ISBN 978-85-8235-434-6
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Foto: Krista Schumow
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A. S. KING é conhecida principalmente
por seus romances para jovens, embora também escreva para adultos. Autora de prestígio, suas obras Os dois mundos de Astrid Jones e Todo mundo vê formigas integraram a lista do ALA Top Ten Book for Young Adults de 2012 e do Andrew Norton Award; com Please Ignore Vera Dietz, ela ganhou o Edgar Allan Poe Award e o Michael L. Printz Honor Book de 2011. Também é autora de The Dust of 100 Dogs e do premiado livro de contos Monica Never Shuts Up. Com Reality Boy e A história do futuro de Glory O’Brien ela venceu o Los Angeles Times Book Prize de 2012. Após mais de uma década morando na Irlanda – período em que se dividiu entre a restauração de sua fazenda, a alfabetização de adultos e a escrita de romances –, ela voltou para os Estados Unidos em 2004, e hoje mora com o marido e os filhos no estado da Pensilvânia.
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O fim do ensino médio é uma época de possibilidades infinitas – mas não para Glory O’Brien, uma jovem norteamericana que não tem nenhum plano para o futuro. Sua mãe cometeu suicídio quando Glory tinha apenas 4 anos, e ela nunca parou de se perguntar se seguiria o mesmo caminho... Até que numa noite transformadora ela começa a experimentar um novo e surpreendente poder que lhe permite enxergar o passado e o futuro das pessoas. De antepassados a muitas gerações futuras, a jovem é bombardeada com visões – e o que ela vê pela frente é aterrorizante: um novo líder tirânico toma o poder e levanta um exército. Os direitos das mulheres desaparecem. Uma violenta segunda guerra civil explode. Jovens garotas somem diariamente, vendidas ou confinadas em campos de concentração. Sem saber o que fazer, Glory decide registrar todas as suas visões, na esperança de que a sua História do Futuro sirva de alerta e evite o que vem por aí. Mas será que as pessoas vão acreditar nela? Será que estarão dispostas a fazer o que é necessário para impedir a concretização daquele destino medonho?
* * *
Nesta obra-prima sobre feminismo, liberdade e escolhas, A. S. King mais uma vez nos brinda com seu realismo fantástico para contar a história de uma garota que tenta lidar com uma perda devastadora.
“Glory é uma criação maravilhosa, sarcástica, espirituosa, sensível e perspicaz.” The New York Times Book Review
"A. S. King 'e uma das melhores autoras da atualidade." John Green
“Você não conseguirá abandonar essa história de uma garota que começa a ter visões do passado e do futuro, e que vê um fim aos direitos das mulheres e uma guerra civil entre os sexos.” Teen Vogue
Tradução: Eric Novello
Copyright © 2014 A.S. King Copyright © 2017 Editora Gutenberg Título original: Glory O'Brien's History of the Future
Este livro é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são o produto da imaginação do autor ou são usados de maneira ficcional. Qualquer semelhança com eventos, locais ou pessoas reais, vivas ou mortas, é mera coincidência.
Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja cópia xerográfica, sem autorização prévia da Editora.
EDITORA Silvia Tocci Masini
REVISÃO Andresa Vidal Vilchenski Carol Christo Nilce Xavier
EDITORAS ASSISTENTES Carol Christo Nilce Xavier
REVISÃO FINAL Mariana Paixão
ASSISTENTE EDITORIAL Andresa Vidal Vilchenski
CAPA Carol Oliveira (sobre a imagem de Anna Ismagilova [Shutterstock])
PREPARAÇÃO Silvia Tocci Masini
DIAGRAMAÇÃO Larissa Carvalho Mazzoni
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil King, A. S. A história do futuro de Glory O'Brien / A. S. King ; tradução Eric Novello. -- 1. ed. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2017. Título original: Glory O'Brien's History of the Future. ISBN 978-85-8235-434-6 1. Ficção norte-americana I. Título. 17-00878
CDD-813
Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura norte-americana 813
A GUTENBERG É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA São Paulo Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I 23º andar . Conj. 2301 . Cerqueira César . 01311-940 São Paulo . SP Tel.: (55 11) 3034 4468 www.editoragutenberg.com.br
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Para minhas meninas.
PRÓLOGO
O CLÃ DO MORCEGO PETRIFICADO ENTÃO NÓS DUAS bebemos. Ellie bebeu primeiro e agiu como se o gosto fosse bom. Eu bebi logo depois. E nem era tão ruim. Quando acordamos na manhã seguinte, o mundo estava diferente. Nós podíamos ver o futuro. Podíamos ver o passado. Podíamos ver tudo. Você pode estar se perguntando: “Por que beber um morcego?” Ou, “Como você bebeu um morcego?” Ou, “Quem faria uma coisa dessas?” Mas não estávamos pensando nisso na hora. É como estar em um trem veloz que colide, e alguém te perguntar por que você não pulou antes da batida. Você não pularia porque não poderia pular. Ele estava indo rápido demais. E você não sabia que havia uma colisão pela frente, então por que pularia?
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LIVRO UM
A ORIGEM DE TUDO A escola segue a mesma lógica que todo o resto. Você a frequenta porque te mandaram frequentar quando era pequena o bastante para dar ouvidos. Continua porque alguém te disse que era importante. Como se você fosse um trem em um túnel. E a formatura é a luz no fim do túnel.
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HIPPIES LOUCOS E ESQUISITOS ELLIE HEFFNER ME DISSE que no dia em que se formasse abandonaria a família e fugiria para sempre. Ela me dizia isso desde que tínhamos 15 anos de idade. “Eles são loucos”, ela dizia. “Hippies loucos e esquisitos.” Não tinha como contra-argumentar. Ela realmente morava com hippies loucos e esquisitos. “Pelo menos você vai voltar para me visitar?”, eu perguntei. Ela olhou para mim, desapontada. “Você não vai mais estar aqui ainda, vai?” Eu tinha uma semana pela frente. Mais três dias de escola: segunda, terça, quarta, e um bacharelado opcional na sexta-feira, então um fim de semana de intervalo para, enfim, me formar na outra segunda-feira. Eu ainda recebia cartas e cartões de várias faculdades na caixa de correio toda semana. Ainda jogava cada uma delas fora sem nem abrir. Era domingo à noite, Ellie e eu estávamos sentadas nos degraus da minha varanda, olhando para a casa dela, que ficava do outro lado da rua. “Eu não sei”, respondi. “Não faço ideia de onde estarei.” Não podia contar a ela a verdade sobre onde pensava que estaria. Quase fiz isso algumas vezes, momentos de fraqueza em que o medo me dominou. Quase contei tudo a ela. Mas Ellie era... Ellie. Desde que éramos pequenas, ela mudava as regras do jogo no meio do caminho. Você não conta seus maiores segredos de repente para alguém assim, não é mesmo? Mas prosseguindo... faltava uma semana para eu me formar. Eu tinha zero planos, zero opções e zero amigos. Mas não contei isso a Ellie porque ela pensava que era a minha melhor amiga. Era complicado. Sempre foi complicado. Sempre seria complicado. 11
A ORIGEM DO MORCEGO O MORCEGO VIVIA na casa da Ellie. Nós o vimos pela primeira vez num fim de semana em fevereiro. Ela apontou para o pequeno volume peludo aninhado no canto da varanda dos fundos e disse: “Olha ali, um morcego hibernando.” Nós o vimos novamente em março e ele não tinha se movido. Conversamos sobre o despertar vindouro do morcego e como em breve ele voaria sobre a superfície da lagoa de Ellie, comeria insetos recém-eclodidos e tocaria as pontas de suas pequenas asas na água. Mas a primavera chegou e o morcego não se moveu, não foi embora e não parecia estar se alimentando de nenhum dos saborosos insetos da lagoa da vizinhança. Um dos seus cotovelos – se é que morcegos têm cotovelos – se destacava um pouco, como se estivesse quebrado ou algo do tipo. Conversamos sobre como aquilo podia ser um machucado ou um defeito de nascença. “Da mesma forma que não consigo dobrar esse dedo para baixo completamente desde que o quebrei”, disse Ellie, me mostrando seu indicador da mão direita. A vida na comunidade de Ellie era diferente. Eles começavam a usar martelos antes de aprender a andar. Não tinham nada de plástico. Se balançavam em um balanço que tinha uma tábua de madeira como assento, brincavam no lago congelado sem a supervisão de um adulto e tinham tarefas rotineiras que envolviam animais. Ellie cuidava das galinhas. Uma vez, aos 7 anos, ela martelou e quebrou o dedo enquanto tentava pôr a maçaneta da porta do galinheiro de volta no lugar. Eu estava convencida de que o morcego já havia saído da hibernação e simplesmente se aninhava ali até de noite, sempre no mesmo lugar sob as cornijas da varanda dos fundos. Se fôssemos minimamente 12
espertas, teríamos esperado até o sol se pôr naquela noite para observar o morcego sair e assim saciar nossa curiosidade sobre ele, mas não foi o que fizemos. Ellie tinha tarefas da comunidade e um namorado secreto. Eu estava de saco cheio da escola e já tinha enrolado o máximo que podia e agora precisava fazer o dever de casa. Estávamos felizes acreditando que o morcego estava bem. Quando nos encontramos na segunda-feira de Páscoa no final de abril, o morcego ainda estava lá, cotovelo apontado para o horizonte ao leste, como estivera desde o inverno. Ellie encontrou um graveto e o cutucou, e então cheirou o graveto. “Não está fedendo”, ela disse. “E não tem moscas nem nada parecido.” “Morcegos têm pulgas?”, eu perguntei. “Ouvi dizer que eles transmitem pulgas, carrapatos e outras coisas nojentas.” “Acho que ele está morto.” “Não parece morto.” “Também não parece vivo.” Ela o cutucou de novo e ele não se moveu. Então ela cutucou com o graveto pela lateral, onde poderia forçar o morcego inteiro a sair dali com um empurrão, e ele caiu em cima dos lírios de verão da sua mãe, que estavam brotando. Ellie enfiou a mão na área verdelimão e puxou aquela coisa esquisita – perfeitamente intacto, ainda peludo, ainda com olhos, ainda com as asas de papel fino, dobradas como se estivesse descansando. Nós nos inclinamos e olhamos para ele. “Está petrificado?”, perguntou Ellie. “Está mais para mumificado.” Ela ignorou minha correção e colocou o morcego na mesa de piquenique, entrou em casa e pegou um pote de conserva. Tirei uma foto do pote. Pensei em um nome para a foto: Pote vazio. “É tão leve”, disse Ellie, pesando o morcego em sua palma. “Você quer segurá-lo antes que eu o coloque aqui dentro?” Estiquei minhas mãos. Ela o colocou na minha palma e nós olhamos para ele. Apesar de estar morto, Ellie parecia vê-lo como um novo bicho de estimação perdido que precisava de uma mãe ou algo assim. Quando o coloquei no pote, ela selou a tampa, o ergueu e disse: 13
“Eu o batizo de morcego petrificado! Ouçam-me, ouçam-me, o morcego petrificado é rei!” “Pode ser uma rainha”, eu disse. “Tanto faz.” Ela o inspecionou através do vidro. “Está vivo e morto ao mesmo tempo, ou algo assim.” “Sim.” “É o mais próximo que eu já estive de Deus.” “Amém.” Eu estava sendo sarcástica, porque Ellie dizia coisas assim de vez em quando e isso era irritante. Porque tínhamos 17 anos e aquilo era estúpido, nós duas encontrando um morcego e agindo como se fosse algo especial. Era o que crianças de 9 anos faziam. Mas então algo sério me ocorreu. Eu disse: “Espere um minuto. Deixa eu ver isso.” Ellie me passou o pote e, enquanto eu olhava para ele – um pequeno amontoado de pele mumificada – eu disse, “Talvez ele seja Deus.” O morcego estava morto, mas, de alguma forma, ele representava a vida porque parecia vivo. Ele era misterioso e óbvio, tudo no mesmo pacote vazio e leve. “Vamos colocá-lo no galpão”, disse Ellie. “Minha mãe nunca o encontrará porque é lá que mantemos os produtos de limpeza.” A mãe da Ellie não acreditava em faxina. Minha mãe estava morta, e eu não tinha ideia se ela tinha sido obsessiva por limpeza ou não.
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A BALADA DE DARLA O’BRIEN MINHA MÃE NÃO ESTAVA convenientemente morta, como em tantas histórias sobre crianças que engarrafavam morcegos ou que eram atraídas até bestas que viviam em castelos nos bosques. Ela não morreu para me ajudar a superar algum obstáculo ou para me tornar um personagem mais fácil de simpatizar. Ela me assombrava – e não de uma forma corriqueira e hollywoodiana. Não havia lençóis flutuantes nem correntes estalando à noite enquanto eu ia ao banheiro na ponta dos pés para fazer xixi. Minha mãe, Darla O’Brien, tinha sido uma fotógrafa. Ela assombrava as paredes da casa com fotos. Ela estava sempre lá e nunca estava. Podíamos nunca vê-la, mas víamos as fotos dela todos os dias. Ela era uma grande fotógrafa, mas nunca ficou famosa porque não morávamos em Nova York. Pelo menos era o que ela dizia. Morrer também não a deixou famosa. Independentemente disso, ter uma mãe morta não é conveniente, especialmente quando ela morreu porque enfiou a cabeça no forno e abriu o gás. Isso não é nada conveniente. Contudo, creio que existe alguma conveniência em ter uma máquina da morte bem ali na sua cozinha, à disposição no momento em que você finalmente arruma coragem de usá-la. Diria que é mais conveniente do que um drive-thru de lanches. Afinal, você nem precisa sair de casa para enfiar sua cabeça no forno. Você nem tem que tirar o seu roupão de banho. Não precisa nem mesmo levar sua filha para a pré-escola quando é o Dia da Letra N e ela está pronta para te mostrar sua coleção de nozes. Você não precisa se lembrar de fazer nada além de inspirar e expirar. Mais conveniente impossível. O que é inconveniente: viver em um mundo onde ninguém quer falar com você sobre a sua mãe morta porque isso os deixa 15
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