Daí participei de todos os acontecimentos dentro das forças armadas. As primeiras vítimas do golpe realmente são os sargentos, né. Os Sargentos são os “inimigos dos Generais” né, era assim que eles nos enxergavam, e isso já era em cima de acontecimentos anteriores: De 1955, que deram apoio ao Lote, pro Lote resistir ao golpe que queria negar a posse do Juscelino né. Em 61 os sargento é quem garantiram, na verdade, a constitucionalidade e garantiram a posse de Jango. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 01:59 – 02:58)


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Os envolvidos no movimento, em sua maioria, eram ex Militares e ex Marinheiros que já haviam se envolvido em outras tentativas de Levante em Favor das reformas de bas durante o Governo de João Goulart. Há uma grande carência de pesquisas acerca deste movimento; o que muito se encontra são especulações e/ou exaltações ideológicas contra ou a favor do movimento. Ainda assim, o projeto se apoia em alguns dos poucos trabalhos já realizados e disponíveis para acesso no Domínio Público; e tem como fonte primária de pesquisa o depoimento dos Guerrilheiros que atuaram no movimento, que foram conferidos ao Documentário intitulado CAPARAÓ, do Diretor Flávio Frederico, publicado em 2006. O quadro político era um dos mais turbulentos já vivido no Brasil. Em 1961 assumia a presidência do Brasil o eleito Jânio Quadros, do Partido Democrático Cristão (PDC), e como era exigido pela legislação vigente; o seu Vice-Presidente também deverias ser eleito em pleito eleitoral; e repetindo seu mandato, João Goulart foi reeleito pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Jânio não fez um mandato agradável para todas as classe, adotando uma política contraditória aos ideais dos seus aliados e uma dubiedade ao manter relações diplomáticas e comerciais com países do eixo socialista, seu ápice foi a Condecoração do, então revolucionário, Ernesto Che Guevara. Isso significou o enfraquecimento de seu governo, pois vários aliados romperam com seu gabinete. Com isso Jânio Quadros decidi renunciar ao seu mandato em agosto do mesmo ano. Consequentemente, assumiria a sua cadeira o Vice-Presidente. Quando aconteceu a renúncia, João Goulart estava na China acompanhando uma delegação responsável em aproximar economicamente os países socialista do Oriente Médio ao Brasil. Diante do pressuposto de que, se o Vice-Presidente assumisse seria apenas uma extensão do governo de Jânio, com acréscimos de ideais Getulista; foi formada uma junta para impedir a posse de Jango; mas esse pedido foi vetado pelo congresso em 29 de agosto; em 7 de setembro Jango toma posse como Presidente do Brasil e seu mandato estava previsto para terminar em 31 de dezembro de 1966. O quadro não era favorável para alianças com as forças da direita, então o Presidente optou por recorrer aos grupos de esquerda para conseguir dar continuidade aos projetos já veiculados pelo plano de governo. Essas mobilizações e ações desencadeavam um grande repúdio dentre os parlamentares; em Março de 1964, o General Castelo Branco emite uma circular aos oficiais do estado maior denunciando que as medidas tomadas por João Goulart ameaçava a segurança nacional. Em 1º de abril foi realizada tomada do Governo por parte dos militares sob o comando do General Olímpio Mourão Filho, que arregimentou as tropas sediadas em Minas Gerais para se dirigirem ao Rio de Janeiro e implantar um Regime Militar.


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Compreendendo o que aconteceu nos anos antecessores, no qual João Goulart se posicionou como Presidente do Brasil, podemos aprofundar na objetividade individual e coletiva de cada um dos Guerrilheiros, e o porquê de sua resistência; uma vez que, sua maioria vinha do próprio meio Militar. Eles eram subalternos que foram expulsos das forças armadas logo após a Tomada do Poder, por se posicionarem contra o ato e por já terem participados de manifestações anteriores em favor das mesmas defendidas por Jango. Além disso, essas exonerações tinham um caráter de defesa de interesses corporativos. Os Sargentos eram jovens e não podiam ficar inertes a efervescência geração que pertenciam. Nós éramos todos de classe média baixa: Eram Sargentos suburbanos, que moravam no subúrbio, etc. E Caparaó foi a extensão mais longa desse movimento, daquele movimento político que na época a imprensa chamou de “Movimento dos Sargentos”. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Araken Vaz Galvão. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 01:28 – 01:55)

Era uma Plead de jovens que não tinham, não tinham... Eram tremendamente, é; puros de coração. Entendeu? Tremendamente puros em seu pensamento. Que tentavam de alguma forma mostrar a insensatez e o absurdo que foi a derrubada do Governo de Jango. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sub Tenente Paraquedista do Exército brasileiro Jelci Rodrigues Corrêa. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 03:24 – 03:47)

Com o golpe, sofremos uma pressão muito violenta. E, centenas de marinheiros ficaram espalhados né, expulsos da Marinha, perseguidos, presos, condenados a treze séculos de prisão, maior pena contida da História do Brasil. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex marinheiro Avelino Capitani. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 04:56 – 05:17)

Um personagem fundamental desse movimento, também apareceu graças a movimentações anteriores, mais precisamente em 1961 no Rio Grande do Sul, Quando organizou uma iniciativa de resistência a tentativa de não empossar João Goulart à presidência. Falamos aqui de Leonel Brizola, que se exilou no Uruguai logo após a desistência de Jango diante da pressão por parte dos Militares. Ele foi peça chave para a Guerrilha, graças a seus contatos com os líderes comunistas e sua ligação direta com Fidel Castro, em Cuba. Mesmo exilado, ele mantinha contato com os grupos que permaneceram no Brasil e que continuavam dispostos a um contragolpe.

Nos reunimos no Parque Batlhe, e o Brizola insistia muito com a possibilidade de levante. Então se acertou o seguinte, nós ajudaríamos Brizola num possível


UNIDADE CARANGOLA Levante no Rio Grande do Sul, pegamos remanescentes que pudessem existir ainda nas forças armadas do Exército e na polícia Militar, que lá chama brigada Militar; enquanto isso, ele nos daira recursos pra nós montarmos uma frente guerrilheira. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Araken Vaz Galvão. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 08:01 – 08:28)

Observamos nos relatos que Brizola rejeitava os movimentos de Guerrilha, seu objetivo eram os Levantes Populares, pois eram mais rápidos e eficazes do que uma Guerrilha. Sua proposta inicial era justamente a implantação de Levantes Populares no Rio Grande do Sul que depois se espalhariam pelo país. No entanto, todas as tentativas foram fracassadas e deuse então no andamento pelos processos de guerrilha. No exílio, Brizola, tinha uma necessidade muito grande de reunir forças para apoiar os grupos que persistiam e idealizavam uma ação de contragolpe. Cuba se torna, então, a maior aliada. O Sociólogo Herbert José de Souza (O Betinho), que também se encontrava exilado no Uruguai, teria sido o “embaixador” de Brizola em Cuba. O apoio teria ocorrido, supostamente, de duas formas: Primeiramente como apoio financeiro e numa segunda forma com treinamento de pessoal. Diz-se supostamente, pelo fato de não haver comprovação de apoio financeiro vindo de Cuba para o movimento, no entanto o treinamento de pessoal ficou claro na época, pois essa era uma forma usada por Fidel Castro para espalhar “embriões revolucionários” por toda a América Latina. Nós queríamos era mostrar para o mundo, que no Brasil não estavam todo mundo arriado não, que aqui existia gente reagindo, e nós resolvemos nos engajarmos nisso aí e fomos para um treinamento, eu por exemplo, fui fazer um treinamento em Cuba. A gente foi levado para uma província próximo de Havana chamada Pinar del Rio, ficamos alguns meses na Serra nos deslocando, aprendendo, estudando com os cubanos as experiências que eles tiveram. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Civil, Ex Bancário da Caixa Econômica Federal, Hermes Machado Neto. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 15:26 – 16:06)

A região do Caparaó não foi a primeira e nem a única opção para se montar a Guerrilha, estimava-se na formação de três grandes grupos no Brasil: Um na Serra do Caparaó, outro em Mato Grosso, numa região da fronteira com a Bolívia; e um terceiro grupo na divisa dos estados de Goiás e Maranhão. Antes disso, foi feito uma tentativa no sul do País, que teve seu fracasso graças a um tiro deferido contra o Ex Sargento Arakem (que era quem escondia o material a ser usado), por sua própria mulher por motivos de ciúmes; o que ocasionou e uma denúncia contra o movimento que estava sendo organizado, foram presos o Ex Sargento Manoel Raimundo Soares e o Próprio Araken. Após esse episódio, tentou-se ainda, um outro foco nas proximidades de Criciúma – Santa Catarina; onde se estabeleceram o Ex Sub Tenente Jelcy Rodrigues juntamente de seu irmão e sua cunhada; mas ironicamente, os rês


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foram confundidos com assaltantes de Bancos que haviam atuando na Região e foram detidos, desmantelava-se assim mais uma tentativa. Com o fracasso dessas duas tentativas, se viram numa necessidade urgente de remoção e proteção dos materiais já coletados para o movimento. O Ex Sargento Anivanir de Souza Leite, natural de Manhumirim – MG, e conhecedor tanto dos movimentos quanto da Região montanhosa de Minas; mantinha contato com as lideranças da POLítica OPerária (POLOP) sugeriu ao grupo o uso da área por se tratar de um local estratégico. Havia um contato com a POLOP, que um cidadão que é até primo do Juca Chaves, Erich Sachs, era dirigente dessa POLOP, que era Política Operária. E ele sabia desse local por que o Anivanir de Souza Leite, tinha contato com ele e já tinha falado a respeito da Serra do Caparaó com ele e ele já tinha estado aqui. Então viemos, eu o Juarez e o Anivanir, e nós começamos a analisar a localização e vimos né, que era o ideal: Não tinha grandes corporações Militares nessa região e perto de Duas Grandes Cidades, o que permitia então um entrosamento entre organização que ficasse na Cidade e a organização que viesse pro campo. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 18:47 – 20:00)

Após analisar a viabilidade do local, foi feito a aquisição de uma propriedade nas proximidades do Parque Nacional do Caparaó, onde seria usado como ponto de apoio de pessoal e equipamento que fosse transportado para o grupo. Aproximadamente 2,5 toneladas de equipamentos foram transportados até o local onde o grupo ficaria escondido. 17 homens também compareceram ao Sítio, só depois da chegada de todos é que se deu início ao deslocamento mata adentro, em caráter de reconhecimento e formação de esconderijos de armas e munições. Realizaram acampamentos em vários pontos da Serra analisando a praticidade e a visibilidade daqueles pontos, e em vários construíram “tocas” para esconderem os equipamentos (Tocas essa que, nem todas foram descobertas pela polícia e nem pelas forças Armadas. Podendo, ainda, haver algumas dessas tocas em locais inacessíveis nos dias de hoje por leis internas do Parque). Algumas daquelas armas que eles salvaram quando a insurreição caiu, eles começaram a trazer pro Caparaó. E eles transportavam isso de ônibus cara! (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Jornalista e escritor José caldas. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 20:10 – 20:19)

Ônibus convencional, traziam embrulhos diferentes, dava jeito, desmontava. Pegava o ônibus fora da rodoviária de Porto Alegre e descíamos antes da rodoviária do Rio. Aí, de lá veio muita coisa: Veio de trem, veio de ônibus, veio de jipe, veio na kombi da KELLOG’S, que o Edsom, que também era um companheiro nosso e também estava engajado, era um civil, que botava aqueles sucrilhos por cima e por baixo vinham armas, vinha uniforme, vinha o diabo alí. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 20:22 – 20:59)


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Duas toneladas e meia de material foi transportado assim, inclusive 30kl de dinamite, aí o Milton que fez uma dessas viagens e que queria participar da guerrilha; veio, ele era solteiro, veio pra cá e compraram esse Sítio alí perto do Príncipe e o Milton ficou aí. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Araken Vaz Galvão. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 20:59 – 21:16)

Viemos 17, não vieram os 17 de uma vez; fomos introduzindo de dois a dois, três a três, um a um... Quando tínhamos os 17 no Sítio começamos o deslocamento aqui em cima no Caparaó. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex Sargento do Exército brasileiro Amadeu Felipe da Luz. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 21:17 – 21:34)

Os guerrilheiros passaram por dias difíceis na região: Se depararam com as intempéries climáticas, doença causadas pelas oscilações climáticas e até pela fome por falta de reabastecimento de comida nos acampamentos. Como o País continuava em tempos de Regime Militar, qualquer ação era controlada pelas forças armadas, e se tornava cada vez mais difícil o transporte de mantimentos até o ponto da Guerrilha, começava-se então o enfraquecimento motivacional do grupo. Com o passar dos dias se fazia necessário acessar vilarejos vizinhos ao Parque para a aquisição de suprimentos; e as mobilizações que eram feita inicialmente a noite começaram a ser feita durante o dia com alguma frequência. Até que cada um, por uma questão de segurança, tinha um pouquinho de dinheiro, o seguinte, era um dinheiro também pouca coisa, uma passagem, no caso. E tivemos que pegar esse dinheirinho de cada um e alguém, um ou dois, descer no povoado ou num armazém e comprar uma determinada quantidade de alimento além dos limites regionais; se você comprar a farinha de milho por exemplo, o pessoal do lugar vai comprar meio quilo ou um quilo no armazém; mas para nós isso, nós éramos um grupo, tinha que comprar no mínimo quatro ou cinco quilos; e isso já era um motivo de suspeita né. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Ex marinheiro, Avelino Capitani. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 36:16 – 36:59)

E foi a própria população que contribuiu para a queda do movimento, juntamente das ações imprudentes dos próprios guerrilheiros que ocasionaram nas denúncias feitas À PMMG. Os desconhecidos “barbudos” ou “Cabeludos” que se vestiam diferente dos moradores da região e que estavam sempre armados, causaram pânico aos moradores, que começaram a pedir ao 11º BI da PMMG, sediada na cidade de Manhuaçu, que investigassem e intervissem junto aos moradores. Foram vários os relatos da presença dos homens em vários pontos distintos da mata e vilarejos da região. A população que vinha sendo pressionada por todos os


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meios de comunicação acessível da época sobre a opressão Comunista e sobre os planos de domínio do País, não via outra opção a não ser denunciá-los a cada aparição.

Eu comecei a receber reclamação daquela população ao longo da Serra do Caparaó, a população estava apavorada com a presença daqueles homens cabeludos, barbudos... Aí mandei pra lá o Tenente Zezinho, que era o meu oficial de informações com uma equipe de 12 soldados. (FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó. Depoimento do Comandante do 11º Batalhão da PMMG em 1967, Coronel Jacinto do Amaral Melo. https://www.youtube.com/watch?v=_kmFrku0YPk&amp=&t=2720s / 39:17 – 39:44)

Resgatar a História por meio de memória é sempre um desafio para os historiadores, pois vivemos na “geração do esquecimento”, onde muito se perdeu e se perde ainda hoje, sobre os fatos do passado. As tradições, as lembranças, as receitas, as rezas, entre tantas coisas; são exemplos das modificações sofridas no decorrer do tempo. A memória é um conhecimento que bebe das lembranças do passado, mas também é um jogo de poder e interesse, que não necessariamente passam por uma pesquisa ou análise crítica das fontes. Normalmente a memória glorifica ou demoniza o passado ou parte dele, mas somente aquilo que ela deseja lembrar. Ela carrega julgamentos morais a respeito do eventos que ela lembra e que podem ir mudando com o passar dos anos de acordo com interesses e disputas atuais. E convenientemente, a memoria esconde elementos do passado que não servem à narrativa do momento. A memória tem um elemento afetivo muito forte. O acontecimento rememorado será expresso de uma forma narrativa, pela qual o sujeito constrói um sentido ao próprio passado. A História é uma reconstrução do passado que deve ser feita de forma crítica com respaldo teórico e metodológico, além de passar por um conselho de aprovação composto por outros acadêmicos da área. A Memória é um compartilhamento de lembranças e discursos acerca do passado, um olhar para o passado ancorado nos interesses e visões do mundo presente, sem muito senso crítico e sem a necessidade de uma metodologia. É um tipo de fonte muito usada pela História, mas que não é considerada com História em sí mesma. Os acontecimento vividos pessoalmente ou aqueles que fazem parte de nós. Por fazer parte de um passado que nós queremos que seja único e verdadeiro. Certos grupos costumam defender memórias que a História já desconstruiu através de pesquisas e críticas, por que eles querem que sua memória seja única e verdadeira, e dizem que o resto seriam mentiras ou “história dos vencedores”. Há personagens/indivíduos que sempre personificam as memórias do passado, nesse caso pode-se dizer que a memória sempre será um retrato do passado de forma simples, verídica e flexível.


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Referências Bibliográficas  Fontes Primárias Depoimentos coletados para o Documentário: FREDERICO, Flávio. Documentário: Caparaó Gênero: Documentário Diretor: Flavio Frederico Duração: 77 min

Ano: 2006

País: Brasil

UF: SP

Sinopse: O filme retrata a primeira tentativa de luta armada contra o regime militar no Brasil pós 1964. No alto da Serra do Caparaó, em agosto de 1966, um grupo formado na sua maioria por ex militares expurgados pelo regime, se instalou em condições precárias, na tentativa de preparar o que seria o início de uma grande reação nacional contra o novo regime. O filme pretende repensar o acontecimento, revelando passo a passo, a tentativa de se fazer uma "Sierra Maestra" em terras brasileiras. Classificacao Indicativa: 12 anos Testemunhos de: a) Amadeu Felipe da Luz , ex Sargento do Exército Brasileiro. b) Araken Vaz Galvão, ex Sargento do Exército Brasileiro. c) Avelino Capitani, ex marinheiro. d) Edival Melo, ex Sargento da Marinha brasileira. e) Hermes Machado Neto, ex funcionário da Caixa Econômica Federal. f) Jacinto Amaral Melo, Comandante do 11º Batalhão da PMMG em 1967. g) Jelci Rodrigues Corrêa, ex Sub Tenente paraquedista do Exército Brasileiro. h) José Caldas, Escritor e Jornalista .


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 Fontes Secundárias DELUMEAU, jeam. História do medo no Ocidente: 1300 – 1800, uma cidade sitiada. São Paulo, Compainha da Letras, 1989. GIREARDET, Raoul. Mitos e mitologias políticas, São Paulo, Compainha da Letras, 1987. NORA, Pierre. Tradução: Yara Aun Khoury. Entre memória e História – A problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo. 1993. REBELLO, Gilsom. A Guerrilha do Caparaó. São Paulo: Alfa-ômega, 1980. ROLLEMBERG, Denise. O apoio de Cuba à Luta armada no Brasil: o treinamento guerrilheiro. Rio de Janeiro MAUAD, 2001.


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