Os guardiões - A caixa mágica e a libélula

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Photo by Jodee Stanley

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TED SANDERS é autor da coletânea No Animals We Could Name, vencedora do prêmio Bakeless de ficção em 2011. Ganhador da bolsa de literatura National Endowment for the Arts em 2012, seus contos e ensaios aparecem em publicações como Georgia Review, Gettysburg Review e na antologia The PEN/O. Henry Prize Stories. Ted mora com a família em Urbana, Illinois, e é professor na Universidade de Illinois em Urbana-Champaign. Este é seu primeiro livro para jovens leitores. Acompanhe Ted Sanders: www.tedsanders.net /tedsandersbooks @Tedwardly

O QUE VOCÊ FARIA SE ESTIVESSE ANDANDO PELA RUA E VISSE O SEU NOME ESCRITO EM UMA PLACA?

uando Horace F. Andrews vê pela janela do ônibus uma placa na rua com seu próprio nome, tudo muda. A placa o leva a um lugar no subsolo chamado Morada das Respostas, um armazém escondido, cheio de objetos misteriosos. O que é esse lugar tão curioso? Quem são essas pessoas estranhas e enigmáticas, que confiam a ele um presente raro e extremamente poderoso? E o que ele deve fazer com isso? Horace descobre rapidamente que as coisas do mundo não são como parecem. O homem sinistro e esquelético que espreita em todas as esquinas, a descoberta de suas novas habilidades e seus encontros com Chloe – uma garota que tem um talento impressionante – levam Horace por um caminho que o coloca no meio de um conflito existente há séculos. A jornada de Horace e Chloe os leva às profundezas de um lugar onde cada decisão que tomarem pode ter consequências desastrosas. E mais importante que isso, ela conecta Horace à Caixa das Promessas e a um futuro que ele jamais imaginaria ser possível.

.•. Com uma mistura de ficção científica, fantasia e muita ação, Ted Sanders cria um mundo onde tudo é muito mais do que parece ser e onde a amizade e a lealdade são os maiores poderes.

“Os Guardiões é uma aventura extremamente original, eletrizante e desafiadora, que irá cativar igualmente crianças e adultos. Mais do que fantasia, o autor uniu elementos físicos e folclóricos para fazer com que a magia criada para esse universo fosse possível. Além disso, ele nos apresenta Horace, um personagem maravilhoso, inteligente e vulnerável, que nos guia por esse mundo extraordinário.” Soman Chainani, autor do best-seller A Escola do Bem e do Mal

ISBN 978-85-8235-447-6

9 788582 354476

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quela caixa era o item mais comum dali: muito pequena, feita de uma madeira rajada e envernizada em tons de marrom, dourado e vermelho. Uma linha prateada e sinuosa atravessava a tampa e em uma das laterais curvas havia o desenho de uma estrela radiante. De todos os objetos que ele tinha visto até o momento, somente aquela caixa poderia ser vista naturalmente nas prateleiras de uma loja comum. No entanto, era a coisa mais maravilhosa que Horace já tinha visto. Perto dela, todas as outras maravilhas eram sem graça, como truques baratos na presença de uma mágica real.”



ILUSTRAÇÃO: IACOPO BRUNO TRADUÇÃO: ROGÉRIO BETTONI


Copyright © 2015 Ted Sanders Copyright das ilustrações © 2015 Iacopo Bruno Copyright © 2017 Editora Gutenberg Título original: The Box and the Dragonfly Todos os direitos reservados pela Editora Gutenberg. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida, seja por meios mecânicos, eletrônicos, seja cópia xerográfica, sem autorização prévia da Editora. EDITORA Silvia Tocci Masini

REVISÃO FINAL Mariana Paixão

EDITORAS ASSISTENTES Carol Christo Nilce Xavier

PROJETO DE CAPA Iacopo Bruno

ASSISTENTE EDITORIAL Andresa Vidal Vilchenski PREPARAÇÃO Andresa Vidal Vilchenski

ADAPTAÇÃO DE CAPA Carol Oliveira DIAGRAMAÇÃO Larissa Carvalho Mazzoni

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil Sanders, Ted. Os guardiões : a caixa mágica e a libélula / Ted Sanders ; ilustração Iacopo Bruno ; tradução Rogério Bettoni. -- 1. ed. -- Belo Horizonte : Editora Gutenberg, 2017. Título original: The Box and the Dragonfly ISBN 978-85-8235-447-6 1. Ficção - Literatura infantojuvenil I. Iacopo Bruno. II. Título. 17-03915

CDD-028.5

Índices para catálogo sistemático: 1. Ficção : Literatura infantojuvenil 028.5 2. Ficção : Literatura juvenil 028.5

A GUTENBERG É UMA EDITORA DO GRUPO AUTÊNTICA São Paulo Av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, Horsa I 23º andar . Conj. 2301 . Cerqueira César . 01311-940 São Paulo . SP Tel.: (55 11) 3034 4468 www.editoragutenberg.com.br

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Para Jodee. Sem ela, muita coisa nĂŁo teria acontecido, incluindo isto.



A única maneira de descobrir os limites do possível é se aventurar um pouco além deles, rumo ao impossível. — Arthur C. Clarke


W PA RT E U M

A descoberta




CAPÍTULO UM

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A placa quando horace f. andrews viu através das janelas embaçadas do ônibus 77 uma placa com seu nome escrito, ele piscou. Só piscou, nada mais. É claro que se surpreendeu ao ver Horace F. Andrews escrito numa placa, e sua curiosidade, que já era grande, ficou ainda maior. Apesar disso, levou a situação na brincadeira. Era natural que algumas coisas estranhas começassem a acontecer num universo que tinha tempo e material suficientes para isso. Na verdade, Horace achava que um universo sem coincidências estranhas seria um lugar muito suspeito. A placa de Horace F. Andrews era alta e estreita, e pendia na lateral dos fundos de um prédio em um beco transversal à rua Wexler. Tinha o formato de uma longa coluna com palavras meio apagadas, escritas em amarelo, sobre um fundo azul desgastado pelo tempo, mas o que ele viu primeiro foi seu nome, escrito na parte de baixo, nítido e inconfundível:

HORACE F. ANDREWS O ônibus seguiu seu percurso. Antes de a placa sumir de vista, ele conseguiu ler algumas palavras em amarelo na longa lista em cima do seu nome: artefatos, misérias, mistérios. Horace sentiu a curiosidade acender fagulhas dentro dele. Piscou – só uma vez – e pensou na situação, cultivando as fagulhas como uma fogueira que tinha acabado de ser acesa. Qual era a probabilidade de ver uma placa com um nome exatamente igual ao dele? Não muito grande, concluiu. Horace não era um nome tão comum, mas Andrews, definitivamente, era muito incomum. E a letra F devia ser uma inicial corriqueira nos nomes do meio – bem mais fácil de encontrar do que tantas outras letras do alfabeto. Ele sabia que tinha passado naquela rua por puro acaso. Sempre pegava o 77 quando saía da escola. Mas o trajeto do ônibus não era aquele; normalmente ele descia direto pela avenida Belmont, mas uma obra obrigou o ônibus a desviar pela rua Wexler, em vez de atravessá-la. . 11 .


Ele também estava olhando pela janela por puro acaso. Geralmente, sentava-se na última fileira para ler ou resolver algum problema científico da aula do Sr. Ludwig, criando uma bolha que o isolava do barulho e da confusão do ônibus. Mas hoje o veículo estava superlotado, cheio de garotos bagunceiros da escola atrás e adultos com cara de paisagem na frente. Horace teve que ficar no meio, no topo da escada, perto da porta de trás, se sentindo incomodado, envergonhado, odiando a mochila pesada e se perguntando se ele, Horace Andrews, devia mesmo estar ali. Tudo que poderia fazer era olhar pela janela e torcer para o trajeto acabar logo. Mas aí ele viu a placa passando por ele e, um ou dois quarteirões adiante, o ônibus diminuiu a velocidade e parou. A porta de trás abriu e uma senhora gorducha, de vestido roxo, começou a descer lentamente as escadas, segurando no corrimão com as duas mãos. Horace olhou pelas janelas do fundo, mas a placa já tinha sumido de vista. Será que era uma loja? Ou talvez o escritório de alguém, supostamente de Horace F. Andrews. A placa parecia bem velha; talvez o lugar já nem existisse. Mas tinha aquelas palavras – “Artefatos”, “Mistérios”. E por que será que um estabelecimento colocaria a palavra “Misérias” na placa? Horace observou a senhora esticar uma perna rechonchuda e pisar no meio-fio lá embaixo. Os outros passageiros sussurravam inquietos. Um garoto magricela, de rosto corado, que Horace reconheceu das aulas de Estudos Sociais, se inclinou no topo da escada e começou a dizer para a senhora: “Desce logo! Desce logo!” Horace então passou pela senhora e pulou para fora do ônibus, pisando com os dois pés na calçada. A senhora reclamou com ele e puxou o pé para trás. “Desculpa”, murmurou Horace. Saiu depressa, se sentindo tão assustado quanto a senhora. Ele não costumava ser impulsivo, nem era o tipo de garoto que fazia as coisas sem pensar. Mas às vezes sua curiosidade o levava a lugares em que ele geralmente não ia. E aquela placa... aquelas palavras e o nome dele junto delas... O clima de maio estava fresco, mas já carregava uma leveza que anunciava o verão – a leveza da liberdade e das possibilidades. O relógio interno de Horace, sempre preciso, dizia que eram 15h16. A essa hora, o 77 rumo à zona leste passava a cada 14 minutos. Dava tempo . 12 .


de investigar a placa, pegar o próximo ônibus e chegar em casa antes de sua mãe. Seguiu apressado pela calçada, procurando. Quando pensou que estava chegando no beco, uma figura enorme apareceu no meio do caminho. A trombada foi tão forte que ele ficou sem ar. Horace cambaleou e quase caiu em um bueiro. “Caramba!”, disse uma voz melódica acima dele. Horace olhou para cima e depois mais acima, para o rosto do homem mais alto que ele já tinha visto. Ele era tão alto que mal parecia um homem. Devia ter 3 m de altura ou mais. E era de uma magreza tão impossível quanto sua altura, com braços e pernas que pareciam de aranha e um torso tão estreito que provavelmente nem tinha órgãos lá dentro. Suas mãos eram do tamanho de ancinhos, com dedos longos e finos. Fedia a algum produto químico. Horace se afastou para trás e o homem se inclinou sobre ele. “Tudo bem aí?”, perguntou educadamente. E ele ouviu novamente aquela voz cantada. O homem – se é que era um homem – usava terno preto e óculos escuros redondos. Tinha um montinho de cabelo na cabeça, meio deslocada em relação ao corpo pálido e esquelético. Horace tentava recuperar o fôlego. “Tudo bem”, respondeu, ofegante. “Me desculpe.” “Perfeitamente compreensível. Devia estar distraído.” “Me desculpe mesmo, eu estava só... procurando uma coisa.” “Ah. E você sabe o que está procurando?” O homem falava com os dentes levemente cerrados, como se quisesse dar um sorriso amigável, mas não soubesse como. “Não é nada, não se preocupe”, disse Horace, sentindo o medo percorrer seu corpo. “Ah, qual é?! Conte-me o que está procurando. Você não tem ideia do quanto estou curioso.” “Só estou dando uma olhada. Obrigado mesmo assim.” Horace começou a recuar. “Talvez eu possa ajudar. Você precisa de ajuda”, disse ele, como se fosse uma ordem. “Não, está tudo bem. Eu estou bem.” Horace tomou distância, contornou o estranho e saiu correndo, tentando se esconder com a mochila. Sabia muito bem que o homem continuava olhando para ele, mas, quando se virou, sentiu um alívio ao perceber que ele não o seguia. Na verdade, tinha desaparecido. . 13 .


Totalmente. Como uma pessoa tão grande poderia sumir de vista? Aliás, como uma pessoa podia ser tão grande assim? Mas não era só o homem que tinha desaparecido. A placa também não estava em lugar nenhum. Horace andou quase três quarteirões e não viu nada. Deu meia-volta e começou a refazer seus passos. A placa Horace F. Andrews não estava mais ali. De repente, uma figura indefinida saiu das sombras na frente dele. Horace parou bruscamente. O homem esquelético olhou para ele, ainda tentando esboçar aquele sorriso apavorante. “Não encontrou o que procura?”, perguntou o homem, em tom de tristeza. Em pânico, Horace olhou nos olhos das pessoas que passavam por ele, na esperança de chamar a atenção. Todos continuaram andando. Havia várias pessoas sentadas do lado de fora de uma lanchonete ali perto, mas ninguém reparava no homem magro. Será que não o viam? Horace era alto para sua idade, mas mal alcançava a cintura do homem. Por que ninguém olhava para eles? “Encontrei, sim”, disse Horace, desesperado, sem saber o que diria em seguida. Mas as palavras lhe surgiram logo depois. “Aquela lanchonete ali. Meus pais estão me esperando lá dentro.” O sorrisinho medonho do homem abriu de fora a fora. “É claro que estão”, disse ele, olhando para a lanchonete. “E eu jamais pensaria em atrapalhar o encontro de vocês. Mas antes, um conselho.” O homem inclinou-se para frente, dobrando-se como um guindaste gigante, e levantou a mão esquelética bem na frente do rosto de Horace, abrindo um único dedo. O cheiro que ele exalava era ardente, cítrico e pútrido. E seu dedo tinha um defeito, era como se tivesse... uma junta a mais? O rosto apavorado de Horace, refletido nos óculos do homem, se afastou. “Olhe bem por onde anda, tinker”, zombou o homem. “A curiosidade é um caminho cheio de perigos.” Com isso ele calou a boca e endireitou o corpo, atingindo sua altura absurda. Girou a cabeça para a direita, como se escutasse um barulho muito longínquo, depois saiu com a mesma rapidez que havia aparecido, andando apressado pela rua. Bastaram seis grandes passos para ele atravessar as quatro pistas movimentadas, depois passou sem o menor esforço por cima do capô de um carro estacionado do outro lado da avenida. Apertou o passo pela Wexler e um instante depois desapareceu virando a esquina. . 14 .


Horace continuou parado por uns dez segundos. Quando voltou a sentir as pernas, disparou a correr. Independentemente de quem fosse, ou do que fosse aquele homem, Horace queria distância. Correu exatamente 27 passos e parou de supetão, dessa vez de boca aberta, diante de um beco. Já tinha passado naquele lugar e não tinha visto nada – tinha certeza de que não havia nada ali –, mas agora lá estava ela, tão nítida quanto suas próprias mãos. A placa Horace F. Andrews. Ou melhor, não exatamente. Horace olhou. Nem lembrava mais que tinha de pegar o ônibus. Nem lembrava mais do homem esquelético. Leu a placa de cima a baixo diversas vezes. Miudezas Relíquias Fortúnio Infortúnio Artefatos Arcanos Curiosidades Misérias Mistérios e muito mais na

MORADA DAS RESPOSTAS

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