GRIFO N. 1 - Jornal de Humor da GRAFAR

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GRI FO N°.1 OUT 2020

da GRAFAR

ALISSON AFFONSO, BIER, DÓRO, EDGAR VASQUES, EUGÊNIO NEVES, FELIPE COELHO, HALS, LATUFF, LU VIEIRA, MOISÉS MENDES, UBERTI, SANTIAGO, SCHRÖDER, PAULO DE TARSO RICORDI, VICENTE, RAFAEL CORREA, WAGNER PASSOS.

GRANDE QUEIMA NACIONAL!!

O PROJETO BOLSONARISTA NAS MATAS, NA CULTURA, NA ECONOMIA, NA POLÍTICA, NA CIÊNCIA


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EDITORIAL

MEU, ESSE GOVERNO ME IRRITA

CHARGE

G

rifo. Cartunistas resenhando o país, o mundo, a cidade, os becos (principalmente os sem saída), periodicamente. Alguns jornalistas participam, quase sutilmente, para escrever editoriais, por exemplo, e explicar que este jornal eletrônico olha para o urgente pensando no importante e elege um tema para cada edição. Fizemos algumas reuniões virtuais debatendo como abordar o caráter regional e mundial da publicação, além de relacionar com a Grafar. “Grifo é bom”, diz um. Em tempestades cerebrais (tradução:brainstorming), como dizia o Professor Pardal, uma frase gera outras: “Grifo é o tipo itálico, uma invenção de Francesco Griffo quando trabalhava na gráfica do italiano Aldus Manutio lá por 1500”, “Lembra o ser mitológico”, “Grifo, traço, marca, metade ximango, metade yaguarundi”, adaptando a “Grifo, traço, marca, metade mescla grega entre águia ximango, metade yaguarundi”, e leão, sabedoria e força. “Grifo também é enigma”. adaptando a mescla grega entre águia e leão, sabedoria e força. “Metade quero-quero, “Grifo também é enigma”. metade cavalo” “Cada edição tem que “Metade quero-quero, metade cavalo” tratar de um assunto” concordamos, já debatendo a linha editorial, misturando assuntos. “Pode ser a Covid-19”. “A economia!”. “O meio ambiente”. Os incêndios florestais deste ano foram internacionais quanto a Covid-19. Alguns naturais, muitos intencionais. Não é a primeira vez que florestas ardem no mundo, e governos tomam atitudes de combate. Mas o governo brasileiro surpreende negativamente nas suas ações. Poderia anunciar medidas restritivas a proliferação dos focos incendiários, prometer recursos extras para vítimas e fiscalização para evitar o crescimento do desastre ambiental, mas acusar índios e pobres como responsáveis ou dizer que se tivesse mais boi no cerrado o prejuízo seria menor, por essa ninguém esperava. “Já o alemão Sebastian Grypho gostava de chistes. Além de lançar o itálico na França, fundou, em 1536, o Atelier du Griffon cuja logo era um grifo”. O incêndio é a logo do governo Bolsonaro. Coisas assim circularam nas conversas. Houve até quem lembrasse da chave de grifo. Na mão esquerda. “É isso”, disse o grifo.

EXPEDIENTE Grafar - Uma publicação dos cartunistas da Grafar (Grafistas Associados do Rio Grande do Sul) Editor - Marco Antonio Schuster Desing gráfico e editoração: Hals Participaram desta edição: Alisson Affonso, Bier, Dóro, Edgar Vasques, Felipe Coelho, Hals, Latuff, Lu Vieira, Moisés Mendes, Uberti, Santiago, Schröder, Paulo de Tarso Riccordi, Vicente, Rafael Correa, Wagner Passos. Contato: grafar.hq@gmail.com

SUMÁRIO Editorial.....2 Meio Ambiente.....3, 4, 5 Pandeconomia.....6, 7 Uberti.....8 Santiago.....9 Moisés Mendes.....10 Quer que eu desenhe?.....11 Latuff.....12 Mundo.....10 Eugênio Neves.....13 Grifo (Quadrão).....14 Diabo Rosa.....15 Paulo Riccordi.....16 Rafael Correa.....17 Quino.....18 Dóro.....19 Entrevero.....20


MEIO AMBIENTE

GOVERNO INCENDIÁRIO

Aumenta o desemprego, o número de pobres, a concentração de renda, o país retorna ao Mapa da Fome. Amazônia e Pantanal batem recordes de incêndio e desmatamento. A fumaça dessas queimadas invadiu o sudeste e o sul do País junto com o fim das resoluções que protegem manguezais e restingas. Nada pode representar tão fielmente a política econômica, social, cultural e filosófica do governo Bolsonaro.

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MEIO AMBIENTE

Amazônia, Pantanal, Brumadinho, Mariana, lama... da dragagem do porto na beira da Praia do Cassino. Fábricas de fertilizantes “Nutrição para plantas” Montanhas... de areias que atravessam o oceano vindas da África de navio. Peixes, que desapareceram das águas, pela pesca predatória e poluição, criados a base de corantes e ração em cativeiro. Eles dizem: “Bicho pra quê?” “Índio pra quê?” “Floresta pra quê?” “O que a gente quer é churrasco, suruba e cerveja!” Somos educados nas redes sociais, universidades e escolas, a invejar, a competir, a desejar o mundo dos ricos, para recebermos esmola. ...e assim se espalha o que se chama de empreendedorismo, a fórmula mágica, uma promessa, que vive de aparências para a dita vida feliz. Mal sabem eles, por mais riqueza que se tenha, iates, ações e fazendas, dinheiro nenhum acaba, nem com abracadabra, com a famigerada e tão glamourosa, pobreza de espírito. Wagner Passos

Cartunista, doutor em Educação Ambiental pela FURG


MEIO AMBIENTE

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PANDECONOMIA

O

resultado da mistura de má administração da economia e da pandemia Deve ser involuntário, mas é a CBF quem faz a crítica pública mais sutil. Antes de cada jogo do Brasileirão, toca o Hino Nacional, seguido de um minuto de silêncio em memória das vítimas da Covid. Já são mais de cinco milhões de infectados e mais de 150 mil mortos, vítimas do negacionismo e do terraplanismo intelectual. Uma vergonhosa medalha de prata, acompanhada do 92º lugar em testes por milhão de habitantes e pobreza crescente desde 2017, só contida pelo auxílio emergencial, que também está se esfarelando. Não há motivos para ufanismos.

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PANDECONOMIA

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UBERTI Fernando Jorge Uberti tem jĂĄ um longo e qualificado trabalho como cartunista no Rio Grande do Sul, alĂŠm de trabalhar em publicidade.

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SANTIAGO

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Neltair Rebés Abreu, Santiago, estreou no Quadrão ainda quando era estudante de arquitetura, trabalhou anos na imprensa gaúcha e brasileira, venceu prêmios nacionais e internacionais. Sem nunca deixar de ser gaudério.


MOISÉS MENDES

GRIFO 01 - 10 Moisés Mendes: Nascido em Rosário do Sul, criado no Alegrete, onde iniciou-se no jornalismo, na Gazeta do Alegrete. Também trabalhou na Plaéia de Livramento em ZH, agora edita o Extra Classe.

A LIÇÃO DE MORO Sergio Moro foge do Brasil e vai dar aulas sobre o Judiciário brasileiro na Universidade do Alabama. Ensina isso e aquilo, habeas corpus, prisão preventiva, foro privilegiado, condução coercitiva, delação etc. Um dia, um aluno pergunta: – O senhor foi juiz e largou a magistratura para ser da turma de Bolsonaro. – Foi o que fiz – admitiu Moro. – Não deu certo e o senhor decidiu dar aulas sobre o que não queria mais fazer. – Pois é – disse Moro. – O senhor desqualificou a magistratura e desprezou o Direito e a Justiça para trabalhar para um grupo ligado a milicianos. – Pois é – disse Moro. – E agora dá aulas de Direito. Depois de trabalhar por um golpe e pela prisão de Lula e, com o serviço completo, abandonar o Direito. Sua aula de hoje será sobre o quê? – Sobre como enganar trouxas. E a aula, brilhante, teve continuidade e não mais terá fim.

CONVERSA PRA BOI COM INSÔNIA Alegrete ferve no verão. A cidade foi sendo erguida sobre uma laje. A um palmo do chão, há pedra e pedra. A descoberta científica do solo pedregoso do Alegrete foi feita por Luis Carlos Prestes. Sabe-se que, antes de ser guerrilheiro, Prestes era engenheiro. Ele coordenou a construção do trecho da estrada de ferro que leva a Uruguaiana e passa por Alegrete. Com o asfalto quente (a cidade sempre foi asfaltada) sobre a laje de pedra, Alegrete fervia como se estivesse sobre uma chapa de ferro de fogão a lenha. Um prefeito, no século 20, quando a ministra Tereza Cristina era criança, teve a ideia de encher a cidade de bois. Era preciso refrescar o asfalto no verão. E bois e vacas cumpriram a função imaginada: comiam em potreiros e passavam o dia mijando e cagando sobre o asfalto. Os bois do Pantanal agem como bombeiros, segundo a ministra, porque deixam o pasto ralo. Se

o Pantanal tivesse mais bois-bombeiros, não haveria tanto incêndio, disse a ministra. Os bois do Alegrete tinham função mais complexa. Agiam como fabricantes de uma manta térmica de bosta e mijo. A cidade foi tomada por bois durante muitos verões. O fedor era insuportável. Mas o calor estava sob controle. Foi por causa disso que Mario Quintana teria dito que não voltava a Alegrete, porque aquela era uma cidade em que quem não era fazendeiro era boi e cagava e mijava por tudo. Os bois do Alegrete ficaram famosos no Brasil. Novas gerações de bois foram levadas a partir dos anos 70 para o Pantanal, onde seus descendentes atuam agora como bombeiros na fazenda da ministra Tereza Cristina. Alegrete também tinha bois salva-vidas, que trabalhavam no balneário do Caverá. Os bois ficavam a postos, em guaritas à beira do rio, e se jogavam na água para salvar os afogados. Mas essa já é outra história.


QUER QUE EU DESENHE?

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Celso Schröder é cartunista, desenhista que rebate a máxima “um desenho vale mil palavras”, usando o argumento de Millôr Fernandes: “Diga esta frase com uma imagem”. Por isso, decidiu usar esta página para escrever. Os desenhos ficam nas outras. Como sempre, a seca Se fosse jornalismo esta manchete teria obrigação de dizer que medição que detectou a queda da carteira assinada no Rio Grande do Sul inicia em janeiro, três meses antes do decreto de pandemia e traria como determinante o arrocho promovido pelo teto de gastos, a perda de credibilidade do Brasil como exportador e o Rio Grande do Sul como um dos principais polos, a destruição da indústria naval e da construção civil, o alinhamento do governador à antipolítica econômica nacional, e para ser bem honesto e jornalismo correto, teria que referir à covardia de um empresariado pouco vocacional ao empreendimento e muito disposto ao parasitismo e à comodidade da exploração do trabalho no limite da escravidão. Se fosse. Como não é, ignora tudo isto e mais uma vez, como fizeram os coronéis ao longo destes séculos, culpa a seca. Solução Final Cobrir o setor de polícia sempre foi difícil para o jornalismo. O ambiente patrimonialista e de violência quase sempre provoca um indesejável alinhamento dos jornalistas envolvidos. Houve um tempo que está editoria era composta por policiais de verdade e ideológicos. São inúmeros os casos dos policiais com seus tresoitôes em cima das mesas das redações. Isto foi superado por uma geração maravilhosa de repórteres que enfrentaram esta tendência herdada da ditadura e incluíram complexidade e cuidado jornalístico na cobertura. Bandidos passaram a ser suspeitos, se não condenados ou indiciados pelo menos, versões policiais passaram a ser questionadas e enxergadas, em princípio, como encobrimento de ações motivadas boa parte do tempo por interesse corporativo de um setor social mal remunerado e ao mesmo tempo armado. Esta reação chegou a provocar uma também indesejável aproximação com alguns criminosos e alguns e algumas repórteres chegaram a flertar ideologicamente com lideranças de quadrilhas, facção é um nome inexplicável adotado há alguns anos junto com comunidade e outros quentais.

Pois agora alguns destes mesmos repórteres que ajudaram a tirar a polícia de dentro do setor que cobre a polícia começam a capitular para a lógica embutida da violência e da solução sumária. Copiando as séries norte-americanas a polícia começa e se vestir de ninja, adota uniformes militares, se equipa com armas de grossos calibres e sai matando. E a mídia aplaudindo , ou, no mínimo, naturalizando. A Brigada Militar, de relevantes serviços cívicos para o estado, virou uma máquina de matar. Não há mais sobreviventes nos confrontos em que ela participa. No Rio Grande do Sul não há feridos se os “bandidos” forem assaltantes de bancos ou “traficante” envolvido na “guerra do tráfico” (ficção inventada para justificar a quantidade de cadáveres diários). Na página 24 da Zero Hora, (15/10/2020) está clara a dificuldade de se fazer cobertura policial que não pareça um release feito por aqueles policiais/jornalistas que não deixavam suas armas na delegacia quando iam para as redações dos jornais. A notícia é da morte de todos os seis “criminosos” num confronto nas estradas de Caxias do Sul (onde nunca ninguém é testemunha a não ser os próprios policiais), um repórter importante do jornal ( foi decisivo nesta salutar limpa de tiras no jornalismo) não se surpreende com a morte de todos os envolvidos neste tiroteio oriundo de uma “ação de inteligência” preventiva onde cabe tudo o que se quiser colocar. Em compensação numa matéria pequena ao lado um suspeitos de estupro, a partir de denúncias de quatro alunas que precisa ser investigado, tem a foto e o nome estampado no jornal.


LATUFF

GRIFO 01 - 12 Carlos Latuff: Chargista carioca com green card gaĂşcho. Filho da imprensa sindical. Amigo dos palestinos. Desenhando os males do mundo desde 1990.


EUGÊNIO NEVES

GRIFO 01 - 13 Eugênio Neves: Sua paixão pelo design começou cedo, quando era criança e passava tardes apreciando decolagens e pousos nas pistas do Salgado Filho, ao lado de casa. Chegou a construir uma réplica de avião. Daí a rabiscos apresentados para amigos da família, trabalho em publicidade e o cartum, foi uma crescente. Olhem bem para os detalhes, ironia e leveza no que externamente parece ferro e força.


GRIFINHOS

GRIFO 01 - 14 Felipe Coelho: Felipe Coelho é jornalista e publicitário catarinense. Sustenta esta contradição desenhando e agora fazendo cartuns. Desenho influenciado pelos quadrinhos lembra um Hugo Pratt com ressaca.

ISSO E MUITO MAIS UM POUCO EM APENAS SETE DIAS

Lu Vieira: Lu é ex-aluna do Atelier Livre Xico Stockinger e do Instituto de Artes da UFRGS. Tatuadora, já participou de importantes mostras como a FIC 2015. É uma desenhista que cultua a atividade física e a arqueira. Claro que só podia ser fã de carteirinha do Ivo Milazzo. É uma especie de versão viva do Ken Parker.

No último dia 9 o Vice-presidente Mourão disse que o Brasil lidou muito bem com a pandemia, e foi criticado pela imprensa mal intencionada que quer trazer o comunismo de volta para a nação. Porém é inegável que outubro faz a Europa sofrer com uma segunda onda de Covid-19, com números que ameaçam chegar nos níveis do pico de Março, enquanto o Brasil surfa tranquilamente em seu platô de estatísticas macabras e o povo é aquecido por fogueiras de dimensões incomparáveis, estrategicamente posicionadas na Amazônia, Pantanal e Chapada dos Veadeiros. O sucesso brasileiro só foi possível graças à coragem do governo nacional de dar espaço para o vírus mostrar seu trabalho, ao invés de tomar medidas para contê-lo, como fizeram os acovardados do resto do mundo. Isso só foi pôde ser feito, claro, nesse país que acabou com a corrupção e ficou tão rico que tem gente com dinheiro saindo do cu. Rodrigo Schuster - Roteirista, montador e auto-intitulado humorista


GRIFO 01 - 15

DIABO ROSA - BIER

QUADRINHAS TORTAS 1

Eu vô dizê pra vancês e isso já é critério: vizinho que num incomoda tão tudo no sumintério.

MAS QUE DIABO!

Todo diabo usa a cor vermelha para suas atividades oficiais, menos o Diabo Rosa. Ele não gosta do vermelho, porque não quer ser confundido com torcedor colorado, mas não se importaria se o chamassem de comunista. Desde criança, quando brincava de diabo rengo com seus amiguinhos Asmodeu, Tinhoso, Lúcifer e Belzebu no Inferno de Dante, o Diabo Rosa fazia o diabo. Sempre tinha um foguista veterano gritando “vai pro diabo que te carregue”, mas ele nunca obedecia. Quando ficou mais velho, passava o maior tempo bêbado, e descobriu o significado do Fogo Eterno. Daí a começar a cheirar enxofre foi um pulinho. Os efeitos eram nojentos. Durante uma festinha de arromba em Hollywood, ele ensinou Linda Blair a vomitar coisas verdes e a torcer completamente a cabeça enquanto gritava em línguas estranhas. Foi quando os exorcistas abriram seu primeiro sindicato. O Diabo Rosa esteve na fundação para ser condecorado. Mas foi no Brasil que ele conquistou o supremo reconhecimento. Com a ajuda imprescindível de um concorrente seu - hoje na presidência da República -, transformou este país no Quinto dos Infernos. Onde, aliás, fundou um armazém de secos e molhados, que usa para lavar dinheiro, vender cachaça e falar mal dos outros.

PALAVRAS DA SALVAÇÃO Reinfecção é escapar do Temer e pegar o Bolsonaro. O papel da Bíblia é fundamental na história da maconha. Uma montanha nunca será mais alta que sua própria altura. Se você comer um escondidinho, não pode gemer. Mais vale pegar um táxi do que uma tuberculose. Toda tartaruga nasce condenada à prisão domiciliar. Não entendo muita coisa quando meu pastor alemão late. Lugares: Churrascaria Joana D’Arc e Motel N. Sra. de Lourdes. Não é por ser bom ciclista que o cara é equilibrado... Pior do que um psicopata, só um psicoganso. Comecei minha reforma íntima. Comprei dez cuecas novas. Geralmente, o amor ao próximo é maior do que ao anterior. Pior do que encilhar um mate é aceitar um cabresto.

(poema ou coisa parecida)

REMADOR

Ronca o rio no sovaco Da correnteza Tem mais água no barco Do que no leito Avemariapuríssima Donde que tá o remanso? Cada pedra com seu naufrágio Cada peixe com seu um relâmpago Cada galho com seu sortilégio Cada margem com seu desatino Na curva do lajedo Pra melhor bater a roupa A lavadeira fica pelada Cada rio com sua sereia (Bier)


GRIFO 01 - 16

PAULO DE TARSO RICCORDI

Paulo de Tarso Riccordi teve seu primeiro cartum publicado no Quadrão, uma página semanal editada por Edegar Vasques e Guaraci Fraga no jornal gaúcho Folha da Manhã, nos anos 70. Mas Tarso, que é como ele assina seus desenhos, também é redator, foi editor do Diário do Sul, coordenou a assessoria de comunicação da primeira bancada de deputados estaduais do PT gaúcho, é mestre em comunicação.

BRASIL VAI À GUERRA

O RATO SEM MEDO

Oba! Estamos prontos para invadir a Venezuela! Na primeira linha, os Bolsonaro 01, 02 e 03, seus coleguinhas do clube de tiro Ponto 38, o projeto de Rambo Marcelo Bretas, o Augusto Heleno, que sabe tudo de guerra. Na segunda linha, os milicianos e seu armamento de verdade. Atrás, os 300 da Sara Winter, pra aprender o que é bom pra tosse. Da quarta à sétima linha, Bibo Nunes e as legiões de minions com arminha de dedo. Atrás deles, os PMs especialistas em balas perdidas, os cidadãos de bem com seu armamento doméstico e os caçadores ilegais, nosso pessoal com melhor experiência de tiro fatal. E o Mourão lá na frete, no papel de guia na selva. O Pazuello vai mandar o secretário geral do ministério pra linha de abastecimento, com as caixas de cloroquina. Ele próprio ficará de plantão no gabinete do Dias Toffoli, para o caso de alguém precisar de advogado. Vou ter que perguntar ao Cerimonial em que posição deverão ficar aquelas pessoas que levam as bandeiras de Israel e dos Estados Unidos às manifestações e onde botamos a Janaína Pascoal, incorporada pelo Cramunhão, agitando nosso livre pendão da esperança. O Guaidó se comprometeu a abrir a porta. O Olavo vai ficar no litoral do Texas, gritando ideias pro lado de cá. Napoleão de escola de samba. Já os mariners americanos aguardarão em Miami.

Dia desses contaram na TV que uns cientistas fabricaram um rato sem medo. Passeia no território do gato de teste sem sequer arrepiar os pelos. O gato não compreende, como pode? Nem eu. Por que um rato sem medo? Pra quê? Afinal, não esqueça que o medo é mecanismo de sobrevivência, o modo de preservar a própria vida. Vai que façam isso comigo e eu perca a noção do perigo! Porém se o pobre bichano fica abalado com o rato atrevido, não dá pra evitar lembrar que se o rato perdeu o medo, o bichano não perdeu a fome nem a raiva pelo roedor, mordido até sangrar. Sem correr!... Devem sem os mesmo cientistas que mexeram nos gens de uma parelha de gatos e os fizeram fosforescentes. Os animaizinhos brilham no escuro! Imagina acordares de madrugada com o Fifi em cima da cama, auto-iluminado no escuro. Essa é mais uma daquelas experiências que têm de explicar muito. Ora, se toda a chave do sucesso dos felinos é o ataque surpresa, a não ser o rato aquele (o sem medo), como pegar o almoço de inopino se o gato brilha, luze feito farol alto em estrada vazia? Pense na pantera negra trepada numa árvore para saltar de surpresa no lombo de sua caça. À distância pareceria enfeite e natal. Juntaria a bicharada para olhar. Os macacos levariam os filhotes a passear após o jantar: - Olha lá, que lindo o nariz e as orelhas brilhando, filhinho! E a pantera lá em cima, faminta e humilhada...

DA SÉRIE “GRANDES PENSAMENTOS DO PEQUENO RICCORDI” EM TUDO HÁ UM DESÍGNIO. / SEM A CRUELDADE DA TRAIÇÃO / NÃO HAVERIA O FASCÍNIO DA CANÇÃO. EM CERTAS FAMÍLIAS, QUEM SAI AOS SEUS NÃO REGENERA.


RAFAEL CORREA

GRIFO 01 - 17 Rafael Correa já recebeu mais de 50 prêmios em salões de humor pelo país e exterior. Poucos são tão premiados quanto ele. Um cartunista poeta: tem a síntese do Quino e a poesia do Quintana. Para ficarmos no Q. Além disso, é um estudioso, mas resume a si mesmo como cartunista guaipeca.


QUINO O cartunista argentino Quino revelou as aventuras de Mafalda entre 1964 e 1973. Foi tempo suficiente para essa guria de seis anos tornar-se uma representante de toda a inconformidade da América Latina, sempre vigiada e fiscalizada por estranhos, mas nunca desistindo de lutar para cuidar de si mesma, sem tutores.

GRIFO 01 - 18 Quino é da turma de Ziraldo, Jaguar, Verissimo, mesmo Millôr, não estranharia o Barão de Itararé, e deve ter sabido quem foi Nair de Teffé. Quino, que morreu em 30 de setembro, é nosso homenageado especial nessa primeira edição. Pela sua história, pelo seu legado e por nossa identificação com tudo isso.


DÓRO

GRIFO 01 - 19

Leandro Malósi Dóro é de Passo Fundo, como Tarso de Castro (um dos fundadores do Pasquim). Antes de fazer mestrado design, trabalhou no Diário da Manhã e O Nacional.


GRIFO 01 - 20

ENTREVERO

NÃO QUARENTENA

Na França do Macron o Ministro da Saúde Tempestade de fuligem: a contribuição e secretário estão sendo investigados de Bolsonaro e Sales para o Brasil e o por negligência no enfrentamento da mundo. Apavorante!!! Covid19. Aqui deveria ser prisão sumária. (Schröder)

Vocês, jovens, não sabem, mas o jornalista velhinho aqui sabe: existiu no final dos anos 70, uma publicação manuscrita, também feita por jovens, chamada NÃO. Continuou sua vida nessa maravilha moderna chamada internet. Agora, os editores Giba Assis Brasil e Álvaro Magalhães vão ressuscitá-la, tal qual Fênix. Aceitam colaborações sobre qualquer assunto e em qualquer gênero: crônica, poesia, ficção, desenhos, etc. Enviar material para alvaromagalhaes63@gmail. com ou gibaab@uol.com até dia 30/10. Vale conferir os números antigos em http://nao-til.com.br (Jorvel)

(Schröder)

Tá tudo muito bem, mas queria saber quem é o policial que sempre encontra a grana na cueca do suspeito. Vá gostar... (Schröder)

Sales, o incendiário de óculos de tartaruga vai privatizar o Aparados da Serra e está tudo bem para a mídia gaúcha. Perderemos o maior patrimônio turístico do estado e ninguém reage. Acho que merecemos mesmo. Alguém consegue imaginar o Bolsonaro recebendo algum título de Doutor Honoris Causa de alguma universidade?

Das palavras que não significam nada no tecnologês, a campeã é “produção de conteúdo”. Ela tem a mesma densidade de “lugar de fala” e “narrativa” no sociologues. O pior é que o jornalismo adotou estes clichês. (Schröder)

(Schröder)

Tarso

(Schröder)

Wenceslas Hollar


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