Cerrado em Quadrinhos

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Arnaud Vin editores assistentes

Carol Christo Eduardo Soares revisão

Renata Silveira diagramação

Guilherme Fagundes

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Alves Cerrado em quadrinhos / Alves. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2015. ISBN 978-85-8286-267-4 1. Cerrado 2. Conservação da natureza 3. Histórias em quadrinhos I. Título. 15-08781

CDD-741.5 Índices para catálogo sistemático: 1. Histórias em quadrinhos 741.5

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“Jura que pode?” O Alves não escondia o espanto. “Em quadrinhos? Sobre o Cerrado?”, continuava. “Sim, por que não?”, respondia-lhe com outra pergunta. Conversávamos sobre seu trabalho de conclusão de curso (a “fatídica” monografia que todos os graduandos em Geografia tinham que fazer se quisessem se formar). Estávamos no ônibus que nos levaria para um trabalho de campo na Serra do Cipó e já havíamos passado pela sua Lagoa Santa adotiva, em meio ao Cerrado degradado da MG-10. Nessa altura do curso, o Evandro da sala de aula já havia se tornado Alves para mim, e nada mais natural do que eu incentivá-lo a juntar três das coisas de que ele mais gostava: Quadrinhos, Cerrado e Geografia. Como professor de Biogeografia e de Fitogeografia, seria um privilégio tê-lo como orientando. Na minha maneira de encarar e conceber a Geografia, a chance de chamar atenção para a situação do Cerrado brasileiro era única, e o Alves, a melhor pessoa para avançar na ideia. Dito e feito! A conversa virou projeto, que virou monografia, que virou dissertação, que virou este belíssimo livro que agora tenho a honra de prefaciar. Arte a serviço da ciência, ciência a serviço da arte. Ou melhor dizendo, como escreveu Alves em sua dissertação: “A ciência da arte e a arte da ciência”. Sonho de qualquer professor, alunos que viram amigos e que viram parceiros na luta e na divulgação de uma questão

tão urgente como a situação atual do Cerrado. Como sempre falo em sala de aula, a Biogeografia que eu tento passar não abre mão da palavra Geografia, e essa Geografia não é só das plantas ou dos animais – é uma Geografia que não pode perder de vista a interferência humana no espaço e suas consequências. E o Alves, com seu talento e traço únicos, captou essa essência de maneira magistral, colocando o dedo na ferida aberta/ambiental na qual hoje nosso Cerrado se constitui. Mestre na Geografia, mestre no traço e mestre no Cerrado, eu acrescentaria uma terceira cabeça nesse Piter Alves Gast camaleurubuônico, mestre multifacetado, de várias asas, cérebros e mãos cheias! As aulas eram à noite. Mesmo cansados, eu inclusive, a maioria tendo trabalhado durante o dia, a turma era animada e encarava cada aula com alegria e empenho. Sentado sempre próximo à janela, na lateral da sala, o Alves, que ainda era Evandro para mim, observava atentamente a movimentação geral, caderninho e caneta na mão e sorriso no rosto. Seu olhar não deixava passar nada, e a cada fim de noite eu podia observar algumas cenas do que tinha acontecido durante a aula – caricaturas, traços, expressões, figuras relacionadas ao tema da aula, das várias que pude compartilhar com o Alves. Descobria então que “anotações em sala de aula” poderiam ter outros, e muito mais interessantes, significados.

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Primeiro na graduação e depois na pós-graduação, sou testemunha da maestria com que o Alves se desdobra quando o tema é o Cerrado, e isso está refletido em cada tirinha aqui apresentada. Os personagens, as paisagens, as situações, as perspectivas, estas – via de regra –, sombrias, para esse combalido bioma. Meus alunos sabem como sou pessimista em meus discursos em sala de aula, e o desaparecimento do Cerrado é um dos grandes causadores desse estado de espírito. O Cerrado não tem por que desaparecer, mas enquanto formos prisioneiros dessa lógica econômica perversa, ele está correndo um gravíssimo risco. Para o Professor Altair Sales Barbosa, uma das maiores autoridades brasileiras em Cerrado, ele já está extinto... Ouvi de Davi Kopenawa Yanomami, uma vez, que ele e seus companheiros yanomamis observavam, da lonjura de suas terras na divisa entre o Brasil e a Venezuela, o avanço do “capital”, que eles chamam de Cobra Grande, devoradora de tudo. É essa Cobra Grande que vem deixando um rastro avassalador de destruição por onde passa, e que faz com que a dor do Cerrado já se faça sentir hoje na periferia da Amazônia. Belezas e importâncias não se comparam, mas o Cerrado tem se parecido muito com uma gata borralheira diante de seus biomas vizinhos, beldades como a Floresta Amazônica, o Pantanal e a Mata Atlântica. Biomas igualmente belos e importantes, eles têm, no entanto, recebido muito mais atenção das pessoas e da mídia em geral. Corramos para

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acudir o Cerrado como que a amparar alguém que clama por socorro. Do alto de seus talentos, com sua visão de ave de rapina, o Alves nos oferece um excelente ponto de observação/reflexão e posto avançado de combate. Oferece uma belíssima publicação que tem todas as condições de fascinar aqueles que querem bem ao Cerrado e que ajudará a despertar o interesse naqueles que não o conhecem tão bem. Um convidativo recurso para ser usado e abusado em sala de aula para aguçar o espírito crítico de quem mergulhar neste instigante universo artístico-científico. Cobra Grande não! No Cerrado, quem tem que falar mais alto é o minhocuçu! E o manuelzinho-da-crôa, as comunidades indígenas, o lobo-guará, o pequi, as populações tradicionais, a ema, o ipê-amarelo, o tamanduá, o joão-bobo, a seriema, a sempre-viva... Termino usando, mais uma vez, palavras do próprio Alves: “Lutar para reduzir a incômoda invisibilidade ambiental do Cerrado. Evidenciar seus povos, sua fauna, suas árvores tortas...”. É isso aí! Bernardo Machado Gontijo Biólogo e Geógrafo Prof. Adjunto do Departamento de Geografia da UFMG


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