2 PREPARE-SE PARA MAIS UMA AVENTURA DE ROB E SEU BATALHÃO NESTE SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE OS GUARDIÕES DO MUNDO DA SUPERFÍCIE.
Será que Rob vai conseguir restaurar seu grupo em tempo de combater Lady Craven e seu exército de griefers? Ou permanecerão exilados vagando para sempre nas Terras Distantes?
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NANCY OSA é autora de Cuba 15, um premiado romance para jovens adultos. Sua sede por aventura e paixão pela construção de mundos levaram-na a adorar Minecraft, onde cada dia é uma nova jornada e a sobrevivência depende da criatividade – e da ajuda de alguns bons amigos.
ISBN 978-85-8286-279-7
WWW.EDITORANEMO.COM.BR
9 788582 862797
EXÍLIO NAS TERRAS DISTANTES Rob e o Batalhão Zero derrotaram o Doutor Sujeira, mas isso foi só o começo. A temível Lady Craven assumiu o lugar de seu mestre e planeja dar continuidade ao plano: dominar todos os biomas do Mundo da Superfície.
EXÍLIO NAS TERRAS DISTANTES
O Batalhão Zero está exilado, vagando pelas extensões mais desoladas do Mundo da Superfície. Rob e seus amigos precisam apelar para o mundo do crime para sobreviver ao mesmo tempo em que tentam alistar mais pessoas para a causa. Contudo, o caminho escolhido pode criar problemas gigantescos e destruir a honra do grupo, criando desconfiança e disputas internas.
Nancy Osa
O Doutor Sujeira foi derrotado, mas a guerra pelo Mundo da Superfície está só começando. Lady Craven tomou o lugar de seu mestre e continua sua missão de dominar todos os biomas.
Série Os Guardiões do Mundo da Superfície - 2
Os membros do Batalhão Zero se tornaram rejeitados, vivendo em lugares desolados e apelando para atividades ilegais enquanto tentam angariar recursos para a causa. Contudo, usar a técnica do inimigo pode ter um custo alto. À medida que o Batalhão Zero deixa suas regras de lado, sua própria humanidade entra em risco. Será possível para o Capitão Rob e seus cavaleiros voltar para o lado da justiça e salvar o Mundo da Superfície? Ou estarão destinados ao exílio nas Terras Distantes?
uma aventura não of icial de
Minecraft
Nancy Osa
Traduzido por rodrigo seabra
Nancy Osa amplia os desafios e os perigos, com zumbis, esqueletos e monstros à solta. Junte-se aos cavaleiros do Batalhão Zero e prepare-se para o segundo livro da série Os Guardiões do Mundo da Superfície.
NANCY OSA
EXÍLIO NAS TERRAS DISTANTES Os Guardiões do Mundo da Superfície Livro 2 Permanecendo vivo para lutar mais um dia...
Tradução de Rodrigo Seabra
Copyright © 2015 Skyhorse Publishing, Inc. Publicado mediante acordo com Skyhorse Publishing, Inc. Copyright © 2016 Editora Nemo Título original: Defenders of the Overworld #2: Battalion Banished Todos os direitos reservados à Editora Nemo. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja via cópia xerográfica, sem a autorização prévia da Editora. Exílio nas Terras Distantes é uma obra original de fanfiction de Minecraft que não está filiada a Minecraft, Mojang AB, Notch Development AB ou Scholastic, Inc. É uma obra não oficial e não está sancionada nem depende de aprovação dos criadores de Minecraft. Minecraft® é uma marca registrada de Mojang AB
gerente editorial
capa
Arnaud Vin
Carol Oliveira (sobre ilustração de Victória Queiroz/VicTycoon)
editores assistentes
Carol Christo Eduardo Soares
diagramação
Guilherme Fagundes
revisão
Renata Silveira Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Osa, Nancy Exílio nas Terras Distantes: uma aventura não oficial de Minecraft / Nancy Osa ; tradução Rodrigo Seabra. -- 1. ed. -- São Paulo : Nemo, 2016. -- (Os Guardiões do Mundo da Superfície, 2) Título original: Defenders of the Overworld #2 : Battalion Banished ISBN 978-85-8286-279-7 1. Aventuras e aventureiros 2. Ficção - Literatura infantojuvenil 3. Ficção - Literatura juvenil I. Título. II. Série. 15-11008
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Aventuras : Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Aventuras : Ficção : Literatura juvenil 028.5 A NEMO É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA
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Somente para o Ken.
CAPÍTULO 1
Q
ue estranho era poder andar livremente por aí, Frida pensou, onde qualquer griefer, feiticeiro ou outro agente hostil poderia atacar a qualquer momento. A sobrevivencialista de longa data deixou de lado sua tendência natural de sempre se esconder, mas permaneceu atenta. Tinha de parecer despreocupada e encarnar de fato sua nova identidade – a de subordinada de Lady Craven e dos criminosos que agora aterrorizavam o Mundo da Superfície. De algum modo, griefers humanos tinham conseguido o poder de suportar ferimentos mais comuns e de enfeitiçar perigosos mobs para agir em seu benefício. Muito embora o capitão Rob, comandante de Frida, tivesse conseguido derrotar o poderoso Doutor Sujeira, a segunda em comando na linha de sucessão – Lady Craven – tinha absorvido os poderes de Sujeira e se tornado ainda mais temível. A feiticeira vinha agora sistematicamente tomando um bioma após o outro, usando suas legiões de zumbis para ameaçar cidadãos inocentes. “Não se eu puder evitar”, Frida pensou com desgosto. Caminhou determinada em direção à fronteira da planície, tentando se sentir confortável naquela pele cinza emprestada que ocultava sua coloração verde-oliva natural e 7
sua tatuagem de família. Sua roupa camuflada de costume tinha sido substituída por um conjunto esportivo vermelho e branco, e o cabelo escuro estava agora preso por uma faixa atoalhada. “Isso não é nem um pouco a minha cara”, ela concluiu com um leve sorriso. Mas o disfarce a permitiria se infiltrar no acampamento dos griefers na encosta do morro e, assim ela esperava, a ajudaria a encontrar um jeito de fazer com que seu batalhão derrotasse as hordas malévolas de zumbis e esqueletos. Enquanto seguia viajando, ia repetindo para si mesma o argumento que convenceria os comandados de Lady Craven a deixá-la se juntar a eles: “Eu sou Drift, dos griefers da Ilha do Cogumelo 6. Perdemos nossa base depois do último tsunami. Fiquei sabendo a respeito da sua luta e decidi me juntar a vocês”. Frida sabia que teria de passar por um teste para provar sua lealdade. O encarregado de suprimentos de seu batalhão, Jools, tinha fornecido a ela dinamites e um disparador para plantar no acampamento inimigo, mas os explosivos também poderiam facilmente se passar por armas griefer. Ela apenas teria de encontrar o momento certo para usá-los – de preferência, não contra civis. Ela deu um suspiro. Libertar vilarejos e policiar fronteiras não era exatamente a carreira que tinha escolhido na vida. Ela sempre tinha sido uma sobrevivencialista, treinada por outras mulheres habilidosas para se virar bem na floresta. Sua intenção era apenas viver uma boa vida sem ser perturbada pelas forças sombrias do mundo lá fora. Nos bons tempos de antes ela conseguia fazer exatamente isso. Mas agora que os mobs tinham se alinhado e se 8
unido sob o comando de feiticeiros determinados a conquistar o mundo livre, aquela vida tinha ficado pra trás... a não ser que a própria Frida e seus compatriotas conseguissem evitar ou vencer uma guerra. “É melhor estar na ofensiva do que na defensiva”, ela pensou, satisfeita por ter conseguido para si uma missão solo que fosse realmente fazer alguma diferença. Talvez ela conseguisse finalmente colocar o Batalhão Zero do lado dos vencedores desta vez. Ainda assim, primeiro teria de confrontar seus oponentes e colocar a si mesma, propositadamente, na posição de alvo. – Eu deveria mudar meu nome para “NaMosca” – murmurou. Aquela história de basicamente pedir para ser atacada a fez lembrar de sua primeira vez montando um cavalo. Ela e seus colegas da cavalaria de Rob tinham descoberto que domar e montar cavalos selvagens era fácil na teoria, mas difícil na prática – mas ainda assim era uma coisa que Frida sempre havia tido vontade de fazer. A habilidade de cavalgar poderia certamente ser de bom proveito para uma jovem tentando ganhar a vida sozinha no Mundo da Superfície. Cavalos eram rápidos, conseguiam saltar alto e, Frida tinha de admitir, também eram uma ótima companhia. Ela nunca tinha sentido necessidade de companhia antes, mas depois de cavalgar junto ao seu batalhão, tinha se acostumado à proximidade dos outros. Mesmo que sua habitual solidão parecesse menos familiar agora, ela ainda apreciava o sentimento de liberdade de sobreviver sozinha. Uma galinha surgiu sem aviso em meio à grama da planície, e Frida imediatamente puxou sua espada e a decapitou, comendo-a logo em seguida. Esperou um 9
momento para ver se a carne crua a deixaria enjoada, mas nada aconteceu. Os riscos nunca a incomodavam quando as chances de sucesso eram iguais ou maiores do que os prejuízos. “Mas esse grande risco de agora...” ... valeria a pena, pelo que ela já tinha decidido. Ela repetia em voz alta aquele sentimento que a soldado Kim tinha verbalizado certa vez: “O único Mundo da Superfície aceitável é um Mundo da Superfície livre”. Mas Frida teria de abandonar aquele pensamento assim que cruzasse a fronteira, que ela inclusive já conseguia enxergar adiante, em meio aos campos nebulosos. Lá, os seguidores de Lady Craven estariam à espera. – Eu sou Drift... – ela disse outra vez, como se tentando se convencer. Não tardou a chegar perto da fronteira, onde os campos gramados se encontravam com as bases rochosas das montanhas. Pelo menos ela sabia quais eram as chances de esqueletos aparecerem por ali: cem por cento. Puxou seu arco e prendeu uma flecha na parte de trás da faixa que levava na cintura. Não seria o suficiente para parecer lá muito perigosa, mas, ainda assim, uma garota precisa saber se defender. O suspense não durou muito. Fup! Fuu-fuu-fuup! Uma flecha aterrissou bem perto de seu pé e outras três formaram um círculo ao seu redor. Tinham vindo de um denso conjunto de abetos mais à frente. “Por que diabos eu tenho de ter razão o tempo todo...?”, ela se perguntou. – Identifique-se, viajante! – disse uma voz anasalada que Frida conhecia bem. 10
O dono da voz também a conhecia, mas não a tinha reconhecido – o que significava que o disfarce estava funcionando bem. Frida certamente não estava mais com sua aparência de costume. – Me chamam de Drift – ela disse para a criatura oculta em meio às árvores, exatamente como tinha ensaiado. – Venho tratar de assuntos importantes com a líder dos griefers, Lady Craven. Uma risada intimidadora veio em sua direção. – Mas será que ela tem algum assunto importante a tratar com você? Duvido que tenha. Foi o suficiente para que Frida perdesse a paciência de ficar conversando com aquele griefer covarde chamado Pernas, que vivia escondido atrás do guarda-costas mais próximo. – Então venha aqui pra fora para que possamos ver melhor um ao outro, e aí vou te provar que estou falando sério. – Prova pra isso aqui! – a voz abafada ordenou. A única coisa que Frida viu em seguida foi um creeper de aparência bem agressiva irrompendo de trás de um arbusto e se aproximando muito rápido. Frida não queria gastar três flechas logo de cara naquela criatura, então apenas ficou imóvel e no aguardo. A pele verde cheia de manchas e as órbitas oculares vazias e escuras do creeper não a amedrontavam. Antes que a coisa chegasse perto o suficiente para detonar, Frida rapidamente trocou o arco por uma pederneira e uma lâmina de aço que estavam entre seus pertences. Fuum! A melhor forma de evitar que um creeper exploda é fazê-lo pegar fogo antes. – Isso é o melhor que você pode fazer? – Frida provocou. 11
Da sombra dos abetos saiu um griefer atarracado de nariz largo e três pernas finas. – Você conhece nosso cumprimento secreto – Pernas disse. – Pode cruzar a fronteira. Que sorte! Incendiar creepers era o jeito com que esse pessoal se cumprimentava. Ao apenas escolher a melhor arma para a tarefa, Frida tinha conseguido descobrir uma informação valiosa. Seguiu em frente, então, deixando para trás o pedaço de chão queimado causado pelo mobster explodido. Era tudo o que ela podia fazer para evitar o impulso de enfiar sua espada em Pernas, aquele lixo que tinha ameaçado seus amigos e os habitantes das vilas tantas vezes. Mas impor limitações a si mesma naquele momento daria a ela acesso a muitos outros seguidores de Lady Craven. De repente, bebês zumbis a cercaram, agarrando suas roupas e quase a fazendo de refém com seu fedor insuportável. Entre os zumbis, apenas os bebês podiam sair sem pegar fogo sob a fraca luz do sol. Frida cerrou os punhos enquanto os monstrinhos se juntavam tentando imobilizá-la. “Não era bem esse tipo de limitação que eu tinha em mente”, ela pensou. Ser capturada era parte essencial do plano de Frida, de modo que ela fez o jogo de Pernas. – Por favor, me deixe ir! Eu sou uma griefer igual a você. O último tsunami destruiu minha ilha e dispersou meu pessoal. – Pode até ser verdade – Pernas respondeu. – Mas por que a aceitaríamos entre nós? Frida lutava contra os fedorentos bebês zumbis, mas ao mesmo tempo deixava que se agarrassem a ela. – Fiquei sabendo da luta que vocês vêm travando. Eu também odeio aquelas pessoas das vilas que ficam andando por aí como se 12
fossem donos do mundo. Quero me juntar ao seu exército e acabar com todos eles de uma vez por todas. Pernas a olhou de cima a baixo e então fez um gesto para os zumbis, que a deixaram em paz. – Por aqui – ele disse, conduzindo-a em meio à escuridão sob os abetos. Antes que os olhos de Frida pudessem se ajustar melhor ao novo ambiente, ela pôde ouvir o chacoalhar e os estalos característicos dos esqueletos que ajustavam seus arcos. Ela tentou não se intimidar. Qualquer sinal de fraqueza de sua parte poderia fazê-los se amontoar em cima dela como uma matilha de cães mortos-vivos. – Muito bem – Pernas disse. – Nós vamos ouvir o que você tem a dizer, forasteira. E aí vamos decidir se você vive ou morre. Jogou um punhado de corda de aranha para outro humano que estava por lá – cujo rosto era tão encarquilhado quanto as pedras das montanhas – e fez um gesto para que ele a amarrasse. – Aperta bem, Dingo, que é para ela não conseguir pegar nada do que está carregando. O lacaio de feições angulosas atou os pulsos de Frida e, arfando, se dirigiu aos calcanhares dela. A baba escorreu de seus lábios entreabertos e pingou na pele de Frida, que se retorceu de nojo. Em algum lugar atrás dela, os esqueletos continuavam estalando ossos, apenas esperando por um comando. Frida respirou fundo e começou a contar sua história inventada. – A Ilha do Cogumelo 6 era o lugar ideal para o meu agrupamento griefer se reunir depois de atacar as vilas. 13
Conseguíamos juntar muitas provisões depois de incendiar as cidades, e aí levávamos as coisas de barco para a ilha. – E por que isso não deu certo? – Pernas quis saber. – Porque não era o suficiente. Os habitantes das vilas conseguiam reconstruir tudo muito rápido e tínhamos de atacá-los outra vez. Queríamos que os griefers tomassem o controle das riquezas do Mundo da Superfície de uma vez por todas. Dingo grunhiu. Pernas coçou o queixo. – Parece mesmo ser uma tarefa sem fim. Mas Lady Craven tem um novo sistema agora. – Estou certa de que vocês poderiam contar com uma mãozinha – Frida disse. – Então, aqui estou eu, pronta para dar uma ajuda para recuperar de vez os biomas desses camponeses. O grupo de maior poder é que deveria comandar! Pernas recompensou a solidariedade demonstrada deixando-a livre de novo. – Precisamos de alguém como você supervisionando os zumbis na fronteira oeste. Você está em estágio probatório agora, Drift. Se der conta dessa primeira tarefa, passamos você para cuidar dos esqueletos. Pernas jogou para ela um medalhão que a identificava como sendo um deles – um pingente dourado com o formato das iniciais LC – e ela o pendurou no pescoço. A tarefa em questão consistia em conduzir os zumbis encantados, tanto adultos como bebês, até a fronteira ao cair da noite, onde eles poderiam atacar turistas desavisados, e então de volta à caverna que ficava depois da linha dos abetos pela manhã. Parecia bem fácil, mas organizar zumbis 14
desgovernados era como tentar domar um saco de gatos. Pernas ordenou que Dingo mostrasse a Frida como fazer o trabalho e também que supervisionasse até que ela pegasse o jeito. Alguns dias depois, deixaram-na sozinha na função e foram queimar uma vila do outro lado das colinas, onde Lady Craven os esperava. – Não pense em fazer nenhuma graça, Drift. Sempre vai ter alguém te vigiando. Faça o seu trabalho e nós te traremos umas mercadorias – Pernas disse com satisfação, já de saída. Aquela era a oportunidade que Frida vinha aguardando. Naquela noite, ela seguiu o bando de zumbis até as fronteiras das planícies, onde tinha escondido boa parte de seu inventário antes de ir ao encontro dos griefers. Um encantamento impedia que as hordas a considerassem uma ameaça, de modo que ela não teve qualquer problema em levá-los até um cânion que não tinha saída. Rolou um pedregulho para a entrada estreita e deixou os zumbis por lá, se lamuriando em um lugar onde ninguém poderia ouvi-los. Ela então recuperou seus parcos suprimentos e começou a armar armadilhas com fios esticados para os inimigos tropeçarem e a plantar cargas de dinamite aqui e ali sob a luz da lua. Depois de completar sua tarefa, preparou-se para retornar ao ponto de encontro e esperar até o nascer do sol, para que pudesse em seguida mandar uma mensagem para seu batalhão. Mas então um griefer que ela não reconheceu, usando um boné de beisebol, chegou na beirada do morro com seu medalhão da gangue bem visível no pescoço, balançando como um pêndulo. Ao vê-lo chegar perto do paredão 15
de pedra que escondia os zumbis que ela tinha prendido, Frida correu para interceptá-lo, na esperança de que ele não ouvisse os gemidos intermitentes da horda. – Salve! – ela exclamou. – O que há? – Pernas me mandou aqui – disse o griefer magro e de braços compridos, cujos dedos quase se arrastavam no chão. – Eu devo me manter escondido e ficar de olho em... – e então ele percebeu seu erro. – Ah, caramba! Sabia que eu ia acabar falando bobagem! – Não tem nada pra ver aqui – Frida disse calmamente, se virando de lado e puxando sua espada. – A não ser isto! Ela se voltou de uma vez e o partiu no meio com um corte limpo. Seus grandes olhos rolaram quando a metade de cima caiu no chão. Depois, suas pernas tombaram cada uma para um lado como pinos de boliche. – Vá assombrar outro lugar – Frida grunhiu, subindo de volta o morro. # Assim que chegou às coordenadas previamente combinadas com seu pessoal, Frida mal podia esperar para se livrar de seu disfarce e da pele falsa que vinha usando. Enquanto estava ocupada se trocando, um bando de zumbis se manifestou ali perto. – Uuuuhhh... Oooohhh... – eles lamentavam como um coral desorganizado. Ela percebeu que eles iam perambulando em círculos e a ignoravam. Só que, assim que removeu o medalhão que Pernas tinha dado a ela, eles instantaneamente se viraram 16
em sua direção. Frida recolocou de imediato o cordão no pescoço e eles pararam. Retirou novamente para ver o que acontecia, e eles mais uma vez se voltaram para ela. – Então é isso – ela disse, recolocando a corrente por sobre a cabeça. Aquilo parecia funcionar como um repelente, o que a ajudaria a economizar em munição e energia durante uma eventual luta. Fantástico! Era ainda melhor que uma poção arremessável. Frida se sentiu segura o suficiente para se deixar apagar por algum tempo junto a um abeto próximo. O sol nasceu, e não havia mais nada a se fazer a não ser esperar o tempo passar até que os raios solares ultrapassassem o outro lado do morro e chegassem aos seus pés. Frida podia ficar imóvel por horas. Usou aquele tempo para estudar novas ideias. Uma delas era arrumar um jeito de comparecer à sua reunião de família da próxima vez que acontecesse uma. Isso porque ela tinha perdido as últimas ao morrer e ressurgir em lugares inconvenientes. Já passava da hora de rever suas parentes mulheres. Talvez ela até conseguisse convocá-las para ajudar na luta para salvar o Mundo da Superfície. Se conseguisse com Rob que ele arrumasse um substituto temporário para ela na posição de posto avançado, ela finalmente poderia ir. Rob... Roberto, o capitão do Batalhão Zero, era o outro grande pensamento que vinha ocupando sua mente nos últimos tempos. Rob tinha sido um caubói antes de aparecer no Mundo da Superfície e organizar a cavalaria montada. Ele e Frida tinham se conhecido quando ele literalmente caiu do céu no mundo dela saído de um avião. Ela o ajudou a sobreviver naqueles primeiros dias quando ele mal sabia se 17
virar, totalmente despreparado para lidar com mobs hostis e disputas por fronteiras. Mas, de algum modo, o jogo tinha virado, e Frida viu aquele caubói desterrado fazer uso de sua experiência como capitão de cavalaria, desabrochando como um verdadeiro líder bem diante dos olhos de todos. Tinha algo de muito atraente naquilo, e ela não foi a única a perceber. Frida sabia que Rob nutria sentimentos por Stormie e Kim, as outras mulheres de seu grupo. Por sorte – e também por azar – o capitão todo certinho sabia bem que não deveria se envolver com alguém de suas tropas. Mantinha seu olhar firmemente centrado na defesa das fronteiras do Mundo da Superfície contra tiranos e seus mobs hostis. Quando o Sol avançou sobre o chão logo à frente da linha das árvores, Frida percebeu que tinha ficado perdida em pensamentos por tempo demais. Se colocou de pé rapidamente e vasculhou seu inventário atrás de um pedaço de vidro. Usou-o para refletir a luz do sol para o outro lado do morro, sinalizando com o código que Jools tinha inventado. Com aquilo, ela informava onde estavam os fios que ela tinha montado e ainda dava a informação de que estava bem. Não havia mais o que Frida pudesse fazer, a não ser esperar que seus amigos tivessem chegado lá e visto sua mensagem. Então, mais uma vez, ela se recolheu para esperar nas sombras até que a escuridão retornasse. # Com a chegada da noite, vieram também vozes do lado oeste. Frida tratou de ficar de pé e apurou os olhos e ouvidos. 18
Podia ouvir brados, mas não viu ninguém se aproximando. Ficou preparada; o plano estava se desenrolando exatamente como Jools tinha previsto. Os cidadãos do vilarejo que eles tinham alistado como tropa de ajuda já anunciavam sua presença para despertar o interesse dos griefers, que enviariam seus mobs para as armadilhas. Era chegada a hora de Frida escapulir dali. Uma sinistra sinfonia de gemidos preencheu o ar quando os reforços zumbis dos griefers foram soltos na direção do vilarejo. Seus uivos reverberavam nos penhascos e cânions entre os morros agudos: Uuuuhhh-uh-uh-uh... ooohh-oh-oh-oh...! Para imenso alívio de Frida, ela avistou seu velho amigo e ocasional adversário Turner se aproximando em seu cavalo quarto de milha cinzento, Pudim, em passadas rápidas. E ele vinha conduzindo a montaria negra de Frida, Ocelote. Como ela estava feliz por ter aprendido a montar! Chamou Turner, que se aproximou e lançou para ela as rédeas de Ocelote. – Eu trouxe sua armadura, Frida, mas é melhor a gente dar o fora daqui primeiro – disse o sargento de armas da companhia. Ele era um mercenário por profissão, mas um soldado por necessidade. Todos os que quisessem permanecer livres no Mundo da Superfície tinham de contribuir no esforço de guerra contra Lady Craven. Frida pulou na sela de Ocelote como se tivesse feito aquilo a vida toda. Foi seguindo Turner e Pudim, veloz como o vento, galopando para se juntar mais uma vez ao seu batalhão. Nunca tinha ficado tão feliz em deixar para trás seu hábito de agir sozinha. 19
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