Primeiros socorros
Capa e Projeto Gráfico Grazziela dos Santos Preparação de originais e textos Prof. André Zimmermann Revisão tipográfica e ortográfica Prof. André Zimmermann e Luiza Castro
Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Z 73
Zimmermann, André Dantas Manual de Primeiros Socorros para a Comunidade./ André Dantas Zimmermann; revisão de Regina Carvalho - Salvador: Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública, 2009 16f. il.
Manual de Primeiros Socorros para a Comunidade Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública/ EBMSP, 2009. 1. Primeiros Socorros. 2. Dados Vitais. 3. Prevenção de Acidentes. 4. Envenenamentos. I. Título. CDU: 616-083.98
ÍNDICE 1. Introdução
07
2. Princípios Gerais
08
3. atendimento inicial
08
4. Prevenção de acidentes
09
5. Envenenamento
10
6. Corpo estranho
11
7. Queimadura
13
8. Choque elétrico
14
9. Reanimação cardiopulmonar (RCP)
14
10. Curativo
15
11. Hemorragia
16
12. Mordedura e picada de animais
16
13. Afogamento
17
14. Acidente automobilístico
18
15. Noções sobre parto de emergência
18
16. Trauma de osso e articulação
21
17. Considerações finais
22
Telefones importantes
22
Primeiros Socorros | Bahiana
O Programa Primeiros Socorros para Todos (PPSPT) foi criado em 2000 e desde então já capacitou mais de 7000 pessoas em todo estado, visitando locais que vão desde a região Metropolitana da cidade de Salvador até locais mais distantes como Ilha de Maré, Morro de São Paulo, Valença, Chapada Diamantina entre outras. O projeto possui uma ampla abrangência visitando diversos locais para os mais variados públicos. Basta agendar uma palestra. Entre em contato conosco. A grande maioria dos acidentes podem ser evitados. Porém, quando eles ocorrem algumas medidas simples ajudam a diminuir o sofrimento, evitar complicações futuras e até mesmo salvar vidas. Seja um socorrista também! Ajude o próximo! Exerça a sua cidadania!
Primeiros Socorros | Bahiana
1. Introdução Celebrando 20 anos em 2017, a disciplina Primeiros Socorros da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública é considerada uma das melhores, mais práticas e organizadas disciplinas do curso médico. É oferecida aos alunos, no primeiro semestre, porque pensamos ser extremamente importante capacitálos no início do curso com assuntos importantes e que ajudam a salvar vidas. O objetivo do Programa Primeiros Socorros Para Todos (PPSPT) é levar noções básicas de primeiros socorros para a população de modo geral, funcionando através de um modelo dinamizado de aulas teórico-práticas. Já atuamos em escolas públicas, escolas particulares, cursinhos prévestibulares, empresas, Exército Brasileiro, Polícia Militar da Bahia, associações de diversos bairros, empresas, academias, clubes, inclusive em outras cidades, a exemplo de Feira de Santana, Lauro de Freitas, Valença, Morro de São Paulo e Ilha de Maré, entre outros. A Penitenciária Lemos de Brito também já foi contemplada com atividades de primeiros socorros. As aulas são realizadas com linguagem direta, simples e não técnica para facilitar o entendimento por parte de todos os envolvidos. Vale ressaltar que, pela ação pioneira e inovadora do programa, o PPSPT já foi consagrado com vários prêmios e, entre eles, o 5º prêmio Saúde Brasil, no qual foi classificado entre os dez melhores projetos de extensão do país. Se você deseja conhecer mais sobre nós ou solicitar uma capacitação em primeiros socorros, entre em contato conosco: (SUGESTÃO CRIAR UM E-MAIL PARA O PROGRAMA). Para você que já teve a capacitação, aproveite este pequeno manual para revisar o que você aprendeu. Nele vamos abordar um pouco de cada aula que ministramos.
Atenciosamente, NEPPS – Núcleo de Ensino e Pesquisa em Primeiros Socorros
07
Primeiros Socorros | Bahiana
2. Princípios Gerais Primeiros socorros são medidas iniciais de emergência, aplicadas no local do acidente ou perto dele, utilizando os recursos disponíveis. Tem como objetivo evitar o agravamento das lesões e aliviar o sofrimento, deixando a vítima em melhores condições para o transporte e para receber o atendimento definitivo. O primeiro passo é observar se há perigo para você. Examine o local e tenha certeza de que é seguro. Mantenha, em primeiro lugar, a sua segurança, depois a dos outros socorristas e, por último, a da vítima. Jamais se transforme em mais uma vítima. Afaste a multidão e, antes de tudo, peça que alguém ligue para o SALVAR/ Bombeiros (193), SAMU (192) e a Polícia (190). Se possível, contate a família do acidentado, dando informações sobre o acidente. Não dê nada para a vítima comer ou beber. Tente acalmá-la e identifiquese passando segurança no socorro prestado. Só execute determinado procedimento se tiver certeza que sabe fazê-lo. Evite remover a vítima e, no último caso, apenas a transporte. Tenha sempre cuidado para não agravar o estado da vítima com atitudes precipitadas e incorretas.
3. Atendimento Inicial Inicialmente, é importante ressaltar que são os sinais e sintomas que transmitem informações sobre o estado da vítima. Nesse momento, os sinais e sintomas serão observados e avaliados. O primeiro passo é avaliar se a vítima está acordada e conseguindo falar. Além disso, avalie se o tórax está se movimentando e procure pôr pulso nos vasos presentes na lateral do pescoço (logo abaixo da mandíbula).
08
Depois, observe a respiração, aproximando a lateral do seu rosto entre o nariz e a boca da vítima para sentir, ouvir a respiração e ver a expansão do tórax. Caso ela não esteja respirando, tracione a retifique a sua cabeça com a finalidade de prevenir uma possível lesão da coluna cervical e liberar as vias aéreas. Para realizar essa manobra, deixe a vítima deitada, posicione-se atrás da sua cabeça, coloque seus polegares no queixo da vítima e seus dedos indicadores nos ossos da mandíbula. Em seguida, puxe a mandíbula da vítima na sua direção e tracione o queixo para baixo. Depois disso, não solte mais a cabeça da vítima.
Primeiros Socorros | Bahiana Seguindo a ordem de importância, avalie o pulso pressionando com seus dedos médios e indicador (nunca use o polegar) ou a lateral do pescoço da vítima. Pelo pulso, você poderá saber se o coração está batendo ou não. Observe se ela está consciente. Faça perguntas simples e perceba se as respostas são lógicas, se responde com monossílabos ou se está sonolenta. Deslize suas mãos pelo corpo da vítima palpando-o para detectar fraturas e, se encontrar, tente não mover o lugar fraturado. Se possível, imobilize-o com talas ou papelão (conforme explicado adiante). Se tiver tempo disponível, avalie a temperatura da vítima, veja se a pele está fria, pálida, quente ou arroxeada. Atente-se sempre para a sua segurança, usando luvas ou sacos plásticos limpos nas mãos. Caso contrário, não entre em contato com secreções e líquidos da vítima, inclusive sangue.
4. Prevenção de acidentes NA COZINHA: • Não permitir entrada de crianças na cozinha; • Não deixar cabos de panela para fora do fogão; • Tomar cuidado para que não haja vazamento de gás e, de preferência, deixar o botijão em lugar arejado; • Evitar o uso de objetos quebrados ou rachados. NO BANHEIRO: • Nunca tocar em fios, interruptores, tomadas ou aparelhos elétricos com o corpo molhado e/ou pés descalços; • Tapetes ou pisos lisos podem causar escorregões; preferir os antiderrapantes. OUTRAS SITUAÇÕES: • Cuidado com móveis próximos a janelas, pois crianças podem subir e se acidentar; • Escadas devem ser iluminadas, ter corrimão e não devem ter tapetes por perto; • Nunca deixe medicamentos, produtos de limpeza, substâncias corrosivas (ex: soda cáustica), inseticidas e ferro de passar roupas ao alcance das crianças; • Use protetor de tomadas; • Lugar de criança é no banco de trás do carro e com cinto de segurança e/ou uso de cadeirinha apropriada;
09
Primeiros Socorros | Bahiana Não reutilize frascos, nem misture vidros de tóxicos com remédios; Nunca use remédios por conta própria, vá ao médico com regularidade e verifique o prazo de validade dos alimentos e dos medicamentos; Jogue fora conservas com latas ou tampa amassadas, estufadas ou que liberem gás ao serem abertas.
5. Envenenamento É a reação a uma substância tóxica que, ao entrar em contato com o organismo, trará efeitos nocivos causando danos aos sistemas e até a morte. Suas principais causas são: tocar em substâncias corrosivas, respirar gases tóxicos, comer alimentos estragados, ingerir produtos químicos e de limpeza (água sanitária, ácido muriático, soda cáustica, creolina, naftalina) ou remédios e bebida alcoólica em excesso. Procedimentos: A. Contato com a pele: retire toda a roupa da vítima que está suja com a substância, lave o local atingido com bastante água, de preferência corrente. Se houver queimadura, não administre nada e leve a vítima ao hospital. B. Inalação (ou respiração) de gás tóxico: se possível, retire a vítima o mais rápido possível do local. Se não puder retirá-la, tente arejar o local abrindo portas e janelas. Lembre-se que, em primeiro lugar, está a sua segurança. Não se exponha ao gás. Não ligue a luz ou qualquer aparelho elétrico se houver suspeita de vazamento de gás inflamável. C. Ingestão: tente descobrir que tipo de veneno a vítima ingeriu. Procure com urgência entrar em contato com o CIAVE (Centro de Informações Anti-Veneno), no hospital Roberto Santos, pelo telefone 0800 284 43 43, dando-lhe todas as informações e seguindo as instruções. Encaminhe a vítima para o hospital e, se possível, leve uma amostra da substância ingerida ou do vômito (caso a vítima vomite por conta própria) para que seja analisada. Não tente administrar qualquer tipo de substância para neutralizar o veneno.
10
D. Bebidas alcoólicas: No caso de uma vítima alcoolizada, o maior risco é de quedas que podem ocasionar fraturas, lesões e traumatismos ou de que ela vomite e respire o próprio vômito, por acidente. Para evitar que isso ocorra, é importante que você fique observando a vítima e coloque-a numa posição que não permita que ela engasgue, preferencialmente lateralizada. Não deixa a pessoa sozinha e, caso ela desmaie, leve-a para um hospital.
Primeiros Socorros | Bahiana
6. Corpos Estranhos São substâncias ou objetos que se encontrem em qualquer parte do nosso corpo, mas que não pertencem ao local em que estão. Podem ser sólidos ou líquidos, fixos ou móveis. Os locais mais atingidos são os olhos, ouvidos, nariz, garganta e pele. • Olhos: geralmente a presença de corpos estranhos nos olhos causam irritação e acabam deixando os olhos avermelhados, com muita lágrima, dificultando a visão e coçando. Se o objeto for móvel (ex: cisco, cílio, grão de areia), lave o olho no sentido do nariz para o ouvido de mesmo lado com soro fisiológico ou água corrente. Caso o corpo estranho móvel seja cortante (ex.: pequeno pedaço de vidro, estilhaço de metal...), evite ao máximo piscar os olhos e lave o olho no sentido do nariz para o ouvido, da mesma maneira. Se o objeto for fixo nunca tente retirar. Para que esse corpo estranho não se movimente, prenda-o no rosto da vítima, usando gazes ou um copo plástico e esparadrapo, dependendo do tamanho do objeto. Tape o outro olho também para que ele não acabe complicando a lesão. Em ambos os casos, não deixe a vítima coçar nem esfregar o olho e leve-a para um hospital para ser melhor avaliado pelo oftalmologista. • Ouvidos: se for fixo, estabilize da mesma forma que foi explicada para os olhos e encaminhe para o hospital. Se for móvel e for um inseto, coloque cerca de quatro gotas de óleo mineral (óleo de bebê). Nunca use óleo de cozinha no ouvido. Observe se o inseto saiu, incline a cabeça da vítima para o lado afetado e balance como se estivesse tirando água do ouvido. Se for uma pedrinha, lance água com uma seringa (20 ml) apontada para a parede do fundo do ouvido e depois balance a cabeça inclinada. Se for um grão de qualquer cereal que possa inchar em contato com a água (ex: feijão, milho) substitua a água presente na seringa por álcool e faça o mesmo processo descrito acima. Não use objetos pontiagudos (como pinças e agulhas) para retirar o corpo estranho. Se o objeto não sair, encaminhe a vítima ao otorrinolaringologista. • Nariz: o corpo estranho sólido nesse local pode causar espirros em excesso, dor no nariz, presença de sangramentos e dificuldade para respirar. Se a vítima for um adulto, peça para ela respirar somente pela boca e não pelo nariz. Tape a narina não afetada com o dedo e peça para a vítima assoar o nariz com força para tentar expelir o corpo estranho. Se não resolver, encaminhe para
11
Primeiros Socorros | Bahiana o hospital. Não tente retirar o corpo estranho utilizando outros objetos, pois pode acabar empurrando-o ainda mais para o fundo do nariz, dificultando a sua retirada. Se a vítima for uma criança pequena, nunca peça para ela assoar. Tape as duas narinas com gaze e leve ao hospital. Caso a vítima seja um bebê, tape apenas a narina afetada com gaze (a que contém o corpo estranho, procedimento oposto ao do adulto) e leve-a ao hospital.
12
• Garganta: o corpo estranho pode chegar até a garganta, tanto pela boca quando pelo nariz e, a partir daí, seguir dois caminhos. O primeiro deles é descer para o estômago, assim como a comida que nós ingerimos normalmente. Nesse caso, dê à vítima alimentos pastosos (ex: banana amassada, purê) para ajudar a descer e leve-a para um hospital. No entanto, caso o objeto seja cortante (ex: agulha, lâmina de barbear), não dê nada para a pessoa comer e procure imediatamente a emergência. O segundo caminho possível para esse corpo estranho é a descida em direção aos pulmões, ou seja, local por onde passa o ar que respiramos. A vítima provavelmente irá tossir bastante. Enquanto ela estiver tossindo, apenas peça para que tussa ainda mais, pois, às vezes, a própria tosse já é suficiente para expulsar o corpo estranho. Se a vítima parar de tossir e você perceber que ela está ficando sem ar e arroxeada (ela provavelmente colocará as mãos em torno da garganta e estará com olhar de desespero, não sendo mais capaz de falar ou respirar, pois o corpo estranho obstruiu completamente a entrada de ar em seus pulmões), posicione-se, então, atrás dela, abrace a vítima por trás, colocando uma mão em punho na barriga (um pouco acima do umbigo) enquanto a outra mão segura a primeira. Faça compressões na barriga para dentro e para cima (formando a letra “J”, conforme a figura da pág. anterior), tentando forçar o corpo estranho para cima. Repita quantas vezes forem necessárias até a saída do corpo estranho. Caso a vítima desmaie, peça para que alguém traga um DEA (Desfibrilador Externo Automático), coloque-a deitada de barriga para cima no chão e inicie a manobra de reanimação cardiorpulmonar – RCP (veja a explicação mais detalhada adiante), com as compressões no tórax e não mais na barriga. Verifique a boca da vítima a cada 30 compressões, para ver se o corpo estranho está lá. Se ele estiver, retire com cuidado para não empurrar de volta na garganta, de preferência, com o dedo em forma de gancho. Se não estiver, continue fazendo as compressões até que a vítima desperte. Caso a vítima esteja grávida, ou tenha obesidade, as compressões não devem ser realizadas na região da barriga, e sim no tórax.
Primeiros Socorros | Bahiana • Pele: se o corpo estranho for superficial (ex: espinho), você pode retirálo com a ajuda de uma pinça ou agulha esterilizada. Limpe sempre qualquer ferimento na pele com álcool ou álcool iodado para não infeccionar. Se for um anzol bem pequeno empurre no sentido que entrou até a barbela sair da pele. Daí, corte a ponta com um alicate e retire no sentido oposto. Se for um anzol maiorzinho, não corte nem tente tirar. Estabilize-o usando um copinho plástico com esparadrapo e encaminhe a vítima ao hospital.
7. Queimaduras São lesões provocadas por temperaturas muito altas ou muito baixas, produtos químicos, choques elétricos ou quando a pessoa fica muito tempo exposta ao sol. Pode ser classificada basicamente em três tipos principais e o procedimento depende de cada grau. • 1º Grau: pode ser causada por líquidos quentes e objetos quentes. Uma causa muito frequente é a exposição ao sol. A pele fica avermelhada e ardendo bastante. Nesses casos, lave o local com água da torneira durante 5 a 10 minutos para resfriar a área. Enxugue suavemente. Caso já seja de uso habitual, pode-se utilizar um creme hidratante e ofereça bastante líquido para a pessoa beber. • 2º Grau: é causada por contato prolongado com uma fonte de calor ou em casos de temperaturas muito elevadas (ex: água ou óleo fervente, ferro elétrico, panelas aquecidas). A pele fica dolorida e aparecem bolhas. Lave com água da torneira. Não passe nada em cima, como manteiga, pasta de dente ou pó de café. Nunca estoure as bolhas. Faça um curativo. Na dúvia, encaminhe a pessoa para a emergência. • 3º Grau: sua causa mais comum ocorre por exposição direta ao fogo. A pele fica escurecida ou marrom, endurecida e a pessoa não sente dor. No entanto, nas regiões próximas a esse tipo de queimadura, podemos encontrar também queimaduras de 2º grau, o que pode gerar dor. Lave com água da torneira, retire roupas e objetos como relógios, anéis e pulseiras. Porém, se eles estiverem grudados na pele, não tente retirar. Se a vítima estiver pegando fogo, tente apagar, abafando com panos molhados. Deve-se levar a vítima sempre ao hospital. Se a vítima estiver desacordada ou apresentar queimaduras no rosto, provavelmente ela inalou fuligem ou ar quente e pode entrar em parada respiratória. Nesse caso, fique atento à respiração e ao pulso dela.
13
Primeiros Socorros | Bahiana
8. Choque Elétrico Consiste na passagem de corrente elétrica pelo organismo causando lesões. Os maiores problemas que um choque elétrico pode causar são: queimaduras e parada cardiorrespiratória. NUNCA toque na vítima se ela estiver ligada à corrente elétrica. Para atendê-la, primeiro desligue a fonte de energia. Com a fonte desligada você já pode tocar na vítima e iniciar o atendimento. Caso não seja possível desligar a fonte, você pode tentar afastar a vítima da corrente elétrica SEM TOCÁ-LA, utilizando materiais isolantes como cabos de vassoura, jornal enrolado, materiais de borracha e madeira. Nunca utilize objetos metálicos ou molhados. Após afastar a vítima da fonte de energia, você deve examiná-la, observando se ela está respirando e se seu coração está batendo. Caso não esteja, iniciar a manobra de reanimação cardiopulmonar – RCP (veja a explicação adiante). Além disso, você deve observar se há presença de queimaduras. Encaminhe sempre a vítima para o hospital.
9. Reanimação Cardiopulmonar (RCP) É uma manobra usada em vítimas que estão sem respirar e com o coração parado.
14
Após perceber que a vítima não responde quando você fala com ela, peça ajuda de pessoas do local e ligue para o SAMU. Se a vítima não estiver respirando e o coração dela não estiver batendo, coloque-a deitada no chão de barriga para cima e se posicione do lado do seu peito com os dois joelhos no chão. Comece a fazer a massagem no coração dela da seguinte forma: coloque uma mão em cima da outra, entrelaçando os dedos, e apoie entre os mamilos da vítima (no centro do tórax). Pressione 30 vezes para baixo, com os braços esticados e com o peso do seu corpo. Após fazer as 30 compressões, faça duas respirações artificiais. Para fazer a respiração artificial, estenda a cabeça da vítima para trás, abra a sua boca e tape o seu nariz. Sopre duas vezes com todo o seu ar e veja se o tórax expande. Se não expandir, ela pode estar com corpo estranho na garganta. Continue fazendo as massagens, pois esse corpo estranho provavelmente sairá e você pode retirá-lo conforme já foi explicado. Faça o ciclo de 30 massagens e duas respirações até a vítima voltar, até você se cansar ou até a ambulância chegar. Você pode perceber que a vítima voltou se ela se movimentar, respirar ou tossir.
Primeiros Socorros | Bahiana ATENÇÃO: mesmo que a vítima volte a respirar, ela pode não acordar, pode continuar desmaiada! Continue checando os dados vitais. Em crianças, faça as massagens com uma mão e sopre com menos força. Em bebês, faça a massagem com os dedos anelar e médio e sopre somente o ar das bochechas. OBSERVAÇÃO: cuidado ao fazer a respiração artificial em vítimas desconhecidas, pois elas podem ter alguma doença que você pode contrair. Caso não queira fazer a respiração, só a massagem já irá ajudar bastante. Existem equipamentos de proteção individual (EPIs) que devem ser utilizados, mas que não estarão disponíveis no momento.
10. Curativos É um procedimento que tem a função de proteger o ferimento contra pancadas e mantê-lo limpo, prevenindo infecções. Se o ferimento for pequeno ou superficial, o curativo pode ser feito em casa, usando o material improvisado disponível. Saiba como fazer: • Lave suas mãos com água e sabão neutro (ou sabão de coco) e coloque luvas (que podem ser improvisadas com sacos plásticos limpos), evitando o contato com o sangue e as secreções da vítima; • Lave também o ferimento com água e sabão neutro (ou sabão de coco); • Caso tenha sangramento, aperte sobre o local firmemente com um pano limpo (evite ficar retirando o pano para olhar se o sangramento já estancou! Isso prejudica e dificulta que o sangramento pare); • Evite passar qualquer substância como Merthiolate, Iodo, etc.; • Caso a vítima já use alguma pomada ou creme em seu cotidiano para esse tipo de situação, esses produtos poderão ser usados; • Cubra com gaze (nunca use algodão!) e prenda as quatro bordas, assim como o centro da gaze, com esparadrapo. • Troque o curativo diariamente ou sempre que estiver sujo ou úmido; • Caso a ferida esteja inchada ou com pus, ou em QUALQUER ferida grande, procure o médico. Atenção: curativos como o Band-aid só são recomendados em ferimentos pequenos (menores que 1cm).
15
Primeiros Socorros | Bahiana
11. Hemorragia É a saída de sangue dos vasos em grande quantidade. Para controlar o sangramento, devem ser seguidos os seguintes passos: • É essencial o uso de luvas ou sacos plásticos para proteger as suas mãos; • Se o ferimento for na perna ou no braço, mantenha o membro elevado; • Nunca dê líquidos para a vítima beber, mesmo que ela peça (o mesmo vale para alimentos); • Usando uma gaze ou pano limpo, aperte o local do sangramento. Se o pano ficar muito molhado de sangue, não o retire; coloque outro por cima e continue a apertar. Caso esse segundo pano também encharque, retire somente ele, colocando um novo pano por cima do primeiro. O segundo pano pode ser trocado quantas vezes for preciso, mas o primeiro nunca deve ser retirado; • Quando o sangramento estiver controlado, use uma bandagem ou um pano para amarrar a compressa e mantê-la no lugar. • Leve a pessoa para ser avaliada por um médico.
12. Mordedura e picada de animais Mordida de cão: lave o local da mordida com água e sabão. Se estiver sangrando, faça a compressão conforme explicado acima. Leve a vítima ao hospital para tomar as vacinas antitetânica e antirrábica. Se possível, mantenha o animal em observação; se ele começar a ter comportamento estranho, como querer morder as pessoas, latir de forma diferente, uivar, babar muito, ter dificuldade para comer e beber água, ficar muito agitado ou muito quieto, então, ele pode estar contaminado pelo vírus da raiva. Em caso de animais silvestres ou quando o ferimento é na região do rosto, pescoço, pés ou mãos, deve-se encaminhar a vítima o mais rapidamente para o hospital.
16
Picadas de cobras/ escorpião: lavar o ferimento com água e sabão, folgar as roupas da vítima (cinto, calça...) e encaminhá-la imediatamente ao hospital para ser avaliada por um profissional de saúde. A vítima deve se movimentar o mínimo possível e deve manter o membro elevado para que seu estado não se agrave. Se for possível, deve-se capturar a cobra ou tirar uma foto sua, sem se colocar em risco, levá-la ao CIAVE (Centro de Intoxicação e Antiveneno) –
Primeiros Socorros | Bahiana localizado no Hospital Roberto Santos, no bairro do Cabula, com funcionamento 24 horas – para que ela possa ser identificada. A identificação é importante para a escolha do soro antiofídico específico que será dado à vítima. NÃO FAZER: • Furos ou cortes na pele para retirar o veneno; • Sugar o local da picada para retirar o veneno, porque, além de não funcionar, há o risco de contaminar a ferida e o socorrista; • Colocar óleo, folhas ou outras substâncias no local: quem deve decidir o tratamento a ser realizado é o profissional de saúde; • Dar bebidas alcoólicas, remédios, querosene ou qualquer substância à vítima, porque isso pode piorar a sua intoxicação; • Fazer garrote ou torniquete, porque dificultam a passagem do sangue e, com isso, o membro afetado pode piorar e necrosar.
13. Afogamento O afogamento é a dificuldade de respirar pela entrada de líquido nos pulmões, dificultando a distribuição de oxigênio no corpo. Atenção para as seguintes situações de risco: • Nadar em águas profundas; • Acidentes em barcos e lanchas; • Queimaduras por animais marinhos (ex: água-viva, caravela); • Cansaço físico, cãibra; • Desmaios; • Ataques epilépticos; • Mergulho em águas rasas; • Acidentes com pedras; • Crianças (obs: banheiras, piscinas, baldes, etc.); • Pessoas alcoolizadas. Para o resgate da vítima afogada, não é indicada a entrada na água de pessoas sem preparo para realizar o resgate. Deve ser jogado algum objeto que flutue, como uma boia, uma prancha de surfe ou uma tábua, de preferência amarrados em uma corda. Chegando à margem, deve-se observar se a vítima está respondendo e se apresenta expansão do tórax e pulso. Caso a vítima esteja sem resposta, sem respiração e sem pulso, o suporte básico de vida deve ser iniciado.
17
Primeiros Socorros | Bahiana
14. Acidentes Automobilísticos Geralmente, a conduta nessas situações é complicada, exigindo muito preparo e muita prudência do socorrista. Primeiramente, comunique o acidente ao SALVAR (Corpo de Bombeiros), pois são serviços especializados nesses atendimentos com o material e treinamento adequados. Seja bem claro ao passar o endereço e outras informações do acidente, dando referências fixas e fáceis de visualizar. Tenha sempre à mão os telefones úteis! (Estão no fim deste manual) Enquanto aguarda o socorro definitivo, observe se o local oferece risco para você e as demais pessoas. Se puder, faça a sinalização com cones, pneus, galhos de árvore ou triângulo mostrando que aconteceu um acidente naquele local. Atenção: • •
Deve-se ter cuidado ao utilizar extintores, pois a vítima pode sufocar. Lembre-se de desligar os automóveis, se possível.
Cuidados Especiais: • Não tente remover a vítima do veículo! • Cuidado ao mover o pescoço e a coluna da vítima, para não expô-la aos riscos de paraplegia ou tetraplegia. • Não force a retirada da vítima do carro, caso esteja presa a algo (como ferragens, por exemplo), a não ser que exista algum risco como fogo ou explosão. • Observe o nível de consciência, a respiração e o pulso da vítima constantemente e passe essas informações ao serviço de emergência. • Tente conter sangramentos comprimindo-os com panos limpos, caso seja necessário.
15. Noções sobre parto de emergência
18
Ao presenciar uma mulher com sinais de parto, o socorrista deve prontamente transportá-la para um hospital ou uma maternidade mais próxima. Contudo, caso não seja possível transportá-la ou não houver tempo suficiente para fazer esse transporte, deve-se iniciar o “parto de emergência”. Para tal, o socorrista deve conhecer as suas três fases: dilatação, expulsão e dequitação.
Primeiros Socorros | Bahiana DILATAÇÃO Caso a mulher se encontre nessa fase, ela vai apresentar os seguintes sinais e sintomas: • • •
Bolsa estourada; Sangramento vaginal; Dor.
Nem sempre ela apresentará todos os sinais e sintomas e, por isso, o socorrista deve estar atento, caso algum deles apareça. Nessa fase, o socorrista deve: • Acalmar a grávida; • Pedir para que ela respire fundo e não faça força; • Deitar a parturiente com a barriga para o lado esquerdo, permitindo um maior retorno venoso; É importante lembrar também que, nessa fase, a mãe deve ser prontamente transportada! EXPULSÃO Nessa etapa, devemos nos preparar para realizar o parto. Mas, como iremos saber que a mãe evoluiu da fase de dilatação para a de expulsão? Na fase de expulsão, a mãe irá sentir dores e contrações mais intensas. Como o parto está se aproximando, o socorrista deve se preparar para realizá-lo e, para isso, ele deve providenciar: • • • •
Tesoura limpa; Panos limpos; Barbante ou cordão; Luvas ou sacos plásticos.
Utilizando as luvas ou sacos plásticos para sua proteção, o socorrista deve pedir para que a gestante fique deitada, em posição ginecológica (Imagem 1), com os joelhos afastados e fletidos. Para preservar seu pudor, deve-se colocar uma toalha sobre as pernas, e outra cobrindo o ânus, para proteger o bebê de um possível contato com fezes.
19
Primeiros Socorros | Bahiana O socorrista deve: • • •
Acalmar a grávida; Pedir para que ela faça força apenas nos momentos que ela sentir as contrações; Respirar fundo nos momentos em que não estiver ocorrendo a contração.
Quando a cabeça do recém-nascido estiver saindo, o socorrista deve pedir para a grávida parar de fazer força e não deve puxar cabeça do recém-nascido. Nesse momento, o socorrista deve observar se o cordão umbilical está enrolado no pescoço do recém-nascido. Caso esteja, ele deve tentar retirá-lo com o dedo em forma de gancho. Assim que o neonato sair por completo, deve-se limpar a sua boca e o seu nariz, retirando as secreções, envolvê-lo com panos limpos para aquecê-lo, e entregá-lo à mãe. DEQUITAÇÃO Tem como característica a saída da placenta. A mulher leva cerca de 10 a 30 minutos para que, naturalmente, a placenta saia. É importante que o socorrista não a puxe. Assim que a placenta sair, o socorrista deve envolvê-la com um pano e, se possível, colocá-la em um saco plástico, para que, posteriormente, ela seja apresentada ao obstetra. Cordão Umbilical: o cordão umbilical deve ser cortado e isso só deve ser feito quando ele parar de pulsar. Assim que isso ocorrer, o socorrista deve amarrálo com um barbante em três pontos: o primeiro, mais ou menos um palmo da barriga do bebê, o segundo, três dedos do primeiro, o terceiro, três dedos do segundo e, então, deve cortá-lo entre o segundo e o terceiro. Observações importantes:
20
• Logo após a realização dos procedimentos, a mãe e o recém-nascido devem ser prontamente levados para o hospital, para que recebam cuidados especializados; • Não lave o recém-nascido; ele deve ser ligeiramente limpo com um pano; • Enrole-o com cuidado, evitando seu sufocamento; • Se, no parto, sair primeiramente o braço, a perna ou mesmo as nádegas do recém-nascido, continue o transporte, pois a mãe deve ser levada com a máxima urgência para o hospital, a fim de que o parto seja realizado por um médico. Não tente puxá-lo pelo braço, perna ou pé.
Primeiros Socorros | Bahiana
16. Trauma de Ossos e Articulações Alguns esclarecimentos: • Fratura: osso quebrado; • Luxação: osso que sai da sua articulação (ex: ombro, quadril, etc.); • Entorse: ligamentos rompidos ou esticados por movimento exagerado de uma articulação. Sinais e Sintomas: • • • • •
Dor; Inchaço; Vermelhidão local; Deformação de movimento; Perda de movimentos.
O socorrista deve localizar a porção lesionada, imobilizar provisoriamente da forma que for mais confortável e estável para a vítima e encaminhar para o pronto-socorro o mais rápido possível. Durante o caminho, colocar compressas em um saco de gelo, envolvidas numa toalha, pode evitar o inchaço e diminuir a dor local. Nunca coloque o gelo diretamente sobre a pele, pois pode provocar queimadura. Obs.: jamais tente recolocar o osso no lugar! Se a fratura for exposta, não toque no osso nem tente reintroduzi-la. Isso pode agravar ainda mais a lesão e aumentar a contaminação. Mecanismos de imobilização: • A imobilização pode ser feita com estruturas rígidas como talas ou tiras de papelão, revistas empilhadas, cabos de vassoura ou mesmo parte íntegra do corpo da vítima (exemplo: usar uma perna como apoio para imobilizar a outra). • A imobilização deve atingir não somente o local da lesão, mas tudo aquilo que se relaciona a ela na elaboração do movimento. Em caso de lesão de um osso, deve-se imobilizar a articulação de antes e de depois. Se a lesão for na própria articulação, o procedimento deverá envolver o osso de antes e depois da articulação, garantindo, dessa forma, a imobilização completa da estrutura.
21
Primeiros Socorros | Bahiana
17. Considerações Finais Em primeiros socorros, é sempre muito importante usar o bom senso, ter calma, conhecimento, compaixão e saber tranquilizar a vítima. É preciso tomar conta da situação, exercer um papel de liderança e tomar decisões com segurança e rapidez. Este pequeno manual não tem a intenção de formar socorristas para todas as situações. O nosso maior objetivo é o de esclarecer e preparar a comunidade, em caso de acidentes, até a chegada do atendimento médico especializado ou, em situações especiais, como em lugares onde não é possível a chegada rápida do médico, ou que não haja condições de transporte imediato para o hospital. Portanto, com estas informações, você poderá aprender um pouco mais sobre primeiros socorros e evitar, assim, medidas precipitadas que agravem ou coloquem em risco a vida de pessoas acidentadas. Lembre-se: os primeiros socorros são procedimentos simples, mas que podem salvar a vida de uma vítima ou evitar lesões mais graves.
ALGUNS TELEFONES IMPORTANTES SAMU SALVAR/ Corpo de Bombeiros Polícia Militar Defesa Civil Coelba Concessionária Litoral Norte Concessionária Via Bahia Centro de Informação Antiveneno (CIAVE) Laboratório Central (LACEN)
22
192 193 190 199 0800 71 0800 0800 71 3233 (Estrada do Coco) 0800 6000 324 (BR 324) 0800 6000 116 (BR 116) 0800 284 4343/ 3387-4343 3356-2299
Prof.ª Maria Luisa Carvalho Soliani Reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Coordenadora Geral da Fundação Bahiana para Desenvolvimento das Ciências Prof. Ênio Ribeiro Maynard Barreto Vice-Reitor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Prof.ª Ana Verônica Mascarenhas Batista Coordenadora do curso de Medicina Prof. André Zimmermann Professor da disciplina Primeiros Socorros Coordenador do Programa Primeiros Socorros para Todos