Como na história contada por Paul Auster (Collected Prose, Picador). Um amigo andava desesperadamente atrás de um livro que queria muito, mas não conseguia encontrar em lugar algum. Após meses de busca, passando pela Grand Central Station, em Nova York, avista uma moça que lia exatamente o cobiçado livro. Aborda-a, conta que andava atrás do livro e pergunta onde poderia encontrá-lo. Ela diz que o livro é maravilhoso . “É para você”, disse. “Mas é seu”, disse ele. “Era”, respondeu ela, “mas terminei de lê-lo. Vim aqui hoje para dá-lo a você”.
Integre-se, pois, à corrente. Plugue-se. A uma tomada. Ou a uma máquina. Ou a outro humano. Ou a um ciborgue. Eletrifique-se. O humano se dissolve como unidade. É só eletricidade. Tá ligado? Leia também da coleção Mimo: • Manual do dândi – A vida com estilo Baudelaire, Balzac, D'Aurevilly • Meu coração desnudado Charles Baudelaire
M imo D. Haraway, H. Kunzru, T. Tadeu
O ciborgue nos força a pensar não em termos de "sujeitos", de átomos ou de indivíduos, mas em termos de fluxos e intensidades. O mundo não seria constituído, então, de unidades ("sujeitos") de onde partiriam as ações sobre outras unidades, mas, inversamente, de correntes e circuitos que encontram aquelas unidades em sua passagem.
Donna Haraway Hari Kunzru Tomaz Tadeu (Org.)
Antropologia do ciborgue As vertigens do pós-humano
Antropologia do ciborgue
Um mimo é um dom. Uma dádiva. Um agrado. Uma graça. Um mimo não é nada. Mas pode ser muito. Não tem cálculo. Nem intento. Não é pensado. E, contudo: escolhido a dedo. Um mimo é generoso, gentil, delicado. Uma joia rara. (Mas não cara). Pra alguém que faz anos. Ou sofreu desenganos. Mas também a pretexto de nada. Simplesmente porque você gostou. E lembrou de alguém que gostaria. Porque você botou o olho e pensou: é isso! Um mimo não é um objeto de desejo. Porque não é pra si. É pra outrem. E não é pra ostentar. É pra dar. Discretamente. Na cumplicidade de uma amizade. Ou na clandestinidade de um amor. Não é pra guardar como um tesouro. Porque não é pra dentro, mas pra fora. E não é da ordem da usura, mas da generosidade. É gratuito. Não espera nada em troca. Mas sem que você o saiba, acaba depositado. No fundo perdido do dom universal. Até que um dia, do nada, quando menos esperava, você recebe um. E o circuito se completa, mas também recomeça. E a lei do mimo se cumpriu. Quem mima mimado será.
• O casaco de Marx – Roupas, memória, dor Peter Stallybrass
ISBN 978-85-7526-395-2
9 788575 26395 2
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M imo
O ensaio de Donna Haraway que constitui o centro deste livro, “Manifesto ciborgue”, publicado pela primeira vez, nos Estados Unidos, no final da década de 1980, é hoje um clássico da literatura feminista sobre ciência e tecnologia. Sua importância pode ser avaliada pela quantidade e frequência com que é referido na literatura contemporânea de teoria social e cultural. É com esse texto que a figura do ciborgue torna-se um elemento reconhecido de análise cultural. Donna Haraway utiliza a imagem do ciborgue para problematizar uma série de pressupostos do pensamento contemporâneo sobre subjetividade, tecnologia, ciência, gênero e sexualidade. O ciborgue, na análise de Haraway, coloca em xeque os mitos de origem, as nostalgias de restauração, as fantasias de unidade e totalização e os raciocínios teleológicos. O mito do ciborgue serve, sobretudo, para questionar as dicotomias que têm servido de fundamento ao pensamento ocidental: mente/ corpo, organismo/máquina, natureza/cultura. Ao borrar as fronteiras entre o humano e a máquina, o ciborgue nos força a repensar a ontologia do próprio sujeito humano. É a nossa própria relação com a tecnologia que é posta em questão. Ao confundir o tecnológico com o humano, os artefatos tecno-humanos não nos deixam esquecer que a tecnologia não é simplesmente uma relação social, mas uma relação social fundamentalmente ambígua e indeterminada.
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