Os diários de Amora

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JORIS CHAMBLAIN - AURÉLIE NEYRET

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JORIS CHAMBLAIN - AURÉLIE NEYRET

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VOLUME 1

O ZOOLÓGICO PETRIFICADO tradução Fernando Scheibe



E ra um a vez...

Q uand o eu era pequena, fiz a promessa de que, se u m dia tivesse um diário , ele começaria assim. Adoro ler histórias e as minhas preferidas c ome çam sempre com “E ra uma v ez... ” Então , era u ma v ez... e u, Amora! Tenho dez anos e m eio e meu son ho é s e r escritora. A dor o esc reve r. E ado ro l er roma nces , H Q s, re vistas ci entí f icas... M in h a m ãe s empre m e disse q ue o v o ca bu lário seria m in h a melh o r arm a na vi d a. A ntes eu não enten di a isso muito bem . A g ora si m . L er é desco brir, via jar , m as tam bé m aprender o sentido das palavras e, sobretudo, apren d er a u sá –las. É muito imp orta nte p ara compr eend er as co isa s e prestar a tenção à quilo que nos di ze m .

E o meu tru que para co ntar his tór ias é obser var as

p essoas, imaginar suas v id as, seus s egre dos. T odo s t emos um segredo guardado bem no f un do da ge nte. Um segr edo que não c onta mos par a ning ué m, mas q ue f az de nó s o que so mo s. P or isso, sempre ten to desco brir es se “al go ” qu an do enc ontr oquê. as pessoas. Fa ç o isso desd e pequena, não sei mu ito bem por A c h o que isso me ajud a a ente nd ê–las melh o r... N e ss e ex at o mo me n t o, eu e minhas ami g as esta mo s obse rva ndo a lgu ém m uit o m isterioso. Esp ero que a ge nte acabe de scobri ndo seu segr edo. E ntão vou p ode r co nt ar sua histó ri a intei r a. Já te nh o o in íci o! E la co me ç aria as sim : E ra um a vez...


Am g or a

q ue ten ho o i ní c io da i nh a h is tó r i a, de v o, c omo b o aa es cr ito r a , ap re senta r otos dpae rson g en s. E nã o p de ri a co meç ar se nã o p o r el a: om i nha el a nu m a ca sa mbãee m! grV iav no d ec o m c am p o, qu e pe r ten cia a se u no tio –a vô ou al g o p ar ec id o, m as nã o ten ho m ui ta ce r teza. Foi el a qu e c om p r o u es s e a mi m . esEc r emvee r !d isEse :um“S ed qu e r se r esdciárritioo ra,p a rpre E s sa é m in h a m ã iáe . r io p o d e se r u m b o m c icsao me ç o .” E l a n ã o g o st a q ue e a c o m a s enh o r a D es uj ap ss e m ui to te m p o P r ef er e q ue eu � in q uer d in s , nos s a vi z inha. m in h a i d a de. M a s n p c o m m en in a s da d e acr e d it a r n o m em o r is s o m e im ped e T er m e d a d o es se eud iásor n h o . d e m e a j uda r a r ea io é o j ei to d el a l iz E l a n ã o sa b e d e t o d a s á – l o ! in ve st i g a ç õ e s q u e eu fa a s p e ss o as, e a c ho q u e ç o so b r e a s A ve r d a d e é q ue n cn ão a p r o va r ia . A g en te n em se mp r e un a p er g un te i p r a e l a .. . a m o m es m o a ss i m. Ase en te n d e, m a s e u a vo u e scr ev er um l ivr o f ina l , é m in h a m ã e! U m d n un c a con se g ui d zer só p a r a e l a e d i r e i a q ui ia i l o q ue H á p a l a vr inh a s a ss imd, i rq uei to : o �ig a d a . e n ã o sã o fá c ei s q ue f i c a m p r es as n o fundo da garg d e d i z er , a a . n t S e r á q u e m i n h a mã e que s e r ec us a m a s a ir ta m b ém te m p a l a v r a s ?


L ine e Eri c a,

mi nh a s am igas p ar a to d a a vi da .

N ã o consi g o m ai s pensa r em u ma sem pe nsar na ou tr a, d e t an to qu e e la s se comple tam . À s v ez e s, che go a té a t er c iúm e da cum p lic id a de d e l as. A g en te se c onh ece d esd e bem pe qu ena s. O u s ej a, d esde que ch egue i a o vilar ej o. ine e Eri ca já se con he ciam ante s d e L apr e nder a a n da r! a em pe ssoa . É es per t a e tem L iuman e éveradadd oçur ira e alm a de ar tis ta. A in da v ai se t or nar u ma gr e fotó gra lo go , lo g o e la vai ser titiand a , sua i rm ãfa.estáAlesiás, ran pe um be bê – que el a está l ouca pa r a m et raldoh ar com a c âme ra ! E nqua nto isso , Lin e vai trei na nd o com o i rmão ma is no vo. G o stqo da simp lici dade e da fra nque z a dela . L ine f a la o u e pen sa, sem nu nc a zom ba r de nin g uém . À s vez es , gos t a r ia de ser um pou c o ma is par eci da c o m e l a ... Er ica é ex atame n te o op ost o de L ine . E st á sem pre recl ndo. M as no fun do é le ga l. É qu e ela te m qu atro irmãama ma os i s os e aí f o i o �i g a d a a apre n de r a se de fen der! E u velh i ne já ne m damo s bola qua ndo el a rec la ma, estam ose Lacos tuma d as. Sseuseus pa isostra nsm iti ram a ela e a irmã verd ade i ros va lor es de resp eito s tida d e par a que sej am pesse odea s hone e d be m . mpr e En o en a tã se el s qu e as cois as nãote esmatãlo seexa ta men te co mo de via m esta r. Rec lam ar é o je i to d ela de ten ta r as cois as me lhor are m. Ef azer eu a resp eito por i sso .

Er ic a e L i ne , vo cês s ã o as

mi nh as m e lho res ami g a s !


ns ra D esja rdi Enc o ntrei vaez sennho a pela pr ime ira pra escgol a.e. E l r foumi a a nent Te noss dar um a ofi cin a a mor a do no o i ecid conh e scr tora ecios o. El aexernoscí é a l go pr ersos vil a rejopar cios div bo tou e aeu fa ze dir vert o. muit i me de es cri ta Foi nes se d ia qu e , gr a ças a ela ,

des c o � i q u e eunc es.t am bém quer ia es c rev er r om a desd tão

en Fic amo s am i g aas sae delae pa v ersa r, vou enmui to àmaic s so� e seu trraa bacon lho, apr der per unt . g as.. on de f az er u mj á m sste mi a mãe não Co mo que dieu e,vá t annhto l á. g o sta À s ve zes, v ou esc o ndi d a! me dou ev er esta s luiinhas oisa Mas aode escr c on ta qu e não seia mDetasjarc di ns vive so� ne e la . mA sen hor sozi ha nu a c as a �rim g ran de.os ? u m mma doper? F i lhtar. Nã o s e i S er á q u e t em age gun N ão te nh o co r se de a... faç q El a vi ve u m pou co se é p er gunta ue ebe muit as visi tas. rec isol ad a, não Mas não p are c e ser u ma pe ssoa tri ste . a J á el a sabe umquem ont e de co isas so � e m imvr. T enho me lê c om o um li o a bert o! im pre ssão de gela r na da não p oder esc onde Às v ez es é consqutran ed or rec o ndo n ã o di g na da , pa e del a. M esm o q a estou sentin do. p oder. Ta lvez eu sa ber o ue aria Adora à meter esse f or cre sce n do... dida que c onsig


An tes de começa r o en red o ta mb ém é p rec i so mo nta r o c ená rio . na s e eu te m o s um lu ga r ó tim o pAsa ram eni viv er gr a n de s a ve ntu r as no ssa ca sa na ár vo re se cr e ta! O s irmã os a no s a j ud a r a m ba st an t e a c ondast ruEric ir E p ar a mo �liá– l a .de scolam os mó v eis v elh o s n as lix e ir as . F o i mu ito di verti d o. Só nã o c onc o rd am os na esc o lh a d as co r tin as. as te nh o cer t eza d e qu e M e nco ntr ar emo s uma s olu ção. F oi do a lto dess a ca sa na ár vo re q ue av i stamos n osso “S e nho r Mi s tér i o” p ela pr i me ir a v e z. E u t in h a que co nta r is so !


C o m o tu do co me ço u .. .

F oi a Li ne qu e o v iu pe l a prim e ira v ez. E stáv amos � inca ndo n a n oss a ca sinh a secr eta . Na ce r ta, Er ica es ta v a re clam ando d e al gum a c ois a: d o ven to q ue en tra p ela s fre sta s, do sofá desg astado d em a is pa r a se r con fort á vel.. . en quan to eu t erm inav a d e ano tar id eias de d ecor açã o pa ra a c asa na árvore. Li ne est a v a foto g ra f ando os páss aros do s a rred ores qua ndo, de re pen te, f i co u par alis ada. T inha aca bad o de nota r al g u m a co isa na le nte da c âmer a. Um h ome m ve lho ap arece u na tri lha , s ai ndo do ma to, co � r to de t int as de toda s as c ore s. Fic amo s ate rr or iza das! E l e ti nh a tin ta n o r osto , nas m ão s, nos sa pa tos. O h omem seguiu em frente e des a parec eu. Fic a mo s m orren do de me do, tod a s as pat rêrs, por m ais sasq ue E ric a dis sessque o contrá rio . Vo l tamos voa nd o a n ossa s nac a prom etendo e n ão co lo carí amos os pé s de novo f lore sta tão ced o. Só qu e as s i m q ue che g u e i em ca s a , come cei a me f a zer perg un tas. Q ue m era e le? P o r q ue tod a s aqu e l a s co res ? Pa ssei a n oit e . i nte ira i ma g in ando um m ont e de c oisa s so �eno a v idaeguin desse homem zin fu qui ra ia re ntã a lo a limpo. E o, d s te, i so ha t i r árvore P cisava para a casa na e f i q uei l á, espe ran do. M as e l e n ão apa rec eu. V oltei lá to do s os di as, na es p er ança de ver aquele homem de novo . L evou um a sem ana pa ra is so aconte cer. Mes mo ri tual: e l e sur g iu do m ato c om as rou pa s co �r tas de tin ta e xi desa pa receu na tr ilha. N ão tive coragem de me ap ro ma r.

pa de tão, ns e g ui pens numa coisa: euA q ueriartiresta r enlá n o sómomcoento e ma qu e earle entras se na ssim e f lo resta! Tal v ez a pu des se des ven dar s u mist ér io? E is so aco ntec eu nu m do min g o. Os si nos da i g rej a aca bava m d e s oa r n ove hor as D on g . D o n g . D o n g . . .


Amora?!?

O que está fazendo de pé a essa hora??? Em pleno domingo!!!

A gente terminou de construir a casa na árvore! Combinamos de nos encontrar cedo pra decorar ela.

Uma casa na árvore, é? Na minha época a gente chamava isso de “ter um namorado”!

Pfff!

Fica tranquila, mãe. Qualquer coisa, estou com o celular. Até mais tarde! Está bem, mas não volte tarde!

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É uma ideia típica da minha mãe. Comprar um celular só pra “se for o caso”. A frase é dela. Quem é que ele deve tranquilizar? Eu ou ela? Minha mãe é um personagem e tanto. Um dia tenho que escrever um livro sobre ela.

Escrever romances. Imaginar a vida das pessoas...

...Fazê-las viver um monte de aventuras. Imaginar os perigos que vão enfrentar...

...quem vão combater, que vão amar...

Ulysse é muito romântico. Adora histórias de amor.

Como esse pateta do Rémi! Quando é que vai se decidir a oferecer essas flores pra Julie?

E aposto que Ulysse abriu a loja só pra ele!

Ou então Guy, o plantador de legumes...

...ele diz que perdeu a perna quando foi atropelado por um trator, mas tenho certeza que é mentira!

Na verdade, Guy é um ! p i r a ta

E fo i u m

terrqueívelcomteuubarão

! e l e d na r a pe

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E le cava a ter ra o ét emp o todo p ara acshaour os! te r


Bom dia, senhora Desjardins!

Bom dia, Amora “dos Campos”!

Adoro a senhora Desjardins. Um dia serei escritora como ela.

As pessoas acham que ela é meio louca porque se veste sempre de um jeito estranho.

Mas eu sei por que ela faz isso! Para se colocar “na pele do seu personagem”, como ela diz. Isso é muito importante para quem escreve, parece.

E hoje é minha vez de “observar” alguém...

Foi ela que me ensinou a “observar” as pessoas. A tentar adivinhar o que se esconde por trás das aparências ou pelo menos descobrir o que querem expressar.

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Aonde vai correndo assim, minha pequena Amora?

Vê se não pisa nos meus cogumelos desta vez!!!

Vou passear na floresta, senhora Galinier!

E la é u ma espécie de � u xa, tenho cert e za.

Senão, como saberia q ue fui mesmo eu q ue esmaguei os cogumelos? A senhora Galinier vai me cozinhar no caldeirão dela se eu pisar neles de novo...

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Prometo!


Aqui estamos!

Ufa!

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Vamos, Amorinha. Agora é contigo: observa e compreende!

Pouco depois...

O “Senhor Mistério” chega bem na hora!

Mas o que é que...?

Uaaau!

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Ele é magnífico! Mas o que será que vai fazer com...

Mãe?!

Sim, tudo certo... Não, não posso falar agora.

O que você... sim... Sim, eu volto pro almoço...

Beijos e até logo...

Eu também, mãe.

Essa não!

Para onde ele foi?!


Aaah... sempre a mesma coisa.

Assim que desvio os olhos o “Senhor Mistério” aproveita pra desaparecer.

Como vou fazer pra espionar?

Ele não pode estar muito longe...

Oh?! Como alguém pode desaparecer tão rápido?!

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