Foto: divulgação
é fascinado por contos de fadas (mais que as crianças de Gavaldon). Cresceu lendo essas histórias e assistindo às animações da Disney. Quando fez sua graduação em Harvard, praticamente criou uma matéria para ele mesmo, sobre contos de fadas, e escreveu uma tese sobre o motivo pelo qual os vilões são tão irresistíveis. Roteirista aclamado, é mestre pela Columbia University na área de Cinema (Direção) e foi ganhador do prêmio máximo da instituição, o FMI Fellowship. Seus filmes já foram exibidos em mais de 150 festivais ao redor do mundo, ganhando mais de 30 prêmios de júri e público. Suas premiações como autor incluem o Big Bear Lake, o New Draft, o CAPE Foundation, o Sun Valley Writers’ Fellowship e o cobiçado Shasha Grant, concedido por um júri internacional de executivos de cinema. Quando não está escrevendo histórias ou lecionando em Nova York, Soman é um jogador de tênis habilidoso e difícil de vencer (ficou dez anos sem perder um primeiro set!). Até que começou a escrever A Escola do Bem e do Mal. Agora, ele perde sempre.
SOMAN CHAINANI
Acompanhe o autor em: Site do autor: somanchainani.net Site do livro: schoolforgoodandevil.com Facebook: facebook.com/TheSchoolForGoodAndEvil Twitter: twitter.com/somanchainani Tumblr: schoolforgoodandevil-official.tumblr.com
Para encontrar um final feliz com outra pessoa, primeiro você deve encontrá-lo sozinha.
Sophie e Agatha estão lutando contra o passado para
conseguir mudar o futuro, em busca de um final perfeito para seu conto de fadas. Elas acreditavam que sua história havia chegado ao FIM no minuto em que se separaram, quando Agatha foi levada de volta para Gavaldon com Tedros, e Sophie ficou para trás com o lindo e renascido Diretor da Escola. Mas nada no mundo dos contos de fadas é tão simples. Agora inimigas, elas tentam se acostumar com suas novas vidas, mas a história das duas pede para ser reescrita... E isso pode afetar quem elas menos imaginam. Com as garotas separadas, o Mal assume o poder e os vilões do passado ressurgem das trevas em busca de vingança, sedentos por uma segunda chance de transformar o mundo do Bem e do Mal em um reino de escuridão, com Sophie como rainha. Agora, apenas Agatha e Tedros podem apelar ao poder da amizade e do amor do Bem para impedir a dominação do Mal e evitar que todos sejam infelizes para sempre. Mas... qual é a linha tênue que separa o Bem e o Mal? CONFIRA O BOOKTRAILER:
Leia antes:
ISBN 978-85-8235-392-9
9 788582 353929
Sophie aceitou se casar com seu novo amor, o Diretor da Escola, e agora o Mal está no poder. Correndo contra o tempo, Agatha e seu príncipe precisam impedir que o Bem seja derrotado para sempre. Dessa vez, porém, não há solução fácil; eles devem voltar à escola para convencer Sophie a mudar de ideia... Ou matá-la. Em meio a inúmeras descobertas, cada uma das garotas luta para definir sua própria identidade. Soman Chainani traz uma história mágica, repleta de ação, aventura, risadas, romance e mais reviravoltas do que nunca neste extraordinário volume desta série épica.
“[…] um conto surpreendente sobre desilusão, magia e, finalmente, sobre encontrar amor em lugares inesperados.” The Book Smugglers
Soman Chainani
Ilustração: Iacopo Bruno Tradução: Alice Klesck
Copyright © 2015 Soman Chainani (texto) Copyright © 2015 Iacopo Bruno (ilustração) Copyright © 2016 Editora Gutenberg
Esta edição foi publicada de acordo com a HarperCollin's Children's Books, uma divisão da HarperCollin's Publishers. Título original: The School for Good and Evil #3: The Last Ever After Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. editora responsável
ilustração
Silvia Tocci Masini
Iacopo Bruno
editoras assistentes
capa
Carol Christo Nilce Xavier
Guilherme Fagundes
assistente editorial
Guilherme Fagundes Larissa Carvalho Mazzoni
diagramação
Andresa Vidal Branco preparação
Carol Christo revisão
Nilce Xavier Mariana Paixão Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Chainani, Soman A escola do bem e do mal : infelizes para sempre / Soman Chainani ; ilustrações Iacopo Bruno ; tradução: Alice Klesck. – 1. ed. – Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2016. Título original: The School for Good and Evil #3: The Last Ever After. ISBN 978-85-8235-392-9 1. Ficção - literatura infantojuvenil I. Bruno, Iacopo. II. Título. III. Série. 16-05487
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção: Literatura infantil 028.5 2. Ficção: Literatura infantojuvenil 028.5
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Agora, em seu amor, que era mais forte, havia sementes de ódio e medo e confusão, que cresciam simultaneamente: pois o amor pode existir com o ódio, cada um à espreita do outro, e é isso que o torna tão furioso. O Único e Eterno Rei, T.H. White
Ww Na Floresta Primitiva Há duas torres erguidas Na Escola do Bem e do Mal, A Pureza e a Malícia. Quem nelas ingressar Não tem como escapar Se um Conto de Fadas Não vivenciar.
primeira parte Ww
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O Diretor e a Rainha É natural duvidar de seu verdadeiro amor, se você não sabe se ele é jovem ou velho. Ele certamente parece jovem, Sophie pensou, observando o menino esguio e sem camisa, enquanto ele olhava pela janela da torre, banhado pela luz suave do sol. Sophie reparou na pele branca e nas calças pretas e justas que ele vestia; nos cabelos cor de neve fartos e espetados, nos braços cheios de veias saltadas e nos olhos de um azul glacial... Ele não parecia ter mais que 16 anos, entretanto, dentro desse belo estranho, havia uma alma muito, muito mais velha. Durante as três últimas semanas, Sophie havia recusado sua aliança. Como ela poderia se unir a um menino que trazia o Diretor da Escola dentro de si? Quanto mais Sophie olhava para ele, porém, menos via o Diretor da Escola. Ela só via um jovem etéreo pedindo sua mão, com maçãs do rosto saltadas e lábios fartos, mais belo e mais poderoso que um príncipe e, ao contrário daquele tal Príncipe Fulano de Tal, esse menino era dela. Sophie corou, lembrando-se de que estava totalmente sozinha no mundo. Tinha sido abandonada por todos. Seu grande empenho em ser do Bem tinha sido punido com traição. Ela não tinha família, amigos ou futuro. E agora, esse menino arrebatador à sua frente era a última esperança de amor. O pânico ardia em seus músculos e ressecava a garganta. Não havia mais escolha. Sophie engoliu em seco e caminhou lentamente até ele. Olhe para ele. Ele não é mais velho que você, pensava, tentando se acalmar. O menino dos seus sonhos. Ela estendeu os dedos trêmulos até o ombro nu do rapaz... e subitamente parou. A magia trouxe esse menino à vida, pensou
8w ela, escondendo a mão dentro da manga do vestido. Mas quanto tempo a magia duraria? “Você está se fazendo as perguntas erradas”, disse a voz macia. “A magia não é contada pelo tempo”. Sophie ergueu a cabeça. Sem olhar para ela, o menino manteve o foco no sol pálido por entre a névoa matinal. “Desde quando você consegue ler meus pensamentos?”, perguntou Sophie, irritada. “Não preciso ouvir pensamentos para saber como funciona a mente de uma Leitora”, ele respondeu. Vestindo uma capa preta, Sophie parou ao lado dele, sentindo o frio emanar daquela pele cor de mármore. Pensou na pele de Tedros, sempre suada e bronzeada, calorosa como um urso. Uma onda irrompeu dentro dela — ódio, arrependimento ou algo entre uma coisa e outra. Ela se forçou a aproximar-se do menino, esbarrando o braço na pele clara de seu peito. Ainda assim, ele não olhou para Sophie. “O que foi?”, ela perguntou. “O sol”, ele disse, observando-o por entre a névoa. “A cada dia ele nasce mais fraco”. “Se ao menos você também tivesse poder para fazer com que o sol brilhasse...”, Sophie murmurou. “Todos os dias poderiam ter uma festa no jardim.” O menino a fulminou com o olhar. Sophie ficou rígida, lembrando que, ao contrário daquela que um dia foi sua melhor amiga do Bem, seu novo pretendente não era nem do Bem, nem amistoso. Olhou rapidamente de volta para a janela, estremecendo com a brisa gélida. “Ah, pelo amor de Deus, o sol fica mais fraco no inverno. Não é necessário um feiticeiro para saber disso.” “Talvez seja necessária uma Leitora para explicar isso também”, respondeu ele, apressando-se até o canto da mesa de pedra branca, onde uma caneta comprida e afiada, em formato de agulha de tricô, pairava acima de um livro aberto. Sophie virou-se para o livro, dando uma olhada na pintura da última página: ela mesma, beijando o Diretor da Escola e trazendo-o à juventude, enquanto sua melhor amiga desaparecia, voltando para casa com um príncipe.
Fim
“Três semanas se passaram desde que o Storian escreveu nosso Infelizes Para Sempre”, disse o menino. “Depois de alguns dias, ele deveria ter começado uma nova história, com o amor do lado do Mal. Amor que destruirá o Bem, uma história de cada vez. Amor que transforma a caneta em uma arma
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do Mal, no lugar de sua maldição.” Ele estreitou os olhos. “Em vez disso, ele reabre o livro que acabou de fechar e permanece ali, pairando logo acima do Fim, como em uma peça teatral cuja cortina não se fecha.” Sophie não conseguia desviar o olhar da página onde Agatha e Tedros se abraçavam amorosamente enquanto desapareciam, e sentiu um nó por dentro, o rosto ardendo em fogo. “Pronto”, ela disse com a voz esganiçada, fechando o livro de capa vermelha com força e o enfiando ao lado de O Príncipe Sapo, Cinderela, Rapunzel e o restante dos contos concluídos pelo Storian. Seu coração se aquietou. “Cortina fechada.” O livro ricocheteou instantaneamente da prateleira e bateu em seu rosto, fazendo-a colidir contra a parede, antes de voar de encontro à mesa de pedra, abrindo-se novamente na última página. O Storian pairava desafiadoramente acima dele. “Isso não foi nenhum acidente”, disse o menino, caminhando em passos firmes até Sophie, enquanto ela esfregava o rosto dolorido. “O Storian mantém nosso mundo vivo escrevendo novas histórias e, no momento, ele não tem qualquer intenção de seguir adiante, deixando a sua história. Enquanto a caneta não seguir rumo a um novo conto, o sol vai enfraquecer mais a cada dia, até a floresta escurecer e decretar o Fim de todos nós.” “Mas... mas o que ele está esperando?”, Sophie olhou para ele, com a silhueta contornada pela luz fraca. Ele se aproximou e tocou em seu pescoço, encostando os dedos gélidos na pele clara, cor de pêssego. Sophie recuou, trombando na estante de livros. O menino sorriu e chegou mais perto, bloqueando a luz do sol. “Receio que ele tenha dúvidas quanto a eu ser o seu verdadeiro amor”, ele disse baixinho. “Ele tem dúvidas quanto ao seu comprometimento com o Mal. Tem dúvidas se a sua amiga e o príncipe dela devem permanecer desaparecidos para sempre.” Sophie olhou lentamente para cima, para a sombra negra. “Ele está esperando por você”, disse o Diretor da Escola, estendendo a mão. Sophie baixou o olhar e viu o anel de ouro naquela mão jovem e fria, assim como o seu rosto aterrorizado refletido nele. Três semanas antes, Sophie beijou o Diretor da Escola, transformando-o num menino e banindo sua melhor amiga de volta para casa. Por um instante, ela tinha sentido o alívio da vitória enquanto Agatha desaparecia silenciosamente com Tedros. Sua melhor amiga podia ter escolhido um príncipe em detrimento dela, mas, em Gavaldon, não havia algo como um príncipe. Agatha morreria como uma garota comum, com um menino comum, enquanto ela
10w aproveitaria seu Felizes Para Sempre, muito, muito longe dali. Envolvida nos braços de seu verdadeiro amor, diante de sua torre prateada no céu, Sophie esperava se sentir feliz. Ela tinha ganhado seu conto de fadas e aquilo deveria significar felicidade. Contudo, naquela sala sombria de pedras, Sophie começou a tremer. Agatha se fora. Sua melhor amiga. Sua alma gêmea. E tinha levado consigo o menino de quem Sophie havia se aproximado de várias maneiras: quando ela era menina, quando ela era menino, quando ele era seu verdadeiro amor, quando ele era apenas seu amigo. Agatha tinha ganhado Tedros, o único menino que Sophie conheceu de verdade; Tedros ganhou Agatha, a pessoa sem a qual Sophie achou que jamais viveria. E Sophie ganhou um belo menino, sobre quem ela nada conhecia, exceto as profundezas de sua maldade. Enquanto o Diretor da Escola vinha sorrindo presunçosamente em sua direção, jovem como um príncipe, Sophie soube que havia cometido um equívoco. Só que era tarde demais para voltar atrás. Através da janela, ela teve um vislumbre das cinzas de Agatha desaparecendo, os castelos se deteriorando enegrecidos, meninos e meninas travando uma guerra vil, professores lançando feitiços nos alunos e uns nos outros... Estarrecida, ela se virou para o Diretor da Escola..., e viu o menino de cabelos de neve ajoelhado diante dela, com a aliança na mão. Aceite, ele havia dito, e dois anos de guerra cessariam. Não haveria mais o Bem contra o Mal. Nem meninos contra meninas. Em vez disso, apenas o Mal invencível: um Diretor da Escola e sua Rainha. Aceite o anel, disse o belo menino, e ela finalmente teria seu final feliz. Sophie não aceitou. O Diretor da Escola deixou-a sozinha na torre, trancando a janela para que ela não pudesse fugir. Todas as manhãs, quando o relógio batia dez horas, ele vinha e perguntava novamente, com seu corpo jovem e esguio inexplicavelmente trajando roupas diferentes: um dia, uma camisa trançada; no outro, uma túnica ou um colete justo e gola de babados, e os cabelos platinados igualmente inconstantes, ora com brilhantina, ora despenteados ou cacheados. Ele também trazia presentes: vestidos ricamente bordados com pedrarias, buquês magníficos, perfumes de lavanda, frascos de cremes, sabão e ervas, sempre antevendo o próximo desejo de Sophie. Mas, dia após dia, ela ainda meneava a cabeça, e ele saía sem dar uma palavra, de cara feia, emburrado como um adolescente. Sophie ficava ali, presa e sozinha em seus aposentos, na companhia da biblioteca repleta de contos de fada, seus antigos robes azuis e a máscara prateada abandonados como relíquias penduradas em ganchos na parede. Três vezes por dia, refeições surgiam por encanto no instante em que ela sentia fome, e vinha precisamente o que ela tinha vontade de comer, em porções perfeitas dispostas em pratos feitos de osso: legumes, frutas, peixes cozidos no vapor e, ocasionalmente, uma tigela de feijão com bacon (ela não conseguia se livrar dos desejos do tempo em que
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era menino). Ao cair da noite, uma cama gigante se materializava no meio do quarto, com lençóis aveludados da cor de sangue e com dossel de renda branca. A princípio, Sophie não conseguia dormir, temendo que ele fosse aparecer no escuro. Mas ele nunca voltava; apenas na manhã seguinte, para o ritual silencioso de recusa da aliança. Lá pela segunda semana, Sophie começou a imaginar o que teria acontecido com as escolas. Teria sua rejeição prolongado a guerra entre meninos e meninas? Teria ela custado alguma vida? Perguntava-se o que teria acontecido com suas amigas Hester, Dot, Anadil e com Hort — mas ele não respondia perguntas, como se a aliança fosse o preço para seguir adiante. Desde que a levou até ali, aquela foi a primeira vez que ele disse algo. Agora, em pé ao lado dele sob a luz fraca do sol, Sophie via que não podia mais seguir em frente sem consequências. Havia chegado a hora de selar seu final com ele, ou ela também começaria a sumir bem devagar, até morrer. A aliança dourada cintilava mais forte na mão do Diretor da Escola, prometendo vida nova. Sophie ergueu os olhos para o menino sem camisa, rezando para ver motivo para aceitá-lo... e não viu nada além de um estranho. “Não posso”, ofegou, recuando junto a uma prateleira. “Não sei nada sobre você.” “O que você gostaria de saber?”, o Diretor da Escola a encarou, contraindo o queixo quadrado, e colocou a aliança de volta no bolso da calça. “Para começar, o seu nome”, disse Sophie. “Se eu for ficar aqui com você, preciso chamá-lo de alguma coisa.” “Os professores me chamam de Diretor.” “Eu não vou chamá-lo de Diretor”, Sophie retrucou. Ele cerrou os dentes, prestes a revidar, mas Sophie não se intimidou. “Sem mim, seu Infelizes Para Sempre não existe”, ela se antecipou, elevando o tom de voz. “Você não passa de um menino... um menino bem encorpado, forte, terrivelmente lindo, mas ainda um menino. Você não pode mandar em mim. Não pode me amedrontar para me fazer aceitá-lo como meu amor verdadeiro. Não me interessa se você é deslumbrante, rico ou poderoso. Tedros tinha todas essas coisas, e aí? Aquilo acabou muito bem, não acha? Mereço alguém que me faça feliz. No mínimo, tão feliz quanto Agatha, e ela não precisa chamar Tedros de Príncipe pelo resto da vida, não é? Porque Tedros tem nome, como todo menino do mundo, assim como você, e eu vou chamá-lo pelo seu nome, se é que você espera que eu lhe dê uma chance!” O Diretor da Escola ficou roxo de raiva, mas Sophie agora cuspia fogo. “É isso mesmo. Agora, eu que mando! Você pode ser o diretor dessa escola infernal, mas não manda em mim e nunca vai mandar. Você mesmo disse: o Storian não escreve porque está esperando a minha escolha, não a
12w sua. Eu que escolho se aceito a aliança. Eu escolho se esse será o Fim. Eu escolho se esse mundo vive ou morre. E terei o maior prazer em vê-lo virar pó, se você espera uma escrava em vez de uma rainha.” O Diretor da Escola a fulminava com o olhar, as veias pulsando no pescoço branco fantasmagórico. Ele mordeu o lábio com tanta força que Sophie achou que ele estava prestes a comê-la viva. Deu um passo para trás, apavorada, e o viu murchar com um suspiro zangado, desviando o olhar. Então, ele ficou quieto por um bom tempo, de punhos cerrados. “Rafal”, ele murmurou. “Meu nome é Rafal.” Rafal, pensou Sophie, perplexa. Num instante, ela o viu de maneira diferente: o tom leitoso de sua pele, o brilho adolescente de seus olhos, o peito estufado, tudo combinava com o furor e a jovialidade de um nome. Rafal. O que há em um nome que nos leva a acreditar em uma história? Ela subitamente sentiu um rubor de desejo, ansiando por tocá-lo... até lembrar-se do que significaria escolhê-lo. Esse menino havia matado alguém de seu próprio sangue em nome do Mal, e ele acreditava que Sophie era capaz de fazer o mesmo. “Qual era o nome de seu irmão?”, ela perguntou, contendo-se. Ele girou o corpo, com os olhos faiscando. “Não vejo como isso pode ajudá-la a me conhecer melhor.” Sophie não pressionou. Então, atrás dele, acima dos dois castelos negros à distância, ela notou a neblina se dissipando e revelando uma névoa esverdeada. Era a primeira vez em três semanas que ele abria a janela por tempo suficiente para que ela tivesse um vislumbre lá de fora. Mas as duas escolas pareciam terrivelmente silenciosas, sem qualquer sinal de vida em nenhum dos telhados ou sacadas. “On-onde estão todos?”, ela gaguejou, estreitando os olhos para a Ponte entre os castelos. “O que aconteceu com as meninas? Os meninos iam matá-las...” “Uma rainha teria o direito de me fazer perguntas sobre a escola que ela administra”, ele respondeu. “Você ainda não é uma rainha.” Sophie limpou a garganta, notando o volume do anel no bolso da calça justa que ele usava. “E... por que você está sempre mudando de roupa? É... estranho.” Pela primeira vez, o menino pareceu constrangido. “Diante de suas recusas, imaginei que se me vestisse como os príncipes que você tanto deseja, isso ajudaria a fazer com que as coisas progredissem”, ele coçou a barriga definida. “E aí me lembrei que o filho de Arthur não era afeiçoado a camisas.” “Não achei que o todo-poderoso hesitasse”, Sophie bufou, tentando ignorar o tórax perfeito. “Se eu fosse o todo-poderoso, poderia fazer você me amar!”, ele rugiu.
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Sophie ouviu a petulância em sua voz e, por um momento, viu um menino comum, apaixonado, lutando por uma garota que não conseguia ter. Então, lembrou-se de que ele não tinha nada de comum. “Ninguém pode fazer com que outra pessoa o ame”, ela disparou em resposta. “Eu aprendi essa lição do jeito mais duro do que qualquer pessoa. Além disso, mesmo que você pudesse me fazer amá-lo, você jamais poderia me amar. Você não consegue amar nada. Não quando abraça o Mal. Por isso o seu irmão está morto.” “No entanto, eu estou vivo por causa de um beijo de amor verdadeiro”, disse ele. “Você me ludibriou para beijá-lo...” “Você não me soltou.” Sophie ficou lívida. “Eu jamais o beijaria, e estou falando sério!” “Ah, é? Para que eu voltasse à vida, voltasse à juventude... o beijo tinha de ser recíproco, não?”, ele olhou no rosto estarrecido de Sophie e sorriu. “Sua melhor amiga certamente lhe disse isso.” Sophie ficou em silêncio. A verdade acabou com a briga. Da mesma forma que Agatha poderia ter segurado a mão de Tedros antes de escolher a mão de Sophie, Sophie também poderia ter mandado o Diretor da Escola de volta ao túmulo. No entanto, ali estavam eles, ambos lindos e jovens, vítimas de um beijo que ela estava tentando negar. Por que eu me agarrei a ele naquela noite? Era a pergunta que Sophie fazia a si mesma. Mesmo quando soube que era ele quem ela beijava? Olhando para esse menino de porcelana, ela pensava em tudo que ele havia feito para ganhá-la, passando pela morte e pelo tempo... a fé inabalável de que poderia fazê-la feliz, mais que qualquer família, amigo ou príncipe. Ele veio atrás dela quando ninguém mais a quis. Ele acreditou nela quando ninguém mais acreditou. A voz de Sophie embolou na garganta. “Por que você me quer tanto?”, perguntou, rouca. Ele a encarou, seu maxilar relaxou e seus lábios se abriram ligeiramente. Por um instante, Sophie achou que ele se parecia com Tedros quando baixava a guarda — um menino perdido brincando de gente grande. “Porque houve um tempo em que fui exatamente como você”, respondeu baixinho. Ele piscou depressa, puxando a memória. “Eu tentei amar meu irmão. Tentei fugir do meu destino. Até achei que havia encontrado...”, ele se interrompeu. “Mas isso só me levou a mais dor... a um Mal ainda maior. Parece que toda vez que você vai atrás do amor ele acaba o levando de volta para o mesmo lugar. Sua mãe, seu pai, sua melhor amiga, seu príncipe... quanto mais você busca a luz, mais escuridão você encontra. Ainda assim, você duvida de seu lugar no Mal.”
14w Sophie ficou tensa, e ele delicadamente ergueu o queixo dela. “Durante milênios, o Bem nos disse o que é o amor. Já tentamos amar do jeito deles, e só acabamos sofrendo”, ele disse. “Mas, e se houver outra forma de amor? Um amor mais sombrio que transforma a dor em poder. Um amor que só pode ser compreendido pelas duas pessoas que o compartilham. Por isso você retribuiu nosso beijo, Sophie. Porque eu a vejo como realmente é e a amo assim, quando ninguém mais consegue fazê-lo. Porque o que sacrificamos um pelo outro está além do que o Bem jamais poderá imaginar. Não importa se eles não chamam isso de amor. Nós sabemos que é, assim como sabemos que os espinhos fazem parte da rosa tanto quanto as pétalas.” Ele se aproximou e seus lábios roçaram na orelha dela. “Sou o espelho de sua alma, Sophie. Amar a mim é amar a você mesma”, sussurrou, erguendo a mão dela até os lábios e a beijando como um príncipe, antes de soltá-la, delicadamente. Sophie sentiu um aperto tão forte no coração que ele pareceu ter sido arrancado do peito. Em toda sua vida, ela nunca se sentiu tão despida. Aninhouse no manto preto, segurando-o mais firme junto ao corpo. Então, aos pouquinhos, olhando a simetria rude do rosto dele, Sophie sentiu a respiração voltar, e um calor estranhamente seguro transbordando em seu íntimo. Esse menino de alma sombria a compreendia, e, nas facetas de safira de seus olhos, ela viu o quanto eles eram profundos. Ela sacudiu a cabeça, aturdida. “Eu nem sei se você é realmente um menino.” “Se o seu conto de fadas lhe ensinou uma lição, Sophie, é que as coisas são como você as vê”, ele sorriu para ela. Sophie franziu a testa. “Não entendo...”, ela começou a dizer. Mas no fundo, entendia. O menino olhava o sol lá fora, fraco e enevoado, acima de sua escola, e Sophie soube que o tempo para perguntas havia acabado. Quando ele enfiou a mão no bolso, Sophie sentiu seu corpo inteiro tremer, como se estivesse em uma correnteza, sendo empurrada na direção de uma cachoeira da qual não podia escapar. “Nós seremos tão felizes quanto Tedros e Agatha?”, ela pressionou, com a voz falhando. “Você precisa confiar na sua história, Sophie. Ela chegou ao Fim por um motivo”, ele respondeu, virando-se para ela. “Mas agora é hora de você acreditar nela.” Sophie olhou para a aliança de ouro na mão dele, a respiração acelerando cada vez mais... Estremecendo, ela o afastou. Ele estendeu os braços para ela, que o empurrou de encontro à parede, pousando a mão em seu peito gélido. Ele não resistiu quando Sophie passou a mão em seu peito, com os olhos
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vidrados, respirando ofegante. Ela não sabia o que procurava, até encontrar... Sua mão pairou e pousou sobre o peito dele, onde o coração batia disparado. Devagar, Sophie ergueu os olhos para ele, sentindo o coração do menino batendo tão forte quanto o dela. “Rafal”, ela sussurrou, desejando que o menino ganhasse vida. As pontas dos dedos dele acariciaram o rosto de Sophie, que pela primeira vez não recuou da mão fria. Conforme ele a puxou para perto, ela sentiu as dúvidas se dissipando, o medo dando lugar à fé. Com a capa preta pressionada junto ao corpo branco, como dois cisnes, Sophie ergueu a mão esquerda sob a luz do sol, firme e determinada. Então, Rafal colocou o anel em seu dedo, o ouro aquecido deslizando por cada pedacinho de sua pele, até encaixar no lugar. Sophie ofegou e o menino branco como a neve sorriu sem jamais tirar os olhos dela. Nos braços um do outro, o diretor e a rainha se viraram para a caneta encantada, acima do conto de fadas, prontos para que ela abençoasse o amor dos dois... prontos para que ela finalmente fechasse o livro... A caneta não se moveu. O livro se abriu. O coração de Sophie parou. “O que aconteceu?” Ela seguiu os olhos de Rafal até o sol âmbar, que havia escurecido muito rápido. Seu rosto endureceu como uma máscara mortal. “Parece que nosso final feliz não é o único do qual a caneta duvida.”
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