Kelley ainda está aprendendo a lidar com o
Foto: lesleylivingston.com/arquivo da autora
fato de que é a Princesa das Fadas e possui magia em seu sangue. Ela só não esperava descobrir que, na verdade, o poder mais intenso e perigoso para qualquer ser, mortal ou imortal, é o amor.
Lesley Livingston é escritora e atriz, e
mora em Toronto, no Canadá. Tem mestrado em Inglês pela Universidade de Toronto, onde também se especializou em Literatura Arturiana e Shakespeariana. É cofundadora do Tempest Theatre Group, com o qual se apresenta. Desde criança, é fascinada por histórias de mitologia e folclore, civilizações antigas e heróis lendários, e acabou se tornando especialista em mitologia grega e celta, esta última rica em contos de outros mundos, magia e lendas do rei Artur. Sua intensa atividade cultural não a impede de cultivar outras paixões um pouco menos “intelectuais”: confessa que ama sem culpa sapatos e coisas brilhantes. Esta trilogia tem peças de Shakespeare como pano de fundo. Sonho de uma noite de verão inspira o primeiro volume, Romeu e Julieta é a base deste e A tempestade permeia o terceiro.
Depois de salvar o Reino Encantado da Caçada Selvagem, Kelley se vê novamente presa em Nova York, ensaiando sua nova apresentação no teatro, a peça Romeu e Julieta, e sentindo a falta de Sonny. Sonny faz parte de uma força do reino mágico conhecida como Guardiões Janos, mortais que tinham sido raptados ainda bebês, em várias épocas e locais, e levados para viver no Reino Encantado. Agora Sonny estava lá cumprindo seu papel, enfrentando o que restou da Caçada Selvagem e tentando controlar a temível rainha Mab. Até que, por acidente, Kelley retorna para o Outro Mundo e revê Sonny. O reencontro é alegre e apaixonante, porém destinado a ter um fim... Uma antiga e poderosa magia oculta retorna ao reino, e um novo inimigo extremamente perigoso está disposto a arriscar tudo para reivindicar o poder a que acredita ter direito. Presos no país das fadas em uma teia de mentiras, Kelley e Sonny precisarão ser cautelosos em cada estratégia na missão de salvar o mundo mágico novamente. Qualquer ação errada poderá resultar na derrubada do reino... ou separá-los para sempre. “À espera de Romeu encantará os fãs, e o gancho final fará com que eles implorem por mais.” VO I C E O F YO U T H A DVO CAT E S (VOYA)
Leia antes:
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ISBN 978-85-8235-327-1
9 788582 353271
“Os fãs do primeiro livro de Livingston, Nove noites e um sonho de outono, não vão querer perder esta sequência repleta de ação.” BOOKLIST
L E S L E Y
L I V I N G S T O N
A PORTA ENTRE OS MUNDOS AINDA ESTÁ ABERTA
tradução
Angela Cristina Tesheiner e Cláudia Santana Martins
Copyright © 2010 Lesley Livingston Copyright © 2010 HaperTeen, um selo da HaperCollins Publishers. Copyright © 2016 Editora Gutenberg Título original: Darklight Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja cópia xerográfica, sem autorização prévia da Editora.
editora
revisão
Silvia Tocci Masini
Pausa Dramática
editores assistentes
capa
Felipe Castilho Nilce Xavier
Carol Oliveira (sobre projeto gráfico de Marina Ávila)
assistentes editoriais
diagramação
Andresa Vidal Branco Carol Christo
Guilherme Fagundes
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil
Livingston, Lesley À espera de Romeu / Lesley Livingston ; tradução Angela Cristina Tesheiner e Cláudia Santana Martins. – 1. ed. – Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2016. Título original: Darklight. ISBN 978-85-8235-327-1 1. Ficção norte-americana I. Título. 15-11177
CDD-813.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813.5
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Para minha m達e
Sonho de uma noite de verão William Shakespeare
TITÂNIA [despertando]: Que anjo me tira do florido leito? BOTTOM [canta]: O pardal, a andorinha, o tentilhão, e o cuco, de singela melodia, que a muitos homens fere noite e dia sem que ousem dizer não – pois, na verdade, quem discutiria com um pássaro tão tolo? Quem diria que ele mente, embora fique repetindo “cuco” o tempo todo? TITÂNIA: Canta outra vez, gentil mortal, eu peço. O teu cantar agrada ao meu ouvido; e a tua forma encanta o meu olhar; diante de tais virtudes já proclamo e juro, sem desculpas vãs, que eu te amo. BOTTOM: Acho, minha senhora, que não tens muitas razões para isso. Mas, para falar a verdade, razão e amor quase não andam juntos hoje em dia. É uma pena que não se encontrem vizinhos leais que se disponham a torná-los amigos. E não é que de vez em quando eu consigo ser espirituoso? TITÂNIA: És tão sábio quanto belo. BOTTOM: Nem um, nem outro. Porém, se fosse esperto o bastante para sair deste bosque, já seria o suficiente para mim. TITÂNIA: Querer sair do bosque é um plano vão! No bosque ficarás, queiras ou não. Um espírito eu sou, muito invulgar; o verão ainda impera no meu lar; e eu te amo muito, vem comigo, então. Dar-te-ei silfos; servos teus serão, que te trarão do mar joias preciosas e embalarão teu sono sobre rosas. Da rudeza mortal vou te livrar, tornando-te um espírito do ar! Flor de Ervilha! Teia de Aranha! Mariposa! Semente de Mostarda!
Sexta-feira, 13 de novembro 1903
O velho jazia caído na calçada em frente a um triplex, na avenida Park. O sangue escorria por cinco pequenos furos de seu colete de tweed perfeitamente abotoado, como a seiva de um plátano na primavera. Em pé, inclinado sobre ele, com a pistola ainda quente na mão, estava um homem de olhos vidrados – desprovidos de pensamentos racionais, cheios de uma selvageria febril. Um Escravizado, pensou o moribundo, perguntando-se por um momento quem, de seu povo, teria se rebaixado a ponto de enviar o pobre mortal cativo e sem vontade própria para cumprir ordens desagradáveis. Não que isso importasse. Os olhos do velho voltaram-se para cima, passando do rosto do Escravizado para o céu de um azul intenso, apertando as lágrimas nos cantos das pálpebras. Ele se lembrou da primeira vez em que pusera os pés naquele mundo. E seus pés haviam sido os primeiros. Outros de seu mundo o seguiram, mas ele foi o único a levá-los para lá. Ele havia sido o mais importante do seu povo, o mais poderoso, aquele que descobriu uma passagem entre este mundo e aquele outro. Criara os Quatro Portais, um para cada Corte do 9
Outro Mundo, um para cada estação do ano; portais pelos quais o seu povo conseguia transitar livremente para saborear os deleites deste mundo novo em folha. Isso tinha sido antes de a humanidade estender as ávidas mãos, de as florestas cederem ao machado, de as campinas serem pavimentadas e os rios, represados. O velho havia aprendido a viver com os seres humanos, e os seres mágicos que o seguiram também tinham aprendido, encontrando maneiras de coexistir, da mesma forma que a vegetação abrira caminho por entre as rachaduras no concreto. Ele havia mudado os portais de lugar com o passar do tempo, por um motivo ou por outro – guerra, progresso, ou simplesmente porque, como costuma acontecer com os seres mágicos, estava entediado. Ainda se lembrava de quando a população mortal deste mundo se referia ao Portal de Beltane como os Jardins Suspensos da Babilônia. Isso fora antes de ele ter escondido o portal nas florestas verde-escuras da Irlanda. O Portal de Lúnasa ainda era chamado de Stonehenge – e provavelmente sempre o seria. O Portal de Imbolc, agora no extremo norte, nunca tivera um nome humano em nenhum dos lugares em que fora instalado – e Gwynn ap Nudd, o inescrutável rei da Corte da Primavera, preferia manter as coisas assim. Agora, com a transferência do Portal de Samhain, o velho finalizava o seu melhor trabalho. Sua criação seria admirada pelos mortais do Novo Mundo por séculos vindouros, e, mesmo assim, eles nunca conheceriam o seu verdadeiro propósito: abrigar um segredo dos seres mágicos, um portal para o Outro Mundo. Mas eles afluiriam para o Portal e o chamariam por seu nome humano: Central Park. “Andrew.” O velho piscou e olhou para cima, para a silhueta alta contra o céu. “Andrew, meu velho amigo…” 10
“Ah”, arfou o velho, lutando para se erguer sobre um dos cotovelos. Uma gota carmim deslizava do canto dos lábios. “Você está aqui.” “Não se mova, Andrew.” O homem alto se ajoelhou na calçada e pousou uma das mãos gentilmente sobre o tórax ensanguentado do velho. “Vou ajudar você.” “Sim.” Andrew Haswell Green, filantropo e um verdadeiro pai para a cidade de Nova York, uma das forças que impulsionaram a construção do Central Park, suspirou de alívio. “É bom que você esteja aqui.” “O que posso fazer?” “Carregar um fardo para mim.” “Qualquer coisa.” “Obrigado, velho amigo.” Green colocou a mão na testa bronzeada do outro homem. Por um momento, o pequeno pátio cinza na frente do triplex se iluminou com uma luz tépida, como a do sol que se infiltra por entre as árvores de um bosque. O ar frio de novembro se encheu de aromas inebriantes de cultivo e colheita, fermentação e decomposição vegetal. O outro homem suspirou e seus olhos se arregalaram, mas não tremeu ou se afastou. A transferência não levou muito tempo. Quando acabou, o outro homem deitou carinhosamente o seu velho amigo sobre as pedras e se levantou. Depois se virou e caminhou em direção ao norte, passando pelo edifício ornamentado do Grand Central Terminal, rumo ao parque, onde as árvores agora sussurravam o nome dele.
O A brilhante carruagem negra diminuiu o ritmo, até parar do outro lado da rua. Seu ocupante puxou a pesada cortina de veludo da janela, soltando um murmúrio de frustração ao ver o homem alto se inclinando sobre o corpo de Andrew Green enquanto a vida deste se esvaía. Quando o homem alto se ergueu 11
e andou em direção ao parque, o passageiro bateu no teto da carruagem. A rua ainda estava deserta, mas isso logo mudaria. Ao longe, ouviam-se sons fracos de vozes assustadas. O condutor da carruagem desceu da boleia para a rua. Os saltos de suas lustrosas botas com fivelas de prata ressoaram no concreto enquanto ele caminhava até o corpo na calçada e se ajoelhava ao seu lado. Após um momento, o condutor se levantou e retornou, levando consigo quatro fios grisalhos arrancados da barba do morto. Estavam manchados de sangue brilhante, retorcidos em quatro anéis e atados juntos. A gritaria estava mais próxima agora. Sem olhar para trás, o ocupante solitário da carruagem negra fechou a cortina e sinalizou ao condutor para seguir adiante.
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