O dia de Julio

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GILBERT HERNANDEZ


TRADUÇÃO

JIM ANOTSU



Copyright © 2019 Editora Nemo Todos os personagens, histórias e arte © Gilbert Hernandez, 2013. Direitos de tradução por meio de Fantagraphics Books & Am-Book (www.am-book.com). Publicado originalmente nos Estados Unidos por Fantagraphics Books, 7563 Lake City Way NE, Seattle WA 981145 (fantagraphicsbooks.com) Todos os direitos reservados. Título original: Julio’s Day Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. editor responsável

Arnaud Vin editores assistentes

Carol Christo Eduardo Soares assistente editorial

Pedro Pinheiro revisão

Eduardo Soares adaptação de capa e miolo

Guilherme Fagundes Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Hernandez, Gilbert O dia de Julio / Gilbert Hernandez ; tradução Jim Anotsu. -- 1. ed. -São Paulo : Nemo, 2019. Título original: Julio’s day. ISBN 978-85-8286-486-9 1. Histórias em quadrinhos 2. Século XX I. Título. 19-24811 CDD-741.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5 Iolanda Rodrigues Biode - Bibliotecária - CRB-8/10014

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IntroduCAo Por Brian Evenson

“[...] um dia nascemos, um dia morremos, o mesmo dia, o mesmo segundo, será que isso não lhe basta?” - Samuel Beckett, Esperando Godot

O

dia de Julio, de Gilbert Hernandez, pode ser lido como uma ilustração do trecho acima, da peça de Beckett, e das palavras que o seguem: “O nascimento ocorre com um pé na cova, a luz brilha um instante, e depois surge novamente a noite”. A graphic novel começa com um quadro de escuridão, de vazio, mas no segundo quadro estamos afastados o suficiente para ver que a escuridão é o interior da boca de um bebê. O bebê é Julio, e nós iremos acompanhá-lo, junto de sua família, por exatas cem páginas, e então ele morre. Vamos deixá-lo da mesma forma em que o encontramos, mas em ordem reversa: O penúltimo quadro oferece a boca devastada de um homem velho, seguido por um quadro final de escuridão e vazio. Mas onde Beckett vê a brevidade da vida humana como motivo para desespero e desalento, Hernandez está interessado em celebrar a vida em sua completude, em

todas as suas decepções e alegrias, seus ápices e quedas, com todos os riscos e limitações. Apesar da morte, da doença, do abuso, e da guerra que preenchem essas páginas, apesar das muitas contendas familiares e pessoais, existe pouca amargura aqui. Os personagens de Hernandez possuem uma memorável habilidade de persistência, de seguir adiante. Mesmo aqueles que lutam para encontrar seu lugar em uma geração (inclusive aqueles que nunca se libertam da negação sobre quem são de verdade), ajudam a pavimentar o caminho para a liberdade daqueles que vêm depois. O dia de Julio é a história da vida de um homem, mas é bem mais do que isso também. É a história de vida de um século contada como se fosse um dia. Começando com o nascimento de Julio em 1900 e terminando com sua morte em 2000, a graphic novel toca em muitos dos grandes eventos que formaram


o século XX. Vemos guerras, clima desastroso, mudança da moda, mudança de atitudes, mas Hernandez, sabiamente, não nos dá tudo isso em termos históricos. Na verdade, além das imagens e falas dos personagens (não há recordatórios), ele não faz nada para indicar em que parte do século estamos. Os personagens não nos alimentam com informações: o princípio que guia Hernandez é permitir que digam apenas o que é natural, e dizê-lo apenas quando for natural. Hernandez trabalha de forma hábil, através de inferências e sugestões. Não sabemos, por exemplo, o motivo de o pai de Julio fazer aquela viagem que quase o mata (e que acaba selando o destino do irmão de Julio anos depois) até que chega a seu destino, e isso nos é revelado através de várias imagens bem encaixadas e dois balões de fala. Esta é uma das forças de O dia de Julio e uma das grandes qualidades do estilo de Hernandez como um todo. Ele aborda vários temas sérios, mas o faz com incrível leveza. Ele aborda o que estiver em cena com uma atenção que parece ao mesmo tempo fugaz e completa, e ele pode mudar rapidamente de uma cena para outra sem perder o nosso interesse ou nossa atenção.

Os personagens podem passar voando por nós, estar presentes e incrivelmente desenvolvidos por alguns quadros, e então desaparecem completamente pouco depois. Mas podem de maneira igualmente fácil reaparecer depois de uma ausência de oitenta anos. Até mesmo os personagens mais centrais podem envelhecer dramaticamente de uma página para outra à medida que os anos passam e ainda assim continuarem reconhecíveis. A velocidade incrível com a qual as coisas mudam a cada página e até mesmo de um quadro para o outro é um dos verdadeiros charmes de O dia de Julio. Hernandez não nos guia com mão de ferro: ele nos deixa descobrir as coisas sozinho, assim como fazemos na vida real. Ele não insiste nos ecos que acontecem através das gerações ou entre personagens, mas deixa o fio lá para que o encontremos. Ele nos permite fazer nossas próprias conexões tênues, o que torna todas elas mais poderosas e mais valiosas. Esta é uma graphic novel incrível, feita por uma das maiores vozes da indústria dos quadrinhos, e que guarda surpresas até mesmo para aqueles aficionados por outros trabalhos de Hernandez.

Brian Evenson é o autor de Windeye, Last Days, Fugue State, The Open Curtain, Immobility e Altmann’s Tongue, entre outros. Recebeu vários prêmios, incluindo uma bolsa NEA, três prêmios O. Henry e o prêmio da Associação Americana de Livrarias por Melhor Livro de Horror. Vive e trabalha em Providence, Rhode Island, onde dirige o Programa de Artes Literárias da Universidade Brown, é tradutor do francês para o inglês, e, claro, escreve.


JULIO

O PAI DE JULIO

A IRMÃ DE JULIO, SOFIA

O COLEGUINHA DE JULIO, TOMMY

O MARIDO DE RENATA

O IRMÃO DE JULIO, BENJAMIN

AMIGA DE JULIO, ARACELI

A ESPOSA DE BENJAMIN, TAMIKO

O MARIDO DE SOFIA, CHATO

O FILHO DE RENATA, JULIO TOMAS

A MÃE DE JULIO

O TIO DE JULIO, JUAN/IRMÃO DA MÃE DE JULIO

OS FILHOS DE SOFIA, RUBEN E JULIO JOSE

A FILHA DE SOFIA, RENATA

O NETO DE RENATA, JULIO JUAN

A ESPOSA DO TIO JUAN



ACHO QUE JULIO VAI SER CANTOR DE ÓPERA.

OU POLÍTICO!


TODO ORGULHOSO DE SER TIO OUTRA VEZ.

MEU CUNHADO, AGORA COM UM BELO FILHO!

O BOM E VELHO TIO JUAN; ESTE SOU EU!

QUE SORTE!

A MINHA VELHA ESPOSA É MALVADA DEMAIS PRA TER FILHOS.

OLHA A BOCA, JUAN.

NÃO ESCUTE ISSO, JULIO.


JULIO!

POR QUE É QUE TÁ TODO MUNDO GRITANDO JULIO JULIO?

JULIO!

SOFIA! ELE NÃO SABE FALAR!

AJUDE A ENCONTRAR SEU IRMÃOZINHO!

JULIO?


SOFIA, NÃO!

VÁ POR ALI!

NÃO DESÇA LÁ! EU JÁ OLHEI!

SIM, TIO JUAN.

É SUA CULPA!

ACHARAM O JULIO!

O TIO JUAN O ENCONTROU!

SEM MAIS SUSTOS ASSIM, OUVIU, JULIO?

PUFF!

MINHA CULPA? ERA VOCÊ QUE ESTAVA CUIDANDO DELE...!

O QUÊ? FOI O TIO JUAN QUE O PERDEU!

ENTÃO PRESTA ATENÇÃO NO QUE ESTÁ FAZENDO DA PRÓXIMA VEZ.

NADA.


NÃO DEIXA ELE SENTAR..! O JULIO OUTRA VEZ.

AH!

CUIDADO ATRÁS DE VOCÊ.

OINC!

AS PESSOAS VÃO ACHAR QUE VOCÊ E O JULIO VÃO SE CASAR.

SAI DAQUI!

POR QUE ELE FICA ASSIM O TEMPO TODO?

SEI LÁ.


POR QUE FEZ ISSO?

EU NÃO FICO TÃO TRISTE QUANDO ALGUÉM MORRE, JULIO, PORQUE ELES VOAM PARA LONGE, PARA EXPLORAR AS ESTRELAS E OS PLANETAS.

QUANDO CHEGA A NOSSA HORA, A GENTE SE JUNTA A ELES NESSA VIAGEM PELO UNIVERSO.

FOI CULPA SUA!


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